Mestre Adelino Ângelo

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Mestre Adelino Ângelo poemas de José Sepúlveda

Casa Museu em Vieira do Minho


Ficha Técnica Título: Mestre Adelino Ângelo Autor: José Sepúlveda Capa e contracapa Arranjo: José Sepúlveda Edição em E-book https://issuu.com/correiasepulveda

2018 Nov.


BIOGRAFIA

Livros publicados:

José Sepúlveda, nascido em Delães, Vila Nova de Famalicão, hoje a residir em Vila do Conde. Começou a escrever poesia cerca dos doze anos. No decorrer da sua carreira profissional trabalhou primeiro, como funcionário público e depois, durante 35 anos, como empregado bancário. Publicou em alguns jornais e revistas ao longo da sua carreira. Amante da literatura, administra os grupos do facebook Solar de Poetas,

. Meu verso, meu berço, meu poema – 2014 . Porque Ele vive – 2015 . Outros livros em e-book . Participação num elevado número de coletâneas portuguesas, brasileiras e italianas. . Publicações diversas em ebook em Issuu (Pág. pessoal). E-books: Akrosticis, Josíadas, Estórias Reais, Génese, Amor Perfeito, Tempo de Natal, Vale Encantado, Balada de Abril, Menina do Mar, O Sal da Terra. Outros: . Movimento Adventista em Vila do Conde, Dine, história e família, Cipriano Ghira Dine.

Poetas Poveiros e Amigos da Póvoa, Casa do Poeta, SolarTv–Online, Solarte e Solar-Si-Dó.

Frequenta a Universidade Sénior do Rotary Clube da Póvoa de Varzim, como aluno e orientando a disciplina de Iniciação à Informática. Apoia vários projetos literários, promovendo a edição de autores em início de carreira, organiza e participa com regularidade em Saraus e tertúlias, tem prefaciado alguns livros, apresentado e participado em lançamentos de antologias e livros de autor e outros.


Na Casa Museu Mestre Adelino Ă‚ngelo


Mestre Adelino Ângelo Adelino Ângelo, pintor português, nasceu a 8 de Novembro de 1931 em Vieira do Minho, na residência dos seus pais, que acabou por viver com os seus avós em Guimarães pelo motivo do seu pai ser Juíz e Conservador do Registo Predial que não o permitia ter residência permanente. Estudou desde a Escola Primária até ao sétimo ano (décimo segundo atual) em Guimarães, como os seus pais não queriam que ele seguisse as Artes, aos 17 anos foi para Lisboa e como era excelente a desenho conseguiu vender todos os seus trabalhos que fazia e com o fruto do seu trabalho conseguiu pagar os seus estudos na Escola Superior de Belas Artes em Lisboa, e a alimentação e estadia na pensão do Chiado. De 1957 a 1961, foi Designer para empresas de estamparia no setor das sedas para altacostura. De 1961 a 1974, foi Professor na escola Comercial e Industrial Francisco de Holanda em Guimarães. Foi o único Professor em Portugal que enriqueceu o património de uma escola, com painéis dos Reis e personagens do Estado, para imbuir no espírito dos alunos o cultivo da cultura. Estas obras foram pintadas gratuitamente a pedido do Diretor, porque mais nenhum dos seus colegas sabia desenhar mãos e caras, assim como a interpretação da anatomia psicológica. De 1974 a 1980 foi forçado a refugiar-se em Espanha porque em 1974 foi agredido e


