O espiritismo mal entendido pela psiquiatria no século 19
Doutora em história, Angélica de Almeida fala sobre o que descobriu ao pesquisar a história da psiquiatria e do espiritismo no Brasil e a resistência criada, ao ser a mediunidade entendida como “uma fábrica de fazer loucos”. Leia nas páginas 4 e 5.
Encontro de pesquisadores e a coerência doutrinária
Pesquisadores de diversas áreas do conheci mento, muitos deles acadêmicos dedicados a trabalhos e estudos sobre temas ligados à espiritualidade, participaram de mais um Encontro Na cional da Liga de Pesquisadores do Espiritismo que aconteceu em São Paulo e pôde ser acompanhado pelos interessados também pela internet.
Sob a coordenação do físico e pesquisador Alexan dre Fontes da Fonseca, o Enlihpe este ano contou com apresentação de trabalhos que abordaram os limites e desafios que envolvem o tema “Coerência doutrinária na pesquisa espírita” e também a expo sição de projeto práticos, como o estudo-piloto do homeopata e fisiatra Marcelo Saad, em que a gra foscopia é utilizada como prova de autenticidade de assinaturas em mensagens psicografadas. Leia mais no Especial, páginas 8 e 9.
DOENÇA:
O quadro raro que adornou uma das paredes da livraria Ley marie, em Paris, por mais de um século, agora faz parte do acervo da memória do espiritismo no Brasil. A pintura, que mostra Allan Kardec em seu ambiente de trabalho, é assinada por St. Georges, cuja completa identidade ainda é pesquisada. Leia mais na página 10.
Foi dada a largada ao projeto que vai em busca de caminhos para mudar a realidade da restrita presen ça de jovens na casa espírita hoje. A ideia é ajudar a implantar novas mocidades, despertar o interesse para o estudo aprofundado da doutrina e preparar novos sucessores para a casa espírita. Leia na página 13.
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“A consequência da luta emocional entre o querer, o poder e o dever.” Ano 55 • Nº 507 • Setembro - Outubro 2022 ISSN 2176-2104 Região do ABC inicia projeto Mocidade Itinerante Pintura a óleo de Allan Kardec está agora em acervo no Brasil
Exposição de obras raras do museu AKOL - AllanKardec. online no Encontro de Pesquisadores Espíritas, em São Paulo
A coerência de Kardec
e sua obra
Um dos temas mais importantes a serem refletidos pelos espíritas, a coerência doutrinária deve ser ana lisada não apenas pelo simples fato de se seguir ou não Kardec, mas também para melhor se compreender o caráter progres sivo da sua obra.
O legado deixado por Kardec não é pe queno. Com tanto acesso a informações, é preciso conhecer muito bem as bases do espiritismo, princípios que foram disponi bilizados em seus livros, cujo constante es tudo é imprescindível para dizer-se espírita. “O espiritismo não estabelece como prin cípio absoluto senão o que se acha eviden temente demonstrado”, destacou Kardec em A gênese. “Caminhando de par com o progresso, o espiritismo jamais será ul
trapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto.” Se uma verdade nova se re velar, ele a aceitará”. Esses pontos foram amplamente discutidos no Enlihpe deste ano, realizado em São Paulo, reunindo pesquisadores e estudiosos do espiritismo para analisar vários aspectos sobre coerên cia doutrinária. Um resumo do que foi o evento pode ser conferido nas páginas centrais desta edição.
Também nesta edição, a historiadora Angélica Almeida nos concedeu uma in teressante Entrevista sobre o espiritismo ter sido considerado, pela psiquiatria, no início do século, “uma fábrica de loucos. No Baú de memórias, vamos relembrar o
FALE COM O CORREIO
O que apontaram as rodas de con versa no Congresso Estadual Muito interessantes os assuntos abordados no Congresso. Principalmente que os cen tros espíritas se dediquem mais aos estudos. Vera Lúcia, via WhattsApp (Edição 506, jul/ago. de 2022)
Há novos divulgadores do espiritismo, es tudiosos das obras fundamentais de Allan Kardec, que deveriam participar desses
congressos para incentivar uma interação mais consciente e consistente com a dou trina, contextualizando seus ensinamentos com o momento que atravessamos.
Jayme
Lobato, WhattsApp
Quero parabenizar Eliana Haddad, ao Cor reio, e sobretudo aos amigos da USE sobre o excelente artigo resumindo os tópicos das rodas de conversa do Congresso Estadual da USE. Todos os pontos são muito relevantes, atualíssimos e bem apontados. E mais que isso, o encaminhamento dado não poderia
incansável trabalho de educação espírita da escritora Therezinha de Oliveira. Tem também os bastidores sobre o presente do museu Akol ao CCDPE-ECM, uma bela tela a óleo que retrata Kardec em seu am biente de trabalho no século 19. Você vai encontrar muito mais, tudo fruto de um trabalho cuidadoso de todos nós e a certeira supervisão dos amigos espiri tuais. Afinal, como muito bem observou Kardec, “os espíritos não ensinam senão justamente o que é mister para nos guiar no caminho da verdade, mas abstêm-se de revelar o que o homem pode descobrir por si mesmo”.
Boa leitura Equipe Correio Fraterno
ser mais correto e coerente com Kardec. Alexandre Caldini, São Paulo
A emoção de viver Arigó Tudo tem sua hora. Que bom que é este ator maravilhoso interpretando Arigó!
Raquel Eilert, WhattsApp (Entrevista, edição 506, jul/ago. de 2022)
Aécio Chagas, paixão pelo conheci mento, científico e espírita Só tenho a agradecer pelo trabalho de vo cês, nos proporcionando o aprendizado so bre o espiritismo e suas especificidades, ou seja: filosofia, ciência e religião.
Sonycleia, Olinda-PE (Edição 506, jul/ago. de 2022)
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Uma ética para a imprensa
Em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação:
• A apreciação razoável dos fatos, e de suas consequências.
• Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclare cendo pontos obscuros.
• Discussão, porém não disputa. As incon veniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas.
• A história da doutrina espírita, de al guma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, so bre fatos gerais pouco conhecidos.
• Os princípios da doutrina são os decorren tes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos.
• Não responderemos aos ataques dirigidos contra o Espiritismo, contra seus partidá rios e mesmo contra nós. Aliás, nos abste remos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princí pios que professamos.
• Confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possí vel responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento.
• Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião indivi dual que não pretenderemos impor a ninguém. Nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nos so erro for demonstrado.
Esta publicação tem como finalidade ofere cer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.
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Filme sobre Chico chega em outubro a os cinemas
Da REDAÇÃO
Vinte anos depois de sua morte, Chi co Xavier tem sua vida e obra con tada no documentário Chico para sempre, um projeto do cineasta Wagner de Assis com a participação do jornalista Marcel Souto Maior, autor de uma das biografias mais bem-sucedidas do médium mineiro.
O filme estreia dia 13 de outubro nos cinemas e conta com mais de 50 entrevistas que relembram não só fatos cronológicos da vida do médium, mas traça um painel das diversas vertentes que o acompanha ram em sua vida: da mediunidade que impactou o Brasil desde os seus 17 anos aos desafios com a fama, as reportagens polêmicas e o imenso legado de uma obra literária que hoje já conta com 536 títu los publicados (quando morreu, em 2002, Chico tinha oficialmente 412 livros).
“Encontramos fatos inéditos. Conversa mos com mais de 80 pessoas de visões e ver tentes diferentes”, explica o diretor e roteiris ta Wagner de Assis, no ideal de fazer um registro histórico “que possa ser visto em qualquer lugar do mundo, para que as pessoas possam ter um vislumbre do que foi a vida desse homem tão comum e que con seguiu realizar algo excepcional”, explica. “Houve um momento que a gente decidiu parar. Impossível contemplar tantas pessoas que ti veram suas vidas impactadas por ele. Acho que a gente ainda vai le var séculos para compreender esse legado tão potente que ele deixou”, assinala Assis.
A produção da Cinética Filmes con ta com participações de artistas, como Ana Rosa, Wanderleia, Carlos Vereza, além de médicos, cientistas, críticos literários, histo riadores, amigos que o
acompanharam por anos. Chico para sem pre apresenta momentos inéditos, como o depoimento da amiga Juselma Coelho, que estava com o médium dentro do quarto de hospital e presenciou a luz sobrenatural que se fez presente, captada também por câmera externa do prédio, antes da ‘melho ra súbita’ de Chico. Há também entrevistas inéditas de parentes diretos, que aceitaram participar do filme, como a sobrinha de Chico, Cidália Xavier.
