Correio da Venezuela 112

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O jornal da comunidade luso-venezuelana

ano 06 - n.º 112- DePósito LegaL: 199901DF222 - PubLicação semanaL

caracas, 23 De junho De 2005 - VenezueLa: bs.: 1.000,00 / PortugaL:

0,75

Há vontade de ajudar os empresários lusos Secretário de Estado do Comércio português esteve em Caracas. Em entrevista ao CORREIO reconhece falhas, mas promete outra disponibilidade para ajudar os empresários. Página 3

Sequestros lançam a desconfiança Em La Candelária ainda não querem acreditar que dois sequestradores são portugueses. Ninguém esconde a decepção, enquanto se pede que a justiça faça... justiça! Página 32

Madeirabol em crescendo na capital da Venezuela Em El Valle, em El Paraí so, e em El Cementerio, formaram-se equipas desta modalidade. Página 31

Festas de São João Baptista declaradas Patrimó nio Cultural da Nação. Página10e11 Governo madeirense convida Hugo Chávez. Página 7

Valencia: « Não temos conseguido trabalhar pela mesma causa» . Página 14


2 EDITORIAL

CORREIO DE CARACAS - 23 DE MAIO DE 2005

Desconfianças Director: Aleixo Vieira Subdirector Agostinho Silva Coordenação em Caracas Délia Meneses Coordenação na Madeira Sónia Gonçalves Jornalistas: António da Silva, Carlos Orellana Jean Carlos de Abreu, Liliana da Silva Nathali Gómez e Noélia de Abreu Correspondentes: Ana Pita Andrade (Maracay) Bernardete de Quintal (Curaçau) Briceida Yepez (Valencia) Carlos Balaguera (Maracay e Valencia) Carlos Marques (Mérida) Sandra Rodriguez (La Victoria) Trinidad Macedo (Barquisimeto) Colaborações: António de Abreu, Arelys Gonçalves Janette Da Silva, Luís Barreira e Miguel Rodrigues Publicidade e Marketing: Carla Vieira Preparação Gráfica: Olga de Canha (DN-Madeira) Produção: Franklin Lares Distribuição: Juan Fernandez

Na ressaca das tristes revelações, que só foram possíveis apó s a intervenção e investigação policiais, a comunidade portuguesa parece não ter interiorizado ainda a dura realidade do envolvimento de compatriotas em vergonhosos sequestros. Não é para menos! As situações tornadas pú blicas vêm revelar que todo o cuidado é pouco e que é preciso maiores precauções. Afinal, a nossa segurança começa mesmo por aqueles que estão à nossa beira. Nesta fase, em que somos levados a duvidar ou a desconfiar de certos circuitos de informação, há também que ter o bom senso de não cair no exagero ou nas acusações fáceis.

São várias as reacções aos tristes acontecimentos, na sequência do sequestro de Dionísio de Sousa. É compreensível o inconformismo das pessoas que pedem justiça, sem se coibirem de dizer como deve ser administrada essa justiça. Mas há que dar espaço para a Justiça funcionar. E há regras a respeitar. Há também que saber esperar e aceitar as decisões da Justiça. Ao fim e ao cabo, o mundo não acabou. Digamos que a comunidade está ferida no seu orgulho e há que recuperar depressa. Mas não há que confundir a árvore com a floresta. O episó dio dos sequestros faz parte da nossa vivência aqui. Limitemo-nos a aprender a lição.

o CaRToon Da semana Os portugueses podem organizar uma filial do Benfica na Venezuela...

Na maior das calmas! Tem mais “ vermelhos” aqui do que em Portugal inteiro!

Endereço: Av. Los Jabillos 905, com Av. Francisco Solano, Edif. Torre Tepuy, piso 2-2C, Sabana Grande - 1050 Caracas. Endereço Postal: Editorial Correio C.A. Sabana Grande Caracas - Venezuela Telefones: (0212) 761.41.45 Telefax: (0212) 761.12.69 E-mail: correio@cantv.net URL: www.correiodecaracas.net Tiragem deste número: 10.000 exemplares

a semana Cô nsul-geral em Valencia Em Valencia, constatamos junto das autoridades regionais a simpatia que o Estado Carabobo tem pelo cônsul-geral de Portugal. Um justo reconhecimento, como nos foi dito por responsáveis governamentais, devido à dedicação e ao trabalho do diplomata durante a última tragédia que assolou aquela localidade da Venezuela. Afinal, era Portugal e os portugueses que estavam aí representados.

Mudanç as à vista A relação comercial entre Portugal e a Venezuela tem sido motivo de fortes críticas neste jornal, sobretudo devido à falta de interesse do Estado e das autoridades portuguesas. Reconhecemos várias vezes o trabalho do anterior embaixador nesse sentido. Embora não tenha nunca conseguido respostas concretas, tentou ao menos sensibilizar as autoridades para esta realidade. Finalmente, deram mostras de interesse e a vinda do secretário do Comércio é a prova evidente de que alguma coisa pode mudar.

Alguma iné rcia O tema do recenseamento eleitoral vem ao de cima na medida em que se aproxima uma contenda eleitoral. Embora na comunidade portuguesa a cultura do voto seja praticamente nula, destaca-se falta de interesse dos emigrantes, daqueles que têm deveres para com a comunidade e não os cumprem. Que é o que acontece, por exemplo, com os conselheiros que prometem e não resolvem nada neste sentido. Há deveres e responsabilidades de parte a parte. Em Valência, por exemplo, constatamos que os avisos estão expostos para que todos procurem a direcção consular. Porque não fazer o mesmo em Caracas?

Má vontade! Que difícil é ser amável. Sobretudo quando falamos de funcionários públicos do Estado! Quanto lhes custa ser simpáticos para aqueles que no dia-a-dia precisam de ir ao Consulado Geral de Portugal em Caracas! Bastou que o actual cônsul se ausentasse por uns dias para que tudo voltasse à mesma bagunça. Apesar dos pedidos de apoio e de ajuda para um evento de extrema importância para a comunidade portuguesa na Venezuela - as celebrações do Dia de Portugal no Parlamento venezuelano - a resposta não só foi negativa, como também antipática e a roçar a má educação.

Fontes de Informação: DIÁRIO de Notícias da Ma deira Jornal de Notícias Agência de Notícias LUSA O Correio de Caracas não se responsabiliza por qualquer opinião manifestada pelos colaboradores ou assinantes nos artigos publicados, garantindo-se, de acordo com a lei do jornalismo, o direito à resposta, sempre que a mesma seja recebida dentro de 60 dias.

El Correio de Caracas, no se hace responsable por las opiniones manifestadas por los colaboradores o firmantes, garantizando, de acuerdo a la Ley, el derecho a respuesta, siempre que la misma sea recibida dentro de 60 días.

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VENEzuELA 3

Portugal disposto a ajudar empresários lusos na Venezuela Em entrevista ao CORREIO, o secretário de Estado do Comércio português promete ressuscitar a comissão mista que vai permitir melhorar o relacionamento comercial entre Portugal e a Venezuela sem resultados na contrapartida e desperdiçando o potencial comercial existente na Venezuela, assim como a influência dos portugueses? O que me foi dito é que o ICEP tinha saído dos países onde as relações comerciais não mexiam, mas vou tentar averiguar em Portugal a razão da saída e o que é que aconteceu, se foi a incapacidade da nossa delegação de cá ou se não conseguiram ultrapassar as dificuldades encontradas na altura. Mas prometo indagar nesse sentido.

Aleixo Vieira

aleixo5151@cantv.net

A

pesar dos portugueses na Venezuela se dedicarem em grande parte ao comércio tradicional e outros ligados directamente a sectores de importação, o relacionamento comercial entre os dois países tem sido praticamente nulo. Há queixas de parte a parte e o descontentamento maior é o dos emigrantes na Venezuela.

Falta de interesse das autoridades portuguesas e desinteresse dos empresários em Portugal são queixas constantes dos empresários venezuelanos. "Desprezo" talvez seja a palavra mais adequada quando se fala do relacionamento entre Portugal e a Venezuela nesse sentido. "Alguns empresários e políticos portugueses até nem sabem onde é que fica a Venezuela", desabafa um comerciante local. Outro empresário deita as culpas aos subsídios e aos apoios da União Europeia: "Talvez quando acabem os subsídios olhem para nos com algum respeito comercial", ironiza. O certo é que desconhecem realmente o potencial econó mico deste país. Daí as justificações de tantos anos de asneiras, do desinteresse, da ausência de políticas comerciais durante todos estes anos. Não é por acaso que, embora seja dominada pelos portugueses, na área da restauração venezuelana não encontramos normalmente uma marca de vinhos portugueses, ao contrário do espanhol e mesmo do italiano. Os empresários também lamentam as dificuldades encontradas em Portugal para importar essa classe de produto. Outro assunto a destacar é que, mais do que afastamento do ICEP (Instituto Comercial Externo Português) da Venezuela, se verificou a falta de presença no cenário comercial, assim como o seu afastamento definitivo para o México. Desconhecemos as afinidades comerciais entre os dois países, assim como o nú mero de emigrantes ali existentes. Portugueses a residirem naquele país. Quem diria?

Para além de mais férias para os seus representantes, depois de 5 anos também eles de férias na Venezuela, desconhecemos qualquer iniciativa levada a cabo por esta representação enquanto teve como sede este país… No entanto, é preciso destacar a recente decisão das novas autoridades portuguesas, que decidiram enviar para a Venezuela o seu secretário comercial, que, mesmo com pouco tempo de desempenho, mostrou boas intenções na sua primeira abordagem aos empresários venezuelanos de origem portuguesa. Esperemos que seja para mudar mesmo, até porque, como nos explicou o político, a economia é a prioridade deste Governo. O Correio entrevistou o secretário de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor, Fernando Serrasqueiro. Sopram ventos de mudança. Esperemos que não se fiquem pelas boas intenções.

merciais com o resto do Mundo. Durante a minha curta estadia, tentei sensibilizar o sector empresarial de sucesso na Venezuela para que também eles pensem na possibilidade de investir e de ajudar Portugal, pois hoje Portugal é um país moderno que nada tem ver com o Portugal de antes.

Qual é a sua opinião no que diz respeito ao relacionamento comercial entre Portugal e a Venezuela? É uma relação comercial que não tem correspondência com a realidade da comunidade portuguesa na Venezuela, que é muito mais trabalhadora e que se inseriu muito bem e com certo peso econó mico na Venezuela. No entanto, as relações comerciais são deficientes. Temos uma relação de 0,2 % das nossas relações co-

Sabe se a delegação do ICEP alguma vez marcou presença física na Venezuela? Tinha conhecimento de que as autoridades portuguesas decidiram mudar a delegação de Caracas para o México? Porquê? Para dar continuidade ao extenso período de férias que passaram em Caracas os delegados? Tem conhecimento de todas essas práticas comerciais medíocres que só geram gastos excessivos para o Estado Português,

O que nos pode dizer sobre a comissão mista criada em Portugal para tratar de assuntos comercias entre os dois países? Este é um organismo que o sector comercial luso-venezuelano desconhece por completo… Já pedi ao Sr. embaixador de Portugal em Caracas para nos ajudar nos contactos com o Governo Venezuelano, para ver se conseguimos reanimar a comissão de trabalho que infelizmente nunca reuniu. Pretendemos com isto criar um grupo de trabalho para tentar desbloquear alguns dos problemas que estrangulam o comércio bilateral.

Já viu então que tudo o que até agora se fez no sector comercial, embora seja pouco, fez-se por iniciativa pró pria dos empresários na Venezuela? Sim. Mas espero que isso mude a partir de agora. Tem conhecimento da existência de três ou quatro câ maras de comércio de origem lusitana na Venezuela. Não acha que isso é uma situação um tanto atípica nesse sentido? É que o anterior embaixador se esforçou mesmo por unificá-las numa só , o que até agora não foi possível. Qual é a sua opinião sobre esta situação? Se fosse possível unificaremse, fortaleciam-se e trabalhavam em conjunto. Isto seria o ideal. Mas se não conseguirem tal objectivo, pelo menos que articulem entre elas e se ajudem, para que não estejam em concorrência umas com as outras. A figura de encarregado de negó cios da embaixada praticamente passa ao lado do sector empresarial português na Venezuela. Queixam-se da falta de comunicação por parte dos titulares desta pasta de enviados de Lisboa e queixam-se da total falta de conhecimento da existência de empresas portuguesas na Venezuela. Não promovem contactos nesse sentido nem facilitam a via comunicacional de Estado para Estado, ao contrário da diplomacia brasileira e da espanhola, só para citar dois exemplos…

Falarei com o Sr. embaixador sobre esse assunto. Como sabe, também o Sr. embaixador está cá há muito pouco tempo e não tem uma visão completa desta realidade. Mas eu vou tentar falar com ele porque a minha vinda cá foi não só para acompanhar as comemorações do Dia de Portugal, mas também para perceber melhor as relações comerciais. E é por isso que me destacaram para a Venezuela. E sobre aquelas empresas portuguesas implantadas de raiz na Venezuela que se queixam da falta de apoio comparativamente com as políticas de outros países. O que vai fazer nesse sentido? Da minha parte, fui eu mesmo que sugeri e pedi ao embaixador a colaboração no sentido de promover uma reunião comigo e esse sector empresarial português e luso-venezuelano. Como disse anteriormente, para além de estar presente nas comemorações do 10 de Junho, o objectivo da minha visita também foi esse. Disseram-me que não conseguiram reunir mais empresários porque a reunião foi marcada em cima da hora. Mas vou estar atento. Deixei os meus contactos e tenho a certeza de que o Sr. embaixador nos vai ajudar a elaborar um relató rio para ver porque áreas podemos avançar, quais são as áreas, onde podemos trabalhar em conjunto, etc. O que é que vai mudar a partir de agora na tutela comercial de Portugal? Pelo menos a disposição do governo português em querer perceber os problemas… Mas acha que em Portugal haverá alguém que se interesse por esta problemática? Este Governo tem feito da economia a sua principal prioridade e tudo o que seja feito neste momento para apontar um crescimento positivo e uma economia mais reanimada, assim como um discurso de confiança, é bemvindo. E isso fez parte da minha vinda cá à Venezuela.


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"Portugal no Coração" beneficiou dois portugueses da Venezuela Daniel Morais opina que este programa é uma iniciativa "maravilhosa" do governo português, mas lamenta que sejam tão poucos lugares para a viagem de Outubro. O processo de candidaturas está aberto até ao dia 28 de Junho

BREVE Conselho das Comunidades reúne-se em Lisboa O plenário do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) realiza-se na Assembleia da República, em Lisboa, nos próximos dias 29 e 30 de Junho e 1 de Julho. Para além do balanço de actividades dos dois primeiros anos do actual

Liliana da Silva

lilianadasilva19@hotmail.com

mandato do CCP, os conselheiros vão analisar e aprovar um Manifesto das

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om o objectivo de trazer a Portugal cidadãos portugueses carenciados que, por razões de ordem econó mica, não visitaram Portugal há mais de dez anos; que tenham completado 65 ou mais anos de idade e que se encontrem em condições físicas que lhes permitam viajar autonomamente, a Secretaria das Comunidades Portuguesas promove, desde Maio de 1996, o programa "Portugal no Coração". Esta iniciativa é organizada e gerida pela Direcção Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas e pelo INATEL, com o apoio da TAP-Air Portugal. As viagens são feitas duas vezes por ano, sendo os meses de Maio e de Outubro os escolhidos para este fim. Em ca-

Comunidades Portuguesas, documento que deve transcrever as prioridades de Portugal nas políticas de emigração. O Conselho das Comunidades Portuguesas é composto por 96 Conselheiros, eleitos por sufrágio universal, nos cinco Continentes, por

da uma destas viagens, participam vinte idosos provenientes de diferentes países. São seleccionados em Portugal depois de se terem candidatado nos consulados portugueses dos países em que são residentes. Com base nestes requerimentos, a Direcção Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas escolhe os

beneficiados deste programa, dando prioridade àqueles que tenham idade mais avançada, situação econó mica de maior carência e, finalmente, um período mais extenso sem visitar Portugal. No passado mês de Maio, "Portugal no Coração" fez com que dois idosos residentes na Venezuela pudessem voltar por uns dias à sua terra de origem. Como nos explica Daniel Morais, "este programa é uma iniciativa maravilhosa do governo português. Só lamento é que sejam tão poucos lugares. Este ano, tivemos direito a apenas duas vagas e tivemos quinze candidaturas. No entanto, a iniciativa é de louvar e poder permitir às pessoas irem ao seu país é uma oportunidade ú nica. Para a viagem de Outubro, o processo de candidaturas ainda está em aberto. Até ao dia 28 de Junho, as pessoas que se encontrem nas condições previstas do programa podem ir ao consulado inscreverem-se", informou. O programa "Portugal no Coração" oferece duas semanas de estadia, onde se faz um roteiro turístico e cultural pelas principais cidades de Portugal. Depois do programa, os participantes podem prolongar a sua estadia no país por mais três meses, desde que familiares ou amigos os acolham e suportem as despesas daí decorrentes.

quatro anos. As últimas eleições realizaram-se em Março de 2003. No encontro, vão marcar presença diferentes figuras da política portuguesa, nomeadamente o ministro dos Negócios Estrangeiros, Diogo Freitas do Amaral, e o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, António Braga. Os trabalhos começam na manhã do dia 29, apresentação de relatório do Conselho Permanente e um debate. Segue-se almoço oferecido pelo presidente da República e várias reuniões dos Conselhos Regionais dos vários continentes. Nos dias seguintes, os trabalhos continuam com reuniões, sendo os conselheiros divididos por grupos de trabalho sobre “Lei do CCP e sua constitucionalização”, a “Reestruturação consular e recenseamento eleitoral”, a “Comunicação social das comunidades”, as “Questões económicas, empresariais e de investimento”, as “Questões sociais e laborais”, a “Contagem do tempo de serviço militar” e, finalmente, a “Eliminação redundante do atestado da prova de vida dos emigrantes para questões de declaração do IRS”. De destacar, é que na sexta-feira – antes do secretário de Estado das Comunidades Portuguesas oferecer o jantar – será debatido o Manifesto das Comunidades Portuguesas no Mundo.


