PAULO E ESTÊVÃO em Sonetos
DA OBRA DE CHICO XAVIER PELO ESPÍRITO EMMANUEL
Gladston Lage ilustrações:
Adriano Alves
Gladston Lage
PAULO E ESTÊVÃO em Sonetos
Belo Horizonte (Logo Fazendo Bem) Março de 2012
Prefácio A presente obra é resultado de muitos fatores. A base em que se assenta é de primeira qualidade, lavra de eleição: “Paulo e Estêvão”, romance histórico, escrito por Francisco Cândido Xavier, ditada pelo autor espiritual denominado Emmanuel. É resultado de esforço. Injunções dificultaram-lhe a consumação. Advém da excepcional versão esperantista (Paulo kaj Stefano), da falta de tempo associada a indisciplina do escrevente, da dificuldade visual noturna, do descompasso entre leitura e escrita (quando havia o que escrever faltavam as condições para a escrita, quando havia concentração para tal faltava conteúdo). É seguro afirmar que a maior parte das páginas foram lidas em ônibus e a composição se deu pre ponderantemente à noite. Cada capítulo de leitura era um manancial, cada soneto ocasionava alívio, descargo e júbilo. Logo, ninguém foi ou será mais beneficiado pela produção do que já o foi no nascedouro este obreiro infiel. À sua revelia, à força, em contrações o livrofruto é concebido após nove meses de gestação (janeiro a setembro).
Nos recursos lingüísticos deparar-se-á com repetições inevitáveis de substantivos centrais (JESUS, CRISTO, Paulo, Messias, Evangelho), dada a natureza do tema e termos inusitados que enriquecem o trabalho em termos rimáticos, rítmicos, imagísticos e vocabulares. Entretanto, a métrica e a musicalidade não são levadas à conta de obsessão parnasiana. Ressalve-se, por outro lado, que pretendeu-se valorizar a forma poética e os sonetos despertarão repulsa a muitos modernistas que os consideram de per si trastes anacrônicos, obsoletos e estreitos. Além da cultura poética e do ânimo esperantista, objetiva-se motivar a leitura da composição basilar (a quem não leu), relembrá-la estilistica e resumidamente a quem leu e subsidiar a dramaturgia. Do ponto de vista da conveniência, cada época requer um trato: o deserto ensejou o Legislador Hebraico do Pentateuco, a usura medieval convocou o Santo da Pobreza, o estertor colonialista atraiu o “Não-Violento”, o cientificismo parapsicológico deu fundo ao brilho do médium mundial, a pujança crítica do Materialismo Histórico teve contrapeso no Codificador, a vinda do Esperado consubstanciou-se no vaso mais Purificado, a crucifi cação do Salvador exigiu o pastoreio do Patriarca. Moisés é um poderoso; Francisco, um bom; Gandhi, um pacífico; Chico, um servo; Kardec, um sábio; Maria, uma imaculada; Pedro, um pai. E Paulo? Em tempos de revolução tecnológica, regeneração sofrida, transtornos avassaladores, descrença globalizada, lacunas de paradigmas sociais, brilha, fulgura, refulge a luz desse transformado: “As
coisas velhas passaram; as coisas se fizeram novas. Somos uma nova criatura”; desse forte: “Sei viver na abundância, sei viver na escassez”; desse trabalhador: “Vivo às minhas próprias expensas, a fim de não ser pesado a ninguém”; desse crente: “Se DEUS é por nós, quem será contra nós? “; desse otimista: “Ainda que o homem exterior se corrompa, o interior se renova a cada dia”; desse caridoso: “Restam, pois, a fé, a esperança e a caridade; mas, dentre elas, a maior é a caridade”; desse abnegado: “Deixar-me-ei gastar por vós, ainda que mais amando seja cada vez menos amado”; desse amante: “amo-vos com dores de parto”; desse lutador: “combati o bom combate”; desse mártir: “por três vezes naufraguei, cinco vezes sofri trinta e nove chibatadas, numerosas vezes fui aprisionado e duas vezes sofri