Rancho do Castelo
Capa: Isac Romero Gonzalez
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Rancho do Castelo Histรณria
Joรฃo Silva
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(1. 0 Plano) — Dr. a Maria da Glória Martins da Costa, José António Marques e Ana Maria Martins da Costa. (2.0 Plano) — Francisco Vilaça, Maria das Dores Aliança, Maria de Fátima Trajano, Ilídia Rosa dos Santos, Maria Amélia Amorim, Virgínia Trinta, Maria d'Assunção Maio, Aida da Silva Baptista, Bina Marques. (3. 0plano) — Maria Trinta, Sofia Trinta, Maria Alice Veluda, Damiana Neto, Comandante da G. F. Tenente Almeida, Amélia Maria Salgado, Maria Zulmira G. Ferreira, Ana Brites, Júlia Gomes. (4. ° Plano) — Prof. Laurentino Monteiro, Casimiro Ramos, António Ferreira, João Silva, Martiniano. (3.° Plano) — Manuel Leites, Tony Malhão, Laurindo Laranja, José Mesquita, Abílio Fontainha, Dulcídio Marques, Custódio Faria de Almeida, Albino Maio B. de Lima, Joselino Pinheiro da Mata, António Terroso, Leonardo Trinta e Mário Leites. Na foto ainda se vê a bandeira do Rancho. Desconhece-se o seu paradeiro... que devia ser o nosso Museu.
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Ficha Técnica: Titulo:
Rancho do Castelo
Texto:
João Silva
Imagens:
Arquivo histórico
Capa:
Isac Romero Gonzalez
Recolha:
João Silva e José Sepúlveda
Letras:
Laurentino Monteiro Costa Reis
Músicas:
Laurentino Monteiro Alberto Gomes João Silva Cancioneiro Popular Português
Partituras:
João Silva
Formatação: José Sepúlveda Revisão:
José Sepúlveda e Amy Dine
Edição: E-book (Issuu José Sepúlveda) em Junho de 2017 correiasepúlveda@gmail.com)
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Reflexão e pensamento A música é um alimento de sons e harmonia proporcionadores de sensações de conforto e bem-estar. Quando falamos em Nova Música, não significa que a música seja nova porque ela é a mesma, ontem, hoje e sempre. Nova Música não é senão uma resposta adequada a sinais emitidos pelo tempo, propulsores de necessidades, procurando uma adaptação a cenários que desenham cultura, através dos quais vincamos a nossa identidade e procuramos dar respostas aos apelos de silêncios e de sons.
João Silva 1 0 7
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Duas palavras Preservar e tornar mais vivo o nosso património cultural, estendendo-o ao comum dos cidadãos e retirando-o das gavetas poeirentas onde vamos encontrá-lo, é o objetivo desta parceria com o amigo e professor João Silva, cuja abnegação e carinho tem proporcionado que muitos trabalhos, cujo valor é inquestionável, não se venham a perder com o tempo e acabem por cair no esquecimento. Com essa força de razão, eis aqui a recuperação daquele que foi o Rancho do Castelo, com os seus fundadores, as suas histórias, as suas músicas, recuperadas com extrema dedicação, corporizadas em partituras para orquestra pelo João Silva que assim recorda momentos felizes que viveu quando presenciou a formação do grupo no já distante ano de 1954. Apesar da sua existência efémera, levada por condicionantes sociais da época difícil que então se atravessava e que acabou por provocar o êxodo de alguns dos seus pilares para terras distantes, em busca duma melhor oportunidade para as suas vidas, eis aqui o legado de um bom número de preciosidades musicais que não poderiam ficar esquecidas. Algumas ainda hoje ecoam pelo ar, cantadas com alegria pelas gentes da nossa terra ou pelo timbre das vozes dos grupos e ranchos desta Póvoa que amamos. O João acabaria também por emigrar para o ex-Congo Belga, em busca duma nova oportunidade para a sua vida. E, motivado por esses condicionantes, o Rancho do Castelo acabou por se desaparecer. Mas, quando do seu regresso, João Silva reassume a genuina veia artística, agora com mais intensidade, dedicando-se então com afinco à recolha e preservação de tesouros esquecidos que andavam por aí. E deu coirpo a mais este projeto. Ele bem merece este carinho. Os esforços que desenvolveu para que este trabalho pudesse vir a público --- o refazer de todas as suas partituras, agora orquestradas, a pesquisa da sua história --- são razão suficiente para que possa ver esse desejo concretizar-se. Obrigado por isso, João Silva. Que os trabalhos aqui reunidos possam proporcionar a todos aqueles que a ele tiverem acesso o mesmo prazer sentida por si quando da sua elaboração e, quem sabe, possa ouvir em breve os temas aqui reunidos lançados ao vento nas festas e romarias das gentes da nossa terra. Bem-haja.
José Sepúlveda 1 0 9
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João Silva João Oliveira da Silva nasceu na Póvoa de Varzim a 29 de Agosto de 1933. Começou a interessar-se pela música com cerca de sete anos de idade, influenciado por seu primo e padrinho, Manuel Gavina. Foi aluno de António José Gomes (Marta), do qual recebeu aulas de solfejo e f l a u t i m . Aos dez anos entrou para a Banda de Música Poveira (Os Malhados), sob a Regência de Ângelo Maio, como instrumentista de flautim. Em 1947 foi membro fundador da Banda Musical da Póvoa de Varzim sendo então maestro Mário de Jesus, do qual recebeu aulas de Teoria Musical e noções de Composição e Organologia. Por essa altura ingressou no estudo de Violino, com o Prof. Martinho Gomes, tendo permanecido nos estudos até emigrar para Leopoldville (Congo Belga). Foi violinista da Capela Alberto Gomes e atuou também sob a direção do Dr. Josué Trocado. Foi compositor de duas marchas graves, Senhora do Carmo e Senhora das Dores, para a Banda de Música da Póvoa de Varzim, que lhe valeram a admiração de todos os seus colegas do grupo. Em 1953 foi um dos fundadores do Rancho do Castelo, criado por Santos Graça. Em 1956 emigrou para Leopoldville, Congo Belga, como técnico de relojoaria. Ali, fez parte da Orquestra Ligeira Portuguesa e com o pianista René Jacobes deu um concerto de Violino no Cine Palace. Interagiu com um imenso número de personalidades amantes de música clássica (embaixadores, professores do conservatório), tendo efetuado concertos nas escolas Belga, Francesa, Instituto Alemão e outros onde a sua presença e a dos seus companheiros era requerida. De regresso a Portugal, fez a sua profissionalização oficial c o m o professor de Educação Musical na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), com a classificação final de quinze valores. Possui carta de Regente de Bandas de Música e Instrumentista de Violino. Atuou no Casino da Póvoa, na orquestra do Maestro Victor José, durante cerca de nove anos. Foi Professor de Educação Musical na Escola C+S de Vila Pouca de Aguiar. Atualmente exerce como voluntário a atividade de professor na Universidade Sénior do Rotary Club da Póvoa de Varzim, onde ensina Cavaquinho. Recuperou com José Sepúlveda a Opereta Maria, libreto do Dr. José Sá e música do Prof. Domingos Pinho; a Opereta Poveiros, libreto do Dr. José Sá e música do prof. Alberto Gomes; e História do Grupo Folclórico Poveiro, tendo para breve a recuperação de outros tesouros do nosso património cultural. João Silva 1 0 1
