- CEAPP Centro de Estudos e Acompanhamento Psicanalítico e Psicopedagógico Tema da Aula: Psicanálise e Família na Contemporaneidade Professor: Marcelo Castro Psicólogo, Filósofo, Psicoterapeuta, Professor de Psicologia, Diretor do Núcleo de Psicologia Carl Gustav Jung (2014 a 2018), Especialista em Psicologia Humanista na Abordagem Centrada na Pessoa, Pós Graduado em Docência do Ensino Superior, Formação em Psicossomática, Hipnose Clínica e Regressão de Memória, Organizador e Facilitador do Curso de Introdução a Abordagem Centrada na Pessoa e de Grupos Terapêuticos, Palestrante em Cursos de Psicologia, Filosofia e Desenvolvimento Pessoal. Contatos: Tel.: 9 8736-6769 Email.: mcbpsi@yahoo.com.br
A partir das imagens projetadas, você terá oito segundos para escrever o primeiro pensamento que lhe surgir à mente, qualquer que seja ele.
Troca de experiências à respeito da atividade anteriormente realizada!
• A partir do método investigativo da Psicanálise inicial utilizado por Freud, como se chama o exercício que acabamos de realizar? • ASSOCIAÇÃO LIVRE • – Método que consiste em exprimir indiscriminadamente todos os pensamentos que ocorrem ao espírito, quer a partir de um elemento dado (palavra, número, imagem de um sonho, qualquer representação), quer de forma espontânea.
Vocabulário de psicanálise, LAPLANCHE E PONTALIS ORGANIZADO PROF. ELOISE
Psicanálise, sujeito e o desenvolvimento histórico da família
• Na horda primeva, o pai é a encarnação de Deus, senhor das famílias, reinando sobre o corpo e a alma da mãe e dos filhos;
• Já o pai romano se caracteriza por ter seu lugar determinado pela nomeação que ele fazia do filho, logo, o pater romano é aquele que se designa a si mesmo como pai, não é determinado pelo biológico, e sim, pelo ritual de reconhecimento, designação do filho pelo gesto ou pela palavra que tem como consequência a posição de comando do pai no seio da família (direito romano). • No cristianismo, a função simbólica do reconhecimento, obrigatoriamente, coincide com a paternidade biológica. Portanto, diferente do pai romano, o pai cristão, submetido a Deus, tem seu direito assegurado não por sua vontade de reconhecimento, mas pela sua origem divina.
Filho, G. T. C., A ACEPÇÃO DE FAMÍLIA NA TEORIA PSICANALÍTICA: SIGMUND FREUD, MELANIE KLEIN E JAQUES LACAN, 2010.
Psicanálise, sujeito e o desenvolvimento histórico da família • Ao longo do processo histórico, os sentidos relacionados à figura do pai passaram por grandes transformações. O sistema patriarcal fundado na autoridade paterna, desmoronou na modernidade trazendo consequências para as relações sociais e subjetivas. • Badinter (1980) situa a origem do patriarcado na história da Índia, onde a família era considerada um grupo religioso e o pai era quem tinha poder absoluto sobre as mulheres e crianças;
Família contemporânea e as funções parentais: há nela um ato amor?, 2011.
Psicanálise, sujeito e o desenvolvimento histórico da família
• Do mesmo modo, na Antiguidade, o homem ocupou o papel central na família e os direitos das mulheres e crianças eram muito limitados. Tanto o discurso do Cristianismo como o discurso filosófico reforçaram a crença na autoridade paterna. • Ex.: Deus é homem; Jesus é homem; os apóstolos são homens; A trindade Pai, Filho e Espírito Santo é masculina, pouquíssimas são as filósofas, etc.
Família contemporânea e as funções parentais: há nela um ato amor?, 2011.
Psicanálise, sujeito e o desenvolvimento histórico da família
• Durante a Idade Média, as mulheres estavam sob o domínio dos homens e a guerra era o principal modo de relação social. A liberdade de expressão das pulsões e da gratificação dos impulsos foi característica dessa época. As mulheres eram vistas como objeto sexual e estavam sujeitas aos ímpetos dos homens. Por sua vez, a criança circulava no mundo adulto, sem restrições. No período medieval, não havia ainda uma diferenciação entre adultos e crianças, nem a família era a responsável pela educação das mesmas. • Ex.: Helena de Tróia (história que se passa na antiguidade clássica grega, mas, serve como exemplo). Família contemporânea e as funções parentais: há nela um ato amor?, 2011.
Psicanálise, sujeito e o desenvolvimento histórico da família
• Ao final da Idade Média e início da modernidade, a estrutura social e os modos de estruturação da personalidade sofreram importantes transformações. As regras sociais haviam mudado, assim como os comportamentos e sentimentos das pessoas. A partir do século XVII, com o surgimento da estrutura social monarquista, o pai torna-se "o lugartenente de Deus" (BADINTER, 1980, p. 240), o sucedâneo do rei na família. No sistema patriarcal, a família tem uma estruturação hierarquizada e vertical, sendo o pai o centro dela. • Nesse momento histórico, a família não estava fundada nos laços afetivos, nem tampouco as crianças ocupavam o lugar afetivo que tem hoje para os adultos. As mudanças nos sentimentos em relação à infância surgem somente a partir do século XVII, tal como nos mostra Ariès (1981). Família contemporânea e as funções parentais: há nela um ato amor?, 2011.
Psicanálise, sujeito e o desenvolvimento histórico da família • De criancinha pequena, ela se transformava imediatamente em homem jovem, sem passar pelas etapas da juventude [...]. A transmissão dos valores e dos conhecimentos, e de modo mais geral, a socialização da criança, não eram, portanto, nem asseguradas nem controladas pela família. • A criança logo se afastava de seus pais, e pode-se dizer que durante séculos a educação foi garantida pela aprendizagem, graças à convivência da criança ou do jovem com os adultos. A criança aprendia as coisas que devia saber ajudando os adultos a fazê-las. • A passagem da criança pela família e pela sociedade era muito breve e muito insignificante para que tivesse tempo ou razão de forçar a memória e tocar a sensibilidade.
Ariès P., História Social da Criança e da Família, p. 10, 1981.
Psicanálise, sujeito e o desenvolvimento histórico da família
• Quando a criança conseguia superar os primeiros perigos e sobreviver [...], era comum que passasse a viver em outra casa que não o de sua família. Essa família se compunha do casal e das crianças que ficavam em casa [...]. • Essa família antiga tinha por missão – sentida por todos – a conservação dos bens, a prática comum de um ofício, a ajuda mútua quotidiana num mundo em que um homem, e mais ainda uma mulher isolados não podiam sobreviver [...]. • As trocas afetivas e as comunicações sociais eram realizadas portanto fora da família, num meio mais denso e quente, composto de vizinhos, amigos, amos e criados, crianças e velhos, mulheres e homens, em que a inclinação afetiva podia se mostrar mais livremente. As famílias conjugais se diluíam nesse meio.
