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O jornal da comunidade luso-venezuelana
ano 06 - n.º
122 - DePósito LegaL: 199901DF222 - PubLicação semanaL
Mário Pereira
O perfil de um membro do Conselho das Comunidades. Página 14
caracas, 1 De setembro De 2005 VenezueLa: bs.: 1.000,00 / PortugaL:
1,50
I Liga portuguesa
Sporting foi vencer àMadeira Página 31
Sequestros deixam Charallave em pânico Depois dos raptos que se verificaram em El Tuy (a 45 minutos de Caracas), a comunidade vive em constante ameaça. Não consegue continuar a lidar com os delinquentes e desespera por mais acção por parte das entidades policiais .
Luso-venezuelana participou nas Jornadas Mundiais, com o Papa. Página 10 Coimbra e as suas oito faculdades: saiba as ofertas da universidade mais antiga de Portugal. Página 24 e 25
Página 3
Negó cios do Centro Cursos Português fechados de português por dois dias em alta Seniat autuou 23 clubes, entre eles o CPC e a Irmandade Galega Página 32
Aumentou a procura nas universidades venezuelanas
Página 6 e 7
Portugal cria apoios para associações portuguesas de emigrantes Página 4
2 EDITORIAL
CORREIO DE CARACAS - 1 DE SETEMBRO DE 2005
O papel da polícia Director: Aleixo Vieira Subdirector Agostinho Silva Coordenação em Caracas Délia Meneses Coordenação na Madeira Sónia Gonçalves Jornalistas: António da Silva, Carlos Orellana Jean Carlos de Abreu, Liliana da Silva Nathali Gómez e Noélia de Abreu, Victoria Urdaneta Correspondentes: Ana Pita Andrade (Maracay) Bernardete de Quintal (Curaçau) Briceida Yepez (Valencia) Carlos Balaguera (Maracay e Valencia) Carlos Marques (Mérida) Sandra Rodriguez (La Victoria) Trinidad Macedo (Barquisimeto) Colaborações: António de Abreu, Arelys Gonçalves Janette Da Silva, Luís Barreira e Miguel Rodrigues Publicidade e Marketing: Carla Vieira Preparação Gráfica: Olga de Canha (DN-Madeira) Produção: Franklin Lares Fotografia: Paco Garret, Farith Useche
á alguns meses o medo instalou-se entre os portugueses que residem em Los Valles del Tuy, Charallave e Ocumare del Tuy. Os comerciantes falam com receio e vivem num desespero constante pensando que em qualquer momento podem ser vítimas de sequestro. A incerteza que se vive é grande e os proprietários dos estabelecimentos comerciais desconfiam até dos pró prios funcionários e dos seus empregados. Os nú meros são reveladores de uma situação preocupante, mas até ao momento não conseguiram convencer o Corpo de Investigações Científicas Penais e Criminais da importâ ncia de nomear uma divisão anti-sequestro que se dedique exclusiva-
H
mente àquela zona. É que, como se já não bastasse ter que lidar com os delinquentes, a comunidade é vítima de descoordenação policial, o que ainda torna mais difícil a situação e aumenta o desespero dos cidadãos. Por parte da comunidade lusa, através das nossas páginas, fica um apelo às autoridades da Embaixada de Portugal, para que visitem a zona e fiquem a par da situação. Como não compete à Embaixada pô r ordem no local, espera-se que os mais altos representantes portugueses na Venezuela consigam manifestar as suas preocupações junto das entidades venezuelanas, para que estas possam encontrar uma solução rápida.
A SEMANA MUITO BOM
O trabalho que tem vindo a fazer o Centro Social das Comunidades Madeirenses é de louvar. Parece que as comunidades portuguesas começam a ver os emigrantes e os filhos de emigrantes com outra cara. Durante os meses de Verão, dá-se muita atenção à comunidade lusa que regressa à origens e, através de iniciativas culturais, revivem-se várias tradições, como a matança do porco. Na Madeira, neste Verão, comemorou-se o Dia do Emigrante na freguesia da Ilha, em Santana, na Camacha, Ribeira Brava. O mesmo aconteceu em outras cidades do Portugal Continental. Bom sinal!
BOM
Como é que conseguiram entrar nos clubes, se não são sócios???
Distribuição: Enrique Figueroa Impressão: Editorial Melvin C. A Calle el rio con Av. Las Palmas Boleita Sur - Caracas Venezuela Endereço: Av. Los Jabillos 905, com Av. Francisco Solano, Edif. Torre Tepuy, piso 2-2C, Sabana Grande - 1050 Caracas. Endereço Postal: Editorial Correio C.A. Sabana Grande Caracas - Venezuela Telefones: (0212) 761.41.45 Telefax: (0212) 761.12.69 E-mail: correio@cantv.net URL: www.correiodecaracas.net Tiragem deste número: 10.000 exemplares
Mega Cartão Jovem Os eventos que propiciam o encontro das comunidades trazem quase sempre anúncios de iniciativas importantes. E foi isto mesmo que aconteceu no Encontro de Lusodescendentes, que decorreu em Leiria. O secretário de Estado aprovou o lançamento de um cartão que fará com que os jovens tenham descontos nas viagens e nos serviços mais procurados pelas comunidades portuguesas no estrangeiro.
O CARTOON DA SEMANA O Seniat fechou os restaurantes e as lojas dos clubes de Caracas.
Boa recepção
MAU
Recusas no lar
Temos recebido algumas queixas de pessoas que têm solicitado vagas no Lar de Terceira Idade Padre Joaquim Ferreira. Estes membros da comunidade ficaram surpreendidos quando, apesar do lar não estar cheio, receberam uma resposta negativa por parte dos responsáveis da instituição. Não queremos fazer-nos de juízes, mas a verdade é que o lema e a filosofia do projecto era precisamente "uma casa para todos", supostamente sem influências nem privilégios.
MUITO MAU
Sequestros
Parece que os sequestradores não querem dar tréguas à comunidade lusa. Os esforços das autoridades são substancialmente maiores e as coisas já estiveram mais mal paradas, pois agora pelo menos o Corpo de Investigações Científicas, Penais e Criminais tem conseguido apanhar alguns bandidos. Contudo, é preciso mais acção!
Fontes de Informação: DIÁRIO de Notícias da Madeira Jornal de Notícias Agência de Notícias LUSA O Correio de Caracas não se responsabiliza por qualquer opinião manifestada pelos colaboradores ou assinantes nos artigos publicados, garantindo-se, de acordo com a lei do jornalismo, o direito à resposta, sempre que a mesma seja recebida dentro de 60 dias. El Correio de Caracas, no se hace responsable por las opiniones manifestadas por los colaboradores o firmantes, garantizando, de acuerdo a la Ley, el derecho a respuesta, siempre que la misma sea recibida dentro de 60 días.
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Venezuela 3
Comunidade de Charallave sente-se ameaçada Jean Carlos De Abreu e Tábita Barrera Os sequestros converteram-se, nos ú ltimos quatro meses, na forma de delito mais frequente da região mirandina, ultrapassando mesmo os nú meros dos assaltos à queima-roupa. Actualmente, os raptos são a primeira violação dos direitos dos cidadãos da zona de El Tuy. A comunidade portuguesa tem sido a mais afectada. Nos ú ltimos meses, registaram-se cinco casos de raptos por parte de delinquentes organizados e todos os afectados são de origem lusa. O medo e a preocupação de sentir que a qualquer momento um deles pode ser a pró xima vítima dos sequestradores fez com que muitos portugueses que residem na zona de El Tuy contratassem serviços privados de segurança para resguardar as suas vidas e a estabilidade física dos negó cios. Comerciantes de Charallave afirmaram-nos que a causa principal dos sequestros é o facto deste ser um povo pequeno e, como tal, toda a gente conhece toda a gente. "Muitas vezes, somos vítimas de roubo dentro dos nossos pró prios estabelecimentos comerciais", diz o nosso interlocutor, que preferiu manter-se no anonimato. O problema reside também no facto de, conforme nos comenta outro emigrante luso, os portugueses às vezes andarem com muito dinheiro, "às vezes mais que nos pró prios bancos". Por isso, ganham a fama de terem muito dinheiro, quando na verdade muitas vezes são pessoas humildes que ganham para viver o dia-a-dia.
A possibilidade de ser raptado faz com que várias famí lias portuguesas que residem em El Tuy acordem e vão para a cama com medo AUTORIDADES NA ESCURIDÃO Falámos com comerciantes de todos os ramos de actividade que se desenvolvem em Charallave e todos, sem excepção, se queixaram da ausência de dispositivos policiais no sector, assim como da falta de empenho por parte das entidades responsáveis para conseguir descobrir o paradeiro das vítimas de sequestro. É que nem carros os polícias têm. Os vendedores da zona tiveram que procurar encontrar por si mesmos medidas de segurança, contratando serviços privados, abrindo mais tarde os negó cios e mudando os roteiros de regresso a casa, para fugir de eventuais suspeitos que os possam perseguir de carro. Acrescentaram, ainda, que se sentem humilhados porque as autoridades não respeitam os direitos destes dentro dos seus pró prios negó cios, pois - conforme nos asseguram pessoas da zona - a Polícia Municipal e a Polícia Estatal do Estado de Miranda têm-se se envolvido em divergências no que se refere à luta para manter o controlo da segurança no local. Outra modalidade de rapto que gera preocupação e que quase nunca se denuncia é a dos chamados "sequestros express". Já aconteceram várias vezes na
zona, mas felizmente nunca aconteceu as vítimas terem sido violentadas ou mortas. AJUDA DO GOVERNO PORTUGUÊ S O problema dos sequestros intensifica-se dia para dia e as autoridades consulares, segundo nos comentam os comerciantes, "brilham pela ausência". Os portugueses desta localidade pedem a presença em El Tuy do embaixador português na Venezuela, João Manuel da Costa Arsénio, para que este possa ajudar a propor algumas soluções à crise pala qual atravessa a comunidade lusomirandina. Pediram, ainda, que o embaixador Da Costa Arsénio solicitasse uma reunião com o vice-presidente da Venezuela, José Vicente Rangel, para que lhe possam apresentar a situação e pedir-lhe que visite El Tuy para tentar encontrar uma solução ao problema dos raptos, que afectou vários lusos (cerca de 90% do total de vítimas). Da mesma forma, a comunidade quer que as autoridades portuguesas façam antes uma visita por toda a zona del Tuy "porque estamos votados ao abandono e não se preocupam connosco, também portugueses, embora fora de Caracas". Pedem mais consideração e atenção porque estão a passar momentos deveras muito críticos e sentem que têm a vida em jogo. SOB CUIDADOS MÉDICOS Muitos portugueses e lusodescendentes estão a seguir tratamento médico por causa do nervosismo provocado pe-
los constantes roubos, furtos e sequestros que se têm verificado nos seus negó cios. Muitos dos delinquentes "são pessoas que já trabalharam connosco ou que conseguiram obter informações nossas através de antigos funcionários", asseguraram-nos vários comerciantes. Por isso, têm consultado o médico para fazer tratamento e controlar o "excesso de stress", mantendo-se "dopados" para evitar uma crise de nervos que possa agravar o seu estado de saú de ao sentir-se constantemente ameaçados. Férias, distracção e um comprimido debaixo da língua são as recomendações mais frequentes dos especialistas em saú de. Mas muitos pacientes ignoram as recomendações médicas, pois recusamse a abandonar os seus locais de trabalho porque, dizem, não podem deixar de controlar o movimento no negó cio e das pessoas estranhas que se aproximam. A Câ mara de Comerciantes e Industriais de Charallave, em nome dos 270 membros inscritos, pediram que se faça alguma coisa para solucionar a questão e acrescentaram que a Guarda Nacional Venezuelana, em Charallave, costuma hostilizar-se com os representantes desta associação, não os deixando passar com os camiões cheios de mercadoria. Agora, a comunidade mirandina del Tuy espera uma pronta resposta por parte das autoridades portuguesas, assim como uma maior coordenação dos corpos policiais da zona, o que possibilitaria um eficaz combate à delinquência organizada e uma redução da onda de sequestros.
4 VeNezuela
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Novos apoios para associações portuguesas de emigrantes Noélia de Abreu
noeliadeabreu@gmail.com
á foi publicado no Diário da Repú blica o novo regulamento de atribuição de apoios às associações portuguesas no estrangeiro. De acordo com a lei, podem candidatar-se aos apoios, para além das associações de emigrantes, grupos de cidadãos portugueses e luso-descendentes e outras entidades sem fins lucrativos. Devido à "grande importâ ncia" desta informação o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) - ó rgão de consulta do Governo para as questões da emigração - apelou, aos conselheiros para que divulguem junto das organizações de emigrantes o novo regulamento de atribuição de apoios às associações portuguesas no estrangeiro. Ignácio Pereira, Conselheiro representante da comunidade portuguesa da Venezuela, explica que estes apoios que oferece o Governo português vão estar
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O Conselho das Comunidades Portuguesas deixa um apelo aos seus membros para que divulguem a nova legislação. vocacionados para as áreas cultural e social. "Chegou o momento das associações estarem reunidas", sublinha Pereira. Segundo explicou o deputado do Partido Social-democrata, pelo círculo eleitoral fora de Europa, José Cesário, a intenção é criar um registo nacional de associações portuguesas no estrangeiro. Para fazer parte do mencionado registo, as associações devem cumprir um conjunto de condições, tais como ter um determinado nú mero de só cios, ter as contas em dia, apresentarem projectos perió dicos com determinadas características, etc. "A intenção é que esses grupos recebam apoio para a realização de contratos plurianuais que permitam uma maior estabilidade na consecução dos seus objecti-
vos", explica o deputado do PSD. REQUISITOS Para o efeito, passa a ser obrigató rio que as entidades candidatas estejam registadas junto da Direcção-Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas (DGACCP). As candidaturas deverão ser dirigidas ao secretário de Estado das Comunidades ou à DGACCP, podendo ser enviadas por via postal, Internet ou apresentadas junto das embaixadas e consulados. Os apoios poderão ser concedidos através de fornecimento de material, financiamento directo de iniciativas ou de acções específicas e financiamento parcial de determinados projectos. Segundo as novas regras de atribuição de subsídios, as candidaturas necessitam de um parecer consular obrigató rio. Os critérios de atribuição dos apoios passam a valorizar prioritariamente a qualidade dos projectos apresentados e a sua relevâ ncia e interesse locais. Para a concessão de apoios é obriga-
tó rio que os projectos ou acções estejam devidamente enquadrados no plano de actividades anuais da associação e seja apresentado um relató rio final sobre os resultados obtidos com a aplicação do financiamento concedido. Para os projectos com uma duração superior a três meses é obrigató ria a apresentação de relató rios mensais sobre o seu desenvolvimento.
