Correio da Venezuela 166

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Oito anos de sinfonias

Falta tempo e... dinheiro

Fátima Araú jo ajuda jovens com Sindrome de Down Página 10

Férias condicionadas e sem entretinimento infantil Página 11

www.correiodevenezuela.com

O jornal da comunidade luso-venezuelana

ano 07 – N.º 166 - DePósito LegaL: 199901DF222 - PubLicação semanaL

caracas, 20 a 26 De JuLHo De 2006 - VenezueLa: bs.: 1.000,00 / PortugaL: € 0,75

Portugueses de Vargas desesperam por ajuda Várias famí lias portuguesas, ví timas dos temporais no Estado de Vargas, continuam à espera de uma ajuda que teima em não chegar Página 4

Prémio “ Talentos 2006” sem concorrentes na Venezuela Página 8

colombopress/dn

Terminou o drama do português sequestrado em Yaracuy Página 6

Ronaldo e Merche fazem férias na Madeira Página 30 e 31

Governo simplifica os procedimentos exigidos pela lei da nacionalidade Página 8


2 | EDITORIAL Menos palavras CORREIO DE VENEZUELA - 20 A 26 DE JULHO DE 2006

Director: Aleixo Vieira Subdirector Agostinho Silva Coordenação em Caracas Délia Meneses Jornalistas: António da Silva, Carlos Orellana Jean Carlos de Abreu, Tábita Barrera, Victoria Urdaneta e Yamilem Gonzalez Correspondentes: Ana Pita Andrade (Maracay) Carlos Balaguera (Maracay e Valencia) Carlos Marques (Mérida) Sandra Rodriguez (La Victoria) Trinidad Macedo (Barquisimeto) Colaborações: Raúl Caires (Madeira) António de Abreu, Arelys Gonçalves Janette Da Silva, Luís Barreira, Álvaro Dias Publicidade e Marketing: Carla Vieira Preparação Gráfica: DN-Madeira Produção: Elsa de Sá Secretariado: Carolina Nóbrega Distribuição: Enrique Figueroa Impressão: Editorial Melvin C. A Calle el rio con Av. Las Palmas Boleita Sur - Caracas Venezuela Endereço: Av. Los Jabillos 905, com Av. Francisco Solano, Edif. Torre Tepuy, piso 2-2C, Sabana Grande - 1050 Caracas. Endereço Postal: Editorial Correio C.A. Sabana Grande Caracas - Venezuela Telefones: (0212) 761.41.45 Telefax: (0212) 761.12.69 E-mail: correio@cantv.net URL: www.correiodevenezuela.com Tiragem deste número: 15.000 exemplares

destino a dar aos troféus do Marítimo da Venezuela, onde se incluem quatro títulos de campeão nacional de futebol, continua na ordem do dia, com o CORREIO a fazer questão de acompanhar tudo. Felizmente chegou-se a um consenso, com o Centro Português, em Caracas, a permitir a permanência do espó lio nas suas instalações, depois de assegurar que o mesmo vai ser alvo de um inventário e que as peças degradadas vão ser recuperadas. Valeu a pena o oportuno “ abanão” do presidente André Pita, mesmo que mal interpretado por alguns. Mas este folhetim não deve ser encerrado sem que se re-

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flicta, com seriedade, acerca de alguns aspectos que vieram ao de cima numa discussão que nem sempre teve o nível desejado. Depois de muitas palavras, é bom que se passe aos actos. E a actual Junta Directiva do Marítimo da Venezuela deve sentir-se com toda a legitimidade para decidir o que fazer com o espó lio da colectividade. Para tal, serão com certeza positivos os contributos de todos quantos foram dirigentes entre os quais sete presidentes. Gostaríamos de ver toda esta gente interessada por algo que também é seu. E para comprovar esse empenho, nada melhor que passar das palavras aos actos...

O CaRTOON Da SEMaNa Foi preciso um nacionalista para mediar a reunião sobre o espólio do Marítimo Venezuela...

Nada disso. O recurso ao pe. Alexandre foi para colocar os troféus nas mãos de Deus...

Fontes de Informação: DIÁRIO de Notícias da Madeira Jornal de Notícias Agência de Notícias LUSA

a SEMaNa MUITO BOM As tertúlias organizadas pelo IPCInstituto Português de Cultura têm se revelado excelentes iniciativas com assinalável êxito.De facto, esta é uma forma diferente de fazer cultura, de trazer um pouco de Portugal aos mais jovens e de envolver gente de todas as idades, algumas até sem ligações a Portugal. O ambiente de uma tertúlia tem sido agradável, sem complexos, sem exigências de rigor e com muito Portugal. Parabéns!

BOM A Sociedade de Desenvolvimento do Porto Santo deu uma autêntica “pedrada no charco”, ao promover um torneio de golfe especialmente destinado à emigração portuguesa. Um feito assinalável, se atendermos à imagem que ainda perdura sobre os emigrantes em Portugal. Afinal, aí estão sinais evidentes que as coisas mudam. É bom saber que os emigrantes começam a ser vistos com outros olhos, nem que seja através do golfe.

MaU A visita de Mário Soares à Venezuela causou surpresa e um certo desencanto na Comunidade. Primeiro, sem conhecimento de ninguém - ao que sabemos nem da Embaixada de Portugal depois porque veio a convite do governo de Espanha. Não percebemos também a sua abordagem à política venezuelana. Soares, melhor que ninguém, sabe que Portugal também passou por uma fase política menos boa, mas que se resolveu de forma pacífica.

MUITO MaU

O Correio de Caracas não se responsabiliza por qualquer opinião manifestada pelos colaboradores ou assinantes nos artigos publicados, garantindo-se, de acordo com a lei do jornalismo, o direito à resposta, sempre que a mesma seja recebida dentro de 60 dias.

Os ataques terroristas que se estão a viver no Líbano - cuja comunidade na Venezuela é bastante expressiva - merecem o mesmo repúdio de outras calamidades idênticas. Nesta altura de extrema dor, e quando as incompreensões assumem proporções preocupantes, fica aqui a nossa crítica e um sinal de solidariedade às famílias que não sabem se os seus familiares e amigos estão vivos ou não...

El Correio de Caracas, no se hace responsable por las opiniones manifestadas por los colaboradores o firmantes, garantizando, de acuerdo a la Ley, el derecho a respuesta, siempre que la misma sea recibida dentro de 60 días.

Para todos los

gustos

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Famílias de Vargas ainda esperam por ajuda Délia Meneses deliameneses@correiodevenezuela.com

m setembro de 2005 o CORREIO denunciou a situação crítica de 15 famílias portuguesas radicadas no estado Vargas que voltaram a perder tudo o que estavam a reerguer depois da tragédia de 1999 com as enxurradas que atormentaram o estado em Fevereiro. Nessa data a Junta de Beneficência do Estado de Vargas declarou a este jornal a iniciativa empreendida pela associação de recolher os dados destas famílias para informar o Consulado Geral de Portugal em Caracas acerca da sua situação. Yolanda de Sousa, presidente da Junta de Beneficência de Vargas, disse nessa oportunidade que apresentou ao cô nsul Francisco Teles Fazendeiro - que actualmente cumpre funções diplomáticas em Luanda - o caso concreto de cada uma das famílias solicitando ajuda econó mica. Referiu ainda que o pedido foi enviado para Lisboa e foi aprovado pelas autoridades portugueses. Dez meses depois, as 15 famílias continuam à espera da referida ajuda. E, surpreendentemente, as autoridades consulares manifestaram recentemente que esse apoio não estava previsto. A noticia foi recebida com desalento por Ana Maria de Corte, uma das afectadas. "Foi ao consulado perguntar o que se tinha passado com a tal ajuda, mas disseram-me que não estavam dando nada". Corte vive na rua 5 do Bairro San Antó nio de Naiguatá e dirigiu-se ao Consulado levada pela

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preocupação. O seu marido, Fernando Corte Farías, de 59 anos, já não pode trabalhar, tem problemas cardiovasculares e recentemente foi-lhe diagnosticado a doença Parkinson. O sustento do lar está à responsabilidade de Ana Maria, que vende na garagem da sua casa refrescos e doces. "Fomos duplamente vitimas. Em 1999 a nossa casa e o nosso negó cio (uma lavanderia) foram saqueados", disse. Começaram novamente a erguer-se e em Fevereiro de 2005, as enxurradas deram novamente cabo de tudo deixando as bases da casa gravemente afectadas.

Surpreendentemente, as autoridades consulares manifestaram recentemente que esse apoio não estava previsto O casal natural da Ribeira Brava e com 40 anos na Venezuela, tem dois filhos casados que ajudam os pais no que podem, "mas eles também têm família para atender", explica Corte que lamenta que os arredores da sua casa ainda continuem em ruínas. Em situação semelhante a esta família, encontram-se aproximadamente outras 15, que apresentam necessidades urgentes como, como é o caso de Fátima Quintal, quem também ficou afectada em 1999 e em 2005. "Não temos nada, só um pequeno quarto onde dormimos. Espero que o governo de Portugal investigue todas as famílias e nos ajude pois estamos muito necessitados", lamenta.