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Laurentino Monteiro vs Ruy Monte Laurentino Monteiro nasceu em Fafe, em 24 de Julho de 1902 e faleceu no Hospital de S. João, no Porto, em 7 de Julho de 1986, jazendo no cemitério de Moledo do Minho, Concelho de Caminha, onde viveu nas duas últimas décadas da sua existência. Possuía o curso completo do Seminário Conciliar de Braga e foi aluno do grande musicólogo Padre Alaio, fundador do Orfeão de Braga, com quem aprendeu piano, órgão e canto. Abandonada a vocação sacerdotal, Laurentino Monteiro casou e enveredou pela carreira de professor do ensino secundário (particular) ao longo de 55 anos da sua vida e quase até ao seu termo. Obteve o diploma do então designado Ministério da Instrução Pública, em 3 de Fevereiro de 1932, o qual lhe conferia autorização para ensinar as disciplinas de Português, Latim, Francês e Geografia. Lecionando então em Fafe, esteve ligado ao antigo Liceu Rodrigo de Freitas no Porto, onde o seu nome consta do livro de Registo respetivo, nas folhas 56 e verso, com o número 410. Nesse mesmo ano de 1932, o seu nome e a sua habilitação são registados no Liceu Carolina Michaelis no Porto e também no Liceu Alexandre Herculano. Durante a sua carreira docente, lecionou nos Colégios do Carmo (Penafiel) e em 1938 já é professor no Colégio D. Nuno (Póvoa de Varzim). Mais tarde lecionou nos colégios em Belinho (Esposende), Santa Rita (Caminha) e Campos (Vila Nova de Cerveira), nas duas últimas décadas da sua existência. Laurentino Monteiro foi um dos fundadores do Orfeão de Fafe, nos anos 20 do século passado, no qual cantou largo tempo e que dirigiu na sua primeira fase. Foi fundador e diretor artístico de diversos orfeões académicos, sendo diretor artístico do Orfeão de Vila Praia de Âncora, de 1966 a 1974 e do qual foi eleito Sócio de Honra. Na Póvoa de Varzim viveu durante cerca de três décadas, a partir do final dos anos 30. Quando estava ligado ao Colégio D. Nuno, do qual chegou a ser diretor pedagógico, o então professor, participou ativamente da vida poveira, integrando a maioria das associações culturais, recreativas e religiosas, como o Clube Desportivo da Póvoa (de que foi um dos fundadores e presidente), o Clube Naval, o Varzim Sport Clube, os Bombeiros (de que foi vice-presidente), o Orfeão Poveiro e outras agremiações locais e fundando o Rancho do Castelo, tendo sido autor de grande parte das músicas e das letras daquele grupo folclórico. Em Caminha, desenvolveu também intensa atividade nas associações etnográficas e culturais. Convidado pelo Dr. José da Costa Fonseca a lecionar no Externato de Santa Rita de Caminha, é com ele e com o Padre José Passos Vaz, Germano Ramalhosa, D. Maria Zita Mancelos Sampaio e D. Maria Fernanda Rodrigues que é criado no dito externato, o 2.º Ciclo do então curso secundário liceal, que funcionou como curso unificado até ao ano de 1983/1984, data em que o Colégio de Santa Rita de Campos (Cooperativa de Ensino), começou a funcionar e de que o Professor Laurentino Monteiro foi um dos
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Rancho do Castelo sócios fundadores. Literariamente usava o pseudónimo de Ruy Monte e a sua obra é rica de conteúdo, quer em prosa, quer em verso. Desde cedo ligado ao jornalismo, colaborou em diversos periódicos das cidades por onde foi passando. Na Póvoa de Varzim ocupou lugar de relevo entre os colaboradores do Comércio da Póvoa, enquanto em Caminha colaborou no jornal Caminhense e na revista Camoniana. Em Fafe, publicou dezenas de textos em verso e em prosa no extinto Justiça de Fafe. Publicou o seu primeiro livro de poemas, com o título ‘‘Entre as Mulheres’’, em 1984, quando contava 82 anos de idade. A sua obra dispersa por jornais e revistas foi reunida em dois volumes, que estão desde 2007, finalmente, à disposição dos leitores, por iniciativa do Núcleo de Artes e Letras de Fafe. Foi com este homem que privei durante cinco anos no Externato de Santa Rita, onde foi meu professor de Português, Francês, Ciências, História e Geografia, se não esqueci alguma… Tantos anos passados, recordo em primeiro lugar o homem bom e simples que não alardeava a sua imensa cultura (como hoje muitos o fazem, acenando canudos de origem duvidosa), pedagogo exigente como poucos, frontal nas opiniões, mas compincha por natureza. Não irei debruçar-me sobre os métodos pedagógicos então utilizados e que passavam muitas vezes por castigos corporais. Eu que o diga, que era habitualmente um dos premiados. O certo é que aluno que lhe passasse pelas mãos ia bem preparado para o exame ou então, ele mesmo dizia que não o ‘‘levava’’. As pantufas usadas no Inverno, o guarda-chuva sem cacheira que ninguém roubava, a temida caderneta na qual tudo era apontado, eram a sua imagem de marca. Mais tarde, ainda o encontrei no Orfeão de Vila Praia de Âncora, quando já não era diretor artístico, após ter passado a responsabilidade ao Dr. Francisco Sampaio, mas ainda era um orfeonista cativo, enquanto eu era apenas um jovem elemento da secção de teatro. O texto vai longo, vou deixar para outra vez a recordação de algumas peripécias, mas não posso terminar sem expressar a mágoa de ver que um dos maiores poetas líricos do Minho, um exemplar, esforçado e competente trabalhador que dedicou a sua vida ao ensino, ainda não teve qualquer homenagem digna, que perpetue o seu nome e divulgue a sua obra.
Brito Ribeiro
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Francisco Vilaça Francisco Vilaça, coreógrafo e ensaiador do Rancho do Castelo. Nasceu na Póvoa de Varzim no dia 18 de Junho de 1919, Faleceu no dia 24 de Dezembro de 1990 Era homem com grandes conhecimentos na arte Etnográfica/Folclórica, tendo sido solicitado para orientar diversos grupos de danças e cantares onde angariou muita estima e amizade pelos conhecimentos que tinha na arte de coreografar e orientar marcações. Por tal motivo foi solicitado a orientar um rancho na Trofa onde era sempre bem recebido e respeitado pelos elementos que dirigia. Na Póvoa foi escolhido pela Comissão do Rancho do Castelo para ser o coreógrafo e orientador das danças e marcações do Rancho que pela sua competência e trabalho apresentado provou ser a pessoa indicada para tal fim. Era pintor da construção civil, pessoa muito respeitada por colegas e superiores, o que lhe granjeava muitas amizades quer na profissão ou na vida civil que levava. Foi músico percursionista da Banda Poveira os Malhados, sob a orientação de Ângelo Maio. Era pessoa dinâmica amigo do seu amigo e na Banda de música era também sempre o homem escolhido como Animador e Mestre Sala nos Bailes de Carnaval e Mi/Careme que a Banda organizava periodicamente nestas alturas. Após o fim do Rancho do Castelo, Francisco Vilaça foi chamado a orientar o Rancho do Norte, assim como as Rusgas do mesmo, nas festas de São Pedro, por ocasião das festas dos Santos Populares da Póvoa.
Alfredo Vilaça (filho)
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António dos Santos Graça António dos Santos Graça nasceu na Póvoa de Varzim, no dia 16 de Janeiro de 1882 na rua do Carvalhido e faleceu a 7 de Setembro de 1956, na sua residência, no n.º 5 da Rua da Junqueira. Filho de João dos Santos Constantino e de Maria Francisca, teve no batismo o nome de António dos Santos Constantino. Por ser afilhado do médico vila-condense Dr. António Duarte Baptista Graça, passou a usar o apelido do padrinho, mudando mais tarde e oficialmente, o seu nome para António dos Santos Graça. Antigo comerciante de fazendas e indústria têxtil e de conservas, foi um autodidata tendo-se notabilizado como jornalista, escritor e etnógrafo poveiro. […] Num breve escorço, vamos sintetizar, cronologicamente, os principais dados biobibliográficos de Santos Graça.
Vereador Municipal, depois da implantação da República.
Administrador do Concelho, por Despacho do «Diário do Governo» de 6 de Julho de 1911 e exonerado, a seu pedido, por Despacho do D. G. de 24 de Fevereiro de 1915. Novamente
Administrador, por Despacho do D. G. de Junho de 1915 e exonerado, a seu pedido, por Despacho do D. G. de 5 de Maio de 1916.
Chefe da Secretaria da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, nomeado em sessão camarária de 8 de Outubro de 1917, tendo sido declarada sem efeito essa nomeação, em 14 de Dezembro de 1917. Só em sessão camarária de 20 de Fevereiro de 1919 é que se verificou a nomeação definitiva. Aposentou-se em Fevereiro de 1939.
Deputado eleito pela maioria do Círculo Eleitoral de Santo Tirso (ao qual pertencia a Póvoa de Varzim), suspendendo, por esse motivo, as suas funções de Chefe da Secretaria da Câmara da Póvoa de Varzim, até Junho de 1920.
Eleito para a Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia, em Assembleia Geral de 25 de Julho de 1920, tendo sido escolhido para:
Provedor, em 14 de Agosto de 1920, cargo que desempenhou até ao final do ano de 1928.
Senador pelo Distrito do Porto, em 1925.
Jornalista e etnógrafo distinto.”