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La Candelária: o centro do Mundo no centro de Caracas Amarú Araújo Villegas avillegas@yahoo.com

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aracas, a cidade que nunca dorme, tem histó rias para todos os gostos. Os seus cantos estão invadidos por pintores, actores, comerciantes, santos, delinquentes e até super-heró is anó nimos que, dia a dia, trazem cor à metró pole. A praça de "La Candelaria" é uns dos ícones da integração e da mistura cultural. Todos os dias um grupo de espanhó is, portugueses, italianos e cidadãos de outras nacionalidades reú nem-se para conversar e passar o tempo, enquanto observam o movimento harmó nico dos transeuntes. Cada um desses grupos representa uma realidade social, econó mica e religiosa que nutre a cultura "euro-caribenha" que existe na Venezuela. Manuel Buraco é venezuelano de pais madeirenses e é empregado de mesa. "Todos os dias um grupo de portugueses se encontra nesta praça. Também há muitos espanhó is que trabalham perto e que se reú nem do outro lado. Por exemplo, eu sei que este encontro começou quase no início dos anos 70 e prevalece até aos nossos dias. Para mim, a praça é praticamente o melhor que existe porque dizem que A Candelária é a pequena cidade de Paris da Venezuela. E dizem isso sobretudo por causa da gastronomia, da boa vida e da grande quantidade de imigrantes", conta-nos. A mistura existente na Venezuela dá para tudo. Entre os visitantes da Candelária esta Elí Casanova, de origem mexicana, implementou há mais de 20 anos

no país. Ele recorda com muita emoção os tempos dourados da praça: "... já as famílias não vêm tanto como antes", lamenta, recordando que "antes, vir à praça era um hábito, especialmente aos fins de semana". Falando da integração dos estrangeiros, Casanova refere que, "por causa da colonização, temos tido uma grande influência na construção dos nossos países e temos que lembrar que somos produto da mestiçagem. Tenho muitos amigos portugueses e italianos que são muito trabalhadores. Estes costumam encontrar-se na praça para partilhar as suas vivências", diz. O tema mais falado é o futebol, tanto no canto dos portugueses o como no lado onde se ouve sotaque galego. Nos

espaços reservados para os emigrantes, respira-se um ambiente de calma que contrasta com a agitação constante da zona. A praça fica em frente da Avenida Urdaneta, uma das mais movimentadas de Caracas. Já Esteban Castro, do Estado Táchira, tem muito boas referências dos portugueses, mas confessa que não conhece muito da sua cultura. "Sempre os vejo na praça a falar, mas acho que não se dão bem com os espanhó is nem com os italianos. Talvez porque têm uma língua diferente, costumam estar só com os seus amigos. Acho que preferem "fechar-se" ao grupo deles porque têm saudades dos seus países", comenta. A praça Candelária não é só um lugar para conversar ou para a devoção re-

ligiosa, pois a igreja fica na parte baixa. Também tem sido visitada pelos vendedores informais que oferecem uma grande variedade de mercadoria. Luísa Camacho, vendedora, fala sobre a devoção dos portugueses: "Eu tenho mais de vinte anos a trabalhar na praça e sei que há uma divisão entre os grupos estrangeiros. No entanto, gosto imenso das senhoras portuguesas que sempre vêm comprar-me coisas. Há portugueses que são devotos da virgem da Candelária e de José Gregó rio Hernandes. E isso já faz parte da mistura cultural que se vê na praça e no país. A 2 de Fevereiro comemora-se o dia da Candelária e, todos os anos, vendo virgens, há procissões e tudo é uma festa religiosa onde não existe diferença entre as pessoas", expressa. Embora nem todas as famílias visitem a praça, nela estão sempre aqueles que não podem viver sem ela. Uma boa conversa, um namoro, um momento de paz ou simplesmente passar três horas a jogar xadrez são uma de tantas opções que A Candelária oferece para todos os que precisem de um cantinho na sombra das árvores ou dum espaço com sol venezuelano. Contudo, já praticamente não se comemoram as tradições, como na época dos tectos vermelhos ou da Caracas afrancesada, onde a maioria dos homens era cavaleiro e ainda se respeitava o patrimó nio cultural deste "pequeno Paris".

Tradição milenária A história da Paróquia Candelária remonta a 1696, quando um sacerdote de nome Pedro de Vicuña, juntamente com um grupo de vizinhos das ilhas Canárias, se dirigiram ao bispo de Caracas para solicitarlhe o consentimento para uma colheita que se ia fazer com a finalidade de construir uma capela à santíssima Virgem da Candelária. Desde então, a paróquia tem sido um local próprio para a cristandade, com muita devoção, contando sempre com a presença de estrangeiros que fazem vida nacional à volta da praça, da igreja, dos clubes, das tascas, das ruas e das esquinas de La Candelária. Arturo Uslar Pietro cresceu nestas ruas e a praça já inspirou Franco de Vita, que tem uma música intitulada "Plaza del Centro", pois cresceu na popular paróquia. Actualmente, La Candelaria é um dos mais importantes centros culturais e educativos da capital, que conta com construções exemplares como o Complexo Cultural Teresa Carreño, o Edifício Ateneo de Caracas e a Escola de Artes Visuais Cristóbal Rojas, para além dos diferentes estabelecimentos comerciais e gastronómicos da zona.


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Governo da Madeira convida Chávez a visitar a ilha O ministro das Relações Exteriores, Alí Rodrí guez, esteve na Madeira. Numa escala técnica, o governante teve oportunidade de reunir com a cônsul da Venezuela na Madeira e com o secretário dos Recursos Humanos ensão de droga num avião da Air Luxor se realizasse o quanto antes. O ministro fez uma escala na Madeitravés do ministro das Re- ra por pouco mais de um dia, mas a sua lações Exteriores, o secretá- visita não é oficial. Veio de Doha, em rio regional dos Recursos Qatar, de uma reunião com o comité GHumanos vai convidar o 77 do grupo Sul e vai para o Paraguai, presidente da Venezuela a visitar a Ma- para representar a Venezuela na reunião deira. Ainda não há uma data concreta de Mercosul, que deixa de ser presidido para a visita de Hugo Chávez a Portu- pelo Paraguai para ser liderado pelo Urugal, mas Brazão de Castro aproveitou a guai. escala técnica do ministro Alí Rodríguez Com algum orgulho, o ministro evipara lhe endereçar o convite. dencia que "a Venezuela já é membro O ministro destacou a importâ ncia oficial do Mercosul, um mercado do Sul da comunidade portuguesa na Venezue- que unifica os mercados de Brasília, Arla e frisou que as relações entre este país gentina, Uruguai e Paraguai. E agora vão e Portugal são "excelentes". Confronta- ser incorporados outros países: a Venedo com alguns problemas actuais da co- zuela, a Colô mbia e o Equador. munidade, Alí Rodríguez disse que não O ministro Alí Rodríguez reuniu dutinha conhecimento do rapto do madei- rante a sexta-feira passada com a cô nsul rense Dionísio de Sousa e assegurou que da Venezuela na Madeira. O encontro, tanto as autoridades venezuelanas como adiantou-nos fonte consular, serviu para as portuguesas estavam a juntar esfor- fazer um ponto da situação relativamenços para conseguir que o julgamento dos te ao funcionamento do consulado. portugueses envolvidos no caso de apreSónia Gonçalves (DN - Madeira)

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BREVES Atentado contra deputado O deputado Júlio Montoya assegurou na segunda-feira passada que saiu ileso de um atentado programado por desconhecidos que dispararam contra o seu automóvel, no Estado Zulia. Montoya, do Partido Movimento ao Socialismo (MAS), atribuiu a agressão registada na noite de domingo às máfias que tentam atormentá-lo pelas suas denúncias de corrupção na corporação estatal Petróleos de Venezuela (Pdvsa).

Golpe informático investigado O sistema informático da Fiscalia General da República foi informaticamente contaminado. Funcionários da Disip e da Direcção da Inteligência Militar (DIM) iniciaram as investigações para determinar responsabilidades. A presença dos funcionários da Segurança de Estado motivou rumores que dão conta de um estranho afastamento do Ministério Público.


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aCIPan quer aumentar o preço do pão Devido ao aumento do custo das matérias-primas, a padarias de Carabobo pedem ao Governo um ajuste do preço do pão, passando de 2.520 para 3.600. Briceida Yépez

brice26@hotmail.com

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Associaç ão de Comerciantes e Industriais da Panificação e Similares do Estado Carabobo (ACIPAN) vai solicitar ao Governo um ajuste do preço do pão, passando este de 2.520 para 3.600 bolívares. Esta é uma forma de compensar o aumento dos custos com as matérias-primas e outras despesas que têm motivado o encerramento de vários estabelecimentos que alegam ter perdido a rentabilidade. José Antó nio Pereira, presidente desta associaç ão, à qual estão inscritas cerca de 400 padarias, de umas quinhentas que existem ao todo, informou que este ajuste representa um aumento de 40%, o que, tendo em conta o estudo dos custos, já iria permitir uma rentabilidade justa para o padeiro. Pereira destacou que a problemática teve início com a publicação da regulamentação dos preços, decretada em

Fevereiro de 2003 pelo Governo Nacional, onde se determinava o preço de vários produtos do cesto básico alimentar. Na altura, o preço oscilava entre os 2.600 e os 2.800 bolívares ao quilo, mas foi reduzido para 2.100. Explicou que esta decisão foi assumida sem qualquer tipo de problema porque estava dentro das expectativas do negó cio, pois também estavam reguladas as matériasprimas para o fabrico do pão. "Nessa altura, um saco de farinha custava 28 mil bolívares a caixa de quinze quilos e margarina 17 mil. Mas mais tarde o preço destes bens foram postos a preço livre", recordou. Para piorar as coisas, em Março do ano passado, o Governo autorizou o incremento do preç o actual de 2.520. Entretanto o custo da matéria-prima (açú car e manteiga) subiu até mais 90%, e 30% a farinha. Recordou que o trigo é importado principalmente do Canadá. Por isso, o preço flutua de acordo com o mercado internacional.

Juntamente com o incremento dos custos da matériaprima, Pereira assinala que o aumento das tarifas de serviç os básicos como a luz, a água, o telefone e até as rendas têm aumentado também. E isto sem contar com o impacto da imposição de pagar juntamente com o salário direitos específicos que foram consagrados por um decreto presidencial. ReunIão Com a assembleIa Por outro lado, a aumento da delinquência tem obrigado os padeiros a contratar serviç os de vigilâ ncia privada, para evitar ser vítima de assaltos e roubos. Na procura de alternativas para tentar resolver as dificuldades da indú stria do pão em Carabobo e no resto do país, os membros da ACIPAN reuniram-se em assembleia na passada quinta-feira com o presidente da Federaç ão Venezuelana de Industriais da Panificaç ão e Afins (FEVIPAN), Tomás Ramos Ló pez. Pereira explicou que "não

vamos tomar nenhuma medida drástica nem vamos fechar as portas em protesto, mas vamos tentar atacar através de FEVIPAN para continuar com as negociações mantidas com o Ministério de Indú stria e Comércio. Já solicitamos até uma audiê ncia ao presidente da Repú blica, Hugo Chávez Frias". "Queremos que o Governo Nacional escute e enten-

da a nossa situação real. Estamos conscientes da importâ ncia do pão como produto de primeira necessidade e, por isso, não queremos afectar o pú blico em geral, perdendo qualidade. Também não queremos reduzir o nosso pessoal, pois deles dependem em média 25 famílias em cada estabelecimento comercial, e são 400 negó cios", sublinha.

Câ mara de Valencia outorgou "botão da cidade" Carlos Balaguera Com quase dois anos, a Academia do Bacalhau de Valencia comemorou na sede do Country Club a entrega do "botão da cidade de Valencia". O presidente da Academia, Brás dos Santos deu as boasvindas ao autarca de Valencia, Francisco Cabrera Santos, ao presidente da Câ mara Municipal de Naguanagua, Jú lio Castillo, e ao presidente da Academia do Bacalhau de Caracas, José Luís Ferreira. De seguida, para assinalar o encontro anual dos membros da Academia do Bacalhau, o autarca de Valencia entregou o "botão da cidade de Valencia" aos distinguidos compadres. Esta é uma forma de reconhecer o seu louvável e constante tra-

balho em benefício da comunidade de Valencia. Os galardoados com o "botão da cidade" foram José A. Pereira Malha, João Davis Malta, José Jardim Dos Santos, Leonel Moniz Da Silva, Agustino De Abreu Pestana, Mario Simoes Papel, José Luis Ferreira, João Paulo Da Vera Romão, Bras Jesú s Dos Santos, Manuel Joaquín Dias Mouta, Carlos Simões Papel, Fernando De Abreu Ascensão e Nelson Coelho. O presidente da Academia, Brás dos Santos, explicou que esta tertú lia servia para aliviar o stress. "Agora percebo muito bem e sei o que é. É verdade. Este é o melhor momento para lhes fazer um convite para que dêem um passeio pelas instalações do metro de Valencia". O compadre José Luís Ferreira cumprimentou todos os

O presidente da Academia, Brás dos Santos, foi condecorado

presentes expressando que é uma honra receber o "botão da cidade de Valencia". Aproveitou para informar aos presentes que no pró ximo mês de Outubro se vai realizar em Caracas o Congresso Mundial de todas

as Academias que existem nos cinco continentes do Mundo. « Como é do conhecimento da maioria, a academia foi fundada na África do Sul, há 35 anos. Por isso, hoje fazemos todos esforços e estamos a tratar

dos preparativos necessários para receber mais de quinhentos compadres de todo o Mundo que, juntamente com as três academias da Venezuela, esperamos bater o record de assistência» , disse. E acrescentou: "Convido-vos a participar neste evento, pois não sabemos se vamos estar vivos para sermos anfitriões no pró ximo congresso, e dia-a-dia abrem-se novas academias em todo o Mundo… Por isso, voltar a ser anfitrião vai ser difícil!" O compadre Fernando Sánchez, presidente do Country Club, ofereceu aos compadres a apresentação do grupo crioulo Carayaca 4. Quando acabaram a actuação, os compadres estavam tão satisfeitos que lhes aplaudiram de pé.


