Carlos Sandroni - Sem Regresso

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n ta ç e s e r p A

ã o As canções aqui ouvidas foram compostas ao

longo de cerca de trinta anos. A mais antiga é de 1984, e

a mais recente, de 2013. Dos anos 1980 são “Rude franqueza” (minha primeira música gravada), “Pão doce”, “Canção dos unicórnios”, “Salvador daqui” e “Falta um pé” (com letra de Luciana Sandroni). A versão que z para “Biromes y servilletas”, do uruguaio Leo Masliah (em português, “Guardanapos de papel”) também é dos anos 1980. Todas essas músicas tiveram primeiras gravações feitas por Clara Sandroni em seus três discos dos anos 1980. Dos anos 1990 são “Desanimado”, “Festa de formatura”, “No casamento da Luciana” e “Antes essa música não existia”. Dos anos 2000, “Outros quinhentos”. E de 2013, “Marcha sem regresso”, composta quando comecei os ensaios para este CD. Estas músicas estavam inéditas em disco, com a exceção de “Desanimado”, gravada por Clara Sandroni no seu CD Cassiopéia, de 2007. São, na maioria, canções compostas faz muitos anos. O eventual frescor com que se apresentam aqui deve-se sobretudo ao talento dos músicos extraordinários com quem tive o prazer de trabalhar. Cantei-as por estarem – como de Antonio Maria, o Recife – perto de mim. Sem regresso. Carlos Sandroni, julho de 2014.


1. Falta um pé

(Carlos Sandroni e Luciana Sandroni)

Na minha cama falta um pé Eu quero um pé Pra minha cama, porque Senão eu não durmo nunca Parece que essa cama vai cair Eu viro prum lado, pro outro E não consigo dormir Botei um tijolo aqui, Outro lá, Pra ver se essa cama Parava no lugar Mas cada vez que eu viro O tijolo faz barulho E a noite inteira é só barulho Eu já falei até com o fabricante da cama Mas ele nem ligou Disse que tem que procurar Bem no quarto, Que acaba encontrando Mas eu já procurei E na minha cama continua faltando Um pé... Eu quero um pé pra minha cama, porque...

Outro dia uma amiga Tava no meu quarto De repente resolveu Sentar na minha cama Só que ela é muito mais pesada que eu E aí eu dei um berro: – Não! Na minha cama não! Senão ela cai! E a minha amiga cou danada Foi embora voando pensando Que eu tava chamando de gorda E eu quei lá parado falando sozinho Que não era isso Era apenas o fato de que... Na minha cama falta um pé... Quando pinta a oportunidade De alguém me convidar pra dormir Eu já vou aceitando pegando o pijama E a escova de dentes Quando chego na casa da moça Vou logo procurando a cama Quando encontro é deitar e rolar... É outra coisa! Não tem balanço


Não tem barulho A gente pode pular Que ela não cai, E aí eu durmo a noite inteira E na manhã seguinte Eu digo pra dona da cama: – Que cama resistente, a sua! Que pés fortes! Eu quero um pé assim pra minha, porque Senão eu não durmo nunca... Carlos Sandroni voz e violão | Cesar G. Berton guitarra elétrica, violão aço, cavaquinho | Sérgio Godoy piano, piano elétrico | Nando Rangel contrabaixo | Leonardo Pellegrim sax soprano | Márcio Silva bateria | Tomás Melo percussão | Suelayne Ramos e Surama Ramos vocais.

2. Vinheta falta um pé


3. Festa de formatura

(Carlos Sandroni)

Para Fernanda Medeiros

Eu fui na formatura da Fernanda Pra ver como é que anda Aquela turma toda

E cada qual foi buscar seu diploma Aguardando essa honra Numa la indiana

E vi que ali não havia ido à toa Pois a festa foi boa Para lá de animada – Para lá de animada!

E cada qual saiu com seu canudo Que por hora era tudo Que era um pé no nirvana – Era um pé no nirvana!

