Correio Fraterno 504

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ENTREVISTA

ISSN 2176-2104

Respostas simples sobre os porquês da vida

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Descomplicar o que nem sempre é tão simples de falar é tarefa que Bruno Bernardelli vem desempenhando com grande sucesso, num bate-papo pelas redes sociais, abordando os mais diversos assuntos e sob a perspectiva do espírito. Leia em Entrevista, páginas 4 e 5.

A guerra que sensibiliza e impulsiona a humanidade

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guerra não passa despercebida, nem nos campos de batalha, nem nos locais mais distantes do planeta. Muito menos nas esferas espirituais. Este assunto despertou o interesse do escritor e filósofo Léon Denis no período em que a França vivia os horrores da Primeira Guerra Mundial. Através de uma médium, ele acompanhou por inúmeras comunicações como reagiam e o que pensavam os espíritos sobre os acontecimentos. Diferente não foi com Allan Kardec, que para compreender como atuava o mundo espiritual, fez perguntas importantes aos espíritos que se propuseram a auxiliá-lo para trazer o espiritismo ao conhecimento da humanidade terrena. Queria saber o que levava o homem à guerra, o que pensar dos que suscitavam a guerra em proveito próprio e muito mais. Leia no Especial, páginas 8 e 9.

Quem foi Frederico Figner, o conhecido Irmão Jacob? Quem foi e o que levou o espírito Frederico Figner a ditar a sua única obra espiritual, que acabou por se tornar um clássico da literatura espírita? Leia em Baú de Memórias, pág. 7.

Spam espírita Quando o exagero de uns pode comprometer a qualidade do todo. Leia na página 11.

Para vingar-se, Thilbor se torna um poderoso mago. Mas conhece um irresistível sentimento.

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EDITORIAL

A visão espiritual que consola e acalma

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sta edição do Correio Fraterno chega com um pedido especial a você, leitor. Vamos manter nossos esforços para uma vibração coletiva de amor e paz pelo planeta Terra. Vivemos dias em que a insegurança e a falta de fé podem por vezes insistir em nos desanimar. Hora de estudar e colocar em prática o conhecimento. Nada é tão consolador como a compreensão espiritual dos fatos. Não poderíamos deixar de contextualizar à luz do espiritismo a questão da guerra, das respostas dos espíritos dadas a Kardec sobre os seus diversos aspectos. Também Léon Denis dedicou uma obra sobre o tema. Nas páginas centrais está o Especial, um recorte sobre a guerra que

sensibiliza e impulsiona a humanidade. Com a visão espiritual dos fatos, fica mais fácil compreender as situações presentes e é isso que Bruno Bernardelli está fazendo através de vídeos no Descomplica!, programa da plataforma CultKardec. Ele é o entrevistado da vez. No Baú de memórias, tem Frederico Figner, o conhecido Irmão Jacob. Marco Milani escreveu para nós um artigo oportuno sobre a atenção que devemos ter com o exagero da divulgação espírita nas redes sociais. Não poderíamos também deixar de homenagear o amigo Francisco Galves, que retornou ao plano espiritual, deixando um legado de boas obras e muitos exemplos fraternos no movimento espírita.

FALE COM O CORREIO Como a obra de Chico Xavier baseou pesquisa premiada sobre vida após a morte Fico feliz de ver a ciência começando a se interessar pela vida plena do espírito imortal, que por hora faz morada nesta pequena esfera do universo chamada de planeta Terra. Quando a ciência se unir em comprovar por estudos científicos sérios a sobrevivência do espírito e a continuação das individualidades, iremos com certeza dar

um grande passo e avançar para o despertar além da terceira dimensão. Maria Margarida Saraiva Ferrão [Edição 503, jan. fev., 2022] *Parabéns aos pesquisadores pela conquista do prêmio e pelas respostas sinceras, realistas e desprovidas dos ufanismos que geralmente se veem em palestras espíritas ‘afirmando’ que a ciência reconhece em suas pesquisas a imortalidade do espírito. Destaco e concordo com as palavras do Raphael: “em geral as mudanças marcantes

Uma ética para a imprensa Em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas consequências. • Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros.

E tem ainda em Leitura o que disse e o que pensava Herculano Pires, um Foi assim sobre as revelações através dos sonhos, um Quem pergunta sobre a cura pelo passe e um Direto ao ponto sobre o cuidado no orar e vigiar. Aproveite a leitura, sintonia com o Bem! Equipe Correio Fraterno

nas ciências levam anos para serem debatidas e compreendidas”, portanto, tudo vem a seu tempo. Sergio Egídio Almeida [Edição 503, jan. fev., 2022] “Por trás do ‘cancelamento’ nas redes sociais”. Salve, David! Acabei de ler sua matéria “Por trás do ‘cancelamento’ nas redes sociais”. Gostei muito da sua abordagem. Acabei de comprar sua obra Saúde e vida: uma abordagem espiritual sobre emoções e doenças. Vou me tornar terapeuta daqui uns anos e estou em lenta formação. Avante! Abel Sidney

Envie seus comentários para redacao@correiofraterno.com.br. Os textos poderão ser publicados também no nosso site correio.news

ISSN 2176-2104 Editora Espírita Correio Fraterno CNPJ 48.128.664/0001-67 Inscr. Estadual: 635.088.381.118 Presidente: Tania Teles da Mota Vice-presidente: João Sgrignoli Júnior Secretário: Ana Maria Coimbra Tesoureiro: Adão Ribeiro da Cruz Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 2955 Vila Alves Dias - CEP 09851-000 São Bernardo do Campo – SP

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• Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • Os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos. • Não responderemos aos ataques dirigidos contra o Espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos. • Confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. Nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. Esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

Envio de artigos Encaminhar por e-mail: redacao@correiofraterno.com.br Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfica e pequena apresentação do autor.


ACONTECE

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Francisco Galves retorna ao plano espiritual Por IZABEL VITUSSO

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o dia 16 de fevereiro, Francisco Galves encerrou a sua jornada entre nós, retornando ao plano espiritual aos 96 anos de idade, deixando uma história de vida e de serviços prestados à divulgação do espiritismo dignos de conhecimento e gratidão. Casado com Nena Galves, ambos se tornaram grandes referências no meio espírita em São Paulo, através das inúmeras frentes de trabalho, como o Centro Espírita União, a Editora e Livraria CEU, programas de rádio e de televisão. A história de vida do casal é marcada também pela estreita ligação com o médium Chico Xavier, o que os possibilitou acompanhar de perto momentos marcantes do movimento espírita brasileiro, dentre eles o conhecido programa de TV Pinga-Fogo, de que Chico participou em 1971. Era no Centro Espírita União, no bairro Jabaquara, em São Paulo, que Chico Xavier recebia o grande público da região em marcantes noites de autógrafos. Uma parte significativa das obras psicografadas pelo médium era publicada pela Editora CEU, sob a coordenação de Francisco Galves. Também era junto ao casal que Chico encontrava todo o apoio para tratamentos e cirurgias ao longo de sua vida, fazendo-se deles inclusive hóspede. Todo o convívio e a afeição dos Galves pelo médium Nena registrou nas obras Até sempre, Chico Xavier (2009) e Chico Xavier, luz em nossas vidas (2012), com dados curiosos, como o fato de ter sido no apartamento do casal, em Santos, que Chico psicografou o livro E a vida continua..., da coleção do espírito André Luiz, FEB. Mas não menos intensos eram os sentimentos que Nena e Francisco Galves nutriam entre si, numa cumplicidade de mais de 80 anos de convívio. “Conheci o Galves no meu aniversário de 15 anos”, diz Nena. Nos último tempos, nem mesmo as dificuldades naturais da locomoção pela idade inibiam Galves de estar todos os dias na Livraria Espírita União, no centro da cidade, e também em algumas noites da semana nas atividades do Centro Espírita União, onde sempre atento e com admiração acompanhava as eventuais palestras de sua esposa. “Seu Galves foi um digno mensageiro do Mais Alto por meio do livro espírita. Ser humano extraordinário, idealista, com grandioso caráter ele propagou a mensagem cristã de maneira ilustre”, reconhece Ricardo Penfildi, da Candeia Distribuidora de Livros, com mais de 40 anos de convívio pela tarefa de divulgação do livro espírita. Desde 1959, quando foram a Uberaba e conheceram Chico, o casal já fora informado de que a tarefa espiritual que teriam pela frente seria dos dois. Posteriormente, Chico expressou muito bem qual foi o papel do amor nesse compromisso, ao homenageá-los por ocasião da comemo-