BARBOSA, Jorge - Toponímia da Póvoa de Varzim: IV. Póvoa de Varzim: Câmara Municipal, 1980, p. 204-209.
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Como Nasceu o Rancho do Castelo Já se passaram aproximadamente sessenta e quatro anos quando por sugestão do Etnógrafo Santos Graça se fundou na Póvoa o Rancho do Castelo. Estando um dia de chegada á Póvoa um cidadão brasileiro, o Comandante Braz da Silva, que vinha acompanhado de sua esposa, recomendado pela Casa dos Poveiros do Rio de Janeiro, tinha este cidadão a esperá-lo um mar de gente que o saudava gritando vivas, podendo-se dizer que a Póvoa estava ali presente para si. Todas as coletividades poveiras se fizeram representar e um grande número de jovens trajando à poveira com trajes modernos e antigos, rejubilavam, imprimindo ao ato a solenidade que o mesmo pedia e a gente da Póvoa exigia. Entre os convivas estava Santos Graça que ao ver a alegria que brotava daqueles jovens que como ele esperavam a chegada dos ilustres convidados, lhe surgiu a ideia de se formar um novo rancho, trajando como trajavam os nossos pescadores em dias de festa e romarias... E se bem pensou, melhor o fez. Reuniu à sua volta forças vivas da comunidade poveira, de onde sobressaíam Laurentino Monteiro, Francisco Vilaça, João Silva, as irmãs Maria da Glória e Ana Maria Martins da Costa, o Tenente Almeida, chefe da Guarda Fiscal, Casimiro Ramos, José Marques, da loja Concha Azul, que viriam a transformar-se no motor que corporizou o aparecimento do novo rancho, o Rancho do Castelo. Este era formado por um grupo de elite de jovens, raparigas e rapazes da classe média Poveira, que lhe dedicavam um especial carinho nos convívios que se faziam nas reuniões e ensaios, ou nas saídas para as festas que era convidado. Constituiu-se uma Comissão para orientar e gerir todos os passos do rancho, sendo cada elemento responsável pela tarefa que lhe era atribuída, e que tinha de ser cumprida com absoluto rigor. Meninas do Rancho com seu traje Essa comissão era formada por: Laurentino Monteiro, encarregado da composição das peças e dos coros do Rancho, assim como da supervisão de todo o funcionamento.
Aida Baptista e João Silva
- Maria da Glória e sua irmã Ana Maria, responsáveis pelo traje, inspirado no traje de festas e romarias então usados pelos nossos pescadores: Rapazes, camisa branca, calça preta com faixa branca na cinta, colete e boina; as raparigas vestiam blusa multicor ou casaquinha, que adornavam com cordão de ouro, lenço na cabeça, saia comprida com lado levantado até á cintura e saco bordado de croché na mão. Aos seus componentes era exigida uma conduta irrepreensível. E lá estavam as irmãs Maria da Glória e Ana Maria como guardiãs do comportamento de
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todos os elementos do Rancho. - Francisco Vilaça era o coreógrafo, encarregado das marcações e coreografias, assim como da escolha dos pares marcantes, que iriam corporizar as atuações do Grupo. - João silva era o encarregado da constituição da orquestra e dos ensaios da orquestra, música e coros. - Casimiro da Silva Ramos, funcionário da Casa dos Anjos de Martins da Costa e José António Marques, proprietário da Concha Azul, apoiavam a Direção e funcionavam como Relações Publicas do Rancho. O reportório era constituído por composições na sua maior parte originais, direcionadas para um público muito peculiar de bairro, e cada peça era um louvor à bravura de nossos heróis, às gentes do bairro e à Póvoa em geral, sendo constituído pelos seguintes temas: - Marcha do Rancho do Castelo, de Laurentino Monteiro - O Nosso Castelo Pequenino, de Laurentino Monteiro - Ondas do Mar Tão Bravo, de Laurentino Monteiro - A Nossa Querida Póvoa, de Laurentino Monteiro - Água do Rio não Pára, letra de Costa Reis, música de Alberto Gomes - Vira da Praia (Vira das Raias), letra de Laurentino Monteiro, música João Silva -Ó Filho, Vai-te Matar, letra de Laurentino Monteiro, música de João Silva -Saudação a Barcelos, de Laurentino Monteiro -Ora Biba a Pandega, letra e música do Cancioneiro Popular Português -Rapsódia N.º 1, Canções Populares Portuguesas
Todos estes temas eram acompanhados por uma pequena orquestra, de que faziam parte os seguintes elementos: Martiniano, sax contralto António Costa, acordeão João Silva, violino Américo Sapo, José Sapo e António Ferreira, violão
O Rancho era muito querido pela gente do Bairro do Castelo e da Póvoa em geral. Tinha a simpatia das elites poveiras tais como Santos Graça, Zé Malhão, Costa Novo, Batista de Lima, Costa Reis, Aldino, Zé dos Reis e muitas outras personalidades de destaque da vida poveira. Os ensaios do Rancho eram feitos num armazém do Pepe Ribas que o disponibilizou sem custos. Os ensaios eram uma grande oportunidade de convívio, para os jovens se divertirem e trocarem promessas de amor. E contam-se alguns casos em que essas promessas vieram a dar fruto. Foram diversos aqueles que se uniram em matrimónio e geraram famílias. Além das exibições domésticas, fossem no Casino, ou na festa da Senhora da Conceição, a padroeira do Castelo, ou no Pavilhão do Club Desportivo da Póvoa, o
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grupo recebia também convites para apresentações no exterior da Póvoa, aos quais, cheio de alegria, ia correspondendo sempre que as oportunidades o proporcionassem. Um dia recebeu um convite para atuar numa festa em Barcelos, ao ar livre e no Cine Teatro Gil Vicente. Foi para todos os componentes do Grupo um momento de grande alegria que via nessa oportunidade uma fuga para um pouco de liberdade das amarras dos seus parentes próximos e a possibilidade de se poderem espraiar mais à vontade, num convívio mais liberto com os namorados, felizes e contentes num agradável passeio de mãos dadas. Mas havia um problema que urgia resolver. Foralhes pedido que o Grupo levasse para apresentar uma música dedicada á cidade que nos recebia, Irmãs Martins da Costa e José Marques uma canção que exaltasse o povo de Barcelos, a sua Nobreza, os seus Heróis e vincasse as belezas da cidade. O tempo escasseava para compor, ensaiar coreografias, enfim… foi assim que Laurentino Monteiro resolveu adaptar à música A Nossa Querida Póvoa esta letra para a Cidade de Barcelos. Nobre cidade Minhota Que tens a graça divina De atravessar tantos séculos E cada vez mais menina, Nós te saudamos com graça E trazemos a cantar Os beijos mais saborosos Da nossa Póvoa do Mar
(Coro) Cidade jardim Canteiro de amor Céu azul sem fim Mansão sempre em flor Beija-te o Sol o cabelo Ao ver que tão linda és E tens um rio tão belo A beijar-te os lindos pés. Nobre cidade Minhota Quási a mais nobre, a primeira, Que estendes tuas façanhas Pela nossa história inteira! Terra da Cruz sacrossanta, De Bispos e Fidalguia Que já deu lições ao mundo, No Castelo de Faria (Coro)
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O evento foi um sucesso. O povo de Barcelos vibrou de contentamento ao sentir-se homenageado pelo Rancho, que naquele momento estava ali como embaixador da nossa Póvoa. O povo aclamava com entusiasmo e pedia bis em cada exibição, não regateando aplausos. A exibição do Rancho calou bem fundo no coração dos Barcelenses e o regresso a casa foi alegre a cantar a nossa música, então, o verdadeiro Hino do Rancho do Castelo. Entre muitas outras exibições, recordo de um S. Martinho, corria o ano de 1953, em que todos os elementos do Rancho e respetiva Direção, cujos membros se fizeram acompanhar de alguns familiares. Foi uma linda festa onde não faltaram as castanhas e a respetiva pinga e onde se bailou pela noite dentro, ao som de música gravada, até altas horas da madrugada. No dia 8 de Dezembro, dia da festa da Senhora da Conceição, junto ao Castelo, o Rancho tinha uma festa agendada. O recinto estava cheio de gente de todos os bairros para assistir à exibição do Rancho. À hora prevista para essa apresentação, demos conta que faltava o elemento que iria cantar ao desafio com a Albina Marques, no Vira das Raias. Procurava-se por todo o lado, cafés e capelinhas, e ninguém o encontrava. Eis que de repente surge alguém dizendo tê-lo visto na companhia do Tony Malhão, filho do dono de uma padaria especialista na fabricação de Bolo-rei, bem perto do recinto da exibição. Foram ao seu encontro e encontraramnos refastelados, com toda a calma do mundo, a Membros do Rancho em atuação comer umas guloseimas e a beber animados umas taças dum branco especial ali escondido para o momento. E lá o arrastaram para a festa que, alegre, animou toda a gente ao redor. Era assim que se vivia naquele tempo... Não havia televisão, telemóvel, muito menos internet. Foi efémera a vida do Rancho que durou apenas dois anos. A época difícil que se atravessava naquela altura, levou a que alguns elementos preponderantes no Grupo tivessem de abandonar o projeto e a sua terra, emigrando para outras terras e gentes em busca de melhores condições de vida. Foi o caso de Martiniano, João Silva, os irmãos Américo e Zé Sapo e ainda outros elementos que com enorme pena deixaram o Rancho, sem condições para continuar. Um fatal acidente de viação acabaria ainda por ceifar a vida do jovem António Ferreira, elemento de grande valia na guitarra acústica, deixando o Grupo consternado e em estado de choque. Outra das coisas que contrubuiu para o seu desaparecimento prematuro foi o bairrismo exacerbado de alguns grupos de pessoas que culminavam com insultos, com piadas de mau gosto e apupos de muitas espécies e recorrendo muitas vezes a atitudes que não estimulavam a continuidade do trabalho. Eis a história do Rancho do Castelo, o simpático grupo que deixou saudades nas mentes de todas as pessoas que por ele passaram, saudades que o tempo jamais irá apagar e que permanecerão ao longo da nossa também efémera existência. NOTA: Num artigo publicano no Jornal Voz da Póvoa de 13 de Novembro de 1986, José Marques (Joteme) refere um Rancho do Castelo que terá existido nos anos vinte, entre outros grupos que então atuavam em ocasões especiais.