A resposta da Beneficência O CORREIO contactou a Yolanda de Sousa, presidente da Junta de Beneficência de Vargas, tendo esta responsável explicado que aproximadamente há um mês atrás teve uma reunião com o actual Cônsul de Portugal em Caracas, Rui Monteiro. Precisou que este realizou uma chamada telefónica para Portugal na sua presença para saber o estado deste pedido de ajuda. "Disseram-lhe que estava em estudo mas que ainda não tinham resposta". Sousa confessou que é constantemente abordada por membros destas famílias que se encontram em situação precária. "Eles estão esperançados em receber esta ajuda, mas já passaram muitos meses e nunca lhe deram resposta. Não se pode brincar com as pessoas. Nós fizemos um estudo e analisamos caso a caso, mas agora só podemos esperar a receber uma resposta afirmativa", disse.


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CORREIO DE VENEZUELA - DE 13 A 19 DE JULHO DE 2006

Libertado luso sequestrado em Yaracuy A

prática do crime de sequestro aumenta na capital e nas diferentes cidades do interior da Venezuela. Na semana passada foi a vez da comunidade portuguesa de San Felipe, no estado Yaracuy, a 400 quiló metros a Oeste de Caracas. A família Barata viveu momentos de angú stia apó s o sequestro do emigrante português de 46 anos que ocorreu na terça-feira, 11 de Julho, e se prolongou até à noite de 16 seguinte, quando foi libertado. Tomás Alexandre Barata é um conhecido comerciante da cidade de San Felipe. É proprietário da sucursal de Ferregayta, assim como de outros estabelecimentos relacionados com a construção, pelo que os familiares presumiram desde o início que as motivaçoes dos sequestradores para realizar o delito foram econó micas. Barata foi sequestrado depois de fechar a loja de ferragens e quando se dirigia para a sua residência situada num sector conhecido como Higueró n. Três indivíduos, em-

Não foi possí vel apurar se os sequestradores chegaram a comunicar com os familiares do refém e a pedir um resgate punhando armas, levaram-no num veículo que veio a ser encontrado incendiado apó s ter sido abandonado na via "La Marroquina". Os familiares lamentaram o facto de não se ter conseguido impedir este acto criminoso, pois segundo testemunhas foi realizado em poucos segundos. O referido veículo, um Toyota Corolla, foi localizado na auto-estrada "centroccidental" Rafael Caldera, quando ainda era consumido pelas chamas, pelo que se suspeita que terá sido naquele lugar que os captores do emigrante português realizaram um transbordo para outra viatura.

As investigações já concluíram que o carro incendiado estava referenciado como tendo sido furtado em Caracas. Fontes policiais declararam que o bando que sequestrou Barata pode ser oriundo da zona costeira do país, já que um caso semelhante foi levado a cabo horas mais tarde em Puerto Cabello, onde os sequestradores aplicaram a mesma forma de operar, ao incendiar o automó vel que utilizaram para se deslocar apó s a concretização do crime na sua fase inicial. A maior parte da família do empresário português sequestrado reside na Venezuela. Tem uma irmãa viver em França e a mãe, de cerca de 90 anos, reside sozinha em Portugal. Não foi possível apurar se os sequestradores chegaram a comunicar com os familiares do refém e a pedir um resgate e se a libertação do refém se ficou a dever ao pagamento de uma quantia de dinheiro.

breve

Fundação Martins recebeu donativo

Por ocasião da celebração do Dia da Criança, no passado domingo 16 de Julho, a Casa Portuguesa do estado Carabobo emprestou as suas instalações para que 20 crianças pertencentes à Fundação Martins, festejassem a data juntamente com os seus representantes. O momento foi aproveitado para que Leonel Moniz, Secretário de Finanças da Academia do Bacalhau de Valência, entregasse um donativo, que consistia em medicamentos e artigos de higiene pessoal à Fundação que se encarrega de tomar conta de crianças com problemas de paralisia cerebral. Do meio-dia até ao final da tarde, as crianças puderam passear e assistir à apresentação de grupo folclóricos, espectáculos de magia de personagens animados, entre outras actividades recreativas que lhes permitiram passar um bom momento de convívio. Além disso, esta festa assinalava o sétimo aniversário da instituição. Leonel Martins, Director da Fundação, agradeceu a Carlos Rodrigues, Presidente da Casa Portuguesa de Valência e reconheceu ainda o contributo dado pelos compadres da Academia.

Chávez investiu embaixador em Portugal

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presidente da Repú blica Bolivariana da Venezuela, Hugo Chávez Frías, recebeu na passada segunda-feira os representantes que vão estar à frente das sedes diplomáticas de Caracas no Reino da Bélgica e nas repú blicas da África do Sul e de Portugal. Alejandro Antonio Fleming Cabrera, Antonio Montilla e Lucas Rincó n Romero, juraram defender os interesses venezuelanos em terras belgas, sul-afri-

canas e portuguesas, respectivamente. Apó s terem sido investidos nos cargos de embaixadores, o chefe de Estado venezuelano manifestou o seu desejo de que as várias missões sejam coroadas de êxito, votos que disse ser extensivo aos familiares dos diplomatas. O general Lucas Rincó n Romero já exerceu responsabilidades à frente dos Ministérios da Defesa, Interior e Justiça e Secretaria da Presidência. Também foi Inspector General da Fuerza Armada Nacional e Comandante General do Exército. O acto decorreu no Salão Sol del Perú do Palacio de Miraflores. Acompanhou o chefe de Estado venezuelano o chanceler da Repú blica Bolivariana de Venezuela, Alí Rodríguez Araque. Apó s a leitura das resoluções que os designam como embaixadores, os novos diplomatas assinaram o livro de actas e a entrega das respectivas cartas credenciais. Emidio Da Veiga, encarregado de negó cios da Repú blica de Portugal, assistiu a este encontro.


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Talentos 2006 sem concorrentes data limite de entrega das candidaturas para o "Prémio Talentos 2006" é o dia 30 de Julho de 2006. No entanto, o Consulado Geral de Portugal em Caracas não tinha recebido nenhum interessado em participar neste concurso até a data de feche desta edição. A falta de concorrentes em diversos programas que são promovidos pela Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas não é novidade. Já no V Encontro Mundial de Jovens Luso-descendentes a ausência de candidatos despertou polémica entre as diferentes instituições portuguesas. Enquanto um grupo alegava franca desmotivação dos jovens por participar neste tipo de iniciativas outros argumentavam que a informação não costuma ser devidamente divulgada entre a comunidade. Finalmente três jovens luso-venezuelanos assistiram ao evento. A situação volta a repetir-se com o "Prémio Talentos 2006" que apesar de apresentar um amplo numero de categorias não motivou ainda a candidatura de nenhum concorrente. Este concurso

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Os jovens interessados e que preencham os requisitos para participar no evento ainda podem levantar uma ficha de inscrição no Consulado Geral de Portugal em Caracas visa homenagear os portugueses e lusodescendentes que se distinguem no estrangeiro em diferentes áreas no exercício de actividades. As categorias são as seguintes: Ciência, artes, investigação, desporto, humanidades (projecto para a resolução de um problema social), juventude (atribuído a jovens com menos de 30 anos que se tenham distinguido em actividade em prol da juventude), associativismo, área empresarial, comunicação social (jornalistas que pelo seu trabalho tenham dado especial relevo a Portugal), política (a atribuir a quem se tenha distinguido no desempenho de cargos pú blicos elegíveis), profissões liberais (pela contri-

buição para a integração da comunidade no país de acolhimento), e divulgação da língua portuguesa (a atribuir a pessoas que se tenham distinguido no ensino e na difusão da língua portuguesa). Os jovens interessados e que preencham os requisitos para participar no evento ainda podem levantar uma ficha de inscrição no consulado geral de Portugal em Caracas até o dia de 30 de julho. Os documentos a enviar são: Fotocó pia do bilhete de Identidade ou Pas-

saporte, curriculum vitae, relató rio detalhado e justificativo da candidatura, devendo constar a categoria a que se candidata. Os seleccionados irão a Portugal acompanhados de alguém designado pelos mesmos. O concurso "Prémio Talentos 2006", culminará num evento denominado "Gala dos Talentos", no qual serão entregues os. A Gala será transmitida, em directo, pelo canal I da RTP e por todos os seus canais internacionais.

