Correio Fraterno 423

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ENTREVISTA

CORREIO

Alexandre Caroli Rocha: doutorado sobre as psicografias de Chico Xavier

FRATERNO

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O ESPIRITISMO EM LINGUAGEM MODERNA Publicação da Editora Espírita Correio Fraterno • e-mail: correiofraterno@correiofraterno.com.br • Ano 40 • Nº 423 • Setembro - Outubro 2008

CURA

Muito além do corpo físico

“A

ciência humana evolverá em cirurgia psíquica, tanto quanto hoje vai avançando em técnica operatória...”. “O médico terrestre desentranhará o labirinto mental com a mesma facilidade com que atualmente extrai um apêndice condenado.” Não. Estas não são afirmações alucinadas. Elas estão nas obras de André Luiz, um dos autores espirituais que mais abordam o funcionamento do organismo humano. Essas expressões causariam espanto, se chegassem ao campo da medicina convencional quando aportaram à Terra, há quase 70 anos. O problema é que ainda causam.

A RELIGIÃO DEVE SE MODERNIZAR?

PRODUÇÃO LITERÁRIA

A religião que tenta se modernizar sempre terá um preço a pagar? A religião que não se moderniza sempre terá um preço a pagar? A religião que acompanha a modernidade sempre terá um preço a pagar? São perguntas que George De Marco levanta em seu ensaio para uma reflexão.

O maior evento do mercado editorial no Brasil, a 20ª Bienal Internacional do Livro, realizada de 14 a 24 de agosto, teve presença marcante das obras espíritas. Mais de 1000 títulos, cerca de 20 mil exemplares, foram disponibilizados para o público.

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A boa notícia é que já estão acontecendo muitas mudanças no olhar reducionista e puramente materialista da forma com que hoje a ciência concebe o que é saúde e o que é doença. Mas essa é uma longa caminhada. Para o Correio Fraterno, não há nada melhor do que comemorar os 41 anos de fundação, agora em outubro, do que divulgar o que de mais atual vem ocorrendo no campo das diversas pesquisas em direção à saúde integral do ser e que rompe verdadeiros paradigmas no campo da ciência médica. Esta edição vem recheada sobre o tema: Leia mais nas páginas 6 e 15.

41 ANOS DE CORREIO FRATERNO

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EDITORIAL

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CORREIO FRATERNO

SETEMBRO - OUTUBRO 2008

Sinfonia do Maestro Invisível

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ão é a primeira vez que a equipe toda do Correio se depara com o incrível mecanismo que ocorre em torno da preparação de uma nova edição. Os temas dos textos de nossos articulistas, da apuração de eventos espíritas e notícias vão se entrelaçando, obedecendo à sinfonia do Maestro “invisível”. Ao ler este número do Correio Fraterno, você vai perceber a intensa presença do tema espiritualidade e de fundamentos espíritas nos diversos ambientes da ciência e da cultura, rompendo cada vez mais os limites do preconceito. Um brasileiro faz bonito e apresenta o cientista Allan Kardec no maior Congresso de Parapsicologia do mundo. Impressionou! Um menino,

quase garoto, Alexandre Caroli, desenvolve, dentro da universidade, estudos que comparam as produções literárias de autores e poetas famosos com o que eles ditaram, depois da morte, ao médium de Chico Xavier. Médicos propõem considerar a religiosidade no processo de cura do paciente. E só para refletir, você acha que a religião deve se modernizar? Leia o interessante ensaio de George De Marco. Ah! O Fraterninho continua arrastando a meninada (pequena e grande) para as suas aventuras. Tudo é alegria! Um pouco menos, com a partida do nosso amigo Neimer Masotti. Já está fazendo falta! Boa leitura !!

Em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas conseqüências. • Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros. • Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • Os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos.

CORREIO DO CORREIO O casal Júlio e Laíze Como trabalhador do Centro Espírita Alvorada Cristã de Buriti Bravo, uma coisa chamou-me a atenção no Correio Fraterno de março-abril (edição 420). Nós fomos uns dos que receberam incentivos do casal Júlio e Laíze, do MaranhãoMA, citado no “Báu de Memórias”, para chegarmos aonde chegamos. Eles vieram por diversas vezes implantar o curso de evangelização infantil e realizar palestras. Foram bons e fiéis servos na seara de edu-

car e servir. Nossa gratidão a eles. Waldimar Alves de Amorim Buriti Bravo-MA Qualidade na divulgação do Espiritismo Abraços à equipe editorial do Correio Fraterno, com minha admiração e notas de muito progresso na concretização de um sonho que alimento há muito anos. Idelfonso do Espírito Santo Salvador-BA

Nós da equipe Correio Fraterno ficamos lisonjeados com a referência tão carinhosa do Dr. Idelfonso, vice-presidente da Associação Médico-Espírita da Bahia, que não se cansa de traçar planos, inclusive de apresentá-los em Congressos Espíritas, para elevar o patamar do trabalho da divulgação do Espiritismo. *Nosso abraço a ele, ao sr. Waldimar e a todos que nos escrevem.

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no combate às drogas

ealizou-se no dia 30 de agosto, na IAM - Instituição Assistencial Meimei, em São Bernardo do Campo, o I Encontro da Valorização da Vida, que reuniu cerca de 250 pessoas, entre tarefeiros, representantes de 15 instituições espíritas e membros da comunidade em geral. O objetivo do evento foi permitir a permuta de experiências, vivências entre grupos, muitos das quais com larga experiência em projetos de valorização da vida, como meio para o enfrentamento das drogas. Dinâmicas, incluindo dança circular, dramatizações e outras estratégias lúdicas proporcionaram a introspecção dos presentes, dentre eles, profissionais da área da saúde, que entenderam a urgência da união para tomada de uma ação mais abrangente. Argumentos não faltaram para a materialização da expressão “Vós sois luzes”, durante o evento, para passar a idéia de que todos temos a luz interior com potencial para se irradiar através do amor. Palestra e também o registro da emanação da energia através de fotografia energética da mão – kirliangrafia – foram usados e aguçaram a curiosidade dos participantes. “Embora a luz

fotografada seja um registro físico, a nossa condição espiritual interfere na luz” – explica o médico ginecologista Dr. Fernando Sansoni , professor da Faculdade de Medicina do ABC. A neurociência – orienta Dr. Fernando – mostra que bioquimicamente o cérebro trabalha com área de promoção de recompensa, promovendo o bemestar. Num trabalho como este, onde se estimula a alegria, o convívio afetuoso, se ofereceu mais do que bem-estar, porque quando você se harmoniza,você ama mais o próximo. E é uma resposta que não precisa ser espírita para sentir. Em qualquer atitude positiva você vai ter sempre uma recompensa. Gratidão e plenitude foi o que sentiu Miltes Aparecida Bonna, presidente e uma das fundadoras do Centro Espírita Obreiros do Senhor/ IAM, local do evento, ao ver a grande adesão de pessoas, em um dia tão frio. “Houve o atendimento ao apelo. Os corações estão sedentos de caminhos.” – interpreta. Há mais de trinta anos, o Centro Espírita Obreiros do Senhor realiza um trabalho de ponta, no amparo ao alcoolista, dependente de outras drogas e tabagista, na região, denominado DE-

A fundação da AME São Bernardo No mesmo Encontro, foi efetivada a fundação da Associação MédicoEspírita de São Bernardo do Campo, que já está em atividade desde o começo do ano. Na ocasião, também foi empossada a diretoria, que tem como presidente a médica infectologista Dra. Luciana Lima Galvão e como vice-presidente o ginecologista Dr. Fernando Sansoni. Contatos: Aida aidanegrao@gmail.com

A urgência da união para ações abrangentes

SADEF – Departamento de Socorro e Amparo aos Dependentes e Familiares. À frente da instituição Miltes, com Registro da emanação formação energética do corpo em pedagogia, insiste no aspecto da manifestação do afeto, do amor como parte do contexto pedagógico. “O amor sempre faz a diferença.” A multiplicação dessas oficinas não pode parar. Nesse semestre já deveria haver outro Encontro, avalia Celina Galvão, presidente do Conselho Espírita de São Bernardo, entidade também ligada no projeto. O evento, segundo ela, é apenas o começo. A idéia é criar um modelo para replicá-lo nas casas espíritas que se

