Polémicas do Cristianismo

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POLÉMICAS DO CRISTIANISMO

Tratando das polémicas do Cristianismo, este livro é uma compilação de artigos encontrados na Internet, devidamente revistos e acrescentados através da pesquisa em várias fontes, focando vários temas que têm dividido a humanidade ao longo dos séculos, com cisões, guerras e mal entendidos, e que pretende esclarecer o leitor sobre esses assuntos.

Carlos Rodrigues 1


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Este livro sobre as polémicos do Cristianismo é feito através de uma compilação de artigos encontrados na Internet, exaustivamente revistos e acrescentados. Envolveu muitos meses de pesquisa e selecção e pretende ser isento e independente. Sendo que a história dos acontecimentos narrados, foi na maioria das vezes adulterada pela ignorância, fanatismo ou intolerância de quem criou essas polémicas, ficou difícil encontrar a verdade dos factos e dos ensinamentos a transmitir. Para diminuir a influência daqueles defeitos humanos, procurou-se, em geral, encontrar sobre os diferentes assuntos, principalmente nos mais polémicos aqui tratados , os pontos de vista de duas ou três correntes de pensamento; daí que surgem algumas repetições que, servem para clarificar o que é comum. Penso que assim, poderá o leitor posicionar-se com espírito aberto sobre cada questão, lendo e reflectindo sobre dados que eventualmente serão diferentes daquilo em que sempre acreditou e que, possivelmente, poderão não corresponder à verdade. À falta da prova da realidade, pelo menos poder-se-á ter conhecimento de outras tendências, uma vez que, como irão verificar durante a leitura, quase tudo foi inventado ou interpretado por homens, umas vezes honestamente, mas muitas vezes devido ao desejo de poder e supremacia sobre os outros, mesmo que agindo conscientemente contra os Mandamentos, os ensinamentos de Cristo, a Ética e o Amor ao próximo. Esta livro, não tem uma sequência obrigatória. Assim, pode-se consultar qualquer tema aleatoriamente.

Carlos Rodrigues Tregosa - Portugal, 2010

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Índice 1 – Origem do catolicismo … 10. Cristianismo…10. Tanack (Antigo Testamento)…10. Principais crenças…10. Monoteísmo…10. Jesus…11. A salvação…11. A vida depois da morte…11. A Igreja…11. Diferenças nas crenças…12. O Credo de Niceia…12. Outros textos considerados sagrados…12. Origem…13. Nazaré…15 Talmude…16 Denominações Cristãs…17. A história das Testemunhas de Jeová…18. Anabaptistas…19. Origem…19. Anabaptistas hoje…20. Doutrina…20. Concepções religiosas e filosóficas do Cristianismo…21. Formas de culto…21. Símbolos…21. Calendário litúrgico e festividades…22. Visita Pascal…22. O Cristianismo no mundo de hoje…23. Os desvios do Catolicismo…23. Datas importantes para a Igreja Católica…24. Calendário Juliano e Gregoriano…25. Qual foi o erro da Era Cristã?...27. A Igreja não sabe se o Natal é no dia 25 de Dezembro?...27. Natal em 25 de Dezembro…28. Pai Natal…29. Árvore de Natal…29. Porque é que a Igreja estabeleceu as festas móveis?...30.

2 – Dogmas da Igreja Católica … 32. 3 – Maria, mãe de Deus? … 35. Adoração…35. Mariologia…35. Mariolatria…35. Assunção de Maria…35. Culto a Maria…35.

4 – Datas de acontecimentos … 37. Gnosticismo…39. Heresia…40. Transubstanciação…40. Teses…40. Canon…40. Apócrifo…40. Inquisição…40. Doutrina…40. Ortodoxo…340.

5 – Datas da História do Cristianismo (outra fonte) … 41. 5.1 Cronologia Histórica da Apostasia do Cristianismo e surgimento do Catolicismo…42. 5.2 Cronogia histórica dos Pais da Igreja Primitiva Cristã…43. 5.3 Cronogia dos Pais da Igreja Reformada Cristã…43.

6 – Concílios ecuménicos … 44. Lista de todos os Concílios Ecuménicos realizados…44. Concílios e Sínodos…45. A partir de Belarmino (1621) a Igreja Católica reconhece 21 Concílios Universais…45. Cronologia dos Concílios Ecuménicos (outra fonte)…48.

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7 – Arianismo (ver também o capítulo 12). … 50. Quarto século…50. Reforma e Iluminismo…50. Paralelos modernos (Testemunhas de Jeová) (Espíritas),etc…51. Apostasia…51. Apostasia da Fé Cristã…51. As Igrejas Cristãs Trinitárias…51. Anticristo…52. Considerações gerais…52. Visões através da história…52. Confissão de Fé Irlandesa(1615)…53. Confissão de Fé Westminster(1647)…53. Confissão de Fé Londrina(1689)…53. A Reforma Protestante…53. Lutero…53. Thomas Cranmer…53.

8 – Diferenças entre a Religião Católica e a Igreja Ortodoxa. … 54. Qual é a diferença entre Igraja Católica e Ortodoxa…55. Dissidências de uma mesma crença…55.

9 – Purgatório … 56. Resposta dada por Católico…56. Céu, Inferno e Purgatório por Cristão, não Católico…56. Medite nestes textos…57. Céu…58. Inferno…59. Purgatório…60.

10 – Igreja Ortodoxa … 62. Grega de Antioquia…62. O Cisma e a Reconciliação…64. Os primeiros seis Concílios Ecuménicos (325-685)…64. Niceia: I Concílio Ecuménico…65. I Constantipolitano: II Concílio Ecuménico…65. Éfeso: III Concílio Ecuménico…66. Calcedónia: IV Concílio Ecuménico…67. As cinco Igrejas: Roma; Constantinopla; Alexandria; Antioquia; Jerusalém…67. V e VI Concílios Ecuménicos…69. Igrejas Cristãs…69. Patriarcado de Alexandria…71. Patriarcado de Antioquia…71. Patriarcado dos Assírios…71. Igreja Maronita…71. Os Gregorianos…71. Patriarcado de Jerusalém…71. Patriarcado Russo…72. Patriarcado da Geórgia…72. Patriarcado da Sérvia…72. Patriarcado da Roménia…72. Patriarcado da Bulgária…72. A Igreja de Chipre…72. A Igreja da Grécia…73. A Igreja da Albánia…73. A Igreja da Polónia…73. A Igreja da Tchecoslováquia…73. A Igreja da Ucránia…73. A Igreja Oxtodoxa Russa…74. A Igreja Oxtodoxa do Egipto…74. A Igreja Oxtodoxa Etíope…74.

11 – Jesus teve irmãos? … 75. Ponto de vista Protestante…75. Origens dessa doutrina…75. Analisando o Evangelho de Mateus…76. O que diz o Novo Testamento…76. Resposta a um suposto argumento…77. Um argumento de fácil refutação…77. O significado de irmãos na Bíblia…77.

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Termos do Novo Testamento para irmãos e primos…78. Argumentos contrapruducentes…79. Irmãos e Irmãs de Jesus (visão Católica e Ortodoxa)…79. Outros pontos de vista…84. Os irmãos de Jesus (visão Evangélica…86. Igreja Evangélica…86.

12 – Jesus era Deus? … 89. Cristologia…89. A natureza de Cristo…89. Cristologia Ortodoxa…90. Cristologia Monofisista…90. Cristologia Ariana…90. Jesus era Deus? (visão Católica)…90. A Divindade de Jesus (visão Católica)…92. Jesus não é Deus (visão de um Espírita)…95. Jesus não é Deus (visão de um Espírita)…96. Jesus era humano ou divino? (visão Islâmica)…99. Jesus é Deus? (visão Islâmica)…101. Jesus era Deus? (visão Espírita de Allan Kardec)…107. I – Fonte das provas da natureza do Cristo…107. II – A divindade de Cristo está provada pelos milagres?...108. III - A Divindade de Jesus está provada pelas suas palavras?...110. IV - Palavras de Jesus depois da sua morte…115. V – Dupla natureza de Jesus…116. VI – Opinião dos Apóstolos…117. VII – Predições dos Profetas concernentes a Jesus…119. VIII – O Verbo se fez carne…120. IX – Filho de Deus e filho de homem…121.

13 – Reencarnação ou Ressurreição … 124. Reencarnação na Bíblia…124 Ressurreição, o significado bíblico…125. a) Voltar à vida no mesmo corpo…131. b) Vortar à vida em outro corpo…132. c) Ressurgir em Espírito…132. d) Ressurgir em Espírito influenciando outra pessoa…133. Conclusão…133. Ressurreição ou Reencarnação – Antigo Testamento…136. Novo Testamento…137. Reencarnação no contexto histórico…140. Reencarnação no Concílio de Constantinopla (Orígenes versus Teodora)…143. O que vários autores falam disto…144. 1. José Reis Chaves como Católico à época…144. O V Concílio de Constantinopla II (553)…145. 2. Edward Wriothesley Russel (repórter norte americano) - O caso Teodora…146. 3. Elizabeth Clare Phophet – Preexistência, reencarnação ou ambos?...147. 4. Holger Kersten…150. 5. Hernani Guimarães Andrade…151. 6. Giovani Reale Dario Antiseri…152. 7. Léon Denis…152. 8. Jayne Andrade (ex-Pastor)…153. 9. Francisco Cajazeiras…154. 10. Outros autores citando outros autores…155. 10.1 – José Reis Chaves…155. 10.2 – Hermínio C. Miranda…156. Conclusão…157. Ressurreição dos mortos (visão Católica)…157.

14 – Protestantismo… 164. Definição…164. Ramos…164. Principais ramos do protestantismo…166. Movimentos teológicos de origem protestante…167. Reforma Protestante…167. Pré-Reforma…167. Reforma…168. Na Alemanha, Suíça e França…168. No Reino Unido…171.

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Nos Países Baixos e na Escandinávia…172. Em outras partes da Europa…173. Consequências…174. Contra-reforma…174. Comparação entre o Catolicismo e o Protestantismo no séc. XVI…175. João Huss…176. Martinho Lutero…177. João Calvino…181. Controvérsias no Protestantismo…182. Catolicismo e Protestantismo…182. Testemunhas de Jeová…182. História e actividades básicas…183. O seu nome distintivo…185. Divulgação das suas doutrinas…186. Modo de vida…186. Serviço voluntário das Testemunhas de Jeová…187. Conceiro sobre outras religiões…188. Oposição às Testemunhas de Jeová…188. Posições controversas das Testemunhas de Jeová…189.

15 – Espiritismo, uma contribuição para a verdade … 190. O que é o Espiritismo?...190. Quais são seus pontos fundamentais?...190. Prática Espírita…191. O Espiritismo é uma religião?...191. Uma proposta pedagógica Espírita…193.

16 - Agostinho de Hipona (Santo Agostinho) e Orígenes … 195. Agostinho e os Judeus…196. Influência como teólogo e pensador…197. Pensamento de Agostinho e influência de S. Ambrósio…198. A exegese…198. O problema do mal…198. A moral…194. A terra é de todos…194. Santo Agostinho (outra fonte) – A vida e as Obras…195. O Pensamento: A Gnosiologia…196. A Metafísica…196. A Moral…202. O Mal…203. A História…203. Pecado original…204. Maniqueísmo…206. Orígenes…207. Biografia …207. Orígenes (visão reencarnacionista)…207. Orígenes (visão Católica)…210. Santíssima Trindade…210. Maria no Cristianismo…211. Primado de Pedro…211. Baptismo…211. Estoicismo…211. Logos…212.

17 – Turquia e o Cristianismo … 213. Ararat…214. Éfeso…214. Niceia – Iznik…215. Tarso…215. São João e a Virgem Maria…215. História final de Éfeso…216.

18 – A Inquisição … 218. Origem e histórico…218. Fogo…220. A Inquisição espanhola…221. Procedimentos…222. A Inquisição em Portugal e no Brasil…222. Censura literária…224. Extinção da Inquisição…224.

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Catarismo…224. As ideias do Catarismo…225. A criação do mundo…225. A salvação é uma responsabilidade individual…225. Os Cátaros e o Santo Graal…226. A heresia cátara…226. Cruzada albigense…226. Cronologia…230. Heresia…232. Heresia no Cristianismo…232. Heresia no Cristianismo primitivo…232. Heresias importantes na história…233. Gnosticismo…233. Paralelos com religiões orientais…236. Gnosticismo e psicologia…236. Monotelismo…236. Nestorianismo…237. Sodomia…237. Apostasia…239. Apostasia da Fé Cristã…240. Apostasia no Catolicismo Romano…240. Mancia…240. História dos Valdenses…240. A doutrina dos Valdenses…242. A persiguição dos Valdenses…242. Picardos…243. Metempsicose…243. A Santa Inquisição (outra fonte)…244. As persiguições…245. A Inquisição (visão Católica)…246. Antecedentes da Inquisição…246. As origens da Inquisição…247. Procedimentos da Inquisição…249. A Inquisição Protestante (visão Católica)…253. Alemanha, Holanda, Suíça, Suécia, Dinamarca, Escócia, Irlanda, Inglaterra…253 a 254. A Infância Negra do Protestantismo (visão Católica)…255. A Inquisição Protestante (visão Católica)…255. João Calvino (1509-1564) – Em Genebra…256. Eis alguns episódios particulares…257. O Anglicanismo…259. APÊNDICE - O branqueamento Católico da Inquisição…261. 1. O Inquisidor…261. 2. As penas e o seu abrandamento…262.

19 – Islão … 265. Etimologia…265. O nascimento do Islão…266. Contexto político, social e religioso…266. Maomé…267. Os quatro califas “correctamente guiados” (632-661)…268. Origem dos Xiitas…269. Os Omíadas (661-750)…270. Os Abássias (750-1258)…271. Os três Impérios…272. O Império Mongol…272. O Império Otomano…272. O Império Safávida…273. O século XIX…273. O século XX…273. Crenças…273. Deus…274. Os Anjos…274. Os Livros Sagrados…274. Os Profetas…274. O dia do Julgamento Final…275. A predestinação…276. Os cinco pilares do Islão…275. A profissão de Fé (Chahada)…276.

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O Salá (a oração)…276. A contribuição de purificação (Zakat)…276. O jejum no Mês do Ramadão (Saum)…277. A peregrinação (Hajj)…277. Jihad…277. O Alcorão…278. Conteúdo temático do Alcorão…279. O Alcorão na vida dos Muçulmanos…279. Autoridade religiosa…280. Ramos do Islão…280. Movimentos recentes…281. Misticismo…281. Comemorações…282. Lugares sagrados…282. Lei Islâmica (Xariá)…283. Adultério e Lapidação…283 O Islão no mundo contemporâneo…286. Perspectiva Islâmica de outras religiões…287. Comparação entre Cristianismo e doutrina Islâmica (visão católica)…287. Cristianismo e Islamismo – A coexistência é possível…291. A Igreja e o Islão (visão católica)…293. As preposições do Islão…294. A expansão do Islamismo…295. Resposta Cristã (católica) à afirmação Islâmica de que Maomé foi profetizado na Bíblia…297. Analisando os versículos…297. Maomé – Islamismo (visão Espírita)…301. A doutrina Espírita…303.

20 – Iluminismo…304.

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1 - Origem do Catolicismo

Cristianismo Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O Cristianismo é uma religião monoteísta baseada na vida e nos ensinamentos de Jesus, tais como estes se encontram recolhidos nos Evangelhos, parte integrante do Novo Testamento. Os Cristãos acreditam que Jesus é o Messias e como tal referem-se a ele como Jesus Cristo. Com cerca de 2.13 mil milhões de adeptos (a Terra tem mais de 6 mil milhões de habitantes) , o Cristianismo é hoje a maior religião mundial, adoptada por cerca de 33% da população do mundo. É a religião predominante na Europa, América, Oceania e em grande parte de África e partes da Ásia. O Cristianismo começou no século I como uma seita do judaísmo, partilhando por isso textos sagrados com esta religião, em concreto o Tanakh, que os Cristãos denominam de Antigo Testamento (AT). Os primeiros cinco livros do AT chamam-se Peutateuco ou Torá. (Tanakh ou Tanach é utilizado dentro do judaísmo para denominar seu conjunto principal de livros sagrados, sendo o mais próximo do que se pode chamar de uma Bíblia Judaica. O conteúdo do Tanakh é equivalente ao Antigo Testamento, porém com outra divisão).

À semelhança do Judaísmo e do Islão, o Cristianismo é considerado uma religião abraâmica. A primeira designação dos seguidores de Jesus era “Os homens do Caminho”. Segundo o Novo Testamento, os seguidores de Jesus foram chamados pela primeira vez "Cristãos" em Antioquia (Actos 11:26). Principais crenças Embora existam diferenças entre os Cristãos sobre a forma como interpretam certos aspectos da sua religião, é também possível apresentar um conjunto de crenças que são partilhadas pela maioria deles.

Os ensinamentos de Jesus influenciaram o surgimento do Cristianismo e de várias outras religiões.

Monoteísmo O Cristianismo herdou do judaísmo a crença na existência de um único Deus, criador do universo e que pode intervir sobre ele. Os seus atributos mais importantes são por isso a omnipotência, a omnipresença e omnisciência. 10


Outro dos atributos mais importantes de Deus, referido várias vezes ao longo do Novo Testamento, é o amor: Deus ama todas as pessoas e estas podem estabelecer uma relação pessoal com ele através da oração. A maioria das denominações Cristãs professa crer na Santíssima Trindade (criada em 325 no 1º Concílio em Niceia), isto é, que Deus é um ser eterno que existe como três pessoas eternas, distintas e indivisíveis: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A doutrina das denominações Cristãs difere do monoteísmo judaico visto que no Judaísmo não existem três pessoas na Divindade, há apenas um único Deus, e o Messias que virá, será um homem, descendente do rei David. A doutrina que crê na Santíssima Trindade, isto é, que Deus é um ser eterno que existe como três pessoas eternas, distintas e indivisíveis: o Pai, o Filho, e o Espírito Santo, foi criada no Concílio de Niceia no ano de 325 D.C. pelas Igreja Católica Apostólica Ortodoxa e Igreja Católica Apostólica Romana (Ver:"Concílios ecuménicos"). Existem ainda outras denominações que crêem em duas pessoas da Divindade, o Pai que deve ser adorado e o Filho que não tem nenhum direito na Divindade em adoração. Jesus Outro ponto crucial para os Cristãos é o da centralidade da figura de Jesus Cristo. Os Cristãos reconhecem a importância dos ensinamentos morais de Jesus, entre os quais salientam o amor a Deus e o amor ao próximo, e consideram a sua vida como um exemplo a seguir. O Cristianismo reconhece Jesus como o Filho de Deus que veio à Terra libertar os seres humanos do pecado através da sua morte na cruz e da sua ressurreição, embora variem entre si quanto ao significado desta salvação e como ela se dará. Para a maioria dos Cristãos, Jesus é completamente divino e completamente humano. Há no entanto, uma recorrente discussão sobre a divindade de Jesus. Aqueles que questionam a divindade de Cristo argumentam que ele jamais teria afirmado isso expressamente. Os que defendem a divindade de Cristo, por sua vez, valem-se de versículos que, através da postura de Jesus e dentro do próprio contexto cultural judaico da época, deixariam clara sua condição divina. A salvação O Cristianismo acredita que a fé em Jesus Cristo proporciona aos seres humanos a salvação e a vida eterna, mas vale lembrar que biblicamente, as obras não são capazes de dar a uma pessoa a Vida Eterna, a única maneira de alcançar a Salvação é dando crédito à obra da cruz realizada pelo que os Cristãos acreditam ser o filho de Deus, a saber Jesus Cristo. A vida depois da morte A visão de determinadas religiões Cristãs sobre a vida depois da morte envolve, de uma maneira geral, a crença no céu e no inferno. A Igreja Católica considera que para além destas duas realidades existe o purgatório, um local de purificação onde ficam as almas que morreram em estado de graça, mas que cometeram pecados. A Igreja O Cristianismo acredita na Igreja (ekklesia), palavra de origem grega que significa "assembleia", entendida como a comunidade de todos os Cristãos e como corpo místico de Cristo presente na Terra e sua continuidade. As principais igrejas ligadas ao Cristianismo são: a Igreja Católica, as Igrejas Protestantes e a Igreja Ortodoxa.

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Diferenças nas crenças O Credo de Niceia O Credo de Niceia, formulado nos concílios de Niceia e Constantinopla, foi ratificado como credo universal da Cristandade no Concílio de Éfeso de 431. Os Cristãos Ortodoxos orientais não incluem no credo a cláusula Filioque (Filioque significa "e do Filho", para explicitar que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho), que foi acrescentada pela Igreja Católica mais tarde. As crenças principais declaradas no Credo de Niceia são:

Percentagem do Cristianismo por país.      

A crença na Trindade; Jesus é simultaneamente divino e humano; A salvação é possível através da pessoa, vida e obra de Jesus; Jesus Cristo foi concebido de forma virginal, foi crucificado, ressuscitou, ascendeu ao céu e virá de novo à Terra; A remissão dos pecados é possível através do baptismo (br-batismo); Os mortos ressuscitarão.

