Revista Mineira de Engenharia - 27ª Edição

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Ano 6 | Edição 27 | JAN - FEV | 2015

BARRAGENS Sistema pode ser uma solução para as crises de abastecimento de água e energia

INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA Setor se prepara para novo cenário econômico

ENTREVISTA Mauro Borges Lemos, presidente da Cemig

Escassez de energia e água: gestão de crise, causas e soluções


enteFaz

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Investimentos em infraestrutura


EDITORIAL | PALAVRA DO PRESIDENTE

Augusto Drummond Presidente da SME

Oportunidades para a Engenharia Compromisso com a Nação Ao editarmos este primeiro número de 2015 da Revista Mineira de Engenharia, constatamos ser inegável que vivemos um momento de intranquilidade com relação às perspectivas futuras da Engenharia Brasileira e do País. É bem verdade, que não podemos afirmar, com segurança, que o Brasil já se encontra em uma conjuntura de crise bem definida, porém são grandes as incertezas em relação ao futuro mais imediato da Nação. Isto porque, mesmo diante de medidas que vem sendo tomadas no planejamento e no campo financeiro, não se pode mensurar, ainda, o impacto dessas medidas, além do fato de não existir amplo apoio político e, sim, ao contrário, muitas divergências com relação à natureza das medidas em curso. A Engenharia, obviamente, está sendo afetada pela redução dos investimentos e consequente redução da oferta de obras e serviços, hoje muito aquém da capacidade tecnológica desenvolvida pela engenharia brasileira, ao longo dos anos. Esse desenvolvimento tecnológico é algo que não podemos perder. Por outro lado, é preciso enfatizar as janelas de oportunidades que são geradas para a engenharia brasileira por esta nova realidade.

Uma delas é a aplicação do conhecimento e de técnicas disponíveis no aprimoramento da manutenção de equipamentos e instalações na indústria. É aquilo que, no passado recente, já era necessário fazer e não foi feito porque não podia parar a produção. A hora é agora, de aproveitar eventual capacidade ociosa, para fazer a conservação e os reparos requeridos. Outra janela de oportunidade é a modernização dos processos produtivos. Trata-se da substituição tecnológica que permitirá produzir, em um momento de retomada do desenvolvimento, com menores custos e com aumento da produtividade. Outras possibilidades existem, por exemplo, no treinamento e capacitação, onde, uma vez mais, a engenharia poderá mostrar o seu valor à sociedade. A SME não ficou imune a essa conjuntura desfavorável. As dificuldades aumentaram para que consigamos alcançar um de nossos objetivos estratégicos: recuperar o prédio sede da SME, localizada na Rua Timbiras, nº 1514, fechado há cerca sete anos, face à deterioração de suas instalações. Contudo, vamos persistir, buscando parceiros que nos ajudem a atingir esta meta. Pretendemos, também, abrir novos diálogos com a so-

ciedade e governos em torno de temáticas emergentes de interesse da engenharia e que afetam a vida de todos; usando para isso a contribuição de nossas Comissões de Trabalho, constituídas por profissionais qualificados. Como ressaltamos na última edição da Revista, é crucial, nesse momento, o aumento da oferta de água e de energia elétrica à população. Embora tenham ocorrido chuvas generosas, ainda, estamos longe de atingir o patamar ideal de acumulação em nossos reservatórios. A SME pretende contribuir nestes assuntos e, na medida de nossas possibilidades, no planejamento dos governos municipais, estadual e federal. É fundamental, apresentarmos alternativas para o desenvolvimento da infraestrutura do País, ainda que em curto prazo, tais alternativas não venham a ser viabilizadas. O momento é de reflexão, planejamento, busca de oportunidades e de soluções que possam conduzir ao aumento de produtividade, valorizando o papel dos engenheiros e da engenharia, e sua contribuição para o futuro da Nação. A SME só irá cumprir esta missão, se puder contar com a ajuda de todos. Por isso, renovamos o nosso pedido de seu apoio e colaboração. 3


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Augusto Celso Franco Drummond Presidente

Janaína Maria França dos Anjos Diretora

Alexandre Francisco Maia Bueno Vice-Presidente

José Andrade Neiva Diretor

José Ciro Mota Vice-Presidente

Krisdany Vinicius Santos de Magalhães Cavalcante Diretor

Luiz Henrique de Castro Carvalho Vice-Presidente Marita Arêas de Souza Tavares Vice-Presidente Virginia Campos de Oliveira Vice-Presidente Alexandre Rocha Resende Diretor Antônia Sônia Alves Cardoso Diniz Diretora Fabiano Soares Panissi Diretor Humberto Rodrigues Falcão Diretor

Publicação

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Marcelo Monachesi Gaio Diretor Túlio Marcus Machado Alves Diretor Túlio Tamietti Prado Galhano Diretor CONSELHO DELIBERATIVO Ailton Ricaldoni Lobo Presidente Conselheiros Alberto Enrique Dávila Bravo Carlos Eustáquio Marteleto Eduardo Paoliello

Fernando Henrique Schuffner Neto Flavio Marques Lisbôa Campos Francisco Maia Neto Jorge Pereira Raggi José Luiz Gattás Hallak José Raimundo Dias Fonseca Levindo Eduardo Coelho Neto Luiz Celso Oliveira Andrade Paulo Henrique Pinheiro de Vasconcelos Rodrigo Octávio Coutinho Filho Wilson Chaves Júnior CONSELHO FISCAL Carlos Gutemberg Junqueira Alvim Presidente Conselheiros Alexandre Heringer Lisboa João José Figueiredo de Oliveira José Eduardo Starling Soares Marcelo Aguiar de Campos Coordenador Editorial José Ciro Mota Jornalista Responsável Luciana Maria Sampaio Moreira MG 05203 JP

Revisão Editorial Jalmelice Luz ‑ MG 3365 JP jornalismo@sme.org.br Projeto Gráfico / Desgin Blog Comunicação Marcelo Távora tavora007@hotmail.com (31) 3309 1036 | (31) 9133 8590 Depto. Comercial Blog Comunicação & Marketing tavora007@hotmail.com (31) 3309 1036 | (31) 9133 8590 Tiragem: 10 mil | Bimestral Distribuição Regional (MG) Gratuita Publicação | SME Sociedade Mineira de Engenheiros Av. Álvares Cabral, 1600 | 3º andar Santo Agostinho | Belo Horizonte Minas Gerais | CEP ‑ 30170‑001 Tel. (31) 3292 3962 sme@sme.org.br www.sme.org.br

Apoio Compromisso, Inovação e Avanço


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NOTAS DO SETOR

ENGENHEIRO DO ANO Solenidade em homenagem a Edson Durão Judice

INOVAÇÃO Engenheiro mineiro recebe prêmio da World Steel Association

ARTIGO | ÁGUA Susana Feichas, FGV/IBS

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BARRAGENS Sistema pode ser uma solução para as crises de abastecimento de água e energia

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ARTIGO | CDS/SME Comitê de Desenvolvimento Sustentável da SME

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CAPA Cenário da crise energética

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ENTREVISTA Presidente da CEMIG, Mauro Borges Lemos

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GESTÃO DA ÁGUA Mudanças climáticas e crise da água

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JOVEM ENGENHEIRO Daniel Távora de Castro Queiroz

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GESTÃO PÚBLICA Engenheiros no comando do Governo de Minas

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CREA‑MG Câmara de Mediação e Arbitragem do Crea‑Minas amplia sua atuação

INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA Setor se prepara para novo cenário econômico

RESPONSABILIDADE SOCIAL PPPs ajudam municípios a solucionar problemas do abastecimento de água 5


NOTAS DO SETOR CEMIG

O presidente da SME,Augusto Drummond, participou da cerimônia de posse do novo presidente da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), Mauro Borges Lemos, ocorrida em janeiro, último, e da diretoria executiva nomeada pelo governador do Estado, Fernando Pimentel. Na ocasião, Mauro Borges afirmou que um dos principais desafios é conscientizar a população do uso eficiente de energia para diminuir o consumo e evitar o racionamento. “Assim conseguiremos sobreviver este ano. Acredito que com o consumo eficiente nós não teremos racionamento”, afirmou. Mauro Borges é economista formado pela UFMG, presidente do Conselho de Administração do BH-TEC, foi ministro de Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior, em 2014, e atuou como presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial, no período de 2011 a 2014.

Augusto Drummond, presidente da SME, Fernando Pimentel, governador do Estado e Mauro Borges Lemos, presidente da CEMIG

SENGE-MG CRIA UNIVERSIDADE

O Sindicato dos Engenheiros de Minas Gerais (Senge-MG) criou, em 2014, a Universidade Corporativa do Sindicato dos Engenheiros no Estado de Minas Gerais (Unisenge) com o intuito de atualizar os profissionais (engenheiros e tecnólogos) das áreas tecnológicas, para mantê-los capacitados a atuar em suas respectivas profissões. A Unisenge já oferece uma série de cursos livres, voltados também para estudantes do ensino técnico e superior das áreas que se propõe a atuar. Os cursos atualmente têm duração de dois a sete dias e são certificados pelo próprio Senge-MG, que oferece a seus associados descontos especiais no paga-

mento. As aulas são ministradas em edifício anexo à sede da entidade, na Rua Timbiras, 2887, Bairro Barro Preto. Atualmente, estão em oferta os cursos “Formação de Líderes para a Construção Civil”, “SGA – Sistema de Gestão Ambiental (ISO 14001)”, “Formação de Auditores Internos em Sistema de Gestão Integrado (ISSO 9001:2008, ISO 14001 e OHSAS 18001)”

e “Técnicas para Projeto de Construção Civil”. Todos os cursos têm o custo de R$ 250,00 para não associados. Sócios do Senge-MG pagam R$ 80,00. O presidente do Senge-MG, Raul Otávio da Silva Pereira, afirma que a criação da Unisenge era um sonho antigo que começa a se tornar realidade. Mais informações no site: www.sengemg.org.br/servicos.

MINASCON 2015

Está previsto, para o período de 24 a 27 de junho, a realização da Construir Minas 2015 - Feira Internacional da Construção / Minascon - 12º Encontro Unificado da Cadeia Produtiva da Indústria da Construção. O evento é tradicionalmente realizado no Expominas, na Gameleira, promovido pela Câmara da Indústria da Construção (CIC/FIEMG).A feira foi idealizada para unir, em um mesmo local, durante quatro dias, todos os segmentos da indústria da construção civil do mercado mineiro; com o objetivo de apresentar as novidades do setor, principais tendências, produtos e as mais modernas 6

soluções. O evento, a cada realização, contabiliza aumento no número de visitantes e expositores, e se renova. No ano passado, a SME participou do evento com estande próprio, atraindo grande número de associados. Mais informações pelo site http://www.construirminas.com.br; ou e-mail: feiraconstruir@fagga.com.br.


CURSOS DE ENGENHARIA PARA ASSOCIADOS DA SME

TRAJETÓRIA EXEMPLAR

A SME registra nesta primeira edição do ano, o grande pesar pela perda do professor Selênio Rocha Silva, titular do Departamento de Engenharia Elétrica da Escola de Engenharia da UFMG. Ele sofreu acidente automobilístico fatal, nas proximidades de Nova Ponte (MG). Selênio Rocha estava com 56 anos e construiu uma trajetória exemplar. Com graduação e mestrado em Engenharia Elétrica pela UFMG, fez doutorado na Universidade Federal de Campina Grande. Desde 1995 era professor CAU/MG

titular do Departamento de Engenharia Elétrica, onde ingressou em julho de 1982. Foi coordenador de cursos de graduação e de pósgraduação. Atualmente era representante da Congregação da Escola de Engenharia no Conselho Universitário e integrante da Comissão de Ética da UFMG. Como pesquisador, desenvolveu vários projetos de pesquisa com órgãos de fomento oficiais, com indústrias do setor elétrico brasileiro e em cooperação internacional.

O Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Minas Gerais (CAU) lançou uma publicação especial com o Relatório de Gestão da entidade, referente ao período de 2011/2014, quando estava sob a direção do arquiteto e urbanista Joel Campolina, primeiro presidente eleito da entidade. A arquiteta e urbanista Vera Maria Carneiro Mascarenhas de Araújo preside a entidade nos próximos três anos. Entre os projetos desenvolvidos estão a Campanha Arquitetura para Todos e a ferramenta aplicativo Arquiteto Protago-

nista, disponibilizada em nível nacional e que pode ser baixada gratuitamente. A partir do deste mês, começam as mudanças que simplificam o processo de RRT (Registro de Responsabilidade Técnica). As novidades foram introduzidas pela Resolução CAU/BR Nº 91. Uma das principais alterações é a simplificação da baixa do RRT, que agora será feita diretamente pelo arquiteto e urbanista via SICCAU (Sistema de Informação e Comunicação do CAU), sem a necessidade de análise para a efetivação.

CALOURADA

SME

Conselho Deliberativo da SME

Bancada da SME no CREA-MG

Membros do Conselho Deliberativo da SME se reuniram para definir, ente outras questões, um novo calendário de reuniões e temas para 2015. Estiveram presentes o presidente do Conselho, Ailton Ricaldoni, José Ciro Mota,Alberto Dávila, Jorge Pereira Raggi, Carlos Eustáquio Martelo e Rodrigo Octávio Coutinho. Os integrantes da Bancada da SME no CREA-MG também se reuniram para debater, entre outros temas, a Renovação do Terço. Entre os participantes: Augusto Drummond (presidente da SME), Marita Tavares, Flávio Carvalho, Ronaldo Simi, Dilvar Salles, Miguel Ângelo, Werner Rolfs, Waldir de Castro, Carlos Schettino e José Caldeirani.


NOTAS DO SETOR 4º ENCONTRO DE LÍDERES REPRESENTANTES DO SISTEMA CONFEA/CREA E MÚTUA A vice-presidente da SME, engenheira Marita Arêas de Souza Tavares, participou, em Brasília, no período de 26 a 28 de fevereiro/15, do 4º Encontro de Líderes Representantes do Sistema Confea/Crea e Mútua. Este evento é anual e é considerado um dos compromissos mais importantes do Sistema, marcado por uma agenda de reuniões dos fóruns con-

sultivos da instituição. É durante o “Encontro de Líderes Representantes do Sistema Confea/Crea e Mútua” que fóruns como o Colégio de Entidades Nacionais, o Colégio de Presidentes e as Coordenadorias de Câmaras Especializadas definem calendários, planos de trabalho e os coordenadores do ano.

A REPRESENTAÇÃO DA SME JUNTO AO CREA-MG

O CREA-MG iniciou a chamada “renovação do terço” para 2016, que é o processo anual de substituição compulsória de 1/3 de seus Conselheiros Regionais, escolhidos entre representantes das instituições de ensino superior de engenharia e agronomia e das entidades da classe no estado. Os conselheiros, pelas suas formações, compõem as Câmaras Especializadas, que são a primeira instância de julgamento dos processos da regulação profissional e, em conjunto, constituem o Plenário do Crea – MG, a sua segunda e maior instância de julgamento regional.