O documentário conta também com participações de expoentes do movimento espírita: Jorge Godinho, José Carlos De Lucca, Alexandre Caldini, Oceano Vieira, Geraldo Lemos, Guiomar Albanesi e Nena Galvez, dentre outros.
A produção visitou as cidades mineiras de Pedro Leopoldo e Uberaba lá encon trando materiais que permaneceram por décadas num sótão que cedeu numa chu va, trazendo abaixo originais, recortes de jornais e até mesmo o projeto do arquiteto Oscar Niemeyer para Chico Xavier.
Com 2:15h de duração, o documen tário revive momentos icônicos do mé dium na televisão, no conhecido progra ma Pinga-Fogo, traz depoimentos antigos como do cantor Roberto Carlos e do ator Fabio Junior.
“Não é uma homenagem, porque o Chico mesmo diria que não precisa de uma. Mas uma constatação: sua presença na vida do país, mesmo 20 anos depois de ir embora”, explica Assis, concluindo:
“É importante que se volte a falar de pessoas que realizaram coisas positivas, que venceram seus desafios, num momen to como esse, em que precisamos de bons exemplos. Falar que há muito mais além dos nossos olhos, que os nossos sentidos percebem, recomeçar essa jornada depois de tanta dor e tanto sofrimento que o país passou”.
Assista ao trailer: YouTube https://www.youtube.com/c/ cineticafilmes
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ACONTECE
Diretor e roteirista Wagner de Assis com Eurípedes dos Reis, filho adotivo de Chico Xavier, e outras filmagens para o documentário
Uma fábrica de loucos: psiquiatria x espiritismo no Brasil
O que levou você a se interessar por esse tema em sua tese de doutorado?
Angélica de Almeida: Quando estava ela borando minha dissertação de mestrado, comecei a identificar os principais argu mentos contra o espiritismo, que estava começando a chegar no Brasil. No início, as críticas vinham da Igreja Católica. A doutrina espírita foi considerada uma he resia e fruto de uma ação demoníaca. Mas, com o passar do tempo, outros argumentos começaram a chegar e vinham dos meios científicos. Os fenômenos mediúnicos fo ram considerados pelos médicos e psicólo gos como uma importante causa de loucu ra. A partir de então, todos os opositores passaram a incorporar esse discurso da lou cura espírita contra o espiritismo. Embora esse debate entre médicos e espíritas tenha ocorrido ao longo de vários anos, são pou cas as pesquisas acadêmicas voltadas para a compreensão desse fenômeno. Foi a partir da descoberta desse tema tão interessante que resolvi realizar a minha pesquisa.
Quando surgiram as primeiras mani festações dos médicos e psicólogos sobre os “perigos do espiritismo” e por que a visão negativa de que ele seria uma fábrica de loucos?
Os debates surgiram nos Estados Unidos, quando aconteceram os primeiros fenôme nos mediúnicos que deram origem ao es piritualismo moderno. Em 1858, um ano após a publicação de O livro dos espíritos, identificamos a primeira publicação médi ca manifestando a esse respeito.
O espiritismo, que vinha ampliando o seu número de adeptos e se espalhando por diversos países, preocupou a classe médica, pela crença dos perigos em potencial que ele representava, de que ele seria capaz de desencadear ou agravar a loucura, pela fre quência às reuniões mediúnicas.
Os psiquiatras, fortemente influenciados pelos princípios do materialismo e da ci ência vigentes à época, procuravam ex
Com o objetivo de investigar os motivos que levaram à interpretação da mediunidade como “loucura espírita”, a historiadora Angélica Silva de Almeida realizou vasta pesquisa sobre o espiritismo e a psiquiatria na primeira metade do século 20, quando experiências mediúnicas espí ritas passaram a ser interpretadas como causa ou manifesta ção de doenças mentais, provocando vários embates entre espíritas e psiquiatras, que resultaram em diversas publica ções em livros, artigos científicos e imprensa leiga. Angélica, que lançou em livro sua tese de doutorado em his tória – Uma fábrica de loucos: psiquiatria x espiritismo no Brasil (1900-1950), ed. Dialética –, explica como se deu a resolução desse conflito, que coincidiu com a conquista de diferentes espaços, tanto da psiquiatria como do espiritismo. Isso não só marcou como definiu a história do movimento espírita no Brasil. Saiba por quê.
cluir completamente a possibilidade da existência do espírito. Os espíritas, que também destacavam a importância da ci ência, diziam ser possível conciliá-la com o elemento espiritual, unindo a investigação científica dos fenômenos espirituais (e sua influência positiva na vida dos homens) aos avanços e descobertas científicas da época. Além disso, a moderna psiquiatria e o es piritismo, defendiam perspectivas diferen tes para lidarem com questões comuns aos dois: origem da mente, a relação mente–corpo, a loucura, seu tratamento, suas cau sas e modos de prevenção. Esses pontos de contato e de conflito geraram esse grande debate, que percorreu a segunda metade do século 19 e a primeira metade do século 20.
Além da questão da loucura espírita, que outras percepções eles tinham a respeito dos fenômenos mediúnicos? Além do argumento da loucura, o espiritis mo também foi associado a charlatanice e fraude. Para muitos integrantes da classe mé dica, a possibilidade de aceitar a existência dos espíritos era sinônimo de primitivismo e deveria ser fortemente combatido. Como a hipótese da existência real dos espíritos não poderia ser aceita, só restava classificar esses fenômenos como fraude, charlatanismo e exploração da credulidade pública.
A ideia de que o espiritismo desenca dearia a loucura ou seria uma fraude foi unânime entre médicos e psicólogos?
Não. Enquanto um grupo de médicos se ocupou dos riscos do espiritismo para o de senvolvimento de transtornos mentais, um segundo grupo enfatizou um outro aspec to: a mediunidade. Embora reconhecessem a possibilidade de que as experiências me diúnicas poderiam levar à loucura, busca ram pesquisar os fenômenos para ampliar a compreensão do funcionamento da mente. No surgimento da moderna psiquiatria e psicologia, na transição entre os séculos 19 e 20, diversos pesquisadores estudaram in
4 CORREIO FRATERNO SETEMBRO - OUTUBRO 2022 www.correio.news ENTREVISTA
ENTREVISTA
tensamente a mediunidade. Esse grupo era composto por: Pierre Janet, William James, Frederic Myers e Carl G. Jung. No entanto, a visão que mais prevaleceu e que perma neceu entre os médicos brasileiros foi a do desencadeamento de transtornos mentais.
Como Kardec lidou com essa questão de “loucura espírita”?
Já na introdução de O livro dos espíritos, Kardec discute as causas da loucura. De fende que os motivos dos transtornos men tais estariam associados ao organismo, à in fluência do ambiente cultural do paciente e a uma predisposição orgânica.
Assim, Kardec não negava as causas sociais e biológicas dos transtornos mentais, mas acrescentava uma outra: a obsessão, que seria “a ação persistente que um espírito mau exerce sobre um indivíduo” (A gêne se). Ele também afirmou na Revista Espírita (1863): “Um dia a obsessão será colocada
(obsessão): “Muitos epilépticos ou loucos, que mais necessitavam de médico que de exorcismo, têm sido tomados por posses sos” (O livro dos espíritos).
E sobre a fraude/charlatanismo?
Kardec rebateu as acusações de que as ma nifestações dos espíritos não passavam de uma fraude utilizando quatro argumentos.
O primeiro seria o de que a existência de fraudes em qualquer área de atividade hu mana não significava que todos os fenôme nos desta mesma área fossem fraudulentos.
O segundo ponto era de que os fenômenos espíritas teriam sido amplamente investiga dos por diversos cientistas, que afirmaram a sua autenticidade, inclusive se tornando adeptos. No terceiro, afirmava que os da dos apresentados pelos médicos negando a existência dos espíritos não se baseavam num estudo aprofundado dos fenômenos mediúnicos, nem analisavam as pesquisas
ritismo chegou a ser criminalizado no có digo penal de 1890 e os médicos passaram a cobrar medidas efetivas do poder público e o cumprimento do código penal. Às acu sações de loucura, crime, suicídio, misticis mo e fraude, acrescentou-se a de exercício ilegal da medicina.
entre as causas patológicas, como o é hoje a ação de animais microscópicos, de cuja existência não se suspeitava antes da inven ção do microscópio”.
