Correio Lageano - #forçachape

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DESDE 1939, O JORNAL DA SERRA CATARINENSE

CORREIO L AGEANO QUARTA-FEIRA, 30 | NOVEMBRO | 2016

R$ 2,50

Antonio Jader

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EDIÇÃO 16.902


especial

QUARTA-FEIRA, 30 | NOVEMBRO | 2016

CORREIO LAGEANO

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#forçachape E hoje é um desses momentos ruins, que doem no peito e nos deixam sem reação. Mesmo de longe, estou enviando boas energias e de solidariedade.”

Que notícia mais triste! Um time que estava tão bem, com jogadores excelentes e com famílias que estavam orgulhosas deles. Muito triste mesmo.”

Estou muito abalado com a tragédia que se abateu sobre o time da Chapecoense. Envio as minhas condolências aos familiares dos que pereceram no acidente.”

Carolina Boufleuer Florêncio

Arina Rodrigues

Névio Fernandes

Chapecoense simboliza

Cidade fica em clima de luto após acidente Site Chapecoense

Valente, a equipe voltará aos gramados, mas o acidente deixará para sempre uma mancha na história dos catarinenses. Mauro Maciel redacao@correiolageano.com.br

E

stava escuro e ainda era madrugada quando o ruído da chuva fina foi interrompido pelo barulho dos aparelhos celulares. Assim foi o despertar dos lageanos e dos catarinenses ao serem informados, incrédulos, sobre a tragédia que mutilou uma equipe, consternou uma cidade e deixou o esporte nacional em luto. Os sonhos perseguidos ao longo de 43 anos, pela Associação Chapecoense de Futebol, foram abruptamente interrompidos por um acidente aéreo. A equipe, que disputa a Série A do Campeonato Brasileiro, de forma inusitada, está na final da Copa Sul-Americana de Futebol e viajou para a Colômbia, onde enfrentaria o Atlético Nacional de Medellín. A queda ocorreu há poucos quilômetros do aeroporto de destino. A aeronave decolou de São Paulo

com mais de 70 pessoas, entre atletas, comissão técnica, jornalistas e convidados. Convidados porque a partida seria festiva. Independentemente de resultados, marcaria a história de um time do interior, que nos últimos anos se tornou referência em organização, gestão e conquistas. Ao longo do dia, as informações, inicialmente desencontradas, foram se confirmando, dando a dimensão da tragédia: apenas seis pessoas que estavam na aeronave sobreviveram.

A comoção tomou conta do País e foi notícia no mundo. A Conmebol, a pedido do Atlético de Medellín, estuda a possibilidade de conceder o título à Chape e equipes brasileiras se propuseram a ceder atletas para manter o time vivo. Atitudes que não apagam as marcas do acidente, mas valorizam os seres humanos, que levavam no peito um símbolo da valentia esportiva catarinense. > Leia mais informações sobre este tema nas próximas páginas

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A cidade parou Pontos turísticos, empresas e locais públicos colocaram faixas pretas para declarar seu luto. O prefeito de Chapecó, Luciano Buligon, decretou luto oficial de 30 dias. As festividades de Natal foram canceladas e as aulas em escolas públicas suspensas. O presidente do Brasil, Michel Temer, decretou luto oficial de três dias. A empresária Roseli Broring, lageana e moradora de Chapecó há seis anos, conta que a população está em choque e com dificuldade de acreditar no que aconteceu. “A cidade está em compasso lento, todas as pessoas estão envolvidas com o time que estava em plena ascensão, representando não só o Estado, mas o País”, acrescenta Roseli. A Arena Condá, estádio oficial do time, abriu as portas para receber torcedores e familiares das vítimas. Na tarde de ontem, as pessoas ocupavam as arquibancadas e também a parte de fora do estádio. Uma equipe de psicólogos deu assistência às famílias que aguardavam por notícias.

Camila Paes camilapaes@correiolageano.com.br

Chapecó amanheceu assustada. Depois de comemorar a classificação do time para a final da Copa Sul-Americana, a notícia do acidente aéreo que vitimou equipe técnica e jogadores da Chapecoense, tripulantes e jornalistas, impactou os moradores e, principalmente, os torcedores do time. O militar Alex Thomaz de Almeida é torcedor do time desde que passou a morar na cidade, há três anos. Sócio-torcedor, costuma ir a todas as disputas com a filha Amanda Almeida, de 11 anos. Logo cedo, por volta das 6h da manhã, acordou e leu a notícia no Twitter. “Eu não conseguia acreditar, comecei a pesquisar em outros sites para confirmar a veracidade,” contou o torcedor. A esposa, a assistente social Michelle Amanda Almeida, também teve dificuldades para aceitar o fato. O casal é vizinho de um dos membros da comissão técnica do time, Eduardo Preuss, o Cadu, uma das vítimas fatais. Ela explica que a cidade está em comoção geral. Os filhos do casal, Amanda e Theo (3), estão abalados e choraram com a notícia do acidente. Ele costumava levar Amanda à escola todos os dias. Divulgação

a valentia do esporte catarinense

Amanda e o jogador Neto


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QUARTA-FEIRA, 30 | NOVEMBRO | 2016

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#forçachape Quero homenagear a todos os profissionais que se dedicam ao seu trabalho com um amor tão grande que pode até lhes custar a vida.”

Vocês são heróis, guerreiros, gigantes, muito mais do que jogadores e pessoas honradas! Vocês fizeram, fazem e farão muita história ainda.”

Força para todos os familiares que perderam pessoas queridas nessa tragédia. Colegas jornalistas que partiram e desfalcaram para sempre as redações.”

Pablo Gomes

Gabriel Fernandes

Letícia Bohrer

A tragédia ceifou vidas, sonhos e

comoveu catarinenses, brasileiros e o mundo Avião caiu a poucos quilômetros do aeroporto. Causas ainda serão investigadas pelas autoridades colombianas.