Nacionalidade mais simplificada O

Governo aprovou na semana passada, na generalidade, um decreto destinado a simplificar e a regulamentar a nova lei da nacionalidade, tornando facultativos os autos de declarações para fins de atribuição, aquisição ou perda da nacionalidade. Em conferência de imprensa, o ministro da Presidência sublinhou que o decreto agora aprovado "vai simplificar significativamente os procedimentos administrativos" em torno da lei da nacionalidade, que foi aprovada em Abril no Parlamento, por larga maioria, sem votos contra. A partir de agora, segundo este membro do Governo, tornam-se "facultativos " os autos de declarações para fins de atribuição, aquisição e perda da nacionalidade lavrados nas conservató rias do registo civil ou nos serviços consulares portugueses. Como alternativa ao referido procedimento administrativo, os cidadãos poderão remeter as suas declarações directamente para a Conservató ria dos Registos Centrais. "Trata-se de uma medida muito im-

portante para facilitar a vida de muitos cidadãos, neles se incluindo os emigrantes portugueses e respectivas famílias, que passam a dispor da possibilidade de requerer actos de nacionalidade sem ter de se deslocar a Portugal ou a um posto consular", frisou Pedro Silva Pereira. O ministro da Presidência salientou ainda que o diploma prevê a criação de extensões da Conservató ria dos Registos Centrais, sendo por esta via disponibilizados novos balcões de atendimento com competência para a instrução de pedidos de nacionalidade. Segundo o comunicado do executivo, é ainda eliminado um conjunto de "actos inú teis", como o que se refere ao registo de nacionalidade, tradicionalmente lavrados por assento, mas que passam agora a ser transformados em registo de mero averbamento. Ao nível da desburocratização, prevêse ainda a eliminação da publicação em Diário da Repú blica do despacho de concessão da nacionalidade portuguesa por naturalização e adopção de medidas para "permitir que os pedidos possam no futuro ser efectuados por via electró nica".


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Mú sica ajuda jovens especiais Membros da Associação Larense para o Sí ndrome de Down aproximaram-se da música através da professora Fátima Araújo, que há oito anos cria sinfonias para jovens especiais Trinidad Macedo trini_macedo@yahoo.com

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esde há 12 anos que a Associação Larense para o Síndrome de Down, (ALASID) é a instituição que oferece educação básica, manuais e promove actividades no â mbito da dança, desportos vários e mú sica para um grupo de crianças e jovens com necessidades especiais. Nas instalações da ALASID encontramos peritos, professores e pais desses jovens que colaboram na educação dos seus filhos. Foi aqui onde conversámos com a professora Maria Fátima de Araú jo de Fernandes, uma lusodescendente filha de emigrantes oriundos da região do Minho, Norte de Portugal, que nasceu em Barquisimeto e casou com Simão Fernandes Galvão, natural da mesma terra, e com o qual teve três filhos. A menor deles nasceu com o Síndrome de Down. Araú jo é professora de mú sica há 27 anos e trabalha directamente com o Ministério da Educação ao nível nacional. Há um ano foi contratada para a coordenação da área musical da governação do estado Lara, nas disciplinas de Coral polifó nico primeira e segunda "etapa" em educação de básica. Realizou os seus estudos da secundária paralelamente com o curso para professora de mú sica no Instituto Miguel José Sanz, e posteriormente, um aperfeiçoamento profissional no conservató rio de mú sica Vicente

Emilio Sojo. A sua filha menor foi quem a motivou a fazer parte da associação onde contribui com aulas de educação musical duas horas por semana e na condição de "ad honoren". Como mãe, sempre exigiu muito da educação da sua filha, tendo conseguido bons resultados, que impressionaram os pais dos outros jovens que acabaram por pedir a sua ajuda na formação especial de um grupo. Foi assim como começou em Alasid, há oito anos, criando uma linguagem gestual para o ensino do "cuatro" a

A UCV catalogou os elementos que integram o Alasid como o único grupo da América Latina que pode receber a designação de "deficientes intelectuais" pessoas deficientes. O grupo de alunos é composto por 37 jovens. A Universidade Central da Venezuela catalogou os elementos que integram o Alasid como o ú nico grupo da América Latina que pode receber a designação de "deficientes intelectuais", pois já contam com a gravação de um CD. No princípio do mês de Junho, a professora Araú jo deslocou-se à Ar-

gentina com um grupo de danças da associação, no â mbito do X Encontro Ibero-americano pela Paz. "Senti muito orgulho por ser a embaixadora da cultura pela Venezuela", disse a luso-descendente que levou até àquele país os seus conhecimentos ao nível da criação de mú sica para jovens especiais. Leccionou acções de formação no conservató rio de mú sica Río Cuarto, com o fim de preparar pessoal para o ensino de jovens com o Síndrome de Down. A inspiração de María Fátima tem sido a sua filha que padece desta doença. "A minha família incentiva-me e partilha comigo os mesmos gostos pela mú sica", conta, revelando ainda que em reuniões familiares a sua filha e ela são as artistas no que toca ao canto e a mú sica. Em diversas actividades de beneficência que se realizam em Barquisimeto é habitual encontrar a professora Araú jo apresentando o seu espectáculo artístico, seja num solo ou com o seu grupo da ALASID. Nestas ocasiões costuma aconselhar as pessoas a aceitar as crianças sem diferença porque "eles podem aprender tudo o que se lhes queira ensinar". Na execução do "cuatro" utilizou a técnica da repetição associada com a linguagem gestual, conseguindo uma sincronização rítmica e de concentração. Para ensinar a tocar "cuatro" aos jovens com Síndrome de Down, Fátima teve de se adaptar ao mundo rítmico de sus alunos, para além de se mentalizar de que é preciso ter paciência para esperar pelos resultados. "Foi necessário analisar cada um e in-

seri-lo num grupo específico, confiar nas suas qualidades inatas e utilizar os pais como apoio para fortalecer os conhecimentos adquiridos", explicou. Os alunos de Maria Fátima já participaram num grupo de "cuatro" com alunos da escola básica Don Arturo Michelena. Também estiveram presentes no maior evento musical escolar, o Festival "Simó n Bolívar, realizado em 2001", o qual contou com uma assistência que rondou as 3.000 pessoas, onde arrancaram aplausos, admiração e lágrimas da plateia. "Como docente, eles são o meu orgulho e representam uma experiência maravilhosa que Deus como mú sico me permitiu viver", confessa a nosso interlocutora, enquanto revela o segredo da sua constâ ncia: "semear e esperar, exigir muito, utilizar a maior disciplina possível e exibir com orgulho a qualidade do trabalho".

Fátima de Araujo


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Falta de tempo e dinheiro diminuem férias Para os pais, a cidade também não oferece variedade de opções para a recreação das crianças Tá bita Barrera tabita@correiodevenezuela.com

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no apó s ano, a partir de meados de Julho, começa a angú stia para muitos pais, que têm de procurar diversas actividades para ocupar os seus filhos durante as férias escolares. Aqueles que, por motivos laborais, não podem desfrutar de um tempo de descanso em família, investigam quais as melhores opções para que as crianças aproveitem esses dois meses fora da

Não há muitas opções para escolher e as que existem são muito caras. Tão pouco existem muitos sí tios de diversão aqui em Caracas escola. Há quem opte por inscrevê-los em planos de férias, excursões, aulas de Verão, para assim evitar levar os filhos para o trabalho. No entanto, apesar de haver muitos programas a diversos preços, en-

tre os 50 mil e os 400 mil bolívares, nem todos têm possibilidades econó micas para usufruir dos mesmos. Além disso nem todas as crianças desfrutam daqueles planos. É o caso de Gabriel Teixeira, luso-descendente, de 10 anos de idade, que assegura que prefere qualquer outra coisa do que ir para um acampamento, pois "não são nada atractivos" para ele. A sua mãe, Carolina de Sousa, tem de levá-lo para o seu trabalho, o qual complica as coisas. "Gostava que ele se distraísse com algo diferente, mas que posso fazer? Não tenho a quem deixá-lo. Graças a Deus a empresa onde trabalho permite-me tê-lo no trabalho, mas não podemos ir de viagem porque as minhas férias são em Dezembro", explicou Sousa. O mesmo acontece com Any Fernandes, professora, que tem ido para o trabalho com a sua filha de 12 anos, durante os ú ltimos dias, pois ela também não gosta dos planos de férias. Não podem viajar porque o marido trabalha e não tem oportunidade de ter algum tempo livre. "Temos de aproveitar os fins-de-semana. Não há muitas opções para escolher e as que existem são muito caras. Tão pouco existem muitos sítios de diversão aqui em Caracas e penso que, para a idade da minha filha, faltam muitas coisas", disse.

Preocupação para os pais O dinheiro também é uma limitação no caso de Maria Fátima Vieira. Tem quatro filhos e explica que enviá-los para um acampamento custaria uma fortuna. É por isso que os filhos vão para um cyber café navegar na Internet ou passar o tempo com jogos enquanto ela trabalha. "Quando eles ficam de férias, é mais uma preocupação para nós, porque temos que procurar alguma actividade com a qual possam passar o tempo. Talvez possamos ir alguns

dias à praia, mas nada mais", sublinhou. A experiência de Marlene de Sousa não é tão preocupante. Dona de casa e mãe de três filhos, diz que as férias não lhe trazem nenhum problema, pois os seus filhos têm com quem ficar. No entanto, planeia inscrevê-los num curso de design gráfico e mantê-los distraídos em actividades variadas, e querem também fazer viagens curtas à praia, mas não têm planeado sair do país.

