Correio da Venezuela 113

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Valeu a pena emigrar

A opinião de quem deixou a sua terra e os amigos. Página 32

Retrato de C. Lobos

A imagem actual de uma cidade nova. Página 18

www.correiodecaracas.net

O jornal da comunidade luso-venezuelana

ano 06 - n.º 113 - DePósito LegaL: 199901DF222 - PubLicação semanaL

caracas, 30 De JunHo De 2005 - VenezueLa: bs.: 1.000,00 / PortugaL:

Comunidade evoca Dia da Madeira A celebração do Dia da Madeira, no primeiro de Julho, não deixa ninguém indiferente. O CORREIO explica porque é que esta data é tão marcante. Páginas 10 a 14

0,75

Gastronomia portuguesa em mãos de venezuelanos. Página 24 Justiça: Nova lei prevê trinta anos de prisão para os sequestradores. Página 3

Super-estrela Cristiano Ronaldo foi ao casamento da irmã O craque do Manchester United concluiu as férias com uma fugaz deslocação à Madeira, onde foi padrinho de casamento de uma das suas irmãs. Página31

Voleibol português deixou marcas em Caracas. Página s 28 e 29


2 EDITORIAL

CORREIO DE CARACAS - 30 DE JUNHO DE 2005

Orgulho nacional Director: Aleixo Vieira Subdirector Agostinho Silva Coordenação em Caracas Délia Meneses Coordenação na Madeira Sónia Gonçalves Jornalistas: António da Silva, Carlos Orellana Jean Carlos de Abreu, Liliana da Silva Nathali Gómez e Noélia de Abreu Correspondentes: Ana Pita Andrade (Maracay) Bernardete de Quintal (Curaçau) Briceida Yepez (Valencia) Carlos Balaguera (Maracay e Valencia) Carlos Marques (Mérida) Sandra Rodriguez (La Victoria) Trinidad Macedo (Barquisimeto) Colaborações: António de Abreu, Arelys Gonçalves Janette Da Silva, Luís Barreira e Miguel Rodrigues Publicidade e Marketing: Carla Vieira

Por via de uma manifestação desportiva, ainda por cima de nível mundial, Portugal e Venezuela acabam de experimentar uma saudável disputa, como deveriam ser todas as competições desportivas. A presença em Caracas da selecção nacional de voleibol despertou, por outro lado, a alegria que cada português nutre pela sua Pátria, sobretudo estando distante. E foi muito importante ver o entusiasmo que a presença dos melhores voleibolistas portugueses provocou junto da comunidade lusa. Por outro lado, notou-se igualmente um certo orgulho dos membros da representação oficial em relação ao que aqui encontraram, feito por portu-

o CaRToon Da semana

Preparação Gráfica: Olga de Canha (DN-Madeira) Produção: Franklin Lares Distribuição: Juan Fernandez Endereço: Av. Los Jabillos 905, com Av. Francisco Solano, Edif. Torre Tepuy, piso 2-2C, Sabana Grande - 1050 Caracas. Endereço Postal: Editorial Correio C.A. Sabana Grande Caracas - Venezuela Telefones: (0212) 761.41.45 Telefax: (0212) 761.12.69 E-mail: correio@cantv.net URL: www.correiodecaracas.net Tiragem deste número: 10.000 exemplares

gueses que, desta forma, também fazem aquilo que eles vieram fazer: engrandecer o nome de Portugal. Para a histó ria ficam também os resultados desportivos, é verdade! Até nisso, a harmonia luso-venezuelana acabou por vencer, já que à vitó ria dos portugueses na primeira jornada sucedeu outra vitó ria dos venezuelanos, em ambos os casos por nú meros iguais: 3-0. Paulatinamente, de uma forma ou de outra, Portugal e os portugueses continuam a afirmar-se por esse mundo além. Umas vezes por força da tremenda eficácia desportiva nacional, outras por razões bem distintas, mas que ajudam a cimentar o nome de Portugal.

Já te recenseaste para poderes votar em Portugal?

Não, não! Isso dá muita maçada! À gente e, sobretudo, ao pessoal do Consulado!

a semana Gala da Cultura A Gala da Cultura tem muito interesse e significado para a continuidade das raízes lusas além-mar. Foram dezenas de jovens que actuaram em português, e alguns deles até nem o são, mas cantaram e actuaram na língua de Camões. Desde aos mais jovens até à terceira geração, deu gosto vêlos na Gala da Cultura dos alunos de português que frequentam a escola do Centro Português de Caracas. Só foi pena a ausência de responsáveis do clube num evento desta importância.

A festa do Voleibol portuguê s O ambiente vivido neste último fim-de-semana nas instalações do "poliedro de Caracas" merece algum destaque. O cenário do campeonato mundial de voleibol, onde os protagonistas foram as selecções de Portugal e a da Venezuela, ofereceram um ambiente de harmonia, apesar do necessário confronto desportivo entre os dois países. Mas confronto desportivo apenas, pois os abraços e o ambiente harmonioso vivido inclusivamente entre os atletas adversários no fim dos jogos evidenciam isso mesmo.

Julgamento adiado outra vez Continua o clima de incerteza quanto ao julgamento do caso do avião da Air Luxor na Venezuela. Os argumentos são variados: um dia falta uma testemunha, no outro falta o juiz, no outro um advogado, no outro o clima impediu os trabalhos… A verdade é que os portugueses alegadamente envolvidos estão a cumprir pena há quase um ano e a sentença tem sido sempre adiada por uma ou por outra razão. Culpados ou inocentes, todos têm o direito de ir a julgamento ou não. É que os suspeitos estão detidos desde Outubro do ano passado. Pensamos que um ano é demais, sobretudo para aqueles que estão eventualmente inocentes.

Abusar da paciê ncia Muitas vezes aqui já criticámos a falta de iniciativas para o diaa-dia dos portugueses na Venezuela. Desta vez, as nossas críticas são diferentes, baseiam-se em depoimentos escritos e enviados telefonicamente à nossa Redacção. Aconteceu no caso de uma apresentação de um artista português de nível internacional, onde as entradas foram vendidas para as 14h00 e o artista só se apresentou por volta das 19h00, causando mal-estar entre os presentes que se viram obrigados a consumir por mais de oito horas. Queremos continuar a pensar que essa não foi a causa ou o motivo do atraso. Mas, de qualquer forma, não se pode brincar com a paciência das pessoas, apesar do grande espectáculo que foi.

Fontes de Informação: DIÁRIO de Notícias da Ma deira Jornal de Notícias Agência de Notícias LUSA O Correio de Caracas não se responsabiliza por qualquer opinião manifestada pelos colaboradores ou assinantes nos artigos publicados, garantindo-se, de acordo com a lei do jornalismo, o direito à resposta, sempre que a mesma seja recebida dentro de 60 dias. El Correio de Caracas, no se hace responsable por las opiniones manifestadas por los colaboradores o firmantes, garantizando, de acuerdo a la Ley, el derecho a respuesta, siempre que la misma sea recibida dentro de 60 días.

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VENEzuELa 3

Luso-descendente secuestrada em Los Valles del Tuy Os deliquentes pedem um resgate de dez milhões de dólares para libertarem a ví tima, filha de pais madeirenses. Teresa de Almeida vivia num Pent House e foi sequestrada quando estava a entrar no seu automóvel, um Mercedes descapotável. do os familiares da vítima disseram que não dispunham de tanto dinheiro. corellanacorreio@hotmail.com A vítima é mulher de um comerciante português chamado Aníbal Almeida, a passada terça-feira 21 de conhecido carinhosamente como "ChiJunho, os portugueses vol- cho". É proprietário de várias padarias taram a ser notícia por cau- em Los Valles del Tuy e de uma discosa de sequestros. Trata-se teca. de Teresa de Almeida, que foi sequesSegundo vizinhos, a mulher sequestrada por seis indivíduos que estavam na trada, que reside num Pent House do posse de armas de fogo. Eram cerca das Centro Comercial Araguaney de Que19h00 quando o incidente ocorreu, junto brada Cua, manteve um ú ltimo contacdo Centro Comercial El Colonial, locali- to telefó nico com a sua filha antes de zado na Urbanização Santa Rosa de los ser raptada, por volta das 17h00. Valles del Tuy, Estado Miranda. Até agora, o Corpo de Investigações Os sequestradores, que viajavam num Científicas, Penais e Criminais del Tuy, carro de marca "Cavalier", de 1999, rap- juntamente com o pessoal efectivo da taram esta mulher filha de madeirenses Divisão de Sequestro, está à procura da quando ela estava a entrar no seu auto- mulher do comerciante. As operações de mó vel descapotável, um Mercedes Benz. rastreio têm sido feitas em vários sítios, Depois de a manterem como refém du- nomeadamente em Valencia e Maracay. rante várias horas, os delinquentes conCom o sequestro de Teresa de Altactaram a família para pedir um resgate meida, este é o terceiro que se regista de dez milhões de dó lares. só no ú ltimo ano naquela região do paAté ao momento, não temos conhe- ís. Antes, foram raptadas a mãe do Big cimento de outro contacto telefó nico Leaguer Ugueth Urbina, em Ocumare, e por parte dos sequestradores, pelo que uma jovem estudante, também filha de o montante solicitado continua a ser o portugueses. Mas esta ú ltima acabou mesmo. Não se sabe também se aqueles por ser assassinada. concordaram em reduzir a quantia quanCarlos Orellana

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Valencia reú ne folclore no domingo Nathali Gómez

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o pró ximo domingo 3 de Julho, a partir das 14h00, vai realizar-se o XX Festival Folcló rico na Casa Portuguesa Venezuelana de Valencia, no estado Carabobo. O evento vai contar com a participação de vinte grupos folcló ricos. As entradas para este evento em honra da Região de Miranda, que fica no Norte de Portugal, podem ser adquiridas pelo pú blico em geral por seis mil bolívares, podendo os bilhetes serem adquiridos na sede da Casa Portuguesa de Valencia. Segundo nos conta José Humberto Rodrigues, director-geral do grupo anfitrião do festival, foram convidados 32 grupos e 20 aceitaram o convite. Os participantes são: Luso-ve-

Nova lei prevê trinta anos de prisão para os sequestradores Délia Meneses

delia_jornalista@yahoo.com

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Lei de Anti-extorsão e Sequestro é ainda um projecto que repousa no seio da Comissão de Defesa da Assembleia Nacional. Os membros deste grupo têm consciência da prioridade que se deve dar ao projecto pela magnitude e consequências do problema. Quando este instrumento legal seja aprovado, vai ser possível tipificar e sancionar o sequestro e a extorsão como crimes que violam os direitos da liberdade e da segurança pessoal. Entre os aspectos que contempla o projecto de

lei, destaca-se uma nova normativa no que se refere ao negociador. Antes, qualquer cidadão podia servir de intermediário no caso de haver um sequestro, mas a partir de agora a pessoa que negoceie sem ter a devida autorização do juiz da causa é punida. Outras das novidades da lei é o aumento de pena para as pessoas que participem directa ou indirectamente no rapto. O projecto estabelece para o crime de sequestro uma pena de 20 a 25 anos de prisão. E os que cometam faltas agravadas vão ter uma sanç ão de 25 a 30 anos. O desespero de querer trazer de volta o familiar sequestrado faz com que,

muitas vezes, os portugueses cometam um erro. "Tenho visto que, quando raptam um português, toda a gente se oferece para pagar o resgate. E isso é um erro gravíssimo. Estamos à espera que Lei de Anti-extorsão e Sequestro seja aprovada, pois com ela as pessoas que negoceiem com os criminosos sem informar os corpos policiais são multadas", adverte Joel Rengifo, chefe da Divisão de Anti-extorsão e Sequestro do Corpo de Investigações Científicas, Penais e Criminais. Sobre o destino dos dois sequestradores portugueses envolvidos em vários raptos, Rengifo assinalou que ainda não há data marcada para o início do julgamento.

Explosão caseira matou emigrante

nezuelano de los Valles del Tuy, "Alma Lusitana", "Renacer Lusitano", "Primavera" de los Valles del Tuy, "Nova Geração" da Península de Paraguaná, Centro Português, Centro Social Madeirense de Valencia, "Nossa Mocidade" de la Victoria, "Sol Madeira" de Tinaquillo, Internacional Luso de Caracas "Dos patrias", Luso-venezuelano "A Madeira é

um jardim", Centro Português Venezuelano de Guayana, Lusovenezuelano del Estado Vargas, Associação Cultural "Os Lusíadas", Danças Luso-victorianas, "Alegria da Nossa Terra" de Barquisimeto, Emigrante Português de Santa Teresa del Tuy, "Amizade" da Casa Portuguesa do Estado Aragua e "Danças e Cantares", de Caracas.

A tragédia atingiu um casal natural de Vila da Feira, no Porto, que residia na paró quia La Candelaria de Caracas. Elisio Pereira de Sousa, de 40 anos, morreu quando estava a tentar abrir uma garrafa gás e esta explodiu ao entrar em contacto com o fogão. A sua mulher, Maria da Luz Gonçalves, estava a cozinhar nesse preciso momento e ficou gravemente ferida. Actualmente, a mulher está internada no Hospital de "El Lídice" com queimaduras em cerca de 50% do corpo. A ú nica filha do casal, de 12 anos de idade, estava afastada da cozinha, mas ainda sofreu as consequências da explosão. Afectou-lhe o braço esquerdo e deve, por isso, ser submetida a

uma cirurgia. A família de Elisio Pereira de Sousa, que era comerciante no ramo da padaria, já conseguiu juntar o dinheiro necessário para transferir o corpo do emigrante para Portugal. A mulher, que vai ficar no hospital por tempo indefinido, precisa de ajuda econó mica. O colégio Virgem de Fátima, que fica em San Bernardino, onde estuda a filha do casal, está a receber doações. "O apartamento, que fica na esquina Teñidores de la Candelária, ficou todo destruído", informou-nos David Pinho, o dono do colégio. Quem deseje ajudar pode fazê-lo através do telefone 0058212 577 61 84.


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"A polarização já não é lucrativa" A comunicação social venezuelana comemorou mais um 27 de Junho. O CORREIO falou com dois jornalistas luso-descendentes sobre os desafios de exercer actualmente esta profissão. Carlos Orellana

corellanacorreio@hotmail.com

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ilibeth da Corte, filha de pai madeirense e mae venezuelana, vê o jornalismo como a sua paixão desde que tinha sete anos. Foi jornalista de "Unió n Rádio Notícias" durante nove anos e, depois, passou para a Redacção do jornal El Universal, onde trabalha na secção de política nacional – Que elementos deve reunir um jornalista para ser integral? Deve ter muito claro o có digo de ética do jornalismo venezuelano. Penso que um profissional da comunicação deve ser objectivo no seu trabalho, pois a mensagem que passa deve dirigir-se a uma quantidade de pessoas que acredita na fiabilidade do seu conteú do. – Qual foi o momento mais difícil que teve de enfrentar durante o seu exercício profissional? Sem dú vida alguma, os acon-

tecimentos do 11 de Abril, pois na altura deu-se muita confusão. Uma pessoa não sabia como estavam as coisas e tínhamos que ter atenção com cada palavra que escrevíamos, pois um simples erro podia originar um conflito. Essa altura foi uma prova de fogo para todos os jornalistas venezuelanos. – O que mais gosta desta profissão? Gosto de tudo. Não vejo o jornalismo como um trabalho apenas, mas como uma coisa que me diverte e me fascina desde criança. – Como fazer com que uma notícia não perca credibilidade? O jornalista ganha credibilidade ao longo do seu desempenho. – O que é o mais difícil de fazer jornalismo actualmente? Hoje em dia, a posição do jornalista versus governo é difícil, pois normalmente as pessoas que encabeçam os organismos políticos na Venezuela estão predispostas na hora de serem entrevistados. – O que teve de tão difícil o

Maria Lilibeth da Corte

Sonsire Luna da Costa

jornalismo político? Quando nos apaixonamos por alguma coisa, tudo é divertido e nada é difícil. Mas posso dizer que é difícil sintetizar o discurso presidencial do presidente Hugo Chávez (risos).

