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agosto, setembro 2015
INTOLERÂNCIA
O paradoxo da violência e da falta de respeito ao pensamento alheio em plena era digital. Será que vamos superar? V E J A + PÁ G . 0 8
Dois filhos da PUC no Apple Design Awards: conquista de prêmio inédito para o Brasil
COM QUAL BRASIL VOCÊ QUER FALAR?
O Grupo OM é especializado em comunicação regional. Porque entende que regionalização é muito mais do que mudar o sotaque ou comprar mídia localmente. É conhecer a realidade das marcas em cada mercado e desenhar estratégias vencedoras para superar metas. Com empresas independentes, mas que trabalham de forma sinérgica, o Grupo OM oferece a força da especialização com o poder da integração.
EDITORIAL Universidade: o palco ideal para o debate da atualidade
A PUCPR acredita que o papel de uma universidade é formar não apenas
profissionais, mas cidadãos que farão a diferença no meio em que vivem. Esse papel é ainda mais acentuado se levarmos em conta os Valores Maristas que regem nossa instituição. Temos, por obrigação, a formação integral, que abarca não somente competências técnicas, mas também valores como ética, solidariedade e compaixão.
Por esse motivo, a universidade tem extrema relevância nas discussões
do seu tempo. No momento em que vivemos, não poderíamos nos furtar ao debate sobre a intolerância. Será um fenômeno da atualidade ou ela é apenas amplificada pelas redes sociais? Fato é que, mesmo com tanta informação circulando, sobretudo devido à internet, ainda presenciamos discursos de ódio, sejam motivados por religião, orientação sexual, ideologia política, ou outro motivo que suscite o debate.
Diante de tantas manifestações de ódio, que remontam à selvageria medieval
(supostos criminosos amarrados a postes, pessoas agredidas por professarem sua fé religiosa, ataques verbais a opiniões contrárias nas redes sociais), decidimos que a universidade deveria propor o debate fundamental sobre a intolerância. O que motiva tanto ódio? Esperamos que entendendo por que andamos tão violentos, consigamos encontrar uma saída pacífica e harmônica para as divergências.
Apesar de tratarmos de um tema tão conturbado em nossa matéria de capa,
gostaríamos de convidá-los a acompanhar um projeto do qual temos muito orgulho: há alguns anos, a PUCPR desenvolve o Projeto Ciência e Transcendência na Penitenciária Feminina de Piraquara, e uma das ações de mais destaque foi desenvolvida em parceria com a Tintas Coral, o projeto Tudo de Cor. Com o apoio do curso de Arquitetura e Design, a parceria revitalizou áreas do presídio, contribuindo para uma maior proximidade entre detentas e seus filhos que lá nascem.
econômico e pelo consumismo desenfreados. O texto é um chamado para que olhemos com mais cuidado para o nosso planeta e preservemos todas as formas de vida. Espero que gostem de mais uma edição preparada com muito cuidado e com
o objetivo de levantar debates sobre temas importantes de nosso tempo. Que a leitura das próximas páginas seja um convite à reflexão e à ação por um mundo melhor.
Boa leitura a todos! Waldemiro Gremski Reitor
Vida Universitária é uma publicação bimestral da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, registrada sob o nº 01, do livro B, de Pessoas Jurídicas, do 4º Ofício de Registro de Títulos, em 30/12/1985 – Curitiba, Paraná. CONSELHO EDITORIAL – PUCPR Reitor Waldemiro Gremski Vice-Reitor Paulo Otávio Mussi Augusto Pró-Reitor de Graduação Vidal Martins Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação Paula Cristina Trevilatto Pró-Reitor Comunitário José Luiz Casela Pró-Reitor Administrativo e de Desenvolvimento Paulo de Paula Baptista Diretora de Relacionamento Silvana Hastreiter COORDENAÇÃO Diretoria de Marketing e Comunicação do Grupo Marista Eduardo Correa Vivian Lemos CONTEÚDO
Também abordamos a “encíclica ambiental”, do Papa Francisco, um forte apelo
para que cuidemos de nossa casa, tão impactada por nossas ações em busca do progresso
GRÃO-CHANCELER Dom José Antônio Peruzzo
Coordenação Iraisi Gehring Edição Camila Gino DRT-PR 3768/15/04 Projeto Gráfico Brainbox Diagramação Sacha Bezrutchka Revisão Tailor Media ANUNCIE Tailor Media Content & Media Projects (41) 3153-1919 www.tailormedia.com.br Impressão Serzegraf 15 mil exemplares Contato Rua Imaculada Conceição, 1155 – 2º andar Prado Velho – Curitiba – Paraná CEP: 83215-901 Fone: (41) 3271-1515 www.pucpr.br/vidauniversitaria conteudo@grupomarista.org.br
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NESTA EDIÇÃO 20 Capa _
Os caminhos para vencer a intolerância
08
Filhos da PUC _
12
Mercado de Trabalho _
16
Nanoatitudes _
Victor Gimenez e Gabriel Rocha
Econofísica e cool hunting são
Projeto leva vida e cor à
vencem prêmio inédito da Apple
novas e atrativas profissões
Penitenciária de Piraquara
28
32
36
O dia a dia do reitor da PUCPR
A encíclica ambiental do Papa
O que os alunos do Ciência sem
em prol da melhor educação
Francisco quebra paradigmas
Fronteiras aprenderam lá fora
40
44
48
Debate sobre Direitos
Queijo francês feito no Paraná por
Avanço tecnológico e
Humanos fica fortalecido com
alunos da PUCPR e da UEPG
diretriz humanista na Escola
Diário de Bordo _
Vírgula _ a abertura de Mestrado
Ao Infinito e Além _
Search Lab _
Mundo Afora _
Raízes _
de Medicina da PUCPR
FILHOS DA PUC
08
POR THIAGO OLMEDO
Do sonho de infância ao reconhecimento internacional Alunos da PUCPR desenvolvem game e conquistam prêmio no Apple Design Awards, um feito inédito para o Brasil Tudo começou por causa da curiosidade.
São Francisco, e considerado o “Oscar” dos
Como, afinal, aqueles personagens na televisão
aplicativos. Com o jogo Jump-O, eles ficaram
se mexiam e interagiam uns com os outros?
em primeiro lugar na categoria Scholarship,
Foi assim que Victor Gimenez e Gabriel Rocha
um feito inédito para o Brasil. “Saber que fomos
iniciaram o seu caminho no mundo dos games.
os primeiros brasileiros a receber esse prêmio é muito gratificante, mas também um pouco
Assim como boa parte das crianças, eles eram
assustador. Sempre fomos muito reservados.
viciados em videogame. “Comecei jogando
No início, ficamos um pouco assustados com a
Atari, bem pequeno, quando tinha uns dois anos
exposição que esse prêmio nos trouxe”, conta
de idade. Dali para frente, novos videogames,
Gabriel. “Já no dia seguinte à premiação, tivemos
novos jogos, e a paixão só aumentava”, lembra
uma espécie de coletiva de imprensa com cinco
Victor. “Sempre tive a curiosidade de saber
repórteres de grandes canais de comunicação
como fazer coisinhas se mexerem pela tela e
do Brasil”, recorda, ainda mostrando surpresa
interagirem entre elas, como via nos jogos.”
com a popularidade conquistada.
SONHO DE INFÂNCIA
ENCONTRO NA UNIVERSIDADE
Esse desejo de descobrir como os jogos
Apesar de sempre estar por dentro das
funcionavam rendeu frutos aos dois amigos.
novidades dos games, a curiosidade da
Este ano, Gabriel e Victor ganharam o Apple
infância começou a se transformar em
Design Awards, anunciado durante o evento
conhecimento
Worldwide
formado em Ciência da Computação,
Developers
Conference,
em
na
faculdade.
Gabriel,
09
e Victor, graduado em Engenharia da
mos às histórias de infância.”
Computação, tornaram-se especialistas em desenvolvimento de jogos digitais por meio
A partir das primeiras ideias, a dupla começou
do curso de extensão da PUCPR.
a desenvolver a estrutura e o funcionamento do game, que em todos os momentos procu-
O que antes era apenas um sonho, virou reali-
ra refletir, na tela, um pouco da realidade e os
dade após uma conversa em um jantar há dois
sentimentos vivenciados pelas crianças que
anos. “Eu e Gabriel decidimos começar a fa-
sofrem com o bullying.
zer jogos juntos. Combinamos um jantar com nossas esposas, afinal, sem o entendimento
Ambos colocaram suas histórias pessoais
e o apoio delas, não conseguiríamos dedicar
no game criado. “Fizemos os personagens
nosso tempo livre ao desenvolvimento”, reve-
em forma de círculo e o mundo quadrado
la Victor. “Nos propusemos a desenvolver um
porque não nos sentíamos como parte dele”,
jogo em 48 horas e, discutindo temas, chega-
descreve Victor.
O Jump-O traz para a cena dos games um pouco da realidade das crianças que sofrem bullying.
© LA PHOTO
Egressos da PUCPR, Victor Gimenez e Gabriel Rocha venceram o mundialmente disputado Apple Design Awards com o jogo Jump-O.
