CRN5 em Revista nº4

Page 1

Publicação do Conselho Regional de Nutricionistas da 5ª Região (Bahia e Sergipe) Ano 4 – nº. 5 – 2012

Cada vez mais brasileiros fazem suas refeições em restaurantes, no trabalho, na escola e na rua. Saiba mais sobre o tema e o que isso representa. pág. 16

Conselho avança para o bem da categoria

pág. 04

Educação Nutricional em ambiente escolar pág. 19


Editorial Quando nos candidatamos para assumir a gestão do Conselho Regional de Nutricionistas da 5ª Região (CRN-5), o fizemos por meio de uma chapa que chamamos de “Avanço”, porque nossa motivação era – e continua sendo – colaborar para o avanço da nossa categoria. Olhando para trás, percebemos que apesar das dificuldades e dos muitos desafios, conseguimos avançar em várias frentes. Nossas principais conquistas em 2011 e 2012, assim como as perspectivas para 2013, estão apresentadas no Balanço Parcial da Gestão, apresentado na reportagem intitulada “Conselho avança para o bem da categoria” (Página 4). Esperamos que você saiba como o CRN5 tem colaborado para a melhoria da fiscalização, orientação, disciplina e valorização do exercício

Expediente

profissional de Nutricionistas e Técnicos em Nutrição e Dietética (TNDs) nos Estados da Bahia e

Publicação do Conselho Regional de Nutricioni-

de Sergipe.

stas da 5ª Região (Bahia e Sergipe) - Ano 4 – nº. 5 – 2012

Nesta primeira edição da “CRN-5 em Revista” em

Salvador (BA): Avenida Centenário, 2883, Edi-

versão exclusivamente eletrônica, destacamos a

fício Victoria Center, Sala 106, Chame-Chame.

“Alimentação Fora do Lar” por ser o tema da cam-

CEP: 40155-151 – Telefax: (71) 3237-5652.

panha anual do sistema CFN/CRNs, inserindo-o

Aracaju (SE): Praça Tobias Barreto, Centro Médico

no contexto do novo padrão alimentar brasileiro.

Odontológico, Sala 502, São José. CEP: 49.015-

E compartilhamos outros temas atuais, com o

130 - Telefax: (79) 3211-8248.

objetivo de informá-lo(a) a respeito da “Educa-

Diretoria: Valquíria da Conceição Agatte (presi-

ção Nutricional em ambiente escolar: desafios e

dente); Rita de Cássia Ferreira Silva (vice-pre-

conquistas”; “Comida de rua: um desafio para a

sidente); Joelma Claudia Silveira Ribeiro (secre-

Saúde Pública”; “Nutricionistas: contra agrotóxi-

tária); Lorenna Marques Fracalossi (tesoureira).

cos, em defesa da agroecologia”, entre outros

Conselheiros efetivos: Rosemary Lima Barreto;

temas relevantes. Desejamos que você interaja

Tâmara Cristina Ferreira Santos; Thais Madjalane

conosco sobre o conteúdo desta publicação en-

Queiroz de Oliveira; Gilcélio Gonçalves de Almei-

viando sugestões, críticas e elogios através do e-

da; Karla Vila Nova de Araujo Figueiredo.

mail comunicacao@crn5.org.br. Boa leitura!

Conselheiros Suplentes: Ana Karina de Assis Braga; Bárbara Eduarda Panelli Martins; Lindanor

Valquíria da Conceição Agatte

Gomes Santana Neta; Regiane Assunção Cam-

Presidente do CRN-5

pos; Maíra Patriarcha Leal. Redação, Edição, Jornalista responsável: Carla

*

Santana – DRT 2563 Alguns links ao longo da revista são interativos, basta clicar para acessá-los. Caso deseje, é possível fazer o download da Revista para o seu computador, tablet ou celular. Para isso, ao abrir o site, logo acima da descrição, no menu de opções, clique em

Revisão Técnica: Leny Strauch Ferreira – CRN-5/1580 Fotos: Arquivo do CRN-5 e sites de domínio público. Editoração eletrônica: Pipa Comunicação


Nesta Edição 04

Conselho avança para o bem da categoria.

08

Comida de rua: um desafio para a Saúde Pública.

12

Educação Alimentar: lançados espaço virtual e Marco de Referência.

14

Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) tem novas diretrizes.

16

Alimentação fora do lar no contexto do novo padrão alimentar brasileiro.

19

Educação Nutricional em ambiente escolar: desafios e conquistas.

22

Nutricionistas: contra agrotóxicos, em defesa da agroecologia.


Conselho avança para o bem da categoria

Secretaria Municipal de Educação do Município de Aracaju (SEMED) recebeu do MP-SE um prazo para se pronunciar sobre a necessidade de contratação de 27 Nutricionistas para atender a educação infantil e fundamental. Isso aconteceu a partir de um levantamento cuidadoso elaborado pelo CRN-5 e apresentado ao MP”, destaca a presidente do Regional. O mesmo relatório apontou a necessidade de contratação de 87 Nutricionistas pelo Estado de Ser-

Entre as muitas conquistas do atual colegiado do Conselho

gipe, através de sua Secretaria de

Regional de Nutricionistas da 5ª Região (CRN-5), eleito para

Educação (SEED), fato que também

o triênio 2011-2014 após a vitória da Chapa “Avanço” nas últi-

foi protocolado pelo MP-SE.