Gostei demais de ver o pessoal Que chegava ao nal De uma trilha nefanda

Eu fui na formatura da Fernanda E vi como é que anda Aquela turma toda

Eram colegas, mas eram amigos Eram de fato unidos Os queridos formandos – Os queridos formandos!

E vi que agora iam entrar na roda Agora ia ser foda A batalha da grana – A batalha da grana!

Eu adorei o orador da turma Dissipou toda bruma Falou bem pra caramba Também não desgostei do paraninfo Embora um tanto pío Para mim foi bacana – Paraninfo bacana!

Futuro duro tava preparado Se jogar no mercado Qual mais uma fornada Mas felizmente ainda era o presente Era a festa contente E a música da banda – A música da banda!


Cesar Berton

A turma se amarrou na formatura Também, ninguém atura Mais tempo de maçada Mas o melhor no m daquela farra Foi poder ver a cara Da Fernanda formada

Carlos S andron i voz e vi Berton olão | C guit ar ra esar G . , violão | Sérgio aço, cava G o d oy quinho piano, p Nando R iano elét angel co rico | ntrabaixo Me nde s | Júlio C acordeo ésar n | Leon sax sop ar do Pelle rano | grim Márcio Tomás Silva b Melo p at er ia | ercussão Ramos e Suram | Suelay a Ramo ne s vocais .


Carlos e Clara Sandroni.


4. Antes essa música não existia

(Carlos Sandroni)

Participação especial de Clara Sandroni (voz).

Você pode não acreditar, mas... Antes essa música não existia! Antes, era só Um silêncio estridente Atordoando a gente Tão difícil de quebrar, Que quebrou-se a cabeça Que queria criar Você pode não acreditar, mas... Antes essa música não existia! Antes, era só Um abismo, um barranco Puro papel em branco E no meio do mundo Um vazio tão fundo Que pôde transbordar

Você pode não acreditar, mas Antes essa música não existia! Precisou alguém vir e compor, pra Poder essa música ter existência! Precisou alguém ter paciência, E se dispor a deixar aqui registradas As peripécias de uma voz, que Só resolveu se dar à luz, porquê... Antes eram, sim, Outras músicas, tantas Nos pulmões, nas gargantas E as outras poesias Que não deixam vazias As orelhas no ar Você pode não acreditar, mas... Antes essa música não existia!

Carlos Sandroni voz e violão | Cesar G. Berton guitarra elétrica, cavaquinho | Sérgio Godoy piano | Nando Rangel contrabaixo | Leonardo Pellegrim auta | Júlio César Mendes acordeon | Márcio Silva bateria | Tomás Melo percussão.


5. Pão doce

(Carlos Sandroni)

Não adianta mentir pra mim mesmo Ficar me enganando, tentando dizer Que nunca na vida, nunca na vida Eu gostei de pão doce Porque por mais Que eu queira esconder A verdade é que eu adorava pão doce Não podia passar sem pão doce Bastava ver padaria, Que logo eu ia, que logo eu ia... Comprar Não adianta mentir pra mim mesmo Porque no fundo, porque no fundo Eu sei muito bem Que essa história toda De não comer açúcar Que essa história toda De não comer pão branco Que essa história toda de viver de mel E de pão integral Isso tudo só foi começar muito depois...

Depois de um tempo em que eu era Tão completamente ingênuo, Tão sem força de vontade, Que as doces delicadezas De qualquer guloseima Lânguidas me seduziam E minha língua sofria De incontrolável fascínio Por cremes dourados E frutas cristalizadas Feito rubis incrustadas Nas crostas crocantes dos pães Mas hoje... Hoje tudo é diferente Se eu olho pruma padaria Me ponho cismando, chego a duvidar: Como é que pode um dia Eu ter entrado tanto lá!... Porque por mais que eu queira, Mais que eu queira Mentir pra mim mesmo, Ficar me enganando, tentando dizer Que nunca na vida,


Nunca na vida eu gostei de pão doce Fazendo um exame detido, Sendo sincero, Eu tenho que admitir Que a verdade, meus amigos, Pelo menos no que tange a trigos, A verdade no duro, Doa a quem doer, A verdade é que eu adorava pão doce! A verdade é que eu adorava pão doce... A verdade é que eu adorava pão doce.