apedrejamento”; desse humilde que solicitou a Lucas discrição na narrativa dos Atos. Emmanuel veio “descerrar os véus de anonimato” do santo e revelar-nos as claridades interiores do combatente pela reforma íntima e pelo trabalho digno: “Revesti-vos das armas da luz”. Compete-nos ler, estudar, refletir e, sobretudo, honrar o exemplificador personificando-o a ponto de ecoar seu verbo iluminativo: “Já não sou eu quem vive; o CRISTO é que vive em mim”; “e Paulo em mim”; “e Chico em mim”; “e Emmanuel em mim”; “e Pedro em mim”; “e Maria em mim”... Gladston Lage
InĂcio da Primeira Parte
I
Cordeiros “ O Senhor será também um alto refúgio para os oprimidos, um alto refúgio em tempos de angústias” Salmos; 9:9
Conflagram-se perseguições, mas ei-los calmos Jesiel e Abigail, os irmãos, encarcerados sob o estigma de maus e celerados vislumbrando o plenilúnio ao som dos salmos O ignoto do veredito aumenta a noite... O que planejam os romanos ofendidos a vingar os seus sítios destruídos a morte, a escravidão, o exílio, o açoite? O pai é envelhecido, a mãe que é “morta” na memória às Escrituras os exorta e lhes inspira vera paz ao coração São cordeiros sob a forma de crianças anteveem o Mestre em Bem-Aventuranças enquanto aguardam a sentença, a imolação...
Glossário: Celerados: criminosos; Plenilúnio: lua cheia ; Imolação: sacrifício, dano
II
Adubos “ Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos” II Cor 4: 8-9
O ninho familiar desfeito e confiscado Joreched expropriado, torturado e morto Abigail, estarrecida, de espírito absorto sente que estar em Corinto lhe é arriscado Adotada, rumará prestemente à Palestina chora o irmão sentenciado às galeras a febre a incendeia ante as medidas feras que esmagaram os seus sonhos de menina Que será de seu querido Jesiel que a seu lado contemplava o céu animado na espera do Messias? Aprendem aos sorvos do sofrimento sem queixas, apesar do abatimento, os mártires a adubar as profecias...
Glossรกrio: Absorto: absorvido, alheado.
III
Naves do destino (Jesiel e Sérgio Paulo)
“ Bem aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus” Mt 5:10
O pai é morto, a irmã é desterrada como não bastasse, há o suplício e a galera desconhecedor do futuro que o espera no navio a comitiva a Nea-Pafos destinada Passam-se os dias, uma peste prolifera vitima Sérgio Paulo, quase o mata, o tortura o abandono, o delírio, o estigma, a amargura a febre o avassala, ameaça e exaspera Chega-lhe Jesiel indicado por vassalo aproxima-se humilde e desdobra-se a cuidá-lo restabelece-se o enfermo, volve à vida, mas, horrores!, o escravo-enfermeiro herda-lhe febre e dores – Não o lançarei ao mar... Serviu-me, vou libertá-lo! E leva-o a uma praia, a doença a alforriá-lo...
Glossário: Galera: tipo de embarcação cujos remos eram tocados por escravos; Proliferar: espalhar; Vassalo: submisso; Alforriar: libertar
IV
Enlevos “Se pelo espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis” Rm, 8:13
Saulo e Abigail à sombra dos pessegueiros traçam planos e projetam compromissos de noivado é o lírio feminino no carinho delicado e o atleta de Moisés nos expoentes altaneiros Cogitam dos caminhos de Jesiel, o irmão-cunhado, nem notícias, nem indício da parte dos mensageiros nem relato, nem missiva, nem traços dos paradeiros abigail quase contente, o coração acabrunhado Casar-se-ão, terão um lar, e filhos, serão felizes na Lei, na oração encontrarão raízes Saulo a esperava conquanto a desconhecesse Ela o servirá, sentido da nova vida – Eu estou realizada, pois sou tua escolhida que bom se Jesiel, liberto, me aparecesse...
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