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San Juan de Curiepe: sensualidade e misticismo Esta comemoração tornou-se ainda mais importante. Este ano, o Governo Nacional proclamou as festas do santo, que se realizam na zona de Curiepe, como Património Cultural da Nação Jean Carlos De Abreu

deabreujean@yahoo.com

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enezuela é uma terra com mú ltiplas culturas e diversas manifestações religiosas que são expressadas pelos seus povos há vários séculos. O sincretismo religioso tornou-se a mais típica manifestação de fé dos venezuelanos. Missas, oferendas, promessas e petições são as expressões mais comuns dos crentes em santos, sobretudo se forem milagrosos. A Igreja Cató lica, como centro religioso do país, estabeleceu datas importantes para comemorar com missas e orações as festas de origem cristã. Na Venezuela, o 24 de Junho é o dia de São João Baptista, data importante para os povos do ocidente, centro e oriente do país, os quais fazem as comemorações em honra do milagroso "da fertilidade e da expressão", como comenta Luisa Madríz, coordenadora da Casa da Cultura "Juan Pablo Sojo (filho)" e professora de folclore, histó ria e geografia em Curiepe, Estado Miranda. Nas cidades da região central da Venezuela (Caucagua, Cú pira, Río Chico, Guarenas, Guatire, Santa Lucía, Ocumare del Tuy, Tácata, Cú a, Mamporal e La Guaira), comemora-se a festa de São João Baptista. Contudo, a mais famosa em todo o país realiza-se no berço do nascimento da festa pagã: Curiepe. Numa acção protocolar da Assem-

bleia Nacional, à que assistiram personalidades do Governo Nacional e da Governação de Miranda, a 19 de Junho deste ano, as "Festas de São João Baptista" de Curiepe foram proclamadas Patrimó nio Cultural da Nação. Curiepe, berço da feSta A 110 quiló metros de Caracas (via Higuerote) está Curiepe, um povo fundado há mais de 250 anos e onde a maioria dos habitantes são descendentes de pretos escravos que os espanhó is trouxeram de África no início da colonização americana, em 1492. Em 1721, Curiepe ficou livre, graças a Juan del Rosario Blanco, lutador e pensador nascido na zona. Antes da sua emancipação, esta população viveu sob o domínio espanhol que lhe proibia ter manifestações culturais. O africano da altura sentia a necessidade de adorar uma divindade como símbolo de respeito, sem contradizer o que ditava o branco. Assi, surgiu uma forma particular de adorar os santos, guardando a essência pró pria do povo africano. San Juan foi o primeiro santo a quem os "barloventeños" renderam culto. Os brancos e os pretos da altura faziam missas e oravam. Mas à noite tudo mudava, pois os escravos prestavam outro tipo de tributo, com bailes, oferendas e sacrifícios para pagar as promessas cumpridas. Eduardo Gonçalves, pároco da igre-

ja "Nossa Senhora da Candelaria" em Caracas, comentou-nos que São João Baptista é, para a religião cató lica, o ícone que encerrou o ciclo do Antigo Testamento para dar lugar ao Novo Testamento. São João Baptista nasce de uma mãe estéril e de um sacerdote, ambos descendentes da casa de Aáron. Foi peregrinador da palavra de Deus e anunciou a chegada do "Salvador". Depois, com as suas pró prias mãos, baptizou Jesus na terra. A Igreja Cató lica comemora o nascimento desta personagem bíblico. Pela sua parte, os escravos, como não tinham imagem para adorar, decidiram pegar na representação cató lica dos colonizadores e acrescentar-lhe algo autó ctono, composto pelo ritmo do tambor e uma vestimenta especial. preparatiVoS feStiVoS de barloVento Há duzentos anos que o povo de Curiepe, município de Brió n, Estado Miranda, através da família Tovar, cumpre esta tradição festiva iniciada por Filomena Tovar, que faleceu aos cem anos. Este costume perdura no seio desta família há três gerações. Os bombos ouvem-se nas vésperas de 23 de Junho, quando mais de 150 percussionistas começam a tocar no início da tarde, para abrir a maior festa da localidade. Milhares de turistas e crentes chegam de todas as partes do país para assistir à missa que se oferece na manhã

do 24. Depois de recorrer toda a povoação com a imagem do santo, dirigem-se à casa de Carmen Piña de Tovar para deixar a imagem no seu altar enfeitado com flores, frutas e telas floridas. São João Baptista criança é venerado por toda a população de Curiepe, "pelos milagres que já concedeu", expressou Carmen Piña, dona da imagem. Anualmente, o santo recebe milhares de ofertas em roupa à medida para usar durante os três dias de festa. Na cerimó nia eclesiástica, São João Baptista usava roupa branca, um chapéu de palha e uns chinelos, que representam o povo maltratado da altura. Adrián Monasterios, coordenador da Cultura da Câ mara Municipal de Brió n de Curiepe, comenta-nos que "São João Menino é o santo milagroso do povo, 'Os bombos de São João' ouvem-se três dias consecutivos para que os visitantes dancem e prestem tributo ao "santo fértil" que faz o milagre da fecundidade". Segundo Monasterios, uma família de mulheres prepara um pão "milagroso", que é distribuído a todas as pessoas depois da procissão. Este pão tem o nome do santo e, dizem, está benzido por ele. rituaiS e tradiçõeS do São João Muitas tradições e mitos surgiram em torno desta imagem que é considerada como a mais milagrosa do povo. A São João devem o sucesso da fertilidade, a abundâ ncia, as boas colheitas do ca-


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Venezuela 11

São João em força Em Portugal, tanto faz no espaço continental como na ilha da Madeira, são muitas as festas em honra do santo. Destacam-se as que se fazem no Porto e na ilha do Porto Santo. Sónia Gonçalves

U

cau e saú de daqueles que lhe fazem petições. Os visitantes e os povos, todos os anos, trazem consigo roupas coloridas para, desta forma, poder mudar a vestimenta até seis vezes, para festejar o "menino Baptista". Da mesma forma, o santo também troca de roupa até 25 vezes, para estar de acordo com o clima do local. As cintas vermelhas guardadas na parte íntima da mulher "é uma das coisas mais comuns e populares que o povo de Curiepe faz quando as mulheres querem ter filhos ou manter o marido ao seu lado, assim como para acabar com o medo em cena e melhorar os problemas de dicção das crianças", explica Madríz. O som dos bombos até ao amanhecer e as danças eró ticas

encerram um mundo de atracção que gira em torno do santo. Os movimentos das ancas, segundo a crença popular, atraem o ser especial indicado. Os turistas levam amuletos feitos de pétalas de flores, guardados num saquinho vermelho ao longo de todo o ano. O povo veste-se de vermelho, que significa fertilidade e abundâ ncia, e branco, que reflecte a pureza do santo. Entre o religioso e o profano, não existe um limite que divida o correcto e o incorrecto. A ú nica certeza é que São João é o mais milagroso de todos os santos, o que consegue reunir mais pessoas num só sítio e o que dá vida a uma crença que dura há mais de dois séculos.

m pouco por toda a Europa, o São João é comemorado. Sob o nome de João, Joan, Jean, John, Ivan ou Sean, o dia não passa ao lado das populações. Cada país, região ou cidade tem uma forma específica de comemorar este dia que foi consagrado a São João Baptista por ser a data do seu nascimento. Em Portugal, há festejos em muitas terras, onde a data é assinalada das mais diversas maneiras. Contudo, as comemorações que se fazem no Porto e na Madeira destacam-se das outras por conseguirem atrair muita gente, ganhando cada vez mais adeptos. De destacar, é que as festas já não se limitam ao enfeitar das fontes, ao saltar da fogueira e aos balões. As pessoas são mais exigentes e, juntamente com as Marchas Populares, nalguns concelhos, as actuações musicais de diversos grupos atraem os mais jovens. São João no porto Com o mês de Junho chegam as festas dos Santos Populares que se festejam no Porto. Santo Antó nio, S. João e S. Pedro dividem entre si as devoções da população portista, mas S. João leva vantagem em nú mero de fiéis e na forma como se manifestam. A noite de S. João não precisa de organização nem de grandes atracções. Ela começa dias antes, com os arranjos que cada qual faz à sua maneira, com enfeites nos pátios comuns e nas ruas, com a escolha do "equipamento", ou seja, do alho-porro, do manjerico, do raminho de cheiros, do cabrito... Quando a noite chega, razões que vêm do fundo dos tempos trazem as pessoas para as ruas, festejando o Verão ligado à imagem de um santo que, sendo mártir, é aqui festivo e popular. S. João tripeiro é uma grande manifestação de massas, eminentemente festiva, de puro cariz popular e que dura toda uma noite, com uma cidade inteira na rua, em alegre e fraterno convívio colectivo. Tudo começa na Ribeira, mas, depois do Fogo de

Artifício, todos os anos à meianoite em ponto a festa espalha-se pelos quatro cantos da cidade e só termina ao nascer do sol. Nas ruas, os foliões passeiam os martelos de plástico, bebem e comem sardinha assada. Aliás, é com uma boa sardinhada e um bom caldo verde que começa a farra! Mas "o mais giro da festa é mesmo fazer subir balões confeccionados com papéis de várias cores que passeiam no ar como só is iluminados sob o impulso do fumo e o calor de uma chama que consome uma mecha de petró leo ou resina. É este cheiro a gente, a manjerico e erva-cidreira, é esta poesia popular impregnada do espírito folião do povo que enche Junho no Porto e se expande do coração das pessoas, subindo ao ar como um fogo de artifício que ilumina a noitada", descreve um site turístico que divulga a cidade do Porto. São João na Madeira Os tradicionais arraiais ainda estão em moda na Madeira, mas as velhas tradições - em que se queimava lenha e trapos velhos para fazer uma fogueira grande só por si, já não contentam as pessoas, que preferem outras brincadeiras e, se possível, um desfile animado. São poucos os que saltam as fogueiras e enfeitam as fontes, mas ainda há resistentes que mantêm a tradição de enfeitar os fontanários com velas, flores e

balões. À volta do São João, cantam e dançam até de madrugada e recordam, os mais velhos, como esta era uma das poucas alegrias que tinham ao longo do ano. Mas esta forma de comemorar o São João deixou de ser assim nalguns sítios da ilha e, hoje, Funchal, Santa Cruz, Câ mara de Lobos, Ribeira Brava, Porto Santo e outros municípios preenchem a agenda deste dia com iniciativas bem mais animadas. Vestidas a rigor, de arco e balões em punho, um pouco por toda a ilha, centenas de pessoas desfilam, com as quadras decoradas e os passos ensaiados. Muitos são os que assistem às denominadas Marchas de São João, que junta num desfile cheio de cor e som homens e mulheres, novos e velhos, casados e solteiros. Com a chegada do Verão, milhares de pessoas optam por passar férias na ilha do Porto Santo (pertence ao arquipélago da Madeira). Uma vez de férias na denominada Ilha Dourada, são muitos os que se rendem aos encantos dos grupos que desfilam no centro da cidade Vila Baleira. Como tal, as Marchas Populares começaram a ter uma importâ ncia maior e, por isso, a Câ mara Municipal do Porto Santo começou a aumentar o nú mero de dias em festa. Assim, como acontece também em Câ mara de Lobos, vários grupos musicais e bandas actuam nestes dias.


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O refúgio é o folclore em los Valles del Tuy Os portugueses da zona queixam-se do esquecimento por parte das autoridades consulares Jean Carlos De Abreu

deabreujean@yahoo.com

A

60 quiló metros de Caracas, na parte centro-norte do estado Miranda, está a zona de El Tuy. Ali está Charallave, Ocumare del Tuy e Santa Teresa del Tuy. A população ronda os 2.800.000 habitantes. Esta região destaca-se por ser uma zona agrícola, pesqueira e de criação. O cacau é o principal rubro de exportação que se produz na região. De CaraCas a OCumare Del Tuy Carmen María de Sousa, lusodescendente de pais madeirenses naturais de Santa Cruz, nasceu em Caracas há 31 anos. Vive há 17 anos na zona de Ocumare del Tuy porque o seu marido, outro lusitano, tem uma loja comercial nesta área. Trabalho é a primeira palavra que sai da boca de Cármen,

cuja vida consiste em ficar em casa. Aos domingos, esta família vai ao clube "Centro Luso Venezuelano dos Valles del Tuy", onde passa tardes diferentes que servem para quebrar a rotina juntamente com outros portugueses. O seu filho dança no grupo folcló rico "Emigrante Português". "Os portugueses que estão na zona não gostam de interagir é conhecer outros portugueses porque só querem é trabalhar", diz Sousa, que se queixa do tratamento que ela e a sua família recebem das autoridades consulares portuguesas. Diz que o comportamento de muitos funcionários não é o mais apropriado para com os seus conterrâ neos. A actividade comercial da comunidade lusa de Ocumare del Tuy, composta por umas oitenta famílias portuguesas, se baseia na propriedade de locais comerciais como padarias, lojas de venda de álcool e talhos.

"De sanTa Teresa para el munDO" Rita Fernández de Pita, emigrante do Jardim Botâ nico, Funchal (Madeira), chegou a Santa Teresa del Tuy há mais de vinte anos. Da mesma forma que em Ocumare, a vida das cem famílias lusitanas que vivem aqui é marcada pela jornada laboral diária. Para além de atender o pú blico de um bazar que fica mesmo por baixo da sua casa, Rita é directora de um grupo folcló rico português. Aos fins-desemana, com outros "paisanos", costuma ir visitar a sua família, que vive noutros distritos do país. "O meu filho dança no grupo e adoro que assim seja, pois sinto-me como se estivesse em Portugal. Embora esteja num país que me acolheu tão bem como se fosse o meu pró prio país", frisa. Como Sousa, queixa-se das autoridades consulares, que "há

Carmen María de Sousa

Rita Fernández de Pita

muito tempo que não comunicam nem se preocupam connosco. A atenção personalizada no Consulado é deprimente. Parece que estamos num regime militar", assevera. Segundo Fernandes, "os portugueses devem ser mais unidos, para expressar a nossa voz. Eu sou de Santa Teresa para o Mundo e, enquanto puder, vou continuar a propagar de qualquer forma a tradição lusa, pois eu sou portuguesa". TODa uma ViDa em CharallaVe Manuel Silvino da Silva chegou à Venezuela há 46 anos. Veio da Covilhã, perto da Serra da Estrela, uma zona peninsular de Portugal. Uma vez no país, instalou-se em Charallave, on-

Manuel Silvino da Silva

de constituiu família. Da Silva foi o primeiro português a chegar à cidade. A vida em Charallave é igual à das outras zonas do Tuy. Muitas das 110 famílias portuguesas que residem aqui, depois de um árduo dia de trabalho, se distraem com um jogo de cartas, dominó e espetadas aos finsde-semana. Segundo Da Silva, não há clubes porque os habitantes nunca mostraram interesse em criá-los. "Há alguns anos, havia um, mas desapareceu porque nunca levaram a sério a responsabilidade que tinham", lamenta. O lusitano também se queixa da pouca atenção que as autoridades consulares lhes dispensam.

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veneZUeLA 13

"Somos muitos, mas participamos poucos" Os portugueses que vivem em Barquisimeto são, no total, cerca de cinco mil habitantes. Embora a sua presença seja numerosa, o seu dinamismo nos centros sociais está em declí nio Délia Meneses

delia_jornalista@yahoo.com

É

conhecida como a cidade dos crepú sculos, pelo seus belos entardeceres. Localizada na região centro ocidental da Venezuela, Barquisimeto tem cerca de 800 mil habitantes e uma temperatura que pode atingir os 26 graus centígrados. O potencial econó mico da cidade está vinculado com a pequena, média e grande indú stria. Para além dos produtos alimentares, os plásticos, os têxteis, a indú stria automó vel, o papel, os produtos lácteos e os de agropecuária são os rubros mais fortes da região. As pessoas de Barquisimeto são fiéis à devoção da Divina Pastora, virgem que, segundo a tradição, fez o milagre de erradicar a có lera da população. Os portugueses que vivem em Barquisimeto, a capital, perfazem um total de cin-

co mil habitantes. No Estado Lara, este montante eleva-se aos dez mil. A importâ ncia numérica dos lusos nesta zona explica a existência de dois clubes portugueses: o Centro Luso Larense e o Centro Atlâ ntico Madeira. Em ambos, o dinamismo já não é o mesmo de épocas anteriores, afirma o cô nsul honorário de Barquisimeto, Pedro Ferreira. O funcionário fala com conhecimento do tema, pois actualmente pertence aos dois clubes e visita-os todas as semanas. O seu cartão revela que ele foi o só cio nú mero um do Centro Luso Larense. "Os cidadãos portugueses que vivem em Barquisimeto deviam participar mais activamente nas actividades feitas pelas nossas instituições. Um clube sem só cios não é um clube” , assinala Ferreira. O cô nsul pensa que a presença de conterrâ neos está a diminuir nos centros, sobretudo pelo excesso de ocupações, pela

insegurança e pela situação econó mica actual. "Durante a semana, os que vão ao clube são principalmente os venezuelanos. Em Barquiusimeto, somos muitos os portugueses, mas participamos pouco", refere, acrescentando que os luso-descendentes não se sentem atraídos pelas iniciativas dos centros. "No passado cometemos um erro grave: deixámos os anos passarem e não dedicámos muita atenção aos jovens. Durante muito tempo, só havia cartas e dominó para distracção". Pouco a pouco, os clubes se têm actualizado com campos de ténis, saunas, piscinas… O consulado honorário fundou-se em 2000 e Ferreira assumiu funções em 2002. Explica que tem muito trabalho, pois atende ao mês uma média de 400 pessoas. "Em Barquisimeto, há de tudo, desde portugueses de grandes negó cios a lusos que passam dificuldades financeiras".

