Encarte augusto 20 04

Page 1

NÚMERO INFINITO Augusto dos Anjos

poemas psicografados por Chico Xavier Augusto dos Anjos musicados por Zé Henrique Martiniano


8

|NÚMERO

INFINITO

(Poema não musicado)

Sístoles e diástoles derradeiras No hirto peito, rígido e gelado E eu via o Último Número extenuado Estertorando sobre as montureiras. Interregno, Escuridão, ânsias e inferneiras. Depois o ar, o oxigênio eterizado, E depois do oxigênio o ilimitado, Resplendente clarão de horas primeiras. Busquei a última visão das vistas foscas O Derradeiro Número entre as moscas, À camada telúrica adstrito, E eu, vítima dúctil da desgraça, Vi que cada minuto que se passa É nova luz do Número Infinito.

PS: O poema “Número Infinito”, psicografado por Chico Xavier, dialoga com o poema “Último Número”, o último escrito em vida pelo poeta. “Número Infinito” constou do livro Parnaso de alémtúmulo até somente sua 5ª edição, de 1945.

Sístole: movimento de contração do coração e das artérias, responsável pelo impulso que faz circular o sangue. Diástole: movimento de dilatação do coração e das artérias. Hirto: duro, inteiriçado, muito teso. Ereto, imóvel. Ríspido, intratável. Extenuado: debilitado ao extremo; exaurido; abatido. Estertorar: agonizar. Montureiras: estrumeiras. Inferneiras: Gritaria, alarido, confusão. Eterizar: Interromper a sensibilidade e a consciência de, fazendo respirar éter. Anestesiar. Telúrico: relativo à Terra ou ao solo. Adstrito: restrito. Dúctil: que pode ser batido, comprimido, estirado; flexível; elástico, maleável. NÚMERO INFINITO


01|MATÉRIA

CÓSMICA

Glória à matéria cósmica, a energia Potencial que dá vida aos elementos, Base de portentosos movimentos Onde a Forma se acaba e principia. Sistematização dos argumentos Que elucidam a Teleologia: Dentro da força cósmica se cria A fonte-máter dos conhecimentos. É do mundo o Od ignoto, o éter divino, Onde Deus grava a história do destino Dos seus feitos de Amor no Amor imersos. Livro onde o Criador Inimitável Grava, com o pensamento almo e insondável, Seus poemas de seres e universos.

Energia potencial: forma de energia quando está armazenada, isto é, que pode a qualquer momento manifestar-se. Portentoso: assombroso, prodigioso. Teleologia: teoria que explica os seres, pelo fim a que aparentemente são destinados. Fonte-máter: pedra angular, princípio. Od: pretensa força ou poder natural que se afirmava residir em certos indivíduos e coisas produzindo o hipnotismo, o magnetismo e outros fenômenos. Ignoto: ignorado, desconhecido. Éter: fluido cósmico condutor da luz e do calor pelo espaço. Almo: que cria, que alimenta. Bom, benéfico. Augusto dos Anjos


2|A

SUBCONSCIÊNCIA

Há, sim, a inconsciência prodigiosa Que guarda pequeninas ocorrências De todas as vividas existências Do Espírito que sofre, luta e goza. Ela é a registradora misteriosa Do subjetivismo das essências, Consciência de todas as consciências, Fora de toda a sensação nervosa. Câmara da memória independente, Arquiva tudo rigorosamente Sem massas cerebrais organizadas, Que o neurônio oblitera por momentos, Mas que é o conjunto dos conhecimentos Das nossas vidas estratificadas.

Subjetivismo: relativo ao sujeito pensante e a seu íntimo. Obliterar: fazer desaparecer. Estratificado: disposto em camadas. NÚMERO INFINITO


3|HOMEM-CÉLULA Homem! célula ainda escravizada Nos turbilhões das lutas cognitivas, Egressa do arsenal de forças vivas Que chamamos – estática do Nada. Sob transformações consecutivas, Vem dessa Origem indeterminada, Onde se oculta a luz indecifrada Dos princípios das luzes coletivas. Vem através do Todo de elementos, Em sucessivos aperfeiçoamentos, Objetivando a Personalidade, Até achar a Perfeição profunda E indivisível, pura, e se confunda, No transcendentalismo da Unidade.