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O Triato no Rancho do Castelo (Teatro) O Rancho do Castelo era um rancho diferente dos outros, que pela mesma altura se formaram na Póvoa. Eram os outros, o Rancho do Cidral, Belém, Nova Sintra e Rancho da Lapa. O Rancho tinha características próprias. As peças do seu reportório nada tinham a ver com o usual tipo revisteiro que caracterizava os ranchos da época. Eram coreografias que ilustravam a vida do Componentes do Rancho do Castelo Poveiro, no mar, na terra, com suas alegrias e tristezas assim como o drama dos pescadores na luta pela sobrevivência, em dias de tormenta e mar encapelado, invocando aos Santinhos da sua devoção, o alívio das aflições que passavam. O Rancho tinha uma peça que descrevia com rigor as situações acima referidas. Essa peça chamava-se ‘‘Ó ONDAS DO MAR TÃO BRAVO’’. Numa das suas atuações, resolveu o coreógrafo Vilaça, apresentar a dita peça, que justamente ilustrava um dia de maresia, com os barcos em grande aflição, em risco de naufrágio. A coreografia apresentava-se assim: Homens e mulheres simulavam grande aflição, correndo com as mãos na cabeça gritando: Ó ondas do mar tão bravo Ai ai Ai ai. Os homens descobriam-se e as mulheres cantavam: Onde pára o meu amor… Ai ai Ai ai. Em gesto de súplica: Trazei-mo já aos meus braços Homens e mulheres cantando Pedi-me seja o que for Há Há Há… Neste momento, as mulheres ajoelhavam de mãos erguidas em gesto de prece e os homens de pé, boina na mão em canto de boca fechada, acompanhavam a solista na oração: Nossa Senhora da Lapa, Mãezinha dos pescadores, Trazei-os a salvamento, Lembrai-vos das vossas dores (Todos de pé) Há Há Há Há...
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Tinham ultrapassado o perigo, e dançando em tempo de Marcha Nossa Senhora da Lapa, Lá foram Prantos e Ais, Passou a barra maldita Bendita sempre sejais Há Há Há… Há Há Há… Mal acabou a exibição deste número, um ruidoso coro de protestos das claques dos outros ranchos, diziam -
Isso não é dança, isso é TRIATO (teatro) Triato…Triato…
E assim continuavam em grandes vozearias a protestar. O Rancho, ufanoso da sua prestação, avançou de imediato com a Rapsódia de Cantos Populares do nosso cancioneiro, terminando a sua exibição com a Marcha do Castelo. Esta reação do público era fruto das rivalidades bairristas, que por vezes provocavam alguns desacatos entre a assistência, afeta aos seus Grupos, mas tudo terminava sempre em bem. Um caso caricato aconteceu um dia durante uma exibição. Os elementos do rancho, quando estavam em palco a dançar, procuravam sempre a perfeição na apresentação do seu trabalho. Os rapazes e as raparigas apresentavam-se sempre com o seu traje impecável, bem asseados, graças ao zelo e cuidado das irmãs Martins da Costa que não queriam ser criticadas por má apresentação. Ora, um belo dia aconteceu que uma das raparigas, no entusiasmo da dança, deixou cair a saia, continuando a dançar em saiote… Foi um inconveniente que motivou crítica e risos entre os populares Mas o incidente em nada afetou a rapariga que com entusiasmo, como se nada tivesse acontecido, continuou alegre e sorridente e com entusiasmo a dançar até final. O LUGAR DA CRÍTICA. Junto à nossa Fortaleza, também conhecida pelo Castelo, virado a sul, havia uma espécie de mercado de peixe onde as carrinhas e camiões dos mercadores Joaquim Bernardo da Costa, o Bota para a Mula, Pepe Ribas, Silva Casaleiro e outros, carregavam e descarregavam peixe para venda e para consumo da terra e das localidades circunvizinhas. Também aí se vendia sargaço, empilhado em medas, que os lavradores mercavam para a adubagem das suas terras. Mulheres vendiam sardinha fresca e salgada, exposta em pequenas bancas de madeira, que a gente mais pobre comprava para o presigo dos seus familiares. Havia também ali raias e cações a secar em varais que eram, em conjunto com o bacalhau, o pitéu para as noites de consoada de Natal e de Ano Novo.
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Era aí que muitas vezes o pessoal conversava e exprimia opiniões sobre os Ranchos da sua preferência, participando assim em verdadeiras tertúlias ao ar livre, com críticas saudáveis às atuações dos Grupos seus preferidos. E entre os preferidos estavam sempre o Rancho do Castelo e o Rancho da Lapa. Os outros eram apenas os outros, na sua forma bairrista de apreciar. Quando as pessoas do Bairro da Lapa vinham mercar ao Castelo, logo arranjavam forma de provocar os rivais do Castelo, que respondiam em alto e bom som: A Lapa O Cu…, ração nem sempre bem aceite pelas rivais. Em resposta, sempre que as gentes do Castelo passavam na Lapa, também eram cortejadas com um simpático… Uiiiii, que cheiro a raias fumadas!... Foi nessas trocas de mimos que na altura o Prof. Laurentino Monteiro se inspirou para escrever o Vira das Raias, musicado por mim. Fui á pesca da sardinha Contente como costume Não sei que praga o mar tinha Ai que só deu raias com fumo No final, os momentos de humor e os mimos com sarcasmo que o Rancho dedicava ao seu constante adversário. Quero aqui deixar uma palavra de apreço à Maria Alice que com a sua voz de ouro encantava quem a ouvia cantar. Era uma excelente voz de Soprano, límpida, com uma afinação perfeita, e digna de ser melhor aproveitada. A Maria Alice era invisual, mas os seus olhos conseguiam enxergar bem mais longe que os nossos. Obrigado, Maria Alice, por tantas alegrias que nos proporcionaste com a tua linda voz.