Fundador Pedro Ferreira chegou à Venezuela em 1958. Natural de Ourondo, distrito de Castelo Branco. Inicialmente, foi morar para Punto Fijo, onde já viviam alguns familiares. A partir de 1975, transferiu-se para Barquisimeto. Na altura, ainda não havia nenhum clube na zona. Este emigrante, que tem tido várias empresas de construção civil, começou por constituir grupos de convívio e desportivos, mas depois deu um passo em frente, pondo em prática a ideia de fundar o Centro Luso Larense. "Conhecia muitos portugueses e fazíamos grupos para jogar. Em 1997, avança com a iniciativa de fundar o clube, que actualmente tem 750 sócios de todas as nacionalidades, desde chineses, árabes e italianos.


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300 famílias portuguesas são só cias da Irmandade Galega Briceida Yépez

H

á mais de dez anos que cerca de 300 famílias de origem portuguesa socializam na Irmandade Galega de Valencia. Este dado é curioso e particular se tivermos em conta que no Estado Carabobo existem dois centros portugueses. As razões desta notável presença da comunidade lusa no centro espanhol tem a ver com "o ambiente agradável, a oferta de actividades familiares e a irmandade que se sente no clube", assegura-nos o presidente da Associação Portuguesa da Irmandade Galega de Valencia, Alcino Gó mez. O dirigente destacou que quase 80% das famílias portuguesas só cias do clube galego pertenceram antes a centros portugueses. Contudo, actualmente sentem-se melhor dentro do clube "irmão" porque estes os receberam bem e os fizeram sentir como se estivessem em casa, "sem exclusões nem racismos", disse, acrescentando ainda que os portugueses preferem frequentar os lugares onde se sentem melhor. "As comodidades que oferece a Irmandade Galega satisfazem as necessidades familiares, enquanto que nos Centros Portugueses as actividades recreativas não se realizam diariamente, nem em ho-

Alcino Gómez

rários diurnos. Pelo contrário, a maioria dos eventos realiza-se à noite", critica. Uma grande parte da comunidade lusa trabalha até altas horas da noite devido aos negó cios que têm (padarias, restaurantes e tascas, entre outras). E isto é um contraste com a vida social dos centros, que costuma ser nocturna, o que não satisfaz as necessidades de muitos lusos que se vêm obrigados a recorrer a outras casas sociais. Alcino Gó mez entende que uma comunidade que não aceita que os seus só cios participem na vida política dos centros portugueses "não é uma comunidade", pois não pode ter-se como tal. Do seu ponto de vista, existem cú pulas e não há rotatividade de pessoal nas juntas directivas dos clubes lusos. E - assegura - mesmo que outras pessoas queiram envolver-se, dar novas ideias ou sugestões, não lhes permitem. A associação portuguesa da Irmandade Galega é um grupo organizado que nasceu há nove anos e que respeita os estatutos do Centro Galego para realçar os costumes lusos dentro do mesmo. "Temos desenvolvido actividades para sobrevalorizar os aspectos culturais dos portugueses, através da dança, da mú sica e dos desportos típicos". A junta directiva recentemente eleita é constituída por Alcino Gó mez, que é pre-

sidente; Flausino Novo, que é secretário-geral; José Peleve, secretário de Finanças; e Rogerio Carballo, director. DIa De PortuGal Fazendo referência às comemoraç ões do Dia de Portugal, Gó mez resumiu que a integração absoluta de toda a comunidade portuguesa parece ser impossível, pois quando se trata de fazer integração, as casas de matriz recusaram a presença dos logó tipos das diferentes associações portuguesas que não estão envolvidas directamente com os centros. Mas são lusos de nascença ou descendência, acima de tudo. A Irmandade Galega e os só cios portugueses que integram a organização comemoraram por conta pró pria o 10 de Junho com a "VI Grande Romaria do Dia de Portugal", um show/espectáculo de mú sica portuguesa que contou com a presença do grupo folcló rico Danças da Madeira e onde se degustaram mais de cem pratos diferentes, tanto de gastronomia portuguesa como galega. Gó mez nasceu em 1951, no povo de Cantañedes, distrito de Coimbra, e chegou à Venezuela com 12 anos. Há 42 anos, dedicase ao comércio e, nos ú ltimos 24 anos, tem trabalhado na avicultura, actividade que considera o seu trabalho.

O centro galego comemorou o 10 de Junho com uma romaria

"Não temos conseguido trabalhar por uma mesma causa" Briceida Yépez A vice-presidente da Casa Portuguesa Venezuelana, Carmen Díaz Vasconcelos, pensa que a comunidade portuguesa não está dividida. Contudo, reconhece que existem alguns núcleos que não podem exercer cargos públicos, pois carecem de documentação legal necessária. "Enquanto que essas associações de portugueses que estão dispersas dos centros lusos não estejam representadas por pessoas jurídicas, não podem exercer certos direitos", explica-nos. Fazendo alusão às comemorações do Dia de Portugal, Díaz Vasconcelos precisou que todas as associações são bem recebidas, mas não podem aparecer publicamente, pelo que atrás expomos. Esclarece que a direcção da Casa Portuguesa não tem nada contra os portugueses que fazem vida social fora dos centros lusos, "mas existem aspectos legais que não podem ser ignorados", diz. Destacou, ainda, que as portas do clube social que representa estão abertas a todo o público, pois ela mesma se tem esforçado para que não haja distinções de raciais nem sociais. Para além disso, esclareceu que o dinamismo do centro não pode ser posto em causa por grupos externos, pois actualmente são muitas as actividades diurnas e familiares que dão vida à Casa Portuguesa da Venezuela. Por outro lado, o presidente do Centro Social Madeirense, João Paulo da Veracruz, assegura-nos que tem se esforçado muito para unir a comunidade portuguesa de Valencia, pois insiste que "na união está a força". Veracruz sublinhou que nunca deixou de convocar todos os portugueses e as associações de lusos que vivem em Valencia, para que participem e se integrem nas actividades que requerem a presença de todos. Contudo, reconheceu que, embora assistam às reuniões por um ou outro motivo, "não temos podido trabalhar para uma mesma causa". O presidente do Centro Social Madeirense negou que existam racismos dentro da comunidade portuguesa de Valencia.


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Mimi Lazo actua na Madeira Nos dias 25 e 26 de Junho, a venezuelana apresenta no auditório da RDP-Madeira um monólogo intitulado El Aplauso Va por Dentro" João Filipe Pestana (DN - Madeira)

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enezuelana sobe ao palco do auditó rio da RDP-M, nos dias 25 e 26 de Junho. O monó logo "El Aplauso Va por Dentro" vai estar em cena no auditó rio da RDP-M, nos dias 25 e 26 de Junho, com a famosa actriz venezuelana Mimi Lazo, um espectáculo que está inserido no programa comemorativo dos 500 anos da cidade do Funchal. Esta encenação, com texto de Mó nica Montañes, conta a histó ria de Valéria, mãe divorciada que, ao chegar aos 40 anos, frequenta um ginásio pela primeira vez, alimentando a esperança de ali encontrar o homem perfeito. E de recuperar o corpo e a juventude perdidas. Durante o percurso, Valéria avalia a sua vida, os parceiros que teve, as angú stias que sente e sentiu. Com enorme sentido de humor, ri-se de si e percebe

que o aplauso só pode nascer dentro dela. Sobre Mimi Lazo é importante destacar que se trata de uma das mais reputadas actrizes venezuelanas da actualidade. Nascida em Caracas, em 1954, estudou interpretação em Itália, participou em telenovelas, fez teatro e cinema na Venezuela, em Espanha, na Colô mbia e nos Estados Unidos. Em terras americanas, contracenou com Eva Herzigova, Antó nio Banderas, entre outros. Participou em mais de 30 peças teatrais e integrou o elenco inaugural da Companhia Nacional de Teatro de Caracas, tendo interpretado peç as de autores contemporâ neos, como Arthur Miller, Noel Coward ou Neil Simon, e de dramaturgos clássicos como Shakespeare. Foi premiada várias vezes sendo que, recentemente, foi nomeada pela revista "Variety" como uma das actrizes mais populares na Convenção de Televisão Mipcom, em Cannes.

Arte do azulejo na Assembleia Nacional Délia Meneses

delia_jornalista@yahoo.com

D

e 14 a 20 de Junho, os espaços abertos do Palácio Legislativo Nacional albergaram a exposição "Arte do Azulejo em Portugal". A iniciativa integrou-se nos actos comemorativos do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas na Assembleia Nacional. À cerimó nia de inauguração, assistiram representantes do Instituto Português de Cultura (IPC) e representantes do Parlamento, entre eles, o deputado luso-descendente Guido de Freitas, que é membro do grupo Amizade Parla-

mentaria Venezuela Portugal. Daniel Morais, presidente do IPC, referiu-se à simplicidade dos azulejos que "são feitos de argila", mas são a expressão de uma cultura popular e uma das contribuiç ões mais criativas da riqueza do patrimó nio artístico mundial. A mostra, que já tinha estado patente ao pú blico na Casa da Cultura de "El Hatillo", evidencia a presença do azulejo como um elemento que faz parte da histó ria portuguesa. Da mesma maneira que esta manifestação artística e cultural fez parte dos conventos e dos palácios da época, actualmente ela também

está presente nos parques e no Metropolitano de Lisboa. Guido de Freitas falou da importâ ncia do azulejo em Portugal, que deixou de ter uma função utilitária para passar a ser uma peça de decoração, atingindo o estatuto de arte, enquanto manifestaç ão poética na criação arquitectó nica. A exposição é composta por mais de vinte painéis e ficou uma semana na sede do Parlamento venezuelano. Com esta mostra, é possível ficar a conhecer os fascinantes revestimentos de azulejos portugueses desde a época antiga até a actualidade.


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"Os portugueses são rigorosos" No começo da sua carreira, este luso-descendente teve que enfrentar os seus pais, que não viam com bons olhos o mundo do espectáculo. Mesmo assim, José Gabriel Fernandes Drumont conseguiu obter muito êxito em toda a América Latina como cantor e como actor. Hoje, regressa aos ecrãs para protagonizar uma nova novela e apresentar uma ronda internacional com o reencontro do grupo musical "Los Chamos". Liliana da Silva

que se deixaram encantar por seis jovens adolescentes venelgumas pessoas zuelanos: "Los Chamos". Este defendem a tese foi o início do êxito que este de que o verda- filho de madeirenses teve. "Videiro artista é sitamos muitos países e em toaquele que possui o talento e dos éramos recebidos frenetio carisma necessário para camente. No México, consepercorrer cada uma das ver- guimos reunir 110 mil pessoas tentes que possui a carreira no estádio azteca". artística. José Gabriel FerAntes de entrar no grupo, nandes Drumont, mais con- Fernandes já tinha dados os hecido como "el Chamo Ga- seus primeiros passos ao estubriel", é o exemplo de um dar teatro na Academia de Carartista integral, por assim di- melo Castro. "Já aos nove anos zer. Cantor, actor e empre- comecei a participar em peças sário são alguns dos papéis de teatro. Não eram comerciais, que este luso-descendente mas serviu para que me aperdesempenha ao longo de cebesse que o que me preenmais de vinte anos de vida chia era estar no palco e ouvir artística. os aplausos das pessoas", conTodos aqueles que viveram fessou. na década de oitenta assistiram Inicialmente, a actuação não ao fenó meno musical que en- foi a melhor das experiências louqueceu as jovens da altura, para El Chamo Gabriel. "Era tão

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mau como actor que o produtor da novela decidiu pô r-me fora. A ú nica coisa que podia fazer era matar a minha personagem". Este primeiro fracasso não deteve o ímpeto do nobre actor, muito pelo contrário. "Para mim, a actuação representou um grande desa fio; esta primeira experiência traumatizoume e, ao mesmo tempo, deu-me forças para assumir esta faceta, mas de outra perspectiva", confessou Fernandes Drumont. Os seus estudos abriram-lhe as portas com uma oportunidade de ser protagonista no México, que conseguiu impulsionar, definitivamente, a carreira de Fernandes como actor. A partir desse momento, El Chamo Gabriel converteu-se numa das caras mais conhecidas dentro das novelas venezuelanas. Gabriel Fernandes não só tra-


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balhou em telenovelas como também já participou em cinema e em teatro. Há três anos, Fernándes abriu uma escola de talentos, com aulas de actuaç ão, baile, canto e modelagem para crianças e adolescentes. Para os que estejam interessados em entrar na Academia, o jovem luso-descendente está contactável através dos seguintes nú meros: 0212-4246262/ 0414-1059272. – Como foi o apoio da tua família ao longo da tua carreira? No início, foi difícil convencer a minha família de que era isto que eu queria. Os portugueses são rigorosos. Mas com o tempo consegui que me apoiassem. Penso que todos os rios procuram os seus caudais e se não fazemos o que gostamos acabamos por ser infelizes. – Achas que a cultura portuguesa foi determinante para o teu êxito? Totalmente. Sinto-me orgulhoso e estou agradecido por ser e origem portuguesa. Todos os valores que me ensinaram em casa, defendo-os de espada em punho. Para se destacar no mundo dos espectáculos, é preciso ter muita preserverâ ncia e ímpeto. E isso é o que os meus pais me transmitem sempre. – Tendo crescido num lar madeirense, o que tens de português? Apesar de ter nascido cá, sinto-me luso de coração. Uma pessoa cresce a

amar essa terra que os nossos pais recordam dia-a-dia e que se converte na nossa segunda pátria. Falo um pouco de português. A comida, a mú sica e a cultura portuguesa são valores que amo e defendo até à morte.

– Qual de todas as tuas facetas é a que mais te apaixona? A mú sica. Iniciei a minha carreira como cantor e, embora tenha outras facetas - como a actuação -, a mú sica continua a ser a minha grande paixão.

– Essa nova faceta de empresário vem do sangue lusitano? Tem tudo a ver. A comunidade portuguesa é muito activa e criativa. Procuram sempre algo novo para fazer e essa é uma das minhas características.

– Cantarias em português? Claro! Na verdade eu fiz isso quando estava a morar no México. Estava hospedado num hotel de Acapulco que se chamava "O Brasil" e um dia comecei a falar com eles e fizemos um acordo.

Cantava aos fins-de-semana em português e eles me davam estadia gratuita. Produzir um disco em português é um dos meus projectos. – Que outros projectos tens a curto prazo? Estou a preparar uma tourné de reencontro de "Los Chamos". Já gravamos os discos e a ronda começa em Colô mbia, no mês de Agosto. Para além disso, estou a gravar uma novela que sai ao ar brevemente.