m gel, co do Ran de : Fernan hamento A rr anjo an p m o o ac base n o autor. rig inal d | violão o violão i voz e Sandron | Sávio o lin o Carlos vi oé Brafman ndré ob Ricardo eorge A viola | G . xo ai ab Santoro tr con Rangel | Nando

Fernando Rangel


6. Outros quinhentos

(Carlos Sandroni)

Façam de conta que o tal português Nunca, jamais aportou por aqui Façam de conta que nas veias de vocês Não corre uma gota de sangue tupi Façam de conta que os navios negreiros Foram por água abaixo No meio do Atlântico Façam de conta que na América deserta Chegaremos agora, Cantaremos um cântico: Outros quinhentos! Vamos começar do zero, Fazer tabula rasa! Outros quinhentos! Em vez de pau-brasil, A gente vai mandar brasa! Sem Cabral, sem o guarani, Sem o ouro e sem a derrama Sem o boi, sem a cana-de-açúcar Sem o eito e sem a mucama...

Sem cachaça, sem Carandiru Sem Marlene e sem Emilinha Sem arena, sem MPB, Sem Pelé, sem pé na cozinha... Outros quinhentos... Sem tupis, sem fontes murmurantes, Sem mãe preta e sem congado Sem retorno, sem quartel de Abrantes, Sem cortinas e sem passado... Sem a Globo e sem mais aquela, Sem chanchadas e sem Petrobras Sem diabo, sem Deus e sem terra, Sem palmeiras e sem sabiás... Outros quinhentos...

Carlos Sandroni voz e violão | Cesar G. Berton guitarra, violão aço | Sérgio Godoy piano | Nando Rangel contrabaixo | Márcio Silva bateria | Tomás Melo percussão | Suelayne Ramos e Surama Ramos vocais.


7. Salvador daqui (Carlos Sandroni) Participação especial do Coro Infantil do Conservatório Pernambucano de Música. Carlos Sandroni voz e violão | Cesar G. Berton guitarra elétrica, cavaquinho | Sérgio Godoy piano | Nando Rangel contrabaixo | Júlio Cesar Mendes acordeon | Leonardo Pellegrim auta | Márcio Silva bateria | Tomás Melo percussão | Suelayne Ramos e Surama Ramos vocais.

Crianças do Coro Infantil do Conservatório Pernambucano de Música.

Esse lugar precisa urgentemente De alguém que salve ele – esse lugar! Já dizia meu avô Que se não aparecesse logo um salvador daqui A coisa ia dançar – ia dançar! Nenhum outro lugar tá precisando De alguém que salve ele – outro lugar Nem ali nem acolá tão carecendo salvador Nem alhures não precisa de ninguém pra lhe salvar Quem precisa aparecer é um salvador daqui Tamos todos esperando um salvador daqui Bigode retorcido e mil pincéis Que pinte logo um salvador daqui Porque senão... Esse lugar – esse lugar!...


8. Desanimado

(Carlos Sandroni)

Se você disser que eu desanimo, amor Saiba que isso aumenta meu torpor Ando numa inércia, Num bagaço tão total Nada me interessa Nem levanta meu astral Tudo que começo – se começo Logo penso em desistir Por exemplo, essa canção Tô na iminência de deixá-la por aqui Mas com algum esforço Ainda insisto em confessar Que a desilusão chegou pra car Já não acredito Nem pretendo nunca mais Ouço a cada dia Em cada canto os mesmos ais Tudo já foi feito – se foi feito Já foi dito, agora é só Sem um gesto sem sentido Estar imóvel esperar pelo pior