Ariès P., História Social da Criança e da Família, p. 10 e 11, 1981.
Psicanálise, sujeito e o desenvolvimento histórico da família • A partir de um certo período [...], e, em todo caso, de uma forma definitiva e imperativa a partir do fim do século XVII, uma mudança considerável alterou o estado de coisas (no processo de formação das famílias) que acabo de analisar. Podemos compreendê-la a partir de duas abordagens distintas, a saber: • 1 - A escolarização. A escola substituiu a aprendizagem como meio de educação. Isso quer dizer que a criança deixou de ser misturada aos adultos e de aprender diretamente através do contato com eles; • 2 – A afeição familiar. A família tornou-se o lugar de uma afeição necessária entre os cônjuges e entre pais e filhos, algo que não existia antes. Essa afeição se exprimiu sobretudo através da importância que se passou a atribuir a educação. Não se tratava mais (como era nos séculos anteriores), apenas de estabelecer os filhos em função dos bens e da honra. Tratava-se de um sentimento inteiramente novo: os pais se interessavam pelos estudos dos filhos e os acompanhavam com uma solicitude (que se tornará habitual posteriormente) nos séculos XIX e XX, mas, outrora desconhecida. Ariès P., História Social da Criança e da Família, p. 11 e 12, 1981.
Psicanálise, sujeito e o desenvolvimento histórico da família
• No século XVIII, com o surgimento do "Estado", o patriarcado familiar perdeu forças para o patriarcado estatal. O poder do pai é enfraquecido na medida em que o Estado se solidifica como autoridade pública. Nesse processo de "humanização" do pai divino, a criança e a mãe ganham valor.
• Com a instalação do modelo de família nuclear burguesa nos séculos seguintes, a mulher passa a ocupar o lugar de "rainha do lar" e a criança torna-se o "meninorei" (BADINTER, 1980). A ideologia iluminista e o poder concentrado na moderna nação-Estado são fatores presentes no tecido social da época e produtores de transformações nas condutas sociais e nas formas de subjetivar dos sujeitos.
•
Família contemporânea e as funções parentais: há nela um ato amor?, 2011.
Psicanálise, sujeito e o desenvolvimento histórico da família
• O temor dos sociólogos e antropólogos do século XIX consistia exatamente na perda da autoridade paterna e no domínio da mulher na sociedade motivo de um debate sobre a origem da família. Nessa perspectiva, o pai deixa de ser o veículo único da transmissão psíquica e carnal e divide esse papel com a mãe.
Filho, G. T. C., A ACEPÇÃO DE FAMÍLIA NA TEORIA PSICANALÍTICA: SIGMUND FREUD, MELANIE KLEIN E JAQUES LACAN, 2010.
Psicanálise, sujeito e o desenvolvimento histórico da família
• A família começou então a se organizar em torno da criança e a lhe dar uma tal importância, que a criança saiu do seu antigo anonimato, que se tornou impossível perde-la ou substituí-la sem uma enorme dor, que ela não pôde mais ser reproduzida muitas vezes, e que se tornou necessário limitar seu número para melhor cuidar dela.
• A consequência disso tudo foi a polarização da vida social já no século XIX na vida social em torno da família e da profissão e o consequente desaparecimento da antiga sociabilidade. • A família conjugal moderna seria, portanto, a consequência de uma revolução que, no final da idade média, teria enfraquecido a linhagem e as tendências à indivisão.
Ariès P., História Social da Criança e da Família, p. 12 e 211, 1981.
Psicanálise: uma terapia do inconsciente no estudo da família
• Desde a descoberta do inconsciente por Freud, a Psicanálise mostra ser um caminho de escuta para a cura dos sintomas causadores de sofrimento;
• Nietzsche, Schopenhauer, Franz Bretano, entre outros, já mencionavam a existência de uma instância mental interna no sujeito. • Que coube a Freud, então, diante disso? • Criou e sistematizou uma metodologia de investigação e aprofundamento do inconsciente.
Família contemporânea e as funções parentais: há nela um ato amor?, 2011.
A família segundo a Psicanálise: concepções de Freud, Melanie Klein e Lacan
A família está presente no nascimento da teoria psicanalítica. Nos textos Pré-psicanalíticos de Freud como as cartas a Filees observamos a atenção de Freud para com as relações familiares, o entrelaçamento entre o pai, a mãe e os filhos e suas consequências.
No pensamento freudiano sobre a família primordial, sua evolução e a passagem feita por Freud através da herança arcaica da família primeva para a família moderna, pontuaremos que tal passagem só é possível através da revivência possibilitada pelo complexo de Édipo. Mas, no aprofundamento das pesquisas psicanalíticas a respeito do inconsciente entre os integrantes de uma família, emergem os desejos recalcados. Ex.: Um presente à fidelidade marital!
Filho, G. T. C., A ACEPÇÃO DE FAMÍLIA NA TEORIA PSICANALÍTICA: SIGMUND FREUD, MELANIE KLEIN E JAQUES LACAN, 2010
A família segundo a Psicanálise: concepções de Freud, Melanie Klein e Lacan Sabemos de que são necessárias duas outras famílias, uma apta a fornecer um homem, e a outra, uma mulher que, pelo casamento, permitem o surgimento de uma terceira família. Logo, uma família não existiria sem a sociedade e seu processo social de aliança. Neste processo, podemos observar duas vertentes:
1 - a troca, que define a circulação de mulheres; 2 - a proibição do incesto, permitindo que as famílias se aliem umas com as outras, e não cada uma em seu próprio nicho.
A proibição do incesto é, portanto, condição tão necessária à criação de uma família, quanto a união de um sexo a outro. Concluímos que a família é uma instituição humana duplamente universal, pois associa um fato de cultura, a condição simbólica da sociedade a um fato de natureza, segundo leis da biologia. Logo, a criação e transformação da instituição familiar ocorrem dentro de duas grandes dimensões ou campos: do biológico, (diferença anatômica fisiológica dos sexos) e do simbólico, (interdito do incesto). Filho, G. T. C., A ACEPÇÃO DE FAMÍLIA NA TEORIA PSICANALÍTICA: SIGMUND FREUD, MELANIE KLEIN E JAQUES LACAN, 2010
Psicanálise, sujeito e o desenvolvimento histórico da família • Do ponto de vista psicanalítico, que conceito freudiano fundamental definirá a estrutura das relações familiares? • R. O complexo de Édipo. • Por quê? • R. Porque é o vigoramento do Complexo de Édipo nas relações familiares que deixará instituído a fala subjetiva “Esta mulher (a mãe) é minha! (do pai).” • Que isso significa?
