Presença Marista - abril 2014

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© João Borges

CARTAS

Parabéns à equipe que desenvolve a revista. A leitura da 1ª. edição da Revista Presença Marista ampliou a visão das iniciativas e da grandeza do trabalho do Grupo (e do carisma) Marista. Gostei muito das reportagens e do visual, mas destaco a reportagem “Do Laju ao Javari”. Ela mostra a vocação missionária do Ir. Nilvo Favretto, que com seu testemunho de vida e presença significativa faz a diferença nas comunidades da Amazônia. É muito motivador saber que cada um de nós é uma pequena célula de uma instituição que realiza grandes e pequenas obras – formando pessoas e construindo um mundo melhor. Márcio José Pelinski Colaborador da Pastoral Área da Saúde

Márcio José Pelinski enviou sua contribuição para a seção Cartas e recebeu uma lembrança como forma de agradecimento pela participação.

Ir. Nilvo Favretto, retratado na seção Vida de Irmão da edição anterior da Revista Presença Marista.

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EXPEDIENTE A REVISTA PRESENÇA MARISTA É UMA PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL DISTRIBUÍDA AOS COLABORADORES DO GRUPO MARISTA. TIRAGEM 15 mil exemplares

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REVISTA DO GRUPO MARISTA | ABR 2014

CONSELHO PROVINCIAL

SUPERINTENDENTE

Ir. Joaquim Sperandio (Superior Provincial)

Paulo Serino de Souza

Ir. Benê Oliveira (Vice-Provincial)

PRODUÇÃO E EDIÇÃO

Ir. Délcio Afonso Balestrin (Presidente)

Diretoria de Marketing e Comunicação | Eduardo Correa (MTB 6037) e Irene Simões (MTB 5098)

Ir. Franki Kleberson Kucher Ir. Jorge Gaio Ir. Paulinho Vogel

Colaboraram | Camila Matta, Danielle Sasaki,

Fabiana Ferreira e Fernanda Jacometti PROJETO GRÁFICO Estúdio Sem Dublê EDIÇÃO DE ARTE E DIAGRAMAÇÃO O2 design REVISÃO DE TEXTO Ana Izabel Armstrong


ÍNDICE

12 Capa Uma questão de fé

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Especial

Mundo Marista

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Radar Educação

Radar Saúde

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Na Estrada

Nossa Gente

| Direto ao Assunto | ................................................. 22

| Faça Você Mesmo | ................................................. 32

| Tome Nota | ............................................................ 23

| Seu Talento | ........................................................... 33

| Registros | ............................................................... 24

| Vida de Irmão | ....................................................... 38

| Galeria da Galera | .................................................. 25

| Entendendo a Solidariedade | ................................ 40

| Carreira | .................................................................. 30

| Caminhada do Grupo | ........................................... 42

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EDITORIAL IR. JOAQUIM SPERANDIO | SUPERIOR PROVINCIAL

Aleluia, Carol! Nós ressuscitaremos!

Carol, que foi reprovada cinco vezes no vestibular para Medicina, saiu aos berros do seu quarto: “Passeeeeeeiiiiii! Passeeeeeeiiiiii! Passeeeeeeiiiiii, mãe!” E pulava de alegria. “Aleluia”, gritou a mãe lá da cozinha, correndo feliz ao encontro da filha. “Eu sabia que você ia conseguir”, disse, abraçando a moça! O almoço do dia foi precedido de uma prece de ação de graças e regado com bebidas inebriantes. Havia motivo para tanto. Mas, o que têm a ver os berros de Carol com o Aleluia da mãe, com a nossa vida de educadores maristas e com o mundo que nos cerca? Eu explico. Segundo a Bíblia, Aleluia significa “Louvem Deus Javé” ou “Adorem a Deus Javé”. É um termo de origem hebraica Halleluyah, formado pela junção de Hallelu, louvar, mais Yah que significa Deus, Javé. Para nós, cristãos, Aleluia é uma expressão de alegria e júbilo usada para louvar o Senhor pelos benefícios recebidos, especialmente pelo maior deles, a vida e a Ressurreição de Jesus Cristo. A Ressurreição que aconteceu historicamente com Jesus de Nazaré dá sentido a toda a nossa vida. São Paulo nos garante: “Ele ressuscitou e também nós ressuscitaremos com Ele um dia”. Tal certeza é o elemento central da nossa fé cristã. Aleluia! É importante perceber que, para nós, tal ressurreição não se dá num momento mágico durante a vida ou na hora da morte, mas é dom do alto, construção cotidiana, conquista suada e festejada em todo momento. São inúmeras pequenas ressurreições que nos preparam para o grande dia da vida plena em Cristo. Percebe? Conquistas humanas, como a de Carol e o Aleluia de sua mãe, estão alinhadas com a ressurreição definitiva. Em um mundo cheio de “buracos negros”, de ódio, de vinganças, de consumismo adoidado, de guerras, de corrupção, de violências, de tráfico de seres humanos, de vazio existencial, nossa fé cristã, apesar de tudo, nos faz dizer “Aleluia” e nos convida a alegrar-nos com a vida. Motivos não faltam. Basta olhar ao nosso redor. Quantos gestos de solidariedade, serviços despretensiosos, amor ofertado sem carências, relações sinceras e gratuitas, gestos positivos de doação ao próximo! Infelizmente, podemos estar cegos e não perceber a ação de Deus no meio de tantas ambivalências. E aí perdemos o encanto pela vida, puro dom de Deus, que brota gratuitamente em qualquer tempo, espaço e condição, caindo na tentação do imediatismo. Tenhamos fé. Depois da Ressurreição, ficou claro que a vida sempre foi mais forte do que a morte.

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Muitos de nós conhecemos a figura inquieta do Ir. Panini, falecido em fevereiro. Mesmo com idade avançada e saúde debilitada, pensava no futuro, fazia planos, imaginava vitórias. Não dispensava uma boa pescaria e uma gostosa gargalhada ao contar histórias de antanho. Esperança e alegria eram características dele. E sabe de onde lhe vinha essa misteriosa força? Da sua fé no ser humano, fé na vida, fé na educação, fé no trabalho, fé em Deus. Ele teve a mesma fé que fez Maria Madalena naquela manhã correr para contar a boa notícia da Ressurreição aos apóstolos entrincheirados de medo dentro de casa. “Ele está vivo... nós o vimos! Aleluia!” Gente assim pode dizer com o sambista: “Dou um chute na tristeza. Acredito mais na vida”. Amigos e amigas: mesmo que a sua situação pessoal ou familiar não seja a desejada, que a sua vida lhe reserve algum dissabor maior, ou que sua função dentro do Grupo Marista seja burocrática e “aborrecente”, você tem o direito de ser feliz. As mil e uma coisas positivas que lhe sucedem no dia a dia lhe garantem tal direito. Basta usar os óculos da fé ao olhar o mundo. O Papa Francisco nos aconselha: “Não sejam arautos da desgraça, mas anunciadores da alegria”. São Marcelino Champagnat temia os Irmãos tristes e negativistas. Fé e alegria caminham juntas. Os que não acreditam que o Reino de Deus é como o minúsculo grão de mostarda que vira grande árvore, ou como a pitada de fermento que leveda toda a massa do pão, não podem se alegrar com as pequenas coisas da vida. E quem não se alegra com as pequenas, não se alegrará com as grandes. A fé e a esperança nos faz perceber que Jesus Cristo transformou o grande fracasso da cruz na maior alegria da humanidade: a Ressurreição. Entendeu? Para quem tem fé, a gritaria de Carol, a alegria da mãe dela, o seu e o meu trabalho em favor da transformação social por meio da educação das crianças e dos jovens e a Ressurreição de Jesus, depois da humilhação da cruz – desculpem a expressão – são “farinha do mesmo saco”. Aleluia! Deus seja louvado! Ele está vivo no meio de nós e se manifesta nas coisas simples da vida. Basta prestar atenção. Feliz Páscoa a você, a seus amigos e amigas e até a seus inimigos! Eles também merecem ser felizes. O Evangelho nos diz que Cristo morreu e ressuscitou pelos justos e injustos. Aleluia! Somos todos irmãos do ressuscitado e uns dos outros. Com eles, também ressuscitaremos um dia de forma definitiva. Eu acredito nisso!


PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ESPIRITUAL MARISTA por JULIANA FONTOURA

A casa de L’Hermitage foi construída sobre o rochedo, ao embalo do murmúrio lento das águas do Rio Gier. A rocha firme, estática, e a água que corre, dinâmica, eis dois belos símbolos de L’Hermitage. Jesus Cristo é a rocha, a solidez dos valores evangélicos, dos princípios cristãos pelos quais a Instituição trabalha. Maria, a Boa Mãe, é a água, a flexibilidade do espírito marista que avança e se atualiza, que se difunde pelas dioceses do mundo. (Ir. Ivo Antônio Strobino)

O Rochedo de

L’Hermitage

Apresentada como símbolo, a rocha nos remete a Jesus Cristo, que dela se utilizou para falar da perseverança, da fidelidade e da solidez exigida dos seus seguidores. “Quem ouve e pratica os meus ensinamentos será como uma casa construída sobre a rocha; as intempéries não a abalarão.” (Mt 7, 24). Foi sobre a rocha que Marcelino e os primeiros Irmãos construíram a casa de L’Hermitage. Tiveram que desbastar os rochedos do terreno e talhar as pedras, utilizando-as, depois, na edificação. No

A casa de L’Hermitage foi construída sobre uma grande rocha por Marcelino Champagnat e seus Irmãos.

período das férias escolares de 1824, quando todos os Irmãos foram ajudar na construção, o local era verdadeira pedreira a céu aberto! As rochas representavam um desafio, uma luta a empreender. Uma luta da qual se saíram vencedores. Ao mesmo tempo em que a morada material dos Irmãos era erguida, o espírito marista de audácia, esperança e empreendedorismo começava a ser forjado. Hoje, esse espírito é compartilhado por todos os colaboradores do Grupo Marista para dar continuidade à Missão.

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ESPECIAL por JULIANA FONTOURA

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Memorial do “menino bonito”

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“Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”. A frase do escritor Antoine de Saint-Exupéry parece ter sido escrita para o Irmão Joaquim Panini. O “menino bonito”, como gostava de dizer, deixou um grande legado não só para o Grupo Marista, mas também para o mundo. Panini nasceu na cidade de Rodeio, em Santa Catarina, e fez o juvenato em Curitiba, em 1937. Foi professor destaque e diretor de diversas escolas no Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, coordenou o Departamento de Educação do Conselho Episcopal Latino Americano (Celam) e cooperou com a Conferência Latino-Americana de Religiosos (Clar). Por dez anos, de 1992 a 2002, foi presidente da Associação de Educadores Católicos (AEC) e membro do Grupo de Reflexão sobre Educação da CRB nacional. Além disso, integrou simultaneamente as equipes de reflexão das Províncias Maristas do Brasil e da América Latina (Emir, Elamar, Conprov). Panini dedicou sua vida inteira à Missão Marista e embora tenha feito muitas coisas em sua vida, sempre foi grato ao que lhe foi concedido. Em um gesto de gratidão diante dos benefícios recebidos no Instituto Marista, ele elaborou em 2012 um documento com traços autobiográficos. No material, ele deixou claro que não se trata de um “testamento espiritual”, mas um Magnificat, a exemplo de Maria, com o objetivo de proclamar as dez maravilhas que Deus operou em sua vida. Esta editoria especial da Revista Presença Marista é para que não fiquemos sós. Ela traz um memorial da vida de Panini, ou seja, a história de sua vida contada por ele mesmo com base em seus escritos e registros fotográficos. Que a memória viva de Panini continue conosco!


O Magnificat de Panini 1. Dom da vida e da fé e ter nascido de uma família pobre e cristã No primeiro ponto do seu Magnificat, o Ir. Panini agradece a Deus pelo dom da vida e da fé, que permitiu a ele nascer de uma família pobre, numerosa e profundamente cristã. Dos seus oito irmãos, seis seguiram a vida religiosa (quatro maristas, um franciscano e uma freira). De acordo com ele, a riqueza do seu contexto familiar foi ampliada por três graças outorgadas pela bondade divina: ter como educadoras Irmãs Catequistas; ter como orientador espiritual o Frei fransciscano Bruno Linden e, por fim, ter nascido à beira do Rio Itajaí-Açu, o que proporcionou a ele cultivar o lazer da pesca, atividade que o acompanhou durante toda a sua vida. “Os 12 anos da minha infância vividos de 1925 a 1937 no contexto maravilhoso das graças acima elencadas, constituíram uma base sólida para o meu período de formação, de 1937 a 1947 e os longos anos de minha vida religiosa e apostólica marista” (Ir. Panini).

