Cartas de Belém

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José Sepúlveda

Poesia


Índice Ficha Técnica Cartas de Belém Jesus Cristo O Autor A Cruz Profecia Algures, na cidade Numa estrebaria …e do amor nasci Um tal Herodes O Massacre A volta do Egito Então, chorei! João Batista A tentação O primeiro milagre Pescadores Homens Entrada Triunfal Cinco mil Deixai vir a mim… Eu sou a Rocha Nicodemos Ensina-nos a orar Uma viúva humilde Zaqueu A pecadora

2 3 4 5 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48

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A samaritana Os vendilhões Na casa de Simão Grande a sua fé Maria e Marta Uma attitude vil Um momento triste No horto … e o galo cantos Simão de Cirene O quarto Rei Na cruz O ladrão Vitória Vou voltar

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Parábolas O bom samaritano O trigo e o joio O filho pródigo Os talentos O bom pastor A Videira O semeador As dez virgens Sobre a Rocha

80 82 84 86 88 90 92 94 96 98


Ficha Técnica Título

Cartas de Belém

Autor

José Sepúlveda

Capa Arranjo de José Sepúlveda Revisão de texto Amy Dine Editado em Ebook em Novembro de 2018 https://issuu.com/correiasepulveda

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José Sepúlveda

Cartas de

Belém Poesia

Escuta, ó Deus, escuta a minha prece E vem fortalecer os braços meus, Eu posso tudo em quem me fortalece E sei que a minha Força és tu, meu Deus!

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Jesus Cristo

Jesus, vi-te na cruz em sofrimento Exangue, a expiar o meu pecado... Senti-me constrangido e num momento Um lancinante grito solto ao vento Sabendo-te inocente e maltratado!

Curvado, em oração, a ti clamei, Rasguei as minhas vestes e chorei Indignado com tamanha dor! Senhor, muito obrigado...Aqui, sozinho, Tento encontrar nas pedras do caminho O lenho em que expiraste em meu favor!

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O Autor José Sepúlveda, nascido em Delães, Vila Nova de Famalicão, hoje a morar em Vila do Conde. Começou a escrever poesia cerca dos doze anos. No decorrer da sua carreira profissional trabalhou primeiro, como funcionário público e depois, durante 35 anos, como empregado bancário. Publicou em alguns jornais e revistas ao longo da sua carreira, actividade que continua a manter. Amante da literatura, administra os grupos do facebook Solar de Poetas, Poetas Poveiros e Amigos da Póvoa, Casa do Poeta, SolarTv-online, Solarte e Solar-Si-Dó. Apoia vários projetos literários, promovendo a edição de autores em início de carreira, organiza e participa com regularidade em Saraus e Tertúlias, organizando e dando o rosto ao programa Mar-à-Tona em poesia, dos Poetas Poveiros e Amigos da Póvoa. Tem prefaciado e apresentado alguns autores. Participou em diversas Antologias portuguesas, brasileiras e italianas. Publicou dois livros de poesia e possui na sua Biblioteca de Ebooks disponíveis mais de vinte livros seus (poesia, música, genealogia, história e outros), além de muitas coletâneas de poesia, que organizou e apoiou, através dos grupos que criou e administra no Facebook. Mantém ainda publicações nos seus Blogs O Canto do Albatroz e Família Sepúlveda em Portugal. Produziu alguns trabalhos pessoais e participou noutros coletivos com colegas da Universidade Sénior do Rotary Club da Póvoa de Varzim. Divulga e apoia outros grupos e programas de rádio cuja temática seja poesia.

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A cruz

Olhando a cruz incólume e austera, Revejo em cada veio o sangue, a dor, Que numa tarde dessa primavera Ali gravei por ti, por teu amor. Naquela cruz o sonho e a quimera Vi sucumbir em lânguido torpor, Às mãos de quem vivia sempre à espera, De me sentir Amigo e Salvador! Naquela cruz, envolto em agonia, Às mãos dos meus carrascos, sucumbia E luz do mundo, treva me tornei! Naquele rude lenho perecia Tão só e triste…E ao terceiro dia A vida renasceu... Ressuscitei!

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Profecia

Miqueias, o profeta, nos dizia Que um dia, na cidade de Belém, Do ventre de uma virgem nasceria Por Deus gerado, numa gruta além. "E tu, Belém Efrata, o teu destino, Se bem que a mais pequena de Judá, Em ti irá nascer o Deus Menino Que a virgem numa gruta à luz dará." Por todos os recantos de Israel O povo quis chamar-me Emanuel Que é Deus connosco - diz a profecia. E toda a gente ali foi acorrer A visitar-me, o filho de mulher, Que um dia o povo seu libertaria!