insultado por alguns colegas pelo fato de ter pintado o Prof. Doutor António de Oliveira Salazar e os membros do governo na altura. Toda a sua obra é vincada pela fusão da emoção, realização, originalidade e sentido de criação, tornando-se desta forma num ambiente amargo mas ao mesmo tempo mágico para os olhos de quem a contempla. Na opinião de vários críticos de arte portugueses e estrangeiros (César Príncipe, Sérgio Mourão, José Gomes Ferreira, Francisco Pablos, José Alvarez, Pierre Lazareff, Arturo Paloma, etc...) é considerado o maior intérprete da vida cigana a nivel mundial, opiniões estas que estão inscritas em vários livros em Portugal e no Estrangeiro, esta opinião por diversos coleccionadores. A sua pintura é a consciência sentida, daí que é o protagonista de uma obra dramática por ser o criador. O desenho é a trave mestra da pintura, por isso sua obra é didática, pedagógica e científica, porque se assim não fosse nunca poderia ser o pintor Universal. Mediante esta descrição sobre suas telas, o que lhe é mais importante é conduzir a sociedade à sua purificação onde existem enormes desigualdades e fracturas sociais. Se continua a pintar a dor do ser humano, loucura e os nómadas, então a sua pintura encaixa em pleno no modernismo. (extraído da wikipédia)



FELIZ ANIVERSÁRIO, MESTRE!


A noite vem. Pigmento após pigmento, A cor se estende nessa tela triste; E o Mestre lança em cada movimento O sentimento que em seu peito existe. A obra nasce. A voz do pensamento Se espande, solta e cada tom se agita E num momento, no fulgor do tempo, Sulcando vai o ar como quem grita! O tempo passa, a tela parca e fria Transmite agora novas de alegria Que em becos, labirintos, se reparte. O Mestre vê, perscruta cada espaço, E as lágrimas que solta em cada abraço São fontes a jorrar Amor e Arte.

O Mestre e a Arte

Mestre Adelino Ângelo

Shirley Cavalcante


Corria febrilmente aquele espaço Examinando a tela, fria, nua E com magia dava a cada traço Pedaços dessa estranha vida sua! Juntava cada cor, cada pigmento, Com exorcismo tal que num instante Em cada gesto, em cada movimento, A tela pulsa no seu peito errante! E nesse espectro pleno de magia, Enquanto o seu pincel se contorcia Embevecido, com volúpia, brilho, Olhava a sua tela, a vida, a cor, E com loucura, em gestos de louvor, Gritava: - Santo Deus, nasceu-me um filho!

José Sepúlveda Mestre Adelino Ângelo



Levanta os olhos, queda-se a um canto A solfejar a estrofe da paixão! Solta as amarras. Como por encanto, A luz do teu olhar, suave canto, Leva até ele a tua inspiração. E o génio se faz Arte. Doravante, Tortura cada espaço e num instante Todo ele é cor e rasga o coração, José Sepúlveda


E o galo cantou...

Era já tarde e aquele mar gente Num pátio ao redor se reunia... Falava-se na morte do Inocente Que nessa tarde horrenda sucumbia... E entre aquela turbe, de repente, Uma mulher Simão reconheceu: - Também tu lá andavas bem na frente Na companhia desse Galileu! Sentindo-se desnudo, com desmando, Três vezes O negava, blasfemando, Três vezes canta o galo... Então, silente, Lembrou-se das palavras do Amigo: - Três vezes vais negar-Me... E constrangido, Simão chorou, chorou amargamente!

José Sepúlveda


Porque me abandonaste

Deixa-me entrar num coração mendigo Sedento de carinho, de ternura, Qual paria deste mundo apodrecido Vagueando pelas ruas da amargura, Sentir dizer com seu olhar ferido P'los pregos ferrugentos da loucura: - Porque me abandonaste, Pai querido, Em troncos de madeira podre, impura! Quisera nos seus olhos encontrar Qual Cristo que minha alma quer salvar Das manchas de lascívia, do pecado E em sua cruz, tormento desta vida, Reencontrar por fim a paz perdida Num mundo pervertido, tresloucado!

