Revista HMC - outubro 2014

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HMC Edição 6 – outubro 2014

SAIBA MAIS SOBRE O HERPES

PARA O CORAÇÃO NÃO PARAR DE BATER

Exercícios

físicos:

A prática esporádica pode ser mais perigosa que o sedentarismo


EDITORIAL

Um brinde a quem salva vidas No mês de outubro, temos um agradecimento especial a fazer aos profissionais que dedicam suas vidas a salvar outras vidas. No dia 18, é comemorado o Dia do Médico e não poderíamos deixar de registrar nosso profundo agradecimento a todo o corpo clínico do HMC. Esta edição também traz um alerta importante aos atletas de fim de semana, tema da nossa matéria de capa. Ouvimos especialistas em Ortopedia e Cardiologia para saber os riscos para quem não pratica atividades físicas com frequência. Aquela partidinha de futebol ou corrida leve podem não ser tão inofensivas quando parecem. Na editoria Em Dia, o tema é o herpes. Conheça as diferentes formas de manifestação desse vírus e os cuidados que devemos ter. Estima-se que aproximadamente 90% da população brasileira já teve contato com a forma mais comum do vírus. Em Por Dentro da Técnica, o assunto é uma alternativa de tratamento para a insuficiência cardíaca. Saiba como funcionam os dispositivos popularmente chamados de coração artificial. Você sabe o que é humanização hospitalar? Entenda esse conceito e a importância de sua aplicação no ambiente hospitalar, garantindo um ambiente mais humanizado para pacientes e profissionais de saúde. E na editoria Perfil, vamos mergulhar no mundo lúdico da Literatura Infantil e saber como é importante trazermos elementos da infância para a vida adulta. A entrevistada é a curitibana Marilza Conceição, que dedica-se à Educação há mais de 30 anos. Hoje é coordenadora da Regional do Paraná da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil, mas muitos a reconhecem como Bruxa Mila, moradora por muitos anos da Casa Encantada do Bosque Alemão. Boa leitura!

Claudio Enrique Lubascher Diretor-geral do Hospital Marcelino Champagnat

EXPEDIENTE A REVISTA HMC é uma publicação do Hospital Marcelino Champagnat, produzida pela Diretoria de Marketing e Comunicação do Grupo Marista. Tiragem: 10 mil exemplares GRUPO MARISTA DIRETOR DA ÁREA DE SAÚDE Álvaro Luis Lopes Quintas

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HOSPITAL MARCELINO CHAMPAGNAT

GERENTE ADMINISTRATIVO Cris Adriano Carvalho

DIRETOR-GERAL Claudio Enrique Lubascher

Av. Pres. Affonso Camargo, 1399, Cristo Rei, Curitiba – PR

CHEFE DO CORPO CLÍNICO Ademir Antonio Schuroff

Telefone: (41) 3087-7600

GERENTE MÉDICO Marco Antônio Pedroni

Email: contato@hospitalmarcelino. com.br

GERENTE DE QUALIDADE Bianca Piasecki GERENTE DE ENFERMAGEM Jhosy Gomes Lopes

Site: www.hospitalmarcelino. com.br

DIRETORIA DE MARKETING E COMUNICAÇÃO Stephan Younes EDIÇÃO Eduardo Correa (MTB 6037) PROJETO GRÁFICO Estúdio Sem Dublê EDIÇÃO DE ARTE E DIAGRAMAÇÃO O2 Design ILUSTRAÇÃO DE CAPA Caco Neves

REVISÃO DE TEXTO Ana Izabel Armstrong IMAGENS Shutterstock COMENTÁRIOS, SUGESTÕES E CRÍTICAS conteudo@grupomarista. org.br


ÍNDICE

10 Capa Para realmente fazer bem à saúde, a prática de exercícios físicos precisa ser regular

4 Você sabia?

6 Em dia

9 Qualidade

16 Por dentro da técnica

20 Perfil

23 Curtas Revista HMC

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VOCÊ SABIA?

À MODA ANTIGA

SÍNDROME DE ALICE

Imagine estar conversando com alguém e, de repente, ter a impressão de que a pessoa vai ficando distante, cada vez menor. Por um instante parece que você está vivendo a história de Alice no País das Maravilhas. Infecções, enxaquecas, estresse e alguns remédios podem desencadear os eventos de micropsia (quando os objetos parecem menores) ou macropsia (quando os objetos parecem maiores). Foi baseado nessa descrição que o psiquiatra britânico John Todd batizou a condição de Síndrome de Alice, em 1955. Esses episódios, que duram de alguns minutos a uma hora, desaparecem sozinhos e costumam deixar de existir na vida adulta. Ainda que cause estranheza, estudos com ressonância magnética realizados em portadores da síndrome não identificaram quaisquer danos após os surtos.

Lápis e papel na mão. Essa ainda é a melhor forma de aprender. Uma pesquisa publicada na revista científica Trends in Neurosciense and Education mostrou o que acontece no cérebro dos pequenos em fase de alfabetização quando são estimulados a traçar letras de fôrma manualmente, cobrir uma linha pontilhada para formar letras, ou identificar as letras no teclado do computador. A ressonância magnética comprovou que as crianças que escreveram as letras manualmente ativaram uma diversidade maior de áreas cerebrais e mais intensamente que as dos outros dois grupos. E não só os menores aprendem melhor. Artigo publicado na revista Psychological Sciense mostrou que universitários que anotavam o conteúdo das aulas à mão absorviam mais do que os que usavam notebooks.

ESTRESSE X METABOLISMO

ALERGIA À TECNOLOGIA?

Um episódio recente envolvendo um menino de 11 anos, nos Estados Unidos, gerou um artigo de alerta que foi publicado na revista Pediatrics. A criança apresentava um quadro de urticária aguda causado por um tablet. Não se trata de uma nova doença dos tempos modernos. A reação do garoto foi causada pelo níquel, um dos metais que mais provocam alergias e que estão na composição de muitos aparelhos eletrônicos. Apesar de não trazer grandes riscos à saúde, a coceira pode ser muito desconfortável e exigir tratamento com esteroides e antibióticos, caso as erupções na pele infeccionem. O garoto, que usava o tablet diariamente, melhorou após colocar uma capa protetora no equipamento.

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Uma rotina estressante pode ter consequências que vão além da esfera psicológica. Uma pesquisa da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, realizada com 58 mulheres, comprovou a ligação entre o estresse e o ganho de peso. O metabolismo de quem passa por momentos estressantes desacelera, diminuindo a capacidade de queimar calorias. No estudo, após uma refeição padrão, as mulheres que relataram ter sofrido mais estresse no dia anterior gastaram 104 calorias a menos do que as outras participantes. De acordo com os pesquisadores, no período de um ano, essa quantidade de calorias pode representar cinco quilos a mais na balança. Além disso, a pesquisa também constatou níveis maiores de insulina nesse grupo, que contribui com o acúmulo de gordura corporal. Portanto, antes de descontar no chocolate, o ideal é correr para a esteira.