ração de suas bodas de ouro, em São Paulo. Ao fazer a prece, comentou o médium mineiro: “Dizem que felicidade não existe, mas Nena e

Galves a encontraram por meio da família e souberam reparti-la com todos os amigos e irmãos!” “Chico escolheu dona Nena e seu Francisco Galves como amigos do coração e a eles confiou verdadeiras pérolas literárias. A luz deve ser confiada a quem é capaz de mantê-la a brilhar. Missão cumprida com louvor, mestre Galves! Siga a iluminar!”, homenageia Penfildi, em nome de todos os que, por aqui, dão prosseguimento ao trabalho da divulgação do espiritismo.


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ENTREVISTA

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Descomplica!

Fala direta e descontraída sobre espiritismo Por ELIANA HADDAD De onde vem o seu contato com o espiritismo? Bruno Bernardelli: Eu não conheci a vida sem o espiritismo. Quando nasci, meus pais estavam dando os primeiros passos na doutrina; eram jovens, empolgados. Para eles era um universo completamente novo e que fazia sentido. Minhas lembranças da infância são, em boa parte, dentro da casa espírita. Minha irmã e eu éramos os mascotes da mocidade que meus pais participavam. Anos depois, minha irmã se tornou dirigente da mesma mocidade e posteriormente eu também participei. Nunca precisei me ‘esforçar’ para estudar espiritismo. A maioria das informações veio ao meu encontro através das conversas dentro de casa, na mocidade, no Evangelho no lar... Quando me tornei mais independente, durante a faculdade, acabei me afastando das atividades na casa espírita, mas nunca me senti afastado da doutrina; os princípios sempre estiveram presentes nas minhas autocríticas, análises e decisões. Por anos, achei que isso era suficiente. Em 2019, com 30 anos, mais maduro e consciente do conhecimento que acumulei, me dei conta de que precisava estar mais próximo da doutrina novamente. Até entender a falta que estava fazendo e tomar alguma atitude demorou um pouco. Foi nesse momento que começou a pandemia. Com as casas espíritas fechadas, meu plano foi frustrado. Foi aí que recebi o convite do Correio Fraterno para participar do CultKardec, fazendo duas coisas que tenho intimidade: vídeos (que fazem parte do meu dia a dia profissional) e bater papo sobre espiritismo. O que é o CultKardec? É um projeto que visa produzir conteúdo sobre cultura espírita por meio de vídeos relacionados ao espiritismo, que são am-

plamente distribuídos nas redes sociais. Neste momento, estou à frente do programa chamado Descomplica!. Como são escolhidos os temas? Depende muito. Tem dias que o tema vem pronto por algo que vi. Outras vezes, preciso ler algo (como o Correio Fraterno) para me dar alguma luz. Mas o que eu gosto mesmo é quando algum amigo me pergunta algo sobre espiritismo, ligado muitas vezes ao cotidiano. Eu explico para ele, mas na minha cabeça já estou montando o roteiro do vídeo.

À

frente do CultKardec, mais um projeto de divulgação do espiritismo com a curadoria da editora Correio Fraterno, Bruno Bernardelli protagoniza os vídeos do Descomplica!, o programa que inaugurou com grande sucesso o canal e que pode ser acessado pelo Instagram, Youtube e Facebook. Com temas relevantes, que incluem informação, curiosidades e conversas rápidas sobre temas à luz do espiritismo, o CultKardec já reúne mais de 20 vídeos, sempre em linguagem simples sobre conteúdos diversos, criteriosamente selecionados e tendo como grande referência as nas obras de Allan Kardec. Semanalmente, sempre às quartas-feiras, Bruno tem a instigante tarefa de falar simples e com muita empatia sobre um assunto desafiador acerca do porquê da vida, porém sob a perspectiva que faz toda a diferença: a nossa realidade espiritual. Acompanhe a entrevista.

Qual o desafio de se falar fácil assuntos que normalmente exigem um estudo mais apurado para sua compreensão? Eu diria que não é só desafio, é também o maior objetivo do Descomplica!. O desafio é grande, até porque são assuntos que exigem muita responsabilidade para se falar. O que procuro fazer é evitar ao máximo o tom professoral e conduzir o texto para um lado de bate-papo, de igual para igual com a audiência. O que eu sempre digo nos vídeos é: “Aqui não tem certo nem errado, quando eu falo para vocês, eu estou falando para mim também. “Tem muita coisa que é difícil colocar em prática no dia a dia, mas ao pensar nos episódios, eu também estou estudando, aprendendo e saindo da minha zona de conforto. Em todos os vídeos existe sempre o cuidado para não sair algo que possa soar errado para quem vê. Mas faz parte. Isso me ajuda a buscar o meu melhor e manter os pés no chão. Como tem sido a participação do público? A participação e a proximidade com o público ainda está em processo de construção. Quando falamos em produção de conteú-


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do, devemos saber que é um caminho longo e demorado para criar sua própria rede de audiência e relacionamento. Não tenho dúvidas de que chegaremos lá. Independentemente disso, preciso confessar que me emociono muito com alguns comentários. É muito bom saber que alguém cedeu alguns minutos do seu dia para assistir o nosso trabalho. Se cada vídeo for de alguma forma útil para uma única pessoa, eu já me sinto muito realizado. Mediunidade, evangelho, questões filosóficas, quais as perguntas mais recorrentes? Mediunidade, sem dúvidas. Para muitos ainda se trata de um assunto misterioso e geralmente é a porta de entrada para muitas conversas e debates mais profundos sobre o espiritismo. Nem sempre as res-

ENTREVISTA ces e desafios. Creio que o primeiro passo será sempre entender e incorporar a mentalidade espírita, baseando-se na evolução pessoal e coletiva, sabendo que vamos errar, aprendendo a perdoar, e nunca esquecendo que estamos aqui de passagem. Uma vez entendido isso, o aprendizado teórico se torna uma consequência. E para os espíritas mais experientes, a ideia é deixar reflexões, provocar e convidar para entrarem nas minhas viagens e reflexões. Para mim, reflexões que nos tiram da zona de conforto só nos ajudam a crescer e é o que tento fazer. Tudo isso, no caso do Descomplica!, mas de forma geral, enxergo o universo dos estudos espíritas extremamente profundo e sério. São muitas camadas de conhecimento para atingirmos um entendimento mais profundo. Precisamos estar bem preparados e essa experiência só o tempo é capaz de nos dar.