Interpretando a tela com o mesmo nome do Mestre Adelino Ângelo

José Sepúlveda






Mulher

Se houvera de escolher algum tesouro No meu peregrinar por esta vida Eu nunca escolheria prata ou ouro Nem ia atrás da pérola perdida Não ia procurar jardins em flor Nem pássaro de lira ou colibri Iria desejar o quanto amor Tu me transmites quando ao pé de ti

Por mais que a vida corra, o tempo passe, Se esse olhar singelo que em ti nasce Voltar pra mim em cada alvorecer, De todos os tesouros desta vida A minha escolha, a escolha preferida Serás apenas tu, deusa-mulher! José Sepúlveda




Dança comigo

Dança comigo em campos de açucenas Que nossos versos soltos vão parindo Neste jardim coberto de poemas

Que aqui na nossa festa vão florindo. Em mananciais de cores e de temas, Os versos teus e os meus vão colorindo

As salas e jardins em horas plenas De inspiração e arte, sonho lindo! Vamos bailar felizes e contentes,

Encher o pensamento, as nossas mentes, De júbilo, de graça, de harmonia, Com gestos, com palavras, com paixão,

Enchamos de vigor o coração Enaltecendo a arte, a poesia! José Sepúlveda


Criança

Ah!, não me mostres esse olhar tão triste Que há brilho nesse teu tão lindo olhar? Não mostres para mim a dor que existe No teu coraçãozito a palpitar? Eu imagino aquilo que já viste Num mundo em sofrimento ao teu redor, A dor, e o sofrimento que persiste Na tua estranha vida em desamor! Meu filho lindo, o brilho dos teus olhos Vai transformar tristezas e abrolhos Em noites de luar plenas de esp’rança E a força deste teu olhar profundo Irá dizer-nos que o melhor do mundo É o brilho dos teus olhos de criança José Sepulveda


O seu olhar altivo e petulante, Seguia aquela imensa multidão Ao longo da jornada, triunfante, Na sua eterna peregrinação. No curso do caminho, de repente, Surgia um bom lugar,e no momento, Juntava todo povo, toda a gente, Num ápice, montava o acampamento. E sob o seu poder e autoridade, Sentia o povo em paz, em liberdade, Seguindo o trilho pária que ele quis. No seu caminho errante, duro, nobre, Qual pária, o patriarca se descobre Naquele olhar austero mas feliz! José Sepúlveda


Seca

É longa a seca, grassa a falta de água No meu país azul, aqui e além E a gente clama, com tristeza, mágoa, Que chegue, enfim, a água que não tem. Em toda a parte, seja aonde for, É grande o seu clamor, amargo e triste, Os animais que morrem num torpor, A seara que nos campos não resiste. O tempo passa, cresce essa agonia E na desgraça, um grito: "Avé Maria" Que ecoa desde o norte até ao sul. O povo chora triste, desespera, Alimentando o sonho e a quimera Que a água volte ao seu país azul.

José Sepúlveda


Se neste ofusco estado em que me quedo Eu nem consigo percrustar meu eu, Como é possivel ser e não ter medo De ser e caminhar por entre o breu? Por toda a madrugada, até bem cedo, Eu vejo à minha frente um camafeu Querendo-me assaltar... E em meu degredo Eu sinto-me usurpado do que é meu...

E neste estado triste, inconsequente, Aquela imagem negra, recorrente, Insiste perturbar o meu sossego. E acordo perturbado, em sobressalto, E tento situar-me, e com um salto Eu volto ao meu viver tão triste e ledo... José Sepúlveda

Medo


É tarde, meu amor, passou-se o tempo E eis que o fim do tempo vai a chegar, Comigo parte o vago sentimento Do tempo que não soube aproveitar. Não sinto em mim rancor, ressentimento, P'lo tempo deste vão peregrinar, Apenas frustração, constrangimento, Por tudo o que esta vida quis deixar. Não chores se eu partir, eu não mereço, Por isso, meu amor, por Deus te peço Que esqueças os momentos de união. Que agora, o sentimento que persiste É que esse nosso amor já não exististe E tudo não passou duma ilusão. José Sepúlveda

É tarde


Relógio

Acordo pela noite e num instante Eu oiço o meu relógio pendular Em linda melodia, som cantante, Que vem meu dia-a-dia despertar. Relógio de madeira e enfeitado Com cores e motivos orientais; Na sua fronte um vidro facetado, No mostrador ponteiros, coisas mais. O som harmonioso, a melodia, Me faz lembrar a suave Avé-Maria Que ouvia nos meus tempos de menino. Puxo as correntes, oiço a melopeia, Vislumbro a velha Igreja, a minha aldeia E sinto estar a ouvir tocar um sino! José Sepúlveda