Turbilhão: o que arrasta ou envolve desordenada e impetuosamente. Cognitivo: função da inteligência ao adquirir um conhecimento. Egresso: que saiu, que se afastou. Personalidade: individualidade consciente. Perfeição o grau de excelência, bondade ou beleza a que pode chegar alguma coisa. Profundo: muito grande. Indivisível: que não se pode dividir. Puro: correto. Incontestável. Transcendentalismo: aquilo que vai além. Unidade: objeto único. Concórdia de vontades. União. Augusto dos Anjos


4| ESPÍRITO Busca a Ciência o Ser pelos ossuários, No órgão morto, impassível, atro e mudo; No labor anatômico, no estudo Do germe, em seus impulsos embrionários; Mas só encontra os vermes-funcionários No seu trabalho infame, horrendo e rudo, De consumir as podridões de tudo, Nos seus medonhos ágapes mortuários. No meio triste de cadaverinas Acha-se apenas ruína sobre ruínas, Como o bolor e o mofo sob as heras; A alma que é Vibração, Vida e Essência, Está nas luzes da sobrevivência, No transcendentalismo das esferas.

Infame: vil, abjeto, torpe. Medonho: que causa medo, pavoroso. Atro: escuro, funesto, lúgubre. Ser: o ente humano. Ossuário: lugar onde se guardam ossadas de defuntos. Impassível: insensível à dor, ao sofrimento, à alegria. Imperturbável. Labor: trabalho. Anatômico: da conformação do corpo. Germe: forma embrionária de um novo ser. Estado rudimentar, inicial. Aquilo que é a causa ou o princípio de algo. Embrionário: que está em embrião, rudimentar. Rudo: rude. Ágape: banquete amistoso. Mortuário: relativo à morte, ao morto ou ao funeral. Cadaverina: molécula produzida pela hidrólise proteica durante a putrefação de tecidos orgânicos de corpos em decomposição. É um dos principais elementos responsáveis pelo odor dos cadáveres. Esfera: céu, orbe. NÚMERO INFINITO


5|RAÇA

ADÂMICA

A Civilização traz o gravame Da origem remotíssima dos Árias, Estirpe das escórias planetárias, Segregadas num mundo amargo e infame. Árvore genealógica de párias, Faz-se mister que o cárcere a conclame, Para a reparação e para o exame Dos seus crimes nas quedas milenárias. Foi essa raça podre de miséria Que fez nascer na carne deletéria A esperança nos Céus inesquecidos; Glorificando o Instinto e a Inteligência, Fez da Terra o brilhante gral da Ciência, Mas um mundo de deuses decaídos.

Raça Adâmica: é uma dessas grandes imigrações de Espíritos, vindos de outra esfera, que deu nascimento à raça simbolizada na pessoa de Adão. Gravame: agravo. Árias: antigos antepassados da família indo-européia. Estirpe: ascendência, raça, linhagem. Escória: parte considerada mais desprezível ou reles da sociedade. Segregada: separarada de um todo, excretada, expelida. Infame: vil, abjeto, torpe. Árvore genealógica: historico de certa parte dos ancestrais de uma pessoa ou família. Pária: indivíduo que a sociedade repele. Mister: aquilo que é forçoso, necessário ou urgente. Gral: cálice sagrado. Ideal, meta a que um indivíduo aspira. Decaído: que está em decadência. Augusto dos Anjos


6|ALMA Nos combates ciclópicos, titânicos, Que eu às vezes na Terra empreendia, Nos vastos campos da Psicologia, Buscava as almas, seres inorgânicos; Nas lágrimas, nos risos e nos pânicos, Nos distúrbios sutis da hipocondria, Nas defectividades da estesia, Nos instintos soezes e tirânicos, Somente achava corpos na existência, E o sangue em continuada efervescência Com impulsos terríficos e tredos. Enceguecido e louco então que eu era, Que não via, dos astros à monera, As luzes dalma em trágicos segredos.

Ciclópico: gigante, enorme. Titânico: gigantesco. Inorgânico: que não tem órgãos ou vida sensível, que não é orgânico. Hipocondria: caráter triste e inquieto causado pela idéia doenças imaginárias ou por preocupações com o próprio estado de saúde. Defectividade: qualidade do que é imperfeito, defeituoso. Estesia: habilidade de entender sentimentos, sensibilidade. Instinto: impulso espontâneo independente de reflexão. Soezes: torpe, reles, vil. Tirânico: opressivo, injusto. Impulso: força que impele alguém à prática de um ato. Ímpeto. Terrífico: que inspira ou causa terror. Tredo: que trai a confiança, falso. Monera: organismo rudimentar que representa a transição do reino vegetal para o animal.