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Algures, na cidade


Algures, na cidade

Belém Efrata vive em alvoroço Com todo aquele estranho movimento. Bem tento compreender, mas não, não posso, Razões para mais um recenseamento. Cruzei a Galileia, a Samaria, E encontrei por fim Jerusalém. Nao sei porquê, mas algo me dizia Que havia de seguir para Belém. Meu pai bem procurava uma estalagem Aonde repousar dessa viagem Mas tudo estava cheio, não havia… Cansados, sem saber o que fazer, Com minha mäe exausta e a sofrer, Pousamos numa humilde estrebaria.

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Numa estrebaria


Numa estrebaria

Naquela estrebaria, uma vaquinha Vivia acompanhada dum burrinho E com aquela palha que lå tinha Melhor se aconchegavam no seu ninho. Mas quando pela noite a porta abria, O burro levantou-se e a zurrar Nos dava as boas-vindas pois sentia O quanto eu precisava repousar. Durante toda a noite uma estrelinha Descera sobre a humilde choupaninha E iluminava tudo ao seu redor. E logo um belo som angelical Entrava p’lo postigo e o local Se enchia de ternura e de louvor.

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…e do amor nasci

Durante toda a noite e madrugada, Mãezinha contorcia-se com dor, Olhava para o ventre e aguardava O filho que lhe dera o Criador. Vagidos magoados. Triunfante, Mãezinha viu chegada a minha hora E do amor nasci e num instante A nova se espalhava por lá fora. E logo aquela voz angelical Anunciava em todo esse local Que um filho divinal ali nascia. Pastores, camponeses, muita gente, Queriam, cada qual com seu presente, Saber das Boas Novas de Alegria!

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Um tal Herodes

Enquanto essa noticia se espalhava, Lá longe, uma estrelinha resplendente Ao longo da colina anunciava Aquela Boa Nova a nobre gente. E Belchior, Gaspar e Baltazar, Ao vê-la, se meteram a caminho E nessa sua marcha singular Vieram adorar-me, o Deus Menino. Com ouro, incenso e mirra na bagagem Seguiram essa estrela e na viagem Quiseram visitar Jerusalém. Herodes lá estava à sua espera E ao saber que um novo Rei nascera Logo intentou matar-nos, filho e mãe.

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O massacre

Herodes, quando soube que eu nasci, Ficou incomodado, pois sabia Que a gente que na gruta recebi Ao longo desses dias me seguia. Um dia, era bem cedo, surpreendi Meu pai a albardar nosso burrito. E perguntei porquê: - Vá, vem daí, Fujamos e depressa p'ró Egito. Logo, um Centurião e a sua gente Entrou pela cidade e, cruelmente, Matou quanta crianca ali havia. E cada pobre mãe, em pranto e dor, Chorava amargamente e num torpor Exangue pelo sangue que corria.

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A volta do Egito

Ainda no Egito, em sua lida, Trouxeram a meus pais a boa nova Que Herodes já partira desta vida E terminara aquela dura prova. Passámos algum tempo na Judeia Mas, sem trabalho, regressar urgia De novo ao nosso lar na Galileia Ao aconchego da carpintaria. Mas ao chegar, foi grande a confusão, Olharam-nos com ar de acusação, E minha mãe tratavam com desdém. Meu pai partiu cansado desta vida E minha mãe, mais triste, ressentida, Voltava um dia pr'a Jerusalém.

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Então, chorei

Naquele tempo, lá na Galiléia, Andava o meu paizinho, o carpinteiro, A trabalhar com sua alma cheia De graça e de louvor o dia inteiro. Meu pai, quando descia p'rá cidade Para se abastecer de pão e vinho Levava-me no peito e, na verdade, Trazia para mim um presentinho. Um dia, do presente se esquecia E quando para si, feliz, corria Gritando: - O meu presente? - e o abracei, Meu pai olhou-me e disse com carinho: -Não trouxe o teu presente, meu filhinho! E, olhando para si, triste, chorei…

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João Batista

Um dia, com André e com Simão, João, Tiago, lá da Galileia Descemos pelas margens do Jordão Até chegar a terras da Judeia. Ali, junto ao Jordão, outro João Fazia apelo ao arrependimento E ao Deus do Céu clamava por perdão, Criando assim um grande movimento. Quando me viu, gritou: - Eis o Cordeiro Que livra do Pecado, o Verdadeiro, Segui os passos seus, Sua Palavra. Pedi me batizasse. Com assombro O Espírito desceu sobre o meu ombro Na forma de uma pomba imaculada.