DETALHES DO ACIDENTE

Adecir Morais regional@correiolageano.com.br

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clima era de festa, alegria e expectativa. Um time humilde estava vivendo momentos de glória e euforia. Depois de chamar a atenção com um futebol de qualidade, o Verdão do Oeste, como é carinhosamente chamado, estava prestes a entrar em campo para a primeira partida da decisão da Copa SulAmericana. Mas um imprevisto mudou todos os planos da forma mais trágica possível. Era 0h30 (horário da Brasília, 21h30 no horário local), de ontem, quando o voo fretado da empresa boliviana Lamia sofreu um acidente ao se aproximar do Aeroporto Jose María Córdova, em Medellín, na Colômbia, onde a Chapecoense iria enfrentar o Atlético Nacional de Medellín, no primeiro duelo da final do torneio Sul-Americano. Havia 77 passageiros entre membros da equipe, jornalistas e nove tripulantes. Até ontem à tarde, as autoridades confirmavam 71 mortes. Sete pessoas foram resgatadas com vida, mas uma morreu no hospital. O lateral Alan Ruschel, o zagueiro Neto, os goleiros Jakson Follmann e Marcos Danilo Padilha, o jornalista Rafael Henzel e dois integrantes da tripulação foram levados aos hospitais da região. Danilo, porém, não resistiu aos ferimentos e morreu em seguida.

> Local_O acidente ocorreu em uma região montanhosa, perto de Medellín. O local é de difícil acesso e as equipes de buscas tiveram muito trabalho para resgatar as vítimas, mas é próximo do aeroporto onde a aeronave iria pousar. Segundo as autoridades, o último sinal com a torre de controle ocorreu quando o avião estava a 15.500 pés, a cerca de 30 quilômetros do aeroporto.

Medellín. Fundada em 1675 por colonos espanhóis, Medellín, também conhecida como Medeline, fica na província de Antioquia, localizada no noroeste da Colômbia. Possui cerca de 2,7 milhões de habitantes (2012). É a segunda cidade mais populosa do país. Fica a cerca de 4,5 mil quilômetros de São Paulo.

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> Rota_A delegação da Chape saiu do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, às 15h15 de segunda-feira (28), em um voo comercial da empresa Boliviana Avación com destino a Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. De lá, embarcou no voo da Lamia para Medellín.

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QUARTA-FEIRA, 30 | NOVEMBRO | 2016

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#forçachape O Corpo de Bombeiros de Santa Catarina se solidariza com os familiares, amigos, torcedores e admiradores das vítimas do trágico acidente ocorrido nesta madrugada.”

A dor que sentimos não tem explicação, só Deus para nós trazer paz em um momento tão difícil! A madrugada foi chuvosa e o dia amanheceu triste!”

Que o verde da esperança se sobreponha a dor, que os desastres coletivos (por mexerem emotivamente com a coletividade) sirvam para reflexão sobre a vida e seu fim.”

Corpo de Bombeiros Militar de SC

Ryan Andrade

Edson Marcondes

Temer determina ajuda às famílias de brasileiros Andressa Ramos andressa@correiolageano.com.br

O presidente da República, Michel Temer, decretou luto oficial de três dias em função da queda da aeronave que levava jogadores da Chapecoense e jornalistas brasileiros à cidade de Medelín, na Colômbia. O presidente também determinou que a Aeronáutica disponibilize aeronaves para as famílias e para translado das vítimas. Temer manifestou solidariedade às famílias das vítimas e determinou

ajuda imediata a famílias dos brasileiros. o Itamaraty que faça contato com governo colombiano e com a prefeitura de Medellín. Confira a íntegra da nota: “Nesta hora triste que a tragédia se abate sobre dezenas de famílias brasileiras, expresso minha solidariedade. Estamos colocando todos os meios para auxiliar familiares e dar toda a assistência possível. A aeronáutica e o Itamaraty já foram acionados. O governo fará todo o possível para aliviar a dor dos amigos e familiares do esporte e do jornalismo nacional.”

Vítimas Atletas

Marcos Danilo (goleiro)

Jakson Follmann (goleiro – resgatado com vida)

Filipe Machado (zagueiro)

Marcelo Augusto (zagueiro)

Neto (zagueiro, resgatado com vida)

William Thiego (zagueiro)

Alan Ruschel (lateral, resgatado com vida)

Dener Assunção (lateral)

Gimenez (lateral)

Gil (volante)

Mateus Biteco (volante)

Josimar (volante)

Ananias (meia)

Arthur Maia (meia)

Bruno Rangel (atacante)

Aílton Canela (atacante)

Cleber Santana (meia)

Kempes (atacante)

Lucas Gomes (atacante)

Sérgio Manoel (volante)

Governador decreta luto O governador Raimundo Colombo decretou luto oficial de três dias no Estado de Santa Catarina em razão da tragédia ocorrida com a delegação da Associação Chapecoense de Futebol, na Colômbia. Consternado, Colombo lembrou que a Chapecoense, além de levar o nome de Chapecó e de Santa Catarina para todo o Brasil e à América Latina, estava fazendo história ao ser o primeiro clube catarinense a disputar a final de uma competição internacional. O governador manifestou solidariedade aos familiares dos jogadores, dirigentes e jornalistas, que estavam na delegação,

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Possíveis causas. Os motivos

do acidente ainda são desconhecidos. Segundo autoridades colombianas, o piloto teria relatado pane elétrica na aeronave. Chovia na hora do acidente, porém, autoridades dizem que o aeroporto funcionava normalmente para pouso, portanto, ganha força a possibilidade de problema mecânico. Também foi cogitada a possibilidade de falta de combustível. O piloto teria despejado combustível quando notou que o avião iria cair, para evitar uma possível explosão quando tocasse o solo. Além disso, antes da queda, a aeronave teria andado em círculos antes de começar a reduzir a velocidade. Duas caixas pretas do avião foram recolhidas para análise. Os aparelhos gravam ruídos da cabine de comando, como a conversa do piloto, e poderão ajudar os investigadores a descobrir as causas da tragédia.