BOA NOITE!

MUUUUIIIITO SAL

Ao analisar 291 produtos de 90 marcas diferentes, o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) constatou que 9,2% deles possuem teor de sódio diferente do que está descrito nas embalagens. Dez tiveram variação superior aos 20% permitidos pela legislação brasileira. No levantamento do Idec, a grande vilã foi a salsicha, mas há outros campeões de sódio presentes, como o queijo parmesão, o macarrão instantâneo, a mortadela, a maionese, as bolachas, os salgadinhos de milho, o hambúrguer bovino e a batata frita. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a ingestão de, no máximo, seis gramas diárias de sal, o equivalente a 2,4 gramas de sódio. O brasileiro consome o dobro dessa quantia, principalmente por meio dos alimentos industrializados.

Ter uma boa noite de sono é o que todos desejam depois de um dia intenso de atividades. Mas há inúmeros fatores que podem auxiliar ou prejudicar a qualidade do sono, como iluminação do quarto, barulhos e umidade do ar. Pensando em medir quão bom é o sono e o que é possível fazer para melhorá-lo, uma startup britânica desenvolveu o Sense, um pequeno dispositivo capaz de registrar os mais variados dados durante a noite e enviá-los para seu smartphone. O aparelho emite cores para alertar sobre o ambiente. Se está verde, o quarto está em boas condições para dormir; se estiver vermelho ou alaranjado, é melhor consultar o app para saber o que mudar. Saiba como o Sense funciona em www.hello.is.

FOLGA PARA OS OLHOS

Já está em processo de desenvolvimento telas que se ajustam ao grau de visão dos seus usuários. Ou seja, quem depende de óculos ou lentes de contato para enxergar com perfeição poderia dispensálos frente a esses dispositivos. Pesquisadores da Universidade de Berkely, da Microsoft e do MIT estão unidos em torno do projeto, que por enquanto foi testado apenas em telas de celulares. A técnica consiste em distorcer as imagens da tela de tal modo que, quando o usuário olha o visor, as imagens se tornam claras para ele. Se outra pessoa olhar o mesmo monitor, verá imagens distorcidas.

FLATULÊNCIAS BOVINAS

Em uma tentativa de reduzir o metano produzido pelo gado, segundo maior emissor de gases do efeito estufa, cientistas colombianos propõem uma dieta mais balanceada para os bovinos. Pastagens mais jovens, inclusão de certos óleos e arbustos na alimentação poderiam reduzir consideravelmente as emissões. Um ruminante adulto, por exemplo, pode gerar gás metano equivalente ao CO2 gerado em um dia por um carro, isso porque liberam os gases pelo arroto (média de dois arrotos por minuto) e também por meio das flatulências. O estudo foi conduzido pelo professor Juan Carulla, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Nacional (UN).

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EM DIA

Está na hora

de falar sobre o herpes

por Fernando Oliveira

odo mundo já ouviu falar em herpes. E, se boa parte das estatísticas estiverem corretas, quase todo mundo (ou, pelo menos, 90% da população brasileira, segundo estimativas) já teve contato com o Herpes simplex vírus, o responsável pelas incômodas feridas que, vez ou outra, aparecem na região dos lábios na forma mais frequente da doença.

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O herpes – o correto é mesmo “o herpes”, no masculino, e não “a herpes” ou “as herpes” – é uma infecção na pele caracterizada pelo aparecimento de pequenas vesículas (ou bolhas) agrupadas e cheias de líquido que, quando estouram, formam feridas. O primeiro sintoma, geralmente, é uma ardência ou coceira ou, ainda, uma hipersensibilidade na região afetada, seguidas de um eritema (ou vermelhidão) e o surgimento das bolhas. Em geral, o ciclo do herpes tipo 1 é de cinco a sete dias, surgindo e desaparecendo sozinho. “Mas há casos em que as crises duram de duas a seis semanas. Em outros, a recorrência das crises ocorre em intervalos curtos de tempo, a cada mês ou de dois em dois meses”, diz a dermatologista do Renata Falkenbach Von Linsingen Zaniolo.


“SABEMOS DE ALGUNS FATORES QUE INFLUENCIAM O APARECIMENTO DO HERPES. A PREDISPOSIÇÃO GENÉTICA, COMBINADA COM A BAIXA IMUNIDADE DO ORGANISMO, É O PRINCIPAL DELES.” ELEOLINA LARA KALED NETA, DERMATOLOGISTA

Embora muita gente tenha o vírus, nem todo mundo chega a desenvolver as tão temidas lesões que, além da boca, podem atingir outras partes do corpo, como outras áreas do rosto e a região lombar baixa, nos casos mais comuns do herpes tipo 1 (HSV-1), e também nos órgãos genitais, no caso do herpes tipo 2 (HSV-2) ou herpes genital. Isso porque, para desenvolver a doença, muitos fatores precisam estar combinados. “Sabemos de alguns fatores que influenciam o aparecimento do herpes. A predisposição genética, combinada com a baixa imunidade do organismo, é o principal deles. Outras causas frequentes para o desenvolvimento das lesões são o estresse, o tabagismo, a exposição prolongada ao sol e a menstruação nas mulheres, por exemplo. Mas algumas pessoas vão desenvolver a doença de maneira recorrente, outras de forma não tão frequente, outras apenas uma vez na vida e, ainda, um grupo de pessoas nem evidenciará os sintomas. Tudo vai depender de como esses fatores se combinam e como afetam cada tipo de pessoa”, explica a também dermatologista Eleolina Lara Kaled Neta. Grande parte das vezes, as lesões de herpes do tipo 1 desaparecem mesmo sem tratamento. Mas há formas de combater a doença, diminuindo o ciclo da crise quando identificada logo no começo, ou mesmo como forma de prevenção em casos em que o herpes é mais recorrente, diminuindo a frequência com que aparecem as lesões. Embora haja a indicação de pomadas para as feridas, o tratamento mais eficaz ainda é com antirretroviral, medicação de uso oral capaz de combater a ação do vírus. No entanto, o tratamento não cura o herpes. “O medicamento só é capaz de tornar as crises menores e diminuir a recorrência da doença, mas não elimina o vírus do organismo. Com a utilização prolongada do antirretroviral como forma de profilaxia ou prevenção, o paciente pode ficar sem manifestar o herpes por um longo período. Em alguns casos, ele pode, inclusive, não voltar