Na altura em que foi formulado, o Credo de Niceia procurou lidar directamente com crenças que seriam consideradas heréticas, como o Arianismo, que negava que o Pai e Filho eram da mesma substância, ou o Gnosticismo. A maior parte das igrejas Protestantes partilham com a Igreja Católica a crença no Credo de Niceia. Outros textos considerados sagrados Alguns Cristãos consideram que determinados escritos, para além dos que fazem parte da Bíblia, foram divinamente inspirados. Os membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos 12


Últimos Dias atribuem a três livros a qualidade de terem sido inspirados por Deus; esses livros são o Livro de Mórmon, a Doutrina e Convénios e a Pérola de Grande Valor. Para os Adventistas do Sétimo Dia os escritos de Ellen G. White são uma manifestação profética que, contudo, não se encontra ao mesmo nível que a Bíblia. Origem Segundo a religião judaica, o Messias, um descendente do Rei David, iria um dia aparecer e restaurar o Reino de Israel. Na Palestina, por volta de 26 D.C., Jesus Cristo, nascido na cidade de Belém na Galileia começou a pregar uma nova doutrina e atrair seguidores, sendo aclamado por alguns como o Messias. Jesus foi rejeitado, tido por apóstata pelas autoridades judaicas. Foi condenado por blasfémia e executado pelos romanos como um líder rebelde. Seus seguidores enfrentaram dura oposição político-religiosa, tendo sido perseguidos e martirizados, pelos líderes religiosos judeus, e, mais tarde, pelo Estado Romano. Com a morte e ressurreição de Jesus, os apóstolos, principais testemunhas da sua vida, reúnem-se numa comunidade religiosa composta essencialmente por judeus e centrada na cidade de Jerusalém. Esta comunidade praticava a comunhão dos bens, celebrava a "partilha do pão" em memória da última refeição tomada por Jesus e administrava o baptismo aos novos convertidos. A partir de Jerusalém, os apóstolos partiram para pregar a nova mensagem, anunciando a nova religião inclusive aos que eram rejeitados pelo judaísmo oficial. Assim, Filipe prega aos Samaritanos, o eunuco da rainha da Etiópia é baptizado, bem como o centurião Cornélio. Em Antioquia, os discípulos abordam pela primeira vez os pagãos e passam a ser conhecidos como Cristãos. Paulo de Tarso não se contava entre os apóstolos originais, ele era um judeu fariseu que perseguiu inicialmente os primeiros Cristãos. No entanto, ele tornou-se depois um Cristão e um dos seus maiores, senão o maior missionário depois de Jesus Cristo. Boa parte do Novo Testamento foi escrito ou por ele (as epístolas) ou por seus cooperadores (o evangelho de Lucas e os actos dos apóstolos). Paulo afirmou que a salvação dependia da fé em Cristo. Entre 44 e 58 ele fez três grandes viagens missionárias que levaram a nova doutrina aos gentios e judeus da Ásia Menor e de vários pontos da Europa, entre eles Roma. Nas primeiras comunidades Cristãs a coabitação entre os Cristãos oriundos do paganismo e os oriundos do judaísmo gerava por vezes conflitos. Alguns dos últimos permaneciam fiéis às restrições alimentares e recusavam-se a sentar-se à mesa com os primeiros. Na Assembleia de Jerusalém, em 48, decide-se que os Cristãos ex-pagãos não serão sujeitos à circuncisão, mas para se sentarem à mesa com os Cristãos de origem judaica devem abster-se de comer carne com sangue ou carne sacrificada aos ídolos. Consagra-se assim a primeira ruptura com o judaísmo.

Peixe - Símbolo Cristão Primitivo, 2.º Século D.C. - Hoje símbolo principal das denominações da Igreja Evangélica

Na época, a visão de mundo monoteísta do judaísmo era atractiva para alguns dos cidadãos do mundo romano, mas costumes como a circuncisão, as regras de alimentação incómodas, e 13


a forte identificação dos judeus como um grupo étnico (e não apenas religioso) funcionavam como barreiras dificultando a conversão dos homens. Através da influência de Paulo, o Cristianismo simplificou os costumes judaicos aos quais os gentios não se habituavam enquanto manteve os motivos de atracção. Alguns autores defendem que essa mudança pode ter sido um dos grandes motivos da rápida expansão do Cristianismo. Outros autores entendem a ruptura com os ritos judaicos mais como uma consequência da expansão do Cristianismo entre os não judeus do que como sua causa. Estes invocam outros factores e características como causa da expansão Cristã, por exemplo: a natureza da fé Cristã que propõe que a mensagem de Deus destina-se a toda a humanidade e não apenas ao seu povo escolhido; a fuga da perseguição religiosa empreendida inicialmente por judeus conservadores, e posteriormente pelo Estado Romano; o espírito missionário dos primeiros Cristãos com sua determinação em divulgar o que Cristo havia ensinado a tantas pessoas quantas conseguisse. A narrativa da perseguição religiosa, da dispersão dela decorrente, da expansão do Cristianismo entre não judeus e da subsequente abolição da obrigatoriedade dos ritos judaicos pode ser lida no livro de Actos dos Apóstolos. De resto, os Cristãos adoptam as regras e os princípios do Antigo Testamento, livro sagrado dos Judeus. Em Junho do ano 66 inicia-se a revolta judaica. Em Setembro do mesmo ano a comunidade Cristã de Jerusalém decide separar-se dos judeus insurrectos, seguindo a advertência dada por Jesus de que quando Jerusalém fosse cercada por exércitos a desolação dela estaria próxima, e exila-se em Pela, na Transjordánia, o que representa o segundo momento de ruptura com o judaísmo. Após a derrota dos judeus em 70, Cristãos e outros grupos judeus trilham caminhos cada vez mais separados. Para o Cristianismo o período que se abre em 70 e que segue até aproximadamente 135 caracteriza-se pela definição da moral e fé Cristã, bem como de organização da hierarquia e da liturgia. No Oriente, estabelece-se o episcopado monárquico: a comunidade é chefiada por um bispo, rodeado pelo seu presbitério e assistido por diáconos. Gradualmente, o sucesso do Cristianismo junto das elites romanas fez deste um rival da religião estabelecida. Embora desde 64, quando Nero mandou supliciar os Cristãos de Roma, se tivessem verificado perseguições ao Cristianismo, estas eram irregulares. As perseguições organizadas contra os Cristãos surgem a partir do século II: em 112 Trajano fixa o procedimento contra os Cristãos. Para além de Trajano, as principais perseguições foram ordenadas pelos imperadores Marco Aurélio, Décio, Valeriano e Diocleciano. Os Cristãos eram acusados de superstição e de ódio ao género humano. Se fossem cidadãos romanos eram decapitados; se não, podiam ser atirados às feras ou enviados para trabalhar nas minas. Durante a segunda metade do século II assiste-se também ao desenvolvimento das primeiras heresias. Tatiano, um Cristão de origem síria convertido em Roma, cria uma seita gnóstica que reprova o casamento e que celebrava a eucaristia com água em vez de vinho. Marcião rejeitava o Antigo Testamento, opondo o Deus vingador dos judeus, ao Deus bondoso do Novo Testamento, apresentado por Cristo; ele elaborou um Livro Sagrado feito a partir de passagens retiradas do Evangelho de Lucas e das epístolas de Paulo. À medida que o Cristianismo criava raízes mais fortes na parte ocidental do Império Romano, o latim passa a ser usado como língua sagrada (nas comunidades do Oriente usava-se o grego). A ascensão do imperador romano Constantino representou um ponto de virada para o Cristianismo. Em 313 ele publica o Édito de Tolerância (ou Édito de Milão) através do qual o Cristianismo é reconhecido como uma religião do Império, e concede a liberdade religiosa aos Cristãos. A Igreja pode possuir bens e receber donativos e legados. É também reconhecida a jurisdição dos bispos. 14


A questão da conversão de Constantino ao Cristianismo é um tema de profundo debate entre os historiadores, mas em geral aceita-se que a sua conversão ocorreu gradualmente. Constantino estipula o descanso dominical, proíbe a feitiçaria e limita as manifestações do culto imperial. Ele também mandou construir em Roma uma basílica no local onde, supostamente, o apóstolo Pedro estava sepultado e, influenciado pela sua mãe, a imperatriz Helena, ordena a construção em Jerusalém da Basílica do Santo Sepulcro e da Igreja da Natividade em Belém. Constantino quis também intervir nas querelas teológicas que na altura marcavam o Cristianismo. Luta contra o Arianismo (há estudiosos que afirmam que Constantino, mais tarde se converteu ao Arianismo), uma doutrina que negava a divindade de Cristo, oficialmente condenada no Concílio de Niceia (325), onde também se definiu o Credo Cristão. Mais tarde, nos anos de 391 e 392, o imperador Teodósio I combate o paganismo, proibindo o seu culto e proclamando o Cristianismo religião oficial do Império Romano. O lado ocidental do Império cairia em 476, ano da deposição do último imperador romano pelo "bárbaro" germánico visigodo Odoacro, mas o Cristianismo permaneceria triunfante em grande parte da Europa, até porque alguns bárbaros já estavam convertidos ao Cristianismo (embora Arianos) ou viriam a converter-se nas décadas seguintes. O Império Romano teve desta forma um papel instrumental na expansão do Cristianismo. (Caso do Papa João I (523-526). O Papa Hormisdas (antecessor do Papa João I) e o imperador Justino (Imperador Romano do Oriente) tinham feito cessar o cisma entre Roma e Constantinopla, que iniciara em 484, com o então imperador Zenão (Imperador Romano do Oriente), através do que parecia impossível: um acordo entre Católicos e Arianos. Com esse esquema obtivera bons resultados políticos, pois os godos eram Arianos. Porém, no final de 524, o imperador Justino publicou um decreto ordenando o encerramento das igrejas arianas de Constantinopla e a exclusão dos Arianos de toda a função civil e militar. Roma era então governada pelo imperador Teodorico, o grande, o rei dos bárbaros Arianos que tinha invadido a Itália. Ele obrigou o Papa João I a viajar a Constantinopla para solicitar ao imperador Justino a revogação daquele decreto. Apesar de o imperador Justino ter-se ajoelhado perante o primeiro Sumo Pontífice a pisar em Constantinopla, João I não conseguiu demovê-lo da perseguição aos Arianos. A solicitação foi atendida apenas em parte; o imperador concordou em devolver as igrejas confiscadas aos Arianos, mas manteve o impedimento dos Arianos convertidos ao catolicismo, poderem retornar ao Arianismo. Com o fracasso de sua missão, o Papa João I despertou a ira do imperador Teodorico. Assim, quando colocou os pés em Roma foi detido e aprisionado em Ravena, onde morreu no dia 18 de maio de 526. Foi então declarado mártir da Igreja).

Do mesmo modo, o Cristianismo teve um papel proeminente na manutenção da civilização europeia. A Igreja, única organização que não se desintegrou no processo de dissolução da parte ocidental do império, começou lentamente a tomar o lugar das instituições romanas ocidentais, chegando mesmo a negociar a segurança de Roma durante as invasões do século V. A Igreja também manteve o que restou de força intelectual, especialmente através da vida monástica. Embora fosse unida linguisticamente, a parte ocidental do Império Romano jamais obtivera a mesma coesão da parte oriental (grega). Havia nele um grande número de culturas diferentes que haviam sido assimiladas apenas de maneira incompleta pela cultura romana. Mas enquanto os bárbaros invadiam, muitos passaram a comungar da fé Cristã. Por volta dos séculos IV a X, todo o território que antes pertencera ao ocidente romano havia se convertido ao Cristianismo e era liderado pelo Papa. Missionários Cristãos avançaram ainda mais ao norte da Europa, chegando a terras jamais conquistadas por Roma, obtendo a integração definitiva dos povos germânicos e eslavos. NAZARÉ Não há certeza se Nazaré existia no tempo de Jesus e portanto se esta era a sua terra natal.

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Parece ter existido uma seita (no bom sentido) chamada Nazarenos que também é referida por Allan Kardec em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", o qual também faz referência aos Nazarenos. Desde o tempo de Eusébio de Cesaréia até o século XX especula-se que a etimologia de Nazaré deriva de netser, um "ramo" ou "broto", enquanto o Evangelho de Felipe (apócrifo) deriva o nome de nazara, que significa "verdade". Há ainda especulações e indícios bíblicos de que nazareno, significando "da vila de Nazaré", era confundido com "nazireu", que significava um judeu "separado", que fez um voto de silêncio. Alguns historiadores colocaram em dúvida a tradicional associação da cidade com a vida de Jesus, sugerindo que o que era originalmente um título, Nazareno, acabou transformando-se por tradição, no nome da sua cidade natal. Alfred Loisy, por exemplo, em “O Nascimento do Cristianismo” afirma que “Iesous Nazarene” não significava "de Nazaré", mas sim que, seu título era “Nazareno”. Além isso, existem indicações bíblicas de que Nazareno foi uma tradução imprecisa de Nazarita, uma pessoa que havia feito um voto de santidade e, assim, se separava das massas. Mateus 2:23 afirma sobre Jesus, "E ele veio e morou numa cidade chamada Nazaré: para que se cumpra o que foi dito pelos profetas, Ele será chamado de Nazareno." Como não existem menções anteriores a 'Nazareth' nas escrituras hebraicas, diversas Bíblias de referência sugerem que a profecia citada neste versículo está se referindo ao versículo do “Livro dos Juízes” que descreve Sansão como um Nazarita. Frank Zindler, editor da American Atheist Press, afirma que Nazaré não existia no século I. Seus argumentos incluem: Nenhum "historiador ou geógrafo da Antiguidade menciona [Nazaré] antes do início do século IV". Nazaré não é mencionada no Velho Testamento, no Talmude, nem nos Evangelhos apócrifos ou na literatura rabínica. Nazaré não foi incluída na lista de lugares colonizados pelas tribos de Zebulom ([Josué] 19:1016), que menciona doze cidades e seis aldeias. Nazaré não consta entre as 45 cidades da Galileia mencionadas por Flávio Josefo (37-100 D.C.). Nazaré também não se encontra entre as 63 cidades da Galileia mencionadas no Talmude. O ponto de vista de Zindler é historicamente plausível se Nazaré tiver vindo a existir na mesma época em que os Evangelhos do Novo Testamento estivessem sendo escritos e redigidos. A maioria dos estudiosos situa esta actividade literária entre as duas guerras judaicas (70-132 D.C.). James Strange, um arqueólogo americano, ressalta que “Nazaré não é mencionada nas fontes antigas judaicas antes do século III D.C.. Joan Taylor escreve: "É possível concluir agora que existiu em Nazaré, a partir da primeira parte do século IV, uma igreja pequena e incomum que abrangia um complexo de cavernas. A cidade foi judaica até o sécuo VI. Talmude é um registro das discussões rabínicas que pertencem à lei, ética, costumes e história do judaísmo. É um texto central para o judaísmo rabínico, perdendo em importância apenas para a Bíblia hebraica. O Talmude tem dois componentes: a Mixná (200 D.C.), o primeiro compêndio escrito da Lei Oral judaica; e o Guemará (500 D.C.), uma discussão da Mixná e dos escritos tanaíticos que frequentemente abordam outros tópicos, e são expostos amplamente no Tanakh. O Mishná foi redigido pelos mestres chamados Tannaim ("tanaítas"), termo que deriva da palavra hebraica que significa "ensinar" ou "transmitir uma tradição". Os tanaítas viveram entre o século I e o III D.C. A primeira codificação é atribuída a Rabi Akiva (50 – 130), e uma segunda, a Rabi Meir (entre 130 e 160 D.C.), ambas as versões tendo sido escritas no actual idioma aramaico, ainda em uso no interior da Síria.

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Denominações Cristãs (ver as denominações, pela cor do texto, por baixo do gráfico).

Os mais importantes ramos do Cristianismo Pretendido Cristianismo original independente (linha tracejada). Restauracionismo do Cristianismo original (começou no séc XVII). Anabaptistas. Protestantismo. Anglicanismo. Igreja Católica (Rito latino). Igreja Católica (Ritos orientais). Igreja Ortodoxa. Igreja Ortodoxa Oriental. Nestorianismo (Inclui a Igreja Assíria Oriental). Marcos (da esquerda para a direita). Concílio de Éfeso ano 431 (Nestorianismo). Concílio de Calcedónia ano 451 (Primeiros litígios de Roma e Constantinopla – Cristologia Ortodoxa, Monofisismo e Patriarcado dos Assírios). Grande Cisma ano 1054 (Ortodoxos). Reforma (Protestantismo século XVI).

No Cristianismo existem numerosas tradições e denominações, que reflectem diferenças doutrinais por vezes relacionadas com a cultura e os diferentes contextos locais em que estas se desenvolveram. Segundo a edição de 2001 da World Christian Encyclopedia existem 33 830 denominações Cristãs. Desde a Reforma o Cristianismo é dividido em três grandes ramos:  

Catolicismo: composto pela Igreja Católica Apostólica e que hoje congrega o maior número de fiéis; Ortodoxia: originária da primeira grande cisma Cristã é constituída por duas grandes igrejas Ortodoxas - a grega e a russa - que apresentam algumas diferenças entre si, nomeadamente a língua usada na liturgia. Há ainda um terceiro ramo, a igreja de rito Copta, que surgiu no Norte de África; Protestantismo: originária da segunda grande cisma Cristã (Reforma Protestante) de Martinho Lutero, no século XVI, e engloba grande número de movimentos e denominações distintas. Actualmente a Igreja Protestante (também chamada Igreja Evangélica) pode ser dividida em três vertentes: o Denominações Históricas: resultado directo da reforma protestante. Destacamse nesta vertente os luteranos, anglicanos, presbiterianos, metodistas e baptistas. 17


Denominações Pentecostais: originárias em movimento do início do século XX é baseando na crença na presença do Espírito Santo na vida do crente através de sinais, denominados por estes como dons do Espírito Santo, tais como falar em línguas estranhas (glossolalia), curas, milagres, visões etc. Destacam-se nesta vertente a Assembleia de Deus, O Brasil para Cristo, Congregação Cristã, Igreja Cristã Maranata e a Igreja do Evangelho Quadrangular. o Denominações Neopentecostais: originárias na segunda metade do século XX de avanço das igrejas pentecostais, não configuram uma categoria homogénea possuindo muita variedade nesse meio. Algumas possuem aceitação de músicas de vários estilos, outras adquiriram o formato G-12. Destacam-se nesta vertente a Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Apostólica Renascer em Cristo, Igreja Internacional da Graça de Deus, Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, Igreja Evangélica Cristo Vive, Igreja Cristo Vive, Manancial Vida, Igreja de Nova Vida, Comunidade Cristã, Igreja Bola de Neve e a Igreja Unida. É o ramo que mais cresce no Brasil e no mundo. o

Além desses três ramos maioritários, ainda existem outros segmentos minoritários do Cristianismo. Em geral se enquadram em uma das seguintes categorias: 

Restauracionismo: são doutrinas surgidas após a Reforma Protestante cujas bases derrogam as de todas as outras tradições Cristãs, basicamente tendo como ponto em comum apenas a crença em Jesus Cristo. A maioria deles não se considera propriamente "protestante" ou "evangélico" por possuírem grandes divergências teológicas. Nesta categoria estão enquadradas a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, a Igreja Adventista do Sétimo Dia e as Testemunhas de Jeová, entre outras denominações. Quanto às Testemunhas de Jeová, embora afirmem ser Cristãs, também não se consideram parte do protestantismo. Os testemunhas aceitam a Jesus como criatura, de natureza divina, seu líder e resgatador, rejeitando, no entanto a crença na Trindade e ensinando que Cristo é o filho do único Deus, Jeová, não crendo que Jesus é Deus.

A história das Testemunhas de Jeová (ver também pág. 182). Os seguidores da seita Testemunhas de Jeová não gostam muito de falar de suas origens, isto porque elas estão cheias de contradições e problemas de moralidade de seus fundadores. As Testemunhas de Jeová foram fundados por um norte americano do estado da Pensilvânia, chamado Charles T. Russell ( 1854-1916 ). Russell frequentava igreja evangélica, mas depois de ser fortemente influenciado pelos ensinos adventistas, acabou por conceber ideias diferentes quanto à segunda vinda de Cristo. Russell então abandona de vez os contactos adventistas e funda a “ Torre de Vigia de Sião”. Charles Russell teve sérios problemas com a justiça, ora sendo acusado por sua esposa de maus tratos, ora por problemas com pastores da época, ou então em escândalos financeiros. Chegou a ser levado aos tribunais a fim de provar seus supostos conhecimentos da língua grega. A única coisa que foi provada é que ele não sabia reconhecer nem mesmo o alfabeto grego. Charles Russell teve por sucessor o juiz J. F. Rutherford, que fundou a tão conhecida Despertai, revista de estudos dos TJs. Pelas suas atitudes, o juiz Rutherford parecia ser um recalcado cidadão contra o seu país. Fora preso várias vezes por ter se envolvido em atitudes anti patriotas em plena 1ª Grande Guerra. Com a morte do juiz Rutherfod, assume a presidência da organização o Sr. Nathan Knorr. As TJs são talvez a seita que mais têm crescido nestes últimos tempos. Eles são agressivos na sua evangelização e têm um bem elaborado sistema de perguntas direccionadas que levam os menos desavisados a respostas que apontam para os seus ensinamentos. As Testemunhas de Jeová dizem basear na Bíblia a sua recusa na utilização e consumo de sangue, humano ou animal. Entendem que esta proibição foi dada à humanidade em geral visto que foi transmitida por Deus a um homem que a Bíblia apresenta como ancestral de todos os homens, Noé. Além disso, reforçando esta aplicação geral, a ordem teria sido dada na ocasião em que Noé, tal como o primeiro homem Adão, iria dar um novo início à sociedade humana. Esta mais antiga referência bíblica ao uso de sangue diz o seguinte:

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Génesis 9:3-5 "Tudo o que se move e vive vos servirá de alimento; eu vos dou tudo isto, como vos dei a erva verde. Somente não comereis carne com a sua alma, com seu sangue (algumas traduções dizem que a almaespírito está no sangue). Eu pedirei conta de vosso sangue, por causa de vossas almas, a todo animal; e ao homem que matar o seu irmão, pedirei conta da alma do homem." A Lei mencionava o que um caçador devia fazer com um animal morto: Levítico 17:13, 14 "Ele deve derramar o seu sangue e cobri-lo de terra. Não deveis tomar o sangue de carne alguma, pois a vida de toda carne é o seu sangue. Qualquer pessoa que tomar dele será cortada." (versão judaica Tanakh). Após a morte de Jesus, os apóstolos reuniram-se para decidir que aspectos da antiga Lei de Israel deveriam ser adoptados pelos Cristãos. A sua decisão foi a seguinte: Actos dos Apóstolos 15:28, 29 "O Espírito Santo e nós próprios resolvemos não vos impor outras obrigações além destas, que são indispensáveis: abster-vos de carnes imoladas a ídolos, do sangue, de carnes sufocadas e da imoralidade. Procederei bem, abstendo-vos destas coisas."