mas eleições da autarquia, destaca-se a realização de dois

visitas fiscais realizadas pelo CRN-

importantes convênios. O primeiro, com o Ministério Público

5, notamos o não cumprimento das

do Trabalho em Salvador, visa preservar o campo de atuação

atribuições obrigatórias do nutricio-

privativo dos Nutricionistas e apurar os fatos nos quais os pro-

nista, prevista pela Resolução CFN

fissionais são submetidos a situações de trabalho exaustivas

nº 465/10, em decorrência da carga

e ilegais. O segundo foi firmado com o Ministério Público de

horária insuficiente e do quadro téc-

Sergipe (MP-SE), com o mesmo objetivo, mas com um foco

nico incompatível, o que compromete

maior na Segurança da Alimentação naquele Estado. “Está

o objetivo do PNAE”, conta a coorde-

em curso, ainda, a assinatura de um terceiro convênio, desta

nadora da Unidade de Fiscalização

vez com a Secretaria de Segurança Pública, objetivando coibir

do CRN-5, Mariluze de Pinho Bahia.

o exercício da profissão por terceiros não habilitados, garantin-

“Infelizmente, há casos em que um

do a segurança da população e o campo de atuação privativa

mesmo nutricionista é Responsável

do Nutricionista”, anuncia a presidente do CRN-5, Valquíria da

por mais de dois municípios, irregu-

Conceição Agatte.

laridade que compromete o exercício

“Nas

profissional. Municípios e estados Também houve avanços na adoção de procedimentos para

precisam adequar os quadros téc-

ajuizamento de ação de execução fiscal contra as Prefeituras

nicos do PNAE. Só assim será ga-

de vários municípios que se encontram com os cadastros ir-

rantida a qualidade da Alimentação

regulares junto ao CRN-5 e/ou que apresentam irregulari-

Escolar, tão importante para os es-

dades em relação à contratação de Nutricionistas atuantes

tudantes da rede pública”, pontua a

no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). “A

Nutricionista.

04


CRN-5 com Você

AVANÇOS JURÍDICOS De acordo com a assessora jurídica do CRN-5, Sabrina Batista, entre as conquistas do setor jurídico destacam-se as denúncias apresentadas ao MP relacionadas à não aceitação, por laboratórios e planos de saúde, de exames clínicos prescri-

Estamos atentas às denúncias referentes ao exercício ilegal da profissão.

tos por nutricionistas. “Habilitamos o Conselho

Mariluze Pinho Bahia

nos processos judiciais contra os laboratórios e

planos que, ao negarem a liberação dos exames,

Um dos focos da Fiscalização do CRN-5 são os

estão descumprindo a Lei º 8.234/91, que regula-

Hospitais Estaduais da Bahia. “Elaboramos um

menta a profissão de Nutricionista”, informa.

relatório referente ao Quadro Técnico de Nutricionistas dessas instituições e detectamos uma

“Também na atual gestão apresentamos recurso

significativa defasagem no número de Nutricio-

perante o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e Su-

nistas contratados. Notificamos as instituições,

premo Tribunal Federal (STF) contra a Associa-

mas não recebemos o retorno esperado. Sabe-

ção Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel),

mos que muitos profissionais foram aprovados

que em 2009 impetrou um mandado de seguran-

em concursos públicos para ocupar as vagas

ça contra o CRN-5 de modo a impedir a obriga-

existentes e que poucos foram contratados até o

toriedade da presença de Nutricionistas nos es-

momento para suprir a real demanda. Por isso,

tabelecimentos associados. Nosso objetivo não é

enviamos o relatório para o MP-BA, do qual espe-

outro senão garantir a presença do Nutricionista

ramos uma ação enérgica no que concerne a este

Responsável Técnico em bares e restaurantes,

especial cuidado com a saúde pública”, declara

em defesa da segurança alimentar e qualidade

Mariluze Bahia.

nutricional. Estamos confiantes”, destaca Sabrina Batista.

A Unidade de Fiscalização do Conselho também foi a promotora de Fóruns Itinerantes voltados

UPGRADE DA FISCALIZAÇÃO

para estudantes de Nutrição de Sergipe e de eventos pilotos voltados para os Nutricionistas do

De julho de 2011 a novembro de 2012, as Nutri-

PNAE, tanto de Salvador e Região Metropolitana

cionistas fiscais do CRN-5, Diva Moniz e Izabelle

quanto de Sergipe, através de parcerias com o

Gasparini, realizaram mais de 1.350 visitas fiscais

Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição

a Nutricionistas e Técnicos em Nutrição e Dieté-

do Escolar (Cecane/FNDE/UFBA). “Elaboramos

tica (TNDs) registrados no CRN-5. “A maioria das

relatórios importantes sobre o cumprimento das

visitas é direcionada para orientar e disciplinar os

atribuições dos nutricionistas no PNAE”, conta

profissionais, mas também estamos atentas às

Mariluze.

denúncias referentes ao exercício ilegal da profissão, as quais têm sido atendidas com agilidade,

Entre as conquistas do setor de fiscalização na

inclusive com o apoio da Assessoria Jurídica nos

atual gestão, destaca-se, ainda, a contratação,

casos mais graves”, destaca a Nutricionista Mari-

através de Concurso Público, de duas novas fis-

luze Pinho Bahia, coordenadora da Fiscalização

cais, as Nutricionistas Andréa Rita Pinto de Al-

do CRN-5. “No início deste ano, realizamos um

meida e Tatiana Rolando dos Santos, que irão

trabalho interno bastante produtivo com análise

fiscalizar os profissionais que atuam no Estado de

de aproximadamente 1.300 processos”, destaca.