a ter lesões, mas isso não significa que o vírus foi eliminado”, sinaliza Eleolina. FORMAS DE CONTÁGIO As lesões do herpes surgem quando o vírus passa a se replicar. Se não há lesões, é porque o sistema imunológico é capaz de deixar o vírus latente. No entanto, se fatores externos alterarem a imunidade, o vírus volta a se replicar e é aí que surgem as crises. “É comum que as lesões do herpes do tipo 1 apareçam como ferimentos visíveis, mas a maioria das pessoas acaba desenvolvendo lesões assintomáticas, ou seja, sem os sintomas característicos da doença. Por vezes, não têm um ferimento visível, só a ardência normal. Isso já significa que o vírus está se replicando e neste estágio é que se dão as contaminações”, comenta Renata. A forma mais comum de contágio do herpes do tipo 1 é pelo contato direto com a lesão ou com objetos utilizados pelo doente e a pessoa não infectada. “Geralmente, as pessoas acabam se contaminando quando ainda são crianças, mas dificilmente desenvolverão a doença nessa idade. Na maioria das vezes, as primeiras lesões só vão aparecer na adolescência, quando o corpo começa a mudar e ficamos mais propensos aos fatores que desencadeiam a replicação do vírus”, diz Talitha Chaves, dermatologista. Já o herpes simples do tipo 2, que atinge os órgãos genitais, é uma doença sexualmente transmissível (DST). Embora as características das lesões do herpes genital se assemelhem às do herpes simples tipo 1, e a farmacologia seja a mesma para o tratamento de ambos os casos, o herpes tipo 2

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costuma apresentar crises mais as úlceras são assintomáticas e longas e lesões mais doloronão dolorosas diferentes das O trasas, que podem aparecer que surgem com o herpes”, tamento de na mucosa e na pele dos destaca Eleolina. herpes genital é órgãos sexuais (na vulva O tratamento do herindispensável, princidas mulheres e, principes genital é indispensápalmente, na glande dos vel, principalmente em palmente em alguns homens), nádegas e ânus. alguns grupos de risco, grupos de risco, No herpes genital, as como mulheres grávidas. como mulheres bolinhas que estouram e Abortos espontâneos são grávidas. formam feridas do herpes do uma das consequências da tipo 1 vão gerar úlceras, que doença em gestantes, que tamsão lesões superficiais mas com bém podem transmiti-la para os pequenas depressões na pele. Uma bebês durante o parto normal, gerandas características dessas úlceras é que elas do lesões muitas vezes graves e fatais. Emsão muito dolorosas. “É importante destabora o herpes do tipo 1 e do tipo 2 sejam os car a dor desses ferimentos nos órgão genimais comuns, há outras formas de herpes tais para diferenciar as lesões do herpes de que também causam lesões, mas que só um outras doenças que também causam úlcemédico dermatologista poderá identificar e ras nessa região, como a sífilis. Nesse caso, prescrever o tratamento.

VOCÊ SABIA? O herpes simples é um dos vírus com maior prevalência na história da humanidade. Considerado o “Pai da Medicina”, Hipócrates (460-370 a.C) foi um dos primeiros a relatar erupções cutâneas de herpes na Grécia Antiga.

A ocorrência das lesões de herpes no organismo costuma acontecer sempre nas mesmas regiões. Isso porque o vírus fica latente nos linfonodos ou gânglios linfáticos, pequenos órgãos espalhados pelo corpo que produzem anticorpos na defesa do organismo contra vírus e bactérias. Quando o vírus se replica em um desses gânglios por uma baixa da imunidade, ele gera lesões. Por isso, elas sempre voltam a acontecer no mesmo lugar – o que não exclui a possibilidade de a pessoa apresentar as lesões em diferentes partes do corpo. O beijo pode ser a primeira porta de entrada do vírus, já que os lábios são a região mais comum de aparecimento da doença. Caso uma pessoa infectada entre em contato com outra que esteja com lesões, ela pode desenvolver a doença depois. “Na hora em que você entra em contato com uma pessoas com lesões, entra em contato com os vírus dessa pessoa e aciona o seu sistema imune, que pode ser capaz de lutar contra eles, ou despertar os vírus que estavam latentes no seu corpo”, explica a dermatologista Talitha Chaves.

O beijo pode ser a porta de entrada do vírus, já que os lábios são a região mais comum de aparecimento da doença Thalita Chaves, dermatologista 8 Revista HMC


QUALIDADE

Valorização da individualidade Humanização hospitalar, uma proposta de assistência à saúde por meio do atendimento e da melhoria do ambiente hospitalar

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o “bom dia” à estrutura adequada para colaboradores e pacientes: esses são exemplos de práticas que devem fazer parte do dia a dia dos hospitais por meio da humanização hospitalar. É a busca de novos valores que fundamentem os modos de gerir e de cuidar, ou seja, uma nova proposta de assistência à saúde por meio da reformulação do modelo de atendimento. Há a necessidade da compreensão do ser humano, diante de tantos processos mecanizados, fazendo com que os pacientes sintam que o seu tratamento é individualizado, humanizado. Diante do desafio do profissional da saúde de cuidar da fragilidade e da dor do outro, a humanização é necessária para criar um clima favorável de acolhimento das necessidades de todos. A humanização deveria ser intrínseca em relação ao atendimento hospitalar. Por isso, o objetivo desse trabalho de resgate é qualificar e entender o ser humano na sua totalidade, com um bom atendimento, dig-

no tanto para o paciente quanto para os profissionais da saúde. Aliado com a comunicação em Saúde, o trabalho multiprofissional representa um fator importante diante do desafio. Os vários profissionais precisam se comunicar para discutir a situação do paciente. Um pode ter a informação de que o outro precisa. Desse modo, teremos uma excelência no atendimento. Na prática hospitalar, profissionais da Saúde com diferentes formações atendem a um único paciente simultaneamente. Há a visão do médico, do fisioterapeuta, do enfermeiro, e de todos os profissionais que englobam a prática diária, cada uma delas fundamental para tornar o ambiente humanizado, o que define-se como “clínica ampliada”. Um exemplo disso é a fisioterapia, que envolve a questão do toque no paciente. Essa proximidade faz com que o paciente revele coisas da sua vida, fundamentais para seu tratamento e que não revelou para nenhum outro profissional.

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CAPA

Prática eventual de

exercícios físicos: ajuda ou atrapalha? por Michelle Thomé

Parece que a simples menção de “atividade física” desperta de um suspiro de amor a uma reação de ódio em quem a ouve – sentimentos em graus diversos que se estendem e fortificam pelos pisos de academias de ginástica, quadras esportivas e pistas de parques. Ao trazer esse tema para a capa da revista, nosso desafio é incentivar quem está ali no extremo negativo a percorrer alguns – quem sabe muitos – passos em direção ao movimento constante, saudável e seguro.