• R. Significa que quem se relacionará sexualmente com essa mulher (a mãe) será o pai. • O que se origina daí? • R. A lei das relações dentro da família, ou seja, como essa família irá funcionar hierarquicamente. • Quem subjetivamente normatiza esse funcionamento? • R. O pai.
• O que, então, o pai simboliza dentro da família? • R. A lei (as regras, as normas, a disciplina, as frustrações filiais).
Psicanálise, sujeito e o desenvolvimento histórico da família • Na realidade, apenas a nomeação simbólica garante a cada homem que é, de fato, genitor (pai) de sua prole. Este pai simbólico não é, portanto, um pai procriador, senão na medida em que é um pai pela fala. O verbo tem, portanto, como consequência reunir e cindir as duas funções da paternidade, a da nomeação e a da transmissão do sangue. • Qual é a fala coloquial para esse raciocínio? • R. Pai é quem cria!
• Se o biológico designa o genitor, o verbo permite ao pai em seu ideal de dominação afastar sua progenitura da natureza e introduzi-la na cultura. Em outras palavras, o pai, com sua palavra, trás para a criança a passagem da natureza para a cultura; esse pai simbólico promove a metaforização do desejo da mãe. Mas, o que significa isso? • Significa que Eu (a mãe) tenho desejo sexual! Ou seja, a desintronização da mãe. • Ex.: A porta do quarto dos meus pais que sempre ficava aberta, naquela noite, estranhamente se encontrava fechada. Meu Deus, minha mãe faz sexo!!!! • Mas, a quem a mãe deseja, ou seja, com quem ela faz sexo? (Pergunta inconsciente do filho) • R. Com o meu pai! Resposta inconsciente do filho. • Embora os direitos do pai tenham sido cerceados pelas leis da cidade, este processo se intensifica no final do século XIX, quando as interferências do Estado na família começam a limitar e tutelar o poder do pai. É nesse momento que Freud introduz o conceito do Complexo de Édipo. Filho, G. T. C., A ACEPÇÃO DE FAMÍLIA NA TEORIA PSICANALÍTICA: SIGMUND FREUD, MELANIE KLEIN E JAQUES LACAN, 2010.
A família segundo a Sociologia
• Num sentido amplo, para a sociologia, a família é definida como: • um conjunto de pessoas ligadas entre si pelo casamento;
• pela filiação; • pela sucessão de indivíduos descendendo uns dos outros; • organizada em uma estrutura hierárquica; • apresentando três tipos de relações elementares, ou seja, a relação entre o senhor e o escravo, a associação entre marido e mulher e o vínculo entre o pai e os filhos.
Filho, G. T. C., A ACEPÇÃO DE FAMÍLIA NA TEORIA PSICANALÍTICA: SIGMUND FREUD, MELANIE KLEIN E JAQUES LACAN, 2010
A família segundo a Sociologia
• Podemos distinguir três momentos na evolução da família: • Num primeiro momento, a família tradicional ou patriarcal assegura a transmissão do patrimônio;
• Em uma segunda fase, a família moderna, fundada no amor romântico, reforça os sentimentos e desejos na sua origem; • Finalmente, a família contemporânea une, por duração relativa, dois indivíduos com o objetivo de buscar realizações pessoais e sexuais. Seu surgimento vem como consequência do realce dado ao privado, e não, ao estado no último século, fomentando a consideração de funções simbólicas em detrimento da origem mítica do poder paterno. • Ex.: Uma relação afetiva que findou a muito tempo, mas, ainda mantida em função da imagem interna e externa de família estruturada.
A família segundo a Psicanálise: concepções de Freud, Melanie Klein e Lacan Qual a acepção de família na obra de Freud, Melanie Klein e Lacan? Ao serem lidas todas as interpretações da família de Freud à Durkein, podemos concluir que, na clínica, as acepções da família deram conta do fato clínico da “família” até a metade do século XX. Com as modificações apresentadas pela mesma, principalmente da metade do século XX para cá, passamos a receber, no consultório, ou nas instituições, famílias muito diferentes em termos de estrutura e dinâmica, a saber: 1 - famílias monoparentais; 2 - famílias homoparentais; 3 - famílias tutoradas pelo Estado, que passa a legislar sobre os direitos e deveres do pai na sua relação com os filhos, desenvolvendo, assim, uma política de controle; 4 - famílias criadas pela ciência por meio de suas técnicas de inseminação artificial, útero de aluguel e bancos de esperma, entre outras...
Filho, G. T. C., A ACEPÇÃO DE FAMÍLIA NA TEORIA PSICANALÍTICA: SIGMUND FREUD, MELANIE KLEIN E JAQUES LACAN, 2010
A família segundo a Psicanálise: concepções de Freud, Melanie Klein e Lacan A essas modificações na família, somaram-se mais dois fatos: 1- uma mudança na instrumentalização clínica que nos possibilite responder a um atendimento com a família; 2 - a possibilidade e necessidade de exercer a prática psicanalítica em novos contextos, tais como saúde pública, hospitais e escolas. Temos que pensar, diante desse contexto atual, na relação da acepção de família com disciplinas como o Direito, a Psicologia Social e as teorias institucionais, de modo a construir uma prática clínica em novas ações voltadas para a família, como o Programa de Saúde da Família e o Direito da Família, [...] não conseguimos uma acepção clara para o referido termo. Precisamos interrogar se a acepção de família é operativo no século XXI, lembrando inclusive que o trabalho clínico não é mais o do consultório apenas. É necessário que seja sistematizada a acepção de família que responda a essa nova realidade, diferente da do século passado. Ex.: As horas de almoço de uma paciente casada e com filho de seis anos. Filho, G. T. C., A ACEPÇÃO DE FAMÍLIA NA TEORIA PSICANALÍTICA: SIGMUND FREUD, MELANIE KLEIN E JAQUES LACAN, 2010
Psicanálise: uma terapia do inconsciente no estudo da família
• Até tempos relativamente recentes, os grandes pensadores fizeram pouco progresso em obter respostas satisfatórias para tais questões. Mais de cem anos atrás, Sigmund Freud começou a combinar especulações filosóficas com um método científico primitivo. • Como neurologista treinado em ciências, Freud passou a ouvir os pacientes para descobrir que conflitos se encontravam por trás dos variados sintomas deles. • Ouvir, para Freud, se tornou mais do que uma arte; transformou-se em um método, um caminho privilegiado para o conhecimento que seus pacientes mapeavam para ele.
