“ E vi subir da terra outra besta, e tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro; e falava como o dragão.” Apocalipse 13:11
Ode a George Bush
George! Chovem tormentos dos céus de Bagdad, São os bombardeiros americanos Que despejam continuamente Bombas e ogivas aos milhões Sobre povo inocente Num gesto insensato e sem pudor. São armas destrutivas Que lanças impunemente, Indiscriminadamente, Sobre palácios e clínicas, Sobre a gente.
E tu, enfeitiçado, Entre reuniões, cimeiras e atitudes cínicas, Num gesto infame, Vais atirando justificações baratas, Como se fossem um baralho de cartas, Argumentando que esse enxame de ilusão É para destruir armas de destruição maciça Nas mãos de Saddam. Intrigas, George, intrigas!
E a gente assiste, impávida, impotente, Em tudo o que é televisão, A tanta destruição! É um filme sinistro, Em discurso directo, Espectáculo nunca visto, Deprimente, sem piedade E que nos fere a mente, de verdade! E, com gritos de revolta, Inconformados, Desabafamos: Anda o diabo à solta!
Vem ver tantas crianças que em pedaços Se desintegram num instante, Num clamor lancinante E cheio de cansaços, Vem ver as lágrimas de dor Que aquela mãe derrama Vendo extinguir-se a chama em flor Que dera ao mundo Num gesto de amor… Desgosto profundo!
Chovem tormentos dos céus de Bagdad… São os aviões de Sua Majestade, Aliados incondicionais, Que despedaçam impunemente, Digo, inutilmente, Tudo o que lhe vai na frente… Soluções letais Que espalham destruição E morte na cidade, Sobre um povo de glória, Gesta forte, Cuja sorte ditará também a nossa história Até à morte!
Pobre gente, George, triste sorte!
Vem ver arder as torres de ouro negro, Que se erguem no horizonte Entre densos areais desertos, Mas que são fonte de interesses encobertos… Tochas gigantescas, dantescas, Gritos de revolta dum povo que se agita E vive amargurado e contrafeito Ao ver ser destroçado, ser desfeito, Num gesto irracional e depravado O seu país amado. Triste fado, George, triste fado!
Perante esta agressĂŁo Desproporcional e infame, Numa atitude Desesperada e aflita, O povo grita: Antes Saddam, Antes Saddam!
Vem ver vidas roubadas De soldados americanos Que viajam de regresso Ă sua terra, Derrotados e sem glĂłria, Vencidos pela guerra.
Vão embalados Em fatos de madeira Envoltos numa bandeira Digna de orgulho e de respeito‌ Viagem derradeira, Caminho estreito Para tua vanglória!
Ouve os pais que choram pelas ruas Reivindicando as vidas que eram suas‌ Culpas tuas, George, culpas tuas!
A espada flamejante Do Anjo do Senhor, Que vigia as portas do Jardim, Agita-se espantada E em grande dor Sabendo que uma guerra assim Não leva a nada‌ Que horror, George, que horror!
O Tigre e o Eufrates Serpenteiam-se em correntes imensas Dum sangue nauseabundo, PrenĂşncio do fim do mundo!
Raquel, a pastora, Chora em tom amargurado. E, de seu rosto exangue, Caem torrentes e torrentes de sangue JĂĄ coalhado!
Chora Nabucodonosor acorrentado Aos dias gloriosos do passado Quando ouve, aflito, O lancinante grito Dum povo desprovido, despojado, Que implora para que seja destruído E não mais humilhado… Que pecado, George, que pecado!
E o legado da nossa memória Sucumbe entre os escombros Impotente e sem glória Perante tamanha impunidade!
Perderam-se raízes da história, Património da Humanidade!
Vem ver Barroso Na companhia de Blair e Aznar, A caminhar abraçado, Lado a lado, Amedrontado, nervoso, Para embarcar inebriado Nesta aventura do diabo… E, impregnados de grande gozo, Partem para a sua Al Qaeda nos Açores, Como se fossem num edílico passeio Para a Ilha dos Amores!
Vão decidir Em êxtase frenético, A destruição dum povo Que dizem ser o Eixo do Mal! E que,, afinal, diz: - Estava a ser enganado! Quem diria! Destrói-se um povo, assim, desbaratado E ninguém é culpado… Que ironia, Que patético!
Vês, George, a oeste nada de novo!
Vem ver os voos da CIA, Dirigindo-se para Guantânamo, A quinta dos horrores, A aterrar impunemente Nos Açores, Nessa base permanente, Rodeada de flores, Agora, coutada tua.
Estranha tirania, Ofensa grave à nossa soberania, À nossa gente! Atitude prepotente e infame, Bofetada sem mão Que nos fere o coração! Que vexame, George, que vexame!
Vemos o ditador subir ao cadafalso, Depois de um julgamento sumรกrio, Talvez falso, Vemo-lo depois morrer, aos gritos, Entre ritos de perfeito desamor, Sem qualquer dignidade, Sem respeito, Perante o olhar da gente! Indecente, George, que indecente! Direitos humanos!
Sobem tormentos aos céus de Bagdad! São os últimos redutos de Saddam Que se defendem nesta luta desigual Do Eixo Infernal que os devora E que fora arquitectado Em pressupostos de traição e de mentira Pelo mundo fora!
E agora, George, e agora?
Sente-se ao redor Um cheiro nauseabundo, Danos e mais danos, Coisas do mundo,
Enganos, só enganos, Afinal, tudo isto sem razão. Vai-te embora, George, que ilusão!
Agora, No refúgio do teu degredo Vives em segredo Momentos de terror, Noites de insónia…
E em sonhos irreais Vês-te envolvido em labareda densa Das chamas imortais Do fogo do inferno… E, apreensivo, perdido e incapaz, Tu ouves a sentença que nos traz A boca do Eterno:
Mene, mene, tekel, uparsin Pesado foste na balança e achado em falta
E , assim, Tu não dormes, contumaz!! Que pecado! E, prostrado sobre a cama, Mexes-te e remexes-te num delírio intenso Vês um vulto imenso E perguntas assustado: És tu, Saddam?
És tu, Osama?
Mas esse teu remorso, afinal, Para nós já tanto faz! Partiste, Eixo do Mal, Deixaste-nos envoltos Numa crise geral. Mas, o importante É que neste instante, Um grito de esperança Ecoa à nossa volta…
E, embora triste, Toda a gente insiste, resiste, e se solta E se agita confiante, Porque, finalmente, haverå paz à nossa volta!‌
FIM