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12 | HISTÓRIA DE VIDA

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José G. de Ornelas A minha segunda pátria 6 de Maio de 75 Embarcamos no barco Rossini numa segunda-feira, 6 de Maio de 1975. Chegámos ao Porto de La Guaira a 13 do mesmo mês. Os meus sogros ajudaram-nos a conseguir um sítio para viver, emprestaram-nos dinheiro para comprar as nossas primeiras coisas e comprarmos uma casa na avenida Sucre. Uma semana após ter chegado, comecei a trabalhar como cozinheiro num negócio perto das torres de El Silencio, onde me disseram que tinha de aprender a falar espanhol, e foi o que fiz. Foram dois anos que passei ali, depois fui para uma cervejaria, também como cozinheiro, e estive 7 anos nesse lugar. Depois, trabalhei em Granjero del Este, em Las Mercedes, e actualmente trabalho num restaurante de nome La Orquídea, onde já estou há 15 anos. Não foi muito difícil para mim adaptar-me, os venezuelanos são muito divertidos e conversadores. "Com todos os problemas que possam existir neste país, acabamos sempre por nos sentir bem".

assaram mais de 30 anos sobre a decisão que eu e a minha esposa tomamos de deixar Portugal para viver na Venezuela, onde a família nos esperava. Lá, saímos de um golpe de Estado, passávamos da ditadura para a democracia, enquanto aqui era Carlos Andrés Perez quem governava. Na altura era permitido que os pais trouxessem a família que estava fora. Foi assim que o meu sogro nos enviou uma carta, convidando-nos a vir. Ao aceitarmos a sua proposta, ele ajudaria a que nos estabelecêssemos. Como casal, conversamos e decidimos viajar em busca de novas oportunidades. Não tive que pedir emprestado para vir para esta terra. Tinha dinheiro para pagar as

P

nossas passagens e as dos nossos filhos. O que nos moveu a emigrar era reunirmo-nos de novo com a família da minha esposa, ainda que os meus ficassem em Portugal. As pessoas diziam que a partir desse instante, o país ia melhorar e era certo, as coisas estavam em vias de melhorar, mas não estavam bem de todo.

Como casal, conversamos e decidimos viajar em busca de novas oportunidades Trouxemos belas recordações connosco. Em 1967, quando conheci a minha esposa, foi inesquecível. Amor à primeira vista. Ela,

Sem arrependimentos

natural de São Vicente, Madeira, encontrava-se de visita ao Porto Santo, a minha terra natal, e quando os nossos olhares se cruzaram, sabíamos que queríamos olhar um para o outro para o resto das nossas vidas. Então, deu-me um papelinho onde escreveu: "Se te agrado, tens que vir à minha casa e falar com a minha mãe". Achei piada e isso fez com que gostasse dela ainda mais. Sem pensar duas vezes, no ano seguinte, apareci por lá para pedir a sua mão. Nesse ano, quando ficámos noivos, ingressei no serviço militar, pelo que só nos podíamos comunicar por cartas semanais. Em 1970, casámo-nos. Tivemos dois belos filhos e consegui especializar-me como cozinheiro, profissão que exerço actualmente.

O que mais sinto falta no que toca à minha terra é da minha família. Das três vezes que viajei até Portugal, fez-me falta este bulíce de Caracas e a minha esposa pensa o mesmo que eu. Foi na Venezuela que nasceu a nossa terceira filha, que lamentavelmente morreu quando tinha quase 7 anos, pois padecia de megalocefalia, mas que com a sua inteligência e doçura, fazia-me sorrir diariamente. Não me arrependo de ter vindo para cá. Deus foi bom connosco e Ele sabe o que faz. Trouxe-nos a um lugar grandioso, onde encontrámos gente muito bonita e temos prosperado como família. Enquanto tiver saúde, possa continuar com a minha esposa e me sinta útil para trabalhar, estou feliz.


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22 | OPINIÃO

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Trabalho

Antonio de Abreu aindax1@yahoo.com

anto o rendimento laboral como a capacidade de empreendimento do trabalhador português têm sido reconhecidos, em diferentes momentos e por diferentes peritos. A diferença entre o que se passa na Europa, onde grande parte da migração é qualificada como trabalhadores emigrantes ou empregados temporais, é que o mundo econó mico venezuelano fa-

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voreceu o carácter português até convertê-lo num bem sucedido empresário, ainda que a princípio careciam de recursos financeiros. Há um interessante estudo do investigador Samuel Hurtado Salazar, de 2000, sobre a elite venezuelana e o projecto de modernidade, no qual se pergunta se o obreiro venezuelano aprendeu algo com a emigração. Os dados recolhidos "referem que a cultura do trabalho na Venezuela não se desprendeu de uma cultura de recolectores". Hurtado comenta que "a relação entre os imigrantes e os nativos é constituída de aspectos contraditó rios (…) para os quais se vai sensibilizar em unidades de trabalho como oficinas, negó cios, fábricas, empresas da construção. A histó ria social colocou-nos na situação em que muitos dos chefes, nas unidades de trabalho, são imigrantes geralmente latino-europeus (italianos, portugueses, espanhó is) e os subordinados são nativos venezuelanos". A imigração desenvolveu um excelente trabalho patrió tico. Hurtado afirma-o baseado noutros estudos e análises de investigadores venezuelanos que davam relevo ao facto de que os imigrantes

"proporcionam o conceito de que não há outra forma de criar um país ou uma nova Pátria senão gerando trabalho". Hurtado assinala que "é a capacidade etno-cultural, mais do que a carência do nível educativo, que permitiu (aos imigrantes) manobrar dentro das condições negativas da agricultura e aproveitar as oportunidades que o país lhes oferecia". Em relação ao português, a sua conclusão é surpreendente: "Na Venezuela, a obrigação de gerar trabalho parece que está historicamente com as vagas de imigrantes". Alguns entrevistados responderam-lhe que "trabalhamos mas não como o português" mas conclui que "o português do supermercado tem a obrigação de dar-nos trabalho, depois veremos se trabalhamos ou não, e esse é o motivo para que Emílio Lovera monte um tremendo show na Rádio Rochela". Estas são conclusões de um investigador venezuelano onde não houve nenhum interesse de nenhuma comunidade imigrante. Isto serve para reflectir e para no sentirmos orgulhosos pelo trabalho de Pátria que estamos a realizar.

Até à vista Dr. Mário Soares Jaime Senra

ex-presidente português Mário Soares esteve de visita à Venezuela por estes dias. Deu uma entrevista à “ Venezolana de Televisió n” , um dos vários canais de televisão estatais que hoje existem na Venezuela e que se dedicam integralmente à propaganda. Não creio que em Portugal, nem no resto da Europa, existam canais de televisão assim, deste teor. A RTP, a BBC, a RAI, a RTF, a TVE, são todos canais pú blicos mas não estão ao serviço de um partido ou de uma causa ideoló gica. São empresas de serviço pú blico, sistematicamente submetidas ao escrutínio da audiência e ao eleitorado nacional, que lhes exige um mínimo de objectividade e imparcialidade, de integridade moral. Certo é que houve um tempo, já há muitos anos, em que a RTP, a RAI e a TVE faziam propaganda de Estado, de forma aleivosa e descarada, sem o menor respeito pela pluralidade democrática. Mas isso foi há 30 ou 50 anos, naqueles remotos tempos de Salazar, de Franco ou dos "camisas pardas", dos fascismos. Nos ú ltimos tempos, estamos a assistir a uma nova moda intelectual europeia. É uma moda da esquerda e que é assim: Dentro de casa, nos nossos países, denominamo-nos socialistas. Socialistas europeus, e isso quer dizer "europeus", ponto. De socialistas, mau grado nosso, temos muito pouco ou nada. Os programas de