ABERTURA DE PORTAS
pois nem sempre conseguem lucrar com seus
O prêmio inédito tornou os dois conhecidos
jogos. Já existem alguns incentivos do governo
na área. Mas eles esperam que seu feito
e do Banco Nacional de Desenvolvimento
ajude outras pessoas interessadas em games
Econômico e Social (BNDES), mas o risco de um
a tornarem seus sonhos realidade. “Sem
jogo não gerar lucro é bastante alto, portanto,
dúvidas, ser reconhecido e receber um prêmio
muitos decidem não arriscar”, aponta.
10
da Apple é muito importante para nós e para nossa carreira”, considera Gabriel. “Eu gostaria
Embora
o
cenário
no
Brasil
para
que esse prêmio, de algum modo, ajudasse
desenvolvedores não seja ainda o mais
os desenvolvedores brasileiros a serem
propício, Victor deixa uma dica para quem
mais respeitados e reconhecidos no cenário
quer seguir o caminho do mundo dos games.
internacional.”
“Produzir, produzir e produzir. Apesar de o Jump-O ser nosso primeiro jogo publicado,
Segundo Gabriel, a área está crescendo no
fizemos mais de uma dezena de jogos
Brasil, mas ainda falta muito para o país ser
antes”, assinala. “Criar é fundamental para
reconhecido no setor de games. “Já existem
aprimorar o processo e manter a mente
até mesmo cursos de graduação específicos
ativa. Ouvir feedbacks também é essencial.
para a área de desenvolvimento de jogos
Os jogos que fazemos não serão jogados
digitais. Porém, ainda há muito a ser feito para
somente por nós, por isso a importância de
que pequenos estúdios consigam sobreviver,
ouvir os outros.”
SAIBA Confira no YouTube o teaser do jogo Jump-O da dupla de egressos da PUCPR Victor Gimenez e Gabriel Rocha, vencedora no Apple Design Awards 2015. youtube.com/ watch?v=V2_p_OvOpA4
Como se cria um game? Para quem é especialista no assunto, pode parecer
1° passo: concepção da ideia.
simples ou até mesmo lógico criar um jogo. No
2° passo: desenvolvimento de um protótipo jogável,
entanto, a maioria das pessoas não faz ideia de como
mesmo sem nenhuma arte ou som. Apenas para ver se o
um game é desenvolvido. Os vencedores do Apple
jogo é realmente legal de ser jogado.
Design Awards, Victor Gimenez e Gabriel Rocha,
3° passo: desenvolvimento da arte, dos sons e da música,
deram uma palinha e explicaram, de uma maneira
em paralelo à lapidação do protótipo, para adicionar
fácil, o passo a passo do processo de criação. “O
novas funcionalidades, menus, fases etc.
desenvolvimento de um jogo possui várias etapas.
4° passo: na medida em que a arte é entregue, ela passa a
Quanto mais complexo o jogo, mais etapas existirão”,
ser adicionada ao jogo e ajustes são realizados se necessário.
conta Gabriel. Segundo eles, para o desenvolvimento
5° passo: do mesmo modo que a arte, na medida em que
de um jogo simples, são necessárias, pelo menos,
novas fases e funcionalidades são adicionadas ao jogo,
cinco fases:
testes e ajustes são realizados.
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MERCADO 12 DE TRABALHO
© SHUTTERSTOCK
P O R PA U L A M E L E C H
Admirável mundo novo Em um mundo cada vez mais dinâmico, é crescente o número de novas profissões e campos de atuação Em
constante
sociedade
profissões, assim como uma diversificação
vez
mais
maior de atuação em campos antes
dinamismo e fluidez. As transformações
impensados, o que amplia o leque de
são muito rápidas. Esse processo aplica-
oportunidades de trabalho.
contemporânea
mutação, exige
a
cada
se também ao mercado de trabalho, com novas demandas que exigem profissionais
Esse
contexto
afeta
diretamente
as
capacitados e adaptados a novas realidades
organizações na busca por resultados e
e alto padrão de exigência. Para dar conta
respostas à dinâmica demanda do mercado.
de atender esses nichos, surgem novas
“Os profissionais, como consequência,
A velocidade das mudanças na contemporaneidade vem abrindo oportunidades e áreas de trabalho diferentes das tradicionais. O melhor é que elas são interessantes e muitas vezes também rentáveis.
são exigidos com relação à aquisição de © DIVULGAÇÃO
13
André Borges Catalão atua como econofísico: da Física para o mercado financeiro.
novas habilidades e capacidades que gerem melhores práticas organizacionais”, observa Daniella Forster, coordenadora da PUC Talentos – Serviços de Carreira e Estágio, da PUCPR. Diante desse cenário, que exige cada vez mais habilidades, os profissionais que conseguem se adequar às exigências que vão surgindo tendem a obter melhores oportunidades de carreira. “A empregabilidade dessas pessoas
Os econofísicos têm muito a oferecer para
é bem mais alta do que daquelas que não
as áreas econômica e financeira. Técnicas
acompanham as tendências do mercado”,
de simulação, otimização e resolução de
afirma Daniella.
problemas numéricos necessárias no mercado financeiro são também usadas na Física. “Além
ECONOFÍSICA
disso, o espírito científico de olhar problemas
Quando pensamos em um profissional da
de vários ângulos, questionando e testando
Física, por exemplo, dificilmente imaginamos
hipóteses, é uma característica do físico que
que possa seguir carreira no mercado
pode ser aproveitada em diversas áreas”,
financeiro. Não só pode como essa é uma das
sugere André.
profissões em alta. “Especificamente para a área financeira, a matemática vista no curso
SALÁRIOS DE R$ 37 MIL
de Física permite sua aplicação em áreas
Aliada às novas oportunidades de carreira,
como modelagem de preços de produtos e
a remuneração também mostra potencial.
risco”, explica o físico André Borges Catalão,
Recente
um dos profissionais que enveredou pelos
consultoria Robert Half, especializada em
atrativos caminhos da nova área, chamada
recrutamento, aponta que o setor de risco
“econofísica”. Hoje trabalhando em um banco,
de mercado, na área financeira, oferece
André mudou o cenário não muito favorável
salários que partem da faixa de R$ 4.700,00
da época em que se formou, nos anos 1990.
para iniciantes e vão até R$ 37 mil para
“A carreira na área de pesquisa era ainda mais
cargos de direção.
guia
salarial
divulgado
pela
restrita que atualmente”, recorda. Áreas de atuação promissoras para esses profissionais envolvem a análise de dados em processos complexos, que lidam com
Big Data (amplos conjuntos de dados) e Data
formalizada, há algumas décadas. Trata-se
Mining (literalmente, mineração dos dados,
de um “caçador de tendências”, com talento e
com a extração de informações implícitas em
capacitação para olhar o mundo de maneira
bases de dados) – o que abrange não só a parte
apurada e a mente aberta, em busca do que
financeira, mas também questões relacionadas
está surgindo como novidade e das novas
ao comportamento do consumidor e riscos de
dinâmicas da sociedade, nos mais diversos
fraudes. Os econofísicos também podem atuar
campos.
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em fundos cujas operações são determinadas Esse profissional vem de diversos tipos de
modelagem ou validação de modelos de riscos
formação, como Psicologia, Antropologia
de mercado, crédito e operacional.
ou Fotografia. “O cool hunter consegue entender e decodificar movimentos que
COOL HUNTING
estão acontecendo e também aqueles
O cool hunter é outro profissional que não
que ainda acontecerão, no longo prazo”,
existia, ao menos com uma configuração
define Carolina Burti, da WGSN, empresa
Entre as novas atividades profissionais, mobilidade, flexibilidade, interdisciplinaridade e disposição para o compartilhamento são atributos que fazem a diferença.
© SHUTTERSTOCK
por algoritmos, além da chamada área de
© DIVULGAÇÃO
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deve buscar, principalmente, cursos voltados à metodologia de pesquisa de tendências.
Camila Ferrari, diretora de tendências da consultoria Anima Trends: foco na identificação e organização de movimentos ainda em configuração na sociedade.
“Também é muito importante estudar o comportamento do consumidor e se inteirar sobre as inovações que estão ocorrendo nos mais diversos setores”, orienta Camila Ferrari, internacional
que
é
referência
na
identificação e previsão de tendências. “Ele
diretora de tendências da consultoria Anima Trends.
observa comportamentos existentes em diversas áreas, como arte, moda, ciência,
Segundo Camila, cultivar hábitos de leitura
tecnologia, e encontra padrões nesses
de revistas e bibliografias focadas nesse
movimentos”, esclarece.
universo são qualidades importantes para esse profissional. Também é essencial
A análise de tendência consiste na observação
o acompanhamento de blogs, sites de
e decodificação de novos padrões, ou
informação e redes sociais. É requisito
seja, de movimentos ainda incipientes de
fundamental para o trend researcher estar
comportamentos de consumo e estilos
atualizado. “O pesquisador de tendências
de vida. O cool hunter pode trabalhar em
deve ter a sensibilidade para identificar
áreas que buscam profissionais focados em
informações
inovação, preparados para antecipar e entender
Camila. “Ele deve saber filtrar os novos
comportamentos, trazendo assim boas ideias
movimentos e depois organizá-los de
para a criação de produtos e serviços. “Esse
maneira coerente e eficaz.”
tipo de profissional está presente hoje dentro de grandes marcas de moda, entendendo as tendências, e até mesmo em empresas automobilísticas e agências de publicidade”, aponta Carolina.