A SME, pelo seu porte e tradição, é uma das maiores “bancadas” de representação de entidades de classe e, por isso, ocupa um espaço privilegiado de discussão e tomada de decisões referentes às ações do Crea-MG, onde as questões de pauta estão intimamente ligadas à atividade profissional e, portanto, de alto grau de importância para os seus associados. Os critérios para a definição dos conselheiros representantes são estabelecidos pelo Conselho Federal de Engenharia e Agronomia e operacionalizados regionalmente pela Comissão Permanente de Renovação do Terço (CPRT), que, neste ano, conta com dois conselheiros representantes da SME.

PRAZO DE OPÇÃO

Fique atento para o prazo de opção por uma entidade, no caso a SME, no período de 12 de abril a 4 de maio/15, e que só poderá ser feita no site do Crea-MG (www.crea-mg.org.br). Para efetivar a opção será necessário número de registro no CreaMG e senha de acesso.

Como os critérios adotados são técnicos e objetivos, o associado da SME pode perceber que é determinante, para a manutenção e/ou aumento de representatividade da entidade junto ao Crea-MG, o número total de associados e, eventualmente, a livre opção do associado pela SME no caso de vinculação, também, com outra (s) entidade (s). Na próxima edição da Revista Mineira de Engenharia, será publicada uma entrevista com os dois conselheiros da CPRT, que são associados à SME, com mais detalhes. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (31) 3292 3962 ou e-mail sme@sme.org.br.

CaMPanha dE rEvitaLizaÇão da sEdE da sME CONTRiBuiNDO VOCê FORTALECE E REViTALizA A SME

as contribuições de empresas e de profissionais serão muito bem-vindas e serão tratadas com a máxima transparência. FaÇa sua PartE, ContriBua!

Banco: 756 sicoob - Engecred agência: 4156 Conta: 72001-1 CnPj: 17.227.745/0001-90 Favorecido: sociedade Mineira de Engenheiros


SME | ENGENHEIRO DO ANO DE 2014

Gerações de profissionais de engenharia se reúnem para homenagear o professor Edson Durão Judice Uma carreira brilhante, um currículo

A entrega da Medalha e do Título de

Em publicação que anteceu à soleni-

ímpar, uma profissional respeitado

Engenheiro do Ano 2014 foi mais

dade, o jornalista Gustavo Werneck,

por gerações de engenheiros, cer-

que um ato solene, mas uma ma-

na abertura de uma matéria, no jor-

cado por amigos de fé, admirado-

nifestação da grande admiração de

nal Estado de Minas, traçou com le-

res confessos e uma família que,

gerações de engenheiros e de ex-

veza, mas acertadamente, um perfil

também, está na quota dos fãs de

alunos, que encontram nele um

do professor, que merece ser relem-

carteirinha. Esta é uma curta des-

manancial de inspiração e sabedo-

brado. O jornalista identificou que "a

crição do engenheiro e professor

ria, que os motivam a ir adiante.

paixão infinita pelo ensino está pre-

Edson Durão Judice homenageado

O amor e dedicação ao estudo e

sente em gestos, palavras e lembran-

com a Medalha Sociedade Mineira

ao ensino fazem dele, professor

ças do professor de matemática

de Engenheiros e com o Título En-

Edson, uma referência. São essas

Edson Durão Judice, nascido, criado

genheiro do Ano 2014, em soleni-

qualidades, entre outras, além do

e residente em Belo Horizonte”.

dade conduzida pelo presidente

carisma, que contribuem para o

Werneck narra que durante entre-

da SME, Augusto Drummond, no

crescimento de uma legião de ad-

vista, o “engenheiro civil formado em

auditório do Sicepot-MG, em de-

miradores, de discípulos do home-

1948 faz um gesto no ar, como se

zembro último.

nageado.

quisesse abraçar cada um dos milha-


SME | ENGENHEIRO DO ANO DE 2014

Discurso do homegeado na entrega da Medalha e do Título de Engenheiro do Ano 2014

res de ex-alunos, eleva à enésima po-

O homenageado no seu discurso

tência a necessidade da educação no

de agradecimento lembrou de sua

país e se mantém com um livro nas

trajetória, dos colegas, fez a defesa

mãos, certo de que leitura e estudo

do ensino de qualidade e frisou:

são atividades ímpares na vida”.

“Quero deixar bem claro que esta

A escolha do nome do professor Edson Durão Judice pelo Conselho da Medalha foi por aclamação, em resposta à proposta encaminhada por um grupo de engenheiros liderados por Felix Moutinho, Marcos Sant’Anna e

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noite é muito significativa na minha vida. Já recebi outros prêmios, mas hoje estou sendo contemplado com um título que jamais imaginei conseguir, o de Engenheiro do Ano de 2014”.

Rodrigo Coutinho Filho, destacado na

Durante a cerimônia houve um reci-

condição de Chanceler da Medalha.

tal do Quarteto Pó de Madeira for-

Sob aplausos de um auditório repleto,

mado por alunos da Escola de

o engenheiro e professor foi condu-

Música da UFMG, acompanhados

zido à mesa diretiva pelos ex-presi-

pelo engenheiro e professor Maurí-

dentes da SME, Ailton Ricaldoni Lobo,

cio Loureiro, doutor em música pela

Márcio Trindade, Aloisio Vasconcelos

Universidade de Iowa, nos Estados

e Adolpho Portella.

Unidos.

Empresários e autoridades, representantes de entidades, estiveram presente. O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, que na ocasião estava em fase de transição para assumir o governo,enviou um carta ao presidente da SME, Augusto Drummond, parabenizando a entidade pela “homenagem e reconhecimento ao engenheiro e professor Edson Durão Judice”. O presidente do CREA-MG, Jobson Andrade, também, justificou ausência, por escrito. Na sessão solene, o secretário municipal de Serviços Urbanos, Píer Giorgio Senesi, representou o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda. O ex-governador Eduardo Azeredo esteve presente à solenidade.


Ato solene de entrega da Medalha Sociedade Mineira de Engenheiros e do Título de Engenheiro do Ano 2014.

Ailton Ricaldoni, Edson Durão Judice e Márcio Damazio

Mauro Teixeira e Eunice Teixeira

José Carlos Lisboa, Marcos Sant'Anna, Roberto Maria Mendes, José Guido e Felix Moutinho

Augusto Drummond, Edson Durão Judice e Alberto Salum

Alexandre Resende, Edson Durão Judice, Clóvis de Matos e Marcos Sant'Anna

Ângela Alvarenga e Edson Durão Judice

Carlos Augusto Muniz, Edson Durão Judice, Paulo Roberto Guimarães, Augusto Drummond e Aloisio Vasconcelos

Edson Durão Judice e Werner Rohlfs

Cibele Loureiro, Maurício Loureiro e Edson Durão

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Engenheiros, ex‑alunos, amigos e familiares lotam auditório para prestigiar o professor Edson Durão Judice.

Edson Durão Judice, Maria Helena Judice, Suzanne Beaudette e Augusto Drummond

Alexandre Heringer, Ailton Ricaldoni e Antônia Sônia

Eduardo Azeredo, Alberto Salum, Augusto Drummond e Alexandre Resende

Integrantes do Quarteto Pó de Madeira e o maestro Maurício Loureiro juntos com o professor Edson Durão.

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José Guido, Sílvio Nazaré e Nelson Parma

Humberto Matos, Francisco Matos, Edson Durão Judice, Rodrigo Coutinho, Merrê Bicalho e Bernardo Matos

Ana Elisa Freire, Suzanne Beau‑ dette e Maria Helena Judice

Everaldo Cortês e Edson Durão Judice


Carlos Gutemberg, Kátia Alvim, Ronaldo Gusmão, José Luiz Nobre Ribeiro e Antônio Humberto Almeida

Valéria Judice, Maria Alice Judice, Maria Helena Judice, Edson Durão Judice, Cinthia Judice e Érica Judice

Sidnéia Soares, Wilson Cézar e Fabiano Panissi

Eustáquio Machado, Francisco Davis, Edson Durão Judice e Dilvar Oliva Salles

Sileno Durão Judice, Míriam Judice, Eduardo Judice e Maurício Judice

Marianna Vasconcelos, Paulo Henrique Vasconcelos e Edson Durão Judice

Suzanne Beaudette, Augusto Drummond, Edson Durão Judice, Eduardo Sant'Anna e Ana Maria Sant'Anna

Olavo Machado, Paulo Henrique e Hudson Navarro

Sílvio Nazaré, Virgínia Campos e Augusto Drummond

Paulo Henrique Vasconcelos, Augusto Drummond e Alexandre Resende

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INOVAÇÃO

Engenheiro mineiro recebe prêmio da World Steel Association Estudioso e articulado, o engenheiro metalurgista mineiro Leandro Dijon de Oliveira Campos, 26 anos, graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), acaba de receber a medalha de bronze na premiação mundial SteelChallenge, uma realização anual da World Steel Association por meio do seu site SteelUniversity.org, que desafia estudantes e profissionais da indústria siderúrgica, que têm menos de cinco anos de experiência, a produzir aço em seus simuladores de processos online, atendendo a uma especificação química que resulte no menor custo possível para o produto. O pré-requisito é o conhecimento no processo de fabricação de aço e seus fundamentos, que serão usados por cada equipe. “Fui apresentado ao desafio em 2009. Na época, o campeonato ainda não tinha a dimensão que tem hoje, e não era dividido em regiões. Acabei ficando em 5° lugar no Brasil”, lembra. 14

Em 2011/12 o campeonato foi dividido em regiões e o estudante, que estava prestes a concluir o curso universitário, ficou em segundo lugar na América Latina. Nas edições de 2012/13 e 2013/14, ele se inscreveu na categoria industrial e ficou entre os cinco melhores da América Latina. Com experiência acumulada, ele participou mais uma vez, na edição de 2014/2015, que reuniu 1500 times de 34 países. Como atualmente mora e trabalha na França, no grupo ArcelorMittal, ficou em primeiro lugar na região Europa, CIS, África, Meddle East) e foi automaticamente selecionado para a final, ficando com o terceiro lugar geral. “Podemos considerar uma grande vitória”, comemora. O prêmio tem gerado resultados positivos para o engenheiro. O primeiro deles é em visibilidade, o que pode “abrir portas”. “Mas a visibili-

dade só não é suficiente. Preciso manter o foco nos meus projetos e ter um bom desempenho. O brilho é momentâneo e não se sustentará se eu não fizer o melhor para justificar esse destaque”, afirma. A maturidade de Leandro Dijon Campos tem explicação. Esse não é o primeiro prêmio importante que ele recebe. Em 2010, quando ainda era estudante e estagiário da Gerdau, na unidade de Divinópolis, recebeu o Prêmio SME de Ciência e Tecnologia, que o incentivou a continuar a busca pelo aperfeiçoamento técnico e inovação. “Isso, sim, foi crucial para a minha carreira”, define. Na época, a premiação da SME também gerou oportunidades para o então estudante, que usou o prêmio para comprar a passagem, o passaporte e o visto internacional, para um estágio no Centro de Pesquisas da ArcelorMittal, na França, onde ele trabalha, com muito gosto, na área de metalurgia extrativa.


Leandro Dijon de Oliveira Campos, 26 anos, graduado pela UFMG é medalha de bronze na premiação mun‑ dial SteelChallenge, uma realização anual da World Steel Association

Na prática, o trabalho do engenheiro é voltado para a aplicação industrial. Atualmente, ele desenvolve uma nova metodologia para obtenção dos coeficientes de transferência de massa entre líquidos imiscíveis (aço e escoria líquido), para otimizar os processos de refino de gusa líquido e aço na siderurgia e reduzir custos. “Meu maior interesse sempre foi o AltoForno, mas a vida profissional me presenteou com oportunidades em toda a metalurgia extrativa, desde a preparação das matérias-primas até o lingotamento contínuo de aços planos. Ter bons conhecimentos na área de redução e aciaria é, para mim, um privilégio”, destaca. De acordo com o engenheiro, a indústria do aço é altamente competitiva e, é preciso saber transformar conhecimento técnico em retorno financeiro para manter a competitividade da empresa. “As margens são

cada vez menores e as matérias-primas cada vez mais onerosas e com menos qualidade. É isso que nos faz evoluir rapidamente e a nunca ficar parado. Desafios são uma constante no meu trabalho e adoro vencê-los, seja por meio do desenvolvimento de novos produtos ou aprimorando processos”, afirma. Construir a carreira fora do Brasil foi uma opção. “Além da oportunidade de trilhar uma carreira internacional, em um centro de pesquisa de ponta, a empresa também financia e investe na minha especialização”, relata. Assim, além do salário de engenheiro, Leandro também tem a possibilidade de fazer um PhD na área de simulação matemática de processos, que sempre despertou o seu interesse. Entre outras vantagens, o jovem engenheiro também tem a chance de fazer contato com usi-

nas do mundo todo e desenvolver uma visão global e sistêmica do setor no qual atua. “Acredito que uma experiência internacional é muito importante no currículo de qualquer profissional, mas principalmente para o engenheiro. Saber lidar com as diferenças culturais e comportamentais das pessoas nos ajuda a mostrar e a obter resultados das equipes em que trabalhamos. Isso é fundamental para o nosso sucesso. Sem mencionar fluência em outras línguas, habilidade capaz de quebrar barreiras em negociações e apresentações de resultados”, ressalta. A experiência na Europa vai durar mais dois anos, o prazo final para a conclusão da tese. O futuro ainda não está claro, mas há a possibilidade de voltar para o Brasil, em alguma unidade da ArcelorMittal instalada no País. 15


INOVAÇÃO

Como acontece com todas as profissões, ser engenheiro depende de uma escolha. Leandro Campos sempre teve afinidade com números e ciências. “Desde pequeno meus pais me incentivaram a pesquisar e a experimentar. Além das pipas, piões e bolinhas de gude, tive microscópios, kits de alquimia e vidraria de laboratório como brinquedos preferidos”, lembra. A escolha pela área de Metalurgia veio, em parte, pela admiração pelo trabalho do pai, técnico em metalurgia, formado pela antiga escola técnica de Ouro Preto. “Lembro-me de ir buscálo de carro na porta das usinas, em Sete Lagoas, quando pequeno, e do quão interessante era ver a carga dos Altos-Fornos sendo transformada em gusa líquido. Confesso que gosto muito de adrenalina, e a sensacão que sinto ao trabalhar perto do Alto-Forno é bem parecida”, relata o engenheiro. Ver a naturalidade com que o pai fazia os cálculos de madrugada, também foi um fator que o motivou a ser – um dia – tão bom no que faço quanto ele, embora Leandro Campos reconheça que há um longo caminho a ser trilhado para atingir o seu objetivo. “A siderurgia é apaixonante. Quando a gente vê o resultado dos cálculos, a grandiosidade das máquinas e reatores e a importância dessa indústria para o crescimento de qualquer sociedade é impressionante”, projeta. Basta, então, que os estudantes invis16

A siderurgia é apaixonante. Quando a gente vê o resultado dos cálculos, a grandiosidade das máquinas e reatores e a importância dessa indústria para o crescimento de qualquer sociedade é impressionante

ENGENHARIA

tam em uma formação mais consistente com direito a estágios, estudo e participação em congressos. Para o engenheiro, um exame de proficiência, nos mesmos moldes do que é realizado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), elevaria o nível dos profissionais que ingressam no mercado de trabalho. Por isso, Campos planeja a sua carreira com a atenção necessária. Antes de saltar para cargos gerenciais e executivos – um sonho que ele quer realizar – pretende deixar uma boa contribuição para a indústria do aço. Ele também quer fazer um MBA internacional nos próximos cinco anos.