Universidade Cató lica Andrés Bello na promoção do ano 95 e sempre teve interesse em se especializar na parte audiovisual. – O que é que mais gosta desta profissão? Actualmente não tenho uma secção fixa. A variedade faz com que cada dia seja sempre diferente e assim é melhor. Claro que isto tem os seus pró s e os seus contras, pois muitas vezes não me permite aprofundar um determinado tema como gostaria. – Quanto à polémica cedência da objectividade, qual é a sua opinião?

APAIXONADA PELAS MUDANÇAS Sonsiré Luna Da Costa, para além de ser jornalista, é licenciada em Educação. Trabalha na Unió n Radio Noticias há três anos. Trabalhou há nove anos na "Radio Fe y Alegría", juntamente com a agência VENPRES. É finalista da

O jornalismo objectivo é algo muito difícil porque passamos a vida a fazer notícias baseadas em opiniões. Eu dava este conceito como esgotado. – Na sua rádio, o que está proibido na hora de fazer uma cobertura noticiosa? Na Unió n Rádio cobre-se tudo, tanto a parte oficialista como a oposição. O que não se permite é transmitir apelos violentos, insultos ou incitações a um golpe de Estado, pois a pró pria lei proíbe isto. Agora, há uma maior e melhor cobertura da informação porque aos meios de comunicação social não lhes convém estar polarizados, pois isto não é lucrativo. – Que mensagem deixa para as novas gerações de jornalistas? Digo-lhes que quando se cansem de alguma coisa não se devem deixar abater pela rotina. Isso aconteceu comigo e tinha pensado deixar o jornalismo para exercer a minha outra profissão. Mas optei por não cair em monotonias e fazer coisas distintas dentro deste campo. Funcionou.


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Busto de Simó n Bolívar em Arcos de Valdevez Délia Meneses

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comunidade de arcuenses residentes na Venezuela perfaz um total de 400 pessoas que residem essencialmente nas cidades de Caracas, Valencia e Barquisimeto. Para homenagear o Libertador da Venezuela e aos emigrantes que residem no país, os arcuenses vão colocar um busto a Simó n Bolívar em Arcos de Valdevez, numa das ruas principais desta cidade do Norte de Portugal. O acto está agendado para o dia 12 de Agosto e deverá contar com a presença do embaixador da Venezuela em Portugal, Manuel Quijada, assim como do presidente da Câ mara, Francisco Rodrigues Araú jo, que já esteve na Venezuela quatro vezes. Assistem também ao evento 51 membros da Junta de Freguesia e mais de quarenta arcuenses que residem na Venezuela, assim como amigos da ilha da Madeira e de várias partes do continente. A comitiva, encabeçada pelo emigrante Domingos Calheiros, vai a 30 de Julho para Portugal por Santiago de Compostela, através de um patrocínio da Air Europa. O autarca arcuense vai enviar um autocarro para transportar o grupo até Portugal. Calheiros, que chegou a terras de Bolívar há 28 anos, explica-nos que tinha em mente esta ideia há vários anos e mostra-se feliz por poder concretizá-la já no pró ximo mês de Agosto. A autoria do busto é do famoso escultor Jú lio César Bri-

ceño, o mesmo que fez o busto do Libertador que está deposto no Faial, Madeira. A comunidade arcuense que reside na Venezuela realiza há doze anos encontros anuais para juntar num mesmo espaço os emigrantes naturais de Arcos de Valdevez. Os ú ltimos três eventos têm contado com a presença do autarca de Francisco Rodrigues Araú jo.

BREVE INDECU fechou seis supermercados A 23 de Junho, numa operação conjunta com a Guarda Nacional, o Instituto Nacional de Defesa e Educação do Consumidor (INDECU) fechou na área de Caracas vários supermercados: a Central Madeirense de Los Próceres, o Excelsior Gama em Santa Eduvigis, a Unicasa em Catia, o Plaza's de El Cafetal e o CADA de Los Símbolos. O responsável pelo INDECU comentounos que na altura da operação foram detectados vários produtos à venda que não respeitavam os preços estipulados, entre os quais se destacam a carne de primeira e de segunda, o queijo branco e os ovos. O CORREIO contactou vários estabelecimentos comerciais que a traves da sua gerência manifestaram que deixarão de comprar carne aos distribuidores, matadouros e frigoríficos pois estes vendem o produto por encima do preço regulado. Um comerciante advertiu que venderá até que o inventario acabe e depois não tem intenções de repor a mercadoria, porque não está disposto a perder dinheiro. Recentemente o sector dos supermercados tem sido fortemente atacado, a pesar de ser um dois sectores que cria mais empregos e paga mais impostos. As inspecções vão continuar a ser feitas ao nível nacional.O INDECU apela a todos os sectores comerciais para a necessidade de estarem regularizados e cumprirem o que está estipulado na Gazeta Oficial 38.060, de Novembro de 2004.


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Venezuelano preside Centro Luso de Acarigua Nathali Gómez

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s ú ltimas eleições da Junta Directiva do Centro Social Luso-venezuelano de Acarigua não foram como as anteriores. Desta vez, o resultado foi a eleição de um venezuelano como presidente, que não tem vínculos sanguíneos com a comunidade portuguesa. Este resultado eleitoral alarmou aos que viram a vitó ria de Antó nio Pérez Bigott como um atentado às tradições culturais e folcló ricas dos lusitanos. Na contenda eleitoral, enfrentaramse três listas. A primeira era presidida pelo luso-descendente Wilfredo Soares, a segunda por Pérez Bigott e a terceira por Carlos Díaz, outro venezuelano. No total, dos 1.500 só cios que compõem o grupo, votaram 987 pessoas. A lista de Soares obteve 287 votos, a de Pérez Bigott 400 e a de Díaz 300. Por sua vez, Pérez Bigott fez questão de notar que a sua presidência não visa, de maneira nenhuma, acabar com a coló nia portuguesa e os seus costumes, pois embora seja venezuelano intere-

ssa-se profundamente com a comunidade. E uma prova disso é que Agustín Gonçalves, vice-presidente da Junta que preside, é de descendência lusa. Para Bigott, chegar ao cargo que agora ocupa não foi uma tarefa fácil. Tudo começou há cerca de um ano,

quando ele, juntamente com outros membros da sua lista, meteu um recurso no Tribunal Supremo de Justícia porque considerava ilegal o estatuto que estabelecia que 51% dos membros da junta directiva do centro tinham de ser portugueses. Segundo ele, este nú mero não correspondia à realidade do clube, onde só aproximadamente uns 13% dos só cios eram de origem lusa. Por isso mesmo, o TSJ decidiu a seu favor. "O antigo estatuto correspondia a uma política asfixiante porque em quinze membros de uma direcção era preciso que oito fossem portugueses. Tinham que andar por ai a procurá-los por todo o lado para terem lista", opina Pérez Bigott. Por sua vez, Fernando da Silva, expresidente do clube, preferiu não tecer comentários ao facto dos portugueses que fazem parte do clube terem escolhido um venezuelano, preterindo um compatriota. Quanto às iniciativas da actual junta no que se refere às comemorações do Dia de Portugal, mostra-se minimamente satisfeito.

Presente e futuro Pérez Bigott sente-se satisfeito com as comemorações do Dia de Portugal que se fizeram no centro social. Ao evento assistiu o presidente da Câmara Municipal de Araure, Rafael Vázquez, e os conselheiros da autarquia do Estado Portuguesa. Foram também condecorados Fernando da Silva, Abel Vasconcelos, Lino de Sousa e Teófilo da Câmara, quatro dos ex-presidentes do clube. O recém-eleito presidente também se mostrou satisfeito pelos dois primeiros lugares e pelo terceiro, que foi conseguido pela instituição no festival de FECEPORVEN. Também sublinhou que estão a fazer-se os preparativos para as comemorações do Dia de Madeira e que se vai deslocar a Caracas para vincar que é fundamental que se faça em Acarigua um Vice-consulado, pois o que fica mais perto é em Barquisimeto. E mesmo assim não consegue responder às necessidades da comunidade. Finalmente, Bigott manifestou-se surpreendido com a riqueza cultural e folclórica da comunidade lusa e opinou que é preciso estar a par das mudanças e das evoluções, pois "aquele que se perpetua no cargo acaba por desgastar-se".


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Centro Atlântico Madeira cria comissão de obras Jean Carlos de Abreu

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presidente do Centro Atlâ ntico Madeira Clube de Barquisimeto, Albertina de Sá, organizou uma "Comissão de Obras" para acabar a estrutura da piscina que está actualmente a ser construída. A ideia de organizar esta delegação foi defendida e aprovada pela assembleia-geral. A piscina já está escavada, tem a profundidade determinada, mas não há nem maquinaria nem os elementos necessários para começar a colar os azulejos dentro do buraco que foi deixado a meias. A situação econó mica do clube é precária, pois as quotas que pagam actualmente os 300 só cios não chegam para cobrir as despesas que estão a ter com a remodelação e a construção de outras áreas no terreno. O Centro Atlâ ntico Madeira Club prevê vender 2.000 acções com base nos projectos para continuar a obra que está desenhada em maqueta. "Temos estado em conversações com dois bancos

venezuelanos e várias imobiliárias para aumentar o nú mero de accionistas. Com a entrada desse dinheiro, podemos construir as outras fases que faltam do clube", explicou José Silva, responsável pela Comissão. Apesar de ainda não ter uma sede fí-

sica, vai ser construída uma consoante o investimento aumente. Assim tencionam melhorar a futura instalação onde os emigrantes portugueses, os luso-descendentes e os venezuelanos vão poder desfrutar das actividades que lhes vai oferecer o clube quando for inaugurado.

BREVE Missão Católica Portuguesa comemorou São João Na passada sexta-feira 24 de Julho, realizou-se na sede da Missão Católica Portuguesa a comemoração da festa de São João Baptista. O evento iniciou-se com a missa solene em honra do santo. Logo de seguida, realizou-se uma procissão com a imagem pelas instalações da capela, onde os fieis e os crentes deste sagrado personagem bíblico a seguiram, pedindo o que queriam que fosse cumprido este ano. Na comemoração, não faltou a típica comida portuguesa e a música tradicional para amenizar a noite no adro. Entre sardinhas assadas, carne no espeto, leitão no formo e sangria, a comunidade lusa desfrutou do aniversário de São João. A animação musical foi garantida pelos grupos folclóricos "Duas Pátrias", "Alma Lusitana", "Las Marcys" e Ismael, que interpretaram melodias portuguesas para alegrar o público presente.


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Autonomia sem limites Historiador Alberto Vieira, madeirense, considera que a autonomia não é um projecto acabado, mas em permanente busca da sua concretização plena Teresa Florença (DN - Madeira)

1 de Julho comemora-se o Dia da Região e das Comunidades Madeirenses. A propó sito da data, o historiador Alberto Vieira aborda a questão autonó mica. Na sua perspectiva, a autonomia não é um projecto acabado, mas em permanente busca. "Não tem limites". A Constituição de 1976 estabeleceu a autonomia político-administrativa das ilhas nos domínios político, normativo, administrativo, econó mico e financeiro. Seis anos depois, a revisão de 1982 reforçou a sua capacidade legislativa. Materializouse um conjunto de conquistas apó s séculos de combate. O historiador Alberto Vieira analisa essa luta e diz que se olharmos em torno do debate feito até hoje - ou por pressões do continente ou por questões internas "os projectos aprovados nunca foram os ambicionados, pelo menos pela classe política. E ainda continuamos à espera do projecto ideal". Na sua opinião, "a autonomia não é um projecto acabado, mas em permanente busca da sua concretização plena. A questão é muito complexa. Hoje reivindicamos determinadas situações, mas daqui a 10, 20 anos certamente que, e numa perspectiva histó rica, a autonomia vai evoluir. Os limites serão aqueles que nó s pró prios estabelecermos: Os insulares e aqueles que de fora ditam a forma dessa expressão". E sobre os limites, esclarece que "autonomia não é sinó nimo de independência". Considera mesmo que o que tem prejudicado e prejudica o debate é essa identificação. "Não vejo desse modo. A independência pode ser considerada uma forma extrema de expressão da autonomia, mas penso que não é necessário chegar a uma situação extremada para consegui-la".

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MADEIRENSE NÃO SABIA O QUE ERA AUTONOMIA Se olharmos de forma retrospectiva diz Alberto Vieira - veremos que durante muito tempo os madeirenses nunca tiveram uma noção muito concreta do que era a autonomia. "Ora pretendia-se criar uma situação de oposição ao que acontecia, à situação de crise no continente... e os estatutos que surgiram e foram aprovados acabam por ser uma expressão pouco clara daquilo que as pessoas pretendem. Essa distâ ncia que existe, entre aquilo que queremos e o que somos capazes de expressar, leva a que se viva esta permanente busca".

Como projecto de raiz marcadamente político, a autonomia é apenas uma realidade do século XIX, e surge com a Revolução Liberal. Começa a ter expressão no primeiro perió dico que se publica no Funchal: o "Patriota Funchalense" e depois no debate em torno da revolução. Mas se procuramos as origens do sentimento autonó mico das populações "presume-se que aconteça desde que a ilha foi ocupada, no sentido que é um espaço insular distante do Reino e tem situações particulares de relacionamento", explica Alberto Vieira. Por exemplo, no início do povoamento - e mesmo durante períodos posteriores - os contactos com o continente demoravam, por vezes, seis meses. Esta distâ ncia em relação aos centros de decisão obrigou a que, por um lado, as pró prias autoridades centrais estabelecessem sistemas que permitissem uma certa autonomia. Por outro, levou ao aparecimento de um forte sentimento no sentido das populações resolverem os seus destinos, no que então era permitido. E se a autonomia não foi efectiva, em termos institucionais, ao longo da histó ria registaram-se várias manifestações de que existia em certa medida. Nos finais do século XIX e princípio do XX, os ilhéus "conseguem um projecto de autonomia que vai ao encontro das aspirações dos que durante anos haviam lutado pela causa. Primeiro surge o estatuto atribuído aos Açores, que no séc. XX é aplicado na Madeira, o que demonstra

uma grande dificuldade em fazer vingar esses ideais ao nível do poder central". Entre 1823 e a década de 30, existe um período de permanente intervenção e de combate fundamentalmente ligado à Comunicação Social, a certos interesses econó micos e grupos de pressão política existentes no Funchal. ILHA VIVE PROFUNDA CRISE POLÍ TICA Nos finais do século XIX princípios de século XX, vive-se uma profunda crise na ilha. Neste período, as revoltas que tiveram lugar na Madeira geraram sentimentos contra o continente. Temos os casos da revolta da farinha (Fevereiro de 1931) e da Revolta da Madeira (Abril de1931). A revolta do leite (1936) é outra manifestação popular e que mostra, "mais uma vez, a situação de distâ ncia, de orfandade "que é uma constante do debate. Muitas vezes o que se questiona não é tanto uma solução de governo para a Madeira, mas a situação da ilha". O período do Estado Novo acabou para ser para muitos autonomistas uma esperança, porque na maioria eram conservadores ou monárquicos. Mas "rapidamente se convenceram que estavam enganados, inclusive alguns deles desistiram de apoiar Salazar", salienta. A partir de 1936, 40 esbate-se o movimento autonomista na Madeira, "talvez um pouco embalados pela esperança que

Salazar lhes deu, ou também cansados da luta", diz Alberto Vieira. As soluções que são apresentadas pelo Estado Novo, "por vezes cerceiam os poderes concedidos ou ampliam, mas no sentido de manietar a capacidade de intervenção. Por exemplo, atribuindo poder à Junta Geral sobre determinadas áreas que implicam o investimento de capital, mas sem a correspondente financeira. Isto é manietar uma estrutura. É ao mesmo tempo uma forma ágil e hábil de criar no povo a ideia que a autonomia não serve, que não é solução". Na perspectiva do historiador, foi essa a mensagem que Estado Novo pretendeu transmitir com as diversas reformas que foram efectuadas "e acabou talvez travar o movimento". Na década de 60, um pouco influenciada pela realidade externa e pelo grupo que circulava em torno do Comércio do Funchal, a questão autonó mica reaparece. Alguns debates "tiveram um papel importante no sentido de se definir uma nova realidade em termos da autonomia na Madeira, mas vimos que o que perpassa e a forma como se colocam as situações é idêntica. Também na década de 60 não havia um projecto perfeitamente definido. E tanto é assim que quando acontece o 25 de Abril o debate se prolonga por muito tempo, até que se encontre um caminho. E ainda hoje andamos à procura da solução ideal", conclui o investigador.