O

governo e de actuação prática de qualquer partido socialista europeu não diferem substancialmente dos seus congéneres sociais-democratas ou sociais cristãos. Ah, mas da boca para fora, das fronteiras dos nossos estados de bem-estar para fora, somos umas feras revolucionárias que nunca esquecemos o nosso coraçãozito de esquerda. Portas adentro, há que salvaguardar, antes de tudo, o funcionamento democrático das instituições. Ah, mas porta fora, somos uns "comecandela" revolucionários. Não importa muito se o regime de esquerda que estamos a apoiar não respeita de todo o jogo democrático. Afinal de contas, trata-se do terceiro mundo, entendese, da América Latina, por exemplo. Esta postura, senhor Mário Soares, pode-se esperar de um intelectual europeu de cachimbo e Monde Diplomatique debaixo do braço, mas não de um ex-presidente e ex-primeiro-ministro com pretensões de presidir ao Parlamento Europeu. Um político no activo como você (que não tem tido muita sorte nas eleições ultimamente) não pode apoiar publicamente um regime que não joga limpo. Informe-se, senhor Mário Soares, da quantidade de presos e exilados políticos. O regime que você, e certa esquerda europeia, está apoiando, destruiu completamente o marco institucional democrático que se levantou neste país ao longo de 50 anos. Já não existe divisão de poderes pú blicos e o que subsiste deles está cheio de ideologia e corrupção. O parlamento não tem representação dos partidos da oposição, o poder judicial é um ó rgão de execução partidária, os meios de

comunicação vivem ameaçados, a oposição política é considerada uma traição à pátria, os recursos do estado e dos venezuelanos, apesar da pobreza que impera, delapidam-se em proporções colossais ao serviço de interesses pessoais ou geopolíticos obscuros. Com uma parafernália muito particular, com esta mistura de peronismo e caudilismo, estamos a assistir hoje na Venezuela a uma forma folcló rica e muito latino-americana de ditadura fascista. No mesmo dia que você esteve em Caracas, o estado venezuelano condecorou o general russo Kalishnikov, não sei se soube. Porque razão? Não se sabe. O que se sabe é que o estado adquiriu cem mil metralhadoras para distribuir entre a população civil venezuelana. Palavras do presidente Chávez. Entendo que o seu compatriota Saramago não queira

ou não possa ver o que acontece na Venezuela, encegueirado como está por 50 anos de ortodoxia comunista. Mas que você não se esclareça sobre o que acontece na Venezuela pareceme um acto de irresponsabilidade suprema. Se vem para estas paragens em busca de pátio para as suas ambições pessoais na política europeia, vai se equivocar. Já lhe saíram vários tiros pela culatra ultimamente. Tente com uma arma diferente agora. Peça uma ao seu amigo Chávez, que de armas sabe muito. A Robert Mugabe, esse lutador pela liberdade, o seu amigo ofereceu uma espada do Libertador. O mínimo que lhe podiam oferecer a si seria uma destas novas e flamejantes Kalishnikof. Em sinal de simpatia, a título de "souvenir", de recordação. Você não pode ficar atrás de Mugabe.


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OPINIÃO | 23

CARTAS Decepcionada com aqueles comportamentos Esta carta vem denunciar o comportamento de um grupo de jovens do Centro Português, em Caracas, no dia do jogo contra a França, que Portugal ingloriamente perdeu. Trataram-nos mal e fui ofendida junto dos meus filhos só porque não somos sócios daquele clube, já que porque lamentavelmente, até ao dia de hoje, ainda não pudemos comprar uma "acção", pois estabelecemos como prioridade dar estudos aos meus filhos de ter uma vivenda própria, entre outras coisas. Depois do que vi, confesso que não estou arrependida embora goste muito de visitar o clube a convite por familiares e amigos. Digo isto porque se não fosse a intervenção de um senhor da junta directiva, o assunto podia ter terminado mal e isso não ficaria bem a ninguém. Os rapazes que nos ofenderam e mandaram-nos calar várias vezes, disseram que pertenciam à comissão de jovens do clube e por aí é que deviam respeitar os outros porque a "lei deve entrar por casa". No princípio, recusaram-se a sair do palanque onde estava o ecrã da televisão, alegando que tinham o direito de

estar sentados à frente de todos, o que não está bem porque ali havia muita gente que chegou ao meio-dia para guardar lugar. Foi uma tremenda decepção para mim e para os meus filhos, que com orgulho preparamos aquele dia tão especial, ouvirmos ofensas e palavras feias que nem no pior sítio de Caracas alguma vez ouvi. É pena que estas coisas sucedam. Fiquei com lágrimas nos olhos embora resistisse à vontade dos meus filhos de ir embora por não quererem ouvir tamanhas humilhações, como em nenhuma parte da Venezuela alguma vez fui alvo. Que ironia! Vim ouvir na casa dos portugueses… Ao senhor e à senhora da direcção muito obrigado, embora lhe tenha custado muito tempo convencer os jovens para reconsiderar a sua atitude devido à sua mal criação. Gostaria que o Correio publicasse esta carta, pois ela faz eco de muitas pessoas que estavam ali comigo e que, sendo sócios, também não estavam de acordo com aquele comportamento.

Maria Trindade Rodrigues

Sei que alguns dos leitores do Correio a estas alturas ainda estarão chorando a derrota contra a França, mas escrevo para manifestar o meu orgulho e a minha satisfação por tudo o que Portugal fez no Mundial. Não sou um grande adepto do futebol, mas dou o valor ao que Portugal fez e pela forma como se esforçaram para não perder. Mas a vida é assim e nem sempre

podemos ganhar. Devemos sentir-nos orgulhosos de ser descendentes de portugueses. Orgulhosos porque nos batemos com responsabilidade. Orgulhosos pela consideração que demos aos portugueses na Venezuela. Perder e ganhar é desporto e devemos estar felizes por ficar entre os quatro melhores do mundo.

Anabelis T. Perez

Estou "chateada" Sou leitora do Correio da Venezuela e escrevo porque estou "chateada" com as causas dos problemas da comunidade Portuguesa na Venezuela. Lembro-me que há tempos li uma entrevista onde o embaixador de Portugal disse que tínhamos de nos associar para ganhar o respeito das autoridades venezuelanas. E pergunto é isso que estamos a fazer? Estamos associados, isso sim. Mas é para brigar e para fomentar rivalidades entre amigos e até mesmo famílias. Para constatar isto basta visitar os

clubes. Este ano já visitei quatro clubes em Caracas, Maracay e Valência, e os problemas que tive a oportunidade de assistir são os mesmos. Estão todos chateados uns com outros. Tudo é uma guerra para ver quem tem razão e quem trabalha melhor ou quem faz melhor, etc. Uma autêntica vergonha. Parabéns ao vosso jornal pelo trabalho que fazem e pela imparcialidade com que tratam os temas.

Filomena de Sousa Fernandes

Centro Português

Portugal até na missa Não consegui aguentar a minha emoção de escrever para o Correio acerca da pergunta que fazem da emoção do mundial de futebol. Da minha parte, e como mãe de quatro filhos digo-vos que foi tremenda a participação de Portugal no mundial e basta ver os meus filhos, todos eles vestidos a rigor, a discutir com outros amigos a sua paixão por Portugal… Confesso que fiquei grata-

Que orgulho!

mente surpreendida pela dedicação que mostraram por Portugal ao longo dos jogos. Curioso também o facto de um dos meus filhos vestir uma camisola da selecção de Portugal todos os dias a mesma e até já a levou para a missa. Incrível, mas é certo. Parabéns

Mercedes Ribeiro

Não sou sócio do Centro Português, em Caracas, mas escrevo para manifestar a minha indignação pela decisão de um grupo de senhores que querem desalojar os troféus do Marítimo da Venezuela daquele clube. Afinal são portugueses ou não são portugueses!? Não será por o presidente e a junta directiva serem do continente e o Marítimo ser uma equipa da Madeira? Acho que é uma vergonha tomar essa

decisão. Mas faço outra pergunta: Será que os sócios apoiam essa decisão? Conheço muita gente que são sócios do clube, que apesar de estarem muito bem na vida, continuam a ser pessoas humildes e não devem permitir que um grupo de "sifrinos" (novos ricos) tome este tipo de decisões. Acho que isso é uma vergonha.

Carlos R. Ferreira

InquéRITo

O que o limita na planificação das férias? É o dinheiro ou o tempo? Que vai fazer estas férias? Erica Figueira Professora "Para mim, a limitação é sempre o dinheiro, porque às vezes quero fazer viagens e não tenho como. Por exemplo, este ano gostaria de ir a Los Roques com o meu noivo, porque estou certa que passaríamos um tempo de forma diferente e para além disso nunca fui, mas lamentavelmente é bastante caro, assim como sair da Venezuela".

Graciela G. de Correia Administradora "Planear férias em família é bastante complicado devido ao tempo, mais do que tudo, porque o meu marido trabalha e eu também. No entanto, nestas férias podemos tirar um tempo e iremos a Mérida, Trujillo e Falcón, onde estaremos 15 dias, e vou pôr as crianças a fazer outras actividades".

Berta de Sousa Dona de casa "As duas coisas pesam na hora de planificar as férias, porque às vezes quando temos o dinheiro não temos tempo e vice-versa. Nestas férias pensamos ir para a praia, ao cinema, ao zoológico. Há que inventar, ainda que gostasse de viajar até Portugal, mas lamentavelmente não temos dinheiro para ir este ano".

Alicia de Jardim Dona de casa "O tempo é o que mais complica as férias, porque apesar de não ter um trabalho formal, o trabalho em casa e ajudar a minha filha nas suas coisas tira-me muito tempo e quando me dou conta não tenho tempo livre. Este ano, se calhar faremos umas pequenas férias e vamos a Margarita, apesar da minha vontade de ir a Portugal."