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A tentação

Um dia, retirei-me p'ró deserto A fim de estar com Deus em comunhão E o vil satã, que andou dali tão perto, Viu-me com fome. E veio a tentaçäo: - Se o teu Senhor é esse Deus de Amor, Que as pedras se transformem em manã! E logo respondi sem ter temor: - Nem só de pão o homem viverá! Mostrou-me as maravilhas do lugar: - Os reinos deste mundo te vou dar Se tu me adorares, aqui, prostrado. - Afasta-te de mim, vil satanás. Apenas ao teu Deus adorarás Agora e sempre, aqui e em qualquer lado!

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O primeiro milagre

Um dia, ainda bem cedo, p'la manhã, Nós fomos assistir a um casamento Que havia na cidade de Canã E pôs toda a cidade em movimento. E quando pela noite, lá num canto A ver tudo que estava a acontecer, Alguém dizia, aflito, em alto pranto: - O vinho se acabou, o que fazer? Ao ver tal impotência, nesse instante, A minha mãe olhou-me suplicante, Com seu olhar tão terno me chamou. E eu disse: - Enchei os vasos de água pura. Parei, clamei ao Céu na noite escura E logo a água em vinho se tornou.

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Pescadores de homens

O tempo passa. Agora, Nazaré Não tinha para nós sentido algum E eis-nos perto de Genesaré Na cercania de Cafarnaum. Um dia caminhava pela areia, Simão e André andavam a pescar; A faina fraca, o peixe que escasseia, Fá-los temer a vida lá no mar. E eu disse lhes: - Lançai a vossa rede, Ouvi a minha voz, ouvi e vê-de E as águas vão ouvir a minha lei. E o peixe parecia não ter fim. Depois lhes disse: - Vá, vinde após mim E pescadores de homens vos farei!

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Entrada triunfal

Quando cheguei montando num burrinho, Jerusalém gritava com fulgor E anunciava, ao longo do caminho: - Chegou por fim o Rei Libertador! E foram-me seguindo com carinho, Com capas espalhadas pelo chão E ramos de palmeira. E eu, sozinho, Tão cheio de alegria e emoção. O povo, acumulado ao meu redor, Cantava esfuziante, com louvor, E via em mim a sua liberdade. Enquanto pelas ruas caminhava, Essa noticia linda se espalhava Por todos os recantos da cidade.

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Cinco mil

São mais de cinco mil daquela gente Que segue os passos meus por toda a parte E desde o sol que nasce ao sol poente, Em gestos de ternura se reparte. É longa esta jornada, o sol abrasa, Não tarda e logo a noite vai chegar. ⁃ Meu Mestre, vais mandá-los para casa Sem algo que os possa saciar? Olhei com olhar firme. Perguntei: ⁃ Que temos p'ra comer? - Bem, eu não sei! Somente um pão, dois peixes, coisa assim.

⁃ Juntai os cestos, logo os vou encher! E quantos mais havia p'ra trazer Do alimento nâo se via o fim!

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Deixai vir os meninos

Naquele dia, perto da cidade, Falava para a grande multidão Do grande amor do Pai e da bondade Que vive em cada humilde coração. Tão ávida de ouvir, o mar de gente Ao meu redor parece não ter fim. E ao ver tanta criança à nossa frente, Simão se aproximou e disse assim: - Senhor, hei-de expulsar a pequenada Que desde cedo, ao longo da jornada, Não deixa de seguir os passos teus? E disse: - Não perturbem meus meninos, Deixai vir até mim os pequeninos Pois deles é o reino lá dos céus!

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Eu sou a Rocha

- Homens de pouca fé, porque arrazoais? Não vos lembrais do peixe, o parco pão Que multipliquei e a fome que aos mortais No monte eu saciei em profusão?

- Quem diz que eu sou a imensa multidão? - Tu és a Rocha, o Filho do Deus vivo! - Ó, bem-aventurado és tu, Simão! Quem estiver contigo, está comigo! - As Chaves do meu Reino te vou dar E aquele que ao Rebanho se chegar, Será também meu filho. Que assim seja! - Teu nome é Pedro, a pedra, o inconstante; Contigo em mim - a Rocha - doravante, Eu vou edificar a minha Igreja...

