BIOGRAFIA José Sepúlveda, nascido em Delães, Vila Nova de Famalicão, hoje a residir em Vila do Conde. Começou a escrever poesia cerca dos doze anos. No decorrer da sua carreira profissional trabalhou primeiro, como funcionário público e depois, durante 35 anos, como empregado bancário. Publicou em alguns jornais e revistas ao longo da sua carreira. Amante da literatura, administra os grupos do facebook Solar de Poetas,
Poetas Poveiros e Amigos da Póvoa, Casa do Poeta., SolarTv–Online, Solarte e Solar-Si-Dó
Frequenta a Universidade Sénior do Rotary Clube da Póvoa de Varzim, como aluno e orientando a disciplina de Iniciação à Informática. Apoia vários projetos literários, promovendo a edição de autores em início de carreira, organiza e participa com regularidade em Saraus e tertúlias, tem prefaciado alguns livros, apresentado e participado em lançamentos de antologias e livros de autor e outros.
Livros publicados: . Meu verso, meu berço, meu poema – 2014 . Porque Ele vive – 2015 . Akrosticis (ebook) . Participação num elevado número de Antologias portuguesas, brasileiras e italianas. . Publicações diversas em ebook (Issuu, pg. pessoal). A publicar em breve: Simbiose, o Verbo e a Cor versão ebook (policromia) e versão impressa (ilustrada); O Sexto Sentido, Caricaturas com Rima. Quadratúlia (quadras); … e agora, Josíadas, Epopeia da Vida Estórias Reais (Josíadas II) Génese, Retratos de Família Jardim em Flor Cantar de Amigo
Ă“ Musa do meu ser, vem-me inspirar Para cantar a nossa Primavera, Contar aquela histĂłria singular Envolta em tantos sonhos e quimera! E mesmo que cansado e sem vigor, Ajuda-me a cantar o nosso amor!
3
Armando 4
Nasceu duma paixão vadia, louca, Em Fafe, nos confins dum milheiral, Bem cedo lhe fecharam sua boca, Criado foi num quarto de hospital. João seria o pai...mas não o quis, Emília a sua mãe, triste, infeliz!
5
Armando e Conceição
6
Armando foi crescendo. E, jovem feito, Bem cedo, um alfaiate se tornou E foi para DelĂŁes. E, a seu jeito, Com uma mulher linda se casou. Daquele amor efĂŠmero, inseguro, Nasceu Fernanda, desse amor tĂŁo puro!
7
A jovem Conceição caiu doente E tão precocemente se apagou, Pedindo que a filhinha, tão carente, Ficasse no padrinho. E ali ficou. Nanda pequena, assim ele a perfilha, P’ra distinguir da grande, que era a filha.
8
Armando, absorvido no trabalho, Queria a sua vida restaurar, Levaram a Fernanda para o Talho De onde só saiu para casar. Arminda foi a sua nova mãe E Joaquim seria o pai também.
9
Armando e Geninha
10
Geninha conheceu no Areal, Em Santo Tirso. Dessa relação, Seis filhos lhes nasceram. No final, De todos, fui o único varão. A Ema, a Tila, a Lurdes - estas três E eis que vi chegada a minha vez!
11
E veio a Olga. Depois, a seguir, Na Póvoa, a Paula havia de nascer; Pois foi ali que fomos residir E lá que aprendemos a viver Mas num longínquo Março, triste e duro, Mãezinha teve um fim tão prematuro!
12
Geninha 13
Mãezinha era um encanto. Trabalhava No Posto de Saúde, Auxiliar. Mas toda a gente, quando lá chegava, Por Enfermeira haviam de a tratar. O seu afável trato, delicado, Lhe dava o estatuto desejado.
14
Olga, Paula, Sílvia, Ema, José, Lurdes, Otília e Fernanda
15
Além da nossa prole, ainda havia Uma outra irmã sem ser que, na verdade, A Esperança era nossa tia Que meu pai adotou com tenra idade. Mas não foi nossa tia, tão-somente, Foi meia-irmã, p’ra toda a nossa gente!