Sergipe e no interior da Bahia, respectivamente.

05


INTEGRAÇÃO E QUALIFICAÇÃO Com o objetivo de promover a integração da categoria e a qualificação dos profissionais registrados, o atual colegiado do CRN-5 promoveu ou apoiou encontros e eventos diversos. Confira os principais:

06


MAIS INTERATIVIDADE Milhares de profissionais passaram a se relacionar com o CRN-5 através do Facebook na atual gestão, o que demonstra que o relacionamento do Conselho com a categoria tem se intensificado. Além disso, boletins online continuam sendo enviados quinzenalmente por e-mail aos profissionais com informações institucionais e de interesse da categoria. De acordo com a vice-presidente do CRN-5, Rita de Cássia Ferreira Silva, o site do Conselho tem sido constantemente atualizado pela assessoria de comunicação do Conselho. A realização de chats temáticos mensais também tem sido aprovada pela categoria. “O de maior repercussão foi o chat sobre o serviço de Personal Diet, que tem sido alvo de grande interesse da categoria. Além disso, os veículos de comunicação têm nos procurado com frequência para mediarmos entrevistas com Nutricionistas. Entendemos que quanto mais visibilidade o Nutricionista tiver na imprensa, mais a nossa profissão será valorizada perante a opinião pública”, destaca Rita. Para otimizar a comunicação, o CRN-5 lançará seu novo site em fevereiro de 2013, muito mais bonito, interativo e funcional. Aguarde!

Entendemos que a responsabilidade social do Conselho permeia tanto as ações junto ao Nutricionista quanto à comunidade. Rita de Cássia Ferreira Silva

” 07


Saúde em Dia

Comida de rua: um desafio para a Saúde Pública A comida de rua faz parte da história do Brasil. Como o país é muito extenso, cada região apresenta um cardápio de comida de rua próprio, ainda que haja influência das migrações e do processo de globalização. Nas ruas da Bahia, além das preparações típicas da culinária africana, como o acarajé, o abará, o bolinho de estudante e o mingau, ou ainda de tradição nordestina, como o queijo de coalho (muito vendido nas praias) e a tapioca, é possível encontrar uma grande diversidade de alimentos e bebidas, como caldo de cana, cachorro-quente, sanduíches de vários tipos, salgados (coxinha, quibe, pastel), sucos, produtos industrializados, refeições completas e muitas frutas in natura, que variam de acordo com a estação do ano. De acordo com a Nutricionista Ryzia de Cassia Vieira Cardoso, grande parte desses alimentos e bebidas comercializadas na informalidade não atende aos critérios de segurança dos alimentos, seja nos aspectos físicos, químicos ou microbiológicos. Em virtude desta condição, tais alimentos não raramente causam agravos e doenças diversas. “As pesquisas têm revelado a evidência de microrganismos patogênicos em diferentes categorias de alimentos. Entre os microrganismos identificados, há os que desencadeiam um quadro clínico de menor preocupação, como sensação de desconforto abdominal, náusea, vômito e diarreia; e os que levam a quadros mais graves, com a disseminação do patógeno para diversos sistemas do organismo humano, condição que pode, inclusive, resultar em morte”, destaca. 08



SUGESTÕES Para minimizar o problema e reduzir os números relacionados à toxinfecção alimentar, a nutricionista sugere ações de qualificação e educação continuada dos vendedores e manipuladores de alimentos que atuam nessa cadeia produtiva através de treinamentos constantes. “É preciso sensibilizar e qualificar os recursos humanos do setor público (inclusive os fiscais) para uma melhor atuação junto ao segmento. Além disso, faz-se necessário o estabelecimento de uma legislação específica. Os consumidores precisam ser orientados; os projetos para melhorar as condições estruturais dos pontos de venda, desenvolvidos e as linhas de crédito para organizar as redes de fortalecimento do setor precisam ser abertas”, declara a professora do curso de Nutrição da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Ryzia Cardoso. Para a especialista, os resultados de um programa de treinamento devem ser avaliados sob diferentes aspectos, uma vez que educação em saúde e mudança de comportamento envolvem discussões complexas. “Para gerar as mudanças esperadas, vale atentar para algumas questões, tais como: ‘Quem é o público-alvo do treinamento? Qual o seu nível de formação? O que este público demanda, em termos de conteúdo formativo? Que abordagem pedagógica será adotada? Qual (is) a(s) metodologia(s) que melhor se aplica(m) para o desenvolvimento do curso? Qual a duração da atividade? Como é possível integrar o novo conhecimento à realidade do manipulador/vendedor, para permitir a troca de saberes?”, detalha.

É preciso sensibilizar e qualificar os recursos humanos do setor público (inclusive os fiscais) para uma melhor atuação junto ao segmento. Além disso, faz-se necessário o estabelecimento de uma legislação específica... Ryzia Cardoso


INFORMALIDADE NA ECONOMIA A comida de rua constitui-se uma realidade nos mais diversos municípios brasileiros principalmente em virtude da baixa oferta de postos de trabalho no setor formal. Tanto em metrópoles quando em pequenos vilarejos, ou mesmo à beira das estradas – nas paradas, é possível encontrar este tipo de alimento. “Para grande parte dos trabalhadores informais, os ganhos na atividade superam o salário mínimo nacional. De acordo com um diagnóstico que envolveu 449 vendedores adultos em Salvador, verificou-se que a média de renda obtida era de 2,2 salários. Adicionalmente, novos trabalhos mostram a interface do comércio da comida de rua com o trabalho infantil, cenário que encerra grande complexidade social”, destaca a Ryzia Cardoso.

