Um espírito pode levar uma pessoa a se suicidar?
Conheça a história de Antonie Bell, o espírito que contou a Kardec o que aconteceu em suas encarnações passadas e da coragem de que precisava para reencarnar.
Página 13.
Anália 00509
A necessidade da motivação no trabalho espírita
A coordenadora de evangelização infantil e de outras tarefas no meio espírita, especializada em treinamentos motivacionais, Samantha Pardo fala sobre os desafios para os ajustes pós-pandemia nas casas espíritas e o papel preponderante da comunicação nas relações humanas. Leia nas páginas 4 e 5.
As lições de Allan Kardec para a boa convivência no centro espírita
Franco, a grande dama da educação
Leia na página 7.
A
tento à qualidade das atividades realizadas nas sociedades espíritas, quando o espiritismo ainda dava seus primeiros passos na França, Allan Kardec já se preocupava com o fortalecimento da socialização e da união dos grupos que estavam se formando, sabendo da delicada tarefa da convivência fraterna entre seus membros. Em suas obras, estão inúmeras orientações, que são de extrema importância para serem lembradas na condução das atividades nas casas espíritas, por serem realizadas por nós, espíritos em evolução, inseridos num mundo de expiações e provas, a exigir-nos disciplina e esforço no exercício do amor e da fraternidade. Leia nas páginas 8 e 9.
Drogas
A determinação e o espírito de fraternidade que fizeram Anália Franco fundar cem instituições para acolher e educar crianças e mulheres pós-escravidão no Brasil.www.correiofraterno.com.br/loja
Ano 55 • Nº 509 • Janeiro - Fevereiro 2023 ISSN 2176-2104
Como os espíritos podem influenciar tanto para o consumo como para se resistir a elas? 9 7 7 2 176 210002
Suicídio por obsessão
Centro Espírita Reflexões sobre o
OCorreio Fraterno inicia 2023 tendo como foco a convivência na casa espírita. Buscamos as orientações de Kardec sobre a questão em textos e discursos de suas viagens realizadas na França do século 19, quando o espiritismo ainda dava seus primeiros passos.
O tema do Especial desta edição é de suma importância, tendo em vista os desafios enfrentados pelos dirigentes nos centros espíritas, que ainda estão se adaptando para exercer da melhor forma suas atividades na pós-pandemia, com novas exigências e um público que descobriu uma enxurrada de informações sobre espiritismo à sua disposição na internet. Qual será agora o papel do centro
espírita? Como preservar esse ambiente adequado e produtivo para um melhor convívio, aprendizado e trabalho?
Também a Entrevista, com Samantha Pardo, palestrante e profissional em treinamentos motivacionais, traz informações importantes sobre o aprimoramento das relações e da comunicação nas casas espíritas.
O Baú de memórias é sobre Anália Franco, grande educadora espírita. Educação também é o tema do Acontece, com as inscrições abertas para o curso de pós-graduação em pedagogia espírita, sob a coordenação de Dora Incontri, na Universidade Pampedia.
Você acha que um obsessor pode le-
FALE COM O CORREIO
Manifestação dos leitores sobre a Edição 508, nov./dez. de 2022
Paz, caminho para a felicidade
Texto bastante esclarecedor sobre a paz. Que neste Natal esteja o homem mais receptivo à grande Luz, para que em 2023 sejam escolhidos os melhores caminhos. Que a paz seja prioridade!
Helena Carneiro Polles. Gratidão. Que texto maravilhoso, como todos! Obrigada eternamente, e que
Uma ética para a imprensa
Em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação:
var uma pessoa ao suicídio? Esse assunto é tema do Quem pergunta quer saber. A pesquisadora Luciana Farias fala em Artigo sobre o trabalho entre os dois planos para os ajustes de uma das obras da codificação. Temas não menos importantes estão em Você sabia: o caminho de Allan Kardec como grande educador.
Em Foi assim, com a visita em espírito de Eurípedes Barsanulfo para auxiliar uma parturiente e Direto ao ponto, com Umberto Fabbri trazendo uma linda reflexão sobre adversidades.
A edição está recheada de coisas boas. Aproveite a leitura!
Equipe Correio Fraterno
Entrevista
Projeto internacional Sembradores de Luz
Deus os abençoe sempre. Ivone Quintanilha. Muito obrigada pelas publicações, que sigo sempre com muita atenção e carinho. Sempre a doutrina em pauta, e eu gosto muito.
Helena Correia. Artigo Conflitos e progresso
Gostei muito dessa matéria. Me fez refletir sobre a intolerância em nossa convivência com os que divergem de nossas ideias. Vera Lúcia.
Conteúdo muito interessante. Realmente ainda estamos longe de ter uma comunicação que atenda todos os idiomas. Mas já estivemos mais longe. Um Natal abençoado para todos nós. Sonyclea.
Baú de memórias Apparecido Belvedere
Conheci bem o Apparecido, quando esteve aqui, em Florianópolis. Visitou nosso “morro da cruz”, lugar de onde se vê toda a cidade e bairros. Foi, aqui entre nós, encarnados, irmão especial. E no plano verdadeiro continuará fazendo um bom trabalho.
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JORNAL CORREIO FRATERNO
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• A apreciação razoável dos fatos, e de suas consequências.
• Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros.
• Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas.
• A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos.
• Os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos.
• Não responderemos aos ataques dirigidos contra o Espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos.
• Confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento.
• Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. Nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado.
Esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.
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2 CORREIO FRATERNO JANEIRO - FEVEREIRO 2023 www.correio.news EDITORIAL
Abertas as inscrições para curso online de pedagogia espírita
AUniversidade Livre Pampedia inicia em 25 de fevereiro a 19ª turma do curso de pós-graduação em pedagogia espírita, que tem duração de dois anos e aulas online, ao vivo, um sábado por mês.
Desde 2005, a jornalista e doutora em educação pela USP, Dora Incontri, presidente da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita e da editora Comenius, está à frente do projeto, que já formou 600 alunos, não só do Brasil, que buscam uma compreensão mais ampliada do espiritismo.
“A proposta de espiritualidade de Allan Kardec sempre foi de educação, baseada em ideias de amor e liberdade, pilares para um projeto cultural de transformação do mundo. É preciso compreender o sentido existencial como um processo pedagógico”, observa Dora Incontri.
Ela lembra que a Universidade Livre Pampedia nasceu como resultado de longos anos de produção de conhecimento, de ensino, congressos, projetos e publicações, em defesa de uma educação livre, que tem como diferencial a importância de se abranger a dimensão espiritual do ser humano de forma plural e inter-religiosa.
O curso é aberto a alunos de qualquer área do conhecimento. Quem não tem graduação também pode se inscrever, sendo certificado após a conclusão como um curso de extensão.
Por dez anos consecutivos, houve o reconhecimento do MEC. A partir de 2015, segundo Dora, por uma opção filosófica e pedagógica, decidiu-se abrir mão dessa certificação. “O ensino autônomo é uma tendência mundial e permite uma experiência pedagógica aberta, interdisciplinar, em nível universitário, para atender às demandas de liberdade de quem pesquisa, de quem
ensina e de quem aprende, fazendo-se aliás tudo isso simultaneamente”, esclarece.
A programação do curso é abrangente e as aulas contam com professores contratados, espíritas e não espíritas, mestres e doutores em pedagogia, filosofia, história e áreas afins, tendo em vista o variado conteúdo a ser abordado nos diversos encontros. Há uma rede bastante diferenciada de educadores, palestrantes e debatedores, tanto no que se refere às áreas de conhecimento – médicos, pedagogos, juristas, psicólogos, filósofos, historiadores, jornalistas etc. – como no aspecto religioso: espíritas, islâmicos, padres, pastores, monges, xeiques etc.
Entre os temas que são estudados, estão: Breve história da filosofia; História, visão sociológica e antropológica do espiritismo; Kardec, seu método, sua filosofia, sua espiritualidade; Antecessores de Kardec: Sócrates, Platão, Comenius, Rousseau e Pestalozzi; Ideias na França de Kardec; Revisão histórica do cristianismo; História da educação ocidental e História da educação espírita.