Cristianismo primitivo: são as Igrejas cujas bases são anteriores ao estabelecimento do catolicismo e da ortodoxia. É o caso das igrejas não-calcedonianas e da Igreja Assíria do Oriente (Nestoriana). Cristianismo esotérico: é a parte mística do Cristianismo, e compreende as escolas Cristãs de mistérios e sincretismo religioso. A este ramo pertence o Gnosticismo que é uma crença com raízes antecedentes ao próprio Cristianismo e que tem características da ciência egípcia e da filosofia grega. O Rosacrucianismo também se enquadra nessa vertente sendo uma ciência oculta Cristã que ressalta as boas acções por meio da fraternidade. Espiritismo: algumas vezes é contestado como sendo uma vertente do Cristianismo. Os simplesmente Espíritas não acreditam que uma pessoa ou ser, como Jesus Cristo, pode redimir "os pecados" de uma outra, contudo para a maior parte dos adeptos do Espiritismo a obra de Allan Kardec constitui uma nova forma de Cristianismo, ou então um resgate do Cristianismo primitivo, que não inclui os dogmas adicionados pela Igreja Católica em seus diversos Concílios. Inclusive, um dos seus livros fundamentais é denominado de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Esse livro apresenta uma reinterpretação de aspectos da filosofia e moral Cristã, crendo em parte na Bíblia Sagrada.

Anabaptistas Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Anabaptistas ("re-baptizadores", do grego "ana" e "baptizo") são Cristãos da chamada "ala radical" da Reforma Protestante. São assim chamados porque os convertidos eram baptizados em idade adulta, desconsiderando o até então baptismo obrigatório da igreja romana. Assim, rebaptizavam todos os que já tivessem sido baptizados em criança, crendo que o verdadeiro baptismo só tem valor quando as pessoas se convertem conscientemente a Cristo. Origem Os primeiros Anabaptistas que surgiram na Historia do Cristianismo foram assim denominados pelo Bispo de Roma Estêvão I Papa Estêvão I que descobriu que cerca de 87 bispos haviam realizado o 2º Concílio de Cartago, em 225 D.C., para legalizarem o rebaptismo dos fiéis vindos de outras Igrejas que adoptavam o "baptismo regenerador". Esses bispos discordavam que as "águas baptismais" eram as águas mencionadas no Evangelho de João Cap.3 e que a graça de Deus independia do Baptismo. Nos sínodos da Frígia, em 225 d.C., esses bispos excomungaram a Igreja Romana. O Papa Estêvão I tomou conhecimento e invalidou esses sínodos e

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excomungou todos os bispos no 2º Concílio de Roma que participaram, declarando que o rebaptismo (Anabaptismo no grego) era uma heresia. A Reforma Protestante do século XVI reacendeu os princípios bíblicos da justificação pela fé e do sacerdócio universal foram novamente colocados em foco. Contudo, enquanto Lutero, Calvino e Zuínglio mantiveram o baptismo infantil e a vinculação da igreja ao Estado, os anabaptistas liderados por Georg Blaurock, Conrad Grebel e Félix Manz ansiavam por uma reforma mais profunda. Os anabaptistas fundaram então sua primeira igreja no dia 21 de Janeiro de 1525, próxima a Zurique, na Suíça, de acordo com a doutrina e conduta Cristãs pregadas no Novo Testamento e testemunharam alegremente de sua nova vida em Cristo. Em "In nomine Dei", José Saramago retrata um conhecido episódio na história do movimento anabaptista que teve lugar na cidade de Munster (no norte da Alemanha), onde entre 1532 e 1535 foi estabelecida uma teocracia nas linhas das orientações desta denominação. Ver a Rebelião de Munster. Anabaptistas Hoje Depois de serem massacrados na Guerra dos Camponeses, os Anabaptistas sobreviveram na sua forma pacifista, como a Igreja Mennonita. Originalmente concentrados no vale do rio Reno, desde a Suíça até a Holanda, os anabaptistas conquistaram adeptos de cultura germânica. Perseguidos pelo Estado e guerras, tiveram imigração em massa para a Rússia e América do Norte. No final do século XIX e começo do XX surgiram colónias na América do Sul (Paraguai, Argentina, Brasil, Bolívia), onde mantêm suas culturas e fé. Muitos Anabaptistas conservadores vivem em comunidades rurais isoladas e desconfiam do uso de tecnologia. As principais denominações hoje Anabaptistas são: os Mennonitas; Amish, famosos pelo estilo de vida conservador; Hutteritas, que defendem um comunitarismo, rejeitando propriedade individual. Os Anabaptistas influenciaram ainda outras denominações religiosas, como os Quakers; Baptistas; Dunkers e outras denominações Protestantes que afirmam a necessidade de uma adesão voluntária à Igreja. Doutrina As doutrinas enfatizadas pelos anabaptistas são: A Bíblia, principalmente a ética do Novo Testamento, devem ser obedecidas como a vontade de Deus, embora não sistematizando sua teologia, mas aplicando-as no dia-a-dia. A interpretação da Bíblia é realizada nos cultos e reuniões da igreja. Essa posição de evitar querelas teológicas evitou divisões de carácter doutrinários nas denominações anabaptistas. Credos e confissões são somente documentos para demonstrar aquilo que se crê em comum, assim não requerem a adesão formal a eles. Aceitam, portanto, em essência os Credos históricos do Cristianismo, mas não o professam. A Igreja é uma comunidade voluntária formada de pessoas renascidas. A Igreja não é subordinada a nenhuma autoridade humana, seja ela o Estado, ou hierarquia religiosa. Assim evitam participar das actividades governamentais, jurar lealdade à nação e participar em guerras. A Igreja não é uma instituição espiritual e invisível, mas uma colectividade humana e real, marcada pela separação do mundo e do pecado e uma posição afirmativa em seguir os mandamentos de Cristo. A Igreja celebra o Baptismo adulto por infusão como símbolo de reconhecimento e obediência a Cristo, e a Santa Ceia em memória da missão de Jesus Cristo. A Igreja tem autoridade de disciplinar seus membros e até mesmo sua expulsão, a fim de manter a pureza do indivíduo e da igreja. Como pode ser notado, a teologia anabaptista é massivamente eclesiológica (Eclesiologia (do grego ekklesia) é o ramo da teologia Cristã que trata da doutrina da Igreja: seu papel na salvação, sua origem, sua disciplina, sua forma de se relacionar com o mundo, seu papel social, as mudanças ocorridas, as crises enfrentadas, suas doutrinas, a relação com outras denominações e sua forma de governo), baseada na vida comunitária e Igreja. Quanto à salvação, o Anabaptismo crê no livre-arbítrio, o ser humano tem a capacidade de se arrepender de seus pecados e Deus regenera e ajuda-o a andar em uma vida de regeneração. O que é único na Teologia Anabaptista, principalmente depois de Menno Simons, é a visão sobre a natureza de Cristo, possui uma doutrina semi-nestoriana, crendo que Jesus Cristo foi concebido miraculosamente pelo Espírito Santo no ventre de Maria, mas não herdou nenhuma parte física dela. Maria, seria portanto um instrumento usado por Deus, para cumprir o Seu plano, mas não Theotókos (Mãe de Deus). A essência do Cristianismo consiste em uma adesão prática aos ensinamentos de Cristo. A ética do amor rege todas as relações humanas. Pacifismo: Cristianismo e violência são incompatíveis.

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Concepções religiosas e filosóficas do Cristianismo O Cristianismo prega o amor a Deus e ao próximo como o seu fundamento espiritual. De facto estas atitudes não constituem dois mandamentos separados (1º a Deus e 2º ao próximo), mas sim um só em que nenhuma das partes pode ser excluída. A salvação espiritual é oferecida gratuitamente a quem deseja aceitá-la buscando a Deus na figura de seu filho Jesus e que a busca de Deus é uma experiência transformadora da natureza humana. Podemos considerar três períodos que definem a concepção e filosofia do Cristianismo: 1. Cristianismo primitivo: caracterizado por uma heterogeneidade de concepções; 2. Patrística: ocorrida no período entre os séculos II e VIII, com a transformação da nova religião em uma Igreja oficial do Império Romano fundada por Constantino e a formação de um clero institucionalizado, e cujo doutrinário expoente foi Santo Agostinho; 3. Escolástica: a partir do século VIII e cujo expoente foi São Tomás de Aquino, que afirmou que fé e razão podem ser conciliadas, sendo a razão um meio de entender a fé. A partir do protestantismo, é necessário fazer uma diferenciação entre a história e concepção da Igreja Católica e das diversas denominações evangélicas que se formaram. Formas de culto As formas de culto do Cristianismo envolvem a oração, a leitura de passagens da Bíblia, o canto de hinos, a cerimónia da eucaristia (Católicos e Ortodoxos) e a audição de um sermão dito pelo sacerdote ou ministro. A maioria das denominações Cristãs considera o Domingo como dia dedicado ao culto (há minorias que consideram o Sábado). É um dia dedicado ao descanso, no qual os Cristãos reúnem-se para o culto, embora a devoção e oração individual em qualquer outro dia da semana sejam também valorizadas no Cristianismo. Os Católicos e os Ortodoxos interpretam as formas de culto (ou missa, para o catolicismo) Cristãs em termos de sete sacramentos, considerados como graças divinas:       

Baptismo Eucaristia Matrimónio Confirmação ou crisma Penitência Extrema unção ou Unção dos enfermos Ordem

Os Protestantes não têm os sacramentos pelo catolicismo, mas eles utilizam de passagens bíblicas para os cultos, como:   

Baptismo (para a maioria das denominações, apenas em adultos); Santa Ceia (não aceitando a eucaristia, voltando ao padrão bíblico "PÃO" E "VINHO", ambos aceitos apenas como símbolos). Etc.

Símbolos O símbolo mais reconhecido do Cristianismo é sem dúvida a cruz, que pode apresentar uma grande variedade de formas de acordo com a denominação: crucifixo para os Católicos, a cruz de oito braços para os Ortodoxos e uma simples cruz para os Protestantes evangélicos. 21


Outro símbolo Cristão, que remonta aos começos da religião. é o Ichthys ou peixe estilizado (a palavra Ichthys significa peixe em grego, sendo também um acrónimo de Iesus Christus Theou Yicus Soter, "Jesus Cristo filho de Deus Salvador"), hoje sempre visto no protestantismo. Outros símbolos do Cristianismo primitivo, por vezes ainda utilizados, eram o Alfa e o Ómega (primeira e última letras do alfabeto grego, em referência ao facto de Cristo ser o princípio e o fim de todas as coisas), a âncora (representando a salvação da alma chegada ao bom porto) e o "Bom Pastor", a representação de Cristo como um pastor com as suas ovelhas. Calendário litúrgico e festividades Os Cristãos atribuem a determinado dias do calendário uma importância religiosa. Estes dias estão ligados à vida de Jesus Cristo ou à história dos primórdios do movimento Cristão. O calendário litúrgico Cristão inclui as seguintes festas:   

 

Advento: período constituído pelas quatro semanas antes do Natal, entendidas como época de preparação para a celebração do nascimento de Jesus Cristo; Natal: celebração do nascimento de Jesus; Epifania: para os Católicos, celebra a adoração de Jesus Cristo pelos Reis Magos, enquanto que para os Cristãos Ortodoxos o seu baptismo. Acontece doze dias após o Natal; Sexta-feira Santa: morte de Jesus; Domingo de Páscoa: ressurreição de Jesus;

Visita Pascal (Origem) - Santo Atanásio (séc. IV) recomendava o uso dos salmos 29 e 126 para a bênção duma casa nova. Na Idade Média abundavam as bênçãos para afastar o mal e atrair o bem. Na Alemanha estabeleceu-se este costume pela Epifania. A festa da Páscoa impôs-se ao Cristianismo no século XII. No ocidente europeu, de influência litúrgica romana, impôs-se a bênção das casas pela Páscoa, no contexto da Páscoa original no Egipto quando os Hebreus se libertaram do jugo do Faraó - o Anjo Exterminador poupou as casas dos Hebreus marcadas com o sangue do cordeiro (Êx. 12,13-14). A bênção das casas pela Páscoa foi consagrada por Paulo V, em 1614, estendido a toda a Igreja. A sua execução revestia características especiais conforme a diversidade dos lugares. E foi isso que aconteceu em Portugal sobretudo no Entre Douro e Minho. Daí nasceu a típica Visita Pascal do pároco, o célebre Compasso minhoto. Assim, pela Páscoa, o padre ia a casa dos seus fiéis, benzer a casa e levantar o folar. Também há documentos em Coimbra, de 1436, que se referem a tal prática).

 

Ascensão: ascensão de Jesus ao céu. Acontece quarenta dias após o Domingo de Páscoa; Pentecostes: celebração do aparecimento do Espírito Santo aos Cristãos. Ocorre cinquenta dias após o Domingo de Páscoa.

Alguns dias têm uma data fixa no calendário (como o Natal, celebrado a 25 de Dezembro), enquanto que outros se movem ao longo de várias datas. O período mais importante do calendário litúrgico é a Páscoa, que é uma festa móvel. Nem todas denominações Cristãs concordam em relação a que datas atribuir importância. Por exemplo, o Dia de Todos-osSantos é celebrado pela Igreja Católica e pela Igreja Anglicana a 1 de Novembro, enquanto que para a Igreja Ortodoxa a data é celebrada no primeiro Domingo depois do Pentecostes; outras denominações Cristãs não celebram sequer este dia. De igual forma, alguns grupos Cristãos recusam celebrar o Natal uma vez que consideram ter origens pagãs.

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O Cristianismo no mundo de hoje O Cristianismo é actualmente a religião com maior número de adeptos, seguida do Islão. Presente em todos os continentes, apresenta tendências de desenvolvimento diferente em cada um deles. No início do século XX, a maioria dos Cristãos estava concentrada na Europa; por volta da década de setenta do século XX, tinha diminuído consideravelmente o número de Cristãos na Europa, sendo actualmente a América Latina e África os dois centros mundiais do Cristianismo. O Cristianismo chegou ao continente americano com as conquistas espanholas e portuguesas do século XVI. Os primeiros missionários Católicos na América, preocupados com a conversão das populações, não se importaram com as culturas locais indígenas, que foram devastadas. No século XIX a independência dos países latino-americanos em relação a Espanha e Portugal, foi acompanhada de uma redução gradual da influência da Igreja Católica. Contudo, durante o século XX o catolicismo desempenhou um papel político na América Latina, detectável em movimentos como a Teologia da Libertação. Actualmente, o catolicismo perde terreno na América Latina a favor de movimentos Protestantes de carácter pentecostalista. Na África o Cristianismo tem raízes mais antigas. Antes do surgimento do Islão no século VII, o norte de África estava religiosamente integrado na esfera Cristã. O Islão e o Cristianismo tiveram dificuldades em penetrar completamente na África Negra. Foi, sobretudo no século XIX, com o estabelecimento de missões Protestantes (anglicanas e metodistas) em África, que o Cristianismo penetrou no continente. Na segunda metade do século XX seria a vez do catolicismo. Hoje em dia, o catolicismo é a denominação com maior número de adeptos na maioria dos países africanos, com uma população de mais de 150 milhões de pessoas. No continente africano também surgiram igrejas Cristãs independentes das tradições europeias, que misturam elementos do Cristianismo com elementos da cultura local, como o culto dos antepassados, a feitiçaria e a poligamia.

Os desvios do Catolicismo Ao Lermos o livro dos Actos, verificamos que os discípulos cumprindo determinações do Senhor Jesus Cristo ( Actos 01.18), de não se ausentarem de Jerusalém até que do alto fossem revestidos de poder, tiveram a magna experiência da descida do Espírito Santo, capacitando-os com o poder do alto (Actos 02. 01-13). A partir daquele momento, estava organizada a Igreja Cristã Primitiva, porque fizeram parte da mesma os apóstolos e todo o Cristianismo hoje existente. Essa Igreja originalmente pura, em termos doutrinários, mereceu elogios de Paulo (Romanos 01.08); todavia, como as demais, experimentou problemas doutrinários de várias ordens, basta-nos mencionar os grupos heréticos que já permeavam as Igrejas daquela época, que são OS GNÓSTICOS, OS NICOLAíTAS, OS JUDAISANTES, sem falar nos diversos grupos pagãos que "convertidos" exerceram forte influência sobre a Igreja e assim, aos poucos, a Igreja de Roma assimilou crenças alheias à Igreja Primitiva fundada por Jesus, admitindo no seu seio membros que não confessavam a conversão. A Igreja Católica que entretanto foi surgindo (um dos vários ramos - Igrejas - em que os Cristãos se foram dividindo), começou a ensinar a salvação através do baptismo, do baptismo infantil, etc..., chegando até mesmo a aceitar o pagão Imperador Constantino como seu chefe supremo, no ano de 313 D.C. e assim agora associada ao Estado, cheia do Poder Temporal, estabeleceu uma forte aliança, tendo como cabeça o Papa. Muitos estudiosos afirmam que a Igreja Católica pouco tem a ver com a Igreja Cristã Primitiva. A hierarquia romana passou a ser exercida através do bispo Anacreto, entre 154-165 D.C. A 23


partir daí, possuidora do poder político-temporal, começou a subjugar as demais Igrejas que a ela se submetiam. Porém, existiam Igrejas que não permitiam esse domínio, ou seja, não se curvaram diante da toda "Poderosa Igreja Romana", por isso veio uma tremenda perseguição. DATAS IMPORTANTES PARA A IGREJA CATÓLICA. Deve-se considerar que, ainda hoje, alguns acontecimentos históricos do Cristianismo são debatidos quanto à precisão de suas datas, ou seja, os subsídios cronológicos aqui expostos estão amparados por uma tolerância relevante para obtenção de dados fidedignos. 180 D.C. - A Igreja dispensou, como qualificação, para o baptismo, a conversão. 313 - Constantino (312-337), assina em Milão, o edito de tolerância, terminando a perseguição oficial do cristianismo, no Império Romano, ainda como príncipe regente. 323 - Constantino assume o poder e torna - se o primeiro imperador romano cristão. 325 - Concílio de Niceia; a Santíssima Trindade é oficializada por pressão de Constantino. 370 - Foi quando Basílio de Cesareia e Gregório de Nazianzo introduziram o culto aos santos. 380 - O Cristianismo torna-se oficialmente a religião do império. 395 - Teodósio fez a separação oficial do império romano entre o império ocidental (Latino) e império Grego (oriental), sendo Roma capital do ocidente e Constantinopla capital do oriente. 400 - É introduzida na Igreja , a oração pelos mortos e o sinal da cruz. 401 - Ano em que Maria foi proclamada a MÃE DE DEUS. 405 - As imagens dos santos Mátires são introduzidas e reverenciadas nos templos. Tradução da bíblia em latim por Gerónimo. 440 - O bispo Leão I é considerado pelos historiadores como sendo o primeiro Papa. 451 - Concílio de Calcedónia, Roma assume o primeiro lugar como sede do cristianismo e Constantinopla o segundo lugar início da ascensão do poder papal. 476 - Queda do império romano ocidental, sobre a liderança do Visigodo Oduacro Rei dos Herulos. 519 - Papa Felix III (ocidental) excomunga o Patriarca Acácio (oriental). 593 - Papa Gregório I (Magno ou Grande) teoriza a existência do Purgatório. 600 - O Papa Gregório I institui a Missa e o Latim como língua oficial nas Missas. 604- O Papa Gregório I destaca a doutrina do purgatório e da missa. 609 - Começa o papado com poder central. 632 - Morte de Maomé e a expansão do Maometismo, na época do Papa Onório. Maomé achava que os Judeus e os Cristãos se tinham afastado dos ensinamentos de Deus, contidos no Antido Testamento e nos Evangelhos. 758 - Entra no oriente com dogma a confissão de pecados, conhecida como confissão Auricular. 789 - Neste ano o concílio de Niceia II introduziu as imagens de escultura e relíquias religiosas. 819 - Ano da ascensão de Maria, isto é , Maria teria subido ao céu em forma corpórea. 880 - Ano da introdução da canonização. 998 - Por decreto papal é estabelecido o dia de finados. 1000 - É estabelecido o canon da Missa. 1074 - Ano que o Papa GregórioVII proíbe: casamento dos padres e o divórcio entre os casais. 1090 - Ano que Pedro o Eremita encaixa o rosário. 1095 - O Papa estabelece as indulgências, isto é, paga-se para ser perdoado. 1100 - O Papa decreta a missa paga. 1100 - O culto aos anjos. 1115 - A confissão auricular passa a ser artigo de fé. 1125 - Surge a ideia da Imaculada Conceição de Maria pelo cónegos de Lion. 1186 - Neste ano surgiu a maior aberração de toda História, a mal falada " Santa Inquisição", promovida pelo concílio de Verona na Itália. 1200 - Uso obrigatório do rosário, por São Domingos, chefe supremo da já denominada Santa Inquisição. 1215- Quarto concílio de Latrão, estabelecimento do dogma da transubstanciação (a hóstia e o vinho transformam-se no corpo e sangue de Cristo). 24


1220 - Surge a adoração à hóstia. 1229 - Realiza-se o concílio de Toloza e proíbem a leitura da Bíblia. 1264 - Foi implantado o Sagrado Coração de Jesus. 1303 - A Igreja Católica declara que somente nela há salvação. 1317 - O Papa João XXII ordena a oração da Avé Maria. 1414 - Ano em que ficou definido que a hóstia seria para o povo e a partir daí o vinho ficou restrito aos sacerdotes. 1439 - Ano que por decreto do Papa o dogma do purgatório (criado em 593 pelo Papa Gregório I) passa a ser artigo de fé. 1546 - O Papa mais uma vez deixa a sua Igreja mais distante de Deus, conferindo à tradição a mesma autoridade da Bíblia. 1547 - O concílio de Trento transforma em lei os setes sacramentos. 1562 - A missa é declarada propiciadora, ou seja, com o poder de perdoar. 1562 - O culto aos santos. 1563 - Volta a se reunir o concílio de Trento e confirma a doutrina do purgatório. 1573 - A Bíblia sofre outro ataque: são-lhe acrescentados os livros Deuterocanónicos ou apócrifos, os quais são Tobias, Judite, Macabeu I, Macabeu II, Sabedoria, Eclesiástico e Baruk. 1854 - Define-se o dogma da Imaculada Conceição de Maria. 1864 - Em concílio realizado no Vaticano faz-se a declaração da autoridade papal sobre toda Igreja. 1870 - O Papa torna-se infalível. 1950 - A Igreja transforma em artigo de fé a assunção de Maria.