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Rancho do Castelo (Marcha)
Cá vai o Rancho do Castelo Espalhando canções no ar Traz a alegre voz da serra Unida à dor do nosso mar Cá vai o Rancho do Castelo Corações a arder num amor sem fim À terrinha mais formosa Que é a nossa Póvoa de Varzim Coro Não traz luxo no vestido Nem ar presumido Nem reportório novo É tudo antigo como o bom Castelo Mas tudo é belo E simples como o povo
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O Nosso Castelo Pequenino Em passos graves, Batendo no chão, Lá passa a sentinela À frente do portão, Àlerta, alerta está! Naquele ar bondoso e simples Tão discreto e pequenino Parece o nosso castelo Um brinquedo de menino Mas tão velho, tão velhinho Que à noite, nos torreões, Vêm os fantasmas saudosos Fazer nele os seus serões Aí quando a noite é sombria E o mar ladra como um cão Quantos ais o tem ouvido, Parece ter coração E o seu vulto pequenino Visto da barra a tremer É como o irmão querido Que os ouve e lhes vai valer Mas também, quando sol alto, Passam a barra sem dores, Como abre todos os braços Aos seus bravos pescadores E as pedras quase se movem E o rosto todo se aviva Pra gritar também com eles Ala arriba, ala arriba E à noite, noite fechada, Volta a dormir satisfeito Como se os tivesse a todos Deitados contra o seu peito E sonha tanto o velhinho Que para o não acordar Os fantasmas emudecem E também se vão deitar (Repete estribulho) Alerta, alerta está Passe a palavra!
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Rancho do Castelo
Ó Ondas do Mar Tão Bravo Ó ondas do mar tão bravo Ai ai ai ai Onde para o meu amor Ai ai ai ai Trazei-mo já a meus braços Pedi-me seja o que for Nossa senhora da Lapa Mãezinha dos pescadores Trazei-mo a salvamento Lembrai-vos das vossas dores Nossa senhora da Lapa Lá foram penas e ais Passou a barra maldita Bendita sempre sejais
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Rancho do Castelo
A Nossa Querida Póvoa Casta princesa das ondas Como as não há mais gentis Nem que génios te sonhassem Na inspiração mais feliz Terrível noivo escolheste Mas dobra a sua altivez Que passa a vida a ameaçar-te E morre a beijar-te os pés Coro Ó Póvoa de Varzim Ó terra sem par Céu azul sem fim Ó noiva do mar Beija-te o sol num abraço Vela-te o sono o luar E é no teu doce regaço Que as ondas vêm descansar Princesa da terra e mar Herdas a graça dos dois Por isso és terra de artistas Por isso és berço de heróis Que o diga o Cego do Maio Afrontando o mar profundo E o Eça, mestre da graça Enquanto o mundo for mundo
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Rancho do Castelo
A Água do Rio Não Pára A água do rio não para, Não para senão no mar, Foges de mim, meu amor, Também não posso parar Dai-me ajuda, meu S. Pedro, Tuas redes lanço ao mar Que o meu amor é brejeiro E não se deixa pescar Coro Vem cá, amor, vem cá, Vem cá aos braços meus, Amar não é pecado, Também se ama a Deus Água do rio não para Sempre a cantar e a correr Não corras tu, meu amor, Assim nem te posso ver Dai-me ajuda, meu S. Pedro, Tuas redes lanço ao mar, Que o meu amor é brejeiro Só tu m’o podes pescar Coro Vem cá, amor, vem cá, Vem cá aos braços meus, Amar não é pecado, Também se ama a Deus
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Rancho do Castelo
Vira da Praia Fui à pesca da sardinha Contente, como costume Não sei que praga o mar tinha Que só deu raias com fumo Saiu-me na lotaria Uma mulher pró pagode Vai-te despir, minha enguia Nem sítio tens pró bigode Que há-de fazer a má-língua Deixa-a falar no teu nome Só fala quem passa míngua Não chega a maldada fome Chamas-me bruxa, são zelos Quem foi que me embruxaria Se tens peneiras ou novelos Em casa da tua tia
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Rancho do Castelo
Ó Filho, Vai-te Matar Ele
Minha rica flor do tojo Minha linda primavera Tens-me amor ou tens-me nojo Diz-me lá que estou à espera
Ela
Quem espera sempre alcança Espera que caia a caruma Inda sou uma criança Não tenho pressa nenhuma
Ele
Quem pergunta tem resposta, É de boa educação Andas sempre mal disposta Nem dás o pé nem a mão
Ela
Queres resposta p’ra me ouvir? Espera ai que ta vou dar Ó chico vai-te despir, Ó filho vai-te matar
Ele
Não me mato, não, descansa Que a terra agora arrefece Se és ainda uma criança Eu espero, cresce e aparece
Ela
Não quero a tua bondade Que falas sempre a mangar O melhor é ires pra frade Não tenho resposta a dar
Coro Ó i ó ai Quem escorrega também cai Tropecei à tua porta Nos tamancos do teu pai Ó i ó ai Ninguém diga que está bem Pela cara que me deitas Vê-se bem que sais à mãe
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Rancho do Castelo
Saudação a Barcelos Nobre cidade minhota Que tens a graça divina De atravessar tantos séculos E cada vez mais menina Nós te saudamos com graça E trazemos a cantar Os beijos mais saborosos Da nossa Póvoa do Mar Coro Cidade jardim Canteiro de amor Céu azul sem fim Mansão sempre em flor Beija-te o sol o cabelo Ao ver que tão linda és E tens um rio tão belo A beijar-te os lindos pés Nobre cidade minhota, Quase a mais nobre, a primeira Que estendes tuas façanhas Pela nossa História inteira Terra da Cruz sacrossanta De Bispos e Fidalguia Que já deu lições ao mundo No Castelo de Faria
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Rancho do Castelo
Bib’á Pandega Ora bib’á pandega Ora bib’ó lá Como a nossa pandega Num há num há Já num há num há Já num pode haber Coro La ri ló lé la Toca a folgar toca a rir Que benha pró nosso rancho Quem se queira dibertir Ora bib’á pandega E bib’ó prazer Co’a nossa pandega Num pode haber Já num pode haber Já num pode haber Ora bibá pandega Ora biba bem Com’a nossa pandega Num faz ninguém Já num faz ninguém Já num faz ninguém
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Rancho do Castelo
Rapsódia Água leva o regadinho Água leva o regador Enquanto rega e não rega, Vou falar ao meu amor Água leva o regadinho Pela minha porta abaixo Escorreguei e caí Parti o fundo ao tacho Ora abana a pereira Ora bem abanadinha, ora bem abanadinha Ela não tem nada Ora já não tem nadinha, ora já não tem nadinha. Nós vimos de S. Torcato Duma grande romaria, Ai Ai Ai, duma grande romaria, Ai …Ai… Ai, duma grande romaria. As pobres à lavradeira As fidalgas à Judia. Ai … Ai …Ai, as fidalgas à Judia, Ai… Ai… Ai, as fidalgas à Judia. Vai indo ó José vai indo, Vai indo ó José que eu vou. Cantando, ó José cantando, Cantando, ó José cantou. Olha os noivos, olha os noivos, olha os noivos, Que estão a fazer lá dentro? (bis) Estão a fazer a cama, estão a fazer o ninho P’ró dia do casamento (bis) Ó pião dançar, ó pião bailar Ó pião d’ Aveiro, ó pião d’Ovar O meu amor eras tu, ó pião! Se te não fosses gabar Ó pião dançar, ó pião bailar Ó pião d’Aveiro, ó pião d’Ovar Pela boca morre o peixe, ó pião Quem te manda a ti falar Ó pião dançar, ó pião bailar Ó pião d’Aveiro, ó pião d’Ovar
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Rancho do Castelo
Ferrim, fim, fim,dei um lenço ao meu amor Ó derrim, ferrim, fim, fim, para ele assoar o pingo Ferrim, fim, fim, gostou tanto tanto dele, ó menina olha agora, Que só se assoa ao domingo Ramalho, Ramalho, Ramalho és tu. Vai chamar Ramalho ó… Ó laranja, ó laranja, Rebola rebola bem (bis) Ó laranja, ó laranja, Rebola rebola bem Para dançar, a laranja Como o meu amor ninguém Para dançar laranja Como o meu amor ninguém A laranja de madura Caiu ao poço da neve Ó laranja ó laranja Caiu ao poço da neve O ladrão do meu amor Sabe ler e não me escreve Ó laranja ó laranja Sabe ler e não me escreve Lá lá lá lá lá lá lá lá Lá la lá lá lá lá lá lá As penas do Verde-gaio São verdes e amarelas Não me toques senão caio Não me tenho nas canelas Ó de Verde-gaio ó de zás, traz, traz. Qu’é do meu amor, qu’é do meu rapaz? Ó de Verde-Gaio, ó de zús, truz truz Qu’é do meu amor ‘stá p’ró Bom Jesus. Lá lá lá lá lá lá lá lá Lá la lá lá lá lá lá lá O Verde-gaio é meu Que me custou bom dinheiro Custou-me quatro vinténs Lá no Rio de Janeiro. Ó de Verde-gaio ó de zás, traz, traz. Qu’é do meu amor, qu’é do meu rapaz? Ó de Verde-Gaio, ó de zús, truz truz Qu’é do meu amor ‘stá p’ró Bom Jesus. Lá lá lá lá lá lá lá lá Lá la lá lá lá lá lá lá
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Rancho do Castelo
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Rancho do Castelo
Partituras
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Rancho do Castelo
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Rancho do Castelo
Mร SICA N.ยบ 1
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Rancho do Castelo
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RANCHO DO CASTELO
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Rancho do Castelo
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RANCHO DO CASTELO
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Rancho do Castelo
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RANCHO DO CASTELO
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Rancho do Castelo
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RANCHO DO CASTELO
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Rancho do Castelo
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MARCHA DO RANCHO DO CASTELO
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Rancho do Castelo
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RANCHO DO CASTELO
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RANCHO DO CASTELO
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Rancho do Castelo
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RANCHO DO CASTELO
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RANCHO DO CASTELO
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RANCHO DO CASTELO
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RANCHO DO CASTELO
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RANCHO DO CASTELO
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RANCHO DO CASTELO
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Rancho do Castelo
Mร SICA N.ยบ 2
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Rancho do Castelo