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"a mulher portuguesa já não se veste como antes" A desenhadora lusa Ilda de Barros foi directamente influenciada pela sua mãe, que trabalhou numa fábrica de bordados em Portugal da moda, foram também uma influência determinante para que Ilda decidisse tirar o curso de Desenho de Modas e, depois, abrisse uma loja há nove anos, om apenas sete meses, Ilda Maria Barros fez no dia 10 de Junho. Gonçalves chegou à Venezuela, juntaContudo, a primeira paixão desta mulher foi a pinmente com os seus cinco irmãos e os seus tura. Desde os seus oito anos, pintava sem ter feito pais. Vieram da ilha da Madeira e, a parnenhum curso. E partilhava esta paixão com o detir daí, Ilda Barros - como é conhecida no mundo da senho de roupas para as suas bonecas. "Ainda hoje moda - viveu em Maiquetía, em Caracas, passando pinto como hobbie, pois é uma coisa que eu gosto depois para Valencia, onde já está há quinze anos. E muito de fazer, sobretudo fazer rostos humanos. É a foi precisamente nesta cidade venezuelana que conminha verdadeira paixão, embora a minha mãe dizia seguiu ganhar um lugar importante entre os desenque se continuasse assim ia acabar como vendedora de hadores de moda. rua, na Praça Bolívar. "E para além disso, as técnicas "O gosto pelo desenho é uma herança familiar", utilizadas na pintura são uma ferramenta maravilhocomenta-nos Barros, descrevendo como foram os seus sa para desenvolver a criatividade necessária para as começos no Mundo da moda. "A minha mãe trabal- minhas criações", confessou Ilda Barros. hou em Portugal numa fábrica de bordados e, desde Dentro da sua ampla clientela, esta jovem lusa tem pequena, já na Venezuela, apreciava a forma como muitas senhoras da comunidade portuguesa que, asela trabalhava, com delicadeza e amor". Mesmo assegura-nos, quebram completamente o esteresim, a sua irmã, Rita Barros, e uma tia, ambas amantes ó tipo daquela mulher imigrante que se apresentava pouco arranjada e, muitas vezes, mal vestida. "Esse estereó tipo não é mais do que um mito que, embora tenha sido criado numa determinada altura, já não se adequa porque a mulher actual já não é assim. A mulher portuguesa já não se veste como antes. A minha experiência me tem mostrado que as portuguesas são senhoras elegantes e, acima de tudo, modernas. Liliana da Silva

lilianadasilva19@hotmail.com

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InspIrada pela natureza O processo de criação de cada peça de Barros acontece de forma natural, sem grandes procedimentos. A inspiração pode chegar-lhe a qualquer momento e, por isso, nunca sai sem um papel e um lápis, onde pode eventualmente plasmar e dar forma a uma ideia que apareç a ao acaso. "Não tenho nenhum método ou ritual estabelecido. Algumas vezes, olhando para uma tela em branco, surgem desenhos". Contudo, confessa-nos que a sua principal fonte de inspiração é a natureza. Baseia nesta a maior parte dos detalhes que enfeitam os seus vestidos de noite e os trajes de noiva que faz. "Utilizo normalmente telas

com muita queda, normalmente unicolores, pelo que sempre lhes acrescento detalhes em flores ou folhas que destaquem o vestido", conta-nos. Este ano, a desenhadora acrescentou à sua já bem conhecida linha de roupa feminina uma linha de vestidos para crianças, sobretudo para idades compreendidas entre os dez e os treze anos, por serem idades em que muitas vezes é difícil escolher um vestido. Barros atribui parte do seu êxito como desenhadora à educação e aos valores que recebeu dos pais, ambos naturais da ilha da Madeira. "Os venezuelanos admiram muito a capacidade de esforço e de luta dos portugueses. E é essa característica que tem destacado a comunidade portuguesa na Venezuela. Os meus pais são exemplo desse trabalho e me têm ensinado, através da sua vivência, o valor de lutar por aquilo que queremos conseguir na vida", destaca. Como qualquer profissional, Ilda Barros tem muitas metas pela frente. A principal é conseguir expandir as suas criações não só ao nível nacional como também internacional. E para isso está a dar os primeiros passos. Em Setembro viaja até Lisboa, onde vive actualmente a sua irmã, que está a gerir uma loja de roupa na capital portuguesa. Ilda, por sua vez, está a ponderar a hipó tese de exportar os seus vestidos. "A minha irmã comentou-me que as mulheres em Lisboa não se vestem como nó s na Venezuela, pois são muito mais simples. Contudo, estou desejando de ver eu mesma, com os meus olhos, o estilo delas".


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Moradores emparedados no Porto Doze casas em S. Ví tor esperam, há mais de dois anos, que a Câmara mande acabar apartamentos para carenciados. Os acessos são difí ceis e a insegurança aviva os protestos Fernando Oliveira (JN - Portugal)

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osé Borges mostra tristeza quando aponta, com o queixo, na direcção da mulher. "A cadeira de rodas são as pernas dela e foi preciso fazer barulho para que fizessem uma rampa junto à nossa casa", diz. O casal vive, vai para 25 anos, numa das 12 habitações do Bairro da Associação dos Moradores de S. Vítor, nas Fontaínhas, Porto. O projecto, do arquitecto Álvaro Siza Vieira, lançado no â mbito do Serviço de Apoio Ambulató rio Local (SAAL), acabou, porém, em obra incompleta. Agora, são outras casas por concluir que trazem desassosego à zona. Quarenta e sete apartamentos, destinados a carenciados, têm a construção parada desde Outubro de 2002. O estaleiro ficou. À volta do bairro, vedações metálicas impedem acessos a ruas, guardando fossos conseguidos à forma de dinamite. Dois seguranças privados, pagos pela Câ mara, vigiam as obras, que ficaram em silêncio devido a desentendimentos entre construtores e a edilidade. Já de pé, esqueletos de betão esperam, um dia destes, tornarem-se em lares para gente carenciada. OBRA LANÇADA EM 2001 As 47 casas da discó rdia inserem-se no Plano de Erradicações de Barracas

(JN - Portugal)

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o domingo passado, a terra voltou a tremer, por duas vezes, em Ponte de Lima. Depois dos quatro sismos registados sábado naquela região, continua a não haver conhecimento de danos pessoais ou materiais, informou o Instituto de Meteorologia.

BREVES Responsável por mais mortes em Portugal Em Portugal, o cancro colorectal é a principal causa de morte por doença cancerígena, em ambos os sexos. Actualmente, está a decorrer no país um estudo clínico idêntico aos já realizados noutros países e cujos resultados preliminares foram agora apresentados, utilizando o novo fármaco. O estudo, da responsabilidade do Grupo de Investigação do Cancro Digestivo, será desenvolvido ao longo deste ano em 11 hospitais e serão recrutados 45 doentes. A inovação deste estudo, é que o tratamento será feito em regime ambulatório, sem necessidade de internamento. De acordo com dados de 2002, os mais recentes sobre o cancro colorectal, registaram-se 3131 óbitos, dos quais 1775 eram homens e 1356 mulheres.

Metade da população fora da rede (PER) das Fontaínhas 1,2,3. A primeira pedra foi lançada em 2001, pelo socialista Nuno Cardoso, presidente da autarquia na altura. Falava-se que os blocos, com cérceas que vão até três andares, se destinariam a gente de fracos recursos, na qual se incluíam desalojados das escarpas das Fontaínhas. Com comparticipação do Estado, através do Instituto Nacional da Habitação, e com um empréstimo bancário na ordem dos 960 mil euros, iniciou-se a construção de três de quatro fases. Avançaram 47 de 85 casas. As ruas da Associação de Moradores de S. Vítor e de Nossa Senhora das Dores tornaram-se em estaleiro. O acesso ao Largo do Camarão foi cortado e chegar à Rua de S. Dionísio obriga a passar por um bloco inacabado, com lixo e

insegurança. Enquanto as paredes de algumas casas iam crescendo, o empreiteiro ia abrindo crateras, no subsolo de granito, à força, para lançar novos alicerces e mais habitações. "A violência do dinamite deixou marcas no bairro do SAAL. Há danos que queremos ver reparados. Mas, por ora, é urgente pô r fim ao amontado de buracos e de vedações que emparedou quem já cá morava. Há uma semana, um incêndio numa das habitações do bairro mostrou que vivemos em perigo. Os bombeiros viram-se aflitos para chegar ao fogo", disse, ontem, Jorge Vilas-Boas, presidente da Associação de Moradores, durante a visita que Rui Sá, vereador e candidato à Câ mara pela CDU, promoveu, ontem de manhã, ao local.

Ponte de Lima regista seis sismos em dois dias Miguel Rodrigues

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De acordo com um comunicado da Divisão de Sismologia, as estações da Rede Sísmica do Continente registaram ontem pelas 6,58 horas um sismo de magnitude 2.5 na escala de Richter e um outro pelas 14,47 horas um sismo de magnitude 1,9 cujo epicentro se localizou a dois quiló metros a Oeste de Ponte de Lima. De acordo com a informação disponível, o sismo não causou danos

pessoais ou materiais e foi sentido com uma intensidade máxima II/III na escala de Mercalli. Durante o dia de sábado já tinham sido registados outros quatro sismos. Segundo fonte da Divisão de Sismologia, apesar de "se estar perante uma situação que não é comum, tal não é motivo de alerta para a população, pois todos os sismos registados têm sido de baixa intensidade".

Quatro anos após a adjudicação do fornecimento público de água a uma empresa privada e efectuado um investimento de 3,5 milhões de euros, 88% do concelho de Santa Maria da Feira está servido pela rede de abastecimento. Mas 45% dos habitantes que podem usufruir do fornecimento continuam sem a respectiva ligação, preferindo recorrer às captações particulares de poços e furos. "Criou-se uma ideia generalizada e errada que a água é muito cara", explica o presidente da Câmara, Alfredo Henriques.

Alerta amarelo pelos incêndios Onze dos dezoito distritos de Portugal continental estiveram na segunda-feira passada em alerta amarelo para o risco de incêndio, o segundo de uma escala de quatro níveis elaborado com base nas temperaturas esperadas, de acordo com o Instituto de Meteorologia. Os distritos sob alerta amarelo são Viana do Castelo, Braga, Vila Real, Bragança, Viseu, Guarda, Castelo Branco, Portalegre, Lisboa, Évora e Beja. De acordo com a página na Internet do Instituto de Meteorologia, depois do alerta verde e do amarelo, seguem-se o laranja e o vermelho, o mais grave. Contudo, hoje nenhum dos distritos se encontra nestes dois últimos níveis e que implicam maiores riscos de incêndio. Os distritos de Porto, Aveiro, Coimbra, Leiria, Santarém, Setúbal e Faro encontram-se em alerta verde, em que se não prevê nenhuma situação de risco. No domingo passado, apenas oito distritos estavam em alerta amarelo.


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Madeira quer ilhas com mar comum Agostinho Silva (DN - Madeira)

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Governo da região Autó noma da Madeira quer implementar o livre acesso às águas exclusivas da Madeira, Canárias e Açores, embora limitado às respectivas frotas tradicionais. A proposta já foi enviada ao ministro da Agricultura e Pescas, Jaime Silva. e é subscrita pelo secretário regional Manuel Antó nio Correia. Em declarações ao DIÁRIO, o governante madeirense recordou que qualquer acordo terá de ser negociado entre Estados - no caso entre os governos português e espanhol - e que o objectivo principal da sua proposta de partilha das águas exclusivas de cada arquipélago, por prazos renováveis de três anos, visa "dar segurança e estabilidade às frotas tradicionais de cada região". No caso dos pescadores madeirenses, cuja frota "tem vindo a robustecer-se nos ú ltimos anos", o secretário do Ambiente e Recursos Naturais considera que "tem condições para ir mais longe, com

Governo socialista vai estudar proposta de Manuel António Correia, que quer criar condições para os madeirenses pescarem em Canárias maior autonomia e condições de armazenamento de pescado, que garantem qualidade e segurança alimentar". Manuel Antó nio Correia revelou que já contactou o seu homó logo de Canárias, Pedro Zaragoça. "Mostrou grande interesse na nossa proposta, que vai ao encontro dos interesses dos pescadores dos arquipélagos e que vem dar cobertura legal a situações que hoje já acontecem por mera tolerâ ncia, com alguns incidentes pelo meio". Os Açores, por seu turno, também já tomaram conhecimento da iniciativa do governante madeirense. "Para defesa dos interesses da nossa pesca, a proposta tem balizas muito estritas", assegura o secretário regional. "Apenas abrange as frotas registadas nos

Centro Portugues de Caracas PROGRAMA DO MES DE JUnHO-JUlHO 2005 Sábado 25

Missa: Comemoração

Festa de Fim de Curso, alunos de Português. Lugar: Salão Nobre Hora: 20:00

do Día da Madeira Lugar: Capela do Centro Português Hora: 18:00

Domingo 26 Domingo 03 Crismas Lugar: Salão Nobre Hora: 13.00 Sexta-Feira 01 Día da Madeira Lugar: Salão Nobre Hora: 20:00

Arraial Día da Madeira Lugar: Fuente de Soda Hora: 12:00 Orquesta Sinfonica da Venezuela Lugar: Salão Nobre Hora: 18:00

três arquipélagos e que usem artes de pesca tradicionais", diz, acrescentando que "terão de ser observados os normativos comunitários que garantem, por exemplo, que só a frota madeirense tem acesso à pesca da espada-preto". A proposta abre novas e excelentes perspectivas para os pescadores madeirenses: "Para além de reforçar a capacidade de capturas, o pescado poderá ser descarregado em Canárias, um mercado com dois milhões de pessoas", conclui o governante. PESCADORES CONCORDAM

Os representantes dos pescadores madeirenses concordam e congratulam-se com a iniciativa tomada pelo secretário regional Manuel Antó nio Correia. Antes de enviar a sua proposta ao ministro Jaime Silva, o governante madeirense solicitou um parecer à Associação dos Armadores da Pesca do Atum e Outras Espécies. A resposta não poderia ter sido mais positiva e incentivadora: "Temos a informar que concordamos totalmente com o teor do eventual acordo e congratulamo-nos com a iniciativa tomada", responderam os representantes dos pescadores madeirenses.

Na rota da maior fuga ao fisco do Brasil

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"Operação Cevada" estendeu-se a doze estados e incidiu sobre o grupo Schincariol, que terá utilizado uma rede de empresas, algumas das quais sediadas na Zona Franca da Madeira, para desviar cerca de mil milhões de reais (300 milhões de euros ou 60 milhões de contos) de impostos que teria a pagar. Há cerca de catorze meses que a Polícia Federal estava a investigar as actividades do grupo Schincariol, o segundo maior da indú stria dos refrigerantes e cervejas do Brasil. As investigações revelaram que este grupo montou, em colaboração com algumas empresas de distribuição, um grande esquema de fuga fiscal, que passava pela subfacturação na venda dos seus produtos, recebendo "por fora" a diferença (estimada em 20 a 30 por cento) entre o valor real da venda e o valor declarado para fins fiscais. Foram ainda identificadas operações de exportação fictícia e importações com falsa declaração de conteú do ou classificação incorrecta de mercadorias, bem como operações simuladas com empresas inexistentes ou de capacidade financeira insignificante. De acordo com a Polícia Federal, o grupo Schincariol utilizou algumas empresas sediadas na Madeira para a inter-

A Polí cia Federal do Brasil deteve cerca de 70 pessoas suspeitas mediação de matérias-primas e equipamentos para as fábricas localizadas em territó rio brasileiro. Uma destas empresas é a "Primo Schincariol International", constituída em Janeiro de 1997, na Conservató ria do Registo Comercial da Zona Franca. Os gerentes da empresa "madeirense" eram administradores de topo do grupo brasileiro, casos de Gilberto, Alexandre, Adriano e José Augusto Schincariol, todos agora detidos pela Polícia Federal. A ú ltima alteração no pacto social da "Primo Schincariol International" foi registada em Maio de 2004, precisamente a data em que as autoridades policiais brasileiras decidiram criar uma força especial para investigar o caso. Naquela data, a gerência da sociedade passou para dois portugueses que são profissionais da empresa de "management" "Madeira Corporate Services Lda.", cujas instalações, na sala 605 do Edifício Infante, serviam de sede da "Primo Schincariol International".