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6 VenezuelA
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Aumenta a procura de cursos de português Liliana da Silva a Venezuela, cada vez surgem mais opções e alternativas para quem quer aprender a língua de Camões. Vários estabelecimentos de ensino acrescentaram o curso de português às suas ofertas para responder à grande procura que há no mercado. Para muitos, o interesse pela língua lusa tem aumentado porque as relações bilaterais entre a Venezuela e o Brasil estarem no auge. E, por isso mesmo, a Universidade Cató lica Andrés Bello abre os cursos de português pelo segundo ano consecutivo. O início das actividades escolares é em Outubro, quando cerca de quarenta pessoas vão
N
Universidade Católica Andrés Bello abre pela segunda vez cursos de lí ngua portuguesa começar o nível básico deste curso que tem uma duração de dois anos. Durante este tempo, os estudantes passam por quatro níveis: inicial, básico, básico-intermédio e intermédio, tendo cada um deles uma duração média de seis meses. Tendo em conta a necessidade e o desejo de muitos profissionais e trabalhadores em aprender esta língua, as aulas são leccionadas a partir das seis da tarde na Escola de Teologia da UCAB, cuja sede está localizada em Altamira. As sessões têm lugar uma vez por semana, às quartas-fei-
ras, e têm uma duração de três horas académicas. Nas duas primeiras horas de aulas, numa vertente mais teó rica, transmitem-se conhecimentos de gramática e pontuação. A ú ltima hora é dedicada à leitura. Cada pessoa selecciona o tema que lhe seja mais interessante e, com base nisto, faz leituras que para além de melhorar as suas habilidades linguísticas permitem ampliar a cultura geral. O aumento da procura deste curso tornou-se evidente no ano passado: quando se iniciaram as aulas tinha vinte alunos, mas no final do curso já estavam 40 inscritos. Refira-se que os cursos estão a ser ministrados por um preço bastante acessível, dez mil bolívares por mês. Os interessados devem contactar a sede da universidade, em Antímano.
Julgamento só um ano depois
Tribunal de Macuto adiou para 6 de Outubro o julgamento dos quatro portugueses e seis venezuelanos acusados de tráfico de droga. A sessão marcada para terça-feira 23 de Agosto foi adiada, pela juíza, para Outubro. Desta maneira, vai cumprir-se um ano desde que os quatro portugueses foram detidos, pois a apreensão teve lugar em Outubro de 2004. Com o adiamento, o
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Tribunal espera resolver alguns aspectos pendentes, entre eles a designação de defensores de alguns dos acusados que revogaram os poderes aos seus advogados e aguardam para nomear outros. Os quatro portugueses - três passageiras e o co-piloto Luís Santos - e os seis venezuelanos estão detidos há onze meses, altura em que a tripulação de um avião Citation X, segundo o Ministério Pú blico ve-
nezuelano, localizou e denunciou às autoridades a existência no aparelho de doze malas sem documentos alfandegários. As malas continham quase 400 quilos de cocaína que seria enviada para Portugal por via aérea. O adiamento - já houve mais de vinte desde a detenção - tem lugar numa altura em que decorrem as férias judiciais venezuelanas (de 16 de Agosto a 15 de Setembro).
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VenezueLa 7
Língua portuguesa em alta Amarú Araujo Villegas avillegas1@yahoo.com
cultura e a língua portuguesa são cada vez mais bem recebidas nas instituições universitárias da Venezuela. Não é só a Universidade Cató lica Andrés Bello que vai abrir em Outubro mais cursos de português devido à grande procura de alunos. Na Universidade Central de Venezuela a situação é semelhante. Os cursos de português são leccionados neste estabelecimento de ensino superior em nove níveis, cada um com uma turma de dez alunos, de onde se destaca uma importante presença de venezuelanos. Maria Gabriela Rodríguez é venezuelana e estuda português nos cursos da Escola de Línguas Modernas da
A
Universidade Central da Venezuela também oferece cursos de português em Outubro Universidade Central da Venezuela. "Gosto da língua portuguesa desde há muito tempo. E eu acho que a mú sica portuguesa e a brasileira são factores importantes no meu interesse por esta língua. A verdade é que não tenho uma relaç ão directa com a cultura portuguesa, mas conheço muitos autores portugueses que transmitem parte da vida portuguesa. A amizade de Portugal com a Venezuela também tem influenciado muito as nossas preferências. E por isso temos sempre algo de português em alguns nó s", diz. Por sua vez, Daniel Pereira tem 23 anos e é lusodescendente. Estuda contabili-
dade e português juntamente com Maria Gabriela. "A minha motivação é apreender a língua portuguesa sem vícios pois os meus pais estão há muito tempo a residir na Venezuela e praticamente misturaram as duas línguas", afirma. "Também acho que é muito importante conhecer muitas línguas por causa do â mbito profissional, assim como para partilhar parte da cultura dos meus pais", sublinha Pereira, assegurando não se sentir pressionado pelos seus pais, pois a decisão de aprender a língua de Camões foi uma decisão pró pria. "Acho que tenho uma vantagem para aprender a língua e a pronú ncia, pois os meus pais não têm mudado muito os costumes portugueses. Contudo, como eu já disse, misturam o espanhol com a sua língua principal, o que é natural atendendo ao
tempo que têm cá", sublinha. Quanto à unidade que existe entre os portugueses e os venezuelanos, Pereira pensa que estas poderiam limar-se ainda mais. "Acho que as relações que existem entre estas duas culturas não são profundas em termos comerciais e políticos. No entanto, não podemos esquecer que há muitos portugueses que vieram para a Venezuela e vice-versa e, além disso, são os que têm construído verdadeiros laços de amizade", lembra. "Estou muito satisfeito com a iniciativa de muitas organizações de ensino de línguas por terem incluído a língua portuguesa nos seus planos de estudo. Acho que é importante apoiar aqueles que não têm recursos para estudar, assim como os que não têm acesso às línguas no ensino pú blico".
Maria Gabriela Rodríguez
Daniel Pereira
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O que faz a diferenç a O Mercado de Quinta Crespo se caracteriza pela variedade de produtos que oferece e pela frescura das suas frutas, legumes, carnes e peixes.Na Semana Santa, o que mais procuram os consumidores é o peixe. Em Dezembro, o porco, o fiambre e os ingredientes para as "hallacas". Assim, em cada altura do ano há sempre uma maior procura de determinados produtos.Os portugueses, pela sua vez, podem encontrar os produtos que tanto lhe fazem lembrar a sua terra: o bacalhau, a espada preta, o porco, o chouriço português, o mel de canas, as couves, etc. Carlos Ponte
Quinta Crespo quer mostrar uma nova cara Noélia de Abreu
noeliadeabreu@gmail.com
Mercado de Quinta Crespo poderia definir-se como um mundo paralelo localizado em pleno centro de Caracas, no final da Avenida Baralt. Entrar nas suas instalações significa desconectar-se do mundo da economia informal que rodeia o mercado e do ruído dos autocarros que transitam por esta importante artéria viária para entrar em contacto com 700 concessionários distribuídos por vários sectores: carnes, peixes, frutas, queijos, verduras, aves vivas, víveres, frangos, charcutaria, hortaliças, cafés, matadouros de aves, comunicações e roupas. Não é difícil imaginar que quase que nos deparamos com um bocadinho de Portugal quando chegamos a este local. Segundo o seu presidente, Carlos Ponte, 60 a 70% dos donos dos estabelecimentos do mercado são portugueses. "Quase 50% deles são dos Canhas - Madeira". O resto pertence a venezuelanos e uma ínfima percentagem está nas mãos dos espanhó is, colombianos e peruanos. Apesar da infra-estrutura ser já dos anos 50, as direcções do mercado se têm encarregue de manter em bom estado as instalações. Contudo, o presidente da junta directiva que vai estar à frente do
O
60 a 70% dos estabelecimentos deste mercado são de portugueses e o presidente é madeirense mercado até 2007 explica que as autoridades portuguesas deveriam oferecer mais apoios aos cidadãos no estrangeiro, o que traria muitos benefícios aos comerciantes de Quinta Crespo. UM POUCO DE HISTÓ RIA Os terrenos onde está hoje o mercado pertenciam a uma quinta do presidente Joaquim Crespo e foram oferecidos ao município pelos herdeiros do ex-mandatário, sendo materializada a referida doação nos anos 1951 e 1952. Desde então, os portugueses marcaram presença, conta-nos Ponte, que recorda que na altura estes lusos trabalhavam no Mercado de La Pastora. Mas depois foram recolocados no final da Avenida Baralt. "Este terreno não pode ser vendido ou trespassado porque pertence ao povo. Destina-se à actividade comercial e assim vai ser ao longo dos anos", diznos o presidente. O que sim pode acontecer é que, mais tarde, se construa uma nova e moderna infra-estrutura ou que se façam remodelações, como acontece normalmente.
O presidente do município Libertador, Freddy Bernal, está a construir novas instalações numa grande parte da zona do estacionamento do mercado, com a finalidade de juntar 900 vendedores ambulantes. Sobre esta questão, Ponte comentounos que durante os oito meses em que foram construídos os pilares da estrutura as vendas no mercado desceram bastante porque nem toda a gente que vinha de carro conseguia estacionamento. PROJECTOS FUTUROS A actual direcção tenciona mudar o rosto do mercado. Pouco a pouco, têm sido introduzidos novos serviços como um centro de comunicações, uma farmácia, uma perfumaria. "Queremos continuar a trazer cada vez mais serviços para as instalações", refere. Outra ideia é recuperar a pequena praça que está junto ao mercado e que serve de zona de "contacto" com os vendedores ambulantes. Sobre isso, Ponte refere que "não temos necessidade de conviver com os comerciantes não legais, mas tentamos de qualquer forma ter boas relações com eles, mas mantendo sempre uma distâ ncia". A concorrência desleal dos vendedores ambulantes não é o ú nico problema que enfrentam os comerciantes do mercado. A regulamentação dos pre-
ços é uma determinação exigida pelo Governo que muitas vezes é impossível de cumprir, porque o "preço dos produtos que compramos ao maior já ultrapassa o preço estabelecido pelo Governo. Mas tentamos sempre cumprir a lei", diz. O Seniat e o Indecu também têm marcado presença no mercado. "Há um mês, fecharam quase todos os talhos e há um ano fecharam meio mercado. Como estes estabelecimentos têm passado de geraç ão em geraç ão, muitos nem sequer estão registados ou não estavam legais. Mas essa situação está a ser gradualmente corrigida". Para o presidente do Mercado, trabalhar em Quinta Crespo é uma tradição familiar. "Os meus tios e os meus pais tinham os seus negó cios aqui. Desde que cheguei à Venezuela, com dez anos, comecei a trabalhar com eles. Depois, quando fiz 18 anos, adquiri um estabelecimento para vender legumes. Aos 22, entrei em sociedade com a casa do bacalhau", conta-nos. O trabalho do mercado é forte, mas graças a isso Carlos Ponte pode oferecer uma melhor qualidade de vida às suas filhas de 4 e 7 anos. Mas confessa que não quer que elas trabalhem aqui. Prefere que estudem e façam uma carreira melhor.
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Luso-venezuelana participa nas Jornadas Mundiais de Juventude
Arelys Gonçalves
arelyscorreio@hotmail.com
heia de alegria e de um entusiasmo contagioso voltou da Alemanha Carolina Gonçalves, uma luso-venezuelana que, como milhares de jovens dos cinco continentes, teve a oportunidade de participar nas XX Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ 2005), que se realizaram na Coló nia, entre 16 e 21 de Agosto. Com um sorriso enorme e com as baterias bem carregadas, Carolina disse ao CORREIO que tinha experimentado uma das vivências mais significativas da sua vida. "Foi muito emocionante encontrar jovens de todo o mundo unidos pela Igreja e pela presença do Papa Bento XVI", disse, acrescentando que partilhou com pessoas de todas as cores e raças, "que se mostraram, todas, sensíveis e amorosas". E sublinhou: "Foi um momento para esquecer as tristezas e pensar melhor no futuro". A lusodescendente comentou ainda que foi muito surpreendente ver como se mobilizava um mundo inteiro pela unidade. No meio da violência e da crueldade que se vive em muitas partes do Mundo, ela ficou muito bem impressionada pelo encontro. "Foi muito bonito porque jovens peregrinos de todas as partes queriam conhecer um pouco de cada um de nó s", destacou. Para Carolina, foi emocionante receber abraços e beijos de tanta gente que a considerava mais do que uma pessoa isolada, um todo, pois representava um país. Por isso mesmo, para ela, a emoção não podia ter sido maior, pois estava ali em nome de vários países ao mesmo tempo.