Miltes Bonna: a prevenção às drogas começa com a construção do homem de bem, no reduto da família

interessarem pela causa. Maria Heloísa Bernardo, psicóloga à frente da criação da AME - Associação Médico-Espírita de São Bernardo e uma das idealizadoras do projeto, esclarece que há ainda muito o que fazer, principalmente pela motivação da equipe, para o trabalho não parar. “É preciso formar ondas de comunicação para trazer não só trabalhadores espíritas, mas a população para movimento, como hoje, porque a única saída para equacionar o problema de drogas é a união, mãos unidas, trabalhando a afetividade.” Contatos: Nelson mendes.nelson@uol.com.br

ACONTECE

Valorização da vida


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Alexander Moreira leva Kardec para Congresso de Parapsicologia

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Apresentação sobre Kardec impressiona europeus

Da REDAÇÃO

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rande parte do público que este ano participou do mais importante congresso mundial de Parapsicologia ouviu falar, de forma mais aprofundada, de um ilustre desconhecido – o pesquisador Allan Kardec – e se impressionou com ele. O trabalho foi apresentado pelo doutor em Psiquiatria Alexander Moreira de Almeida, diretor do NUPES – Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde da UFJF –, no 51.º Congresso de Parapsicologia, realizado em agosto em Winchester, na Inglaterra, e promovido pela Parapsychological Association (PA) e pela Society for Psychical Research (SPR). O psiquiatra, que no Brasil defendeu tese de doutorado sobre médiuns espíritas, apresentou um artigo sobre a pesquisa de Kardec com fenômenos psíquicos, que gerou, a partir de 1857, na França, suas conhecidas – principalmente no Brasil – obras fundamentais do Espiritismo. A qualidade da apresentação e a surpresa pelo conteúdo causaram repercussões entre os estrangeiros, que imaginavam Kardec como um pesquisador crédulo e ingênuo. Esta não é a primeira ação com repercussões internacionais do psiquiatra e de outros pesquisadores que transitam no setor acadêmico, desenvolvendo estudos que elevam o patamar do estudo científico do Espiritismo. No mês de julho, membros desse mesmo grupo levaram dez médiuns psicógrafos brasileiros para a Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, para pesquisarem o transe mediúnico. Os resultados das pesquisas ainda estão sendo apurados.

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Psicografias de Chico Xavier são temas de pesquisa na universidade Alexandre Caroli Rocha: estudo acurado de textos mediúnicos

Por MAGALI OLIVEIRA FERNANDES Conheci Alexandre Caroli já faz algum tempo. Foi em 2003, na ocasião em que um grupo de pesquisadores do tema espírita se reuniu com o objetivo de trocar experiências e informações a respeito do que estava sendo realizado até aquele momento nas universidades, tanto no Brasil como no exterior, levando em conta diversas áreas do conhecimento: medicina, psicologia, psiquiatria, física, química, história, letras, comunicação etc. Alexandre e eu integrávamos o grupo de pesquisadores da área de Ciências Humanas. Outros dois grupos no encontro eram das Ciências Exatas e das Ciências Biomédicas. No período, Alexandre já havia concluído, em Letras, na Unicamp, sua dissertação de mestrado sobre o primeiro livro de Chico Xavier: Parnaso de Além-túmulo. Agora, em 2008, ele defendeu, também na Unicamp, sua tese de doutorado, sobre a qual fala nesta entrevista. O que o levou a realizar projetos de pós-graduação, mestrado e doutorado, sobre a temática espírita, sobretudo referentes às psicografias de Chico Xavier, primeiro, tratando do livro inaugural do médium mineiro; depois, cuidando das publicações mediúnicas atribuídas ao escritor

Humberto de Campos? AC: Havia, desde a adolescência, o gosto pela leitura, mas sem idéia de que isso poderia virar uma profissão. Na graduação, li bastante o que estava à disposição de um modo geral: escritores brasileiros e estrangeiros. Tive, também, acesso aos estudos da linguagem, relacionados à literatura e à lingüística, que muito


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Você encontrou, nessas suas pesquisas, o que eu chamaria de “elemento surpresa”, aquilo que não se esperava encontrar? AC: Sim, encontrei várias surpresas. Lembro-me, por exemplo, da surpresa que foi descobrir que, embora com as novidades da temática espírita, muitos dos poemas estudados continham, em diversos níveis, traços poéticos que iam ao encontro dos descritos pelos principais críticos dos autores estudados. No doutorado, fiquei novamente impressionado quando descobri, em alguns textos mediúnicos, a existência de certas camadas de leitura, relacionadas ao repertório literário de Humberto de Campos, que sugerem, digamos, um

trabalho de relojoeiro. São achados de difícil assimilação. Em seu trabalho, como você lidou com a questão mediúnica nesses textos? AC: Para nós, leitores, o fator mediúnico é, grosso modo, uma declaração. Um médium afirma em público que o verdadeiro autor dos escritos que produziu é um autor espiritual. O leitor decide se aceita a alegação. A tendência, me parece, é o livro ser lido por aqueles que acreditam na autoria espiritual. Nos meus trabalhos, um primeiro passo para lidar com a questão foi observar como os textos psicografados foram entendidos por seus comentadores, quais leituras eles suscitaram. Mas a parte principal das pesquisas foram as análises textuais, orientadas pelo seguinte questionamento de fundo: o que o autor desses textos demonstra conhecer do repertório literário da autoria alegada? Com relação ao procedimento de análise dos textos estudados, o que foi alterado, do mestrado para o doutorado? AC: Uma diferença inicial foi a do registro: no mestrado, poesia; no doutorado, prosa. No primeiro, a análise dos poemas foi pautada em determinados estudos críticos a respeito dos autores. No segundo, com apoio de uma ampla bibliografia, fiz um estudo sobre Humberto de Campos com base no qual pautei as considerações a respeito dos livros mediúnicos atribuídos ao escritor. Mas, nos dois casos, estudei autores da literatura brasileira e portuguesa. Digo isso para diferenciá-los dos autores das páginas de Chico Xavier que não possuem uma obra escrita não mediúnica, a exemplo de Emmanuel, André Luiz e tantos outros. Qual foi sua questão principal na tese sobre Humberto de Campos e Chico Xavier? AC: É muito rico o material de estudo sobre Humberto de Campos e Chico Xavier, ainda mais quando se considera o “caso Humberto de Campos”, ocorrido em 1944, quando a família do escritor moveu uma ação judicial contra o médium e a FEB. O processo provocou a substituição do nome do escritor para Irmão X. O meu estudo foi orientado

pelo problema autoral dos livros que Chico Xavier atribuiu a Humberto de Campos e a Irmão X, questão que possui muitos desdobramentos. Minha pergunta foi a seguinte: como funciona a autoria nesses livros? Um dos pontos que mais me chamaram a atenção, ao longo da pesquisa, foram as estratégias usadas pelo autor para dar a entender que ele é o próprio Humberto de Campos após sua morte. Para isso, ele demonstra ser um perito naquilo que diz respeito ao escritor. Em dois capítulos da tese, procuro desvendar os procedimentos de que o autor lança mão para provocar o que chamei de “efeito de sobrevivência”. Como aconteceu a escolha do material? E a seleção, você trabalhou com quais títulos? AC: Fiz uma longa pesquisa sobre Humberto de Campos e li seus textos reunidos em livros, que totalizam cerca de 45 volumes. Para obtê-los, tive que freqüentar muitos sebos, porque o escritor já caiu em esquecimento há várias décadas – embora seu nome tenha sobrevivido num outro espaço cultural, por meio dos textos de Chico Xavier a ele atribuídos, que continuam sendo reeditados. Quanto a estes, estudei os 12 livros que a FEB publicou entre 1937 e 1969, além de textos do mesmo conjunto autoral publicados na revista Reformador. A partir desse material, fui reunindo bibliografia para tratar das questões que surgiam durante o estudo. Quais são os livros em que o autor espiritual mais se empenhou no diálogo com a obra de Humberto de Campos? AC: São os três primeiros atribuídos ao escritor – Crônicas de além-túmulo (1937); Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho (1938); e Novas mensagens (1940) – e o primeiro de Irmão X: Lázaro redivivo (1945). Na tese, eu explico por quê. Como ter acesso à sua tese? AC: Na internet, ela logo estará disponível na Biblioteca Digital da Unicamp. Há outras psicografias de outros médiuns no Brasil que trazem o nome de Humberto de Campos? Você tratou disso também? AC: Sei que existem, mas não fize-