Calendário Juliano e Gregoriano 1 - O CALENDÁRIO JULIANO foi introduzido por Júlio César, o qual recorreu a Sosígenes, astrónomo grego de Alexandria, no ano 46 A.C. para apresentar a reforma do calendário romano. Sosígenes baseou-se nos trabalhos de outro sábio, Eratóstenes, tendo concluído que o ano terrestre tinha 365 dias e 6 horas, pelo que era necessário acrescentar 1 dia de quatro em quatro anos, o que levou aos anos bissextos de 4 em 4 anos. A reforma apresentada por Sosígenes entrou em vigor no dia 1 de Janeiro de 45 A.C. e tal calendário passa a chamar-se de Juliano. A aplicação do calendário Juliano não foi imediata e no caso Português (mais propriamente, da chamada península hispânica ou ibérica) a adesão só foi feita no ano 38 A.C. 2 - Convém salientar que o ano de 365,25 dias do calendário juliano é cerca de 11 m 14 s mais longo do que o ano trópico. A acumulação desta diferença ao longo dos anos representa um dia em 128 anos e cerca de três dias em 400 anos. Sem entrar em detalhes relativamente ao ano trópico, convém dizer que é este que regula o retorno das estações e que intervém nos calendários solares. 3 - Por aquela época, tiveram lugar na Terra Santa os mistérios da Vida, Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, o advento do Cristianismo e a difusão desta doutrina. Tal ocorrência acabaria por ter bastante influência na evolução do calendário juliano: a fixação das regras para a determinação da data da Páscoa e a adopção oficial da semana no calendário romano. Os Cristãos da Ásia Menor celebravam a Páscoa Cristã no dia 14 da primeira Lua que começasse em Março, qualquer que fosse o dia da semana em que ocorresse essa data. Pelo contrário, os Cristãos do Ocidente celebravam-na no domingo seguinte a esse dia. Esta discrepância entre os Cristãos do Oriente e do Ocidente na comemoração de tão importante acontecimento, deu origem a sérias polémicas entre os altos dignitários das duas Igrejas. 4 - Desta questão se encarregou o Papa João I (outros afirmam o seu antecessor, o Papa Hormisdas em 520) provavelmente em 525, na época de Justiniano, que pediu ao monge 25


DIONÍSIO, o Pequeno ou o Exíguo, para que preparasse uma cronologia Cristã da história humana baseada na data da natividade de Cristo. Ou seja, era preciso determinar qual era o ano do nascimento de Cristo, segundo a data da fundação de Roma “ ab urbe condita” de Marcos Terêncio Varrão. E a partir daqui passa a ter importância a data do ano do nascimento de Cristo. Dionísio, O Exíguo, situou, então, o nascimento de Jesus a 25 de Dezembro do ano 753 da fundação de Roma. Desta forma, o ano 753 da fundação de Roma, tornou-se, no ano 1 antes de Cristo e o dia 1 de Janeiro do ano de 754 da fundação de Roma tornou-se no primeiro dia do ano 1 depois de Cristo, iniciando-se a partir daqui a era Cristã. Convencionou-se, desta forma, os anos antes de Cristo e os anos depois de Cristo. 5 - A ideia que se devia começar a contar os anos a partir da proposta de Dionísio revolucionou todo o calendário, mas o seu uso não foi imediato. Só se impôs de maneira gradual em França e na Inglaterra no Século VIII; na Germánia no Século IX. Em Roma, nos actos públicos aparece pela primeira vez em 968 no tempo do Papa João XIII e em Espanha até ao Século XIV. 6 - Em PORTUGAL só no dia 22 de Agosto de 1460 (era de César) é que o Rei D. João I, o de Boa Memória, passou a utilizar a Era de Cristo, por carta régia emitida de Óbidos “ … manda el-rei a todos os tabeliães e escrivães do seu reino e senhorio que daqui em diante em todos os contratos e escrituras que fizerem ponham Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, assim como antes punham Era de César. E isto lhes manda que façam sob pena de privação de ofícios. Assim, o corrente ano é o de 1460 pela Era de César e o de 1422 pela Era de Cristo”. Ora tal adopção levou, em termos históricos, à redatação ou à reformulação das datas subtraindo 38 anos. Ou seja, um documento emitido com uma data anterior a 22 de Agosto de 1460 da era de César, deveria e deve ser redatado para a Era de Cristo, com menos 38 anos. 7 - É o caso das actas das vereações de Loulé editadas pela Câmara Municipal de Loulé e referentes ao Século XIV, que foram coligidas e redatadas pelo historiador Humberto Baquero Moreno. 8 - Atrás, no ponto 2, referiu-se que o calendário juliano é cerca de 11 m 14 s mais longo do que o ano trópico. Desta forma, a introdução de mais um dia de 4 em 4 anos, nos anos bissextos, não resolveu a questão, uma vez que continuam a haver divergências entre o tempo real e o tempo do calendário, causando várias preocupações à Igreja durante toda a Idade Média, visto que tal atraso poderia dar origem a novas discrepâncias sobre a data da Páscoa. O problema foi tratado em vários Concílios e inclusivamente no Concílio de Trento (1545-1563) chegou a ser discutido um projecto de reforma o qual não pode ser concretizado apesar dos esforços do Papa Pio IV. 9 - Mas o sucessor do Papa Pio IV, o Papa Gregório XIII não deixou adormecer a ideia e em 1576 criou e encarregou uma Comissão de Sábios com a tarefa de apresentar uma reforma que resolvesse definitivamente aquele problema. 10 - Naquela Comissão teve papel preponderante o célebre padre jesuíta alemão e eminente matemático Cristóvão Clavius, que estudara matemática em Coimbra com Pedro Nunes. Aquela Comissão de sábios liderada por Clávius verificou que o atraso do calendário com o tempo real era de 10 dias, pelo que tinham que ser suprimidos 10 dias ao calendário. O novo calendário entrou em vigor no dia 1 de Janeiro de 1582, sendo que, definitivamente, foi proclamado que o ano começava a 1 de Janeiro. A Comissão propôs que nesse ano, para se determinar correctamente a data da Páscoa, o Equinócio da Primavera ocorresse a 11 de Março em vez do dia 21. Os 10 dias em causa foram sacrificados no mês de Outubro. Assim, ao dia 4 de Outubro, 5ª Feira, seguiu-se o dia 15, 6ª Feira. 26


11 - Desta forma, com a supressão dos 10 dias, o Equinócio da Primavera regressou a 21 de Março, nos anos seguintes. Para evitar no futuro a repetição da diferença, foi estabelecido que os anos seculares de terminação em duplo zero (1600, 1700, 1800, 1900, 2000, etc.), só seriam bissextos se fossem divisíveis por 400. Foi o que aconteceu nos anos de 1600 e 2000. 12 - Resta dizer que Portugal, Espanha e Itália foram os únicos países que aceitaram de imediato a reforma do calendário. Qual foi o erro da Era Cristã? Nossa era erra quando por volta do ano 520 o Papa Hormisdas (antecessor do Papa João I que outros afirmam ter sido João I que tomou esta iniciativa em 525) decidiu estabelecer, como primeiro ano da Era Cristã, o ano do nascimento de Jesus. Ele encarregou Dionísio o Exíguo, assim chamado por ser de pequena estatura, de fazê-lo. E o pequeno Dionísio calculou mal. Ele deduziu que Jesus nascera no ano 753 da fundação de Roma, quando na verdade isto se deu em 748. Pelo actual calendário o Rei Herodes aquele que os Reis Magos visitaram e que desejava matar Jesus teria morrido quatro anos antes de Jesus nascer! Há muitos estudos históricos e astronómicos sobre isso. Em resumo: se quiser saber há quantos anos Jesus nasceu, agregue cinco anos aos dois mil e tantos de seu calendário. A Igreja não sabe se o Natal é no dia 25 de Dezembro? Não, ela não sabe. Nem se é no dia 24. O Evangelho de Lucas informa: o nascimento de Jesus ocorreu em Belém de Judá, terra do Rei David (Lc 2,4-7). Diz onde, mas não diz quando. Muito cedo, os Cristãos buscaram um dia para festejar o nascimento de Jesus. Era um aniversário que merecia uma festa. Cada comunidade eclesial o festejava numa data, segundo suas tradições. Na tentativa de unificar a celebração do Natal, no início do século IV, a Igreja Católica já havia fixado o dia 25 de Dezembro para festejar o nascimento de Jesus. A Igreja Católica não afirma, nem nunca afirmou, que Jesus nasceu nesse dia. Ela apenas fixou um dia para que os Cristãos, na unidade, celebrassem o nascimento de Jesus. A data pegou. Documentos indicam essa data já sendo festejada em Roma no ano 336. Os antigos ignoravam que existisse uma parte da Terra onde houvesse o Verão enquanto os europeus e asiáticos viviam o Inverno. Julgavam que o Solstício de Inverno marcava a época da mais longa noite para a Terra inteira. Em seus mitos solares, faziam nascer o deus Sol no Solstício de Inverno, no momento em que os dias começavam a crescer. A sua juventude era no Equinócio da Primavera. No Solstício de Verão raiava em todo o esplendor da sua força, e depois do Equinócio de Outono, na regressão da sua idade, envolvia-se num escuro invasor. Entre os povos do Oriente, o Sol nascente era representado por um menino no colo de uma Virgem celeste, sua mãe. Os egípcios, em especial, celebravam todos os anos, no Solstício de Inverno, o nascimento do pequeno Horus, filho da virgem Isis, e sua imagem era exposta, num presépio à adoração do povo. A grande imperfeição do velho calendário romano, chamado de Numa, apesar das intercalações periódicas, feitas pelos padres, de um mês completo de tamanho variável, no tempo de Júlio César o ano estava atraso mais de 60 dias da época em que devia ter início. O ditador chamou o astrónomo alexandrino Sosígenes para refazer a diferença. Para este a duração do giro da Terra em volta do Sol era de 365 dias e 6 horas, dando então origem ao ano de 365 dias com a reserva de 6 horas excedentes para formar um tricentésimo sexagésimo sexto dia a juntar cada 4 anos. Propunha ainda o começo do ano no Solstício de 27


Inverno. Mas César, para não chocar os demais habitantes romanos, preferiu que o 1 de Janeiro do ano da reforma Juliana fosse colocado não no Solstício mesmo mas no dia da Lua nova imediata. Ora, nesse ano, a Lua recaía 8 dias depois do Solstício de Inverno. Isso deu resultado a que, no calendário Juliano, o Solstício correspondesse não ao 1 de Janeiro, mas a 25 de Dezembro. O dia 25 de Dezembro tornou-se, então, no novo calendário imposto ao império romano, como data oficial da festa que celebrava por toda a parte o nascimento do Sol, de Horus egípcio, do Mirtha persa, do Phebo grego e romano, etc. A Igreja ao sentar-se no trono imperial com Constantino, cerca de um século após a época de Júlio César, aproveitou a festa do Solstício de Inverno, do menino Horus nos braços da Virgem Isis para transformá-lo em festa do Natal, que se comemora até aos nossos dias das formas mais extravagantes, possíveis e imagináveis. "

Natal em 25 de Dezembro Como mencionado, nem sempre o dia 25 de Dezembro foi dia de Natal. A origem da celebração deste dia é muito antiga mas a filiação mais directa provêm, como tantas outras coisas, dos Romanos. Estes celebraram durante muito tempo uma festa dedicada ao deus Saturno que durava cerca de quatro dias ou mais. Nesse período ninguém trabalhava, ofereciam-se presentes, visitavam-se os amigos e, inclusivamente, os escravos recebiam permissão temporária para fazer tudo o que lhes agradasse, sendo servidos pelos amos. Era também coroado um rei que fazia o papel de Saturno. Esta festa era chamada Saturnália e realizava-se no Solstício de Inverno. O Solstício de Inverno (dia mais pequeno do ano no hemisfério Norte), era uma data muito importante para as economias agrícolas – e os Romanos eram um povo de agricultores. Faziase tudo para agradar os deuses e pedir-lhes que o Inverno fosse brando e o sol retornasse ressuscitado no início da Primavera. Como Saturno estava relacionado com a agricultura é fácil perceber a associação do culto do deus ao culto solar. Mas outros cultos existiam também, como é o caso do deus Apolo, considerado como "Sol invicto", ou ainda de Mitra, adorado como Deus-Sol, a luz protectora do Império. Este último, muito popular entre o exército romano, era celebrado nos dias 24 e 25 de Dezembro data que, segundo a lenda, correspondia ao nascimento da divindade. Em 273 o Imperador Aureliano estabeleceu o dia do nascimento do Sol em 25 de Dezembro: Natalis Solis Invicti (nascimento do Sol invencível). Uma luz e um Deus que os romanos importaram da Pérsia e contaminou o Cristianismo. Para além de ter " emprestado " a Jesus , o dia de nascimento, deu também nome ao mais importante símbolo papal: a Mitra. As festividades de Inverno eram já comuns na Europa antes da celebração do Natal a 25 de Dezembro se ter imposto no mundo Cristão. Muito antes do nascimento de Jesus, já as populações pagãs, nomeadamente as de origem Celta, celebravam a chegada da luz e dos dias mais longos que anunciavam o fim do Inverno. Esta era uma festividade sem data fixa, celebrada em diferentes dias, em diferentes regiões. No século IV D.C., o Papa Julius I fez história ao instituir o dia 25 de Dezembro como data para as celebrações praticadas por esses adoradores do Sol que, nessa altura do ano, prestavam culto à fecundidade da Mãe-natureza. Substituíam-se, assim, os rituais pagãos do Solstício de Inverno por uma festa Cristã: o nascimento de Jesus. O facto de esta data coincidir com a Saturnália dos romanos e com as festas germânicas e célticas do Solstício de Inverno, sendo todas estas festividades pagãs, a Igreja viu aqui uma 28


oportunidade de cristianizar a data, colocando em segundo plano a sua conotação pagã. Algumas zonas optaram por festejar o acontecimento em 6 de Janeiro, contudo, gradualmente esta data foi sendo associada à chegada dos Reis Magos e não ao nascimento de Jesus. No ano de 1752, quando os Cristãos abandonaram o calendário Juliano para adoptar o Gregoriano, a data da celebração do Natal foi antecipada 11 dias, caindo em 25 de Dezembro. No entanto alguns sectores da Igreja Católica, os chamados “calendaristas”, ainda hoje festejam o Natal na sua data original, que actualmente corresponde ao dia 7 de Janeiro. É somente durante o século IV que o nascimento de Cristo começa a ser celebrado pelos Cristãos, mas no dia 6 de Janeiro, com a Epifania. Até aí, a festa principal dos primeiros critãos era a Páscoa. (A Epifania do Senhor é uma festa religiosa Cristã que celebrava-se no dia 6 de Janeiro, ou seja, doze dias após o Natal, porém, a partir da reforma do calendário litúrgico em 1969 passou a ser comemorada 2 domingos após o Natal. A Epifania representa quando o filho do Criador dá-se a conhecer ao Mundo, perante os magos do oriente, como está relatado em Mateus 2, 1-12).

Quando, em 313, Constantino se converte e oficializa o Cristianismo a Igreja Romana procura uma base de apoio ampla, procurando confundir diversos cultos pagãos com os seus. Desistindo de competir com a Saturnália, deslocou um pouco a sua festa e absorveu o festejo pagão do nascimento do Sol transformando-o na celebração do nascimento de Cristo. O Papa Gregório XIII fez o resto: é mais fácil mudar o calendário do que mudar a apetência do povo pelas festas...

Pai Natal (também chamado St. Nicholas, St. Nick ou Santa Claus) A figura do Pai Natal, importante em qualquer celebração de Natal, tem uma origem bastante antiga. Nos países nórdicos era habitual, durante a quadra natalícia, alguém vestir-se com peles e representar o "Inverno". Essa figura visitava as casas e ofereciam-lhe bebidas e comidas, pois acreditavam que se o tratassem bem a sorte iria abençoar a casa. Mais tarde, segundo a tradição, o Pai Natal, velhote, boémio, alegre e robusto, foi associado à figura de São Nicolau que foi um bispo da Ásia Menor do século IV. Este bispo turco teve um percurso característico, tendo ajudado os pobres e as crianças, oferecendo-lhes presentes e dinheiro. A sua generosidade deu origem à lenda segundo a qual ele visitaria a casa das crianças no dia 6 de Dezembro para lhes deixar presentes. Uma das pessoas que ajudaram a dar força à lenda do Pai Natal foi Clemente C. Moore, um professor de literatura grega em Nova Iorque que lançou o poema “Uma visita de São Nicolau” em 1822, escrita para seus seis filhos. Nesse poema, Moore divulgava a versão de que ele viajava num trenó puxado por renas. Antigamente, ele usava cores que tendiam mais para o castanho e costumava usar uma coroa de azevinhos na cabeça, mas não havia um padrão. O actual visual foi obra do cartoonista Thomas Nast, na revista Harper´s Weeklys, em 1886 numa edição especial de Natal. É amplamente divulgado pela internet e por outros meios que a Coca-Cola seria a responsável pelo actual visual do Pai Natal (roupas vermelhas com detalhes em branco e cinto preto), porém isso é totalmente infundado e trata-se de mera coincidência, visto que o Pai Natal já havia aparecido assim na própria obra de Thomas Nast e em outras propagandas da Colgate, RCA Victor, Michelin muito antes de aparecer em campanhas da Coca-Cola.