O pai, Wemerson Campos, reafirma que a vocação do filho para a Engenharia começou a se manifestar ainda na infância, com muita determinação e entusiasmo. “Quando eles são pequenos, as primeiras profissões que conhecem são as dos pais. O que ele está colhendo é a resposta de muita dedicação. O prêmio vai impulsioná-lo a crescer ainda mais”, afirma. Dos quatro filhos, apenas Leandro seguiu a área de Exatas. “Desde pequeno ele gostava de visitar siderúrgica e fazia muitas perguntas sobre o processo, dava sugestões, palpites e criticava”, lembra. Ainda conforme Wemerson Campos, o filho engenheiro sempre demonstrou curiosidade e alegria com tudo o que aprendia e fazia, o que facilita o relacionamento com colaboradores práticos e com os mais experientes. Quando não está pensando no trabalho, o engenheiro viaja, faz atividades físicas e pratica esportes radicais. “Aproveito bem a estratégica localização da cidade onde moro, situada na fronteira da França com a Bélgica, Alemanha e Luxemburgo, para experimentar as melhores cervejas do mundo”, revela. A namorada, de 25 anos, metalurgista como ele, acabou de concluir o PhD na melhor universidade da Europa. Ele pretende se casar.


23º Prêmio SME de Ciência, Tecnologia e Inovação Incrições abertas Uma parceria com a FIEMG

PÚBLICO ALVO

TEMAS

Estudantes regularmente matricu‑ lados nos cursos de graduação das áreas de Engenharia, Arquite‑ tura e Agronomia de Instituições de Ensino Superior do Estado de Minas Gerais.

Os temas abordados são livres, prefe‑ rencialmente no segmento indus‑ trial. As soluções devem assegurar a sustentabilidade do projeto, bem como a comprovar a relação custo/benefício e a melhoria de resultados e produtividade.

PRÊMIO

INSCRIÇÕES

Premiação em dinheiro do 1º ao 5º colocado.

As inscrições já estão abertas. Prazo final de inscrições será em agosto de 2015.

INFORMAÇÕES SME | Sociedade Mineira de Engenheiros Tel.: (31)3292 3810 E‑mail: fabiola@sme.org.br

REALIZAÇÃO

www.sme.org.br

APOIO


ARTIGO

A água de todos e de cada um Susana Feichas

região Sudeste do País vive, desde o verão de 2014, uma estiagem ímpar, nos últimos 50 anos, pela sua severidade, com repercussões ao longo do inverno e dos próximos anos. O entendimento da escassez passa por uma equação muito simples de ser visualizada, mas complexa quando se trata de tomar decisões e agir. Há escassez de água quando a disponibilidade de água de uma bacia hidrográfica é menor que a quantidade consumida naquela bacia. Mas, nem sempre foi assim. Então, o que vem acontecendo? Aumento do consumo de água pelo crescimento da população humana em dado espaço físico, bacia hidrográfica ou municípios.A região metropolitana de Belo Horizonte tinha 4,4 milhões de habitantes em 2000, com estimativa de 5, 7 milhões em 2014, representando um aumento de 35,7% no período. Nas regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro, o aumento da população, no mesmo período, foi de 17,42% e 11,00%, respectivamente.

A

A contaminação da água doce disponível está associada ao aumento do consumo de água que requer acesso 18

à rede de esgoto e tratamento do mesmo, bem como coleta e disposição adequada do lixo, resíduos sólidos urbanos. Ambos, lixo e esgoto, são fonte de contaminação da água de superfície e subterrânea, comprometendo sua qualidade. O déficit nesses dois segmentos persiste, conforme apontado no Plano Nacional de Saneamento Básico, de 2013. O consumo e contaminação dos processos produtivos também são elementos que preocupam. Na bacia hidrográfica, ainda encontramos indústrias e produção agropecuária que consomem em torno de 20% e 70% da água disponível, respectivamente, nos seus processos produtivos, com despejo de efluentes, nem sempre tratados, e contaminação por agrotóxicos e dejetos de animais. Outro fator que contribui com a escassez de água é o desperdício que ocorre no processo de distribuição da água até nosso domicílio e indústria. Desperdício, também, seja por vazamento ou mau uso que fazemos dela. Em relação à ocupação do solo, o desmatamento, impermeabilização do solo, ocupação das faixas marginais dos rios e áreas de preservação permanente são também fatos que contribuíram para mudanças no ciclo

hidrológico que, aliados à estiagem de 2001 e de 2014, colocam em estado de alerta a situação hídrica das três maiores regiões metropolitanas do Brasil. A curto prazo, dias menos dias, vamos ter que conviver com o racionamento da água, e quanto mais tarde pior, pois mudar hábitos de consumo não acontece de uma hora para outra. A médio e longo prazo, com as perspectivas de mudanças no clima, aumento de consumo de água, pois a população humana não para de crescer, e a constatação da desigualdade da distribuição da água doce, viveremos disputas pelo uso da água para as quais deveremos encontrar formas de mediação que promovam a solidariedade ao invés de acirrar o conflito, como já acontece no Oriente Médio. Para poder contribuir de uma forma mais efetiva na redução do consumo, é preciso que o cidadão tenha acesso a números para poder decidir e planejar. Olhar de forma integrada dado território. Dados não faltam, mas não se falam entre si, pois usam medidas diferentes, referem-se a dimensões espaciais e temporais diversas, estão desatualizados, não estão disponíveis para o cidadão comum.


Susana Feichas, coordenadora do MBA em Gestão do Ambiente e Sustentabilidade da FGV / Faculdade IBS

A Organização Mundial da Saúde indica que o consumo diário/per capita deveria ser de 180 litros, um parâmetro a ser considerado. Mas, você sabe quanto consume por dia? As contas de água são mensuradas em m3, mensais, não há hidrômetro individual por unidade domiciliar. No site da Sabesp há um simulador de consumo que permite estimar o consumo mensal de água que, aliado à indicação de medidas de redução de consumo e bônus correspondente, deve ter efeito educativo como teve o racionamento de luz anos atrás. Copasa também já anunciou meta de redução do consumo e a Ceade indica medidas. Dados sobre o balanço hídrico são compilados em cada bacia hidrográfica, que tem uma territorialidade diferente da dos municípios e a região metropolitana. Se não sabemos quanto de água dispomos e quanto gastamos, como economizar? Resíduos sólidos são de competência dos municípios; abastecimento de água e esgoto estão nas mãos de empresas estaduais, a outorga e cobrança pelo uso da água no nível federal ou estadual; a recuperação e preservação de áreas de preservação permanente, incluindo nascentes e mata ciliar, no nível federal; planejamento das cidades, no nível municipal.

De um lado, no nível do cidadão, medidas voltadas para o uso eficiente da água, através de instrumentos de mercado e de conscientização. O setor empresarial, principalmente as indústrias, já estão sujeitas a outorga e cobrança pelo uso da água, nas bacias onde estes instrumentos já foram implantados. Seus resultados até o momento são de regularização do uso da água e promoção de medidas voltadas para o tratamento de efluentes. O dever de casa ficará completo quando as empresas de saneamento e o setor agropecuário forem efetivamente incorporados nessa campanha de uso racional da água. No nível das bacias hidrográficas, há iniciativas no sentido de percorrer os pequenos rios, da nascente à foz, conhecendo a ocupação do solo, identificando as fontes de captação e despejo de esgoto, efluentes e resíduos, de modo a promover medidas de recuperação do solo e de nascentes, remoção de lixões, tratamento de efluentes entre outras. Dois são os fundamentos principais dessas iniciativas: a gestão de pequenos espaços, o que facilita o financiamento, execução, monitoramentos e coordenação das ações empreendidas, com comprometimento dos

atores sociais envolvidos. O segundo fundamento é conhecer para amar e cuidar, água do rio limpa representa vida, contribuindo para menor gasto com tratamento para o abastecimento, manutenção de suas propriedades naturais. Nas cidades, perdemos a noção de onde vem a água, os rios canalizados se tornaram túneis subterrâneos de esgoto que nem o mau cheiro incomoda. Construções “verdes” com o uso de materiais reciclados, ecoeficiência do uso de água e luz, tratamento de esgoto, telhados verdes, uso de energia renovável são algumas medidas que, se estimuladas com mudanças no código de obras e nas cotas do IPTU, podem aumentar. O esverdeamento das cidades com a plantação de árvores é outra medida que contribuirá para amenizar o calor e reduzir o consumo de energia elétrica. Na natureza, solo, água, ar, sol, flora, fauna e microorganismos se coordenam e encontram seu equilíbrio, diferentemente de nós humanos, afogados em números, competências e dominialidades diversas, que não nos têm permitido olhar para dado território como um todo, em prol de um sistema mais saudável. 19


BARRAGENS

Sistema pode ser uma solução para as crises de abastecimento de água e energia

o dia 14 de setembro de 2014, o Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB) enviou a todos os candidatos à Presidência da República um relatório com recomendações técnicas, que poderiam maximizar a capacidade de armazenamento de água nos reservatórios de uso múltiplo e hidrelétricas brasileiras.

N

O documento assinado pelo presidente do CBDB, Brasil Pinheiro Machado, expressava a preocupação da entidade, já naquela data, em relação aos critérios usados para definição do uso dos recursos hídricos nacionais para fins como abastecimento de água, geração elétrica, irrigação, controle de enchentes, saneamento, transporte hidroviário, piscicultura e turismo, entre outras atividades de grande importância para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil. Em outro trecho, o texto ressalta que a resistência e a aversão crescente à construção de reservatórios de regularização do fluxo de águas fluviais, nos 20

Cássio Baumgratz Viotti , engenheiro civil, mestre em Barragens e ex‑presidente do CBDB e da Comissão Internacional de Grandes Barragens (ICOLD)

últimos anos, devido aos impactos ambientais desse tipo de projeto, podem gerar uma grande mudança na matriz energética brasileira, principalmente se as termelétricas tiverem que substituir a produção de energia produzida pelas hidrelétricas. Engenheiro civil mineiro graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mestre em Barragens e ex-presidente do CBDB e da Comissão Internacional de Grandes Barragens (ICOLD), Cássio Viotti. explica


Foto ilustrativa Wickipedia ‑ Mascraenhas de Moraes

As barragens que funcionam como reservatórios de armazenamento, a água das chuvas de um ano pode ser acumulada para uso no exercício seguinte

que as duas entidades têm feito um trabalho robusto para divulgar a tecnologia das barragens, com foco nos conhecimentos técnicos e benefícios desse sistema de armazenamento de água. Na prática, as barragens são projetos que permitem interromper o curso natural do rio, para a acumulação da água e criação de uma queda d’água que possa ser usada para a geração de energia elétrica ou a acumulação de água para fins diversos. Por isso, as barragens são projetos múltiplos e podem ser empregados para controlar a crise energética que afeta o País e, também, reduzir o impacto negativo da falta de chuvas para o abastecimento de água. “Os governos não fizeram um planejamento e nem as obras necessárias para adequar demanda e consumo de água e energia”, afirma. Devido à resistência dos movimentos ambientalistas, o País partiu para outras soluções, que são importantes, mas não suficientes. As adutoras que interligam os sistemas é uma delas. “A captação no

BARRAGEM DE JAGUARA

Rio das Velhas foi ampliada, mas não ousaram propor barragens”, avalia o engenheiro. Viotti reconhece que a obra de uma barragem gera impactos ambientais e sociais para a comunidade do entorno. “Mas isso não inviabiliza os projetos. O impacto da falta de água é maior que de uma barragem. As barragens Várzea das Flores (1972), Serra Azul (1982) e Rio Manso (1991) foram construídas há muitos anos e atendem a demanda até hoje”, defende. AMPLIAÇÃO DAS BARRAGENS No caso específico da RMBH, o projeto começaria com a realização de estudo prévio das barragens já existentes, para verificar se os projetos permitem obras para a ampliação da sua capacidade de armazenamento de água, por meio da instalação de comportas e alteamento. Como providência imediata essencial, seria necessário reduzir as perdas no sistema de distribuição de água. 21


BARRAGENS

Célia Rennó, engenheira civil, sanitarista e ambiental e presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES‑MG)

Nas barragens que funcionam como reservatórios de armazenamento, a água das chuvas de um ano pode ser acumulada para uso no exercício seguinte. “Alguns reservatórios são plurianuais, com capacidade para atender a demanda por mais dois ou três anos. Em se tratando de barragens para abastecimento, não há como não considerar as barragens”, avalia. Na área de geração de energia, as barragens com reservatórios de armazenamento têm sido substituídas por usinas a fio d’água, onde o recurso que entra sai pelas turbinas. Em outras palavras, não há reserva do recurso. Para Viotti, esse tipo de projeto é um contrassenso, considerando que o Brasil tem rios de grande volume e um regime pluvial intenso na maior parte dos Estados. “Como não há espaço para acumular a água excedente, o recurso é dispensado e vai para o mar, onde não gera qualquer benefício”, pontua. Com a resistência a esse tipo de projeto, aumenta no País a implantação de outras formas de captação de energia, como as usinas eólicas, o que é positivo. Os incentivos à geração solar também devem se tornar mais viáveis em um futuro próximo. Mas o engenheiro lembra que, sem sol ou vento na quantidade certa, esses sistemas não têm efetividade e necessitam de uma fonte complementar para o que a hidrelétrica é ideal. Apelar para as termelétricas é provocar uma elevação considerável nos custos da energia – o que já está acontecendo, nos últimos dois anos. Esse sistema também gera impactos ambientais, pelo uso de 22

carvão mineral, petróleo e gás natural como combustíveis e aumento da liberação dos gases de efeito estufa. O engenheiro afirma que o consumo nacional de energia de 2500 Kw per capita (anual) ainda é baixo, se comparado a outros países, e que tende a crescer, como tem acontecido a cada ano. “A instalação de uma hidrelétrica está sujeita a regras muito rígidas e bem definidas para compensações e minimização dos impactos ambientais”, analisa. MEIO AMBIENTE De acordo com a engenheira civil, sanitarista e ambiental e presidente da ABES-MG, Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – Seção Minas Gerais, Célia Rennó, o impacto ao meio ambiente não pode ser relegado a segundo plano. “Depois da intervenção, o ambiente deixa de ser natural”, destaca. No entanto, ela reconhece que os impactos negativos desse tipo de projeto podem ser minimizados, em relação ao rio e, também, para reduzir os danos da relocação da atividade econômica e social do entorno. Em outra frente, o município pode ser compensado com ações que melhorem a infraestrutura e os serviços básicos (escolas, saúde e segurança). “Toda barragem é para uso múltiplo. Por isso, a real necessidade de um projeto desse porte deve ser analisada, bem como as medidas mitigadoras dos impactos gerados”, conclui.


CDS | SME COMITÊ DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Virgínia Campos, Vice-Presidente da SME e Coordenadora do CDS/SME

e acordo com o Relatório Brundtland (1987), elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1983 - Assembleia das Nações Unidas), Desenvolvimento Sustentável é aquele que procura satisfazer as necessidades da geração atual sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades. Significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais.