Gosto de encarar o espiritismo como uma forma de entender a vida” postas a diversas perguntas são tão diretas e simples, como alguns desejam, por isso, procuro sempre deixar uma visão mais ampla sobre tudo que envolve a mediunidade. Acredito que dou ferramentas para a pessoa conhecer mais sobre o espiritismo. Se for do interesse dela, já foi dado um ponto de partida gerando a curiosidade por entender ainda mais. As mídias sociais nos permitem uma maior diversidade de público. O CultKardec tem sido acompanhado por público não espírita. Dá pra atingir numa mesma linguagem espíritas e não espíritas? No caso do Descomplica!, o que busco é falar com os dois públicos. Para os não espíritas, ficam os conceitos básicos e as linhas de raciocínio para que ele vá se abrindo para esta possibilidade. Gosto de encarar o espiritismo como uma forma de entender a vida, com suas nuan-

Qual a maior surpresa que você teve ao realizar esse trabalho? A maioria das pessoas que me conhece pessoalmente não sabe da existência do projeto. Não divulgo nas minhas redes sociais. Fico feliz quando alguém que conheço diz que assistiu ao vídeo e gostou. É um termômetro muito importante para mim saber que o conteúdo chega a lugares que nunca imaginei e que não foi através da minha influência direta, mas sim por meio do trabalho de todos que estão envolvidos com o CultKardec. Atualmente temos muitos canais de informação sobre o espiritismo. Como você analisa essa diversidade de comunicação? Há espaço para todos? Sempre há. Assim como em qualquer mercado, a criação de conteúdo segue a mesma lógica: oferta e demanda. Se temos muitos canais de comunicação, é porque muitas pessoas estão consumindo, e isso é ótimo. Essa diversidade pro-

porciona o grande ‘barato’ da criação de conteúdo, pois é você quem vai escolher o que assistir ou ler, a qualquer hora e lugar. Um determinado programa pode não agradar uma pessoa, mas pode proporcionar o seu contato inicial com o tema, levando-a a procurar depois conteúdos similares, no formato que melhor lhe agrade. Esta é a força do conteúdo, e não números de visualizações como muitos acreditam. O importante é criar uma rede de relacionamento com o público, que por mais ‘nichado’ que seja, tem muito poder de influência. Como você realiza as pesquisas sobre os temas? Ainda estou em uma fase de tentativa e erro. Gosto muito de falar sobre arte e como isso pode estar relacionado ao espiritismo, essas ideias geralmente surgem no dia a dia e não pesquisando em livros necessariamente. Quando o assunto é mais teórico, busco embasar meus pensamentos apenas nas obras de Kardec. Porém, existe uma obra em específico que me ajuda muito e não é dele. Se chama O pensamento de Herculano Pires [Raymundo R. Espelho, Correio Fraterno]. Esse livro tem um poder de síntese muito forte para assuntos complexos e amplos. Ao descomplicar ao fala de Kardec, há riscos de se desviar do conceito correto? Sem dúvidas, sempre é um momento tenso quando preciso pontuar os conceitos de forma mais exata. A responsabilidade de passar os conceitos corretos é muito grande. Sempre que preciso, recorro aos meus pais e amigos mais experientes. De forma geral, procuro levar o conteúdo mais para linhas de raciocínio lógico sobre a doutrina e nem tanto para o lado teórico. Qual o seu maior desejo, quando prepara e grava cada novo episódio do CultKardec? Meu maior desejo a cada vídeo é conseguir a atenção do público e levá-los a uma jornada de reflexões sobre a vida através de um olhar espírita. Se eu conseguir fazer as pessoas pensarem comigo e chegarem às próprias conclusões, meu objetivo está completo. www.cultkardec.com www.youtube.com/cultkardec www.instagram.com/cultkardec www.facebook.com/cultkardec

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LIVROS & CIA. Editora Paideia Telefone: 11 5549-3053 www.editorapaideia.com.br O Evangelho de Jesus em espírito e verdade de J. Herculano Pires 388 páginas 16x23 cm

Casa Editora O Clarim Telefone: 16 99270-6575 www.oclarim.com.br Energia sexual, amor e espiritualidade de Ricardo Di Bernardi 256 páginas 14x21 cm

Editora EME WhatsApp: 19 99983-2575 www.editoraeme.com.br

Aconteceu na Galileia – o despertar de Pedro psicografado por Claudia Ayres de Almeida 352 páginas 16x23 cm

Correio Fraterno WhatsApp: 17 99736-9800 www.correiofraterno.com.br/livros A feira dos casamentos de J. W. Rochester (espírito) psicografia de Vera Kryzhanovskaia tradução de Herminio C. Miranda 448 páginas 16x23 cm


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LEITURA

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O que disse e o que pensava Herculano Pires Da REDAÇÃO

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m 2014, como homenagem ao centenário do nascimento do filósofo, escritor e jornalista José Herculano Pires, a editora Correio Fraterno reuniu em uma obra a essência das ideias deste grande pensador contemporâneo. Em quase 400 verbetes, retirados de suas obras espíritas, Raymundo Rodrigues Espelho pesquisou e relacionou em O pensamento de Herculano Pires afirmações importantes do poeta e filósofo espírita que, segundo o espírito Emmanuel, fora o metro que melhor mediu Kardec. Além de pontuais, seus conceitos e comentários estimulam a reflexão, a busca pelo autoconhecimento e revitalizam a definição da fé raciocinada como forma de se encontrar a verdadeira liberdade e plenitude que tanto se busca.

As ideias de Herculano Pires são claras e diretas. Apocalipse, mediunidade, centro espírita, crendices, cura, sexo, terapia espírita, separação, transição planetária, médiuns de cura, magia e filosofia são algumas das abordagens dentre centenas que permitem conhecimento e orientação a iniciantes, veteranos, expositores, pesquisadores em potencial, não apenas sobre a temática espírita, mas sobre as angústias e desafios de todos nós. “Eu não queria saber do espiritismo. Um dia, meu saudoso amigo Dadício de Oliveira Baulet me desafiou a ler O livro dos espíritos de Allan Kardec. A contragosto aceitei o desafio e o estou lendo estudando até hoje. Tornei-me espírita pelo raciocínio. Isso ocorreu em 1936; eu tinha, então 22 anos”, revelara Herculano.

No prefácio da obra, sua filha, a expositora e também escritora espírita Heloísa Pires acrescenta: “Herculano exemplificou a necessidade e a possibilidade da soberania do homem sobre si mesmo, lembrando que a consciência humana é autoridade suprema e deve dirigir o homem; Deus nos deu essa soberania”. Amor divino - Se quisermos compreender o amor divino, temos de partir do amor humano. Esta é a nossa única possibilidade de abordagem para a pesquisa do amor. Aparatos - O centro espírita nasceu como Jesus e com Jesus, sem os aparatos inúteis do formalismo religioso, restabelecendo nas almas a confiança em si mesmas.


BAÚ DE MEMÓRIAS

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O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção e em nossas redes sociais. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.