Ando assim Num tal estado Que nem sei Como foi que quei desanimado Ando tão desanimado Fico tão desanimado Desanimado Se você disser que eu desanimo, amor Fico até sem saco pra compor Não há dissonância Que me alcance o coração Já desaprendi O que aprendemos com João A banalidade – sem idade Deixa o mundo tão feliz Aparentemente não há som Que não se integre ao som dos imbecis Se mesmo mentindo Ainda tento continuar É que às vezes dá trabalho parar E sem horizonte, sem futuro, sem tesão Sem ter nem certeza Se termino essa canção Sigo inutilmente – para a frente? Para o centro do nal Só me sobra a ideia de Que ser desanimado possa ser fatal

Ando assim Num tal estado Que nem sei Como foi que quei desanimado Ando tão desanimado Fico tão desanimado Desanimado Vivo tão desanimado Tudo é tão desanimado Desanimado

Carlos Sandroni voz e violão | Cesar G. Berton guitarra | Sérgio Godoy piano, piano elétrico | Nando Rangel contrabaixo | Márcio Silva bateria | Tomás Melo percussão.


9. Rude franqueza

(Carlos Sandroni)

Olha, Joaquim, eu juro que era bom se você fosse um pouco mais franco. Talvez até mesmo fosse bom se você fosse um pouco mais rude! Eu sei que as pessoas são suscetíveis, Eu sei que não se deve deixar ninguém magoado, Eu sei que você não tem a menor intenção de ser mal com ninguém, Olha, Joaquim, eu juro que eu sei! Mas daí até você virar esse mentiroso consumado que cê tá virando, Vai muita distância. Daí até você car dizendo gentilezas hipócritas, Sorrindo sorrisos ngidos, E abraçando pessoas que você acha um saco, Francamente, Joaquim! Eu acho que te falta um pouco de rude franqueza! Olha, Joaquim, eu juro que era bom se você fosse um pouco mais rme. Talvez até mesmo fosse bom se você fosse um pouco mais duro! Eu sei que as outras pessoas também podem ter razão de vez em quando, Eu sei que você não se sente no direito de calar a boca de ninguém, Eu sei que está longe de você querer obrigar todo mundo a te prestar obediência, Olha, Joaquim, eu juro que eu sei! Mas daí até você virar esse banana de marca maior que cê tá virando, Vai muita distância. Daí até você começar a concordar com qualquer cretinice, A mudar de ideia cada vez que te contradizem, A esconder os teus próprios argumentos Por puro medo de que eles sejam irrespondíveis,


Francamente, Joaquim! Eu acho que te falta um pouco de rude franqueza! Olha, Joaquim, eu juro que era bom se você fosse um pouco mais belo. Talvez até mesmo fosse bom se você fosse um pouco mais besta! Eu sei que não é certo car jogando com os sentimentos alheios, Eu sei que você não quer criar falsas expectativas em ninguém, Eu sei que você não tem a menor vontade De deixar todo mundo perdidamente apaixonado por você, Olha, Joaquim, eu juro que eu sei! Mas daí até você virar esse cara completamente sem graça que cê tá virando, Vai muita distância. Daí até você car tomando cuidado pra não ser muito brilhante, Escondendo as tuas virtudes, enfeiando a tua beleza Francamente, Joaquim! Eu acho que te falta um pouco de rude franqueza! Olha, Joaquim, eu juro que era bom se você fosse um pouco mais tarde...

Carlos Sandroni voz e violão.


10. No casamento da Luciana

(Carlos Sandroni) Para Luciana Sandroni

Participação especial de Josildo Sá (voz).

Infelizmente não deu pra ir No casamento da Luciana Eu moro longe e vocês sabem Que a passagem tá custando uma grana Se bem que me disseram que podia Ter valido a pena Não é todo dia que pinta Uma cerimônia dessas na capela

Contaram que o padre Fez um discurso apocalíptico E até falou mal dos políticos Contaram que depois Choveu arroz doce E quem provou regalou-se

Contaram que a noiva não tava Vestida de branco Nem tinha grinalda nem nada E o noivo, coitado, tava de tamanco Bengala e cartola amassada

Contaram que as águas rolaram, Bebida à vontade Cerveja, batida e cachaça E que na festança foi toda a cidade Prefeito não foi de pirraça

Contaram que teve uma orquestra Tocando lambada Viola, cavaco e sanfona E teve um banquete, fartura danada Empada, pastel, azeitona

Contaram que os noivos ganharam Mais de mil presentes Saíram com a casa montada Fogão, geladeira, três videocassetes Panela, cabide, almofada

Infelizmente não deu pra ir...