D

Tendo como pressuposto esse conceito, o grande desafio se dá na busca por soluções para um crescimento efetivo da economia, com respostas a diferentes segmentos da sociedade, equacionando-se gargalos estruturais como energia, transporte, saneamento básico, entre outros. Nesse contexto, tornam-se imprescindíveis ambientes institucionais harmoniosos, estáveis, com clareza dos direitos (e menor burocracia) que possam proporcionar os investimentos necessários

para o crescimento do Brasil e de Minas Gerais, garantindo a manutenção da qualidade de vida das populações sem perder de vista a devida preservação dos ambientes naturais. É nesse sentido que o Comitê de Desenvolvimento Sustentável da SME (CDS/SME) publicará em nossa revista, a partir dessa edição, artigos com temas que possam contribuir na promoção de um crescimento econômico que valorize a legalidade, a transparência, o comprometimento e o engajamento dos atores envolvidos nessa missão, tornando possível o desenvolvimento sustentável das atividades produtivas, agregando valor ao meio ambiente e qualidade de vida às pessoas através de investimentos no Estado. Nessa edição, o artigo é do nosso colega Silviano Cançado Azevedo, engenheiro civil formado pela Escola de Engenharia da UFMG em 1956. Associouse à SME em 10 de março de 1959 sendo seu registro o de número 2479. Hoje, sócio remido, em muito já contribuiu no desenvolvimento de nosso Estado ao longo de sua carreira. Virgínia Campos, Vice-presidente da SME e Coordenadora do CDS/SME

23


DESAFIOS E OPORTUNIDADES: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PARA MINAS GERAIS Silviano Cançado Azevedo O Comitê de Desenvolvimento Sustentável da SME (CDS/SME), sob a direção da Vice-Presidente Virgínia Campos, envolverá técnicos de outros setores como economia e administração, entidades representativas, Universidades, para em conjunto efetuarmos trabalho de real interesse: promover e participar de fóruns de discussão com o objetivo de facilitar o entrosamento.

Indústrias deixam de produzir para vender energia elétrica! Pior, isso ocorreu muito antes da crise hídrica ostensiva; há mais de um ano! A CEMIG tem buscado alternativas para produzir em larga escala outros tipos de energia limpa?

A posição precária do Brasil e de Minas mostram a necessidade urgente de lideranças tomarem iniciativa visando a alertar e ajudar a sociedade e governos com propostas objetivas. Tal procedimento é oportuno, já que o diagnóstico é caótico: O Brasil vem crescendo menos que a média mundial e Minas menos que a taxa média nacional que é pífia. A Revista Mercado Comum publica, ano a ano, esta lamentável realidade. O Brasil cresceu em média 3,83% a.a. e Minas 3,76% a.a. no período 1996/2010. Minas ficou abaixo de 22 estados brasileiros. Entre 2001 e 2014, o crescimento mundial foi de 63,20%; os países emergentes e em desenvolvimento registraram crescimento de 124,00%; o Brasil, na rabeira do BRICS, teve 55,40% de crescimento econômico. Minas deixou de ser o segundo Estado de PIB, já que perdemos essa posição para o Rio de Janeiro. A energia elétrica não é mais um fator de atração de indústrias. Algumas, com gasto intensivo, estão reduzindo fortemente sua produção como é o caso das fabricantes de alumínio. Há tempos o Brasil tornou-se importador desse metal. “A ALCOA paralisa linha de alumínio em MG”, divulga o ‘Diário do Comércio’. 24

Os governos deverão ser enxutos, eficazes, transparentes, ter visão do futuro. O atual governo federal tem 39 ministérios enquanto os Estados Unidos tem 15. O combate à corrupção e demais práticas do mau uso do dinheiro público precisam ser ações prioritárias e efetivas. O nível da Indústria no PIB nacional vem reduzindo a cada ano.A não industrialização e a desindustrialização de Minas e do Brasil são marcantes. Em 2012, registramos o nível de 1955, ano anterior à gestão JK conforme nos mostra estudo da FIESP- Federação das Indústrias do Estado de São Paulo: “... após a participação do setor no PIB atingir um pico de 27,2%, como indica o gráfico, extraído da pesquisa. A projeção da FIESP é de que, se a atual tendência continuar, a proporção tende a chegar a 9,3% em 2029, ou


antes...”. Países altamente desenvolvidos têm elevado crescimento do setor tecnológico que é contabilizado no setor Serviço provocando redução relativa da Indústria no PIB nacional; não é o caso do Brasil de hoje. Há que retornar a elaboração de PLANOS DECENAIS DE DESENVOLVIMENTO de cada setor, o que facilitará a articulação das agências envolvidas com o crescimento, como acontecia com o BDMG, INDI, Fundação João Pinheiro, CODEMIG e outras em Minas Gerais. A CEMIG precisa retomar a função que inspirou sua criação: ser agente efetivo do crescimento do Estado. Ficamos inconformados com a ausência de Programas bem definidos, contendo as reais prioridades com a visão do futuro, registrando metas e prazos para alcançá-las. Enquanto isso, a Taxa de Desemprego aumenta, o PIB cai, a inflação cresce e a desvalorização do Real é visível. O déficit na conta de transações correntes foi de quase 91 bilhões de dólares em 2014 (4,17% do PIB). Os Custos Brasil e Minas dificultam as exportações. A CONFIANÇA dos empresários despenca. A EDUCAÇÃO desmorona; segundo a nota do Exame Nacional do Ensino Médio-Enem- entre as 100 escolas com melhor desempenho apenas uma é de governo estadual; outras seis são federais e 93 pertencem à rede particular.

A SEGURANÇA é outro caso grave. O Brasil registra 10% dos homicídios do mundo com uma população que não chega a 3%! É muito baixa a PRODUTIVIDADE brasileira; produzir no Brasil custa 23% mais do que nos Estados Unidos; há 10 anos, segundo “The Boston Consult Group- BCG”, o custo industrial brasileiro era 3% menor do que o americano. O Brasil está na lanterna quando nos comparamos com outros países com relação à COMPETITIVIDADE, de acordo com estudo divulgado recentemente pela Confederação Nacional da Indústria. Prevista a ‘ESTAGFLAÇÃO’ este ano: redução do crescimento, elevações das taxas de inflação e de desemprego.

expectativas mostrando que é indispensável fugir da “miséria científicotecnológica” para desenvolvermos. Sermos proativos é uma das características dos membros do Comitê que pretende, com a participação de diversos segmentos da sociedade, apresentar propostas objetivas para superarmos os desafios que nos estão impedindo um crescimento econômico em bases sustentáveis no ritmo compatível com nossas potencialidades. O Estado deverá ser o Centro primaz do avanço tecnológico. Precisamos incluir todas as forças legítimas da sociedade para reverter a atual tendência e retornar Minas à sua posição histórica de liderança no desenvolvimento nacional, elevando Minas Gerais e o Brasil.

Minas Gerais caiu no ranking de competitividade, passando da terceira para a sexta posição, sendo superado por São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. E a SAÚDE e o SANEAMENTO BÁSICO? Há solução? Há sim. Precisamos reordenar procedimentos. Exemplos dos governos JK e Itamar Franco comprovam nossa grande capacidade de vencermos as dificuldades a exemplo do setor de agronegócios que superou as

Silviano Cançado Azevedo, Engenheiro Civil. Ex-presidente do BDMG, INDI e CDI-MG. 25


CAPA | CRISE ENERGÉTICA

CRISE ENERGÉTICA: APAGÃO NA GESTÃO OU FALTA DE PLANEJAMENTO 26


A redução das chuvas e o esvaziamento dos reservatórios das hidrelétricas, a um nível médio de 20%, a partir de 2012, colocou em xeque a estabilidade da matriz energética nacional.

perda de geração de

Anteriormente, a medida adotada

Segundo o boletim do Ministério

algumas usinas do

pelo governo foi o uso das usinas ter-

de Minas e Energia (MME), a capa-

Sistema Interligado

melétricas, que estão operando na ca-

cidade própria instalada total de

Nacional (SIN) e

pacidade máxima, já que as “famosas”

geração de energia elétrica do

problemas de trans-

energias alternativas – eólica, solar, nu-

Brasil atingiu 134.008 MW em ja-

missão de eletricidade da região

clear, biomassa – ainda não estão es-

neiro deste ano. Em comparação

Norte para o Sudeste são os dois fa-

truturadas para o atendimento em

com o mesmo mês de 2014,

tores que explicam o primeiro apa-

escala e têm limitadores de origem.

houve expansão de 3.277 MW de

gão registrado em 2015, em 19 de

Por isso, a probabilidade da ocorrência

geração de fontes hidráulicas,

janeiro. O fenômeno que pegou a po-

de novas interrupções de energia au-

pulação de surpresa afetou 11 Esta-

mentou consideravelmente nos últi-

dos e o Distrito Federal, com

mos anos. Hoje, está em 50%, quando

interrupção de carga de 4.453 MW.

o limite técnico é de apenas 5%.

A

Mais que um problema momentâneo, a falta de luz funcionou muito bem para trazer à luz, um problema que, na verdade, começou há alguns anos.

Em 2013, quando o País nem sonhava que um dia poderia repetir a crise energética de 2001 (governo de Fernando Henrique Cardoso),

1.429 MW de fontes térmicas e de 2.729 MW de geração eólica. Então, onde está o problema? Entre as explicações apresentadas como causa para a crise energética brasileira, a variação climática parece ser o principal problema para o sistema composto por 180 hi-

Apenas no primeiro mês do ano, foram

foram 45 blecautes com carga de

sete ocorrências do gênero, com inter-

energia interrompida acima de 100

rupções superiores a 10 minutos e car-

MW. Um deles, de 10,9 MW ocor-

gas acima de 100 MW (energia

reu em 28 de agosto, nos Estados do

partir de 2012 e o consequente

suficiente para abastecer cerca de 200

Piauí, Maranhão, Ceará, Rio Grande

esvaziamento dos reservatórios

mil pessoas). Nesse período, a carga

do Norte, Alagoas, Sergipe, Pernam-

das hidrelétricas – as maiores ge-

interrompida chegou a 6.136 MW,

buco, Bahia e Paraíba. Já em 2012,

radoras do país, com cerca de 70%

ante os 3.448 MW relativos a janeiro

foram 62 “apagões”. O mais grave,

do total consumido – a um nível

do ano anterior, quando foram regis-

em 25 de outubro daquele ano, en-

médio de 20%, mais baixo que os

tradas 15 “apagões”. O prazo para re-

volveu 12,9 MW e deixou a região

30% registrados em 2001, colocou

torno do fornecimento também

Norte à luz de velas, de acordo com

em xeque a estabilidade da matriz

aumentou de 93 para 114 minutos.

o estudo da CBIE.

energética nacional.

drelétricas, com total de 600 turbinas. A redução das chuvas a

27


CAPA | CRISE ENERGÉTICA

DESCOMPASSOS Em contrapartida, o consumo de energia tem aumentado. Dados relativos a janeiro de 2014 dão conta de que o percentual ficou 12% acima do registrado, no mesmo mês do ano anterior, sobretudo, devido ao uso do ar condicionado. Em 2001, o grande vilão era o chuveiro elétrico.

de energia que privilegiaram preço, sem garantir as taxas de retorno esperadas pelo mercado”, alega. Na prática, projetos de infraestrutura energética incluídos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) estão atrasados ou paralisados. Nessa conta estão a Usina Nuclear de

Manter a economia aquecida tem seu preço. O crescimento vegetativo da população e o aumento da renda das famílias promoveu uma verdadeira revolução nos hábitos também em relação ao consumo de energia. Para suportar esse movimento, especialistas de mercado recomendam um aumento entre 3% e 4% do parque gerador/ano.

Angra 3, que deveria ser entregue em 2015 e as linhas de transmissão do Nordeste ao Sudeste. Hidrelétricas como Belo Monte e Jirau também não foram concluídas. Por outro lado, como não havia energia suficiente para o governo fazer leilões com contratos de longo prazo para todas as distribuidoras, o preço no mercado livre disparou. Em 2013, as empresas que tinham contratos anteriores de pouco mais de R$ 100 o MW/hora, passaram a pagar R$ 400 no

Adriano Pires, sócio‑diretor do CBIE, Doutor em Economia Industrial pela Universidade Paris XIII

mercado livre. No ano passado, o valor atingiu R$ 822. O dirigente recomenda que o governo federal aproveite o momento de crise para revisar as decisões tomadas na última gestão. Entre elas, a lei nº 12.783/13 (MP 579/12), que reduziu as tarifas em 20% a partir de 2013 e propôs a renovação antecipada da concessão das geradoras e transmissoras de energia cujos contratos venceriam até 2017.“Ao invés de ter

O sócio-diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura, CBIE, Adriano Pires, afirma que o Brasil passa pela pior crise energética da sua história. “A crise energética traz dois problemas graves. Um é financeiro, criado quando o governo renovou as concessões e obrigou as empresas a reduzir as tarifas, em um momento em que o custo estava crescendo no mundo todo. O resultado foi um problema de caixa nas distribuidoras, que foram socorridas com dinheiro do Tesouro Nacional. Há, também, um grande incentivo ao consumo, que cria problemas de abastecimento”, ressalta. SEM INVESTIMENTOS Para ele, além desse problema, há outras duas causas para a crise energética nacional. “O governo atrasou as obras de geração e transmissão de energia e optou por leilões 28

abaixado a tarifa, deveria ter implantado o modelo de bandeira tarifária há dois anos e iniciado um programa educativo de uso eficiente de energia”, argumenta. A medida também desorganizou o mercado do setor porque operadoras como Cemig, Copel e Cesp não renovaram a concessão. Outra decisão governamental que deve ser revista, segundo Pires, é o apoio irrestrito que foi dado à exploração do Presal desde a descoberta das reservas, o que colocou o setor de energia em segundo plano para os investimentos nacionais.“O Brasil está na contramão da história”, destaca Pires. Para o dirigente, falta envolver os agentes do setor elétrico na discussão para evitar decisões unilaterais como o temido “tarifaço” que pode solucionar o problema em parte, já tem, como efeitos colaterais, o aumento da inadimplência no setor e também o furto de energia.


PASSADO X PRESENTE Flávio Antônio Neiva,

A crise energética de 2015 tem sido comparada com a de

presidente da

2001, no governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC).

Associação Brasileira

Não poderia ser diferente. “Todas as duas aconteceram

das Empresas

por falta de planejamento. Não se pode olhar para o setor

Geradoras de Energia

de energia em um país como o Brasil e planejar simples-

Elétrica (Abrage)

mente torcendo para que chova”, aponta o dirigente. Em 2001, o governo reconheceu que faltou planejamento e criou um comitê gestor da crise. Houve uma campanha para que a população economizasse energia, o que resultou na queda da demanda. “Neste ano, a solução sugerida

“Ao longo de 2014 e em janeiro deste ano, a Abrage tem

passa pelo aumento do preço da tarifa, o que repassa au-

realizado reuniões periódicas com suas associadas com o

tomaticamente a conta para os consumidores”, arremata.

objetivo de avaliar a situação do suprimento de energia ao País, e também com o MME, ANEEL e ONS para ofe-

O presidente da Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica (Abrage), Flávio Antônio Neiva,

recer sugestões para esse momento delicado pelo qual passamos”, comenta.

também afirma que a crise energética nacional não é um fenômeno novo. “Por ser majoritariamente hidrelétrico, o

Mas, apesar das dificuldades dos últimos anos, o parque

sistema está às voltas com riscos crescentes de restrições

gerador do País teve desempenho satisfatório e garantiu

de fornecimento devido à escassez hídrica provocada por

o fornecimento ao mercado brasileiro sem restrições no

períodos de seca extremamente rigorosa”, enfatiza.

abastecimento. Para o biênio 2015/2016, o cenário é re-

O atraso nas obras do setor, sobretudo por impactos socioambientais dos projetos, também afetou a geração de energia.“Esses problemas não são novos e têm tido acom-

pleto de desafios, segundo o dirigente. No entanto, tudo vai depender do resultado do período chuvoso em curso, que tem término previsto para abril, para mensurar a real

panhamento por todos os órgãos representativos da so-

situação de armazenamento e o tamanho dos problemas

ciedade, especialmente pela Abrage”, destaca.

que o setor terá que enfrentar.