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Nicodemos

Na seita Farisaica um mestre havia Saído dentre os príncipes judeus Que oculto pela noite, certo dia, Me veio perguntar segredos meus. - Rabi, nós bem sabemos, tu és Mestre, Jamais alguém faria coisas tais Se o nosso Pai, o nosso Pai celeste Não desse forças sobrenaturais. E logo assim lhe disse: - Na verdade, Quem não nascer de novo, nada sabe Nem pode ver o reino lá dos céus. - Nascer? Voltar ao ventre de mulher? - Quem crer em mim, de novo há-de nascer E assim ganhar o galardão de Deus!

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Ensina-nos a orar

Um dia, num recanto do jardim, Parámos para à sombra descansar; E alguns amigos vieram até mim Pedir: - Senhor, ensina-nos a orar! E eu orei: - Ó Pai da Eternidade, Santificado seja o nome Teu, Venha o Teu Reino e que a Tua vontade Se faça aqui na Terra e lá no Céu. O pão de cada dia nos vem dar, Ofensas minhas possas perdoar E assim consiga perdoar também. Não deixes, Pai, que caia em tentação Mas vem limpar meu frágil coração, Te quero suplicar, meu Deus, Amém.

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Uma viúva humilde

Essa viúva frágil que ali vinha E se prostrava aos pés do seu Senhor, Agradecia tudo o que não tinha E a Graça de sentir Seu grande amor. E via tanta gente ao seu redor A abrir os seus alforges e entregar Ofertas liberais ao Criador A fim de um dia o céu vir a alcançar! Meteu a mão no bolso, procurou, E eis que lá no fundo ela encontrou Aquela parca e fútil moedinha. E foi com humildade e devoção Que abriu de par-em-par seu coração E entregou ao Pai tudo o que tinha.

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Zaqueu

Havia um homem entre os publicanos Que há muito me queria conhecer, Como era baixo e apesar dos anos, Subiu a uma figueira p'ra me ver. Quando eu passei, atento, perscrutava E eu perguntei: - Que fazes tu, Zaqueu? O povo, surpreendido, murmurava Como é que conhecia o nome seu. - Desce daí depressa, meu amigo Pois hoje me compraz jantar contigo, Falar-te de meu Pai, do Seu Amor. Desceu e me saudou alegremente E logo cochichava aquela gente: - Ser hóspede de um homem pecador!

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A pecadora

Andava na cidade atarefado A dar a Boa Nova a toda a gente, Com Pedro, com João, André, Tiago, Num gesto apaixonado. De repente, Alguém trouxe até nós uma mulher Que tinha muito má reputação. E perguntou: - Meu Mestre, que fazer? Foi apanhada em plena transgressão. - A Lei nos diz que seja apedrejada. Baixei-me. E ao escrever cada palavra, Um após outro foi-se com seus ais. E assim lhe disse, ao vê-la em grande dor: - Aonde está o teu acusador? - Nao sei ... - Nem eu! Vai lá, não peques mais.

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A Samaritana

Por terras de Sicar, na Samaria, Um dia caminhei tão triste e só. Morto de sede, ao fim, encontraria Essa mulher no Poço de Jacó. Calor imenso, o sol que lá fazia Levou-a a deslocar-se da cidade. Pedi-lhe de beber. Com simpatia, Me deu da fresca água em quantidade. - O teu marido? - Não tenho marido. - Bem dizes, muitos homens são contigo, Nenhum vive contigo no teu lar. - Senhor, agora sinto que és profeta, A minha vida torpe e incorreta, Por esse grande amor, eu vou deixar!

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Os vendilhões

Era o Shabat. Nesse Santo dia Entrei no grande Templo para orar Mas toda a confusão que então sentia, Feriu meu peito, fez-me revoltar. Cordeiros, pombas, bois, tudo servia Para no Santo espaço se mercar E a corja de ladrões que ali vivia Depressa profanou esse lugar. Corri, chicote em riste, espaço a espaço, E os reles vendilhões, com embaraço, Fugiram a correr e a gritar. - Ó corja de ladrões, em paz deixar O nosso Templo, a Casa de meu Pai, Agora e sempre, um Santo e bom lugar!