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“ Foi uma experiência inesquecí vel ver jovens de todo o mundo que se mobilizaram em nome de Deus, do amor e da unidade” Filha de pai madeirense e mãe venezuelana, ela tem a mistura dessas duas culturas e a dupla nacionalidade. Além disso, por acaso não foi da Venezuela ou de Portugal que ela partiu para a Alemanha mas sim da França, onde está a viver há mais de um ano. Todas essas coincidências fizeram dela uma representação especial. "Para o grupo onde eu estava, eu era diferente porque representava três países ao mesmo tempo e eu gritava e cantava igual pela Venezuela, por Portugal e mesmo pela França. Era muito engraçado", disse. "Nos desfiles, quando passavam venezuelanos, os meus colegas gritavam 'aqui está uma compatriota'. E se eram portugueses, também os chamavam". No fim da anedota, o mais engraçado era a expressão dos conterrâ neos portugueses: "e então, o que é o que fazes aqui com os franceses?", perguntavam-me. Na verdade, a pergunta fazia algum sentido. Ela lembrou-se muitas vezes do refrão venezuelano "estar como barata em festa de galinhas" quando pensava na sua situação de emigrante. Mas também reconheceu que foi uma experiência inesquecível que associou às vivencias do seu pai quando chegou à Venezuela: "estou a compreender melhor o que pode ter vivido o meu pai como emigrante e agora tenho certeza de que para ele foi um processo de aprendizagem muito difícil, mas também muito interessante". No meio de tantas bandeiras, para ela
sobressaíam as da Venezuela e as de Portugal. "Eu gostei muito do grupo português que sempre estava bem identificado, com as suas bandeiras bem no alto e o dos venezuelanos, que também se destacaram, especialmente a jovem com aquele vestido tricolor que foi visto pelo mundo inteiro". A ilusão é reviver as experiências em 2008 na Austrália. No balanço, Carolina Gonçalves gostou imenso da mensagem que o Papa deu em espanhol sobre o amor e a sinceridade como ú nico caminho para encontrar Deus. "Aquela paz e aquela esperança que se respirava foi contagiosa para todos nó s", disse. Para além de algumas dificuldades de transporte e do frio que passaram durante a noite anterior à missa de domingo na clausura, ela ficou satisfeita ao ver tudo o que é possível ver com boa vontade. Em Coló nia, naquela imensidade de quase um milhão de jovens, admirou o comportamento respeitoso dos presentes. "Fiquei surpreendida por poder estar ao pé de tantas pessoas muito bem-educadas e colaboradoras e gostei de poder dormir tranquila sem medo de ser roubada, uma coisa que é quase impossível na Venezuela". À PROCURA DA COMUNIDADE Carolina Gonçalves é uma de tantos luso-venezuelanos que, apesar de terem estudado, não encontraram no seu país natal uma oportunidade digna para se desenvolver. Com estudos na área de Relações Industriais, parece não ter acertado pois normalmente este trabalho dá preferência aos homens. Entretanto, aproveitou para aperfeiçoar os seus conhecimentos noutras áreas, como na informática, primeiros socorros,
pastelaria, pintura e decoração. E até tirou alguns cursos de cabeleireiro. Com toda uma variedade de conhecimentos e a iniciação universitária na área da Medicina Natural, decidiu reviver os anos de adolescência do pai como emigrante e foi até Paris com a idéia de estudar francês. Deixar amigos e família foi muito difícil e, por isso, tentou procurar algum vínculo com a comunidade na França. Foi assim como descobriu a Paró quia São José das Nações, em Paris, que celebra uma missa franco-portuguesa aos domingos. Desde esse momento começou a assistir às celebrações, a fazer amigos e a descobrir que o segredo para sobreviver noutro país consiste em aprender a conviver. "Eu estava à procura da minha paró quia e da minha comunidade. E finalmente a encontrei", expressa. Depois de ter concluído as aulas de francês, Carolina optou por ficar mais tempo. Com tristeza nos olhos pela saudade que tem dos pais, irmãos e sobrinhos, confessa-nos que não quer voltar ainda. "Eu prefiro poupar, sinto-me mais ú til para a minha família desde aqui", assegurou-nos. Durante o dia, ela assiste às aulas de francês e à noite trabalha num restaurante cubano. Assim, alterna a vida numa esquisita e interessante mistura entre o som da mú sica tropical, a alegria do ambiente latino que a vincula ao espírito venezuelano e a prática da língua francesa. No fimde-semana, complementa a sua jornada com a participação na missa franco-portuguesa e nas reuniões da igreja com os jovens do JMJ que são parte da "família" que ela está a constituir aos poucos em Paris. Como muitos outros jovens, ela espera voltar à Venezuela, mas ainda não sabe quando.
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“ Abrir o Consulado de Maracaibo é prioridade” Consulado de Valencia. Isto até que seja designada a pessoa que vai dar continuidade ao trabalho do representante português. Contactado o cô nsul de Valencia, Rui á poucos dias foi publicada na Monteiro disse que estabeleceram como mais Gaceta Oficial a exoneração, por importante prioridade o restabelecimento das motivos de saú de, de Jesuino actividades da sede consular, no Estado Zulia. Brito, que assumiu até ao mês E, por isso, esperam poder abrir o consulado o de Julho o cargo de cô nsul honorário da ci- mais rapidamente possível. “ Trata-se contudade de Maracaibo. do de um processo relativamente longo e Com a sua saída, é preciso arranjar um subs- complexo nao sendo ainda possível antecipar tituto e neste momento o processo de selec- qualquer data para a inauguraç ão do novo ção de candidatos já está concluído, tendo sido Consulado Honorario” , declarou Monteiro. O funcionário esclareceu, também, que não seleccionados três portugueses. O cô nsul de Valencia, Rui Monteiro, ana- só a comunidade lusa pode candidatar-se ao lisou os currículos de três emigrantes: Antó - cargo de cô nsul, pois este cargo também ponio José Dos Santos, João da Silva Pereira e de ser ocupado por um venezuelano ou um Carlos Duarte Martins. Estes têm se reunido estrangeiros de outra nacionalidade. Não se deram a conhecer maiores detalhes com o cô nsul de Valencia para que este possa propor às autoridades portuguesas o candi- da eleição do novo cô nsul honorário de Madato mais apto ao cargo. Depois, o Governo racaibo porque se considerou que este era um processo interno. Contudo, Monteiro deixou português toma a decisão final. Uma vez que a sede consular está encerra- claro que o mais importante é trabalhar rapida, como cidadão particular, Brito vai poder damente para escolher o melhor candidato. receber as solicitações e enviá-las por correio ao Tábita Barrera
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Maracay comemora festa da Ponta Delgada Câ mara Portuguesa Venezuelana de Indú stria e Comércio do Estado de Aragua organiza a festa do Bom Jesus da Ponta Delgada, que tem lugar a 3 e 4 de Setembro na Casa Portuguesa deste estado. Caporven convoca todos os portugueses que residem na Venezuela para que assistam a este evento que oferece entradas gratuitas. O objectivo é que haja partilha num con-
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vívio onde vão ser servidas comidas típicas madeirenses, ao som de grupos folcló ricos. Antes, realiza-se a já habitual missa. Com a angariação de fundos que se espera fazer com a venda de comida madeirense, tenciona-se aumentar o fundo de poupanç a da Câ mara Portuguesa Venezuelana. Espera-se uma assistência de quatro mil pessoas, na sua maioria madeirenses.
O cônsul de Valencia, Rui Monteiro
12 HISTORIAS DE VIDA
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A nobreza do quotidiano António Ferreira Tavares Jr. La Esperanza
minha histó ria como emigrante começou no Brasil e, antes, em Lisboa, quando visitei o Conde de Águeda. De pequeno conhecia este nobre político porque, como outras crianças, trabalhávamos para ele na grande quinta vitícola que tinha, onde trabalhava também o meu pai e ele sim falava com ele. Sempre tive relações difíceis com o meu pai. Mas o Conde sempre soube servir de intermédio entre nó s. Primeiro, o meu pai levou-me a Lisboa para pedir ao Conde que interferisse a meu favor para eu não ter de cumprir o serviço militar. O Conde perguntou-me se eu não queria ter honra de ser homem e eu respondi que sim. O meu pai acabou por me deixar ir ao serviço. Depois, quis emigrar para o Brasil e o meu pai voltou a opor-se. Isso foi em 1952, já tinha eu uns 22 anos. Mas dessa vez me adiantei. Como não me davam a licença para sair, fui eu pró prio ter com o Conde. Quando lhe disse que não me davam a licença porque não havia barco para o Brasil, fartou-se de rir. No dia seguinte já tinha barco, aliás, tinha três à escolha! Cheguei ao Brasil a 23 de Fevereiro de 1952. Pouco tempo depois já tinha uma sociedade na Metalú rgica Batista, no Rio de Janeiro. Em 1958 dissolveu-se. Pensei então ir como turista para a Venezuela. Tinha amigos em Caracas e queria fazer-lhes uma surpresa. Fiz tudo sem os avisar. Fiquei surpreendido quando, no Consulado venezuelano, me disseram que, como estava ligado à área industrial, entrava com um visto provisó rio e que, se gostasse, podia ficar, passando a ter um registo definitivo. Nunca tinha tido um convite destes. Aceitei. Muitos dos meus amigos em Caracas eram ex-colegas de trabalho na construção de várias partes do Norte de Portugal. Eu era operário de obra e eles trabalhavam no mesmo. Desde o dia da minha
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chegada, a 23 de Março de 1958, insistiram para que ficasse. Mas a situação do país tornou-se crítica. O ditador Pérez Jiménez tinha caído. O ambiente estava esquisito, sobretudo para os estrangeiros. Foi uma época crítica porque éramos contratados para as obras de boca, ou seja, sem contrato assinado. Trabalhávamos e, na hora de receber, diziam-nos: "-Vai dizer a Pérez Jiménez que te pague!". Mesmo assim, a 1 de Junho comecei a trabalhar na distribuição de Coca-Cola para o Estado Falcó n. Eu trazia já uma licença internacional de condução que tinha trazido do Brasil. Seis anos depois, laborava como transportador de peixe. Por conta pró pria. Fazia o percurso Maracaibo-CoroPunto Fijo-Caracas. Um trajecto longo. Eram horas e horas na auto-estrada. Os meus anos de aventuras de solteiro ficaram por esses caminhos. Uma vez, arranjei uma noiva. Lembro-me que eu pesava
114 quilos. A ú ltima vez que a vi estava fechada, barricada nas quatro paredes e o tecto do "rancho". Sem querer, demos cabo do rancho… Mas eu queria tomar juízo. Tirei fé-
rias pela primeira vez em 1965. Mas regressei solteiro! Em Portugal só encontrei mulheres ou muito jovens ou muito velhas. Encontrei o amor da minha vida quando tinha 37 anos. Uma mulher que adorei e tentei fazer feliz. Era excelente bordadeira e comprei-lhe uma máquina. Criei-lhe condições para que trabalhasse em casa e desempenhasse ao mesmo tempo o papel de mulher e mãe. Tivemos uma filha. Juntos constituímos um lar e a casa onde agora vivo só , num sector denominado La Esperanza, na auto-estrada de Quiara. Dedico-me à agricultura e à cria de coelhos. Produzo vinho duas vezes por ano. Em 2005, obtive 70 litros em Fevereiro e 60 em Agosto. Uma insuficiência cardíaca fez-me perder a minha mulher mas, apesar de tudo, ela fez-me sentir que cumpri com o meu dever de homem, marido e pai. E de português, pois embora só tenha regressado à minha terra natal uma vez, nunca esqueci a minha pátria.
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Morreu português na miséria guir-lhe uma vaga no lar de terceira idade Padre Joaquim Ferreira, pois não havia nenoaquim Ferreira hum familiar que o pudesse Martins, natural de cuidar e ajudar nas suas neParedes, Porto, mo- cessidades mais urgentes. O rreu na semana pas- processo para ingressar o lar sada em condições de extrema não se concretizou e a morte pobreza. Morava em Caujari- surpreendeu o emigrante anto, em Charallave, a 45 minu- tes do esperado. Um acidente tos de Caracas. cérebro vascular (ACV) o deiO emigrante já estava a vi- xou praticamente imobilizado ver na Venezuela há 49 anos e provocou-lhe a morte em e estava acamado e incapaci- poucos dias. tado, não tendo também reA ú nica referência de alcursos para sobreviver. Neste gum familiar de Joaquim era ano, já tinha sido operado duas uma carta velha que este tinha vezes em diferentes hospitais, recebido em 1990, proveniente pois tinha problemas com a do Brasil, Rio de Janeiro. O repró stata e com o có lon. metente era a família Moreira Carlos Marques, um conte- Alves. rrâ neo muito ligado à comuPara além dos escassos renidade lusa de Charallave, tem cursos, o que tornava mais dioferecido apoio a outros por- fícil a situação do cidadão portugueses da zona que não têm tuguês era a sua convivência assistência. E também ajudou com a mulher, que era alcoó Ferreira Martins nos ú ltimos lica. "Joaquim estava fraco e tempos. muito débil. O seu principal O seu objectivo era conse- problema era falta de alimenDélia Meneses
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tação e de higiene, pois a sua mulher não o cuidava", contounos um vizinho da zona que ajudou o português nos seus ú ltimos dias de vida. Os custos com a funerária e com o funeral foram pagos entre vários portugueses da comunidade de Charallave, pois
o emigrante não tinha nenhuma poupança. "Fomos recolhendo dinheiro entre os vários conterrâ neos e a Academia do Bacalhau também nos ajudou. Havia também algum dinheiro na comissão que organiza a festa da Virgem de Fátima que se
estava a guardar para a realização de obras benéficas. Foi assim que conseguimos pagar o funeral", comenta-nos um comerciante português da zona. O emigrante tinha 78 anos e, antes de ficar doente, dedicava-se à construção civil.
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Mário Pereira vive na "sombra do medo" mas não abdica da alegria venezuelana
Levava o Jardim para a Venezuela Patrí cia Gaspar (DN - Madeira)
Aterrou na Venezuela, apenas, para fugir ao Ultramar. Hoje é empresário de sucesso e membro do Conselho das Comunidades Portuguesas. Mário Pereira viaja todos os anos à Madeira. Mas, a Pérola do Atlâ ntico resume-se, agora, a uma rota de passagem, um breve encontro com amigos e recordações de infâ ncia. Tem elogios de sobra e reparte-os entre as duas pátrias predilectas: a ilha cujo desenvolvimento é fascinante e "o melhor país do Mundo". Mário Pereira vive na sombra do medo. Ainda assim, jamais trocaria a alegria intrinsecamente venezuelana pela segurança que a Região oferece. "Se pudesse, levava o Jardim para a Venezuela. Três anos bastavam para ele melhorar uma série de coisas", brinca. Na Madeira de hoje, este emigrante admira, sobretudo, a melhoria da qualidade de vida e os acessos construídos. Actualmente, constata, até os sítios mais remotos têm boas
condições, supermercados e políticas de lazer. Não obstante a perda de alguma beleza paisagística, que o leva a preferir as estradas antigas, Mário Pereira não hesita em classificar o trabalho do Governo Regional como "maravilhoso". "A ilha está completamente mudada. Isto evoluiu muito e em todas as áreas", refere. O desenvolvimento regional não é, contudo, argumento suficiente para fazê-lo regressar
à terra que o viu nascer e Mário Pereira reconhece que para os jovens, nascidos na Venezuela, a adaptação à Madeira é, ainda, mais difícil. "Lá, apesar da insegurança, fruto da situação política, há muita animação, as pessoas têm mais facilidade em comunicar", explica. Outro dos estigmas que insiste em combater é a imagem generalizada dos emigrantes mal vestidos e incultos.