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Agostinho Lucas

Cremilde de Andrade

Vinte anos a organizar o Dia da Madeira "Temos feito intercâ mbio de artistas e, mais uma vez, este ano, o convidado de Madeira é o secretário regional do Ambiente e Recursos Natuá mais de vinte anos, a or- rais, Manuel Antó nio Correia, que vai ganização das comemora- participar nos actos do Centro Social ções do 1º de Julho na Madeirense de Valencia no pró ximo Venezuela são preparadas dia 2 de Julho, sábado", explicou-nos pela Comissão do Dia da Região Autó - Agostinho Lucas, presidente da Conoma da Madeira e das Comunidades missão Pró -comemoração. Isto vem Madeirenses. confirmar a tese de que não é só em Esta comitiva surgiu através da pro- Caracas que se comemora esta data. No posta do comendador Agostinho Ma- interior do país também hás um procedo e é constituída por quinze mem- grama específico para marcar esta data. bros que trabalham desde Janeiro paOs organizadores esclarecem que ra conseguir que tanto as actividades "preparar um evento assim não é uma protocolares como as culturais de cada tarefa tão fácil como parece". É necesano tenham êxito. sário que os artistas estejam dispostos Nos ú ltimos anos, as relações entre a a cantar canções escolhidas pela comisComissão do Dia da Região Autó noma são e o cantor tem de ser acompanhado da Madeira e os organizadores do in- pela Orquestra Sinfó nica de Veneterior do país, sobretudo de Maracay e zuela. de Valencia, têm sido bastantes positiDa mesma forma, conseguir que alvas. guma autoridade madeirense venha à Noélia de Abreu

noeliadeabreu@gmail.com

H

Venezuela é uma coisa que demora algum tempo. Embora a comissão possa fazer petições para trazer alguém em especial, a ú ltima decisão é sempre do Governo Regional, que é quem determina quem vem representar a Região. A comissão tem de receber o convidado, que pode visitar outras cidades e participar noutros encontros. Cremilde de Andrade, secretária da comissão, comenta-nos que é uma grande responsabilidade organizar este evento. É que, mesmo que contem com a ajuda de um grande nú mero de patrocinadores, se por acaso faltar dinheiro os membros da comissão organizadora têm que pô r do seu bolso. "O ano passado cada um de nó s teve que pô r dinheiro para poder acabar de pagar as contas. Mas isto só nos aconteceu dois vezes", disse a unida mulher que faz parte desta delegação. Se sobrar dinheiro, os fundos são destinados a uma instituição social.

Programa 1 de Julho Homenagem ao Libertador Simón Bolívar Lugar: Centro Português de Caracas Hora: 17h30 Missa de Acção de Graças Lugar: Capela Nossa Senhora de Fátima do Centro Português Hora: 18h00 Jantar de Confraternização Lugar: Salão Nobre do Centro Português Hora: 20h00 Espectáculo Musical com o Professor Mário André e Banda D' Além 3 de Julho Concerto de música portuguesa e venezuelana com a Orquestra Sinfónica de Venezuela Lugar: Salão Nobre do Centro Português Hora: 18h00

Os madeirenses vistos por figuras polí ticas Quem nunca teve um amigo português natural da Madeira? Tenho recordações de infância de uma família madeirense proprietária do “Abastos Fátima”, em San Juan de los Morros. Muitas vezes pedíamos fiado as compras para casa. Os madeirenses deram um grande Ramon Acosta Carlés contributo para o desenvolvimento económico e social do país, Secretário-geral do Governo interpretando da melhor forma o do Estado Carabobo sentimento venezuelano. Basta ver a cadeia de supermercados Central Madeirense, uma das mais antigas do país que tem sempre produtos frescos a preços bastante económicos. É o reflexo dos madeirenses na Venezuela.

O Dia de Madeira é uma data que serve para comemorar o afecto e o sentimento que nos une, mas sobretudo é um dia que serve para nos aproximarmos uns dos outros como comunidade, utilizando a Assembleia Nacional e outras instituições Lucina Garcí a venezuelanas para estreitar laços de Olivo comerciais, especialmente na Deputada por Maracay área do turismo. Nós sempre nos interessamos por receber muita informação e estamos a par do desenvolvimento que a ilha da Madeira tem tido na área do turismo. Temos que aprender com eles.

A prova de que os portugueses têm muita importância neste município é que, para entrar ou sair do espaço territorial do nosso concelho, tenho que passar antes ou por uma casa lusitana ou por um centro Vicencio Scarano social madeirense. Os Presidente da portugueses, e neste caso os Câmara Municipal madeirenses, são muito de San Diego importantes para o nosso município, pois têm dado grandes contributos sociais e económicos a este espaço. São pessoas sempre bemvindas porque fazem parte da nossa cidade. Muitas felicidades para todos


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um venezuelano em cada esquina na Venezuela, antes de ir para a ilha, trabalhava, ele e os seus irmãos, em Dispramar, uma empresa de distribuição de produos ú ltimos anos, tos de limpeza. "A maior parte uma significativa da minha família está lá. O meu percentagem de pai era do Santo da Serra e a venezuelanos e minha mãe nasceu em Porto luso-descendentes tem preferi- Moniz. Tenho sete irmãos. Em do "experimentar a sorte" nou- Dispramar, era intermediário tras terras. Já aconteceu com os entre os fabricantes e os venseus pais e avó s e hoje são eles dedores a retalho. Na Madeira, que vivem a experiência. estou a par de tudo, desde a A razão mais comum para criação do animal, à elaboração e emigrar é a situação só cio-eco- comercialização do produto. E nó mica que a Venezuela está gosto muito do que faço". a ultrapassar e que impede os O grupo Santagro, com sevenezuelanos de terem um ra- de em Santo Antó nio da Serra, zoável desenvolvimento pesso- é a ú nica empresa que repreal e profissional no seu país de senta na Região o sector de carorigem. O continente europeu ne fresca e enchidos. Com uma é um dos destinos mais procu- produção superior a sessenta torados e, por isso, Portugal e neladas e uma média de dois mais concretamente a Madeira mil clientes, tem cerca de 150 não fogem a este fenó meno. empregados, dos quais cerca de Emanuel Correia Telo, luso- 50% são venezuelanos. descendente que nasceu em La Roger Marín e Fátima SouGuaira, mas residiu em Chara- sa Ramos, médico veterinário e llave, vive desde os seus dois secretária, trabalham na emanos na ilha da Madeira. "Ten- presa e são casados. O casal veio ho muito orgulho por ter nas- da Venezuela. Roger, natural do cido na Venezuela, mas a inse- Estado Táchira, foi criado no gurança, os roubos constantes Estado Zú lia. Trabalhava nue o facto de ter sido sequestrado ma empresa transnacional duas vezes me obrigaram a to- quando conheceu a sua mulher mar uma decisão. A mudança Fátima, uma filha de madeinão foi fácil, mas agora já me renses que vivia em Caracas. adaptei. Se regressar à Vene"Alguns obstáculos que enzuela, é só para férias", desta- contrámos no nosso país e o faccou. to de haver ofertas de empreNa Madeira, Emanuel é en- go na Região animaram-nos e carregado de distribuição da em- fizeram-nos optar pela Madeipresa de enchidos "Santagro" e, ra. Receberam-nos muito bem, Sandra Rodrí guez

olgaria6@hotmail.com

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embora tudo seja diferente e se aprendam coisas novas. O que para mim tem sido mais difícil é a língua. Por isso, resolvemos fazer um curso de português e de inglês, que está a ser oferecido pelo Clube Social das Comunidades Madeirenses", disse Marín. "TENhO SAuDADES DE TuDO" José Alejandro Mena Rueda, advogado associado à universidade Central da Venezuela e especialista em Direito Internacional Econó mico e de Integração, é outro venezuelano que também frequenta cursos de português e de inglês no clube. Natural de Caracas, sem descendência portuguesa, está na Madeira há mais de um ano, juntamente com a sua esposa, que é psico-pedagoga e que teve a oportunidade de se especializar nesta região. Mena Rueda expressa-nos que, como advogado, só fez assessorias, uma área que - destaca - está "desprotegida". Diz que gostava de poder estudar na universidade de Coimbra e, por isso, está a aprender português. Para além de advogado, José Alejandro também era docente na universidade Santa Maria. "Tenho saudades de tudo. O sacrifício de sair da minha terra tem que ter uma recompensa, que seria regressar e dar mais valor à minha terra. É muito di-

Alejandro Mena

Susana Marques

Emanuel Correia Telo

Fatima y Roger Marin

fícil adaptar-se. A cultura é outra e, para nó s, venezuelanos, que somos tão espontâ neos, é difícil estabelecer uma conversa ou uma relação de amizade, pois os madeirenses são muito fechados. E isso afecta-nos muito", disse Mena Rueda. Quando perguntamos a todos estes venezuelanos do que é que mais têm saudades do país, todos respondem mais ou menos da mesma forma, garantindo que não há terra como aquela, com espaços naturais belíssimos, boas praias e comida excelente. "Vivi na Venezuela durante dezanove anos e a insegurança obrigou-me, a mim e à minha família, a regressarmos. Aqui, a

vida é melhor e a tranquilidade não tem preço", destacou Susana Marques, madeirense e advogada que já deu aulas na universidade Santa Maria e que vivia em Caracas até há seis meses atrás. Actualmente, a emigração está a surtir efeitos na Venezuela. Pelos seus costumes, tradições e a forma de ser das pessoas que nasceram nos tró picos, nos países de acolhimento é perceptível a inclusão do venezuelano em diversas área, a maior parte profissionais que tentam encontrar novas oportunidades e que têm esperanças de que a vida melhore na Venezuela para que possam regressar.

Os madeirenses vistos por figuras polí ticas Sou um admirador da cultura portuguesa. Frequento o Centro Luso-venezuelano do Estado Nova Esparta e pertenço à associação Academia do Bacalhau. Unem-me laços de amizade com comerciantes e Luis Longart Guerra amigas portuguesas em Margarita. Gosto muito da Deputado por Nueva Esparta música folclórica portuguesa. Tenho tido muitos contactos com os madeirenses porque na ilha de Margarita a maioria dos lusos é natural da Madeira, que - segundo o que me dizem - deve ser um império turístico muito importante na Europa. Espero um dia vir a conhecê-la.

Sempre tivemos vínculos económicos e sociais com os portugueses e, neste caso, com os madeirenses. Estamos sempre de portas abertas para eles, são gente sempre bem-vinda ao nosso Estado. O nosso governo aplica a fórmula da união entre os povos, através do General Luis tecido social, económico e cultural Acosta Carlés do país. E basta ver a quantidade de Governador do Estado Carabobo restaurantes que empregam muita gente e preparam comidas diferentes. Tenho muitos amigos portugueses que trabalham no ramo da construção civil. Identifico-me muito com os portugueses e os madeirenses que estão na Venezuela.

A comunidade madeirense tem contribuído muito com a Venezuela, e isto já acontece há muito tempo. Há uma relação que vai muito mais além da solidariedade entre os dois países, é uma relação quase de irmandade. Já me falaram bastante do presidente da Madeira, Alberto Darí o Vivas João Jardim, primeiro porque tem deputado por Distrito Capital conseguido desenvolver muito a ilha, conseguindo aumentar a qualidade de vida dos cidadãos; segundo porque tem apostado no turismo. É por isso mesmo que o povo o tem mantido há tanto tempo no Governo. Gostávamos de poder ter um encontro com ele, conhecê-lo.


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veneZUeLA 13 Rui MaRote

Hino da Regiã o

I Do vale à montanha e do mar à serra, Teu povo humilde, estóico e valente Entre a rocha dura te lavrou a terra, Para lançar do pão a semente. II Herói do trabalho na montanha agreste, Que se fez ao mar em vagas procelosas: Os louros da vitória, em tuas mãos calosas Foram a herança que a teus filhos deste. CORO Por esse Mundo além Madeira, teu nome continua Em teus filhos saudosos, Que além fronteiras De ti se mostram orgulhosos. Por esse Mundo além, Madeira, honraremos tua História Na senda do trabalho Nós lutaremos, Alcançaremos Teu bem-estar e glória

O Rosto do Hino

o hino da Madeira é apenas um dos seus temas. (DN - Madeira) A ideia de consagrar mais um símomecei com a gue- bolo da Autonomia, além da bandeira rra” . Na verdade, ou da estátua, que fosse inspirado nos Victor Costa nasceu traços histó rico-culturais da Madeira, no início da Segunda partiu do Governo Regional. Em início Grande Guerra, a 24 de Abril de 1939, de 1980, o Governo Regional abriu um no Estreito de Câ mara de Lobos - concurso pú blico para a concepção de uma reguesia que diz ter tido "uma po- uma letra que desse corpo ao Hino da esia extraordinária", mas que, neste Região Autó noma da Madeira. Inicialmomento, "está completamente des- mente, a letra candidata foi a do poeta truída". Laurindo Gó is que, entretanto, acaCresceu com seis irmãos numa fa- baria por ser recusada pelo então dimília modesta e com uma "doença" co- rector regional dos Assuntos Culturais, mum: a mú sica e o canto. O pequeno Antó nio Marques da Silva e pelo Victor estudou nove anos no seminá- maestro Pereira Jú nior que considerario. Cedo ingressou na Academia de ram que a mesma não possuía caracteMú sica da Madeira e tirou um curso rísticas pró prias para um hino. superior em canto. Depois, frequentou O Governo Regional acabaria por aulas de piano e disciplinas afins. se render a uma nova letra da autoria Correu o mundo como concertista, e do poeta Ornelas Teixeira. O convite Ricardo Duarte Freitas

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do Executivo madeirense foi endereçado ao maestro Victor Costa, que regressou da Alemanha, onde exercia. Convicto de que "as pessoas são necessárias na terra onde nasceram", o compositor aceitou o desafio em realizar "uma obra de nível internacional", conforme notificação do Governo Regional enviada a Victor Costa, em 16 de Maio de 1980. Durante quatro dias, Victor Costa e Ornelas Teixeira reuniram-se no café "Pátio" para transformar a letra musicável. O hino da Região Autó noma da Madeira ficou oficialmente consagrado em Diário da Repú blica em 1980. A verba proposta pelo Governo Regional ficou estabelecida na ordem dos 50 contos, um valor que o Comandogeral da GNR recusou. Apó s acertos de contas, o hino foi viabilizado.

REGISTO NA ALEMANHA Victor Costa esteve radicado na Alemanha e inscreveu-se na Sociedade de Autores Alemã (GEMA), onde está filiado há cerca de 25 anos. Só que uma lei internacional impossibilitou-o de transferir a sua obra para Portugal. Assim, o hino da Região está registado na Alemanha. "E uma lei absolutamente estú pida". Para inscrever o hino da Madeira na Sociedade Portuguesa de Autores, Victor Costa teria de transferir todo o seu portfolio de obras. É mais de uma centena de composições com cerca de 70 páginas cada obra. A ú nica tentativa para registar o hino como seu na Sociedade Portuguesa de Autores, revelou-se traumática, com a resposta obtida por um funcionário: "Não me diga que também quer direitos de autor do hino da Madeira?".

Os madeirenses vistos por figuras polí ticas Quando estive na Madeira, a minha experiência foi excelente. Os madeirenses são pessoas bastante hospitaleiras. Os meus pais são de Santa Cruz. Agora, com o desenvolvimento que a ilha teve, está no topo do turismo. Penso que devia haver mais união entre os Guido de Freitas emigrantes e que uma data como o Deputado por Vargas 1 de Julho, Dia da Madeira, deve ser comemorada por todos os centros sociais portugueses. Seria óptimo se pudéssemos dar apoio a todos os portugueses que se sentem afastados e pouco integrados na comunidade. Assim íamos ouvir uma só voz e um só sentir».

O melhor que o petróleo deu à Venezuela foi a imigração. Os imigrantes deram tranquilidade e estabilidade ao país. Chegaram os portugueses, os italianos e os espanhóis, fugidos da guerra civil. Todos eles nos ajudaram muito, mas ainda não se percebe o valor Luis Tascón dessa imigração. Da mesma Gutierrez Deputado por Táchira forma que nos Estados Unidos, a imigração de europeus construiu o país. Na Venezuela, essa imigração dos últimos 40, 60 anos revelou-se determinante para a construção do nosso futuro porque vieram para aqui muitas pessoas trabalhadoras, como o são os madeirenses.