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Na casa de Simão

Naquela noite, em casa de Simão, Andava toda a gente alvoroçada P'ra partilhar comigo o vinho e o pão E ali ficar até de madrugada. Mas de repente, entrava uma mulher De má reputação. E aquele olhar Lançado por Simão qu'ria dizer Que ela não podia ali ficar. Baixou-se junto a mim. Lavou meus pés Com lágrimas, com nardo e aloés E com os seus cabelos os limpou. Olhei-a e vi com terna compaixão Que suplicava, humilde, o meu perdão Que ao longo desse olhar ela encontrou!

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Grande a sua fé

Naquela tarde, andava na cidade A anunciar o grande Amor de Deus E vi uma mulher com certa idade Na multidão, seguindo os passou meus. E logo perguntei: - Quem, ao de leve, Tocou no meu vestido? - Mas, Senhor, A grande multidão que aqui te segue Te toca a todo o instante, por favor! Mas logo essa velhinha apareceu E disse: - Me perdoa, sim, fui eu, O toque em teu vestido me curou.

⁃ É grande a tua fé. Vai, vai em paz, Se em mim tu viste a cura que compraz, A tua imensa fé te libertou.

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Maria e Marta

A casa de uns amigos fui jantar Na pequenina vila de Betânia E, com Maria e Marta, desfrutar De uma amizade pura e espontânea. Com Lázaro na sala conversava À espera do jantar que cedo vinha. E, aos meus pés, Maria me escutava… … E a Marta atarefada, na cozinha. E ao vê-la, Marta, frente a toda a gente, Gritava para ela descontente: - Deixa a conversa, ajuda aqui na lida! - Porque te agitas, Marta? Tua irmã Escolhe a melhor parte, a que nos dá Razões para tornar eterna a vida!

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Uma atitude vil

Naquele tempo, vindo do deserto, João Batista, andava na Judeia; Clamava por perdão e ali tão perto Falava de pecado à boca cheia. E a sua voz tão firme, o seu clamor, Nos átrios do Palácio se insurgia Contra a conduta do Governador E a espúria relação de sodomia. Mas Salomé, atenta aos seus amores, Cobrava-se de todos os favores E alçava a sua voz fria, insurgente! Num gesto vil, desceram à prisão, Cortaram a cabeça de João E à prostituta a deram por presente!

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Um momento triste

Chegara a Páscoa e fomos a caminho Da Sala-Grande para a Santa Ceia; 0 Lava-pés, tomar o Pão e o Vinho Sentir a alma forte, farta, cheia. Durante a noite, ao longo do jantar, Senti que um dos amigos me traía. E ao molhar o pão para lhe dar, Com ar comprometido, ele saía. Trinta moedas foram vil desejo Para a traição. E com seu falso beijo No Horto, pela noite me entregou. Desiludido, todo o seu dinheiro Lançou no Templo. E ao Campo do Oleiro Se dirigiu. E, triste, se enforcou.

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No Horto

Vencidos por fadigas e canseiras, Subimos pela tarde desse dia Ao horto do Jardim das Oliveiras Em oração... Mas tudo adormecia. E quando ali, sozinho, abandonado, Prostrado, Sua força lhe pedia P'ra suportar o peso do pecado De toda a humanidade, em agonia. O sangue que descia pela face Preconizava o fim, o desenlace, A morte atroz, cruel, naquela cruz. Só quando despertei e a tumba abri Com Seu tão grande amor, em mim senti A Graça eterna. E a treva se fez Luz.

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… e o galo cantou!

Era já tarde e aquele mar de gente Num pátio ao redor se reunia... Falavam dessa cruz onde, inocente, Naquele fim de tarde eu sucumbia...

E entre aquela turba, de repente, A Pedro uma mulher reconheceu: - Também tu lá andavas bem na frente Na companhia desse Galileu! Sentindo-se desnudo, com desmando, Três vezes me negava, blasfemando, Três vezes canta o galo... Então, silente, Lembrou-se da conversa: - Meu amigo, Três vezes vais negar-Me... - E constrangido, Pedro chorou, chorou amargamente!

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Simão de Cirene

Naquela tarde infinda, caminhava Ensanguentado e triste, sem carinho, Deixando um rasto exangue que marcava As pedras que trilhava em meu caminho. Ao longo do suplício, de repente, Simão, o Cireneu, se aproximou E sob o olhar felino dessa gente A minha cruz comigo carregou. Aquele gesto nobre de um só dia Ao longo de uma vida lembraria, Olhando a minha amarga e rude cruz. Um dia, vou olhar dos altos céus Simão, o Cireneu, os passos seus, Como um Farol, irradiando luz.