ram parte da pesquisa. E Chico Xavier, como ele entra em seu estudo? Isto é, qual o papel desempenhado por ele nesse conjunto de textos psicografados que você estudou? AC: Em 1932, o primeiro livro de Chico Xavier foi resenhado duas vezes por Humberto de Campos, que morreria dois anos depois, em dezembro de 1934. Na época, ele era um dos escritores mais lidos do Brasil, e Chico Xavier, um jovem desconhecido. O médium começou a atribuir textos ao escritor em 1935. Nos anos 30 e 40, a grande popularidade de Humberto de Campos foi um dos fatores que projetaram nacionalmente o nome de Chico Xavier. Décadas depois, a situação se inverteu: o autor de Memórias foi esquecido, ao passo que o médium se tornou uma das personalidades de maior destaque em nosso país. Na tese, Chico Xavier também é visto como personagem de alguns de seus textos mediúnicos e, por meio de cartas dele próprio, tornadas públicas nos anos 80, observamos como ele reagia ao processo de 1944 e como eram os bastidores editoriais de parte de sua produção psicográfica. Na parte final da tese, falo da relação entre a presença de autores de prestígio em seus primeiros livros e a conquista de credibilidade de Chico Xavier como médium. Das contribuições de sua tese para o público em geral, o que você poderia dizer aqui para concluir esta nossa entrevista? AC: Em certo ponto do trabalho, falo do contraste entre os supostos conhecimentos de Chico Xavier, que declarava nunca ter estudado Humberto de Campos, e o conjunto de conhecimentos específicos, presentes em textos psicografados, que vem, necessariamente, de uma fonte que detém um especial domínio do repertório literário do escritor maranhense. Levando em conta contrastes como esse, acho que seria muito importante desenvolver novas pesquisas em diversas áreas, para tentarmos compreender os fenômenos da mediunidade de efeitos e seus devidos desdobramentos. De minha parte, as descobertas sobre psicografia me trouxeram muitas indagações, que provavelmente me levarão a tantos outros estudos a esse respeito.

ENTREVISTA

me auxiliaram para enfrentar os textos. Ainda na graduação, consegui duas bolsas de estudo para pesquisar o contista brasileiro Dalton Trevisan. Nessa época, minha irmã Cristina, que freqüentava um centro espírita em São Paulo, presenteou-me com um livro do Chico Xavier (1910-2002) intitulado Parnaso de Além-túmulo. Aos poucos, fui me interessando por aqueles curiosos poemas, atribuídos a dezenas de escritores “mortos”. Pouco depois da graduação, comecei a cursar o mestrado. Após algumas indecisões, resolvi pesquisar esse livro de poemas. Escrevi um esboço de projeto e fui procurar um professor que aceitasse me orientar. Não foi tão difícil, como se poderia imaginar, visto que o tema é controverso. Na terceira tentativa, consegui um orientador, que me ajudou a concluir o projeto e me acompanhou ao longo da pesquisa, o professor Haquira Osakabe. A dissertação foi defendida em 2001. Em síntese, foi um estudo sobre o livro Parnaso de Além-túmulo, a sua formação, o seu histórico, as relações textuais que cinco conjuntos de poemas estabelecem com as obras dos poetas a quem são atribuídos, no caso: João de Deus, Antero de Quental, Guerra Junqueiro, Augusto dos Anjos e Cruz e Sousa. A quem se interessar, a dissertação está disponível na internet, no site da Biblioteca Digital da Unicamp. Depois, no doutorado, com o mesmo orientador, estudei os livros que Chico Xavier atribuiu a Humberto de Campos e a Irmão X. Os dois trabalhos foram financiados pela Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo].

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ESPECIAL

Desencarna, em São Paulo,

JULIA NEZU

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Neimer Masotti JULIA NEZU

Por IZABEL VITUSSO

Retornou ao plano espiri-

tual, na madrugada de 20 de setembro, o querido e dedicado trabalhador espírita, Neimer Sebastião Masotti, vitimado por repentino problema de saúde, que o levou à fatalidade por uma embolia pulmonar. Apoio incondicional por quase trinta anos do casal Nena e Francisco Galves, nas atividades do Centro Espírita União, Livraria Espírita União, além de programas de Rádio e TV, em São Paulo, era admirado por sua firmeza e determinação, embasadas em bagagem cultural, poder de reflexão e, sem dúvida alguma, ampla vivência espiritual. Nasceu na cidade de Pindorama, interior de São Paulo, em 20 de janeiro de 1933, desenvolvendo carreira como gerente do Banco Bandeirantes, que o fez um itinerante pelo interior do Estado. Passou pelas cidades de Araraquara, Campinas, Marília, Votuporanga, Monte Alto, Presidente Prudente, onde deixou boas lembranças nos núcleos espíritas por que passou. Dentre as atividades atuais, Neimer também era dirigente de reunião mediúnica, no Centro Espírita União, com quem tínhamos estreito contato, até dias antes de seu desenlace. Não era raro, em suas lembranças, citar as experiências junto à figura de Romeu Grisi, do C.E. Emmanuel, em Votuporanga, as atividades no Sanatório Espírita de Marília, o estreito convívio com o médium mineiro Chico Xavier, como também com Heigorina Cunha, de Sacramento, com quem, junto à sua esposa, Antonieta Ferraz Masotti, nutria antiga amizade. Nascido em lar espírita (era irmão do Presidente da FEB, Nestor Masotti), dizia sempre às pessoas ligadas à divulgação que os bons fatos e exemplos vividos ao lado de expoentes espíritas deviam ser garimpados como jóia preciosa e levados a público para amplo aproveitamento. A depender deste ideal, Neimer Masotti parte satisfeito. Pois, segundo Nena Galves, foi ele um dos maiores incentivadores para que ela enfeixasse em livro suas memórias sobre o longo convívio com o médium Chico Xavier. Lançada há pouco mais de um mês, a obra Até sempre Chico Xavier ocupou o topo da lista dentre os livros espíritas mais vendidos na Bienal do Livro, em São Paulo. Além de tantos amigos, Neimer deixa dois filhos e um neto, mas certamente retorna aos amigos espirituais, juntamente com sua esposa Antonieta, que o há um ano o antecedeu na viagem ao plano espiritual. Nosso carinho eterno, nossa sincera admiração, seu Neimer.

AME

completa 40 anos e realiza congresso Por IZABEL VITUSSO

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entro das atividades comemorativas dos 40 anos de fundação, Associação MédicoEspírita de São Paulo realizou de 5 a 7 de setembro o Congresso AME 40 anos construindo o paradigma médicoespírita. O evento reuniu 450 pessoas no Teatro Santo Agostinho, na capital paulista. Mais de 20 profissionais e acadêmicos – dentre eles Sérgio Felipe de Oliveira, Décio Iandoli Júnior, Marco Palmieri, Roberto Lúcio, Irvênia Prada, Jaider Rodrigues, e outros com larga folha de atuação no campo da pesquisa, apresentaram estudos e propostas que enfatizam a maior compreensão da saúde integral e a adequação da prática clínica, considerando a integração espírito–corpo. Quatro décadas de trabalho, inicia-

do por médicos conhecidos no meio espírita, muitos dos quais já desencarnados, apenas deram o impulso para a grande tarefa que ainda há pela frente, a de, segundo o enfoque do congresso, preparar a nova geração de profissionais com a prevalência da espiritualidade no processo de cura do paciente. A espiritualidade nas universidades brasileiras Convidado a falar sobre medicina e espiritualidade no ambiente acadêmico, o estudante Alejandro Vera mostrou que dos 119 cursos de medicina pesquisados, do total de 167 existentes no Brasil, apenas 14% deles abordam algum aspectos da espiritualidade no processo de ensino. O médico psiquiatra Frederico Leão,


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disciplina de Emergências Clínicas do Hospital das Clínicas, o problema do preconceito poderá se agravar se não atentarmos para o fato de que espiritualidade não é Espiritismo. “Espiritualidade agrega tantas outras religiões. Não havendo esse cuidado, há risco de se restringir o que é para ser mais amplo”- analisa.