Frederico Figner Em busca de sua própria luz Por RITA CIRNE

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ós brasileiros temos o privilégio de ter grandes repórteres do mundo espiritual. Assim como André Luiz, Frederico Figner trouxe um testemunho único através da mediunidade de Chico Xavier. Em seu livro Voltei, escrito com o pseudônimo de Irmão Jacob e publicado em 1949 pela FEB, ele conta em detalhes como foi o seu desencarne, as dificuldades que encontrou para se desligar do corpo físico e se ajustar à vida nova. Figner cumpriu sua promessa de relatar aos amigos que aqui deixou a sua adaptação no plano espiritual e não teve receio de expor os conflitos que enfrentou, mesmo sendo espírita e tendo se dedicado intensamente à divulgação da doutrina. O seu depoimento no livro é um alerta para nós. Humildemente, ele escreveu que não pretendia convencer ninguém, mas afirmou: “Não se acreditem quitados com a Lei, por haverem atendido a pequeninos deveres de solidariedade humana, nem se suponham habilitados ao paraíso, por receberem a manifesta proteção de um amigo espiritual! Ajudem a si mesmos no desempenho das obrigações evangélicas! Espiritismo não é somente a graça recebida, é também a necessidade de nos espiritualizarmos para as esferas superiores”. Como entender as dificuldades de adaptação que ele diz ter enfrentado logo após o seu desencarne com a trajetória que teve na sua última encarnação? Pois esse trabalhador da seara espírita veio nos mostrar com o seu relato que o nosso processo de aprimoramento espiritual não para. Ele fez parte da Federação Espírita Brasileira (FEB) como vice-presidente, tesoureiro e membro do conselho fiscal. Viveu intensamente o amor ao próximo, mas reconheceu “não ter providenciado luz para ele mesmo”. Ao comentar a vida de Frederico Figner no programa “Biografia” (FEBtv, de 19 de novembro de 20141), o diretor da

Comercializando os primeiros fonógrafos que trouxe do exterior, Frederico Figner acabou criando em 1900 a primeira gravadora do Brasil e da América Latina na rua do ouvidor, no Rio de Janeiro

FEB Carlos Campetti disse que com ele tudo era “pão, pão, pedra, pedra”. Era um homem emotivo, mas uma pessoa prática, objetiva. Quando tinha que falar, não mandava recado. Pela manhã, passava pela FEB, dava passes. Ao sair do trabalho, retornava à Federação para dar assistência às pessoas. Muitas vezes ia aos morros do Rio de Janeiro levar alimentos e medicamentos. Tinha por hábito dizer aos espíritos que acendessem a própria luz. Sensibilizado com a situação de muitos artistas, que viviam em penúria na velhice, ele doou um terreno, em Jacarepaguá, no Rio, para a construção da instituição Reti-

ro dos Artistas, que funciona até hoje. No programa citado, Campetti se emociona ao comentar o trecho do livro em que Figner percebe já ter desenvolvido a sua luz. No seu entender, seria ele um judeu reconciliado com Cristo: “Pôde compreender o papel de Jesus e conseguiu interiorizar essa proposta e iluminar a si mesmo”. Sua luta começou na Tchecoslováquia, onde nasceu em dezembro de 1866. De família muito pobre, com apenas 16 anos decidiu migrar para os Estados Unidos para ajudar a quitar as dívidas de seus pais e a ter recurso para os dotes de suas irmãs, uma necessidade para que elas pudessem se

casar, segundo os costumes da época. Nos Estados Unidos, adquiriu um dos fonógrafos que estavam sendo lançados por Thomas Edison, e veio para o Brasil. Oferecia a novidade nas praças, permitindo que as pessoas gravassem e ouvissem a própria voz. Ganhou dinheiro com essa atividade viajando pelo Brasil, Uruguai e Argentina. Assim, conseguiu montar no Rio de Janeiro a Casa Edison para vender fonógrafos, começando a fazer gravações de artistas brasileiros no início do século 20. Figner acabou criando uma indústria de produção de discos, surgindo assim a marca Odeon, que ficou famosa no Brasil. Com seu espírito empreendedor, construiu uma vida próspera. Casou-se e teve seis filhos. Sua esposa Esther e ele já eram espíritas quando a sua filha mais velha, Rachel, desencarnou. Eles ouviram falar da médium de efeitos físicos Ana Prado, de Belém do Pará, e foram até ela em busca de alguma comunicação com a filha. Tiveram sucesso nessa empreitada e o que sucedeu naquelas sessões no Pará foi relatado no livro O trabalho dos mortos, de Nogueira de Faria, lançado pela FEB em 1921. A sua jornada terrena se encerrou em 19 de janeiro de 1947, com 80 anos. Segundo informa a Federação Espírita do Paraná, ao se abrir seu testamento, verificou-se que ele havia destinado parte substancial dos seus bens às obras sociais de Francisco Cândido Xavier. E, na espiritualidade, uma nova seara de serviços se abria para ele, que estava preparado para o desafio. “Se a experiência carnal amadurece e passa, a vida prossegue e a luta continua”, deixa ele registrado logo na introdução da sua conhecida obra Voltei. 1 Link do programa: watch?v=jidlMXTd-w0

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Jornalista, colaboradora do Grupo Espírita Batuíra e do jornal Valor Econômico.


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m 1914, Léon Denis vivenciava na França os horrores da Primeira Guerra Mundial e, durante mais de três anos, através de uma médium, acompanhou como reagiam e o que pensavam os espíritos sobre aquele episódio. Inspirado pelas comunicações espirituais, acabou por escrever a obra O mundo invisível e a guerra, publicada originalmente em 1919, reunindo vários artigos que escrevera sobre o tema. Estava o escritor e filósofo espírita com a alma ferida, o que não o impediu de comentar com lucidez e segurança a dificuldade moral que assolava a humanidade terrena e a necessidade ainda da dor para a sensibilização dos espíritos mais endurecidos que, segundo ele, iriam também despertar um dia para a verdadeira cultura de paz. Triste consequência do orgulho e do egoísmo, individuais e coletivos, a guerra proporciona reflexões importantes para o progresso do espírito. Não passa desper-

ESPECIAL

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A guerra que sensibiliza e impulsiona a humanidade Por ELIANA HADDAD cebida, quer nos campos específicos de batalha, quer nos locais mais distantes do planeta. A globalização, comunicação rápida e a facilidade dos meios digitais permitem que se acompanhe aflitivamente combates ao vivo, com todos seus horrores e negociações.