e aos torcedores da Chapecoense neste momento de muita dor para o esporte de Santa Catarina e do Brasil. O presidente Michel Temer telefonou às 8h15min para governador Raimundo Colombo prestando solidariedade pela tragédia ocorrida com a delegação da Chapecoense. Temer informou que um avião da FAB irá para Chapecó, de onde transportará familiares dos jogadores, comissão técnica, dirigentes e jornalistas para a CoPara ver conteúdo extra, escaneie o lômbia para a identificódigo acima com seu cação dos mortos. dispositivo móvel

Prefeito de Lages escreve mensagem Em nome do município e do povo de Lages, o prefeito Toni Duarte externou a solidariedade à cidade de Chapecó, a Chapecoense, aos torcedores e aos familiares do presidente da Federação Catarinense de Futebol, Delfin de Pádua Peixoto, e as demais vítimas. “A tragédia abala a todos que lutam por um mundo melhor, pois nos últimos anos a Chapecoense mostrou que é possível vencer os nossos próprios limites e escrever a nossa história conforme a grandeza dos nossos sonhos.” Toni disse ainda que somente o tempo será capaz de dimensionar o legado construído pela Chapecoense, mas essa tragédia abala lageanos, catarinenses e o mundo do esporte.

Comissão técnica

Tiago da Rocha (atacante)

Mateus Lucena (lateral)

Jornalistas

Victorino Chermont (Fox Sports) Rodrigo Gonçalves (Fox Sports) Devair Paschoalon (Fox Sports) Lilacio Júnior (Fox Sports) Deva Pascovicci (Fox Sports) Paulo Clement Mario Sergio Paiva Guilher Marques (TV Globo) Ari Júnior (TV Globo) Guilherme Laars (TV Globo) Giovane Klein (RBS) Bruno Silva (RBS) Djalma Neto (RBS) André Podiacki (RBS) Laion Espindula (Globoesporte.com) Rafael Henzel (Globoesporte.com) Renan Agnolin (Globoesporte.com) Fernando Schardong (Globoesporte.com) Edson Ebeliny (Globoesporte.com) Gelson Galiotto (Globoesporte.com) Douglas Dorneles (Globoesporte.com) Jacir Biavatti (Globoesporte.com)

Não embarcaram

O deputado Gelson Merísio foi convidado para embarcar juntos com os jogadores para Medellin, porém decidiu ficar em Florianópolis. O prefeito de Chapecó Luciano Buligon também viajaria para assistir a partida, mas um compromisso em São Paulo o fez adiar o acompanhamento.

Caio Júnior (ténico) Eduardo de Castro Filho Marcio Koury Anderson Paixão Pipe Grohs Rafael Gobbato Luiz Cunha Sérgio Luis Ferreira de Jesus Anderson Donizette Adriano Bitencourt Cleberson Fernando da Silva Emersson Fabio Eduardo Preuss Mauro Luiz Stumpf Sandro Luiz Pallaoro Nilson Folle Junior Decio Burtet Filho Jandir Bordignon Gilberto Pace Thomas Mauro Dal Bello Edir Félix De Marco Ricardo Philippi Porto Anderson Roberto Martins

Tripulação

Miguel Quiroga (piloto) Ovar Goytia Sisy Arias Romel Vacaflores Ximena Suarez (resgatada com vida) Alex Quispe Gustavo Encina Erwin Tumiri (resgatado com vida) Angel Lugo

Convidados

Daví Barela Dávi Delfim Pádua Peixoto Filho

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QUARTA-FEIRA, 30 | NOVEMBRO | 2016

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#forçachape Não só a Chape, o futebol mundial sofreu uma tragédia. Um clube catarinense que disputava um título internacional e levando o nome de Santa Catarina para o mundo.”

Vamos fazer aqui uma campanha para os times que vestem a cor VERDE construir uma nova Chapecoense, começando pelo Palmeiras.”

Força, Chape! Estamos todos unidos em uma corrente de fé! Nossos mais sinceros votos de esperança! Um imenso abraço do Flamengo!”

Wilfredo Brillinger, Presidente do Figueirense

Carlos Gonçalves

Clube de Regatas do Flamengo

Clubes se solidarizam com acidente

e oferecem empréstimos de jogadores A campanha da Chapecoense que quase fechou as portas personifica o sonho das equipes pequenas que buscam projeção nacional e internacional

Bega Godóy esporte@correiolageano.com.br

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ue a Chapecoense terá de mudar todo os planos para a próxima temporada, todo mundo sabe. Para um time que quase fechou as portas e hoje figura entre os grandes do Brasil, desta vez a situações é menos fácil de resolver. O problema é montar um novo departamento de futebol – morreram quase todos no acidente – em 60 dias, até a abertua do Campeonato Catarinense, programado para dia 30 de janeiro. O clube conserva uma boa base e pode profissionalizar os meninos que têm a partir de 16 anos, pois há tempo para inscrever os jogadores. Material humano e verba não serão empencilhos para a Chape levantar. Clubes de todo o país estão se mobilizando para ajudá-la. Além disso, empréstimos de jogadores estão sendo ofertados. O Atlético Nacional de Medellín, que seria adversário dos catarinenses nesta quarta-feira, na Colômbia, no primeiro jogo da final da Sul-Americana, manifestou

desejo de abrir mão do título ao enviar solicitação à Conmebol, a entidade estuda a possibilidade e se caso concordar, a Chape está, automaticamente, na Libertadores de 2017. Além disso, iniciativas para ajudar o clube nascem a cada hora. A exemplo do internautas de Curitiba, que lançaram uma campanha nas redes sociais para angariar sócios para o clube catarinense, entre tantas ações. > Sete dias sem jogo_ A Confederação Brasileira de Futebol decretou luto oficial por sete dias e adiou todas as partidas previstas para o calendário do futebol brasileiro durante este período: Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro da Série A e Copa do Brasil Sub 20. > Lages_ A comoção em Lages não é diferente e, nesta quarta-feira, a partir das 21h45, na Praça Joca Neves, representante das organizadas do Grêmio, Inter, Flamengo, Palmeiras e Corinthians. farão um minuto de silêncio em homenagem à Chape.