Ele separava a loucura de causa orgâni ca daquela decorrente da obsessão: “Não confundamos a loucura patológica com a obsessão; esta não provém de lesão alguma cerebral, mas da subjugação que espíritos malévolos exercem sobre certos indivíduos, e que, muitas vezes, têm as aparências da loucura propriamente dita. Esta afecção, muito frequente, é independente de qual quer crença no espiritismo e existiu em to dos os tempos” (O que é o espiritismo).
Contudo, reconhecia que a separação entre esses dois tipos (orgânica e espiritual) não era simples, pois as obsessões poderiam agravar problemas orgânicos que já exis tiam, ou gerar esses problemas (A gênese).
Kardec também chamava a atenção dos es píritas sobre o erro de classificar todos os transtornos como sendo de base espiritual
já realizadas. Por fim, argumentava que os médiuns não recebiam qualquer benefício pecuniário pelo exercício da mediunidade.
Quando esse conflito chegou ao Bra sil e como ele se desenvolveu?
O espiritismo chegou ao Brasil já na segun da metade do século 19. A crescente disse minação de suas práticas e ideias em nossa sociedade contribuiu para despertar a aten ção dos médicos. Nesse período, começa ram a aparecer as primeiras manifestações sobre os “perigos” do espiritismo para a sociedade e os riscos para a saúde mental. Para o médico Brasílio Marques (1929): “O combate ao espiritismo deve ser igua lado ao que se faz à sífilis, ao alcoolismo, aos entorpecentes (opio, cocaína, etc.), à tuberculose, à lepra, às verminoses, enfim, a todos os males que contribuem para o en fraquecimento, para o aniquilamento das energias vitais, físicas, psíquicas, do nosso povo, da nossa raça em formação”. O espi
Por que dessa acusação de exercício ilegal da medicina? No Brasil foi muito comum o desenvolvi mento de práticas assistenciais, focado nas atividades de cura. Talvez essa tenha sido a maior contribuição do espiritismo brasi leiro, o desenvolvimento das implicações terapêuticas presentes nas obras de Allan Kardec. O movimento espírita no Bra sil organizou uma ampla rede de terapias complementares, como não encontramos em nenhum outro lugar. Em relação aos transtornos mentais, não só aceitaram a causa das doenças mentais pro posta por Kardec, mas colocaram em prá tica propostas de tratamento. Defendiam a junção do tratamento médico ao espiritual para ajudar no reequilíbrio dos doentes. Para materializar essas ações, fundaram de zenas de hospitais psiquiátricos espíritas no Brasil. Estes estabelecimentos começaram a ser criados no final da década de 1910. Num levantamento realizado por Souza e Deitos, em 1980 haveria cerca de cem hos pitais psiquiátricos de orientação espírita no país. Somente no estado de São Paulo haveria vinte e dois e sem fins lucrativos. No entanto, muitos psiquiatras utilizaram a criação dessas instituições para atacar o espiritismo, argumentando que ele gerava tantos loucos que foi necessário abrir insti tuições para o tratamento deles.
Esse conflito entre psiquiatria e espi ritismo permanece até hoje?
Por volta dos anos de 1950, o conflito foi diminuindo. Podemos apontar alguns fato res para isso: o primeiro, seria a legitimação do espiritismo como uma religião no Brasil, deixando de ser um concorrente direto da psiquiatria no trato das questões que envol viam a loucura, causas, modos de tratamen to e prevenção. O segundo, seria a conquista pela psiquiatria da respeitabilidade no meio acadêmico e social, associado ao desenvolvi mento com sucesso de medicamentos para o tratamento das doenças. Por fim, a ado ção gradual de uma visão diferente sobre as questões religiosas por parte dos psiquiatras. A religião começou, gradativamente, a ser vista como um possível agente colaborador no processo de tratamento dos doentes.
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O velho e o mar de Ernest Hemingway tradução de Fernando de Castro Ferro 126 páginas 16x23 cm FEP Editora Telefone: 41 99272-9952 www.livrariamundoespirita.com.br A obra esquecida de Angeli Torteroli: o espiritismo no Brasil e em Portugal de Adair Ribeiro Júnior 752 páginas 16x23 cm CCDPE-ECM www.ccdpe.org.br/loja Os expoentes da codificação espírita organizado pela Federação Espírita do Paraná 184 páginas 14x21 cm Vozes Acadêmica Telefone: 24 99267-9864 www.livrariavozes.com.br História da liberdade religiosa – da Reforma ao Iluminismo de Humberto Schubert Coelho 344 páginas 16x23 cm Bertrand Brasil www.record.com.br
Kardec
não negava as causas sociais e biológicas dos transtornos mentais, mas acrescentava uma outra: a obsessão, que seria ‘a ação persistente que um espírito mau exerce sobre um indivíduo’ (A gênese)”
A prevenção do suicídio no Brasil e no mundo
Da REDAÇÃO
á momentos em que a vida se torna um fardo e muitos de nós perdemos a coragem de seguir em frente. Essa experi ência é mais comum do que se imagina, embora ninguém goste muito de falar a respeito – ou não tenha com quem com partilhar seus momentos difíceis.”
“H
autoextermínio” – relembra o jornalista André Trigueiro, autor do livro Viver é a melhor opção – A prevenção do suicídio no Brasil e no mundo.
Foram reflexões como essas sobre um assunto, tido como tabu, que levaram o jornalista André Trigueiro a se aprofun dar nos estudos e pesquisas sobre a reali dade que ceifa silenciosamente milhares de vidas todos os anos pelo mundo.
“Como jornalista, jamais havia me aprofundado nos possíveis desdobra mentos nesse sentido. Sempre achei esse assunto, suicídio, pesado, um tanto assustador. Mas a minha percepção co meçou a mudar em 1999, quando um amigo me instigou a buscar informações sobre dados, estatísticas e o esforço de alguns grupos isolados para prevenir o
O livro, lançado em 2015 pela edi tora Correio Fraterno, veio ao encontro desta lacuna que existia para se obter in formações relevantes de maneira segura e organizada sobre o tema.
Lembrando a importância do traba lho realizado pelo CVV, instituição que há mais de 60 anos realiza um serviço voluntário de excelência na escuta de quem necessita desabafar, vale assinalar que, em nosso ciclo de amizades, de con vívio profissional e familiar, também po demos fazer a diferença, estando atentos e sabendo como lidar com pessoas que estão passando por momentos delicados, à nossa volta, tornando-se emocional mente vulneráveis.
“Quantos ‘acidentes emocionais’ deixariam de ser fatais, se as pessoas pró
ximas do suicida soubessem o que fazer para lidar com um problema aparente mente insolúvel!” – lembra o jornalista em sua obra.
Viver é a melhor opção traz também um precioso estoque de informações de origem na doutrina dos espíritos, que permitem ampliar os horizontes do leitor ao explicar as razões da dor e do sofrimento, e por que o suicídio não re presenta em nenhuma hipótese alívio ou libertação.
“A luta em favor da vida é causa co mum. Estamos juntos na mesma espa çonave. Se a viagem para alguns parece longa e desagradável, e há como redu zir ou eliminar esse desconforto, por que não fazê-lo? Quem está sentado ao lado não é apenas passageiro. É parte de algo maior em que você também está inserido. Há quem chame isso de Humanidade.” – sintetiza Trigueiro em sua obra.
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LEITURA
Therezinha Oliveira
Clareza no entendimento e na expressão
Por RITA CIRNE
Uma das vozes mais atuantes do movimento espírita brasileiro fez mais do que divulgar e incentivar o estudo da doutrina espírita. Therezinha Oliveira foi a responsável pela criação de cursos de espiritismo com uma linguagem didática no CEAK, Centro Espírita Allan Kardec, em Campinas, onde trabalhou por mais de 50 anos. Esses cursos foram trans formados em livros e também serviram de base para muitas outras casas.