Instituída em dezembro de 1998, a associação civil sem

Para Neiva, o governo tem sido muito cauteloso ao tratar

fins lucrativos é formada por grandes empresas gerado-

da crise energética nacional, principalmente para a adoção

ras de energia elétrica, predominantemente hidráulica,

de medidas como racionamento ou racionalização do

que procuram alcançar, por meio de pesquisas, estudos

consumo. “O governo e o ONS têm optado por aguardar

e debates, o desenvolvimento dos processos ligados à

o fim do período chuvoso para a caracterização mais de-

atividade.

terminística desse evento”, pontua. 29


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CAPA | CRISE ENERGÉTICA

Mercado de energia oferece oportunidades para engenheiros Em franco processo de expansão do seu parque gerador de energia – usinas hidrelétricas, termelétricas, plantas eólicas e solares – o setor tem mantido as portas abertas para engenheiros de diversas áreas, como afirma Flávio Neiva. Além de obras de infraestrutura, áreas como planejamento energético, estudos elétricos, modelagem do sistema, operação e manutenção têm oportunidades de

trabalho para os profissionais. “O setor de energia é uma área de infraestrutura básica para o desenvolvimento socioeconômico do país e faz parte da vida dos cidadãos, em todos os aspectos do seu cotidiano. Dessa forma, o engenheiro é um protagonista da expansão, operação e manutenção do parque gerador do país”, ressalta o dirigente.

Hidrelétricas experimentam o pior cenário desde 1931 A situação das grandes hidrelétricas brasileiras não é das melhores. De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (NOS), o volume de chuva que RESERVATÓRIO chegou aos reservató11,47% rios do Sudeste e Cen- Furnas Nova Ponte 11,39% tro-Oeste, neste ano, Emborcação 10,82% corresponde a 38,04% 7,89% da média para o mês Itumbiara Ilha Solteira/3 Irmãos 3,07% de janeiro, o pior ínMarimbondo 2,72% dice histórico desde São Simão 2,54% 1931. Juntas, as usinas Água Vermelha 2,22% instaladas nessas re- Mascarenhas de Moraes 2,18% giões respondem por Jurumirim 2,00% cerca de 70% da capa- Capivara 1,95% cidade geradora do Chavantes 1,63% país. Já é o terceiro ano seguido em que os meses de janeiro são mais secos que o esperado. No ano passado, a chuva foi equivalente a 53,43% da média histórica e, no ano anterior, a 83,32%.

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No último dia 31 de janeiro, as represas estavam com armazenamento médio de 16,8% da capacidade total. Um mês antes, em 31 de dezembro de 2014, JAN / 2014 DEZ / 2014 FEV / 2015 em % em % em % esse índice era de 46,26 13,41 9,35 19,4%. Um ano atrás, 34,3 12,26 10,12 em 31 de janeiro de 40,08 16,48 12,69 2014, era de 40,3%, 29,26 13,89 10,4 valor que já é conside45,03 0 0 rado baixo para o mês 28,59 17,14 10,66 (veja quadro). 18,96

57,52

48,42

37,89

23,97

21,25

75,85

21,69

16,54

O diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, 63,91 20,65 20,54 disse em novembro que 65,17 23,18 22,77 os reservatórios das hi52,71 19,43 19,32 drelétricas do Sudeste e Centro-Oeste precisam chegar ao final de abril com armazenamento entre 30% e 35% para que o fornecimento de energia no país ao longo de 2015 esteja garantido. No entanto, na iminência da falta de chuva, resta ao setor público adotar medidas eficientes para economizar energia.


Situação dos Principais Reservatórios do Brasil Fev ‑ Mar / 2015 Capacidade Máxima de armazenamento MW-Mês

REGIÃO

REGIÃO SUL ( 50.68%)

Reservatórios

Bacias

Situação

Rio Iguaçu

SUDESTE e CENTO-OESTE

202.246 MW/Mês

S. Santiago 50,93% da região G. B. Munhoz

SUL

19.873 MW/Mês

NORDESTE

51.859 MW/Mês

NORTE

14.812 MW/Mês

40.01%

(2,29% da região)

60.86%

(15,02% da região)

45.27%

(8,72% da região)

88.28%

Rio Jucuí Passo Real

Rio Uruguai 29,77% da região

Passo Fundo

Principais Reservatórios do Brasil

Outras (3,22% da região)

REGIÃO SUDESTE / CENTRO-OESTE (20.33%) Reservatórios

58.82%

(30,39% da região)

Segredo

16,08% da região

Bacias

(16,30% da região)

Situação

Rio Parnaíba

REGIÃO NORDESTE (17.9%)

Emborcação

(10,82% da região)

15.8%

Nova Ponte

(11,39% da região)

12.91%

Reservatórios

Bacias

Situação

37,92% da região Itumbiara

(7,89% da região)

12.45%

São Simão

(2,54% da região)

44.38%

Rio Grande

Rio São Francisco Sobradinho

(58,20% da região)

96,86% da região Três Marias

(31,02% da região)

17.04%

(6,62% da região)

21.05%

Itaparica Furnas

(17,42% da região)

12.86%

Mascarenhas de Moraes

(2,18% da região)

20.12%

Marimbondo

(2,72% da região)

21.13%

Água Vermelha

(2,22% da região)

20.29%

(3,07% da região)

0%

17.27%

Outras

25,73% da região

(3,14% da região)

Rio Paraná REGIÃO NORTE (38.03%) 3,07% da região

Ilha/3 Irmãos

Reservatórios

Bacias

Situação

Rio Paranapanema Rio Tocantins Jurumirim 5,81% da região

(2,00% da região)

32.54%

Chavantes

(1,63% da região)

26.29%

Capivara

(1,95% da região)

31.85%

Serra da Mesa

27.88%

96,17% da região

(43,68% da região) Tucuruí

35.77%

Outras

Outras

(27,53% da região)

(0,16% da região)

FONTE : www.ons.org.br/tabela̲reservatorios/conteudo.asp

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ENTREVISTA | MAURO BORGES LEMOS

Cemig vai aumentar sua aposta em energia solar O novo diretor-presidente da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), economista Mauro Borges Lemos, tem grandes desafios para os próximos anos. Novas aquisições, diversificação da carteira da companhia e cuidado especial com a gestão darão o tom da nova administração, que pretende aumentar a sua aposta nas fontes renováveis de energia para manter-se competitiva. Quais os projetos da empresa para os próximos 4 anos? Uma empresa como a Cemig tem uma política de aquisições e diversificação de carteira. Isso é fundamental, dadas as suas características, mas, para que seja sustentável a longo prazo, tem que ter uma política de investimentos. Neste momento, estamos focados nas três usinas da Região Norte e também nas três em litígio com o Governo Federal. Com relação a essas três usinas, Jaguara, São Simão e Miranda, estamos negociando, também, uma saída mais vantajosa para a União, com a Cemig assumindo a continuidade de uma nova concessão. Como isso pode ser trabalhando na Advocacia Geral da União (AGU), que tem a responsabilidade legal de conduzir esse negócio. Temos

atuado junto à Aneel para garantir a concessão das duas grandes distribuidoras que nós temos. Sem dúvida, acredito que o novo veículo, com grande potencial de expansão, é a Renova, que tem como foco a geração de energia solar. É uma empresa muito sólida, em termos de estruturação societária, qualidade de governança e enxuta. O sítio de geração da Renova é extremamente bem localizado no sul da Bahia e, dado seu valor de mercado, nós temos um grande potencial de associação com novos investidores.Acreditamos que o crescimento da Renova envolve ampliar o grupo empresarial. Quer dizer, temos um projeto ambicioso e a Renova também, de entrar mais fortemente, não apenas no Brasil, mas em outros mercados da América Latina. Estamos conversando com parceiros potenciais para estruturação de novos veículos de crescimento, a partir da Renova. De fato, essa é uma frente de crescimento da empresa que eu acho de alto valor. Outro grande projeto que temos, para os próximos anos, é a construção do gasoduto para fornecimento de gás para nova planta de amônia em

Uberaba, que está localizada a 400 quilômetros de Belo Horizonte, por meio da Gasmig. É uma distância razoável, desafio razoável, se a gente construir esse gasoduto contíguo à BR-262. E como o setor de Engenharia da Cemig vai participar desses projetos? Por orientação do sócio majoritário da Empresa, que é o Governo do Estado de Minas Gerais, especificamente do governador Fernando Pimentel, a diretriz e o mandato que eu tenho como presidente executivo da Empresa é que eu deveria estruturar uma Diretoria Executiva extremamente profissional e competente. Daí os resultados que já foram apresentados, sustentados por dois objetivos fundamentais. O primeiro que é manter o “core” da capacidade executiva da diretoria, consequentemente nós mantivemos as diretorias técnicas na sua essência, quando não na sua totalidade. Trouxemos quadros da própria Cemig para compor essa diretoria como é o caso da Diretoria Comercial, através do engenheiro Evandro Leite Vasconcelos que está voltando à casa depois de uma temporada na


Foto divulgação ‑ Foca Lisboa

O novo diretor‑presidente da CEMIG, economista Mauro Borges Lemos

Light, além da manutenção dos diretores de Desenvolvimento de Negócios, Fernando Henrique Schuffner, um engenheiro reconhecido pela classe, e de Distribuição e Comercialização, Ricardo Charbel, também engenheiro. Os novos membros da diretoria que não são funcionários de carreira da Cemig são profissionais já inteiramente testados no mercado, especialistas com grande experiência nas áreas jurídicas, de relações humanas e financeira. E é importante dizer que essa vinda do novo diretor financeiro de forma nenhuma significa abrir mão de todo o valor agregado que representa o diretor Luiz Fernando Rolla, que está na Cemig desde 1974. O papel do Dr. Rolla na nova composição da diretoria será através da Diretoria de Relações com Investidores e Regulação, que estamos criando. Estamos desdobrando essa estratégia de fortalecimento corporativo pelas coligadas e empresas vinculadas à Cemig por todo o Brasil. Isso é importante uma vez que a Cemig tem poder de controle do ponto de vista da gestão e da governança de várias empresas, como a própria Light, a Taesa e a

Renova. Olhando para o conjunto dessas empresas nós temos uma preocupação muito forte em manter e fortalecer a capacidade de governança no conjunto do grupo. Na Light, por exemplo, a gente também fez um mix, que fizemos na holding, visando a garantia de lucro técnico, de carreira da empresa, com agregação de valor. O presidente do Conselho de Administração é o ex-diretor-geral da Aneel, Nelson Hubner, que é engenheiro e mineiro. Isso é agregação de valor e qualidade da empresa. Os investimentos em fontes alternativas de energia vão aumentar? Como? A Cemig busca, através de seu programa de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), desenvolver projetos na área de energia renovável, em parceria com universidades e centros de pesquisa. Existem projetos para a produção de energia elétrica a partir da utilização de resíduos, como biomassa residual de usinas de açúcar e álcool, gases residuais de carvoarias e até a comercialização de energia produzida a partir de gases retirados de aterros sanitários. 35


ENTREVISTA | MAURO BORGES LEMOS

A Cemig tem incentivado, ainda, o desenvolvimento de novas tecnologias, o aprimoramento técnico e formação de profissionais através de parcerias com instituições. Por meio de convênios firmados com instituições de ensino superior como a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), a Universidade Federal de Lavras (UFLA), o Centro Universitário de Patos de Minas (Unipam) e a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), a empresa vai implementar o projeto “Geração Distribuída em Universidades”, a partir de um Sistema de Micro Geração Solar Fotovoltaica de aproximadamente 12 kWp (quilowatts-pico) que incentiva o uso eficiente e seguro da energia, bem como a expansão da oferta de energia oriunda de fontes limpas, renováveis e sustentáveis. A empresa também responde pelo treinamento e suporte técnico para sua operação e manutenção e a doação de 250 unidades de módulos fotovoltaicos de silício policristalino para cada universidade. E o projeto do carro elétrico? Continua? A Cemig tem investido, também, em pesquisas de veículos elétricos e híbridos, através de projetos de desenvolvimento tecnológico. Acreditamos que, no futuro, esses dois tipos de carros farão parte integrante dos sistemas de energia, na configuração das redes chamadas de smart grids. Veículos elétricos plugados à rede possibilitam o armazenamento de energia, como uma bateria. Já os veículos híbridos representam um passo na direção dos veículos do futuro e que busca essencialmente melhorar a eficiência energética no processo de uso da energia e dos recursos naturais. 36

Elderth Theza‑Thz Imagens

Além do mais, a empresa tem investido em projetos de energia solar, como a Usina Solar Fotovoltaica do Mineirão, convênios com universidades para a difusão de conhecimento e formação de profissionais na área de energia solar fotovoltaica, e algumas plantas experimentais de médio porte, como uma usina experimental de pequeno porte em parceria com a Copasa e outra de médio porte, em parceria com outras empresas de energia.

Além do mais, a Cemig possui três parques eólicos no Nordeste, além de uma participação acionária na empresa Renova Energia, detentora de mais de 600 MW em plantas do gênero, instaladas no Nordeste do país. Quais os planos da Cemig em tempos de escassez de água e, consequentemente, energia elétrica? A crise hidrológica é realmente muito séria e a Cemig sempre demonstrou uma preocupação com a questão ambiental e da qualidade da água. Os governos federal e estadual estão tomando as medidas necessárias para enfrentar essa crise e estou confiante de que a questão do abastecimento será resolvida a bom termo. Quanto à energia elétrica, nosso País é privilegiado pela natureza, pois com suas dimensões continentais apresenta regimes de chuvas diferenciados para suas regiões. Assim, quando enfrentamos um período de hidrologia difícil na região Sudeste, podemos contar com reservatórios localizados em regiões com o Sul e o Norte, sendo que este, em breve, contará com linhões de transmissão, atualmente em implantação que abastecerão os grandes centros de carga com a energia dos rios da região amazônica. Há ainda as usinas térmicas que podem garantir uma reserva operativa nas hidrelétricas, com o consequente aumento da confiabilidade e segurança para a operação do Sistema Integrado Nacional.