NÚMERO INFINITO


7| VIDA

E MORTE

A morte é como um fato resultante Das ações de um fenômeno vulgar, Desorganização molecular, Fim das forças do plasma agonizante. Mas a vida a si mesma se garante Na sua eternidade singular, E em sua transcendência vai buscar A luz do espaço, fúlgida e distante! Vida e Morte – fenômenos divinos, Na ascendência de todos os destinos, Do portentoso amor de Deus oriundos... Vida e Morte – Presente eterno da Ânsia, Ou condição diversa da substância, Que manifesta o espírito nos mundos.

Plasma: a substância orgânica fundamental das células e tecidos. O mesmo que protoplasma. Física. Fluido composto de moléculas gasosas, íons e elétrons. Transcendência: qualidade do que é transcendente. Fúlgido: brilhante, fulgente. Ascendência: parentesco com os pais e outros antepassados. Portentoso: assombroso, prodigioso. Oriundo: proveniente, originário, procedente, natural. Augusto dos Anjos


8| AO

HOMEM

Tu não és força nêurica somente, Movimentando células de argila, Lama de sangue e cal que se aniquila Nos abismos do Nada eternamente; És mais, és muito mais, és a cintila Do Céu, a alma da luz resplandecente, Que um mistério implacável e inclemente Amortalhou na carne atra e intranqüila. Apesar das verdades fisiológicas, Reflexas das ações psicológicas, Nas células primevas da existência, És um ser imortal e responsável, Que tens a liberdade incontestável E as lições da verdade na consciência.

Nêurico: relativo ao sistema nervoso. Cintila: centelha. Amortalhar: envolver ou cobrir com mortalha. Vestir-se com hábito simples e rústico em sinal de desprezo ou desprendimento do mundo. Atro: escuro, funesto, lúgubre. Primeva: relativa aos primeiros tempos do mundo. NÚMERO INFINITO


9|“EGO

SUM”

Eu sou quem sou. Extremamente injusto Seria, então, se não vos declarasse, Se vos mentisse, se mistificasse No anonimato, sendo eu o Augusto. Sou eu que, com intelecto de arbusto, Jamais cri, e por mais que o procurasse, Quer com Darwin, com Haeckel, com Laplace, Levantar-me do leito de Procusto. Sou eu, que a rota etérica transponho Com a rapidez fantástica do sonho, Inexprimível nas termologias, O mesmo triste e estrábico produto, Atramente a gemer a mágoa e o luto, Nas mais contrárias idiossincrasias.

Ego sum: Eu sou. Haeckel: Ernest Heinrich Philipp August Haeckel (1834-1919): naturalista alemão que ajudou a popularizar o trabalho de Charles Darwin e um dos grandes expoentes do cientismo positivista. Darwin: Charles Darwin (1809-1882): naturalista britânico que alcançou fama ao convencer a comunidade científica da ocorrência da evolução das espécies e propôr uma teoria para explicar como ela se dá por meio da seleção natural. Laplace: Pierre Simon, Marques de Laplace (17491827): matemático, astrônomo e fisico francês, organizou a astronomia matemática, Augusto dos Anjos


sumarizando e ampliando o trabalho de seus predecessores. Leito de Procusto: Mito grego no qual Procusto era um bandido que vivia em uma floresta e tinha uma cama para suas vítimas. Todos os que passavam pela floresta eram presos e colocados por ele em sua cama. Dos que eram muito grande, Procusto cortava os pés e dos que eram muito pequenos, Procusto os esticava. O mito é usado como metáfora para criticar tentativas de imposição de um padrão em várias áreas do conhecimento. Etérico: Etéreo. Celeste, elevado, puríssimo. Relativo a éter, fluido cósmico condutor da luz e do calor pelo espaço. Atramente: De modo funesto, fúnebre. Idiossincrasia: Maneira de ver, sentir, reagir peculiar a cada pessoa.

11| A

LÁPIDE

Nascer, morrer Renascer ainda E progredir sempre Tal é a lei ps.: Adaptação da inscrição presente no túmulo de Allan Kardec

NAÎTRE, MOURIR, RENAÎTRE ENCORE ET PROGRESSER SANS CESSE TELLE EST LA LOI.