Acho que já não há comunidade portuguesa. Há é um grupo enorme de venezuelanos que têm origem portuguesa e a grande maioria é oriunda dessa ilha maravilhosa que é a Madeira, uma região que tem estado unida à Venezuela tanto do ponto de vista Alfonso Marquina cultural como económico. Espero deputado por Sucre que continuem a dar o contributo que durante muitos anos deram à Venezuela. Os madeirenses têm contribuído para o crescimento deste país como Nação e para o aumento da qualidade de vida de muitos venezuelanos, através da criação de muitos postos de trabalho.


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Jardim ainda está na moda

Agostinho spí nolA

A Autonomia, como questão polí tica, não gera grandes paixões entre os jovens, mas as coisas mudam de figura quando se fala de Alberto João Jardim. Gabam-lhe a frontalidade, criticam-lhe os exageros de estilo, e é sobre ele que falam da “ irreverência da terceira idade” Agostinho spí nolA

Raquel Gonçalves (DN - Madeira)

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o dia 1 de Julho, assinala-se mais um Dia da Região. A data tem honras de sessão solene na Assembleia Legislativa, e dá sempre o mote para voltar a falar da Autonomia, do contencioso, do aprofundamento dos poderes legislativos regionais, e da luta que continua. É lugar comum, em todas estas comemorações, defender-se a necessidade de dar a conhecer aos jovens esta Autonomia conquistada, criar uma memó ria valorativa aos que não têm lembrança do passado, quando a Autonomia era apenas uma ideia perseguida em silêncio, assombrada pelo fantasma do separatismo, conotada com práticas subversivas. Será que os jovens se dão conta desta luta? Será que sentem a Autonomia como coisa sua, como conquista a defender, como ideal de uma Região com hino e bandeira? Terão algum efeito na juventude os inú meros discursos, os contenciosos com Lisboa, as frases acaloradas do presidente do Governo Regional, tantas vezes polémicas, tantas vezes noticiadas a nível nacional, com direito a horário nobre? Foi a todas estas questões que procurámos resposta junto daqueles que já nasceram numa Madeira Autó noma. Em tempo de exames nacionais, fomos encontrá-los em horário de des-

compressão, sentados em frente ao liceu Jaime Moniz, e aos magotes num dos cafés das proximidades. A primeira coisa que salta à vista é que, ao contrário dos adultos, esta nova geração não tem medo de manifestar a sua opinião, nem se esconde da fotografia. Com a mesma irreverência com que usam jeans rotos e gastos, pintam o cabelo, e colocam "piercings" nos locais mais extraordinários, falam da política, embora esta não lhes interesse muito; falam da autonomia, embora não seja coisa que os preocupe; e falam dos políticos sem papas na língua. Talvez por isso, alguns confessam que têm em Alberto João Jardim um ídolo, ao qual admiram aquilo que chamam "a irreverência da terceira idade". A POLÍ TICA E O CIRCO Fábio e Alexandre, os dois com 17 anos, telemó vel em punho, e ar de quem encara a vida de frente, admitem que a questão política da Autonomia não lhes diz "rigorosamente nada". Até porque "a política é igual ao circo". Que é como quem diz: já não têm idade para se deixarem deslumbrar pelo maior espectáculo do Mundo, e ainda não têm maturidade suficiente para se interessarem pelos assuntos sérios do país e da Região. Dos jornais, apenas passam os olhos pela secção desportiva, e talvez só comecem a interessar-se por política quando for para baixar as propinas. Aliás, a entrada na universidade é aquilo que mais lhes ocupa o espírito.

Mas se a Autonomia, e a política em geral, não lhes merece mais do que comentários lacó nicos, interrompidos para atender o telemó vel, já o político Alberto João Jardim anima um pouco mais a malta. Gostam do estilo, e reconhecem que é dos poucos capazes de fazer frente "aos de lá", querendo isto dizer aos políticos do continente. E isso parece agradar os mais jovens. Ideia um pouco diferente tem a Joana de 15 anos, a qual encontrámos, na companhia da amiga Vanessa, da mesma idade, sentadas perto do liceu, a partilhar uma mú sica via telemó vel. Diz que Alberto João Jardim "até tem boas ideias", "mas talvez já esteja um pouco... não digo ultrapassado...mas a precisar de uma mudança". Em seu entender, o presidente está no poder há já bastante tempo, pelo que seria talvez a altura de dar o lugar a outro. "Para renovar", explica. Sobre a Autonomia admite que é um conceito que diz pouco aos jovens, embora reconheça que é importante para a Região não estar tão dependente de Portugal. MADEIRA É MELHOR Humberto Dias, de 23 anos, está com a namorada, nos degraus de um café apinhado de jovens. Ela não quer dizer nada. Não afrouxa o abraço, mas prefere que seja "ele a falar". E ele fala. Diz que a juventude passa um pouco ao lado daquilo que é importante, e sabe que a conquista autonó mica foi realmente importante. Contudo, o supérfluo tem mais

facilidade de vingar junto das camadas mais jovens. A hipó tese desta realidade sofrer uma mudança seria a Autonomia estar ameaçada de alguma forma. Aí Humberto não teria dú vidas que os jovens seriam capazes de se unir, e ir para as ruas fazer uma revolução. Afinal, "só quando as coisas faltam é que lhes damos importâ ncia". E é com a mesma convicção que afirma que "não obstante alguns exageros, Alberto João Jardim é, sem dú vida, o pai desta Madeira da qual tanto se fala". "Devemos dar-lhe a importâ ncia que ele tem, principalmente pelo que fez por esta ilha". Um lugar que reconhece ser diferente e com melhores condições do que muitos sítios em Portugal continental. Andreia Azevedo tem 18 anos, e Janete Andrade 23. Para estas duas amigas o mais importante da Autonomia "é termos a nossa liberdade". Factor primordial quando o continente "está sempre a dizer mal da nossa Região" Porque pensam assim, o estilo de Alberto João Jardim e a coragem que tem para enfrentar tudo e todos agrada-lhes. Janete diz mesmo que o presidente "é o meu ídolo", porque diz o que pensa, porque consegue calar toda a gente e "porque defende a nossa Região". Mas, apesar do role de atributos, também deixam escapar que Jardim, às vezes, é demasiado frontal, e que, à pala disso, acaba por deixar a Madeira ficar mal. "Acabam por nos catalogar como a terra do Alberto João Jardim e não é bem assim".


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Um mês para o encontro de ideias O importante pensador lusitano, Adelino Cardoso, visita a Venezuela no mês de Setembro para expor as suas reflexões perante a comunidade académica e universitária do paí s. Alda Da Silva Sousa

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o mês de Setembro, a comunidade académica venezuelana vai receber a visita do professor Adelino Cardoso, doutor em filosofia da Universidade Clássica de Lisboa e importante investigador do pensamento da modernidade. O professor Cardoso participará numa série de eventos organizados pela Universidade Simó n Bolívar, o Correio de Caracas, a Sociedade Venezuelana de Filosofia, a Fundação Polar e outras entidades dedicadas à divulgação da cultura, as letras, as ciências e o saber. O primeiro dos eventos que se vai realizar é uma homenagem ao doutor Ernesto Mayz Vallenilla, no seu aniversário 80º , pelo seu trabalho como reitor fundador da Universidade Simó n Bolívar e pelos seus reconhecimentos como homem das letras e do pensamento venezuelano. O professor Adelino Cardoso tem sido convidado a participar, juntamente com outros professores das universidades mais importantes da Venezuela, num ciclo de conferências que vai ter lugar nos espaços da

Fundação Polar, no mês de Setembro. Os Portugal. convidados vão falar sobre importantes tó O encontro passará também por cursos picos da sua reflexão, expondo o trabalho que se oferecem nas diferentes universidafilosó fico que vêm a desenvolver nos ú l- des de Portugal, requerimentos necessários timos anos. Entre os pensadores convida- para a inscrição, trâ mites para validar os dos para esta homenagem, contam-se no- títulos venezuelanos, bolsas de estudo, entre mes como Dinu Garber, Rafael Tomás Cal- outros temas de interesse. O evento tamdera, Gustavo Sarmiento, Alfredo Vallota, bém será de utilidade para todos aqueles Alírio Rosales e Corina Yoris. que queiram concorrer aos concursos para Neste evento também se vai realizar o os estágios e postos de trabalhos existentes "baptizado" da obra Fundamentos da em Portugal, pois no programa está conMetat cnica, que foi traduzida na língua templada uma conferência sobre este tipo lusitana e publicada pela Editorial Colibrí, de experiências de venezuelanos que estana cidade de Lisboa. Os encarregados da giaram em Portugal. tradução têm pedido que o "baptizado" seja Por ú ltimo, o doutor Adelino Cardoso feito com um bom vinho português, em vai até à cidade de Puerto Ordaz para parhonra dos bons frutos que nasceram das ticipar como convidado de honra no VI ideias da metat cnica, nas férteis terras Congresso Venezuelano de Filosofia. Ali, o de Camões. professor lusitano vai partilhar as suas exO Correio de Caracas quer aproveitar a periências com especialistas em filosofia, visita do doutor Cardoso para oferecer à co- tanto da Venezuela como de outros países, munidade portuguesa estabelecida no país a que foram convidados pelo alto nível dos oportunidade de se encontrar com este im- seus trabalhos e ideias. A sua presença nesportante professor num evento intitulado te Congresso é uma iniciativa do Departa"Estudar e estagiar em Portugal". O mento de Filosofia da Universidade Simó n objectivo é poder falar sobre o significado Bolívar, dirigido pelo doutor Gustavo Sardas universidades e as oportunidades de en- miento, que deseja poder partilhar as reflesino superior e de trabalho existentes em xões do professor Cardoso.

VI Festival Feceporven no Centro Social Madeirense

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om alegria e orgulho, comemorou-se o VI Festival Feceporven na capital industrial de Valencia, a sede do Centro Social Madeirense. O festival tem a missão de mostrar a todos os membros da Federação os princípios, os valores e os talentos artísticos que, dia-adia, fazem parte da sua formação na vertente social dos clubes participantes. Isto mesmo nos assegura o presidente de Feceporven, Marcelino Canha. Canha felicitou todos os dirigentes da Federação que representa por apoiar uma vez mais a difusão dos costumes, cultura e tradições de Portugal e Venezuela. Por

isso, agradeceu a presença de todos os participantes, familiares e só cios que assistiram ao evento. O Festival da Canção da Federação de Centros Portugueses de Venezuela nasce de um sonho de quatro pessoas envolvidas no Mundo do canto. Fátima de Ponte, Rosário da Silva, Nelson Coelho e Ernesto Sales estiveram muitos anos na organização deste projecto, com estatutos que o denomina de "Festival de Feceporven". No evento participam artistas novos de ambos os sexos e idades nas modalidades de português e de espanhol. Estes foram classificados em Voz

Branca (7 a 12 anos), em Voz de Cristal (13 a 17 anos), Voz de Prata (15 a 35 anos), Voz Dourada (36 a 99 anos) e Canção Inédita. Este projecto tornou-se realidade a 2 de Junho de 2001 e levou-se a cabo pela primeira vez na Casa Portuguesa de Maracay, data em que ficou instaurado oficialmente. Neste ano, participaram mais de 40 só cios e resultaram vencedores mais de 24, pois em cada categoria de participante premiaram o primeiro, o segundo e o terceiro lugar, enquanto que houve apenas um vencedor na Voz Inédita.

Biografia do autor Adelino Cardoso é doutorado em filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, autor de muitos livros especializados em filosofia moderna e do renascimento. Também é um dos especialistas lusos mais destacados no pensamento de Leibniz, autor alemão que durante mais de vinte anos tem sido traduzido para o português pelo professor Cardoso. Entre os seus trabalhos, encontramos livros como Leibniz segundo a expressão e fulgurações do eu, para além de inumeráveis artigos para revistas especializadas e conferências em congressos, encontros e seminários por todo o Mundo. O professor Cardoso é investigador num gabinete de estudo da Biblioteca Nacional de Portugal, onde leva à língua lusitana as obras escritas mais significativas da cultura ocidental da modernidade.

Resultado Final Voz Plata - Modalidade Espanhol Sanyer Nelo / Acarigua / Mi Patria Venezuela Jordan Garcia / Valencia / La Mina Irene Silva / Valencia / El hombre que yo amo Voz Plata - Modalidade Português María Marquez / Lara / Em cada sonho María Nóbrega / Aragua / Nem as paredes confesso Alvaro de Sousa / Guayana / Nem as paredes confesso Voz Dorada - Modalidade Espanhol Saul Escobar / Valencia / El Triste Carmen Conde / Valencia / Como toda mujer Alicia Jimenez / Acarigua / Basta ya Voz Dorada - Modalidade Português Maria Barradas / Valencia / Carmencita Lina de Oliveira / Caracas / Manuel da Silva / Aragua / Saudades de ti


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Um livro sobre a histó ria dos madeirenses na Venezuela Délia Meneses

delia_jornalista@yahoo.com

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arlos Manuel Teixeira Vieira deixou o Funchal aos quatro anos. Formou-se na Venezuela como professor de Histó ria e Ciências Sociais e reuniu um amplo currículo na área académica, de investigação e política. Em Janeiro de 2005, quarenta anos depois de ter emigrado, o delicado estado de saú de da sua mãe fê-lo regressa à sua terra natal, a ilha da Madeira. A sua estada na Madeira durante dois meses não só serviu para manter contactos com a sua família como também para reencontrar a sua descendência madeirense. Teixeira regressou à Venezuela com um projecto que ocupa actualmente a maior parte do seu tempo. Trata-se de um livro que recolhe a histó ria da presença dos madeirenses na Venezuela, abordando as diferentes correntes migrató rias e o processo de adaptação até ao momento em que os emigrantes adoptaram a descendência luso-venezuelana, sem perder contudo as profundas raízes madeirenses. Também vai abordar o reflexo das con-

tribuições gastronó micas e a importâ ncia que teve a imigração madeirense na melhoria das condições da vida venezuelana. O professor espera terminar o livro em 2008, data que vai coincidir com as comemorações dos 500 anos do Funchal. "A obra pretende ser uma homenagem aos imigrantes madeirenses e à ilha. A intenção é juntar diferentes testemunhos vivos, com suportes de dados estatísticos e, assim, conseguir misturar os aspectos anedó ticos com o conceptual", refere Teixeira. Actualmente, o projecto está na fase de recolha de fontes. Segundo as estatísticas, conforme nos informa o madeirense, na Venezuela residem 250 mil madeirenses, um nú mero que só é superado pela África do Sul. Rui Carita, doutorado em Histó ria e professor na Universidade da Madeira, tem um trabalho interessante sobre emigrações e vai colaborar com o projecto de Teixeira. A publicação vai ter um capítulo especial dedicado aos madeirenses do Estado Vargas, destacando a sua força de vontade para trabalhar e a capacidade de conseguir erguer-se do nada. "Muitas pessoas perderam o seu estabelecimento comercial e o trabalho de toda uma vida. Começaram

do zero sem deixar a zona", explica-nos Teixeira, que também mora em Vargas. O académico e investigador espera poder ter o apoio dos centros portugueses da Venezuela e de outras instituições da comunidade, assim como a colaboração de famílias que conservem documentação e tenham testemunhos que possam prestar um contributo para a elaboração do livro.

Direitos do autor

Formado pelo Instituto Pedagógico de Caracas, foi o único madeirense a presidir a Federação de Centros de Estudantes, em 1985 e 1986. Para poder leccionar a cadeira de História de Venezuela, solicitou a nacionalização em 1987. Fez parte da direcção do Colégio de Professores da Venezuela de 1994 até a997. Em 1999, deixou as aulas para formar-se na área de Gerência Pública e na de Investigação Social. Foi director de Educação do Estado Vargas, entre 1999 e 2002, e director de Gestão Económica entre 2002 e 2004. Actualmente acumula com o seu trabalho de investigador o cargo de empresário de espectáculos públicos e venda de produtos de fumigação. No âmbito político, é secretário-geral do partido Bandera Roja, no Estado Vargas, e membro da direcção-geral do partido. Aspira ser deputado por Vargas.