Carlos Sandroni voz e violão | Cesar G. Berton guitarra elétrica, viola de dez cordas e cavaquinho | Nando Rangel contrabaixo | Júlio Cesar Mendes acordeon | Márcio Silva bateria | Tomás Melo percussão.


Gravado, mixado e masterizado no EstĂşdio Carranca, Recife, de outubro de 2013 a julho de 2014.



Participação especial de Clara Sandroni (voz) e do Grupo Txaimus (chimes e sinos).

Contam que os unicórnios cantam antes de dormir E usam somente escalas do modo maior E que se espantam se alguém vem ouvir E esquecem tudo – inda não tá de cor... Contam que a tal canção é genial Tanto que os unicórnios jamais enjoam dela E a entoam toda noite sem parar Reunidos num fantástico coral Como eu queria conhecer a tal canção Pois ela deve ser mesmo uma loucura Muito melhor que as de Vivaldi ou Debussy Quem sabe eu não encontro a partitura Perdida em algum sebo por aí

Carlos Sandroni voz | Antonio Barreto marimba | Nando Rangel contrabaixo | Ricardo Brafman violino | Tomás Melo percussão | Leonardo Pellegrim sax tenor.

(Carlos Sandroni)

Grupo Txaimus: regência e direção musical de Flávio Medeiros. Músicos: Ednaldo Neves, Emerson Vieira, Ítalo Sales, Juliana Cantarelli, Juliana dos Santos Correia, Julio Cesar Soares, Kelsen Gomes, Lúcia Helena Cysneiros, Pedro Ivo de Almeida, Priscila Gama, Samuel Lira, Waldcelma Silveira.

11. Canção dos unicórnios


12. Guardanapos de papel (“Biromes y servilletas”, de Leo Masliah. Versão em português de Carlos Sandroni)

Na minha cidade tem poetas, poetas Que chegam sem tambores nem trombetas, trombetas E sempre aparecem quando menos aguardados, guardados Guardados entre livros e sapatos em baús empoeirados Saem de recônditos lugares, nos ares Nos ares, onde vivem com seus pares, seus pares Seus pares, e convivem com fantasmas multicores, de cores De cores que te pintam as olheiras e te pedem que não chores Suas ilusões são repartidas, partidas Partidas entre mortas e feridas, feridas Feridas, mas resistem com palavras confundidas, fundidas Fundidas a seu triste passo lento pelas ruas e avenidas Não desejam glórias nem medalhas, medalhas Medalhas, se contentam com migalhas, migalhas Migalhas de canções e brincadeiras com seus versos, dispersos Dispersos, obcecados pela busca de tesouros submersos Fazem quatrocentos mil projetos, projetos Projetos que jamais são alcançados, cansados Cansados, nada disso importa enquanto eles escrevem, escrevem Escrevem o que sabem que não sabem, e o que dizem que não devem


Andam pelas ruas os poetas, poetas Poetas, como se fossem cometas, cometas Cometas, num estranho céu de estrelas idiotas, e outras E outras, cujo brilho sem barulho veste suas caudas tortas Na minha cidade tem canetas, canetas Canetas esvaindo-se em milhares, milhares Milhares de palavras retorcendo-se confusas, confusas Confusas em delgados guardanapos feito moscas inconclusas Andam pelas ruas escrevendo, e vendo E vendo o que eles veem nos vão dizendo, e sendo E sendo eles poetas de verdade enquanto espiam, e piram E piram, não se cansam de falar do que eles juram que não viram Olham para o céu esses poetas, poetas Poetas, como se fossem lunetas, lunetas Lunáticas lançadas ao espaço e o mundo inteiro, inteiro Inteiro, fossem vendo pra depois voltar pro Rio de Janeiro

Carlos Sandroni voz | Sérgio Godoy piano | Júlio César Mendes acordeon.