“É um prazer enorme poder realizar esse trabalho coletivo e promover o debate em torno da pedagogia espírita, no contexto da cultura contemporânea, revisitando o próprio espiritismo progressista e promovendo o diálogo entre a proposta de Kardec e o século 21”, assinala Dora Incontri, que destaca ainda a oportunidade de se capacitar pesquisadores para desenvolver projetos temáticos, teóricos e práticos, ligados à fundamentação e à aplicação da pedagogia espírita.
Informações: www.universidadelivrepampedia.com Contato pampedia@pampedia.com.br
O que é pampedia?
A pampaedia (educação integral) foi defendida por Johannes Amos Comenius (15921670), seguidor de Jan Huss (1369-1415). Suas ideias, depois, acabaram por inspirar Rousseau (1712-1778) , que inspirou Pestalozzi (17461827), que inspirou Allan Kardec (1804-1869). O educador e escritor tcheco, considerado o fundador da didática moderna, propôs a mudança na educação, que deveria ser pautada no objetivo de ensinar tudo a todos de modo a permitir o pleno desenvolvimento de todas as capacidades humanas.
Para quem é?
Graduados - Para quem já tem graduação, mas deseja abrir horizontes, formular projetos de pesquisa e ação social, em sintonia com pessoas na mesma busca.
Não graduados - Para quem quer mais autonomia, elasticidade e criatividade para construir seu currículo com produções, pesquisa e ações abrangentes.
Autodidatas - Para quem já é ou quer se constituir como autodidata, mas o oceano de informações na rede se torna muito vasto e sem bússola.
Aposentados - Para quem já saiu do mercado de trabalho e deseja expandir horizontes, sem compromisso com certificações, provas, exames, com um conhecimento livre e acessível, na base do diálogo.
Pós-graduandos e pesquisadores - Para quem tem projetos de pesquisa já esboçados ou sonhados, mas com dificuldade de se ajustar aos parâmetros das universidades. (Fonte: Universidade Livre Pampedia)
3 CORREIO FRATERNO JANEIRO - FEVEREIRO 2023 www.correio.news
ACONTECE
A necessidade da motivação no trabalho espírita
Como o dirigente espírita pode exercer melhor o seu papel diante das mudanças pós-pandemia?
Samantha Pardo: A palavra mudança geralmente assusta. Temos a sensação de que passaremos por algum desconforto e é muito provável que isso aconteça. Porém o espírita entende que a principal característica da vida física é a impermanência, que tudo está em progresso e evolução e que a cada experiência nos modificamos. A insegurança é natural, mas pode ser intensificada, quando o dirigente interpreta que as mudanças são ameaças para a doutrina. Deve-se deixar claro que a ninguém foi outorgado o direito de alterar qualquer ensinamento dos espíritos ou do Cristo. A necessidade de rever, adequar e repensar se refere ao movimento espírita, às atividades desenvolvidas por homens, jamais à essência da doutrina.
Quais dinâmicas você indicaria para manter a motivação dos colaboradores e frequentadores dos centros espíritas? Vamos usar aqui a palavra motivação no sentido de estimular. Essa pergunta é muito importante, porque “gente desmotivada desmotiva os outros” e, de repente, um grupo inteiro de trabalhadores passa a ir ‘se arrastando para o centro espírita’. A primeira dica é: reavive o propósito, sempre que possível. Saber o porquê de estarmos fazendo algo é crucial para que a atividade seja feita com alegria e dedicação. Não estamos na casa espírita ‘pelos outros’, mas porque nos comprometemos com a nossa própria evolução. A segunda: promova um ambiente de harmonia. Incentive que as pessoas cheguem alguns minutos antes para uma conversa amigável; mostre interesse pelo outro. Quando Jesus nos ensinou que Deus era ‘nosso Pai’, instituiu a irmandade entre os homens. Terceira: ouça as pessoas! Para sentir-se motivado o indivíduo precisa saber que faz parte de algo, que suas opiniões, sentimentos e colocações são levados em conta, mesmo que não atendidos. Sepa-
As casas espíritas, pós-pandemia, ainda estão repensando qual a melhor forma de trabalhar e dar continuidade às tarefas de estudo, palestras e assistência espiritual. É grande o desafio dos dirigentes espíritas, que se sentem, além de responsáveis pela condução das atividades nos centros, agora também pressionados pelas exigências de mudanças em função da rapidez da comunicação.
O Correio Fraterno busca esclarecimentos sobre o momento atual com a palestrante motivacional Samantha Pardo. Ela é coordenadora da evangelização infantil do Grupo Espírita Assistencial e Filantrópico Joanna de Ângelis, em Santo André, SP, e colabora como espírita em diversas frentes.
Advogada, pós-graduada em psicopedagogia institucional e clínica, com bacharelado em letras e especialização em oratória e retórica na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Samantha, profissionalmente, desenvolve treinamentos em empresas e escolas, incentivando uma comunicação humanizada com propostas de transformação pessoal.
re um tempo para isso: promova conversas, envie mensagem perguntando sobre ideias e opiniões e, o mais importante, responda à sugestão, até mesmo aquelas que não sejam possíveis aplicar. Lembre-se que motivação é tarefa de cunho intrapessoal.
Você percebe alguma necessidade mais evidente que esteja exigindo uma atuação mais urgente nas casas espíritas?
Acredito na urgência da preparação daqueles que recebem os assistidos em seu primeiro momento na casa. Entrevistadores ou atendentes fraternos desempenham
papel crucial no centro espírita e na vida dos assistidos. Todo o envolvimento na doutrina espírita está ligado a esse momento. Cada um de nós lembra, vividamente, do dia que ingressou e como foi atendido na casa. Esse primeiro contato pode definir a permanência na instituição e até mesmo na doutrina. Uma explicação equivocada, uma grosseria ou uma promessa de ‘milagre’ durante um acolhimento podem gerar proporções irreparáveis, dada a situação delicada daquele que chega.
Como você analisa a busca pelo espiritismo atualmente?
Tenho percebido que muitas pessoas não buscam uma religião para servir e sim uma religião que sirvam a elas. A exemplo da famosa história mitológica da Cama de Procustro, onde o violento personagem cortava as cabeças ou esticava os convidados para caberem em sua cama, as pessoas têm buscado o espiritismo até o ponto que este atenda as demandas e necessidades momentâneas, que em maioria tratam de dores e desconfortos. A doutrina oferece o acolhimento e consolo necessários, o azeite colocado sobre a ferida no homem socorrido pelo samaritano. Porém, logo em seguida, como na parábola, é necessário que se passe o vinagre, (aquilo que arde), ou seja, o estudo e o processo de autoiluminação. Nesse momento, percebemos um esvaziamento do número de frequentadores, confirmando que a busca pelo espiritismo ainda é superficial. Cabe a cada instituição trabalhar incessantemente para estimular esse frequentador e despertar sua consciência.
As casas espíritas, geralmente, são administradas por pessoas com mais idade. Isso interfere na atuação dos jovens nas atividades da casa?
Acredito que sim. As diferenças nas características e os conflitos entre as gerações são de conhecimento evidente e campo de vasto estudo. Ainda enxergamos o diferente como ameaçador ou impróprio e não como colaborador. Essa postura reativa acontece tanto nas pessoas com mais idade como nos jovens. Para que a casa caminhe com a participação de todos, é necessário valorizar as diferenças. Gosto de uma frase que, apesar de extrema, diz: “Quando duas pessoas pensam da mesma forma, uma delas é desnecessária”. Precisamos ouvir quem pensa diferente e compreender que a distância das gerações promove olhares que se complementam. Um quebra-cabeça não se faz com peças iguais e uma gestão que valoriza o diálogo é menos egoísta, menos defensiva e acima de tudo mais amorosa.
4 CORREIO FRATERNO JANEIRO - FEVEREIRO 2023 www.correio.news ENTREVISTA
Como melhor exercitar o equilíbrio entre autoridade e amizade nas relações nas casas espíritas?