Árvore de Natal A Árvore de natal é um pinheiro ou abeto, enfeitado e iluminado, especialmente nas casas particulares, na noite de Natal. A tradição da árvore de Natal tem raízes muito mais longínquas do que o próprio Natal. Os romanos enfeitavam árvores em honra de Saturno, deus da agricultura, mais ou menos na mesma época em que hoje preparamos a árvore de Natal. Os 29


egípcios traziam galhos verdes de palmeiras para dentro de suas casa no dia mais curto do ano (que é em Dezembro), como símbolo de triunfo da vida sobre a morte. Nas culturas celtas, os druidas tinham o costume de decorar velhos carvalhos com maçãs douradas para festividades também celebradas na mesma época do ano. PORQUE É QUE A IGREJA ESTABELECEU FESTAS MÓVEIS? Todas as festas da Igreja que tem como ponto de referência a Páscoa, são denominadas festas móveis porque baseadas no calendário lunar (judaico) e adaptadas ao nosso calendário (gregoriano). Comecemos relembrando, em resumo, o significado da Páscoa Judaica e da Páscoa Cristã: PASCOA JUDAICA (breve resumo) - No Antigo Testamento, sabemos que Moisés, sob a guia divina, tornou-se chefe do povo oprimido que encontrava-se sob o jugo dos egípcios, adversários do povo eleito, sob o comando do Faraó que usava de seus poderes terrenos para contrariar os planos divinos. Deus manifesta seu poder através de Moisés, mediante diversos sinais e castigos, mas o coração endurecido do Faraó não acena com nenhum sinal de arrependimento. Durante a libertação do povo guiado por Moisés, Deus institui a celebração da Páscoa através de Moisés e Aarão, mandando dizer a toda a assembleia de Israel que tomasse um cordeiro que deveria ser imolado em data determinada, devendo seu sangue ser tomado, posto sobre as duas ombreiras e sobre a verga da porta da casa. Deus disse ainda que naquela noite passaria através do Egipto para exercer sua justiça, ferindo de morte os filhos primogénitos dos Egípcios, mas que passaria adiante das casas marcadas com o sangue do cordeiro. E Deus mandou seu Anjo, e assim foi feito. "Conservareis a memória daquele dia, celebrando-o como uma festa em honra do Senhor: Fareis isto de geração em geração, pois é uma instituição perpétua" (Ex 12, 14). Desta forma ficou instituída a festa da Páscoa, comemorada até os dias actuais pelo povo judeu. O extermínio dos filhos dos egípcios testemunha que o povo eleito, libertado, terá que viver daí em diante, no temor de Deus e reconhecido o seu grande benfeitor. (Veja tudo sobre a instituição da Páscoa no Livro do Êxodo, Cap. 12). PÁSCOA CRISTÃ (breve resumo) - A instituição da Páscoa Cristã encontra-se na imolação de Cristo. Enquanto na primeira festa de Páscoa Deus liberta o povo da escravidão e proclama a sua Aliança com o povo de Israel, na segunda, o próprio Deus torna-se o Cordeiro Imolado para libertar o povo do jugo do pecado e do demónio. Desta vez, o Sangue de Jesus, do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, definitivamente liberta toda a humanidade com sua Paixão, Morte e Ressurreição. "Purificai-vos do velho fermento, para que sejais massa nova, porque sois pães ázimos, porquanto Cristo, nossa Páscoa, foi imolado". (I Cor 5, 7.) Recordando: Memorizados os aspectos centrais da Páscoa Judaica e da Páscoa Cristã, recordemos que Jesus veio ao mundo em cumprimento das Escrituras e por Seu desígnio foi crucificado justamente no dia da preparação da festa da Páscoa, para que, a partir de sua Paixão, Morte e Ressurreição fosse instituída a Nova Aliança. Para que fosse instituída a grande e solene Páscoa, como num reflexo pleno da primeira festa de Páscoa. Concluindo: Como a festa da Páscoa Judaica, coincide exactamente com o dia da imolação de Cristo, estabeleceu-se já naquele momento, por desígnio de Deus, o dia 14 de Nisã (do calendário judaico ou hebraico), como data de referência à comemoração da Páscoa Cristã. (Encontro da Primeira com a Segunda Aliança). 30


Assim, a Páscoa judaica é sempre celebrada na 1ª. lua cheia da primavera do hemisfério norte, na noite de 14 para 15 de Nisã. A Páscoa Cristã ficou fixada como o 1º Domingo posterior à referida 1ª lua cheia, ou seja, no primeiro domingo após a comemoração da Páscoa dos Judeus. Como o calendário judaico é baseado nos ciclos da lua, explica-se os motivos da variação em nosso calendário, que é solar e por isso, para nós, o Domingo de Páscoa varia entre 22 de Março e 25 de Abril. Fixado, assim, a festa da Páscoa para determinado ano, todas as outras festas também se movem desde a septuagésima até Corpus Christi, conforme a tabela do início deste artigo. Em síntese: É usado como referência não o nosso calendário, mas sim o judaico. Fixada a data da Páscoa pelo calendário judaico, adaptamos tal data ao nosso para que a partir daí, possamos estabelecer as datas, desde a septuagésima até Corpus Christi, conforme da grade abaixo. Estabelecido o dia da Páscoa, aí sim, todas as outras festas móveis o acompanham. O Carnaval apesar de ser uma festa pagã, também se move com o calendário eclesiástico e é sempre comemorado sete Domingos antes do Domingo de Páscoa. As festas são permitidas até a quarta-feira de cinzas, quando inicia-se a Quaresma, tempo de 40 dias de jejum e abstinência em preparação à festa da Páscoa, ou seja, data que celebramos a Ressurreição de Cristo. Festas Móveis - Têm por referência a Páscoa e são as seguintes: Septuagésima - 65 dias antes da Páscoa Quinquagésima - 49 dias antes da Páscoa Cinzas - Do último dia da Quinquagésima, conta-se a primeira 4ª. Feira seguinte Domingo da Paixão - (Hoje o 5º Domingo da Quaresma) - 14 dias antes da Páscoa (Domingo que antecede Ramos) Ramos - É o Domingo que antecede o Domingo de Páscoa, portanto, 7 dias antes. Ascensão - 40 dias depois da Páscoa (Caindo o 40.º dia em dia de semana, comemora-se no Domingo seguinte) Pentecostes - 50 dias depois da Páscoa (Ou o 1.º Domingo após o Domingo da Ascensão) SS. Trindade - 57 dias depois da Páscoa (1º. Domingo após Pentecostes) Corpus Christi - Quinta-feira seguinte, após a comemoração da festa da SS. Trindade

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2 – Dogmas da Igreja Católica A Igreja Católica tem 43 Dogmas que, para os seus fiéis, são verdades de fé; são eles, segundo a Wikipédia: 1 - A Existência de Deus. "A ideia de Deus não é inata em nós, mas temos a capacidade para conhecê-Lo com facilidade, e de certo modo espontaneamente por meio de Sua obra". 2 - A Existência de Deus como Objeto de Fé. "A existência de Deus não é apenas objeto do conhecimento da razão natural, mas também é objeto da fé sobrenatural ". 3 - A Unidade de Deus. "Não existe mais que um único Deus ". 4 - Deus é Eterno. "Deus não tem princípio nem fim". 5 - Santíssima Trindade. "Em Deus há três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo; e cada uma delas possui a essência divina que é numericamente a mesma ". 6 - Jesus Cristo é verdadeiro Deus e filho de Deus por essência. "O dogma diz que Jesus Cristo possui a infinita natureza divina com todas suas infinitas perfeições, por haver sido engendrado eternamente por Deus". 7 - Jesus possui duas naturezas que não se transformam nem se misturam. "Cristo é possuidor de uma íntegra natureza divina e de uma íntegra natureza humana: a prova está nos milagres e no padecimento". 8 - Cada uma das naturezas em Cristo possui uma própria vontade física e uma própria operação física. "Existem também duas vontades físicas e duas operações físicas de modo indivisível, de modo que não seja conversível, de modo inseparável e de modo não confuso". 9 - Jesus Cristo, ainda que homem, é Filho natural de Deus. "O Pai celestial quando chegou a plenitude, enviou aos homens seu Filho, Jesus Cristo". 10 - Cristo imolou-se a si mesmo na cruz como verdadeiro e próprio sacrifício. "Cristo, por sua natureza humana, era ao mesmo tempo sacerdote e oferenda, mas por sua natureza Divina, juntamente com o Pai e o Espírito Santo, era o que recebia o sacrifício". 11 - Cristo nos resgatou e reconciliou com Deus por meio do sacrifício de sua morte na cruz. "Jesus Cristo quis oferecer-se a si mesmo a Deus Pai, como sacrifício apresentado sobre a ara da cruz em sua morte, para conseguir para eles o eterno perdão". 12 - Ao terceiro dia depos de sua morte, Cristo ressuscitou glorioso dentre os mortos. "ao terceiro dia, ressuscitado por sua própria virtude, se levantou do sepulcro". 13 - Cristo subiu em corpo e alma aos céus e está sentado à direita de Deus Pai. "ressuscitou dentre os mortos e subiu ao céu em Corpo e Alma". 14 - Tudo o que existe foi criado por Deus a partir do nada. "A criação do mundo do nada, não apenas é uma verdade fundamental da revelação Cristã, mas também que ao mesmo tempo chega a alcançá-la a razão com apenas suas forças naturais, baseando-se nos argumentos cosmológicos e sobretudo na argumento da contingência". 15 - Caráter temporal do mundo. "O mundo teve princípio no tempo ". 16 - Conservação do mundo. "Deus conserva na existência a todas as coisas criadas ". 17 - O homem é formado por corpo material e alma espiritual. "a humana como comum constituída de corpo e alma". 18 - O pecado de Adão se propaga a todos seus descendentes por geração, não por imitação. "Pecado, que é morte da alma, se propaga de Adão a todos seus descendentes por geração e não por imitação, e que é inerente a cada indivíduo". 19 - O homem caído não pode redimir-se a si próprio. 32


"Somente um acto livre por parte do amor divino poderia restaurar a ordem sobrenatural, destruída pelo pecado". 20 - A Imaculada Conceição de Maria. "A Santíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, foi por singular graça e privilégio de Deus omnipotente em previsão dos méritos de Cristo Jesus, Salvador do género humano, preservada imune de toda mancha de culpa original". 21- Maria, Mãe de Deus. "Maria gerara a Cristo segundo a natureza humana, mas quem dela nasce, ou seja, o sujeito nascido não tem uma natureza humana, mas sim o suposto divino que a sustenta, ou seja, o Verbo. Daí que o Filho de Maria é propriamente o Verbo que subsiste na natureza humana; então Maria é verdadeira Mãe de Deus, posto que o Verbo é Deus. Cristo: Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem". 22 - A Assunção de Maria. "A Virgem Maria foi assumpta ao céu imediatamente depois que acabou sua vida terrena; seu Corpo não sofreu nenhuma corrupção como sucederá com todos os homens que ressuscitarão até o final dos tempos, passando pela descomposição". 23 - A Igreja foi fundada pelo Deus e Homem, Jesus Cristo. "Cristo fundou a Igreja, que Ele estabeleceu os fundamentos substanciais da mesma, no tocante a doutrina, culto e constituição". 24 - Cristo constituiu o Apóstolo São Pedro como primeiro entre os Apóstolos e como cabeça visível de toda Igreja, conferindo-lhe imediata e pessoalmente o primado da jurisdição. "O Romano Pontífice é o sucessor do bem-aventurado Pedro e tem o primado sobre todo rebanho". 25 - O Papa possui o pleno e supremo poder de jurisdição sobre toda Igreja, não somente em coisas de fé e costumes, mas também na disciplina e governo da Igreja. "Conforme esta declaração, o poder do Papa é: de jurisdição, universal, supremo, pleno, ordinário, episcopal, imediato". 26 - O Papa é infalível sempre que se pronuncia ex-cátedra (Deliberar e definir ex cathedra significa que o Papa, com a sua suprema autoridade (primazia papal), tem que falar como o Pastor da Igreja Universal e também tem que ter a intenção de definir alguma doutrina de fé ou costume para que seja acreditada por todos os fiéis. Neste caso, as encíclicas e a grande maioria dos documentos pontificais não são definições ex catedra, mas apenas orientações do Papa).

"Para compreender este dogma, convém ter na lembrança: Sujeito da infalibilidade papal é todo o Papa legítimo, em sua qualidade de sucessor de Pedro e não outras pessoas ou organismos (ex.: congregações pontificais) a quem o Papa confere parte de sua autoridade magistral. O objeto da infalibilidade são as verdades de fé e costumes, reveladas ou em íntima conexão com a revelação divina. A condição da infalibilidade é que o Papa fale ex-cátedra: - Que fale como pastor e mestre de todos os fiéis fazendo uso de sua suprema autoridade. - Que tenha a intenção de definir alguma doutrina de fé ou costume para que seja acreditada por todos os fiéis. As encíclicas pontificais não são definições ex-cátedra. A razão da infalibilidade é a assistência sobrenatural do Espírito Santo, que preserva o supremo mestre da Igreja de todo erro. A consequência da infalibilidade é que a definição ex-cátedra dos Papas sejam por si mesmas irreformáveis, sem a intervenção ulterior de qualquer autoridade." 27- A Igreja é infalível quando faz definição em matéria de fé e costumes. "Estão sujeitos à infalibilidade: - O Papa, quando fala ex-cátedra - O episcopado pleno, com o Papa cabeça do episcopado, é infalível quando reunidoem concílio universal ou disperso pelo rebanho da terra, ensina e promove uma verdade de fé ou de costumes para que todos os fiéis a sustentem". 28 - O Baptismo é verdadeiro Sacramento instituído por Jesus Cristo. "Foi dado todo poder no céu e na terra; ide então e ensinai todas as pessoas, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". 29 - A Confirmação é verdadeiro e próprio Sacramento. "Este Sacramento concede aos batizados a fortaleza do Espírito Santo para que se consolidem interiormente em sua vida sobrenatural e confessem exteriormente com valentia sua fé em Jesus Cristo". 33


30 - A Igreja recebeu de Cristo o poder de perdoar os pecados cometidos após o Baptismo. "Foi comunicada aos Apóstolos e a seus legítimos sucessores o poder de perdoar e de reter os pecados para reconciliar aos fiéis caídos depois do Baptismo". 31 - A Confissão Sacramental dos pecados está prescrita por Direito Divino e é necessária para a salvação. "Basta indicar a culpa da consciência apenas aos sacerdotes mediante confissão secreta". 32 - A Eucaristia é verdadeiro Sacramento instituído por Cristo. "Aquele que come Minha Carne e bebe Meu Sangue tem a vida eterna". 33 - Cristo está presente no sacramento do altar pela Transubstanciação de toda a substância do pão em seu corpo e toda substância do vinho em seu sangue. "Transubstanciação é uma conversão no sentido passivo; é o trânsito de uma coisa a outra. Cessam as substâncias de Pão e Vinho, pois sucedem em seus lugares o Corpo e o Sangue de Cristo. A Transubstanciação é uma conversão milagrosa e singular diferente das conversões naturais, porque não apenas a matéria como também a forma do pão e do vinho são convertidas; apenas os acidentes permanecem sem mudar: continuamos vendo o pão e o vinho, mas substancialmente já não o são, porque neles está realmente o Corpo, o Sangue, Alma e Divindade de Cristo". 34 - A Unção dos enfermos é verdadeiro e próprio Sacramento instituído por Cristo. "Existe algum enfermo entre nós? Façamos a unção do mesmo em nome do Senhor". 35 - A Ordem é verdadeiro e próprio Sacramento instituído por Cristo. "Existe uma hierarquia instituída por ordenação Divina, que consta de Bispos, Presbíteros e Diáconos". 36 - O matrimónio é verdadeiro e próprio Sacramento. "Cristo restaurou o matrimónio instituído e bendito por Deus, fazendo que recobrasse seu primitivo ideal da unidade e indissolubilidade e elevando-o a dignidade de Sacramento". 37- A Morte e sua origem. "A morte, na actual ordem de salvação, é consequência primitiva do pecado". 38 - O Céu (Paraíso). "As almas dos justos que no instante da morte se acham livres de toda culpa e pena de pecado entram no céu". 39 - (o autor não encontrou os restantes até à 43).

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3 - Maria, mãe de Deus? Nestório, Bispo Patriarca de Constantinopla, ensinava que Jesus Cristo tinha a pessoa humana e a divina, e que Maria era mãe só da pessoa humana de Jesus (“Cristotokos”). Essa sua tese foi condenada pelo Concílio de Éfeso (431), para o qual Jesus Cristo só tinha a pessoa divina, e que, portanto, Maria era Mãe de Deus (“Teotokos”). E a Igreja criou a oração “Santa Maria, Mãe de Deus...” Já Eutiques, um abade sábio de Constantinopla, liderava um grupo de teólogos, que ensinavam o Monofisismo, ou seja, a doutrina de que Jesus Cristo tinha uma só natureza, a divina, em detrimento, pois, da humanidade do Mestre. Essa doutrina foi condenada pelo Concílio de Calcedónia (451), que instituiu haver em Jesus Cristo duas naturezas: uma divina e outra humana. Essas polémicas desses Concílios Ecuménicos de Éfeso (431) e Calcedónia (451), que culminaram com a decretação do dogma de que “Maria é Mãe de Deus” (“Teotókos”), são consequências do da divinização de Jesus, proclamada pelo Concílio Ecuménico de Niceia (325), convocado e controlado pelo Imperador Constantino. Para explicarem que Maria é Mãe de Deus, os teólogos criaram comparações sofísticas, as quais não resistem a uma análise mais criteriosa. E eis uma delas: A mãe de um jovem tornase mãe de um médico, depois que esse jovem se forma em medicina. E, assim, também, Maria se tornou Mãe de Deus, depois que Cristo se encarnou como sendo Filho dela. Acontece que a mãe do jovem, que se torna médico, já era mãe dele, antes de ele ser médico. Mas Maria não era Mãe de Cristo, antes de Ele se encarnar no homem Jesus, pois espírito não pode ter mãe biológica. Ademais, Jesus só foi considerado mesmo Deus no Concílio de Niceia (325). E o facto de o Cristo encarnado Nele ser da mesma substância (“Omoio Ousios”) ou natureza de Deus não importa, pois que nós, em espírito, o somos também. ADORAÇÃO – o velho testamento faz significativas referências a uma entidade feminina {Semiramis}, como rainha do céu segundo a concepção pagã – ler Jeremias 07.18 – " Quem é esta rainha do céu? Semiramis, Astarte, Astorete, Isis, Isthar, Afrodite, Vénus, Diana, etc... . A imagem dessa última está em Efésios com a sua coroa de torres na cabeça, representava esta mesma mulher, e era adorada como deusa. MARIOLOGIA - Estudo sistemático sobre Maria, genitora de Jesus. Este estudo é desenvolvido principalmente pela Igreja Católica. Seu objectivo básico, no romanismo, é a divinização de Maria. MARIOLATRIA - Literalmente culto a Maria. ASSUNÇÃO DE MARIA- dogma romano formalizado em 1950 pelo Papa PIO XII. Segundo esta doutrina, a mãe de Jesus não morreu, ela foi arrebatada em corpo e alma, datado de primeiro de Novembro de 1950. CULTO A MARIA (JEREMIAS 07.18) - Esse título honorífico de "deusa" romana até Outubro de 1954 estava faltando, porém nesta data o mesmo foi inserido para coroar o ano do centenário da proclamação do dogma da Imaculada Conceição, o Papa Pio XII instituiu a festa de coroação de Maria como rainha do céu para ser celebrada no dia 31 de Maio, chamado o mês de Maria na carta encíclica. O sumo pontífice declara que desde o início o povo tem levado orações, súplicas e hinos de louvor e adoração à rainha do céu. O referido Papa, por ocasião da coroação solene de uma imagem da Virgem, no dia primeiro de Novembro de 1954 salientou que o seu desígnio era que o mundo buscasse remédio, alívio para suas angústias e orientações para as suas vidas. O facto de Maria receber todo o culto que antigamente era atribuído a Semiramis e a deusas correlatas, revela a força da maternidade, então nada melhor do que um símbolo de uma mulher para representar tal poder. O culto à Maria é o culto da virgem mãe filiado ao Paganismo corrente como um seguro a este, vindo das religiões antigas. Prende-se muito ao culto da dulia e hiperdulia, de virgem e de mãe, o seu protótipo, como mãe 35


a temos em Cibele ou Rhea esposa de Saturno, filha do céu e da terra, a mãe dos deuses, a boa deusa, a rainha do céu mitologicamente representada pela própria Cibele. Eles criam que a perpétua virgindade manteria o fogo sagrado aceso. Embora Roma Papal não dê a Maria o título de deusa como fazia Roma Imperial, Maria no entanto tem sido a divindade mais invocada, amada, adorada, mais que o próprio Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Muitos papas têm reconhecido em Maria poderes como omnipresença e omnisciência; temos como exemplo o Papa Gregório XVI que em 1841, ensinou que a virgem visitava o purgatório todos os Sábados, para livrar dele algumas almas. Na certeza de que a luz do santo Evangelho brilhe nos corações dos Católicos é que colocamos matérias esclarecedoras e verdadeiras sobre a religião Católica, que tem levado muitos a adorações e práticas não concordantes com o espírito dos ensinamentos de Jesus e se dizendo religião Cristã acaba iludindo a muitos. Sabemos que assim, de Cristã, a Religião Católica, acaba por ter pouco e o objectivo desta informação, é alertar os adeptos dessa religião para que saiam do engano e se convertam ao Único e Verdadeiro DEUS.