ACARAJÉ Em Salvador, foi iniciado há 10 anos um movimento pela Associação das Baianas de Acarajé e Mingau, com apoio de vários órgãos e instituições, com vistas à formação e qualificação de baianas, promoção da segurança do acarajé e proteção da saúde dos consumidores, dado o valor cultural desta iguaria. A intervenção, chamada “Programa Acarajé 10”, apresentou resultados positivos, porém não houve continuidade nas ações, o que prejudicou o alcance dos objetivos propostos. Fora do Brasil, existem experiências de intervenção em relação à comida de rua, apoiadas pelos governos locais e por organismos internacionais como o Fundo das Nações Unidas para Alimentos e Agricultura (FAO), Organização Mundial de Saúde (OMS), Organizações Não Governamentais (ONGs) e programas de desenvolvimento mantidos por países desenvolvidos. Na África, a literatura científica reporta experiências de intervenção em Gana e na África do Sul, com adoção de metodologias estabelecidas pela OMS e pela FAO, que levaram a resultados positivos para o segmento. 11


Saúde em Dia

Educação Alimentar:

lançados espaço virtual e Marco de Referência

rede virtual, que entrou no ar também na sexta-feira, foi criada para compartilhar experiências de pessoas, instituições de governo e organizações da sociedade civil que pratiquem e ajudem a promover a alimentação adequada e saudável no país. “O Marco de Referência e a rede virtual são espaços valiosos que reúnem tudo o que sabemos e o que precisamos saber sobre a educação alimentar e nutricional e que têm o papel de integrar o saber científico e os saberes populares e regionais na promoção do direito humano à alimentação adequada”, ressalta Elisabetta Recine, conselheira do CON-

No dia 30 de novembro, foram lançados, em Brasília o Marco

SEA e coordenadora do Observatório

de Referência em Educação Alimentar e Nutricional e o es-

de Políticas de Segurança Nutricional

paço virtual “Ideias na Mesa”. O Marco foi lançado pelo Minis-

e Alimentar, da Universidade de Bra-

tério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS),

sília (OPSAN/UnB), parceiro do MDS

Ministério da Saúde e Ministério da Educação.

na construção do site.

O documento foi construído a partir de discussões entre re-

Para conferir a rede virtual “Ideias na

presentantes dos três ministérios, de universidades e da

Mesa”, acesse o site, clicando aqui

sociedade civil, especialmente o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA). O documento consolida conceitos e práticas de educação alimentar e nutricional e permite um o-lhar multidisciplinar sobre as políticas que promovem o direito à alimentação adequada e saudável. “Essa é uma novidade e uma conquista muito importante, pois dá visibilidade à discussão sobre os hábitos alimentares da nossa população, além de contribuir para qualificar os debates e práticas em diferentes setores envolvidos”, avalia a secretária nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do MDS, Maya Takagi. “A educação alimentar é uma medida fundamental para enfrentar questões como a obesidade, a desnutrição e as doenças ligadas à alimentação insuficiente ou inadequada”, disse a coordenadora geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Patrícia Jaime. Como desdobramento do Marco de Referência, também foi lançado o espaço virtual “Ideias na Mesa”, dedicado ao debate permanente sobre educação alimentar e nutricional. A 12

+

Fonte: MDS

Essa é uma novidade e uma conquista muito importante, pois dá visibilidade à discussão sobre os hábitos alimentares da nossa população...

Maya Takagi


13


Saúde em Dia

Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) tem novas diretrizes

melhorando, inclusive, nossas ações de prevenção e de tratamento de problemas nutricionais, como a obesidade”, explica Patrícia. As diretrizes da PNAN também se aplicam à promoção da alimentação saudável de forma intersetorial e articulada com diferentes setores, como nas escolas de educação infantil, fundamental e nível médio das redes públicas e privadas. As ações envolvem ainda capacitação dos profissionais da atenção básica

Para intensificar as ações de atenção nutricional nas redes

para impulsionar a orientação alimen-

de atenção à saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), o

tar como atividade de rotina nos ser-

Ministério da Saúde determinou que seus órgãos e enti-

viços de saúde, contemplando a forma-

dades adequem planos, programas, projetos e atividades às

ção de hábitos alimentares saudáveis

diretrizes da nova Política Nacional de Alimentação e Nu-

desde a infância, com a introdução da

trição (PNAN), publicada na portaria nº 2.715, no dia 18 de

alimentação complementar em tempo

novembro de 2011.

oportuno e de qualidade, respeitando a identidade cultural e alimentar das di-

“A atualização dessa política envolveu consultas a vários

versas regiões brasileiras.

segmentos envolvidos com o tema, como conselhos de saúde, trabalhadores e gestores de saúde e de segurança

“Os recursos deverão ser aplicados,

alimentar e nutricional, especialistas em políticas públicas

pelas secretarias estaduais e munici-

de saúde, alimentação e nutrição e representantes da socie-

pais de saúde, em medidas relaciona-

dade organizada”, observa a coordenadora de Alimentação

das à atenção nutricional no SUS, in-

e Nutrição do Ministério da Saúde, Patrícia Jaime.