Uma coisa é sermos amigos, outra coisa é infringir regras. Ser autoridade em alguma coisa não nos dá o direito de ser autoritário, mas traz responsabilidade e vigilância incansáveis. A amizade verdadeira proporciona o exercício de valores elevados, como empatia, paciência, compreensão e carinho. Quando aquele que ocupa a função diretiva percebe que há favorecimento, falta de respeito e ‘insubordinação’ sob a desculpa de amizade, tende a tornar-se autoritário, o que só aumenta o problema. O ideal é identificar, em conversa amigável e honesta, qual valor da amizade foi perdido para que a situação delicada ocorresse e, posteriormente, trabalhar para exercitá-lo. Ser inacessível para manter-se como autoridade, abrir mão de amizades, também não garante o desempenho satisfatório da função. Amizade
Como o progresso nas ciências administrativas pode ajudar na eficiência das atividades na casa espírita?
A doutrina ensina-nos que o progresso do homem há de ocorrer nos aspectos moral e intelectual. Assim, todo avanço intelectivo é válido. Associá-lo ao empreendimento moral é ainda mais louvável. A casa espírita que conta com conhecimentos e avanços na área da administração financeira correrá menos riscos de passar por dissabores, em decorrência da má gestão de recursos. Nenhuma casa pode legalmente funcionar sem estatuto, inscrições entre outras burocracias. Assim, o conhecimento técnico é de suma importância. Um fluxograma, por exemplo, bem realizado e entregue aos tarefeiros responsáveis evita desencontros e facilita o escoamento e direcionamento dos assistidos. Esquivar-se do conhecimento que promove o bem fazer é recusar o aperfeiçoamento.
Como melhor estudar as obras de Kardec?
Na hora do estudo é importante deixarmos de lado uma consideração muito difundida, mas não verdadeira em sua essência, de que a doutrina espírita é difícil de ser compreendida. Devemos substituir difícil por trabalhoso. Todo aquele que se proponha a estudar algo deve estar disposto ao esforço e dedicação. Vale ainda lembrar que a organização dos textos, perguntas, colocações e livros foram realizados por um professor, Kardec, e já possuem estrutura didática. Há risco no estudo quando as interpretações passam a ser pessoais e carregadas de conceitos subjetivos. Assim, para manter a fidelidade dos estudos é necessário debruçar-se sobre o texto. A clareza e firmeza das considerações dos espíritos afastam qualquer interpretação tendenciosa. No início de grande parte das respostas de O livro dos espíritos, encontramos objetividade: sim, sem dúvida, não, é evidente, bem longe disso, isso é verdade, certamente...
O sucesso do estudo depende do esforço e paciência de ler pausadamente cada linha, cada palavra, silenciar nossos barulhos internos para entender o que os espíritos falam e não o que nós gostaríamos que eles falassem. Posteriormente, extraído o novo conhecimento, colocá-lo rapidamente em prática para que se torne inesquecível.
Por que o jovem se afasta do espiritismo quando começa a ter acesso às universidades, ao mercado de trabalho, à vida adulta?
nunca será um problema se administrada dentro das virtudes que promove.
Se você tivesse que auxiliar um dirigente espírita para que ele desempenhasse melhor a sua performance, o que você faria? Eu o auxiliaria na comunicação. A casa é feita de pessoas que se relacionam através da conversação. Se existe algum ‘ruído’ nesse processo, as consequências são desastrosas. Melindres, fofocas, equívocos, maledicência, mágoas são exemplos de uma comunicação equivocada. Na hora de dizer ou escrever algo, pense naquele que receberá a mensagem, em todos os envolvidos na ação comunicativa. Escreva e fale como você gostaria de ouvir e não apenas como você gostaria de falar. Comunique-se, não desabafe. Elabore sua fala com cordialidade, clareza e objetividade. Colocar-se no lugar de quem escuta vai além de uma habilidade comunicativa, corresponde ao ensinamento do Cristo e revela empatia e amor ao próximo.
Quem busca a casa espírita hoje tem acesso a uma infinidade de informações na internet. Como manter o centro atualizado frente às novas demandas?
Estamos sofrendo de algo chamado Information overload (sobrecarga de informações). Uma revista de renome trouxe a afirmação de que uma criança de 7 anos de hoje tem mais informações do que um imperador romano. Sabemos que os combatentes do espiritismo possuem conhecimento profundo da doutrina. Se por um lado nos espantamos com essas colocações, por outro, fica evidente que deter a informação não é de grande vantagem. Nunca será apenas sobre o quanto se sabe, mas sobre o que fazer com o que se sabe. A casa que se comportar como detentora e fornecedora exclusiva de informação será rapidamente engolida por qualquer site de pesquisa. Nossos centros espíritas não devem ser fontes informativas, e sim fontes transformadoras.
Acredito que inúmeros sejam os motivos. O argumento clássico é o de que não há mais tempo para dedicar-se à mocidade espírita. Porém, se tomarmos os trabalhadores mais envolvidos nas tarefas da casa, descobriremos que são pessoas que possuem uma vida agitada e cheia de compromissos, ou seja a ‘falta de tempo’ não é exclusividade de quem está ingressando na faculdade. Partimos assim para um outro raciocínio. Fazendo um paralelo entre esses dois mundos propostos aos jovens, temos o exterior e o interior. A vida e preocupações mundanas ocorrem em um processo ‘fora’. tornando-se mais fácil, conveniente e lucrativo. Do outro lado, o espiritismo ocorre para ‘dentro’, figurando-se mais reflexivo, pessoal e desconfortável. Nesse impasse, na maioria das vezes, os jovens tendem a escolher o que lhes atende de forma mais imediata. Essa escolha pode ser facilitada, caso a proposta de estudo espírita não atenda às suas expectativas, seja não trazendo significado, seja posicionando-o como mero expectador.
Editora Paideia
Telefone: 11 5549-3053
www.editorapaideia.com.br
Conversa sobre a Bíblia + Os evangelhos, o espiritismo de J. Herculano Pires 280 páginas 14x21 cm
CCDPE-ECM e LIHPE www.ccdpe.org.br/loja
Chico Xavier e o mundo dos espíritos: um estudo de representações sociais de Tiago Paz e Albuquerque 160 páginas 16x23 cm
Correio Fraterno
WhatsApp: 17 99736-9800
www.correiofraterno.com.br/livros Na noite de São Bartolomeu de Jean Lucca (espírito) psicografia de Janaína Farias 304 páginas 16x23 cm
Editoria Record www.record.com.br
Domínio: o cristianismo e a criação da mentalidade ocidental de Tom Holland tradução de Alessandra Bonrruquer
644 páginas 15,5x22,5 cm
5 CORREIO FRATERNO JANEIRO - FEVEREIRO 2023 www.correio.news ENTREVISTA
A casa que se comportar como detentora e fornecedora exclusiva de informação será rapidamente engolida por qualquer site de pesquisa. Nossos centros espíritas não devem ser fontes informativas, e sim fontes transformadoras”
O progresso espiritual a cada reencarnação
Da REDAÇÃO
Através da reencarnação podemos buscar nosso aperfeiçoamento gradual, com o objetivo de expiar as faltas cometidas em outras vidas.
O livre-arbítrio nos foi concedido para que possamos decidir como agiremos no processo evolutivo e se realmente somos capazes de aproveitar essa nova oportunidade para redimir nossas culpas e, assim, elevarmos nosso espírito para o bem.
O romance Juntos outra vez, psicografia de Michell Paciletti e L’Lino (espírito), publicado pela Correio Fraterno, elucida muito bem os caminhos trilhados pelos espíritos que estão em busca de aprimoramento.
Nesse romance, o autor desvenda o envolvimento dos personagens
Paulete e Jean Michel que originaram sua obra Amor maior, publicada em 2013 pela mesma editora, e que agora como Valentina e Martim tra-
zem à tona todas as vivências que marcaram seus personagens.
Espírito evoluído, Valentina procura com muito amor ajudar os necessitados, que estão em recuperação no hospital espiritual de Aurora Nova.
Apesar de tanta dedicação, seu coração pesa por saber que Martim, seu grande amor, encontra-se em zonas umbralinas, rodeado por espíritos trevosos que se tornaram seus algozes, mantendo-o acorrentado a pensamentos de ódio e vingança.
Valentina mantém suas orações e, com muita fé, solicita a oportunidade de voltar à vida física, através da reencarnação, com o propósito de auxiliar Martim no seu processo evolutivo.