Terapia complementar espírita Também atentando para a necessidade de mudança de comportamento, o professor Marco Antonio Palmieri alertou que não basta que se reconheça um problema espiritual no paciente, mas que se mude a postura médica. “Pergunte ao paciente qual a sua religião e você terá uma abertura inédita”- orienta. Fazendo referência a uma experiência particular, o professor relatou o fato de ter telefonado ao pastor da igreja para obter apoio à paciente, testemunha de Jeová , com distúrbios espirituais. “Eu disse a ele que em minha religião temos uma conduta de ajuda às pessoas que apresentam

Presença de Içami Tiba Convidado especialmente para falar sobre educação, o médico psiquiatra Içami Tiba, especialista em psicoterapia para adolescentes e famílias, prestigiou o evento dos 40 anos da AME São Paulo com bom humor, simplicidade e sabedoria ao lidar com assuntos delicados, como a necessidade de se olhar criticamente as condições educacionais no Brasil, admitindo os problemas na formação escolar, negados pela própria sociedade, e principalmente nos lares, onde são IZABEL VITUSSO formados os futuros cidadãos éticos do país. Para o psiquiatra, a maior parte dos problemas psíquicos dos adolescentes pode ser atribuída ao comportamento imaturo e inadequado dos pais. Autor de mais de 20 livros, dentre eles o conhecido título Quem ama educa, Içami lembrou que a conduta educadora precisa ser alinhada entre os gestores, o que envolve diálogo entre eles e marcado acompanhamento. Sobre a falta de coerência no casal e também de pulso na colocação de limites, o psiquiatra comentou sobre a comum ocorrência de pais que hoje são tiranizados pelos filhos, desde tenra idade.” Os pais não podem fazer pelos filhos o que eles têm de fazer. Estão atrapalhando a vida deles” – completa o convidado.

Pergunte ao paciente qual a sua religião e você terá uma abertura inédita… Nós precisamos estar abertos. É a religiosidade dentro do processo de cura.

quadros como o dela. (...) Colocaramna num círculo de orações e funcionou. Nós precisamos estar abertos. É o benefício da religiosidade dentro do processo de cura”- sintetiza. Em sua apresentação, o otorrinolaringologista, de Ribeirão Preto, Tácito Sgorlon fez referência sobre a importância dos estudos que comprovem cientificamente a eficácia das terapias complementares no processo de cura. E segundo ele, pesquisas recentes constataram a alteração do ph da água quando fluidificada, que se torna mais ou menos alcalina de acordo com a necessidade do paciente. O médico e escritor Décio Iandoli discorreu sobre a inadequação da expressão cirurgia espiritual,uma vez que, por definição, cirurgia é a intervenção que se faz no outro com vistas à cura. O termo mais adequado, segundo ele, seria cirurgia vibracional, quando se oferece um novo padrão vibratório ao paciente, ficando a seu cargo aceitar ou não aquela nova sintonia, para reconstituir suas camadas perispirituais. No plano mais profundo, essa cirurgia agiria não no perispírito, mas na alma, a sede dos pensamentos e estaria mais relacionada às ações que ajudam a

ESPECIAL

coordenador do Neper - Núcleo de Estudos de Problemas Espirituais e Religiosos do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo- apresentou dados indicativos de mudança dessa realidade, em parte empurrados pela pressão exercida pela demanda da população e pela capacidade dos pesquisadores de formatar essas questões dentro da metodologia científica. Segundo o professor, 95% das pessoas entrevistadas, no Brasil, acreditam em Deus. Setenta e sete por cento disseram que os médicos deveriam considerar suas crenças espirituais, 66% demonstraram interesse em serem perguntadas pelos médicos sobre sua religiosidade, mas apenas 10 a 20 % dos médicos pesquisados abordariam o assunto junto a seus pacientes, o que, na visão do Dr. Frederico Leão, evidencia o grande preconceito que ainda separa a ciência de assuntos relacionados à espiritualidade. Para o geriatra Franklin dos Santos, professor da pós-graduação da

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pessoa a mudar a sua maneira de pensar: como a psicoterapia, terapia de vidas passadas, prece, meditação, exercício de caridade etc. Ninguém consegue mudar a cabeça do outro, por isso a inadequação do termo cirurgia espiritual, segundo o professor. Recorrendo a André Luiz, Décio Iandoli lembrou que esse será caminho para a busca pela cura: desentranhar o labirinto mental, um terreno que a medicina terrena há de dominar com a mesma facilidade com hoje atua no corpo físico. Há dois anos na presidência da instituição, o geriatra Rodrigo Bassi faz referência ao trabalho, considerando a equipe um grupo de amigos que acredita no ideal médico-espírita e que escolheu servir ao Cristo através deste trabalho. Referiu-se também ao apoio que todas as AMEs nacionais recebem da AME-Brasil, que tem à frente uma das idealizadoras da Associação Médico-Espírita, a médica e ginecologista Marlene Nobre. “Lembro-me com muita saudade dos que partiram: Antonio Ferreira Filho, Luiz Monteiro de Barros, Alfredo de Castro, Alberto Lyra, Eurico Branco Ribeiro,Oswaldo Jesus de Oliveira Lima, Ney Coutinho, Miguel Dorgan, Reynaldo Kuntz Busch, Ary Lex. Felizmente, eles continuam a nos inspirar do mundo espiritual”- relata a médica, referindo-se ao dia da fundação, há 40 anos. atendimento@amesaopaulo.org.br. Fone (11) 5585-1703


LITERATURA E ESPIRITISMO

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Produção literária fora e dentro da Bienal

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maior evento do mercado editorial no Brasil, a 20ª Bienal Internacional do Livro, realizada de 14 a 24 de agosto, teve presença marcante das obras espíritas, apresentadas ao público em estantes individuais e também em parcerias, como a da

Federação Espírita Brasileira e a Associação de Editoras, Distribuidoras e Divulgadores do Livro Espírita. , além do espaço dedicado às crianças e as já conhecidas sessões de autógrafos. Um dos fenômenos de venda, cerca de trezentos exemplares vendi-

A Grande Sacerdotisa Romance mediúnico

Pelo espírito Julianus Septimus, psicografado por Nadir Gomes “Através da história de Hamazusayth, uma alta sacerdotisa do antigo Egito, muitas personalidades entram em cena e revelam suas lutas para a verdadeira transformação interior.” Pedidos Tel.: (11) 2209-5484 Editora Cristalis Girassol Editorial (selo espírita) Soc. Espírita Terezinha de Jesus (11) 3975-2801