BREVES Escultor luso-descendente ganha prémio internacional O escultor e arquitecto Roberto dos Santos Gonçalves obteve o prémio de bronze pela melhor obra do Festival Internacional Pós-moderno de Cerâmica, que se vai realizar na Croácia, entre o dia 27 de Agosto e o 30 de Outubro, no Museu da Cidade de Varazdin. Neste evento mundial, vão exibir-se as figuras de mais de 106 participantes e dos escultores que obtiveram os três prémios desta competição: ouro, prata e bronze. Roberto dos Santos explicou-nos que os artistas deviam ter enviado as obras com antecedência para o júri, que era composto por seis pessoas e que escolheram os vencedores ainda antes do início do festival. "Vai ser feito um catálogo onde as três obras vencedoras serão reconhecidas e destacadas". A obra desenhada por Roberto dos Santos vai ser, a partir de agora, propriedade do Museu de Varazdin, passando a fazer parte da colecção de obras de artes desta instituição croata.


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LAZER 17

Mimi Lazo brilha como "Valeria" "Foi um ano recorde em quantidade José Salvador (DN - Madeira)

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Actriz venezuelana actuou no Funchal e conseguiu cativar o público que encheu o auditório da RDP-Madeira

de alunos de português"

urante pouco mais de 50 minutos, Mimi Lazo, com a interpretação de "Valeria", figura da peça "El Aplauso Va Por Dentro", encantou a assistên- foi apresentada com sucesso em diversos cia que no sábado passado se deslo- países latino-americanos e também na Escou ao auditó rio da RDP-Madeira. panha, continente e agora na Madeira,

Reunindo talento e grande sentido de humor, a credenciada actriz venezuelana "viveu" o papel de uma mulher divorciada de 40 anos que ao procurar recuperar a sua linha sonha, também, em encontrar o homem que entende como ideal para si, mas que nunca teve. Entretanto, "Valeria" vai recordando a sua existência, nem sempre compreendida pelos seus parceiros, mas nesse percurso revela os seus medos, angú stias e depressões, numa sequência bem conseguida que se, por um lado, pela sua vertente humorística, provoca boa disposição entre o pú blico, por outro, não deixa de ser uma reflexão muito séria sobre a condição feminina na actualidade. Rindo-se de si pró pria, "Valeria", apesar das fases menos boas da sua vida, acaba por entender que o aplauso está dentro de si. E no final da peça, a mulher insegura que vimos em cena revela-se uma pessoa confiante no futuro. Saliente-se a participação especial de Luís Fernandez na peça que, recorde-se,

numa iniciativa da Associação Cultural Abril e da Comissão das Celebrações dos 500 Anos da Cidade do Funchal.

Invejável percurso Ana Maria Lazo nasceu em Caracas e o seu percurso como actriz é, no mínimo, invejável. Repartindo-se pelo cinema, televisão e teatro, Mimi Lazo, para além de ter trabalhado ao lado de, nomeadamente, António Banderas, Eva Herzigova e Patrick O' Neil, foi distinguida em 2002 com o Prémio Municipal de Melhor Actriz de Cinema, pelo seu desempenho em "Borrón y Cuenta Nueva", com argumento de Henrique Lazo, seu irmão, para além de outros galardões, alguns deles internacionais. Entre estes, destaquem-se a Menção de Honor da Cidade de Mérida, Ordem Luísa Cáceres de Arismendi e a nomeação da "Variety" como uma das actrizes mais populares na Mipcom, convenção de televisão em Cannes. Por seu turno, Luiz Fernandez, marido da actriz, para além de actor, é também romancista e arquitecto.

Carlos Orellana

corellanacorreio@hotmai.com

N

o dia 25 de Junho, o salão nobre do Centro Português reuniu os estudantes do curso de português que, a marcar o final do ano escolar, prestaram homenagem à cultura portuguesa, com poemas, mú sica instrumental, folclore, fados e bailes populares. O professor David Pinho dirigiu-se à numerosa assistência nestes termos: "Este foi um ano recorde. Tivemos uma alta percentagem de alunos de português. Peço aos pais dos mais pequenos que não deixem de lhes falar em português, pois caso contrário a cultura pode perder-se". Destacou a presença das crianças co-

mo um factor positivo, pois elas invadiram o cenário este ano. Angie da Costa, por exemplo, subiu ao palco sem receio para recitar a legenda do Galo de Barcelos. Os estudantes do nível intermédio deram um ar de graça ao cenário, tocando, cantando e dramatizando a canção popular "A Moreninha". E com a mesma "garra" se apresentou o grupo de iniciação, que dramatizou um tipo de português com estilo pró prio, satírico e de bom humor. A cantora Liliana Farias, que tenciona gravar o seu primeiro CD dentro de uns meses, mostrou as suas melhores qualidades artísticas. Primeiro, dirigiu os seus alunos de flauta e, depois, cantou com o grupo de Danças e Cantares, concluindo com a apresentação de um encantador fado.


18 TRAÇOS DE PORTUGAL

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Câmara de Lobos De vila deteriorada a cidade formosa

Em vez das casas velhas e deterioradas que "manchavam" o ilhéu, o Governo construiu um jardim esplêndido e aloma vila piscató ria que ou- jou as famílias com poucas posses em baitrora se mostrava pobre e rros sociais que oferecem, sem dú vida, desleixada, hoje é cidade e melhores condições. apresenta-se completamenFoi esta tradicional vila piscató ria, site renovada. No lugar das velhas tascas, tuada a cinco quiló metros do Funchal nasceram novos bares e cafés e, onde an- que inspirou Sir Winston Churchill a tes pairavam apenas os "pesquitas", hoje pintá-la. O famoso ex-primeiro ministro o centro da cidade é uma paragem obri- britâ nico passou para a tela a radiosa gató ria para os jovens que costumam beleza desta baía. sair à noite às quartas, sextas e sábados. O nome foi-lhe dado pelos navegaCâ mara de Lobos, um dos onze con- dores João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz celhos da Região Autó noma da Madeira Teixeira, devido à forma da sua baía (Portugal), é a "casa" da poncha, uma be- (Câ mara) e porque havia muitos lobosbida típica da Madeira que é feita com marinhos nesta área. sumo de limão, mel e aguardente de canaNo começo, o ilhéu encontrava-se de-açú car. O líquido considerado mila- completamente rodeado de água mas, groso atrai muita gente à vila. com o tremor de terra, o Pico da Torre Este é o concelho dos pescadores, da desabou e as pedras e terra proveniengente simples e humilde, com grandes tes deste desabamento caíram para o locarências. É um município pobre que, nos cal onde encontra a actual vila. ú ltimos anos, se tem revelado uma surO concelho de Câ mara de Lobos é presa. constituído pelas freguesias de Câ mara Câ mara Municipal e Governo, atra- de Lobos, Estreito de Câ mara de Lovés da Sociedade Metropolitana de Des- bos, Curral das Freiras, Quinta Grande e envolvimento, muito se têm esforçado Jardim da Serra. por dar uma nova cara à "vila", como é comummente conhecido o centro da ci- BELEZA SINGULAR dade. Este município é um dos mais pitoO Largo da Repú blica e o de São rescos da Região Autó noma da Madeira. Francisco estão a ser reestruturados, foi A baía é um dos "ex libris" e a pesca do construído um porto de pesca, uma pis- peixe-espada-preto uma das muitas tracina artificial e uma pequena promenade, dições que o tempo ainda mantém. que brevemente vai ter ligação com a A pesca desta espécie é feita segundo promenade da Praia Formosa. métodos artesanais e, quando a pesca Sónia Gonçalves (DN - Madeira)

U

Câmara de Lobos, um dos onze municí pios da Madeira, mostra-se tão desenvolvido que está quase irreconhecí vel aos olhos de quem não visita este concelho há muito tempo rende, esta iguaria tão característica da gastronomia madeirense enche os mercados da ilha. Para além da encantadora baía, Câ mara de Lobos tem diversos pontos de interesse, tais como o Pico da Torre, o Jardim da Serra, o Curral das Freiras, a Boca dos Namorados, a Boca da Corrida e o Cabo Girão. Do patrimó nio histó rico que possui, destaca-se o forno da cal, o coreto instalado no Largo da Repú blica (onde estão actualmente a decorrer obras), a Capela de Nossa Senhora da Conceição e várias quintas situadas nas zonas altas, como a do Jardim da Serra, que foi convertida numa estalagem, a das Romeiras, a de São João e outras também interessantes. O concelho possui uma superfície total de 52,37 km2, ocupando a freguesia de Câ mara de Lobos 7,87 km2; a do Curral 25,07; a da Quinta Grande 4,19; a do Estreito 8,1; e a do Jardim da Serra 7,14 km2.

Dados histó ricos Como muito bem nos informa Manuel Pedro Freitas no seu amplo site sobre o concelho, este município foi criado por Portaria de 25 de Maio de 1835, tendo a sua instalação ocorrido no dia 4 de Outubro do mesmo ano. Inicialmente formado pelas freguesias de Câmara de Lobos, do Curral das Freiras, do Estreito de Câmara de Lobos e do Campanário, então pertencentes ao concelho do Funchal, até ser atingida a sua actual constituição, várias alterações entretanto viriam a ocorrer. Assim, a 24 de Julho de 1848, às quatro freguesias iniciais, juntar-se-ia uma outra, a freguesia da Quinta Grande, surgida na sequência do desmembramento de alguns sítios das freguesias do Campanário e de Câmara de Lobos, ficando assim o concelho acrescido em mais uma freguesia, ainda que mantendo a mesma área territorial. A 6 de Maio 1914, perde a freguesia do Campanário que é integrada no novo concelho da Ribeira Brava e a 5 de Julho de 1996 é criada uma nova freguesia, denominada de Jardim da Serra, constituída a partir da desagregação de alguns sítios da zona alta da freguesia do Estreito de Câmara de Lobos. Como consequência, a partir desta data, o concelho de Câmara de Lobos, passa a ser constituído pela freguesia de Câmara de Lobos, criado por volta de 1430; pela freguesia do Estreito de Câmara de Lobos, criada por volta de 1509; pela freguesia do Curral das Freiras criada a 17 de Março de 1790; pela freguesia da Quinta Grande, criada a 24 de Julho de 1848 e pela freguesia do Jardim da Serra, criada a 5 de Julho de 1996. Durante este percurso, destaca-se ainda a elevação, a 15 de Setembro de 1994, da freguesia do Estreito de Câmara de Lobos à categoria de vila e a elevação, a 3 de Agosto de 1996, da vila de Câmara de Lobos à categoria de cidade.


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PORTUGAL 19

Metro chega ao centro da Maia Segunda-feira passada fez-se a primeira viagem experimental até à Praça do Municí pio, iniciando-se, depois, o perí odo de testes Hugo Silva

(JN - Portugal)

O

metro chegou, na segundafeira passada, ao centro da Maia. A viagem é experimental e marca o início dos testes de circulação na Linha Verde - embora já tenha havido o chamado "checkline", com um veículo a percorrer, muito lentamente, toda a linha. Os testes deverão ser intensificados no final da semana. Nos ú ltimos dias do pró ximo mês (ainda não há data definida), arranca o serviço de passageiros. O centro da Maia passará a estar a cerca de 20 minutos de distâ ncia da Baixa do Porto, numa viagem sobre carris. É obrigató rio, porém, um bilhete Z3, que custa um euro (mais 50 cêntimos pelo cartão andante). A expectativa gerada pelo novo meio de transporte é tanta que o presidente da Câ mara da Maia, Bragança Fernandes, não faz por menos: "É o acontecimento do século". Ainda assim, o autarca vai esperar, pela inauguração oficial da linha para organizar uma festa com "pompa e circunstâ ncia". Bragança Fernandes justifica o entusiasmo é o maior investimento no mu-

nicípio, melhora substancialmente as condições de mobilidade dos maiatos (e não só ) e significa uma renovação no centro da cidade. Ao contrário do que acontece na restante Linha da Trofa (na qual foi aproveitado o antigo canal ferroviário), o troço que passa pelo centro da Maia foi construído de novo. "Mudou-se o percurso, de forma a passar mais a Nascente, no centro da cidade", insistiu, assinalando, também, a construção do viaduto Maia-Sul. "Uma obra ímpar", observa. A travessia tem cerca de meio quiló metro e até tem um estação implantada, precisamente a que fica antes do terminal provisó rio, junto ao Fó rum. A Linha Verde partilha o canal com a Vermelha (em funcionamento do Porto a Pedras Rubras) até à Fonte do Cuco. A partir dali, as novas estações a entrar em operação comercial serão as de Câ ndido dos Reis, Pias, Araú jo, Custió , Parque da Maia e Fó rum Municipal. A operação comercial em mais uma linha obriga ao reforço da equipa de condutores dos veículos. Mais 18 agentes de condução vão entrar ao serviço, recebendo, para o efeito, formação específica para a linha da Maia.

Mais importante parque jurássico do país corre risco de desaparecer por completo Miguel Gonçalves (JN - Portugal)

O

mais importante parque jurássico do país está em perigo. No cabo Mondego, no cimo da serra da Boa Viagem, há um patrimó nio riquíssimo que "conta" 40 milhões de anos de histó ria do planeta e que está em vias de ser perdido. O motivo é muito simples a Administração Central não consegue pô r termo à exploração da Cimpor, que usa na produção de cal o mesmo calcário que encerra os vestígios fó sseis do passado. Uma parte muito significativa da encosta Sul da serra da Boa Viagem já desapareceu. E o projecto para a classificação do cabo Mondego como Monumento Natural - a ú nica figura jurídica capaz de proteger, de facto, aquele patrimó nio geoló gico continua na gaveta, há mais de uma década. Helena Henriques, do Departamento de Ciências da Terra da Universidade

Património geológico "conta" 40 milhões de anos de história do planeta Cimpor e continua a explorar o cabo Mondego de Coimbra (UC), é uma indefectível amante do Cabo Mondego e da sua "janela para o Jurássico", mas é, também, uma investigadora angustiada com a inoperâ ncia das autoridades que teimam em deixar arrastar o problema sem o resolver. Cientistas de todo o Mundo usam as rochas do Cabo Mondego como referência para estudar os milhões de anos de Histó ria do planeta. Helena Henriques é uma das habituais cicerones nessas explicações científicas e uma estudiosa dos quatro quiló metros que ladeiam a serra da Boa Viagem, en-

tre os extensos areais de Buarcos e a Murtinheira. E é por isso que se revolta em cada dia que passa sem que o Estado tome uma posição firme para acabar com a delapidação do patrimó nio jurássico. "Do ponto de vista exclusivamente paisagístico, o Cabo Mondego está perdido. A Rede Natura foi invadida. Abriram fendas, destruíram patrimó nio riquíssimo e como o espaço não está classificado como Patrimó nio Geoló gico, não podemos fazer nada", afirma Helena Henriques. ACESSO DIFÍ CIL Chegar aos vestígios não é tarefa fácil. Mas vale a pena. A estrada de acesso é muito má. É terra batida, cheia de buracos e declives, fruto da circulação permanente de camiões e outras máquinas pesadas da Cimpor. Quem por lá passa, mesmo que devagarinho e com os vidros do carro fechados, pode contar em levar como "recordação" alguns quilos de pó .