• Freud, de fato, foi o primeiro a desenvolver uma teoria verdadeiramente moderna da personalidade, com base, principalmente, em suas observações clínicas. Teorias da personalidade, p. 3, 2015
Psicanálise: uma terapia do inconsciente no estudo da família
• Freud não é apenas o pai da psicanálise, mas o fundador de uma forma muito particular e inédita de produzir ciência e conhecimento. Ele reinventou o que se sabia sobre a alma humana (a psique), instaurando uma ruptura com toda a tradição do pensamento ocidental, a partir de uma obra em que o pensamento racional, consciente e cartesiano perde seu lugar exclusivo e egrégio. • Seus estudos sobre a vida inconsciente, realizados ao longo de toda a sua vasta obra, são hoje referência obrigatória para a ciência e para a filosofia contemporâneas. • A sua influência no pensamento ocidental é não só inconteste como não cessa de ampliar o seu alcance, dialogando com e influenciando as mais variadas áreas do saber, como a filosofia, as artes, a literatura, a teoria política e as neurociências. Sigmund Freud, A interpretação dos sonhos, introdução, 2017
Psicanálise: uma terapia do inconsciente no estudo da família
• CENA ORIGINÁRIA OU CENA PRIMÁRIA –
• Cena de relação sexual entre os pais, observada ou suposta segundo determinados índices e fantasiada pela criança, que é geralmente interpretada por ela como um ato de violência por parte do pai.
• CENSURA – • Função que tende a interditar aos desejos inconscientes e às formações que deles derivam o acesso ao sistema pré-consciente-consciente. Vocabulário de psicanálise, LAPLANCHE E PONTALIS ORGANIZADO PROF. ELOISE
Psicanálise: uma terapia do inconsciente no estudo da família
• AMNÉSIA INFANTIL –
• Amnésia que geralmente cobre os fatos dos primeiros anos da vida. Freud vê nela algo diferente do efeito de uma incapacidade funcional que a criança teria de registrar as suas impressões; ela resulta do recalque que incide na sexualidade infantil e se estende à quase totalidade dos acontecimentos da infância. O campo abrangido pela amnésia infantil encontraria o seu limite temporal no declínio do complexo de Édipo e entrada no período de latência.
Vocabulário de psicanálise, LAPLANCHE E PONTALIS ORGANIZADO PROF. ELOISE
Psicanálise: uma terapia do inconsciente no estudo da família
• COMPLEXO –
• Conjunto organizado de representações e recordações de forte valor afetivo, parcial ou totalmente inconscientes. Um complexo constitui-se a partir das relações interpessoais da história infantil, pode estruturar todos os níveis psicológicos: emoções, atitudes, comportamentos adaptados.
Vocabulário de psicanálise, LAPLANCHE E PONTALIS ORGANIZADO PROF. ELOISE
Psicanálise: uma terapia do inconsciente no estudo da família
“Em conjunto com todos os outros autores, afirmamos que a terceira peculiaridade do conteúdo onírico consiste no fato de no sonho poderem surgir impressões da primeira infância das quais a memória não parece dispor na vigília. [...] Naturalmente, não é possível descobrir sem análise os motivos que levaram o sonhador a reproduzir justo essa impressão de sua infância”. Sigmund Freud
Sigmund Freud, A interpretação dos sonhos, p. 210, 2017
Psicanálise : uma terapia do inconsciente no estudo da família • Já em 1938, Lacan publicava a síntese da situação da família ocidental no período pré-guerra. No texto, Complexos Familiares, Lacan, utilizando-se dos conhecimentos clínicos sobre o Édipo e de análise das teorias psicanalíticas, antropológicas e sociológicas, nos leva a uma nova compreensão sobre a família e sua evolução. Utiliza as afirmações de Melanie Klein, mas acrescenta ideias do biólogo alemão Jakob Von Meseküll sobre a interiorização do meio em que vive cada espécie. • A interiorização do meio determina a relação de dependência entre o meio e o indivíduo. Em se tratando de família, o que é interiorizado são representações marcadas pelo materno e pelo paterno a que chamamos de imago.
Filho, G. T. C., A ACEPÇÃO DE FAMÍLIA NA TEORIA PSICANALÍTICA: SIGMUND FREUD, MELANIE KLEIN E JAQUES LACAN, 2010.
Psicanálise : uma terapia do inconsciente no estudo da família
• Segundo Lacan, na Psicanálise o sintoma é uma metáfora ou significante através do qual o sujeito expressa sua verdade: "[...] a verdade não tem outra forma senão o sintoma”(importantíssimo entender esse conceito). • Se a produção sintomática tem relações com a verdade, então podemos dizer que o sintoma abarca um "saber" inconsciente sobre o sujeito, "um saber não sabido". • Desse modo, o sintoma "mostra", evidencia ou sinaliza algo que tem uma significação e que está relacionada à história de cada um. Assim, não podemos perder de vista as relações do sintoma com a estruturação subjetiva do sujeito. Família contemporânea e as funções parentais: há nela um ato amor?, 2011.
Psicanálise: uma terapia do inconsciente no estudo da família • O que está na origem do sujeito é o significante, determinando-o em suas palavras, atos e destino. • Devido a sua condição de ser de linguagem, o sujeito depende de significantes que o representem diante do mundo. Por isso, é fundamental para a criança encontrar em seus primeiro grandes Outros alguns significantes aos quais possa se agarrar e construir seu próprio modo de se relacionar com o mundo. • Na teoria lacaniana, o grande Outro é um lugar simbólico, o lugar do inconsciente, a linguagem. Ocupa uma posição mestra na constituição do sujeito. Para a criança, esse lugar é ocupado pelos pais ou substitutos que exerçam a função materna e paterna.
• O discurso familiar é para o sujeito o "tesouro de significantes", lugar de onde retira as significações para sua inscrição no universo simbólico. • A importância do
"mito familiar", diferenciando-o de história familiar.
Uma história que se cumpre no tempo com uma mensagem de sentido. • O mito diz respeito ao lugar da criança na família, sua posição em relação ao campo desejante dos pais, incluindo tanto os processos ou tramas imaginárias (as fantasias e o brincar) como as funções parentais (materna, paterna, dos irmãos). Família contemporânea e as funções parentais: há nela um ato amor?, 2011.
Psicanálise: uma terapia do inconsciente no estudo da família • Muito tem sido discutido sobre as funções parentais e as novas configurações familiares. Na contemporaneidade, os novos modos de relações familiares são apontados como indicadores do declínio de que função? • Função paterna. • Segundo a psicanálise, sobretudo, a lacaniana, qual a função paterna? • A função paterna é a operação de instalação do significante "Nome do Pai" (NP) no lugar do "Desejo da Mãe" (DM), que produz um corte na relação da mãe-filho.
• Lacan, nos "Complexos familiares", publicado em 1938, já antecipava o debate relativo ao declínio da figura do pai na família nuclear burguesa, mostrando existir uma relação entre a carência do pai e a produção das neuroses contemporâneas. Família contemporânea e as funções parentais: há nela um ato amor?, 2011.
Psicanálise: uma terapia do inconsciente no estudo da família • Apesar da essência do conceito de função paterna estar ali presente, é importante ressaltar que o psicanalista, naquele momento, referia-se à imago paterna e não à função paterna. • Que significa imago paterna?