A guerra na Ucrânia A atual guerra na Ucrânia, deflagrada em 24 de fevereiro, nos faz perguntar como isso ainda é possível em pleno século 21, depois de tantos acordos internacionais firmados após os trágicos episódios dos ataques nucleares americanos a Hiroshima e

Nagasaki, em 1945. Também, como ficará o compromisso de paz assumido pelas potências mundiais para se evitar um risco planetário, ainda que detenham poderosos arsenais de guerra? Vale lembrar ainda que sempre tivemos conflitos e que o uso da força foi sempre


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uma forma de exercer poder. Segundo a ONU, existem atualmente 30 regiões do mundo com a presença de conflitos armados. A maior parte destes conflitos envolve disputas por território e inclui, dentre as motivações, diferenças étnicas, religiosas e o controle de recursos naturais. As perguntas de Kardec No século 19, Allan Kardec, para compreender como atuava o mundo espiritual, também quis saber sobre as guerras. Fez perguntas importantes aos espíritos que se propuseram a auxiliá-lo para trazer o espiritismo ao conhecimento da humanidade terrena. O conteúdo mereceu destaque em O livro dos espíritos, lançado em Paris, em 1857. Na terceira parte da obra, dedicada às leis morais, foram revelados os aspectos espirituais da guerra, especificamente no capítulo 6 sobre a lei de destruição: “O que impele o homem à guerra? A guerra sempre ocorrerá na Terra? Qual o objetivo da

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izia-me recentemente um amigo: “Estão virando o mundo pelo avesso!” E a impressão que se tem é precisamente essa. Alguém enfiou a mão no fundo e puxou o avesso do mundo. Todos os princípios morais estão sendo atirados no lixo. Matar, violar, achincalhar, agredir e desrespeitar são as novas palavras de ordem. E tudo isso por quê? Há um século o Espiritismo proclamou a existência de uma lei de evolução dos mundos e demonstrou que o nosso mundo, o planetinha humilde em que viajamos no espaço, está passando por uma nova etapa de sua evolução. Quem conhece um pouco de geologia sabe que já fomos um mundo primitivo, sem vida. Quem conhece um pouco de história e de antropologia sabe que já fomos uma humanidade animalesca, selvagem, evoluindo para as civilizações agrárias e avançando depois, lenta e penosamente, até os nossos dias. E quem enxergar um palmo adiante do nariz está vendo que damos agora um salto para uma nova civilização. É fácil compreender que esse salto coletivo exige enorme esforço. Todos sabemos que temos de mudar, de passar de um sistema de vida para outro, de reformar as nossas ideias, mas

própria do estado evolutivo em que nos encontramos. Isso é facilmente reconhecido, por exemplo, nas brigas das torcidas de futebol, nas agressões motivadas por nacio-

nalismos exacerbados, no revide fácil, na banalização da força. Os espíritos afirmam que a guerra só desaparecerá da Terra quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus. “Nessa época, todos os po-

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O mundo pelo avesso

A sabedoria do espírito elimina todos os conflitos” Providência com relação à guerra? O que pensar daquele que suscita a guerra em proveito próprio? O homem é culpado pelos assassínios que comete durante a guerra”? Responderam-lhe os espíritos que é a predominância da nossa natureza animal sobre a natureza espiritual e o transbordamento das paixões que nos motivam à guerra. “No estado de barbárie, os povos um só direito conhecem: o do mais forte. Por isso é que, para tais povos, o de guerra é um estado normal. À medida que o homem progride, menos frequente se torna a guerra, porque ele lhe evita as causas. E, quando se torna necessária, sabe fazê-la com humanidade.” Isso explica por que ainda somos tão instintivos, não conseguindo fazer com que a razão e o equilíbrio preponderem em muitas das nossas atitudes. Isso também explicaria o desejo pela guerra, que não surge do nada, mas porque já encontra no homem uma predisposição à violência,

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nem todos compreendemos o que é isso. A maioria das criaturas está procedendo como ratos de navio na hora do naufrágio. É a hora do “vale tudo”. Ninguém se engane, porém, diante do tumulto do mundo. Não caminhamos para a confusão, para a anarquia, para a baderna, mas para um mundo melhor. Os que lutam pelo bem e pela ordem, pela preservação dos grandes princípios morais que dignificam a vida humana, pela cultura e a beleza, pela bondade e a fraternidade, acabarão vencendo. “Os pacíficos herdarão a Terra”, como ensinou Jesus. Os baderneiros serão simplesmente transferidos para mundos inferiores, pela ação compulsória da morte. O mundo se renova pela sucessão das gerações. Tudo passa e a vida continua triunfante o seu curso evolutivo. O espiritismo nos ensina que esta hora do mundo é como a das trevas que precedem o alvorecer. Mas é preciso estudá-lo para bem compreender o que se passa. Uma leitura atenta de O evangelho segundo o espiritismo e um estudo sério de O livro dos espíritos nos deixarão tranquilos nesta hora de agitações, de guerras e rumores de guerras. (J. Herculano Pires em O infinito e o finito).

vos serão irmãos”, complementaram. Segundo eles, o objetivo da Providência, ao tornar necessária a guerra, está no fato de a guerra permitir o exercício da liberdade e o impulso ao progresso. Sua subjugação temporária acaba por pressionar os povos a progredirem mais depressa. É enorme, porém, a responsabilidade de quem suscita a guerra para proveito próprio. “Grande culpado. Muitas existências lhe serão necessárias para expiar todos os assassínios de que haja sido causa, porquanto responderá por todos os homens cuja morte tenha causado para satisfazer à sua ambição”, afirmam. A situação é diferente quanto aos homens no campo de batalha. Eles não têm culpa dos assassínios que praticam, se forem constrangidos pela força. Só serão culpados pelas crueldades que venham a cometer, sendo levado em conta o sentimento de humanidade com que proceda.

A visão de Léon Denis

homem, espírito imortal, é um centro de vida e de atividade que, de todas as vicissitudes, todas as provações, mesmo as mais cruéis, deve conseguir outros processos pelos quais se expandam cada vez mais as energias existentes em nosso íntimo. As grandes emoções nos fazem esquecer as preocupações corriqueiras (muitas vezes frívolas) da vida, abrindo em nós uma passagem para as influências do Espaço. Nos mundos mais adiantados, nas humanidades superiores à nossa, os flagelos não têm mais razão de ser, não existindo a guerra, porque a sabedoria do espírito elimina todos os conflitos. Os habitantes dos mundos felizes, iluminados pelas verdades eternas, com a aquisição dos poderes da inteligência e do coração, não têm mais necessidade desses terríveis estímulos para despertar e cultivar os recursos ocultos da alma. É preciso sofrer para sentir e amar, crescer e elevar-se. Só o sofrimento domina os furores da paixão, desperta em nós as meditações profundas e revela às almas o que há de melhor, mais belo e mais nobre no Universo: a piedade, a caridade e a bondade! (Léon Denis em O mundo invisível e a guerra).

Os espíritos na guerra Durante uma batalha há espíritos assistindo e amparando cada um dos exércitos, estimulando-lhes a coragem, conforme enaltecido até mesmo pela mitologia, quando os antigos asseguravam que havia diversos deuses tomando o partido deste ou daquele povo. Há espíritos que se identificam com causas injustas, uma vez que se comprazem na discórdia e na destruição. Há os que podem influenciar o general também na concepção de seus planos de campanha para levá-lo à derrota, se não tiver critério bastante para distinguir uma ideia falsa, como também poderá ser guiado por uma espécie de segunda vista, uma visão intuitiva, que lhe mostre de antemão o resultado de seus planos. Alguns espíritos que sucumbem no tumulto dos combates podem continuar a se interessar pela batalha; outros, se afastam. Dá-se nos combates o que ocorre em todos os casos de morte violenta: no primeiro momento o espírito fica surpreendido e como que atordoado. Julga não estar morto. Parece-lhe que ainda toma parte na ação. Só pouco a pouco a realidade lhe surge. Os espíritos informaram que são raras as mortes verdadeiramente instantâneas. Na maioria dos casos, o espírito cujo corpo acaba de ser mortalmente ferido não tem consciência imediata desse fato. Somente quando ele começa a se reconhecer é que se pode distinguir o espírito, a mover-se ao lado do cadáver. Parece isso tão natural, que nenhum efeito desagradável causa a vista do corpo morto. (O livro dos espíritos, p. 548)