Distante de DEUS Romance mediúnico

Pelo espírito Fábio, psicografado por Nadir Gomes A história de Fábio é como a de muitos, que amargam a dor do arrependimento,depois de seguir nos descaminhos do tráfico de drogas. Mas...sempre há o despertar para Deus e para as responsabilidades! Pedidos Tel.: (11) 2209-5484 Editora Cristalis Girassol Editorial (selo espírita) Soc. Espírita Terezinha de Jesus (11) 3975-2801

dos, estampa na capa o conhecido nome do médium mineiro. Até sempre Chico Xavier é um livro de memória, no qual a autora, Nena Galves, relata episódios, fotografias e memórias dos mais de 40 anos de convívio dela e de seus familiares com o médium. “Como médium, podemos conhecer o Chico pelos livros, mas como ser humano, só poderá falar quem conviveu com ele.”- analisa Nena Galves. E acrescenta: “Aprendi muito com Chico. Hoje vejo que poderia tê-lo ouvido muito mais. Ficávamos horas conversando madrugada adentro, embora eu nunca tivesse a curiosidade de pedir um recado sequer do mundo espiritual. Senti então que não poderia desencarnar sem escrever alguma coisa que mostrasse a grandeza deste espírito.”- conclui. Projeto “Conte Mais” A Federação Espírita do Rio Grande do Sul também esteve presente na Bienal, dando foco em uma de suas iniciativas, o projeto literário “Conte Mais”, fruto do trabalho de recuperação das histórias

infantis, contadas em 60 anos de atividades na evangelização de jovens e crianças, pela Federação Espírita do Rio Grande do Sul. “Resgatamos 400 histórias. Demos a elas uma linguagem moderna, primando pela moral universal, relata a historiadora e especialista em educação Gladis de Oliveira, presidente da Federação Espírita do Rio Grande do Sul. A coleção, segundo Gladis, que é voltada para pais, educadores e público em geral, já está sendo adotada pelo Sistema Educacional Estadual, pelas Sec re t a r i a s Mu n i c i pais de Educação. “Temos que


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estar atentos à boa educação e Kardec colocou que quando conhecêssemos a arte de manejar o caráter, a inteligência, nós resolveríamos o problema maior, que é o do egoísmo. Venceríamos essa chaga da humanidade. Mas temos que atacar o mal pela raiz, ou seja, pela educação. (Leia a entrevista na íntegra no site www.correiofraterno.com.br) Chico, dentro e fora da Bienal Fora do espaço da Bienal, outras obras também ganham destaque e

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as prateleiras das maiores livrarias. O médium mineiro Chico Xavier volta a ser o tema central de livro, mas desta vez fruto de projeto de doutorado da jornalista Magali Oliveira Fernandes, que parte de materiais de recortes, colagens e pequenas edições elaboradas pelo médium, na década de 20, quando reutilizava cadernos para colar gravuras, poemas, imagens, em formulações de pseudolivretos. Chico Xavier: um herói no universo da edição popular (Annablume, 2008) marca espaço no bojo da reflexão universitária em torno de temas até então intocados.

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PARA ENTENDER MELHOR

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“Passe” para a nova consciência Por JOSÉ BENEVIDES CAVALCANTE

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passe popularizou-se no Brasil com as idéias espíritas, notadamente a partir dos anos 70, quando Chico Xavier se apresentou na televisão, conseguindo romper algumas barreiras impeditivas do livre trânsito da doutrina. Na verdade, mesmo antes do Espiritismo, desde a época colonial, havia os benzimentos, como até hoje existem, fórmulas miraculosas oriundas do sincretismo que misturam valores da religião católica com os das culturas indígena e africana. No final do século XVIII, o país já experimentara a influência do mesmerismo, que adotava os chamados “passes magnéticos”, numa tentativa de mostrar que somos dotados de forças naturais, que podem ser utilizadas para fins terapêuticos. O passe é útil para quem procura o centro e também para as idéias espíritas, que hoje se propagam com menos dificuldade. O problema está em saber como utilizá-lo no centro, de forma a não cair no imediatismo das curas que prometem resultados espetaculares e nem torná-lo mero instrumento para multiplicar prosélitos. Trata-se de um recurso auxiliar de que não podemos prescindir no atendimento a quem procura alívio. Mas é preciso que tenha mais que o simples valor terapêutico; é necessário que tenha um valor educativo. Para tanto, há que se definir seu papel no contexto das atividades do centro, de modo a dar-lhe um direcionamento adequado às finalidades da Doutrina. Jesus também utilizou esse recurso, pois, das pessoas que o procuravam, em busca de alívio para dores físicas e morais, bem poucas eram as que estavam em condições de compreender o alcance de sua mensagem e menos ainda as que se dispunham a servir ao ideal que anunciava. Prova disso está no episódio dos dez leprosos, quando, após a cura, apenas um retornou, dando a entender

tenha sido o único a buscar entendimento em suas palavras. Como em Jesus, a finalidade precípua do Espiritismo para aqueles, que estão chegando, é o despertar das almas para a realidade ampla da vida. A mediunidade de cura, assim como qualquer outra faculdade psíquica, que encanta os olhos e traz alívio ao corpo, não pode ter um fim em si mesma. Deve estar direcionada, sobretudo, à formação de uma nova consciência e, consequentemente, de um novo estilo de vida. Eis por que se torna indispensável: desvencilhá-lo de qualquer conotação mística, libertando-o de apetrechos e rituais mágicos e, ao mesmo tempo, dar-lhe um sentido espiritual renovador através do esclarecimento espírita. Não foi por acaso que o Espiritismo surgiu na França e só depois chegou ao Brasil. Suas bases não podiam provir de uma cultura popular apoiada no misticismo, como era a nossa, mas deveriam se assentar sobre alicerces racionais, num país onde as culturas filosófica e científica podiam servir de baliza para a edificação de uma doutrina assentada na razão. Também não foi por acaso que essa doutrina se apoiou na personalidade lúcida e serena de um intelectual do nível de Hyppolite Léon Denizard Rivail (Allan Kardec) que, além da formação moral provinda de suas raízes, reunia suficiente discernimento para estabelecer as fronteiras entre a fé cega e a fé raciocinada. Desse modo, a condução do passe espírita deve estar apoiada sobre o princípio da fé raciocinada, aquela que precisa compreender para crer. É bem verdade que mesmo a fé cega, quando bem direcionada, pode promover verdadeiros prodígios, mas essa é a fé que as religiões tradicionais nunca utilizaram para orientar e esclarecer, educar e libertar o homem. Ao contrário, o

COISAS DE LAURINHA

1 x 1 no placar Por TATIANA BENITES Laurinha chega em casa toda animada e começa logo a contar para a mãe como foi seu dia no Centro: – Mãe, hoje nós estudamos sobre reencarnação. – Que bom, filha! O que você aprendeu? – Aprendi que temos que ser pessoas boas para receber coisas boas nessa e na outra encarnação. – Muito bem, é isso mesmo! – respondeu a mãe. – Aprendi também que Deus não pune ninguém, que existe uma lei de ação e reação, que tudo o que a gente faz retorna para gente, pode ser bom ou ruim, depende do que você faz. – Nossa! Essa aula foi boa mesmo! Laurinha baixa a cabeça e diz: – Então.... – Então o quê? – Então? E quando a gente não consegue ser assim TÃÃO bom? – Daí talvez você não receba todas as bênçãos que Deus poderia te dar, se fosse melhor. – Ah, tá! E se a gente tem uma discussão com um amigo e deseja algum mal a ele? – O que tem? – A gente vai pra um lugar feio quando morre? Acontece com a gente o que desejamos pro outro? – Se for somente uma discussão boba, coisa passageira, não quer dizer que você vai para um lugar feio ou que vá acontecer algo de ruim. Ficam em lugares assim pessoas que pensam muito no mal, fazem coisas ruins, desejam o mal do outro, ... entendeu? Laurinha levantou a cabeça, com ar de quem ainda reflete sobre algo e responde: – Entendi sim, mamãe, foi isso mesmo que pensei. Pega suas coisas e vai em direção do quarto. Pensativa, reflete um pouco mais e resolve fazer uma oração: “Deus, você viu que quem começou a discussão foi a Priscila. Aí eu fiquei com raiva e desejei que ela caísse da cadeira mesmo. Na hora que ela caiu, o Senhor viu que eu dei uma risadinha, (mais do que depressa tentou consertar) mas como ela não se machucou eu não preciso passar por isso também, né?” Ia terminar a oração, quando pensou melhor e completou: “Ah! Não sei se o Senhor se lembra, mas a semana passada eu escorreguei e caí na poça d’água... se a gente for pensar bem, eu até paguei antes da hora pelo meu pensamento ruim de hoje. Sendo assim, está 1 x 1. Posso considerar assim? Assim Seja. ” E ainda pensou: “Ufa! Ainda bem que eu pensei rápido!”