16
Armando e Rosa Maria
17
Pela terceira vez, meu pai casou Por não saber lidar com a solidão. Da relação tardia resultou Nascer a SÍlvia! Eis a conclusão: Não teve mãe. Esposas, teve três! E agora, a minha história. Era uma vez...
18
3
1
2
A casa onde nasci (1), a alfaiataria de Armando (2) e a casa da Bininha (3). Hoje ĂŠ o passeio do novo edifĂcio 19
... Nasci naquela aldeia lĂĄ do Minho Liberto de pecado, ao deus-darĂĄ, Numa casinha humilde, um doce ninho, Que o sol beijava cedo p'la manhĂŁ; E aprendi ali, nesse aconchego, A enfrentar a vida, sem ter medo!
20
Contavam que a parteira que assistia Ao nascimento deste humilde ser Viera pela noite. E era já dia E não havia meio de eu nascer!... Em simultâneo, em louca correria, Bininha, outro rebento, ela atendia.
21
E do amor nasci!... Até que um dia, Uma doença havia de aparecer. Meu pai, Armando, andava e não queria Perdido, sem saber o que fazer. Pegou em mim ao colo e com pavor, Foi a correr p'ra casa do doutor.
22
- Pobre criança! - disse - A desventura Chegou a vossa casa. Este menino Não vai sobreviver. Ide à procura De um pouco de aconchego. É o destino! Levai-o e acompanhai-o até a morte, Tratai-o com carinho. Triste sorte!
23
Meu pai saiu dali desesperado E, triste, disse a minha mĂŁe querida: - Prepara-me um chazinho, bem coado... E logo minha mĂŁe trouxe a bebida. Pacientemente, abriu minha boquinha E foi-me dando o chĂĄ de cavalinha...
24
Não sei se por milagre, conseguiu A essa enfermidade dar um fim... Um dia, ao caminhar na rua, viu O tal doutor, passeando no jardim: - Meus parabéns, lhes disse, outro bebé! - Não é, Senhor Doutor, é o Zezé!
25
José, Padre Chico e Luís Ribeiro
26
E assim, passei a infância. A comunhão, A escola, tantas, tantas aventuras!... O Agostinho e o Catitinha são Exemplos de vivências sãs e puras. Dos tempos lá na aldeia, quis guardar Memórias para agora recordar!
27
Quinta das Aves
28
Era aos Domingos. Oh, que belas tardes A passear ao longo da Avenida! SeguĂamos para a Quinta das Aves P'ra ver, jardins, as aves, quanta vida! E dessas tardes, cheias de magia, Resta a saudade, a paz, e a alegria!
29
A Lu, Armando e JosĂŠ 30
Se havia alguma festa ou romaria, Armando na Pachancho me levava E lá, durante a tarde desse dia, Ouvíamos o povo que cantava. As Bandas de Revelhe e de Bulães Ecoavam desde Fafe até Delães.
31
À terça-feira vinha o Agostinho, Lá da Carreira, com seu doce olhar, Subia a um penedo e no caminho, Falava, não parava de pregar. E ali, perante grande multidão, Clamava por amor e por perdão!
32
O Catitinha vinha pela aldeia E espalhava afetos pela gente E quando aquela rua estava cheia, Falava-lhes tão terno, eloquente! Deixava em nossas mentes as lembranças Do seu tão grande amor pelas crianças!
33
O Joaquim, um cego, aparecia Na alfaiataria do Armando, Com latas de pomada e nos trazia, Com elas, esse som suave e brando E toda a gente ouvia e lhe dizia – Chegou aqui o cego que nos guia!
34
O Bufa era o padeiro. Esse malandro Chegava na carroça com o pão, Tratava o pobre burro com desmando Que escouceava em pura convulsão. Que grande burro o bufa nos saiu, Perdoe a pobre mãe que o pariu!
35
Depois, durante o dia, era a peixeira, O funileiro, o petrolino, enfim, Aquela gente cheia de canseira Levando a sua vida em frenesim; Nas fรกbricas, o operariado Vivia um dia-a-dia inacabado.