• Imagem paterna. Mas, qual a diferença entre a imago paterna e a função paterna? • A imago encontra-se relacionada à imagem internalizada da figura paterna; • A função diz respeito à ordem simbólica e independe da presença ou ausência do pai. Por função compreende-se o exercício de uma nomeação que permite à criança ter acesso a uma identidade. Em outros termos, as funções nomeiam os implicados no advir do sujeito, ou seja, aqueles que no processo de constituição do sujeito cumprem a função materna, a função paterna e a função de irmãos (RODULFO, 1990). É importante salientar a disjunção existente entre "a pessoa da mãe e do pai" e as funções maternas e paternas. • Ex.: Os “pais” da adolescente. Família contemporânea e as funções parentais: há nela um ato amor?, 2011.
Psicanálise: uma terapia do inconsciente no estudo da família
• Melanie Klein:
• Mantendo-se na órbita dos fundamentos psicanalíticos, Melanie Klein inova a sua técnica, seu alcance e seus objetivos. Ela foi a mulher que desenvolveu uma teoria que enfatizava a relação de nutrição e amorosidade entre pais e filhos; • Do ponto de vista parental, na Psicanálise freudiana, quem é a representação física da estruturação da personalidade infantil? • Melanie Klein desenvolverá uma proposta justamente diferente, a saber, pautada principalmente na representação materna para a estruturação da personalidade;
Teorias da personalidade, p. 94 e 96, 2015
Psicanálise: uma terapia do inconsciente no estudo da família • A teoria das relações objetais de Melanie Klein é fruto da teoria dos instintos de Freud, porém, diferente em pelo menos três aspectos gerais, a saber: • 1 – A teoria das relações objetais coloca menos ênfase nos impulsos fundamentados biologicamente e mais importância nos padrões consistentes das relações interpessoais; • 2 – Contrariamente à teoria psicanalista de Freud, que enfatiza o poder e o controle do pai, a teoria da relações objetais tende a ser mais materna, destacando a intimidade e a criação da mãe; •
3 – Os teóricos das relações objetais veem, em geral, o contato e as relações humanas – não o prazer sexual – como o motivo primordial do comportamento humano.
Teorias da personalidade, p. 94 e 96, 2015
Psicanálise: uma terapia do inconsciente no estudo da família As contribuições de Melanie Klein voltadas ao interesse da origem das psicoses e para as relações arcaicas da criança com a mãe levam a autora a trabalhar a criança pelo material já recalcado, o que só foi possível pela mudança de enfoque da psicanálise em relação à análise de crianças. Isso permite o acesso ao mundo fantasmático de crianças muito novas. Melanie Klein mostra que, ao contrário da afirmação de Freud, é possível analisar a criança. Ela derruba a dificuldade do vocabulário, criando a cura pelo brinquedo e demonstra a possibilidade da transferência infantil, considerando precocemente a questão do supereu. Por esse viés, consegue-se acesso à vida imaginária infantil, suas imagos maternas e seus objetos parciais. Esse conhecimento leva Melanie Klein a centrar seu trabalho nas vivências edípicas dos primeiros meses de vida, em que foca as relações do sujeito com a mãe, como objeto parcial.
Filho, G. T. C., A ACEPÇÃO DE FAMÍLIA NA TEORIA PSICANALÍTICA: SIGMUND FREUD, MELANIE KLEIN E JAQUES LACAN, 2010.
Psicanálise: uma terapia do inconsciente no estudo da família Para Melaine Klein são as relações de ódio presentes nos movimentos de identificação e projeção que determinam a formação do eu. A função paterna presente, desde os primeiros meses na relação mãe-filho, vem na teoria kleiniana complementar e ativar o Édipo da criança. As duas posições, esquizo-paranoide e depressiva estabelecidas pela autora, descrevem as relações de ódio e de amor entre a criança e sua mãe, trazendo à luz da psicanálise todo o material recalcado que Freud só teve acesso em adultos em regressão. Isso centra a questão da família, na obra kleiniana, nos primeiros anos de vida da criança e em sua relação com a mãe, mas sem descartar a posterior vivência do Édipo descrita por Freud.
Filho, G. T. C., A ACEPÇÃO DE FAMÍLIA NA TEORIA PSICANALÍTICA: SIGMUND FREUD, MELANIE KLEIN E JAQUES LACAN, 2010.
Freud
Estes três autores, Freud, Melanie Klein e Lacan, pilares da teoria psicanalítica, apresentam, a nosso ver, três acepçoes de família, com suas semelhanças e diferenças, e, principalmente, formas diferentes de utilização clínica e teórica dessas mesmas acepções. Filho, G. T. C., A ACEPÇÃO DE FAMÍLIA NA TEORIA PSICANALÍTICA: SIGMUND FREUD, MELANIE KLEIN E JAQUES LACAN, 2010.
Psicanálise e família na contemporaneidade • O método psicanalítico, enquanto processo de investigação do inconsciente, permite o estudo de diversas situações nas quais o sujeito está implicado e fornece importantes subsídios para a compreensão da conjugalidade, da familiaridade e dos impasses daí decorrentes. Neste sentido, a teoria psicanalítica contribuiu para a construção dos parâmetros teóricos de uma clínica do casal e da família. • A Psicanálise de Família e Casal surge como uma ampliação da técnica psicanalítica individual a partir do atendimento a pacientes esquizofrênicos e suas famílias, em meados da década de 40. Os psicanalistas que pretenderam incluir esta clínica no contexto da psicanálise apoiaram-se nos conceitos desenvolvidos por Freud, Bion, Klein, Winnicott, Bleger, Pichon-Rivière, entre outros, para elaborar suas propostas. • Alguns psicanalistas americanos, anteriores à década de 40, iniciaram experiências de atendimento a casais. De acordo com Nichols e Schwartz (2007), o primeiro relatório sobre a psicanálise de casais foi elaborado por Clarence Oberndorf na convenção de 1931 da American Psychiatric Association. O autor apresentou a teoria de que os casais teriam neuroses interligadas e, portanto, seria melhor o tratamento conjunto. Em 1948, no New York Psychoanalitic Institute, ocorre a primeira publicação de um relato de terapia conjugal.
Gomes, C. I., Levy, L., Psicanálise de família e casal: principais referenciais teóricos e perspectivas brasileiras, 2009.
Psicanálise e família na contemporaneidade • Embora o grupo de Palo Alto tivesse suas raízes fincadas na psicanálise individual, aos poucos foram se distanciando do entendimento dos mecanismos inconscientes presentes na família e se encaminhando para o estudo da vertente relacional entre os membros do grupo, usando a análise da comunicação como o principal instrumento de trabalho clínico com essa população. Assim, é inaugurado um novo referencial de atendimento às famílias e casais, a Abordagem Sistêmica, que encara a família como um conjunto homeostático, ou que busca a homeostase entre seus membros, transformando a noção de patologia familiar em disfunção familiar.