Direção colorada se manifesta sobre a tragédia As notas de pesar ganharam as mídias durante todo o dia. Clubes, entidades, instituições e outro seguimento resgistraram seus sentimentos sobre o acidente aéreo com a Associação Chapecoense de Futebol. O Inter de Lages, que também disputará a Série A do Campeonato Catarinense, prestou homenagem ao time do Oeste: “Uma terça-feira trágica para todos nós: a aeronave

que transportava a equipe da Chapecoense para a Colômbia sofreu um acidente que vitimou quase todos os seus 81 ocupantes. O clube disputaria, nesta quarta-feira, a maior partida de sua história. Nossa tristeza é imensa. A Chapecoense é nosso irmão verde, nosso irmão mais novo. Tantas vezes manifestamos admiração por sua caminhada nos últimos anos, tantas vezes

reiteramos como nos espelhamos nos feitos desse admirável clube – e feitos que são obra do trabalho de sua gente, a gente de Chapecó, a gente do Oeste Catarinense. Tínhamos amigos nesse voo. Nele estavam, também, profissionais de fora do clube que admirávamos, pessoas cujas carreiras acompanhamos desde sempre, mas que agora teremos apenas em nossa memória.”

CONFIRMAÇÃO Delfim de Pádua Peixoto, que dirigia a Federação Catarinense de Futebol (FCF) há 27 anos e é um dos vices da CBF, estava no avião que caiu na Colômbia. Segundo o assessor de imprensa Marcelo Negreiros, a federação só irá se pronunciar a partir de quinta ou sexta-feira, assim que um sobrinho de Delfim tiver reconhecido o corpo.

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Núbia Garcia/Arquivo CL

A Chape jogou neste ano no Tio Vida, no dia 6 de março, pelo Catarinense. A atual campeã estadual venceu os Colorados por 2 a 1, em jogo do returno


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QUARTA-FEIRA, 30 | NOVEMBRO | 2016

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#forçachape Nossa tristeza é imensa. A Chapecoense é nosso irmão verde, nosso irmão mais novo. Tantas vezes manifestamos admiração por sua caminhada nos últimos anos”

Nunca foi louca por futebol, até fazer o meu intercâmbio no Brasil, precisamente em Chapecó. Chapecó é a minha segunda casa e a Chapecoense é meu time do coração”

O maior título para vocês e para nós, de verdade, é voltarem bem para casa. Estou muito triste com o ocorrido e espero que não seja tão ruim quanto pode e parece ser.”

Inter de Lages

Noemi Cavada

Douglas Dennys

Hotel hospedou equipe técnica

e atletas em duas ocasiões

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Chapecoense foi o primeiro time de futebol a se hospedar no hotel. Equipe voltou em duas oportunidades

Camila Paes camilapaes@correiolageano.com.br

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m duas oportunidades, em 2015 e neste ano, o time da Chapecoense se hospedou no Hotel Le Canard, em Lages. Dentre os jogadores, vítimas do acidente de avião, 10 deles passaram pela cidade. No hotel, os funcionários lembram com carinho dos atletas, que sempre foram muito cordiais e profissionais. A gerente do estabelecimento, Maria Inês Kauling, conta que durante toda a passagem da equipe, os jogadores se mostraram muito profissionais e educados. “Durante a estadia deles, não tivemos muito contato, eles eram

“invisíveis” e conversavam mais entre si”, explica ela. > Pioneiros_ A Chapecoense foi o primeiro time de futebol a se hospedar no Le Canard e que depois disso, outras equipes passaram a ocupar o hotel. Durante a estadia, segundo Maria Inês, os jogadores faziam todas as refeições dentro do hotel, utilizavam bastante a acadêmia e passavam muito tempo nos quartos. “Todos eles são muito educados, profissionais e sérios”, acrescentou ela. O assistente comercial, Edilson Batista e de reservas, Julio Vianna, relembram do profissionalismo de toda a equipe, atletas e técnicos.

Sindicato presta homenagem a jornalistas Entre as vítimas fatais do acidente estão 22 jornalistas de quatro estados do País. A Associação Catarinense de Imprensa destacou que “O clube de Chapecó notabilizou-se no Brasil” e acrescentou que “Parcela essencial desse retumbante sucesso devese aos profissionais de imprensa que, com fidelidade jornalística, registraram para o mundo e para a História a edificante trajetória da Associação Chapecoense de Futebol.” A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e sindicato de quatro estados, comentou em nota: “A Fenaj prestam sua homenagem póstuma a esses profissionais e expressam sua solidariedade aos familiares e amigos de todos os atingidos nesse momento de dor.”


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QUINTA-FEIRA, 1º | DEZEMBRO | 2016

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#forçachape

Cristo Redentor, Rio de Janeiro

COMOÇÃO

Uma cidade em silêncio As repórteres do Correio Lageano, Núbia Garcia e Suzani Rovaris, acompanham, em Chapecó, os desdobramentos da tragédia