Mário Pereira é membro do Conselho das Comunidades Portuguesas
"Os descendentes de portugueses, residentes na Venezuela, são, actualmente, pessoas bem formadas: médicos, arquitectos, empresários", afirma. De passagem, Mário Pereira vai permanecer na Região pelo tempo suficiente para saborear algumas cervejas e recordar os trajectos que, em criança, percorria na companhia do pai. O regresso a Caracas é certo, apó s um breve matar de
saudades que se repete, ano apó s ano, no Verão. UM CASO DE SUCESSO Emigrou aos 17 anos por achar que o Ultramar era "uma pura perda de tempo". Certo de que qualquer destino seria melhor que a guerra, Mário Pereira abandonou Santo Antó nio com ideias postas num futuro melhor. "Obviamente, tive mais facilidades que outros emigrantes porque tinha família na Venezuela", refere. Em Caracas, formou-se em contabilidade. Passou, depois, pelo Desportivo Português, foi proprietário de um matadouro. Hoje, é dono de uma empresa de "handling". "No nosso melhor período, chegámos a ter 385 empregados", constata. Com duas filhas nascidas na Venezuela e boas condições de vida, o empresário considerase um homem de sorte e não tenciona, também, por isso, "trocar o país das oportunidades" pela ilha que deixou ficar para trás, em 1965.
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Unir o mundo musical lusó fono
Noelia De Abreu
noeliadeabreu@gmail.com
ão violinistas e nasceram em Barquisimeto, cidade onde fizeram os seus estudos musicais no seio da Orquestra Nacional Juvenil da Venezuela, criada pelo maestro José Antó nio Abreu. Depois, Ana Beatriz Manzanilla e Pedro Saglimbeni Muñoz mudaram-se para a Alemanha e a Poló nia, para a European Mozart Academy de Cracó via. Acabaram contudo por se radicar em Portugal, depois de receber um convite da Orquestra do Norte, em Guimarães. Ambos são licenciados em mú sica pela Escola Superior de Mú sica de Lisboa. Como membros do Quarteto Iberoamericano, se têm apresentado na Casa da América Latina de Lisboa, num ciclo de compositores deste continente. Também se apresentaram no Festival de Noto, na Sicília, Itália. No passado mês de Junho, juntamente com Quarteto Iberoamericano, participaram na apresentação oficial do "Guitolão", um novo instrumento que nasceu da união da guitarra portuguesa e o "violão", interpretado por Antó nio Eustaquio, nas ruínas romanas de Amaia, em Marvão, conselho de Portalegre. Actualmente, Ana e Pedro estão a fazer diligências para realizar um concerto em Caracas, que pretende dar a conhecer o "Guitolão" e, desta forma, juntar dois mundos musicais que têm muito para partilhar. Saglimbeni espera realizar
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este concerto com o Quarteto Ibero-americano em finais de 2005. Daniel morais, director do Instituto Português de Cultura e responsável pela cultura na Embaixada de Portugal na Venezuela, vai reunir-se com este par de artistas para analisar as possibilidades para a realização deste evento musical. TRAJECTÓ RIA DO CASAL Durante a temporada de concertos 2004-2005, Ana Beatriz Manzanilla actuou como solista com a Orquestra Gulbenkian, interpretando o concerto duplo de violino e violoncelo de Brahms. Estas actuações realizaram-se na cidade de Bragança e em Leiria e integravam o Festival de mú sica de Leiria. Recentemente, gravou um CD, o pró ximo que vai ser lançado, com a Orquestra "Vivaldianas", da qual é membro. Com a Orquestra Gulbenkian, participou nas voltas à Alemanha, França e Espanha. Por sua vez, Pedro Sanglimbeni Muñoz foi várias vezes solista na Sinfó nica Portuguesa. Há pouco tempo integrou uma volta à Itália como principal solista de viola na ó pera Arianne. Em Junho passado, participou na apresentação da obra "Le Marteu sans Maitre", no Museu Serralves do Porto. Sglimbeni lecciona na Escola Superior de Mú sica de Lisboa (Instituto Politécnico) e na Academia Metropolitana. Já deu cursos e seminários em diversos institutos de Portugal, como o Piaget e na Escola Superior de Mú sica do Porto.
O que vos levou a se fixarem em Lisboa? Decidimos conhecer o mundo musical europeu, pois estudamos na Venezuela e já conhecíamos o ambiente musical do nosso país. Quando conhecemos Lisboa e Portugal em geral, ficamos fascinados pela sua natureza e desenvolvimento cultural. Há sempre espectáculos musicais e teatrais. É uma capital cultural que nos cativou, apesar de não dominarmos a língua. Há uma mistura do latino com o europeu que nos cativou. Como encaram a Venezuela no plano musical? A Venezuela é uma potência musical reconhecida internacionalmente. Aqui temos muitos mú sicos de qualidade que têm conseguido demarcar-se, mostrando o seu talento ao nível internacional. Qual é o motivo da vossa visita à Venezuela? Viemos principalmente por questões familiares. Estamos em Barquisimeto, onde está a maior parte da nossa família. Mas tencionamos conseguir unir os aspectos musicais de Portugal e da Venezuela, pois actualmente estão muito separados. Quais são os vossos projectos futuros? Vamos continuar em Lisboa a dar aulas. Mas, tencionamos trazer nos finais do pró ximo ano um concerto diferente onde possamos dar a conhecer o "Guitolão".
CUltUra 15 BREVE Portuguesa lança revista dedicada à estética A portuguesa Cláudia Gomes é a responsável de um novo projecto editorial denominado "Silhueta, Medicina & Estética", revista mensal apoiada pela associação médica e científica, apresentada recentemente na sede da Federação Médica Venezuelana, em Caracas. A revista pretende levar à sociedade informação directa de especialistas e tenciona ser uma aposta para ser uma tribuna do público de cientistas e médicos. Natural do distrito do Porto, Cláudia Gomes, 34 anos, emigrou aos doze anos para a Venezuela, onde se dedica à publicidade e artes gráficas juntamente com o marido, o também português Norberto Nunes. Em declarações à Agência Lusa, explicou que a revista "surgiu porque sempre quis ter uma revista própria, dedicada à mulher, à medicina e à estética, com informação rigorosa e fiável, mas que ao mesmo tempo interessasse aos homens". "A revista dedica-se às mulheres, porque precisamos de estar bonitas, na moda, saber o que é que se pode comer e quando, que exercícios se devem fazer e quais as alternativas para ter uma vida saudável", diz. Quanto aos homens, neste primeiro número, fala-se sobre o coração, "porque geralmente bebem e comem muito e devem aprender também a cuidar-se", disse. Com uma tiragem de 30 mil exemplares, a "Silhueta, medicina & estética" é de periodicidade mensal, com secções especializadas em sexualidade, cirurgia plástica, nutrição, desporto, beleza, estética e dicas de saúde.
Ferreira de Castro: homenagem a 16 de setembro
O autor de Emigrantes e muitos outros títulos que anunciaram o neo-realismo português, será recordado pelo IPC a 16 de setembro, ocasião em que será projectado o filme A Selva, do cineasta Leonel Vieira. Será o momento propício para ouvir falar de quem foi o nosso autor mais traduzido e de ver o filme português que bateu recordes de assistência. Como emigrante, não deixe de assistir a este acto de homenagem ao escritor-emigrante, filho ilustre de Oliveira de Azeméis.
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Duas lusodescendentes violentas A peça de teatro produzida por Benjamí n Cohén e Viviana Iriart estreou-se a 1 de Setembro no Ateneu de Caracas Carlos Orellana
corellanacorreio@hotmail.com
sala Rajatabla do Ateneu de Caracas foi o cenário para a apresentação de "Violentos", uma peça de teatro original da escritora Ana Teresa Sousa, produzida por Benjamin Cohén e Viviana Iriart. Dirigida por Aníbal Grumm, a peça conta com o elenco de duas lusodescendentes, Flor Elena Gonçalves e Aileen Celeste Gomes. Também actuam Miriam Pareja, José Manuel Suárez, Saú l Marín, Guillermo García e Marco Alcalá. Os espectáculos começaram
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a realizar-se a 1 de Setembro e terminam a oito. "A peça de teatro toca o tema da violência urbana. Estamos a representá-la através das artes cénicas da realidade das cidades da América Latina, com os seus problemas sociais e até políticos", explicou-nos Gonçalves, que representa três personagens ao mesmo tempo: um cidadão, uma directora de uma instituição de acolhimento de menores e uma apresentadora de um "Talk Show" que apresenta este tipo de temas. Por sua vez, Celeste Gomes apresenta-se pela segunda vez no palco, depois da sua recente participaç ão da obra teatral "Llano Adentro".
Centro Portugues de Caracas
Primeira festa do Minho na Venezuela Um grupo de minhotos residentes na Venezuela vai realizar esta festa a 12 de Novembro de 2005, em horário nocturno. A festa visa reunir todos os minhotos num jantar convívio com espectáculo e baile. Os organizadores querem, através da imprensa regional e da rádio de ambos os distritos, anunciar a festa e os nomes da comissão fundadora da primeira Festa do Minho em terras de Simón Bolívar: José de Matos Barreiro Pereira (Arcos de Valdevez), Ana Luísa Pereira Marques, António da Costa Alves (Arcos de Valdevez), Joaquim de Campos Ferreira , Armando Carvalho Araújo (Barcelos), Francisco da Costa Brito (Vila Verde), António Ferreira Gonçalves (Vila Verde), Manuel Gomes Pereira, Álvaro Terças Vaz (Monção), Fernando Jorge Gomes Rodrigues (Guimarães) e António Calçada do Poço (Caminha). Esta festa vai ser realizada no Centro Comercial Los Campitos, piso 4, Salão Los Campitos, Prados del Este, às 19h30.
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PROGRAMA DO MES DE SETEMBRO 2005 Sexta-feira 16 Obra Cinematográfica IPC, "A Selva" Lugar: Salão Nobre Domingo 25 Festa das Vindimas Lugar: Esplanada / Area da piscina Sexta-feira 30 Festa do Regresso às aulas Lugar: Parque infantil, Organizada pelo Comité de Damas Sexta-feira 30 Festa do Regresso às aulas Lugar: Salão Nobre Organizada pelo Comité Juvenil A destacar, no mês de Outubro: Domingo 02 Grande Quermesse Hora:Organizada pelo Comité de Damas Lugar: Esplanada / Area da piscina
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Montalbán tem "Alma Lusitana"
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Portugal recebe "Escrava Isaura" o passado dia 17 de Agosto, pisou o chão venezuelano a actriz brasileira Bianca Rinaldi, que interpreta o "remake" de La Esclava Isaura, uma telenovela que se transmite na Venezuela através do canal Venevisió n e que, segundo comentou o seu manager e marido, Eduardo Menga, vai ser estreada brevemente em Portugal. "Quando saí do Brasil para vir para a Venezuela, disseram-me que na pró xima semana estaríamos em Portugal, mas lamentavelmente ainda não sei para que parte do país vou", comentou. Rinaldi chegou a Venezuela para
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promover a nova versão de La Esclava Isaura. Produzida pelo canal brasileiro Record. No seu espanhol quase perfeito, disse que tinham assumido o desafio de protagonizar esta telenovela que, na sua primeira versão, em 1976, foi muito difícil. As personagens principais foram na altura personificadas pela actriz Lucélia Santos e o actor Rubens de Falco. “ A imprensa do meu país é muito exigente e, no início, só viam a produção com um espírito muito crítico, pretendendo compará-la com a anterior. Contudo, acabaram por ver que o nosso estilo era pró prio", disse.
Richard Pereira quer ser Mr. Handsome Jean Carlos De Abreu
deabreujean@hotmail.com
medida que o interesse pelos costumes e tradições lusas se enraízam numa comunidade ou ganham adeptos de pessoas que sentem uma atracç ão por um país rodeado de histó ria, começam a surgir vários grupos folcló ricos portugueses. Lusodescendentes e pessoas sem ascendência lusa mostram-se cada vez mais interessados em criar novos grupos de mú sica típica portuguesa, por "hobbie" ou porque têm relação desde a infâ ncia com filhos de emigrantes lusos que chegaram à costa venezuelana. "Alma Lusitana", de Montalbán, foi criado a 16 de Maio de 2001 pela mão de vários jovens descendentes de portugueses e por portugueses que chegaram há já a algum tempo à Venezuela. A direcção do grupo, constituída por lusos que residem no sector de Montalbán, escolheu esse nome para os diferenciar de outros grupos que existem na cidade capital. José Humberto de Abreu é o actual presidente do grupo e foi um dos precursores da ideia. "Não foi fácil arranjar a equipa, mas com o passar do tempo as esperanças aumentaram e depois conseguimos pô r a mú sica ao vivo", declara-nos o líder do grupo. Desde então, "Alma Lusitana" começou a participar nas comemorações portuguesas que se organizavam nas periferias de Caracas. A sua primeira apresentação oficial perante o pú blico foi no "Poliedro de Caracas". O grupo interpreta vários temas e dança-os, entre eles os da região de Nazareth, que são danças meló dicas e de ritmo lento. Humberto de Abreu informou-nos que os modelos dos trajes típicos "foram feitos na Venezuela pela sua mul-
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O grupo folclórico mais jovem da capital é constituí do por portugueses e venezuelanos que sentem uma grande atracção pela música tí pica her, através de fotos que foram enviadas de Portugal. Ela e outro membro do grupo demoraram dois meses a confeccionar a vestimenta de trinta pessoas que constituem o grupo", diz. "Alma Lusitana" tem 17 pessoas na dança, sendo dez mulheres e sete homens. No grupo há cinco venezuelanos "que não costumem faltar nunca porque sentem alguma atracção pelos costumes portugueses", pois desde pequenos alguns deles tiveram vínculos com os lusos e os seus descendentes. Os altos custos das equipas de som são uma das limitações do grupo, que às vezes não consegue ensaiar pela ausência destas equipas. QuEBRAR A ROTINA "Os sacrifícios feitos pelo grupo têm valido a pena porque somos um grupo jovem. Os nossos rapazes são os que mais desfrutam do grupo porque fazem outras actividades diferentes às do dia-a-dia", acrescentou Humberto. Como projecto imediato, o presidente do grupo pretende mandar trazer de Portugal novos modelos de trajes folcló ricos para acrescentá-los ao vestuário do grupo, pois tenciona mostrar as diferentes vestimentas tradicionais que existem no país ibérico. Os ensaios realizam-se às terçasfeiras, às quintas e às sextas na igreja "Nossa Senhora da Visitaç ão", em Montalbán, onde o pároco do sítio sede as instalações daquela instituição religiosa para o grupo ensaiar. No pró ximo dia 9 de Outubro, "Alma Lusitana" vai participar no Festival de Folclore Português que se realiza no Clube Hispano de Los Teques, Estado de Miranda.