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tividade física é definida por qualquer movimento do corpo gerado pela musculatura esquelética que produza um gasto de energia maior do que em repouso. Portanto, ao sair da cama cedinho, tomar café e ir para o trabalho começamos uma série de atividades físicas, certo? Certo. Mas isso é muito, muito pouco se tivermos em mente bem-estar, musculatura alongada e fortalecida, e condicionamento físico. Para sentir os benefícios na pele, nos músculos e na mente, são necessários no mínimo 30 minutos por dia, pelo menos, três vezes por semana. E para quem está parado há tempos, começar com uma caminhada leve é bastante positivo, pois significa sair da inércia. Aqui temos motivo a celebrar: a saída do status de sedentário. Se você completar meio ano de atividade física, é hora de comemorar de novo, pois as estatísticas mostram que 50% das pessoas que iniciam alguma atividade desistem até seis meses depois. Dar o primeiro passo mudou a vida de Marcelo Xavier Rea. No final de 2012, Marcelo estava completamente fora de forma. Com 123 quilos, estava diagnosticado obeso tipo 3 com indicação para cirurgia bariátrica, quando foi a uma consulta com um médico cardiologista, que solicitou que ele fizesse uma reflexão profunda sobre o que estava fazendo com seu corpo. “Foi a partir desse convite para refletir que tomei a decisão de fazer algo para mim”. E a vida de Marcelo, diretor administrativo e financeiro de uma empresa, em Curitiba, começou a mudar. Para melhor. "Iniciei pedalando, para evitar impactos, e, à medida que fui emagrecendo, passei a correr também”. Marcelo sempre fez atividades físicas, desde menino em Londrina, interior do Paraná, mas sem a regularidade necessária. “Eu fazia algo nos fins de semana e tinha histórico de desistência frequente. Era comum largar tudo logo após ter começado a me exercitar, principalmente nas atividades dentro de academia”, revela. Hoje ele sabe que para fazer atividade física, são necessárias orientações especializadas de educador físico, nutricionista, cardiologista e fisioterapeuta. “Aprendi a buscar orientação profissional especializada e hoje frequento constantemente cardiologista, endocrinologista, nutricionista e fisioterapeuta”. Além disso, Marcelo tem orientador físico para musculação na academia, corrida de rua e na esteira, ciclismo outdoor e spinning indoor, natação e pilates.

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CAPA

Assim como Marcelo, quem tem um ritmo de treinamento de três a quatro vezes por semana, contemplando força muscular, alongamento e equilíbrio, está em dia com seu corpo. Vamos dar mais um exemplo inspirador de tomada de consciência sobre a necessidade de levar a sério a atividade física: a maringaense Jane Yoshie Kambara, de 50 anos. Jane não praticava atividade física como uma rotina até 2007. “Foi quando ingressei em uma academia com aulas de musculação e ginástica localizada, que passei a gostar e adotar a atividade física no meu dia a dia”, relembra. Em 2010, Jane começou a correr na rua. “Encontrei na corrida a atividade que mais me dá prazer. Desde então, não parei mais”. A empolgação – com a performance e os resultados da corrida – resultou em duas lesões: “Na primeira vez, torci o tornozelo; na segunda, foi um problema no joelho”, conta a analista de sistemas. Jane procurou ajuda médica especializada para tratar das duas lesões e chegou a ser aconselhada a parar de correr para evitar novos acidentes. “Mas eu não me conformei com essa indicação e sabia que tinha como continuar correndo se tomasse algumas precauções”. A dor trouxe o aprendizado da necessidade de fortalecimento e alongamento muscular. Atualmente, Jane tem aulas de pilates duas vezes por semana, exercícios aeróbios de duas a três vezes na semana na academia

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e mantém a corrida de rua de uma a duas vezes por semana. O histórico de lesões de Jane alerta para a prática de atividade física sem acompanhamento profissional adequado, o que é comum de acontecer com os chamados pseudoatletas, os atletas somente de final de semana. “Os atletas de fim de semana são pessoas muito expostas às lesões ortopédicas’, afirma o ortopedista Alcy Vilas Boas Jr. Quem faz atividade física somente no final de semana não tem musculatura fortalecida nem propriocepção, que é a noção que o corpo tem em relação ao espaço. “A propriocepção só é estimulada pela atividade constante e sua ausência faz com que o sedentário e o pseudoatleta se machuquem mais facilmente com uma torção de joelho, por exemplo”, alerta o especialista em cirurgia do joelho e Medicina Esportiva. “Tudo tem que ser progressivo para significar uma mudança. Não adianta sair correndo de uma hora para outra”, avisa o ortopedista, que aos 50 anos é triatleta, Ironman e faz pilates duas vezes por semana. Vilas Boas tem duas advertências importantes e um conselho que merece ser lido mais de uma vez: 1. Melhor não fazer esporte nenhum do que apenas uma vez por semana. É um erro pensar "pelo menos, faço alguma coisa", pois o risco de lesão é altíssimo e o coração não está acostumado.


2. É muito mais saudável atividade três vezes por semana por meia hora do que duas horas de futebol em uma noite na semana. 3. Se tiver pouca chance de fazer atividade física (por exemplo, apenas uma vez por semana), escolha alongamento. Se puder duas vezes, invista também em fortalecimento. E, se puder três, acrescente aeróbico. O tradicional futebol uma vez por semana pode parecer inocente, mas não é, se essa for a única atividade física semanal. Vilas Boas explica que, na prática do futebol do pseudoatleta, é comum ocorrerem lesões dos membros inferiores, como entorse no tornozelo, lesões ligamentares no joelho ou meniscais. E como todas as lesões demandam tempo de tratamento para melhoria, se houver uma lesão de ligamento que precisa de cirurgia, por exemplo, o camisa dez certamente será afastado de suas atividades rotineiras por um tempo. “A insuficiência muscular do sedentário faz com que uma volta no Parque Barigui, em Curitiba, de menos de quatro quilômetros, com o cachorro seja suficiente para que dores apareçam”, afirma Vilas Boas. Ou seja: devemos ter noção de como está nosso corpo antes de colocar o pé no acelerador e nem um passeio com o cachorro deve ser desconsiderado. O que dizer então, doutor Vilas Boas, ao corredor de final de semana? “A ele faltam força muscular e alongamento e esses dois fatores juntos levam à dor na face anterior do joelho. Além disso, quem não faz atividade física regularmente costuma ter sobrepeso. Então, o corpo é pressionado por seu próprio peso, gerando mais dores. Portanto, o pseudoatleta de fim de semana pode ter uma lesão