Torre Eiffel, Paris

Núbia Garcia nubia@correiolageano.com.br

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uando o carro da reportagem do Correio Lageano chegou a Chapecó, por volta das 19 horas de terça-feira (29), a cidade estava quieta como nem o menor dos municípios catarinenses poderia estar. As bandeiras e camisetas da Chapecoense expostas com laços pretos nas portas de inúmeros estabelecimentos e residências denunciavam o clima de pesar. Pelas ruas, as pessoas caminhavam quietas, muitas trajando o uniforme da equipe, quase todas ainda chorando em comoção ao acidente que vitimou parte da delegação do clube, além de jornalistas e convidados. O carro da reportagem se aproximou da Arena Condá e era possível sentir o clima, que ficava cada vez mais pesado. Veículos de reportagem de todo o mundo, repórteres falando várias línguas. Todos que circulavam nos arredores do estádio estavam cabisbaixos e com os olhos vermelhos e inchados. Na arquibancada, quando chegamos, centenas de pessoas faziam o silêncio mais ensurdecedor que já ouvi na minha vida. Quem poderia imaginar que aquele

estádio, palco de inúmeros momentos de felicidade e euforia, estaria cheio e mudo? Aquele silêncio todo doía profundamente. Quando eu e a Suzani Rovaris chegamos ao estádio, fomos recebidas pela Camila, assessora de imprensa da prefeitura de Chapecó. Ela se apresentou e nos deu a informação que provocou um nó na garganta e nos impediu de conter as lágrimas. “Somos da prefeitura e estamos ajudando o clube, porque perdemos todos os nossos amigos assessores da Chape”. Secamos as lágrimas e corremos trabalhar. Aquele silêncio que doía, presente em todas as ruas da cidade, só foi quebrado por volta das 20h20, quando um grande grupo de pessoas saiu da Catedral, onde acontecia uma missa em homenagem às vítimas. Todos caminharam pelas ruas, entoando hinos e cantos da torcida. Percorreram o trajeto de aproximadamente 1,5 km até o estádio. Lá se juntaram aos silenciosos torcedores que já estavam em uníssonos, cantaram, gritaram os nomes das vítimas e choraram. O silêncio angustiante finalmente foi rompido. A dor e o sofrimento permaneceram, desta vez em uma só voz. A cidade que abraçou o time brasileiro que mais cresceu na última década, chorou unida pela tragédia que comoveu o mundo.

Flores são depositadas no Estádio Índio Condá

Núbia Garcia

O mundo se veste de verde

Elevador Lacerda, Salvador

Arena se tornou o altar de homenagens Núbia Garcia e Suzani Rovaris

Torre Colpatria, Bogotá

Muito mais do que o time que representa a cidade, a Chapecoense se transformou em parte da identidade de Chapecó. E foi justamente por este motivo que a morte de membros da delegação comoveu tantas pessoas. A comoção foi ainda maior do que em outros desastres aéreos, porque o acidente não vitimou pessoas que

não se conheciam e, por coincidência, estavam no mesmo voo. O acidente ceifou a vida de um grupo de amigos que seguiam rumo a realização de um grande sonho. A população de Chapecó, que sempre esteve muito próxima dos jogadores e da história do time, sentiu as mortes como se fossem de familiares. O reflexo disso pode ser visto por toda a cidade, onde estão espalhadas

faixas e bandeiras em homenagem às vítimas. A maior concentração dos tributos está acontecendo na Arena Condá, que tem recebido a visita de inúmeros torcedores, desde a madrugada de terça-feira. Comovidos, eles vão até o estádio para prestar suas homenagens ou simplesmente chegam lá e ficam parados, olhando para o vazio, como se ainda não acreditassem.

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CORREIO LAGEANO

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QUINTA-FEIRA, 1º | DEZEMBRO | 2016

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#forçachape PLANEJAMENTO

Simulação antecipa como

será o cortejo até o local do velório Núbia Garcia

Velório será em Chapecó, mas os sepultamentos devem ocorrer em várias cidades do Brasil

Susani Rovaris e Núbia Garcia

> Uma história que ficará marcada_ O fotógrafo Antônio Carlos Mafalda cobriu várias guerras e fatos que marcaram a história brasileira e mundial. Ao Correio Lageano contou que quando cobriu a morte de Airton Senna, em Ímola, na Itália, a emoção foi tanta que nunca mais voltou a um autódromo. Mafalda trabalhou com a equipe vitimada no acidente e conhecia de perto alguns deles, como o técnico Caio Junior. Para ele, o mesmo sentimento de proximidade que a cidade tem com o time, o acometeu. “Aconteceu no nosso chão, e não deixa de fazer parte da gente”. Estar em Chapecó, cobrindo e registrando os fatos, é como se ele fosse parte da família Chapecoense.

suzani@correiolageano.com.br

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Carlos Mafalda é fotógrafo catarinense

Torcedores não se afastam da Arena Condá, onde realizam homenagens

Identificação já iniciou Médicos legistas começaram ontem os trabalhos para identificar as 71 pessoas que morreram na queda do avião que levava a equipe de Chapecoense para a final da Copa SulAmericana na Colômbia. Somente seis pessoas: três jogadores, um jornalista e dois tripulantes sobreviveram ao acidente ocorrido na noite de segundafeira, quando o avião que transportava a delegação do time catarinense se chocou contra uma área montanhosa no noroeste da Colômbia. Os sobreviventes estavam sendo atendidos em hospitais locais. Segundo a Chapecoense, ainda não há estimativa de alta. Entre os jogadores, o goleiro Jakson Follmann se recupera de uma amputação da perna direita, segundo os médicos. O zagueiro Hélio Neto seguia sob cuidados intensivos por trauma severo no crânio, tórax e pulmões. O lateral Alan Ruschel passou por cirurgia de coluna.

A causa

No caso do avião da companhia boliviana Lamia com a equipe da Chapecoense, que caiu na madrugada desta terça-feira (29), as opiniões parecem convergir para a falta de combustível. Outra hipótese levantada é pane elétrica. Mas uma não necessariamente exclui a outra. A BBC Brasil ouviu especialistas que explicam por que essa opção é a causa mais provável do acidente. Eles lembram, no entanto, que é importante esperar pela análise das caixas -pretas e aguardar a conclusão das investigações. > Autonomia_ A autonomia do quadrimotor Avro RJ 85 era de cerca de 3 mil quilômetros, praticamente a mesma distância entre

as cidades de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, de onde partiu, a Medellín, na Colômbia, seu destino final. No plano de voo, estava prevista a possibilidade de o avião parar para reabastecer em Cobija (norte da Bolívia) ou Bogotá (Colômbia). Mas o piloto decidiu seguir a rota sem interrupções. “Autoridades de aviação nunca autorizariam um voo de uma aeronave cujo autonomia é equivalente à distância percorrida. Ou o avião passou por modificações, com a instalação de tanques adicionais, ou o piloto não quis fazer a escala por algum motivo, meteorológico ou técnico”, diz Lito Sousa, supervisor de manutenção de aeronaves e editor do site e canal de vídeos Aviões e Músicas.