á um ano, a Venezuela desfrutou do triunfo do venezuelano Juan Hilário Pérez no exterior, ao se consagrar como o primeiro crioulo a obter o título de Mister Handsome International, embora o concurso com sede em Santo Domingo, Repú blica Dominicana, já exista há oito anos.
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Neste, mais de 35 países competem todos os anos para eleger o homem mais "bom moço" ao nível internacional. Richard Pereira é o ú nico lusodescendente, de avó s madeirenses, no certâ men. Este rapaz alto, de 1,86 metros de altura, é técnico superior de Mecâ nica Automó vel.
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Santa Cruz O portal da Madeira
de visitá-lo. Embora ainda não tenha sido feita uma campanha promocional do local, a onsiderado o portal da verdade é que a adesão das pessoas é Madeira, o concelho de muito positiva, realçando-se o facto de Santa Cruz situa-se na cos- cerca de 30% dos utentes serem de orita leste da ilha, a cerca de gem estrangeira, conforme publico re18,6Km da capital. É nele que se locali- centemente o Diário de Notícias da za o Aeroporto Internacional da Ma- Madeira. deira. Com uma interessante área de diSanta Cruz tem cerca de 30 mil ha- versão, de onde se destacam tobogãs, bitantes e oferece aos visitantes uma piscinas e rios, onde os utentes se posérie de recintos de praia que vale a dem divertir, o acesso do Aquaparque pena visitar. de Santa Cruz, que abre as suas portas O mais recente complexo construí- às 10h00 e fecha às 19h00, custa cinco euros aos adultos e três euros às crianças dos 6 aos 13 anos. No interior do Aquaparque, as pessoas têm acesso a todas as atracç ões do local. Naturalmente, apenas o serviço de snack-bar, com café a 0,60 cêntimos e refrigerantes a um euro, tem do no concelho é o Aquaparque, o pri- necessidade de pagamento suplemenmeiro parque de diversões aquáticas da tar. Região. Este espaço está a ganhar cada Este espaço conta com cinco escovez mais adeptos e regista uma média rregas, quatro pistas rápidas e outros de visitantes bastante alta: cerca de 800 tantos tanques de recepção, duas pispessoas por dia. cinas (uma delas reservada aos mais peO Aquaparque foi aberto ao pú bli- quenos), um rio lento, um bar e balneco em Março deste ano e a sua aceita- ários ção foi tão boa que mesmo nos dias em Dotado de uma enfermaria, que que o sol não brilha intensamente os conta com o serviço permanente de madeirenses e os turistas não deixam um técnico de saú de, 15/20 vigilantes, Sónia Gonçalves
sgoncalves@dnoticias.pt
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Em Março, foi criado no concelho de Santa Cruz um Aquaparque que é visitado diariamente por uma média de 800 pessoas, residentes e turistas.
cuja responsabilidade é a de manter a limpeza e o "bom comportamento" das pessoas, assim como 3/4 nadadores-salvadores, a segurança e o asseio são outros "trunfos" do Aquaparque de Santa Cruz. Mas para além desta nova atracção de Verão, o município tem outras praias e piscinas que vale a pena visitar. Mesmo ao lado do Aquaparque, na Ribeira da Boaventura, há um complexo balnear composto por duas piscinas, solários, balneários e uma esplanada. O Complexo Náutico da Ribeira da Boaventura engloba ainda uma pequena baía protegida, situada entre a zona náutica e as piscinas, facultando o acesso ao mar. Neste concelho, vale ainda a pena fazer praia noutros sítios, como na Praia das Palmeiras e na Praia dos Reis Magos. Em Santa Cruz, encontra-se a freguesia da Camacha, que é internacionalmente conhecida pelo seu folclore, bem como pelas suas obras de vimes. No Centro de Artesanato o visitante encontrará todo o tipo de peças de decoração e mobiliário, produzido em vimes. Também merece uma visita a Casa da Cultura de Santa Cruz. Nesta casa, a arte toma forma e cor. Aqui se apresentam, ao longo do ano, variadas exposições culturais, a maioria delas de artes plásticas que realçam as obras de artistas regionais e outros.
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Portugal bem colocado no desenvolvimento internacional Portugueses queriam que escudo voltasse conclusão surge expressa numa sondagem levada a cabo pela Marktest para o Semanário Econó mico, a qual aponta ainda as mulheres como o sexo que mais saudades dizem ter da velha moeda nacional - 57,4%, contra 42,1% dos homens. Na separação entre Grande Lisboa e Grande Porto, são os lisboetas que se mostram mais saudosistas do escudo (51,4% contra 47,8% dos portuenses).
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ortugal ocupa a 13.ª posiç ão no índice anual de empenho no desenvolvimento internacional, divulgado na edição de Setembro/Outubro da revista norte-americana Foreign Policy, que inclui 21 países considerados ricos e é liderado pela Dinamarca. Este índice, que conhece agora a terceira edição anual, é elaborado em parceria com o Center for Global Development e visa quantificar o impacto das políticas dos países ricos nas pessoas pobres dos designados países em desenvolvimento. Os autores afirmam que o índice "lembra que a redução da pobreza nos países em desenvolvimento é muito mais do que dar dinheiro", envolvendo várias políticas. O resultado final dos países resulta da ponderação do seu desempenho em sete áreas, a saber, ajuda externa, comércio, investimento, migração, ambiente, segurança e tecnologia. Os indicadores privilegiam mais a atitude política que o impacto absoluto.
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Por exemplo, os EUA dão mais ajuda externa que os Países Baixos, mas muito menos quando relativizado pela dimensão da economia. Portugal apresenta como melhor resultado um 3.º lugar, correspondente ao seu desempenho ambiental, onde se pretende aferir a contribuição dos países ricos para o aquecimento global e a deterioração ecoló gica. Na vertente da segurança, o índice premeia os contributos para operações humanitárias e de manutenção de paz e penaliza as exportações de armas a governos pobres e não-democráticos. Aqui, Portugal apresenta como principais argumentos as "contribuições pessoais e financeiras significativas" nas operações de estabilização da Bó snia e do Kosovo e o facto de não exportar armas para aqueles clientes. Como debilidade surge a inexistência de protecção de linhas marítimas por parte de Portugal. Na ajuda externa Portugal
surge em 14.º lugar, sendo penalizado pelo fraco volume desta ajuda expresso em percentagem do produto interno bruto (0,24 por cento) e pela quantidade de fluxos privados atribuíveis a incentivos fiscais. PIOR NA POLÍ TICA MIGRATÓ RIA A pior classificação é contudo a respeitante à política migrató ria, em que Portugal surge no 21.º , ou seja, o ú ltimo lugar. Para esta posição contribuiu o pequeno aumento durante a década de 90 de imigrantes desqualificados oriundos de países em desenvolvimento, o pequeno nú mero de imigrantes destes países que entraram em Portugal em 2002 e o facto de o País assumir uma pequena quota de refugiados durante as crises humanitárias. No conjunto da amostra, Portugal é um dos que mais melhora a sua situação, ao elevar a sua média em meio ponto para 4,9, integrando- se na tendência de melhoria com 14 dos 21 países a subirem a pontuação de 2003 para 2005 e quatro a baixarem.
No entanto, ainda de acordo com o estudo, as saudades parecem não passar de "afectos perdidos", uma vez que a grande maioria dos portugueses (79,1%) identifica já o euro como sendo a sua moeda nacional, com os nú meros a serem muito idênticos, quer na divisão por sexos (79,2% dos homens e 79,1% das mulheres), quer nas separações entre a Grande Lisboa e o Grande Porto (77,4% dos lisboetas e 82,1% dos portuenses).
Inventário do vinho do Porto Santo Câ mara Municipal do Porto Santo está a equacionar a realização de um levantamento com o objectivo de esclarecer a realidade da cultura de vinho na Ilha. O levantamento pretenderá esclarecer a dimensão da área afecta à produção de uvas para vinho, nú mero de pessoas empenhadas na cultura e verificar ao mesmo tempo que tipo de castas estão a ser utilizadas ou se novas foram introduzidas. Segundo adiantou ao DIÁRIO o vereador da Cultura daquela Autarquia, Ricardo Pestana, no mesmo dia em que começaram as festas da vindima, o levantamento teria também o mérito de conseguir "reunir toda a informaç ão que se encontra dispersa a respeito do vinho de forma a unificá-la num estudo", sendo
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que, posteriormente, este poderia dar origem a um livro. Ao mesmo tempo, acrescentou o autarca, o estudo, que seria complementado com uma componente histó rica e científica, até poderia servir para melhor a cultura do vinho do Porto Santo. Nú meros não oficiais, dado que a grande maioria é para consumo doméstico, observa o vereador, apontam para uma produç ão anual, dos vários vinhos do Porto Santo, na ordem dos 120 mil litros. Mas como o nú mero de pessoas interessadas em se dedicar à agricultura vem diminuindo de ano para ano, torna-se necessário prevenir contra o desaparecimento da cultura do vinho na Ilha através de acç ões que incentivem a sua continuidade.
20 PORTUGAL
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Oportunidades perdidas no Porto do Funchal
tó rio de escala das embarcações que atravessavam o Atlâ ntico, as opções políticas e econó micas tomadas ao Porto do Funchal longo dos anos fizeram com que fosse no contexto do Sis- perdendo terreno, nomeadamente patema Portuário In- ra os portos de Canárias. sular Regional" foi Ao contrário de nó s, o governo eso tema da tese de doutoramento de Jo- panhol fez grandes investimentos nas ão Figueira de Sousa, um dos conco- principais infra-estruturas portuárias rrentes à ú ltima edição do Prémio Zar- do arquipélago, ao mesmo tempo que co. lhes concedeu o estatuto de Portos O professor universitário realizou Francos, tornando-os muito mais atracum vasto trabalho sobre aquele que tivos para a navegação, face aos baifoi o trajecto histó rico do Porto do xos custos portuários, desviando assim Funchal, o qual pode facilmente ser os tráfegos do Funchal para Canárias. traduzido numa série de oportunidaParalelamente, o Porto do Funchal des perdidas. também nunca se adaptou às inovaçõOu seja, apesar do Funchal ter si- es operadas na navegação, deixando, do, durante séculos, um ponto obriga- inclusivamente, de poder abastecer os Raquel Gonçalves (DN - Madeira)
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barcos com "ó leos combustíveis". Tudo porque as obras de ampliação e modernização do porto, necessárias a garantir esse abastecimento, tardaram em concretizar-se e ficaram sempre aquém do desejado, fazendo com que as grandes linhas de navegação internacional deixassem de escalar o Porto do Funchal, que ficou apenas com o tráfego local de mercadorias e os navios de cruzeiro. João Figueira de Sousa entende que agora está na hora de salvar o que resta: os navios de cruzeiro. Para tal, é preciso agir com bom senso, e seguir uma estratégia que deve envolver não apenas as autoridades portuárias, mas também o turismo e a cidade do Funchal.
Factura pesada nos meios aéreos ortugal continua a arder e a manter no ar os 47 meios aéreos alugados pelo Governo para o combate a fogos florestais custa, em média, mais de 266 mil euros por dia. Um valor que não inclui as despesas dos dois helicó pteros alugados a longo prazo (por três anos, que terminam em 2006) e que peca por defeito, já que o valor estimado inicialmente sobe à medida que vão sendo feitas horas extraordinárias. Apesar de estarem orç amentados cerca de 24 milhões de euros para meios aéreos, esse valor será seguramente ul-
P
trapassado porque, como explica Ilídio Rodrigues, assessor de Aeronáutica do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil, o nú mero de horas de voo postas a concurso já foi excedido. Os gastos vão disparar exponencialmente este Verão, estando muito acima dos pagos em anos anteriores, que nunca atingiram sequer os 19 milhões de euros. Os contratos de meios aéreos jogam com a combinação de duas premissas - a disponibilidade por um período prédefinido, que, na generalidade das aeronaves, é de 90 dias - e a realização de um determinado
pacote de horas. No caso, se um concurso prevê a contratação de seis aviões ligeiros, por exemplo, interessa a soma de horas, independentemente de cada um fazer menos ou mais. Caso o pacote seja excedido, além do preç o ajustado, passa a ser aplicável a cobrança de um valor extra por cada hora de voo - que, segundo as cláusulas dos concursos, não pode nunca exceder os 60% do custo horário do contrato-base. Isto porque, já que têm de ter disponibilidade permanente, as empresas vão tendo menos gastos à medida que aumentam as horas operadas.
A ú nica excepção vai para os dois "Canadair" contratados, já que, neste caso, o Estado paga um preço apenas pela garantia de disponibilidade e, a partir daí, um valor fixo por hora de voo, independentemente do total que venha a ser contabilizado no final do Verão. A despesa com meios aéreos tem vindo a subir quase anualmente, mas bate este ano todos os recordes. Em termos médios, a factura representa sensivelmente metade dos gastos totais no combate a fogos. Inferiores, mas aproximados e com subidas exponenciais, são
os custos com os grupos de primeira intervenção. Despesas extraordinárias, como a reposição de material destruído no combate, combustíveis ou alimentação de bombeiros acabam por ser residuais na contabilização global. Analisando, por hora, os custos de cada meio aéreo, é fácil perceber as razões da pesada factura. Os mais baratos são os aviões ligeiros (pouco mais de 1200 euros por hora), mas os meios pesados chegam a custar mais de cinco mil (helibombardeiros) ou mesmo 6600 euros (estimativa para os "Canadair").