Espiritismo não veio para repetir esse mesmo trajeto que abandona as pessoas à ignorância, mas para repensálo de conformidade com as novas idéias e com as novas aspirações de nosso tempo. Daí porque muitos centros já o utilizam como ponte de esclarecimento,

de orientação, e não como solução plena e definitiva ou como varinha mágica, para resolver todos os problemas ou extirpar todos os males. Advogado, pedagogo. Vice-presidente do CE. Caminho de Damasco e USE Intermunicipal de Garça-SP. E-mail: jobenevides@bol.com.br


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Por GEORGE DE MARCO

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igreja mais liberal do século 16 deu seus primeiros passos ainda no século 6, quando santo Agostinho estabeleceu-se na cidade inglesa de Cantuária, com o objetivo de converter os anglo-saxões ao catolicismo. Agostinho tornou-se arcebispo local, colocando a Inglaterra sob a proteção do Vaticano. Foi assim até 1533, quando o rei Henrique VIII pediu o divórcio de sua esposa, Catarina de Aragão para casar-se com Ana Bolena. O papa Clemente VII não só negou o divórcio, como também se recusou a abençoar o segundo casamento. Henrique VIII cortou relações com Roma e se declarou chefe de uma nova igreja, a Anglicana. Os anglicanos têm liberdade para escolher a liturgia que querem seguir. Segundo o anglicanismo, cada um deve decidir seu próprio caminho, por meio de seu livre-arbítrio, sua liberdade moral e intelectual. Cada província adaptou a igreja aos seus próprios valores e idéias criando, democraticamente, uma personalidade distinta até na nomenclatura da igreja em torno do mundo. A liberalidade e a democracia anglicana foram permitindo à igreja se adaptar aos novos tempos, convivendo com a diversidade: em 1994 ordenaram a primeira mulher ao sacerdócio, em 2003 ordenaram o primeiro bispo homossexual. Em 2008, celebraram o primeiro casamento entre dois homens. Mas, por ironia, a igreja que sempre foi diferente das demais igrejas cristãs, está enfraquecendo justamente por seu maior atributo: a liberdade. Depois de cinco séculos, o anglicanismo se divide – quanto mais democracia, mais espaço para divergências. A divisão entre liberais e conservadores está tão acirrada que surgem opções que vão desde a formação de uma nova igreja até voltar para o catolicismo. A religião que tenta se modernizar sempre terá um preço a pagar? Recentemente, o papa Bento XVI condenou as pesquisas com células em-

brionárias. O mesmo papa reiterou que o inferno é um lugar real, onde as pessoas queimam eternamente. Não é de hoje que o catolicismo se debate contra a ciência: Ela foi contra o átomo, contra a teoria do heliocentrismo (o Sol como centro de nossa galáxia), foi contra a datação do mundo, contra o estudo da anatomia em cadáveres, também desaprovou o número zero, assim como o pára-raio... A cada ano, segundo pesquisas, o número de católicos diminui no Brasil. A religião que não se moderniza sempre terá um preço a pagar? Em 1823 Joseph Smith, ao rezar nos fundos de sua casa, recebeu a visita do anjo Morôni cuja mensagem foi o início da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (seus seguidores são os mórmons ou santos). Os mórmons instituíram a poligamia, que foi extinta no grupo em 1890. Além dessa, em 1978, foi extinta a regra que proibia a entrada de negros nos templos. Segundo esta religião, os profetas da doutrina podem mudar mandamentos e leis dentro da igreja a qualquer momento. Mesmo assim as regras citadas, além de polêmicas, criaram dissidências a ponto de Smith e seu irmão serem presos e assassinados a tiros na cadeia, em 1844. A religião que acompanha a modernidade sempre terá um preço a pagar? Debate-se muito a necessidade de “modernizar” esta ou aquela religião. Esta “necessidade” abre espaços para divergências que, por sua vez, criam dissidências. No Espiritismo não é diferente. É de assustar quando descobrimos que existem “Espíritas

ortodoxos”, “Espíritas Puristas”, “Novos Espíritas”... Muito embora, fique até mesmo difícil entender o tênue fio que separa uma das outras. Afinal, ‘modernidade’ em religião precisa significar ‘dissidência’? Evidentemente, em Espiritismo, trata-se de um comportamento desnecessário, visto que os escritos de Allan Kardec, que é a Codificação Espírita, são claros até mesmo ao afirmar que o Espiritismo não é uma doutrina hermética. Não há necessidade de patrulhamentos religiosos e doutrinários, mas não podemos olvidar que a causa para escolherem um só homem para o trabalho da Codificação foi a necessidade de unidade doutrinária. Orientado que foi pelo Espírito de Verdade, Kardec está com a primeira palavra. Por isso, é destoante o ufanismo de alguns espíritas que dão conta ape-

nas do aspecto religioso do Espiritismo. Ou o atavismo religioso de expressões como “culto no lar”, tão errônea quanto chamar espírita de ‘kardecista’, mas que muitos ainda contestam – tanto quanto na óbvia e sacramentada diferença entre Espiritismo e Espiritualismo. Precisamos ficar atentos contra a cegueira farisaica, impedindo o avanço progressista do Espiritismo. Existem milhares de espíritas nessa lastimável posição de estacionamento. Crêem, adoram e consolam-se corretamente; todavia, não marcham para diante, no sentido de se tornarem mais sábios e mais nobres. Talvez seja este o preço a pagar. Publicitário e radialista. Realiza atividades como expositor, evangelizador de mocidade e coordenador de teatro na seara espírita.

ENSAIO

A religião deve se modernizar?


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3.o Congresso Brasileiro de Pedagogia Espírita - Um projeto de inclusão integral: Ensinar tudo a todos De 7 a 9 de novembro NOV No: Campus da Uni Ítalo - Teatro Paulo Autran - Av. João Dias, 2046 Santo Amaro - São Paulo. Realização: Associação Brasileira de Pedagogia Espírita (Coordenação Dora Incontri) Informações: www. pedagogiaespirita.org.br/congresso. Tel: (11) 4032-8515 abpe@uol.com.br Público: a todos que se interessam, por um mundo melhor.

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Seminário Jurídico-Espírita Dia 18 de outubro OUT Tema: A boa-fé objetiva na legislação humana Horário: 10h00 às 12h15. Local: USE (União das Sociedades Espíritas) São Paulo. Rua Dr. Gabriel Piza, 433 - Santana - São Paulo-SP. Expositores: Advogado Francisco Aranda Gabilan, da Associação Jurídico-Espírita do Estado de São Paulo e promotor de Justiça de Falências da Capital Marco Antonio Marcondes Pereira.

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EVENTOS BENEFICENTES DO LAR EMMANUEL Noite da Pizza OUT

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4 de outubro A partir das 18h00

Almoço árabe 26 de outubro

OUT

26

Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955 - B. Assunção - S. B. do Campo-SP Informações: (11) 4109-8775 NOV

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Chá beneficente Dia 23 de novembro A partir das 14h00

Local: Associação dos Funcionários Públicos de São Bernardo do Campo Rua 28 de Outubro, 61. S. Bernardo - SP. Tel: (11) 4109-8938 (Lar) O evento mais aguardado do ano! (Enxovais bordados, artesanatos finos, pinturas)

Tel: (11) 2950-6554. eventos@ajesaopaulo.com.br www.ajesaopaulo.com.br 6.º CONEC - Congresso de Espiritismo do Circuito das Águas O Espírito do Espiritismo Dias 18 e 19 de outubro T Centro de Convenções OU Circuito das Águas, Serra Negra-SP Participação de: Eliseu Motta Jr, Orson Peter Carrara, Moacyr Camargo. Pedro de Almeida, Lobo, Carlos Hilsdorf. Peça teatral: É impossível morrer, baseada no romance de Ricardo Orestes Forni. Informações: www.usecircuitodasaguas.com.br

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Arte Espírita Teatro • Dia 11 de outubro O flaOUT gelo dos tempos (Drama). 11 18 Grupo Meirt. • Dia 18 de outubro 25 A onça de asas (Infantil). Grupo Paluarte. • Dia 25 de outubro A vida sexual de Adão e Eva (Tragicomédia) .Baseado na obra Vida e Sexo , de Emmanuel. Grupo O Espírito da Arte. Local: Grupo Espírita Manoel Bento. Rua Alfredo Pujol, 77. Próximo à estação metrô Santana. Ingressos R$ 7,00.