TREND RESEARCH Qualificar-se na área de trend research é um requisito importante para abrir espaço nessa carreira. Quem procura se inserir no mercado como “pesquisador de tendências”
relevantes”,
ressalta
NANOATITUDES POR THIAGO OLMEDO
Arte que acolhe Projeto “Tudo de Cor para a Penitenciária Feminina do Paraná”, em uma parceria entre PUCPR, Tintas Coral e Departamento de Execução Penal – Depen, ajuda a melhorar a qualidade de vida das detentas e da equipe de profissionais que atua dentro da realidade prisional
Um ambiente repleto de cores, desenhos e painéis
uma capacitação profissional”, considera o professor
artísticos. Pela descrição, poucas pessoas associariam
Carlos Nigro, decano da Escola de Arquitetura e
esse espaço ao rigor de uma penitenciária. Pois
Design e um dos idealizadores do projeto. “Criamos
o “Tudo de Cor para a Penitenciária Feminina do
oportunidade de inclusão social por meio de uma
Paraná”, um dos projetos do Programa Ciência e
competência adquirida.”
Transcendência: educação, profissionalização e inserção social, tem mudado a rotina das detentas
MAIS VIDA
da Penitenciária Feminina do Paraná (PFP), em
A direção da PFP selecionou 30 mulheres da
Piraquara (PR), proporcionando mais vivacidade
penitenciária, que receberam um curso técnico
e arte ao seu dia a dia.
de pintura ministrado por um técnico das Tintas Coral. A capacitação é oferecida pela marca, que
Dentro desse projeto, dois pátios internos, onde
concebeu e implanta o programa “Tudo de Cor” em
circulam as mulheres em situação de privação
diversas ações e modalidades diferentes, de Norte
de liberdade, e a galeria “A” foram totalmente
a Sul do país (leia mais no site vidauniversitaria.
revitalizados para melhorar o cotidiano das
pucpr.br). Passado o período de aprendizado, as
detentas, das gestantes e seus recém-nascidos.
detentas iniciaram o trabalho. Pegaram os pincéis
A ideia surgiu no curso de pós-graduação em
e as tintas e passaram a revitalizar o espaço de
Arquitetura e Design da PUCPR. “Com o projeto,
convivência na ala onde as mães ficam com os
conseguimos traduzir mensagens profundas. E ele
bebês e dois pátios internos da PFP.
também abre a possibilidade para as detentas de
16
© MICHELLE VILAÇA
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A vida em cores: projeto desenvolvido na Penitenciária Feminina do Paraná, em Piraquara, revitaliza áreas da prisão e reflete em uma melhor convivência no dia a dia.
O projeto do rearranjo cromático dos espaços,
Identidade e Missão da PUCPR, avalia que a
por meio da pintura, foi desenvolvido na disciplina
iniciativa na penitenciária do Paraná em Piraquara,
de Composição dos Espaços Internos do curso
que começou em 2012, tende a proporcionar
de Especialização em Arquitetura e Design de
uma melhoria nas condições de vida diária das
Interiores, pelas alunas Caroline Bristot Picolotto,
detentas e da equipe de profissionais que atuam
Cindy Maia Bordin, Graziele Erzinger, Katrine
no local. “No caso da Galeria A, com o ambiente
Cerutti e Michelle Figueiredo Vilaça, com a
adequado, a mãe se sente muito mais acolhida e,
orientação dos professores Carlos Nigro, Adriana
apesar do ambiente carcerário, tem um pouco
Cristina Corsico Dittmar e Renate Brigitte,
mais de tranquilidade para exercer a maternidade.
professora do curso de psicologia, convidada
Como ela está em um local revitalizado, isso
especialmente pela Escola de Arquitetura e
poderá permitir que o vínculo entre a mãe e o
Design para aprofundar a percepção dos espaços
bebê aumente e melhore”, assinala.
a partir da psicologia das cores. O resultado do projeto é considerado positivo Cristiane Arns, que coordena o Programa Ciência
também pelo professor Carlos Nigro. “Só o
e Transcendência: educação, profissionalização
fato de termos tantas parcerias já mostra o
e inserção social (fruto de um convênio entre a
sucesso. Estamos envolvidos em uma luta,
PUCPR e a SEJU voltada à implementação de
em uma causa social. Os parceiros entendem
projetos de foco humanitário na Penitenciária
que esse ambiente precisa ser repensado”,
Feminina do Paraná), por meio da Diretoria de
observa Nigro.
© MICHELLE VILAÇA
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EFEITO REPLICADO O objetivo, ao poucos, vem sendo alcançado.
A acadêmica Michelle Vilaça também participou do
A ideia, inclusive, já promoveu melhorias em
programa de “Revitalização Cromática” da Penitenciária
outros setores da penitenciária. “O impacto
Feminina do Paraná. Aluna da Especialização em
foi além do esperado, teve reflexos também
Arquitetura e Design de Interiores, ela é uma
na própria penitenciária. Todo o espaço foi
das responsáveis pela execução do projeto na
modificado, das partes elétrica e física à mudança
penitenciária. Por estar bastante envolvida com
e reforma dos móveis”, conta Cristiane Arns.
a ação, Michelle se considera “suspeita” ao falar da
“Trazer cor para esse mundo amenizou o clima prisional.”
Michelle Vilaça
SAIBA Conheça mais sobre o projeto Tudo de Cor no site da www.pucpr. br/vidauniversitaria.
19
ideia. “Achei ótima a iniciativa dos professores de
e ações, como esse de revitalização, é possível
buscar possibilidades para um trabalho acadêmico
modificar, efetivamente, o dia a dia das detentas
ser realizado. Ter o projeto para o espaço escolhido e
e dos próprios agentes penitenciários: “A cor
executado é algo memorável. O conceito do programa
tem o poder de mudar um ambiente. Em uma
é o espírito de família”, aponta ela. “Com isso nos
atmosfera hostil, cercada de muros cinzas, o
colocamos no lugar dos familiares e das detentas para
clima interno mantém a tensão de um espaço de
entender um pouco. O projeto nos proporcionou
privação da liberdade. Trazer cor para esse mundo
a oportunidade de amenizar a realidade em que
amenizou o clima prisional”, considera. “Hoje o
essas mulheres se encontram. Pudemos tornar
sorriso é encontrado facilmente entre agentes
esse ambiente cinzento mais colorido.”
e detentas, pois o ambiente proporciona isso. As cores tiveram papel crucial para transformar
Ela também comenta que, com pequenos gestos
a vida de todos que moram e trabalham lá.”
A ausência de cor foi substituída por um colorido vivo e positivo: o ambiente ficou mais alegre, e as pessoas tambem.
CAPA
20
POR THIAGO OLMEDO
O mal do século 21 Junto com a tecnologia, e a democratização de seu acesso, crescem também comportamentos de intolerância, tanto no mundo material quanto no virtual, tornando este um dos grandes paradoxos – e desafios – da atualidade Em 7 de julho deste ano, uma notícia com
adolescente com ele, que também sofreu
um quê de insólita selvageria ganhou as
agressões físicas.
manchetes dos principais jornais e portais de informação do país: “Assaltante é amarrado
Para a cientista política Samira Kauchakje,
em poste e espancado até a morte”. O caso
professora dos Programas de Pós-Graduação
aconteceu em São Luís, no Maranhão, no
em Gestão Urbana e Direitos Humanos e
bairro São Cristóvão, na região leste da
Políticas Públicas e do curso de graduação
cidade. Um grupo que passava pelo local
em Ciências Sociais da PUCPR, a atitude mais
conseguiu render o homem, suspeito de
violenta notada entre os cidadãos dos mais
um assalto em uma loja nas imediações.
diversos estratos sociais na atualidade refletiria
Eles então o amarraram em um poste e o
os atuais mecanismos de reação das pessoas em
lincharam até a chegada da polícia. Havia um
relação àquilo que não aceitam, seja por medo
“Hoje, a partir da noção de direitos humanos, existem garantias de proteção legal daqueles que sofrem ou estão sujeitos a algum tipo de intolerância.” Samira Kauchakje
© SHUTTERSTOCK
21
ou pelas crenças que trazem de seus grupos
também de status, mercado e consumo, entre
de influência. “A intolerância, nos termos da
tantas outras), cada vez mais intensas quanto
Ciência Política, pode ser traduzida como uma
ao comportamento dos cidadãos, é preciso
forma de autoproteção e de rejeição quanto
muito mais que tolerância para que as trocas
a outras comunidades políticas, indivíduos,
sociais funcionem. “Hoje, não basta mais a
costumes e grupos sociais”, demarca. “Trata-
tolerância. A sociedade não quer mais tolerar
se de um estranhamento, uma rejeição no
a diferença, os modos de vida afetivos, sociais
sentido de proteção do próprio modo de vida,
e políticos diversos”, opina. “Tolerar é pouco
dos valores daquela comunidade.”
diante do atual contexto social. A necessidade é de aprender com o outro, em uma troca
Para Samira, a principal mudança em relação
enriquecedora.