Ela se desdobra entre cuidar dos irmãos e visitar Martim no umbral, no intento de visualizar alguma melhora no seu amado, mas o que vê é um jovem totalmente envolto por espíritos doentios.
Mas, o verdadeiro amor enfrenta barreiras e não desiste nunca. Ela consegue
levar Martim ao hospital para que inicie seu processo de recuperação e dessa forma poder trilhar sua nova jornada na Terra. A partir daí o romance segue com os personagens Betina e Guilhermo, pais de Martim; Stefano D’Angelo e Helena, pais de Alicia; e Salvatore e Angelina, pais de Valentina, todos vivendo do trabalho árduo da lavoura em suas terras. Terras essas cobiçadas pelo inescrupuloso Sr. Gilbert, dono de grande parte das propriedades, mas que, ganancioso, insiste em adquirir as terras vizinhas para consolidar o seu império.
No decorrer da leitura muitas situações envolvendo esses personagens ocorrem e uma grande reviravolta mudará todo o rumo da história.
Apesar de serem obras distintas, seria interessante, ao leitor, ler as duas obras Amor maior e Juntos outra vez e, assim, acompanhar o processo de reencarnação, onde o amor, a caridade e a fé são o bem maior para o progresso espiritual.
6 CORREIO FRATERNO JANEIRO - FEVEREIRO 2023 www.correio.news LEITURA
Anália Franco e a dignidade pela educação
Por RITA CIRNE
Quem dentre nós já não se perguntou qual é a nossa missão nessa encarnação? Mas enquanto buscamos respostas, podemos nos inspirar em grandes espíritos missionários que souberam agir de acordo com os seus ideais e deixaram um legado de amor e fraternidade. Esse é o caso de Anália Franco, admirada no meio espírita, mas pouco lembrada fora dele. Nascida no estado do Rio de Janeiro, em 1d e fevereiro de 1853, poderia ter fincado raízes em Resende, sua cidade natal, onde teve oportunidade de estudar e se formar professora. Mas preferiu lançar sementes de amor e sabedoria, fundando instituições de ensino e abrigos em várias cidades do Brasil com o objetivo de cuidar de pessoas em situação de fragilidade social, especialmente crianças e mulheres sem instrução.
Quando faltavam recursos, ela não tinha receio de ir às ruas pedir ajuda para manter as instituições. Também soube defender seus ideais e conquistar a confiança de abolicionistas e republicanos no Brasil do século 19.
O resultado desse trabalho é inegável: fundou 71 escolas, dois albergues, uma colônia regeneradora para mulheres, 23 asilos para crianças órfãos, uma banda musical feminina, uma orquestra, um grupo de teatro e oficinas de artesanato. Atuou em 24 cidades do interior do Brasil e nas capitais de São Paulo e Rio de Janeiro. Não por acaso foi chamada pelo escritor Eduardo Carvalho Monteiro de “a grande dama da educação brasileira”.
Enfrentando o preconceito
Sua preocupação com a educação e sua visão de que através do ensino seria possível mudar a vida das pessoas deram-lhe forças para enfrentar preconceitos e perseguições de que fora vítima. Uma de suas primeiras lutas ocorreu depois da promulgação da Lei do Ventre Livre, aprovada em 1871, que tornava livres os filhos de escravas nascidos a partir de então, mas estes permaneceriam em poder dos senhores até os oito anos, o que levou grande parte deles ao sofrimento pelos descasos e maus-tratos.
Sabendo de tal fato, Anália Franco pediu transferência de seu trabalho de professora na capital de São Paulo e partiu para o interior do Estado, onde instituiu uma escola maternal que funcionava também como abrigo. O sucesso dessa empreitada fez com que ela passasse a administração do local para outras pessoas e viajasse pelo país para fundar outras instituições.
Visão de futuro
Para manter tais escolas, juntamente com um grupo de vinte mulheres, fundou, em 1901, a Associação Feminina Beneficente e Instrutiva, com sede no Largo do Arouche, em São Paulo. Ali, o grupo de colaboradoras fazia artesanatos de todo tipo para serem comercializados no bazar da Associação e em eventos que ajudavam a manter as obras.
Alavancada pelos recursos, Anália foi além, criando ainda mais escolas, creches, bibliotecas, oficinas profissionalizantes e asilos. Em uma dessas fundações nasceu a Colônia Regeneradora Dom Romualdo, que serviu de internato para menores e também retirou mulheres da prostituição, acolhendo-as e dando-lhes vida digna. Ali os internos podiam trabalhar na lavoura e em horticultura.
Identificação com o espiritismo e desencarne
Embora tenha se tornado espírita, após ter entrado em contato com a doutrina para fazer um tratamento para a cegueira temporária que sofreu entre em 1897 e 1898, Anália Franco não atribuía caráter religioso em seus projetos. Ela defendia a liberdade e tolerância e atendia em suas instituições mulheres e crianças de todas as religiões.
Em 1906, aos 53 anos, Anália se casou com o espírita atuante, Antônio Bastos, um período em que aumentou a sua produção literária. Escreveu contos, poesias, matérias para jornais e revistas, e publicou três romances: Égide materna, A filha adotiva e A filha do artista, além de peças teatrais que eram encenadas por seu grupo teatral.
Sempre ativa, ela desencarnou em 20 de janeiro de 1919, em São Paulo, aos 66 anos, vítima da gripe espanhola, no momento em que havia decidido fundar no Rio de Janeiro o Asilo Anália Franco, ideia concretizada posteriormente por seu marido.
“A verdadeira caridade não é acolher o desprotegido, mas promover a sua capacidade de se libertar”: assim acreditava a dama da educação e para isso trabalhou, sendo para muitos uma grande inspiração.
Bibliografia
Grandes espíritas do Brasil, Zêus Wantuil, FEB. Grandes vultos do espiritismo, Paulo Alves Godoy, FEESP
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BAÚ DE MEMÓRIAS O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção e em nossas redes sociais. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.
FebTV “Sheila Costa fala sobre Anália Franco”. FEB.
Jornalista, colaboradora do Grupo Espírita Batuíra e do jornal Valor Econômico
A verdadeira caridade não é acolher o desprotegido, mas promover a sua capacidade de se libertar”: assim acreditava a dama da educação e para isso trabalhou, sendo para muitos uma grande inspiração.
As lições de Allan Kardec para a boa convivência no centro espírita
Sempre atento à qualidade das atividades realizadas nas sociedades espíritas, quando o espiritismo ainda dava seus primeiros passos na França no século 19, Allan Kardec preocupava-se com o fortalecimento da socialização e da união dos grupos nascentes, com foco na delicada tarefa da convivência fraterna entre seus membros. Sabia ele ser esse um guia indispensável para o empreendimento de qualquer trabalho ou estudo do espiritismo.
Em discursos ou em textos na Revista Espírita, por ocasião da abertura e encerramento do ano social da Sociedade Parisiense, há nos comentários de Kardec valiosas instruções para a real compreensão não apenas da doutrina espírita, mas também um convite direto aos espíritas ao empenho pelo cultivo de valores e sentimentos de renovação moral.
Kardec e os espíritos sempre deixaram claro o caráter educativo das instituições espíritas, aspecto importante a ser primeiramente reverenciado em qualquer tarefa, tendo-se os grupos que se formavam como um laboratório fraterno de experiências individuais e coletivas que tinham como finalidade a renovação social através do melhoramento dos indivíduos.
Ensina o espiritismo que não basta saber, sendo necessário vivenciar a aplicação dos conhecimentos adquiridos no aprimoramento das relações humanas, constituindo-se os grupos espíritas células indispensáveis para fomentação de um mundo melhor, mais ético, espiritualizado e fraterno.
“O homem chegou a um período em que as ciências, as artes e a indústria atingiram um limite até hoje desconhecidos. Se os gozos que delas tira satisfazem a vida material, deixam um vazio na alma e ele as-
pira a algo melhor”, já observava Kardec, em 1862, ao se dirigir aos espíritas de Lyon e Bordeaux, em 1862.