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FOI ASSIM

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Revelações através do sonho Da REDAÇÃO

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senhor Warcollier, engenheiro químico em Paris é quem conta o fato na Revue Scientifique et Morale de fevereiro de 1920: “A senhora B... pertencia a uma família aristocrática e me foi apresentada por uma pessoa de minha família, a senhora Viroux. Ela tinha perdido um filho durante a guerra, que particularmente amava muito. A senhora B... possuía outros filhos, dentre eles uma filha casada. Alistado voluntário no início da guerra, seu filho ganhou rapidamente os galões de subtenente, mas foi morto em combate. A mãe teve um sonho no qual viu o local preciso, um planalto da estrada de ferro, onde o corpo de seu filho estava morto. Graças a esse sonho, ela encontrou os despojos do rapaz e os enterrou no cemitério da aldeia vizinha. Alguns meses depois teve um outro sonho e viu seu filho, que lhe dizia: ‘Mamãe,

não chores, vou voltar, não para ti, mas para minha irmã’. Ela não compreendeu o sentido daquelas palavras; mas sua filha teve um sonho semelhante, no qual via seu irmão novamente criança, brincando em

seu próprio quarto. Nem uma nem outra pensava ou acreditava em reencarnação. A filha da senhora B..., que nunca tivera filhos, se desolava a esse respeito. Mas logo depois

ela ficou grávida. Na noite que precedeu o nascimento, a senhora B... reviu seu filho em sonho. Ele lhe falava uma vez mais de seu retorno e lhe mostrou um bebê recém-nascido que tinha os cabelos negros, que ela reconheceu perfeitamente quando o recebeu em seus braços algumas horas mais tarde. A senhora B... se convenceu, diante de inúmeros detalhes psicológicos e por traços curiosos de caráter, que aquela criança era realmente seu filho reencarnado. Ela afirma que antes não era reencarnacionista; era católica de nascimento e, por sua vez, totalmente simpatizante do clero. Confessou que era absolutamente céptica, talvez até um pouco ateia, e que nunca tinha frequentado nem os espíritas nem os teósofos.” Do livro O problema do ser, do destino e da dor, de Léon Denis.


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ARTIGO

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Spam espírita Por MARCO MILANI

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utilização de ferramentas de comunicação à distância ganhou um enorme impulso com as restrições de deslocamento provocadas pela pandemia da Covid-19 e, desde então, alterou os hábitos de milhões de pessoas que antes necessitavam visitar um centro espírita para participar de atividades tipicamente presenciais, como palestras, entrevistas, estudos e outras ações com temáticas doutrinárias. Ao serem oferecidos à distância, ampliou-se o público usuário desses serviços, sinalizando uma ótima oportunidade para a apresentação e compreensão dos princípios e valores espíritas. Diante dos novos canais de interação, a própria divulgação dos eventos espíritas redimensionou-se, ganhando espaço no ambiente virtual das redes sociais. Diversas instituições investiram na constituição e desenvolvimento de páginas eletrônicas e grupos virtuais para atender esse tipo de demanda. Diferentemente de propagandas e anúncios não solicitados que invadem caixas postais eletrônicas, conhecidos como “spams”, o compartilhamento da maioria dos cartazes de atividades com temática espírita é sempre bem-vinda nas redes sociais direcionadas aos adeptos e simpatizantes. Afinal, acaba sendo uma prestação de serviço, já que eventos espíritas tendem a oferecer momentos de nobres reflexões e práticas edificantes, sendo iniciativas que devem ser divulgadas. O lado bom da nova realidade Um interessante fenômeno também passou a ocorrer diante da farta produção de eventos à distância, os quais não se limitam mais aos tradicionais frequentadores dos salões e auditórios dos centros espíritas e respectivas regiões, mas voltam-se a quem se deparar com as respectivas peças de divulgação nas redes sociais. Como ocorrem vários eventos no mesmo dia e horário, os participantes dos grupos virtuais podem escolher qual deles assistir, ao vivo ou gravado. Dirigentes e divulgadores espíritas sensatos sabem que essa concorrência é

esperada e perfeitamente normal em um ambiente com várias possibilidades de interação à distância, além de que cada evento tende a atrair um público com perfil específico, conforme as características do conteúdo e as condições de participação para cada um deles. Compreensível a preocupação em tornar a arte de cartazes e outras peças de divulgação mais técnicas e profissionalizadas, favorecendo a comunicação. Certamente, um material bem elaborado reúne mais condições de atingir o seu objetivo informacional, mas não quer dizer que cartazes mais rudimentares não cumpram o seu papel. Alerta para o bom-senso Entretanto, alguns divulgadores, ao

encararem a existência de eventos concorrentes como uma competição de mercado, não limitam-se a aperfeiçoar a arte de cartazes e a utilizar mais canais para a devida comunicação eletrônica. Creem que a quantidade de inserções do material de divulgação, ainda que seja no mesmo canal ou grupo de rede social, seja um diferencial para obter vantagem competitiva. Ao fazerem isso, correm o evidente risco de saturarem o usuário dessas redes sociais e gerarem o efeito inverso, criando resistência ao divulgador. Há casos de indivíduos, bastante motivados para a obtenção de visibilidade, publicarem diariamente eventos semelhantes ou iguais, consumindo inadvertidamente o precioso tempo e contando com a serenidade dos participantes desse

canal de comunicação. Logicamente, o ambiente virtual pode (e deve) possuir regras e diretrizes de publicações que evitariam tal abuso, mas isso é de responsabilidade dos administradores das páginas e grupos. A divulgação de eventos espíritas em canais apropriados é uma prática útil e necessária, até caridosa, mas a motivação competitiva para tal prática, lastreada na intenção de sensibilizar a maior quantidade possível de pessoas pela cansativa republicação sem que os usuários assim tenham solicitado e sem se atentar ao tempo alheio consumido, pode se afastar da caridade e do bom senso, além de se aproximar de uma prática de “spam”. Diretor do departamento de doutrina da USE- SP.


CULTURA & LAZER

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AGENDA 5º Curso AME Osasco Inicia-se no dia 5 de abril o 5º Curso da AME Osasco, “O espelho da vida”, que contará com três módulos principais: Mente e cérebro; Transtornos mentais e espiritismo e Evolução e transcendência. O curso, que contará com membros da AME Osasco e convidados especiais, acontecerá às terças-feiras, das 20h às 21h, com término no dia 8 de novembro. As aulas serão transmitidas através do canal no youTube.com/ canalameosasco. @ameosasco.