É
ao que acontecia em momentos anteriores
modos de vida políticos e comunitários
é que hoje, com a dinâmica tão acelerada da
diferentes,
sociedade e as decorrentes pressões (em
em um aprendizado mútuo para além da
termos sociais, profissionais, familiares e
intolerância”, observa.
com
preciso trocas
desenvolver
22 SAIBA Leia sobre intolerância e internet em pucpr. br/vidauniversitaria.
enriquecedoras,
Intolerância na web Manifestações de preconceito e intolerância são cada
diferenças e desigualdades sociais, a intolerância
vez mais frequentes também nos espaços das redes
aparece também. A internet é apenas um meio para
sociais e de comentários nos grandes portais. Para o
expressar essa intolerância”, afirma.
sociólogo Lindomar Boneti, professor da PUCPR, o avanço da internet mais contribui para o avanço do
Recentemente, o caso da jornalista Maria Júlia
que propriamente origina esse comportamento. “A
Coutinho, conhecida como Maju, ganhou destaque na
intolerância sempre existiu. A internet simplesmente
mídia e nas redes sociais. Apresentadora das notícias
ajuda a expressá-la. O que houve na verdade é que
sobre o tempo do Jornal Nacional, ela foi alvo de
certos grupos sociais no Brasil foram colocados
comentários de teor racista na página do telejornal no
na invisibilidade pelas próprias políticas públicas.
Facebook. A questão repercutiu e a jornalista recebeu
Na condição de invisíveis não eram atacados, e a
apoio tanto dos colegas da televisão quanto do público.
intolerância também era invisível”, analisa. “À medida
Conforme notícia recentemente divulgada pelo portal
que a própria imprensa, a internet e as instituições
G1, a hashtag #SomosTodosMajuCoutinho atingiu o
como a escola começam a discutir a questão das
topo entre os tópicos mais comentados no Twitter.
© WEBERSON SANTIAGO
23
O Quociente de Inteligência, o famoso QI, pode estar relacionado a uma predisposição a comportamentos de maior ou menor grau de tolerância. Uma pesquisa da Universidade de Ontário, no Canadá, chegou a conclusões nesse sentido.
24
Meio e mensagem Para Alessandra Ferreira, coordenadora
oferecida pelas redes sociais na atualidade”,
da Célula, agência experimental da Escola
considera. “A mídia está aprendendo a
de
reconhecer nas redes o espelho de nossa
Comunicação
e
Artes
da
PUCPR,
departamento do qual também é professora,
sociedade, para o bem e para o mal”, avalia.
o caso da jornalista Maria Júlia Coutinho, que apresenta o tempo no Jornal Nacional, da
Alessandra ainda destaca a importância
Rede Globo, pode ajudar a aumentar o debate
de a vítima de racismo tomar a frente em
sobre a questão do racismo, até hoje um tema
relação ao preconceito. “Foi ótimo assistir ao
em certa medida de abordagem velada no
depoimento da jornalista no Jornal Nacional,
país. E da própria intolerância, em uma leitura
foi sensacional: um discurso no maior jornal do
mais abrangente. “O caso da jornalista Maju,
Brasil sobre a intolerância e o ativismo na luta
da Rede Globo, serviu para colocar o assunto
contra esse comportamento. Podemos tomar
da intolerância na pauta da mídia, o que foi
esse episódio como uma ótima oportunidade
ótimo por um lado, pois, sendo da emissora
para repensar o jornalismo, não
de maior representatividade no Brasil,
apenas como meio, como
auxiliou o debate na mesma proporção
nesse caso, mas como a própria mensagem.”
© SH U TT ER O ST C K
25
nos séculos anteriores. Não podemos esquecer que a nossa história pode ser contada como uma história de intolerância contra os índios, os negros, os judeus, os Samira lembra que, se de um lado a
palestinos, as mulheres, os gays”, salienta.
intolerância aumenta diante dessa forte
“A
panela de pressão em que vem se traduzindo
capilaridade do discurso intolerante”, assinala.
mudança
está
na
ramificação,
na
a sociedade contemporânea, de outro há mais mecanismos de defesa para aqueles que são
No caso do Brasil, a extensa diversidade
vítimas de comportamentos de intolerância.
cultural e religiosa não impede que ações
“Hoje, a partir da noção de direitos humanos,
de rejeição, explícitas ou veladas, se
existem garantias de proteção legal daqueles
apresentem como um eixo de sua história.
que sofrem ou estão sujeitos a algum tipo de
Como bem notou o historiador brasileiro
intolerância”, nota, observando que, por outro
Sérgio Buarque de Holanda em seu livro
“É preciso lembrar, ainda, que essas garantias legais nem sempre se traduzem em proteções, inibições ou na coibição de ações intolerantes”
Samira Kauchakje
lado, na prática, essas garantias nem sempre se
Raízes do Brasil, ainda nos anos 1930, o
efetivam. “É preciso lembrar, ainda, que essas
até hoje forte discurso da “cordialidade
garantias legais nem sempre se traduzem em
brasileira” não seria tão correspondente
proteções, inibições ou na coibição de ações
à realidade. Na obra, o historiador reflete
intolerantes”, ressalta a cientista política.
sobre o mito do “homem cordial”, em que a princípio o brasileiro parece receptivo
“HOMEM CORDIAL”?
e aberto às diferenças, mas na prática ele
Para o professor Ericson Falabretti, da
tenderia a rejeitá-las, em defesa de seu
PUCPR, doutor em Filosofia, a intolerância
modo de pensamento e estilo de vida. Seria,
vem, historicamente, permeando as relações sociais. “A intolerância nunca foi velada. Não somos mais intolerantes hoje do que éramos
assim, uma cordialidade superficial, para
Também para o sociólogo Lindomar Boneti,
que pudesse transitar sem problemas nos
professor do curso de Ciências Sociais da PUCPR e
mais diversos círculos, protegendo-se de
do recém-criado Mestrado em Direitos Humanos
situações desfavoráveis sem que revelasse
e Políticas Públicas, a questão vai mais além. “A
suas crenças reais.
sociedade brasileira é na verdade uma sociedade
26
de disputa e de conflitos entre classes e grupos Mas aí, talvez, seria mais um caso de dissimulação
sociais. Isso se deve às próprias características da
do que, propriamente, de intolerância, nos
formação e ocupação do espaço nacional feita por
termos que se pode observar atualmente na
um grupo dominante, detentor das terras, mas que
sociedade brasileira, como indica Falabretti.
convivia com o trabalhador braçal, com o escravo,
“Não sei ao certo se esse mito se aplica ao
com o índio”, analisa. “Enfim, grupos que por muito
problema em questão. O homem cordial não
tempo foram invisíveis e que hoje afloram, tanto do
é, necessariamente, tolerante ou intolerante,
ponto de vista cultural, como dos direitos sociais
mas, entre outras coisas, é aquele que age
e das conquistas profissionais.”
movido pela emoção no lugar da razão, que valoriza mais as amizades, a família e os usos CK
e costumes do âmbito privado da vida do que
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do público”, situa.
O caminho para a transformação Com tantas e tão recorrentes demonstrações
há séculos. Trata-se de um momento triste, mas é
recentes de preconceito em termos globais, será
melhor que anteriormente, quando tudo isso existia
possível que a intolerância possa diminuir, em vez de
de forma camuflada”, aponta.
avançar, com a democratização das mídias digitais? Para o sociólogo Lindomar Boneti, tal possibilidade
O ponto crucial de evolução estaria justamente no
seria sim tangível.
acesso à informação. “É isso que leva ao debate. Estamos vivenciando um primeiro momento, quando
Na sua visão, o debate pode causar uma
o problema está vindo à tona. Teremos, com o passar
transformação na sociedade. “Se por um lado esse
do tempo, uma avaliação crítica mais ampla. Mesmo
cenário é ruim, de outro, vivemos um momento em
porque a internet disponibiliza apenas informações
que o real está se exteriorizando. A tendência com
e não propriamente a construção de reflexões. É
isso é chegar a um avanço, com mais respeito às
preciso que esse debate passe para um estágio de
diferenças”, acredita. “Vivemos um momento de
produção de conhecimento, com uma reflexão mais
explicitação de uma ignorância velada que existe
acadêmica sobre a questão”, propõe.