mecânica ou insidiosa na articulação do joelho ou no tendão de Aquiles”. E agora um recado para a turma do pedal eventual e sem orientação profissional: “Recebo pacientes com dor na articulação patelofemural depois de pedalar por algumas horas. Depois de algumas perguntas, descubro que a causa da dor é a má regulagem do banco da bicicleta”, revela Vilas Boas. O costume de regular o banco pela altura dos pés no chão é um erro, pois o banco fica baixo, prejudicando o joelho. “É preciso regular a partir do calcanhar no ponto mais baixo do pedal”, indica. Falando em pedal, lembra do Marcelo? Hoje está muito feliz com 94 quilos (quase 30 quilos mais magro) e sua meta é eliminar mais sete a nove quilos de gordura nos próximos meses e continuar sentindo os benefícios de cuidar de si mesmo. "Cheguei a velejar por alguns anos, jogo bola com amigos, mas sempre tive uma paixão muito grande por passeios de bicicleta. Ao longo dos últimos 15 anos, fiz várias saídas e viagens de cicloturismo, nas quais fiz boas amizades. Com a decisão em 2012 de fazer mais para minha saúde, comecei a colocar objetivos ou desafios diferentes que pudessem me motivar”, relata. A guinada da vida de Marcelo é estimulante para ele e seus amigos e desejamos que seja para você, leitor. Automotivado, com o apoio da família, a companhia dos amigos e a orientação profissional, ele fez a Audax 100km e a Audax 200km (provas de ciclismo de longa duração) e agora se prepara para uma prova de Sprint Triathlon ainda neste ano e um audacioso Audax 300km para o próximo ano. Ufa! Ainda bem que ele parou de fugir da academia.

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CAPA

5 ATITUDES PARA NÃO FUGIR DA ATIVIDADE FÍSICA PERIÓDICA 1 Repita uma estrutura de sucesso Olhe para seu passado e busque uma inspiração em algum tipo de estrutura que deu certo e que pode repetir. Por exemplo: se é disciplinado nas aulas de violão, perceba que elementos fizeram essa atividade dar certo e como aplicar esses elementos na atividade física. Muitas pessoas conseguem o que querem estipulando metas. Se é o seu caso, coloque uma meta de ganho de massa muscular ou de perda de peso. 2. Especifique o que precisa As metas “perder cinco quilos”, “baixar o colesterol”, “reduzir a pressão arterial”, etc., podem parecer monstruosas e inatingíveis. Há muitos caminhos para se chegar ao alcance de um objetivo. Conversar com um profissional – dos bons –, como um educador físico ou um fisioterapeuta, vai ajudá-lo a entender que tipo de atividade é a ideal para o cumprimento da sua meta e com que frequência. 3. Busque cooperação Lembra das peladas de futebol no campinho no final da rua ou das partidas de

caçador na quadra da escola? Quando crianças, naturalmente nos reunimos pelas atividades físicas e nos abastecemos duplamente desse momento: pelo social e pelo exercício. Então, procure um amigo, uma vizinha... Alguém que o anime a praticar a atividade e seja bom de papo! 4. Nutra-se Entre não fazer nada e pedalar saudavelmente por uma hora três vezes por semana, há um longo caminho. E este caminho tem várias etapas. Celebrar cada pequena conquista, registrar o momento ou saborear a minivitória ajudam a nutrir esta caminhada e a fortificar uma mudança de estilo de vida. 5. Pense fora da casinha O objetivo é colocar o corpo em movimento e de uma maneira saudável e segura, certo? Se você odeia ir para academia, não adianta nada se obrigar a fazer isso. É preciso sentir-se bem com o exercício. Então que tal buscar uma aula de trapézio, neopilates ou dança de salão?

NO SALTO Você é do time feminino que usa salto alto a semana toda e, no fim de semana, coloca tênis para caminhar no parque ou rasteira para caminhar na praia? Se é, deve compartilhar daquela dor chatinha que aparece depois da caminhada. Pois bem! Isso tem uma explicação: a falta de alongamento faz com que apareçam dores nos pés quando colocamos os pés inteiros no chão. E a indicação do ortopedista Alcy Vilas Boas Jr. é que a panturrilha seja alongada constantemente como forma preventiva.

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É fundamental uma avaliação médica antes de qualquer prática de exercício físico. Alexandre de Loyola e Silva Avellar Fonseca, cardiologista

O CORAÇÃO VALE OURO Alexandre tem 31 anos, trabalha no que gosta e faz atividade física pelo menos três vezes na semana, com duração de uma hora, variando entre corrida e musculação. Somente por essa dedicação, é um exemplo positivo para esta reportagem. Mas vamos explorar aqui outra habilidade desse curitibano: a experiência profissional como cardiologista. Portanto, quem responde às perguntas a seguir é o doutor Alexandre de Loyola e Silva Avellar Fonseca. Quais os riscos de fazer atividade física somente no final de semana? Essa é uma pergunta muito comum nos consultórios de cardiologia. Já é de conhecimento de todos que a prática de atividade física regular tem efeito benéfico no aspecto cardiovascular. Porém, a dúvida surge quando essa prática é irregular, como por exemplo, atividade física somente no final de semana. Os dados na literatura comprovam que existe benefício cardiovascular muito grande só pelo fato de o paciente deixar de ser sedentário, mesmo com a prática de pouca atividade física. Logo, não devemos coibir a pessoas de praticarem atividade física. Devemos, entretanto, alertar os pacientes que é fundamental uma avaliação médica antes de qualquer prática de exercício físico, para evitar complicações, como lesões osteomusculares ou eventos cardíacos, mais comuns em pacientes que não realizam atividade física regularmente e que resolvem praticar atividade de moderada a alta intensidade (como tênis, futebol ou natação) repentinamente. Com que frequência recomenda atividade física? Recomendo pelo menos 150 minutos semanais de exercícios físicos aeróbicos combinados com exercício de resistência muscular (musculação), com o objetivo de promoção e manutenção da saúde. Para os pacientes sedentários, o início da prática de atividade física deve ser com parcimônia, aumentando gradualmente a duração e a frequência dos exercícios físicos na semana. A meta é atingir uma regularidade na prática de atividade física para redução do risco cardiovascular.

Do ponto de vista cardiológico, que atividades podem ser mais perigosas ou mais seguras? Não existe atividade mais perigosa ou mais segura, pois certos exercícios físicos que podem ser seguros para uns, podem não ser seguros para outros. O que existe é exercício de baixa, moderada ou alta intensidade. O importante é saber individualizar caso a caso. Para isso, é ideal que toda pessoa candidata à prática de atividade física seja submetida a uma avaliação médica, com objetivo de detectar fatores de risco, doenças cardiovasculares subjacentes, doenças pulmonares ou do aparelho locomotor. O eletrocardiograma também é fundamental na avaliação inicial. Exames mais específicos – como teste ergométrico e teste cardiopulmonar – devem ser particularizados. Ao realizar essa avaliação, o cardiologista pode prescrever adequadamente o exercício físico para o seu paciente.