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Aprendendo a fazer vídeos A Federação Espírita do Estado de São Paulo disponibilizou em seu site um vídeo didático para produção de vídeos caseiros, com objetivo de auxiliar palestrantes, e comunicadores em produções de materiais de divulgação. Acesse: https://www.feesp.com.br/como-produzir-videos-caseiros/ 1º Mês Espírita Mundial Será realizado durante todo o mês de abril o 1º Mês Espírita Mundial, com a organização e apoio das instituições Fundação Espírita André Luiz, Rádio Boa Nova e TV Mundo Maior, TV Esperanza Uruguay; Iberoamérica Espírita, British Union of Spiritist Societies, Mouvement Spirite Francophone, Frater TV, dentre outras. Serão mais de 36 países envolvidos, com a participação de cerca de 120 palestrantes e estudiosos do espiritismo. O evento será online e gratuito, com mais de 20 horas de conteúdos produzidos em vários idiomas. Será transmitido pelo canal do youtube da TV Mundo Maior. Inscrições: feal.com.br/mes-espirita-mundial

ABR

Congresso Estadual de Espiritismo em Atibaia De 24 a 26 de junho, a União das Sociedades Espíritas do Estado São Paulo realizará na cidade de Atibaia, SP, o 18º Congresso Estadual de Espiritismo, tendo como tema central “Evolução do ser: consciência e livre-arbítrio”. O evento contará com palestras, rodas de conversa, arte espírita e feira do livro. Presenças confirmadas de Alberto Almeida, André Trigueiro, Eulália Bueno, Emanuel Cristiano, Haroldo Dutra, Humberto Schubert e Rossandro Klinjey. Informações e inscrições http://congressousesp.org/

JUN

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SUA DOAÇÃO FAZ A DIFERENÇA

Região do ABC Retirada de doações para o Bazar Permanente

ligue: (11) 94454-7048 ou (11) 4109-8938

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CAÇA-PALAVRAS DO CORREIO

Elaborado por Izabel Vitusso e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno

A confirmação que Kardec esperava “Pergunta (a Hahnemann): Outro dia, os espíritos me disseram que eu tinha uma importante missão a cumprir e me indicaram o seu objeto. Gostaria de saber se confirmas isso. Resposta: Sim, e se observares as tuas aspirações, as tuas tendências e o objeto quase constante das tuas meditações, não te surpreenderás com o que te foi dito. Tens que cumprir aquilo com que sonhas desde longo tempo. É preciso que nisso trabalhes ativamente, para estares pronto, pois o dia está mais próximo do que supões. Pergunta: Para desempenhar essa missão tal como a concebo, são-me necessários meios de execução que ainda não se acham ao meu alcance. Resposta: Deixa que a Providência faça a sua obra e serás satisfeito.” Allan Kardec recebe esta confirmação em reunião na casa do sr. Roustan, através da médium Japhet, em 7 de maio de 1856. Um ano depois, Kardec lançaria a primeira obra da codificação: O livro dos espíritos. Fonte: Biografia de Allan Kardec, de Henry Sausse, FEB.

H S T S S P O N R V S R P R G S P M Q S O B M P R S J S L B

A S O T S O B H A I E E R T R A B A L H A R E S E S O O O O

I Ã S O O M R A L P R S O U A C L S A M E E O I S A E M U N

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ENIGMA

Quais as condições essenciais para todas as comunicações sérias? Resposta do Enigma: O silêncio e o recolhimento. O espírito São Luís complementa que não se deve tolerar nenhuma conversa quando os espíritos são questionados, os quais se sentem aborrecidos com cochichos dos assistentes. O livro dos médiuns, cap. 31, item 23.

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SOLUÇÃO DO PASSATEMPO


QUEM PERGUNTA QUER SABER

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A cura pelo passe Por HERCULANO PIRES

Não creio no poder da cura de certas enfermidades através de passes magnéticos, a menos que seja enfermidade de origem psicológica. Quero saber se estou errado.

Exemplos na Revista Espírita

D

S

im, está errado, porque o passe não é apenas um gesto que tem consequências psicológicas que, sendo uma sugestão, ele teria uma ação psicológica. O passe espírita, como até mesmo o passe magnético, tem funções orgânicas precisas, age sobre o organismo. O passe espírita age de maneira mais profunda, porque não é dado apenas por um indivíduo humano que procura transferir

fluidos vitais de seu corpo para o corpo da pessoa necessitada. Como médium, ele está a serviço de um espírito que entende melhor do assunto e conhece melhor as profundezas da doença, da situação em que a pessoa se encontra. Servindo-se de seus próprios fluidos curadores e dos fluidos vitais do médium, o espírito tem a possibilidade de transmitir à pessoa doente verdadeiros impulsos de cura, por assim dizer,

estimulando as energias do próprio corpo do enfermo para a necessária reação contra a doença. As doenças mais difíceis, as doenças mais dolorosas podem ser curadas através de passes. Do livro Conversa sobre mediunidade: curas, obsessões e sonhos, transcrição do programa de rádio “No limiar do amanhã”. Ed. Paideia.

O dom de curar Restituí a saúde aos doentes, ressuscitai os mortos, curai os leprosos, expulsai os demônios. (Mateus, 10:8.)

A

s doenças fazem parte das provas e das vicissitudes da vida terrena; são inerentes à grosseria da nossa natureza material e à inferioridade do mundo que habitamos. Temos, assim, de nos resignar às consequências do meio onde nos coloca a nossa inferioridade, até que tenhamos mérito para passar a outro. Isso não deve impedir que, à espera dessa mudança, que isso se dê, façamos o que está

ao nosso alcance para melhorar as nossas condições atuais. Se Deus não quisesse que os sofrimentos corporais fossem dissipados ou amenizados, não teria colocado à nossa disposição meios de cura. Sua solicitude, em conformidade com o instinto de conservação, indica que é nosso dever procurar esses meios e aplicá-los. A par da medicação ordinária, elaborada pela ciência, o magnetismo leva-nos a conhecer o poder da ação fluídica e o espiritismo nos revela outra força poderosa na mediunidade curadora. (O evangelho segundo o espiritismo, cap. 28) (Redação)

entre os inúmeros exemplos de cura através do passe, a Revista Espírita de 1867 narra o caso enviado pelo Grupo Curador de Marmande, da França, a Allan Kardec, que conta: “Uma menina de 6 ou 7 anos estava acamada, com uma dor de cabeça contínua, febre, tosse frequente com expectoração e dor viva do lado esquerdo e também nos olhos... Sob os cabelos, a pele do crânio estava coberta de películas brancas; urina espessa e turva. Deprimida e abatida, a menina não comia nem dormia. O médico tinha acabado suspendendo suas visitas. A mãe, pobre, em presença da criança doente e abandonada, veio nos procurar. Consultados, nossos guias prescreveram como único remédio a imposição das mãos, os passes fluídicos por parte da mãe, recomendando-me que fosse, durante alguns dias, fazer-lhe ver como deveria se conduzir. Depois de três dias de passes e de imposição das mãos sobre a cabeça, os rins e o peito, executados a título de lições, mas feitos com alma, a criança pediu para se levantar; a febre tinha passado e todos os acidentes descritos desapareceram ao cabo de dez dias. Esta cura, que a mãe qualificava de miraculosa, fez que me chamassem, dois dias depois, junto a uma outra menina de 3 a 4 anos, que tinha febre. Depois dos passes e da imposição de mãos, a febre cessou, desde o primeiro dia. (Revista Espírita, junho de 1867) (Redação)


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VOCÊ SABIA?