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Mú sica como oportunidade de negó cio "Allegro Instrumentos", empresa familiar líder na distribuição de instrumentos musicais, coloca à disposição dos amantes da mú sica um modelo ú nico de franquia (Franchising) na Venezuela, um negó cio rentável que combina a venda de instrumentos com um centro de formação musical. Dizem que os empresários de sucesso enfrentam as crises e as convertem em oportunidades. Tal é o caso de Raú l dos Santos, proprietário da Allegro, quem se iniciou no negó cio da mú sica justamente depois da "sexta-feira negra" da década de 1980, com uma loja localizada no centro de Caracas. Actualmente, "Allegro Instrumentos" conta com três locais em Caracas (no centro, C.C. San Ignacio e Chacaíto) e um em Punto Fijo; duas lojas associadas, em San Cristó bal e Maracaibo; e uma carteira de 120 clientes, os quais têm mantido uma relação comercial com a empresa por mais de dez anos. A empresa Allegro possui exclusividade para a distribuição e venda

Uma loja modelo de 150 metros requer de um capital inicial de 150 milhões de bolí vares das marcas mais reconhecidas do mercado, assim como dispõe de uma equipa de assessores que estão capacitados para oferecer orientação na aquisição de qualquer instrumento. "Allegro" proporciona um valor acrescentado ao negó cio, a formação musical, presente na sua sede de Chacaíto, sob o nome de "Centro de Enseñanza Musical Allegro (CEMA)", que conta com um corpo de 19 professores, os quais dão formação a uma média de 400 alunos por mês. Raú l dos Santos deseja parceiros de negó cio que gostem de mú sica e queiram trabalhar por sua conta e crescer num negó cio rentável. As lojas estarão localizadas em pontos

estratégicos situados nas principais cidades do país. Numa primeira fase, será abrangida a zona do Sueste de Caracas e o centro do país. Uma loja modelo (comercialização de instrumentos e centro de ensino) de 150 metros requer de um capital inicial de 150 milhões de bolívares. Estima-se que o investimento seja recuperado num tempo

máximo de dois anos. Em três meses, aproximadamente, pode-se estabelecer uma franquia "Allegro", uma vez aprovada a proposta. "Allegro" proporciona ao franquiado o "know how" do negó cio, a operacionalidade técnica, os instrumentos, a publicidade e os instrutores, entre outros aspectos. "Queremos vender poucas franquias, mas às pessoas certas.


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ECONOMIA | 25

Lei do Arrendamento Urbano ntrou em vigor, recentemente, a nova Lei do Arrendamento Urbano, que já analisámos em dois artigos publicados neste espaço. Neste contexto, relembramos algumas das principais regras aplicáveis ao arrendamento urbano, relacionadas com: actualização das rendas; transmissão do contrato de arrendamento; cessação de contrato; e obras. No capítulo da "actualização das rendas", a nova renda é indexada ao valor do imó vel, sendo que este é determinado através das novas regras de avaliação, no â mbito da aplicação do Imposto Municipal sobre Imó veis (IMI). O valor da renda é fixado em 4% do valor do imó vel (já corrigido de um factor que pretende ajustar o estado de conservação do imó vel, e que varia entre 0.5 para imó veis em péssimo estado e 1.2 para imó veis em excelente estado de conservação). A nova renda é aplicada de forma faseada num período que pode variar entre 2 e 10 anos. O prazo de 2 anos é aplicado a arrendatários com menos de 65 anos de idade e com rendimento anual superior a 15 salários mínimos. Se o rendimento for inferior a este nível, o prazo é alongado para 5 anos. O prazo máximo de 10 anos é aplicado a arrendatários com mais de 65 anos ou com um rendimento inferior a 3 salários mínimos. A actualização anual da renda não pode exce-

E

A nova renda é indexada ao valor do imóvel, sendo que este é determinado através das novas regras de avaliação, no âmbito da aplicação do Imposto Municipal sobre Imóveis der 50 euros, no primeiro ano, e 75 euros, nos anos seguintes, com excepção do ú ltimo, na qual a nova renda será aplicada na totalidade. Depois, ao nível da "Transmissão do Contrato", há que em conta os dois regimes, consoante o contrato tenha sido realizado antes ou depois de 1990. No primeiro caso, e no arrendamento para habitação, havendo falecimento do arrendatário, o contrato é transmitido ao cô njuge ou à pessoa que vivesse em união de facto; ao ascendente que residisse no imó vel há mais de um ano; ao filho ou enteado com idade inferior a 1 ano, ou menor de idade, lá residindo há mais de um ano, ou ao filho ou enteado com menos de 26 anos, desde que frequente pelo menos o 11º ano de escolaridade. Havendo mais que um ascendente, o contrato transmite-se por morte entre eles, além de que entre filhos ou enteados, há ainda transmissão do contrato em caso de morte daquele a quem o contrato original tenha sido transmitido. No caso dos contratos realizados apó s 1990, o contrato de arrendamento transmite-se para o cô njuge ou pessoa que vivesse em união de facto, ou para pessoa que vivesse em economia comum há mais de um ano. Depois, na parte respeitante à "Cessação de contrato", deve-se ter em atenção que os con-

tratos de arrendamento cessam por acordo das duas partes, resolução, caducidade ou denú ncia, além de outras causas previstas na lei. A cessação do contrato implica a desocupação imediata do local, que deve ocorrer no final do 3º mês apó s a resolução do contrato, sendo que o arrendatário deve mostrar o local durante os 3 meses anteriores à desocupação, em horário a acordar com o senhorio ou então, nos dias ú teis, entre as 17h30 e as 19h30, e aos finsde-semana, entre as 15h00 e as 19h00. O contrato pode ser resolvido se o local não for usado por mais de um ano, com excepção dos casos de: força maior ou doença; de ausência, inferior a dois anos, por motivos militares ou profissionais; ou se a utilização for mantida por quem tenha direito a usar o imó vel. O contrato também é resolvido se o arrendatário não pagar a renda há mais de três meses,

bem como em caso de oposição deste à realização de obra ordenada por autoridade pú blica. Finalmente, no tocante às "Obras", o senhorio deve realizar todas as obras necessárias, sendo que o arrendatário apenas pode executar quaisquer obras quando o contrato o permita ou quando seja autorizado, por escrito, pelo senhorio. Exceptua-se o caso de obras urgentes, em que o arrendatário também pode realizar as obras, com direito a reembolso, mas avisando o senhorio dessa situação. O arrendatário terá lugar, no final do contrato, a compensação pelas obras licitamente efectuadas, nos termos das benfeitorias realizadas por possuidores de boa fé.

Artigo cedido pelo Banco Santander Totta


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TAP também enfrenta fobia de voar s aviões causam um fascínio inevitável na maior parte das pessoas. Contudo, dado que o espaço aéreo não é o meio natural de deslocação para o homem, esta forma de transporte também pode produzir sensação de insegurança

O

e medo. Na realidade, viajar de avião vai contra os instintos mais básicos e primitivos da espécie humana, tais como o medo de cair, que é um dos medos mais remotos da nossa espécie. De acordo com o Health Institute of Aviation, estima-se que cerca de 10 a 40%

da população adulta sentirá medo de voar. Hoje em dia, a fobia de voo (ou aerofobia) é consensualmente apontada como uma entidade clínica de proporções significativas, que afecta milhões de pessoas em todo o mundo. É possível ajudar estas pes-

soas a encararem a viagem de avião de forma mais natural e descontraída, ultrapassando o desconforto que sentem e desmistificando os medos. Diversas companhias de aviação têm dedicado recursos humanos e materiais para apoio e conquista destes clientes “ atormenta-

dos” através de programas específicos em que é abordado o medo de voar. Chegou agora a nossa vez! O Programa “ Ganhar Asas” consiste numa intervenção terapêutica sobre a aerofobia, que envolve um trabalho entre a TAP e a UCS.

breves

Congressos A TAP, como companhia aérea de bandeira, tem como um dos seus objectivos contribuir para que a realização de eventos no nosso país seja um sucesso. Pretende-se alcançar não só o reconhecimento da capacidade organizacional da entidade responsável pelo evento, como também promover Portugal e os serviços da nossa companhia. Com o intuito de facilitar a deslocação de congressistas para os eventos, a TAP tem vindo a estabelecer diversas parcerias com entidades organizadoras de congressos que têm as seguintes características gerais: As reservas terão que ser exclusivamente efectuadas através do nosso website www.flytap.com. Serão atribuídos descontos aos participantes que variam entre os 10% e os 20%. Os pagamentos serão efectuados via site por cartão de crédito e a moeda utilizada será sempre o Euro. O desconto é aplicável para viagens de ida e volta de qualquer destino TAP para Portugal e é válido apenas em voos operados pela TAP. Voos Code Share operados por outras companhias não são permitidos.