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O NOSSO CASTELO PEQUENINO
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Rancho do Castelo
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O NOSSO CASTELO PEQUENINO
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Rancho do Castelo
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O NOSSO CASTELO PEQUENINO
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O NOSSO CASTELO PEQUENINO
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O NOSSO CASTELO PEQUENINO
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O NOSSO CASTELO PEQUENINO
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O NOSSO CASTELO PEQUENINO
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O NOSSO CASTELO PEQUENINO
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O NOSSO CASTELO PEQUENINO
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O NOSSO CASTELO PEQUENINO
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O NOSSO CASTELO PEQUENINO
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Rancho do Castelo
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O NOSSO CASTELO PEQUENINO
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Rancho do Castelo
MUSICA N.ยบ 3
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Rancho do Castelo
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Ó ONDAS DO MAR TÃO BRAVO
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Rancho do Castelo
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Ó ONDAS DO MAR TÃO BRAVO
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Rancho do Castelo
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Ó ONDAS DO MAR TÃO BRAVO
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Ó ONDAS DO MAR TÃO BRAVO
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Ó ONDAS DO MAR TÃO BRAVO
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Ó ONDAS DO MAR TÃO BRAVO
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Ó ONDAS DO MAR TÃO BRAVO
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Ó ONDAS DO MAR TÃO BRAVO
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Ó ONDAS DO MAR TÃO BRAVO
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Ó ONDAS DO MAR TÃO BRAVO
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Ó ONDAS DO MAR TÃO BRAVO
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Ó ONDAS DO MAR TÃO BRAVO
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Ó ONDAS DO MAR TÃO BRAVO
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Rancho do Castelo
Mร SICA N.ยบ 4
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Rancho do Castelo
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A NOSSA QUERIDA PÓVOA
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A NOSSA QUERIDA PÓVOA
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A NOSSA QUERIDA PÓVOA
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A NOSSA QUERIDA PÓVOA
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A NOSSA QUERIDA PÓVOA
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Rancho do Castelo
Mร SICA N.ยบ 5
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Rancho do Castelo
2
A ÁGUA DO RIO NÃO PARA
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Rancho do Castelo
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A ÁGUA DO RIO NÃO PARA
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A ÁGUA DO RIO NÃO PARA
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A ÁGUA DO RIO NÃO PARA
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A ÁGUA DO RIO NÃO PARA
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A ÁGUA DO RIO NÃO PARA
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A ÁGUA DO RIO NÃO PARA
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A ÁGUA DO RIO NÃO PARA
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A ÁGUA DO RIO NÃO PARA
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A ÁGUA DO RIO NÃO PARA
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A ÁGUA DO RIO NÃO PARA
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A ÁGUA DO RIO NÃO PARA
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A ÁGUA DO RIO NÃO PARA
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A ÁGUA DO RIO NÃO PARA
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Rancho do Castelo
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Rancho do Castelo
Mร SICA N.ยบ 6
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Rancho do Castelo
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VIRA DA PRAIA
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Rancho do Castelo
3
VIRA DA PRAIA
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VIRA DA PRAIA
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VIRA DA PRAIA
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VIRA DA PRAIA
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VIRA DA PRAIA
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Rancho do Castelo
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VIRA DA PRAIA
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Rancho do Castelo
Mร SICA N.ยบ 7
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Rancho do Castelo
2
Ó FILHO, VAI-TE MATAR!
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Rancho do Castelo
3
Ó FILHO, VAI-TE MATAR!
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Ó FILHO, VAI-TE MATAR!
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Ó FILHO, VAI-TE MATAR!
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Ó FILHO, VAI-TE MATAR!
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Ó FILHO, VAI-TE MATAR!
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Rancho do Castelo
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Ó FILHO, VAI-TE MATAR!
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Ó FILHO, VAI-TE MATAR!
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Ó FILHO, VAI-TE MATAR!
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Ó FILHO, VAI-TE MATAR!
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Rancho do Castelo
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Rancho do Castelo
Mร SICA N.ยบ 8
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Rancho do Castelo
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SAUDAÇÃO A BARCELOS
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Rancho do Castelo
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SAUDAÇÃO A BARCELOS
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SAUDAÇÃO A BARCELOS
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SAUDAÇÃO A BARCELOS
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SAUDAÇÃO A BARCELOS
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SAUDAÇÃO A BARCELOS
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SAUDAÇÃO A BARCELOS
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SAUDAÇÃO A BARCELOS
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SAUDAÇÃO A BARCELOS
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SAUDAÇÃO A BARCELOS
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SAUDAÇÃO A BARCELOS
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Mร SICA N.ยบ 9
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Rancho do Castelo
2
ORA BIBA A PÂNDEGA
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Rancho do Castelo
3
ORA BIBA A PÂNDEGA
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Rancho do Castelo
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ORA BIBA A PÂNDEGA
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Rancho do Castelo
Mร SICA N.ยบ 10
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Rancho do Castelo
2
RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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Rancho do Castelo
3
RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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Rancho do Castelo
4
RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPUlARES
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Rancho do Castelo
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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Rancho do Castelo
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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Rancho do Castelo
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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Rancho do Castelo
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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Rancho do Castelo
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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Rancho do Castelo
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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RAPSÓDIA DE CANÇÕES POPULARES
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O Traje
Rapazes, camisa branca, calça preta com faixa branca na cinta, colete e boina. As raparigas vestiam blusa multicor ou casaquinha, que adornavam com cordão de ouro, lenço na cabeça, saia comprida com lado levantado até á cintura, e saco bordado de croché na mão. Na foto: Aida Batista e João Silva
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Rancho do Castelo
Direção do Rancho do Castelo em 1953
Laurentino Monteiro Francisco Vilaça João Silva Maria da Glória Martins da Costa Ana Maria Martins da Costa Tenente Almeida Casimiro Ramos José Marques
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Rancho do Castelo
Recortes
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Rancho do Castelo
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Rancho do Castelo
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Rancho do Castelo