2. O dom da vocação marista e os dez anos de formação O segundo ponto do Magnificat é também de louvor e agradecimento a Deus, porém já com as bençãos especiais de Maria e de Marcelino Champagnat. Trata-se do dom da vocação marista e os dez anos de formação no juvenato, postulado, noviciado e escolasticado. De 1937 a 1947, Panini viveu ao lado de pessoas que oportunizaram a vivência de uma sólida preparação destinada ao cumprimento da Missão Marista. “Nestes tempos de minha formação inicial, louvo e agradeço a Deus por três facetas de sua bondade: a primeira, o heroísmo e a generosidade dos Irmãos Formadores, atentos até aos mínimos detalhes para ‘formar bons observantes da Regra’. A segunda faceta foi o dom que Deus me deu de ser um menino piedoso e responsável, merecendo desse modo, cargos de confiança. A terceira faceta foi a continuidade da minha formação em uma comunidade de 20 ou mais Irmãos (Comunidade São José – RJ) que me receberam para dar continuidade à minha formação” (Ir. Panini).

apostolado, de 1948 a 1956, vivenciados no Colégio Marista de Ribeirão Preto e no Colégio Marista Diocesano de Uberaba. Ele declarou que foram oito anos importantes e básicos em sua vida pelo que representam na Missão Marista: o contato com crianças e jovens. Panini citou também como destaque desse período a Cruzada Eucarística, “apostolado extraclasse”, que definiu uma importante característica de sua personalidade. “Este acréscimo apostólico, aparentemente pouco importante, foi a raiz que, cultivada, gerou em mim a Grande Graça, a do zelo apostólico, uma das características de minha personalidade. Realmente, Deus por Maria e Champagnat e minha humilde contribuição geraram em mim o zelus domus tuae comedit me de que fala São João, o zelo de tua casa me devora (Jo 2,17)” (Ir. Panini).

4. A missão do formador O quarto Magnificat tem um destaque especial na vida de Panini dedicada à Missão Marista. Trata-se dos dez anos de sua vida como formador. De 1956 a 1966, ele ocupou cargos de professor do Escolasticado, Diretor de Juvenato e Diretor do Escolasticado. Nessa época o Irmão pôde perceber a presença de Deus nos formandos em sua caminhada de um “sim” permanente. “Nesses dez anos, percebi que dois são os grande pilares do processo formativo: o Projeto Pessoal de Vida e a Comunidade Formadora. Realmente, o maior formador é o próprio formando. Além disso, o papel dos formadores não é tão importante como uma ‘comunidade formadora’ gerada pela ação dos formadores e corresponsabilidade dos formandos. Agradeço imensamente a Deus por Maria e a Champagnat por essa graça da experiência de Formador” (Ir. Panini).

3. Os primeiros anos de apostolado O Ir. Panini não poderia deixar de citar no terceiro ponto de seu Magnificat os primeiros anos de

O contato com alunos no Colégio Marista de Ribeirão Preto, em 1948, fez com que o Ir. Panini ficasse ainda mais próximo da Missão Marista.

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ESPECIAL

5. A grande graça da conversão O quinto destaque do Magnificat foi o mais importante na vida de Panini, depois de 23 anos de Religioso Marista observante. Em 1966, ele foi convidado para fazer o Curso Superior de Pastoral Catequética no Rio de Janeiro. Esse período foi fundamental para que ele tivesse a certeza do “sim” que deu para Jesus, Maria e Champagnat. Se ele tivesse negado a graça de conversão, não teriam acontecido os processos de renovação da Pastoral, da Educação, da Formação, da Vida Religiosa, seja na Província, como no Brasil e na América, e as mais de 300 assessorias que prestou a inúmeras congregações e organismos de Igreja. Isso se pode comprovar em inúmeros documentos, relatórios, sobretudo nos quatro volumes do livro: História da Educação Católica no Brasil: Contribuição dos Irmãos Maristas, de Riolando Azzi.

6. O início do processo de renovação pedagógico-pastoral em São Paulo O sexto ponto do Magnificat apresenta a atuação do Ir. Panini como coordenador da rede de colégios e das obras sociais da antiga Província Marista de São Paulo. Até 1967, cada colégio caminhava em um processo pedagógico-pastoral pessoal. Com a presença de Panini, houve a implantação de um processo de unificação. A partir daquele momento, os colégios maristas passaram a seguir um mesmo caminho em direção à Missão Educativa Marista.

7. O fortalecimento na Província da dimensão social e opção pelos pobres O sétimo Magnificat é o fortalecimento na opção que Panini fez pelos pobres, algo que o deixava cada vez mais próximo de São Marcelino Champagnat e da essência do Instituto Marista. Lutar pelo bem-estar e a educação de crianças e jovens estava nos seus planos. “Sinto-me chamado a louvar a Deus por ter me colocado para coordenar todo esse processo de opção pelos pobres, tendo elaborado para fortalecê-lo dez cadernos sobre o tema. Nesse processo, fui muito auxiliado por Dom Luciano de Almeida, a salesiana irmã Rosário, a leiga Ruth Pistori e o padre Júlio Lancelotti. Fundamos juntos a Pastoral do Menor em São Paulo, que depois tomou corpo espalhando-se por todo Brasil” (Ir. Panini).

8. As assessorias às congregações religiosas e aos organismos da igreja O oitavo destaque do Magnificat diz respeito ao período de 1975 a 1992. Foram 17 anos assessorando diversas congregações religiosas no Brasil, na América Latina e no mundo. Panini fez o que Champagnat indicou em seu testamento espiritual: unir os Irmãos e membros de outras congregações em um mesmo corpo, sobretudo para instruir a juventude. “Foi uma riqueza imensa ter conhecido e aprofundado tantos Carismas e ter podido colaborar com tantas Congregações em processos de renovação planejada e participada” (Ir. Panini).

9. Os sete anos como Diretor-Geral do Colégio Marista Arquidiocesano Foi durante os sete anos que passou como Diretor-Geral do Colégio Marista Arquidiocesano que o Ir. Panini pôde viver uma profunda experiência como educador marista. De acordo com ele, naquele período, a prioridade era sempre prezar por quatro grandes pilares: presença significativa, atenção especial aos professores, valorizar a pastoral e lutar pelo bem-estar dos funcionários. E foi o que fez!

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Foi também neste período, em 2003, que criou um personagem que divertiu muitas crianças e jovens: o “João Barata”. Por muitos anos, ele serviu de recurso pedagógico no diálogo com as crianças nas visitas às salas de aula. Ele é um ícone que destrói os seus cinco tesouros: o corpo, a inteligência, o coração, a vontade e o espírito. Como era um apelo visual e chamativo, as crianças facilmente captavam a mensagem e se sentiam chamadas a zelar pela sua educação. “Realmente, os sete anos que eu passei no Arqui como Diretor são dignos de merecer uma grande Magnificat pela maravilhosa experiência que fiz como educador marista” (Ir. Panini).

10. A Missão e a experiência da formação do Leigo Marista

PÉROLAS DE PANINI – “Viver testemunhando é o melhor modo de evangelizar”. – “Não soluce. Solucione.” – “Faça do seu alimento o seu medicamento”. – “Ganhar idade não é necessariamente sinônimo de perder saúde”. – “Confie em Deus, mas feche bem o seu carro”. – “Não é porque a gata pariu no forno que os gatinhos são biscoitos.”

O décimo ponto do Magnificat do Ir. Panini é dedicado à formação do Leigo Marista, personagem que ele considerava importantíssimo para o desenvolvimento do Instituto Marista. Por se identificar com a atividade, ele sempre contribuiu com o seu conhecimento e experiência nos projetos de Integração, Imersão, Aprofundamento e Adesão vinculados à Província.

Os bonecos itinerantes da solidariedade Em 1984, ao passar por Bogotá rumo a Lima, no Peru, o Ir. Panini se deparou com alguns bonecos feitos de papel machê e, emocionado, levou-os na bagagem. À partir daquele momento, os meninos sempre o acompanhavam, apesar do incômodo aparente por ocuparem uma grande mala. A reunião da figura da menina catadora de lixo, da que sobe as montanhas para buscar capim para alimentar os coelhos, do vendedor de jornal e dos dois outros bonecos cansados sempre chamaram atenção e se tornaram marca registrada de Panini. De acordo com ele, os próprios bonecos eram os conferencistas, pois carregavam o desarmamento, a união, a abertura e a acolhida às mensagens propagadas nos eventos. Eles viajaram o mundo com Panini. Percorreram com ele estados do Brasil e mais de 20 países, entre eles, Vaticano, Estados Unidos, Polônia, África do Sul e Líbano. Atualmente, eles são símbolos de solidariedade que percorrem as diversas unidades do Grupo Marista. Vão continuar sendo usados em palestras e conferências.

Os bonecos do Ir. Panini reforçam a consciência da Missão Marista.

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MUNDO MARISTA por JULIANA FONTOURA

Em missão O Instituto Marista tem como característica fundamental o espírito desbravador e missionário. Desde os primórdios, Marcelino Champagnat dizia para os Irmãos que o acompanhavam que “todas as dioceses do mundo estavam em seus planos”. Ele queria fazer ressoar a Palavra de Deus em novas terras, indo ao encontro de quem mais precisava dela. Em um retorno a essa essência, o XXI Capítulo Geral destaca que os maristas devem também ouvir o chamado de Deus para servir pessoas em situação de vulnerabilidade social, principalmente crianças e jovens, onde quer que estejam. Em 2012, o Instituto criou o CMI (Colaboração Missionária Internacional), uma nova secretaria que tem como objetivo cultivar um horizonte internacional no mundo marista e, voluntária e missionária, que supere os limites geográficos das suas províncias, facilitando a mobilidade de pessoas interessadas em viver a serviço da Missão. Cada Província Marista se organiza para identificar, formar e acompanhar seus voluntários. Atualmente, o Grupo Marista oferece o Programa de Voluntariado Ad Gentes e Social para Missão Marista que tem como objetivo criar oportunidades para que Irmãos, Leigos e Leigas, colaboradores e jovens possam mergulhar em outras culturas e experiências, dispondo de suas vocações, habilidades e competências para se dedicar ao próximo numa perspectiva solidária. Alguns colaboradores, Leigos e Irmãos vinculados ao Grupo Marista se aventuraram em experiências internacionais bem-sucedidas de Voluntariado na África e na Ásia. Elas são o retrato mais fiel da identidade que emana de Champagnat e da Boa Mãe. Evidenciam o verdadeiro jeito de ser Marista, pois impulsionam e comprometem as pessoas a saírem da sua terra e irem para novos espaços, como testemunhas de solidariedade e paz.

Programa de Voluntariado Ad Gentes e Social para Missão Marista 1. Voluntariado Ad Gentes Proporciona aos Irmãos, Leigos e Leigas a experiência do testemunho e anúncio da proposta de Jesus, com o encontro com outras culturas, sendo presença educadora para os empobrecidos.

2. Voluntariado Social Promove experiências de voluntariado para jovens, colaboradores, Irmãos, Leigos e Leigas nos âmbitos nacional e internacional, para o fortalecimento do compromisso solidário das causas humanitárias.

3. Projeto Comunidade Anfitriã

Compreende o Espaço de Trabalho Voluntário e a Família Voluntária Acolhedora e Comunidades dos Irmãos Maristas. O Espaço de Trabalho Voluntário visa proporcionar aos voluntários projetos e espaços de engajamento social que oportunizem a vivência, a integração intercultural e a ação colaborativa com pessoas e comunidades. A Família Voluntária Acolhedora tem em seu objetivo propiciar espaços de acolhida e vivência para o voluntário nas comunidades religiosas Maristas e/ou nas famílias dos Leigos e Leigas Maristas e/ou família voluntária em território de vulnerabilidade (vinculadas às Unidades Maristas), que favoreçam a educação para a solidariedade.

Contato (41) 3271-6422 | voluntariado@solmarista.org.br www.facebook.com/grupomarista.voluntariado

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“Sou eternamente grata pela oportunidade de fazer um trabalho dessa magnitude. Posso dizer que os desafios são muitos e as dificuldades também, mas a realização pessoal transcende a tudo isso.” (Neiva Hoffelder)

Ásia Na Ásia, uma das experiências mais marcantes está sendo vivenciada pela leiga Neiva Hoffelder. Em 2009, ela decidiu deixar a sua rotina no Hospital Santa Casa de Curitiba para viver nas Filipinas. Depois, no final de 2010, foi morar em Bangkok, na Tailândia, conhecendo diferentes realidades e realizando trabalhos missionários. Para Neiva, a Ásia é sinônimo de diversidade. “O continente é um mosaico de muitas raças e cores, culturas e idiomas, convicções religiosas e tradições, costumes e crenças, valores e superstições”, afirma. No entanto, é também um campo minado, onde a harmonia é ameaçada de todos os lados, a todo o momento. A pobreza é uma realidade persistente que tem faces diferentes, nomes particulares e vítimas concretas. O grande desafio nesse continente é considerar toda essa diversidade como base pastoral, refletindo-a em planos de missão. De acordo com a missionária, é preciso inventar modos significantes e efetivos para construir relações, para apresentar o amor de Deus em ações, pois em palavras nem sempre é possível. Neiva realizou trabalhos com os que estão à margem da sociedade, ou seja, refugiados que continuam sendo perseguidos fora de seus países de origem, vivendo todo tipo de discriminação e abusos; com crianças tribais, que mesmo sendo povos da terra, não são contados como cidadãos; com ajuda

em orfanatos que mais parecem “depósitos humanos” nos quais a maior parte das crianças possui necessidades especiais. Além disso, ela também contribuiu para dar uma formação humana em centros sociais maristas, na tentativa de desviar crianças e jovens do trabalho e da prostituição infantil. Para Neiva, ser missionária é recomeçar todos os dias. “Ter esperança e fé em Deus é a nossa motivação para não desanimar e não nos desesperar diante das dificuldades”, diz. Ela afirma que é preciso ser os olhos das crianças que estão em situação de vulnerabilidade social, motivando-as a descobrirem seus valores e seus direitos como cidadãos, como seres humanos. Ao assumir a Missão Marista como projeto de vida, Neiva teve a oportunidade de repensar muitas coisas em sua vida. Ela renovou o espírito e a mente para um novo modo de ver as coisas. “Eu pude avaliar a minha vida e perceber o que eu preciso mudar em minhas atitudes para ser realmente uma missionária do Senhor”, afirma. Atualmente, sua função está mais focada na ajuda administrativa, organizando projetos pela defesa dos direitos humanos, preparando seminários e visitando diversas comunidades Maristas que possuem trabalhos de missão na Ásia, sobretudo no que diz respeito ao Projeto Ad Gentes, que é novo nessa realidade.