DIÁRIO DE BORDO POR VIVIAN LEMOS
Você sabe como é o dia a dia do reitor da PUCPR? Vida Universitária acompanhou por uma semana a rotina do professor Waldemiro Gremski
É preciso ter energia para acompanhar a
Na segunda-feira, o primeiro compromisso
rotina do professor Waldemiro Gremski.
foi fora dos portões da universidade: o reitor
O reitor da PUCPR inicia bem cedo suas
voou bem cedo para Brasília, onde participou
atividades à frente da universidade. São
da 30ª Assembleia Extraordinária da ABRUC
vários compromissos na pauta, desde
(Associação Brasileira das Universidades
reuniões com toda a reitoria para discutir
Comunitárias). O professor Waldemiro passou
os rumos da instituição até encontros com
o dia inteiro no evento e retornou para Curitiba
possíveis parceiros da PUCPR nas mais
no fim da tarde. “Como reitor, acabo fazendo
diversas áreas.
muito esse tipo de viagem, de um dia apenas, pois não é incomum ter outro compromisso
Vida Universitária acompanhou uma semana
bem cedo no dia seguinte”, relata.
típica do reitor: lotada de compromissos. Uma brecha na agenda do professor Waldemiro é
E foi justamente o que aconteceu. Na terça-
disputada a tapa. Todos querem falar com
feira, o compromisso inicial envolvia uma
ele sobre os mais diversos assuntos que
reunião com o setor cultural da universidade
circundam a vida no câmpus.
para definição das atrações da Acolhida
28
© DIVULGAÇÃO
29 O reitor durante reunião de apresentação do Mestrado em Direitos Humanos.
aos Calouros de inverno, que dá as boasvindas aos novos estudantes da PUCPR. “É essencial que esses jovens se sintam acolhidos em sua nova casa, que é a universidade. Esse evento é importante para mostrar nosso compromisso com a formação integral dos estudantes”, pontua o reitor. Em seguida, toda a reitoria se reuniu para
e comunicação, saúde e biotecnologia. Eles
discutir o planejamento estratégico da
analisaram os avanços e desafios de cada
universidade. A reunião foi sobre o plano
uma delas. “A universidade deve estimular
de desenvolvimento da graduação, cujo
a produção de pesquisas nessas áreas, que
objetivo é atuar com alto padrão nos
foram pontuadas como estratégicas”, afirmou
indicadores nacionais e internacionais de
o professor Waldemiro. Já a professora
excelência.
Paula pontuou que o fortalecimento desses segmentos é um elemento-chave para atrair
Na sequência, o reitor e a professora Paula
a atenção das universidades estrangeiras.
Trevilatto, pró-reitora de Pesquisa e PósGraduação, reuniram-se para discutir o
Já está ficando sem fôlego? Calma que a
planejamento estratégico da universidade,
semana ainda estava no começo! Na quarta-
junto com os coordenadores das áreas
feira, o início do dia foi em reunião com o
estratégicas da PUCPR: cidades, energia,
professor Alcides Calsavara, decano da
direitos humanos, tecnologia da informação
Escola Politécnica. Logo depois, o professor
© DIVULGAÇÃO
30 Professor Waldemiro Gremski antes da apresentação dos road maps das Escolas da PUCPR.
“A universidade deve estimular a produção de pesquisas nessas áreas, que foram pontuadas como estratégicas” Professor Waldemiro Gremski
Waldemiro se reuniu com representantes da
dos cernes de uma instituição como a nossa,
Fundação Araucária para discutir parcerias e
Pontifícia Católica. Tem uma importância
novos projetos.
enorme na formação ética e humana dos estudantes da PUCPR. Essa área é um braço
Em seguida, ocorreu o encontro com
fundamental no cumprimento de nossa
professores da Escola de Educação e
missão”, destacou o professor Waldemiro
Humanidades e os Irmãos Maristas Jorge
durante o encontro.
Gaio, diretor da área de Solidariedade do Grupo Marista, e Rogério Mateucci, diretor
Depois, havia na agenda a tradicional reunião
de Missão e Identidade Institucional da
da reitoria, na qual diversos assuntos de
PUCPR, para apresentação do trabalho do
todas as áreas que envolvem a universidade
Núcleo dos Direitos Humanos e do novo
são discutidos. Esse encontro compromete
Mestrado em Direitos Humanos e Políticas
toda a tarde do reitor.
Públicas. “A área de Direitos Humanos é um
31
Na quinta, a agenda se concentrou em
grande nível de profundidade, mas ao mesmo
encontros com algumas escolas, como
tempo muito didático. A energia que todos os
Medicina e Ciências Agrárias e Medicina
decanos e coordenadores demostraram será
Veterinária. Ainda na pauta, discussões sobre
fundamental no longo trabalho a ser realizado
os rumos da pesquisa na universidade com a
a partir desses estudos”, explicou o professor
professora Paula Trevilatto e um encontro
Waldemiro.
com professores de Farmacologia da UFPR. Cansou só de ler? Pois é, essa nem foi uma das semanas mais agitadas. Em alguns períodos,
próximos anos da PUCPR: as apresentações
o reitor tem que firmar parcerias, conciliar
dos road maps dos cursos de graduação da
viagens internacionais e ainda participar
universidade. A rodada de apresentações
ativamente da vida na universidade. “A
começou com as Escolas Politécnica, de Direito,
rotina de um reitor não é nada glamourosa.
Arquitetura e Design e Câmpus Maringá. Um
Envolve muito trabalho, mas também muito
dia inteiro, em que metas, indicadores e pontos
aprendizado no contato com tantas pessoas
de melhoria foram discutidos com o intuito de
diferentes. É preciso ter uma grande paixão
fazer a PUCPR avançar ainda mais rumo a se
pela educação para enfrentar os desafios,
tornar uma universidade de classe mundial.
mas também temos grandes recompensas
Na outra semana, na segunda e na terça, as
ao ver a universidade se desenvolver cada
apresentações continuaram. “O trabalho
vez mais”, fala o reitor com o característico
mostrado foi muito profissional, com um
sorriso que o acompanha.
© DIVULGAÇÃO
O reitor, na companhia dos professores Álvaro Amarante e Altair Santin, na reunião das áreas estratégicas da universidade.
A sexta iniciou um capítulo importante para os
AO INFINITO E ALÉM
32
POR THIAGO OLMEDO
Encíclica ambiental reforça o debate quanto à responsabilidade do ser humano de cuidar do planeta
Papa Francisco no papamóvel durante visita anterior ao Brasil: recentemente divulgada, encíclica ambiental é considerada documento significativo e promissor, abordando a ecologia de modo articulado. © MARCELO CAMARGO/ABR
Recado do Papa
33
Mudança climática. Poluição. Seca. Falta de água. Questões aterrorizantes que são realidades cada vez mais comuns no dia a dia de pessoas no mundo inteiro. De um tempo para cá, ambientalistas, ativistas, estudiosos e também cidadãos comuns
Segundo o padre Marcial Maçaneiro,
vêm fazendo desta uma das principais
doutor
pautas da agenda global. Em meio a essa
Universidade Gregoriana, de Roma, e
acalorada discussão, o Papa Francisco
docente do Programa de Pós-Graduação
anunciou em 18 de junho a encíclica
em Teologia da PUCPR, a questão
ambiental. A ideia principal do documento é
ambiental já foi tema de pronunciamentos
alertar as pessoas para que tenham sempre
anteriores ao longo dos anos. No entanto,
em
essa é a primeira vez que uma encíclica é
perspectiva
sua
responsabilidade
em
Teologia
pela
Pontifícia
“A recente carta do Papa Francisco tem um valor particular: é a primeira encíclica totalmente dedicada ao cuidado da nossa casa comum – a Terra.” Padre Marcial Maçaneiro
SAIBA
+
A Agência Italiana de Notícias (Ansa) desenvolveu um aplicativo para sistemas iOS e Android que acompanha as notícias referentes ao Papa Francisco. Ele pode ser baixado no endereço: papafrancesconewsapp. com/por.
individual de cuidar do planeta. Intitulada
dedicada totalmente a essa temática. “A
“Laudato si”, que significa “louvado seja”,
diferença entre a recente carta do Papa
a encíclica de 191 páginas aborda temas
Francisco é que, nas encíclicas anteriores,
relacionados à ecologia, ao meio ambiente
a relação da humanidade com o ambiente
e à desnutrição, com dados e fundamentos
era um tópico complementar”, compara.
do comportamento humano, cujas atitudes
“Era certamente importante, mas girava
têm gerado consequências especialmente
ao redor de outros temas centrais: paz
sobre a vida de grupos sociais com menos
entre as nações, desenvolvimento humano
recursos.
integral, solidariedade e justiça social. Já a recente carta do Papa Francisco tem um valor particular: é a primeira encíclica totalmente dedicada ao cuidado da nossa casa comum – a Terra”, reforça.