Cidadão de vanguarda, Allan Kardec constatava no século 19 que o homem “sonha” com melhores instituições. “Quer a vida, a felicidade, a igualdade, a justiça para todos. Mas como atingir tudo isso com os vícios da sociedade e, sobretudo, com o egoísmo?”, refletia, sabedor que era da imperfeição humana como fonte geradora dos mais diversos conflitos.
Proposta renovadora
Foi assim que o espiritismo chegou à Terra, tendo como bandeira a caridade e muito bem representando a proposta de esforço para a renovação humana, com base nos novos conhecimentos da vida futura e da imortalidade da alma. Havia, ao mesmo tempo, a necessidade de se aprender a fazer nas próprias sociedades espíritas a lição de casa do respeito mútuo e da fraternidade, superando-se melindres, ressentimentos, dissidências.
Hoje, essa delicada tarefa continua e faz lembrar a afabilidade e a seriedade de Kardec em seus encontros com os espíritas, “um banquete de amigos”, segundo ele, que deveria prezar sempre pela união e pelos sentimentos de amor.
Assim como à época do espiritismo nascente, habitamos um mundo imperfeito conforme nosso merecimento e, ainda que as verdades espirituais nos animem e nos consolem, não podemos viver alienados do agora, do que se passa a nossa volta.
Observamos com frequência tantos quadros de desajustes, que assinalam distúrbios mentais e emocionais associados a obsessões, perguntando-nos até quando estaremos a comprometer e a atrasar nossa
caminhada evolutiva nesse orbe repleto de tantas belezas, mas que também nos assusta pela prevalência do materialismo, retratado por vezes pela agressividade e, por outras, pela apatia.
A convivência na casa espírita necessita desse reconhecimento, da consciência de que todos estamos em processo de evolução na complexidade desse mundo contemporâneo bastante conturbado, mas que também nos oferece inúmeras possibilidades de aprendizado e retomadas de rotas. “Coloco em primeira instância o consolo que é preciso oferecer aos que sofrem, erguer a coragem dos caídos, arrancar o homem de suas paixões, do desespero, do suicídio, detê-lo talvez no limiar do crime...”, discursou Kardec em 1862 sobre as tarefas a serem desempenhadas pelos grupos espíritas.
Falíveis e frágeis
Não são poucas as vezes em que a convivência na casa espírita fica estremecida pela falta de observação das condições ainda limitantes da nossa história espiritual. Esquecemos quase sempre de que estamos todos no mesmo barco, navegando nas mesmas águas, mas temporariamente sentados em lugares diferentes, que também nos proporcionam visões e desafios diferentes.
Ser espírita não é apenas uma questão de rótulo, mas exige reflexão. “Não basta dizer-se espírita. Aquele que o é de coração prova-o por seus atos, não pregando senão o bem, o respeito às leis, à caridade, à tolerância e à benevolência para com todos”, escreveu Kardec na Revista Espírita de janeiro de 1867.
Antes, em junho de 1865, já alertava ele que havia espíritas dos mais variados temperamentos. “Entre os impacientes,
há alguns de muito boa-fé e que gostariam que as coisas andassem mais depressa. Assemelham-se a essas criaturas que julgam adiantar o tempo adiantando o relógio. Outros, não menos sinceros, são impelidos pelo amor-próprio a serem os primeiros a chegar; semeiam antes da estação e apenas colhem frutos malogrados. Infelizmente, ao lado destes, existem outros que empurram o carro a mil por hora, na esperança de vê-lo tombar”.
A infiltração espiritual Outro ponto não menos importante enaltecido por Allan Kardec sobre os grupos espíritas foi sobre a questão da invigilância. Sabe-se que os maiores processos obsessivos, individuais e coletivos, começam pelas pequenas brechas de sintonia e sentimentos. Por isso, se a função prioritária da instituição espírita diz respeito ao melhoramento humano, sabe-se também que, por aprendizado, é preciso zelar para que espíritos ainda opostos ao trabalho do Bem não encontrem ambiente propício para tumultuarem as instituições. Aproveitam-se de pequenas desavenças e ausência de sentimentos nobres, situações tão comuns no estado evolutivo em que nos encontramos e que são causadoras de intrigas e disputas
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internas, consequências do orgulho e da vaidade. “Espíritos malfeitores se ligam aos grupos, do mesmo modo que aos indivíduos. Ligam-se, primeiramente, aos mais fracos, aos mais acessíveis, procurando fazê-los seus instrumentos e gradativamente vão envolvendo os conjuntos...”, ensina O livro dos médiuns, item 340.
Sem dúvida, o orar e vigiar deve estar sempre presente também nas relações do centro espírita. “Se o espiritismo não pode escapar às fraquezas humanas, com as quais se tem de contar sempre, pode, todavia, neutralizar suas consequências e isto é o essencial”, observou Kardec (veja o quadro).
Opiniões divergentes
Quantas vezes, nas mais variadas situações da vida, nos desentendemos por não compartilharmos as mesmas ideias, as mesmas opiniões?
Quando isso acontece na convivência nas instituições espíritas, cumpre-nos observar que o equilíbrio e a resposta devem estar focados na obra de Allan Kardec, pois os objetivos do espiritismo não estão relacionados a meras opiniões pessoais, mas a uma orientação doutrinária estabelecida pela teoria espírita tão bem trabalhada por Allan Kardec após a observação dos fatos.
Um roteiro para o centro espírita
• A convivência saudável e prazerosa na casa espírita exige esforços de todos –dirigentes, colaboradores e frequentadores.
• Devem colocar-se em posição de destaque todos os que militam pela causa com coragem [...] e sem segunda intenção pessoal, que buscam o triunfo da doutrina pela doutrina e não pela satisfação de seu amor-próprio.
• São as nossas falhas que causam situações embaraçosas nas nossas relações, atraindo influências espirituais infelizes que podem comprometer o trabalho sério. Sobre o assunto, Allan Kardec analisa, em O livro dos médiuns, o perigo da influência espiritual negativa nos grupos espíritas e prescreve valioso roteiro de valores para afastar essas influências:
o Perfeita comunhão de vistas e de sentimentos;
o Cordialidade recíproca entre todos os membros;
o Ausência de todo sentimento contrário à verdadeira caridade;
o Um único desejo: o de se instruir e se melhorar por meio dos ensinos dos espíritos e do aproveitamento de seus conselhos.
Não se trata, portanto, de buscar soluções com base em “achismos”, mas em ações responsáveis apoiadas na fidelidade aos princípios espíritas elencados e analisados amplamente nas obras de Allan Kardec, o que permitirá uma linguagem comum a todos em momentos de dúvidas ou conflitos.
Aqui se vê a importância do estudo sério e constante do espiritismo como um todo e não apenas a simples leitura de partes de capítulos de uma obra tão vasta, que podem até mesmo ser utilizadas erroneamente para justificar defesas pessoais.
Como observou o escritor e filósofo
J. Herculano Pires, o espiritismo ainda é “um grande desconhecido” e Allan Kardec deixou muito claro que o conhecimento de qualquer ciência exige tempo de dedicação.
O estudo, para melhor compreensão, e a caridade, para melhor vivência, constituem-se nos dois grandes pilares de sustentação dos trabalhos desenvolvidos na casa espírita, cuja síntese se realizará através da fé raciocinada, que deverá nortear os valores para uma melhor convivência.
Kardec destacou que, para neutralizar a
influência de ideias errôneas, é preciso um maior empenho na divulgação dos temas espíritas e na formação de “adeptos” esclarecidos. “Está provado que o espiritismo é mais entravado pelos que o compreendem mal, do que pelos que não o compreendem absolutamente”, observou.
Compromisso ético Naturalmente, o espiritismo nos convida a um novo olhar para as relações, e as casas espíritas nos oferecem as oportunidades de vivenciar essa experiência a todo momento.
A ética espírita relembra as lições de amor, sabedoria e justiça enaltecidas por Jesus, o espírito mais evoluído que esteve entre nós: Não fazer ao outro o que não gostaria que lhe fizessem.
Kardec também chamou a atenção sobre isso na Revista Espírita de 1864: “A caridade e a fraternidade são reconhecidas pelas obras e não por palavras. (...) É a pedra de toque com a qual identificamos a sinceridade dos sentimentos. E, em espiritismo, quando se fala de caridade, sabemos que não se trata apenas daquela que dá, mas sobretudo daquela que esquece e perdoa, que é benevolente e indulgente, que repudia todo sentimento de inveja e rancor”.