> Ele não consegue acreditar_ No começo de novembro, o narrador esportivo José Santiago viajou da Argentina para o Brasil no mesmo avião que transportou a delegação da Chape que acabou sofrendo o trágico acidente nesta semana. Santiago, que atua nas emissoras de rádio La Mejor e Top 91,7, ambas da Argentina, veio para o Brasil, no início do mês, para acompanhar a partida entre os dois maiores rivais da América do Sul, válida pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. “Viajei neste avião com a Seleção Argentina e com o River Plate. Muitas equipes de futebol viajavam com esta companhia, que pertence a um jornalista. Nunca imagine que algo assim pudesse acontecer.” Ele ficou bastante surpreso com o acidente, mas afirma que nunca duvidou da qualidade do serviço prestado pela empresa que fretou o voo. “Posso dizer que me parecia tão seguro quanto os voos da Azul [Linhas Aéreas]”. Núbia Garcia

> O velório e as definições_ O velório das vítimas do acidente está marcado para acontecer no Estádio Arena Condá, em Chapecó. Segundo membros da diretoria, a intenção é que os corpos sejam transladados para o Brasil, direto para a cidade catarinense. A cerimônia não tem data confirmada ainda, mas como o reconhecimento acontece de modo rápido - já que não houve explosão da aeronave, permitindo a fácil identificação - poderá ser realizada na sexta-feira. Eles serão transportados por aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB). As vítimas são de várias partes do Brasil, por isso, após o velório, os corpos poderão ser transportados para os locais onde moram suas famílias. Conforme a diretoria, há um grande grupo de pessoas envolvidas trabalhando para que tudo aconteça conforme o planejado. Há uma expectativa que mais de 100 mil pessoas passem pelo estádio.

Núbia Garcia

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quarta-feira foi dia de tentar digerir o trágico acontecimento e de organizar os preparativos para o velório coletivo que deve acontecer com a chegada dos corpos. O dia serviu para acertar alguns detalhes burocráticos, e também teve muita dor e lágrimas. Membros da prefeitura e da Chapecoense, com apoio da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, promoveram uma espécie de ensaio para identificar o que precisará ser feito quando os corpos chegarem a cidade. Simularam a saída do aeroporto dos caminhões que transportarão os caixões, passando pelas ruas da cidade, até chegar ao estádio. Tudo planejado com detalhes para evitar entraves quando a derradeira hora chegar. Depois da simulação, membros da diretoria promoveram uma coletiva de imprensa, no próprio estádio. Dentre os assuntos tratados esteve as definições sobre o translado e o velório coletivo, a operação para levar os corpos ao estádio, o estado de saúde dos sobreviventes e as possíveis causas do acidente. A coletiva durou cerca de uma hora.

José Santiago é jornalista argentino


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SEXTA-FEIRA, 2 | DEZEMBRO | 2016

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#forçachape

Solidariedade une a

Esperadas 100 mil pessoas

A expectativa é que os corpos das vítimas do acidente aéreo cheguem a Chapecó na madrugada de sábado.

Arena Condá está sendo preparada para receber os corpos das vítimas

Núbia Garcia e Suzani Rovaris Enviadas especiais a Chapecó

A

comoção provocada pela morte de 71 pessoas após a queda do avião que transportava a delegação da Chapecoense, jornalistas e convidados, na última terça-feira, serviu para unir gente dos mais diferentes credos, posicionamentos políticos e até apaixonados por outros times. Para fazer funcionar tudo o que é necessário à vinda dos corpos para Chapecó é preciso uma grande estrutura humana. Em meio ao caos, a solidariedade tem sido marca constante. Desde a madrugada de terça-feira, centenas de voluntários prestam apoio ao clube. Os serviços oferecidos vão desde a distribuição de copos d’água para quem circula pela Arena Condá, até a elaboração do cerimonial para o velório coletivo e a segurança do local.

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Suzani Rovaris

cidade envolvida pela tragédia

Os apoios psicológico e médico às famílias é um dos serviços voluntários. Profissionais têm atuado com o intuito de oferecer conforto aos familiares das vítimas. Além da Arena, em outros locais há voluntários atendendo a imprensa, servindo de tradutores para estrangeiros que chegam a todo instante e organizando o acesso de pessoas a determinadas áreas, como o campo. O grupo Força Jovem Universal, da Igreja Universal do Reino de Deus em Chapecó, levou ao estádio mais de 15 voluntários, com a intenção de oferecer conforto aos visitantes. Coordenados pelo pastor Daniel Franklin, o grupo circula pelo estádio desde terça-feira. “Em meio a uma tragédia como essa, nosso trabalho é oferecer acalento espiritual. Viemos conversar, oferecer um abraço, escutar o que têm a dizer”, diz Kamyla Cristina Alves, 16 anos.

Em meio a uma tragédia como essa, nosso trabalho é oferecer acalento espiritual...” Kamyla Cristina Alves, integrante do grupo Força Jovem Universal.

São esperados 51 caixões vindos de Medellín, na Colômbia, para o velório coletivo que deverá acontecer somente no sábado à tarde. O atraso na chegada dos corpos, se deve ao processo de embalsamento. Assim que chegarem ao aeroporto de Chapecó, serão levados ao estádio. Entre 45 minutos e uma hora é o tempo reservado para que familiares e pessoas mais próximas homenageiem seus entes queridos. Depois, será aberto ao público. O estádio comporta 19 mil pessoas, mas estima-se um fluxo de 100 mil, que poderão acompanhar a cerimônia das arquibancadas e das cadeiras reservadas. Dois telões transmitirão para o lado de fora do estádio. Após as solenidades, os corpos de quem não possui familiares em Chapecó estarão disponíveis para serem transportados às cidades de origem. Aguarda-se a confirmação da presença do presidente Michel Temer no velório.