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O Quarto Rei

Havia um Rei, um Mago do Oriente, Que ouviu falar na gruta de Belém E com três Reis, um dia, diligente, Pensou seguir a estrela mais além. Mas atrasou-se. Inconformado, crente, Durante o seu viver peregrinou Fazendo o bem, salvando muita gente Em troca dos presentes que levou. Um dia quando a cruz eu transportava Para o calvário, o Mago me encontrava: ⁃ Senhor já nada tenho p’ra te dar! Olhei-o co'a mais terna compaixão E disse: - O que fizeste a teu irmão Fizeste-o para mim, te vou salvar!

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Na cruz

Naquela rude cruz, eu, pendurado Como qualquer proscrito ou malfeitor, Soltava para o céu um triste brado Sozinho, abandonado em estertor. Como era triste! O povo, desvairado, Gritando "à morte, à morte!" num clamor, Estava enraivecido, enfeitiçado, Alheio a qualquer brado, a qualquer dor. E aqueles meus amigos do Jordão Estão ausentes dessa multidão Ocultos, quer me açoitem, quer me vazem. E eu, num sofrimento atroz, imundo, Ao Pai suplico num torpor profundo: - Perdoa, Pai, não sabem o que fazem!

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O ladrão

Dum lado dessa cruz, blasfemando, Estava um homem rude pendurado, Pagando as suas faltas e, gritando, Olhava-me e dizia revoltado:

⁃ Se tu és Cristo, salta para a frente E mostra o teu poder, alma perdida! Liberta-nos das garras desta gente Que veio perturbar a nossa vida! Do lado oposto, um outro, penitente, Olhava aquele ser irreverente Dizendo: - Não está no seu juizo! Perdoa-lhe. E leva-me contigo! Então, olhei o seu olhar mendigo, E disse:- Hoje ganhaste o Paraíso!

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Vitória

Domingo de manhã, era bem cedo, Chegou à tumba... Estranho, tudo aberto! Olhou ao seu redor cheia de medo E viu um jardineiro ali bem perto. - O que procuras tu ao vir aqui? - Aonde está o Mestre Galileu? - Olha meus olhos, mesmo junto a ti, Ressuscitei dos mortos, vê, sou eu!... A pobre Madalena, alvoroçada, Deixa os unguentos, lança-se na estrada E corre p'rá cidade em euforia... Refeita dos temores, dos perigos, Caminha e anuncia aos seus amigos: - Jesus ressuscitou, haja alegria!

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Vou voltar

Confia, vou voltar, meu bom amigo, Um dia vou descer dos altos céus E as hostes celestiais virão comigo Com cânticos, louvando o nosso Deus. E essa vida triste e sem sentido Que aqui na terra tendes que passar Depressa vai findar pois Eu, contigo, Um dia vou voltar ao eterno lar. Confia, vive em ti essa esperança, Não percas nunca a tua confiança Pois breve vai chegar esse momento. E um dia, junto ao grande Deus de Amor Então tu vais sentir o Seu favor E junto a Si ficar por longo tempo!

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Histórias que já contei

Como complemento às Boas Novas que aqui vos quis deixar como legado, relembro aqui algumas das parábolas que ao longo do meu Ministério vos quis confiar para vosso crescimento espritual, caminho para que um dia possais alcançar a vida eterna. Vosso amigo,

Jesus de Nazaré

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O bom samaritano

Prostrado na valeta, um moribundo Gemia condoído junto à estrada; Um fariseu passou, pensou: - Imundo! E o pobre moribundo abandonava. E logo um publicano, a toda a pressa, Ao vê-lo, disse: - Não, não tenho tempo! E foi-se para o Templo, aonde ingressa E esquece aquele vil procedimento. Mas um samaritano que, em viagem, O viu, se condoeu com sua imagem E o socorreu. Montou-o no jumento, Limpou suas feridas com coragem, Depois o transportou a uma estalagem E foi-se, custeando o tratamento.

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O trigo e o joio

Saiu o lavrador a semear E o trigo viu medrar de forma rara. Um servo disse: - Vamos arrancar O joio, dentre o trigo da seara. - O trigo e o joio juntos vão crescer Até à ceifa. Quando lá chegar, Os grãos de trigo vamos recolher E o joio finalmente separar. Deixai que cresçam juntos. Só então, Iremos separá-los p'ra que o grão Se mostre forte, cheio de vigor. Assim irão crescer ímpios e crentes; Embora cresçam juntos, diferentes, Apenas os fiéis são do Senhor!