Os Ranchos da Nossa Terra O Club Desportivo da Póvoa está de parabéns, de muitos parabéns. A sua festa dos Ranchos foi alguma coisa de belo que entusiasmou o nosso Povo. Raramente voltará a ver o seu campo tão colorido e tão cheio de entusiasmo. Saí dali encantado. Dei muitas palmas ao modesto Rancho de Belém, que representava a nossa gente do campo, boa e alegre, onde nasceu em todo o Minho o que de mais valioso tem o Cancioneiro Português. É um rancho que deve prevalecer, dando-se-lhe as caraterísticas regionais, no trajar e nas canções, para que legitimamente se possa apresentar em nome da lavoura, concelhia. Muito bem. Nova Sintra, a vetusta Coelheiro, hoje rejuvenescida com o seu Bairro, também quis mostrar que a sua tradição de bailaricos lhe impunha a comparência, e apresentou-se muito bem com as canções em louvor do rosmaninho e das flores dos seus canteiros. Os seus organizadores bem merecem louvores pelo muito que fizeram em tão pouco tempo. Cidral, a avozinha e rainha dos Ranchos Populares poveiros na quadra Joanina, não quis largar o cetro e fez como Fausto vendeu a alma ao mefistofélico "Poveiro" e surgiu-nos a bela e encantadora "Maria" sempre jovem e sedutora como seu ilustre autor, que a mimoseou de novo com um ramalhete de mimosos versos que o nosso público muito apreciou. E quando se encontrou assim novinha reparou que os trajes da época passada e presente eram velhos, arcaicos, e idealizou uma garridice já a cheirar ao ano 2000. Bonita, aparatosa, dando bem ao pé, os aplausos surgira e ficou Rainha! Muito bem. Surge-nos depois o Rancho da Lapa, com excelente música, magnificamente orientado, com os pares muito iguais, lindas raparigas de trajes modernos em uso, um verdadeiro ramalhete de poveirinhas, cantando e dançando lindamente, com cuidadas marcações. Foi um grupo que muito me agradou e que muito aplaudi. Pena foi que o seu público em relação aos outros grupos se excedesse, com falta de educação bem saliente, alienando simpatias a um grupo que mereceu e bem ser premiado. Ninguém é obrigado a dar palmas mas só estas e aplausos se devem ouvir em recintos como aqueles. E de mais a mais sendo todos poveiros! Castelo, Este Rancho, superiormente dirigido e orientado pelo ilustre professor e distintíssimo musicólogo Sr. Laurentino Monteiro, auxiliado pelo marcador Snr. Francisco Vilaça apresentou-se com todas as características do nosso folclore. Era bem a tradição do povo do mar da nossa terra. A Marcha do Rancho do Castelo é um primor musical, com versos a carácter que há-de ficar na tradição popular. Bem escolhidos foram os números da rapsódia, que fecha magistralmente com o Verdegaio cantado a solo com voz de oiro pela ceguinha Maria Alice que recebeu uma verdadeira ovação. Deixei propositadamente para o fim o empolgante quadro «Ó ondas do mar tão bravo» (cenas da praia) que Laurentino Monteiro escreveu e musicou em homenagem ao poveiro do mar. O seu autor não nasceu aqui, mas neste seu quadro mostrou um estudo profundo da ansiedade e angústia do nosso povo quando o barco em perigo
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Rancho do Castelo
no mar atravessa a barra, comprimindo os corações. E fê-lo com mão de Mestre, porque deu-nos, na coreografia e canto do primeiro verso, a ansiedade Ó ondas do mar tão bravo Ai ai Ai ai Onde pára o meu amor? Ai, ai ! ai ai ! Trazei- mo já aos meus braços, Pedi-me seja o que for! No segundo, apresenta-nos o recolhimento, com a suavidade triste da oração-suplica que a ceguinha canta: Nossa Senhora da Lapa Mãezinha dos Pescadores Trazei - mo a salvamento, Lembrai-vos das vossas dores! Para, desaparecido o perigo, os pares do Rancho, já em plena alegria, dançando em roda, cantarem: Nossa Senhora da Lapa Lá foram prantos e ais Passou a barra maldita Bendita sempre sejais! Magnífico! Os poveiros e as pessoas de coração, presentes, aplaudiram delirantemente. Felicito sinceramente o seu ilustre autor. Mais: temos que introduzir nos nossos Ranchos os coros regionais a três vozes. Há muitos e belos no Cancioneiro Nacional e servem para cultivar o canto entre o nosso povo. Basta lembrarmo-nos de quanto foi útil o Orfeão para a cultura dos rapazes, dessa época que dele fizeram parte. Não quero encerrar esta crónica sem salientar o alto serviço prestado a esta Festa pelos músicos de todos os Ranchos que tão galhardamente e com intenso amor bairrista prestaram os seus desinteressados serviços. Fizeram muito em pouco tempo. Presto-lhes as minhas sinceras homenagens. Crónica do Etnógrafo Santos Graça em o COMÉRCIO DA PÓVOA na semana seguinte à exibição dos ranchos no parque do CLUB DESPORTIVO DA PÓVOA.
Santos Graça
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Rancho do Castelo
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Rancho do Castelo
Ranchos Populares Assim o prevíamos e assim aconteceu. Duas excelentes noites de festa nos proporcionou o Club Desportivo da Póvoa, em 27 e 28 de Junho findo, no seu interessante parque de jogos, com as soberbas exibições de ranchos populares, propositadamente constituídos para tal fim. O público acorreu ao campo em elevado número, verdadeiras enchentes de milhares de pessoas a darem a impressão de que a Póvoa inteira se encontrava no recinto para apreciarem o certame entre os cinco grupos, Belém, Nova Sintra, cidral, Lapa e Castelo. No primeiro dia estes partiram da Praça do Almada em cortejo com luminárias, anunciados pelo estralejar dos foguetes, cantando as suas marchas até ao campo. No dia imediato, já cada qual saiu do seu bairro, tudo como fora anunciado. Dentro do parque, deleitaram-se os olhos e os ouvidos com os trajes, com as danças, com os cantares. E se da primeira vez houve algumas excitações, desculpáveis pelo estado de nervosismo dos componentes dos ranchos, da segunda já tudo decorreu melhor, em à-vontade de exibição que muito agradou. Claro que houve diferenças notáveis entre os ranchos, no conjunto á vista e ao ouvido, na coreografia na beleza das canções, na indumentária, na originalidade, no regionalismo etc. mas não restam dúvidas de que se impuseram à consideração do público os da Lapa, do Castelo e do Cidral. O Rancho do Castelo ofereceu-nos um belo espetáculo pelos trajes antigos e à Poveira das suas raparigas e ainda pelos números de dança exibidos e sentimentalidade de execução de um deles, verdadeiramente dramática, como que a antevisão de um naufrágio em perspetiva, que não se verifica afinal o que é motivo de Acão de graças: se bem que não correspondessem às características da festa popular e aí o motivo de o público em geral não saber apreciar convenientemente o que via e ouvia deixaram-nos sensibilizados. O Júri teve, por certo, dificuldade na classificação mas parece ter acertado adotando a seguinte ordem e atendendo à finalidade do concurso popular, Cidral, Castelo, Lapa, Nova Sintra e Belém. Note-se que mereceria bem o primeiro prémio, ou melhor, que ficaria bem acima de qualquer prémio o Rancho do Castelo, se das condições da classificação ou seja do caracter popular da festa não estivessem excluídas as exibições teatrais. O Clube Desportivo decidiu, e muito bem, atribuir além dos prémios iniciais de 1.000$00 e 500$00 outros secundários de 300$00, 250$00 e 200$00 para os ranchos classificados em 3º 4º e 5º lugar pelo que, assim, todos ficaram contemplados. É de contar que para o ano, se repetirem estas exibições, maior será o entusiasmo e mais renhido o certame. E de que o público muito gosta de tais festas populares demonstrou-o claramente na sua afluência, na sua alegria esfusiante, na vibração dos seus aplausos. Jornal ALA ARRIBA 4 de Julho de 1953
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Concurso de Ranchos A Póvoa vai ter nas noites de São Pedro, 28 e 29 do corrente, o espetáculo que há muito se esperava e a que se arrojaram, corajosamente, os rapazes do Desportivo. Vão desfilar pelas nossas ruas e praças, em marcha, os seus bairros de tantas tradições. Espetáculo profunda e essencialmente folclórico, pretende mostrar o que a nossa Terra é capaz de fazer, e mereceu esta iniciativa ao poveiro e etnógrafo ilustre Senhor Santos Graça, o melhor carinho e desvelo, tendose prontificado a colaborar com preciosíssimas informações e conselhos aos grupos em formação. Alguns destes Ranchos exibiram naqueles dois dias, além de danças que procuraram ser as mais características do nosso folclore, coros e cantares escolhidos no cancioneiro popular, de que tão rica é a nossa região, e que cuidadosamente foram arquivados por musicólogos como Gonçalo Sampaio, Armando Leça, Virgílio Pereira e outros. Dentre estes coros procurará fazer-se sobressair alguns "clamores" de magnífico efeito. Sabemos já estarem em organização as seguintes representações, mas esperamos que se juntem mais a esta lista: A Lapa, berço da nossa gente do mar, que mostrará os seus trajes típicos as suas canções tão características, o seu arco triunfal iluminado e colorido e que vai encher de luz os nossos olhos e deliciar-nos com as suas cantigas. O Castelo vizinho da Lapa, desfilará também com alegria, trazendo nas suas vestes e nos seus cantares outras eras e outros costumes, nos quais, à sombra da sua Fortaleza evocada em arco iluminado, vive a gente sã e honesta que tanto contribuiu para o progresso da Terra. O Cidral, nome que evoca no coração de todos, as noites magníficas dos Santos Populares, com as suas luminárias, as suas fogueiras e a alegria da gente daquele bairro. Bairro de gente boa e trabalhadora é, por assim dizer, o guardião e pajem da nossa Matriz, onde, apesar de se ter expandido noutras direções a Póvoa canta e reza à sua Excelsa Padroeira. Pois bem, o Cidral vai passar debaixo do seu evocativo e luminoso arco. Belém: que nos lembra a Póvoa rústica, cheirando a giesta e a flores, vai encher de cor e alegria o coração da Póvoa. E outros, num afã de entusiasmo, se preparam para dar à Póvoa uns
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momentos de alegria, com umas festas de real interesse. Está de parabéns o Club Desportivo pela sua arrojada iniciativa, que denota muito amor à Póvoa, e fazemos votos para que as marchas em perspetiva sejam coroadas de pleno êxito, de modo a estas festas terem continuidade. ** Conforme já noticiamos, os prémios para os melhores classificados são os seguintes 1º - 1.000$00 em dinheiro e medalha de prata a cada componente; 2º - 500$00 em dinheiro e medalha de cobre a cada componente; 3º - Medalha de prata dourada a cada componente; As inscrições terminam no próximo dia 20. Os ranchos após as marchas exibir-se-ão no Parque de Jogos do Club realizador.