34
Padre Marcial Maçaneiro, doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma, e docente da PUCPR: “A encíclica não só reafirma o primado do bem comum como inclui nessa categorização os recursos naturais, como água e clima”.
amplo entre sujeitos, religiões, governos e ciências, em benefício da vida na Terra para as gerações presentes e futuras”, enfatiza o padre Marcial. “Trata-se de uma encíclica significativa e promissora, por diversas razões: aborda a ecologia de modo articulado, incluindo ética, tecnologia,
QUEBRA DE PARADIGMAS
gestão e educação; recolhe o ensino das
De acordo com o padre Marcial, o
encíclicas anteriores e fala claramente
documento
análise
em corrigir expressões unilaterais do
profunda e crítica da atual situação do
antropocentrismo, relendo criticamente
planeta e das relações da sociedade. “Com
a teologia bíblica da Criação”, aponta o
esse enfoque abrangente, o Papa Francisco
padre, que também é consultor teológico
avalia a relação humanidade-sociedade-
do Instituto Ciência e Fé da PUCPR.
eclesial
faz
uma
natureza na contemporaneidade e propõe caminhos de solução à crise climática,
A
energética e alimentar. E essa solução
comentários, não só aqui no Brasil, mas
passa necessariamente pela conversão de
também
nossos paradigmas à ‘ecologia integral’: a
documento, o Papa Francisco trata com
conexão necessária entre meio ambiente
firmeza e faz críticas ao sistema político-
e sociedade – e com atenção aos mais
econômico, em especial de determinados
pobres”, analisa o doutor em Teologia.
países. Entre os pontos destacados na
encíclica na
ambiental mídia
gerou
muitos
internacional.
No
cobertura internacional estavam a crítica Apesar de o documento partir da Igreja
ao consumismo e o alerta ao perigo
Católica, a ideia da encíclica é promover um
de ignorar a atual crise ecológica do
debate na sociedade, independentemente
mundo. “A encíclica demonstra que um
do credo de cada um, sempre com o
desenvolvimento baseado na maximização
enfoque no futuro do planeta. “Notemos que tanto o tema quanto os interlocutores da encíclica têm um endereço universal, embora se trate de um documento formal do Ensino Social da Igreja. O próprio Papa Francisco se propõe a fomentar um debate
© TÂNIA RÊGO/ABR
35
Papa Francisco em vista ao Brasil: atenção às nações, à diversidade cultural e ao meio ambiente.
do lucro resulta na exploração irracional
diversidade
cultural
das
populações
da natureza e na exclusão injusta dos
nos seus diferentes meios, para que se
mais pobres. Ela não só reafirma o
consolide a noção de ‘cidadania ecológica’,
primado do bem comum como inclui nessa
e nomeia claramente os sujeitos e
categorização os recursos naturais, como
instâncias de decisão em matéria ecológica,
água e clima”, assinala o padre Marcial.
propondo a corresponsabilidade e a inclusão das populações vulneráveis”,
Outro ponto enfatizado foi a chamada
destaca o teólogo. “Além disso, a encíclica
‘dívida ecológica’ da sociedade. “A encíclica
lança o conceito de ‘ecologia integral’,
traz novamente ao debate as relações
abrangendo a relação das ecologias
Norte-Sul, ponderando a ‘dívida ecológica’
ambiental, econômica e social, e indica
como um débito social nas relações entre
vias de solução para a crise ecológica,
os países. Defende não só a diversidade
estimulando a educação nesse sentido,
biológica do planeta, mas também a
com vistas às novas gerações.”
MUNDO AFORA
36
© SHUTTERSTOCK
© DIVULGAÇÃO
P O R PA U L A M E L E C H
Viajar, e estudar, é preciso O programa Ciência sem Fronteiras permitiu que universitários brasileiros de diversas áreas pudessem passar pela experiência de estudar fora do país. Agora eles já começaram a retornar, com a promessa de abrir novos caminhos para o Brasil em termos de oportunidades e inovação Viagens são geralmente oportunidades esperadas
seguem tendo, mesmo que de forma um pouco
e irrecusáveis. E quando é possível aliar a
mais restrita, essa oportunidade por meio do
possibilidade de conhecer outros países e culturas
Ciência sem Fronteiras (CSF), programa do
ao aperfeiçoamento de idiomas e à aquisição
governo federal que oferece bolsas de estágio
de novos conhecimentos e experiências para
no exterior. Lançado em 2011, o programa foi
a vida profissional, melhor ainda. Estudantes
apresentado com a meta de atender 100 mil
de diversas instituições brasileiras tiveram, e
estudantes até 2018.
A estudante de Medicina Jaqueline Slongo passou um ano pelo Ciência sem Fronteiras na Universidad de Salamanca: teorias e práticas da profissão e da vida.
37
Além de ampliar limites físicos, a oportuni-
feito um esforço no sentido de reconhecer
dade abre também a mente daqueles que
as atividades realizadas em outros países.
vivenciam essa experiência. “Assim como a ciência, eu também não tenho fronteiras,
DA GRADUAÇÃO AO DOUTORADO
ou pelo menos elas foram amplamente alar-
O estudante de Engenharia de Controle e
gadas em todo esse processo”, assinala a
Automação André Mendes da Silva, sempre
estudante de Medicina Jaqueline Kessler
quis fazer intercâmbio. “Quando li o edital,
Slongo. Ela ficou durante um ano na Uni-
nem acreditei que era verdade”, revela. André
versidad de Salamanca, na Espanha, onde
cursou graduação sanduíche na University
cursou disciplinas teóricas e praticou a
of California, em Davis, nos Estados Unidos.
profissão em estágios hospitalares.
E, no segundo semestre deste ano, vai para a New York University cursar o Doutorado
Em uma avaliação do que viveu durante o
em Ciências da Computação.
período em que ficou fora, ela considera que, mesmo com contatos prévios com
Durante a experiência, André também
outros intercambistas, não poderia imaginar
aprendeu a valorizar uma qualidade típica
o que viveria “lá fora”. “Percebi que muitas
brasileira, a criatividade. “Quando possuímos
pessoas temem participar desse tipo de
recursos, conseguimos fazer experimentos
programa pela possibilidade de atraso no
incríveis, pesquisas avançadas e atingir
“Hoje me sinto mais autoconfiante, capaz de mergulhar em diferentes culturas e apta a realizar trabalhos em equipe .” Jaqueline Kessler Slongo
curso ou pela incompatibilidade curricular
resultados muito bons. O que nos falta é
em relação às universidades estrangeiras.
entender isso e parar de achar que não
Confesso que, antes de ir, também tive dú-
podemos ser tão bons quanto americanos
vidas a respeito. No entanto, hoje percebo
e europeus, por exemplo.”
que atraso é ter essa incrível oportunidade e não aproveitá-la”, afirma. Em relação às
EXPERIÊNCIA DE VIDA
questões levantadas por Jaqueline, o CSF
O objetivo da graduação sanduíche é com-
tem oferecido recursos que possibilitam
plementar a formação dos estudantes bra-
ao aluno escolher sua área de atuação no
sileiros, mas durante o período que pas-
exterior, e universidades como a PUCPR têm
sam fora muitas outras oportunidades de
© DIVULGAÇÃO
Formação global: André Mendes da Silva fez parte do curso de Engenharia de Controle de Automação nos EUA, na University of California. Agora vai voltar para o Doutorado em Ciências da Computação, na New York University.
de pessoas flexíveis, que apresentem a capacidade de lidar com diferenças culturais e que tenham comportamento proativo e criativo”, ressalta Cleybe.
OPORTUNIDADES Quando estão dispostos a morar em outro país, vivenciando seu sistema educacional aprendizado são criadas. Adquirir fluência
e cultural, os estudantes acabam criando
no idioma, conhecer novas culturas, estar
uma rede de contatos que certamente abre
inserido em um sistema educacional dife-
portas para futuras oportunidades de em-
rente, participar de eventos e congressos
prego, cursos e especializações. “Uma das
internacionais, desenvolver uma nova rede
opções que tenho é realizar mestrado e
de contatos pessoais e profissionais são
doutorado fora do país”, avalia Jaqueline.
alguns deles. O desenvolvimento pessoal que adquiriu A vivência em outro país traz benefícios não
com essa experiência também é ponto in-
somente para a atuação na área escolhida,
discutível para ela. “Hoje me sinto mais
mas amplia também a perspectiva de mundo
autoconfiante, capaz de mergulhar em di-
dos estudantes. “Seus horizontes se abrem
ferentes culturas e apta a realizar trabalhos
para uma visão global. Tornam-se cidadãos
em equipe”, conta a estudante. Autonomia,
do mundo, no sentido propriamente dito”,
liderança, e capacidade de solucionar pro-
ressalta Cleybe Vieira, coordenadora de
blemas são algumas das habilidades que ela
Iniciação Científica da PUCPR. Ao retornar
considera ter adquirido durante o período
do exterior, os estudantes completam seus
que passou fora.
estudos na universidade e buscam oportunidade de inserção no mercado. Ainda existe
Para ser candidato ao Ciência sem Frontei-
a possibilidade de continuar a formação
ras, os principais critérios são um excelente
na área de pesquisa, inscrevendo-se em
currículo e um ótimo rendimento acadêmico,
programas de mestrado e doutorado.
o que não abrange somente boas notas, mas também a participação em atividades
Um dos objetivos do programa é priorizar
extracurriculares. Também é necessário
áreas estratégicas que possam contribuir
domínio do idioma do país visado. “Algumas
para o desenvolvimento do Brasil, benefi-
características, como ser autodidata e ter
ciando toda a sociedade. “Além de contar
autonomia, proatividade, persistência e
com profissionais com formação técnica e
flexibilidade, são importantes para vencer
científica sólida, precisamos cada vez mais
esse desafio”, aponta Cleybe.