20 PORTUGAL

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90% das crianças madeirenses frequentam catequese cató lica Élvio Passos

(DN - Madeira)

A

Diocese do Funchal, através do Secretariado da Educação Cristã, estima em 90 por cento, a percentagem de crianças e adolescentes madeirenses que frequentam a catequese cató lica. Os nú meros que aqui apresentamos expressam o máximo rigor possível, considerando a indisponibilidade de muitos dos dados pretendidos. Baseámo-nos nos censos de 2001, com as limitações que o estudo veio a manifestar, e nas estatísticas de 2003, do referido secretariado. Tais estatísticas abrangeram apenas 60 por cento da paró quias, sendo que este nú mero não quer dizer que foi abrangida 60 por cento da população. Uma paró quia com algumas centenas de fiéis contou como outra com milhares. Ainda assim, é possível apresentar alguns nú meros precisos e algumas ex-

trapolações. São aceites para frequência da catequese as crianças que findam 6 anos de idade até Dezembro de cada ano. A maior parte frequenta a catequese até aos 16 anos. Nesse intervalo de idades existiam, em 2001, 37.459 indivíduos, pelo que cerca de 37.300 frequentam a catequese. No entanto, em 2003, a Diocese registou 18.370 catequizandos, nas 62 paró quias respondentes ao seu inquérito estatístico, de um total de 96. Daqueles, 11.680 estavam integrados nos volumes do 1º ao 6º . Os restantes 6.690 integravam os volumes do 7º ao 10º . Há a registar que muitas das paró quias da Madeira não ministram os dez volumes, regra geral por falta de catequistas. Nas 62 paró quias respondentes, foram assinaladas 65 crianças que chegaram à catequese sem baptismo. 210 entraram com idades compreendidas entre os 8 e os 12 anos, e 130 entre os 13 e os 16.

Das mais de 37 mil crianças e adolescentes que vão à catequese, apenas um número insignificante não chega baptizado Paralelamente são organizadas acções para os pais dos catequizandos. O Secretariado da Educação Cristã estima que cerca de metade (55 por cento) deles participa em tais reuniões. DIOCESE NÃO SABE NÚMERO A Diocese do Funchal não sabe com precisão quantas crianças e adolescentes frequentam a sua catequese. Apesar do nú mero não ser uma questão fundamental, como nos explicou o padre Hector Figueira, do Secretariado da Educação Cristã do Funchal, existe uma explicação para a inexactidão

dos nú meros. Em cada três anos, as paró quias são solicitadas a responder a um inquérito, um tanto ou quanto exaustivo, sobre a frequência da catequese, nú mero e características dos catequistas, condições e organização das acções catequéticas. O problema é que muitas das paró quias não respondem a tal inquérito, pelo menos em tempo ú til. Como referido no texto principal, apenas 62 das 96 paró quias da Diocese responderam ao

inquérito de 2003. Por isso, os nú meros de que dispõe são essencialmente indicativos, uma vez que não foram cruzados com a população residente em cada paró quia. Assim, algumas das paró quias que ficaram de fora podem ter mais população do que várias outras que foram contabilizadas. De referir, é que a maior parte dos catequistas são do sexo feminino e que há muitos catequistas que têm formação ao nível superior.


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22 OPINIÃO

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Percepção de um País Janette Da Silva D. O Pedro tem pelo menos 26 anos que não vem à Venezuela. Saiu daqui com cinco anos e nunca mais voltou. Custa-me entender porquê. A sua esposa (que é madeirense) não quer, diz que tem medo. Até posso percebê-la: nunca cá esteve e só conhece o país por referências, que são normalmente más: roubos, sequestros, mexericos políticos… Estamos a conversar e peço-lhe que me dê uma oportunidade para mostrar-lhe que isso é só uma cara da moeda. O casal está, inclusive, a pensar ir ao Brasil… Sim, porque ir ao Brasil é "chique" e é um dos destino turísticos de moda dos madeirenses! Mas vir à Venezuela, "nem pensar, é muito perigoso". Agora pergunto-me: o que tem o Brasil para oferecer que a Venezuela também não tenha? Ou melhor: os perigos que oferece a Venezuela não são os mesmos que existem no Brasil? A promoção tem um preço tentador e sai sem dú vida mais barata do que viajar para a Venezuela. Não se compreende porquê, mas é um facto. Os portugueses que vivem na Venezuela e que viajam

para Portugal estão fartos de pagar muito por um serviço que não vale tanto… Custa-me encontrar outro argumento que sustente a decisão deles… a minha simpló ria conclusão é que tudo depende da maneira como se "vende" o teu país. Sim, ir ao Brasil é "super" e está "in", mas ir à Venezuela é "perigoso" e definitivamente nada "fashion"… É verdade, a Venezuela tem sérios problemas de insegurança, mas será essa uma ameaça real em sítios como Canaima, Los Roques, Margarita, Choroní, Morrocoy e outros? Aposto que as promocionais viagens ao Brasil não incluem um tour pelas principais - e muito maiores - favelas do Brasil. Vejamos outro exemplo: existem mais probabilidades reais - que podem ser medidas estatisticamente - de que se pode morrer ou ficar ferido num atentado terrorista em Espanha. No entanto, ninguém deixa de ir à Espanha porque é "perigoso"… Por isso, mantenho a minha posição: tudo depende do marketing e de como se "vende" um país; depende da percepção que os de fora têm de nó s, cá dentro. E nisso a Venezuela está mesmo muito mal. Não se divulgam os sítios paradisíacos que cá abundam. A ú nica promoção turística é os mortos, os feridos e as notícias (muitas vezes fora de contexto) que causam aflição e stress… Continuo com os meus argumentos mas nada parece funcionar. Acho que o Pedro não volta à sua terra natal nunca, e isso dá-me muita pena…

Os preferidos predilectos António de Abreu Xavier aindax1@yahoo.com

A

lguns imigrantes na Venezuela falam com orgulho do sucesso social e econó mico que conseguiram obter. Têm razão ao fazê-lo. O orgulho é maior quando se comparam com os seus semelhantes, na França. Porém, o paroxismo maior foi uma conversa num café: "Eu cá não tenho patrão, não preciso de limpar retretes e Lisboa não faz nada por mim", dizia um indivíduo. Eu perguntei-me o que é que tinha a ver uma coisa com a outra. Foi logo à procura de respostas para saber o que se passava com os nossos conterrâ neos na França. Não é um segredo que os portugueses têm emigrado para França já desde o século XII para fazer negó cios ou porque fogem de perseguições religiosas e políticas. Entre 1950 e 1974, este destino da emigração significou uma grande fuga de capital humano. O maior nú mero de saídas foi na década de 60, mas o record de 135.667 indivíduos a emigrarem para a França foi atingido em 1970. Muitos conseguiram habitação nos bairros de lata de Champigny, chamado "A Capital dos portugueses em França"; Nanterre, S. Dinis, La Courneuve, etc., nos arredores de Paris. Por volta de 1974, cerca de um milhão de portugueses estavam já instalados em França. Chegaram para conseguir um melhor bem-estar, a vida digna que lhes era recusada na pró pria terra; chegaram com poucas esperanças de enriquecer, pois a condição de clan-

destinos marginalizava-os, obrigando-os a trabalharem na primeira coisa que aparecia. Estes indicadores populacionais reflectiram-se no Conselho Permanente das Comunidades Portuguesas, onde a França tem a mesma representação política proporcional que os outros países da diáspora. Só que na Venezuela residem uns 400.000 portugueses. Assim, a nossa delegação é menor que a francesa. No Conselho Regional da Europa os luso-franceses ocupam 15 lugares. Alguém sabe quantos luso-venezuelanos estão no nosso Conselho Regional? Há também outra coisa, os trabalhadores temporários portugueses na França visitam com maior regularidade Portugal; com as visitas, remessas e transferências em euros, são o dínamo da economia quotidiana, como antes foi a Venezuela. A relação econó mica entre Portugal e a França não se compara com a da Venezuela. Mesmo não há dados que permitam fazer uma comparação! Para 2003, há um excedente comercial a favor da França: a importação francesa de produtos portugueses chegou a 3,3 mds. e a exportação a 4,3 mds. de euros. Para além disso, os franceses são os quintos investidores estrangeiros em Portugal, com 8,4% do capital investido, o que se traduz em mais de 400 filiais, onde trabalham uns 80.000 portugueses. Não tenho dados para comparar o nú mero de patrões na França e na Venezuela. Não procurei dados sobre as verbas que o Governo português destina para as comunidades nestes dois países; não sei se elas são proporcionais. A dívida moral que muitos pensam que Portugal tem com eles passa por aquilo que nó s representamos para a política exterior do país. Penso que já a informação que circula expressa a realidade. Não deitem culpas aos luso-franceses. Tirem notas…

Serviço pú blico! Um conceito que exige responsabilidade colectiva

Luí s Barreira

V

árias vezes nos interrogámos sobre o papel de alguma comunicaç ão social portuguesa, a propó sito dos presumíveis "escâ ndalos" dos políticos portugueses, das suas chamadas "ligações perigosas" e das suspeitas de "crimes morais e materiais". Reconhecendo que a vida pú blica deve merecer um comportamento irrepreensível dos seus agentes, que a credibilidade do Estado, enquanto garante da moral social, deve merecer uma atenção muito especial da sociedade e uma vigilâ ncia, que só uma imprensa livre pode garantir, acho por bem que jornais, rádios e televisões estejam atentos aos sintomas de irresponsabilidade moral e social dos dirigentes das forças políticas, na oposição e no governo, quando elas se afirmam, enquanto poder ou alternativa do mesmo, ao serviço dos cidadãos. Sou completamente contra todos os pseudo jornalistas e directores dos ó rgãos de informação que, na sua â nsia de títulos de primeira página e vendas acrescidas, afirmam "não importa o quê" sobre a vida de pessoas pú blicas, sem qualquer respeito pela vida privada de cada um (cujo comportamento não afecte a sociedade), com toda a irresponsabilidade, sobre a veracidade das informações publicadas, a propó sito de actos pú blicos indevidos, pretensamente cometidos por titulares de cargos pú blicos ou dirigentes políticos, refugiando-se na liberdade de imprensa. Se é verdade que a imprensa livre é um garante fundamental de qualquer democracia, a imprensa "mentirosamente livre" é um dos piores perigos para a sua sobrevivência! Temos lido, visto e ouvido de tudo, sobre governantes, ex-governantes e candidatos a governantes. Quando alguém decide

fazer uma denú ncia, sobre uma situação particular que afecta alguns destes cidadãos, "aqui del Rei" que não se fala de outra coisa. Os julgamentos são instantâ neos e as suspeitas permanecem para sempre. Porquê? Porque por razões histó ricas e psicoló gicas, muito pró prias do nosso povo, é mais fácil assumir a corrupção nas figuras pú blicas, do que admitir a sua inocência. E, como a justiça em Portugal é tardia em conclusões, quando alguém que foi acusado injustamente é ilibado das acusações, ou isso já não é notícia que se venda (já não é escâ ndalo...), ou se duvida da justiça, da pró pria justiça. Outro sintoma não menos perigoso para a vida colectiva é o de encarar as supostas denú ncias de irregularidades cometidas por personalidades, como uma acção de descrédito, movida por forças políticas antagó nicas ou por invejas, ou conflitos, dentro dos partidos políticos. Passa-se a relativizar a verdade, em função de quem a denuncia e de quem se implica, sem ter a mínima preocupação em avaliar o que realmente está a acontecer. E assim vamos vivendo, num total descrédito pelas instituições e seus mandatários e, pior do que tudo, sem vontade de ajudar a resolver os problemas do Estado que, afinal, somos nó s! É preciso colocar ordem em tudo isto! Um ó rgão de informaç ão que publique falsas notícias deve ver irradiado da missão de informar, assim como todos os responsáveis pela difusão de tais notícias. Informar com veracidade é também uma causa pú blica! Um político ou detentor de um cargo pú blico, que se veja condenado por utilização abusiva do seu cargo, ou por práticas socialmente condenáveis, deve ser impedido, definitivamente, do exercício de tais cargos. Só assim podemos moralizar o conceito de serviço pú blico, acreditar na boa fé dos homens e mulheres que dirigem as instituições e participar activamente na construção de uma sociedade, da qual somos parte integrante.


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OPINIÃO 23

caRTas dOs leITORes Vergonha de falar português

Mais importante que o Benfica...

Venho, por este meio, expor um problema que está a atingir a nossa comunidade portuguesa espalhada por todo o país. É com muita tristeza que se constata que nos ú ltimos anos temos deixado perder o hábito de falar, nos nossos convívios familiares e culturais, na nossa língua portuguesa. De facto, são poucas as famílias que ainda falam em português, o que só vem provar a pouca importâ ncia que se dá à nossa língua e à necessidade de manter as raízes culturais do nosso país. Para além disso, é lamentável que os nossos filhos e descendentes lusovenezuelanos tenham vergonha de falar o português, essencialmente

Sou português natural da ilha da Madeira. Escrevo para manifestar a minha satisfação pela decisão do jornal em publicar os resultados de futebol de Portugal das II e III divisões. Sou natural da Ribeira Brava e as ú nicas coisas que sabia do meu clube era através de algum amigo de Portugal. É que normalmente os jornais na Venezuela apresentam apenas os re-

porque muitas vezes até são ridiculizados, ou pelo sotaque ou pelos erros que cometem ao falá-lo. Como o jornal que V. Exa. dirige é um meio de informação prestigioso e de muita credibilidade dentro da nossa comunidade, venho solicitar que, através dele, possam motivar uma campanha em favor da nossa língua portuguesa, com artigos e diversas actividades que a incentivem. Sem outro assunto, agradeç o a vossa atenção e tudo o que possa fazer ao respeito.

INQUéRITO

José Maria Figueira

Castigo a triplicar para os portugueses

Maria Ângela Correia da Costa

Leitura obrigató ria A todos os que trabalham no vosso jornal, os meus parabéns pelo magnífico trabalho que estão a fazer a favor da comunidade na Venezuela e de todos os portugueses espalhados pelo Mundo, incluindo os que residem em Portugal. Sou uma pessoa sem habilitações literárias, mas com profundo interesse na cultura geral. Gosto do vosso jornal e acho que deveria ser de leitura obrigató ria para todos os portugueses na Venezuela, sobretudo pelo conteú do cultural que o mesmo expressa. Li a ú ltima ediç ão do jornal de trás para a frente e gostei da página de cultura, do artigo de Câ ndido Andrade. Os meus parabéns pelo

sultados da primeira divisão, o que se percebe perfeitamente, mas para nó s que estamos longe da nossa terra é tão ou mais importante saber os resultados da nossa equipa do que os do Benfica e do Sporting… No futuro, deveriam publicar uma foto das equipas de futebol.

artigo sobre os presidentes dos clubes. Para a jornalista Arelis, os meus sinceros parabé ns pelas verdades que ali estão escritas com muita educaç ão e, para o Sr. Antó nio Xavier, também as minhas felicitações pela comparação que faz dos portugueses. Outro dos pontos importantes do vosso jornal é o facto de levantarem a auto-estima dos portugueses na sua cultura e na arte. Sugiro que seja lido pelos mais jovens. A todos, os meus mais sinceros parabéns. Convido-os a todos a lerem a página de cultura, sobretudo os mais jovens da comunidade portuguesa. Manuel Lúcio

Sou portuguesa e estou indignada com os portugueses que estão envolvidos no sequestro dos portugueses. Embora delito seja delito contra quem quer seja, trata-se de compatriotas! Através do CORREIO, peç o às autoridades venezuelanas e às portuguesas que trabalhem juntas neste sentido para que os mesmos paguem em prisão o mal que fizeram a centenas de famílias e o grande prejuízo que ocasionaram ao país. Julgo que é oportuno fazer este comentário porque, tal como o vosso jornal publica, eles participaram em vários actos deste tipo, o que me permite presumir que devem ter muito dinheiro para gastar em advogados, etc., etc. Infelizmente temos uma experiência negativa neste sentido, pois num sequestro que também envolvia um português, no dia seguinte o delinquente seguiu viagem para Portugal! Façam um seguimento à justiça e ao julgamento dos mesmos para que não

se cometa novamente os erros do passado... Novamente, às autoridades portuguesas, peço uma intervenção eficiente, para que aconselhe as autoridades venezuelanas a triplicarem o castigo quando sejam estrangeiros em neste caso deste português, pior ainda. Que vergonha para a nossa comunidade! Ao CORREIO, quero dar os parabéns por ter publicado as fotos dos dois "bandidos" portugueses. Que os castiguem como deve ser. Felizmente não lidavam muito com a comunidade. Para bem de todos!.... Quem diria ? Para concluir, sugiro que publiquem também a foto do sequestrador português de Mariche para que saibamos quem ele é. E também que enviem para Portugal as fotos dos "artistas" para que também saibam quem são e para que tenham vergonha, nem que seja dos familiares, se é que têm vergonha na cara! Graça M. Marques Teixeira

Sabe o que é o recenseamento eleitoral ? Tem informação sobre o processo de inscrição ?