CRUZADA DO CORREIO Elaborado por Tatiana Benites e Hamilton Dertonio especial para o Correio Fraterno Elo entre a vida espititual e o corpo (pl.) Duração, período, época

Profeta que trouxe os 10 mandamentos

_______ Rotações Modo de se de Menezes, médium que locomover por minuto atuava na pelo ar área da cura

––––––––– Barsanulfo, médium mineiro Baixo, rasteiro, rente

Abrev. de Editores

Equipamentos de Proteção Coletiva

Carta do baralho

Nome técnico de pilha palito

A letra sinuosa

Perfeição, excelência

Aquele que se dedica à defesa e propagação de uma doutrina ou de um ideal

Irmãos do pai

Confuso, atordoado Tanto

Tratamento da cura através das cores 2 em romanos Guarda de elite do partido nazista alemão

Ágil, arredio Aqui Cabeça, tronco e membros Nenhuma pessoa

Clínica de emagrecimento

Instituto de Saúde Integrada Órgão responsável pelo paladar

Protocolo de Sétima letra Informação de Lugar desabitado, do alfabeto Roteamento grego deserto Roraima

As duas primeiras vogais

Compaixão, dó Pessoa muito querida De pouco uso

Que está desatado ou desprendido

Terceira consoante

Aqueles que dirigem orquestras Consoantes de arte Monte partes do objeto

Ecoa Nome de mulher Típico espetáculo espanhol Livro de Dolores Bacelar

Sufixo que indica conexão

Ar em inglês

––– Que é proMorales, duzido pela presidente natureza da Bolívia

Oficina de Jogos teatrais 18 de outubro. T A Arte de Educar com OU Arte Das 15 às 19 horas Local: Núcleo Anita Briza Rua Aurélia,665. Lapa São Paulo Inscrições: flaviaruh@terra.com.br. Tel (11) 3285-0594

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N I N G U E M

AGENDA

CORREIO FRATERNO

P T E M C R O I I S S P E I S R L I N T O O V A S O

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Banerjee e Chico Xavier Por JÁDER SAMPAIO

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rimavera de 1988. A União Espírita Mineira realizava sua VI Feira do Livro Espírita, e eu estava desconfortável em meio a uma enormidade de pessoas que se acotovelavam nas quatro paredes da livraria, buscando livros que eram vendidos em grande quantidade. Caiu-me às mãos Vida pretérita e futura de H. N. Banerjee, estudioso indiano, da Universidade de Jaipur, notabilizado pelos casos de reencarnação. Já o conhecia das referências nas palestras de Divaldo Franco e das notas de imprensa espírita, depois vim a saber que ele pesquisou com apoio de Ian Stevenson da Universidade de Virgínia e da American Society for Psychical Research (Sociedade Americana de Pesquisas Psíquicas). Banerjee notabilizou-se com os estudos de crianças que se recordavam de vidas passadas na Índia, e que eram capazes de dar detalhes, o que possibilitou muitas verificações por parte de pesquisadores. Ele e Stevenson consolidaram uma nova metodologia de pesquisa para um tema até então considerado não-científico pela comunidade acadêmica. Os anos se passaram e outro livro, recém-publicado, caiu-me às mãos, ou melhor, veio pelo correio, mercê de Dona Vera, que me solicitou um parecer para o Clubame. Foi concluindo a primeira crônica que me prendi à obra. Em menos de duas horas ganhei a última página, com uma estranha sensação de paz interior. Palavras simples, mas histórias são cheias de vida. A autora apagou-se para que o personagem mostrasse seu brilho próprio, e este brilho reluz nos episódios, nas ruas da capital paulistana, na mesa de reuniões mediúnicas, no recesso aconchegante do lar dos Galves, nos corredores dos hospitais,

nerjee, Maria Júlia encantou-nos com músicas ao piano. Esperávamos ansiosamente as coisas que o Prof. Banerjee tinha a relatar de seus estudos. Todavia, a estrela da noite foi Chico, dentro de sua humildade. Chico relatou a todos vários desdobramentos ocorridos com ele e descreveu detalhadamente uma reunião de sábios em local da Índia. Prof. Banerjee maravilhou-se com o relato, pois conhecia o local, nunca visitado por Chico em corpo físico. Tratava-se de uma reunião fechada, à qual só tem acesso as pessoas autorizadas, pertencentes ao grupo de sábios hindus. Essa evidência comprovou a presença de Chico em espírito. Prof. Banerjee emocionou-se e chamou-o Mahatma ou Buda. – This is a holy man! Este é um homem santo!” 1 - São Paulo, Ed. CEU, 2008.

nos atos de total desprendimento ao dinheiro, na caridade generosa... A história de Chico Xavier, contada e recontada de muitas perspectivas é sempre contagiante. Para o leitor do Correio, transcrevo um encontro inusitado, Chico Xavier, a quem um dia apertei a mão enrugada após uma noite de psicografia no Centro Espírita Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo, com o emblemático professor Banerjee, doutor em reencarnação, bandeirante do conhecimento espiritual. Narra a autora, Nena Galves, no referido livro Até sempre Chico Xavier1: “Gentilmente, Chico pede permissão a nós para convidá-lo à nossa residência, onde poderiam conversar mais tranqüilamente. Estiveram em casa Chico, o Prof. Banerjee, o casal Dra. Maria Júlia e Dr. Ney Prieto Pe-

res, Dr. Hernani Guimarães Andrade e algumas outras pessoas. Enquanto aguardávamos a chegada do Dr. Ba-

Psicólogo, doutor em Administração. Professor da Universidade Federal de Minas Gerais. Editor do blog Espiritismo Comentado.

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Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.


FOI ASSIM…

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Quando convivi com

Vinícius

Por SYLVIA NORONHA DE MELLO SARTI

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onheci Vinícius* quando ainda mocinha e ia com a minha mãe ouvir as suas palestras aos domingos na Federação Espírita. Eram momentos de grande emoção, encantamento e, principalmente aprendizagem espiritual. Ele dizia que quando chegava lá para palestrar, a sua cabeça estava completamente oca e, ao começar a falar, as palavras vinham aos turbilhões no seu cérebro, descendo até os lábios. Para nós eram como gotas de mel e amor a inundar o ambiente. Mais tarde o encontrei na escola onde meus filhos estudavam. Era o Educandário Hilário Ribeiro, na Rua Guarará, nos Jardins em São Paulo. Ele era um dos responsáveis pela escola e já estava com bastante idade. Aos sábados Vinícius tinha, no período da tarde, um trabalho de Evangelização, onde eu e outras pessoas comparecíamos. E como era emocionante ouvir aquele velhinho, de quase 80 anos, ensinar a doutrina de Jesus. Sempre muito educado, era caprichoso no vestir. Cabelos brancos, olhos claros e meigos e com um conhecimento profundo da doutrina espírita. O prazer que nos causavam as suas aulas era tão grande que hoje revivo com grande intensidade. Explicava os ensinamentos de Jesus com suavidade, lógica e um carisma que a todos encantava. E ao finalizar as aulas, lembro-me bem, ele dizia: agora vamos para a sobremesa, que era ler algo romântico para encerrar a reunião. E lia com grande emoção e doçura um capítulo do livro Plenitude, de Amado Nevo, um escritor argentino. Vinícius era muito preocupado com a educação. Seus livros, O Mestre na Educação, Na Seara do Mestre, Nas pegadas do Mestre, Em torno do Mestre são todos sobre educação. Ele achava que quando todos fossem educados não seria necessário haver prisões, nem penitenciárias. Certa feita, ao inaugurar um orfanato na cidade de Piracicaba, falou que se cada família daquelas que ali estavam adotassem uma criança abandonada, não haveria a necessidade daquela inauguração.