She

Ei-la desnuda a olhar-me perscrutando Em tom de desafio, com fulgor Paralisado fico. Eis senão quando Enfrento o seu olhar sem mais pudor. Ao ver-me, seu olhar em desvario Desvia-se do meu. E de repente, Eu sinto no meu peito um calafrio Como que vindo desse amor ausente. Olhei de novo. Agora, o meu olhar Deixou de ter razão para ficar Preocupada. Olhou pra mim sorrindo Ali permaneci, embevecido, Olhando pra seu peito enrijecido, Num frenesim tão louco, me esvaindo.

José Sepúlveda


Menina do bar

Essa menina bonita Que pela noite se agita Pelas praças e passeios Usa t'shirt laranja, Ladeada duma franja Quase oculta entre os seus seios.

No meio da multidão, O sentir de um coração Que pulsa na madrugada. Como é fresca, sorridente, Quando entrega a toda a gente As coisas que encomendava. Ah, quando se debruçava, Cada rola saltitava E espreitava p,la janela! Canta lá, fadista, canta Que o seu olhar nos encanta Nesta noite fresca e bela. Menina dos meus encantos, Procuro-te entre os recantos Na ânsia de encontrar. Esse teu sorriso lindo Meus olhos estão seguindo, Cativos do teu olhar! José Sepúlveda


No dia em que p'la morte for chamado, Não quero ouvir os sinos a tocar, Não quero ver o ar lacrimejado Nos olhos de quem nunca soube amar. Não quero ver meu corpo engalanado Com flores que perderam seu olor Nem quero ouvir ninguém "cantar-me o fado" Com fúteis ladainhas ao Senhor. Quando eu morrer, não quero ouvir contar Histórias deste meu peregrinar Tão cheio de perfídia e de loucura.

Respeitem meu silêncio, nada importa, Que quando a morte me bater à porta Eu possa estar em paz solene e pura! José Sepúlveda

Quando a morte me chamar


Ensina-me a pintar que quando sinto A força do pincel na tela mansa Meu coração palpita e então eu pinto Como se fora um sonho de criança! Ensina-me a pintar. Ó quanto almejo Pegar pincel e tela e num momento Lançar os tons da cor do meu desejo E ver brilhar a luz do pensamento! Aí quem me dera um dia ser pintor, Lançar-me na aventura e com fulgor Dar rasgo e cor à minha fantasia! Poder pintar no rosto duma tela A cor da minha vida louca e bela E nela ver a cor da poesia!

José Sepúlveda

Ensina-me a pintar


Adelino Ă‚ngelo Obras do Mestre


Mestre Adelino Ângelo Sobre o Mestre Adelino Ângelo, já teve quem dissesse ser a reencarnação de El Greco na vida dos miseráveis; outros, da luz de Sorolla y Bastida e há ainda aqueles que identificaram em seus quadros o psicólogo da loucura universal. Português de Vieira do Minho, em 2008 inaugurou a Sala Contemporânea da Pinacoteca da Associação. A grande paixão do Mestre é pintar figuras da miséria, andrajosos, esmoleres e loucos. São Cristos vivos, anônimos que não estão pregados à cruz sacrossanta, mas às encruzilhadas da vida árdua. Os seus rostos escavados pelas agruras cotidianas e seus corpos definhados pelas necessidades de todo o gênero, ao serem transportados às telas, ganham importância, ao pasmar os observadores. Na sua obra reúne cenas do cotidiano e paisagens, para que se veja o efeito da luz sobre a luz, uma das singularidades do artista. Um convite para visitar a sua Casa Museu, em Vieira do Minho. Guido Arturo Palomba Director Cultural da Associação Paulista de Medicina





















Casa Museu do Mestre Adelino Ă‚ngelo


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