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Adeus Eugénio pastoral espaço poético. Assegurou o sustento do corpo quando em 1944, apó s o serviço militar, foi colocado nos Serviços de Saú de de Lisboa e, em 1947, ingressou no Ministério de Saú de, onde permaneceu até 1983 como inspector-administrativo dos Serviços Médico-sociais. António de Abreu Xavier Historiador Mas o maná para o sustento do espírito era maior. Tendo passado a infâ ncia com a mãe, Maria dos Anjos, esta é a figura feminina dominante de toda a egunda-feira 13 de Junho foi um dia tris- sua poesia. Andrade mostrou o seu peculiar engenho te no Porto. A tristeza ainda prevalece. A poético já desde pequeno. Com apenas treze anos, musa de um dos mais acreditados poe- escreveu Narciso, que foi também o primeiro poetas portugueses decidiu deixar a pena ma que publicou. Foi aí que, com vergonha do poema no tinteiro. O espírito de Eugénio de Andrade ficou ser 'excessivamente juvenil', passou a assinar com livre do corpo material, que tantos versos consagrou. pseudó nimos os títulos publicados. Seis anos mais Agora, livre do poder do desejo, tema recorrente na tarde, publicou o seu primeiro livro de poesia, desua poesia, vai vagar por essa natureza cheia de luz nominado Adolescente, e em 1948 As m os e que tantas vezes recriou; andar a cavalo pelas praias, os frutos, que o tornaram conhecido como poeta de sobre montes de portugueses à procura de uma lin- uma grande pureza de estilo. guagem ainda mais depurada, de uma prosa cheia Andrade, poeta da pureza, é reconhecido interde novos sons silenciosos como a água a correr, de nacionalmente: a sua obra ultrapassa uma trintena mar e de vento a assobiar. Vai à procura de uma po- de livros e tem sido traduzido em mais de vinte línesia mais etérea que nó s, simples mortais apaixo- guas estrangeiras. A primeira tradução de poemas nados pela obra do poeta, não poderíamos apreciar. foi feita para Francês em 1945, antes do êxito de As Eugénio de Andrade, cujo verdadeiro nome era m os e os frutos. Em 1977, foi publicada a priJosé Fontinhas, era filho de uma família de campo- meira compilação da Obra de Eug nio de Andra neses. Nasceu a 19 de Janeiro de 1923, na Pó voa de de,pela Editorial Limiar. Mas o artista tinha ainda Atalaia. No entanto, ter passado os primeiros anos muito para escrever e, a partir de 1991, a Fundação entre Lisboa e Coimbra, o marco geográfico desta homó nima reedita toda a obra do poeta, que em aldeia de Beira Baixa, situada entre o Fundão e Cas- 2001 foi homenageado com o Prémio Camões. Antelo Branco, no interior de Portugal, delineou o seu drade agora escreve desde o Parnaso português.

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Equipinhas? temente, várias páginas na histó ria do futebol europeu e mundial. E as suas camisolas têm sido vendidas por muitos jogadores de alto nível, portugueses e estrangeiros. O que motiva este interesse por parte do jogador António Carlos da Silva de futebol venezuelano é a sua inclinação mais naaxedrezado@hotmail.com tural para simpatizar maioritariamente pelas equipas de Espanha (Real Madrid e Barcelona), Itália e Inglaterra. E deve-se, em grande parte, ao facto das á dias, um grande amigo dizia-me que imagens do campeonato português não serem transembora "compreendesse as razões", acha- mitidas por nenhum dos canais comerciais de televa muita piada ver-me vestido com a visão com sinal aberto. E as informações sobre futebol camisola de alguma dessas "equipinhas português não têm o mesmo tratamento nos telejorportuguesas que nunca ganham nada". Pode pensar o nais que têm os campeonatos espanhó is. leitor que isto não passa de uma forma - tipicamente Assim, as brilhantes vitó rias e os êxitos dos clubes venezuelana - de gozar saudavelmente, tentando ter lusos, como o Futebol Clube do Porto, por exemplo, sempre piada, em qualquer situação. Mas também não têm a mesma repercussão e mediatismo. Caem pode pensar que o meu amigo, coitado, é um autên- no esquecimento do adepto comum, sempre mais tico estú pido quando fala de "bola". Lamentavel- pronto a ser seduzido por equipas com maior trabalmente, não é nem uma nem a outra situação. ho de marketing e servidas de craques mais famoNão sendo obviamente um grande conhecedor da sas. histó ria e das estatísticas do jogo, este bom rapaz é Desinteresse das empresas comerciais que anunum amante desta modalidade, não perde nenhuma ciam as transmissões? Dú vidas dos gerentes de prodas transmissões que passam na televisão e, sempre gramação dos canais televisivos sobre o nível e a quaque pode, convida-me a dar uns pontapés na bola. E lidade do futebol luso? Altos custos dos direitos de ele está mesmo convicto de que nó s, portugueses, transmissão ou de publicidade? Passividade da coló não ganhamos nada, nem na "playstation". E a sua nia, que não consegue fazer com que isto se torne reopinião não é uma opinião isolada, muito pelo con- alidade?... trário. Mas porque? E lá vai o bom do meu amigo pesquisar na InterEmbora haja boas equipas sem ser nos campeo- net. É que não acreditou minimamente nas minhas natos europeus de futebol, em Portugal existem três palavras quando lhe disse que o Benfica e o Porto grandes, histó ricos e tradicionais clubes: o Benfica, o têm mais taças de campeonatos no museu do que o Porto e o Sporting, que preenchem, até bem recen- "seu" Barça...

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Teresa de Portugal, uma santa desconhecida

Padre José Dionisio Gómez

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o Mundo cató lico, são famosas duas santas de nome Teresa. Uma é a espanhola, Santa Teresa de Ávila (15151582), uma mulher que ingressou como cató lica na Ordem Carmelita e se tornou famosa pela sua escrita e pela reforma que conseguiu fazer na ordem. A outra foi a francesa, Santa Teresa do Menino Jesus (1873-1897), que também foi religiosa carmelita. As duas se distinguiram pela sua profunda vida de oração e de sacrifício. Mas também há outra Santa Teresa, a portuguesa. Talvez não tão famosa como as outras, devemos também ter em conta o seu exemplo de vida, pois como todos os santos esta também é interceptora de todos nó s junto de Deus. Teresa nasceu a meados do século XII e foi filha do rei Sancho I de Portugal, que reinou na época da Casa de Borgoña, entre os anos 1185 e 1211. Era infanta de Portugal e também rainha de Leó n, por ter-se casado com o seu primo Afonso IX. Este casamento de Teresa e Afonso, depois de ter tido três filhos, foi proclamado nulo pelo Papa Celestino III e, logo depois de um tempo de resistência, o casal decidiu separar-se. Afonso voltou a casar-se com Doña Berenguela, de cuja união nasceu o futuro rei santo Fernando III. Teresa, por sua vez, foi para o Mosteiro de San Benito de Lorbao, perto de Coimbra e ingressou como religiosa das Cistercienses, comunidade que segue as regras de San Benito, que consistem em orar e trabalhar. Ali, dedicou-se por inteiro à prática das virtudes, até à sua morte, já anciã, em 1250. Santa Teresa de Portugal ensina muita coisa aos portugueses cató licos. Foi uma mulher dedicada ao marido e aos seus filhos e, por isso, ensinava-nos que devíamos ser fieis aos nossos compromissos com Deus e com os homens. Foi também obediente quanto acatou a decisão do papa sobre a nulidade do seu casamento, assim como nó s devemos ser obedientes a Deus e à nossa Igreja. Santa Teresa foi também pacificadora quando teve que negociar com Doña Berenguela a abundante herança que Afonso tinha deixado a ela e às suas filhas, da qual foram praticamente despojadas. Teresa podia ter guardado rancor, mas preferiu uma solução pacífica e, com o seu exemplo, nos ensina que guardar rancor não é bom porque nos trás amarguras nas nossas almas. Muitas vezes, perdemos tempo a maquinar a vingança, pensando que esta é doce, mas não é assim tanto como pensamos. Se guardarmos rancor contra alguém ou contra alguma coisa, está na hora de nos afastarmos destes sentimentos, pois assim vamos sentir-nos melhor e viveremos com mais tranquilidade. Finalmente, Santa Teresa nos ensina que, mesmo que tenhamos uma vida có moda cheia de abundâ ncia de bens materiais, na sua condição de infanta e rainha, também é preciso procurar uma vida de desprendimento, sacrifício e prática de virtudes para conseguir a atingir a santidade, como ela conseguiu.


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OPINIÃO 23

caRTas dOs leITORes Semanário em espanhol

Um padre português para Cagua

Sou luso-descendente e vivo na Madeira há quase quinze anos. Não sabia que podia acompanhar as actividades e as iniciativas da comunidade portuguesa. No entanto, tive conhecimento da existência do Correio de Caracas e, nos ú ltimos tempos, tenho acompanhado o trabalho deste semanário. Acho que o jornal é importante para a comunidade portuguesa que reside na Venezuela, mas nó s lusodescendentes e venezuelanos também temos direito a ter uma publicação com a nossa língua materna, ou seja, o venezuelano. Gostava, por isso, de propor que se reú nam esforços para fazer um semanário em espanhol na Madeira. Mas não façam como fez a equipa do

Quero dar a minha opinião sobre um assunto da nossa coló nia aqui em Cagua. Há dias chegou às minhas mãos um jornal e gostei muito de o ler e ver que vocês tratam muitos problemas relacionados com a comunidade. Nesse Correio, notificavam que foi consagrado um padre filho de portugueses. Não me imaginava que fossem tantos cá. Bem, o assunto é este: cheguei a Cagua em 1968 e já nessa altura cá se fazia a festa de Nossa Senhora de Fátima na igreja principal para arranjar fundos para construir um templo num terreno doado pelas autoridades municipais para tal efeito. Foram mais de 30 anos fazendo festas em Maio e em Outubro. A essas vinham não só o povo português de Cagua como também o das cidades vizinhas. Foram 30 anos de ingressos milionários que ninguém, absolutamente ninguém, supervisou. Esse dinheiro vinha pelas quotas dos festeiros, por doações, por rifas, etc. Como já disse, que eu saiba, nunca ninguém averiguou nada e os autonomeados directivos, que foram muitos

El Bolivariano, que estragou o que parecia ser uma boa ideia… Enfim! Ana Gonçalves

Perda de memó ria Escrevo para lhes passar uma informação. Actualmente, há um sen hor de nacionalidade portuguesa chamado José Rodrigues de Barros, de 81 anos, que está com sérios problemas. Sofre de perdas de memó ria e tem cancro na boca. Este senhor está só , os seus filhos estão em Portugal. Ele gostava de poder reencontrar-se com os seus filhos, mas não sabe nem o nú mero de telefone nem a morada. Sabemos só os nomes de alguns dos filhos: David Rodriguez de Barros, Javier Rodriguez de Barros (piloto de profissão), Elsa Rodriguez de

INQUéRITO

Barros, Jorge Rodriguez de Barros e Odete Rodriguez de Barros, entre outros, mas o velhinho só se lembra destes nomes. O nome da esposa é Aparicia e o senhor José não se consegue lembrar do sobrenome. Disse-nos que alguns estão na Madeira e outros em Lisboa. Gostava que este assunto fosse publicado. O meu nome é Angel Armas e actualmente vivo na Venezuela. O meu telefone é 00584141152610. Angel Armas

ao longo de 30 anos, nunca explicaram a clareza dessas contas. Mas a quem iam prestar contas, se não havia ninguém que pedisse contas claras? Enfim, hoje em dia apesar de terem feito uma bonita igreja à volta da mesma tudo está meio abandonado. Parece que o padre venezolano que lá está não se importa muito e tudo está a ficar deteriorado. Já quase ninguém assiste lá à missa, muito menos os portugueses. E isso aconteceu porque o pessoal perdeu a confiança nesses autonomeados directivos, que no final já não organizavam festas religiosas, mas bacanais para encher os bolsos de alguns. O que me leva a evocá-los nesta carta é o facto de ter uma solução. Porque não mandam alguns desses padres para esta paró quia de Fátima em Cagua? Se houvesse algum interese do Sr. Capelão da coló nia em nos ajudar e o assunto fosse tratado de outra forma não seria melhor? Penso sim. Se tivéssemos um padre português seguramente a missa, os casamentos e os baptizados realizavam-se nessa igreja. Manuel Ferreira

Tertú lia onde??? Foi precisamente no vosso semanário que li uma notícia que me deixou bastante satisfeito. A realização de uma tertú lia sobre Camões era uma forma de aproximar as pessoas que não têm acesso às magníficas obras do poeta. Mas qual não foi a minha admiração, seguida de desmotivação e de revolta, ao ver que afinal não se realizou tertú lia nenhuma!!!

Se não me tivesse cruzado ao acaso com um amigo nesse dia, não sabia sequer que o Instituto Português de Cultura tinha feito marcha-atrás na sua intenção. Vá lá que o meu amigo me disse que, afinal, não havia tertú lia, se não ainda estava lá à espera de que o evento começasse... Francisco Pereira

Como é que comemora o Dia de Portugal e o Dia da Madeira em Valencia?

Agostinho Pinto

Natural de Câmara de Lobos, Madeira, Emigrante há 45 anos na Venezuela

Não sei em Caracas, mas em Valência é um dia de trabalho normal, embora seja um dia muito recordado por nó s. Costumo assistir às actividades comemorativas que se realizam geralmente na parte da tarde e que inclui a nossa tradicional missa. Acho realmente que podemos sensibilizar grande parte da nossa comunidade que não tem acesso aos clubes para que pudéssemos, unidos, comemorar a nossa festa. É importante dar continuidade a este tipo de iniciativas e não nos podemos esquecer dos mais novos, para que partilhem com os mais velhos os costumes e as tradições do seu país de origem. Cabe a eles o prazer e a responsabilidade de continuar no tempo estas actividades. Destaco a decisão das autoridades portuguesas em oficializar o Dia de Portugal também fora de Caracas. Este ano foi em Valência, para o pró ximo que seja noutra parte. Assim estamos todos contentes.

Ivo Gomes Jardim

Natural de Santo António, Madeira. Emigrante há 38 anos na Venezuela

Desde que me lembro, em Valencia sempre houve comemorações nesses dias. Nos ú ltimos anos, a organização do Dia de Portugal passou a ser da responsabilidade da Federação de Centros Portugueses, juntamente com as autoridades correspondentes. E acho bem a ideia de mudar o local das comemorações de ano para ano. Pertenço ao grupo folcló rico de Valencia há 28 anos e, como tal, penso que os mais novos devem nos acompanhar com mais frequência, assim como todos aqueles portugueses que estão espalhados pelo Estado Carabobo e que não têm possibilidades para aceder aos clubes, por qualquer motivo. Penso que nesses dias tão especiais os clubes devem abrir as portas a todos para que estejamos juntos e também para se lhes abra o "apetite" para participar neste tipo de iniciativas.

Angélica Maria de Freitas Luso-descendente

Sou filha de portugueses natural da ilha da Madeira. Começ o por dizer que sinto muito orgulho em vestir o traje típico de folclore. Para mim, estes dias festivos são muito especiais porque tenho a possibilidade de me encontrar com os amigos e amigas, também eles filhos de portugueses. Como eu somos muitos os luso-descendentes que nos identificamos plenamente com as raízes, com a mú sica e com as tradições da terra dos nossos pais. Em linha geral, estes dias são muito especiais para nó s. Este ano, a comemoração do 10 de Junho foi mais especial, pois pela primeira vez nos visitou um embaixador de Portugal, o que é uma honra para nó s. Enfim, gosto de tudo o que tem a ver com Portugal.

Mirla Sosa

Venezuelana

Sou venezuelana e pouco ou nada sabia da cultura dos costumes dos portugueses na Venezuela, embora lide com eles no dia-a-dia. É a primeira vez que visito um clube português e também a primeira vez que comemoro o Dia de Portugal. Os portugueses têm um grande significado para o Estado Carabobo, devido ao seu empenho no trabalho, ao seu apego familiar e ao seu poder econó mico. São uma comunidade muito empreendedora que deve ser exemplo para o País. Sobre este dia festivo, quero dizer que foi uma experiência maravilhosa. Adorei ver a elegâ ncia das pessoas do clube e desta sala, assim como a de toda a organização do evento. Uma boa surpresa e uma experiência maravilhosa.