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© Ilustrações: Caco Neves, fotos: Julio Covello

Como convencer alguém a se cuidar mais e correr menos risco a saúde? Não é uma tarefa fácil, mas é possível. Em primeiro lugar, é fundamental haver uma boa relação médico-paciente, algo que vem se perdendo ultimamente. Somente o fato de o paciente confiar em seu médico, aumenta a chance de aderência às orientações e tratamento instituídos. Em segundo lugar, os médicos devem expor aos pacientes todos os benefícios decorrentes de uma alimentação saudável, da prática de atividade física, do bem-estar psicossocial, e orientar sobre os riscos causados pelo sedentarismo, má alimentação, tabagismo e obesidade, esta última, a pandemia do século XXI.

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POR DENTRO DA TÉCNICA

Para o coração não parar de bater por Fernando Oliveira

Dispositivo de Assistência Ventricular (DAV) é uma alternativa de tratamento para a insuficiência cardíaca

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Hospital Marcelino Champagnat (HMC) iniciou, neste ano, um novo capítulo no tratamento da insuficiência cardíaca, doença crônica que incapacita o coração de realizar sua principal função, a de bombear o sangue para todo o corpo. Agora, ele faz parte de um pequeno grupo de centros médicos do Brasil preparados para a realização da cirurgia de implante de dispositivos de assistência ventricular (DVAs). No Paraná, o HMC é o primeiro hospital a realizar o procedimento, capaz de aumentar a sobrevida de pacientes no estágio avançado da doença.

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Popularmente chamados de “coração artificial”, os DAVs são bombas mecânicas que funcionam como propulsores do sangue que chega aos ventrículos (as câmaras do coração que bombeiam o sangue quando se contraem). Eles começaram a ser utilizados há, pelo menos, 20 anos para o tratamento da miocardite, como se chama a inflação do miocárdio (o músculo do coração), mas foi nos últimos dez anos que sua utilização como suporte na fase avançada da insuficiência cardíaca ganhou força, principalmente nos Estados Unidos e na Europa.


A melhora na prevenção e no tratamento de doenças do coração elevou a expectativa de vida desses paciente. Lídia Zytynski Moura, cardiologista No Brasil, os DAVs começaram a aparecer no fim da década passada. Os primeiros modelos eram extracorpóreos (com as bombas fixadas do lado de fora do corpo) e utilizados como ponte para melhora, por um curto período de tempo, até uma possível reabilitação da função cardíaca. Hoje, os modelos disponíveis no país podem ser implantados tanto externa como internamente e são utilizados não só como ponte para melhora, mas também como ponte para transplante (enquanto o paciente aguarda o transplante de coração), ponte para decisão (para uma possível estabilização das funções cardíacas até que se decida qual a melhor forma de tratamento) ou mesmo, como terapia de destino, ou seja, por um longo período de tempo quando não há indicação de transplante ou melhora possível. No entanto, essa última modalidade ainda é exceção no país. “A preferência ainda é pelo transplante de coração no Brasil, por isso a utilização do dispositivo como ponte

para melhora ou decisão em grande parte dos casos”, afirma Lídia Zytynski Moura, cardiologista e decana adjunta da Escola de Medicina da PUCPR. Via final de todas as doenças do coração, a insuficiência cardíaca prevalece com a idade – o que não exclui casos em todas as fases da vida, inclusive crianças. O número de pacientes com a doença tem aumentado nos últimos anos, principalmente por causa do envelhecimento da população geral. “Mas o que temos visto é que a melhora na prevenção e no tratamento de doenças do coração elevou a expectativa de vida desses pacientes. Se antes eles morriam durante o tratamento da

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POR DENTRO DA TÉCNICA

doença inicial, hoje eles sobrevimundo, por isso as esperanças vem, aumentando os casos de se voltam para os dispositiinsuficiência cardíaca avanvos, principalmente para çada”, explica a cardioloos pacientes que não têm gista. Um dos grupos que indicação para o transmais aumentaram nesplante”, revela. Até a chegada dos DAVs no te sentido nos últimos Segundo a cardioloanos foi o de pacientes gista, nos Estados UniBrasil, o tratamento parava pós-quimioterapia. “A dos e em alguns países no transplante de coração. oncologia cresceu e os da Europa, os implantes pacientes que antes mordos DAVs já respondem riam em decorrência do por metade dos procecâncer, agora sobrevivem e dimentos realizados em começam a perceber as consecentros de transplante. “Nos quências da ação dos quimioteEUA, é possível que haja um núrápicos no coração”, revela. mero maior de dispositivos em relaAté a chegada dos DAVs no Brasil, o tração ao transplante por causa da diminuição tamento da insuficiência cardíaca parava no número de doações nos últimos anos”, no transplante de coração, uma solução diz. O Brasil logo deve se equiparar ao resque, nos últimos dez anos, beneficiou 271 tante do mundo. “Os centros habilitados pessoas em todo o Brasil, de acordo com o para o transplante de coração por aqui serão Registro Brasileiro de Transplantes (RBT) credenciados para o implante dos DAVs. Alda Associação Brasileira de Transplantes de guns convênios médicos já possibilitam ao Órgãos (ABTO). “Esse é o caminho natural paciente a possibilidade do implante e logo da doença”, atesta Lídia. “O paciente chega teremos um programa federal de dispositivos ao consultório com o quadro de insuficiênde curta duração, bem como um programa cia cardíaca e é medicado. Por um tempo, estadual para o Paraná. A nossa vantagem ele vai ter um período de estabilidade, até em relação a outros países que utilizam o chegar a uma fase de transição, em que o dispositivo há anos é iniciar esses tratamentransplante é a única solução. O que antes tos por aqui quando o conhecimento sobre acontecia era um número maior de óbitos os DAVs já está consolidado, sabendo o que em fases anteriores da doença. Hoje, ele funciona e o que não funciona acerca do prochega à fase final e não há coração para todo cedimento”, conclui Lídia.