cluindo prevenção, vigilância e cuidado integral aos usuários do SUS; princi-

Na prática, isso se traduz em mais apoio do Ministério da

palmente, por meio da atenção bási-

Saúde para ações relacionadas a alimentação e nutrição.

ca”, explica o secretário de Atenção à

“A Política Nacional de Alimentação e Nutrição prevê, por

Saúde, Helvécio Magalhães.

exemplo, o fortalecimento da vigilância alimentar e nutricional que terá incentivo para a compra de equipamentos

Conheça a nova versão da PNAN, cli-

antropométricos para que Unidades Básicas de Saúde

cando aqui

(UBS) e pólos das Academias da Saúde possam monitorar as condições de alimentação e de nutrição das pessoas, 14

+

Fonte: Instituto Racine


15



Alimentação fora do lar no contexto do novo padrão alimentar brasileiro

Segundo pesquisas recentes, os brasileiros estão gastando pelo menos 30% de sua renda mensal com alimentação. Não é à toa: boa parte deles passa mais tempo no trabalho do que em casa, o que os leva a se alimentarem em um dos 1,5 milhões de bares e restaurantes espalhados pelo Brasil, quando não no trabalho, nas instituições de ensino ou até mesmo na rua. De acordo com os dados do Instituto Data Popular, o hábito de comer fora de casa faz parte do dia a dia de 65,3% da população. O valor despendido com este hábito subiu de R$ 59,1 bilhões, em 2002, para R$ 121,4 bilhões em 2011 – um crescimento superior a 100% em nove anos. O faturamento do setor também impressiona. Conforme a Associação Brasileira das Empresas de Refeições (Aberc), este passou de R$ 10,9 bilhões em 2010 para R$ 13 bilhões em 2011. Foram 10,5 milhões de refeições servidas diariamente ao longo de 2011, representando um total 11,2% superior ao de unidades distribuídas por dia em 2010, que ficou em 9,4 milhões. De acordo com a Aberc, a tendência é de um crescimento de 10% ao ano ao longo desta década até 2020. Em sete anos, deverá dobrar. Diante deste quadro, fica a quesão: A qualidade nutricional e a segurança dos alimentos estão sendo considerados na hora de escolher o que comer fora lar? “As pessoas precisam observar se o local em que costumam se alimentar é seguro do ponto de vista higiênico-sanitário. E, sobretudo, saber escolher alimentos saudáveis, pobres em gordura, sal, açúcares e conservantes, e ricos em vitaminas, minerais e outros nutrientes que previnem doenças e promovem qualidade de vida”, resume a nutricionista Leny Strauch, assessora técnica do CRN-5. “Consumir alimentos orgânicos é uma boa opção, sobretudo no sentido de reduzir a quantidade de agrotóxicos, os quais comprovadamente fazem mal à saúde”, completa. 17


PESQUISA Dados da última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2009), elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em parceria com o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e o Ministério da Saúde, revela que o consumo alimentar do brasileiro combina a dieta tradicional brasileira à base de arroz e feijão com alimentos de teor reduzido de nutrientes e de alto teor calórico. Segundo a pesquisa, o consumo está aquém do recomendado para frutas, verduras e legumes: menos de 10% da população atinge as recomendações de consumo. É também o caso do leite, que ficou muito abaixo do recomendado e se traduz em elevadas prevalências de inadequação das necessidades diárias de vitaminas e cálcio. Ao lado disso, há elevada ingestão de bebidas com adição de açúcar, como sucos, refrigerantes

“Essas modificações incluem trocar alimentos

e refrescos, particularmente pelos adolescentes.

muito calóricos e com baixo teor de nutrientes por

Mais de 70% da população consome quantidades

frutas, verduras, leguminosas, leite, grãos inte-

superiores ao valor máximo de ingestão tolerável

grais, oleaginosas e peixes, todos eles produzi-

para o sódio, assim como também há um consu-

dos no país”, destaca Leny Strauch.

mo excessivo de gordura saturada (82%). Além disso, 68% da população ingere fibras em valores

BEM VIVER NUTRIÇÃO 2012

abaixo do recomendado. Atento à importância da Alimentação Fora do Lar Em relação às faixas etárias, entre os adolescen-

no Brasil, o Sistema Conselho Federal de Nutri-

tes destaca-se a forte presença na alimentação

cionistas/Conselhos Regionais de Nutricionistas

de biscoitos, embutidos (linguiça, salsicha, mor-

(CFN/CRNs) adotou este assunto como tema

tadela), sanduíches e salgados, e os valores per

de sua campanha anual. A partir dela, diversas

capita indicam um menor consumo de feijão, sala-

ações foram desenvolvidas por todo o Brasil, so-

das e verduras.

bretudo com o objetivo de conscientizar a população acerca da responsabilidade nas escolhas

A POF mostra, ainda, que o consumo médio de

alimentares.

energia fora do domicílio correspondeu a aproximadamente 16% da ingestão calórica total. As