Com sua facilidade de interpretar tex tos e tratá-los de forma clara produziu uma rica obra literária que trouxe nova luz para os temas básicos do espiritismo, como mediunidade e reencarnação, e também para os temas evangélicos, dei xando uma dos seus maiores legados: a importância da coerência doutrinária nos estudos e práticas espíritas.
Divulgação do conhecimento
Ela sabia também adaptar-se às mu danças nas formas de divulgação. Come çou datilografando as apostilas dos cursos, tirando cópias em mimeógrafo, mas em 2010 já estava criando o blog Therezinha Oliveira onde, embora contasse com apoio técnico, ela mesma respondia aos posts.
Como resultado da dedicação que teve como pesquisadora e estudiosa da doutrina espírita, ao desencarnar, em 28 de agosto de 2013, dois meses antes de completar 83 anos, já havia dado mais de 2 mil palestras em todo o Brasil e no ex terior e suas obras ultrapassavam a marca de 700 mil exemplares publicados, sendo 300 mil em livros e 400 mil em livretos.
Chegada ao campo para o trabalho Nascida em Cravinhos, no estado de São Paulo, em 2 de outubro de 1930, pas sou parte da infância em Santos e se mu dou para Ribeirão Preto em 1940, após a morte do pai, cidade onde aos 10 anos começou a frequentar as aulas de catecismo espírita no Centro Espírita Eurípedes Bar sanulfo. Em Ribeirão, frequentou a Escola
e Biblioteca dos Pobres, que teve como um dos seus fundadores Gustavo Marcondes, também um dos criadores do CEAK. Atra vés de ingressou na mocidade espírita do CEAK, quando mudou-se com a família para Campinas.
“Tive a felicidade de me mudar para Campinas em 1956 e chegar ao Centro Espírita Allan Kardec. Foi uma grande alegria, pois parece que estávamos aguar dando essa oportunidade de um ambiente estimulador que desse campo para o nosso
trabalho”, disse Therezinha.
Na década de 1960, ingressou no Mo vimento de Unificação Espírita de Cam pinas, do qual foi presidente por dois períodos. Naquela época conheceu pesso almente Chico Xavier, que passou a enca minhar pessoas da região de Campinas para serem orientadas por ela no CEAK. Além de se dedicar às atividades de divulgação doutrinária da instituição e de orientar os que a procuravam, fez parte da diretoria da Casa, chegando a ocupar a presidência por
quatro gestões, de 1980 a 1988.
O reconhecimento
“Lembro-me do dia em que a vi pela primeira vez na mocidade espírita. Eu ti nha 15 anos e ela 26. Era uma figura jo vial, simpática, que me entusiasmou para a vida espírita. Sabia ser firme, mas usava uma linguagem simples e objetiva. Sabia motivar as pessoas com um jeito especial e também dividir as tarefas”, recorda Julieta Côva Checchia, de 82 anos, uma das traba lhadoras do CEAK que conviveu de perto com Therezinha.
O filme Na luz de Therezinha Oliveira, produzido pelo CEAK, traz depoimentos de muitas pessoas que a conheceram. Uma delas é o filósofo e escritor Emanuel Cristia no, que afirma que no movimento espírita, antes da obra literária de Therezinha, se as pessoas quisessem conhecer a história de Jesus, encontravam apenas as elucidações evangélicas de Antônio Luiz Sayão (18291903) e Cairbar Schutel (1868-1938).
“Ela fez uma obra de análise histórica fantástica ao longo dos anos no CEAK. Lamentável que as pessoas, de uma forma geral, não consigam reconhecer a impor tância do estudo do aspecto histórico da vida de Jesus. Conseguiu fazer isso com uma linguagem didática e científica, por que todas as fontes são citadas, todas as in formações, confirmadas”, analisa o escritor.
“Ela foi uma figura excepcional, lembra o ex-prefeito de Campinas, Lauro Péricles Gonçalves. “Firme, um amor, uma dedi cação completa à doutrina espírita. Penso que ela, dona Daysi [Machado] e dona Julieta foram as continuadoras da obra de Gustavo Marcondes, o fundador do CEAK. Foram colunas firmes para manter a pureza doutrinária dentro do CEAK, não aceitando misticismo, deturpação na me diunidade, interpretações pessoais de texto, mas o espiritismo simples, bonito”.
Jornalista, colaboradora do Grupo Espírita Batuíra e do jornal Valor Econômico.
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BAÚ
DE MEMÓRIAS
O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção e em nossas redes sociais. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.
sabia ser firme. Usava uma linguagem simples e objetiva”
Therezinha
ESPECIAL
Nos dias 24 e 25 de agosto, foi re alizado em São Paulo, na sede da USE, o 17º Enlihpe – Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores de Es piritismo, tendo como tema central “Coe rência doutrinária na pesquisa espírita”. O evento, também transmitido ao vivo, reu niu participantes de diversas áreas do co nhecimento, muitos deles acadêmicos de dicados a trabalhos e estudos sobre temas ligados à espiritualidade.
Sob a coordenação do físico e pesqui sador Alexandre Fontes da Fonseca, foram apresentados cinco trabalhos: “Coerência doutrinária, limites e desafios” (Marco Mi lani); “Allan Kardec: entre Comte e Dil theys, ou porque o espiritismo não é uma ciência natural” (Jáder Sampaio); “Refle xões históricas sobre as propostas da versão definitiva de A gênese: revista corrigida e aumentada por Allan Kardec ou adulterada pós-Kardec?” (Adair Ribeiro Jr., Carlos Seth Bastos e Luciana Farias); “A classificação dos fenômenos estudados no espiritismo, metapsíquica e parapsicologia” (Ricardo Te rini) e “Coerência doutrinária no capítulo 12 de Nos domínios da mediunidade” (Allê De Paula e Alexandre da Fonseca).
O evento também teve uma seção de apresentação de projetos de pesquisa. Nela, o homeopata e fisiatra Marcelo Saad, da Associação Médico-Espírita de São Paulo (em coautoria com Roberta de Medeiros), apresentou o projeto “A alteração da escrita nos textos psicografados é um ato voluntá rio do médium ou a caligrafia do comuni cante?”, uma proposta de estudo-piloto em que foi utilizada a grafoscopia – uma espe cialidade que aplica recursos de verificação sobre a autoria da grafia.
Coerência doutrinária
é tema na pesquisa espírita
Por ELIANA HADDAD e IZABEL VITUSSO
O 17º Enlihpe contou com duas plená rias. Numa delas, o pesquisador convidado, Raphael Casseb, apresentou algumas pers pectivas metodológicas do ensaio “Autoria e psicografia: a hipótese da sobrevivência em obras de Chico Xavier”, realizado em con junto com Alexandre Caroli e Marina Wei ler, e que foi premiado internacionalmente1
Na segunda, o pesquisador, físico e professor de filosofia da ciência da Uni camp, Silvio Chibeni, apresentou o tema “Kardec, Hume e a ciência do homem”, encerrando as atividades do primeiro dia do Enlihpe.
Durante o encontro, foram lançados os livros: 160 anos de O livro dos médiuns, com os textos selecionados do 16º En lihpe (realizado online, devido à pande mia); Coerência doutrinária na pesquisa espírita, com os textos selecionados do 17º Enlihpe; Science of life after death, de Ale
xander Moreira-Almeida, Marianna Costa e Humberto Schubert; A obra esquecida de Angeli Torteroli, de Adair Ribeiro Jr. e Chico Xavier e o mundo dos espíritos: um estudo de representações sociais, de Tiago Paz e Albu querque.
O Enlihpe de 2023 será realizado em Juiz de Fora, MG, sobre o tema “Perispíri
to: concepções e pesquisas” e, em 2024, em São Paulo, sobre os “160 anos de O evange lho segundo o espiritismo”.2
1 Saiba mais em https://bit.ly/correionews-concurso -mundial
2 Os vídeos das apresentações dos trabalhos podem ser acessados em www.espiritualidades.com.br
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Marcelo Saad: uso da grafoscopia em pesquisas
Participantes da roda de conversa
Enlihpe 2022: encontro anual que agrega pesquisadores da doutrina espírita
Resumo dos estudos apresentados
O alinhamento com a codificação
Alexandre Fonseca, fundador do Jornal de Estudos Espíritas, juntamente com Allê De Paula, destacou a necessidade da aná lise doutrinária de subsídios de autores en carnados e desencarnados para utilização como exemplos e estudo dos conceitos do espiritismo.