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4 – Datas de acontecimentos Deve-se considerar que, ainda hoje, alguns acontecimentos históricos do Cristianismo são debatidos quanto à precisão de suas datas, ou seja, os subsídios cronológicos aqui expostos estão amparados por uma tolerância relevante para obtenção de dados fidedignos. 4 A.C. Nascimento do Messias em Belém. 30 D.C. Crucificação, morte e ressurreição de Jesus Cristo em Jerusalém. 70 D.C. Jerusalém é devastada pelo Império Romano. Os Cristãos de Jerusalém são dispersos pelo mundo. 110 D.C. Os pais da igreja se tornam pessoas importantes na defesa da fé e na propagação do evangelho. 156 D.C. Surge o termo “Igreja Católica”. 160 D.C. Márcion tenta introduzir o gnosticismo*, considerado posteriormente, um movimento herético. 180 D.C. Nascimento de Sabélio, um dos expoentes da heresia modalista* que negava a Trindade e ensinava as várias manifestações de Deus. 218 D.C. Surge o ensinamento de Pedro ter sido o primeiro Papa. 312 D.C. Início da adoração aos santos. 313 D.C. O Imperador Constantino concede liberdade religiosa; Eusébio consegue a permissão do imperador para confeccionar 50 bíblias. 325 D.C. Concílio de Niceia: primeiro encontro Ecuménico do Cristianismo. Condenou o Arianismo e promulgou o Credo conhecido como Símbolo de Niceia. 367 D.C. Concílio de Hipo: ratificação dos 66 livros da Bíblia Sagrada. Daqui para frente, devido à influência do Estado e, principalmente, à intervenção do Imperador Teodósio, sucessor de Constantino, o Cristianismo começaria a deteriorar até tornar-se catolicismo. 386 D.C. No século IV, São Jerónimo prepara a tradução latina da Bíblia – a Vulgata. 400 D.C. Maria passa a ser considerada “mãe de Deus” e os Católicos começam a interceder pelos mortos. 431 D.C. Instituição do culto à Maria no concílio de Éfeso. 451 D.C. Surge a doutrina da virgindade perpétua de Maria. 554 D.C. Convencionou-se o nascimento de Cristo para a data de 25 de Dezembro. O Natal Cristão. 593 D.C. Os Cristãos Católicos decretam o purgatório. 600 D.C. Gregório, o Grande, torna-se o primeiro Papa oficialmente aceito. Podemos considerar a Instituição da Igreja Católica Apostólica Romana daqui para a frente. 787 D.C. Instituição ao culto às imagens e às relíquias no II Concílio de Niceia. 794 D.C. Concílio de Frankfurt, cuja decisão era absolutamente contrária ao culto às imagens. 816 D.C. Cláudio, bispo de Turim. É considerado “ o protestante do século IX”. 850 D.C. Concílio de Paiva. Instituição do rosário e da coroa da virgem Maria e da doutrina da transubstanciação*. 880 D.C. Início da canonização dos santos. 1000 D.C. O ano do Pánico. Um ermitão (Pessoa que evita a convivência social, ou que, por penitência, vive solitária no deserto ou no ermo) de Turíngia, Bernhard, iniciou a pregação apocalíptica anunciando por 40 anos que o mundo chegaria ao fim no ano 1000. A Europa espera terminantemente pelo fim do mundo. 1054 D.C. A Igreja Ortodoxa de Constantinopla separa-se da igreja de Roma. 1073 D.C. Hildebrando chega a cadeia Papal, tomando o nome de Gregório VIII. Foi responsável por implantar a doutrina do celibato (estado de pessoa que se mantém solteira) na igreja. 1094 D.C. No concílio de Clermont a Igreja católica cria as Indulgências (venda de salvação). 1100 D.C. Institui-se na Igreja Católica o pagamento pelas missas e pelo culto aos santos. 1160 D.C. A Igreja Católica estabelece os Sete Sacramentos. 1184 D.C. A “Santa Inquisição” é estabelecida no Concílio de Verona. 1229 D.C. A Igreja Católica proíbe aos leigos a leitura da Bíblia. 37


1250 D.C. A Bíblia é dividida em 1189 capítulos. 1275 D.C. A transubstanciação da hóstia (partícula circular de massa de trigo sem fermento, que o sacerdote consagra na missa) é transformada em artigo de fé. 1355 D.C. Na França, o “Santo Sudário” aparece pela 1ª vez. 1380 D.C. John Wycliff: professor de Oxford, Inglaterra, defendeu o direito que o povo tinha de ler a Bíblia, traduzindo-a para o inglês. 1409 D.C. Nesse período, a Igreja Católica contou com três Papas, simultaneamente. 1415 D.C. John Huss: reitor da Universidade de Praga, Boémia, exaltava as Escrituras acima dos dogmas (ponto ou princípio de fé definido pela Igreja Católica). Foi queimado vivo. 1450 D.C. A primeira Bíblia foi impressa e é conhecida como a “Bíblia de Gutenberg”. 1494 D.C. William Tyndale: sua edição final do Novo Testamento foi cumprida em 1535. Com isso, iniciou a tradução do Velho Testamento, porém não viveu o suficiente para terminá-la. 1498 D.C. Jerónimo Savonarola: pregava como um dos profetas hebreus. Foi enforcado e queimado no grande praça de Florença 19 anos antes das 95 teses* de Lutero. 1500 D.C. Primeira missa celebrada no Brasil. 1517 D.C. Martinho Lutero lança suas 95 teses contra a Igreja Católica. Com isso, a Reforma Protestante chega para guinar (mudança, desvio profundo, radical e súbito, numa situação) definitivamente a História da Igreja Cristã. 1520 D.C. O Papa Leão X excomunga, expulsa Lutero do catolicismo romano. 1522 D.C. Lutero traduz e publica a primeira Bíblia em alemão (Novo Testamento) 1525 D.C. Zuínglio: convenceu-se, por volta de 1516, que a Bíblia era o meio de purificar a Igreja. Nesse período, a Bíblia é dividida em versículos: 31.173. 1541 D.C. Calvino funda a Igreja Calvinista (futura Igreja Presbiteriana). Foi considerado o maior teólogo da cristandade. 1545 D.C. Concílio de Trento: concílio Ecuménico (geral, universal) da Igreja Católica (1545 – 1563), importante por suas decisões sobre os dogmas e a legislação eclesiástica: a contra reforma. 1556 D.C. João Calvino envia ao Brasil um grupo de colonos e pastores reformados, que se fixam na “França Antártica”, uma das ilhas da baía da Guanabara no Rio de Janeiro. 1557 D.C. Os evangélicos franceses realizaram o primeiro culto protestante do Brasil e, possivelmente, do Novo Mundo. Também foram os autores da bela “Confissão de fé da Guanabara”. 1572 D.C. Morte John Knox, reformador protestante que tornou o presbiterianismo na religião oficial da Escócia. 1573 D.C. A Igreja Católica altera a Bíblia original com canonicidade* de sete livros apócrifos*. 1600 D.C. Surge o pietismo, movimento de santidade da Igreja Luterana. 1604 D.C. Nasce a Igreja Baptista. 1611 D.C. A “Versão King James” da Bíblia em inglês é lançada. 1620 D.C. As missões Protestantes chegam nas treze colónias (Estados Unidos). 1632 D.C. Galileu é condenado pela Inquisição* Católica. Seu pecado: desqualificar o “geocentrismo” e a transubstanciação. 1660 D.C. Carlos II persegue puritanos e restaura o anglicanismo como religião oficial da Inglaterra. 1700 D.C. Nasce o maior avivamento missionário da história da Igreja com os irmãos Morávios. 1706 D.C. Início do Presbiterianismo nos Estados Unidos. 1730 D.C. John Wesley lidera o maior reavivamento da história da Grã-Bretanha e lança as bases do metodismo. 1753 D.C. Primeira publicação integral da Bíblia em português traduzida pelo protestante João Ferreira de Almeida. 1780 D.C. A Escola Dominical foi fundada por R. Raikes, na Inglaterra, para ministrar educação Cristã a crianças pobres que não frequentavam a escola. 1795 D.C. Congregacionais, anglicanos, presbiterianos e wesleyanos fundam a Sociedade Missionária de Londres (LMS). 1807 D.C. Robert Morrison torna-se o primeiro missionário protestante na China. 1824 D.C. As primeiras igrejas Luteranas são formadas no sul do Brasil. 1825 D.C. Charles Finney lidera reavivamentos evangelísticos em Nova York. 38


1835 D.C. Chegada dos primeiros missionários metodistas no Brasil. 1844 D.C. A adventista Guilherme Miller prevê que neste ano ocorreria o “fim dos tempos” – é o início da Igreja Adventista do Sétimo Dia. 1854 D.C. O Papa Pio IX cria o dogma da Imaculada Conceição de Maria. 1859 D.C. Surge a primeira Igreja Presbiteriana do Brasil no Rio de Janeiro. 1865 D.C. Surge, na Inglaterra, o Exército da Salvação. O protestante Hudson Taylor realiza a maior acção missionária para o interior da China. 1870 D.C. I Concílio do Vaticano proclama o dogma da infalibilidade (qualidade de infalível) papal. 1871 D.C. Surge a 1ª Igreja Baptista do Brasil em Santa Bárbara, São Paulo. 1890 D.C. É decretada a separação entre a Igreja e o Estado Brasileiro. 1903 D.C. Fundação da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil em São Paulo. 1908 D.C. Nos Estados Unidos, o movimento de santidade bíblica culmina na fundação da Igreja do Nazareno. 1910 D.C. Chegam a Belém do Pará os missionários que fundaram a Igreja Evangélica Assembleia de Deus e, em São Paulo, imigrante italiano funda a Congregação Cristã do Brasil. 1923 D.C. Oficialmente é fundada a Igreja do Evangelho Quadrangular em Los Angeles, EUA. 1936 D.C. A seita Testemunhas de Jeová realiza no Brasil sua primeira assembleia em São Paulo. 1950 D.C. A mais antiga cópia conhecida do Novo Testamento é descoberta no Egipto. Manuscritos das cavernas de Qunram. 1950 D.C. A Igreja do Evangelho Quadrangular chega em São João da Boa Vista, São Paulo. 1950 D.C. A Assunção de Maria definida pelo Papa Pio XII, em 1 de novembro de 1950. 1955 D.C. O protestante irmão André funda a agência missionária “Missão Portas Abertas”, que leva Bíblias aos países comunistas da chamada “Cortina de Ferro”. 1956 D.C. É funda a Igreja Pentecostal “O Brasil para Cristo”, em Pirituba, São Paulo. 1958 D.C. Missionários norte-americanos da Igreja do Nazareno chegam a Campinas, São Paulo. 1962 D.C. Em São Paulo, o missionário Davidd Miranda funda a Igreja Pentecostal “Deus é Amor”. 1962 D.C. II Concílio Vaticano (Concílio =Assembleia de bispos, arcebispos Católicos que delibera, decide sobre questões de doutrina* ou disciplina eclesiásticas). 1965 D.C. Reaproximação entre a Igreja Católica Ortodoxa*. O Papa Paulo VI extingue oficialmente a Inquisição. 1966 D.C. Acontece na cidade de Berlim (Alemanha), o 1º Congresso Mundial de Evangelização. 1967 D.C. Fundação da Igreja Metodista Wesleyana em Nova Friburgo, Rio de Janeiro. 1967 D.C. O Papa Paulo VI proíbe os Católicos romanos de frequentarem cultos evangélicos. 1974 D.C. “II Congresso Mundial de Evangelização”, realizado em Lausane (Suíça), onde foi lançado o famoso documento conhecido como “Pacote de Lausane”, em que são fixados princípios e estratégias para a evangelização do mundo. 1977 D.C. O bispo Edir Macedo funda, no Rio de Janeiro, a Igreja Universal do Reino de Deus. 1980 D.C. Com o grande crescimento dos evangélicos no Brasil, João Paulo II torna-se o primeiro Papa a visitar o país. 1980 D.C. O missionário R. R. Soares funda a Igreja Internacional da Graça de Deus, no Rio de Janeiro. 1986 D.C. Surge em São Paulo a Igreja Evangélica Renascer em Cristo. 2001 D.C. O Papa João Paulo II pediu à igreja latino-americana para fomentar uma “acção pastoral decidida” contra as seitas evangélicas, as quais definiu como um “grave obstáculo para a evangelização do continente”. 2001 D.C. O Censo 2001, do IBGE, divulga os evangélicos como o único segmento religioso a crescer acima da média da população. Estimados em 26 milhões de fiéis. NOTAS: Gnosticismo - Nome derivado do termo grego “gnosis“ conhecimento. Os gnósticos se transformaram em uma seita que defendia a posse de conhecimentos secretos. A premissa 39


básica do gnosticismo é uma cosmo visão dualista. O supremo Deus Pai emanava do mundo espiritual “bom”. A partir dele, surgiram sucessivos seres finitos (éons) até que um deles, Sofia, deu à luz a demiurgo (Deus criador), que criou o mundo material “mau”, juntamente com todos os elementos orgânicos e inorgânicos que o constituem; (Defesa da Fé nº51). Heresia – 1. Doutrina que se opõe aos dogmas da Igreja. 2. Fam. Absurdo, contra-senso, disparate. 3. Acto ou palavra ofensiva à religião (dic. Aurélio); Transubstanciação - Transformação da substância do pão e do vinho na substância do corpo e sangue de Cristo. (dic. Aurélio). Teses - Proposição que se enuncia, que se expõe, que se sustenta (dic. Aurélio). Canon - Colecção de Livros Sagrados, que eram ou serviam de regra e fé para o ensino Cristão. Esta palavra vem do assírio “Qanu”, É usada 61 vezes no Antigo Testamento, sempre em seu sentido literal “cana”, “balança”. (defesa da Fá nº 51). Apócrifo - Sem autenticidade; diz-se de um texto, ou de um livro, cuja autenticidade é duvidosa ou suspeita, ou não reconhecida. Inquisição - Antigo tribunal eclesiástico Católico romano, também conhecido por Santo Ofício, instituído para punir os crimes contra a fé católica. Doutrina - Conjunto de princípios em que se baseia um sistema religioso, político ou filosófico. Ortodoxo - Conforme com a doutrina religiosa tida como verdadeira (dic. Aurélio).

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5 - Datas da História do Cristianismo (outra fonte) 4 A.C. Nascimento de Cristo, tendo como governador da Galileia Herodes, o grande (37 - 04 A.C.) sendo Imperador de Roma Augusto (24 A.C. - 14 D.C.). 30 D.C. Crucificação, morte, ressurreição e ascensão de Cristo, tendo como governador da Galileia Herodes Antipas, e governador da Judeia, Pôncio Pilatos (26 - 37 D.C.), tendo como imperador romano Tibério (14 - 34 D.C.). 50 D.C Concílio de Jerusalém - expansão do Cristianismo através das viagens missionárias de Paulo, tendo como imperador Romano deste período Cláudio (41 - 54 D.C.) sucessor da Calígula (34 - 41 D.C.). 62 D.C. Martírio de Tiago, irmão de Jesus e primeiro bispo de Jerusalém, no templo no reinado de Nero (54 - 62 D.C.). André - Crucificado em cruz de Santo André. Tiago irmão de João – decapitado. Judas Tadeu - Martirizado na Pérsia. Tiago o menor - crucificado no Egipto. Felipe - morreu na Frígia. Bartolomeu - foi esfolado. Mateus - martirizado na Etiópia. Tomé - foi trespassado por uma fecha enquanto orava. Simão Zelote - crucificado. 67 D.C. Martírio de Paulo em Roma, no Reinado de Nero. 70 D.C. Destruição de Jerusalém e do templo pelo general Tito, filho de Vespaciano (69 - 79), que sucedeu depois de seu pai de 79 a 81 D.C. 90 D.C. Exílio do apóstolo João em Patmos, na perseguição de Dominiciano (81 - 96) imperador de Roma. 100 D.C. Morte natural do Apóstolo João em Éfeso, provavelmente no reinado de Nerva (95 98). 107 D.C. Morte de Simão, pensa-se que era o irmão de Jesus (Mt. 13:55) e foi o segundo bispo de Jerusalém no reinado de Trajano (100 - 177). 155 D.C. Policarpo, bispo de Esmirna, é queimado em praça pública, no reinado de António Pio (138-161). 165 D.C. Martírio de Justino e perseguição feroz na Gália no reinado de Marco Aurélio (161 180). 180 D.C. Vários Cristãos condenados às minas na Sardenha são soltos, no reinado de Cómodo (180 - 193). 202 D.C. O imperador Septímio Severo decretou que era ilegal tornar-se judeu ou Cristão no seu reinado (193 - 211). 251 D.C. Décio, imperador Romano, queria uma só religião no império, e iniciou a primeira perseguição universal em seu reinado (249 – 251). 257 D.C. Valeriano (252 - 259) proibiu reuniões Cristãs nos cemitérios. 260 D.C. Galieno (260 - 269) revogou os decretos contra os Cristãos, restaurou os seus cemitérios e proibiu os maus tratos. 305 D.C. Perseguição final. Deoclesiano (284 - 305) ordenou a destruição dos prédios das igrejas e das escrituras. 306 D.C. Perseguição por Galério (305 - 311) até a promulgação do édito de tolerância. 313 D.C. Constantino (312 - 337), ainda como príncipe regente, assina em Milão o édito de tolerância (Édito de Milão), terminando a perseguição oficial do Cristianismo no Império Romano. 323 D.C. Constantino assume o poder e torna-se o primeiro imperador romano Cristão. 380 D.C. O Cristianismo se torna oficialmente a religião do império. 395 D.C. Teodósio fez a separação oficial do império romano entre o império ocidental (Latino) e império Grego (oriental), sendo Roma capital do ocidente e Constantinopla capital do oriente. 405 D.C. As imagens dos santos Mártires são introduzidas e reverenciadas nos templos. Tradução da bíblia em latim por Jerónimo. 451 D.C. Concílio de Calcedónia, Roma assume o primeiro lugar como sede do Cristianismo e Constantinopla o segundo lugar. Início da ascensão do poder papal. 476 D.C. Queda do império romano ocidental, sobre a liderança de Odoacro Rei dos Hérulos. 519 D.C. Papa Felix III excomunga o patriarca Acácio. 604 D.C. O Papa Gregório, o grande, destaca a doutrina do purgatório e da missa. 632 D.C. Morte de Maomé e a expansão do Maometismo, na época do Papa Honório. 655 D.C. O Papa Martinho I, é sequestrado pelo imperador Bizantino Constante II. 41


711 D.C. Ascensão do Papa Constantino, no reinado do imperador Bizantino Gustiniano II. 754 D.C. Proibição de imagens por Constantino V, imperador Bizantino, na época do Papa Leão III. 800 D.C. Carlos Magno coroado imperador romano pelo Papa Leão III, no dia de Natal. 950 D.C. O Papa Leão IX promove o celibato do clero. 1095 D.C. Proclamação da primeira cruzada, para libertar a Palestina do poder Maometano, pelo Papa Urbano II. 1099 D.C. A segunda cruzada, dirigida por Godofredo, toma Jerusalém do poder Maometano. 1087 D.C. Queda de Jerusalém por Saladino, curdo Muçulmano e Sultão do Egipto, na época do Papa Celestino III. 1302 D.C. Promulgação de Unan Sanctum (poder temporal do Papa) pelo Papa Bonifácio VIII. 1453 D.C. Queda do império Bizantino, com a tomada de Constantinopla pelo sultão Maomé II e pelos Turcos. 1517 D.C. Teses de Lutero e reformas Protestantes. 1534 D.C. Tradução da Bíblia completa para Alemão. 1538 D.C. Édito de Nantes, tolerância para os Protestantes. 1542 D.C. Instituição da inquisição romana. 1632 D.C. Galileu Galilei, é condenado pela inquisição. 1773 D.C. Dissolução da ordem dada aos Jesuítas por Clementes XIV. 1807 D.C. Robert Morrison primeiro missionário protestante na China. 1910 D.C. Conferência missionária mundial em Edimburgo. 1911 D.C. Fundação da Igreja Evangélica Assembleia de Deus no Brasil. 1974 D.C. Conferência sobre evangelismo Mundial em Lausanne.

5.1 - Cronologia Histórica da Apostasia do Cristianismo e surgimento do Catolicismo Romano, a decadência do Cristianismo (segundo alguns investigadores). 33 - 196 D.C. Neste período da história a igreja não aceitou nenhuma doutrina anti-bíblica. 217 D.C. Calixto se torna bispo de Roma, pondo-se à frente da propaganda herética, elevando a igreja de Roma para mais longe do caminho de Cristo. 270 D.C. A origem da vida monástica do Egipto, por Santo António. 370 D.C. Culto dos Santos professados por Basílio de Casareia e Gregório de Nazianzo. 400 D.C. Oração pelos mortos e sinal da cruz feita pelo ar. 431 D.C. Maria é proclamada a "mãe de Deus". 593 D.C. O dogma do purgatório começa a ser ensinado. 600 D.C. O Latim passa a ser usado como língua oficial nas celebrações litúrgicas. 609 D.C. Começo histórico do Papa. 758 D.C. A confissão auricular é introduzida na igreja. 789 D.C. Início do culto das imagens das relíquias. 819 D.C. A festa da assunção de Maria é celebrada pela primeira vez. 880 D.C. Canonização dos santos. 998 D.C. Estabelecimento do dia de finados. 998 D.C. Instituição da quaresma. 1000 D.C. Canon da missa. 1074 D.C. Proíbe-se o casamento para Sacerdotes. 1075 D.C. Os sacerdotes casados devem-se divorciar compulsivamente de cada uma das suas mulheres. 1095 D.C. Indulgência plenária. 1100 D.C. Introduzem-se na igreja o pagamento da missa e culto aos anjos. 1115 D.C. A confissão é transformada em um artigo de fé. 1125 D.C. Entre os Cónegos de Lião aparecem as primeiras ideias da imaculada Conceição de Maria. 1160 D.C. Instituído os sete sacramentos. 1186 D.C. O concílio de Verona estabelece a santa inquisição. 1190 D.C. Estabelecida a venda de indulgência. 42


1200 D.C. Uso do rosário por Domingos, chefe da Inquisição. 1215 D.C. A transubstanciação é transformada em artigo de fé. 1220 D.C. Adoração à hóstia. 1229 D.C. Proíbe-se aos leigos a leitura da Bíblia. 1303 D.C. A igreja católica romana é proclamada, como sendo a única igreja verdadeira, e somente nela o homem pode obter a salvação. 1311 D.C. Procissão do santíssimo sacramento e a oração da Avé-Maria. 1414 D.C. Uso do cálice fica restrito ao sacerdote. 1546 D.C. Conferida à tradição autoridade igual à Bíblia. 1562 D.C. Declara-se que a missa é oferta propiciatória e estabelece-se o culto aos santos. 1573 D.C. Estabelecida a canonicidade dos livros apócrifos. 1864 D.C. Declaração da autoridade temporal do Papa. 1870 D.C. Declaração da infalibilidade do Papa. 1950 D.C. A assunção de Maria é transformada em artigo de fé.