38
VÍRGULA P O R PA U L A M E L E C H
40
Direitos humanos em pauta Ao abrir turma de Mestrado em Direitos Humanos, a PUCPR intensifica a discussão sobre as novas configurações da sociedade contemporânea e os desafios para que as pessoas, e sua dignidade, sejam respeitadas Inerentes a toda pessoa, independentemente
igualdade de condições. Por conta disso, já
de etnia, gênero, nacionalidade, religião
desde 2013, a PUCPR atua com um Núcleo
ou qualquer outra condição, os direitos
de Direitos Humanos, voltado à comunidade.
humanos abrangem questões referentes à
“Conhecer, promover e praticar a cultura
vida, à liberdade de opinião e de expressão,
dos direitos humanos significa reconhecer e
ao trabalho e à educação, entre muitos outros
reafirmar valores que consideram as pessoas,
SAIBA
pontos cruciais. Eles são garantidos por lei,
e não o mercado, como o fundamento da vida
protegendo indivíduos e grupos contra ações
em sociedade”, defende o professor Cezar
que interferem nas liberdades fundamentais e
Bueno, coordenador do núcleo.
Confira mais dados sobre o “Relatório do Desenvolvimento Humano 2014” do Pnud, da ONU, e a situação de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil: www.pnud.org.br.
+
na dignidade de cada indivíduo.
RESPONSABILIDADE As discussões e atuações nessa área
A universidade tem como princípio e vocação
têm por objetivo diminuir desigualdades
pensar e promover formas de ensino,
e combater a intolerância. O foco é
pesquisa e extensão que contribuam para
proporcionar condições para garantir ao
o desenvolvimento científico, tecnológico e
mundo parâmetros para um ambiente em
pacífico da sociedade, aponta Cezar Bueno, que
que se possa agir com diretrizes de justiça e
pondera: “Apesar da importância e relevância do
“Outro ponto preocupante são comportamentos e ações que alimentam a cultura da intolerância e do ódio .” Cezar Bueno, coordenador do Núcleo de Direitos Humanos da PUCPR
41
progresso da ciência e da técnica no ambiente acadêmico, é preciso ressaltar que a ciência jamais irá nos dizer qual é a melhor maneira de organizar a vida em um âmbito coletivo”. © LA PHOTO
Apesar da relevância do tema, especialmente no mundo contemporâneo, ainda são poucas as instituições que se dedicam ao debate na área de direitos humanos. Bueno acredita que isso acontece porque a cultura universitária
Cezar Bueno: Praticar a cultura dos direitos humanos reafirma valores que consideram as pessoas, e não o mercado, o fundamento da sociedade.
brasileira é, em grande medida, reflexo da cultura da sociedade em geral. “Ambas ainda estão mais preocupadas em expandir o bemestar econômico do que em refletir sobre os custos e as graves consequências políticas,
Brasil
no ranking da desigualdade
Em todos os países, mesmo aqueles
Programa das Nações Unidas para
países com Alto Desenvolvimento
que ostentam os melhores indicadores
o
da
Humano (referência de 0,735), a
sociais, mostra-se essencial o debate
Organização das Nações Unidas
agenda social brasileira é extensa.
sobre os direitos humanos. No caso
(ONU), aponta em sua edição mais
“Em diversos países, um dos principais
do Brasil, uma das questões mais
recente, divulgada no “Relatório do
desafios que afligem a vida de
relevantes está na desigualdade social.
Desenvolvimento Humano 2014”, que
milhões de pessoas diz respeito à
Mesmo com avanços positivos nos
o Brasil ocupa a 79ª posição entre 187
fome e à falta de oportunidades
últimos anos, o índice de Gini, que
países. Os dados são referentes ao ano
no mercado de trabalho”, aponta o
calcula o nível de desigualdade no país,
de 2013, quando o país registrou IDH
professor Cezar Bueno, coordenador
é de 0,495. O valor desse índice varia
de 0,744 e ganhou uma posição em
do Núcleo de Direitos Humanos da
de zero (a perfeita igualdade) até um (a
relação ao ano anterior, reforçando um
PUCPR. “Outro ponto preocupante
desigualdade máxima).
movimento de crescimento constante
são comportamentos e ações que
nas últimas três décadas.
alimentam a cultura da intolerância
Um
outro
indicador,
de
Desenvolvimento
o
Desenvolvimento
(Pnud),
e do ódio, atribuída a questões
Índice Humano
Ainda assim, e apesar de estar
vinculadas à falta de tolerância
(IDH), calculado anualmente pelo
enquadrado no IDH no grupo de
religiosa, étnica e de gênero”, assinala.
socioambientais e culturais decorrentes de
Para a coordenadora do mestrado, Maria
um modelo de desenvolvimento focado no
Cecilia Pilla, diante do atual contexto da
produtivismo econômico e na cidadania para o
sociedade, em termos globais, é mais
consumo”, avalia.
do que relevante que a discussão dos
42
direitos humanos se intensifique no
NA ACADEMIA
campo acadêmico. “A universidade está
Com foco nesta percepção – e em sinergia
inserida em uma realidade local e regional
com o núcleo, mas com atuação independente
repleta de desafios, apresentados pelas
–, a PUCPR intensificou as possibilidades de
questões sociais, políticas e econômicas
discussão e aprofundamento das questões
da sociedade contemporânea”, analisa.
sociais e da proteção à dignidade humana ao
“As relações de poder, as desigualdades
abrir, neste ano de 2015, sua primeira turma
sociais, de gênero e religiosas propiciam
de mestrado em Direitos Humanos e Políticas
situações em que os mais fundamentais
Públicas. As inscrições transcorreram no mês
direitos são violados, o que justifica o
de julho e o processo seletivo no segundo
desenvolvimento de práticas e estudos
semestre, para 25 vagas no Câmpus de
no âmbito da diversidade e da cultura
Curitiba. As linhas de pesquisa do mestrado
que
abrangem aspectos como teoria e história
para a formação de cidadãos capazes
dos Direitos Humanos e Políticas Públicas e a
de promover os direitos humanos na
educação na área.
sociedade”, pontua.
contribuam
substancialmente
Áreas de gestão de Políticas Públicas
O que faz um profissional com formação em
Direitos Humanos? Afinal de contas, quando um profissional decide direcionar sua formação para o campo de Direitos Humanos e Políticas
Instituições de ensino da Educação Básica ao Ensino Superior
Organizações nacionais e internacionais que visem à proteção dos Direitos Humanos
Serviços públicos
Públicas, quais são os campos que se abrem para sua atuação? Levantamos os principais deles. Conheça a seguir.
Campos de docência e pesquisa amplos, com formação crítica, teórica e metodológica em diversos campos de conhecimentos relativos à área
Instituições públicas ou privadas que objetivem promover os Direitos Humanos
43
© DIVULGAÇÃO
Maria Cecilia Pilla: Somos o primeiro Mestrado interdisciplinar em Direitos Humanos do sul do Brasil.
DIREITOS HUMANOS NA ACADEMIA A proposta do Programa de PósGraduação em Direitos Humanos e Políticas Públicas (PPGDH) da PUCPR busca preencher uma lacuna identificada nas universidades. O ponto de partida
Qual o objetivo do Programa em Direitos Humanos
para a criação do curso partiu do
e Políticas Públicas?
intercâmbio de interesses temáticos,
O mestrado visa à formação de docentes
pesquisas e publicações na área de
e à realização de pesquisas na área
direito e políticas públicas entre os
de Direitos Humanos que superem as
docentes, como explica, nesta entrevista
barreiras disciplinares e possam apreender
exclusiva, a coordenadora do recém-
a complexidade e os desafios do nosso
criado mestrado em Direitos Humanos e
contexto local, regional, nacional e, também,
Políticas Públicas, Maria Cecilia Pilla.
em grande medida, do contexto histórico internacional do qual também fazemos
De que forma o tema se encaixa nos princípios
parte.
da vida universitária? A universidade está inserida em uma
Por que abrir um curso dessa área nesse momento?
realidade local e regional repleta de
A abertura do programa se dá primeiro
desafios, apresentados pelas questões
pela inexistência de outros com as mesmas
sociais, políticas e econômicas da atualidade.
características. Somos o primeiro mestrado
As relações de poder, as desigualdades
interdisciplinar em Direitos Humanos do Sul
em questões como sociedade, gênero e
do Brasil, e o primeiro em uma universidade
religião propiciam situações em que os
particular no país. O objetivo, portanto, é ser
mais fundamentais direitos são violados, o
um indutor de pesquisas interdisciplinares
que justifica o desenvolvimento de práticas
nessa área, propiciando qualificação de
e estudos no âmbito da diversidade e da
docentes e atendendo à demanda local e
cultura que contribuam substancialmente
regional, bem como às políticas e diretrizes
para a formação de cidadãos capazes
legais nacionais sobre educação em Direitos
de promover os direitos humanos na
Humanos. Pretendemos também formar
sociedade.
pesquisadores provenientes das mais diversas áreas do saber.