• Ackerman (1969), também considerado um dos pioneiros na abordagem psicanalítica de trabalho com famílias, foi muito criticado pelos adeptos da psicanálise individual, já que seu modelo de família era semelhante ao modelo psicanalítico de um indivíduo ampliado. Por outro lado, sua atuação clínica envolvia uma certa diretividade na medida em que via o terapeuta familiar como alguém capaz de provocar e trazer à tona questões conflitivas e segredos familiares, os quais de outro modo não seriam elucidados. Sua contribuição ao campo da terapia familiar foi valorosa, pois, juntamente com Don Jackson, cofundou a primeira revista específica da área – Family Process, em 1962. Gomes, C. I., Levy, L., Psicanálise de família e casal: principais referenciais teóricos e perspectivas brasileiras, 2009.
Psicanálise e família na contemporaneidade • Em Londres, tomando como base a teoria das relações objetais de Klein, a Tavistock Clinic foi um espaço de nascimento da psicanálise de família e casais. Desde o final da década de 40, alguns importantes analistas, com formação individual, oriundos dos principais Institutos da época (Instituto de Psicanálise de Londres, Sociedade de Psicanálise Analítica, Associação Britânica de Psicoterapeutas e Instituto de Psicoterapia, entre outros) compuseram o “staff” de uma instituição pioneira no interesse de aplicar os conceitos da psicanálise individual para o estudo e entendimento da família e casal, a qual mais tarde se denominou Tavistock Institute of Marital Studies (TIMS). Trata-se hoje de um centro internacional de formação de psicoterapeutas de família e casal, bem como, de pesquisadores – clínicos na área. • Foi muito profícua a produção científica realizada na Tavistock Clinic. Principalmente a partir da década de 60 grandes nomes se firmaram com projeção mundial sendo que alguns autores são lembrados até hoje. Destacamos aqui os trabalhos de Pincus e Dare (1978) fundamentando a pratica clínica com famílias e casais em estudos que revelavam um profundo interesse na trama inconsciente dos sentimentos, desejos, crenças e expectativas que unem os membros de uma família entre si, enfatizando os efeitos dos segredos e dos mitos familiares na dinâmica constitutiva de uma família. Gomes, C. I., Levy, L., Psicanálise de família e casal: principais referenciais teóricos e perspectivas brasileiras, 2009.
Psicanálise e família na contemporaneidade • O grupo argentino, na América Latina, comandou a construção dos principais referenciais teóricos da Psicanálise Vincular, formando importantes Institutos e, mais recentemente, um Programa de PósGraduação nessa área. Possuem uma extensa produção bibliográfica difundida por toda a América do Sul. Seus expoentes máximos são Berenstein e Puget (1993, 2004). Contudo, esses autores são unânimes em afirmar a forte interferência que sofreram do pensamento de Bleger e, fundamentalmente, de PichonRivière. • É no pensamento de Pichon-Rivière, desenvolvido prioritariamente entre as décadas de 80 e 90, que encontrávamos as bases para a compreensão da doença mental na família através da noção de porta voz ou depositário da patologia familiar, mas que significa isto? • Significa que um dos elementos do grupo familiar é escolhido para ser o depositário de toda a doença daquele grupo, o paciente identificado, já que a família como um todo dificilmente se colocava na categoria de ‘paciente’ (Ramos, 1992). • Os psicanalistas argentinos propõem uma ampliação nos paradigmas da psicanálise individual como uma forma de poder abarcar as transformações que foram ocorrendo ao longo do tempo envolvendo novas formas de psicopatologias e de inter-relações com o Social. Em decorrência desse ponto de vista, a própria expansão da psicanálise como possibilidade de intervenção terapêutica fez-se necessária.
Gomes, C. I., Levy, L., Psicanálise de família e casal: principais referenciais teóricos e perspectivas brasileiras, 2009.
Psicanálise e família na contemporaneidade
• Já em 1983, Soifer apontava a presença do bode expiatório da família – a criança – e a presença de situações de crise familiares – luto, doença orgânica, desemprego, mudanças culturais, prisão de um dos membros e formas neuróticas de funcionamento do grupo – como critérios indicativos para a terapia familiar.
Gomes, C. I., Levy, L., Psicanálise de família e casal: principais referenciais teóricos e perspectivas brasileiras, 2009.
O sintoma da criança e a dinâmica familiar: orientação de pais na psicoterapia infantil • No início da vida, o ser humano apresenta-se como um ser extremamente dependente do ambiente e das pessoas que o circundam, ainda incapaz de comunicar suas necessidades via linguagem verbal.
• Percebe-se, então, a importância do meio, caracterizado inicialmente pela família, para o desenvolvimento emocional. Na falta de provisões ambientais adequadas, patologias diversas podem se desenvolver e para Winnicott a“ sintomatologia da criança reflete doença em um ou ambos os pais ou na situação social, sendo isso que necessita de atenção”. • As estratégias de intervenção podem variar desde: • 1 - consultas terapêuticas pontuais com a criança; • 2 - consultas terapêuticas pontuais com familiares; • 3 - casos em que se observa a necessidade de uma psicoterapia mais demorada ou intensa.
Se, B. M., Souza, P. G. C., Arruda, S. L. S., O sintoma da criança e a dinâmica familiar: orientação de pais na psicoterapia infantil, 2008.
Psicoterapia com famílias: uma abordagem psicanalítica • A psicoterapia de crianças é um instrumento psicoterapêutico relevante. Por funcionar como u “ m trabalho preventivo que propicia a construção de bases mais sólidas para a integração mental”,previne a instalação e complicação de perturbações psíquicas diversas. • Nota-se a valorização do papel da família como promotora de saúde entre seus membros ou também de perturbações, com autores que argumentam que disfunções na família podem ocasionar sintomas nos seus integrantes. • Há situações em que a linguagem verbal torna-se insuficiente para comunicar algo e os comportamentos assumem esta função de comunicação. Apesar de não culpabilizar os pais, considera que “os pais e filhos de tenra idade são dinamicamente participantes, indissociados pelas suas ressonâncias libidinais inconscientes”.
• Nos casos em que a d“ oença”da família emerge via sintoma da criança, defende-se a inclusão de outro terapeuta que se encarrega dos pais (Ferro, 1995) e para Zornig (2001), não é possível excluir os pais da análise de seus filhos, já que “ o sintoma da criança desenrola-se nos interstícios do discurso parental” . Sé, B. M., Souza, P. G. C., Arruda, S. L. S., O sintoma da criança e a dinâmica familiar: orientação de pais na psicoterapia infantil, 2008.
Psicodinamismos da família com crianças • Ao se buscar atendimento para o filho, os pais podem esperar críticas e acusações, devido ao alto valor dado pela sociedade ao atendimento infantil e aos cuidados parentais adequados, “culpados em relação a um dano real ou imaginário causado à criança, mas também com um sentimento de vergonha em relação ao que expor”.