ÁGUA & ENERGIA

Mudanças climáticas, crise da água ou fundo do poço

O Estado que já foi chamado de caixa d’água do Brasil está correndo o sério risco de “secar”. A redução do índice pluviométrico detectada há dois anos provocou o esvaziamento dos “mares” de água doce que abastecem residências e empresas instaladas nas Minas Gerais. Com os reservatórios baixos, a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) decidiu apostar em três ações básicas para controlar o problema de abastecimento, que já afeta mais e 60 municípios e, na outra ponta, educar a população para o uso racional da água. A primeira delas é a divulgação diária dos volumes dos Sistemas Paraopeba (Rio Manso, Serra Azul e Vargem das Flores) e Rio das Velhas. A manutenção também ganhou maior agilidade com a campanha “Caça Gotas”. Técnicos divididos em 40 equipes de campo estão “na rua” para procurar e solucionar problemas de vazamentos, entre outros, para reduzir o tempo médio de desperdício, que hoje é de nove horas. A medida é essencial para reduzir a perda de 40% de toda a água potável que circula pela rede de distribuição da Copasa. 38

Além disso, a empresa também tem recebido denúncias de desperdício. Mas o ponto central de todo o projeto de gestão da crise de abastecimento é a campanha para a redução de 30% do consumo, pela população em geral.


Milton Nogueira, engenheiro metalurgista e consultor da Unido

No novo site da empresa (copasatransparente.com.br), além de números relativos à situação dos reservatórios, foram listadas uma série de práticas simples que, adotadas em cadeia, podem contribuir para a sobrevida de reservatórios do Estado. Em suma, no momento de escassez, o objetivo da Copasa é inaugurar um novo padrão de uso, sem desperdício. A raiz do problema confirma aquele discurso apocalíptico que os ambientalistas fazem há pelo menos uma década, de que o planeta está se aquecendo, que era preciso reduzir a emissão de gases de efeito estufa o quanto antes e, ainda, adotar o uso racional dos recursos naturais. No caso da região Sudeste, os períodos de calor/seca têm sido maiores que a “saudosa” temporada de chuvas, entre outubro e março.

Os resultados dessa variação climática afetaram São Paulo, durante 2014. Em janeiro de 2015, três meses depois de negativas políticas acerca de um risco de desabastecimento de água, o problema chegou a Minas Gerais com força total logo nos primeiros dias do ano novo. O engenheiro metalurgista Milton Nogueira, consultor no escritório da agência da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido), durante 20 anos, para assuntos relacionados ao clima, reafirma que as mudanças climáticas são a principal causa do esvaziamento dos reservatórios. Além de afetar o consumidor comum, a crise de abastecimento também afeta a atividade econômica. “A seca afetou igualmente o Sudeste e o Nordeste. Mas o Sudeste sofreu mais porque não

tem um plano B estruturado para lidar com a falta de água”, ressalta. Na região vizinha, onde a seca é parte da história e da cultura, o sistema de cisternas instalado ao longo dos anos representa uma garantia para a população, principalmente nos municípios mais afastados dos grandes centros urbanos, onde a base da economia é a agricultura familiar e a criação de gado. Os desmatamentos da Mata Atlântica e Cerrado, desde a 2ª Guerra Mundial, também influenciam a mudança do clima no Estado Segundo Nogueira, a água que cai em terra “limpa”, sem vegetação, não penetra na terra para chegar aos lençóis freáticos e nem abastece as nascentes. Ao contrário, segue direto para o mar. “O descaso com as florestas levou ao descaso com a bacia hidrográfica”, lamenta. 39


ÁGUA & ENERGIA

Denes Martins da Costa Lott, Advogado e mestre em Sustentabilidade Sócioeconômica Ambiental (UFOP) e presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba

Para o engenheiro, a gestão das águas, em Minas Gerais, é outro problema que afetou o nível dos reservatórios. “A política de gestão das bacias hidrográficas existe, no papel, há 20 anos mas não foi devidamente implementada e não recebeu os investimentos necessários para uma atuação efetiva", aponta. Até o fechamento desta edição, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) ainda não tinha concluído o estudo que dará ou não aval técnico para o decreto de “situação de escassez de recursos hídricos”. Em 27 de janeiro, quando anunciou o risco de abastecimento no Estado, a Copasa encaminhou ao Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) um documento que atestasse a “situação de escassez de recursos hídricos”, com o qual poderia pleitear recursos para obras emergenciais junto à União e instituir medidas como racionamento, multa e sobretaxa para o controle da crise de abastecimento. Com apenas 82 profissionais em campo para cuidar de 36 bacias hidrográficas, exato um mês depois, o Igam ainda não havia concluído o estudo. O Instituto foi criado para monitorar as águas do Es40

tado e controlar as outorgas. Atualmente, tem filiais apenas nos núcleos regionais de Montes Claros (Norte), Divinópolis (Centro-Oeste), Governador Valadares (Rio Doce) e Juiz de Fora (Zona da Mata), o que reafirma a falta de estrutura necessária para executar uma tarefa tão grande e importante. O Advogado e mestre em Sustentabilidade Sócioeconômica Ambiental pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba, Denes Martins da Costa Lott, soube do projeto de captar 5 metros cúbicos/segundo de água do Rio Paraopeba para a Estação de Tratamento de Água do Rio Manso pela imprensa. “O governo tem que exercer a função dele, de planejar e agir, mas tem que respeitar a sociedade e suas entidades legalmente instituídas, como os comitês de bacia”, declara. O gestor reconhece que a estrutura do Comitê é tímida para tantas atribuições.“Estamos fazendo um trabalho para fortalecer o Comitê institucionalmente, mas essa tarefa envolve outros atores.Teoricamente, é o governo que repassa os recursos”, disse.

Em relação ao anúncio do projeto para aumentar a captação no Sistema, Lott é cauteloso. “O rio está sofrendo, como vários outros rios do Estado, muito impactado pelas ações urbanas. A última obra feita na Bacia foi há 30 anos”, ressalta. Entre as ações já implementadas para acompanhar esse projeto, que foi o primeiro anunciado pelo governo do Estado está a criação de dois grupos de trabalho. O primeiro vai acompanhar as ações da Copasa e o outro ficou responsável por uma vistoria na nascente do Rio Paraopeba. Segundo o gestor, a melhora da “saúde” do rio, passaria pela ampliação da Estação de Tratamento de Água do Serra Azul (ETA), já que a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Juatuba não funciona. Betim e Contagem também têm ETEs já instaladas. “Eu acho que a crise de abastecimento que afeta Minas Gerais tem vários componentes. Deveria valer o princípio poluidor/pagador, com a cobrança efetiva pelo uso da água. A natureza está dando sinal de alerta para o nosso modo de vida”, analisa.


Wagner Soares Costa, engenheiro agrônomo, gestor ambiental e gerente de Meio Ambiente da Fiemg

EM NOME DO DESENVOLVIMENTO A política praticada em Minas Gerais é outra vilã da crise de abastecimento de água. Os benefícios oferecidos para as empresas se instalarem no Estado – inclusive concessões para o uso de água – devem ser revistos. Há que se fiscalizar, também, a quantidade de cisternas, para não comprometer o lençol freático. Nesse ponto, a Engenharia tem papel fundamental para ajudar a equacionar a crise de fornecimento de água que afeta Minas Gerais, pois vai auxiliar o setor produtivo a fazer o uso racional do recurso. Para tanto, basta conhecimento técnico e planejamento. “Os engenheiros hidráulicos sabem como detectar e proteger o lençol freático com uma conduta ética. Nesse caso, a responsabilidade técnica da Engenharia é observar o limite do lençol freático”, observa Milton Nogueira. Não é de hoje que as indústrias perseguem a tal eficiência energética. Parte dos custos de qualquer negó-

cio, as contas de luz e água estão sempre na mira dos controladores internos das organizações. Segundo o engenheiro agrônomo, gestor ambiental e gerente de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Wagner Soares Costa, as empresas de médio e grande porte já fazem o reuso da água. “Na mineração, o reuso é de 80% e na indústria têxtil, 60%”, exemplifica. Devido aos custos envolvidos nesse tipo de projeto, as pequenas empresas têm maior dificuldade em instalar esse tipo de sistema que depende de consultoria especializada externa. Para reverter essa situação, o programa Minas Sustentável, da Fiemg, realizou um extenso diagnóstico do setor industrial. Das 2.500 empresas com até 100 empregados analisadas, 40% praticam algum tipo de ação para uso racional ou reuso de água. “Nelas, o uso racional é maior que o reuso”, explica o gestor.

Para Wagner Costa, as empresas estão acompanhando bem o processo evolutivo que demanda maior cuidado com o uso dos recursos naturais finitos, como é o caso da água. “As indústrias mineiras têm um programa estratégico nesse sentido. Esse olhar estratégico sobre a água não aconteceu tanto pela cobrança ou preço, mas pelo entendimento do setor produtivo da função desse recurso no processo produtivo de diversos setores, seja como matéria prima ou insumo”, destaca. Os engenheiros estão na base desse tipo de serviço. Segundo o gestor, o mercado tem demandado profissionais capazes de apresentar soluções para a gestão ambiental das empresas, com conhecimento para respeitar a extensa legislação sobre o tema e, ainda, promover a mudança de cultura da empresa, por meio do uso de tecnologias capazes para reduzir o consumo do bem natural e reduzir impactos ambientais. “Nesse momento, é preciso inovar”, recomenda. 41


ÁGUA & ENERGIA

Sem chuva , sem água A presidente da Copasa, Sinara Meireles Chenna, disse que o comprometimento dos mananciais, a redução da vazão dos cursos d’água que abastecem o sistema e a falta de medidas preventivas an-

Sinara Meireles

desabastecimento. Se as previsões de falta de

Chenna,

chuva na região Sudeste se confirmarem, no final de março, o esgotamento dos reservatórios estará concluído em três ou quatro meses.

Agencia Minas

teriores aumentam as chances da ocorrência de

presidente da Copasa

No dia 27 de fevereiro, um mês após o início da campanha de redução de 30% do consumo de água, o sistema Paraopeba, que abastece a RMBH,

Segundo a presidente, a companhia tem estudado

opera com 30,3% de sua capacidade. Na primeira

formas para amenizar as consequências da redução

medição, estava com 29,9% da sua capacidade.

de consumo por parte da população, como a diminuição de custos e perdas. A Copasa também ana-

O reservatório do Sistema Serra Azul, que está em

lisa uma revisão tarifária e a possibilidade de adotar

pior situação, passou de 5,73% para 8,9% no pe-

mecanismos tarifários de contingência, que depen-

ríodo. No Rio Manso, houve ligeira redução de

dem de aprovação da Agência Reguladora de Servi-

45,06% para 43%. Já o Várzea das Flores, que ini-

ços de Abastecimento de Água e de Esgotamento

ciou a série com 28,31% da sua capacidade, atingiu

Sanitário do Estado de Minas Gerais (ARSAE).

29,9%. A vazão do Rio das Velhas caiu de 25 para 21,1, na mesma base comparativa.

Enquanto aguarda a declaração de situação crítica de escassez de recursos hídricos, a Copasa também

42

“Diferente do que se pensa, 80% da clientela da

tem intensificado a contratação de caminhões pipa

Copasa é composta por consumidores domésti-

e a perfuração de poços artesianos, nas regiões

cos, tornando fundamental a participação de toda

mais críticas, para atendimentos emergenciais. Há,

a população nos esforços pela economia”, afirma

estudos, também, para definir novas fontes de cap-

a engenheira.

tação na RMBH.


Respostas as variações climáticas Apresentado em 25 de fevereiro, o Plano de Energia e Mudanças Climáticas (PEMC) de Minas Gerais, elaborado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente, por meio da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), prevê a execução de 64 ações para enfrentar os efeitos agressivos do clima. As medidas, muitas delas já em andamento, foram subdivididas em seis grandes grupos (Energia, Agricultura, Florestas e outros Usos do Solo, Transportes, Indústria e Resíduos). Se aplicadas, vão gerar redução entre 17% a 20% das emissões dos gases de efeito estufa até 2030.

Divulgação ‑ Copasa

Se as ações propostas não forem adotadas, as emissões de gases de efeito estufa aumentarão em 60%, com prejuízo de R$ 450 bilhões para a economia do Estado. A temperatura deve crescer entre 2°C e 4°C até 2030, variando conforme a região e a estação do ano.

Rio das Velhas, alças e comportas fechadas

43


ÁGUA & ENERGIA

METAS POR SETOR AGROPECUÁRIA Destaca-se o Programa Estadual de Recuperação de Pastagens Degradadas, que visa revigorar campos a partir da agricultura e da pecuária bovina, melhoria da produção e uso dos dejetos da pecuária no solo como fonte de nutrientes ao invés de armazenar como resíduos. Serão priorizadas as tecnologias propostas pelo Plano Agricultura de Baixo Carbono (ABC). Entre outras ações, também estão o melhoramento genético, redução da emissão de metano dos ruminantes e o uso sustentável de florestas plantadas. FLORESTAS E USO DO SOLO Revisão e ampliação do Plano Estadual de Fomento Florestal, uma estratégia integrada de prevenção e combate ao desmatamento em Minas Gerais, abordando todos os biomas presentes no Estado. A ampliação do programa de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (Previncêndio) é outra ação de destaque. INDÚSTRIA O Programa Estadual de Eficiência Energética (PEEE) é o carro-chefe. A iniciativa vai promover projetos de eficiência energética dentro das indústrias e articular medidas com possíveis linhas de financiamento por meio de incentivos fiscais, tributários, creditícios ou outros benefícios governamentais adicionais a serem definidos. Entre outras ações, destaca-se a proposta de diferenciação tributária para tecnologias de baixo carbono e a substituição gradual de fontes energéticas com alto fator de emissão de gases de efeito estufa.

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ENERGIA Ampliar o uso de tecnologias de aquecimento solar e a geração de energia fotovoltaica, bem como de produtos eficientes e de baixo carbono, é uma das principais iniciativas para diversificar a matriz energética e aumentar a eficiência na utilização dos recursos disponíveis. Outras ações relevantes são o fortalecimento do programa Energias de Minas, com o incentivo da produção de energia elétrica a partir das fontes solar, eólica, biogás e biomassa, e a criação de um projeto de incentivos para a produção de bioquerosene de aviação e etanol. RESÍDUOS E EFLUENTES Criação do Fundo Estadual de Resíduos Sólidos para regular a geração, redução, reutilização, reaproveitamento, reciclagem, tratamento e destinação final adequada dos resíduos sólidos. Entre as ações complementares está o fomento ao aproveitamento, inclusive energético, da matéria orgânica, e o incentivo à indústria de reciclagem. TRANSPORTES O estudo de viabilidade econômica e ambiental para implantação de ciclovias nas marginais das rodovias estaduais é uma das principais ações. Outras medidas são a ampliação e potencialização do Programa de Incentivo à Renovação da Frota de Caminhões e a criação de estímulos econômicos para aquisição de veículos híbridos e elétricos.


R E S P E I T O A O M E I O A M B I E N T E É U M D O S N O S S O S VA L O R E S . Á G U A L I M PA E T R ATA D A É O N O S S O C O M P R O M I S S O .

A CBMM tem um grande respeito pela natureza e principalmente pela água que utiliza. Localizada em Araxá, a companhia recircula hoje 95% da água usada em seus processos de produção. Investindo continuamente em tecnologia e controle de qualidade, a CBMM espera alcançar a marca de 98% nos próximos dois anos. Esse é um compromisso com o meio ambiente e com o futuro. CBMM. Aqui tem nióbio.

cbmm.com.br


JOVEM ENGENHEIRO | DANIEL TÁVORA DE CASTRO QUEIROZ

Uma profissão que permite diversos campos de atuação engenheiro civil Daniel Távora de Castro Queiroz, 38 anos, graduado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), em 2001, e pósgraduado em Produção Civil pela Fumec, sempre pensou em ser engenheiro mecânico, para seguir a profissão do pai. Mas, na época do vestibular, ao invés das máquinas, ele começou a apreciar mais a área de construção.