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CAPA por VIVIAN LEMOS

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FÉ:

condição da existência humana MUITOS MISTÉRIOS ENVOLVEM O MUNDO DO TRANSCENDENTE, MAS QUEM TEM FÉ ENCARA A VIDA COM CONVICÇÃO DO SEU PAPEL Desde o seu surgimento, o ser humano busca respostas para diversas questões. De onde viemos? O que acontece quando morremos? Qual o sentido de nossas vidas? Essas perguntas fazem parte da inquietação humana e, a partir delas, muitos vivem com uma certeza absoluta de seus propósitos e da vida eterna. Quem nunca se deparou com criaturas de fé inabalável? Presença Marista conversou com especialistas e leigos e buscou um retrato da fé, que dividimos nas páginas a seguir. “A fé é condição de existência. Sem fé não se vive”. A afirmação do frei Clodovis Boff, professor de Teologia da PUCPR, já serve para nos dar uma pista sobre o que é fé, palavra tão curta, mas que tanto desafia e intriga a humanidade. Conceitualmente, podemos falar em dois tipos de fé: a antropológica e a fé religiosa. A antropológica é aquela que exercemos todos os dias, sem pestanejar, desde que acordamos. Você atende o telefone porque crê que quem está do outro lado da linha quer falar realmente com você e não passar um trote; pega um transporte público porque crê na perícia do motorista e que chegará seguro a seu destino. Enfim, é preciso crer para viver. Já a fé religiosa diz respeito ao mundo de coisas que não podemos ver, a uma realidade não empírica, mas envolta por um sentimento de crença. “Por exemplo, um milagre, a proteção que as pessoas sentem, a presença de um Deus providente. Essa

é a fé religiosa”, afirma o frei Clodovis. E, como ele explica, quem “gerencia” essa fé são as religiões. “Elas oferecem ritos, doutrinas, hierarquias (pastores) etc. A gente distingue hoje essas instituições, essas agências – a religião – e religiosidade que seria o sentimento, essa afinidade com o mundo transcendente que todos nós trazemos”. De acordo com Boff, vivemos um momento em que a fé e a busca espiritual estão em alta. Ao mesmo tempo, vemos um grande número de desfiliados, ou seja, indivíduos que buscam a prática da fé e da espiritualidade, sem se vincular à nenhuma religião. “Há uma espécie de ojeriza a instituições, dogmas, ritos, hierarquias. Querem praticar uma religião autogerida, um self-service, na qual se aproveita um pouco do que cada tradição pode fornecer”. No entanto, o frei da Ordem dos Servos de Maria frisa que, sem as tradições religiosas, a humanidade tem muito a perder. Sem o direcionamento ético das instituições, a busca pode se tornar infrutífera, pois há um risco de se perder no meio de tantas opções oferecidas, sem uma linha condutora. Mas, independentemente da filiação ou não a uma tradição religiosa, a humanidade sempre busca um ponto de apoio no desconhecido para justificar sua existência e enfrentar momentos difíceis.

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CAPA

Momentos de dificuldade e fé ja de Nossa Senhora da Conceição, em Santarém. “O que você faz quando um barco está prestes a naufragar? Se agarra a Deus! Não há ateus num momento de desespero”, brinca o frei Clodovis.

Muitos de nós já nos deparamos com questionamentos sobre a fé e até mesmo com certa dificuldade de percebê-la em nosso dia a dia. Com a rotina corrida, tendemos a nos distanciar da contemplação e da meditação, que são partes importantes no exercício da fé. Talvez pela correria diária e de não priorizarmos períodos de introspecção é que as crises sejam o momento em que a fé se fortalece: “Na crise, a pessoa vê que sem Deus ela não é nada. Ela percebe que precisa de uma força maior para poder vencer. Frequentemente, a fé se acorda num momento de dificuldade”, afirma o frei Clodovis. Um episódio emblemático da fé que surge em momento de crise faz parte de nossa história: o médico, botânico e antropólogo alemão Karl Friedrich Philipp von Martius. Ele foi um dos maiores pesquisadores da flora brasileira, autor do livro Flora Brasiliensis, até hoje considerado o mais importante estudo da área de Botânica do Brasil. O pesquisador veio ao Brasil na comitiva da então grã-duquesa Leopoldina, que vinha para casar-se com o príncipe Dom Pedro I. Von Martius permaneceu no Brasil de 1817 a 1820. Em uma de suas viagens por Santarém, no Pará, a embarcação em que estava quase naufragou devido a uma forte tempestade. O pesquisador alemão carregava importantes espécimes, frutos de seus estudos. Conhecido por seu ateísmo, Von Martius atribuiu sua sobrevivência a um milagre, e como forma de agradecer por sua vida, mandou confeccionar em ferro fundido um crucifixo com 1,62 metro de altura, que hoje está exposto na Igre-

Há também situações em que a fé ganha um novo fôlego em momento de crise. Um caso famoso, que ganhou a atenção de milhares de brasileiros, foi o do ator Reynaldo Gianecchini. Diagnosticado em 2011, com um linfoma do tipo não-Hodgkin, que atinge os gânglios linfáticos, o ator afirmou que, em nenhum momento, teve revolta. Apenas pedia para aprender e evoluir com a condição em que estava. Em um vídeo gravado para a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia, o artista disse que a primeira reação ao saber da doença foi o susto, mas que buscou um significado no que estava enfrentando: “Acredito que pode ser uma dádiva. Existem coisas reservadas para nós que fogem à nossa explicação, mas que lá na frente vamos entender perfeitamente e agradecer muito”, afirmou. Em entrevista ao programa Viver com Fé, do canal a cabo GNT, o ator disse que a doença foi uma oportunidade de comprovar sua fé: “É muito bonito você ter fé na teoria, mas eu tive que, na prática, testar a minha fé. Fiquei com a morte na minha frente, olhando para ela e acreditei na vida”, disse.

Reinaldo Gianecchini

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O caso de Gianecchini não é raro e já encontra até mesmo embasamento na ciência. De acordo com uma pesquisa do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, com sede em São Paulo, que tem quase 250 artigos publicados em todo o mundo, a

Cissa Guimarães


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Clodovis Boff, professor de Teologia da PUCPR, diz que “a fé é condição da existência. Sem fé não se vive.”

prática regular de atividades religiosas pode reduzir o risco de morte em 30%. A pesquisa mostrou que ter uma religião promove bem-estar psicológico, menos pensamentos e comportamentos suicidas, menos consumo de álcool e drogas e maior incentivo a hábitos saudáveis. O estudo apontou também que a religião contribui para reduzir a carga viral em pacientes com HIV, além de reduzir mortes por AVC e problemas cardíacos. Os números são endossados pela Doutora em Teologia e professora da PUCPR, Jaci Candiotto: “Uma pesquisa feita, por exemplo, na Universidade de São Paulo (USP) confirma que pacientes reagem melhor ao tratamento quando suas vidas são permeadas pela fé e a espiritualidade. Crer no poder da oração gera no doente uma intenção mental positiva. A perspectiva otimista e a esperança que brotam da fé das pessoas estimulam reações curativas do corpo”. A docente ainda cita o pesquisador estadunidense, Jeff Levin, autor do livro Deus, Fé e Saúde. “De acordo com o pesquisador, elementos espirituais

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Jaci Candiotto, psicóloga e Doutora em Teologia, cita uma pesquisa que aponta que “a perspectiva otimista e a esperança que brotam da fé das pessoas estimulam reações curativas no corpo.”

não só auxiliam na cura, como também previnem a incidência de enfermidades, promovem a saúde e o bem-estar. Para ele, a prática espiritual e a observância religiosa são poderosos medicamentos”, afirma Jaci. Outra história pública marcante de fé é a da atriz Cissa Guimarães. Seu filho mais novo, Rafael Mascarenhas, morreu atropelado enquanto andava de skate em um túnel que estava fechado para reparos. Há a suspeita de que o atropelador estava disputando um “racha” no momento do acidente. Em entrevista ao programa de Ana Maria Braga, a atriz disse que a fé era o que a fazia viver após a morte do filho. “Acho que é a fé que me mantém, é o que faz a gente andar. É o que dá sentido à gente estar aqui”, afirmou. Ela ainda disse crer que o filho teve um envolvimento em sua escolha para apresentar o programa Viver com Fé. “Tenho certeza que foi um presente do Rafa, porque não dependeu de mim. Fizeram uma pesquisa do que o povo estava precisando ouvir e deu fé. Fizeram também uma pesquisa de quem as pessoas queriam ouvir, e deu eu!”, contou no mesmo programa.

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Silvana Schuster, auxiliar de enfermagem no Hospital Universitário Cajuru, sente-se realizada por poder dar uma palavra de carinho e conforto aos pacientes.

A fé num ambiente aparentemente hostil 16

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com ele. No momento da oração, percebemos que A auxiliar de Enfermagem Silvana Schuster, de 29 ele começou a nos olhar e sua expressão era a de anos, encontrou seu primeiro emprego no Hospital uma pessoa que pedia ajuda. Disse que ele deveria Universitário Cajuru, onde atua há dois anos na ala 4, ter fé e pedir perdão por todo o sofrimento que haque abriga os casos mais graves (pacientes de alta via causado para quem quer que fosse, que ele se complexidade) da unidade de saúde. O que poderia sentiria melhor. Ele faleceu naquela noite. Acredito ser uma rotina amarga para muitos, para a jovem é que ele relaxou, aceitou seu destino e pediu perrecompensador: “Eu adoro trabalhar em hospital. Eu dão. Eu creio que ele encontrou a paz”. certamente me encontrei aqui. Sou muito feliz por poder ajudar pessoas que precisam de cuidados Para Silvana, a maior gratificação de seu trabaque vão além do banho, do curativo ou do medicalho são os gestos de carinho das pessoas com as mento. Muitas das pessoas que estão aqui precisam quais tem contato diariamente: “Meu maior presende uma palavra de conforto, de carinho”, explica. te é receber um abraço daqueles que podem nos abraçar, uma palavra de agradecimento, um olhar. Quando se mudou para Curitiba, vinda da peE muitas vezes recebemos familiares de pacientes quena cidade de Entre Rios do Oeste, com pouco que já tiveram alta, que estão bem, mas que vêm mais de 3.800 habitantes, antes mesmo de ingresaqui nos trazer um chocolate, um lanche, como forsar no curso Técnico em Auxiliar de Enfermagem, ma de agradecimento pelo que fizemos por eles”. Silvana já tinha experiência em lidar com doentes. “Na minha família, quando alguém necessitava de Um dos casos que mais marcaram a moça foi cuidados eu era a primeira a me oferecer para ajua de um guarda municipal que sofreu um acidente dar. Gostava de dar atenção e de cuidar de quem de carro, no qual perdeu a esposa. Ele ficou algum estava precisando”, relembra. tempo internado, inconsciente, sem saber da perda da mulher. Quando foi recobrando a consciência, Silvana também explica que, atuando em um prometeu voltar ao ambiente que muitos evitam setor que abriga tantos casos graves, lidar com a simplesmente como forma de retribuir o carinho morte é algo natural para ela, mas não para os paque recebeu. “Ele veio nos visitar em uma cadeira cientes e familiares: “É no momento em que percede rodas, sem falar, mas lembrava de cada rosto, bemos que a pessoa está entre a vida e a morte que dava para ver que ele se lembrava do que cada um se encontra o espaço para a fé. Muitos necessitam tinha feito por ele”, recorda emocionada. de uma oração, de uma palavra de esperança. Você acaba desenvolvendo uma sensibilidade e perceSilvana afirma que a fé é fundamental para que bendo quando há essa necessidade”, pontua a aupossa trabalhar bem humorada e disposta a confortar xiliar de Enfermagem. quem vive momentos tão difíceis. Ela diz que trabalha com tanta serenidade porque a fé sempre se fez preDe acordo com a profissional, o conhecimento sente em sua vida: “Minha família sempre foi religiosa, da tanatologia, que é o estudo da teoria sobre a sempre íamos à igreja juntos. Aprendemos a viver a morte, sua natureza e seus sinais, a fez encarar o vida com Deus, com fé. Por mais que existam dificulfim da vida com mais serenidade. “Esse conhecidades, não dá para se desesperar. É preciso orar e mento é importante para o meu dia a dia, para que acreditar que é uma tempestade que vai passar. Isso eu saiba qual a melhor palavra para usar em cada que eu aprendi, eu procuro levar momento, e para fornecer conadiante aqui no hospital”. forto ao doente e à família”. Ela ainda pontua que a fé não O que pode parecer sofrimento está presente só nos momenpara alguns, para Silvana é uma tos difíceis: “A oração tem que missão: “Eu sinto paz no trabalho “[...] a fé é acontecer também nos momenque eu faço. É um presente saber fundamental tos bons, de agradecimento. É que de alguma forma estou topreciso mais agradecer do que cando as pessoas. Sei que, muipara que eu pedir. É preciso meditar. Sem fé tas vezes, quando falo algo, elas a sua vida se torna um vazio. E não respondem imediatamente, possa trabalhar para nós, trabalhadores de hosmas eu sei que um pedaço dabem humorada pital, esse exercício é muito imquilo fica com elas”. portante também como suporte Ela também relata casos como e disposta a psicológico”, avalia. o de um paciente que ficou interconfortar quem A professora e pesquisadora nado no hospital por seis meses. Jaci Candiotto concorda: “PesEle era dependente químico e a vive momentos tão quisas, principalmente na área da família não queria levá-lo para Neurociência, mostram que a fé casa por não saber lidar com difíceis”. ativa o sistema límbico, responsáseus rompantes violentos. “Ele Silvana Schuster vel pelas emoções. Ela possibilitinha muitas feridas pelo corpo. ta, assim, equilibrar as emoções e Uma colega e eu fomos dar baser um forte elemento que auxilia nho nele e ele não nos olhava. até mesmo a cura de doenças”. Eu propus a ela que rezássemos