36
Brincávamos na bouça, junto à casa, Ao prego, ao arco, à flecha e ao botão, Por vezes, levantávamos a asa E a mãe soltava um grito: - Aonde estão? À ceia, havia arroz, meia sardinha, O caldo verde, as papas com farinha.
37
ZĂŠ Domingos 38
Um dia o Zé Domingos aparecia Com fósforos ocultos na algibeira E ali, na bouça, nessa manhã fria, Ousámos acender uma fogueira. – Só ardem as palhinhas - me dizia, Mas, num repente, toda a bouça ardia!
39
Gritámos desalmados. De repente, Surgiu de todo o lado e a correr Com baldes, com sacholas, muita gente E os bombeiros para o combater. O Mingos e o Zé, em maus lençóis, Depressa são tratados como heróis.
40
Na escola velha havia um corrimão No qual escorreguei o dia inteiro. Ao fim do dia - que admiração – O meu calção já não tinha traseiro. Meu pai, que não gostou da diabrura, Pegou e remendou com tela dura.
41
O Sindicato estava em construção E eu andava à volta dessa gente Então, vi em Fernando um amigão Que fez de mim poeta, de repente: - Fernando, não precisa de ir embora, Pode alojar-se na Pensão Aurora.
42
- OlĂĄ - disse o Fernando - tu tens jeito, Depressa, por favor, chega a caneta:
(Na tarde amena, alegre, me deleito. Ao ver nascer a alma dum poeta!)
E para a poesia entĂŁo nasci ... Quanto ao Fernando, nunca mais o vi.
43
A gente adulta, nessa cepa torta, Gostava de me ver improvisar. E, lá no Talho, eis-me atrás da porta Contente nesse meu cantarolar Em troca duns tostões p'rá tremoçada Feliz, cantava, não custava nada!
44
Um dia, uns galifþes e uma menina Juntaram-se na cave, na cochia, Da adega, numa tarde peregrina, Para aprender liçþes de anatomia. Entrava apenas um de cada vez Pois foi assim a conta que ela fez.
45
Mas, numa tarde ensolarada, linda, A chama do amor em mim crescia; Apenas lembro o nome que era Arminda E do cabelo lindo que exibia. Na catequese um dia a conheci E nunca, nunca mais a esqueci!
46
O Quim Teixeira vinha lá do Talho Trazia umas aparas que fanava E a Esperança, com azeite e alho, Na máquina a petróleo, as preparava. Com broa e água-pé, pela tardinha, A malta devorava a merendinha!
47
Às vezes a Esperança, despachada, Pegava em cobertores e lençóis E ia para o rio, carregada, P'ra não ficar em casa - e coisas mais! Era um regalo acompanhá-la ao rio Para pescar, fizesse chuva ou frio.
48
Um outro Armando, filho do Sampaio, Andava pelo campo todo o dia, Mas era tramadinho, que esse raio Em muita tropelia se envolvia. Meu Tarzan afogara. E foi num poรงo Que a morte encontraria, o pobre moรงo!
49
O moรงo era tarado, muito embora, Trabalhador. Chegava e, de repente, Tirava o passarinho para fora, Tocava o bandolim alegremente. Depois, gritava sem qualquer pudor: Caraรงas, que ia ser aviador!
50
Bem de manhã, tão cheio de vigor, Deixava para trás minha colmeia E ia em busca desse Professor Que alimentava os pobres lá da aldeia. Um nobre sacerdócio. Que emoção Sentia ao aprender esta lição!
51
E fui crescendo, um jovem me tornei; Na escola fui aluno regular E quando os meus estudos terminei Na minha Vila as provas fui prestar. Perante o jĂşri, em FamalicĂŁo, Aos cornos chamei gaitas, chifres nĂŁo!
52
Andava por ali um galifão Lançando a asa para a nossa tia Meu pai apercebeu-se e não quis, não, Por isso, a vigiava todo o dia. O moço viu-se assim e bateu asa E nunca mais rondou a nossa casa!