Com base na recomendação da pró pria doutrina espírita de analisar, separar e ficar com o que é bom, eles apresentaram um estudo sobre a coerência doutrinária em cinco pontos selecionados do conteú do do capítulo 12 da obra Nos domínios da mediunidade, de au toria do espírito André Luiz, pela psicografia de Francisco C. Xavier, sobre a clarividência e clariaudiência. Um deles diz respeito a Hilário, personagem que desconhece a doutrina espírita e quer saber se esses fe nômenos se localiza vam nos olhos e nos ouvidos do encarnado, sendo esclarecido ser toda percepção mental, conceito que coincide com o que Kardec explica em O livro dos espíritos, p. 249 A (todas as percep ções são atributos do espírito e lhes são inerentes ao ser).
“Os demais conceitos apresentados no capítulo seguem de acordo com o que a doutrina ensina a respeito da mediunidade e, em particular, sobre as manifestações vi suais”, exemplifica Fonseca.
Termos da parapsicologia e metapsíquica no espiritismo
O físico e professor Ricardo Andrade Terini, mostrou o emprego de termos diferentes usados pela parapsicologia e metapsíquica para as classificações dos fenômenos estudados e já denominados por Kardec 1855.
Diferentes disciplinas científicas foram criadas e inúmeras sociedades para pesqui sas ao longo do tempo. “Com a divulgação desses estudos, inclusive no Brasil, o uso dos termos e conceitos dessas ciências se mis turou àqueles próprios do espiritismo”, ex
plicou Terini, cujo estudo comparativo pro curou justamente recuperar as principais classificações dos fenômenos psíquicos ou mediúnicos, buscando reduzir confusões no uso de termos e conceitos, em particu lar, na divulgação do espiritismo.
A ciência no tempo de Kardec
Analisando como era a filosofia da ci ência na época de Kardec e atualmente, o psicólogo e pesquisador Jáder Sampaio, criador do blog Espiritismo comentado, dis correu sobre o tema “Allan Kardec: entre Comte e Dilthey, ou porque o espiritismo não é apenas ciên cia natural”.
Destacou a faixa de tem po que mostrou mudanças fundamentais na época de Kardec – de 1830, com a publi cação do Curso de Filosofia, de Augusto Comte, a 1883, com a obra Uma introdução ao es tudo da ciências humanas, de Wilhelm Dilthey.
Jáder explicou que Kardec desenvolveu o espiritismo num intervalo entre uma pro posta de produção do conhe cimento, que foi a transformação da filosofia natural em ciência natural, e o nascimento da ciências humanas, trazendo novos méto dos de estudo para seus diferentes objetos e pesquisa.
“Kardec conhecia as discussões meto dológicas de sua época e queria propor um novo conhecimento com status de ciência e filosofia. A questão da religião surgiria de pois”, elucidou Jáder.
Jáder assinalou que, mais tarde, Dil they também perceberia a existência de uma série de disciplinas que seguiam um método distinto do das ciências naturais, preocupando-se com o mundo interior do homem. “Isso gerou uma transformação em métodos e no próprio objeto da filoso fia da natureza”, acrescentou.
A versão definitiva de A gênese
O estudo foi realizado pelos pesquisa dores Adair Ribeiro Jr., Carlos Seth Bastos, e Luciana Farias, que desenvolvem pro jetos sobre a vida e as obras de Kardec,
baseados em pesquisa e estudo de textos, cartas e manuscritos da época, recentemente encontra dos em Paris e que vêm sendo disponibilizados digitalmente (www. allankardec.online).
Eles promoveram uma revisão histórica e uma análise crítica das di versas propostas que tra tam da identificação da versão definitiva de A gênese. Apresentaram novas fontes primárias que reforçam serem de Kardec as alterações da 5ª edição da obra, dentre as quais um exemplar da sua primeira impressão dessa, de 1869.”
“Nenhuma das propostas trouxeram evidências que indique a interferência de terceiros no texto de A gênese. Foram ape nas alegações baseadas na existência de di ferenças entre edições, sejam elas originais em francês ou traduções”, explicaram.
A ciência do homem
O físico e filósofo Silvio Chibeni destacou que a ciência como conhecemos hoje é re lativamente recente e que, na antiguidade, todos os ramos do saber eram filosofia.
“No século 17, a filosofia natural teve grande avanço com seus métodos e o desenvolvimento de novas teorias sobre o mundo, tendo Isaac Newton como sua referência durante 200 anos, inclusive entre os filósofos que estavam interessados em estudar o ser humano”, salientou Chibeni.
Ele citou o filósofo escocês David Hume, que ao escrever o livro Um tratado da nature za humana (1740), mostrou a necessidade de se modificar a forma de estudar o homem –não biologicamente, mas como ser pensante –, propondo adaptar o método experimental também para as questões morais, o que de nominou de “ciência do homem”.
“No final do século 19, início do século 20, não havia um projeto integrado para as ciências humanas que, como Newton, nas ciências da natureza, pudesse servir de pa radigma”, observou, lembrando que Kardec também tinha esse mesmo projeto, indo atrás dos fenômenos mediúnicos e sonam búlicos não como fatos isolados, mas para fazer uma teorização sobre eles.
“Foram os fenômenos observados que
acabaram por revelar a natu reza espiritual do ser humano”, destacou, acrescentando que foram os fenômenos intelec tuais que fundamentaram a ciência espírita.
Coerência doutrinária Limites e desafios
Marco Milani apresentou uma amostra de um levan tamento realizado junto a alguns dirigentes espíritas a respeito de critérios e graus de aceitação de conceitos presentes em obras mediúnicas, correlacio nando as respostas com o tempo de vivên cia no meio espírita.
Destacando que Allan Kardec já havia previsto a incorporação do conhecimento científico e a aplicação do critério da uni versalidade dos ensinos dos espíritos para a legitimação do que poderia ser conside rado um novo saber doutrinário, pontuou alguns desafios importantes, a serem en frentados, valorizando a iniciativa de even tos que cuidam com seriedade da pesquisa espírita, como têm sido os Enlihpes.
Para ele, a coerência doutrinária espírita implica a coerência e nexo com os postula dos kardequianos, que devem sempre ser a base de tudo.
O elo entre a ciência e a fé
O filósofo Humberto Schubert, ao tér mino do evento, comentou na roda de con versa o pensamento de Aristóteles sobre felicidade. “Todas as pessoas, sem exceção, querem ser felizes, terem a sensação de que a vida é plena”.
“Pode-se não ter o entendimento sobre essa busca, sobre o que seja a felicidade, mas temos isso como meta comum, indi cando que coerência faz parte da lógica, do ser racional. “É por isso que inúmeros pensadores vêm preparando o terreno dos nossos espíritos para uma vivência coeren te também da nossa fé, da nossa religiosi dade”, observou, assinalando ter sido essa, também, a busca tão sonhada por Kardec. “Elaborar uma filosofia que pudesse harmo nizar a forma rigorosa da ciência de abordar a realidade e a construção de uma fé vi brante, que eleva e transforma as vidas das pessoas”, concluiu.
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Allê De Paula e
Alexandre Fonseca
Luciana Farias
Quadro raro de Allan Kardec é doado a Centro de Cultura
Por IZABEL VITUSSO
Após ter sido fundada no final do sé culo 19 por um dos pioneiros do es piritismo na França – Pierre Gaëtan Leymarie – e sobrevivido às duas grandes guerras, a centenária livraria Leymarie encer rou definitivamente suas portas em dezembro de 2021.
Ela funcionou por mais de 120 anos em uma das ruas mais antigas da cidade de Paris, na margem esquerda do rio Sena, à rue Saint -Jacques. Ao longo das décadas, passou por diferentes proprietários e teve suas atividades paralisadas em alguns períodos, até chegar à sua última gestão com a família Chigot. Felizmente, antes da entrega do ponto comercial, a pintura a óleo do professor De nisard Hippolyte Léon Rivail, que adornou uma das paredes da livraria por mais de um século, foi adquirida pelo museu AKOL – AllanKar dec.online, de São Paulo.
Este importante quadro é parte da história e da
memória do espiritismo, trazendo a imagem do pro fessor Kardec em seu ambiente de trabalho. A cena foi imortalizada pelo pintor St. Georges, cuja completa
identidade precisa de maiores pesquisas por parte dos experts no assunto.