Uma das ações foi o Bem Viver Nutrição 2012,

prevalências de inadequação de ingestão de mi-

evento comemorativo ao Dia do Nutricionista (31

cronutrientes foram altas em todas as grandes

de agosto) realizado no dia 1º de setembro no

regiões do País e refletem a baixa qualidade da

Hotel América Towers, em Salvador. O evento,

dieta do brasileiro. De acordo com a pesquisa,

voltado principalmente para nutricionistas, reuniu

correções na dieta permitiriam atingir as reco-

quase 200 pessoas, em torno de uma rica pro-

mendações para a maioria dos micronutrientes.

gramação, que pode ser conferida nesse link

18

+


Atuação Profissional

Educação Nutricional em ambiente escolar: desafios e conquistas Além do trabalho de produção, supervisão de

ações teóricas, através de informações aos fun-

equipes, treinamentos, auditorias internas e ativi-

cionários, alunos e pais, com a vivência prática,

dades que garantam a qualidade higiênico-sani-

por meio de mudanças implementadas na cantina

tária e nutricional dos alimentos, com respeito à

ou refeitório”, completa.

cultura alimentar de escolares, é dever do Nutricionista que atua na alimentação escolar promo-

Tatiana conta que reuniões com familiares e pro-

ver a educação nutricional, com vistas a gerar

fessores são promovidas nas escolas para abor-

mudanças de hábitos. A realidade vivenciada

dar o tema da alimentação saudável, mostrar o

pela Nutricionista Tatiana Medeiros há quase três

perfil nutricional dos alunos e sugerir atividades.

anos em cantinas e refeitórios de escolas particu-

“Acompanhamos o almoço dos estudantes, ob-

lares de Salvador está dentro deste parâmetro.

servando a aceitação das preparações e cuidando de alguns casos especiais. Disponibilizamos

“Junto com os professores, promovemos ativi-

receitas saudáveis e fáceis para serem prepara-

dades em sala de aula e agendamos visitas

das pelos próprios alunos. Fazemos avaliação

regulares dos alunos ao refeitório. Também pre-

antropométrica e traçamos o perfil nutricional da

paramos material didático para ser utilizado pe-

comunidade escolar”, detalha a Nutricionista, que

los professores, sugerimos material para mural

ressalta que também é dever do Nutricionista atu-

e área de cantina, escrevemos textos voltados

alizar as escolas em relação às legislações, tanto

aos pais”, conta. “A presença de um nutricionista

da Vigilância Sanitária quanto às concernentes à

torna a difusão do tema da alimentação e nutrição

regularização da alimentação escolar.

mais consistente. Nossa meta deve ser aliar 19


BOAS PRÁTICAS Entre os projetos de educação nutricional adotados por Tatiana Medeiros destaca-se o “Prato Colorido”, em que ela aborda a importância das cores dos alimentos para o corpo humano, em sala de aula. “Combinamos previamente de, na hora do almoço, cada um fazer um prato bem colorido e fotografamos. Todos querem ter seu

o juízo crítico em formação, e a noção de conse-

prato fotografado, por isso acrescentam itens de

quências em longo prazo ainda é muito abstrata.

salada”, detalha Tatiana.

Logo, além de fornecer informação, é preciso criar um ambiente propício a escolhas saudáveis.

Para os alunos mais velhos, é desenvolvida, juntamente com a professora de Ciências, uma

“Não adianta dar a mesma visibilidade a lanches

atividade sobre rotulagem, onde a Nutricionista

saudáveis e a opções menos nutritivas. Se, para

explica como analisar os rótulos. A partir desta

a sobremesa, tem fruta e doce, a maioria das cri-

abordagem, os próprios alunos julgam os itens

anças opta pelo doce, mas quando só tem fruta,

da cantina e escolhem as melhores opções de

muitas comem a fruta e adoram”, desta a Nutri-

lanche.

cionista Tatiana Medeiros. Vale frisar que os alimentos industrializados contam com um enorme

Tatiana costuma incluir no cardápio itens que

apelo de marketing, com propagandas inseridas

remetam a assuntos que os alunos estão estu-

nos desenhos animados e associação com os

dando. Quando o assunto abordado na sala de

personagens. “Tem criança que escolhe o suco

aula é reciclagem, por exemplo, são preparados

pelo boneco da embalagem e não pelo sabor”,

pratos com aproveitamento integral dos alimen-

lembra.

tos. Além disso, “apostamos em pratos africanos na Copa da África do Sul e pratos ingleses para

Para incentivar o consumo de itens saudáveis na

serem servidos durante as Olimpíadas de Lon-

escola, o Nutricionista precisa ter persistência. É

dres. Na semana do estudante, pedimos receitas

comum nas primeiras apresentações haver so-

das famílias dos alunos para preparar em nosso

bra, porém com o tempo, é notável o aumento da

refeitório. Essas ações motivam os alunos a ex-

aceitação. “A saída de pratos com soja, arroz in-

perimentar novas preparações e a conhecer ali-

tegral, macarrão integral, bolinhos assados com

mentos diferentes”, ressalta a Nutricionista.

ricota, tem aumentado. É nítido o aumento do gosto pelas frutas, mas esta mudança só aconte-

NEOFOBIA ALIMENTAR

ceu depois de mudarmos a apresentação delas, que são disponibilizadas já cortadas e bem vi-

Na infância, a neofobia alimentar, a aversão a

síveis, facilitando o acesso. O biscoitinho de aveia

experimentar alimentos desconhecidos, é muito

e o misto especial (pão integral com queijo branco

comum. Este é um dos motivos pelos quais mui-

e peito de peru) também tem uma ótima aceitação

tas crianças não conhecem grande parte dos ali-

atualmente. Esses são resultados à longo prazo”,

mentos saudáveis, como frutas e verduras. Mui-

conta Tatiana Medeiros.