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Ciência e Fé Durante a história, ciência e fé ora estiveram em lados opostos, ora caminharam lado a lado. Em diferentes momentos, mais do que a fé, a ciência e a religião travaram alguns embates. De acordo com o artigo Contextualizando o Século XIX, de Sávio Laet Campos, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), ‘o século XIX tornou-se, sem jaça, o século da ‘oficialização’, da ‘promulgação’ e da ‘instituição’ do ateísmo. [...] A razão e a ciência proclamariam a independência do homem com relação à ideia de Deus, supostamente nascida como fruto para suprir a ignorância do homem’. Esse cenário foi favorecido, ainda segundo estudo de Campos, porque o século XIX “foi o século do marxismo, da revolução industrial, do positivismo científico de (Auguste) Comte, da morte de Deus, proclamada pelo filósofo alemão Frederich Nietzsche”. O positivismo não aceitava o sobrenatural. Eles eram críticos de todos os fenômenos que não pudessem ser observados, medidos, analisados sob o rigor científico. No entanto, nas últimas décadas, temos presenciado uma reconciliação entre ciência e fé. “Recentemente alguns intelectuais estão redescobrindo Deus, o retorno do sagrado”, explica o frei Clodovis. De fato, na modernidade temos observado algumas tentativas de reaproximação entre ciência e fé. No livro O Retorno do Sagrado: a Reconciliação entre Ciência e Espiritualidade, a psicoterapeuta Raissa Cavalcanti relata um episódio curioso: durante uma conferência em Moscou, no ano de 1990, mais de mil cientistas e líderes religiosos de 83 nações reuniram-se para discutir ações globais de preservação do meio ambiente. O evento foi

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apontado como “um momento e uma oportunidade sem paralelo no relacionamento entre a ciência e a religião”. O filósofo italiano Gianni Vattimo acredita que essa reaproximação entre ciência e religião nos dias atuais se deve também à perda de força de teorias como o marxismo e o positivismo, por exemplo. “Hoje já não existem razões filosóficas plausíveis e fortes para ser ateu, ou para recusar a religião”, afirma em sua obra Acreditar em Acreditar. O filósofo e biólogo alemão Ernest Haeckel defendeu que fé e ciência são indissolúveis: “Consequentemente, consideramos também toda a ciência humana como um único edifício de conhecimentos, e rejeitamos a distinção corrente entre a ciência da natureza e a ciência do espírito. A segunda constitui apenas uma parte da primeira ou, reciprocamente, ambas constituem apenas uma ciência”, afirma na obra Momismo: Faço entre a Religião e a Ciência. Um dos filósofos britânicos mais proeminentes do século XX, Antony Flew, chegou a ser considerado o “papa dos ateus” devido a seu ativismo contra a fé. Após décadas como ateu, em 2004, aos 81 anos, Flew admitiu a existência de Deus. Ele chegou a publicar os livros Deus Existe: Como o Ateu Mais Conhecido do Mundo Mudou de Ideia e Ateu Garante: um Deus Existe. De acordo com Flew, sua “descoberta” de Deus ocorreu por meio da ciência: “Segui a razão até onde ela me levou. E ela levou-me a aceitar a existência de um Ser autoexistente, imutável, imaterial, onipotente e onisciente”, relata o filósofo em suas memórias.


De cientista a lama budista Junto com a prática da fé vem a utopia pela criação de um mundo melhor: “Tem uma utopia social junto com essa visão religiosa. Eu não vejo isso como separado. Com essa utopia social, eu trabalho também por tecnologias brandas, menos desequilíbrio em relação à natureza”. Aliando essa utopia social à simplicidade, o lama encontrou sentido em sua vida. Entre suas funções, está a de gestor de seis comunidades rurais, que abrigam famílias em retiros e escolas para as crianças: “Os locais onde eu vivo são simples. Aqui em Timbaúba (PE) onde estou, a casa não tem vidros nas janelas, só tem telas, porque o ambiente aqui é muito favorável. As paredes não têm reboco. É um lugar simples. O chão não tem revestimento também, mas eu estou superfeliz aqui no meio da natureza, rodeado por árvores”.

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O lama budista Padma Samten foi professor de 1969 a 1994. Na época, atendia pela alcunha de Alfredo Aveline e chegou ao Mestrado em Física na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Durante seu aprofundamento em Física Quântica, começou a interessar-se pela prática e ensinamentos do budismo. Em 1986 fundou o Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB) e, em 1996, foi ordenado lama, título que significa líder, sacerdote e professor. Mas engana-se quem pensa que o líder religioso acredita que ciência e espiritualidade são caminhos opostos: “Não considero que deixei de ser físico. Considero que integrei outros elementos de operação da mente”, afirma. O lama relata que foi atraído pelo budismo, justamente pelo exame que a tradição faz da mente humana: “Quando fui examinando também as várias tradições religiosas, encontrei no budismo um material extremamente rico sobre essa questão da visão, da meditação e como a mente purifica os pressupostos internos, onde esses pressupostos se escondem, como eles se escondem atrás dos sentidos físicos, da operação comum da mente”, explica. Talvez seja essa falta de análise mais profunda das questões internas que prejudique a aproximação da espiritualidade e ciência. E o próprio lama teve essa experiência: “Houve uma época em que eu achava que a ciência explicaria tudo, que a gente conseguiria converter todos os fenômenos religiosos, tudo o que acontecesse, em leis físicas, leis universais, explicar tudo a partir desse olhar”, relata. Ainda, de acordo com o líder religioso, não são os cientistas os verdadeiros questionadores: “Sua Santidade, o Dalai Lama, diz: ‘Os budistas são céticos e os cientistas são crentes’. Essa é uma afirmação superimportante, né? Enquanto os cientistas pensam: ‘nós, cientistas, somos céticos e os budistas são crentes, os religiosos são crentes’, Sua Santidade Dalai Lama propõe o contrário. Ele diz: ‘os cientistas, de modo geral, são crentes porque acreditam nos pressupostos de suas teorias sem questioná-los. Os budistas são céticos porque eles questionam todos os pressupostos’”. Sobre a espiritualidade nos dias atuais, ele aponta que é mais necessária do que nunca, apesar de estar passando por um momento de crise: “Vejo os jovens completamente conectados em coisas muito superficiais, que roubam o tempo deles e dominam a mente deles, as emoções. Acho que isso realmente é um problema. A espiritualidade é mais necessária do que nunca nesse tempo que estamos vivendo”. E como a fé se manifesta no dia desse físico que se tornou líder espiritual? “Eu me movo totalmente pela fé. Eu dedico 100% do meu tempo a articular, meditar, conduzir meditações, dar ensinamentos, revisar textos, ajudar grupos do CEBB e outros a se estruturarem. Tenho constantemente visões de como esse trabalho pode se expandir”.

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A fé e suas diferentes manifestações

Ir. José Aderlan Nascimento, estudioso das tradições religiosas africanas.

Sendo o Brasil fruto da mistura de muitos povos, é natural que nossa cultura seja um retalho das mais diversas tradições que abrigamos em diferentes aspectos: gastronomia, língua, danças e, claro, manifestações de fé. Em nosso solo, recebemos imigrantes de diversas origens que, muitas vezes, por gerações, mantêm as tradições culturais ensinadas por seus pais e avós. Da mistura entre europeus e africanos, surgiu a Lavagem do Senhor do Bonfim, que reúne fiéis do catolicismo e de religiões de origem africana, como o candomblé. A celebração ocorre desde o século XVIII, em Salvador, na segunda quinta-feira, após o Dia de Reis, em janeiro. No início deste ano, a festa recebeu o título de Patrimônio Imaterial Nacional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Uma das festividades mais marcantes da Bahia teve início em um período cruel de nossa história: a escravidão. Para que a Festa do Senhor do Bonfim pudesse ocorrer, os escravos eram convocados para fazer a limpeza da igreja, na quinta-feira anterior ao evento. Os adeptos das religiões africanas resolveram fazer da lavagem uma celebração, dando início ao que conhecemos hoje, com a celebração

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de um culto inter-religioso e um cortejo com baianas vestidas a caráter até a Basílica do Nosso Senhor do Bonfim, onde ocorre a lavagem das escadarias. “Ao recordamos o passado – séculos XV a XVIII – tivemos o tráfico de muitos homens, mulheres e crianças negros, de diversas etnias, que foram arrancados de sua terra e trazidos ao Brasil nos porões dos navios negreiros, em condições sub-humanas. Em sua memória, guardavam apenas as crenças, os costumes e as tradições”, explica o Ir. Marista José Aderlan Nascimento, estudioso das tradições religiosas africanas. Como parte da preservação dessa memória, além da Festa do Nosso Senhor do Bonfim, o Irmão destaca a lavagem da escadaria da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, que acontece há 109 anos, também em Salvador, na Bahia. “É uma homenagem à Nossa Senhora da Conceição de Itapuã e Iemanjá. A tradição foi iniciada por uma antiga moradora do bairro, conhecida como Dona Niçu, e hoje é mantida por seus filhos e netos. Todos os anos, a festa reúne pescadores, baianas, ciclistas, capoeiristas e cavaleiros, num misto de festa religiosa e lúdica”, explica o Ir. José Aderlan


O Círio de Nazaré é uma das maiores procissões católicas do mundo. Reúne todos os anos, em Belém, capital do Pará, cerca de dois milhões de fiéis. No segundo domingo de outubro, a procissão sai da Catedral de Belém e segue até a Praça Santuário de Nazaré, onde a imagem da Virgem fica exposta para veneração dos fiéis durante 15 dias. O percurso é de 3,6 quilômetros. O termo “Círio” tem origem na palavra italiana cerus, que significa vela grande. Até 1854, o evento era realizado à noite, por isso a necessidade de velas. A partir dessa data, passou a ser realizado pela manhã, devido à forte chuva que caiu no ano anterior, dificultando a procissão noturna. O Círio é considerado o maior evento religioso do Brasil e foi declarado pela UNESCO Patrimônio Cultural da Humanidade. O Ramadã corresponde ao nono mês do calendário islâmico, que é lunar. Sendo assim, ele não é celebrado todos os anos no mesmo período. Sua duração é de 29 a 30 dias. Nesse período, todos os muçulmanos que tiverem atingido a puberdade e estiverem em perfeitas condições de saúde física e mental devem jejuar. O Ramadã é visto como um período de celebração com amigos e famílias, e praticantes de outras religiões podem ser convidados para compartilhar das tradições. Neste período, há duas grandes celebrações, o Laylat al Kadr (“noite do decreto”), que ocorre na noite do 26º. para o 27º. dia do Ramadã. Na data, comemora-se a noite em que

o Profeta Muhammad recebeu a primeira revelação do Alcorão. Já a EId al Fitr (“o banquete do término do jejum”) ocorre com o surgimento da lua nova, que inicia o mês de Shawwal, dando fim ao Ramadã. São distribuídos alimentos para os pobres e roupas novas são vestidas. Em muitas cidades islâmicas, ocorrem grandes festas para marcar a data. O Yom Kippur é o dia mais sagrado do ano para o povo judeu. No calendário hebreu, começa no nascer do sol que inicia o décimo dia do mês hebreu de Tishrei (que ocorre entre setembro e outubro), continuando até o seguinte pôr do sol. Além do jejum, a data tem outros costumes: um dia antes da celebração, ocorre o Kaparot, ritual da reparação, onde uma galinha viva é girada ao redor da cabeça de uma pessoa, na crença de que seus pecados passarão para a galinha. Algumas fontes afirmam que a ave deve ser doada aos pobres ou ser vendida e ter seu dinheiro revertido para a caridade. Outras dizem que o animal deve ser morto, seguindo os preceitos judaicos. Ainda nas tradições de Yom Kippur está Slichot, que é o pedido de perdão. No próprio dia sagrado ou até mesmo antes dele, deve-se pedir perdão a qualquer pessoa que você possa ter ofendido. A Talit, que é um xale de quatro pontas, é utilizado nas rezas noturnas. Para marcar o encerramento do Yom Kippur, há o toque do shofar, chifre de carneiro, que determina o fim das preces e do jejum.