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O sonho é a baliza António C. Da Silva F. antoniodasilva@correiodevenezuela.com

or tradição, o futebol venezuelano tem sido o berço de bons guarda-redes, e até nos tempos nos quais não era comum ver jogadores crioulos a jogar em equipas estrangeiras, guarda-redes como o Reinaldo Story (Cruzeiro do Brasil), Gilberto Angelucci (San Lorenzo de Argentina) ou Rafael Dudamel (Dvo. Cali de Colô mbia), souberam representar com dignidade e sucesso as cores da pátria em aqueles campeonatos tão competitivos. Nos tempos que correm um jovem guarda-redes luso-descendente quer tentar imitar aos seus predecessores, e dar seguimento a boa escola de guardiães da baliza cá do burgo. Escolheu a terra dos seus pais para fazelo, e o popular clube do Marítimo para completar a sua formação e tentar chegar ao

P

profissionalismo. O seu nome é Jesus Miguel de Freitas, de 15 anos, quem completou com êxito a sua primeira época nos juvenis do Barreirense (filial dos verderubros) e quem, de férias em Caracas, conversou com o CORREIO das suas experiências e expectativas no futebol lusitano:

Como correu esta tua primeira época na Madeira? Eu vinha de jogar no Dvo. Galicia e a mudança foi dura no começo. Estive no banco em vários jogos pois tinha que melhorar fisicamente. Ao fim de um mes ganhei a confiança do treinador e acabei a época á jogar como titular.

Podes-te trabalhar alguma vez com o plantel profissional do Marí timo?

Não, nó s treinamos aparte embora tive a oportunidade de trabalhar como o treinador de guarda-redes da equipa principal do Marítimo, quem me deu muitos con-

selhos ú teis para a minha carreira.

Como é o teu dia a dia?

Eu moro na Camacha com meus avó s e os meus tios, e todos os dias vou até o Funchal ás aulas do décimo ano na antiga Escola Industrial para depois comparecer aos treinos da equipa do Barreirense. É forçado mais todo valeu a pena. Estou orgulhoso pois não é fácil para um miú do deixar o seu país e aos seus pais, mais acredito que conseguirei vencer.

Qual foi a tua principal complicação?

No meu caso foi dominar o idioma e adaptar-me ao ritmo de treinos e do jogo que se pratica na Europa. Muitas vezes sentia-me cansado e sofri lesões nos adutores e no pulso até poder alcançar a forma física ideal. A preparação para os guarda-redes na Madeira e muito mais exigente que a que eu experimentei aqui na Venezuela.

Jesús Miguel sonha defender a baliza da equipa principal dos verde-rubros

Quais são os objectivos traçados para a próxima época?

No pró ximo 29 de Julho vou a apresentar-me na Madeira pois o Barreirense vai disputar um torneio juvenil na Noruega durante onze dias, para depois dai início a pré-época já na equipa Juvenil "A" do Marítimo, onde o meu desejo e manter a condição de guarda-redes titular.

Que te pareceu o recentemente finalizado Mundial de futebol?

Muito bom em termos físicos com a maioria dos golos a ser marcados no segundo tempo e uma campanha da selecção portuguesa para sentir orgulho. Acho que fomos prejudicados pela arbitragem no jogo perante os franceses. Não nos deixam ser grandes!


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Torneio beneficia lar Jean Carlos De Abreu

jeancarlos@correiodevenezuela.com

s instalações do Izcaragua Country Club, no estado Miranda, serviram de sede para a realização do "Terceiro Torneio de Golfe Copa SBDP" para benefício dos idosos do lar "Padre Joaquim Ferreira", situado em Los Anaucos. A Sociedade de Beneficência das Damas Portuguesas de Caracas, presidida por Maria Lourdes dos Santos de Monteiro, organizou esta actividade, convidando empresários e pessoas da sociedade lusa e venezuelana para participar numa jornada desportiva em "prol de uma causa justa como é a ajuda aos velhinhos necessitados". Cada patrocinador do evento "apadrinhava um buraco, dos 18 que existem no jogo de golfe", contribuindo para cada jogo com quatro milhões de bolívares, que seriam doados ao lar. Assistiram ao evento 120 pessoas. Para participar no torneio, os homens pagaram 60 mil bolívares e as mulheres 40 mil.

A

O cô nsul geral de Valência e Caracas, Rui Monteiro, esteve presente no almoço oferecido pela associação de damas. O diplomata, em conjunto com o presidente do Izcaragua Country Club, entregou prémios e troféus aos vencedores. Os representantes do lar e das Damas rifaram viagens a Portugal, estadias em hotéis em dife-

Formas de ajudar Mary Monteiro, actual presidente das Damas, sublinhou que existem outras formas de colaborar com o Lar. Uma delas é associar-se ao plano "Donación de Amigos", que consiste em contribuir mensalmente com 50 mil bolívares para ajudar nos gastos com os idosos. A outra opção é "Apadrinando a un Abuelo", contribuindo com 750 mil bolívares por mês para cobrir gastos médicos, alimentícios e têxteis do seu "afilhado".

rentes países como Curaçau, Aruba, Repú blica Dominicana e Panamá. No total, 24 empresas estiveram presentes para apoiar a actividade organizada pela beneficência lusa em Caracas. O lar "Padre Joaquim Ferreira" acolhe e cuida de 70 idosos da comunidade portuguesa na Venezuela que não têm recursos econó micos para viver nem familiares que os ajudem.

Porto Santo Golfe organiza 1º torneio para as Comunidades Emigrantes António Carlos da Silva F.

antoniodasilva@correiodevenezuela.com

A

bela ilha dourada do Porto Santo vai acolher entre os dias 9 e 10 de Setembro de 2006 o "1º Torneio da Emigração - 2006", que vai realiza-se num agregado de 36 buracos. No primeiro dia haverá saídas dos "tees" 1 e 10, e no 2º dia será saída em "shot gun", para que todos possam estar no almoço/convívio e na entrega de prémios. Os participantes irão receber prémios para os primeiros classificados, masculinos e femininos e ainda para o "drive" mais longo e bola mais perto do buraco. A inscrição no torneio inclui as duas voltas de jogo e ainda uma volta de treino na véspera, bem como acesso a "trolley" manual gratuito e presença no almoço de encerramento. Para além disso os acompanhantes poderão desfrutar da ilha e so-

bretudo da linda praia com nove quiló metros de areia dourada, uma das paragens mais visitadas pelos turistas que incluem no seu roteiro o arquipélago madeirense.

Á espera da representação venezuelana

Mário Silva, porta-voz do Porto Santo Golfe, afirmou que sendo o 1º torneio do género que organizam, são esperados entre 40 a 50 participantes. O clube já tem agendado a realização de um segundo torneio similar destinado aos portugueses emigrados para 21 e 22 de Dezembro de este ano. Para se inscrever no torneio não existem requisitos especiais, podem participar todos os emigrantes madeirenses ou portugueses que residam no estrangeiro. A inscrição custa apenas 75,00 euros. Até á data, segundo Mário Silva, "ainda não temos nenhum emigrante venezuelano inscrito. Apenas fomos contactados por cinco jogadores que prometeram estar presentes,

mas que ainda não confirmaram a sua inscrição, até porque ainda estamos quase a dois meses de distancia". A organização do torneio espera que o maior fluxo de participantes sejam emigrantes da África do Sul, com cerca de 20 jogadores, e do Canadá, que pode estar representado por cerca de uma dezena de golfistas. A expectativa é enorme pois tratando-se do 1º evento do género, o desejo é que a iniciativa seja bem aceite pelos amantes da modalidade. Esta iniciativa do Porto Santo Golfe e uma prova mais de que a ideia que se tem do português emigrado, já começa a ser percebida de outra forma lá na pátria. Aquele estereó tipo do emigrante que só percebe e gosta de futebol, esta dando passo aos poucos a uma imagem mais condizente com a nova realidade da diáspora portuguesa. Esperamos que a Venezuela possa contar com uma boa representação na prova.


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Cristiano Ronaldo mostra Madeira a Merche Romero Saturnino Sousa e Raul Caires

ristiano Ronaldo continua de férias na Madeira na companhia de Merche Romero. E a semana passada aproveitou para mostrar à apresentadora do "Portugal no Coração" de que são feitas as praias da Madeira, embora a ideia inicial fosse leva-la à praia de areia artificial da Calheta. Só que na Calheta estava muita gente, pelo que o casal, acompanhado de alguns amigos, acabou por tomar outro rumo, tentando assim manter alguma privacidade. Como é natural, o futebolista madeirense tem tentado passar o mais despercebido possível, procurando assim gozar o seu período de repouso na maior tranquilidade possível, mas sempre que tem de ir à rua e misturar-se com a "multidão", recusa-se a assumir o papel de "vedeta". Muito pelo contrário! Isso ficou, aliás, bem patente na manhãde ontem, durante a curta deslocação que fez à loja do Cidadão, onde foi renovar o seu

C

Bilhete de Identidade. Segundo aquilo que nos foi possível apurar, Ronaldo chegou lá por volta das 11.30 e à medida que foi sendo reconhecido começaram também os cumprimentos e os pedidos de autó grafos. Uma das responsáveis pelo serviço ofereceu-lhe a possibilidade de passar para uma sala mais reservada, por forma a tratar das burocracias sem ser incomodado, mas a recusa de Ronaldo foi taxati-

va. Nem pensar. "Esta é a gente da minha terra. Estou muito bem entre eles" terá respondido o jogador. Concluído o processo, e sem nunca se recusar a um cumprimento ou um autó grafo, Ronaldo foi-se então embora, mas deixando atrás de si um rasto de simplicidade, simpatia e humildade. O mesmo, aliás, que já havia feito na Raposeira, concelho da Calheta, onde ficou instalado.