5.2 - Cronologia Histórica dos Pais da Igreja Primitiva Cristã. 62-100D.C. Morte de Tiago, Pedro, Paulo e João principais colunas da igreja. 112 D.C. Inácio de Antioquia - Fidelidade no meio das perseguições. 69-165 D.C. Policarpo, bispo de Esmirna. 100-165 D.C. Justino, o Mártir, apologista e filósofo. 130-195 D.C. Irineu, bispo de Lião na Gália. 150-215 D.C. Clemente de Alexandria, professor da escola de Alexandria. 160-220 D.C. Tertuliano, teólogo de Cartago. 185-253 D.C. Orígenes, chefe da escola catequética de Alexandria. 200-258 D.C. Cipriano, bispo de Cartago na África. 260-339 D.C. Eusébio de Cesareia, bispo de Cesareia. 299-397 D.C. Ambrósio bispo de Milão. 344-407 D.C. João Crisóstomo, patriarca de Constantinopla. 348-420 D.C. Jerónimo tradutor da vulgata latina e escritor renomado na época. 354-430 D.C. Agostinho, bispo de Hipona no norte da África, escreveu a primeira filosofia Cristã da história. 1224-1274 D.C. Tomás de Aquino, erudito, o doutor da igreja. 5.3 - Cronologia dos Pais da Igreja Reformada Cristã 1452-1494 D.C. Jerónimo Savanarola, o precursor da reforma. 1433-1546 D.C. Martinho Lutero, o grande reformador. 1324-1384 D.C. João Wiclif, iniciador do movimento reformador, na Inglaterra. 1360-1445 D.C. João Huss, discípulo de Wiclif, e iniciador do movimento reformador da Boémia. 1484-1522 D.C. Utrico Zwinglio, grande reformador na Suíça. 1512-1564 D.C. João Calvino grande teólogo e pregador da reforma. 1520-1536 D.C. William Tyndalei, grande reformador da Inglaterra. 1559 D.C. Jonh Knox, grande impulsionador da reforma na Escócia, e um dos progenitores da Presbiteriana. 1703-1791 D.C. João Wesley grande avivalista e despertador das igrejas reformadas no século XVIII, e do movimento metodista. 1792-1875 D.C. Carlos Finney, grande avivalista e pregador do século IXX, na América do Norte. 1714-1770 D.C. Jorge Whitefield, grande pregador de multidões ao ar livre, na Escócia e América do Norte. 1837- 1899 D.C. Wiight Moody, maior ganhador de almas da história da igreja reformada. 1761-1834 D.C. Guilherme (William) Carey, pai das missões modernas.

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6 - Concílios ecuménicos De facto, o Papa não participou pessoalmente em todos os Concílios: nem era necessário, e muitas vezes nem era possível. No entanto, o Papa participa pela aprovação final. Ora, o episcopado é de direito divino, pois foi o próprio Cristo que o instituiu, mas não há concílio Ecuménico sem o Papa. Portanto, o concílio Ecuménico é a autoridade colegial da qual o Papa é a cabeça. O Concílio de Niceia - primeiro concílio Ecuménico - foi convocado pelo Imperador Constantino em 325, por causa da heresia ariana. Este concílio foi presidido por Ósio, bispo de Córdova, e por dois legados do Papa São Silvestre I, que não participou pessoalmente. Nesse concílio, assim como nos demais, foram condenados os erros da época. Os bispos se reuniram para comparar a doutrina que então se divulgava contra a doutrina que eles receberam da Tradição, desde os apóstolos. Desde o início da Cristandade sempre foi muito claro que a Tradição é uma das fontes da Revelação, e naquela época principalmente muito mais eficiente de ser divulgado do que as escrituras. E os bispos ali reunidos, constataram a unidade da sua doutrina e condenaram a novidade ariana. O Magistério infalível do Concílio se estende àquilo que ele quis propor como definitivo. Percebe-se isso nos próprios documentos. Por isso os concílios têm a sua parte dogmática e a sua parte meramente disciplinar. A infalibilidade dos ensinamentos do concílio Ecuménico consiste na unidade da doutrina ensinada desde os primórdios do Cristianismo em toda parte e em todos os tempos. Os concílios apenas constatam a sua unidade doutrinária tradicional contra a novidade de uma determinada época. Por isso é que se os convocam. No entanto a doutrina de um concílio é considerada dogmática após a confirmação pela Igreja. Houveram muitos concílios na história. A Igreja definiu quais deles foram os Ecuménicos, e o que neles deve ser aceito dogmaticamente. E quando eu digo que a Igreja definiu, entenda: aquilo que é confirmado pelo Papa. Mesmo em um concílio Ecuménico pode haver erros que a Igreja venha a condenar. Por exemplo: o Concílio de Calcedónia em 451, que é o quarto Ecuménico, nunca teve o seu cânon 28 aprovado pelo Papa São Leão Magno, pois nesse cânon concedem-se a Constantinopla os mesmos direitos e privilégios de Roma. O Papa São Leão Magno se recusou a aprovar esse cânon porque Roma é a sede dos apóstolos São Pedro e São Paulo, ao passo que Constantinopla, que nem existia na época de Nosso Senhor, não foi sede de nenhum apóstolo. Sua importância apenas lhe advinha do facto de ser sede do Imperador. Ou então, um concílio regional tem as suas definições tidas como universais e dogmáticas posteriormente, que é o caso do Primeiro Concílio de Constantinopla, em 381, que é considerado o segundo Ecuménico, e que sequer teve um legado papal, mas o Credo que rezamos hoje foi formatado por esse Concílio, que na verdade é uma resposta a uma série de heresias daquela época. Esse Concílio só foi reconhecido explicitamente pela Santa Sé no século VI no que se refere às suas proposições de fé. Lista de todos os concílios ecuménicos realizados: Niceia (325). (Ficava na Bitínia, actual Iznik, na Turquia). Constantinopla (381). (Actual Istambul na Turquia, cuja capital é Ancara). Éfeso (431). (Fica naTurquia). Calcedónia (451). (Ficava na Bitínia, na actual Turquia). 44


II Constantinopla (553). III Constantinopla (681). II Niceia (787). IV Constantinopla (870). I Latrão (1123). (Latrão, é uma área no centro da cidade de Roma; Latrão fica na colina Caelian (Celestial), que é uma das sete colinas de Roma e é a colina central).

II Latrão (1139). III Latrão (1179). IV Latrão (1215). I Lião (1245). (França). II Lião (1274). Viena (1311). (Áustria). Constança (1414). (Cidade no sul da Alemanha). Basileia (1431). (Na Suíça). V Latrão (1512). Trento (1545). (Na Itália). I Vaticano (1870). II Vaticano (1962). Somente o último Concílio da lista dos ecuménicos, Vaticano II, não apresentou nenhuma condenação ou proposição dogmática, sendo simplesmente pastoral.

Concílios e Sínodos A partir da segunda metade do século II os bispos adoptaram o costume de reunir-se para deliberar em conjunto e tomar decisões em questões doutrinárias e da disciplina da Igreja. No século III esse costume generalizou-se em Capadócia, na África. No entanto, tratava-se de reuniões locais, que hoje chamaríamos antes de sínodos. A primeira reunião ecuménica ou universal, cumprindo melhor as condições de um concílio no sentido de hoje, foi somente o concílio de Niceia (325). Os primeiros concílios ecuménicos não devem ser imaginados como o grande Concílio de Trento ou o Vaticano II. Naquele tempo era outro o procedimento de convocação dos sínodos (que eram convocados pelo imperador), outra era a composição pessoal, outra a representatividade das províncias eclesiásticas (o Ocidente era representado apenas por alguns delegados), outra a autoridade (não havia grande preocupação com a aprovação do Papa). A partir de R. Belarmino (1621) - a Igreja católica romana reconhece 21 concílios universais: 1) Concílio de Niceia (325), convocado pelo imperador Constantino com o objectivo de condenar Ário. Proclamou que Jesus, o Verbo, é co-essencial ao Pai (isto é, Jesus passou oficialmente a ser Deus). Formulou a profissão de fé conhecida por Símbolo de Niceia (que instituiu o Credo Católico e Ortodoxo onde a fé no Espírito Santo foi expressa de forma muito concisa).

2) Concílio de Constantinopla (381), convocado pelo imperador Teodósio I, condenou o macedonismo, que negava a divindade do Espírito Santo. O Papa Dámaso nem foi convidado. 3) Concílio de Éfeso (431), convocado por Teodósio II, dirigido por S. Cirilo de Alexandria por autorização do Papa Celestino I, condenou a Nestório, que questionava a correcção teológica do título Theotokos, confirmou a doutrina da união hipostática. 4) Concílio de Calcedónia (451), convocado pelo imperador Marciano e confirmado pelo Papa Leão I Magno, condenou o monofisismo (Eutiques). 5) Concílio de Constantinopla II (553), convocado pelo imperador Justiniano. Contrariando a opinião do Papa Virgílio, condenou os chamados três capítulos, ou seja, os escritos de Teodoro de Mopsvesta, Teodoreto e Íbaso, suspeitos de nestorianismo.

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6) Concílio de Constantinopla III (680), condenou o monotelismo e formulou a doutrina das duas vontades em Cristo; confirmado pelo Papa Agato e Leão II. 7) Concílio de Niceia II (786), contra os iconoclastas, confirmou a ortodoxia teológica do culto das imagens. 8) Concílio de Constantinopla IV (869-870), discutiu a questão do governo da sé patriarcal de Constantinopla, depôs a Fócio e condenou-o. Participaram do concílio apenas 103 bispos; a maioria permaneceu fiel a Fócio. A grande maioria do clero bizantino nunca reconheceu essa reunião como um concílio universal, mas apenas como uma humilhação da Igreja bizantina. Apesar de as decisões do concílio terem sido assinadas pelos delegados do Papa (foi presidido pelo representante do imperador, não pelos legados), nem no Ocidente essa reunião era considerada como um concílio universal. Apareceu na lista dos concílios universais pela primeira vez apenas no século XI (período da reacção ao cisma de Cerulário). 9) Concílio de Latrão I (1123), primeiro concílio Ecuménico do Ocidente, com uma representação muito fraca do Oriente. Questão das investiduras. 10) Concílio de Latrão II (1139); questão dos símbolos, da usura e do celibato. 11) Concílio de Latrão III (1179) condenou os cátaros. 12) Concílio de Latrão IV (1215), o maior concílio da Idade Média, condenou os albigenses e regulamentou as questões da disciplina eclesiástica: dos sacramentos, do matrimónio, da anunciação do Evangelho. 13) Concílio de Lyon I (1245), contra Frederico II; questões do poder temporal dos papas. 14) Concílio de Lyon II (1274), convocado pelo Papa Gregório X, por iniciativa do imperador Miguel Paleólogo, empreendeu uma tentativa de união da Igreja Ocidental com a Oriental, por motivos em boa parte políticos. 15) Concílio de Vienne (1311-1312), convocado pelo Papa Clemente V, sob pressão de Filipe o Belo, para caçar a Ordem dos Templários. 16) Concílio de Constância (1414-1418), ocupou-se da questão da unificação do Cristianismo, da reforma da Igreja, de Witklif, de Huss e do conflito entre os cavaleiros teutónicos e a Polónia. 17) Concílio de Florença (1439-1445), iniciou-se em Ferrara e terminou em Roma; abordou novamente a questão da união das Igrejas, publicou alguns documentos teológicos (Decreto aos Ormienses, Decreto aos Jacobitas). Com o Concílio de Florença esteve relacionada a União de Brest (1596). 18) Concílio de Latrão V (1512-1517), no tempo de Júlio II e Leão X, tinha por objectivo realizar uma reforma na Igreja. Não cumpriu a sua missão, o que demonstrou ser trágico alguns anos depois (pronunciamento de Lutero e divisão da Igreja Ocidental). 19) Concílio de Trento (1545-1563 - com interrupções), convocado por Paulo III, realizou a reforma da Igreja; proclamou uma série de decretos dogmáticos de grande significado eclesiástico (sobre a justificação, sobre os sacramentos). Desempenhou papel importante no concílio o cardeal polaco Estanislau Hozjusz. 20) Concílio Vaticano I (1869-1870), convocado por Pio IX, proclamou dois documentos dogmáticos: sobre a fé e o racionalismo e sobre a infalibilidade do Papa. 21) Concílio Vaticano II (1962-1965), convocado por João XXIII, encerrado por Paulo VI, abordou a questão da reforma interna da Igreja e da adaptação das suas actividades às necessidades actuais.

A valorização conferida pelo Concílio Vaticano II às Igrejas locais, ou dioceses, estimulou os bispos ordinários a realizar sínodos diocesanos, cuja graduação cresce proporcionalmente ao aumento do significado das Igrejas locais. O teólogo terá que dar maior atenção aos documentos sinodais, principalmente porque eles encerram um rico material teológico. Preparados não apenas pelos mais próximos colaboradores do bispo, mas igualmente por um círculo mais amplo do clero inferior, juntamente com os religiosos e as religiosas, bem como com a significativa participação do laicato, tornam-se um reflexo interessante da consciência da fé e da sensibilidade moral da Igreja local, que é autêntica Igreja, e não apenas uma parcela sua. Por isso incluiremos os textos elaborados e aceitos pelos sínodos entre os loci theologici de peso. 46


À pergunta sobre a graduação teológica das decisões dos concílios universais deve-se responder que as verdades do âmbito da fé e dos costumes, apresentadas pelo concílios universais de forma directa e explícita como verdades reveladas por Deus e que devem ser aceitas como tais se quisermos permanecer na comunidade da Igreja, possuem o carácter de dogmas da fé. Naturalmente nem todos os textos conciliares possuem o carácter de dogmas. Pode ser reconhecido como dogmatizante apenas aquilo que o próprio concílio quis que fosse dogmatizante. Em princípio isso ocorre em relação aos temas teológicos para os quais o concílio se reuniu, que distingue a fórmula dogmática dessa maneira, a fim de excluir dúvidas quanto a isso. Nos documentos conciliares, a par da exposição básica da fé e da moral (na medida em que ela de facto ocorra durante os debates), são abordadas muitas vezes questões acessórias, relacionadas mais de longe com a fé e a moral, por exemplo problemas políticos, organizacionais, disciplinares, etc. Em questões desse tipo as decisões conciliares não devem ser consideradas como dogmáticas. Nos documentos conciliares do tipo estritamente teológico, isto é, que estabelecem a posição da Igreja em questões de fé e de costumes, não possuem carácter de dogma todos os tipos de introdução, conclusão, argumentação, maneiras de aplicar os textos bíblicos nessa argumentação, alusões históricas, etc. O carisma da infalibilidade não se estende às partes e trechos do texto conciliar. Devemos colocar a questão dessa forma cuidadosa se quisermos levar em conta seriamente as experiências da história. A maioria dos concílios da Idade Média ocupava-se com questões práticas, como o combate à usura, a organização de cruzadas, a instituição do celibato do clero, e também a luta pelo poder... Por isso, em geral as decisões por eles deixadas não entram no âmbito do ensinamento maximamente autorizado e infalível, ainda que tenham abordado questões de certa forma relacionadas com os costumes. Discute-se a graduação dos textos dos concílios da união: de Lyon II (1274) e de FerraraFlorença-Roma, chamado sucintamente de Concílio de Florença (1439-1445). Ambos deixaram uma colecção relativamente rica de textos doutrinários, nos quais definiram a sua posição em questões que distinguem a Igreja católica romana da Ortodoxa, sobretudo as questões do purgatório, do Filioque, dos sacramentos e da primazia. Esses textos não devem ser considerados como dogmatizantes, visto que: 1) ambos os mencionados concílios não se reuniram para definir a doutrina da Igreja quanto a esse objecto, mas para realizar a união por importantes razões políticas; foi também com esse objectivo prático que formularam a doutrina; 2) alguns trechos desses textos repetem nitidamente as teses da teologia de então, que somente após o Concílio de Trento foram elevados à graduação de dogmas (algumas teses da sacramentologia). Os documentos do Vaticanum II não devem ser considerados como dogmatizantes, visto que os padres do concílio fizeram a clara restrição de que não queriam proclamar novos dogmas. Diante disso não se deve argumentar: "através dos padres conciliares pronunciou-se a doutrina universal da Igreja, e por isso o que eles disseram deve ser aceito como dogma do ensinamento universal". Mesmo que de facto tenham constituído uma espécie de representação da consciência eclesiástica da fé, é preciso levar em conta sobretudo a vontade deles de não definir, e reconhecer isso como critério decisivo. A história dos dogmas manda constatar que a graduação (significado, força obrigatória) de um documento conciliar é definida também pela sua aceitação na Igreja, chamada recepção. É preciso indagar se, e em que medida, um determinado documento foi praticamente aceito na 47


Igreja como expressão de ensinamento solene, ou apenas comum. A recepção da Igreja insere no sistema circulatório da Igreja, e a sua falta elimina algumas doutrinas do ritmo da sua vida; Além disso, até as grandes reuniões dos bispos são nobilitadas à graduação de concílios; por exemplo o sínodo de Constantinopla (869-870) foi incluído no catálogo dos concílios universais apenas dois séculos mais tarde, e a doutrina do sínodo de Orange (529) sobre a graça é avaliada na Igreja como se fosse a doutrina de um concílio. Concílio (também conhecido como sínodo) Um concílio (também conhecido como sínodo) é uma assembléia de uma Igreja, geralmente uma Igreja Cristã, convocada para decidir um ponto de doutrina ou administração. Um concílio Ecuménico (ou ecuménico) é assim chamado porque é um concílio de toda a Igreja (ou, mais exactamente, do que aqueles que o convocam consideram ser toda a Igreja). A Igreja Ortodoxa apenas reconhece como ecuménicos os oito (noutro capítulo diz sete, até 787 – cisão em 1054) primeiros concílios, todos eles realizados no Oriente; os concílios subsequentes a Latrão I são apenas considerados ecuménicos pela Igreja Católica. Cronologia dos concílios ecuménicos (outra fonte) 1º - Niceia I. 20 de Maio a 25 de Julho de 325. A heresia de Ário. Redacção do símbolo ou credo que se recita na missa. 2º - Constantinopla I. Maio a Julho de 381. A divindade do Espírito Santo. Faltam os Concílios de Cartago e Concílio de Jámnia. 3º - Éfeso. 22 de Junho a 17 de Julho de 431. A heresia de Nestório. A maternidade divina de Maria. 4º - Calcedónia. 8 de Outubro a 1 de Novembro de 451. Condenação do monofisismo (a existência em Jesus Cristo de duas naturezas completas e perfeitas na unidade da pessoa, que é divina). 5º - Constantinopla II. 5 de Maio a 2 de Junho de 533. Condenação de documentos nestorianos designados Os Três Capítulos. 6º - Constantinopla III. 7 de Novembro de 680 a 16 de Setembro de 681. Condenação do monotelismo. 7º- Niceia II. 24 de Setembro a 23 de Outubro de 787. Legitimidade da veneração de imagens. 8º - Constantinopla IV. 5 de Outubro de 869 a 28 de Fevereiro de 870. Condenação e deposição de Fócio, patriarca de Constantinopla. 9º - Latrão I. 18 de Março a 6 de Abril de 1123. A Questão das Investiduras. Independência da Igreja perante o poder temporal. 10º - Latrão II. Abril de 1139. Fim do cisma do Antipapa Anacleto II. 11º- Latrão III. Março de 1179. Normas para a eleição do Papa. 12º - Verona. 1183. Criação da Inquisição. 13º - Latrão IV. 11 de Novembro a 30 de Novembro de 1215. 48


Condenação do catarismo. Definição de transubstanciação. Preceito pascal. 14º - Lyon I. 28 de Junho a 17 de Julho de 1245. Deposição do Frederico II. 15º - Lyon II. 7 de Maio a 17 de Julho de 1274. União com a Igreja Grega. Regulamentação do conclave para a eleição papal. Cruzada para libertar Jerusalém. 16º - Vienne. 16 de Outubro de 1311 a 6 de Maio de 1312. Supressão dos Templários. 17º - Constança. 5 de Outubro de 1414 a 22 de Abril de 1418. Fim do Grande Cisma do Ocidente. Condenação de John Wyclif e de Jan Hus. 18º - Concílio de Basileia-Ferrara-Florença. 1431-1432. União com as Igrejas orientais. Reconhecimento no romano pontífice de poderes sobre a Igreja Universal. 19º - Latrão V. 10 de Maio de 1512 a 16 de Março de 1517. Condenação do concílio cismático de Pisa (1511-1512). Reforma da Igreja. 20º - Trento. 13 de Dezembro de 1545 a 4 de Dezembro de 1563. Reforma geral da Igreja. 21º - Vaticano I. 8 de Dezembro de 1869 a 18 de Julho de 1870. Primado do Papa e infalibilidade pontifícia. 22º - Vaticano II. 11 de Outubro de 1962 a 8 de Dezembro de 1965. Correcção de problemas disciplinares e de índole pastoral. Chamada à renovação dos ritos litúrgicos. Promoção dos estudos bíblicos, decretos pastorais e progresso ecuménico para o diálogo e reconciliação com outras Igrejas Cristãs.