53
Os tempos são de míngua, o pão esgota. E o pai Armando, triste, vai-se embora, Para a grande Lisboa. A Porcalhota, Foi seu destino lá p’rá Amadora, Na Rua Pedro Franco leva a cruz, Num prédio sem ter água, sem ter luz!
54
Mas antes, na Rua Elias Garcia, Nós fomos atirados para um canto, Num quarto tão exíguo, nada havia, Depois, fomos p’rá Rua Pedro Franco Levamos nossos trastes de carroça E o riso não causava qualquer mossa!
55
Casaco apรณs casaco, costurava Durante dia e noite, duras lides; Depois, ia a Lisboa e procurava Trabalho na Rodrigues & Rodrigues. Tempo de luta, nada nos compraz E a vida parecia andar p'ra trรกs.
56
Parque Infantil Delfim GuimarĂŁes, Amadora
57
Com sacrifício, a minha mãe, Geninha, No Posto de Saúde labutava. E eu, como ama seca da Olguinha, Brincava no jardim... e a esperava. Difíceis estes tempos, não havia Razões para sentir muita alegria.
58
Meu pai queria a carga aliviar E decidiu levar-me ao Seminário E o Padre disse: - Queres cá ficar? - Sim, estudar (o conto do vigário!) . O Padre não caiu na esparrela E não fiquei em Santo Amaro à Estrela.
59
Mas não passou senão de uma intenção O ir p’ró Seminário e lá ficar E em Lisboa surge a ocasião Mas não seria ali o meu lugar. Quanto à questão de padre, deixa andar, Era verdade, apenas estudar.
60
A Ema e a Saluca, internadas Em Nichos de IrmĂŁzinhas, em Lisboa, Choravam com tristeza, assaz, frustradas, Como se a nossa vida fosse boa. Naquele seu exĂlio triste e ledo Havia, pelo menos, aconchego!
61
Sotancro, Amadora
62
A Tila e a Esperança, na Sotancro Um dia encontrariam um trabalho Não era pera doce, um lugar santo, Mas sempre dava p'ra quebrar-o-galho. E a Esperança até que teve sorte, Pois ali encontrou o seu Consorte.
63
E eis que um dia, chega no correio Inesperada carta, a convidar Meu pai a regressar. E ele, veio Dar rumo à vida, ao pé do mar. O pesadelo terminava assim Quando chegou à Póvoa de Varzim!
64
Escola Industrial e Comercial da Pรณvoa de Varzim
65
Cresci e aprendi na minha Escola Lições que eu levaria a vida inteira, Memórias que guardava na sacola Tão cheia de segredos, de canseira! Que bom ter professores que algum dia Na Escola desta vida encontraria!
66
Se havia um feriadinho, aquela malta, Com seu fulgor, traquina, desprovida, Era tal qual como o Diabo-à-solta, Saia lá da Escola espavorida E era vê-la, louca de alegria, Gozar aquela folga todo o dia!
67
Saltava pelas grades lĂĄ da Escola E ia pelos campos da pedreira Pifar cenouras, nabos e cebola Passando ali a santa tarde inteira. Depois, jĂĄ sem a Nokas na sacola, Era um consolo ver jogar Ă bola.
68
Um sábado, marcaram-me uma falta Porque não fui fardado, tão somente, P'rá Mocidade. E assim, aquela malta Me castigou. E fui-me, descontente. Tentaram-me forçar, com violência, Fizeram-me perder a paciência.
69
É claro, ao Diretor eu fui chamado, Com falsidades, longe da verdade. Suspenso fui. Então, desanimado, Eu nunca mais voltei à Mocidade. Marcaram muitas faltas pela ausência A ver se me chumbavam. Que indecência!
70
Um dia, na aula de Caligrafia O parvo professor me provocou, Tocava-me no braço, se escrevia, E o exercício todo se borrou. Olhei-o e chamei sua atenção. Mas não ligou. E dei-lhe um bofetão.