NÚMERO INFINITO


10| NOS

VÉUS DA CARNE

Na ilusão material da carne espúria, Sob o acervo das células taradas, Choram de dor as almas condenadas Ao cárcere de lágrima e penúria. Entre as sombras das míseras estradas, Vê-se a guerra da inveja e da luxúria, Esfacelando com medonha fúria O coração das almas bem formadas. É nesse turbilhão de dor e de ânsia Que o homem procura a eterna substância Da verdade suprema, alta, imortal. Deixando corpos pelos cemitérios, A alma decifra o livro dos mistérios De luz e amor da vida universal.

Espúrio: Degenerado, imundo Luxúria: Lascívia, sensualidade. Esfacelar: destruir, arruinar, estragar. Augusto dos Anjos


PALAVRAS NECESSÁRIAS Ramiro Gama

Em 1931, residíamos em Três-Rios, no Estado do Rio, e éramos o Presidente do “GRUPO ESPÍRITA FÉ E ESPERANÇA”. Por este motivo, carteávamo-nos com M. Quintão e Dr. Guillon Ribeiro — este, Presidente e, aquele, Vice Presidente da Federação Espírita Brasileira. Como gratidão ao muito que estes grandes amigos nos davam, através de suas correspondências verdadeiramente evan­gélicas, que muito nos esclareceram, oferecemo-lhes nossa monografia sobre “Augusto dos Anjos” com a qual tomamos posse na “Academia Pedro II”, hoje “Carioca de Letras”. Em troca, recebemos, do primeiro, uma carta encomiando nosso humilde trabalho literário e, do segundo, outra não menos encomiástica, acompanhada de um exemplar do “REFORMADOR”, registrando poesias psicografadas pelo médium Francisco Cândido Xavier e assinadas por “Augusto dos Anjos”, — com um pedido para que fizéssemos uma crônica, dando-lhes nossa impressão sobre o grande trabalho que se iniciava no mediunismo dos nossos dias, em terras do Brasil. Nossos olhos caíram sobre o poema VOZES DE UMA SOMBRA e se maravilharam. Aquilo era mesmo, todo NÚMERO INFINITO

inteiro, de “Augusto dos Anjos”, mas de um “Augusto dos Anjos” melhorado, mais crente e menos pessimista. Seu poema era bem um Hino à Verdade do Homem Eterno e Redimido e, ao mesmo tempo, uma resposta cabal ao materialismo doentio do seu “POEMA NEGRO”, escrito quando encarnado. Mas uma dúvida envolvia nosso pensamento. Dizíamos de nós para conosco: por que o inimitável burilador do “EU”, logo que sentira a justiça da imortalidade do Espírito, para melhor identificar-se, não se dera pressa em desmentir, como um ato de gratidão a Deus, o mal-entendido que nos deixou com seu “ÚLTIMO NÚMERO”, feito 15 minutos antes de desencarnar? Escrevemos, então, aos caros amigos da Casa de Ismael, dizendo-lhes da nossa dúvida e da nossa descoberta. E, dias depois, recebíamos, pelo correio, como a melhor das respostas, um exemplar do “PARNASO DE ALÉM-TÚMULO”. Folheando-lhe as páginas, faminta­ mente, surpreendemo-nos com uma infinidade de poesias de vários po­ etas. E, procurando, com ânsia e mais famintamente, o lugar em que se achavam as de “Augusto dos Anjos”, mais ainda nos surpreendemos em encontrar, logo de começo, o “NÚMERO INFINITO”. Jubilamo-nos aliviados; então, “Augusto dos Anjos”, o mágico criador de imagens emocionantes e inéditas, lera nosso