O

Ele conversou com os pais sobre a mudança de rota e recebeu o incentivo necessário para seguir em frente. A escolha deu certo. O engenheiro considera a sua profissão completa, o que abre portas para uma variedade de atuações, no decorrer da carreira profissional. 46

“Um engenheiro civil pode incluir no seu currículo experiências diversas em projetos de estradas, ferrovias, pontes, edifícios, barragens, saneamento, etc, que contribuem de forma decisiva para o desenvolvimento socioeconômico das cidades, por meio da melhoria da qualidade de vida e saúde da população e também da infraestrutura”, enumera. No período de estágio, Daniel Queiroz participou de obras importantes como a construção do edifício da Fiat, em Nova Lima; o galpão dos Correios, no Anel Rodoviário e, ainda, a ampliação da estrutura do Minas Tênis Clube. Durante as férias, ele sempre procurava algum “programa” na área de Engenharia e, assim, acompanhou um pouco das obras da Barragem Serra de Mesa, em Minaçu (GO), da Ferrovia Transnordestina (CE) e de uma estação de tratamento de esgoto em Araruama (RJ).

Aprender não tem limites para o engenheiro que iniciou sua carreira no Grupo Pádua, uma das maiores fábricas de pré-moldados do Brasil. “Aprendi muito sobre logística e otimização de processos”, ressalta. Depois, por quatro anos, ele esteve na Concentual Construções Ltda., que tem um contrato com a Petrobras para reforma e construção de revendas de combustível no Estado. Depois, Daniel Queiroz recebeu um convite para trabalhar na Construtora Camargo Corrêa, onde está há sete anos. Entre os projetos dos quais participou está a obra de saneamento para a Aguas y Saneamientos Argentinos (AYSA), onde passou quatro anos, no país vizinho. Lá, ele respondeu pela execução de aproximadamente 30 mil metros cúbicos de concreto armado.


A Engenharia é uma profissão que exige muita disponibilidade do profissional em se adaptar às mudanças inerentes ao ramo da construção

Mas a experiência não foi apenas técnica. “O tempo que passei na Argentina foi muito produtivo em todos os sentidos. Além de trabalhar em um grande projeto, com significativos volumes de concreto e movimentação de terra, fiquei fluente em mais um idioma”, comenta.

energia para manter-se atualizado em inovações tecnológicas e nos conteúdos que serão exigidos nos próximos projetos. “A Engenharia é uma profissão que exige muita disponibilidade do profissional em se adaptar às mudanças inerentes ao ramo da construção”, explica.

Atualmente, Daniel Queiroz trabalha em outra obra de saneamento, como responsável pela execução de 50 km de redes interceptoras, 15 km de redes de esgotos e cinco estações elevatórias para coleta na região de Ibirité, na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) localizada na mesma cidade.

A técnica não é tudo, em Engenharia. O profissional precisa gostar do que faz para diferenciar-se dos demais. Queiroz não esconde o prazer que tem em trabalhar na área “Sou comprometido com minhas metas e prazos. Busco soluções rápidas, eficientes e econômicas para os projetos”, destaca. Como o engenheiro não trabalha sozinho, Queiroz também exercita diariamente a capacidade de trabalhar em equipe e de escutar outras opiniões para somar resultados. Os problemas são consi-

Construir uma carreira de sucesso é o desejo de todo profissional. Para o engenheiro, esse é um projeto contínuo ao qual ele dedica tempo e

derados já no processo de planejamento, para evitar surpresas que possam causar atrasos ou prejuízos. Para quem está começando o curso de Engenharia Civil ou pretende ingressar na área, ele apresenta alguns argumentos “de peso”. “É preciso fazer um curso bem feito. Todas as disciplinas, mais cedo ou mais tarde, serão importantes durante a vida profissional. Nos estágios, é importante aproveitar ao máximo o contato com pessoas mais experientes, como os engenheiros, encarregados e outros profissionais que puderem somar”, sugere. Casado e pai, o engenheiro gosta de sair com a família nos momentos de lazer, mas, como todo bom atleticano, ele não dispensa um jogo de futebol. 47


GESTÃO PÚBLICA

Engenheiros no primeiro escalão do governo Pimentel O primeiro escalão do governo do Estado de Minas Gerais tem, na sua composição, seis engenheiros em diferentes secretarias e empresas. Devido ao processo de auditoria instaurado logo no início da gestão, o governador Fernando Pimentel (PT) tem evitado falar de planos e projetos para os próximos quatro anos de mandato.

CONHEÇA OS ENGENHEIROS QUE ESTÃO NA LINHA DE FRENTE DA ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL

Murilo Valadares - Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas Engenheiro civil formado pela UFMG. Com extensa experiência no setor público, ocupou os cargos de administrador regional, diretor da SLU, superintendente da Sudecap e secretário de Políticas Urbanas de Horizonte. Foi, também, secretário Municipal de Obras e Infraestrutura da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).

João Cruz Reis Filho - Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento Engenheiro agrônomo, é mestre e doutor em Genética e Melhoramento pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Como fiscal federal agropecuário do ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, chefia a assessoria de gestão estratégica do orgão.

Altamir Rôso - Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico Engenheiro, economista e empresário, ele preside a regional Vale do Rio Grande da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), em Uberaba, com uma atuação dinâmica à frente de sindicatos como o Sinduscon Uberaba, CIGRA e, desde 2010 ocupa a presidência da FIEMG Regional Vale do Rio Grande. Ele teve papel decisivo na conquista do gasoduto para Uberaba. 48


Sávio Souza Cruz - Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Engenheiro metalúrgico e especialista em Engenharia Ambiental, é graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele licenciouse do quarto mandato consecutivo como deputado estadual para assumir a Secretaria. Anteriormente, foi secretário de Estado de Planejamento e, posteriormente, de Recursos Humanos e Administração no governo Itamar Franco (1999-2002). Foi professor de Química e Física da rede de ensino privado e de Engenharia Ambiental da PUC Minas.

Mário Spinelli - Controladoria-Geral do Estado Engenheiro civil e matemático, mestre em Administração Pública pela Fundação João Pinheiro (FJP) e pós-graduado em Engenharia de Segurança do Trabalho pela Universidade Federal Fluminense. Foi controlador-geral do município de São Paulo e é servidor concursado da ControladoriaGeral da União (CGU), onde foi secretário de Prevenção da Corrupção e Informações Estratégicas. Integrou o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão do ministério da Fazenda.

Marco Antônio Castello Branco - Presidência da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig) Engenheiro Metalurgista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é especialista e doutor em siderurgia pela Faculdade de Engenharia de Minas, Metalurgia e Mecânica da Universidade Técnica de Clausthal, Alemanha. Fez carreira na iniciativa privada, assumindo a presidência da Mannesmann do Brasil no ano 2000, após fusão da empresa com o grupo francês Vallourec. De 2004 a 2008, integrou a alta administração do grupo na França e também foi diretor-presidente da Usiminas de 2008 a 2010.

Sinara Meirelles - Presidência da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) Engenheira civil formada pela UFMG, foi superintendente de Limpeza Urbana da prefeitura de Belo Horizonte entre 2005 e 2009. Integrou o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Belo Horizonte.

49


CREA | SERVIÇO

Câmara de Mediação e Arbitragem do Crea‑Minas amplia sua atuação Instituída no final de 2012 pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-Minas), a Câmara de Mediação e Arbitragem (CMA) teve a sua atuação ampliada para todas as regiões do Estado, com opções de Conciliação, Mediação e Arbitragem e Comitê de Resolução de Disputas (DRB). O agendamento dos serviços pode ser feito nas inspetorias da instituição. Em dois anos de atividades, a CMA/Crea-Minas obteve índice de satisfação dos usuários em mais de 90% para a resolução mais rápida de conflitos judiciais que envolvem as profissões da área tecnológica - Engenharia, Agronomia,

Presidente do Crea-Minas e engenheiro civil, Jobson Andrade

Geologia, Geografia e Meteorologia – com objetivo de evitar que os casos se transformem em processo judicial.

A conciliação e a mediação são procedimentos amigáveis

Através da conciliação, o tempo médio para a solução dos

cujos protagonistas são as próprias partes. O presidente

casos é de 63 dias, sendo que o fator maior de morosi-

da CMA Crea-Minas, engenheiro civil Clémenceau Chiabi

dade é o contato com as partes envolvidas. “A ideia é oferecer um espaço neutro onde as pessoas possam conversar e, com o auxílio de um conciliador técnico ou

50

Saliba Jr., afirma que, se não houver a solução do conflito nessas duas esferas, os envolvidos podem optar pela Arbitragem.

um mediador, resolver uma questão sem a necessidade de

Regulada pela Lei Federal nº. 9.307/96, a Arbitragem per-

abertura de um processo no Judiciário. Atuamos de forma

mite às partes a escolha de uma terceira pessoa, indepen-

direta acrescentando mais essa prestação de serviços aos

dente e imparcial, especialista no tema do conflito em

profissionais e à sociedade”, explica o presidente do Crea-

questão, denominada Árbitro, para resolver o impasse de

Minas e engenheiro civil, Jobson Andrade.

maneira definitiva, sem recursos protelatórios tão comuns


Presidente da CMA Crea-Minas, engenheiro civil Clémenceau Chiabi Saliba Jr.

no judiciário. Caso não exista consenso entre os envolvi-

mente na obra, fazem recomendações ou decidem todas

dos na escolha de um único Árbitro, pode ser formado

as disputas pontualmente.

um Tribunal Arbitral composto por três árbitros. Dessa forma, os conflitos não se acumulam até se transAlém de garantir rapidez e sigilo, uma das vantagens des-

formarem em disputas judiciais. O objetivo dessa ferra-

ses serviços é oferecer às partes a oportunidade de po-

menta é garantir que o contratado não paralise os

derem escolher as regras que vão utilizar e os prazos

serviços e que o contratante continue quitando as par-

que serão necessários. Outro benefício do procedimento

celas, para garantir a entrega da obra no prazo estipu-

é o fato dele poder ser resolvido por especialistas da

lado.

área do conflito que, consequentemente, resultará em um julgamento mais seguro na parte técnica.

DEFENSORIA PÚBLICA

Segundo levantamento da CMA/Crea-Minas, a maioria

Os processos de conciliação instaurados junto à Câmara

dos conflitos que chegam até a Câmara são da área de

de Mediação e Arbitragem do Crea-Minas contam, desde

Engenharia Civil, com prevalência de casos de inadim-

2014, com os serviços da Defensoria Pública do Estado

plência contratual, vícios construtivos, perdas e danos, e,

de Minas Gerais.

ainda, discordâncias decorrentes de obras vizinhas.

O órgão presta assistência jurídica aos procedimentos

O Comitê de Resolução de Disputas, mais conhecido

de conciliação nos litígios que envolvam, direta e indire-

pela sigla DBR é muito utilizados em grandes obras no

tamente, as áreas tecnológicas, possibilitando a assistên-

mundo todo e considerado um instrumento de van-

cia de um defensor público para a defesa da parte que

guarda. “São comitês criados no início de um projeto,

não possui advogado. O convênio é inédito no Brasil e

composto por três profissionais capacitados da indústria

objetiva evitar desequilíbrio jurídico entre os envolvidos,

e da construção, que atuam na resolução de conflitos em

visto que nem todos usuários da CMA possuem condi-

tempo real”, destaca. Na prática, eles se reúnem mensal-

ções de arcar com as despesas de um advogado. 51


SETOR AUTOMOTIVO

Indústria automobilística nacional se prepara para novo cenário econômico Considerada um dos carros chefes e “termômetro” da economia nacional, a indústria automobilística amargou em 2014 o seu pior resultado, nos últimos cinco anos. Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes deVeículos Automotores (Anfavea), a produção teve queda de 15,3%, no em relação ao exercício anterior. A situação não ficou diferente para as empresas de máquinas agrícolas e rodoviárias, que também tiveram perda de 17,4%. No caso das exportações, o percentual da retração ficou em 30,4% na mesma base comparativa. Duas inaugurações de plantas em 2014, uma da Nissan, em Resende (RJ) e outra da Chery, em Jacareí (SP) são parte da estratégia adotada pelo governo federal no seu Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de 52

Veículos Automotores (Inovar-Auto). Criado em 2012, o plano visa fortalecer a indústria nacional, por meio da estratégia de conteúdo local, que exige que as empresas ampliem o desenvolvimento e a produção de insumos, peças e veículos no país.

11,96% km/litro de etanol, o que reduz a emissão de CO2 na atmosfera - um desafio a ser vencido pelo setor – e economia média anual de R$ 1.150 para o consumidor, em relação aos padrões atuais e em menos CO2 circulando na atmosfera.

Além de elevar a competitividade da indústria nacional, reduzindo o percentual de 25% de players internacionais no setor, a medida também deve gerar mais postos de trabalho.“Todos os países têm alguma legislação do gênero, mais ou menos às claras”, observa. No Japão, por exemplo, o mercado é fechadíssimo, com apenas 5% para os importados.

Em investimentos, a previsão até 2016 é de R$ 14 bilhões, com expectativa de abertura de outras oito fábricas. O que explica essa migração de multinacionais do setor para o solo brasileiro é o tamanho do mercado, como explica o engenheiro, jornalista e consultor especializado na indústria automobilística, Fernando Calmon.

O programa também tem meta ambiental e social. Uma delas é que o consumo médio dos novos modelos seja de 17,26 km/litro de gasolina ou

A favor dessa transferência está a proximidade com o quarto maior do mundo. Mas, na contramão, a produtividade do setor está em queda no país. O México ultrapassou o Brasil e


Fernando Calmon, Engenheiro, consultor especializado na indústria automobilística

ao país estão os motores com três cilindros, que já estão nas linhas de produção europeias. O motor flex, uma criação genuinamente brasileira, não deve ser substituído, já que a tecnologia é muito bem aceita no país, onde o etanol tem vantagem imbatível na emissão de gases de efeito estufa, 80% menor que a gasolina. “Essa é uma vantagem competitiva da indústria, mas a melhoria da eficiência dos ocupa a sétima posição nacional. As condições para exportação também não estão entre as melhores, devido a fatores que são velhos conhecidos da indústria nacional: valorização do dólar frente ao real, Custo-Brasil (leiase carga de impostos e custos trabalhistas) e deficiência logística. Depois da má notícia, vem a boa. Embora as expectativas para o setor sejam bem cautelosas em relação a este ano, a retomada de crescimento deve acontecer a partir de 2017. “Houve um “boom” em oito anos e o mercado mais que dobrou. O crescimento foi muito rápido e contou com a ajuda do governo mas enquanto a situação econômica do país não melhorar, fica difícil investir”, ressalta. “O Brasil entrou nessa corrida pela eficiência dos veículos atrasado. Os

motores estavam defasados e os prazos para pesquisa e desenvolvimento (P&D) do Inovar-Auto são curtos. Conseguir isso sem inviabilizar o preço do produto e o potencial do mercado brasileiro é outro desafio a ser vencido”, enfatiza. Outras metas do programa são veículos mais leves e sustentáveis. PESQUISA E DESENVOLVIMENTO Para Calmon, o Inovar-Auto abre espaço para que as empresas reforcem o seu “time” de engenheiros. “Pode ser o momento de reconquistar profissionais que migraram para outras áreas de atuação”, projeta. Com isso, o mercado de trabalho volta a ser promissor para esses profissionais já que há metas a serem cumpridas para alcançar os benefícios do Inovar-Auto. Entre as novidades que podem chegar

veículos dependerá da Engenharia”, argumenta o consultor. Engana-se quem pensa que o plano de fomentar o parque industrial automobilístico brasileiro é um erro. Segundo Calmon, o mercado nacional ainda é considerado imaturo, quando se considera que a taxa média de ocupação dos veículos é de 5 habitantes, sem contar as motocicletas. Na vizinha Argentina, esse número cai para 3,5. O trânsito caótico das grandes capitais amedronta, mas há espaço para novos negócios, nas médias e pequenas cidades. “A perspectiva é boa porque a população é grande, a base industrial estará razoavelmente bem montada e o consumidor gosta e precisa do produto”, conclui. 53


SETOR AUTOMOTIVO

Fiat aposta em inovação para se manter competitiva

Dilvulgação FIAT -Oswaldo Luiz Palermo

A indústria automobilística está em período de “stand by” mas tem trabalhado arduamente para manter-se competitiva. Revisão de custos e processos, inovação e lançamento de novos modelos estão entre os desafios aos quais as empresas têm se dedicado desde 2013.