71
Ele era muito amigo de meu pai. Quando cheguei a casa, que surpresa, Meu pai jรก me esperava. Ei-lo que sai E ali me agride co' a mais vil crueza. Geninha, ao gritos, triste e incapaz, Dizia: - Pรกra, Armando, olha o rapaz!
72
No fim, olhei meu pai, em convulsão, E disse-lhe: - Que tal? Feliz consigo? Agora vou contar-lhe outra versão Da mesma história, desse seu amigo! Meu pai ouviu, saltou dali p'ra fora E eu bati co'a porta... e fui embora!
73
No quarto ano repousei da Escola, Doente e acamado. Fiquei neura. Os livros descansaram na sacola Pois tinha uma rotura em minha pleura. À revelia, quis prestar a prova E fui a exame. E a pleura ficou nova.
74
E festejei com Porto e Malvasia Na casa do Custรณdio. Jรก no fim, ร minha frente nada conseguia Eu ver, embriagado, pois, enfim! Viemos cambaleando p'la Junqueira Curando assim a nossa bebedeira.
75
No quinto ano fomos viajar Por terras do Algarve, bela vida! No Faraó, conquilhas p'ra almoçar, Em Portimão, faneca ressequida. E em Évora, no Anexo, o Camafeu Havia de ofuscar o nosso céu.
76
No dia dos meus anos, ao jantar, Andava pelo ar um ar estranho Alguém me convidava para dançar E eu dancei no meu dançar tacanho. E deram-me um livrinho, requintado, Que fez de mim Cadáver... mas Queimado.
77
No mesmo ano, fomos em estudo P'ra visitar um Banco conhecido. Fizemos a visita e ao fim de tudo, Quiseram relatasse o sucedido. Então, aproveitei a ocasião E agraciado fui, com distinção.
78
No Banco, as Letras (Letras d’outro tipo) Corriam por ali, desenfreadas, Por máquinas dum alto gabarito E entre cartolinas perfuradas. Daquele espaço enorme, assaz, romântico, Na mente quis gravar: Banco Atlântico!
79
Parece fútil este apontamento Mas quando vi chegada a ocasião, Foi ele que me deu nesse momento O meu emprego, a grande solução. Com essa distinção, ora perdida, Eu dei um novo rumo à minha vida!
80
E eis-me feito homem. Nesse tempo A poesia invadiu meu ser E quando despertei vi num momento Que me tornei poeta, sem saber. CamĂľes, Bocage, Antero e Florbela Seriam pela vida a minha estrela!
81
E no serão poveiro aprofundei Um pouco mais a língua estrangeira Pois foi nesses serões que eu encontrei A doce língua de uma companheira. Em noites longas, cheias de fulgor, Foi nela que encontrei o meu amor...
82
Efémero esse amor. Após dois anos Já toda esta paixão teria fim, Amor alicerçado em mil enganos Num anjo sem ser anjo - Serafim. Por ironia, foi à sua amiga A quem fui entregar a minha vida!
83
No dia de Natal se reunia Toda a famĂlia, em casa de meus pais E Ă s vezes, pela noite, aparecia Mais um amigo e outro e tantos mais. E o loto, as cartas, copos, cantoria, Haviam de ficar atĂŠ ser dia!
84
No dia-a-dia, em brumas de memória, Momentos que não mais vou esquecer Meu pai, feliz, contava tanta história À volta duma mesa, com prazer. Juntava os seus amigos e em conjunto Bebiam e comiam pão, presunto.
85
E quando havia festas, que alegria, Amigos e família ao seu redor Meu pai, na sua sã filosofia Vivia de alegria e de fulgor. Tornou-se tradição, criou raízes, Recordações, momentos tão felizes!
86
Meu pai tinha um Peugeot já muito antigo, E nele andava. Um dia, no bandaio, Cruzou a linha férrea distraído E foi atropelado p'lo comboio. Como não tinha carta, coisa incrivel, Nas notas alguém pôs: Carta Ilegível.
87
Parti em busca dessa profissão Que um dia gostaria de abraçar E procurava com preocupação O meu lugar ao sol e trabalhar. E pus na Função Pública um olhar Mas não, não era aí que ia ficar.