pensamento, traduzira nossa dúvida, e ali estava atendendo-nos e comovendo-nos, sobremodo... “GLORIA IN EXCELSIS”! Os mortos estavam mesmo de pé e, pelo seu grande médium Francisco Cândido Xavier, iriam falar aos vivos da terra! E escrevemos a crônica abaixo que constou de O Reformador de setembro de 1932 e que diz bem de nosso estado de alma e de como recebemos o maravilhoso livro: “PARNASO DE ALÉM-TÚMULO” Esta criatura simples e boa, que se chama Francisco Cândido Xavier, graças à misericórdia de Deus, acaba de dar um significati- vo e lindo presente ao Espiritismo hodierno – oferecendo-lhe um livro com poesias de poetas de alémtúmulo, que a sua mediunidade limpa e segura psicografou. E tanto mais valioso o seu livro à Doutrina de Jesus, quanto se sabe que, emparedado no seu próprio sonho de ser humilde e bom, dono de uma instrução mediana, e, mesmo assim, obtida a golpes de esforço próprio — Francisco Cândido Xavier obteve (e obterá se Deus quiser) poesia do além, sintetizando culturas variadas e, confessadamente por ele, acima da que possui, e cuja autenticidade assombra pela forma estilar, valor idealístico e sentido característico dos que as assinam.

O Espiritismo precisava deste livro. Ele só, estou certo, dará muito que pensar a muito materialista ou incrédulo-relativo. Ele é e será, já agora, a Delenda Carthago da crítica apaixonada, ou dos fanáticos das religiões sem asas; mas, também, sem dúvida, é e será um dique formidável às marés da incredulidade. Lendo-o, mesmo sem se conhecer o médium e a sua cultura, tem-se um consolo e uma certeza imensos: Francisco Cândido Xavier é um instrumento limpo, uma harpa afinada e de ouro dos irmãos do espaço. E o Espiritismo, mais uma vez, se afirma neste princípio soberano e tão discutido e ainda pouco acreditado ou compreendido: os mortos vivem, melhor e mais do que nós, e podem falar e escrever por nosso intermédio, tanto ou melhor, como se vivos fossem na terra. Eu, que milito, graças a Deus, no campo espiritista e que até há bem pouco militávamos na corrente literária da nova geração, perfilando figuras do Brasil mental, entre as quais a de Augusto dos Anjos, — podemos em verdade dizer da alegria boa e sincera, grande e confortadora, que nos invadiu a alma, ao certificarmo-nos de que todos os versos do “Parnaso de Além-Túmulo” são, de fato, dos poetas que os assinam. Dos versos de Augusto dos Anjos, psicografados por Francisco Cândido Xavier, então, fora um sacrilégio pensar Augusto dos Anjos


ao contrário. São bem dele, mas de um Augusto dos Anjos já bem mais espiritualizado, piedoso, cristão e senhor da Verdade Única do Evangelho de Jesus e ventilador de temas mais dignos da sua imensa cultura filosófica. Eu, que lhe conheço todos os versos, linha a linha, que lhe decorei os rítmos, que me extasiei com seu verbalismo individual e único, tão decantado por Euclides da Cunha, integrando-me na­ quele Amazonas de belezas — confesso ao ler, em Parnaso de Além-Túmulo, “Vozes de uma sombra”, fiquei profundamente encantado. O poeta científico do “EU”, “o torturado”, “o armazenador de dores”, o jeremiador pessimista, que o foi, — consanguíneo mental dos Carlyle, dos Dante, dos Pascal, dos Poe e dos Spencer, hoje, é mais humanista, mais geral e nos parece o mesmo na pujança mental, no verbalismo galhardo na qualidade e quantidade esplendorosas dos seus conceitos, mas tão diferente do seu “SENTIR” de encarnado. Graças a Deus! Ganhou o que lhe faltava para ser maior e despertar em si o Anjo, que possuía e não sabia ver, quando na terra. Vejamos como progrediu, moral e intelectualmente. No seu verso: HINO À DOR, ele cantava, quando encarnado: NÚMERO INFINITO

“A DOR ... Nasce de um desígnio divino...” “DOR! Saúde dos seres que se fanam, Riqueza da alma, psíquico tesouro, Alegria das glândulas do choro De onde todas as lágrimas emanam... Mas esquecia-se de dizer que ela não nasce de um desígnio divino como muitos acreditam. Calava-se e, às vezes, se revoltava, como no “POEMA” “NEGRO”, contra os seus males, na maio­ ria, provindos da falta de resignação e da dúvida mantida com seu ateísmo, conforme o perfilei. Agora, porém, serena, culta e cris­ tãmente, ele nos afirma: “A DOR... Não nasce de um “DESÍGNIO DIVINO”, Nem da fatalidade do destino Que destrói nossas células sensitivas; Vem-nos dos próprios males que engendramos Em cujo ignoto báratro afundamos, Através de existências sucessivas” Encarnado ou desencarnado, “Au­ gusto dos Anjos” é o mesmo abusa­dor de: “Morte”, “Dor”, “Vermes”, “Matéria”, etc. E, como em todo poeta de sua estirpe, o mesmo repetidor de frases marmóreas, como em “VOZES DE UMA SOMBRA”, — filigranas de cinzel, síntese da ciência de