SEARCH LAB
44
POR THIAGO OLMEDO
O sabor francês do Paraná Uma parceria entre alunos da PUCPR e da UEPG desenvolveu um típico queijo do tipo Reblochon, de origem francesa, com leite dos Campos Gerais e impecável técnica local Um dos produtos mais conhecidos e saborosos
entre a PUCPR e a Universidade Estadual
da França está ganhando um gostinho cada
de Ponta Grossa (UEPG).
vez mais brasileiro. O queijo tipo Reblochon, produzido especialmente na região da
A ideia surgiu há dois anos com os professores
Saboia, nos Alpes franceses, já entrou no
Guilherme Tedrus, da UEPG, e Marcia Rapacci,
know-how acadêmico do país, a partir de
da PUCPR. Depois de muita pesquisa e estudo,
um projeto desenvolvido em uma parceria
o queijo passou a ser produzido também pelos
Etapas de produção do queijo Reblochon
Maturação do leite
Corte e tratamento da massa
Coagulação Leite cru Pasteurização do leite
Adição de CaCl2, coalho e Geotrichum candidum, Brevibacterium linens e Debaryomyces hansenii
© JOÃO BORGES
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Professora Marcia Rapacci com os alunos de Engenharia de Alimentos: um “autêntico” queijo Reblochon francês direto dos laboratórios da PUCPR, em parceria com a UEPG.
Queijo tipo Reblochon
Dessoragem e enformagem Prensagem dos queijos
Maturação dos queijos
Salga e lavagens da superfície dos queijos com urucum e culturas especiais
Maturação dos queijos: 12-14ºC / 30 dias / umidade relativa 90-95%
© SHUTTERSTOCK
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alunos do curso de Engenharia de Alimentos da PUCPR, em parceria com a UEPG. “A UEPG tem uma parceria com uma escola na França. Eu e o professor Guilherme resolvemos visitá-la, com
© ARQUIVO PESSOAL
Os professores Guilherme Tedrus, da UEPG, e Marcia Rapacci, da PUCPR, na região de Saboia, nos Alpes Franceses: pesquisa e troca de experiências que abrem oportunidades para a cadeia produtiva paranaense.
o objetivo de fazer o Reblochon. Fomos muito bem-recebidos. Conversamos e acertamos o estágio do Guilherme, para ele aprender a fazer
Por que fazer o Reblochon na universidade? Para Guilherme Tedrus, da UEPG, o domínio de uma
região. Dessa forma, disponibilizar essa tecnologia de
nova técnica, com a adaptação ao universo local, mas
queijos maturados por cultura de superfície agrega valor
mantendo a qualidade original abre novos campos de
à cadeia produtiva do leite da região”, indica.
pesquisa e também de oportunidade de mercado à cadeia produtiva. “A ideia foi de adaptar a tecnologia de
Tedrus faz questão de valorizar o trabalho dos alunos das
produção do queijo Reblochon às condições existentes
duas universidades durante todo o processo. “Os alunos
no Brasil, como o leite oriundo de vacas de raça diferente
são e foram de fundamental importância na pesquisa,
daquelas existentes na França, e produzir um queijo fino
porque, além de colaborar em todo o processo, eles
para atender os novos consumidores”, pontua. “Também
passam a vivenciar a arte da pesquisa, e se tornam mais
foi de avaliar as culturas de superfície utilizadas na
autônomos para na sequência atuar como protagonistas
produção e ainda agregar valor ao leite produzido na
de novas descobertas”, avalia o professor da UEPG.
© SHUTTERSTOCK
o queijo”, conta Marcia.
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CLIMA DOS ALPES
excelentes condições higiênicas. Para a produção do
Desde então, os estudos avançaram. Para o queijo
queijo, esses fatores são importantíssimos”, ressalta.
ficar o mais parecido possível com o original francês, o leite utilizado veio da Fazenda Escola da UEPG.
Apesar da distância entre a França e a região dos
Isso porque a região dos Campos Gerais, que
Campos Gerais, no Sul do Brasil, o queijo aromático,
abrange as cidades de Ponta Grossa, Carambeí e
de consistência cremosa, gorduroso e de sabor
Castro, apresenta altitude e clima semelhantes ao
forte foi produzido com sucesso pelos alunos.
da região de Saboia, explica Guilherme Tedrus. “O
“Mesmo utilizando um leite produzido por vacas
local é reconhecido pela produção de leite, devido aos
de raças e pastos diferentes daqueles europeus,
grandes investimentos dos fabricantes”, defende ele.
os alunos conseguiram produzir um queijo com
“Eles investem no melhoramento genético dos animais,
características sensoriais similares ao original da
conseguindo assim obter alta produção de leite, em
França”, garante Marcia Rapacci.
“Mesmo utilizando um leite produzido por vacas de raças e pastos diferentes daqueles europeus, os alunos conseguiram produzir um queijo com características sensoriais similares ao original da França .” © SHUTTERSTOCK
Marcia Rapacci
De Saboia aos Campos Gerais, o “legítimo” Reblochon francês.
RAÍZES P O R PA U L A M E L E C H
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Saúde em evolução Em mais de 50 anos de história, a Escola de Medicina da PUCPR alia tecnologia de ponta a uma atuação baseada na filosofia humanista Bonecos de última geração capazes de
que os acadêmicos vivenciem as mais
simular situações reais como sangramento,
diversas situações que vão encontrar em
choro, vômito e até mesmo a realização
um ambiente real.
de um parto normal. Pode até parecer A receita para chegar a esse ponto
realidade. Os manequins descritos acima
ultramoderno do Centro de Simulação,
fazem parte do Centro de Simulação Clínica
ainda sem comparativo no país, está
da PUCPR, espaço que permite aos alunos
logo ali, no passado. Para compreender
de Medicina da instituição treinar suas
essa evolução, é preciso olhar para trás e
habilidades antes da prática com pacientes
conhecer as origens da Escola de Medicina
de verdade. O avanço tecnológico permite
da PUCPR, fundada há mais de 50 anos.
O Centro de Simulação Clínica da PUCPR permite que os acadêmicos vivenciem as mais diversas situações que vão encontrar em um ambiente real.
© JOÃO BORGES
roteiro de ficção científica, mas é de fato
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EXPERIÊNCIA COMO LIÇÃO
No início, as aulas eram ministradas em di-
O atual Curso de Medicina da PUCPR foi criado
versos locais da cidade. Por fim, a Faculda-
como Faculdade de Ciências Médicas, fundado
de de Medicina estabeleceu-se no seu atual
oficialmente em 11 de agosto de 1956. Cinco
local em 1978, pouco antes de a PUCPR se
anos depois, em 1961, o hoje decano da atual
tornar Pontifícia, nos anos 1980.
Escola de Medicina, Alberto Accioly Veiga,
Alberto Accioly Veiga, decano da atual Escola de Medicina: ingresso como professor da PUCPR nos anos 1960 e acompanhamento da ação coordenada entre tecnologia e foco no bem-estar das pessoas.
começou a trabalhar na universidade. “Naquele
Seguindo o movimento de reformulação
momento, a então recente Faculdade Católica
curricular, a partir de 1999 o curso adotou
de Ciências Médicas ocupava o espaço deixado
o Problem Based Learning (PBL), que visa ao
na Santa Casa pela Universidade Federal do
ensino focado na solução de problemas reais.
Paraná (UFPR), que havia sido transferida para o Hospital de Clínicas”, recorda. Na
Há 15 anos, o jeito de ensinar Medicina passou
época, Veiga era assistente da disciplina de
por mais uma transformação. O currículo
Bioquímica, regida por Metry Bacila, Professor
utiliza o modelo de “Aprendizagem Baseada
Emérito. Autoridade na área, Bacila também
em Cenários”, em que já na primeira semana
se destacava na literatura, ocupando
de aula o aluno se depara com situações
inclusive uma cadeira na
semelhantes àquelas que enfrentará em
Academia Paranaense de
seu cotidiano. A proposta é que já no início
Letras.
os estudantes participem de atividades que
© ARQUIVO PUCPR
© DIVULGAÇÃO
os levem a assumir seu papel de médico Com o passar do
humano e cidadão – diretrizes que orientam a
tempo, muitas mu-
formação dos médicos pela PUCPR desde as
danças aconteceram.
raízes de sua história.
NO YOUTUBE
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NANOATITUDES
E se cães e voluntários “invadissem” um hospital para visitar e animar os doentes? Confira como isso aconteceu no programa Nanoatitudes.
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É uma sensação indescritível ver uma orquestra tocar sua música.” Estudante de música e compositor Renan Beneduzi, um dos participantes do XIII Revele seu Talento da PUCPR.
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As pessoas tentam te convencer que não existe girafa de três pescoços. Que não existe elefante roxo. Tentam te enfiar em uma caixinha. Quem consegue escapar disso, o desenho vira assinatura.” Estilista Ronaldo Fraga para o programa Cafeína.
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