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22 OPINIÃO
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Olhos para sentir
Respeito pelo público
Amarú Araujo Villegas avillegas@yahoo.com
m livro é um compêndio de páginas, parágrafos, orações, palavras, letras e ideias. Cada um destes elementos se mistura para gerar histó rias nuas com pingos de sensibilidade humana, como no caso de "Ensaio sobre a cegueira", de José Saramago. O autor apresenta o lado primitivo do homem, as suas debilidades e os temores contra os quais deve lutar para sobreviver num mundo feito para os olhos, num mundo que pouco a pouco se vai tornando branco em vez de preto. Já muitos de nó s somos parte da histó ria que conta o Saramago. A cegueira branca representa, para mim, uma cegueira espiritual que se espalha em forma de vírus sobre todos aqueles que, por alguma razão, têm perdido as esperanças. Para nó s a visão é o principal sentido. Com a visão reconhecemos as pessoas, percebemos as cores e identificamos a maioria dos objectos. No entanto, muitas vezes vemos com a consciência e com o coração quando os olhos não são suficientes. Acho que Saramago não precisou duma imaginação tão aguda para conceber a idéia da cegueira. Em todas as ruas, em todas as avenidas, em todos os recantos há cegos, mas não são cegos por uma deficiência física senão cegos de espírito, cegos de alma e cegos de fé. São os piores cegos aqueles que
Noélia de Abreu
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noeliadeabreu@gmail.com
com olhos não vêem o mais ó bvio e o mais básico da condição humana, mas Saramago é mesmo optimista quando apresenta uma cegueira branca. A cegueira branca está carregada de esperança e dá uma idéia de reflexão para os que achamos que a cegueira voluntária é o primeiro passo da indiferença. Para muitos, aquilo que não se vê não existe e é por essa razão que é fácil esquecer que há um mundo subterrâ neo em torno de nó s há pobres, ricos, pessoas que sofrem, meninos que morrem de fome e que por serem diferentes de nó s e da nossa realidade ficam nos recantos esquecidos da vida. Agora a pergunta é: somos cegos ou indiferentes?
Medo da razão António de Abreu Xavier (Historiador) aindax1@yahoo.com
inguém esconde e não há razões para tal. Quase toda a gente visita de vez em quando uma massagista ou um curandeiro. Estes actos de fé fazem parte de todo um momento histó rico que serve para valorizar a nossa posição quanto ao futuro. Contudo, embora Portugal esteja a caminhar a passos largos para a modernidade e os seus emigrantes se formem no exterior, ampliando a sua mentalidade cosmopolita, restam algumas práticas sociais, chamemo-las metafísicas, muito bem enraizadas. Para além das já tradicionais superstições sobre gatos e cães pretos, caminhar debaixo de uma escada, derramar o sal ou entrar num lugar pela primeira vez com o pé direito, nada consegue causar mais pâ nico que mencionar o nome do senhor das trevas. E destes casos em Portugal há muitas histó rias. Uma dela a conta Laure Sainte Marie, duquesa de Abrantes. No Outono de 1806, em Lisboa, foi pressa Ma-
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ria da Pena, uma vendedora de castanhas na rua. Era acusada de bruxa e a sua histó ria tem interesse pela imaginação despoletada na acusação. O que aconteceu é que um soldado, cabo da polícia militarizada de então, acostumado ao álcool, incomodou bastante a Maria durante uma noite. A vendedora não podia mais tolerar as insuportáveis piadinhas e insinuações do agente e, por isso, recusou-se a continuar a aturá-lo. Pediu-lhe então que não continuasse com a brincadeira e ameaçou que ia pedir ao diabo que o fizesse pagar durante toda a sua vida pelo atrevimento. A partir de então, tudo se complicou para Maria. O cabo caiu ao chão quando ia responder-lhe e ficou desmaiado inconsciente. De imediato, depois de ouvir os rumores de tal feitiço, os guardas do Grande Inquisidor vieram prendê-la. Pela sua parte, o Conde de Novíon, chefe da polícia, concordou com a decisão, determinando: "mentar al diablo en Lisboa y en voz alta es un sacrilégio". Apresentou-se também um médico para examinar o corpo do polícia. Depois de observá-lo, o especialista determinou o estado de embriaguez do cabo. A causa da morte? É que com a bebedeira que tinha e por causa da rua ser imperfeita, tropeçou e levou uma pancada no cérebro, contra uma pedra. A razão tinha falado, mas apesar disso foi acusada de feiticeira e ficou um mês na prisão. E muito mais tem conseguido o medo ao diabo!
Normalmente, quando vamos a um evento humorístico ou musical, desejamos afastar o stress e deixar para trás os maus momentos do dia, da semana ou do mês. Mas muitas vezes as nossas expectativas não chegam a cumprir-se por motivos alheios ao talento dos artistas. No passado 12 de Agosto, muitas pessoas contavam os dias para assistir à grande apresentação do Conde del Guácharro no Centro Português de Caracas. Como acontece nestes eventos, apresentam-se normalmente outros artistas que actuam antes da grande atracção da noite. O que gerou algum desconforto ao pú blico foi a quantidade de grupos que "animaram" a noite, num evento marcado para as 20h30, mas que só começ ou às 23h00. Embora o atraso seja característico destes shows, o que não pareceu muito agradável aos assistentes foi o tempo que demorou em palco cada um dos participantes. Esta situação poderia ter sido evitada se fosse reduzida a quantidade de artistas ou, em ú ltimo caso, estabelecido um tempo limite em cena para cada grupo. Todos compraram as suas entradas para apreciar os comentários do "Conde", mas a noite tornou-se mais longa do que o previsto. O descontentamento do pú blico era evidente à 1h30 da manhã, quando já se viam pessoas a bocejar e, quase que em desespero, a gritar "conde", "conde", "conde". E muitos foram embora sem ver o show pelo qual pagaram... O descontentamento não tem nada a ver com os grupos que se apresentaram antes do Conde del Guácharo, inclusive fiquei muito surpreendida com o show que ofereceu Euler, pois conseguiu captar a atenção de um pú blico cansado, à uma da manhã, conseguindo misturar humor, profissionalismo, imitações, canto, etc. Por isso, a minha crítica construtiva vai para os organizadores do evento, que deviam ter pensado nas horas de espera e evitado uma demora tão grande para apresentar o Conde del Guácharo. Acho que o pú blico merece tanto respeito como os artistas que se apresentam em cada show. Por isso, um evento deve ser organizado para que todos desfrutem e todos saiam beneficiados. Acho que, apesar de tudo, os que decidiram esperar e ficar até ao fim conseguiu tirar algum proveito do espectáculo.
OPINIÃO 23
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caRTas dOs leITORes Jogos tradicionais Gostaria de sugerir ao vosso jornal que promovesse jogos tradicionais que muito têm a ver com a nossa identidade e cultura e que seria de grande interesse para mostrar também aos nossos filhos e netos como brincavam os seus antepassados. Acho oportuna esta sugestão sobretudo numa época em que todos vivemos preocupados em satisfazer os desejos e os caprichos orientados, sempre, num consumismo arbitrário. Jogos de Internet, brinquedos tecnoló gicos, máquinas inteligentes, filmes infantis cheios de monstros e violência, etc. Na minha época de infâ ncia, sinceramente tive a mais feliz infâ ncia do mundo, apesar dos escassos recursos econó micos da minha família. Brinquedos comprados somente quando algum familiar da Venezuela nos visitava em Portugal e nos levava uma prenda. Por exemplo, as bolas eram feitas de meias para brincar à "casquinha", algumas vezes organizávamos campeonatos nas estradas (os carros que por ali passavam eram poucos) e a bola era uma garrafa de ó leo que, muitas vezes, nos golpeava duro no corpo quando a mesma levan-
Redescobrir a Madeira tava em zig-zag e nos atingia de bico. Lembro-me que brincávamos com vizinhos e amigos um pouco mais adultos ao jogo do anel que, por certo, só agora compreendo o significado que tinha para os " engates" e os namorados da altura. O jogo da bilhardeira, com os paus, embora se fosse hoje em dia não deixaríamos os nossos filhos brincar devido ao perigo que um pau pode ser se os atinge na cara. Mas aprendíamos reflexos, por certo parecidos aos que se aprendem no basebol. Jogávamos à "pilhagem", aprendíamos a correr, a esquivar, quase sempre sem sapatos. Jogávamos também à barra, um jogo entre vários amigos de concentração e união de grupo, e ao "lá vai a obra", um jogo de força e de resistência física, que muitas vezes ocasionava lesões devido ao excesso de peso de alguns dos jogadores. Para os mais novos, que não percebam e não saibam dos jogos que falei anteriormente, consultem os vossos pais e familiares, pois ninguém era indiferente às formas "baratas" de brincar de antes. Rafael V.
Há apoios para estudar em Portugal? A divulgação das ofertas das universidades portuguesas é uma iniciativa que me agradou bastante. Acabei de formar-me aqui em Caracas e pondero tirar outro curso. E porque não em Portugal? Gostava de saber o que é preciso fazer para poder ter apoios por parte do Governo português para estudar no país de Camões e pergunto-me se haverá apoios suficientes que justifiquem uma deslocação até à Europa…
Talvez as minhas dú vidas sejam ridículas porque deve estar tudo na Internet, mas eu não encontrei nada de concreto sobre estas oportunidades que se anunciaram e que têm como principal objectivo cativar os lusodescendentes para a terra dos pais, como disse o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas e vocês publicaram. Karina Gonçalves
Coincidência ou não, a minha família não viaja a Portugal desde 1997, o ano em que o presidente Chávez ganhou as eleições. Oito anos depois, e com enormes saudades de tornar a visitar a ilha dos meus pais, temos sido, através do CORREIO, testemunhas das enormes mudanças que se têm verificado na Madeira. Através do que lemos no jornal da comunidade temos podido apreciar e conhecer
a transformação a todos os níveis. E é com muita emoção que estamos a descobrir através do vosso semanário lugares e paisagens que há muito tempo não apreciamos, mas que nunca perdemos a esperança de tornar a visitar. Por enquanto, o CORREIO tem sido uma excelente alternativa para matar saudades da terra natal. Melhor que nada! Liliana Gonçalves
Os da família são os piores Sou filha de portugueses e, embora os meus pais estejam bastante integrados na Venezuela, nunca deixámos para trás os costumes lusos. Sempre ouvi dizer que "os da família são os piores" e acho que tenho razões suficientes para dizer que este dito popular é bem aplicável no caso da minha família! Não somos ricos nem pobres, mas podíamos estar melhor se não fosse a generosa ajuda de membros da minha família. Foram os irmãos legítimos do meu pai e as irmãs da minha mãe quem sempre esteve connosco nos bons momentos. No entanto, na hora da verdade, quando passamos por uma necessidade que nos aflige muito, constatamos que os mais chegados são os primeiros a se afastar… só porque
não querem acreditar que vamos, nó s, a nossa família ("os de casa"), ultrapassar esta fase. Uma amiga da família, que não é portuguesa e não mantém nenhuma relação de parentesco com nenhum de nó s, soube do nosso problema e, apesar de por certo tem menos possibilidades que qualquer um dos meus tios ou tias, não hesitou em oferecer-nos pronta ajuda!!! Caso para agradecer com muita ironia o cinismo dos meus parentes e mostrar-me eternamente grata àquela amiga da família que mostrou acreditar em valores bem mais bonitos que os dos portugueses. Bem-haja! Carla Freitas
INQUéRITO Acha que é fácil aprender português? Na Venezuela há escolas suficientes? Quais conhece?
Maria Inês Gonçalves "Acho que aprender português deve ser fácil, mas eu nunca aprendi. Pareceme que falta por parte da comunidade lusa, mais divulgação das escolas de línguas que ensinam português. Aprender português é importante porque hoje muitos dos intercâ mbios econó micos do país fazemse com o Brasil, um país de língua portuguesa. Para além do mais, é sempre importante saber outra língua, sobretudo se é a língua dos teus pais".
Marí a Alejandra dos Santos "Acho que aprender português não é fácil. Consigo falar em família porque no Colégio Luís de Camões, onde estudei, ensinaram-me a língua, mas acho que na Venezuela não há muitos sítios onde se possa aprender português. Nunca me propus aperfeiçoar o pouco que sei de português, embora ache que seja importante aprender português ao nível profissional, pois se formos bilingues temos sempre mais possibilidade no campo laboral".
Noélia Mendes dos Santos "Aprender português é fácil, embora eu não o fale. Percebo algumas coisas porque a minha família, desde que eu era pequena, sempre falou. Na minha profissão, saber português não é importante. Nunca ouvi falar de nenhuma escola que ensine português, mas talvez seja porque não estou interessada em aprender".
Angélica Maria Mendes "Desde pequena, quando ouvi a minha família falar português, esta língua pareceu-me complicado. Sei falar, embora nunca tenha estudado português. Não conheço nenhum sítio onde o ensinem e, para mim, aprender português não é importante. Mas se tivesse que sair da Venezuela pensava logo na hipó tese de morar em Portugal. E aí seria indispensável aprender a língua.