• Percebe-se, então, a importância dos pais continuarem a explorar as dificuldades em relação à criança após a indicação da terapia individual desta. • Nas propostas de intervenções com os pais de crianças em psicoterapia, o psicólogo ou psicanalista, ao desenvolver o trabalho de orientação de pais, exerce a função de conter angústias, tanto as da criança quanto a dos pais. • Ao terem suas angústias contidas pelo terapeuta, isto é, ao terem suas angústias ameaçadoras ou turbulentas transformadas em apaziguamento e compreensão (insight), os pais podem, por identificação com o terapeuta, desempenhá-la junto ao filho.
Sé, B. M., Souza, P. G. C., Arruda, S. L. S., O sintoma da criança e a dinâmica familiar: orientação de pais na psicoterapia infantil, 2008.
Psicanálise e família na contemporaneidade do Brasil • A psicanálise de família e casal no Brasil, além da proximidade física e de algumas semelhanças com a Argentina, como a situação político-econômica, não conseguiu formar instituições psicanalíticas brasileiras capazes de promover intercâmbio entre profissionais da área e de proporcionar formação clínica e teórica nos moldes dos nossos vizinhos. Talvez pelo impedimento da língua? Pela geopolítica característica de nosso país, onde o conhecimento psicanalítico é setorizado, ocorrendo principalmente na região Sudeste e Sul? Essas são questões que merecem esforços contínuos para serem suficientemente respondidas.
• Os profissionais que pesquisam e trabalham na clínica com o referencial da psicanálise de família e casal têm uma vivência bastante solitária, reunindo-se em pequenos grupos, alguns dentro das Universidades e outros pertencentes a Sociedades de Psicanálise de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, sem uma organização que permita e facilite a troca de experiências. Essa realidade ficou muito visível em Montreal – no Canadá, 2006, quando da realização do II Congresso Internacional de Psicanálise de Família e Casal e da criação da Associação Internacional de Psicanálise de Família e Casal (AIPFC), onde nossa representatividade foi mínima, principalmente, quando comparada com a delegação Argentina. Além disso, um dos objetivos lá propostos, a criação de uma Associação Brasileira de Psicanálise de Família e Casal num prazo de dois anos, até o momento, tem se mostrado tarefa impossível de ser concluída. Gomes, C. I., Levy, L., Psicanálise de família e casal: principais referenciais teóricos e perspectivas brasileiras, 2009.
Psicanálise e família na contemporaneidade do Brasil • Em contrapartida, o referencial Sistêmico desenvolveu-se de forma bem organizada em nosso país. Há muito existe a Associação Brasileira de Terapia Familiar (ABTF) que, nos últimos eventos realizados, aceitou a apresentação de trabalhos de orientação psicanalítica.
• Féres-Carneiro (1980, 1996), uma das introdutoras da psicoterapia de família e casal no Brasil, atua desde o início da década de 80, principalmente no âmbito universitário (PUC/Rio), tendo sido orientanda de Mathilde Neder (PUC/SP), pioneira na abordagem. • Alguns colegas psicanalistas fizeram formação na Tavistock e trouxeram suas experiências para cá e se tornaram divulgadores desse eminente centro britânico. Citaremos o trabalho de Meyer (1987), utilizando-se do referencial Kleiniano na terapia com famílias. • Esse autor propõe o estudo da dinâmica da organização familiar, vista como expressão do entrelaçamento de várias relações objetais inter-relacionadas, cujo objetivo é desvendar a rede oculta de identificações projetivas que compõe a família e a conscientização desta frente à demanda por tratamento que a distancie do paciente identificado. A proposta terapêutica, assim aceita, pode tornar-se ameaçadora na medida em que promove um ataque a uma dada organização do grupo e o terapeuta é caracterizado alternadamente, pelos membros da família, como dotado da vontade e do poder tanto de desestabilizar quanto de salvar a família. Gomes, C. I., Levy, L., Psicanálise de família e casal: principais referenciais teóricos e perspectivas brasileiras, 2009.
Psicanálise e família na contemporaneidade do Brasil • Zimerman (1993/2000) pontua que cada vez mais casais procuram tratamento, alegando como principais motivos manifestos os seguintes:
1 - Problemas na comunicação; 2 – Problemas na sexualidade; 3 - Problemas com os filhos; 4 - A difusão da terapia individual, abrangendo cada vez um número maior de indivíduos, que pode causar uma ruptura no equilíbrio neurótico da dupla conjugal quando um deles não acompanha a mudança e o crescimento emocional do outro;
5 - E, mais frequentemente, a deterioração gradativa do casamento em função do desequilíbrio causado pela emancipação da mulher nem sempre bem entendido pelo cônjuge e nem por ela mesma. Ex.: Se eu carrego a porta, será que eu preciso de homem?
Gomes, C. I., Levy, L., Psicanálise de família e casal: principais referenciais teóricos e perspectivas brasileiras, 2009.
Novas formas do amor: o casamento e suas alternativas na contemporaneidade • Por intermédio dos meus contatos com os jovens fiquei conhecendo muito bem as incertezas, os temores, a bela e sincera desenvoltura, as alegrias e frustrações que lhes assinalam as tentativas para construir entre o homem e a mulher um tipo de associação que encerre um elemento qualquer de permanência – não necessariamente uma permanência que dure a vida inteira, mas, de qualquer maneira, algo muito mais significativo do que uma união transitória. • Desafiaram-me, há algum tempo, a tentar descrever as relações humanas tais como poderiam existir no ano 2000. [...] Aqui estão as tendências que me parecem mais prováveis do casamento e das suas alternativas: • 1 - É provável que continue a tendência para uma liberdade maior nas relações sexuais, em adolescentes e adultos, quer isso nos assuste ou não; • 2 – A atitude libertina está desaparecendo e a atividade sexual está sendo encarada como parte de uma ligação, capaz de oferecer prazer e progresso;
• 3 – A atitude de posse – a posse de outra pessoa – que historicamente tem dominado o convívio sexual propende a diminuir consideravelmente;
Rogers, C. R., Novas formas do amor: o casamento e suas alternativas, p. 9, 15, 16 e 17, 1976.