Betty Vasconcelos "Não estou registada porque não sabia que podia fazê-lo. Só tenho a nacionalidade portuguesa. Quando fui ao Consulado - e fui há pouco tempo - não me deram nenhuma informação. Disseram-me só que os meus papéis de Portugal já tinham saído, mas não me alertaram para o facto de ser necessário registrar-me para poder ter o direito de votar nas eleições. Não me chamaram nem notificaram por nenhuma via. Se fosse necessário e se as autoridades consulares pedissem, eu sufragava porque é um direito que tenho como portuguesa".

Maria Rodrigues Ferreira "Ninguém me disse que tinha de me inscrever no registo eleitoral português e o Consulado não notificou ninguém para poder exercer esse direito. Talvez eles não têm nenhum interesse en dar essa informação, mas eu como portuguesa gostava de poder votar para as eleições portuguesas".

Maria Luí sa Pereira "Nunca achei que fosse importante porque cheguei à Venezuela aos sete anos e, para mim, não é relevante. Estive no Consulado há algum tempo, mas não foi na altura de eleições e não me deram qualquer tipo de informação. Só vou lá para renovar os meus documentos e quando é estritamente necessário. Concordo que as autoridades informem, mas acho que nó s, enquanto emigrantes, não devíamos participar porque não estamos a viver a situação de lá e, por isso, não deveríamos poder votar".

Maria Da Graça de Araújo "Não, porque na verdade não sabia que isso existia na Venezuela. Mas se soubesse inscrivia-me porque é um dever que temos enquanto portugueses e temos que votar. Para que todos estejamos informados, o Consulado debe funcionar correctamente e os meios de comunicação social portugueses aquí na Venezuela devem divulgar tudo o que é importante para a comunidade lusa. Assim, vamos saber o que é preciso para exercer os nossos deveres e exigir os nossos direitos como emigrantes portugueses".


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Gastronomia portuguesa em mãos de venezuelanos Luis Albarrací n, Enrique Rubio e Hernán Martí nez são três "criollos" que apostaram na comida tí pica lusa e criaram o restaurante "La Espetaria" Noélia de Abreu

noeliadeabreu@gmail.com

V

enezuelanos e lusos costumam falar do tema com alguma ironia. A numerosa e enraizada comunidade portuguesa, que tem uma presença marcada na área de restauração, padarias e "areperas", raramente pensa em opções comercias onde a comida portuguesa predomine. Várias entidades diplomáticas, durante a sua estadia na Venezuela, já tiveram oportunidade de lamentar a ausência de estabelecimentos comerciais com comida exclusivamente portuguesa. "La Espetaria" é um restaurante que pertence a três venezuelanos Luis Albarracín, Enrique Rubio e Hernán Martínez - que decidiram fazer o que poucos portugueses têm feito. "Se eles têm comércios com comida ve-

nezuelana, nó s também podemos ter um local de comida típica portuguesa", expressou Albarracín. Neste estabelecimento, pode-se comer o tradicional caldo verde, a carne de vinho e alhos, o bolo do caco e o milho frito. Mas isto tudo sem contar com a especialidade da casa: a espetada. "Os clientes encontram uma variedade inovadora que incorporamos ao menu dos espetos: pato, frango, lombo de vaca, lombo de porco, entrecosto e chouriço", explica-nos um dos donos. Situado na Calle Bolívar de El Hatillo, em frente da Hansi, "La Espetaria" acaba de fazer, a 19 de Junho, dois anos. Albarracín comenta-nos que esta foi uma experiência muito boa para ele e para os seus só cios, pois para o povo venezuelano a gastronomia portuguesa é ainda um pouco desconhecida. "Não há, para além deste,

mais nenhum restaurante que só venda comida portuguesa", diz. Por outro lado, os lusos que visitam o local saem satisfeitos. "Os portugueses são os clientes mais difíceis, pois eles são os que mais conhecem das comidas que preparamos. São o nosso controlo de qualidade. Se eles dizem que não está bom é porque não estamos a fazer qualquer coisa como deve ser", assegura. Para quem não sabia o que era uma espetada, "encontrou uma forma sã de consumir estes produtos, pois as carnes são pouco gordas e são condimentadas tradicionalmente apenas com sal e louro". Acima de tudo, a espetada é interessante porque se come de uma forma interactiva, em que todos compartem a carne que está pendurada num espeto. "Isto chama a atenção e desperta curiosidade nas pessoas", diz.

O que vos levou a abrir um negócio de comida portuguesa? Conhecia um amigo que queria abrir um restaurante de espetada, mas não tinha o local. Ao mesmo tempo, conhecia uma outra pessoa que queria montar um negócio e já tinha o local. Eu tinha alguns conhecimentos e vários amigos portugueses que me poderiam assessorar. Foi assim que decidimos avançar com a ideia. Recebem ajuda gastronómica por parte de algum português? Há uma senhora madeirense que nos ajuda com o caldo verde e a massa do bolo do caco, mas ela não fica na cozinha. Temos pessoal contratado que se encarrega de alinhas as carnes, cozinhar o pão e assar a carne. Em que dias recebem mais clientes no restaurante? Nos fins-de-semana e nos feriados temos mais clientes, pois El Hatillo é uma zona turística onde as famílias vêm passar um bocadinho do dia agradável. Mas temos uma clientela fixa que nos visita durante a semana e que, ao longo destes dois anos, tem-nos sido bastante fiel.


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BREVES TOP TAP Carga distingue agentes da Zona Norte

A Pantrans, seguida da Nortemar e da Abreu, em segundo e terceiro lugares, respectivamente, venceram os TOP TAP de Carga da Zona Norte, atribuídos em cerimónia realizada para o efeito no Porto. A TAP, a companhia de aviação com maior número de destinos servidos a partir do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, transportou, durante o ano de 2004, perto de cinco mil toneladas de carga em voos à partida do Porto directamente para Lisboa, Funchal, Paris, Londres, Amesterdão, Luxemburgo, Genebra e Caracas, para além de outros destinos servidos por voos com ligações via Lisboa.

Reforço da operação para Luanda A TAP programou o reforço da sua oferta para o presente período de Verão, tanto na sua Rede Europeia quanto para alguns destinos do longo-curso, com o objectivo de dar resposta às necessidades dos seus Clientes. Nesse sentido, a TAP está a operar, desde o dia 22 de Junho e até 28 de Setembro, mais uma frequência semanal - a quarta - para Luanda, com vista a reforçar a sua operação trissemanal habitual entre Portugal e Angola. Correspondendo, assim, à intensificação da procura na estação alta, a TAP passou a realizar um voo adicional à quarta-feira, ligando Lisboa à capital angolana, com regresso no mesmo dia. Os voos entre os dois países são efectuados em equipamento A.340, com capacidade para 268 passageiros, e ocorrem todas as terças, quintas-feiras e Domingos no sentido Lisboa/Luanda. No regresso, a operação realiza-se à terça-feira e sexta-feira e também ao Domingo.

Aliança estratégica no domínio do suporte logístico

T

AP Manutenção e Engenharia e a AAR assinaram um contrato hoje, durante o Paris Air Show, em Le Bourget, com o objectivo de constituir uma alianç a estratégica que irá permitir à TAP M&E alargar os serviç os prestados aos seus clientes de manutenção integrada.

Em virtude da assinatura deste contrato com a AAR, uma das principais companhias mundiais ao nível

da cadeia global de suporte logístico, a TAP M&E reduz consideravelmente a necessidade dos investimentos exigíveis para satisfazer os requisitos dos seus clientes nos tipos de contratos referidos. O â mbito do presente contrato é considerado por Jorge Sobral, Vice Presidente Executivo da TAP Manutenção e Engenharia, e signatário do acordo, "como uma aliança estratégica que irá permitir a TAP M&E prosseguir a sua estratégia de forneci-

mento de um serviço de manutenção integrada a muitos dos seus clientes, com um investimento reduzido. "De facto, a TAP M&E tem a capacidade de executar operações de grande manutenç ão em vários tipos de avião, efectuar a revisão de diferentes tipos de motor e uma extensa capacidade na reparaç ão de componentes de avião. Contudo, muitos dos nossos clientes requerem o suporte completo de manutenção, o qual abrange a possibilidade de disponibilizar, em dife-

rentes partes do mundo, armazéns locais à consignaç ão e, nalguns casos, acesso a um inventário central", acrescentou Jorge Sobral. O contrato foi assinado por Mr. John Holmes, General Manager of AAR Distribution and AAR Allen Aircraft, que afirmou na ocasião "A oportunidade de trabalhar com a TAP M&E e a capacidade de alargamento do nosso "portfolio" de produtos e serviç os aos seus clientes são factos naturalmente bem recebidos.


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Apoio dos patrocinadores Unicasa vai transmitir programa de TV interactivo Manuel Garcí a

Devido à apresentação do programa aos provedores de supermercados UNICASA, fez-se uma sondagem de opinião sobre este espaço.

A

partir do Sábado 2 de Julho, Venevisió n vai transmitir o programa "Coisas de Casa" através de um acordo exclusivo que foi feito com a UNICASA. O espaç o, que é transmitido ao vivo da sucursal El Marqués, tem uma hora de duração e passa todos os sábados, das 12h00 às 13h00. Conta com a animação de Gledys Ibarra e Luís Federico Torres. "Coisas de Casa" promete ser um programa divertido e interactivo que oferece diversas secções, entre elas "Hoje cozinha você", um programa que conta com a participação do pú blico; "A Senhora Graciela", uma personagem ao estilo das amas de casa de antes, que oferece truques para manter a casa sempre limpa e organizada. Por sua vez, o programa "Conta-nos da tua casa" permitenos ter todas as semanas um convidado especial que é entrevistado para falar dos problemas que enfrenta para conseguir ma-

Gerente de Contas de "Clave de Coca-cola Servicio"

Gledys Ibarra e Luí s Federico Torres apresentam o novo espaço "Coisas de Casa", que vai passar todos os sábados nipular bem o seu lar. Ainda, em "Pergunta-lhe por Jacqueline de los Ríos", responde a todas as inquietações, problemas e dú vi-

das da audiência no que se refere à administração do lar. Também vai haver concursos, como "Ajusta-te ao pressuposto", "Quanto pesa?", "Que ingredientes te faltam?", "Por cima ou por baixo?". Uma das inovações do programa é os benefícios para os anunciantes, pois inclui anú ncios ao vivo e demonstrações dos produtos, utilizando as marcas que patrocinam.

"Muito refrescante, para além de inovador, que é a parte que mais me chamou a atenção. Nenhuma cadeia de supermercados, com excepção da UNICASA, está a fazer nada igual na televisão. De certeza que a Coca-Cola vai estar presente para apoiar esta iniciativa".

José Blanco Gerente Nacional de Vendas de "Nestlé Venezuela"

"Uma apresentação bastante criativa, bastante inovadora. Um conceito bastante novo que sai bastante dos esquemas e se centra mais no que procuramos, que é estar mais perto do consumidor. Actualmente, não há nada semelhante. Tem uma parte interactiva moderna, que são as mensagens de texto e o uso da Internet, através da página do programa.

Hernán Prato Gerente de "Contas Claves de Bimbo de Venezuela"

"Sinto que o programa vem preencher um vazio que havia na televisão venezuelana. Nele, as amas de casa podem ter muito mais informação de como conduzir o seu lar. As marcas têm um lugar onde se podem apresentar e mostrar ao consumidor os seus atributos.

Sue Toro Gerente do Grupo de Alfonso Rivas

"Parece-me uma excelente oportunidade não só para os patrocinadores como também para o público em geral, pois realmente esta é uma ferramenta útil para as pessoas que estão a iniciar-se no Mundo do lar possam aprender uma série de truques não só de cozinha como também de cuidados com o lar e pessoais.


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Voleibol encantado com a Venezuela Liliana da Silva

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urante uma semana, a Selecção Portuguesa de Voleibol ficou em Caracas para se preparar os dois encontros que disputou com a Venezuela no â mbito da Liga Mundial 2005, tendo ganho um por 3-0 e perdido o segundo pelo mesmo resultado. Para além dos treinos, a "Equipa de Quinas" participou em dois eventos que lhes permitiram partilhar com a comunidade portuguesa que reside na Venezuela. Os jogadores foram recebidos pelo embaixador de Portugal, José Manuel da Costa, num almoço que contou com a presença do cô nsul geral de Caracas, Fernando Telles Fazendeiro, e o presidente do Centro Português de Caracas, André Pita. No discurso de boas-vindas, o embaixador falou sobre a evolução que se tem assistido no desporto português e que tem sido motivo de orgulho para todos. "Há alguns anos que o voleibol português não tinha tanta

Os doze atletas foram acolhidos calorosamente pela comunidade portuguesa, que se mostrou com muitas expectativas ante as actuações da Selecção Nacional de Voleibol. qualidade. Agora até conseguimos ganhar o campeão mundial e ao campeão olímpico. Isto só prova que se tem desenvolvido um

bom trabalho". Durante este encontro, o CORREIO aproveitou para falar com o treinador da selecção e dois

ORLANDO SAMUELS: VOLEIBOL PORTUGUÊS COM SAÚDE Há alguns anos que o voleibol português conta com treinadores cubanos que têm contribuído muito para o desenvolvimento desta disciplina em terras lusas. Estes profissionais são reconhecidos ao nível mundial pela qualidade da sua técnica e pelos seus altos rendimentos em matéria desportiva. Fazendo uma avaliação à qualidade da equipa portuguesa, diz que Portugal tem crescido muito graças à cooperação que tem tido com Cuba. "Pela Selecção, já passaram dois treinadores cubanos que têm melhorado bastante o nível técnico. Das últimas vezes que temos trabalhado com a equipa surpreende-nos a assimilação tão rápida que têm os rapazes e o bom trabalho que estão a fazer nesta competição e na classificação para o Campeonato do Mun-

do. A selecção está bem encaminhada, mas tem que continuar a trabalhar muito. Por enquanto, o voleibol português tem muita saúde", disse.

jogadores.

FLÁVIO CRUZ: UM INTERNACIONAL Numa entrevista antes da final, o jogador madeirense disse que estava muito contente por estar na Venezuela, "sobretudo pelo convívio com os portugueses. Mas, obviamente, a nossa visita tem outro objectivo, que é continuar a nossa participação na Liga Mundial e ganhar estes dois jogos com a Venezuela". Sobre a Venezuela, refere que "não estava à espera de encontrar tanta pobreza. Se calhar sentimo-nos um pouco desprotegidos porque existem muitas notícias de roubos e de violência. No entanto, não temos sofrido qualquer inconveniente, embora saibamos que, por questões de segurança, devemos evitar sair sozinhos. Para além disso, este é um país muito agradável". Finalmente, sobre a homenagem na Madeira, que soube quando já es-

tava na Venezuela, declarou: "O Clube de Voleibol do Funchal foi onde me iniciei e, por isso, marcou-me muito. Deixei muitos amigos lá. Pessoas que me ajudaram desde o início da minha carreira como desportista. Sinto-me muito orgulhoso pelo que me vão dar, mas acima de tudo muito contente por ver que a aposta que fiz ao continuar no voleibol está a dar os seus frutos.


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BATENDO RECORDES A vitória em Portugal da selecção portuguesa de voleibol sobre a Venezuela levou os jogadores portugueses para o topo do "ranking" individuais da Liga Mundial de voleibol masculino. O "capitão" João José está no primeiro lugar dos melhores bloqueadores da liga mundial. Também Flávio Cruz, Hugo Gaspar, Nuno Pinheiro, André Lopes e Carlos Teixeira ascenderam a lugares de destaque. Antes dos jogos contra a Venezuela, Hugo Gaspar continua a evoluir na tabela dos melhores marcadores da Liga Mundial, enquanto Nuno Pinheiro é o quinto entre os distribuidores e André Lopes o sétimo no serviço. A prestação de Portugal já bateu vários recordes, entre os quais o número de vitórias em encontros numa edição da Liga Mundial (cinco) e de trunfos por 3-0 (quatro).