PARA SABER MAIS: Viver com Fé No programa apresentado por Cissa Guimarães, anônimos e famosos compartilham histórias de superação e fé. GNT | Quartas, às 19h30

Na Fé Arthur Veríssimo visita diversas regiões do Brasil e do mundo em busca dos rituais religiosos, seus significados e vivencia muitos dos ritos. Discovery Channel | Horários diversos (consulte programação)

O Retorno do Sagrado

A Reconciliação Entre Ciência e Espiritualidade Raíssa Cavalcanti | Editora Cultrix

Na obra, a autora reatualiza as discussões e questionamentos a respeito dos caminhos da ciência e da espiritualidade que surgiram desde o início do século XX, nas várias áreas do conhecimento, quando todas as discussões tinham a finalidade de resgatar a concepção sagrada da vida, perdida na forma mecanicista e dualista de pensar a realidade.

Deus, Fé e Saúde Jeff Levin | Editora Cultrix

Eu Maior Brasil, 2013 De acordo com os idealizadores, Eu Maior é um filme sobre a busca da felicidade. Foram entrevistadas 30 personalidades, incluindo líderes espirituais, intelectuais, artistas e esportistas que debatem questões como o sentido da vida. Disponível gratuitamente no Youtube. www.eumaior.com.br

Com exemplos extraídos de tradições espirituais tão diferentes quanto o cristianismo, o judaísmo e a ioga, ele examina com a mente aberta e um olhar atento às muitas maneiras pelas quais o envolvimento religioso e a crença podem prevenir doenças e promover a saúde e o bem-estar. Recorrendo aos seus próprios estudos publicados, e também a estudos publicados por outros pesquisadores, o Dr. Levin mostra como a ênfase da religião em comportamentos saudáveis e relacionamentos em que há apoio mútuo influencia a saúde global da pessoa, e como o otimismo e a esperança das que professam a fé estimulam reações curativas do corpo.

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DIRETO AO ASSUNTO

Por que realizar uma Pesquisa de Clima? Com a consolidação do Grupo Marista, em 2012, esta é a primeira vez que se estabelece efetivamente um canal de escuta completo, amplo, avaliando diversas questões referentes ao clima e aberto a ouvir 100% dos colaboradores. Com base nisso, teremos condições de elaborar um plano de ações e de responder às expectativas das pessoas. Isso não significa fazer tudo que estão pedindo, mas responder se é possível investir ou não em determinadas áreas neste momento e quais os motivos.

© João Borges

O que se espera?

No mês de abril, acontece no Grupo Marista um importante passo para a melhoria contínua de nosso ambiente de trabalho: a Pesquisa de Clima 2014. Para explicar a relevância desse trabalho e, principalmente, a importância da participação de todos os colaboradores, entrevistamos, nesta edição, a Renata Portela, diretora de Desenvolvimento Humano e Organizacional (DHO), área responsável pela condução da Pesquisa.

QUER SABER MAIS SOBRE A ORGANIZAÇÃO Envie sua pergunta para os executivos para o email conteudo@grupomarista.org.br. A resposta pode ser publicada na próxima edição da Revista Presença Marista.

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A Pesquisa tem por objetivo mapear o clima no ambiente de trabalho do Grupo Marista de uma forma mais completa. Questões específicas, envolvendo críticas à postura do gestor imediato, por exemplo, devem ser relatadas por meio do Canal Direto. O Canal Direto precisa ser melhor explorado, pois relatos simples do dia a dia, que podem estar em desacordo com os valores e políticas do Grupo, também devem ser relatados. Outra forma é uma conversa mais franca com um colaborador da DHO em quem se confie, medidas mais eficientes do que a Pesquisa de Clima, que tem outro foco.

Quando acontece a Pesquisa? A Pesquisa acontece efetivamente de 14 a 30 de abril, com opções de resposta on-line e em formulário em papel. A expectativa é de que pelo menos 70% dos colaboradores participem. Neste momento, estamos na fase de divulgação para os colaboradores, trabalho que começou no dia 10 de março com uma apresentação para os gestores, conduzida por Ruy Shiozawa, presidente da Great Place To Work (GPTW) no Brasil. A GPTW foi a consultoria escolhida para nos auxiliar a con-

duzir esse processo. Vale ressaltar que os colaboradores da FTD já participaram da Pesquisa no fim do ano de 2013.

A participação é confidencial? Tivemos um grande cuidado na escolha do parceiro justamente para garantir a confidencialidade. A GPTW é a maior empresa de pesquisa de clima no mundo e é pautada por valores e princípios éticos. Está no contrato que nenhum dado dos respondentes será aberto. As informações serão repassadas à área de DHO somente em blocos, apenas quando houver pelo menos oito respondentes no setor. A área de TI do Grupo Marista também foi consultada para garantir que o sistema utilizado é o mais seguro. Para as participações em papel, o envelope vem lacrado e, depois de responder, o colaborador utiliza um novo lacre antes de colocar na urna.

Como será o suporte? Toda a equipe de DHO está preparada para dar suporte aos gestores e colaboradores e há uma central de atendimento da GPTW que será divulgada amplamente nos materiais de comunicação da Pesquisa.

Quando conheceremos os resultados e de que forma? A expectativa é que os resultados sejam trabalhados na segunda quinzena de agosto, quando acontecerão workshops para divulgação. Com base nessa comunicação, serão convocados comitês responsáveis por elaborar e trabalhar em propostas de ação. Serão de 5 a 8 comitês responsáveis por avaliar as questões, apresentar propostas de ação baseadas nas prioridades apresentadas no resultado da Pesquisa. Esses comitês concluirão o trabalho, dando retorno sobre o que é possível fazer ou não e as razões para isso.


TOME NOTA

Marista Mais No portal Marista Mais, todos os colaboradores do Grupo Marista têm acesso a informações importantes reunidas em um único local. Estão disponíveis os programas de formação, clube de facilidades, benefícios, políticas, recrutamento interno, entre muitos outros temas. O acesso é feito pelo Portal RH e é muito fácil de navegar. Confira as principais informações disponíveis: página inicial – principais parceiros, notícias e chamadas para inscrição em treinamentos e programas de desenvolvimento; valores – os valores organizacionais norteiam todo o Portal Marista Mais e têm grande peso para a organização; competências transversais – é a aba que mostra as competências que a organização espera de todos os colaboradores do Grupo Marista; desenvolvimento – área destinada aos programas de formação e desenvolvimento do Grupo Marista. políticas – políticas de RH do Grupo Marista; seleção Interna – processos seletivos internos em andamento ganharam um espaço web para divulgação. Verifique quais estão dentro do seu perfil profissional e participe;

canal direto – espaço para que o colaborador possa relatar sua sugestão, crítica, melhoria ou ação em discordância do Código de Conduta; clube – parcerias que oferecem descontos em medicamentos, produtos, serviços e muito mais.

Campanha da Fraternidade A Campanha da Fraternidade deste ano, lançada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tem como tema: Fraternidade e Tráfico Humano. Um dos objetivos da Campanha é identificar e denunciar as práticas de tráfico humano, grave

violação da liberdade, mobilizando os cristãos e a sociedade brasileira para erradicar esse mal, visando o resgate da vida dos filhos e filhas de Deus. A ideia é incitar crianças, adolescentes, jovens e adultos para uma reflexão sobre o tema e para a realidade que estamos vivendo. Alinhado ao objetivo principal que reforça a importância do combate a crimes, como exploração no trabalho, exploração sexual, tráfico de órgãos e tráfico de crianças e adolescentes, caracterizados como tráfico de pessoas, o Setor de Pastoral do Grupo Marista preparou um dossiê de entrevistas com especialistas de renome em várias áreas abordando o tema. O material foi encaminhado a todos os bispos do Brasil para que possa ser utilizado nas comunidades. Confira os vídeos em: http://www.virtheos.org

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REGISTROS

Homenagem Direito ao

Brincar

A Rede Marista de Solidariedade lançou o livro Brincadiquê?: Pelo Direito ao Brincar. A publicação reúne artigos de especialistas sobre a promoção do direito ao brincar, apresentando ações e práticas que apoiam e indicam novas possibilidades desse direito no cotidiano das instituições que compõem o Sistema de Garantia de Direitos. O livro faz parte de um projeto maior, com o mesmo nome, que visa formar educadores e diferentes agentes do Sistema de Garantia de Direitos de todo o território nacional para o fortalecimento do direito ao brincar na infância, em escolas, ONGs, ruas, parques e demais espaços onde as crianças convivem.

Nossa homenagem aos Irmãos João Sagin e Alcídio Schmidt, que faleceram neste ano. Somos gratos pelos anos dedicados à vida religiosa e ao empenho na educação de crianças e jovens, baseada nos Valores Maristas.

Ir. João Sagin

Assembleia Internacional

Ir. Alcídio Schmidt

Fórum do Laicato Irmãos, colaboradores, membros do Movimento Champagnat da Família Marista e afiliados participaram do II Fórum do Laicato, no dia 22 de fevereiro, em Curitiba. O evento, realizado pelo Setor de Vida Consagrada e Laicato, teve como objetivo principal a troca de experiências e o debate para a construção de uma pauta do laicato no Grupo Marista que inclua o desenvolvimento da vocação laical Marista e a vida partilhada entre Irmãos e Leigos.

No dia 12 de abril, no Colégio Marista Santa Maria, em Curitiba, aconteceu o Encontro Provincial da II Assembleia Internacional da Missão Marista. O objetivo foi partilhar e celebrar os momentos vividos durante a fase de preparação. Até o início de abril, Irmãos, Leigos, Jovens e integrantes de comunidades onde estão localizadas nossas unidades participaram de encontros nos quais puderam vivenciar momentos de estudo e aprofundamento sobre temas relacionados à Missão Marista. A II AIMM acontecerá entre os dias 17 e 27 de setembro, em Nairóbi, no Quênia. Essa assembleia, que representa um marco para o Instituto Marista, trata-se de uma iniciativa que vem ao encontro de um dos apelos gerados a partir com o XXI Capítulo Geral: estabelecer relação de maior união e vivacidade entre Irmãos e Leigos do mundo todo.

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GALERIA DA GALERA

Jovens Irmãos que deixaram recentemente as Casas de Formação para atuar nas Comunidades Maristas: Rafael Fagner, Edicarlos Coelho, Ronaldo Luzzi, Miguel Fernandes, Alison Furlan, Daniel Carvalho, Lucas Mattoso e Vinícius Duarte

A equipe do Colégio Pio XII, em Ponta Grossa, a todo vapor com os preparativos do 4º. JOMAFUS, que acontece de 1º. a 04 de maio, recebeu a visita do Ir. Vanderlei Siqueira dos Santos, Diretor Executivo da DERC, e do Honório Petersen, da Diretoria de Negócios da DERC.

Terceiro encontro da AIMM na Católica SC, em Jaraguá do Sul.

Colaboradores da PUCPR, em Toledo, durante encontro preparatório para a II Assembleia Internacional da Missão Marista.

Participantes do Conexão Marista, encontros que aconteceram nos Centros Sociais Maristas de Itapejara d’Oeste, no interior do Paraná, e Ir. Rui, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo.

QUE TAL REGISTRAR OS FATOS MAIS MARCANTES DA SUA UNIDADE? Mande um email para: conteudo@grupomarista.org.br.

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RADAR EDUCAÇÃO

PUCPR comemora aniversário de 55 anos A PUCPR completou 55 anos no dia 14 de março. Para comemorar, foi celebrada uma missa na Capela Universitária Jesus Mestre. No período da tarde, o reitor da Universidade, Waldemiro Gremski, participou de um bate-papo com os alunos e a celebração incluiu ainda show com o cantor Tiago Iorc, egresso da instituição. A PUCPR foi fundada em 14 de março de 1959. Nesses 55 anos, consolidou-se como a maior instituição de ensino privado do Paraná, estando entre as melhores universidades privadas do país. Presente em São José dos Pinhais, Curitiba, Londrina, Maringá e Toledo, a universidade possui em torno de 30 mil alunos de Graduação e Pós-Graduação. Atualmente, conta com cerca de duas mil pesquisas em andamento e parcerias com empresas para o desenvolvimento de projetos.