24 UNIVERSIDADES
CORREIO DE CARACAS - 1 DE SETEMBRO DE 2005
"Univer…Cidade" de Coimbra: sete séculos de sabedoria No marco do evento "Estudar e Estagiar em Portugal", que decorre este mês em Caracas, o CORREIO apresenta a terceira edição da série de reportagens especiais dedicadas às oportunidades de estudo e formação nas universidades portuguesas. Desta vez, a Universidade de Coimbra brilha em todo o seu esplendor, unindo tradição e inovação, diversidade de ofertas e projecção empresarial. Acompanhe-nos.
dação da Nação portuguesa. É em 1290, quando foi criada a 1 de Março pelo rei D. Dinis, através do documento "Scientiae thesaurus mirabis cerca de 22 mil alunos, lis", que institui a pró pria Univerjuntamente com o cor- sidade. Mais tarde, o papa Nicolau po de professores, in- IV reconheceu o Estudo Geral, com vestigadores e autorida- as faculdades de Artes, Direito Cades, constituem hoje a Universidade nó nico, Direito Civil e Medicina. de Coimbra, que tem oito FaculdaDepois de um vai e vem entre a des: Letras, Direito, Medicina, Ciên- cidade de Lisboa e a de Coimbra, a cias e Tecnologia, Farmácia, Econo- Universidade de Coimbra foi instamia, Psicologia e Ciências da Edu- lada definitivamente na cidade em caç ão, Ciências do Desporto e 1537. Desde aquele momento o seu Educação Física. crescimento não tem parado. A Universidade de Coimbra é, sem dú vida, a mais antiga das uni- OFERTA versidades portuguesas. Coimbra ACADÉMICA acolhe nos seus cantos estudantes As oito Faculdades da Universique são os verdadeiros donos da sua dade de Coimbra são mundos comvida, pois trata-se de uma "Univer... pletos com uma oferta variada, pois Cidade", como destaca a sua pró - oferecem ao pú blico cursos de lipria página na Internet www.uc.pt. cenciatura, pó s-graduações, mesA sua tradição nasce no século trados, doutoramentos, cursos para XIII, só um século depois da fun- estrangeiros, cursos de especializaAlda Da Silva Sousa
O
ção, publicações e até centros de investigação. As informações sobre as várias ofertas são constantemente actualizadas na Internet, onde o volume de visitantes já atingiu os 130.000 cibernautas por dia. LETRAS: O SENTIDO HUMANO DO SABER Os interessados nas Letras po-
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dem cursar licenciaturas em Estudos Artísticos, Filosofia, Geografia, Histó ria, Jornalismo, Línguas e Literaturas Clássicas e Portuguesa, Línguas e Literaturas Modernas (nos diversos estudos portugueses e mais). Os cursos têm uma duração de quatro anos, são dados em língua portuguesa e na modalidade presencial. A Faculdade de Letras da UC visa distinguir-se "das restantes faculdades desta área pela investigação e o ensino que têm caracterizado o saber humanístico: a linguagem, a historicidade, a ligação do homem à terra, o sentido humano do saber e a palavra do homem "comunicante"", como relata o prospecto 2003-2004 da UC. A oferta de pó s-graduações, mestrados e doutoramentos pode ser consultada em http://www1.ci.uc.pt/prospecto/faculdad/letras/index.html, onde se evidencia o amplo leque de possibilidades nestas áreas. A FL completa assim uma população de mais de 250 docentes e 4600 alunos. A MAIOR FACULDADE DE DIREITO DE PORTUGAL Actualmente, a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra abrange cerca de 3200 alunos e mais de 130 professores, onde se ditam só dois cursos de licenciatura: Direito e Administração Pú blica, além do doutoramento em Direito e mais de dez mestrados. A licenciatura em Direito estende-se por 5 anos: quatro são com cadeiras comuns e o ú ltimo ano é destinado à obtenção de cinco menções ou pré-especializações a eleger: A primeira opção inclui formação em Jurídico-Forense, Direito Penal, Direito Comercial; e Direito e Processo Civil. A segunda hipó tese tem as áreas Jurídico-Publicista, Direito Administrativo, Direito Constitucional e Direito Comunitário. A terceira opção abrange o plano JurídicoEconó mico, a Economia, o Direito das Empresas, Direito Comunitário, Ciências Histó rico-Jurídicas, Ciências Jurídico-Econó micas, Ciências JurídicoPolíticas, Ciências Jurídicas e Ciências Internacionais e Comunitárias. Além do ensino, a FD da UC tem
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desenvolvido importantes publicações, entre as que destacam o Boletim de Ciências Econó micas, os Cadernos de Justiça Administrativa, a Colecção STUDIA IURÍ DICA, a Revista de Direito e Economia entre outras. ENSINO DE MEDICINA BASEADO NA EVIDÊ NCIA O prospecto 2003-2004 relata "a passagem do século XX para o século XXI a Medicina fundamentada na Experiência recebe a nova Medicina baseada na evidência". Com mais de 290 docentes, 23 investigadores, 1500 alunos e 155 funcionários, a Faculdade de Medicina ocupa um amplo espaço de mais de 50 clínicas universitárias, institutos e laborató rios. Os cursos ditados são as licenciaturas e doutoramentos em Medicina e Medicina Dentária. No endereç o http://www1.ci.uc.pt/prospecto/faculdad/medicina/index.html, os interessados podem ainda consultar os cursos de Mestrado. O CRESCIMENTO DAS CIÊ NCIAS E DA TECNOLOGIA A Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra tem mais de dois séculos de existência, mas não pára. Em 2002, são criadas três novas licenciaturas: Comunicações e Multimédia, Engenharia do Ambiente e Engenharia Biomédica. Em 2003, surge a Licenciatura em Tecnologia de Informação Visual. É das maiores faculdades de ciências de Portugal, com uma população de 650 docentes, 10 investigadores, 7670 alunos e 350 funcionários. A oferta académica é variada. Em licenciatura oferece os cursos de Antropologia, Arquitectura, Biologia, Bioquímica, Comunicações e Multimédia, Engenharia do Ambiente, Engenharia Biomédica, Engenharia Civil, Engenharia Electrotécnica e de Computadores, Engenharia Física, Engenharia Geográfica, Engenharia Geoló gica, Engenharia Informática, Engenharia de Materiais, Engenharia Mecâ nica, Engenharia de Minas, Engenharia Química, Física, Geologia, Matemática, Química, Química Industrial e Tecnologia de Informação Visual.
A duração dos cursos vai entre 4 a 6 anos, podendo ter um tronco comum de cadeiras para algumas dessas licenciaturas e outras particulares das disciplinas específicas. A oferta para mestrados e doutoramentos é também muito atractiva e pode ser consultada em http://www1.ci.uc.pt/prospecto/faculdad/ciencias/index.html. MAIS FACULDADES A Faculdade de Farmácia dita a Licenciatura em Ciências Farmacêuticas, onde o aluno estuda cinco anos e estagia um. Com longa tradição na Farmácia, a Faculdade estende a sua projecção a cursos de pó s-graduação, mestrados e
um doutoramento em Farmácia. Actualmente atinge uma população de mais de 900 alunos. Por sua vez, a Faculdade de Economia tem mais de 2400 alunos, desde que foi criada em 1972. A Licenciatura em Economia entra em funcionamento em 1973 e mais tarde, em 1988, criou-se a Licenciatura em Sociologia, em 1989, abriu a Licenciatura em Gestão e em 1995 a Licenciatura em Relações Internacionais. Mais informaç ões em www.fe.uc.pt. Além das já referidas, existe também a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação e a Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física, recentemente criada (1992).
26 PUBLICIDADE
CORREIO DE CARACAS - 1 DE SETEMBRO DE 2005
TAP e Swiss acordam code-share TAP Portugal, companhia-membro da Star Alliance, e a Swiss International Airlines, cuja adesão à Aliança foi aprovada no passado mês de Junho, estabelecem agora uma cooperação comercial alargada, que inclui a oferta e comercialização, em code-share,
A
TAP continua a liderar mercado
A TAP Portugal é a companhia aérea portuguesa líder de mercado, membro da Star Alliance desde 14 de Março de 2005, data em que celebrou também o seu 60º aniversário. O seu hub em Lisboa é uma plataforma de acesso privilegiada à Europa, na encruzilhada com outros continentes, nomeadamente, África, América do Norte e do Sul, mercado em que a TAP se destaca como a companhia aérea europeia líder no Brasil. A Rede mundial da TAP abrange actualmente 43 destinos em 25 países diferentes, aos quais se junta ainda um vasto conjunto de outros destinos servidos em code-share com companhias suas parceiras. Deste modo, a TAP oferece aos seus clientes uma rede muito mais alargada e ligações fáceis e convenientes para cidades mais longínquas. A companhia opera, em média, 160 - 180 voos diários e dispõe de uma moderna frota de 41 aviões exclusivamente Airbus. A sua Nova Imagem institucional foi lançada em 1 de Fevereiro deste ano, possibilitando-lhe celebrar 60 anos e a sua integração na Star Alliance com novas cores. Informações adicionais disponíveis no site da TAP Portugal na Internet em: www.flytap.com.
de todos os voos operados pelas duas Companhias entre Portugal e a Suíça, a partir de hoje, um de Setembro de 2005. Assim, e numa primeira fase, as duas empresas partilharão os seus có digos em todos os voos entre Lisboa e Zurique, entre Lisboa e Genebra e entre o Porto e Genebra, estando previsto,
numa segunda etapa, o alargamento do code-share a outros destinos além Zurique e Lisboa. A TAP e a SWISS passam, desta forma, a disponibilizar um produto conjunto melhor articulado, que se traduz no aumento das opções e da conveniência dos serviços, com o propó sito de melhor servir os seus
clientes. "É um enorme prazer voltarmos a trabalhar estreitamente com uma empresa como a SWISS, que se tem revelado extremamente ágil no alinhamento do seu posicionamento com as exigências do mercado", salientou, a propó sito, José Guedes Dias, director de Relações In-
ternacionais e Alianças da TAP. "O actual code-share visa melhorar a eficiência das duas empresas nas rotas entre Portugal e a Suíça, possibilitando, através de um maior grau de articulação de serviços, um produto de elevada qualidade e conveniência para os nossos passageiros".
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ECONOMIA 27
Exposição Industrial e Artesanal em Los Altos Mirandinos Délia Meneses
delia_jornalista@yahoo.com
ara dar a conhecer à Venezuela e ao Mundo o potencial industrial desta zona, realiza-se de 16 a 25 de Setembro a primeira Exposição Industrial e Artesanal de Los Altos Mirandinos. No evento, indú strias e empresas de serviço e de artesanato desta zona da Grande Caracas vão exibir os seus produtos e bens, com a finalidade de promover e dar a conhecer o que se fabrica e distribui nesta área. Há localidades da Venezuela que contam com grupos empresariais de vital importâ ncia para o desenvolvimento econó mico e social do país. E este é o caso dos municípios Los Salias, Carrizal e Guaicaipuro. So em Los Salias há cerca de dez mil lusos, os quais são proprietários de cerca de 45% dos negó cios da zona. O expositor terá mais de 1.400 metros de exibição e poderá encontrar uma grande variedade de representantes de marcas e lojas. Estão previstas também debates sobre diferentes temas de interesse, como os impostos, o direito laboral e a segurança industrial e social, entre outros. É importante destacar que a Primeira Exposição Industrial e Artesanal de Los Altos Mirandinos é dirigida a distribuidores nacionais e internacionais, a indú strias de diferentes áreas, a instituições pú blicas e privadas e, no geral, a todo o pú blico interessado que, quando visita a zona, não faz ideia da quantidade de empresas que há em Los Altos Mirandinos.
Indústrias e empresas de serviço e de artesanato vão exibir os seus produtos para promover as ofertas da zona
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De propó sito, a feira, que tem criado muitas expectativas nos organizadores, tem lugar em La Cascada, a cidade comercial mais visitada por residentes e visitantes da zona. O principal intuito de realizar a feira, apoiada pela Associação de Comerciantes e Industriais do Município Carrizal e organizada por Lisi Comunicaciones & Producciones, é criar potenciais oportunidades de negó cio. Prevê-se a participação de empresários lusos na feira que, como um pouco por toda a Venezuela, estão fortemente representados nesta zona.
BREVE Prémios para clientes Chevrolet A empresa de automóveis Country Motors e a sucursal de Auto Premium, localizada em Los Teques, realizou no passado sábado um sorteio entre os seus últimos 172 clientes. O objectivo foi sortear um jipe "Chevrolet" e premiar os anos que esta linha tem no mercado, conseguindo sempre um grande leque de clientes e uma admirável qualidade. A iniciativa do County Motors realizou-se graças ao apoio da Auto Premium e visou agradecer a preferência dos clientes que escolhem a marca "Chevrolet" como a sua predilecta para se exibirem nos diferentes modelos que oferece. A Auto Premium realizou um cocktail de comemoração dos bons resultados que tem conseguido obter com esta marca. Nelson Nunes, gerente de Auto Premium, disse que a ideia principal era estreitar laços de amizade entre a família General Motors e os seus clientes, com a finalidade de agradecer os anos de fidelidade para com a empresa.
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Lusodescendentes nas Grandes Ligas Robin Ventura é outro basebolista lusodescendente. Este jogador natural da Califó rnia - EEUU já era uma estrela desportiva na altura que estudava no ma grande quantidade de desportistas colégio. Participou nas Olimpíadas de Seú l'88 e ganlusodescendentes está a dar que falar no hou a medalha de ouro. Em 1989, estreou-se na Grandesporto mundial. A prova disto é a de Carpa e nela brilhou com os Medias Blancas, onde marca deixada nas Grandes Ligas, a má- obteve cinco luvas de ouro, assim como com os Mets xima categoria do basebol profissional, onde os jo- (outra luva de ouro), Yankees e Dodgers. Tem-se cagadores de raízes lusas desenvolveram carreiras cheias racterizado pela sua audácia na defensiva (como terde êxito como jogadores activos e, uma vez retira- ceira base) e o seu poder na ofensiva, especialmente a dos do terreno, se destacaram como "managers", "co- conectar "grand slams". achs" e "scouts". Já está há 16 temporadas nos mayores: 2.079 partiMark Teixeira, de raízes portuguesas e de nacio- dos, 7.064 turnos consumidos, 1.006 risquinhos anonalidade estadunidense, é primeira base dos Vigilan- tados e 1.182 impulsadas, 1885 hits, 294 quadrangulates de Texas. Iniciou-se nas Grandes Ligas na tem- res, 24 bases roubadas, 1.075 “ passaportes” , 1.179 porada de 2003 e já é considerada uma das figuras "ponches" e .267 de média. estelares da Liga americana. O seu trabalho tem sido O jogador David "Davey" Lopes, bem conhecido tão produtivo que representou os Estados Unidos no pelos fãs venezuelanos, tem antecedentes portugueses Derby de Jonrones 2005. Com apenas duas safras e de Cabo Verde que residem em Rhode Island, a sua completas nas Mayores, leva: 291 jogadas, 1.074 turnos cidade natal. Iniciou-se em 1.972 e jogou em Los Anconsumidos, 167 risquinhos anotados e 196 impulsadas, geles, Oakland, Chicago (Nacional) e Houston. "Da290 hits, 64 jonrones, 5 roubos, 112 “ passaportes” , vey", cujo filho James é um grande atleta, trabalhou .237 "ponches" e 270 médias. em 16 temporadas e acumulou os seguintes nú meVictoria Urdaneta Rengifo
victoriaurdaneta@yahoo.com
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ros: 1812 jogadas, 6354 turnos consumidos, 1023 carreiras anotadas e 614 impulsadas, 1671 hits, 155 quadrangulares, 557 bases roubadas, 833 “ passaportes” , 852 "ponches" e .263 de média. Da mesma forma, jogou à bola como profissional no campeonato de 1972-73, vestindo as cores dos Leões de Caracas, onde trabalhou como segunda base e batedor designado. Participou em 38 partidos e consumiu 135 turnos, anotou 31 carreiras e impulsionou 27, conectou 40 hits, robou 13 bases e fez uma média de .296. Entre as Grandes Ligas com raízes lusas, destaca-se também Lew Fonseca, cujo pai era natural da ilha da Madeira. A carreira de Fonseca, que se iniciou em 1921, foi um verdadeiro compêndio de trunfos pelo seu trabalho como jogador activo e pelas suas vitó rias. Nos campos de batalha, fez parte de vários esquadrões (Cincinnati, Philadelphia, Cleveland e Chicago, da Americana) e entre outros prémios obteve o de "jogador mais valioso na série mundial de 1953". No que se refere ao seu rol de manager nas Mayores, Fonseca destacou-se por ser o primeiro ibérico a levar as rendas dos Medias Blancas de Chicago, o
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selhá-lo a que aprendesse a atirar a bola por debaixo do braço, o que melhorou a técnica de "shortstop" de Maracaibo. Os nú meros de Fonseca pelas suas doze temporadas são: 937 jogos, 3.404 turnos ao taco, 518 carreiras anotadas y 485 impulsadas, 1075 hits, 31 "vuelacercas", 64 bases roubadas, 186 “ passaportes” , 199 "ponches" e .316 de média.