Preparativos Pouco mais de 55 horas após a tragédia na Colômbia, Chapecó amanheceu atenta aos preparativos para receber os corpos das vítimas. Durante todo o dia, a arena Condá recebeu visitantes preocupados em prestar homenagem. Jornalistas procuravam o melhor ângulo para as transmissões ao Brasil e ao Exterior, fotógrafos registravam o que estava acontecendo e a equipe da Chapecoense, com a Prefeitura, decidia os detalhes do funeral coletivo. Mas a maioria das pessoas não estava ali a trabalho, mas pelo amor ao clube.


geral

SÁBADO E DOMINGO, 3 E 4 | DEZEMBRO | 2016

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#forçachape Núbia Garcia

SANTUÁRIO

Centenas

de homenagens às vítimas

Primeiro avião, trazendo os corpos da Colômbia, deve pousar às 8 horas deste sábado no aeroporto de Chapecó. Núbia Garcia enviada especial a Chapecó

À

s vésperas do velório coletivo de 50 vítimas do acidente com o avião da Lamia, que caiu na terça-feira, quando levava a delegação da Chapecoense, imprensa e convidados para a Colômbia, o número de homenagens deixadas na Arena Condá, em Chapecó, não para de crescer. O santuário em verde e branco montado na rampa de acesso a arquibancada geral do estádio, tem recebido centenas de cartazes, fotos, flores e velas, entregues por torcedores que querem prestar sua última homenagem. A todo instante alguém se aproxima do local, deposita sua homenagem, acende uma vela ou faz uma oração. Acompanhados do filho Danilo, de apenas 2 anos, o casal de professores Andrey Binda, 34 anos, e Irene Kohler, 31, esteve

Cartazes, fotos, flores e velas são depositadas no santuário, na entrada da Arena Condá

pelo menos duas vezes nesta semana no estádio. “Sou do Paraná mas moro há 6 anos em Chapecó. Sempre digo que não fui eu quem escolheu o time, a Chapecoense é que me cativou para ser torcedor”. > Velório Coletivo_ A sexta-feira foi de apreensão em Chapecó pela expectativa da chegada dos corpos. O velório coletivo vai acontecer neste sábado, na Arena Condá. Desde quinta-feira uma grande estrutura está sendo montada para que os torcedores, moradores da cidade e familiares das vítimas, possam dar o último adeus aos heróis da Chapecoense. De acordo com a diretoria do clube, 50 das 71 vítimas serão trazidas para o velório coletivo, mas até o fechamento desta edição não havia uma definição exata sobre o horário que isso aconteceria. Quando os caixões chegarem a cidade, o que deve acontecer entre a madrugada e a manhã de

sábado, serão levados em caminhões do aeroporto até o estádio. O transporte e o cortejo devem durar duas horas. No estádio, por 45 minutos, apenas familiares terão acesso ao campo, onde os caixões serão colocados, lado a lado, para o velório. Somente após este tempo é que outros convidados poderão circular pelo local. Já os torcedores que quiserem dar o último adeus, poderão acompanhar tudo apenas da arquibancada. Segundo a diretoria da Chape, não haverá corredor de circulação de pessoas no gramado por questão de segurança. O velório coletivo deve durar cerca de quatro horas, depois os corpos serão liberados para que as famílias realizem os velórios nas cidades das vítimas. Dezesseis vítimas serão enterradas e Chapecó. O corpo do técnico Caio Júnior não virá para Chapecó. A pedido da família, será enviado para Curitiba, onde será velado.

Suzani Rovaris

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enviada especial a Chapecó

Ao subir a arquibancada do estádio em Chapecó, Roseli Brering Vieira, de 51 anos, não imaginava como era estar sentada naquele lugar. Era a primeira vez que visitava a Arena Condá em seis anos, depois de se mudar de Lages para Chapecó. Por um minuto, o olhar dela se fixou no campo como se estivesse concentrada em uma partida de futebol, mas o movimento lá embaixo era diferente do que ela estava acostumada a ver pela televisão. Observou jornalistas registrando o fato que jamais imaginaria acontecer na cidade em que passou a amar. Sentada naquele lugar, na área popular da Arena, de onde o marido e os filhos costumavam assistir os jogos, ela se emocionou. Lembrou dos jogadores, das famílias que perderam seus entes, no amor que a cidade nutre pelo clube. As lágrimas insistiram em aparecer e Rose não resistiu a elas. A família se mudou para Chapecó, em 2010, quando surgiu a oportunidade de abrirem uma escola de línguas.

Suzani Rovaris

A afinidade e o amor dos lageanos com o Verdão do Oeste

Quando chegaram, foram recebidos calorosamente pela cidade. Se sentiram em casa, e não pensam em se mudar. A família lageana acompanhou a ascensão da Chape e a luta para chegar na Sul-Americana e na Libertadores. Objetivos atingidos, segundo Pedro, porque atrás dos jogadores está um grande comprometimento, seriedade e trabalho de todos os dirigentes, dos torcedores e população que abraçou a Chapecoense. “Isto justifica tamanha comoção. Eles incorporaram os valores da cidade, compraram a missão.”