88
O IPO andava em construção E a sua conclusão tornou-se urgente. António Alves, na Administração, Pôs uma equipa jovem lá na frente. A azáfama era enorme. Aquela gente A obra foi erguendo gradualmente.
89
P'ra Chefe de ArmazĂŠm fui convidado. Em cada tarde, a equipa reunia No armazĂŠm, num canto improvisado, Entusiasmada e cheia de energia; Ali, informalmente, ela erigia Aquela imensa obra, dia-a-dia!
90
José
91
O Victor, com seu ar bonacheirão Era o Mayor e na Secretaria. Arremessava clips p’lo salão A ver se com os clips me atingia. E ao ver o seu olhar irreverente, A equipa olhava, alegre, sorridente.
92
O ZĂŠ Maria, o Chefe de Oficinas, Tinha p'ra si dois gostos prediletos: Andar acompanhado de meninas E escrever... Dizia ser sonetos! Mas dentro do caderno que exibia NĂŁo vi nenhum soneto, nĂŁo havia!
93
Depois, era o BrandĂŁo, homem pacato, O Arouca era o seu prato predileto E superintendia o Economato Com pulso forte, sempre tĂŁo discreto. Em todas as conversas que trazia, De longe, a namorada o assistia.
94
Com altivez, quiçá, galanteria, Corria lá da Sala Espacial. (O Centro de Informática seria Duma importância quase crucial.) E ei-lo, era o Carvalho. Num instante, É centro de atenções, o bom falante!
95
Algumas vezes fomos a Lisboa Ao IPO Central, para aprender, Andar pela Avenida, coisa boa, Ir ao cinema no Parque Mayer. E pela noite dentro, noutro Parque , Passar uns bons momentos no engate!
96
A D. Hilda, num recanto velho, Trata-nos com muita simpatia, Fazia-nos guisado de coelho E outras iguarias cada dia. No IPO, de modo acalorado, Falava-se da noite lรก no Fado.
97
Circunvalação, Porto - Paragem de Autocarros
98
Um dia, no regresso para casa, Atravessei a rua e sucedeu Que aquela loira bela pôs em brasa Meu coração... E tudo aconteceu!... Estava na paragem, no momento, Com seu cabelo a esvoaçar ao vento!
99
Meus olhos se quedaram quando a vi E o bom senso se desvaneceu, O coração voou e percebi Que todo o seu encanto era já meu; Ao pé de si, ao vê-la em embaraço, Ó, quanto desejei dar-lhe um abraço!
100
Entrámos no autocarro. O meu olhar Seus olhos invadiram. Foi então Que, estando ao pé de si, fui encontrar, Batendo forte, um frágil coração. E foi ao fim da tarde que senti A chama do amor. E me rendi!
101
A camioneta veio. Então, sorri E disse com o ar mais convencido: - Se quer seguir viagem, venha aqui Para o meu lado, a ver o que consigo. A um gesto meu, o pica percebeu Que eram dois lugar’s, o meu e o seu!
102
Amie
103
A Amie, com seus pais, saíra um dia No Quanza, lá da nossa capital, Para a Missão do Bongo, pois queria Ser Missionária. Isso, tal e qual. E essa terra farta, imensa, ufana, Depressa viu nascer uma angolana.
104
Coitada, foi depois parar ao Norte, Sem entender razão p'ra estar ali; Casou e teve filhos, mulher forte, Eu sei que o é, que a tudo eu assisti. Agora, ela entendeu que Deus o quis E é com Deus que sabe ser feliz.
105
Envolto nesta louca brincadeira Senti a vida a dar a cambalhota, Uma paixão, quiçá, pr'a vida inteira Irá nascer nos braços da garota. A vida tem surpresas... Foi assim, Que àquele emprego tive que pôr fim.
106
Deixara de fumar, tudo mudava No meu viver em grande ebulição. Fiquei desempregado. E me esperava O Banco, a minha grande profissão. Lembrei-me então daquela velha escola E o trunfo que guardara na sacola!