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O desdobramento de Lota Por GABRIEL DELANNE

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oi em 1858. Falava-se ainda na colônia francesa de uma singular aparição, havida alguns anos antes. Uma família alsaciana, composta de marido, mulher e uma filha menor, estava de vela para o Rio de Janeiro, onde ia se encontrar com patrícios ali estabelecidos. A travessia foi longa. A mulher adoeceu e por falta de cuidados e de alimentação conveniente, sucumbiu antes da chegada. No dia em que morreu, caiu em síncope, ficou muito tempo nesse estado e, quando recuperou os sentidos, disse ao marido, que estava ao seu lado: – Morro contente, porque sei agora que está assegurada a sorte de nossa filha. Venho do Rio de Janeiro, onde encontrei a rua e a casa de nosso amigo Fritz, o carpinteiro. Ele estava no limiar da porta. Apresentei-lhe a pequena e estou certa de que, à tua chegada, ele a reconhecerá e a tomará a seu cuidado.

Alguns instantes depois ela expirava. O marido surpreendeu-se com a narrativa, sem lhe dar, entretanto, importância. No mesmo dia e à mesma hora, Fritz, o carpinteiro – o citado alsaciano – encontrava-se à soleira da porta de sua casa, no Rio de Janeiro, quando acreditou que vira passar na rua uma de suas compatriotas, tendo nos braços uma menina. Ela o encarava com ar suplicante e parecia apresentar-lhe a criança. A figura era

de grande magreza e lembrava os traços de Lota, a mulher do seu amigo e compatriota Schmidt. A expressão do rosto, a singularidade do andar, que se diria mais de fantasma que da realidade, impressionaram vivamente Fritz. Querendo assegurar-se de que não estava sendo vítima de uma ilusão, chamou um dos seus operários, que era também alsaciano e da mesma localidade. – Olha – disse lhe – não vês passar uma

mulher na rua, com uma filha nos braços, e não parece Lota, a mulher do nosso patrício Schmidt? – Não sei dizer; não distingo bem – respondeu o operário. Fritz calou-se, mas as diversas circunstâncias dessa aparição gravaram-lhe fortemente em seu espírito. Algum tempo depois, ele vê chegar seu compatriota Schmidt, trazendo uma criança nos braços e, então, em espírito, lembra a visita de Lota e antes mesmo que ele tivesse aberto a boca, disse-lhe: – Meu pobre amigo, já sei de tudo; tua mulher morreu durante a travessia e antes de morrer veio apresentar-me sua filha para que eu velasse por ela. Eis a data e a hora. Eram exatamente o dia e a hora consignados por Schmidt a bordo do navio. Fonte: O espiritismo e a ciência, de Gabriel Delanne.


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DIRETO AO PONTO

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Olhar, orar e vigiar Por UMBERTO FABBRI

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ossos sentidos físicos nos permitem perceber o mundo material que nos rodeia. A visão, o tato, a audição, o olfato e o paladar foram sendo desenvolvidos nos estágios do princípio inteligente, assim como nossas capacidades espirituais, tais como a inteligência, o sentimento e o pensamento. Todos estes elementos conquistados nos permitem uma maior consciência de nós, do outro e de Deus. Ao adentrarmos no reino hominal a inteligência, o sentimento e a consciência nos diferenciaram de nossos irmãos animais. No entanto, estas conquistas ainda estavam em fase embrionária para serem desenvolvidas, de experiência em experiência, progresso que somente o tempo possibilita. Nosso objetivo dentro desse caminho evolutivo, já traçado pelo Pai, é o de ampliar nossas conquistas aos patamares superiores do amor e sabedoria e para isso é essencial que nossa capacidade de perceber o mundo de forma objetiva e não subjetiva por nosso olhar limitado se expanda também. O espírito automatizou muitas funções biológicas em seu perispírito, estruturas importantes para a manutenção da vida, porém automatizou também comportamentos, posturas e hábitos que precisam ser transformados, pois não condizem com

Como desenvolver a consciência sem atenção? Como conhecer as verdades que poderão nos libertar sem a autoanálise constante e disciplinada?” o objetivo final de espírito superior. Desenvolver a consciência, ou seja, ser mais ciente de si mesmo, de suas conquistas, mas também do que precisa ser transformado é imprescindível nesta caminhada evolutiva. Mas como desenvolver a consciência sem atenção? Como conhecer as verdades que

poderão nos libertar sem a autoanálise constante e disciplinada? Encontramos em Marcos, capítulo 13, versículo 33 a frase: “Olhai, vigiai e orai; por que não sabeis quando chegará o tempo”. Esta frase pode servir para uma reflexão profunda, pois, estes três verbos nos revelam

o caminho para esse despertar consciencial. O primeiro item nos fala sobre o “olhar” necessário para enxergar a realidade, o desejo de realmente perceber e analisar de forma objetiva, real, nossa existência. O segundo é a vigilância sobre as reações, comportamentos e posturas que diferem das orientações recebidas na Boa Nova do Cristo, para futuro combate interior. O terceiro é a oração, simbolizando a sintonia com o Criador para nosso fortalecimento, direcionamento. Podemos interpretar também como sendo as importantes orientações do Alto que encontramos no Evangelho do mestre, que orientam o caminho emocional e moral que não dominamos. Logo, o domínio, o controle e educação íntimos devem ter prioridade e ser desempenhados com esforço, mas também com gratidão e alegria, uma vez que a consciência de Deus e seu amor nos revelam nosso papel dentro da criação, o de filhos amados, que nunca estão sozinhos ou desamparados. Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor de diversos livros espíritas, dentre eles: O traficante (pelo espírito Jair dos Santos) O político (Adalberto Gória) e Bastidores de uma casa espírita (Luiz Carlos), ed. Correio Fraterno.


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MÍDIA DO BEM

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Este espaço também é seu. Envie para nós as boas notícias que saíram na mídia! Se o mal é a ausência do bem, é hora de focar diferente!

Mães polonesas deixam carrinhos de bebês para mães ucranianas

Meditação estimula o sistema imunológico

Artista mirim brasileira vai ter obras expostas no Louvre, em Paris

Uma foto que mostra carrinhos vazios alinhados em uma estação de trem na Polônia viralizou nas redes sociais, virando um poderoso símbolo de solidariedade e amor materno às refugiadas ucranianas que chegam ao país com seus filhos. O fotojornalista Francesco Malavolta capturou a imagem enquanto documentava a chegada de pessoas em busca de asilo na Polônia, a 13 quilômetros da fronteira com a Ucrânia. Alguns deles estavam cheios de suprimentos, como cobertores e ursos de pelúcia.

Cientistas da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, colheram amostras de sangue dos participantes de um retiro espiritual de oito dias, antes e depois do evento. Constataram que ocorreu aumento na atividade de 220 genes relacionados à resposta imunológica. E não houve alteração nos genes ligados a processos inflamatórios, ou seja, aquelas pessoas não adoeceram. As defesas do organismo realmente parecem ter se aperfeiçoado.

A artista plástica mirim Manu Martins, de 4 anos, que vive em Assis, SP, recebeu um convite para expor seus quadros no Louvre, em Paris, na França. A exposição que levará as obras da criança ao museu mais tradicional da Europa reunirá peças de todo o mundo e será realizada em outubro de 2022. “Ela desenvolve um estilo expressionista abstrato e se concentra muito no momento da sua criação, além de se preocupar com os acabamentos e de criar os títulos das suas obras”, conta a diretora artística Lisandra Miguel.

Fonte: ABC News

Fonte: Superinteressante

Fonte: O tempo


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