Nos EUA e em parte da Europa, os implantes dos DAVs já respondem por metade dos procedimentos realizados. Lídia Zytynski Moura, cardiologista 18


Quando o coração enfraquece A insuficiência cardíaca (ou insuficiência cardíaca congestiva) é uma das doenças que mais internam no Brasil e uma das principais causas de morte no país. Ela é caracterizada por uma disfunção ventricular, isto é, os ventrículos que bombeiam o sangue para o corpo deixam de cumprir a sua função. “Ou melhor, deixam de bombear o sangue de forma adequada, ou porque não se contraem mais como deveriam, ou porque não relaxam como deveriam”, explica o cardiologista do Hospital Marcelino Champagnat, André Bernardi. Via final do coração doente, a insuficiência cardíaca está diretamente associada, na grande maioria dos casos, a doenças preexistentes no coração. De acordo com o Registro Brasileiro de Insuficiência Cardíaca (BREATHE) da Sociedade Brasileira de Cardiologia, as doenças isquêmicas do coração, resultantes do entupimento de veias e artérias, como é o caso do infarto, são a principal causa de disfunções ventriculares no Brasil. “São essas doenças que a hipertensão, o tabagismo, sedentarismo e obesidade causam e que é maior causa de morte no mundo”, revela Bernardi. A própria hipertensão aparece em segundo lugar, seguida por outras doenças do coração (como a miocardite) e, por fim, a doença de Chagas – ainda prevalente em

algumas regiões do país, como o norte do Paraná, o sudoeste do Rio Grande do Sul e em estados como Minas Gerais e Bahia, por exemplo. “Ou seja, a evolução de um quadro de hipertensão, infarto ou mesmo diabetes, além de outras doenças, é o enfraquecimento do coração com o passar do tempo, isto é, insuficiência cardíaca”, comenta o cardiologista. Os sintomas clássicos da insuficiência cardíaca são simples: falta de ar e inchaço nas pernas. Mas as consequências da doença afetam todo o corpo. “É uma doença sistêmica, até porque é o coração batendo normalmente que mantém todos os órgãos ativos e a nós, vivos. Se ele deixa de funcionar adequadamente, o restante do corpo também fica comprometido. É isso que faz com que o paciente com insuficiência cardíaca seja um dos mais complexos da Cardiologia, porque o médico precisa vê-lo na sua integralidade e não apenas focar no coração enfraquecido”, revela Bernardi. Até pouco tempo atrás, as formas de tratamento incluíam apenas a medicação de uso contínuo e o transplante de coração como solução final. Os DAVs vieram auxiliar nesse sentido. “Embora a medicação tenha resultados excelentes, ela pode não segurar um paciente por muito tempo por causa da magnitude do próprio problema. Por isso, há a necessidade de um reforço no tratamento. Além disso, nem todo paciente com insuficiência cardíaca pode se candidatar ao transplante, por questões de saúde que só a equipe médica pode decidir. Nesse sentido, o DAV se torna uma solução cada vez mais possível para esses pacientes, que podem ter grandes benefícios. No entanto, os dispositivos ainda são caros e os pacientes precisam ser bem selecionados antes de passar pelo procedimento”, atesta o médico.

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© Julio Covello

Marilza Conceição

Um lembrete de que nossa criança está viva 20 Revista HMC


PERFIL > QUANDO ESTAMOS MERGULHADOS NO TRABALHO, NO DIA A DIA, PARECE QUE NOS ESQUECEMOS DE OLHAR PARA OS LADOS. COMO MUDAR ISSO? Há atitudes simples que podem proporcionar bem-estar e contato conosco, como uma boa companhia. Caminhada é uma delas. E quem desejar fazer um registro, pode levar a câmera fotográfica para treinar o olhar, recuperando aquele de quando era criança. Poderá redescobrir as pétalas e os pistilos das flores, enquanto sente o perfume; observar os diferentes tons de verde da vegetação do caminho; os raios de sol dourando as pedras e o mar de brilhos, e outros olhares. É uma aventura que nos reabastece por vários dias. Também é salutar amar, viajar, nadar, rir, dançar de rebolar mesmo, treinando o jogo de cintura de que precisamos lançar mão no dia a dia. E descansar com um bom livro, que nos ensina a pensar com mais poesia na vida. > QUAL A SUA MENSAGEM PARA ESSE ADULTO, QUE SE CONSIDERA SEM TEMPO PARA NADA ALÉM DAS OBRIGAÇÕES DE TRABALHO? Tempo é questão de preferência e amorpróprio é necessidade básica. Então, criar um tempo só para nós é, no mínimo, saudável. Uma das formas de conseguir momentos de paz é com leitura. A leitura é o maior exercício de liberdade que podemos exercer em nossas vidas. Ao abrir um livro, entramos num universo desconhecido, de que podemos gostar ou não, mas é só trocar de livro. É maravilhoso vislumbrar horizontes, ouvir vozes nos falando de amores, de dramas, de aventuras e de todas as sensações que povoam a alma humana, nos dando repertório para lidar com tudo isso.

> O QUE O CONTATO COM O UNIVERSO LÚDICO TRAZ PARA A VIDA ADULTA? A curiosidade; a percepção dos cheiros e dos gostos; a audição mais consciente, que percebe a voz interior, aquela que filtra barulhos em volta e ruídos do pensamento; a constatação de que somos sempre aprendizes; a noção de que o tempo é todo nosso e é desnecessário o esforço para esticá-lo; que pouco importa saber todas as respostas; que, muitas vezes, é bem melhor ser feliz do que ter razão; a capacidade de olhar e ver, de ouvir e escutar, de rir e respirar; deitar e sentir o brilho das estrelas dentro dos olhos. Adulto que permanece em contato com sua alma infantil apreende as coisas e age sem grandes discursos, pois a fala, muitas vezes, é desnecessária. Basta o exemplo. Sentir é melhor do que pensar e gralhar, digo, falar. > COMO SURGIU O SEU INTERESSE PELA LITERATURA INFANTIL? Meus pais, nascidos no Estado de São Paulo, casaram-se e vieram para Curitiba, onde se estabeleceram. Nasci e cresci na casa da Travessa Agnelo, sob o nº. 19, o melhor lugar do mundo, na minha infância. Imaginação era o meu brinquedo favorito. Tudo virava o que eu queria que virasse: árvore em avião, janela em portal para o jardim encantado. E eu me embrenhava entre gerânios e glicínias numas aventuras parecidas com as de Peter Pan. Bastava desejar e pisar para que o gramado virasse uma ilha, bonecas se tornassem filhas e os pés de couve, meus alunos. Onde me sentisse em casa, virava castelo ou minha casinha. E todo esse repertório veio dos livros, que ainda amo. A casa maravilhosa da infância, de

A curitibana Marilza Conceição dedica-se à Educação há mais de 30 anos. Hoje é coordenadora da regional do Paraná da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil, mas muitos a reconhecem como Bruxa Mila, moradora por muitos anos da Casa Encantada do Bosque Alemão; outros leram seus livros ou viram o curta-metragem com a atriz Letícia Sabatella, que foi inspirado em sua obra. Marilza envolve-se pela Literatura Infantil desde menina, quando começou a ler , revelando-se uma talentosa contadora de histórias. Aos 56 anos, tem muita história para escrever e contar. Permita-se alguns minutos de contato com sua criança e inspire-se ao ler esta entrevista. Revista HMC