No último dia 7 de agosto, em evento de co memoração ao 18º ano de existência do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espi ritismo – Eduardo Carvalho Monteiro, a obra foi entregue à presidente da casa, Julia Nezu, que recebeu a placa comemorativa das mãos do curador do museu AKOL, Adair Ribeiro Jr., for malizando a doação da pintura ao acervo.
A pintura, que mede cerca de 1,70 X 1,20 cm, deverá passar por processo de análise por peritos para identificar a possível data de cria ção, a identificação completa do artista, o re conhecimento das técnicas de pintura utiliza das e também ajudar a definir a melhor forma de preservação.
Todo cuidado será pouco, diante desta rara peça de arte que enriquece a memória do espiritismo, trazendo cenas que protagonizaram o trabalho de Allan Kardec em sua grande tarefa da codificação.
10 CORREIO FRATERNO SETEMBRO - OUTUBRO 2022 www.correio.news FOI ASSIM
Espíritas no censo de 2022
Por MARCO MILANI
Allan Kardec, com a legítima inten ção de conhecer como estava a di fusão das ideias espíritas no mundo no final de 1868, fez uma estimativa su perficial sobre a quantidade e o perfil das pessoas que aceitavam os princípios doutri nários. Por não possuir dados censitários, o levantamento foi baseado em cerca de 10 mil observações obtidas da lista de assinan tes da Revista Espírita (RE) e das correspon dências recebidas de vários países.
Estimativa de adesão Publicado na edição de janeiro de 1869 da RE, o artigo “Estatística do espiritismo” apontou que a França reunia a maior quan tidade de adeptos, com cerca de 600 mil pessoas, representando 1,6% da população francesa1, taxa bastante expressiva, conside rando-se que o surgimento do espiritismo havia ocorrido há pouco mais de uma dé cada. Eram os espíritas confessos e os que aceitavam os princípios do espiritismo ain da que parcialmente.
O restante da Europa reunia mais 400 mil adeptos, com maior participação na Itá lia, Espanha, Rússia, Alemanha, Bélgica, In glaterra, Suécia, Dinamarca, Grécia e Suíça. Em todo o planeta, considerando os simpa tizantes, Kardec estimou haver de 6 a 7 mi lhões de adeptos: 70% homens entre 20 e 30 anos; 60% tinham um perfil socioeconômi co considerado médio e 50% possuíam um nível educacional classificado por Kardec como ‘instrução cuidada’ e instrução supe rior. Tenentes, médicos homeopatas e enge nheiros eram as profissões mais frequentes. Uma característica importante que se deve destacar nessa estimativa é a própria
classificação geral de adepto, uma vez que o termo foi aplicado a qualquer simpatizante que conhecesse os fundamentos do espiri tismo, ainda que professasse diferentes vín culos religiosos: 50% eram de católicos ro manos não ligados aos respectivos dogmas (livres-pensadores), 10% de católicos roma nos ligados aos dogmas. Os demais eram de católicos gregos (15%), judeus (10%), protestantes liberais (10%), protestantes or todoxos (3%) e muçulmanos (2%).
Nota-se que na Europa houve uma maior disseminação das ideias espíritas entre os li vres-pensadores de países com forte presença católica (França, Itália e Espanha), apesar de também registrarem-se participações nos pa íses anglo-saxônicos e germânicos.
O sentido filosófico
Kardec nunca apresentou o espiritismo como uma religião nos mesmos moldes das instituições tradicionais, mas declarou que se tratava de uma religião em sentido filosó fico. A Igreja Católica, porém, sempre viu o espiritismo muito mais ameaçador que um concorrente por fiéis, uma poderosa filosofia que confrontava seus princípios com razão e fatos. No diálogo com o padre, apresentado na obra O que é o espiritismo, Kardec rechaça qualquer comparação com
as religiões tradicionais e destaca a liberda de de pensamento e a fé raciocinada como pilares doutrinários capazes de superar po sições engessadas que sustentavam o dog matismo ilógico. Isso justificaria, inclusive, o motivo pelo qual os católicos não presos aos dogmas seriam em maior número no le vantamento efetuado, caracterizando uma condição de transição mais simples para esse despertar racional.
Espiritismo religião
No Brasil, o antagonismo católico sempre marcou a expansão do espiritismo e, desde os primeiros grupos espíritas, formados no final do século 19, o debate religioso fez parte da disseminação das ideias doutrinárias.
Diversos trabalhos de pesquisa histórica procuraram remontar a dinâmica do espi ritismo no contexto brasileiro, procurando elencar variáveis que pudessem caracterizar o perfil do atual movimento espírita.
Há alguns aspectos antropológicos e so ciológicos que auxiliam na compreensão de como o espiritismo passou a ser visto como uma religião constituída pelo público em geral, inclusive para a sua própria legitima ção em um ambiente juridicamente hostil. Hoje, para parcela significativa dos adeptos, o espiritismo é classificado como religião.
Identificação no censo demográfico
Em 1990, pela primeira vez, o espiri tismo apareceu como um grupo religioso no recenseamento oficial, quando foram agrupadas diferentes denominações reli giosas que abraçavam práticas mediúnicas. Devido às solicitações de seus representan tes para um maior detalhamento, no censo de 1980 foram especificados alguns grupos, como o espírita ‘kardecista’. Já nos censos de 2000 e 2010, o grupo espírita foi tratado sem adjetivações, diferenciando-se de deno minações de matriz afrobrasileiras, como umbanda e candomblé.
Para o censo de 2022, a coleta de dados está sendo realizada servindo-se de dois ti pos de questionário, um completo, com 77 perguntas, e um básico, com 26 questões e o item “religião” consta somente do ques tionário completo, que será respondido, segundo o IBGE, por somente 10% dos domicílios visitados.
Independentemente de se considerar o espiritismo religião ou não, ao se auto declarar ‘espírita’ no item “religião”neste recenseamento, está-se colaborando di retamente para que haja um dimensio namento mais realista do espiritismo no Brasil, possibilitando maior assertividade nas análises demográficas.
1Histoire démographique de la France. https://fr.wikipedia.org/wiki/ Histoire_d%C3%A9mographique_de_la_France
2https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/ populacao/22827-censo-2020-censo4.html
Diretor do departamento de doutrina da USE- SP.
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ARTIGO
& LAZER
AGENDA
Projeto Centro Espírita
A USE intermunicipal de São Bernardo do Campo está realizando todo sábado, às 7:00 horas, um encontro com objetivo de fortale cimento dos trabalhadores e também das casas espíritas. O projeto Centro Espírita acontece pelo formato online, através de reuniões dinâmicas e interativas, que levam os participantes a repensarem a forma de realização das suas atividades nas casas espíritas, abrindo o debate para os desafios e soluções na experiência de uma casa espí rita. Além do tema central “O centro espírita – desafios e soluções”, outros subtemas vêm sendo trabalhados como: “O espírita e o cris tianismo redivivo”e “Sexualidade e relacionamentos afetivos à luz da doutrina”. Acesso no endereço: https://rebrand.ly/ProjetoCE_2022. Informações: https://www.facebook.com/useisbc/
Congresso Espírita Mundial online e gratuito O Conselho Espírita Internacional, em parceria com a União Espírita Francesa, realizará nos dias 14 a 16 de outubro o 10º Congresso Espírita Mundial, em for mato online, que poderá ser acompanhado nos canais do youtube dos organizadores. Com o tema “A transformação interior”, o even to contará com tradução simultânea (português, espanhol, inglês e francês) de parte da programação. Saiba mais: https////www.10cem. com/
Espíritos que assinaram mensagens da codificação
ENIGMA
OUT 14 DEZ 3 JAN
Congresso do Espiritismo.net 2022
Nos dias 3 e 4 de dezembro, será realizado o 3º Con gresso do Espiritismo.net, tendo como tema: #filo sofia_espírita: ética e saberes para um novo ser. O evento acontece no Encore Ribalta Hotel, av. das Américas, 9.650, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, e terá também transmissão onli ne. Além das palestras, ocorrerão rodas de conversa, congresso jovem e congressinho para as crianças. Presenças de: Alberto Almeida, Ana Tereza Camasmie, André Peixinho, André Trigueiro, Artur Valada res, Humberto Schubert, Jorge Elarrat, dentre outros. Informações: www.espiritismo.net/congresso
Congresso Espírita de Uberlândia - Web Rádio Fraternidade
20
Roupas, calçados, brinquedos, eletroeletrônicos, utensílios domésticos, móveis em bom estado, mantimentos, etc
Região do ABC Retirada de doações para o Bazar Permanente ligue: (11)
Benjamin Franklin Erasto
Emmanuel
Joana d’Arc João Evangelista Paulo de Tarso São Bento Timóteo Vicente de Paulo Sócrates Platão São Luís Santo Agostinho Lacordaire Lázaro Hahnemann Pascal Galileu
Fonte: Os expoentes da codificação espírita, 2002, FEP.