Mesmo com cerca de 350 quilômetros de distância, o povo chapecoense muito se assemelha ao de Lages. Jeito simples, carismático e acolhedor. Foi o que chamou a atenção de Flávia Mota, lageana que mora em Chapecó desde agosto deste ano. O marido, Getúlio Tadeu Pereira, 35, também lageano, mora em Chapecó há 3 anos. Flávia e a filha Anna Mota, 5, se mudaram para que a família ficasse reunida e, desde que chegaram, perceberam o amor que a população tem pelo clube. Getúlio foi jogador do Figueirense. Hoje trabalha em uma banco da cidade, mas mesmo não jogando, acompanha a Chapecoense. Flávia e Anna foram envolvidas pelo time. Cresceu um amor muito forte pelo Verdão e pelos jogadores. Mais do que atletas, eles eram amigos. Encontravam a família em restaurantes ou supermercados, paravam e conversavam, eram muito abertos a qualquer pessoa. “Na sexta-feira anterior (25), eu encontrei o Bruno Rangel e ele falou que estava tranquilo em viajar e deixar a esposa em segurança, pois a cidade é muito boa. Brincou que para ser perfeito faltava apenas uma praia”, conta Flávia. Assim como o jogador, os outros eram carismáticos e carinhosos, principalmente com as crianças. “Eles não tinham nenhum estrelismo, já encontramos o Cléber Santana e o Neto em restaurantes” Flávia e o jogador Bruno Rangel


esporte

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#forçachape Suzani Rovaris

NO GOL DA CHAPE

Campeão crê em

volta da Chape mais forte Madruga é campeão estadual com a Chape, com o Inter de Lages da Taça Dite Freitas e preparador de goleiros na retomada do Inter Bega Godóy esporte@correiolageano.com.br

Bega Godóy

C

ampeão Catarinense em 1996 pela Chapecoense, o ex-goleiro Madruga falou sobre o acidente que envolveu a delegação do time do Oeste. Ele acredita que a Chape estará em campo no dia 29 de janeiro esperando o Inter de Lages na abertura do Catarinense da Série A. “Ele tem uma boa base e estrutura. Talvez venha até mais forte por ter vencido o trauma e pela identidade que construiu com a cidade”, disse. Madruga conta que não tinha contato com os jogadores atuais. Falava, às vezes, com o assessor de imprensa, Gilberto Thomaz (morto no acidente). “Ele me avisou que o álbúm da Chapecoense estava pronto.” O jornalista Rafael Henzel (um dos sobreviventes),

ele conheceu quando foi entrevistado assistindo aos jogos do alviverde. O anitense chegou à Chape em 1995, aos 33 anos e teve que “suportar” a suplência, pois o goleiro titular Pedro Paulo vivia uma fase fase fantástica. Naquele ano, o time foi vice campeão estadual. “Um dos clubes mais queridos do Brasil.” Na final do Estadual que culminou no título diante do Joinville, a Chape precisava vencer no tempo normal e no tempo extra, e conseguiu graças à ajuda de Madruga. Um experiência parecida com a do goleiro Danilo, morto no acidente, que impediu o gol do San Lorenzo no último minuto e garantiu a Chape na decisão da Sul-Americana. “Foi na mesma trave inclusive, só que a minha foi um pouco mais difícil porque foi um escanteio a bola passou por todo mundo, eu arrisquei o canto, mas deixei o pé e defendi. A vitória levou à prorrogação e fomos campeões.”

Janga (E) ganhou a Kombi da direção da Chapecoense

Jogador e vendedor de lanche faz tudo pela Chapecoense Núbia Garcia Enviada especial a Chapecó

A dor é tão grande e incontrolável que ele fala como se estivesse apenas esperando os amigos chegarem de viagem. Com a voz embargada e tentando segurar a emoção, Jandir Moreira dos Santos, 62 anos, o Janga, ainda não acredita que perdeu seus amigos próximos e pessoas que o incentivaram a crescer profissionalmente. Todos de uma só vez. Quando fala das vítimas, não se refere “aos corpos que chegarão a Chapecó”. Janga apenas diz que está esperando “eles” chegarem para o velório. Janga tinha uma relação de proximidade muito grande com o clube. Gaúcho de Guaporé, ele foi atleta da Chapecoense entre 1977 (transferido do

Lajeadense-RS) e 1986, quando se aposentou. Marcador implacável e jogador tipicamente de esquema, era considerado o pulmão do time. Com a Chape foi campeão do Catarinense de 1977. No início de sua carreira no time, a Chapecoenese era uma das menores do Estado. Disputava apenas o Campeonato Catarinense. “Naquela época nem o mais otimista imaginava que o time disputaria o título de uma competição internacional. Os meninos [jogadores que morreram] estavam realizando um sonho de todos que já passaram pelo clube”. > Lages_ Por um breve período de oito meses, em 1981, jogou no Internacional de Lages, onde disputou o Catarinense daquele ano ao lado de grandes ídolos, como Zé Melo e Martinho Bin.

Diretoria doou Kombi

Madruga guarda material de quando esteva na ativa até 1998

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GOL MAIS BONITO DA FIFA > Finalistas 1_ A Fifa divulgou os três finalistas ao prêmio Puskás, referente ao gol mais bonito de 2016. Entre os nomes está o meia brasileiro Marlone, do Corinthians. Os outros são Mohd Faiz Subri, da Malásia, e Daniuska Rodríguez, da Venezuela.

> Finalistas 2_ A cerimônia de entrega será no dia 9 de janeiro, em Zurique, na Suíça. A votação para escolher o gol mais bonito da temporada está aberta no site da entidade. Gol de voleio do meia foi marcado contra o Cobresal, pela Libertadores.

Depois que aposentou as chuteiras, Janga trabalhou em um frigorífico de Chapecó e, anos mais tarde, no fim dos anos de 1990, montou seu próprio negócio: um quiosque para vender cachorro-quente. Mesmo depois de parar de jogar bola, o ex-jogador nunca perdeu o contato com a Chapecoense. Dono do próprio negócio, vendia seus lanches em frente à

Arena Condá, sempre que tinha alguma partida em casa. Há três anos, a direção alviverde queria que Janga montasse seu quiosque permanentemente dentro do estádio, e o presenteou com uma Kombi equipada para vender cachorroquente na rua, pintado de verde e personalizado com o emblema do time e a logomarca do Junga Food Truck.


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