Projeto do TECPUC é selecionado pela Apple Uma iniciativa desenvolvida com os alunos do curso técnico de Informática do TECPUC – Centro de Educação Profissional do Grupo Marista está entre os selecionados para a segunda fase do Apple Distinguished Educators, programa da Apple que tem como objetivo reconhecer projetos inovadores que contribuem para a transformação significativa do processo de ensino e aprendizagem, com o uso da tecnologia Apple. Entre os selecionados em todo o mundo, o projeto do TECPUC foi o único de Ensino Médio do Brasil. O projeto, desenvolvido pela professora de Língua Portuguesa Carla Viccini com o auxílio do professor Márcio Garcia, propõe a criação de histórias em quadrinhos em iPads para o ensino dos verbos. Além da possibilidade do desenho, os alunos exploram os aplicativos instalados nos iPads para a produção de tirinhas e histórias em quadrinhos com fotos, aplicando nos textos os tempos verbais em estudo. “Os alunos ficaram mais interessados e descobriram o quanto aquela atividade seria divertida, pois colegas e professores viraram personagens de histórias cômicas em que a utilização

correta do verbo tornou-se muito mais fácil”, explica a professora. A iniciativa faz parte de um grande projeto de letramento digital desenvolvido pelo TECPUC desde 2012. Os projetos finalistas serão apresentados em um grande evento em Miami (EUA), previsto para o mês de julho.

Católica de Santa Catarina em Joinville em processo de Recredenciamento No início de fevereiro deste ano, a Católica de Santa Catarina em Joinville passou pelo processo de Recredenciamento coordenado pelo Ministério da Educação (MEC). Durante esse processo, foram avaliadas a proposta curricular e a estrutura de ensino oferecida pela instituição, entre outros fatores. Todas as dimensões da avaliação foram bem conceituadas. De acordo com o Professor Robert Burnett, Reitor da Católica de Santa Catarina, os avaliadores enalteceram a infraestrutura apresentada pela instituição, destacando salas de aulas, biblioteca, laboratórios e recursos tecnológicos, bem como as ações de planejamento acadêmico-administrativas, que foram muito bem avaliadas. O resultado oficial será divulgado pelo MEC, no Diário Oficial da União.

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© João Borges

FTD Digital Arena lança Teacher’s Guide

Nota Qualificada na Rede de Colégios A Rede de Colégios do Grupo Marista, composta por 17 unidades nos estados do Paraná, Santa Catarina, São Paulo, na cidade de Goiânia e no Distrito Federal, está na fase final de implantação da Nota Qualificada, processo de avaliação diferenciado no qual os alunos são avaliados por objetivos e não por uma nota média geral. Implementada há 15 anos, a Nota Qualificada já está em pleno funcionamento em todos os colégios, nos segmentos de Educação Fundamental 1 e 2 e no Ensino Médio, com exceção do Colégio Marista São Francisco, de Chapecó (SC), que iniciou este ano a implantação nos 2º. e 3º. anos do Ensino Fundamental 1. O processo de avaliação desmembra as disciplinas em diferentes objetivos, sendo que, para aprovação, exige-se que cada estudante alcance uma nota mínima em cada objetivo de cada disciplina. Por exemplo, se em Matemática existirem três objetivos no bimestre, um referente à Geometria, outro sobre números fracionários e um terceiro de Álgebra, o estudante que obtiver nota máxima nos dois primeiros, mas não atingir um patamar mínimo no terceiro, fará a recuperação desse objetivo pendente. “Desse modo, evita-se que o aluno leve adiante dificuldades que, mais tarde, poderão se constituir em obstáculos às novas aprendizagens”, explica o diretor educacional da Rede de Colégios, Flávio Sandi.

O FTD Digital Arena, primeira plataforma tecnológica de imersão multicultural brasileira, lançou em março o Teacher’s Guide, proposta educacional com conteúdo em formato Fulldome e material didático de suporte para aulas do Ensino Fundamental e Médio. A proposta educacional é formada pela apresentação de um documentário científico ou de entretenimento cultural apresentado no auditório de exibição no FTD Digital Arena, em Curitiba, associada à sugestão de atividades pedagógicas interdisciplinares ligada ao tema do filme. Os professores têm a oportunidade de trabalhar o conteúdo em sala de aula, antes e depois da apresentação do filme. Um conjunto de 10 livros integra o Teacher’s Guide: da Biologia à Astronomia. São eles: Nossa Células - Nosso Ser, Seleção Natural, Reino da Luz, Bugs: uma aventura na Floresta Tropical, Dois Pedacinhos de Vidro, Incrível Luz, Galileu, Ibex, O Recife Encantado e Código do Corpo. Mais informações www.ftddigitalarena.com.br

FTD leva obras à Feira de Bolonha O Brasil foi o convidado de honra da edição deste ano da Feira do Livro Infantil de Bolonha, na Itália, que aconteceu entre 24 e 27 de março. Esse é um dos mais importantes eventos voltados para o mercado editorial infantojuvenil e reuniu representantes comerciais, autores, ilustradores, distribuidores e gráficas de todo o mundo. A FTD, que é associada ao projeto Brazilian Publishers há cinco anos, apresentou na feira 37 obras de seu novo catálogo internacional. Algumas delas fizeram parte do catálogo geral da feira, uma seleção de obras de todas as editoras brasileiras presentes no evento.

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© Júlio Covello

RADAR SAÚDE

Música que conforta na Santa Casa © Julio Covello

Músicos voluntários começaram um trabalho de humanização na Santa Casa de Curitiba, levando um pouco de conforto a pacientes, acompanhantes e colaboradores. Eles percorrem quartos, enfermarias e áreas de circulação, tocando melodias com violinos e violão. A atividade também será estendida ao Hospital Universitário Cajuru e ao Hospital Marcelino Champagnat.

Na foto da esquerda para a direita: Thomas Bollati (Vice-Cônsul dos EUA), Claudio Lubascher (Diretor) e Devin Kennington (Vice-Cônsul dos EUA).

Representantes de diferentes países visitam o HMC Diplomatas e representantes de diferentes nacionalidades estão visitando o Hospital Marcelino Champagnat (HMC) para referenciá-lo como hospital que atenderá os cidadãos de seus respectivos países que estiverem em Curitiba durante os jogos da Copa do Mundo. Recentemente, o HMC recebeu a visita dos vice-cônsules dos Estados Unidos. Recepcionados pela equipe do Hospital, os vice-cônsules assistiram a uma apresentação sobre a estrutura da instituição e puderam conhecer mais sobre os serviços oferecidos.

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Voluntários em campanha para compra de cadeiras de rodas O Hospital Universitário Cajuru (HUC), por meio do Grupo de Voluntariado, deu início à campanha de “Lacres X Cadeiras de Rodas”, que tem o objetivo de arrecadar lacres de latinhas de alumínio para serem trocados por novas cadeiras de rodas para o Hospital. A campanha teve início em 2011, quando os voluntários começaram a arrecadação entre amigos e familiares. Ao longo desses anos, o HUC já conseguiu adquirir sete novas cadeiras de rodas. No ano passado, o grupo arrecadou aproximadamente 2,5 milhões de lacres, ou seja, 840 garrafas de PET cheias. Este ano, o grupo conseguiu um reforço e está contando com o apoio da instituição e dos colaboradores para divulgar e fazer repercutir a campanha. As arrecadações podem ser depositadas na caixa de coleta no setor de Voluntariado. Mais informações: (41) 3271-2990


A musicoterapeuta Magali Dias comanda a atividade Songbook com os pacientes do Hospital Dia da UNIICA. A técnica consiste em fazer com que os participantes escrevam suas histórias de vida por meio de músicas e sonoridades mais marcantes em cada fase, desde a infância até o momento atual. Nesse livro, cada página terá a canção principal e a imagem desenhada, pintada, pelo próprio paciente. Os objetivos são mobilizar percepção, imaginação, reflexão e dimensão afetiva, para comunicar e expressar significados e sentidos que integram as vivências e as relações do percurso de vida.

© João Borges

Referências sonoras na UNIICA

HUC inicia parceria com Secretaria de Educação A Secretaria de Estado da Educação iniciou um convênio com o Hospital Cajuru para a ampliação do Serviço de Atendimento à Rede de Escolarização Hospitalar (Sareh) na capital paranaense. Com isso, a cidade passa a ter oito unidades de atendimento para alunos hospitalizados ou em casa, que não podem frequentar a escola por tratamento de saúde. O hospital terá uma equipe composta por uma pedagoga e três professores da rede estadual de educação para acompanhar diariamente os alunos internados. A técnica do Sareh, Thais Gama da Silva, explica que os estudantes podem continuar a escolarização, inserção ou reinserção no ambiente escolar. “Esse atendimento possibilita que o aluno continue com a escolarização sem perder os conteúdos, além de manter o vínculo com a escola.” Vale pontuar que o projeto – no Hospital Cajuru – visa atender crianças, adolescentes e também adultos matriculados nos programas de supletivos.

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CARREIRA por CAMILLA DO VALE JIMENE e RENATO OPICE BLUM | www.opiceblum.com.br

As armadilhas das

REDES SOCIAIS para a carreira

A evolução tecnológica alterou definitivamente os padrões culturais e comportamentais da sociedade contemporânea, com a criação de novas formas de relacionamento entre os indivíduos. Enquanto as relações pessoais estão cada vez mais distantes, o ser humano utiliza a Internet para estabelecer um novo e eficiente canal de comunicação. Caminhamos a passos largos para o chamado cibridismo, cultura que concretiza uma realidade mista, na qual são combinados simultaneamente o mundo real (off-line) e o mundo virtual (on-line). O digital ampliará o real, em vez de competir com ele. Nos dias atuais, a sociedade se dirige para a conectividade, uma vez que as aplicações tecnológicas são utilizadas massivamente para permitir maior interatividade entre as pessoas, de forma mais focada e intensa. A grande questão posta por esse fenômeno evolutivo é: existe impacto de todas essas inovações em nossas vidas?

Camilla do Vale Jimene é advogada do escritório Opice Blum Advogados Associados e professora do MBA em Direito Eletrônico da Escola Paulista de Direito.

Renato Opice Blum é advogado e economista; CEO do escritório Opice Blum Advogados Associados e coordenador do curso de MBA em Direito Eletrônico da Escola Paulista de Direito.

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De fato, a primeira consequência é um estreitamento na linha que separa a esfera pessoal da esfera profissional. Observe seu perfil no Facebook. É muito provável que você tenha contatos oriundos dos mais diversos tipos de relacionamentos. No mesmo ambiente virtual, estão amigos, familiares, namorados, clientes, vizinhos, colegas de trabalho, alunos, entre outros. As redes sociais são um recurso bastante utilizado por todos nós, tanto nos momentos de lazer quanto no ambiente profissional, sendo ferramentas que nos ajudam na busca por conhecimento e entretenimento em nossas vidas. O problema surge exatamente no momento em que as nossas postagens podem chegar ao conhecimento de muitas pessoas, o que é excepcional, porquanto nos dá liberdade para expor nossas ideias para uma quantidade cada vez maior de indivíduos. Por outro lado, também exige uma reflexão sobre o que seria uma postura ética em


ambiente virtual e quais os cuidados e as preocupações em torno do uso dessas ferramentas, já que respondemos legalmente pelo uso inadequado delas. Recentemente, a imprensa publicou o caso de uma professora universitária que teria fotografado um rapaz em um determinado aeroporto e publicado a foto em seu perfil em uma rede social com comentários tidos pela sociedade como preconceituosos. A divulgação desse caso foi tão intensa, que houve o compartilhamento da postagem por mais de dez mil pessoas. A princípio, esse caso não teria qualquer relação com a instituição de ensino onde leciona a professora. A fotografia foi tirada fora do ambiente acadêmico, em momento no qual não estava no exercício da profissão, com um dispositivo de propriedade particular. Entretanto, todas as manchetes divulgadas pela imprensa mencionavam sempre o fato de se tratar de educadora relacionada à uma renomada instituição de ensino. Esse caso é somente um exemplo entre tantos outros, mas coloca em pauta uma nova discussão: até que ponto o prejuízo de nossa imagem pode resvalar na empresa na qual trabalhamos? Sem dúvida, a resposta é positiva. As redes sociais apresentam nosso perfil completo, com informações como onde estudamos, onde trabalhamos e com quais pessoas nos relacionamos. Essas informações são fornecidas por nós mesmos ou obtidas por meio de cruzamentos de informações. O fato é que tudo o que escrevemos em uma rede social ajuda a criar uma imagem sobre nós e, quando estamos vinculados a uma instituição, podemos carregar conosco o nome e a imagem desta. Uma manifestação inapropriada pode prejudicar não apenas aquele responsável pela publicação – que pode responder judicialmente – mas também a instituição e todos os demais colaboradores. Uma postagem pode ser comparada a falar em um palanque, com megafone em mãos, para um público abrangente, composto por qualquer pessoa conectada à Internet, em qualquer local do mundo. E, mais grave: aquele conteúdo fica perpetuado na rede, pois, em se tratando de conteúdo formato digital, qualquer um pode copiá-lo e reproduzi-lo infinitas vezes. Portanto, pense bem antes de postar, pois uma vez que seu comentário seja publicado em uma rede social, ele será permanente e estará disponível não apenas para aqueles que participam da conversa, mas para todos os usuários da Internet. Lembre-se: o mundo mudou e a linha que separa sua vida pessoal da sua atividade profissional ficou extremamente tênue nesse ambiente. Reflita se você falaria em público tudo o que postou na Internet!