E T U O P K P M H A H N V R E T U O P L L B V C Z A W E R D S O C R A T E S O S O T E S R Ã C P T M B T E T E O N H O I T G Ã S A N T L L A C S A P C V O P L E A Q U A L H N A H N C T I C O L M N H A Z S O P A G O S T I N H O I L G A K L R O M N F R A Z L E Z E O D O I N H P O E R V S Z N A H M E H A S E R A U O P I A F R A N K L I N A T U R M N A O A M H A G L I T E I L S O T E A S E F M V U O J T A S E R T L P O M B C A O E Z C R O I A T A T R E K A M N O I S E E R T V C A S N A R O T A O G A L I L E U A L O A L I O A V O M I V E T U O P H Ã M I L P H B E R O I U A N B C E N T E E V C P S H I P E L P N N C N L S A N E U N O A V C A G T L O E O I T R U S T O M N O E M N H E L L E U N A M M E A O L I Z O T O P L O A E N C I V E O R A Z A L Ã R N O C A L S P E R U P O I
Resposta do Enigma: SOLUÇÃO DO PASSATEMPO
Como num livro, uma alma pode ler noutra alma os mais secretos pensamentos que se repercutem no envoltório fluídico.
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Deslocar pelo espaço
Roteiro e Ilustração: Hamilton Dertonio
Fotografia do pensamento A gênese, cap. 14, item 15. CULTURA
Elaborado por Izabel Vitusso e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno
CAÇA-PALAVRAS DO CORREIO
Que nome se dá às imagens fluídicas refletidas no perispírito e que podem ser vistas pelos espíritos?
94454-7048
SUA DOAÇÃO FAZ A DIFERENÇA
Acontecerá, de 20 a 22 de janeiro, em Uberlândia, MG, o 6º Congresso Espírita – Web Rádio Fraterni dade, com o tema “O consolador prometido por Jesus”. Ana Tereza Camasmie, Irvênia Prada, Jorge Elarrat, José Carlos De Lucca, Ha roldo Dutra, Rossandro Klinjey, Simão Pedro, Victor Hugo, serão alguns dos palestrantes presentes. Local: Palácio de Cristal, av. Li dormira Borges do Nascimento, 2005, Shopping Park, Uberlândia. Inscrições: www.congressoespirita.com.br
Inúmeros espíritos enviaram mensagens que ajudaram Allan Kardec a compor as obras da codificação. Abaixo, seguem os nomes de alguns deles para serem encontrados no diagrama.
Região do ABC inicia projeto Mocidade Itinerante
Por IZABEL VITUSSO
Aconteceu no dia 28 de agosto, em São Caetano do Sul, SP, o primei ro encontro do projeto Mocidade Itinerante, ideia que surgiu do esforço e da união de equipes das USES da Região do Grande ABC para intensificar a integração do jovem na casa espírita. O projeto que mobilizou um grupo de coordenadores e vem sendo preparado há algum tempo deu o seu primeiro passo no Centro Espírita Luz e Verdade Cândida Rosa do Nasci mento, uma das inúmeras instituições sem mocidade espírita que vêm se mobilizando para mudar esse panorama.
Dirigentes de centros, coordenadores de mocidades, jovens espíritas participantes ou não do movimento, estiveram presentes num ambiente fraterno, favorecido pela receptividade e também pelos recursos em pregados, que trouxeram músicas, drama tização e atividade em grupo, que deram mostras de que é preciso inovar não apenas na forma, mas na maneira de se levar e se estudar a doutrina espírita, numa direção mais acertada para os novos tempos.
Faixa etária dos evangelizadores
Uma pesquisa realizada em 2018 pelo departamento de Infância da USE SP, com 468 entrevistados de 41 cidades do esta do de São Paulo, revelou que apenas 6% dos evangelizadores possuem menos de 25 anos e que 55% dos evangelizadores estão entre 36 a 55 anos. Considerando que são jovens da mocidade que em grande parte trabalham com a evangelização infantil, a falta de seu ingresso na casa espírita sugere um comprometimento das atividades no futuro das casas espíritas, explicou Walteno Silva, um dos membros da USE Regional do Grande ABC, que também vem dando apoio ao projeto.
Suporte rotativo nos centros
Segundo Lucas Lamberti Cirello, um dos coordenadores do projeto da Mocida de Itinerante, a ideia é que o jovem, parente do dirigente, do frequentador, ou mesmo da casa, seja convidado a participar dos en
contros que irão sensibilizá-lo, orientá-lo e qualificá-lo para instituir a mocidade na casa espírita, sendo ele um dos facilitadores e bons condutores dos grupos. Com foco na participação de jovens entre 14 a 25 anos, as reuniões acontecem aos sábados, das 18:00h às 20 horas, de maneira itinerante, ou seja, percorrendo os centros espíritas já inscritos.
“Além da criação de novas mocida des, o foco também é ajudar a fortalecer as mocidades já existentes, muitas delas desestabilizadas pelo isolamento social”, explica Lucas, salientando que os contatos com os centros estão sendo realizados en volvendo desde o começo a direção da casa e estabelecendo-se o entendimento de que os jovens precisam estar integrados às suas atividades, obtendo o apoio e participando dos esforços conjuntos.
A ideia é ajudar na implantação, deixar os estudos mais dinâmicos, unir as qualida des dos jovens e a experiência dos adultos, despertando o interesse das novas gerações para o estudo da doutrina com a profundi dade que e o espiritismo merece, preparan do assim os sucessores da casa espírita.
“É preciso ter um processo de reno vação de forma inteligente e harmoniosa. Não podemos continuar nesse isolamento que existe hoje em grande parte das casas
espíritas, que se encontram em dois extremos: de um lado o centro que é conserva dor demais, onde o jovem não tem abertura para se envolver em qualquer ati vidade, e do outro: a casa que entrega a responsabilidade do centro ao jovem sem oferecer um acompanhamento, troca de experiência, apoio”, esclarece Walteno.
“Trata-se de um projeto de médio e longo prazo, por envolver a formação espi ritual dos jovens e, com certeza, os espíritos que têm compromisso com a tarefa já estão chegando”– avalia Adelva Sei xas, presidente da USE Inter municipal de São Bernardo e participante do projeto.
O projeto Mocidade Itine rante é uma realização da USE Regional do Grande ABC e conta com a coordenação de Lucas Lamberti e Stella Coe lho, Cristina Duran e Walte no Silva, além da participação ativa da atual presidente da USE Regional do Grande ABC, Mônica Etes.
13 CORREIO FRATERNO SETEMBRO - OUTUBRO 2022 www.correio.news ATUALIDADES
No C.E. Luz e Verdade Cândida Rosa do Nascimento, em São Caetano, a união de esforços para a implantação de novas mocidades no ABC
A tempestade, o marinheiro e Jesus
Por UMBERTO FABBRI
Avida não é só feita de momentos abundantes, de marés calmas, em que somos felizes e alegres e que gozamos de boa saúde. Ela também se constitui de momentos difíceis, ater rorizantes, incertos, da culpa, da falta, da revolta. São as marés altas, tempestu osas, em que pensamos não ser possível sobreviver, momentos em que nossas angústias, medos e revoltas parecem tentar nos afundar, nos afogar em nosso pessimismo, egoísmo, baixa autoestima, momentos em que sentimos a morte eminente de nossas forças.
No mar da vida somos todos ma rinheiros. Alguns mais experientes, outros ainda aprendizes na arte de ‘na vegar’, mas somente navegando é que aprendemos a enfrentar as grandes on das, as tempestades.