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A modéstia de um grande educador
Allan Kardec, antes de se dedicar à elaboração da doutrina espírita, exerceu na França durante 30 anos sua missão de educador. Discípulo de Pestalozzi, começou por aplicar o método do mestre, mas desde o princípio (ainda Hippolyte Léon Denizard Rivail) revelou ideias próprias e uma personalidade segura.
Seus primeiros textos pedagógicos mostram o quanto estava integrado em sua tarefa, refletindo sobre o papel de educador e propondo soluções aplicáveis para a melhoria do ensino de seu país.
Kardec teve amplo conhecimento em várias áreas, embrenhando-se com facilidade pela ciência e pela filosofia, fazendo parte de numerosas associações científicas. Mas, como educador, aplicava toda a sua cultura e suas especializações acadêmicas na instrução de crianças e jovens, seja em sua própria casa, seja em institutos de ensino, que fundou ou que atuou, ou ainda em numerosos livros didáticos, publicados ininterruptamente nos anos de dedicação ao magistério.
Sua atuação como educador, pouco conhecida por causa de sua modéstia e discrição, e ofuscada depois pela fama adquirida no campo espírita, mostra que Rivail era um sábio distinto e laureado, mas que preferia por convicção e ideal, dedicar seus talentos à obra educativa. Ele mesmo, em alguns de seus textos, comenta sobre os preconceitos de algumas pretensas sumidades, que consideram indigna de um sábio a função de educador.
Embebido, porém, dos ideais pesta-
lozzianos, Rivail assumiu com dignidade, competência e autoridade moral a tarefa de educar crianças e jovens de seu tempo para se tornarem homens dignos como ele. Tendo sido druida em recuada encarnação, ele estava repetindo a tarefa educativa, pois os sacerdotes celtas não eram apenas os zeladores da fé de seus antepassados, mas também os educadores da juventude e os líderes políticos daquela sociedade.
Rivail e a esposa, Amélie Boudet, não tiveram filhos, o que não impediu que sua
obra atingisse filhos alheios e, mais tarde, toda a humanidade com a codificação do espiritismo.
Tanto no exercício do magistério, como na execução de sua missão mais ampla, a de elaborar a doutrina espírita, Kardec revela o equilíbrio, a integridade, a força moral e a inteligência lúcida de um espírito extremamente evoluído. Apesar da amplitude de seu conhecimento e de sua estatura moral, sabe ensinar traduzindo os conceitos mais difíceis em linguagem simples, clara, objetiva, usando uma lógica inapelável e, ao mesmo tempo, sabe evitar o personalismo e a exibição de si. Nunca uma doutrina foi tão transparente e racional, coerente e bem encadeada como a espírita e nunca um homem eminente soube tão bem exaltar a Verdade, apagando a si mesmo e declarando-se sempre mero operário da obra, quando mereceu e merece, por todos os motivos, o título de mestre.
Referência: A educação segundo o espiritismo, de autoria de Dora Incontri, ed. Feesp.
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ESPÍRITA
O trabalho entre os dois mundos para os ajustes em A gênese
Por LUCIANA FARIAS
Entre fevereiro e setembro de 1868, Allan Kardec trabalhou em parceria com espíritos para atualizar o conteúdo de sua última obra – A gênese, os milagres e as predições segundo o espiritismo – lançada naquele ano. Quatro novos ensinamentos foram acrescentados ao texto, vários trechos foram revistos e algumas correções realizadas. Infelizmente, sua morte em 31 de março de 1869 o impediu de ver a nova edição nas livrarias. Coube a sua esposa, Amélie Boudet, cuidar das tramitações finais com editora e tipografia, para torná-la disponível ao público em três livrarias, ainda em 1869.
Como ficamos sabendo de tantos detalhes dessa história?
Manuscritos adquiridos recentemente pelo museu AKOL da extinta Livraria Leymarie, em Paris, e também parte do acervo de cartas de Kardec, recebido por Canuto Abreu desta mesma fonte no início do século 20, contém o registro desses acontecimentos e muitos outros. (vide imagens).
Foi um mês após ter sido lançada A gênese que um espírito sugeriu a Kardec que realizasse sem demora ajustes na obra para eliminar trechos que poderiam ser mal interpretados por detratores e para tornar o texto mais conciso, abrindo espaço para incluir elementos novos e urgentes.
Equipe de peso
Participaram dessa empreitada os espíritos Pierre Paul Didier (1800 -1865), o editor de O livro dos espíritos (a partir da 2ª edição), Galileu Galilei (1564-1642), astrônomo, físico e engenheiro italiano, e François Arago (1786-1853), matemático, físico e astrônomo francês, entre outros, cujos nomes não foram revelados.
Em julho, falando em nome de vários espíritos, Didier elogiou o progresso de Kardec, propôs mais alguns ajustes e concluiu: “Continue assim e faremos um bom trabalho”. Arago recomendou a inclusão na obra de uma comunicação sua, que trata da solidariedade das revoluções morais e materiais (presente nos itens 8 e 10 do capítulo 18) pois, segundo ele, o filósofo e o cientista aí encontrariam proveito; também, de um texto ditado por
Acima, comunicação de Didier, que Kardec intitulou de “Correção de A gênese” (18/07/1868, médium Desliens)
ele como nota de rodapé no item 8 do capítulo 11. Galileu sugeriu o acréscimo de suas explicações sobre o aumento ou diminuição do volume da Terra (que consta no final do capítulo 11), fazendo a ressalva de que se tratava de uma opinião pessoal.
Edição rara
O próprio Kardec registrou, no rascunho de uma carta, que havia concluído a nova edição de A gênese com correções e acréscimos importantes e que, em setembro de 1868, o texto estava na tipografia para impressão das provas, uma das etapas
iniciais para a publicação. Amélie declarou, em um relatório, que a tiragem dos exemplares da 5ª e da 6ª edição (as primeiras com o texto atualizado), só ocorreu no ano seguinte, com o custo unitário de 1,95 euros para os encadernados e prontos para venda. Um exemplar da 5ª edição de 1869, uma das citadas por Amélie, faz parte do acervo da biblioteca da Universidade de Neuchâtel, na Suíça. Trata-se de uma edição rara, da qual foi encontrado somente este exemplar, digitalizado e disponibilizado pelo museu AKOL em março de 2020.
Ao lado, comunicação em que Galileu propõe complementos em seu texto sobre o aumento e diminuição do volume da Terra e o acréscimo em A gênese (01/08/1868, médium Desliens)
Do trabalho colaborativo entre dois mundos foi escrita por Allan Kardec a edição revista, corrigida e aumentada de A gênese, traduzida para vários idiomas, como o português, espanhol e inglês.
Com base nos documentos da época preservados até a atualidade, conseguimos estruturar um resumo dos fatos ocorridos, sendo esta mais uma contribuição para a historiografia do espiritismo.
Pesquisadora junto ao museu Allan Kardec Online e o CSI do Espiritismo (Imagens e Registros Históricos do Espiritismo. Também colabora com o site Obras de Kardec.
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ARTIGO
Trechos do manuscrito de Galileu incluídos em A gênese
DE NEUCHÂTEL,
MUSEU
MUSEU
UNIVERSIDADE
SUÍÇA
AKOL
AKOL
CULTURA & LAZER
CRIPTOGRAMA DO CORREIO
Estudo das obras de Chico Xavier
Com apoio da USE Distrital Jabaquara, o CCDPE Eduardo Carvalho Monteiro realizará de 28 de fevereiro a 28 de novembro curso a distância sobre “A literatura psicográfica de Chico Xavier – Fases e repercussões”. As aulas serão online pelo Google Meet, às terças-feiras, das 20h às 21h30, sob a coordenação de Antonio Cesar Perri de Carvalho. Informações e inscrições: https://ccdpe.org.br/cursos/
EAD Espiritismo
MAR 10
O curso é oferecido pela Federação Espírita Brasileira atodos que desejam realizar estudos daDoutrina Espírita na modalidade à distância. Em ambiente virtual dinâmico e interativo, serão contemplados 10 temas de estudo não sequenciais. Cada participante pode se inscrever em, no máximo, dois estudos de seu interesse. A inscrição é gratuita, de 7 de fevereiro a 2 de março, e as aulas vão de 10 de março a 20 de maio. Dentre os temas a serem escolhidosestão: Princípios da doutrina espírita, leis morais, reencarnação, vida no mundo espiritual e pluralidade dos mundos habitados. Informações e inscrições: https://eadfebnet.org.br/course/ou pelo email eadespiritismo@febnet.org.br.