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© João Borges

FAÇA VOCÊ MESMO

Pavê IRMÃO LINO Ingredientes 2 pacotes de pudim de morango 6 copos de suco de laranja (suco natural) – adoçar um pouco 1 copo de água para dissolver o amido de milho (a quantidade de amido depende da espessura desejada para o creme) 1 lata de pêssegos (metade) em calda 1 caixa de leite condensado 2 caixas de creme de leite 1 vidro de geleia de abacaxi 500 g de bolacha champagne Martini doce e chantilly Morangos frescos para decorar

Além dos estudos canônicos, os Irmãos Maristas também se dedicam ao aprofundamento em diferentes áreas do conhecimento e até mesmo hobbies. No caso do Ir. Lino Pedrotti, que vive na Residência Marista, em São José dos Pinhais, uma das atividades a que se dedica há anos é a gastronomia. Além da receita abaixo, você também pode saber um pouco mais sobre o Ir. Lino na seção Vida de Irmão, na página 38.

Modo de preparo Fazer na véspera os pudins de morango e o pudim de suco de laranja e deixar na geladeira (O pudim de laranja é feito cozinhando o suco com amido de milho dissolvido. A medida de amido é na base do olho. Se achar que o creme está ralo, acrescente mais amido). Montagem (dia seguinte): Numa travessa, colocar as bolachas e embebê-las no Martini. Colocar calda de pêssego no fundo de um pirex grande e oval. Colocar a primeira camada de bolacha e cobrir com pudim de morango. Espalhar calda e pedacinhos de pêssego. Segunda camada de bolacha embebida. Cobrir com o pudim de laranja e creme de leite. Espalhar a calda, pedacinhos de pêssego e geleia. Terceira camada de bolacha embebida e cobrir com o restante dos dois pudins. Espalhar o leite condensado e a segunda caixa de creme de leite. Espalhar calda, pedacinhos de pêssego e geleia. Finalizar com chantilly e morangos para decorar. Pode acrescentar também pêssegos em tiras.

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SEU TALENTO

O pequeno

contador de histórias A colaboradora Graziele Paula de Sousa, de Brasília, estimula desde cedo seu filho Luiz Gustavo a se interessar pelos livros.

Luiz Gustavo, de seis anos, é filho da colaboradora Graziele Paula de Sousa, assistente de Relacionamento do Colégio Maristinha, em Brasília. Desde os quatro anos de idade, ele é estimulado pela mãe a tomar gosto pelos livros. Como ainda está em fase de alfabetização, por enquanto não consegue ler as histórias sozinho, e é aí que entra a participação fundamental da Graziele. “Sento com ele, leio as histórias e mostro como é divertido embarcar no mundo da leitura”. E o estímulo tem dado resultados. O pequeno usa como base o que ouviu da mãe para criar suas próprias histórias. “Quando ele está com a família, ou com os amigui-

nhos, trata logo de reunir todos para contar as histórias que criou”, conta Graziele. Os personagens preferidos do garoto são os super-heróis. A mãe explica: “Ele gosta muito dos heróis porque diz que eles salvam vidas e fazem coisas boas para as pessoas”. Mesmo com pouca idade, ele já entendeu o significado de fazer bem ao próximo. Como a imagina ção infantil não tem limites, Luiz Gustavo já faz planos para o futuro. “Quando eu crescer, eu vou morar em Nova Iorque”. Ele cita a cidade dos Estados Unidos por imaginar que lá é onde moram os heróis que admira.

COMPARTILHE O TALENTO DO SEU FILHO NAS PRÓXIMAS EDIÇÕES. Mande um email para: conteudo@grupomarista.org.br.

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NA ESTRADA por JULIANA FONTOURA

Itapejara segredos

Nesta edição, a colaboradora Luciane Demari, do Centro Social Marista de Itapejara D’Oeste, selecionou alguns lugares especiais da região. A pequena cidade, localizada no estado do Paraná, próxima a Francisco Beltrão e Pato Branco, esconde segredos e curiosidades. © fotos: Arte Final Fotografia

Usina Hidrelétrica Chopim I Itapejara D’Oeste conta com a Usina Hidrelétrica Chopim I, que está localizada na margem esquerda do Rio Chopim, mais especificamente na comunidade de Salto Grande. Foi a primeira usina a ser construída pela Copel durante a concepção do primeiro Plano de Eletrificação do Paraná, entre 1961 a 1965.

Nossa Senhora Rainha da Paz A imagem de Nossa Senhora Rainha da Paz fica localizada em um ponto alto da cidade. Com frequência, são realizadas celebrações nesse local. Itapejara D’Oeste é uma cidade com fortes tradições religiosas. De fevereiro a dezembro, acontecem nas comunidades festas que comemoram o dia de seus padroeiros.

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D’Oeste:

do interior

Biblioteca Ir. Beno Tomasoni Reforçando a importância da presença marista no município, vários espaços recebem o nome de Irmãos, inclusive a Biblioteca Cidadã Ir. Beno Tomasoni.

Festa do Leitão Maturado Uma festa típica de Itapejara D’Oeste é a Festa do Leitão Maturado. O evento foi planejado para promover o consumo de carne suína e, com o passar do tempo, firmou-se como uma festa gastronômica de muito sucesso, reunindo aproximadamente 10 mil pessoas. O Leitão Maturado é a segunda maior festa gastronômica à base de carne suína do Paraná.

Igreja Matriz Senhor Bom Jesus da Redenção A Igreja Matriz Senhor Bom Jesus da Redenção é um bom lugar para visitação. Possui uma bela vista da cidade e da praça central, que é um local agradável para tomar o nosso típico chimarrão nos finais de tarde.

Lago Caminho das Pedras O lago Caminho das Pedras é uma boa pedida para quem gosta de fazer exercício físico. É um lugar agradável onde as famílias podem levar seus filhos para brincar e se divertir com segurança.

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NOSSA GENTE © João Borges

por VIVIAN LEMOS

Alceu Greboni, professor que nunca abandonou os afazeres diário na Fazenda Gralha Azul.

Paixão pelo campo

passada adiante COLABORADOR EXERCE NA ROTINA SEU GOSTO PELO CUIDADO COM OS ANIMAIS E TRANSMITE SEUS CONHECIMENTOS RURAIS NAS SALAS DE AULA

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recebida. “Encontrei o Jorge Daniel e ele disse que estava Um típico homem do campo, que gosta da terra e do precisando de um professor para o curso. Diante da minha contato com os animais. O dia a dia de Alceu Grebogi inexperiência, fez o convite. Passei pela banca de seleção, clui retirada de leite, limpeza de excrementos de 65 vae comecei a dar aula. Uma experiência muito boa, poder cas, administração de medicamentos e cuidados com a transmitir o conhecimento”. alimentação do rebanho. Imaginando esse cenário você certamente pensa se tratar de um trabalhador rural, mas, Nas salas de aula, Alceu fala sobre reprodução e alina verdade, Alceu é colaborador do Grupo Marista, exermentação dos bovinos, além de lecionar Extensão Rural, cendo também a função de professor. que é uma disciplina que pretende levar aos estudantes a vivência de uma propriedade rural, como deve ser o A paixão pelos bovinos começou na infância. O pai de relacionamento com os funcionários, o que fazer para a Alceu tinha vacas leiteiras e distribuía leite para laticínios produção rural crescer, entre outros temas. “Aqui, retomo de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curium pouco do trabalho que fazia nas cooperativas, no inítiba. Quando tinha sete anos, o pai faleceu. As vacas ficacio da minha carreira”, explica. ram e, ainda na infância, ele teve contato com a produção de leite. “Desde muito cedo, convivi com esses animais e Sobre o trabalho na Gralha Azul, Alceu considera que gostei de lidar com eles”, afirma. está em família. O relacionamento com os demais colaboradores é “muito bom”, como ele mesmo classifica, e Alceu foi morar com o padrinho, mas o contato com as até mesmo as malhadas vaquinhas fazem parte da famívacas continuou. Percebendo que gostava mesmo era do lia, segundo o zootecnista. Talvez por isso, o momento trabalho com os animais, ele procurou um curso Técnico de dizer adeus seja tão difícil: “As vacas têm um ciclo em Agropecuária, no qual se formou em 1982. No ano seútil de produção de leite e reproduguinte, começou a trabalhar numa coção. Geralmente, após quatro anos, operativa leiteira, onde assumiu o setor temos que vender as vacas, pois elas de fomento aos pequenos produtores. não são mais produtivas e nós não “Eu passava informações sobre a forma “Não conseguiria teríamos como manter o seu padrão de aumentar o lucro, como melhorar a de vida sem prejuízo. Mas, não vou produção, diminuir custos, enfim, era ficar em casa, mentir para você: é difícil. Tem vezes quase um SEBRAE”, brinca. que eu prefiro nem ver, pois damos Nessa cooperativa, Alceu ficou até pensando que uma nomes para elas, convivemos diaria1999, quando foi para a Fazenda Gravaca pode precisar mente, criamos um laço. Mas é precilha Azul, para coordenar a produção de so ser racional e não deixar a emoção leite, função que ocupa até hoje. Nesde auxílio no parto, tomar conta”, relata o profissional. ses quase 15 anos de Grupo Marista, Apesar de ser extremamente comele agarrou todas as oportunidades que que ela pode prometido com a administração da apareceram: formou-se em Zootecnia ter problemas fazenda e de saber que os negócios pela PUCPR, cursa o Mestrado em Citêm que dar lucros, Alceu não deixa ência Animal e leciona no curso Técnico e eu não estarei de ter um cuidado especial com as em Agropecuária no TECPUC. “Pude companheiras do dia a dia. Quando crescer muito dentro do Grupo. Isso se aqui para ajudásabe que um animal está prestes a reflete também no trabalho realizado la e chamar entrar em trabalho de parto, ele não aqui na fazenda. Vemos nosso rebapestaneja e, se preciso for, passa a nho crescer e produzir vacas melhores um de nossos noite na fazenda para auxiliar no nasa cada ano”, empolga-se o zootecnista. cimento de um bezerro: “Não conseveterinários.” Na fazenda, para conseguir uma proguiria ficar em casa, pensando que dução cada vez mais significativa e de uma vaca pode precisar de auxílio no melhor qualidade, o trabalho de Alceu parto, que ela pode ter problemas e inclui o melhoramento genético. Na eu não estarei aqui para ajudá-la e Gralha Azul, os machos não têm vez. As chamar um de nossos veterinários”, explica. vacas predominam soberanas, mas eles são necessários Com tanto trabalho para cuidar de um rebanho de 65 para o crescimento do rebanho. Nessa hora, a inseminação animais, você deve estar pensando que nos momentos de artificial entra em cena: “A atualização do conhecimento é folga Alceu quer distância da “vida da roça”. Ledo engano. fundamental nessa área. Precisamos estar sempre atentos “Meus hobbies estão ligados à vida no campo. Gosto de ir a a novidades, em especial, na escolha do touro para dar orieventos rurais, ouvir música sertaneja e em casa tenho anigem a vacas de excelência”, afirma Alceu. mais de corte. Então até na folga lido com eles”, diverte-se. A cada explicação sobre o padrão de excelência das E no futuro? O que Alceu deseja? Continuar na lida, esvacas holandesas – criadas na Fazenda Gralha Azul – os tudando as últimas tendências de nutrição, reprodução e olhos de Alceu brilham. Tamanha empolgação com o tramelhoramento genético e descobrindo formas de melhobalho foi percebida pelo professor Jorge Daniel Mikos, rar a produção das belas vacas holandesas, que parecem coordenador do curso Técnico em Agropecuária, que não ver o tempo passar na tranquilidade dos pastos da convidou Alceu para lecionar no TECPUC. A carreira de Fazenda Gralha Azul. docente veio por acaso, conta Alceu, mas foi muito bem

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VIDA DE IRMÃO por JULIANA FONTOURA

© João Borges

Irmão

Gourmet AOS 84 ANOS, O IR. LINO PEDROTTI TEM A GASTRONOMIA COMO DESFRUTE NÃO SÓ DELE, MAS TAMBÉM DE TODOS OS OUTROS IRMÃOS QUE VIVEM NA RESIDÊNCIA MARISTA SÃO JOSÉ, EM SÃO JOSÉ DOS PINHAIS (PR). SUA VIDA É TEMPERADA COM SOLIDARIEDADE, COZIDA COM DEDICAÇÃO ÀS CRIANÇAS E JOVENS, FLAMBADA COM A INSPIRAÇÃO DE MARCELINO CHAMPAGNAT E SERVIDA COM MISSÃO MARISTA.