Mark Teixeira
Robin Ventura
que fez nas campanhas de 1932, 1933 e 1934 (nesta ú ltima por quinze jogadas). Conseguiu também igualar Alfonso Raymond Ló pez (de origem galega), em 1969. também dirigiu as divisões do Texas, Oakland e New York (da Americana).
Um episó dio recordado na Venezuela foi quando o Luís Aparício ia materializar em Fonseca uma jogada de dois “ outs” e este, deslizando-se em slide, chocou com tal força que lhe rompeu um sapato. Mas o melhor foi que Fonseca voltou para trás para acon-
MAIS ESTRELAS Charlie Silvera foi outro jogador com ancestrais lusos e, como a maioria dos basebolistas já referidos, também nasceu no Estado californiano dos Estados Unidos. Filho de emigrantes portugueses que residem na terra das "laranjas americanas", assinou pelos Yankees de Nueva York como agente livre amateur e, em 1984, iniciou-se nas mayores, onde viu acção pela ú ltima vez a 28 de Setembro de 1.957. A sua passagem pela Gran Carpa durante dez campeonatos (nove deles com os Yankees) resume-se da seguinte forma: 227 jogos, 482 vezes no taco, 34 carreiras anotadas e 52 impulsionadas, 136 hits, 1 base roubada, 53 “ passaportes” , 32 "ponches" e .282 de média. Bernie De Viveiros foi um "infielder" que se iniciou em 1924 e, depois de voo arrasador por Chicago, aterrou em Detroit para passar ai o resto da sua carreira. Como jogador, só viu acção em duas temporadas, acumulando os seguintes nú meros: 24 encontros, 22 vezes no taco, 4 carreiras anotadas e 2 impulsionadas, 5 hits, 2 bases roubadas, 2 “ passaportes” , 8 "ponches" e .217 de média. Contudo, como "scout", teve muito mais tempo e neste sentido resultou para os Tigres de Detroit uma excelente aquisição.
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Alex Cabrera: Í dolo da coló nia portuguesa no Japão Victoria Urdaneta Rengifo
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venezuelano Alex Cabrera, depois de trabalhar nas Grandes Ligas dos Estados Unidos, onde debutou com um “ jonró n” , é a figura máxima do basebol no Japão. O mais interessante é que, para além de todos os seus enormes fãs do Japão, tem ainda uma legião de admiradores de língua portuguesa, oriundos de Macau, que constituem uma coló nia que se tem adaptado perfeitamente à cultura do longínE isto tem incentivado o "samuquo oriente, que já adoptou Cabrera rai venezuelano" a interessar-se mais como o ídolo do basebol japonês. pela cultura portuguesa, assim como toda a sua equipa, pois compensalhe ter fãs portugueses, pois esta pró spera e crescente população macaense é fiel compradora dos produtos desportivos e publicitários do jogador de basebol venezuelano. Mas não só de admiradores se alimenta a percepção de Cabrera sobre Portugal, pois também desempenha um papel importante o que lhe transmitem os seus amigos lusodescendentes e, em especial, Adriana Racioppo, ítalo-descendente e noiva do ídolo, que nos comenta a grande importâ ncia das coló nias europeias no desenvolvimento da Venezuela, assim como a sua admirável capacidade de integração numa cultura crioula. E dá como exemplo os muitos lusos fanáticos do basebol venezuelano e dos seus melhores jogadores, como Alex Cabrera.
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PORQUÊ UM Í DOLO? O venezuelano Alex Cabrera, primeira base e quarto bate dos Leones de Seibu, é considerado um heró i no exigente basebol profissional japonês. Construíram uma escultura em sua honra perante a qual os caminhantes se inclinam em sinal de respeito. Este atrai sempre várias pessoas aos jogos diários, mesmo aqueles que não são especialistas no desporto. É perseguido por multidões e na sua chegada à Embaixada do Japão na Venezuela, o corpo diplomático inteiro saiu para o cumprimentar, uma devoção e alegria que deixa clara a sua condição de ídolo.
Na sua primeira temporada (2001), conseguiu 49 “ home runs” e na segunda conseguiu bater 55 “ home runs” , sendo o ú nico latino e o segundo jogador em toda a historia em igualar o recorde de Sadaharu Oh. Em 2003, também teve muito sucesso e a sua popularidade era tal que recebeu uma fabulosa oferta para trabalhar num filme de cinema, mas teve que recusar o mundo do espectáculo para se concentrar no seu campo de jogo. Em 2004, Cabrera parecia imparável, mas um lançamento acidentado do pitcher Soroki Yamamura (Bú falos de Kintetsu) fracturou-lhe o cotovelo direito num jogo de exibição, quando ainda nem sequer tinha começado a temporada. O acidente foi tão grave que viuse obrigado a perder a primeira metade da temporada, mas ao voltar em apenas 64 jogos e vendo acç ão em 250 turnos voou 25 "home runs" e empatou a marca de corridas impulsionadas numa série final (9). E graças a ele a sua equipa conseguiu ganhar o campeonato de 2004. Em 2005, em 391 oportunidades com o taco em 114 jogos, apresenta-se em terceiro lugar da liderança de “ Home Runs” (33), assim como na producç ão (1.001) e em “ slugging” (.596). Este ano Cabrera vai ser agente livre e, perante os rumores de mudanças na Liga Central japonesa ou nas Grandes ligas, os fãs não perdem nenhum dos jogos de "Cabby", cujas jogadas são apreciadas não só por japoneses como também por portugueses.
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LIGA 2ª Jornada Naval - FC Porto Belenenses - União Leiria Benfica - Gil Vicente Rio Ave - V. Guimarães Sp. Braga - Penafiel Nacional - Académica V. Setúbal - Paços Ferreira Marítimo - Sporting Est. Amadora - Boavista 1º Rio Ave 2º Gil Vicente 3º FC Porto 4º Sporting 5º Sp. Braga 6º Nacional 7º Belenenses 8º Naval 9º P. Ferreira 10º Académica 11º Boavista 12º Setúbal 13º Benfica 14º E. Amadora 15º Marítimo 16º U. Leiria 17º Penafiel 18º Guimarães
J 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2
V 2 2 2 2 2 1 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0
E 0 0 0 0 0 1 1 0 0 2 2 1 1 1 0 0 0 0
2-3 3-1 0-2 3-1 1-0 2-2 0-1 1-2 1-1 D 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 1 1 1 2 2 2 2
P 6 6 6 6 6 4 3 3 3 2 2 1 1 1 0 0 0 0
Próxima jornada - 3ª Est. Amadora - Naval FC Porto - Rio Ave V. Guimarães - Sp. Braga Penafiel - Belenenses União Leiria - Marítimo Sporting - Benfica Gil Vicente - Nacional Académica - V. Setúbal Boavista - Paços Ferreira
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Sporting derrota Marítimo ois golos do brasileiro Liedson deram domingo ao Sporting uma justa mas complicada vitó ria na deslocação à Madeira frente ao Marítimo, em encontro da segunda jornada da Liga portuguesa de futebol. Tanto o Marítimo como o Sporting entraram em campo com algumas mudanç as em relaç ão à primeira jornada, com os insulares a apostar no avançado dinamarquês Youssouf em vez de Rincó n, em Nuno Morais a fazer parceria com Mitchell Van Der Gaag no centro da defesa, devido à lesão de Valnei, e no esloveno Komac no lugar de Nilson Sergipano. O Sporting, por seu turno, não trouxe à "Pérola do Atlâ ntico" o guardião Ricardo, com Peseiro a chamar Nelson para a defesa da baliza "leonina". Também Sá Pinto ficou no banco de suplentes, por troca com Luís Loureiro, o mesmo sucedendo a Rodrigo Tello, que nem foi convocado, e foi substituído por Edson na lateral esquerda. Os primeiros 45 minutos foram dominados pelos "verde-brancos", que tiveram várias oportunidades de golo, que Marcos, em boa forma, foi conseguindo
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defender. Logo aos três minutos, Liedson trabalhou bem na área e rematou à meia volta, com o brasileiro Marcos a defender para canto. O mesmo Liedson, apenas um minuto volvido, fugiu pela direita e cruzou para a área, onde surgiu Deivid a rematar de primeira para defesa de recurso de Marcos. Mesmo sem fazer um grande jogo, o Sporting continuou a pressionar e, aos 11 minutos, Douala fez um cruzamento remate da esquerda, com a bola a embater no poste direito da baliza do Marítimo. A equipa de Rui Rodrigues "Juca" apenas reagiu aos 20 minutos, quando o lateral direito Ferreira cruzou da direita e Youssouf saltou mais alto que Beto, com a bola a sair a rasar o poste direito da baliza de Nelson. A segunda parte, e apesar do maior domínio dos visitantes, viu o jogo ganhar algum equilíbrio, com Manduca, aos 47 minutos, a passar por vários defesas "leoninos" e a rematar com perigo e rasteiro, obrigando Nelson a defesa apertada. Aos 55 minutos, Youssouf protagonizou a perdida do jogo, quando, completamente isolado por Walter, correu para a área, mas na hora do remate descon-
centrou-se e atirou à figura de Nelson. Aos 57 minutos, Liedson caiu na área e reclamou grande penalidade, que o árbitro não atendeu, tendo o mesmo Liedson, 12 minutos depois, aberto o marcador, com uma jogada individual dentro da área e concluído com um remate colocado ao lado direito de Marcos. Aos 84 minutos, um contra-ataque do Sporting conduzido por Liedson resultou no segundo golo, num lance em que o goleador "leonino" foi isolado por Polga, passou por Marcos e fez o golo fácil. O Marítimo, já em período de compensações, fez o golo de honra que já merecia, através do recém entrado Rincon, a aproveitar uma assistência de Felipe Oliveira e uma falha clamorosa de Rogério.
Quem quer um banco vai ao totta CORREIO DE CARACAS - 1 DE SETEMBRO DE 2005
Centro Português inspeccionado pelo Seniat Jean Carlos De Abreu
deabreujean@yahoo.com
as já habituais acções de inspecção, no passado dia 25 de Agosto o Seniat encerrou 23 clubes recreativos de Caracas e 51 estabelecimentos comerciais que funcionam nas instalações destes, nomeadamente restaurantes, discotecas, postos de venda de refrigerantes e lojas de roupa. O Centro Português, em Caracas, não escapou à revisão que os fiscais de Tributos Internos do Seniat fizeram aos livros de registos de compra e venda e à facturação, detectando anomalias sempre que não se cumprisse a resolução 320 da Lei de Facturação e outras normativas da Lei de Impostos venezuelana. A sede do Centro Português permaneceu obviamente aberta, mas alguns dos seus estabelecimentos comerciais foram encerrados durante 48 horas. O presidente do clube, André Pita, comentou-nos que por um erro de facturação no ano de 2004 a administração foi sancionada. É que o contabilista saltou uma factura. Durante dois dias, o pessoal do clube não conseguiu exercer funções administrativas. Pita esclareceu que a sanção não foi por "estar a fugir de
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Mais de vinte clubes recreativos da capital venezuelana foram autuados e os seus estabelecimentos comerciais encerrados por 48 horas nenhum imposto, mas sim por erro humano que pode acontecer a qualquer". Há alguns anos, conforme estipula a legislação em vigor na Venezuela, os clubes e associações sem fins lucrativos não declaravam os impostos por não terem fins econó micos mas sociais. "Mas com a nova normativa e as leis alteradas agora os clubes e os franchisings que ali estão devem ter as facturações e os impostos em dia", sublinhou Pita, expressando que as instalações do centro continuaram aberta para os só cios. E, a partir de sábado, a direcção do clube voltou a abrir a sua secção ad-
ministrativa e continuou com as suas actividades normais, assim como todos os franchisings de comida e a lojinha. As autoridades responsáveis pela recompilação e verificação dos pagamentos tributários vão continuar as inspecções e propõe-se visitar outras instituições pú blicas e privadas para continuar a verificação do pagamento de impostos. Entre os clubes da cidade capital que foram penalizados por evasão de impostos, estão a Hermandad Gallega, Club Campestre Los Cortijos, Lagunita Country Club, Ipasmar, Villa del Río, Club Hebraica, Centro Italo Venezolano, Club Mágnum e Hogar Ca-
nario Venezolano, entre outros. A gerente de Tributos Internos da Região Capital, Lucila Ascanio, e o chefe da Divisão de Fiscalização, José Caraballo, acrescentaram que muitos destes clubes alegaram estarem isentos do pagamento de impostos porque se dedicam a uma actividade sem fins lucrativos, mas os fiscais conseguiram provar que estes clubes têm lucros com as actividades que desenvolvem. As autoridades lamentaram que os clubes tenham ignorado as recomendações do Seniat, que foram transmitidas às diferentes instituições através de jornadas de divulgação feitas há alguns meses tanto para os representantes como para os só cios das associações.