Esta não é a única versão em português de “Biromes y servilletas”, do uruguaio Leo Masliah. A aqui apresentada foi gravada inicialmente por Clara Sandroni. Depois, Milton Nascimento gravou-a em seus CDs Nascimento e Tambores de Minas. Desde então, outras gravações foram feitas.


13. Vinheta sem regresso 14. Marcha sem regresso

(Carlos Sandroni)

Para Rubén Olivera (“…porque el corazón no quiere entonar más retiradas”)

Não quero mais cantar marcha regresso Os nossos tempos não são ideais Debaixo do sol, olhando a lua Nosso bloco vai car na rua, E regresso nunca mais Nós vamos passear Pra lá dos carnavais Com estandartes e bombos E mil fantasias E mesmo no furor das folias Faremos o possível Pra manter o nível no lugar Se alguém quiser voltar Eu digo, “Como não?” Dou um aperto de mão, Até logo e um beijo É que eu gosto de caranguejo, Mas não sei andar pra trás: Nosso bloco vai car na rua, E regresso nunca mais

Não quero mais cantar marcha regresso... Nas ruas reinarei Ao som dos tamborins Entre rojões e clarins, Chuvas e trovoadas E mesmo em meio a tais batucadas Faremos o possível Pra sinhá poder dormir em paz E o frevo seguirá No passo das canções De foliões e motins, Bandolins e bandeiras E queiram ou não queiram os juízes Nós seremos felizes, Muito além das quartas-feiras Não quero mais cantar marcha regresso...


Integrantes do Coral Edgard Moraes com Carlos Sandroni. À esquerda, Jorginho Manêro. Foto de Elisa Toledo.

Participação especial do Coral Edgard Moraes. Arranjo de Marco César. Carlos Sandroni voz | Rodrigo Samico violões de seis e de sete cordas | Marco César bandolim | Moacir Oliveira surdo | Tomás Melo caixa e pandeiro | João Paulo Albertim cavaquinho | Marcos Acioly sax-alto | Frederica Bourgeois auta | Isaías Rafael clarinete.


do CD. iro para a realização ra pelo apoio nance ltu ncu Fu projeto se ao e o est eç e rad qu Ag faltava para e deu o impulso que musical ão pç nce A Naara Santos, qu co na n, parceiro decisivo rto Be sar Ce A a . sse concretiza y, com quem comecei alível. A Sérgio Godo inf r uto Coral oc ao , erl Sá int o e ild do CD Sandroni, a Jos re o projeto. A Clara to tan e qu es çõ conversa musical sob ipa suas partic Grupo Txaimus por Música, Edgard Moraes e ao io Pernambucano de tór rva nse Co Ao . lho ba tra o r sua am po enriquecer A Paulo Brandão, ro Infantil do CPM. Co do bém ção tam ipa , oz rtic eir pa pela A Luiz Kleber Qu as seguidas à risca. à oio ap seu r po escuta e por duas dic s, es de Salle as. A Sandro Guimarã PE , por UF da a sic por sua escuta e dic Mú de mento ca do CD. Ao Departa os que produção fonográ ia dos incríveis músic ior ma e nd gra a ar ntr co en r ita trabalho, bil de ssi as po me bém meus coleg CD, muitos deles tam participaram deste nos. ssos alunos e ex-alu e outros tantos, no Dedico este CD a Elisa Toledo, por seu estímulo constante a meu “lado músico”, e a meus pais Laura e Cícero, por seus oitenta anos.

Ficha técnica Direção musical Cesar G. Berton | Produção executiva Naara Santos | Projeto gráco Mônica Lira | Fotos Luiz Santos | Técnicos de gravação Bruno Lins e Jorginho Manêro | Auxiliar de estúdio Marco Melo | Mixagem Júnior Evangelista e Cesar G. Berton | Masterização Carlinhos Borges | Estúdio Carranca, Recife.




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