“Darwin” e de “Descartes” — provando-nos que seu vocabulário não foi esquecido, mas aumentado e enriquecido. Do além nos diz:

Bradei: — Que fazes ainda no meu crânio?... E o “ÚLTIMO NÚMERO”, atro e subterrâneo, Parecia dizer-me: É tarde, amigo,

“Como vivem o novo e o obsoleto, O ângulo obtuso e o ângulo reto Dentro das linhas da geometria...”

Pois que a minha antogênica grandeza Nunca vibrou em tua língua presa, Não te abandono mais! Morro contigo!

Na Terra dissera:

NÚMERO INFINITO (feito como desencarnado)

“O ângulo obtuso, pois, e o ângulo reto Uma feição humana e outra divina...” Assim também, em “NÚMERO INFI­ NITO”, que é um continuador expre­ ssivo do “ÚLTIMO NÚMERO”, — feito 15 minutos antes de desencarnar. Neste, como encarnado dizia que tudo morre, pensando ser o seu Último Número... Agora desencarnado. certificase de que ele é “INFINITO”... ÚLTIMO NÚMERO (feito como encarnado) Hora de minha morte. Hirta, ao meu lado, A idéia estertorava-se.... No fundo Do meu entendimento moribundo Jazia o “ÚLTIMO NÚMERO” cansado. Era de vê-lo, imóvel, resignado, Tragicamente de si mesmo oriundo Fora da sucessão, estranho ao mundo, Com o reflexo fúnebre do Incriado.

Sístoles e diástoles derradeiras No Hirto peito, rígido e gelado. E eu via o “ÚLTIMO NÚMERO” extenuado Extertorando sobre as montureiras. Escuridão, ânsias e inferneiras. Depois o ar, o oxigênio eterizado. E depois do oxigênio o ilimitado, Resplendente clarão de horas primeiras. Busquei a última visão das vistas foscas. O derradeiro Número entre as moscas, À camada telúrica adstrito. E eu vi, vítima dúctil da desgraça, Vi que cada minuto que se passa É nova luz do Número Infinito. E assim, continua o nosso “Augusto dos Anjos”, melhorado, colocando sua vasta inteligência a serviço da Causa da Verdade. E, humanizado e piedoso, menos herético, mais sábio e esclarecido sobre o “Donde viemos e para onde vamos”, Augusto dos Anjos


mostrando-nos ser um escafan­drista dos mares da Verdade e um pesquisador mais seguro das coisas do Infinito, — dá pensamento às árvores, humaniza as sombras, penetra a alma do éter e ministra ao mundo incrédulo, lições magníficas da imortalidade da alma e da pluralidade das existências e dos mundos habitados, através dos versos de ouro do “PARNASO DE ALÉM-TÚMULO’: “VOZ DO INFINITO”, “VOZ HUMANA”, “ALMA”, “ANÁLISE”, “EVOLUÇÃO”, “HOMO”, “INCÓGNITA”, e “EGO SUM”, — que bem poderiam ser enfeixados, sozinhos, num livro, que excederia de muito o primeiro “EU”. Sentimos não poder transcrever aqui todos eles. Pois, tão belos, em parte, quanto esses seus últimos versos, só, justamente, os versos famosos do “EU”. Bem nos mostra, no Além, que a Arte continua sendo para sua inteligência, o que lhe foi na terra: — um espelho de Anel, a refletir sempre a beleza e a Grandeza das Obras de Jesus! Graças damos ao Criador por permitir tal graça: qual a de lermos autênticos versos de Poetas de Além-Túmulo, como os de “Augusto dos Anjos”. E abençoada seja, para todo o sempre, a mediunidade de Francisco Cândido Xavier! Ramiro Gama no intróito de seu livro “Lindos casos de CHico Xavier. NÚMERO INFINITO