IEEF São Paulo
O Instituto Espírita de Estudos Filosóficos, além dos cursos regulares, online e presencial (sábados às 10h30), inicia novas turmas para dois cursos modulares, com duração de quatro meses, no primeiro semestre de 2023: “No que consiste a vida serena para Epicteto?” (às quintas-feiras, às 11h, com início em 16 de março), e “Sócrates e o espiritismo” (às segundas-feiras, às 14h, início em 3 de abril). As aulas serão online. Inscrições em www.ieef.org.br
FEV 28 MAR 18
Para letras iguais, números iguais. Resolva o desafio que tem como destaque o nome do autor da série de livros “Histórias que os espíritos contaram”, ed. Correio Fraterno.
ENIGMA Qual a sede da alma?
A alma não está localizada num ponto particular do corpo. Forma com o perispírito um conjunto fluídico, constituindo um ser complexo. Podemos supor dois corpos semelhantes na forma, um encaixado no outro, confundidos durante a vida e separados depois da morte.
16 MAI 26
Congresso
Espírita Internacional 2023
Promovido pela Federação Espírita Portuguesa, acontece nos dias 18 e 19 de março o Congresso Espírita Internacional, que terá como tema: Espiritismo e renovação social – reflexões com base na Revista Espírita. O evento será realizado no auditório da Faculdade de Medicina Dentária, em Lisboa. Inscrições: feportuguesa.pt/congresso
Conupes 2023
Será realizado de 26 a 27 de maio o 4º Congresso Internacional de Saúde e Espiritualidade na cidade de Juiz de Fora, MG. O evento acontece no Trade Hotel JF, av. Presidente Itamar Franco, 3800 e contará com Fábio Fortes, Fabrício Oliveira, Alessandra Luchetti, Alexander Almeida, Angélica Almeida e também com presenças internacionais, como do médico e pesquisador Christopher Kerr, dos Estados Unidos.
O congresso também englobará assuntos sobre as áreas de humanidades, e ciências sociais aplicadas, filosofia, sociologia, história, jornalismo, artes, literatura, educação.
Realização: Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde.
1- Ação que favorece uma boa prece
2- Onde Jesus nasceu
3- Uma das médiuns da codificação
4- Nome de um dos evangelistas
5- Noiva de Saulo de Tarso
6- Médium que recebeu o livro clássico Memórias de um suicida, FEB.
7- Uma das formas de expiação
8- Uma das formas de a alma se emancipar
9- Cidade de Eurípedes Barsanulfo
10- A fé pode ser humana ou _ _ _ _ _ _?
11- A porta que não é a larga
12- Não existem para os espíritas
13- Número de obras da base da codificação
14- Estrada do encontro de Saulo com Jesus
15- O mesmo que médium escrevente
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Mesa que gira
Roteiro e Ilustração: Hamilton Dertonio
Fonte: O que é o espiritismo
Allan Kardec, cap. 3.
Elaborado por Izabel Vitusso e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno
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Suicídio por obsessão
Da REDAÇÃO
Sim, mas isso não exime o suicida da responsabilidade pelo ato, pois ele dispõe sempre do livre-arbítrio para ceder ou resistir às sugestões a que é submetido.
Allan Kardec traz essa explicação no livro O céu e o inferno, que reúne depoimentos de vários espíritos sobre sua passagem para o mundo espiritual, o momento da desencarnação e os desafios da adaptação para a vida sem o corpo físico.
Através de entrevistas com espíritos elevados, medianos e inferiores, Kardec separa em um capítulo a pesquisa que fez com espíritos suicidas, dentre os quais Antoine Bell, que dizia ter sido levado por um obsessor ao suicídio. Ele era o caixa de uma casa bancária do Canadá e suicidou-se em fevereiro de 1865.
Um dos correspondentes da Revista Espírita, médico e farmacêutico residente na mesma cidade, informava que ele era um homem tranquilo e chefe de numerosa família. Dizia que havia comprado um ‘tóxico’ em sua farmácia, servindo-se dele para envenenar alguém. “Muitas vezes vinha suplicar-me para lhe dizer a época de tal compra, tomado então de alucinações terríveis. Perdia o sono, lamentava-se, batia-se no peito. A família vivia em constante ansiedade.
Antoine Bell foi evocado em Paris, em abril de 1865 e, dizendo que tinha horror ao crime praticado e que estava arrependido, contou:
– Um espírito obsessor e vingativo, que não era outro senão o pai da minha vítima, se apoderou de mim e fez reviver no meu coração, como em mágico espelho, as
Um espírito obsessor pode levar uma pessoa ao suicídio?
voluntário, a que seria ainda submetido na próxima encarnação.
Evocando o guia do médium, Kardec então pergunta se um espírito obsessor pode, realmente, levar o obsidiado ao suicídio. E obtém como resposta:
– Certamente, pois a obsessão que, de si mesma, já é um gênero de provação, pode revestir todas as formas. Mas isso não quer dizer isenção de culpa, porque o homem sempre dispõe do seu livre-arbítrio para ceder ou resistir às sugestões a que o submetem.
O guia explica também que o espírito que tem a ação instigada por outrem é menos culpado e repreensível do que quando ela é voluntariamente cometida. Mas nem por isso se inocenta de culpa, porque, afastando-se do caminho reto, mostra que o bem ainda não está em seu coração.
O guia do médium responde como, apesar da prece e do arrependimento terem libertado esse espírito da visão tormentosa da sua vítima, pôde ele ser atingido pela vingança de um obsessor na última encarnação:
lembranças do passado. Fascinado por ele, deixei-me arrastar para o suicídio.
Antonie revelou que na penúltima encarnação amava uma moça, mas que ele, pobre, foi repelido pela família. Ao ser avisado de que ela se casaria com o filho de um negociante, louco de dor, resolveu
SUA DOAÇÃO FAZ A DIFERENÇA
acabar com a vida, não sem deixar de assassinar o rival no dia do seu casamento.
Na sessão em que foi evocado, Antonie pede que orem para que o espírito que o obsidiou renuncie à sua vingança, e também por ele, para que tenha forças para não ceder novamente à prova do suicídio
– O arrependimento é apenas a preliminar indispensável à reabilitação, mas não é o bastante para libertar o culpado de todas as penas e que não bastam promessas; é preciso a prova, por atos, do retorno ao bom caminho. O espírito é submetido a novas provações que o fortalecem, resultando-lhe um merecimento ainda maior quando delas sai triunfante. Ele só sucumbe com a perseguição dos maus, dos obsessores, enquanto estes não o encontram suficientemente forte para resistir-lhes.
13 CORREIO FRATERNO JANEIRO - FEVEREIRO 2023 www.correio.news QUEM PERGUNTA QUER SABER
Lucimara Alves, Andradina, SP
Região do ABC
Retirada de doações para o Bazar Permanente ligue: (11) 94454-7048
Roupas, calçados, brinquedos, eletroeletrônicos, utensílios domésticos, móveis em bom estado, mantimentos, etc
Fui até lá em espírito
Da REDAÇÃO
Era comum Eurípedes Barsanulfo entrar em transe mediúnico, no curso de uma aula. Quando voltava, explicava aos alunos o que de bom fizera naqueles instantes. Certa vez, após o transe, ele, sorrindo, argumentou:
– Prestem atenção. Acabo de estar em uma residência, atrás da igreja do Rosário, fazendo um parto difícil. O marido não sabe que já é pai e está a caminho daqui. Vem a cavalo e com roupa de montaria. Ele está, neste momento, apeando em frente o colégio. Vai agora subir os degraus da escada. Quando ele entrar na sala os senhores devem ficar em pé e depois sentar. Atenção, ele vai entrar...