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O filho pródigo

No lar de amor vivia inconformado Com fome de aventura no porvir E um dia disse ao pai, determinado: - Dá-me o que é meu, de casa vou partir. E foi. Enquanto rico, bem nutrido, Amigos não faltavam ao redor. Efémero viver... E só, perdido, Ansiou ser servo no seu lar de amor. E quis voltar. Lá longe, o pai ansiava O seu regresso. Olhava aquela estrada À espera de algum dia o ver chegar. E cheio de fadiga, de cansaço. Ei-lo à distância. E o pai, cruzando o espaço, O abraçou. Um filho volta ao lar.

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Os talentos

Chamou os seus criados e depois Lhes quis o seu tesouro confiar; A um deu um talento, a outro dois, A outro cinco. E então, foi viajar. Quando voltou, as contas lhes pediu: ⁃ Aqui os tens, são dez, os fiz crescer! ⁃ Aqui tens quatro, a sorte me sorriu. ⁃ Servos fiéis. O galardão vão ter.

⁃ E o teu? ⁃ Eu sei que és duro, que és austero, Com medo, o enterrei. Eu nada quero, Aqui tens o talento, como vês.

⁃ Servo infiel, devolve o meu dinheiro, Melhor se o deixara a um banqueiro, Vou dá-lo àquele servo que tem dez.

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O bom pastor

Andava o bom pastor feliz, contente, No monte, apascentando o gado seu. Junto ao regato, as águas da corrente Faziam refletir o azul do céu. Pela tardinha, nesse mar de bruma, As cem ovelhas ao redil levou. Mas, ao contá-las, lhe faltava uma E ele, aflito, ao monte então voltou. Iluminado pela luz da lua, Foi à procura da ovelhinha sua, Quiçá, rodeada de perigos mil. Gemendo, tão ferida, a encontrou Perdida num penhasco. A resgatou E ao colo a transportou ao seu redil.

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A videira

Videira Sou, meu Pai, o Lavrador E toda a vara em mim fruto há-de dar. O suco da videira é o amor Que todos nós devemos partilhar. Estai em Mim e eu em vós. E então, Se a vara por si mesma não produz, Abri a mente e o vosso coração, De todos Eu farei raio de luz. Ouvi a minha voz, as minhas leis, Fora de mim, qual vara, secareis E logo em fogo se transformarão. Permanecei em Mim, tende por certo Que presos à Videira, de mim perto, As coisas que pedirdes se farão.

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O Semeador

O semeador saiu a semear E ao lançar o trigo, uma semente Caiu junto ao caminho e ao voar As aves as comeram de repente. Outra caiu por entre pedregais Aonde terra farta não havia. Perdida entre essas pedras das demais, A frágil sementinha fenecia. E outra sementinha foi cair No meio do espinhal e ao florir Sozinha, sufocada, se perdeu. Mas outra a boa terra foi parar E deu bom fruto. Assim possais guardar Esta lição, segredo lá do céu.

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As dez virgens

Dez virgens com as suas lamparinas Saíram ao encontro do esposo Cinco fiéis, as outras mais boninas Apenas procuravam folgo e gozo. O esposo demorou e o seu azeite Depressa se acabou. As mais prudentes Reserva tinham. Para seu deleite, Puderam nessa boda estar presentes. Noite avançada, o noivo, enfim, chegou E ao ver as loucas, logo as rejeitou Que assim viram as portas se fechar. Agora e sempre, vós e a vossa grei Estejam bem atentos e aprendei A hora em que o esposo vai chegar.

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Sobre a Rocha

Um homem fez a casa sobre a areia Sem alicerces. Quando terminou, Chegou a chuva, o vento, a maré-cheia E a sua frágil casa desabou. Um outro fez da rocha o fundamento, Sob alicerce firme a construiu; E veio a tempestade, a chuva, o vento, E a sua firme casa não ruiu. Assim vai ser a vossa caminhada, Se em Mim, a Rocha, for alicerçada Às intempéries há-de resistir. E um dia, quando enfim aqui voltar, Trarei com alegria para dar Por galardão o mundo que há-de vir.

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NATAL 2018 E-BOOK


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