107
Casamento de Amie e JosĂŠ
108
Um ano se passara em convulsão E um grande amor surgiu na minha vida; Casámos de repente. E foi então Que tudo aconteceu. Missão cumprida! Nem pai nem mãe eu tive no momento Pois não quiseram ir ao casamento!
109
E foi assim: Anita me abordou E disse de rompante: - Ouve-me bem, Meu pai foi transferido. Agora estou Bem prestes a partir p’ra Santarém. A não ser que casemos. Ir embora? Gostava de ficar aqui e agora!
110
Depois, fomos lanchar e conversar Na Póvoa (Past'laria São José). E na varanda do primeiro andar, Em Deus depositamos nossa fé. Foi com ponderação, olhando o mar, Que veio a decisão: - Vamos casar.
111
Na festa da Otília e do Miguel, Anunciamos nosso casamento, Um arrepio com sabor a fel Caiu sobre o meu pai nesse momento. A nossa decisão, firme, segura, Tornou a relação mais forte e pura.
112
Liderando o Projecto Alppha, quando da Descida do Rio Ave (1979) 113
E dediquei-me à Igreja. Gradualmente, Num líder dessa gente me tornei. Vivemos mil façanhas. Lá na frente, Por montes e por vales caminhei. Momentos de alegria, de aventura, Tão cheios de segredos, de loucura.
114
Passou um longo tempo. E decidi Olhar p'ra trás. Então, cai em mim, Tristezas e alegrias, que vivi E ousei num só momento pôr-lhes fim. Já Salomão dizia em seu falar:
Há tempo p'ra sorrir e p'ra chorar. .
115
Troféus de Vendas - Leasing Atlântico
116
Na minha profissĂŁo fui progredindo, Num campeĂŁo de vendas me tornei E entĂŁo notei que enquanto fui subindo Alguns dos meus valor's abandonei. Pobre diabo, quanto mais se eleva Mais forte e mais brutal vai ser a queda!
117
Sopravam novos ventos, novos ares, E nesse Abril, naquela noite escura, De SantarĂŠm saĂram militares Para por um fim a longa ditadura. E, findo esse calvĂĄrio, vida escrava, Abril nascia em cada madrugada.
118
Os dias se passaram e um rebento Veio alegrar o meu Jardim em Flor E entre o regozijo e o sentimento O meu Jardim floriu, cheio de cor! E dois rebentos mais vieram dar A paz e a harmonia ao nosso lar!
119
Três filhos, os rebentos que nasceram Ao longo duma vida fria e quente E foram esses filhos que nos deram Momentos de bonança por presente Luís, Miguel e Pedro são assim As flores coloridas do jardim!
120
Cresceram e criaram o seu ninho Na companhia desse bom Amigo, Qual bĂşssola segura no caminho Que sempre os desviava do perigo. No trilho dessa senda firme e forte, Ousaram erigir a sua sorte.
121
São todos eles homens com talento E verdadeiros lider's no seu meio Partilham com amigos num momento Aquilo de que o coração 'stá cheio E todos, cada um nas suas lidas, Na Igreja se tornaram pedras vivas.
122
Envolto em aventuras, desventuras, O nosso olhar virava-se p'ra os céus E os Santos Anjos vinham das alturas Virar os nossos olhos para Deus. E quando vinha a dor e a aflição, Foi Deus que conduziu a embarcação!
123
Miguel, Pedro e Lúís
124
Miguel andava estranho. De repente, Nos anos da mãezinha, descobriu, Um papo no pescoço. E foi, doente, Correndo ao hospital. E então se viu Tratar-se de um linfoma. Toda a gente O mundo viu ruir à sua frente!
125
E ele, ao ver-se envolto nessa guerra, Quis despedir-se do hobby favorito; Chamou os dois irmรฃos e lรก na Serra Foram lanรงar um derradeiro grito. E com as suas bikes de Down Hill, Deixaram por ali saudades mil.
126
Durante muitos meses, sem prazer, Nos ombros carregou pesada cruz. Mudou a sua forma de viver E repousou nos braços de Jesus. No seio da famĂlia e dos amigos, Logrou ultrapassar tantos perigos.