E o homem com chapéu e roupa de montaria entrou muito aflito, pedindo a Eurípedes Barsanulfo que fosse urgentemente fazer o parto, pois a mulher estava passando muito mal.
– Acalme-se, respondeu o médium,
sorrindo. Fiz o parto há cinco minutos.
– Não é possível, ‘seu’ Eurípedes. Há cinco minutos eu teria visto o senhor pelo caminho.
– O senhor não me viu porque fui em espírito. Mas, eu vi o senhor. Pode voltar para sua casa, sossegado. A menina que nasceu é bonita e forte.
O homem, porém, duvidou e, temendo pela vida da mulher, levou Eurípedes Barsanulfo de volta. Ao ver o médium, a esposa, com a filhinha deitada ao lado, exclamou:
– O senhor não precisava vir de novo, ‘seu’ Eurípedes... Eu e o bebê estamos passando bem!
Eurípedes Barsanulfo, então, regressou rapidamente ao colégio para continuar a aula interrompida.
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ASSIM
Fonte: Eurípedes Barsanulfo, o apóstolo da caridade, ed. Correio Fraterno.
FOI
Adversidades
Por UMBERTO FABBRI
Dizem que a maneira como enfrentamos nossos problemas revela nosso caráter e poderíamos acrescentar que nossa maturidade espiritual também pode ser avaliada ao nos depararmos com problemas, contrariedades e situações alheias à nossa vontade que nos tragam desconforto, angústia, medo, dor e tantos outros sentimentos contraproducentes. Eles podem ser testes para estimar nossa condição evolutiva e também a oportunidade de refazermos o que em outra ocasião realizamos de maneira indevida.
Cada um, frente a uma dessas situações, precisará tomar uma decisão, adotar uma postura para lidar com os desafios que a vida nos apresenta. Entretanto, nem sempre conseguimos ser assertivos em nossas reações e atitudes, pois ainda não educamos a emoção, os sentimentos, e, infelizmente, mesmo detendo o conhecimento teórico, acabamos por falir em nossa prova prática.
Exemplos vivos
Vejamos o caso de Judas e Pedro, apóstolos de Jesus: os dois receberam os ensinamentos diretamente do Mestre, observaram-no, caminharam com ele, presenciaram as curas, as desobsessões, as orientações confortadoras e amorosas, alimentaram-se de sua vibração ímpar e contagiosa do amor puro. Todavia ainda possuíam em seu íntimo dificuldades emocionais necessitadas de transformação.
Judas, ainda iludido por um poder que de fato não existia da forma em que acreditava, trai o amigo leal e devotado. Não
que lhe desejasse o mal, mas deixou seu orgulho comandar suas escolhas, mesmo tendo convivido com o exemplo máximo da humildade, da fraternidade e da paz. Não suportando o resultado de suas escolhas, tira a própria vida, ampliando sua dor e sentimento de culpa.
Pedro, sempre enérgico e voluntarioso, nega conhecer Jesus por três vezes, pois permitiu que o medo e a insegurança guiassem seus passos, mesmo tendo compartilhado de
perto com a fé e a segurança inabalável de Jesus. Arrependido, supera sua culpa e vergonha tornando-se o braço forte do Evangelho na Terra. Socorreu, amou, alimentou e curou tantos quantos lhe foram possíveis.
Dentro deste episódio, encontramos ainda a postura firme e exemplar do mestre nazareno
Seu martírio foi um grande teste para todos. Alguns se destacaram, outros faliram, mas todos eles continuaram a receber a ajuda, o amparo, o conforto espiritual de Jesus,
pois ele nos ama sem exceção ou condições e sabe que necessitamos de tempo para efetivar nosso crescimento e aprendizagem.
Frente às adversidades, comportou-se com fé e coragem. Não atacou, não desistiu, não revidou ou odiou a quem o ferira. Deixou-se abater fisicamente para que com seus exemplos aprendêssemos a superar as desventuras e o mal que ainda reside em nós e no coração de nosso semelhante.
Pequenas e grandes escolhas
Durante muito tempo, e ainda hoje, assistir aos filmes ou ler sobre os momentos finais de Jesus encarnado sempre me trouxe tristeza e grande desconforto. Ontem, esta tristeza nascia por ver um homem bom sofrer injustamente. Hoje a consternação vem de saber que ‘nós’ lhe causamos, com nossa ignorância e rebeldia, no mínimo certo sofrimento. Mas, assim como Judas e Pedro, temos a opção de desistir ou de enfrentar nossas escolhas, bem como a moléstia do desamor que ainda reside no mundo, e optarmos pelo trabalho em servir ao Evangelho redentor com todo nosso coração, propagando-o com nosso exemplo, nos sustentando na fé e na certeza de um mundo melhor que nos cabe construir, dia a dia, nas pequenas e grandes decisões.
Profissional de marketing, Umberto é orador e escritor brasileiro, morando atualmente na Flórida, EUA. Autor de diversos livros espíritas, dentre eles: O traficante (pelo espírito Jair dos Santos) O político (Adalberto Gória) e Bastidores de uma casa espírita (Luiz Carlos), ed. Correio Fraterno.
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DIRETO AO PONTO
Assim como Judas e Pedro, temos a opção de desistir ou de enfrentar nossas escolhas, bem como a moléstia do desamor que ainda reside no mundo”
MÍDIA DO BEM
Este espaço também é seu. Envie para nós as boas notícias que saíram na mídia! Se o mal é a ausência do bem, é hora de focar diferente!
Alunos de escola pública vencem concurso de robótica com projeto de saúde mental
Por que o tédio pode ser bom para o cérebro
Motorista de ônibus escolar ensina crianças a ler e vira ídolo dos alunos
Estudantes de escolas da rede pública de Ensino Médio Integral, em Goiás, apresentaram um projeto de tecnologia sobre saúde mental, na Campus Party Brasil 2022, em Goiânia, e conquistaram o primeiro lugar da competição.
Alunos e professores criaram juntos o protótipo PsicoAção para o desafio: “Soluções inovadoras na realidade pós-covid: resolvendo dores relacionadas à saúde, relações humanas e economia através da tecnologia”.
O projeto pretende oferecer assistência psicológica ao grande número de pessoas afetadas pela pandemia e conta com a ajuda de psicólogos e estagiários, que auxiliarão os usuários cadastrados por meio de terapias online, com valores bem acessíveis, explica a professora Mayara Dias, uma das mentoras do projeto.
Fonte: Razões Para Acreditar
O tédio, mesmo com sua má reputação, pode aumentar nossa criatividade e o comprometimento com as tarefas e nossa produtividade no trabalho.
A neurocientista Alicia Walf, pesquisadora do departamento de Ciências Cognitivas do Instituto Politécnico Rensselaer, nos Estados Unidos, afirma que é fundamental para a saúde cerebral se deixar ficar entediado de vez em quando.
“Os neurocientistas concluíram que o cérebro tem uma rede de modo padrão que é ativada quando paramos de fazer coisas. Ele pode fomentar ideias criativas, reabastecendo as reservas reduzidas e proporcionando um período de incubação para que surjam ideias de trabalho embrionárias”, explicou Walf à revista Forbes.
Fonte: Portal G1
Herman Cruse, 55 anos, de Nova Jersey, Estados Unidos, é motorista de ônibus escolar e aproveita as rotas que faz todos os dias para buscar os alunos para também ensinar as crianças a ler e escrever.
O pequeno projeto começou quando notou durante o trajeto para a escola que o aluno do jardim de infância triste e indisposto estava com dificuldades com leitura e decidiu ajuda-lo. Desde então, ele tem feito isso com vários outros pequenos. “Os motoristas de ônibus são os olhos e os ouvidos dos alunos quando estão longe de casa […] Temos um dom incrível para discernir o que as crianças estão sentindo”, disse. Herman, recebeu permissão do professor da criança de 6 anos para aparecer na sala de aula na semana seguinte e passou a receber telefonema de outros pais. Hoje o motorista auxilia dezenas de alunos na leitura e também na escrita.
Fonte: SonoticiaBoa
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Alex Bakley