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O jovem madeirense também teve tempo para namorar com a sua companheira, Merche Romero, com quem também se deixou fotografar a pedido de alguns fãs

TURISMO RURAL O local escolhido por Ronaldo foi uma habitação de turismo rural, praticamente isolada no meio de campos agrícolas, mas nem assim evitou ser reconhecido. E porque numa terra do tamanho da nossa tudo se sabe num instante, a pequenada da zona depressa soube que ali estava o "craque" que tanto orgulho tem dado aos madeirenses nos ú ltimos tempos. Resultado: não faltaram voluntários para ir "trabalhar na fazenda", e, obviamente, os pedidos de autó grafos. Ao que parece, satisfeitos por Ronaldo. Que mesmo assim ainda arranjou tempo livre para brincar no jardim com a sua (quase) inseparável amiga... bola de futebol. Durante a tarde, conforme já referimos, o programa incluiu uma ida à praia, embora muito rápida. Ronaldo, Merche e os amigos deixaram a casa na Raposeira por volta das 16.30 em direcção à

Calheta, mas aí chegados depararam-se com uma praia repleta de gente. Optaram então por mudar de rumo, seguindo até à Madalena do Mar. Depois de um café tomado na esplanada, tempo então para um mergulho nas águas do mar, fugindo ao intenso calor que se fazia sentir. E nem o facto de os grãos de areia serem demasiado grossos atrapalhou a diversão do grupo, que ao fim de quinze minutos a banhos voltou para casa. NO PORTO SANTO Já no Porto Santo, Cristiano Ronaldo, sempre acompanhado de Merche Romero, exerceu todo o poder que só está ao alcance das estrelas para atrair a atenção de todos quantos deram pela sua presença no areal da ilha dourada. O craque do Manchester United e do futebol mundial cativou e impressionou dezenas de banhistas, que aproveitaram a oportunidade para lhe pedir autó grafos e ao lado dele posar para a fotogra-

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fia. Aproveitando a receptividade do jovem avançado madeirense, muitos foram os veraneantes, de vários sexos, nacionalidades e tamanhos, que fizeram questão de o abordar mesmo quando o craque trocava uns lances de bola com o sobrinho ou com outros familiares ou ainda apanhava banhos de sol na toalha. Talvez por beneficiar do facto de se encontrarem poucas pessoas naquela zona da praia - em frente ao Hotel Luamar -, Cristiano Ronaldo pô de demonstrar uma grande simplicidade no trato para com todos aqueles que o abordavam ou paravam a certa distâ ncia para lhe tirar fotografias, fosse com o telemó vel ou com máquinas fotográficas - desde que os fotó grafos não fossem profissionais, pois aí a permissão era logo revogada não pelo craque, mas pelos que com ele faziam praia.

O craque do futebol mundial, orgulho da freguesia de Santo Antó nio, da Madeira e de Portugal, aproveitou o dia de praia para descansar ao sol, jogar à bola com os familiares, dar umas "esgalhadelas" a grande velocidade em cima de uma moto de água e, para gáudio daqueles que o podiam ver, exibir as suas qualidades excepcionais ao nível do domínio do esférico, tendo protagonizado momentos que só estão ao alcance de um restrito grupo de predestinados. O jovem madeirense também teve tempo para namorar com a sua companheira, Merche Romero, com quem também se deixou fotografar a pedido de alguns fãs. O jogador internacional português chegou à ilha dourada no passado domingo, por via aérea. No Aeroporto do Porto Santo estava o presidente da Câ mara Municipal do Porto Santo, Roberto Silva, mais um "comité" de boas-vindas.


CORREIO DE VENEZUELA - DE 20 A 26 DE JULHO DE 2006

INQUÉRITO Qual é a sua opinião a respeito da polémica entre o Centro Português e o Club Sport Marí timo?

Já há solução para "caso Marítimo-CPC" António C. Da Silva F.

antoniodasilva@correiodevenezuela.com

patrimó nio conquistado pelo C.S. Marítimo da Venezuela e armazenado nos depó sitos do CPC, vai poder permanecer nas instalações do clube de Macaracuay, pondo assim um ponto final nesta polémica que conseguiu espalhar a preocupação em muitos dos adeptos e simpatizantes da famosa equipa de futebol lusovenezuelano. O acordo foi alcançado entre Mário Pereira, representante do C.S. Marítimo, e André Pita, presidente do Centro Português de Caracas, numa reunião que foi conseguida pelos bons ofícios do padre Alexandre Mendonça, que serviu de mediador num encontro que segundo as palavras do clérigo "decorreu sob o signo da simpatia, respeito e boa atitude", e do qual por fim conseguiu sair "fumo branco". O Sacerdote tomou conhecimento do caso a través do CORREIO e pelas diversas manifestações recebidas pelos fiéis "de profunda preocupação pois o Marítimo é uma das instituições mais queridas pela coló nia lusa".

O

Os responsáveis verderubros tem agora o compromisso de fazer um inventario dos diversos objectos que formam parte do espólio Os responsáveis verde-rubros tem agora o compromisso de fazer um inventario dos diversos objectos que formam parte do espó lio, retirar aquelas peças estragadas para a sua recuperação e restauração, ordenar e organizar tudo o referente ao patrimó nio do clube "tetracampeao" venezuelano, e sobre tudo, arranjar de forma definitiva um local onde por fim possam erguer o museu do Marítimo. André Pita, líder da direcção do CPC, falou com o CORREIO das conclusões do dito encontro mas quer deixar claro que "muitas das cartas enviadas ao vosso semanário queixando-se da nossa posição, foram feitas por pessoas que só conhecem a metade da histó ria, pois nosso desejo jamais foi o de prejudicar ao Marítimo, antes pelo contrário, foi um chamado de atenção

para os seus responsáveis para que consigam salvar o que ainda fica do passado do clube, pois a degradação daria cabo de tudo o patrimó nio". O porta-voz do clube maritimista, Mário Pereira, confirmou as condições do acordo e vai convocar uma reunião para a pró xima semana "que vai juntar a todos os simpatizantes, adeptos e colaboradores do Marítimo, para marcar a data da realização do dito inventario e a limpeza dos objectos, e sobretudo, alcançar um consenso sobre o local elegido para expor ao pú blico todas as taças, trofeus, fotografias e galhardetes, que dão conta da gloriosa histó ria do clube". O Centro Luso Turumo de Caracas ofereceu um espaço nas suas instalações para tal efeito, sendo até o momento a hipó tese mais forte. Ambos dirigentes confirmaram também que o historiador Antó nio de Abreu vai colaborar no processo de inventario, visando o resgate do patrimó nio documental (livros, fichas de jogadores, contratos, panfletos, facturas, etc), que vai precisar de ser restaurado, pois encontrase muito danificado. O compromisso é o de destinar todo esse patrimó nio para o futuro arquivo histó rico da comunidade luso-venezuelana.

Marcelino Canha Presidente de Feceporven “ Creio que está a faltar diálogo e dá-me a impressão de que isto é um "pase de factura" (represália) de algo mais. Devem chegar a uma decisão sã e tangí vel, de onde os dois saiam beneficiados” . João Paulo da Veracruz Presidente do Centro Social Madeirense, em Valência “ Ambas as parte deveriam dialogar e se as conversações se esgotarem e não chegarem a nenhum consenso, os dirigentes do Marí timo têm que tomar decisões sábias” . Ernesto de Sales Presidente da Casa Portuguesa do estado Aragua “ Independentemente dos altos e baixos que a direcção da instituição maritimista teve, considero que a direcção do CPC devera dar um pouco mais de tempo para que se encontre outro lugar. Creio que existe algo pessoal nesta disputa, mas o importante é resgatar o património e logo pensar numa nova sede." Ví ctor Vieira Presidente do Centro Português Venezuelano de Guayana "Realmente, a direcção do Marí timo não existe porque após três anos sem preocupar-se pelo que tinham ali, decidem ir procurar rapidamente um lugar onde colocar todo o material metálico guardado. Estou de acordo que o CPC o tenha feito, para que estes ex-dirigentes encontrem um lugar apropriado para expor o que foi o Marí timo na Venezuela e o que significou” .


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