Estudos científicos da reencarnação Por LUIS MENEZES

Depois das reuniões, eu e meu marido o levávamos para a sua casa. Eu me sentia tão feliz como se estivesse transportando alguém especial e único neste mundo. Vinícius faleceu daí a alguns anos. Quis passar para o outro lado numa cadeira de balanço. Eu fui levá-lo até a morada final do seu corpo, mesmo porque o seu Espírito devia estar bem longe dali em companhia de outros com o seu grau de espiritualidade. Agradeço a Deus pela oportunidade de conhecer Vinícius e aprender com ele a doutrina dos Espíritos. * Vinícius (Pedro de Camargo) nasceu em Piracicab-SP em 1878. Foi um dos pioneiros no trabalho de educação espírita a crianças, no início do século passado. Desencarnou em outubro de 1966, em São Paulo.

Esta história aconteceu com D. Sylvia. Conte a sua também. Escreva para redacao@correiofraterno.com.br

A sigla CORT (Cases of Reincarnation Type, ou Casos do Tipo Reencarnação) é o termo adotado pela comunidade científica mundial para as pesquisas da hipótese de reencarnação do ser humano. Milhares de crianças em todo o planeta que recordam vidas anteriores é o foco de estudo para comprovação científica. O abismo entre o conhecimento religioso e o científico criado na idade média foi vencido pelas grandes descobertas na Paris do século XIX. O início da codificação do Espiritismo, a 18 de abril de 1857, abriu uma nova vertente para reatar a aliança Ciência – Religião. O termo reencarnação, cunhado por Allan Kardec, é hoje adotado pela comunidade científica; atestando a universalidade do conhecimento Espírita. Einstein afirmou que a Ciência sem religião é manca e a Religião sem ciência é cega, e isso fica claro no vazio entre os grandes avanços tecnológicos e o tão pouco conhecimento da própria trajetória existencial do ser humano. O psiquiatra Ian Stevenson, com mais de 2.700 casos documentados, junta-se a dezenas de outros pesquisadores, na busca de evidências que comprovem a reencarnação. Casos do Dr. Haraldsson, pesquisador da Universidade da Islândia foram base para o documentário produzido pelo National Geographics, com o título Reencarnação – Histórias de vidas passadas. Cabe destacar a história da menina Dilukshi nascida em 1984, no Sri Lanka, que aos três anos falou de uma vida anterior que tinha vivido em Dambulla, chamava-se Shiromi e morreu afogada. Chegando ao povoado conduziu o motorista até a casa onde teria morado, reconheceu objetos e as pessoas e as conduziu à pedra de onde escorregou e caiu no rio, o que lhe foi fatal.


CORREIO FRATERNO

SETEMBRO - OUTUBRO 2008

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Por PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO

O

materialismo cobre os olhos dos médicos, impedindo a observação da verdadeira causa das doenças. Da mesma forma que se disseca corpos, será pelo estudo da alma que a cura será conquistada. Décadas antes do Espiritismo, dois médicos dedicaram suas vidas para o surgimento de uma nova Medicina fundamentada no estudo da alma, rompendo as amarras do materialismo. Mesmer e Hahnemann receberiam o apoio e a defesa dos espíritos da Codificação. Magnetismo, Homeopatia e Espiritismo são ciências irmãs, unidas para trazer ao mundo a verdadeira e definitiva saúde integral. Quando o médico e filósofo alemão Franz Anton Mesmer, a partir de suas meticulosas pesquisas experimentais, registrando por duas décadas a cura das doenças, elaborou sua teoria de uma nova medicina. Ele considerou a possibilidade de a energia vital servir como meio de comunicação da vontade do médico, exercendo uma ação dinâmica sobre a causa patológica de seu paciente. Essa influência terapêutica se processa por um tratamento metódico e progressivo, até que se dê por completa a cura. Estava criada a ciência do Magnetismo Animal. A comunidade científica nega Num passo seguinte, procurou apresentar suas descobertas à comunidade científica para que fosse pesquisada, debatida, tivesse suas pesquisas repetidas por inúmeros médicos. Por fim, imaginou Mesmer, a medicina abraçaria as evidências da energia vital como lei natural, levando os benefícios do Magnetismo Animal para toda a humanidade. Todavia, apesar de todo respeito de Mesmer à metodologia científica, os cientistas receberam o Magnetismo Animal com deslumbramento, desconfiança, depois negação. Por fim acusaram-lhe de charlatão e o Magnetismo Animal de uma falsa ciência. Em suas Memórias, Mesmer con-

O materialismo cobre os olhos dos médicos, impedindo que vejam a verdadeira causa das doenças. Da mesma forma que se estuda minuciosamente o corpo físico, será preciso compreender a alma para conquistar a cura

tou alguns detalhes de sua luta. Acusaram-no de ter recusado uma comissão da Sociedade Real de Medicina. No entanto, explicou Mesmer, qual foi o procedimento dessa comissão? O médico deveria entregar um frasco ou amostra de seu medicamento, que seria lacrada e confiada aos comissários. Depois, uma análise química e a observação do tratamento pelos médicos resultaria num relatório para a concessão de um brevet, correspondente à atual patente. O que Mesmer poderia colocar no frasco? Ele mesmo explicou a contradição, em Mesmer – A ciência negada e os textos escondidos: “eu não possuo nem pó nem licor para depositar, também não tenho nem brevet nem privilege a solicitar. Certamente não desejo fazer nenhum comércio de drogas. Eis como e por que eu recusei uma comissão”. Ou seja, a Sociedade Real de Medicina não estava preparada para receber uma teoria revolucionária,

destinada a criar um novo paradigma científico. Mesmer concluiu: “Tenho em mãos uma verdade essencial para o bem da humanidade. Mas não é suficiente que eu deseje ser benfeitor dos homens: é ainda necessário que eles aceitem o benefício”. A luz do Espiritismo Depois de Mesmer, o segundo benfeitor dedicado a criar uma nova medicina foi Samuel Hahnemann, criador da homeopatia. Além dos remédios homeopáticos, ele tratava seus pacientes com passes magnéticos mesméricos. Magnetismo Animal e Homeopatia compartilham a mesma fundamentação teórica. O tratamento homeopático se vale da energia vital de minerais, vegetais e animais, o Magnetismo da energia vital humana. O Espiritismo foi um aliado esclarecedor dessas duas teorias médicas revolucionárias. Allan Kardec fora magnetizador por 35 anos: “O magne-

tismo foi o primeiro passo para o conhecimento da ação perispiritual, fonte de todos os fenômenos espíritas”. Na Revista Espírita de 1867, completou: “Magnetismo animal e Espiritismo são duas partes de um mesmo todo, dois ramos de uma mesma ciência, que se completam e se explicam um pelo outro”. Com Espírito, em 1863, Hahnemann deu uma comunicação à Kardec: “Fui o criador da renovação médica que penetra hoje até nas classes dos sectários da antiga medicina; unidos contra a homeopatia, criaramlhe diques inumeráveis, exclamando: ‘Não irás mais longe!’. A jovem medicina, triunfante, venceu todos esses obstáculos. O Espiritismo lhe será um poderoso auxiliar. Graças a ele, ela abandonará a tradição materialista que, há muito tempo, retardou o seu vôo. A medicina disseca os corpos e deve também analisar a alma”. A medicina atual, como todas as outras ciências, ainda se mantém cega pela estreiteza do materialismo. O interesse econômico faz da ambição um objetivo funesto obstruindo o despertar da verdadeira arte de curar. O médico, reconhecendo seu papel como benfeitor da humanidade, compreenderá o que Kardec propôs, ao afirmar, em A Gênese: “Quando se diz que um médico opera a cura de um doente, por meio de boas palavras, enuncia-se uma verdade absoluta, pois que um pensamento bondoso traz consigo fluidos reparadores que atuam sobre o físico, tanto quanto sobre o moral”. O médico do futuro será um clínico de almas, trazendo na maleta, amor, esperança e solidariedade, deixando esses valores fluírem de suas mãos, como o fez, há dois mil anos, o meio rabi da Galiléia. Diretor do grupo editorial Universo das Letras (Revista Universo Espírita). Autor do livro: Mesmer, a ciência negada e os textos escondidos (Lachatrê). Paulo@universoespirita.com.br

EQUILÍBRIO

Virando a mesa da medicina


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