Novas formas do amor: o casamento e suas alternativas na contemporaneidade
• 4 – É evidente que haverá variações enormes na qualidade das relações sexuais;
• 5 – Por volta do ano 2000 será perfeitamente possível assegurar a inexistência de filhos numa união; • 6 – Todos os indivíduos terão assegurado a sua permanente esterilidade durante a adolescência; • 7 – A fecundidade partirá de decisão amadurecida entre o casal;
• 8 – O acasalamento feito com o auxílio de computadores, dos cônjuges será [...] utilíssimo para um indivíduo encontrar o companheiro; • 9 – Algumas uniões temporárias assim formadas poderão ser legalizadas por um tipo de casamento, sem nenhum tipo de compromisso permanente, sem filhos (por acordo mútuo) e – se a união se romper – sem acusações legais, sem a necessidade de processos judiciais, sem pensões alimentícias; • 10 – A relação entre os parceiros só terá permanência na medida em que satisfizer as necessidades emocionais, psicológicas, intelectuais e físicas dos parceiros;
• 11 – Se um casal se sentir profundamente ligado e quiser continuar junto para ter filhos, o seu consórcio será de um tipo novo e mais solidário. Cada cônjuge aceitará as obrigações que supõem a geração e a criação dos filhos; Rogers, C. R., Novas formas do amor: o casamento e suas alternativas, p. 9, 15, 16 e 17, 1976.
Novas formas do amor: o casamento e suas alternativas na contemporaneidade • 12 – Poderá haver um assentimento mútuo quanto à necessidade ou não da fidelidade sexual no casamento; • 13 – É possível que [...] um casal só decida ter filhos quando tiver dado provas de uma afeição profunda e madura, que lhe propenda a subsistir; Ex.: A manutenção financeira por até dois anos e garantia de emprego à mulher parida na Nova Zelândia (as diferenças culturais). • 14 – A comunicação será mais franca e real, em que cada qual se empenha em promover o desenvolvimento pessoal do outro, e em que exista um entranhado apego mútuo, base sólida para a educação de filhos num ambiente de amor. [...] Dentro de uma estrutura legal ou não; • 15 – Podemos dizer, sem faltar à verdade, que grande parte desse contínuo já existe. Mas no dia em que a sociedade tiver plena consciência dele e o aceitar abertamente, toda a sua natureza se modificará. Suponhamos que se admita francamente que alguns “matrimônios” não passam de uniões mal resolvidas e transitórias, que se romperão. Se não se permitirem filhos nesses casamentos já não será vista como uma tragédia. A dissolução da união, embora penosa, não será uma catástrofe social e a experiência talvez seja um passo necessário ao desenvolvimento pessoal dos dois indivíduos em sua marcha para a plena maturidade. Rogers, C. R., Novas formas do amor: o casamento e suas alternativas, p. 9, 15, 16 e 17, 1976.
Atividade presencial (Responda as quatro questões abaixo livremente e como lhe aprouver.) Valor: 2,0 pontos
• 1) Que é família?
• 2) Que é contemporaneidade?
• 3) Há diferença entre a família da época em que você nasceu e a família da atualidade? Se sim, quais?
• 4) Quais contribuições a psicanálise pode trazer para o estudo da família na contemporaneidade?
Psicanálise e Família na Contemporaneidade • Que é família?
• 1 - Conjunto de todos os parentes de uma pessoa, e, principalmente, dos que moram com ela. • 2 - Conjunto formado pelos pais e pelos filhos. • 3 - Conjunto formado por duas pessoas ligadas pelo casamento e pelos seus eventuais descendentes.
• 4 - Conjunto de pessoas que têm um ancestral comum. • 5 - Conjunto de pessoas que vivem na mesma casa. • 6 - Raça, estirpe. • 7 - Grupo de animais, de vegetais, de minerais que têm caracteres comuns. • 8 - Grupo de elementos químicos com propriedades semelhantes. • 9 - de família: familiar; íntimo; sem cerimônia. • 10 - família miúda: filhos pequenos. • 11 - sagrada família: representação de Jesus com a Virgem Maria e S. Dicionário Aurélio On-line
Psicanálise e Família na Contemporaneidade • Que é contemporaneidade?
• 1 - Que é relativo ao período histórico iniciado em 1789 com a Revolução Francesa. • 2 - Que ou quem é do mesmo tempo ou da mesma época. • 3 - Que ou quem é do tempo atual.
Dicionário Aurélio On-line
A expressão "contemporaneidade" será utilizada nesse artigo para indicar o tempo da atualidade. Apesar dos inúmeros termos e posições teóricas a respeito da "modernidade" e da "pósmodernidade", não temos a intenção de adentrar em tais questões. Filiamo-nos ao pensamento de autores que compreendem ser a contemporaneidade um tempo de transição paradigmática no campo epistemológico e social, que comporta grandes turbulências e desregulamentações (BOAVENTURA, 1996) e no qual ainda vivemos as consequências da modernidade (GIDDENS, 1991). A ideia de "fim da história", da "pós-modernidade" ou da profunda transformação nos modos de convívio humano e nas condições sociais de vida atual mostra ser o efeito da nova modernidade na condição humana (BAUMAN, 2001). Família contemporânea e as funções parentais: há nela um ato amor?, 2011.
Referências •
Ariès P., História Social da Criança e da Família, LTC – Livros Técnicos e Científicos S.A., rio de Janeiro, 1981.
•
Feist, J,. Teorias da personalidade / Jess Feist, Gregory J. Feist, Tomi-Ann Roberts ; tradução: Sandra Maria Mallmann da Rosa ; revisão técnica: Maria Cecília de Vilhena Moraes, Odette de Godoy Pinheiro. – 8. ed. – Porto Alegre : AMGH, 2015.
•
Filho, G. T. C., A ACEPÇÃO DE FAMÍLIA NA TEORIA PSICANALÍTICA: SIGMUND FREUD, MELANIE KLEIN E JAQUES LACAN, 2010. Artigo disponível em file:///D:/Artigo%20Fam%C3%ADlia%20e%20Psican%C3%A1liseDissertacao_Oficial.pdf , acesso em 13/10/2018.
•
Freud, S., A interpretação dos sonhos, volume 1 / Sigmund Freud; tradução do alemão de Renato Zwick, revisão técnica e prefácio de Tania Rivera, ensaio biobibliográfico de Paulo Endo e Edson Souza. – Porto Alegre, RS: L&PM, 2017.
•
Gomes, C. I., Levy, L., Psicanálise de família e casal: principais referenciais teóricos e perspectivas brasileiras, 2009. Artigo disponível http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-03942009000100013, acesso em 07/10/2018.
•
Rogers, C. R., Novas formas do amor: o casamento e suas alternativas; tradução de Octavio Mendes Cajado, 3 edição. Rio de Janeiro, J. Olympio, 1976.
•
Se, B. M., Souza, P. G. C., Arruda, S. L. S., O sintoma da criança e a dinâmica familiar: orientação de pais na psicoterapia infantil, 2008. Artigo disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-24902008000200009 , acesso em 13/10/2018.
•
Vitorello, A. M., Família contemporânea e as funções parentais: há nela um http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752011000100002, acesso em 12/09/2018.
•
Vocabulário de psicanálise, LAPLANCHE E PONTALIS ORGANIZADO PROF. ELOISE
ato
amor?,
2011.
Artigo
disponível
em
em