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Portugal: economia sai da recessão técnica PIB regista aumento de 0,1% no primeiro trimestre deste ano e riqueza produzida em Portugal cresce 0.2%, pondo assim termo ao perí odo de recessão técnica. Em 2004, o consumo privado continuou a ser o principal motor da actividade económica

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e acordo com os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística, o Produto Interno Bruto registou um crescimento de 0.1% no decurso do primeiro trimestre deste ano, quando comparado com o mesmo período de 2004. Comparando com o ú ltimo trimestre de 2004, a riqueza produzida em Portugal cresceu 0.2%, pondo assim termo ao período de recessão técnica, correspondentes aos dois ú ltimos trimestres de 2004, durante os quais a actividade se contraiu. Fontes de crescimento À semelhança do registado durante o ano de 2004, o consumo privado continuou a ser o principal motor da actividade econó mica. Relativamente ao mesmo período de 2004, o consumo das famílias expandiu-se 3.2%, sendo a mais elevada taxa de crescimento desde o primeiro trimestre de 2000, quando o consumo privado se tinha expandido 3.4%. Destaque para as compras de automó veis pelas famílias, que cresceram fortemente e explicam o aumento de 6% no consumo de grandes bens, que englobam ainda electrodomésticos e outros equipamentos para o lar. Parte foi sustentada pelo recurso ao crédito por parte das famílias. Este forte dinamismo do consumo das famílias assume uma maior relevâ ncia quanto duas importantes variáveis explicativas não têm tido uma evolução particularmente favorável. Falamos, por um lado, do desemprego, que no primeiro trimestre deste ano atingiu o nível mais elevado desde 1997. O desemprego tem vindo a aumentar desde o final do ano 2000, reflectindo o abrandamento da actividade econó mica, mas também um processo de reestruturação empresarial, com

algumas empresas a automatizarem processos produtivos, e outras a abandonarem a produção em Portugal, em favor da Europa de Leste ou da Ásia. A segunda determinante é o rendimento disponível das famílias, o qual depende, em larga medida dos salários. Estes são afectados pelo aumento do desemprego, mas também têm sido alvo de menores aumentos, como revelam os dados relativos à contratação colectiva. Nos primeiros três meses deste ano, o aumento médio dos salários foi 2.7%,que compara com uma inflação média de 2.3%. O investimento, pelo contrário, voltou a ter uma evolução menos favorável. Face ao mesmo período de 2004, houve mesmo uma queda, o que não sucedia desde o final de 2003. A comparação com o mesmo período do ano passado pode estar afectada de efeitos de base, na medida em que em 2004 o investimento estava a beneficiar ainda de obras realizadas no â mbito do Campeonato Europeu de Futebol - Euro2004, por exemplo, em termos de acessibilidades aos estádios onde decorreu o evento. No entanto, houve também uma queda do investimento face ao ú ltimo trimestre de 2004, nomeadamente em termos de investimento em máquinas e equipamentos, que só foi parcialmente compensada por uma recuperação do investimento em construção. Ao nível da procura externa dirigida à economia portuguesa, houve uma recuperação trimestral das exportações, mas que, contudo, não impediu uma nova desaceleração quando comparadas com o primeiro trimestre de 2004. De qualquer modo, deve salientar-se o bom comportamento das exportaç ões num trimestre que foi particularmente difícil, já que o euro, no final de 2004, estava em máximos histó ricos face ao dó lar (acima de 1.35 dó lares por euro) e no início deste ano teve lu-

gar a liberalização plena do comércio de têxteis com a China. Portugal concorre directamente com a China num conjunto importante de produtos têxteis, com os dados preliminares do comércio externo no primeiro trimestre a revelarem uma queda das exportações de vestuário e outros produtos têxteis superior a 20%, face ao mesmo período de 2004. PersPectivas Para 2005 Apesar da evolução mais favorável no primeiro trimestre deste ano, o crescimento econó mico em 2005 deve ficar aquém das estimativas iniciais feitas em finais de 2004. Com efeito, nessa altura o Banco de Portugal estimava que a riqueza nacional crescesse 1.8%, o que foi posteriormente revisto em baixa para 1.0%, e o Governo estima agora um crescimento de 0.8%. Os riscos são de uma maior desaceleração da actividade no decurso dos pró ximos trimestres, fruto da envolvente externa, e também das recentes medidas anunciadas pelo Governo. A nível externo, houve vá-

rios desenvolvimentos negativos. O primeiro é a subida do preço do petró leo, que teve um impacto significativo sobre a economia mundial e europeia. Segundo o Banco Central Europeu, a economia europeia deverá crescer apenas 1.4% este ano, o que acaba por se reflectir nas exportações portuguesas, já que a Europa é destino de 80% das exportações. Um segundo factor tem que ver ainda com a apreciação do euro face ao dó lar ocorrida no final de 2004. Não só afecta o crescimento na zona euro, como também torna menos competitivas as exportações portuguesas, quando comparadas com as da Europa de Leste ou a Ásia. Ao nível do investimento e consumo privados, grande parte da incerteza prende-se com a reacção dos agentes econó micos ao conjunto de medidas recentemente anunciadas pelo Governo e das quais demos conta em "Comentários" anteriores. Em Maio, a confiança dos consumidores atingiu o nível mais elevado dos ú ltimos três anos, ou seja, anteriores às eleições de 2002 e ao anú ncio de medidas similares às actuais, em

termos de aumento do IVA. Actualmente, a sensibilidade ao problema orçamental será mais elevada do que em 2002, pelo que o impacto pode ser algo menor. De qualquer modo, as famílias terão que conjugar os efeitos do aumento da taxa normal do IVA para 21% com o elevado desemprego (que o Governo prevê poder aumentar ainda no decurso dos pró ximos meses). Os empresários, por seu lado, poderão, de novo, adiar as decisões de expansão da capacidade instalada, deste modo contribuindo para um aumento moderado do investimento e do emprego. A ú nica componente que poderá evoluir mais favoravelmente é a das obras pú blicas, na medida em que em Outubro terão lugar eleições autárquicas. Os riscos são, deste modo, de um crescimento mais lento da actividade. O consenso dos analistas tem vindo a rever em baixa as suas estimativas para o crescimento da economia portuguesa, situando-se as previsões no intervalo 0.5% / 0.8%. Artigo cedido pelo Banco Santander Totta


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Castelo Branco com nova imagem "Light"

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endo como principal objectivo apresentar os lucros conseguidos na gestão de vendas de 2004 e apresentar as novas estratégias para o ano em curso, "Castelo Branco" realizou a sua convenção anual de vendas em Margarita. A reunião teve lugar nas instalações do Hotel Dunes e contou com a presença da sua junta directiva, de chefes dos principais departamentos, da força de venda ao nível internacional, de comércios aliados dos Estados Falcon e Nueva Esparta e, finalmente, de um convidado especial da Consultora Perfil Gerencial. O evento realizou-se com apresentações sobre as fortalezas, as vitó rias e os novos projectos que a organização "Castelo Branco" tem previstos este ano, para permitir a continuidade de crescimento no mercado de enchidos. Na oportunidade, apresentou-se a mudanç a de imagem que terão duas das principais marcas que a empresa comercializa. "Castelo Branco", a marca líder, e "Banquete", a marca Premium, agora com todos os seus

O anúncio foi feito à margem de uma convenção organizada pela empresa para dar a conhecer os seus novos projectos produtos com 98% sem matéria gorda. Tudo isto para se adaptar aos requisitos dos seus clientes e tornar-se mais competitivos no mercado. Com esta mudança, para além de oferecer um produto de qualidade, com menos percentagem de gordura e preços competitivos, oferece também uma melhor forma de se exibir. Durante esses dois dias, a empresa reconheceu o trabalho dos empregados que se destacaram pelo seu esforço durante o ano de 2004 para conseguir os objectivos da organização. O encerramento do evento fezse com um "day tour" à ilha de Coche, onde todos os convidados puderam desfrutar da paradisíaca ilha.

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BREVES TAP divulga cultura portuguesa Está patente ao público no salão TOP Executive do Aeroporto de Lisboa, entre os dias 17 e 29 de Junho, uma exposição de peças da Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva (FRESS). Trata-se de mais uma iniciativa da TAP, a exemplo de outras que vem desenvolvendo, para divulgar a cultura portuguesa. Nesta exposição os passageiros da TAP poderão tomar conhecimento da actividade Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva assim como visualizar uma pequena parte do acervo de peças manufacturadas nas Oficinas e Ateliers da Fundação, que inclui trabalhos de encadernação em pele, azulejos, peças em porcelana e prata, bem como livros e catálogos editados pela FRESS.

TAP atinge 40 frequências semanais para o Brasil A TAP iniciou a semana passada a 5ª frequência semanal para Natal, no Nordeste do Brasil. A TAP já voa diariamente para Rio de Janeiro, S. Paulo, Fortaleza, Recife e Salvador. A assinalar esta nova frequência realizou-se nas instalações da Embratur, no centro da cidade de Lisboa, um encontro com a comunicação social, que contou com a presença de Bernardo Trindade, Secretário de Estado do Turismo, Márcio Favilla, Secretário de Estado Executivo do Ministro do Turismo do Brasil e Luiz Mór, Vice-Presidente Executivo da TAP. A TAP passa a operar entre Lisboa e Natal à segunda, terça, quinta, sexta e sábado, consolidando uma presença na capital do Estado do Rio Grande do Norte para onde começou a voar em Julho de 2004. Desta forma, é batido o máximo de frequências entre os dois países, como resultado do trabalho que vem sendo efectuado, designadamente pela TAP, de promover o Brasil em Portugal e nos restantes países europeus e de divulgar Portugal no Brasil.

TAP lança três voos directos semanais Paris-Madeira no Verão de 2006 to interessados em obter transporte rápido e fácil para a Madeira, o que confir(DN-Madeira) ma uma maior procura, à qual a TAP está TAP projecta realizar no necessariamente interessada em responpró ximo Verão de 2006 três der. Actualmente existem dois voos revoos regulares directos en- gulares, um via Lisboa, de manhã, e outre Paris e a Madeira, reve- tro via Porto, à noite, que ligam a nossa lou a "Economia e Empresas" Ricardo Lo ilha a Paris (Orly Oeste), mas o certo é Presti, delegado da companhia portugue- que hoje há perspectivas que apontam no sa na França. sentido da viabilização dos voos directos, Segundo o responsável da companhia que serão acrescentados à programação já portuguesa, os operadores turísticos fran- existente. Todos os operadores que traceses têm se mostrado ultimamente mui- balham para a Madeira, nomeadamente Catanho Fernandes

A

a "Top of Travel", "Jet Tours" e "Euro Pauli", produzem clientes suficientes para o lançamento da linha, que se completará com o tráfego individual e de outras pequenas agências de viagens, considera Ricardo Lo Presti. Adiantou-nos que a previsão de tráfego é de 60 por cento para os operadores e 40 por cento para a produção do sector de Vendas da TAP. A companhia portuguesa é hoje a mais importante empresa de transporte aéreo no percurso entre Portugal e a França, com dez saídas diárias de Orly, sendo cin-

co para Lisboa, duas para o Porto, duas para a Madeira e uma para Faro. De referir que é também a mais importante companhia com destino a Dakar (Senegal) e Sal (Cabo Verde) via Lisboa, onde os passageiros com destino a esses aeroportos voltam a embarcar em voos da TAP. O mesmo acontece em relação a diversos aeroportos do Brasil, para onde a companhia portuguesa apresenta à partida de Lisboa uma oferta de 40 voos semanais, de longe a mais importante empresa europeia nesta linha.


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Corpos sociais da Camacha tomaram ontem posse ciais cessantes, que ao longo dos ú ltimos anos deram o seu melhor em prol do clube. Efectivamente, quando conseguimos construir aquilo que é visível a todos - desde o campo sintético, a pró pria sede e as bancadas - devemos agradecer a todos, pois esses melhoramentos foram conseguidos com o labor dos dirigentes que agora acabam o seu mandato. Alguns desses dirigentes deixarão, agora, os corpos sociais da AD Camacha, mas certamente não deixarão de dar o seu contributo em prol desta colectividade".

Marcelino Rodrigues

A

(DN-Madeira)

sede da Associação Desportiva da Camacha, da Madeira, foi palco da cerimó nia de tomada de posse dos novos corpos sociais para os pró ximos dois anos. Um momento para confirmar a continuidade de Aurélio Antunes como líder de uma direcção promovida pelo Nú cleo de Veteranos. O carismático Álvaro Nó brega e Heliodoro Câ mara, um dos mais conhecidos só cios do clube, mantêm-se como presidentes da Assembleia Geral e Conselho Fiscal, respectivamente. Perante uma plateia que contou com Catanho José (IDRAM), Rui Marote (AFM), Guilherme Teixeira (CMSC), Francisco Mota (JFC), José Alberto Gonçalves (CPC), Maurílio Caires (Canicense) e vários outras individualidades e só cios "azuis e brancos", Aurélio Antunes mostrou-se satisfeito devido ao facto da "ADC ter atingido, durante os ú ltimos 10 anos, um patamar que se poderia almejar: a II Divisão B", mas logo acrescentou que a pró xima etapa visa "cativar mais só cios e simpatizantes para o clube", assim como "alargar o nú mero de praticante e de modalidades".

Segundo Aurélio Antunes, a Camacha quer crescer, "mas em nú mero de modalidades e em nú mero de praticantes. Todos os fins de semana, naturalmente, queremos ganhar, mas a verdade é que conseguimos estabilizar o clube durante 10 anos consecutivos na 2ª. Divisão B. Isso significa estabilidade, que vamos tentar manter durante os pró ximos dois anos", declarou. Nesse sentido, as metas apontadas, visam manter a "equipa de futebol na II B e a aproximação dos sociais e simpatizantes cada vez mais ao clube, aumen-

tando também o nú mero de participante e de modalidades. Vamos começar com uma modalidade nova, que é o futsal; temos também o andebol, que movimenta cerca de 70 atletas; temos o futebol juvenil, que vai crescendo cada vez mais, assim como a bilhar, que já conta com duas dezenas e meia de atletas, que conseguiram o segundo lugar na I divisão regional e boas prestações individuais. Isto é aquilo que consideramos a Camacha a crescer", enumerou. Prosseguindo, Aurélio Antunes agradeceu a "equipa directiva e os corpos so-

APREÇO AOS VETERANOS Uma parte do discurso de Aurélio Antunes foi dirigido ao Nú cleo de Veteranos da ADC: "Um grupo muito dinâ mico, com projecção, até mesmo a nível internacional, e que num programa muito simples, muito singelo, levoume a abraçar um projecto que desse continuidade ao clube, mas uma continuidade um pouco diferente daquela que tínhamos conseguido até aqui. Até agora conseguimos infra-estruturas. Para o futuro, precisamos é de trazer as pessoas para este recinto, precisamos de assistência e de um nú mero de só cios muito maior, porque temos condições para isso".


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"Líbero" Teixeira é impulsionador da selecção de Voleibol Alberto Peres

(Agência Lusa)

O

"líbero" Carlos Teixeira é o mais experiente dos jogadores da selecção portuguesa de voleibol convocados para a Liga Mundial e o verdadeiro impulsionador do jogo do "seis" luso, que em breve joga em Caracas contra a Venezuela. Carlos Teixeira, de 29 anos, conta já com um vasto currículo de oito anos ao serviço da selecção portuguesa e foi um dos eleitos para integrar o lote dos jogadores na estreia de Portugal na Liga Mundial, em 1999. O jogador marcou presença em todas as edições da prova em que Portugal participou, cumprindo até ao ú ltimo fim· de-semana um total de 58 jogos, repartidos por 1999 (12), 2001 (10), 2002 (12), 2003 (8), 2004 (8) e 2005 (8). Na pró xima jornada dupla com a Venezuela, em Caracas, Carlos Teixeira passará a liderar isolado a tabela dos jogadores lusos com mais jogos na Liga Mundial, que reparte neste momento com o ausente Manuel Silva, também com 58. Teixeira estreou-se pela selecção num jogo com a Rú ssia, em Moscovo, na condição de atacante (zona 4) e debutou na posição de "líbero" contra a mesma selecção, em Ponta Delgada, com um triunfo histó rico, por

3-1. O jogador já trabalhou com três técnicos na selecção e foi o primeiro, Antó nio Rodrigues, que o "convenceu" a transformar-se em "líbero", já que Teixeira estava habituado a fazer as posições de trás na rotação. Na altura, quando foi introduzida a figura do "líbero", Teixeira era atacante no Leixões, mas depois de seguir a sugestão de Antó nio Rodrigues nunca mais deixou de fazer a posição para que estava predestinado. O "líbero" é o jogador que enverga um equipamento de cor diferente dos colegas e que sai e entra sempre

que o jogo está parado para funções defensivas, não lhe sendo permitido atacar e somente devolver. A adaptação foi fácil e rápida e ficou marcada com um triunfo histó rico sobre a Rú ssia (3-1), que garantiu a Portugal o terceiro lugar numa das "poules" de qualificação para o Europeu, atrás da Jugoslávia e Rú ssia. "Portugal falhou a presença na fase final, mas somou créditos que lhe valeram nas provas seguintes ficar inserido em "poules" mais acessíveis, entre as quais se conta a que valeu o apuramento para o Mundial de 2002", recordou o jogador. Um dos momentos mais altos da carreira de Carlos Teixeira e do voleibol português foi precisamente o oitavo lugar no Mundial da Argentina, em 2002, com o técnico cubano Juan Diaz, contra todas as expectativas mais optimistas. Na Argentina, Teixeira foi baptizado de "Deus da Raça" pelo guia brasileiro que acompanhava a comitiva portuguesa durante o Mundial, pelas semelhanças na atitude, garra e postura de um outro jogador com a mesma alcunha. O cubano Orlando Samuels, que sucedeu ao seu compatriota Juan Diaz, é o terceiro seleccionador a depositar a sua confiança em Carlos Teixeira, para uma posição ingrata e nem sempre de méritos reconhecidos. Os anos que Carlos Teixeira leva na selecção per-


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mitem-lhe ter uma visão sobre a evolução registada, dado que Portugal "deixou de ser o coitadinho" e passou "a jogar de igual para igual com os melhores do mundo". Além do oitavo lugar no Mundial de 2002, a selecção mantém-se anualmente na Liga Mundial, está envolvida na ú ltima fase de apuramento para o Mundial de 2006 e vai disputar a fase final do Europeu de 2005. "Pelas características ú nicas da prova, que envolve seis fins- de-semana consecutivos com 12 jogos a disputar com as melhores selecções, é importante para Portugal estar na Liga Mundial", referiu Carlos Teixeira. A prestação de Portugal na presente edição da prova, num grupo com o Brasil, Venezuela e Japão (organizador do Mundial de 2006), tem excedido todas as expectativas e batido recordes, como o de maior nú mero de triunfos (cinco). Para a histó ria da prova ficará a derrota infligida ao campeão mundial, olímpico, detentor da Taça do Mundo e vencedor de três das ú ltimas quatro edições da Liga Mundial, o Brasil, por uns escandalosos 3-0. O Brasil não perdia para a Liga Mundial há 25 jogos consecutivos e a ú ltima derrota tinha acontecido nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, além de que para se encontrar um desaire pela diferença máxima tem que se recuar até 2003. APOIO DO PÚBLICO "O andamento adquirido nos ú ltimos anos pela selecção, que já joga junta há três anos, tem permitido o amadurecimento dos jogadores e da pró pria equipa, que possui um campeão de Itália (Hugo Gaspar) e outro da Alemanha (João José)", explicou. Além de Hugo Gaspar - em destaque na tabela dos pontuadores - e de João José, também Nuno Pinheiro (Prisma Taranto, Ita), Flávio Cruz (Allegrini Bergamo, Ita) e Eurico Peixoto (Sudtirol Bolzano, Ita) estão mais experientes e amadurecidos.