As colheres de açúcar que o Ir. Lino Pedrotti adiciona em deliciosos bolos, pavês e tortas escondem a história da sua infância nos canaviais do sítio Tifa dos Monos, em Jaraguá do Sul. Ali, ele viveu por muitos anos ao lado dos pais Hercílio Pedrotti e Dona Veneranda e de seu “mano” mais novo, Hilário Pedrotti. Lino lembra até hoje das horas que passava ao lado do pai, amontoando os pedaços de cana e “parlando italiano”, a única língua que conhecia até começar a ir para a escola, localizada a sete quilômetros do sítio. A missa era um pouquinho mais longe. Aos domingos, pela manhã, o pai dava instruções religiosas a seus filhos. Eles cruzavam os dedos e torciam para ouvir a voz imperativa dizendo: “Preparem-se para ir à missa em Jaraguá do Sul”. De volta ao sí-

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tio, o trabalho continuava na manutenção da terra e das plantações. Certo dia, enquanto cortava lenha, Lino falou para o seu “mano”, Hilário: “Quero ser Marista como o Irmão Bernardino”, seu tio. Hilário gostou da ideia e disse: “Eu também vou ser”. Lino lhe retrucou: “A ideia é minha”! Ideia dos dois filhos de Hercílio Pedrotti, que acompanhados do Irmão Exuperâncio, mudaram-se para Curitiba e começaram a se preparar para ser Irmãos Maristas. Os meninos foram bem recebidos pela diretoria do Juvenato Marista de Curitiba. Em um primeiro momento, Lino se concentrou em aperfeiçoar a leitura. “Mesmo com quase 14 anos de idade, foi fácil aprender a ler, graças à paciência do Ir. Cirilo”, lembra. Ele se desenvolveu rapidamente no português,


CURIOSAS HISTÓRIAS GASTRONÔMICAS DO IR. LINO Piquenique extraordinário

Certa vez, às três da madrugada, 150 juvenistas saíram do Juvenato Marista com tochas acesas em direção ao Seminário dos Capuchinhos, em Almirante Tamandaré. Chegando ao destino, depois da longa caminhada, quem fez a comida para todos os participantes? Lino Pedrotti! Mendes Ao término da sétima série, Lino e os colegas foram transferidos para Mendes para fazer a oitava série e o Noviciado. Chegando no destino, alguns preferiram não jantar, mas fizeram um concurso de quem comia mais bananas. O campeão comeu 39. Indigesto! mas nos cálculos já estava craque. Não demorou muito para que ficasse encarregado de ensinar Matemática para uma turma de oito colegas. Um deles foi o padre Luiz Darós, que até hoje lembra do esforço de Lino para dar aquelas aulas. As obrigações de estudo tomavam a maior parte do tempo de Lino. Um dia, os juvenistas que cozinhavam foram transferidos para Mendes e Lino acabou assumindo as panelas.”Eu adorava fazer para o almoço arroz, linguiça e batata, e de sobremesa geleia de suco de laranja”, lembra. Para o lanche da tarde era rabanada.

Bolo da Independência do Brasil Para a festa de comemoração dos 150 anos de Independência do Brasil, o Ir. Lino preparou um bolo pão de ló de aproximadamente 42 kg no formato do Brasil. A guloseima gigante fez sucesso no desfile comemorativo. Militares e o prefeito pediram um pedaço e foram atendidos!

O juvenato foi um momento muito especial na vida de Lino. Ali ele aprendeu que a maneira de ser Marista tinha um distintivo de espírito de família, uma herança de Champagnat que foi fundamental para o seu desenvolvimento. Foi também nesse período de sua vida que aprendeu a passar adiante o legado de Marcelino Champagnat e seguir em Missão. Lino não cansa de repetir: “Onde eu chego, faço o meu ninho”. Ele conhece a importância da educação evangelizadora que vai ao encontro de crianças e jovens onde quer que elas estejam. Lino trabalhou em muitas unidades e comunidades maristas e por onde passou, deixou sua marca, principalmente nas cozinhas. De acordo com o Ir. Lino, a comida tem o poder de aproximar as pessoas. Não foi à toa que Cristo instituiu a Eucaristia ao redor de uma mesa e da mesma forma, Marcelino Champagnat sempre prezou a convivência dos Irmãos na Mesa de La Valla. Atualmente o Ir. Lino vive na Residência Marista São José, disposto a passar adiante seus conhecimentos da mais alta gastronomia marista. Seu ensinamento mais precioso é que durante o preparo da comida, os alimentos recebem energia de quem as prepara. Por isso, é preciso cuidado e leveza de espírito ao cozinhar. Talvez esse seja o segredo de tantas gostosuras do nosso Ir. Gourmet!

Confira uma deliciosa receita do Ir. Lino na seção Faça Você Mesmo, na página 32.

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ENTENDENDO A SOLIDARIEDADE

© João Borges

Por VIVIAN LEMOS

Missão

Solidária Marista A Missão Solidária Marista acontece desde 2005, e entre seus principais objetivos, está a educação para a solidariedade. Anteriormente chamava-se Acampamento Missão, tendo iniciado em 1984. A edição de 2014, que comemora os 30 anos desta experiência, foi realizada em quatro localidades: Fazenda Rio Grande (PR), Criciúma (SC), Ponte Serrada (SC) e São Paulo (SP). A realização nessas cidades simultaneamente almeja propagar a cultura da solidariedade, uma vez que favorece a participação de um número maior de jovens e, assim, contribui também para que essa iniciativa inspire outras pessoas a fazer o mesmo. Neste ano, 500 alunos e ex-alunos maristas do Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Goiânia e Distrito Federal, com idade entre 16 e 30 anos, participaram do projeto. Para fazer parte, os jovens tinham que apresentar alguma ligação com a Pastoral de suas unidades de origem (Colégio, Universidade ou Centro Social) e fazer o

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curso de extensão a distância Educação para a Solidariedade: Missão Solidária Marista. A Missão Solidária Marista convoca os jovens a saírem do lugar-comum em suas férias e vivenciar a realidade de comunidades em situação de vulnerabilidade social. Os jovens moram durante uma semana com as famílias das comunidades visitadas e vivenciam seus anseios e necessidades, em uma troca de experiências que desperta a sensibilidade solidária dos jovens e o espírito de acolhida e a confiança nas comunidades. Para Susineia Bassani, líder da comunidade de Ponte Serrada (SC), uma das oportunidades mais valiosas da Missão foi proporcionar aos jovens da cidade a noção de protagonismo: “Eles tiveram a oportunidade de entender mais uma vez que podem e devem ser protagonistas de sua história e agirem em favor das mudanças necessárias para melhorar a sua vida e de sua comunidade, e o melhor de tudo é que a comunidade como um todo acredita nos jovens”.


© João Borges © João Borges

Marcas da Missão Para marcar a passagem dos jovens pela comunidade e mostrar a importância de serem agentes transformadores também com a “mão na massa”, a Missão propõe alguns gestos concretos, que podem ir desde a revitalização de uma praça, pintura de uma igreja até mesmo visitas a moradores da localidade para troca de experiências. O estudante Eduardo Henrique Rodrigues, do Câmpus Londrina da PUCPR, ressalta a importância dos gestos concretos, mas acredita que o papel da Missão é ainda maior do que essas ações: “Durante o tempo em que estivemos inseridos na comunidade, realizamos a limpeza e revitalização do Centro de Convivência dos idosos e do pátio de uma escola pública (onde também organizamos e revitalizamos a salinha do Clube do Livro), mas creio firmemente que o maior legado deixado pela MSM, aquele que realmente vai deixar marcas que perdurarão através do tempo, seja a presença da Juventude Marista que ‘tomou conta’ das ruas e mostrou o vigor, a vitalidade e o rosto de uma juventude que se alicerça no exemplo da Boa Mãe e no amor de Cristo”. Já Sariana Vanderlinde, coordenadora pedagógica do ProAção Fazenda Rio Grande, destaca a forte ligação entre os jovens e a comunidade: “É muito gratificante ver uma família que conheceu o jovem há pouco tempo se preocupar como se fosse seu filho de todos os dias. Tenho certeza de que as famílias acolhedoras não são mais as mesmas após essa missão e nem os jovens”.

Diogo Luiz Galline, do Setor de Pastoral do Grupo Marista, coordenou a Missão em Fazenda Rio Grande. Ele ressalta o caráter educacional da atividade: “É importante ressaltar que a Missão Solidária Marista não é uma ação isolada. Ela faz parte de um projeto maior de educação para a solidariedade. Os jovens não vão até essas comunidades fazer trabalhos de manutenção ou reparos simplesmente. Isso é uma parte pequena da ação. A Missão é uma via de mão dupla, na qual os jovens levam algumas de suas experiências e aprendem muito com as comunidades visitadas”. Ione dos Santos, diretora do Centro Social Irmão Walmir, de Criciúma, endossa o caráter educador do projeto: “A MSM por meio de todo processo de envolvimento e as experiências possibilitadas, contribuiu para a formação de um jovem protagonista que luta por seus direitos e a defesa dos direitos dos outros jovens. Sua participação nesse contexto potencializa valores e forma para a vida de sujeitos protagonistas, atuando com justiça e mais solidários”. E esse é justamente um dos pontos centrais da Missão: o objetivo de despertar o senso crítico, a sensibilidade solidária e a espiritualidade dos jovens visitantes e da própria comunidade, a fim de que se tornem agentes de transformação social.

© Michele Bravos

Educação para a Solidariedade

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CAMINHADA DO GRUPO por IR. DÉLCIO AFONSO BALESTRIN | Presidente do Grupo Marista

Amor ao trabalho:

Grupo Marista nos passos de Marcelino Champagnat O ano de 2014 se inicia com o objetivo principal de transformar a sociedade na qual estamos inseridos, com o jeito de Maria. Aqui no Grupo Marista, nós estamos avançando nesse sentido, pois em tudo que fazemos buscamos vivenciar os valores da Simplicidade, Amor ao Trabalho, Justiça, Espiritualidade, Espírito de Família e Presença Significativa. Saliento que esses valores não são vivenciados de maneira desconexa com a realidade. Sempre procuramos considerá-los de maneira conjunta, como complementares e interdependentes à luz da nossa missão. Eles são os balizadores do nosso jeito de ser e de atuar nas diferentes frentes do Grupo Marista. Destaco neste espaço um dos valores institucionais do Grupo Marista. Esse valor nasce com Champagnat que fez questão de passar para os primeiros Irmãos, já no período inicial de fundação do Instituto: o Amor ao Trabalho. “Champagnat levantava-se sempre de madrugada, nunca perdia tempo e apreciava o trabalho braçal. Ele não se poupava e fazia sempre o que havia de mais duro e perigoso. Foi ele quem tudo fez na reforma da casa de La Valla. Nós ajudávamos, mas não sabíamos trabalhar direito, quase sempre precisava mostrar-nos ou refazer tudo [...] Não se queixava de nossa falta de jeito. Tínhamos boa vontade, mas éramos muito desajeitados, sobretudo eu. Às vezes, à noite, estava todo suado, coberto de poeira e com a batina rasgada. Nunca se mostrava tão contente como quando o trabalho e a dedicação tivessem sido intensos. Vi-o muitas vezes trabalhando sob a chuva ou a neve que caía. Nós deixávamos o trabalho nessas ocasiões, enquanto ele continuava, mesmo sem proteção para a cabeça e

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apesar do rigor do tempo”. (Relato do Ir. Lourenço, contemporâneo de Champagnat, referindo-se aos hábitos do fundador) Champagnat era muito disposto ao trabalho, independente de qual fosse. Embora naquela época o clero ficasse dispensado do trabalho braçal, o nosso fundador não media esforços para realizar o que fosse necessário à sua obra dedicada à Maria. A casa de La Valla foi feita por ele e a casa de L’Hermitage em grande parte. Nenhum trabalho o assustava. Com humildade, ele levantava paredes com os pedreiros, reformava mobília com os marceneiros, cultivava a horta, carregava pedras, dava conta de tudo. Em todos esses afazeres, ele se distinguia por sua grande habilidade. Nunca se queixava e desestimulava os Irmãos que o ajudavam na empreitada. A sua força vinha da fé e convicção em Deus. Não há como ficar inerte às atitudes de Champagnat. O modo como ele vivencia o Amor ao Trabalho nos inspira para a realização das demandas cotidianas. Para Champagnat, Amor ao Trabalho significa igualmente realizar o trabalho com amor. No Grupo Marista, nós seguimos os passos do nosso fundador para assumir um compromisso com a excelência e a inovação, fornecer respostas criativas e eficazes aos desafios que aparecem e ainda tornar o trabalho uma maneira de realização pessoal e transformação da sociedade. Convido vocês para desenvolver esse grande valor em suas relações humanas e em sua missão apostólica. Assim, vamos avançar ainda mais, beneficiando crianças e jovens, sobretudo aqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade. Queremos os Valores Maristas ainda mais efetivos em nossas unidades e contamos com o seu comprometimento.


© João Borges

FIM DE PAPO

Momento de prosa com a comunidade.

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