Carlos Eugênio Dutra, Diretor de Planejamento e Estratégia do Produto da Fiat Chrysler Automobiles (FAC)

Segundo o diretor de Planejamento e Estratégia do Produto da Fiat Chrysler Automobiles (FAC) para a América Latina, Carlos Eugênio Dutra, a empresa está em meio ao maior ciclo de investimentos de sua história no Brasil, com aporte de R$ 7 bilhões previstos para o período de 2011-2016 visando a modernização da fábrica e o desenvolvimento de novos produtos. Sem dar detalhes, ele adianta que, em dois anos, serão apresentados ao mercado quatro novos veículos.

O Centro de Pesquisa & Desenvolvimento Giovanni Agnelli, que engloba o Design Center, as Engenharias de Projeto de Veículo e Motopropulsor, a Engenharia Experimental e a Engenharia Powertrain tem uma equipe de 1500 profissionais que capacitam a Fiat Automóveis com toda a tecnologia necessária para projetar integralmente um veículo no Brasil. “O know-how do Centro de P&D é comparável com o que há de mais avançado no mundo e representa um ganho de competitividade para a empresa”, destaca. Desde o lançamento do primeiro veículo no Brasil, a empresa vem apresentando ao mercado soluções pioneiras ao desenvolver carros econômicos, inteligentes no aproveitamento de espaço, com motores pequenos e potentes. Nessa lista está o Fiat 147, lançado em 1976, o primeiro carro com motor transversal do país. Três anos depois, a fábrica inovou com o veículo movido a etanol produzido em série. Na sequência, vieram o modelo popular com motor 1.0; a família de motores Fire, mais leves e econômicos e, ainda, o Siena Tetrafuel, que é o único alimentado por quatro combustíveis.

MODEL SHOP

54

LABORATÓ EMISSÕES E


Um importante conceito que tem direcionado as pesquisas para o desenvolvimento de modelos mais econômicos e eficientes é a melhoria do coast down (leia-se resistência total ao deslocamento). Para tanto, são criadas soluções para diminuir o atrito do pneu com o solo (pneus verdes), o atrito da carroçaria com o ar e até diminuir as rotações do motor, através de relações de marchas mais longas. Menor atrito demanda menos potência do motor para deslocar o veículo e, consequentemente, menor consumo de combustível com ganhos para o meio ambiente. Atualmente, 80% dos veículos da Fiat em produção já têm pneus de baixa resistência a rolamento (pneus verdes). EFICIÊNCIA ENERGÉTICA Outro importante investimento para a melhoria da eficiência energética é o uso de “materiais verdes”, como os reciclados e aqueles confeccionados com matérias-primas renováveis como óleos vegetais, polímeros verdes, biopolímeros e fibras vegetais.

“Atualmente, dispomos de uma série de materiais verdes empregados em diversas funções do veículo como, por exemplo, óleo de soja na produção de espuma dos bancos e fibras vegetais como reforço em componentes de acabamento. Os materiais reciclados estão presentes nos isolamentos acústicos, feitos a partir de resíduos da indústria da moda, e nas proteções do vão de roda e nos reparos aerodinâmicos, produzidos com plástico reciclado”, enumera. A eficiência energética está presente também no projeto do carro elétrico. Em 2006, a FCA iniciou parceria com a Itaipu Binacional para o desenvolvimento do Palio Weekend Elétrico com bateria de cloreto de sódio. Já foram produzidas 66 unidades do protótipo em uso pelos parceiros do projeto, como as concessionárias de energia elétrica, com foco na capacitação de profissionais e no desenvolvimento de kow-how. A melhoria de processos é parte dos investimentos realizados pela empresa. Desde 1994, a Fiat registra queda contínua dos indicadores de consumo de água e de energia, por veículo produzido. No período, para cada veículo produzido, o consumo de energia elétrica caiu 55%. Já o consumo de água teve queda de 68%. A água na planta de Betim é recirculada em 99%. “Na prática, significa a quase eliminação da captação da água potável da rede pública para o uso industrial”, afirma.

CENTRO DE CONSTRUÇÃO DE PROTÓTIPOS

Divulgação Fiat.

ÓRIO DE E CONSUMO

A versão Evolution do Novo Uno, lançado em 2014, trouxe o Start&Stop pela primeira vez em um veículo nacional. Esse recurso “verde” de última geração desliga e religa o motor automaticamente. Uma redução de até 20% no consumo de combustível pode ser verificada com o sistema ligado, principalmente nas paradas constantes, comuns no trânsito das grandes cidades. O sistema também reduz significativamente a emissão de gases.


RESPONSABILIDADE SOCIAL

Parceria público‑privada ajuda municípios a solucionar problemas de abastecimento de água Pedra de Maria da Cruz,Varzelândia e Virgem da Lapa integram a listagem dos 680 municípios atendidos pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), para serviços de abastecimento de água potável. No entanto, nas três localidades, a falta desse bem natural é um problema histórico que compromete a saúde da população e o desenvolvimento socioeconômico. Mas a situação está mudando. Por meio de um convênio firmado entre o governo de Minas Gerais, via Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) e a Coca-Cola FEMSA Brasil, os três municípios foram contemplados com o programa “Água - Plantas Potabilizadoras”, que transforma água salobra e rica em calcário em alimento para o consumo humano. Os três municípios foram escolhidos pela CEDEC-MG depois de análise de pré-requisitos como o Índice Mineiro de Responsabilidade Social (IMRS), o chamado IDH mineiro, conjugado com dados populacionais, PIB e número de internações por doenças causadas pela ingestão de água não apropriada para o consumo humano. Em Varzelândia, o sistema que teve iní56

cio com a instalação da planta potabilizadora já inclui um caminhão pipa e 40 cisternas com capacidade de armazenamento de 8 mil litros de água potável. A comunidade de Lagoinha, distante 20 km da sede do município, onde moram 145 famílias carentes é um dos povoados beneficiados pelo equipamento. A meta do município é espandir o projeto para mais 120 famílias.“A máquina também fabrica oxidantes mistos que são colocados nas caixas d’água des escolas e unidades de saúde, para potabilizar a água usada nesses locais. O secretário municipal de Obras da cidade e técnico em Engenharia, José Airton Leite da Cruz, afirma que o programa “Plantas Potabilizadoras” atende a uma demanda histórica do município. “O caminhão será abastecido com a água da máquina, para que mais pessoas recebam água potável em casa”, declara. Sem a parceria com a Coca Cola FEMSA, afirma, o município não teria condições financeiras para adquirir o equipamento que corrigiu o Ph da água. Para aumentar o acesso da população à água potável da “Planta Potabilizadora”, a prefeitura de Virgem da Lapa

manifestou o interesse em ampliar a tubulação para outras comunidades. No local onde a máquina foi instalada, existe estrutura para abastecer casas do município. O prefeito Harley Lopes Oliveira disse que o programa tem mudado a qualidade de vida das pessoas. Nascido e criado na região, Evelino Batista de Moura também agradece a parceria com a Coca-Cola FEMSA que possibilitou a instalação do equipamento e a chegada de água tratada para o consumo da comunidade. ‘É um grande presente para todos os moradores”, justifica. Em Pedras de Maria da Cruz, será instalado um loteamento em frente ao local onde a máquina foi instalada, com casas para 20 famílias. A prefeitura também levará os oxidantes mistos produzidos pelo equipamento até outras caixas d’água mais distantes, onde o sistema não chega. Morador do município, Adilson Martins Canabrava, 51 anos, já foi submetido a cirurgia para retirar cálculo na vesícula. Esse é um problema recorrente na região. “As crianças terão uma saúde melhor na idade adulta”, projeta.


O sistema que teve início com a instalação da planta potabilizadora já inclui um caminhão pipa e 40 cisternas com capacidade de armazenamento de 8 mil litros de água potável.

COMPROMISSO SOCIAL

Entenda a tecnologia das máquinas potabilizadoras

O programa Plantas Potabilizadoras é uma entre várias iniciativas da Coca-Cola FEMSA para atender a comunidades carentes, nas regiões onde a empresa está presente. No caso de Minas Gerais, a nova fábrica, em construção na cidade de Itabirito mediante aporte de US$ 258 milhões, deve ser inaugurada ainda em 2015. A porta-voz da empresa,Ana Flávia Rodrigues, reafirma que o mais importante na parceria firmada com a CEDEC é a oportunidade de encontrar soluções perenes e eficazes para atender a comunidades que necessitam de água potável.“Sabemos que haverá redução nos casos de doenças causadas pela ingestão da água sem tratamento adequado também”, explica. Para ela, a ideia central do projeto - converter água imprópria para o consumo em água potável - demonstra a sensibilidade da Coca-Cola FEMSA Brasil em relação aos problemas que comprometem a qualidade de vida da popu-

Os equipamentos importados pela Coca-Cola FEMSA Brasil são fabricados pela empresa norte-americana Miox e usam a mistura de sal comum, água e energia para gerar produtos químicos desinfetantes na quantidade necessária para atender a demanda de água pela população.

lação ainda hoje. Para esse projeto, a empresa investiu aproximadamente R$ 1,4 milhão, o que inclui as três máquinas potabilizadoras fixas e outras duas, móveis que são usadas pela CEDEC em caso de enchentes. Em 2014, foram doados mais três caminhõespipa, 120 cisternas e três caixas d’água ao CEDEC, o que aumenta para 20,9 mil o número de pessoas atendidas.

A cada segundo de uso é purificado um litro de água, o que permite atender a mais de 4.500 pessoas por dia em situação de catástrofe natural.A operação e manutenção das máquinas são de baixo custo. Os oxidantes mistos produzidos pela máquina são levados para caixas d’água de escolas, unidades de saúde e casas mais distantes, para purificação do recurso natural. 57


PRÊMIO SME | CIÊNCIA ,TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

SME abre inscrições para o 23º Prêmio Ciência, Tecnologia e Inovação em parceria com a FIEMG A Sociedade Mineira de Engenheiros, SME está preparando a edição do 23ºPrêmio SME de Ciência,Tecnologia e Inovação, em parceria com a Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG). A premiação é dirigida a estudantes regularmente matriculados nos cursos de graduação das áreas de Engenharia,Arquitetura e Agronomia em Instituições Regulares de Ensino Superior do Estado de Minas Gerais. De acordo com o Regulamento do Prêmio, os trabalhos devem abordar um problema real ou idealizado, preferencialmente nosegmento in-

dustrial, cuja solução requeira conhecimentos de Engenharia, Arquitetura e Agronomia. O candidato poderá concorrer individualmente ou em grupo com um ou mais trabalhos. Para os trabalhos apresentados em grupo, poderão participar estudantes de outras profissões, regularmente matriculados em cursos de graduação de Instituições Regulares de Ensino Superior no Estado de Minas Gerais, desde que o líder do grupo seja um estudante das profissões de Engenharia, Arquitetura e Agronomia.

Depoimentos Secretário de Estado de Ciência,Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais – Miguel Corrêa “Premiar trabalhos técnico-científicos é uma das mais nobres iniciativas para valorizar a educação. O prêmio da Sociedade Mineira de Engenheiros (SME) de Ciência, Tecnologia e Inovação tem o papel de reconhecer e enaltecer jovens promissores das áreas de Engenharia, Arquitetura e Agronomia. Valorizar o trabalho destes estudantes é uma forma de estimular novas pesquisas e avançar na inovação. Como secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, parabenizo a Sociedade Mineira de Engenheiros por esta ação e garanto que o Governo de Minas está empenhado na luta para uma educação melhor para os mineiros, pois sabemos que o conhecimento é capaz de transformar o mundo”. Presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg)e do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas – Olavo Machado “Inovação e tecnologia são e sempre serão diferenciais estratégicos e decisivos na disputa e conquista de mercados pelas empresas, especialmente em face da crescente globalização e do acirramento da concorrência – e em um cenário de grave crise, como o que vivemos desde 2008, o desafio é ainda maior. Por todas estas razões, com satisfação e entusiasmo, a Fiemg apoia a Sociedade Mineira de Engenheiros na realização da 23ª. Edição do Prêmio SME de Ciência, Tecnologia e Inovação.Trata-se, ademais, de iniciativa que contribui fortemente para a integração universidade/empresa e, também, para aproximar os estudantes do dia a dia das empresas”. Vice-presidente da SME – Marita Arêas Tavares “O Prêmio Ciência e Tecnologia, criado pela SME, em 1992, por iniciativa do então diretor, engenheiro Rodrigo Paiva, da Paiva Piovesan, já na sua 23ª. edição, agregou mais recentemente à sua marca, a Inovação, complementando o tripé que dá sustentabilidade ao desenvolvimento econômico e social tão necessários à evolução da sociedade. Com o objetivo de incentivar os alunos dos cursos de graduação em Engenharia, Arquitetura e Agronomia, a premiação dos melhores trabalhos técnico-científicos não se limita a um atrativo incentivo financeiro, ou menções honrosas e Certificados de participação. Mas, constitui uma vitrine de oportunidades que poderão ser oferecidas pelas empresas e instituições apoiadoras do Prêmio, dependendo do interesse das mesmas, segundo o enfoque dos trabalhos apresentados. Esta premiação dá maior visibilidade de competências em currículos de futuros profissionais, podendo operar mudanças muito positivas na vida daqueles que souberem tirar proveito dessa grande oportunidade”. 58


FAÇA A ESCOLHA CERTA

ART-0086

Na hora de preencher a ART no campo (entidade de classe) escolha a SME - Sociedade Mineira de Engenheiros através do código 0086. Assim, você apoia a SME para representar a engenharia mineira e oferecer melhores serviços para você!

Compromisso com as soluções para um futuro sustentável da engenharia e bem-estar social.

Sociedade Mineira de Engenheiros

www.sme.org.br



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