JOÃO JOSÉ: O MELHOR BLOQUEADOR DO MUNDO João Jose é o Capitão da Selecção de voleibol. Este jogador, que foi campeão da Alemanha pelo VFB Friedrichshafen nesta temporada, ocupa uma posição que já lhe é mundialmente conhecida, pois foi considerado o melhor bloqueador do Campeonato do Mundo de 2002, que decorreu na Argentina. Antes do encontro entre as duas equipas, o jogador tinha muitas expectativas, sobretudo porque tinha ganho duas partidas em casa, sem nenhum problema. Reconheceu, contudo, que ia ser um jogo muito difícil porque a Venezuela estava irritada por ter perdido em Portugal. Analisando as vitórias de Portugal até antes do confronto final, diz: "temos mais maturidade; acima de tudo, estamos muito mais maduros, mais tranquilos; antes jogávamos na

garra e no calor do jogo. Crescemos como atletas e cada um de nós cresceu a nível individual. E a prova disso foi a vitória sobre o Brasil". Sobre a Venezuela, disse gostar bastante do clima.

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Selecção de Voleibol esteve com a comunidade Jean Carlos de Abreu

P

ara além dos encontros desportivos, a selecção portuguesa de Voleibol aproveitou a sua estadia na terra de Bolívar para conhecer a comunidade de portugueses que fazem vida no país e poder partilhar com os seus compatriotas. O chefe da comitiva que acompanha a "Equipa das Quinas" comentou ao CORREIO que "para além das competições desportivas, é importante poder estabelecer relações com os nossos conterrâ neos. Esta é uma forma de trazer-lhes um pouco de Portugal na figura destes atletas". A Selecção foi recebida pelo Embaixador de Portugal na Venezuela, José Manuel da Costa, para um almoço organizado por este diplomático. A visita ao Centro Português de Caracas foi mais informal, recreativa e de confraternização com as pessoas. Os jogadores de voleibol subiram para o campo de futebol

do clube para disputar uma partida amigável entre eles. O jogo durou quase meia hora e, depois, a equipa descansou na piscina. COMUNIDADE CARISMÁTICA "A infra-estrutura do clube está bem feita. Sente-se um ambiente familiar e de fraternidade onde todos se tratam como família. E isso é agradável porque faz as pessoas se sentirem bem", disse Alves, ao ver os grupos de amigos e familiares que estavam reunidos à volta do campo.

Alves também viu com bons olhos a participação desportiva dos adolescentes no clube. O treinador grupo, Fernando Samuel, disse ao CORREIO que estava surpreendido com o apoio que a comunidade portuguesa tem dado à equipa lusa. "Estamos muito satisfeitos pelo acolhimento e pela mostra de apoio que nos têm dado os luso-venezuelanos do país. A comunidade portuguesa que vive na Venezuela é muito alegre e magnífica. É um dos grupos mais amáveis e carismáticos que já vi".


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Élio Quintal: o melhor fora de campo A conhecida figura do futebol venezuelano começou a sua carreira nas equipas da colónia portuguesa há mais de 20 anos Marítimo esse clube que tanto os adeptos como rivais ainda hoje lembram com carinho e, a sua passagem sobretudo, com muito respeipelo futebol pro- to. fissional veneO seu nome é Élio Quinzuelano, a equi- tal, coordenador geral do clupa do C.S. Marítimo contou be profissional de futebol vecom um membro que dava nezuelano Caracas Futebol nas vistas porque sempre an- Clube e, na altura, desempentecipava a jogada, nunca bai- hou as mesmas funç ões no xava os braços, nunca falha- clube maritimista. A sua figuva um jogo; um elemento que ra ficou ligada intensamente sempre foi fiel às cores verde- ao clube luso, onde trabalhou rubras e sempre esteve pre- cheio de misticismo e paixão sente, como uma das pedras durante dez anos. fundamentais, em todas as Élio, como tantos outros luconquistas do clube lusitano. so-descendentes, era adepto Não estou a falar de nen- fiel do Desportivo Português hum ponta de lança goleador, e sempre que podia ia ao doninguém com pés mágicos, mingo ao estádio para ver a nenhum central bom no jogo sua equipa jogar. O seu carinaéreo nem muito menos dum ho pela equipa lusitana era tal guarda-redes só brio e segu- que mesmo sem fazer parte da ro. Este indivíduo não calçou direcç ão sempre esteve disas chuteiras, mas a sua ajuda posto a colaborar com o clufoi fundamental para fazer do be e em 1982 converteu-se António Carlos da Silva

N

Élio Quintal na sua "oficina": o Estádio Nacional Brígido Iriarte.

num dos membros da organização do clube português. Com a falência do Desportivo e a natural conversão da massa adepta lusitana para o C. S. Marítimo, Élio, como tantos outros atletas, técnicos e dirigentes do "Português", foram "reciclados" para o recém-criado projecto do Marítimo, assumindo as responsabilidades de organizaç ão logística, comercial e até desportiva do clube. Élio era o responsável de todos os aspectos da organização em torno do clube. Tratava das viagens da equipa ao interior do país, das deslocações ao estrangeiro, das contrataç ões com fornecedores desportivos e patrocinadores, assim como das contratações de futebolistas e até teve a árdua tarefa de convencer algum jogador específico a assinar pelo C.S. Marítimo. Deixava a uma rubrica no contrato e usava como escritó rio o carro do Quintal… DiaS DE cOmEmORaçãO "Fazer parte da histó ria do Marítimo é para mim motivo de orgulho e satisfação", confessa Élio, enquanto o seu rosto parece iluminado só de relembrar as façanhas desportivas do clube "tetra-campeão". "Cada jogo do Marítimo como anfitrião era uma verdadeira festa, um espectáculo familiar", acrescenta Quintal, cheio de saudades só de relembrar aqueles anos cheios de esplendor desportivo de um clube que não era patrimó nio individual ou de gru-

Élio Quintal ao lado de duas "velhas glórias" do Marítimo: Franco Rizzi e Daniel Nicolak.

po, de uma empresa ou de uma instituição governamental. Era o patrimó nio de toda uma colectividade, dos emigrantes portugueses da capital e até do país. Em contacto diário com jogadores e dirigentes, são muitas as lembranças agradáveis que Élio tem da sua passagem pelo clube que estava sediado em Los Chorros. Mas de todas elas destaca a famosa digressão que, em 1987, a equipa do Marítimo fez à ilha da Madeira para participar no "Torneio Autonomia" daquele ano, enfrentando as equipas madeirenses do União, Nacional e, como não podia deixar de ser, ao seu "pai", o C.S. Marítimo da Madeira. O futebol exibido pela equipa venezuelana surpreendeu positivamente os adeptos madeirenses, mas Quintal destaca sobretudo todas as atenções e homenagens das autoridades do Funchal, que brindaram com a comitiva crioula e "nos deram um tratamento especial, como se fossemos autênticos heró is, com direito até às célebres faixas de campeões". Foram dias de comemoração, convívio e futebol, com todo o plantel venezuelano no papel de protagonista.

Quando o Marítimo desapareceu por causa de problemas já conhecidos por todos, Élio Quintal decidiu abandonar o mundo do futebol venezuelano e passou alguns anos no que ele chama de "reserva". Em 1998, foi chamado pelo Caracas F.C., que quis aproveitar todos os anos de experiência e o conhecimento que tinha dos bastidores do futebol local. Assim, Quintal regressa aos campos de futebol do país, ao serviço do clube da capital, assumindo funções semelhantes às que desempenhava com os verde-rubros. Agora, desde que assumiu a coordenação geral do "Heptacampeão" venezuelano, Quintal participa no crescimento do clube "rojo", que está prestes a inaugurar um novo estádio, sendo a primeira equipa do país em ser a dona de uma instalação deste género, e prepara-se para tentar recuperar o título de campeão perdido nesta época para o U. A. Maracaibo. Não sabemos como vão correr as coisas dentro do campo, mas estamos convictos que fora dele o plantel do Caracas F.C. pode continuar a contar com o melhor!


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Cristiano Ronaldo "brilhou" no casamento da irmã ovacionada por largas centenas de pessoas, que se deslocaram ao local para ver de perto o novo ídolo. ristiano Ronaldo, a esNinguém ficou indiferente à eutrela do Manchester foria. Todos queriam ter acesso a um United foi, mais uma autó grafo. Uns foram felizes na vez, a vedeta, desta fei- tentativa; outros nem tanto. ta no casamento da sua irmã Elma, Chegado por volta as 11.25 horas que contraiu matrimó nio na Igreja ao Funchal, acompanhado pelo seu dos Álamos, na Madeira. gestor de imagem, Cristiano RonalOnde quer que esteja, Cristiano do deslocou-se de imediato para a Ronaldo é um caso de rara popula- sua residência, situada no Caminho ridade, neste caso na terra que o viu da Bica no Livramento, onde permaneceu até ao momento em que nascer. No sábado 25 , à chegada e à saída se dirigiu para a Igreja dos Álamos. O padrinho, Cristiano Ronaldo da Igreja dos Álamos, onde se efectuou a cerimó nia religiosa, a nova acompanhado da sua irmã, Kátia (Rocoqueluche do futebol mundial foi nalda) com um ar bem disposto e Martinho Fernandes (DN - Madeira)

C

alegre, depois de alguns minutos de espera, entrou finalmente na viatura que o transportou até ao local onde iria acontecer a cerimó nia do casamento da irmã Elma e o baptizado da sobrinha, Leonor. Junto à Igreja dos Alámos viverem-se momentos de autêntica euforia em redor do craque madeirense. Todos queriam ver de perto e tocar no futebolista. Dentro da igreja e depois da realização da homilia, tiveram lugar as questões de ordem burocrática. Seguiu-se um momento de entusiasmo quando Cristiano Ronaldo acedeu, a pedido do pároco, dar autó grafos aos jovens mú sicos que abrilhantaram a festa com as suas melodias. Foi debaixo de intensos aplausos e gritos invocando o seu nome, que o ídolo abandonou, com muita dificuldade, o local. Depois da cerimonia religiosa, largas centenas de pessoas, na sua maioria jovens, tentaram chegar perto do craque madeirense o que dificultou a sua passagem. Gritos invocando, "Ronaldo, Ronaldo, Ronaldo", e intensos aplausos foram ouvidos ao longo do percurso até à viatura, que aguardava a chegada do casal de padrinhos.

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Quem quer um banco vai ao totta CORREIO DE CARACAS - 30 DE JUNHO DE 2005

Valeu a pena emigrar? Para a grande maioria dos emigrantes portugueses na Venezuela, a comemoração do Dia da Madeira é só mais um dia normal de trabalho igual aos outros. Aleixo Vieira Jean Carlos de Abreu

U

ns porque têm limitaç ões econó micas e não frequentam os clubes sociais, outros porque, embora com possibilidades, não ligam muito a esse tipo de iniciativas, alguns portugueses preferem ficar à margem das comemorações portuguesas que se realizam na Venezuela. Dai que não seja motivo de admiração ver sempre as mesmas pessoas, ano apó s ano, a assistirem às comemorações do Dia da Madeira. A emigração portuguesa no país provém na sua maioria dos anos 50, 60 e 70, o que origina de certo modo a apatia dos emigrantes nessas festividades, pois nessa altura não se comemorava o Dia da Região Autó noma da Madeira, sendo esse facto também determinante para o desinteresse da grande maioria dos portugueses que vivem na Venezuela. Os emigrantes sabem as datas das festas da sua freguesia, como as do São Martinho, do São João, da festa da Ponta Delgada, da Festa do Monte e de outros arraiais. Mas não sabem qual é o Dia da Região… De facto, se alguns têm possibilidades para ingressar nos clubes, e aceder à RTP-Internacional, para outros essa data muitas vezes passa despercebida. E é muito pior para aqueles que praticamente perderam o seu elo de ligação com Portugal. Basta olharmos para os nú -

meros de uma sondagem feita na rua pelo CORREIO, onde questionamos 150 pessoas e apenas cinco sabiam qual era o dia em que se comemorava o Dia da Madeira. O CORREIO falou com portugueses que ainda têm as profissões que tiveram quando iniciaram no país. "VIM SEM METAS"

José Marcelino Fernandes, natural da Madeira, Santo Antó nio, vive na Venezuela e tem 32 anos de idade. Actualmente, é empregado de mesa, embora já tivesse experimentado outras profissões na Venezuela. Quando saiu da ilha, Portugal vivia outros tempos e os perigos eram preocupantes. Segundo ele mesmo nos conta, emigrou por vontade da mãe. "Ela não queria que fosse a tropa", diz, acrescentando: "Como o meu pai não me deixava jogar a bola então quis emigrar para qualquer lado". Sobre as suas metas, sonhos e expectativas sobre o que ia encontrar além-mar, Marcelino Fernandes tem uma forma de pensar diferente: "naquela

altura, não pensava em nada, não tinha metas nem sonhos, pois era muito novo". Se valeu a pena ou não emigrar, prefere esquivar-se da pergunta e repete: "se o meu pai me tivesse deixado jogar futebol no Nacional da Madeira talvez nunca tinha emigrado". Desconhece as festividades que se fazem no 1º de Julho, apesar de trabalhar com portugueses. Da vida, não se queixa, embora trabalhe de empregado. "O que ganho dá para manter a família. Se temos saú de, já é muito bom", diz. Da Madeira, pouco sabe. Nunca lá regressou e explica os motivos: "Tenho família e sempre disse que só visito a minha terra quando puder levar a família comigo. Se não, prefiro não ir". "NÃO ME ARREPENDO" José Francisco Faria Abreu, natural da Madeira, saiu há 27 anos da sua terra natal. A sua primeira profissão foi empregado de balcão de uma padaria na Avenida San Martin, em Caracas. Especializou-se depois na área de charcutaria, profissão que desempenha há mais de 25 anos. "Já trabalhei em mais de vinte padarias em Caracas e deime bem com todos os patrões". José Francisco casou na Venezuela. A sua mulher é oriunda do estado Táchira, tem quatro filhos e reside há mais de vinte anos em Petare. "As possibilidades não dão para mais", diz. No entanto, não se arrepende de ter emigrado há 27 anos.

"Não me arrependo, antes pelo contrário sou feliz na Venezuela e até já tenho nacionalidade venezuelana. Valeu a pena emigrar porque tenho quatro filhos que são consequência dessa decisão que tomei". "Não sou muito ambicioso na vida em termos econó micos, mas preocupa-me a minha saú de e a dos meus filhos. O resto, conseguimos no nosso diaa-dia", refere, contando-nos que nunca mais regressou à Madeira. "Só mesmo se me saísse a lotaria". As saudades também são poucas, embora ainda tenha muita família na ilha. "A minha família agora é esta e é por esta que trabalho todos os dias", assegura. Sobre o Dia da Madeira na Venezuela, afirma: "nem sabia que existia esse dia de festa".

"VOLTAR? SÓDE PASSEIO" Maria Natália de Freitas tem 27 anos na Venezuela e vinte deles trabalha na limpeza de diferentes condomínios. Natural de Câ mara de Lobos, chegou à Venezuela com uma tia por-

que não havia uma passagem disponível. "Estabeleci-me na casa da minha tia, uma zona rica, Macaracuay, e fiquei por lá algum tempo", conta-nos. A adaptação foi difícil. "No primeiro ano quis regressar ao meu país para estar com a família, mas passou o tempo e foi me habituando à ideia de ficar por cá. Agora, não quero ir para lá. Gostava de ir visitar a minha família, mas só de passeio. "Ouvi dizer que a Madeira está muito mudada. Por isso, gostava de ir, mas não tenho possibilidades para isso", lamenta. No seu trabalho nas limpezas só recebe o ordenado mínimo e o que ganha, diz, só dá para manter a família. "Não conheço a minha ú ltima irmã que nasceu pouco tempo depois de ter vindo para aqui. Mas gostava de poder abraçá-la, mas não posso". "GOSTAVA DE REGRESSAR" José Batista de França é natural da Madeira, Porto Monmiz, e chegou à Venezuela em 1978, com 23 anos. Viveu em Los Teques, Estado Miranda, durante treze anos e, em 1992, mudou-se para Barcelona, Estado Anzoátegui, à procura de melhores condições econó micas para a sua família. Batista é um comerciante dedicado ao ramo dos víveres. "A minha situação econó mica não é má, mas também não é excelente. O que ganho só me dá para as despesas correntes e não me permite poupar", sublinhou Batista, que já foi vítima de assaltos por 23 vezes. "Se fosse possível, regressaria para a Madeira e vivia por lá, pois a situação de Portugal está melhor agora".


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