Zé Henrique Martiniano - Araraquarense, engenheiro e músico. Estudou violão clássico, música brasileira e jazz com professores da ECA/USP, do Conservatório Estadual de Tatuí, além das aulas com os violonistas José da Conceição e Francisco Brasilino, mas é predominantemente autodidata. Compositor, assina a autoria de mais de cem músicas, tendo conquistado importantes premiações em festivais de música pelo país. Acompanhou artistas como Roberto Menescal, Jair Oliveira e Luciana Mello. Tocou em bandas de baile, bares e grupos de música instrumental. Fundou em 1999, a banda “Mecânica dos Solos”, produzindo trabalhos autorais e releituras da música brasileira e do Jazz. O primeiro CD da banda, “Arqueólogo das Estrelas”, com composições de Zé Henrique sobre o universo, mereceu elogios em matéria na revista científica Galileu da editora Globo. Lançou cinco CDs autorais, com parti­ cipação de grandes nomes da música brasileira como Leila Pinheiro, Quarteto em Cy, Roberto Menescal, Filó Machado, Orquestra de Tatuí, Paulo Martelli, entre outros. Em 2014 lança “Número Infinito”, com mú­ sicas de sua autoria com base em poemas de Augusto dos Anjos psico­­ grafados por Chico Xavier, em comemoração ao centenário de morte do poeta paraibano


AUGUSTO DOS ANJOS Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (Cruz do Espírito Santo, 20 de abril de 1884 — Leopoldina, 12 de novembro de 1914) foi um poeta brasileiro, identificado muitas vezes como simbolista ou parnasiano. Todavia, muitos críticos, como o poeta Ferreira Gullar, preferem identificá-lo como pré-modernista, pois encontramos características nitidamente expressionistas em seus poemas. [wikipedia] “Em Parnaso de além-túmulo, 31 títulos são atribuídos ao poeta Augusto dos Anjos (1884-1914). É a seção do livro que contém o maior número de poemas.”[Alexandre Caroli]

CHICO XAVIER Francisco de Paula Cândido,(Pedro Leopoldo, 2 de abril de 1910 — Uberaba, 30 de junho de 2002), foi um médium, filantropo e um dos mais importantes divulgadores do Espiritismo. Através de sua mediunidade, psicografou 468 livros. Sempre cedeu todos os direitos autorais dos livros, em cartório, para instituições de caridade. Também psicografou cerca de dez mil cartas, nunca tendo cobrado algo ao destinatário. Seus empregos foram vendedor, operário fabril e datilógrafo. Francisco Cândido Xavier aos 17 anos de idade. Foto do arquivo de Geraldo Lemos Neto, BH, Brasil

Augusto dos Anjos


FICHA TÉCNICA

Arranjos base nas faixas 2, 3, 4, 6, 8, 9 e 10: ZÉ HENRIQUE MARTINIANO Concepção e direção geral: Mixagem: ZÉ HENRIQUE MARTINIANO, ZÉ HENRIQUE MARTINIANO ADRIANA GENNARI e WALTER JR. Cantores: Produção musical: ADRIANA GENNARI E ANDRÉ DE SOUZA ZÉ HENRIQUE MARTINIANO Coral: CORO E OSSO Direção musical: ADRIANA GENNARI Orquestra de cordas: ARAMIS ROCHA Direção Artística: Violão: ZÉ HENRIQUE MARTINIANO JÚLIO CORRADI / ZÉ HENRIQUE MARTINIANO Teclados: WALTER JR. Masterização: HOMERO LOTITO Baixo acústico: FRANCO LORENZON Projeto Gráfico: Baixo acústico na faixa 11: FABIANO NUNES JÚLIO CORRADI / MARINA REIS / Portal SER Flauta: MÁRIO RODRIGUES Glossário: MÁRCIA TAMIA Bateria: MARQUINHOS FRÓCO Revisão de texto: ALEXANDRE CAROLI Percussão: EMÍLIO MARTINS Arranjos e regência de coral: LUIZ PIQUERA Gravado nos estúdios Mecânica dos Solos Arranjos e regência de cordas: (Araraquara) por Zé Henrique Martiniano, RONALDO DE OLIVEIRA (Araraquara) Walter e Prouzido Zénas Henrique e André de Souza - Coral:por Coro e OssoJr.- Octeto de Arranjos por base faixasMartinianoAdriana 1, 2, 5, 7, 10 e 11:GennariCriassom Cordas: Aramis Rocha - Banda Mecânica dos Solos. Todas as músicas depor Zé Henrique Guidon (São Paulo) Edielson Mariniano. Aureliano. WALTER JR.

NÚMERO INFINITO


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.