127
A luta foi voraz! Desde esse dia Peregrinava para o hospital. Foi submetido a quimioterapia A ver se combatia todo o mal. Mais foi no seu Senhor que ele encontrou A sua seguranรงa. E se curou!
128
O Toque de Sua Mão
129
A mãe, com todo o zelo, quis contar A história do Miguel, tão triste e leda E escreveu um livro a relatar Momento após momento envolto em treva O Toque de Sua Mão que então nasceu Foi bálsamo suave lá do céu
130
Juntamos outras flores ao Jardim E quando despertei, tinha comigo Seis netos que trouxeram para mim RazĂľes por todo o tempo jĂĄ vivido. O Hugo, a Joaninha, o Martinzito A Abigail, o Marcos, o Pedrito.
131
Vila Medieval de Sepúlveda, em Espanha (Segóvia) que deu origem ao nome de Família 132
Deixei a vida ativa. Desde então, Me dediquei à Genealogia E com vontade tal e devoção Que todos os Registos percorria. E descobri, em noites de vigília, A história e os alicerces da Família.
133
Homenagem ao Professor – Universidade SÊnior
134
A Sénior surge. Então, desde esse dia Eu dela fui Aluno Fundador, Às aulas de Informática assistia E convidado fui p’ra Professor. E foi às Aulas de Iniciação Que me entreguei com alma e coração.
135
Grupo Solar de Poetas
136
E eis-me a renascer na poesia Com grupos que criei no facebook Aonde fui criando cada dia A minha nova imagem, novo look. Rodeado de poetas, de escritores, Tive alegrias, sim... e dissabores!
137
Miguel, LuĂs e Pedro
138
… E ei-los! Do teu ventre, o teu regaço, Catorze são os versos que escreveste, Estrelas lá do sideral espaço Bem junto do Senhor, o Pai Celeste. E peço a Deus no meu clamor plangente Que brilhem no teu peito eternamente!
139
No meio de tertúlias, reuniões, Meu coração voou espavorido, Perdido nesse mundo de ilusões Que agora já não faz qualquer sentido. Voou, voou, voou sem rumo ou norte E a força da razão gritou mais forte!
140
Assim , Vila do Conde, esta cidade Que é berço de poetas, de escritores, Não vai deixar que a falsa liberdade Destrua os meus dois fios condutores Contigo e Deus ao lado, meu amor, Eu vou sentir-me sempre um vencedor!
141
Perdoa, minha amada, se algum dia Não soube merecer o teu amor, Tu és a minha paz, minha alegria, Razão da minha vida e meu louvor. Com Cristo, de mãos dadas, lado a lado, Havemos de entoar o nosso Fado!
142
José e Amy
143
Encanto de minha alma, em cada instante Tu nasces e renasces no meu peito, És minha eterna amada, eterna amante E envolto nos teus braços me deleito. Tivera que voltar na longa estrada E tu serias sempre a minha amada!
144
O mais da minha história irei contar Aqui, neste lugar, noutro cantinho. Com ela, também cá vos vou deixar Minha amizade e todo o meu carinho Que possam nela ver o que encontrei, Tirar as ilações que eu não tirei.
145
Percurso longo, quantas aventuras, E quantos mais momentos de prazer, Desaires, alegrias e loucuras, Momentos altos, outros, a esquecer. É esta a minha herança, são lições Que vou deixar às novas gerações.
146
Amie, José, filhos, noras, netos e Amélia (mãe da Amie), frente à Igreja de Vila do Conde 147
Título
JOSÍADAS Autor JOSÉ SEPÚLVEDA
Capa Trabalho conjunto de: ADIASMACHADO ADRIANA HENRIQUES ARNALDO MACEDO Contracapa Poema de CARINA FLOR ADIASMACHADO Pintura ADIASMACHADO Arranjo Gráfido José Sepúlveda Edição
Blog ocantodoalbatroz.blogspot.com Publicado em Ebook https://issuu.com/correiasepulved
EDITO-me