tas jamais experimentaram os cereais integrais. Quando já é hábito da família e a criança já con-

ESCOLA PÚBLICA

some, ela aceita naturalmente. Além disso, é preciso considerar que as crianças ainda estão com 20

A experiência positiva e exitosa, aplicada nas es-


colas da rede privada, podem e devem ser repli-

pais, professores e, se a escola não está de fato

cadas na rede pública. Mesmo diante das limita-

empenhada em promover mudanças, acaba re-

ções, o nutricionista responsável deve montar um

trocedendo”, destaca a Nutricionista Tatiana Me-

plano de ação e apresentá-lo junto à direção da

deiros. Cada escola determina qual será o des-

escola e Secretaria de Educação, buscando apoio

taque da alimentação saudável dentro de suas

para atuar na educação alimentar e nutricional. “É

dependências. Por isso, o Nutricionista deve ali-

dever do nutricionista priorizar as atividades pre-

nhar sua forma de trabalho para que juntos, es-

vistas na Resolução CFN nº 380/2005 + + ”, res-

cola e cantina, defendam o mesmo ponto de vista.

salta a Nutricionista Amélia Reis, mestranda em

“É interessante quando a escola estabelece algu-

Alimentos, Nutrição e Saúde pela Universidade

mas regras, tais como a restrição ou redução da

Federal da Bahia (UFBA).

frequência de exposição de alguns itens menos saudáveis”, completa.

“Sabemos que o número de escolares sob a Responsabilidade Técnica do Nutricionista da rede

Em relação à Alimentação Escolar da rede públi-

pública é muito grande, o que dificulta a realiza-

ca, a ex-agente do PNAE Amélia Reis também

ção de todas as atividades previstas para o pro-

aponta como desafio a sensibilização e a articu-

fissional. Junte-se a isso a existência de estrutu-

lação dos gestores municipais para que a Ali-

ras físicas precárias, escassez de equipamentos,

mentação Escolar de qualidade seja prioridade.

mão de obra pouco qualificada, má remuneração

“É preciso desenvolver ações intersetoriais para

e frágeis vínculos empregatícios, fatores que

atender à complexidade do Programa e incluir

aumentam os desafios para o nutricionista Res-

gêneros da Agricultura Familiar”, aponta. Amélia

ponsável Técnico, mas não impossibilitam a exe-

considera, ainda, que para otimizar os resultados

cução de um bom trabalho nas escolas estaduais

do PNAE, faz-se necessária a aproximação entre

e municipais”, declara Amélia.

a Saúde e a Educação, sem deixar de envolver as famílias e a comunidade como um todo. “Precisa-

Para a nutricionista, nenhum desses obstácu-

mos incluir a Educação Alimentar e Nutricional

los deve justificar a secundarização das ações

em currículos escolares e em projetos pedagógi-

de educação alimentar e nutricional nas escolas

cos numa perspectiva maior, não restrita apenas

públicas, as quais se limitam, muitas vezes, a

à área biomédica”, conclui.

ações pontuais (palestras em dias específicos, como o Dia Mundial da Alimentação e Feiras de Saúde). “Devemos seguir as recomendações dos documentos oficiais, que apontam que a nutrição

> DICAS DE LEITURA

seja trabalhada transversalmente nas escolas, compondo projetos pedagógicos e currículos es-

Livro: “É de pequeno que se aprende?

colares. Devemos fazer isso pelo compromisso

Promoção da alimentação saudável na

com a qualidade do nosso trabalho e com a nossa

Educação Infantil”, organizado pela pro-

profissão”, pontua.

fessora Vera Lúcia Xavier Pinto e publicado pela Edufrn – Natal, em 2010.

DESAFIOS Artigo: “Programa de educação nutricioUm dos grandes desafios a serem superados na

nal em escolas de ensino fundamental”,

Alimentação Escolar é a falta de respaldo das

de autoria da professora Maria Cristina

escolas para a implementação de mudanças.

Faber Boog, publicado na Revista de Nu-

“Sempre haverá pressão de parte dos alunos,

trição de Campinas, nov/dez/2010.


Nutricionistas:

contra agrotóxicos, em defesa da agroecologia De acordo com a Organização Mundial de Saúde

sunto, fato que tem motivado a categoria a se

(OMS), as intoxicações por agrotóxicos atingem

envolver na defesa dos alimentos orgânicos. No

três milhões de pessoas por ano, em todo o mun-

entanto, poucos ainda têm familiaridade com os

do. Destes, 2,1 milhões de casos acontecem nos

conceitos de agricultura ecológica ou agroecolo-

países em desenvolvimento, com 20 mil mortes

gia, alimentos orgânicos, slow food e afins.

ocasionadas pelo problema. Neste contexto, o Brasil se destaca por ser o campeão mundial de

ALIMENTOS ORGÂNICOS

uso de agrotóxico, embora não seja o de maior produção agrícola. O país ainda é o principal des-

Segundo o agrônomo Altino Junior, para um

tino de agrotóxicos proibidos no exterior.

produto ser considerado orgânico ou ecológico, ele precisa ser cultivado à moda antiga, sem o