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PERFIL

madeira com pingadeiras, quintal com pomar, jardim com flores, não existe mais. Há três torres em seu lugar. E o nome da rua, mudou para Avenida Nossa Senhora da Luz. Mal sabem os moradores que estão em cima de um universo encantado, que nem é cobrado no valor do condomínio. Tive mãe professora e a leitura sempre fez parte da minha rotina. Vê-la lendo foi o exemplo fundamental para que eu me interessasse por leitura de livros de Literatura. Minha mãe colaborou com a minha criatividade. > QUAL A SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO? Tornei-me professora e pesquisei a Pedagogia do Imaginário, na qual fundamentei minha docência. Especializei-me em Práticas Pedagógicas para a Educação Infantil, pensando em poesia, e mantendo o olhar mediador, que garantiu às crianças a aprendizagem dos conteúdos exigidos pelo currículo. Em 30 anos de dedicação ao ensino das Séries Iniciais e Ensino Fundamental, incentivei as crianças ao hábito da leitura literária. Avalio minha trajetória com otimismo e alegria. Componho canções para crianças, nos ritmos que trago da década de 1960. Em dias de domingo meu pai, ao violão, me chamava: - "Marilza, venha cantar!" E é nesse ritmo bossa nova, iê, iê, iê, que meu coração bate, inspirando a escrita. Grande parte das minhas ideias surge nas caminhadas matutinas, quando sinto o cheiro da primavera que se aproxima, observando a intenção da árvore nas primeiras flores de Ipê. Como é bom viver na minha cidade. Curitiba, eu amo você! > E A HABILIDADE DE CONTAR HISTÓRIAS SURGIU DE QUE MANEIRA? Tornei-me contadora de histórias ainda menina, quando diariamente inventava contos inéditos para os meus irmãos. Anos depois, os contos povoaram o cantinho mágico das histórias, debaixo da árvore da escola, o lugar predileto dos meus alunos. Mais tarde, as histórias pipocaram na infância das minhas filhas, inspiradas no amor. Foi quando vivenciei literatura com afetividade. Histórias, por vezes, tornam-se rebeldes, como agora, que decidiram pular para os livros. Querem viajar nas mãozinhas de muitas crianças, para novos lugares, ajudando a criar a infância feliz que o imaginário proporciona. Carregam personagens que falam do que vai no nosso coração. Por muitas vezes, ouvi alguém me dizer: “Como foi que você adivinhou que era isso que eu sentia?” Sou o resultado de tudo o que já li e leio e do

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que aprendo na convivência com os outros. Sou aprendiz, porque gosto e me faz feliz. > QUE OBRAS SUAS ESTÃO DISPONÍVEIS AOS LEITORES? O livro O balé da chuva (Editora Insight) serve como exemplo, quando me refiro à literatura e afetividade. É uma prosa poética que virou peça de teatro e filme de curta metragem. As primas (Editora InVerso) é uma novela infantojuvenil que narra as férias de verão das crianças na praia. Durante 6 anos, fiz parte do quadro de contadoras de histórias do Bosque Alemão e minha personagem chamava-se Bruxa Mila. Com a aposentadoria, deixei o Bosque e precisei encontrar outra personagem. Foram dias angustiantes, pois tive pena de me desfazer da bruxinha atrapalhada, engraçada e inventadeira de histórias. Num belo dia, a ideia veio de maneira espetacular: Mila tocou com a varinha de condão em si mesma e transformou-se numa menina. Fiquei feliz por continuar com a personagem, agora repaginada, que me permite continuar a contar histórias para crianças de todas as idades. E Mila, esperta como ela só, já passou para o livro, com uma aventura: O ovo do bolo (Editora Insight), que relata a aventura de Mila ao receber como herança um livro de receitas.


CURTAS

SIMPÓSIO DE CARDIOLOGIA

DE OLHO NAS OLIMPÍADAS

O HMC será referência em atendimento médico para os 35 atletas da Confederação Brasileira de Canoagem que, em setembro, iniciou os treinos no Parque do Iguaçu para as Olimpíadas de 2016. No dia 24 de julho, o ortopedista William Yousef apresentou o hospital para Vinícius Cunha e Gustavo Borges (esq. para dir.), representantes do patrocinador dos atletas, BNDES, e o Presidente da Confederação, João Tomasini Shwertner.

No dia 15 de agosto, aconteceu o III Simpósio de Cardiologia do HMC. O evento foi destinado a médicos clínicos cardiologistas, hemodinamicistas, cirurgiões cardíacos e médicos-residentes de Cardiologia ou Hemodinâmica, e ministrado pelos especialistas do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Dr. Fernando Bacal, Dr. Roberto Costa e Prof. Fábio Jatene. Durante o Simpósio, foram discutidas as novas tecnologias e procedimentos utilizados no diagnóstico e no tratamento de doenças cardiovasculares. Entre os temas abordados estão, manejo de insuficiência cardíaca avançada, o papel da ressincronização biventricular e os dispositivos de assistência ventricular. Representando o HMC, o cardiologista Dr. José Carlos Moura Jorge coordenou o evento, que teve como moderadora a cardiologista coordenadora do curso de Medicina da PUCPR, Lídia Zytynski Moura.

HOSPITAL MARCELINO CHAMPAGNAT CONQUISTA NOTA MÁXIMA EM AVALIAÇÃO DA UNIDAS

O HMC conquistou nota máxima em avaliação realizada pela UNIDAS – União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde. Avaliado na categoria de alta complexidade, o HMC recebeu nota A. Além disso, o hospital foi o pioneiro no exame em que analisa os recursos físicos, humanos, materiais, normas, rotinas e indicadores de uma instituição de saúde. Para o diretor do HMC, Claudio Lubascher, ser escolhido como piloto foi o reconhecimento do trabalho que o hospital vem fazendo há 3 anos. “Estamos no caminho, sempre priorizando a excelência e destaque no cenário paranaense”, disse Lubascher. O diretor acrescentou ainda que a classificação como alta complexidade faz parte do posicionamento estratégico do negócio, que busca o reconhecimento como referência em procedimentos complexos.

FOCO NA NUTRIÇÃO

No dia 26 de setembro, a Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional do HMC participou do 2º. Simpósio Interdisciplinar de Nutrição Clínica, realizado em Curitiba. A equipe do hospital foi premiada como a que teve maior participação e melhores resultados no que se refere a indicadores de qualidade em Terapia Nutricional.

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Avenida Presidente Affonso Camargo, 1399 - Cristo Rei - Curitiba/PR • Tel.: (41) 3087-7600


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