Os mais preparados, apesar do medo e do desconforto, enfrentam e lutam para ter foco, resistindo às gran des marés e temporais. Já os menos avisados pedem a Deus que os retirem das chuvas, esquecendo-se que estão ali para ganharem habilidades de ma rinheiros experientes.
Jesus, quando anda sobre as águas no episódio da tempestade, indo ao so corro dos apóstolos, não acalma o mar, mas caminha sobre ele, demonstrando
nossa capacidade de nos colocarmos interiormente acima dos temporais.
Quando encoraja Pedro a ir ao seu encontro, ensina que ele também pos
suía condições para isso, mas, ao ter medo dos ventos, afunda.
Vejamos que esta passagem nos en sina muito sobre o auxílio permanen te do Alto e de que as potencialidades estão em nós, necessitando ser exerci tadas para que se transformem em ha bilidades.
Dizem que marés calmas não pro duzem bons marinheiros, pois não en sinam como enfrentar as dificuldades. Jesus não acalma o mau tempo, mas o encara, nos orientando a enfrentar as tempestades de fora com a paz de den tro, e este é um grande desafio de con fiança, de inteligência emocional.
Não procuremos as tempestades, não criemos as tempestades, mas se elas vierem ao nosso encontro, nos esforce mos para encará-las com fé, empenho e esperança.
Profissional de marketing, Umberto é orador e es critor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor de diversos livros espíritas, dentre eles: O traficante (pelo espírito Jair dos Santos) O po lítico (Adalberto Gória) e Bastidores de uma casa espírita (Luiz Carlos), ed. Correio Fraterno.
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DIRETO AO PONTO
Jesus não acalma o mau tempo, mas o encara, nos orientando a enfrentar as tempestades de fora com a paz de dentro
Sobre o espírito de sistema
Por MARCELO HENRIQUE
Aexpressão “espírito de sistema” sem pre surge em discussões de grupos de estudos espíritas, especialmente em fóruns livres de debates, em ambientes presenciais ou virtuais.
O conceito estrutural da expressão é a atitude de reduzir tudo a sistema, um con junto de preceitos organizados, para atuar com juízo preconcebido. Também pode ser enquadrado como a atitude de (cega) obediência à ideia de um filósofo, de um religioso, de um determinado pensador, na intenção de tudo condicionar, em termos interpretativos, a uma situação preestabe lecida, estanque, deixando quase nula mar gem para a liberdade, o livre-arbítrio.
O espírito de sistema, portanto, levado a cabo pelos adeptos do espiritismo, resul taria em dogmatismo e pretensa superiori dade sobre outras crenças ou filosofias, não permitindo que cada um construa em tor no de si ambientes mais arejados e dispos tos à progressividade das ideias, tal como asseverou o professor Rivail.
De início, havia muito de “espírito de sistema”, sobretudo cristão, católico -protestante, no homem Rivail, em face de suas convicções, formação e personalidade, naquela e em encarnações anteriores. Mas, mesmo assim, já como Kardec, ele foi se li bertando de tais amarras. Por exemplo, em janeiro de 1866, na Revue Spirite, referin do-se à questão da prece, afirmou:
“Se o espiritismo proclama a sua uti lidade, não é por espírito de sistema, mas porque a observação permitiu constatar a sua eficácia e seu modo de ação. Desde que, pelas leis dos fluidos, compreendemos o poder do pensamento, também compre endemos o da prece, que é, também ela, um pensamento dirigido para um fim de terminado”.
Essa não foi a primeira vez em que Kardec validou a tese não sistêmica do espiritismo. Em O livro dos espíritos, nos
“Prolegômenos”, ele cita que a obra seria “o repositório de seus ensinos”. Foi escrito por ordem e mediante ditado de espíritos superiores, para estabelecer os fundamen tos de uma filosofia racional, isenta dos
preconceitos do espírito de sistema. Nada contém que não seja a expressão do pensa mento deles e que não tenha sido por eles examinado”.
Depois, em O livro dos médiuns, ex
plicou no capítulo 14: “A experiência de monstra que os sábios, tanto quanto os demais homens, sobretudo os desencarna dos de pouco tempo, ainda se acham sob o império dos preconceitos da vida corpórea; eles não se despojam imediatamente do espírito de sistema. Pode, pois, acontecer que, sob a influência das ideias que espo saram em vida e das quais fizeram para si um título de glória, vejam com menos cla reza do que supomos. Não apresentamos este princípio como regra; longe disso. Di zemos apenas que o fato se dá e que, por conseguinte, a ciência humana que eles possuem não constitui sempre uma prova da sua infalibilidade, como espíritos”.
Kardec, assim, reafirma o absoluto dis tanciamento da doutrina dos espíritos com qualquer espírito de sistema e adverte para a questão da interpretação lógico-racional acerca das afirmações contidas nos diálogos com as Inteligências Invisíveis.
Importa, pois, para a doutrina dos espíritos os princípios, decorrentes do processo dedutivo de investigação de Kardec, que se mantém inalterados e permanentes, sem reparos, até hoje. Mas não se pode esquecer que o espiritismo, filosofia dinâmica, aberta e progressiva, jamais esteve encerrada em um molde sistemático e nem nas tendências exclu sivas de dadas correntes de pensamento ou expoentes de determinada ideia ou doutrina. Kardec jamais escreveu sob a influência de ideias preconcebidas ou qualquer espírito de sistema, preferindo afastar hipóteses a acatar qualquer delas, e só adotava uma hipótese quando ela era capaz de resolver todas as dificuldades da questão, para, só assim, formular a lei que regia o fenômeno.
Marcelo Henrique é escritor e articulista, coordenador do ECK – Espiritismo com Kardec: www.comkardec. net.br
15 CORREIO FRATERNO SETEMBRO - OUTUBRO 2022 www.correio.news
QUEM PERGUNTA QUER SABER
que significa a expressão “espírito de sistema” a que Kardec se refere em suas obras? Alexandre, por e-mail
O
MÍDIA DO BEM
Este espaço também é seu. Envie para nós as boas notícias que saíram na mídia! Se o mal é a ausência do bem, é hora de focar diferente!
A enfermeira Kim Still, do
Hospital Gwinnett, na Georgia, Estados Unidos, acatou o pedido de uma paciente idosa em estado terminal, para que cuidasse de seu bichinho de estimação. “A idosa não tinha filhos, não tinha família por perto. Tudo o que ela realmente tinha era esse cachorro [..] Eles mudaram a minha vida. Eu prometi a ela que cuidaria do Jax, para que ela partisse em paz”, disse Kim, que foi premiada com o Daisy Award, pela compaixão que mostrou não só pela paciente, mas também pelo animal.
Fonte: Sonoticiaboa
Trabalhando como voluntária com gestantes a psicóloga Cláudia Vidigal, de São Paulo, sugeriu para que as futuras mamães fizessem um álbum para o bebê, registrando duran te a gestação, fatos e sentimentos, para quando seus filhos nascessem.
Em 2002, ela teve então a ideia de fazer um trabalho parecido com outras crianças, nascendo, assim, o projeto Fazendo Minha História, em que voluntários leem livros junto com os menores, criando conexão, e os incentivam a produzir um álbum de registros sobre suas vivências, como forma de autoconhecimento.
Fonte: Revista Sorria
Um estudo publicado recentemente nas publicações revista JAMA e JAMA Neurology (Journal of the American Medical Association) mostrou que caminhar em ritmo acelerado, por cerca de 30 minutos por dia, reduz o risco de doenças cardía cas, câncer, demência e morte.
O estudo foi realizado com 78 mil participantes, com mé dia de 61 anos. Os pesquisadores descobriram que os partici pantes com caminhar mais acelerado (entre 80 e 100 passos por minuto) tiveram melhores resultados em comparação aos quantidades de passos iguais, mas em um ritmo mais lento. Caminhantes rápidos tiveram um risco 35% menor de mor rer, uma chance 25% menor de desenvolver doenças cardíacas ou câncer e um risco 30% menor de desenvolver demência.
16 CORREIO FRATERNO SETEMBRO - OUTUBRO 2022 www.correio.news
Enfermeira adota cão de paciente em estado terminal
Acelerar o passo pode reduzir riscos de infarto, câncer e demência
Projeto incentiva crianças em abrigos a contar suas histórias para transformar a própria vida
Fonte: Veja
Northside
FOTO: ABC NEWS
FOTO: ILANA BAR