Comércio da Póvoa de Varzim, 29-6-1953
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Ranchos Populares Reina o maior entusiasmo pelo Grande Concurso de Ranchos Populares que o Club Desportivo da Póvoa, pela primeira vez na nossa terra, organiza nos próximos dias 27 e 28 Sábado e Domingo. Aos ranchos já inscritos, Lapa, Cidral, Castelo, Belém, juntou-se mais um, o de Nova Sintra, o bairro novo da Póvoa, que apesar de novo tem também as suas tradições, e como os restantes está sempre pronto a alegrar-nos com as suas danças e com as suas cantigas. E é vê-los e ouvi-los nos seus ensaios e no entusiasmo com que preparam os seus trajes e os seus arcos para que, ao desfilarem através das nossas ruas e praças, encham a Póvoa de música luz e cor. Vão aparecer trajes usados noutras eras pelos nossos avós e, mais recentemente, pelas nossas tricanas e vão surgir cantigas ao som das quais amaram e sofreram os nossos maiores, e cantaram e dançaram as nossas raparigas. Vai enfim a Póvoa assistir a um espetáculo que a vai alegrar, entusiasmar e enternecer. Sábado às 22 horas terá inicio, com partida da Praça do Almada, o grande cortejo no qual se incorporarão todos os ranchos inscritos ao som das suas marchas e debaixo dos seus arcos evocativos, cortejo que desfilará pela praça de S. Roque, Junqueira e Ramalhão em direção ao Parque de Jogos do Club Desportivo da Póvoa. Às 22.30 horas, terá inicio a exibição dos Ranchos. Um Júri constituído por elementos de responsabilidade e isento de possíveis inclinações os apreciará e classificará. A ordem no cortejo e exibição no Parque de Jogos será escolhida por sorteio a efetuar na sexta-feira à noite na sede do Desportivo. Domingo, dia 28, os ranchos partirão isoladamente, dos seus locais de ensaio em direção ao Parque, percorrendo as ruas que escolherem, ficando assim toda a Póvoa simultaneamente em festa. Após a chegada ao Parque às 22.30 horas o Júri proclamará os vencedores que se exibirão segundo a ordem da classificação. Depois, com a presença de todos os ranchos no ringue, proceder-se-á à entrega dos prémios. Estamos certos que esta festa, pelas suas excecionais características, pela tentativa que revela de fazer reviver e sobressair os aspetos mais importantes da nossa terra sob o especto folclórico e etnográfico e ainda, pelos momentos de alegria e encanto que a todos vai proporcionar, marcará como acontecimento de vulto e como um dos números que pode ser incluído e contado nas comemorações milenárias da nossa Póvoa. O Júri de Honra do 1º Grande Concurso de Ranchos Populares é constituído pelos Srs. Presidente da Comissão Municipal de Turismo, Comandante Militar, Presidente do Grémio do Comércio, Comandante da Guarda Fiscal, António dos Santos Graça, Presidente da Direção do Varzim Sport Clube, Presidente da Assembleia Geral do Clube Desportivo da Póvoa, Diretor do "Ala Arriba" e Diretor do Comércio da Póvoa de Varzim. Jornal Ala Arriba 27 de Junho de 1953
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Os Ranchos Populares voltam de novo ao parque do desportivo
De acordo com as Comissões dos Ranchos do Cidral, Castelo, Lapa, Nova Sintra e Belém, e dado o esplêndido êxito alcançado com o 1º GRANDE CONCURSO DE RANCHOS POPULARES, realizado nas noites de S. PEDRO, deliberou o Clube Desportivo da Póvoa organizar no próximo dia 22 de Agosto um grandioso festival no seu Parque de Jogos. Depois do inolvidável espetáculo ter encantado toda a Póvoa não podiam o Desportivo e os Ranchos da nossa terra deixar de proporcionar à nossa colonia balnear tão numerosa neste mês, a exibição dos seus Ranchos que tão bem traduzem, cada um no seu género, o que a Póvoa tem de magnífico na alma de seu povo e na essência das suas tradições. Essa exibição está a despertar um grande interesse e um grande entusiasmo, dado o especto que o Desportivo também lhe quis dar, de alguma forma compensar os briosos e simpáticos Ranchos pelos seus sacrifícios e pela sua dedicação. Não terá esta exibição qualquer característica de competição (concurso só tem razão de ser uma vez por ano) e o Desportivo que com grande esforço conseguiu, com a maravilhosa adesão dos Ranchos, tornar realidade o que parecia um sonho, reivindica para si a sua realização anual esperando para o ano ultrapassar a sua esplendida realização do corrente ano.
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Comercio da povoa Agosto 1954
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Índice Rancho do Castelo ..................................................................................................... 3 Ficha Técnica: ............................................................................................................ 6 Reflexão e pensamento .............................................................................................. 7 Duas palavras............................................................................................................. 9 João Silva ..................................................................................................................11 Laurentino Monteiro vs Ruy Monte ............................................................................13 Francisco Vilaça ........................................................................................................15 António dos Santos Graça .........................................................................................17 Rancho do Castelo ....................................................................................................18 Como Nasceu o Rancho do Castelo .........................................................................19 O Triato no Rancho do Castelo (Teatro) ...................................................................23 Reportório ..................................................................................................................27 Rancho do Castelo (Marcha) .....................................................................................29 O Nosso Castelo Pequenino .....................................................................................30 Ó Ondas do Mar Tão Bravo.......................................................................................31 A Nossa Querida Póvoa ............................................................................................32 A Água do Rio Não Pára ...........................................................................................33 Vira da Praia ..............................................................................................................34 Ó Filho, Vai-te Matar .................................................................................................35 Saudação a Barcelos ................................................................................................36 Bib’á Pandega ...........................................................................................................37 Rapsódia ...................................................................................................................38 Partituras ...................................................................................................................41 Música n.º 1 ...............................................................................................................43 Rancho do Castelo ....................................................................................................44 Música n.º 2 ...............................................................................................................57 O Nosso Castelo Pequenino .....................................................................................58 Musica n.º 3 ...............................................................................................................71 Ó Ondas do Mar Tão Bravo.......................................................................................72 Música n.º 4 ...............................................................................................................85 A Nossa Querida Póvoa ............................................................................................86 Música n.º 5 ...............................................................................................................97 A Água Do Rio Não Para ...........................................................................................98
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Música n.º 6 .............................................................................................................113 Vira da Praia ............................................................................................................114 Música n.º 7 .............................................................................................................125 Ó filho, vai-te matar! ................................................................................................126 Música n.º 8 .............................................................................................................137 Saudação a barcelos ...............................................................................................138 Música n.º 9 .............................................................................................................149 Ora biba a pândega .................................................................................................150 Música n.º 10 ...........................................................................................................153 Rapsódia de canções populares .............................................................................154 O Traje.....................................................................................................................185 Direção do Rancho do Castelo em 1953 .................................................................186 Recortes ..................................................................................................................187 Os Ranchos da Nossa Terra ...................................................................................190 Ranchos Populares .................................................................................................193 Concurso de Ranchos .............................................................................................195 Ranchos Populares .................................................................................................198 Os Ranchos Populares voltam de novo ao parque do desportivo ...........................200
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