Segundo o agrônomo Altino Bonfim, pesquisador

uso de agentes químicos, como agrotóxicos, pes-

e professor da Universidade Federal da Bahia

ticidas, fertilizantes artificiais ou organismos ge-

(UFBA), “não existe uso seguro para os agrotóxi-

neticamente modificados (transgênicos) e “com o

cos. Além disso, o uso de agrotóxicos sempre

mínimo possível de uso de máquinas agrícolas, as

deixa resíduos em alimentos, contaminam rios,

quais, ao compactarem o solo, acabam criando

ar e lençóis freáticos. Isso sem falar nas alergias,

condições para a erosão (perda de solo fértil). Por

diversos tipos de neoplasias (cânceres) e outras

isso, deve ser privilegiado o plantio direto, que o

doenças que o consumo de agrotóxicos podem

agricultor faz sem revolver o solo, facilitando a

causar”, destaca.

criação de matéria orgânica, utilizada como fertilizante natural”, esclarece.

“A população, de modo geral, desconhece os riscos dos agrotóxicos para a saúde e para o

Se o produto for de origem animal, ele não pode

meio ambiente. No entanto, os nutricionistas,

conter hormônios do crescimento, antibióticos

como categoria social preocupada com a segu-

ou drogas veterinárias. Os processados, como

rança dos alimentos, não podem ficar alheios a

geleias e bebidas, não devem ter aditivos sinté-

esta questão. Pelo contrário, estes profissionais

ticos na fabricação. A planta ou o grão só pode

devem conhecer e se envolver nas ações re-

receber nutrição natural e devem ter crescido e

lacionadas à qualidade dos alimentos desde sua

amadurecido no tempo certo. No que tange ao

produção e processamento até o preparo e distri-

modo de produção, as monoculturas devem ser

buição para consumo”, defende o agrônomo.

substituídas por policulturas, já que as primeiras são muito mais sensíveis às doenças e infesta-

Recentemente,

brasileiros

ções de insetos, além de serem extremamente

começaram a se inteirar mais a respeito do as-

frágeis. A fazenda, bem como a fábrica, também

22

os

nutricionistas


tem que preservar os recursos naturais e respei-

organismo e provocam doenças. Estes químicos

tar todas as leis trabalhistas. “Ou seja, optar pela

adicionados no processamento de muitos alimen-

agroecologia não é sinônimo apenas de defender

tos industrializados são comuns nos chamados

a saúde, mas também significa defender um país

alimentos fast foods, que precisam ser evitados e

mais justo e menos poluído”, declara o professor

substituídos por aqueles da linha ‘slow food’, ex-

da UFBA.

plica o agrônomo.

AGROECOLOGIA NO BRASIL

SLOW FOOD

A agroecologia é um enfoque científico que apoia

O Slow Food é uma associação internacional sem

a transição dos atuais modelos de desenvolvi-

fins lucrativos fundada em 1989 como resposta

mento rural e de agricultura convencionais para

aos efeitos padronizantes do Fast Food; ao ritmo

estilos de desenvolvimento rural e de agriculturas

frenético da vida atual; ao desaparecimento das

sustentáveis. Sobre a utilização em larga escala

tradições culinárias regionais; ao decrescente in-

de alimentos orgânicos dentro dos padrões da

teresse das pessoas na procedência e sabor dos

agroecologia, Altino aponta que os agricultores

alimentos e em como as escolhas alimentares

familiares são os maiores investidores, embora

pode afetar o mundo.

já existam no país grandes produtores de orgânicos. O pesquisador, porém, lamenta o fato de

Segundo o Slow Food, o prazer de saborear comi-

praticamente inexistirem políticas públicas que

da e bebida de qualidade deve ser combinado

incentivem este tipo de produção. “Há exceções,

com o esforço para salvar produtos alimentícios

como no caso do estado de Santa Catarina, onde

que correm perigo de desaparecer devido ao pre-

30% da alimentação escolar tem que ser, obriga-

domínio das refeições rápidas e ao agronegócio

toriamente, orgânica. Mas, de modo geral, não

industrial. “Existe uma convergência interessante

há incentivos nem linhas de crédito específicas

entre os princípios do Slow Food e os da agricul-

para agricultores orgânicos”, diz Altino Bonfim de

tura ecológica ou agroecologia”, resume Altino.

Oliveira Junior. Para incentivar o consumo de alimentos orgâni-

> DICAS DE LEITURA

cos, mercadistas e comerciantes podem colaborar exigindo de seus fornecedores certificações

Título: “Alimentos Orgânicos:

confiáveis de não contaminação dos alimentos.

ampliando os conceitos de

“Além disso, eles podem abrir espaços e gôndo-

saúde humana, ambiental e social”

las específicos para comercialização de produtos

Autora: Elaine de Azevedo

orgânicos”, sugere o agrônomo. “A maior consci-

Editora: Unisul

entização da população em relação aos perigos do uso de agrotóxicos e demais venenos tem o

> DICAS DE FILMES

poder de estimular o aumento do consumo de alimentos orgânicos”, completa . Vale destacar que a contaminação dos alimentos não se dá apenas na produção, mas também

Título: O veneno está na Mesa Ano: 2011 / Diretor: Silvio Tendler

+

Assista aqui

no processamento, quando são adicionados os

Título: O veneno nosso de cada dia

estabilizantes, conservantes, aditivos, irradia-

Ano: 2011 / Diretor: Marrie Monique

ção, entre outros venenos que se acumulam no

+

Assista aqui



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.