De acordo com Carlos Teixeira, "também o Nacional tem evoluído, pelo que os jogadores que actuam em Portugal estão mais fortes mentalmente e se cada um puder acrescentar um extra isso irá reflectir-se no todo da selecção". Esses factores, aliados a um trabalho apurado ao nível da elevada experiência do voleibol cubano (Juan Diaz e Orlando Samuels), fazem de Portugal uma das selecções que mais cresceu nos ú ltimos anos. "Não há muito tempo seria uma espécie de vitó ria vencer um set ao Brasil, ou, quanto muito, jogar bem. Nunca me passaria pela cabeça que poderíamos vencer e discutir o triunfo, mesmo fora de nossa casa", adiantou o jogador. "O Brasil é uma selecção fantástica, recheada de extraordinárias estrelas, com a qual já jogamos de igual para igual, sem o estigma de coitadinhos, ou de vamos lá perder por poucos", justificou Carlos Teixeira. A evolução do voleibol tem sido acompanhada, ainda segundo Carlos Teixeira, "com um crescente apoio do

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pú blico, que já aparece de cachecol aberto a incentivar uma selecção que entra em jogo para ganhar independentemente do adversário". A segunda volta da Liga Mundial será determinante para as aspirações lusas no tocante ao objectivo de ficar em segundo lugar do Grupo A, depois de garantido pelo menos o terceiro, já que o Japão é irremediavelmente ú ltimo. O primeiro objectivo de Portugal era o de fugir ao ú ltimo lugar do grupo, já alcançado, mas a fasquia subiu com o decorrer da prova, liderada até à entrada na quarta jornada dupla pela selecção lusa, com os mesmos pontos do Brasil. "A diferença em relação aos anos anteriores é que Portugal conseguiu tirar partido dos jogos em casa (cinco vitó rias em seis possíveis). Apesar das duas derrotas sofridas com o Brasil (3-1 e 3-0), Carlos Teixeira considerou que o fim-de-semana em Brasília "foi bom para a equipa, que conseguiu manter e estabilizar o seu nível de jogo". Dentro do campo, Carlos Teixeira protege o chão sempre com os olhos na bola, e sobre ele caiu muito do poder de fogo dos serviços dos jogadores adversários, sendo por isso responsável por armar o contra-ataque. Apesar de, no seu entender, estar "mais comedido e menos efusivo no apoio e incentivo aos seus colegas, Teixeira continua a ser dos mais comunicadores, fruto da sua posição privilegiada no fundo do campo. Carlos Teixeira iniciou-se com 11 anos nos escalões de formação da Académica de São Mamede, onde cumpriu a sua primeira época de sénior, sem passar pelos juniores, apó s o que ingressou no Leixões, Castelo da Maia, Antigos Alunos e Benfica. No Castelo da Maia, e depois de vários campeonatos ganhos nos escalões de formação, Teixeira conseguiu o primeiro titulo nacional sénior, no primeiro ano do "tetra", que voltaria a saborear este ano pelo Benfica.


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Inter dá Luisão e Davids por troca com Samuel

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defesa central brasileiro do Benfica Luisão pode ser moeda de troca na transferência do central argentino Walter Samuel do Real Madrid para o Inter Milão, revela o diário italiano Corriere dello Sport Stadio. De acordo com o diário transalpino, Luisão terá já um acordo com o Inter Milão e, juntamente com o holandês Edgar Davids, terão sido oferecidos ao Real Madrid por troca com Walter Samuel. Na base da proposta interista está o

facto do clube italiano não querer chegar à verba de 22 milhões de euros pedida pelo Real Madrid para vender o defesa argentino. Deste modo, e ainda segundo o jornal, as cedências de Luisão, jogador do agrado do treinador brasileiro do Real Madrid, Vanderlei Luxemburgo, e que terá sido adquirido em Fevereiro ú ltimo, e de Davids, futebolista fora dos planos do Inter para a pró xima temporada, poderão servir de moeda de troca na aquisição de Samuel.

Período de transição alargada para 2 anos

O

alargamento de uma para duas épocas de transição no Nacional da II Divisão B é o principal reajustamento efectuado pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF) à proposta de alteração dos quadros competitivos do futebol não profissional. O organismo federativo foi sensível às "sugestões e reparos" das associações distritais e vai submeter a votação o documento modificado na Assembleia Geral de 30 de Junho, com início às 15:00, anunciou a FPF no seu sítio na Internet.

Outro ajuste significativo, resultante do descontentamento com a proposta inicial, apresentada a 21 de Maio, prendese com a entrada directa na II Divisão B dos campeões nacionais da III Divisão das séries dos Açores e Madeira. A reunião magna da FPF servirá também para apreciar e votar a proposta de atribuição da Medalha de Ouro ao Mérito Internacional a Antó nio Laranjo, director do Euro2004, realizado em Portugal e ganho pela Grécia (vitó ria por 10 sobre a selecção lusa, na final).


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Paró quias populares de Caracas praticam Madeirabol Em El Valle, em El Paraí so, e em El Cementerio, formaram-se equipas desta modalidade que recentemente tem ganho adeptos noutros paí ses do continente, entre eles Equador e Costa Rica

TORNEIO EM CARACAS O treinador de futebol venezuelano Andrés Eloy Vitoria, tem sido a peça fundamental na divultermo Madeirabol, gação desta disciplina e tem orgaaparentemente pouco nizado exibições e torneios paroconhecido, tem ganho quiais. Estes eventos têm contado relevâ ncia nos ú lti- com o apoio de diferentes instituimos anos, sobretudo nalgumas das ções e, sobretudo, com muitos esparó quias mais populares de Cara- pectadores. « É impressionante a cas, sendo que o seu significado é aceitação que o Madeirabol conseprofundamente conhecido. O ter- gue ter. Em todas as paró quias onmo denota uma disciplina, uma mo- de faço exibições as pessoas ficam dalidade desportiva que surgiu há entusiasmadas e começam a jogar. E mais de 70 anos nos balneários da pedem-me sempre que organize joIlha da Madeira, em Portugal. Hoje, gos» , conta-nos. Em 2001, organizou-se o I Torcomeça a cativar com força outras regiões do Mundo e, especialmente, neio de Madeirabol da Região Capital e foi financiado pela Câ mara países do continente americano. A histó ria revela que foram os Municipal. O vencedor dó i uma ingleses que inventaram e levaram equipa constituída e gerida apenas consigo, através das emigrações, es- por venezuelanos. Este evento conta nova invenção. A grande aceita- tou, também, com a presença do ção popular que teve e as destrezas presidente da Câ mara Municipal dos lusos neste desporto fizeram do Funchal, Miguel Albuquerque. com que anos mais tarde fosse modificada a designação de “ Deck-Te- TOquEs E CRIATIVIDADE Graças a estas exibições, têm-se nis” por “ Madeirabol” , o nome que ainda hoje é conhecido, gan- constituído equipas de Madeirabol em zonas populares, como El Valle, hando cada vez mais adeptos. Na Venezuela, a chegada do Ma- El Paraíso e El Cementerio. « É fácil deirabol deu-se pela influência de jogar porque não são necessários preimigrantes lusos, que têm procurado encher grandes requisitos» , diz, difundir os seus costumes um pou- acrescentando: « quando vou a esco mais além das paredes dos cen- tas paró quias fecho uma rua, pontros sociais e recreativos portugue- ho a rede e começamos a jogar» . Este treinador, que tem expeses. Liliana da Silva

Lilianadasilva19@hotmail.com

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riência na preparação de quipas de futebol, reconhece no Madeirabol uma ferramenta valiosa para melhorar o rendimento e a qualidade dos seus jogadores de futebol. « Este desporto permite desenvolver pontos chaves, como o controlo e o domínio da bola. Como a bola é mais pequena que a que se utiliza no futebol e os movimentos são basicamente com o corpo e os pés, este desporto ajuda a desenvolver os toques e a criatividade nas jogadas. E estas são as qualidade necessárias para o futebol» , refere Andrés Eloy Vitoria. O treinador já levou o Madeirabol a Congressos Internacionais de Técnicas aplicadas no futebol e conseguiu obter uma grande aceitação por parte dos treinadores de outros países. Na verdade, no Equador e na Costa Rica o Madeirabol é uma forma de treino para as selecções de futebol. « um dos membros do Corpo Técnico da selecção do Brasil confessou-me que recorriam a uma disciplina semelhante ao Madeirabol como parte dos seus treinos. As ú nicas diferenças residem no facto desta modalidade ser jogada na praia, sem se deixar que a bola toque no chão. Daí o grande domínio que estes jogadores têm da bola» , concluiu.

A partir do 1º de julho, no marco das celebrações do Dia de Madeira, se realizará um Campeonato de Madeirabol na cidade de Caracas, no que participarão dez equipas das categorias: infantil B, infantil A, juvenil, livre y veteranos (35 anos em adiante). O torneio se estenderá até o 29 de julho.

Caracterí sticas bá sicas do Madeirabol • O Madeirabol tem como principal finalidade passar a bola por cima de uma rede que está no meio do campo. Pode-se utilizar qualquer parte do corpo menos os braços (ao contrário do Voleibol). • Deve-se evitar que a bola toque duas vezes consecutivas no chão, pois isto dá ponto para a equipa contrária. Cada equipa pode dar três toques antes de passar a bola para o lado contrário. O

mesmo jogador não pode tocar duas vezes consecutivas a bola. • O número máximo de participantes é de quatro, mas só dois jogam no campo. • O jogo é ganho pela equipa que vença dois “sets”. Cada “set” se ganha com 10 pontos •O terreno de jogo é um rectangulo 10x5 metros A rede encontra-se colocada longitudinalmente a 1,65 metros de altura.


Quem quer um banco vai ao totta CORREIO DE CARACAS - 23 DE JUNHO DE 2005

Portugueses pedem castigo para sequestradores lusos correio@cantv.net

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a Candelária é uma zona por excelência muito conhecida dos portugueses. Uns conhecem a praça porque moram perto, outros porque têm ali as suas lojas comerciais, restaurantes e padarias. Joaquim Ribeiro e José Luís Pita, os dois portugueses envolvidos nos sequestros, também desenvolviam as suas actividades comerciais naquela localidade de Caracas. Joaquim dedicava-se há mais de vinte anos à compra e venda de estabelecimentos comerciais naquela localidade e José Luís também desenvolvia as suas actividades de carpinteiro naquela zona de Caracas. Para muitos, a notícia caiu com uma bomba. "Tenho várias noites que não consigo dormir só de pensar nisso. Custa-me a acreditar", desabafa um dos seus conhecidos. Outro manifesta que "sempre pensei que andava metido em negó cios estranhos". No entanto, a grande maioria dos contactados evita falar do assunto e olha com alguma desconfiança para os que os rodeiam. Todos receiam de qualquer coisa. De facto, são muitos os desabafos dos "amigos" que agora preferem esquecer que um dia confiaram nestes portugueses que acabaram por demonstrar que não eram pessoas de bem. Um emigrante que já foi sequestrado confesa: "quando me contaram quem era, revivi o pesadelo do sequestro e agora que sei que foram eles não consigo estar descansado. Nem sei quando é que isto vai passar". O denominador comum dos desabafos é pedir castigo a dobrar. A grande

maioria desconfia da justiça venezuelana e acredita que "com dinheiro como eles tem, contratam bons advogados e dentro de uns dias estão na rua novamente". Outros não acreditam que os dois portugueses sejam efectivamente os chefes da banda: "Deve haver muita gente poderosa metida no sarilho", comenta outro emigrante que passava na zona. Todos pedem justiça e dizem que, se não se fizer, levam o caso onde for necessário. "Têm de zelar pela nossa estabilidade comercial e social. São os interesses do país que estão em jogo". Por outro lado, o comissário-chefe que dirige o comando de operações de extorsão e sequestro é categó rico ao afirmar que "vão ser transferidos para "La Planta" e daí ninguém os tira". Devido à nossa insistência, reafirma que "por dinheiro nenhum do mundo vão poder livrar-se dos delitos que cometeram". Lembra que foram apanhados em flagrante e pede aos portugueses que confiem na justiça venezuelana e que não se deixem enganar por falsas versões que dão conta de bons relacionamentos entre os

sequestradores e as polícias. "Delito é delito e quem quer que seja o delinquente deve e tem de pagar pelos delitos que cometeu. Seja ou não amigo ou conhecido de um membro da polícia", diz. E cita vários exemplos: "ainda há bem pouco tempo desarticulamos um grupo onde um dos membros foi meu companheiro de trabalho e amigo. Aí está a prova. Foi preso por muito tempo". Recorda que os polícias também são humanos e não se podem isolar da sociedade onde vivem. Devem e têm que ter amigos, mas quando é preciso agir contra o delito, não podemos deixar-nos influenciar pela amizade". Outra das preocupações da comunidade é o facto da banda ainda estar totalmente desarticulada. Joel Rengifo desfaz qualquer dú vida e assegura que "está praticamente desmantelada pela cabeça. Não se esqueçam que os chefes, os intelectuais que comandavam, as operações foram apanhados em flagrante. Estão detidos e eram eles que escolhiam as vítimas que dividiam em partes iguais. Eram eles mesmo que, na maior parte das vezes, aconselhavam as famílias a denunciarem o ca-

Joel Rengifo, coordena a Divisã o de Anti-extorsã o e Sequestro da CICPC: • "Nunca existiu nenhuma lista de ví timas" • "Por dinheiro nenhum do mundo os portugueses envolvidos no sequestro vã o poder sair da prisã o" • "O ú nico "modus operandi" do grupo era feito atravé s do contacto directo que eles tinham com os portugueses. Estudavam as ví timas minuciosamente e depois agiam contra os seus pró prios "amigos". Tudo o que disserem para alé m disto é apenas falsa especulaç ã o" so à polícia. Imaginem!” O responsável pede aos portugueses que se mantenham calmos e garante que os delitos nesta área vão diminuir consideravelmente com a detenção desta banda. Joel Rengifo pede também ponderação aos portugueses e destaca que é importante não se deixar levar por falsas especulações sobre uma possível lista de vítimas. Nunca existiu lista nenhuma, sublinha, recordando mesmo o "modus operandi" da banda. "Era feito exclusivamente através de contactos directos que eles tinham. Saíam com uma pessoa, estudavam-na muito e tornavam-se amigos dela, para ganhar-lhe confiança. Eram muito inteligentes! Tudo o que possam dizer para além disso são falas especulações", releva, pedindo mais uma vez mais a confiança dos portugueses.


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