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7 – Arianismo (ver também o capítulo 12) Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O Arianismo foi uma visão Cristológica sustentada pelos seguidores de Arius (ou Ário) nos primeiros tempos da Igreja primitiva, que negava a existência da consubstancialidade entre Jesus e Deus, que os igualasse, fazendo do Cristo pré-existente uma criatura, embora a primeira e mais excelsa de todas, que encarnara em Jesus. Jesus então, seria subordinado a Deus, e não o próprio Deus. Segundo Ário só existe um Deus e Jesus é seu filho e não o próprio. Ao mesmo tempo afirmava que Deus seria um grande eterno mistério, oculto em si mesmo, e que nenhuma criatura conseguiria revelá-lo, visto que Ele não pode revelar a si mesmo. Com esta linha de pensamento, o historiador H. M. Gwatkin afirmou em seu livro “The Arian Controversy (A Disputa Ariana)”: "O Deus de Ário é um Deus desconhecido, cujo ser se acha oculto em eterno mistério O Concílio de Niceia (325 D.C.) condenou esta doutrina após uma grande controvérsia e declarou-a herética. No entanto, visões semelhantes e em alguns casos revivificação do nome, ocorreram desde então. Quarto século Uma carta de Auxentius, um bispo de Milão do século IV, referindo-se ao missionário Ulfila, apresentou uma descrição clara da teologia ariana sobre a Divindade: Deus, o Pai, nascido antes do tempo e Criador do mundo era separado de um Deus menor, o Logos, Filho único de Deus (Cristo) criado pelo Pai. Este, trabalhando com o Filho, criou o Espírito Santo, que era subordinado ao Filho e, tal como o Filho, era subordinado do Pai. Segundo outros autores, para Ário o Espírito Santo seria uma criatura do Logos (Filho). O conflito entre Arianismo e o Trinitarismo (Trindade – Deus formado por Pai, Filho e Espírito Santo), que se tornou dominante desde então, foi a primeira dificuldade doutrinal importante na Igreja Católica, após a legalização do Cristianismo pelo imperador Constantino I e a sua elevação a religião oficial do Império Romano. Constantino declara o Domingo como o dia para a festa principal da semana. Vendo que as disputas entre os Cristãos poderiam causar uma ruptura interna no Império, Constantino determinou que o Arianismo estava errado, que este era uma heresia, julgando assim contribuir para manter a coesão política do império, embora mais tarde viesse a aderir a ele, tendo sido baptizado por um bispo Ariano antes de morrer. A um certo ponto do conflito, o Arianismo teve influência na família do imperador e nobreza imperial, e porque Ulfila, (missionário enviado pelo Imperador Romano do Oriente) foi o apóstolo dos Godos, convertendo-os ao Cristianismo sob a forma ariana. Os Ostrogodos e Visigodos chegaram à Europa ocidental já cristianizados, mas Arianos. Ário ou Arius foi um presbítero cristão de Alexandria. Arius foi aluno de Luciano de Antioquia, um celebrado professor do cristianismo. Apesar do carácter de Arius ter sido severamente assaltado pelos seus opositores, Arius parece ter sido um homem de um caracter ascético, de moral pura e de convicções. Em 318 houve uma discussão entre o Bispo Alexandre de Alexandria e Arius. Num Concílio que Alexandre convocou de seguida, Arius foi condenado. Arius tinha no entanto numerosos apoiantes e a disputa espalhou-se desde Alexandria por todo o Oriente. Arius encontrou refúgio e o apoio de Eusébio de Cesareia. Para restabelecer a união entre os cristãos, o Imperador Constantino I convocou o Primeiro Concílio de Niceia em 325, onde a doutrina de Arius acabou por ser condenada como herética. Arius foi expulso, tendo no entanto a sua banição sido anulada pela influência do Bispo Eusébio de Nicomédia em 328, o mesmo ano em que Atanásio se tornou Bispo de Alexandria. Alguns povos, nomeadamente Godos e Visigodos, seguiram a doutrina de Arius até ao século VII. Com a conversão de Chlodwig (rei na europa central) à fé católica romana de Atanásio, por motivos de ordem estratégica, deixaram de ser arianos. A problemática da Trindade permanece em aberto até hoje. CONVERSÃO DOS VISIGODOS DO CRISTIANISMO ARIANO AO ROMANO - Em 589, no III Concílio de Toledo, o rei Recaredo anuncia oficialmente a conversão dos Visigodos do Cristianismo ariano (corrente cristã considerada herética desde o Concílio de Nicéia, de 325) para o catolicismo. Este evento marca o início de uma estreita aliança entre a monarquia visigoda e os bispos católicos.

Reforma e Iluminismo O nome Arianos foi usado na Polónia para referir a seita Cristã Unitária, a irmandade polaca (Frater Polonorum). Eles inventaram teorias sociais radicais e foram precursores do Iluminismo. 50


Paralelos modernos "Arianismo" tem sido um nome aplicado a outros grupos não-trinitários, desde então como as Testemunhas de Jeová. Por exemplo, muitas vezes tem-se dito que as Testemunhas de Jeová, estariam seguindo uma forma de Arianismo, visto que também não creem na Trindade, e consideram Jesus como O Filho de Deus. Mas elas discordam deste ponto de vista, afirmando que suas crenças não se originam dos ensinamentos de Ário, e que, não adoram o “Deus desconhecido” de Ário. A doutrina Espírita Cristã (ver capítulo 15), também conhecida como Kardecista (usando o racionalismo moderno e a ausência de dogmas), também enxerga em Jesus o Mestre Amado e o ser humano mais iluminado, mas não o confunde com Deus. Na pergunta 17 do Livro dos Espíritos se afirma que "Deus não permite que tudo seja revelado ao homem neste mundo." Na pergunta 1: "O que é Deus", se responde: Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas". Os três (Deus Pai, Jesus Cristo e Espírito Santo) separados. A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, também prega a separação de Deus que é pai, Jesus Cristo que é filho literal na carne e Espírito Santo que é o que testifica aos homens as coisas de Deus. Em consonância com a regra de fé (Primeira Regra de Fé) Joseph Smith Jr. o primeiro profeta da igreja teve uma visão em que viu Deus e Jesus Cristo lado a lado conhecido como a primeira visão. Existem outros que viram Deus e Jesus Cristo como seres separados, um exemplo bíblico é Estêvão, no qual é dito (na tradução de João Ferreira de Almeida): "Mas ele, estando cheio de Espírito Santo, fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus, e Jesus, que estava à direita de Deus; E disse: Eis que vejo os céus abertos, e o Filho do homem, que está em pé à mão direita de Deus." O Islão (embora tenha enorme consideração por Jesus como um grande profeta) rejeita que Jesus seja Deus porque, de acordo com o Alcorão e o Antigo Testamento (que o Islão considera O Livro Sagrado a par dos Evangelhos), Deus é único e indivisível. Apostasia Apostasia (em grego antigo απόστασις [apóstasis], "estar longe de") não se refere a um mero desvio ou um afastamento em relação à sua fé e à prática religiosa. Tem o sentido de um afastamento definitivo e deliberado de alguma coisa, uma renúncia de sua anterior fé ou doutrinação. Pode manifestar-se abertamente ou de modo oculto. Dependendo de cada religião, um apóstata, afastado do grupo religioso no qual era membro, pode ser vitima de preconceito, intolerância, difamação e calúnia por parte dos demais membros activos. Um caso extremo, é aplicação da pena de morte para apóstatas na religião islâmica em países muçulmanos, como por exemplo, na Arábia Saudita. Apostasia da Fé Cristã Apostasia da Fé Cristã, ou seja, do Cristianismo primitivo, na óptica das diversas religiões Cristãs, é controverso. A razão é que cada uma delas afirma-se como "a Religião Verdadeira", em oposição a todas as outras, consideradas na sua perspectiva como religiões falsas. Existe uma notória diferença entre apostasia da Fé Cristã e apostasia de uma determinada organização religiosa. Existe diferentes motivações para apostasia e para a forma como a pessoa gere e manifesta essa divergência. As igrejas Cristãs trinitárias, consideram naturalmente como apostasia a rejeição do dogma da Trindade, uma rejeição dos ensinos fundamentais do Cristianismo. Ou seja, é apostasia a

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rejeição de que Jesus Cristo é a segunda pessoa Divina da Trindade, e que o Espírito Santo é a terceira pessoa Divina da Trindade. Para os Cristãos trinitários, negar que Jesus, seja o Filho de Deus e o Cristo (Messias), comete um gravíssimo pecado religioso. Este tipo de apostasia é considerado como de muita ingratidão e uma rebelião contra Deus. (João 3:16) O apóstata da Fé Cristã torna-se parte da identidade colectiva chamada na Bíblia de "anticristo", isto é, "alguém está contra o Cristo (Messias)". Veja também Anticristo.

Anticristo Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Anticristo (do grego αντιχριστός i.e. "opositor a Cristo") é uma denominação comum no Novo Testamento para designar aqueles que se oponham a Jesus Cristo, e também designa um personagem escatológico, que segundo a tradição Cristã dominará o mundo nos últimos dias antes que haja a segunda vinda de Cristo. Considerações gerais O termo anticristo ocorre apenas quatro vezes na Bíblia, todas elas nas cartas do apóstolo João. As passagens são 1 João 2:18, 2:22, 4:3 e 2 João 1:7, onde o termo anticristo é definido como um "espírito de oposição" aos ensinamentos de Cristo. O Cristianismo crê, no entanto, que este "espírito" seja uma personificação de um "messias demoníaco" que virá nos últimos dias. Por essa razão, os Cristãos crêem que este anti-cristo é descrito em outros textos, tais como o livro de Daniel, as cartas de Paulo (como "o homem do pecado") e o Apocalipse como a "Besta que domina o mundo". Para certos grupos Cristãos, incluindo a Igreja Católica, tal Besta chegou a ser personificada através do imperador romano Nero. Ao longo da história, diversas correntes Cristãs acusaram-se entre si ou atribuíram aos seus inimigos a designação de "anticristos", sendo exemplos de utilização de tais argumentos, a utilização pela apoiantes ou opositores da Reforma Protestante, durante o Cisma Papal, nas cruzadas (como referência ao profeta Maomé) e em diversos outros acontecimentos. Actualmente, o termo é bastante popular sobretudo no meio Cristão evangélico, onde existe uma interpretação por parte de muitos grupos de que o Anticristo será uma pessoa que se oporá aos mandamentos da Bíblia e organizará uma sociedade baseada em valores outrora atribuídos ao paganismo, onde todos os cidadãos poderão ser controlados através de uma marca na mão ou na testa à semelhança da marca que os romanos impunham sobre seus escravos, e que seria o número 666. Este Anticristo, por fim, seria derrotado por Cristo em sua segunda vinda, quando se estabelecer seu reinado milenar. Outros observadores consideram também que o termo Anticristo poderá estar ligado aos modernos movimentos satânicos. Outros já observam que o anticristo falado pelos apóstolos Cristãos do primeiro século era alguém que já actuava naqueles dias. Não era personagem de um futuro tão distante, nem futuro próximo. O apóstolo disse: "...anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que havia de vir; e agora já está no mundo". Visões através da história Policarpo alertou aos filipinos que todos os que pregassem uma falsa doutrina seria um anticristo. Irineu especulou que seria “muito provável” que o anticristo poderia ser chamado Lateinos, que é o grego de “homem latino”. São João Crisóstomo alertou contra especulações e antigas histórias sobre o Anticristo, dizendo, “Não nos deixe saber sobre estas coisas”. Ele pregou que conhecendo as descrições de Paulo do Anticristo em 2 Tessalonissences, os Cristãos evitariam a decepção.[3]

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Agostinho de Hipona (S. Agostinho) escreveu: “é incerto em qual templo o Anticristo deve se estabelecer, e ainda se será na ruína do templo que foi construída por Salomão, ou na igreja.” [4] Assim como Nero foi estigmatizado como anticristo pelos Cristãos que perseguia, também Napoleão foi taxado como tal pelos seus inimigos ingleses, o que contribuiu como peça de propaganda pró-británica. Hitler também foi acusado de ser o anticristo, tanto pelos judeus que perseguia como pelos seus inimigos, os Aliados. A braçadeira, a saudação da mão direita e a marca recebida pelos presos nos campos de concentração foram identificadas como sinais da besta. Confissão de Fé Irlandesa (1615). “O Bispo de Roma é, longe de ser a cabeça da Igreja Universal de Cristo, o que sua doutrina e obras, de facto revelam, que ele é aquele “homem do pecado” predito nas santas Escrituras, a quem o Senhor há de consumir com o espírito de Sua boca, e abolir com o resplendor de sua vinda”. Confissão de Fé de Westminster (1647) (Igreja Presbiteriana). “Não há outro cabeça da Igreja senão o Senhor Jesus Cristo: (Col. 1:18; Ef.1:22). Em sentido algum pode ser o Papa de Roma o cabeça dela, senão que ele é aquele anticristo, aquele homem do pecado e filho da perdição que se exalta na Igreja contra Cristo e contra tudo o que se chama Deus.” (Mat. 23:8-10; 2 Tess. 2:3,4,8,9; Apoc. 13:8). Confissão de Fé Londrina (1689) (Igreja Baptista). “O Senhor Jesus Cristo é o cabeça da Igreja, aquele que, por designação do Pai, todo poder para o chamamento, instituição, ordem ou governo da igreja foi investido de maneira suprema e soberana; (Col. 1:18; Mat. 28: 18-20; Ef. 4:11,12) Nem pode o Papa de forma alguma ser o cabeça dela, mas ele é o anticristo, aquele homem do pecado, e filho da perdição, que se exalta a si mesmo, na igreja, contra Cristo e a tudo que se chama Deus; a quem o Senhor destruirá com o resplendor da sua vinda” (O leitor é dirigido à 2 Tess. 2:2-9). A reforma protestante. Muitos reformistas Protestantes, incluindo Martinho Lutero, João Calvino, Thomas Cranmer, John Knox, Cotton Mather, e John Wesley, identificaram o Papado de Roma como o Anticristo. Algumas frases: Lutero (por volta de 1522). Oh! Quando não me custou, apesar de que me sustente a Santa Escritura, convencer-me de que é minha obrigação encarar sozinho com o Papa e apresentá-lo como o Anticristo!...(Martyn, págs. 372, 373). “O Papa, quer apagar a luz do Evangelho destinada a iluminar ao mundo. É, então, o Anticristo predito por Daniel, pelo Senhor Jesus Cristo, Pedro, Paulo e o Apocalipse”. Thomas Cranmer (1489-1556). (Por ocasião do seu martírio) “E quanto ao Papa, Eu o abomino como inimigo de Cristo, e anticristo, com todas as suas falsas doutrinas”.

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8 - Diferenças entre a Religião Católica e a Igreja Ortodoxa (resposta dada por Católico)

A igreja Ortodoxa e a Igreja Católica como tiveram uma origem comum, devem manter algumas semelhanças. Mas como se dividiram, devem também ter desenvolvido diferenças. Quais são as semelhanças e diferenças entre as duas igrejas actualmente? Como é a relação entre os líderes das duas Igrejas? Apesar das semelhanças, as diferenças doutrinárias são profundas, conforme abaixo resumidas. a - Primazia e infalibilidade papal: A Igreja Ortodoxa não aceita, de forma alguma, tanto a primazia como a infalibilidade do bispo de Roma, o Papa, conforme definido pela Igreja Católica. b - Espírito Santo: pela doutrina católica, o Espírito Santo, terceira pessoa da Santíssima Trindade, procede do Pai e do Filho, definido no Concílio de Niceia, enquanto que, para os Ortodoxos, o Espírito Santo só procede do Pai. c - Juízo particular: a Igreja Ortodoxa não aceita o Juízo particular imediatamente após a morte, como ensina a Igreja Católica, admitindo somente o Juízo Universal; consequentemente, a Igreja Ortodoxa não admite a existência do purgatório nem do limbo, bem como não aceita as indulgências. d - Imaculada Conceição: Nossa Senhora, para os Ortodoxos, foi concebida com o pecado original, enquanto que a Igreja católica sempre defendeu o contrário, definido por Pio IX como dogma, em 1854. Algumas diferenças relativas à liturgia, ao culto, aos sacramentos e à disciplina eclesiástica: a - Para os Ortodoxos, a consagração do pão e do vinho é realizada no Prefácio da Missa, e não no Canon, com as palavras pronunciadas por Nosso Senhor na última Ceia, conforme a liturgia católica. b - Na Igreja Ortodoxa não há as tradicionais devoções da Igreja Católica, como a comemoração de Corpus Christi, do Sagrado Coração de Jesus, a cerimónia da Via Crucis, o culto ao Imaculado Coração de Maria, Rosário, e outras. c - Os Ortodoxos só aceitam ícones nos templos. d - Para os Ortodoxos, o Sacramento do Matrimónio é ministrado pelo padre, enquanto que para a Igreja Católica, os ministros são os nubentes. e - Os sacerdotes Ortodoxos têm liberdade de optar entre o celibato e o matrimónio, enquanto os sacerdotes Católicos são celibatários. A Missa é um ponto semelhante: em ambas renova-se o sacrifício do Calvário. A Igreja Ortodoxa segue a Missa composta por S. João Crisóstomo, portanto válida, embora ilícita, pela separação que há com o Papa. A relação entre os líderes de ambas, pelo que foi visto em Assis, é cordial. Porém, você pode notar que as diferenças doutrinárias são profundas e que, para suplantá-las, é necessária uma verdadeira conversão. Nosso Senhor Jesus Cristo, na parábola do Bom Pastor, referindo-se às ovelhas que se 54


encontram fora do seu aprisco, disse: "... é preciso que eu as traga e elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor" (S. João 10, 16). Com tais palavras Nosso Senhor exprime um desejo ou uma oração para que todos se submetam aos ensinamentos que Ele nos deixou, sob a orientação de um só pastor, Pedro e seus sucessores, e não de vários, ou de quaisquer pastores. Para isso é necessário, antes de tudo, professar a mesma e única doutrina por Ele ensinada. Essa é a única tentativa de união.

Qual é a diferença entre a Igreja Católica e a Ortodoxa? São muitas. Enquanto os Católicos seguem fielmente o Papa, os Ortodoxos possuem maior independência: a única função do patriarca - o cargo mais alto em sua hierarquia - é manter a unidade da Igreja. As cruzes também não são iguais: a dos Ortodoxos tem três barras. A de cima foi acrescentada por acreditarem que teria servido para a famosa inscrição INRI (abreviação de Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus). A de baixo teria recebido os pés de Cristo, pregados em separado e não juntos como crêem os Católicos. Existem ainda outras diferenças ritualísticas (veja a tabela abaixo). Até o final do século X, as duas igrejas eram uma só, com os Católicos de hoje radicados na Europa Ocidental e os Ortodoxos ao leste, na Grécia e na Turquia. "A Igreja Ortodoxa surgiu com o objectivo de espalhar o Cristianismo pelo Oriente", afirma o teólogo Rafael Rodrigues da Silva, da PUC-SP. Com o tempo, as diferenças culturais criaram várias rusgas entre elas, como a que diz respeito à língua oficial dos cultos: os Cristãos do Ocidente queriam o latim, enquanto os do Oriente não abriam mão do grego e do hebraico. A separação veio em 1054, no chamado Cisma do Oriente. Os Ortodoxos questionavam a autoridade papal e não aceitaram a interferência de um cardeal enviado pelo Papa Leão IX a Constantinopla, na Turquia. Resultado: o patriarca Miguel Cerulário foi excomungado pelo Vaticano. Cerulário deu o troco excomungando os Católicos e consolidando o rompimento. Dissidências de uma mesma crença (vários pontos separam o Cristianismo do Ocidente e o do Oriente): Regras e Rituais - Voto de castidade. Ortodoxos - Opcional para padre, obrigatório para bispo. Católicos - Obrigatório para todo sacerdote. Regras e Rituais – Papa. Ortodoxos - Não reconhecem sua autoridade. Católicos - É a autoridade máxima. Regras e Rituais – Quaresma. Ortodoxos - Dura 47 dias. Católicos - Dura 40 dias. Regras e Rituais – Calendário. Ortodoxos - Usam o Juliano, com 13 dias a mais no ano. Católicos - Usam o Gregoriano com 365 dias. Regras e Rituais – Natal. Ortodoxos - Comemoram em 7 de Janeiro. Católicos - Comemoram em 25 de Dezembro. Regras e Rituais - Imagens dos santos. Ortodoxos - As igrejas não têm estátuas deles, só pinturas. Católicos - Não há restrições às estátuas. Regras e Rituais – Cruz. Ortodoxos - Tem três barras. Católicos - Tem apenas uma barra horizontal.

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9 - Purgatório Pergunta: Gostaria de um esclarecimento vosso a respeito do que li em um livro de história da classe da minha filha de 12 anos. Entre outras coisas o que me deixou mais chateado foi terem dito que o purgatório foi uma invenção da igreja no século XII, e que até então a ideia Cristã do além túmulo era binária ( céu e inferno ), e que com o purgatório a igreja passou a cobrar valiosas somas pelas indulgências. Inclusive o subtítulo desta parte do livro diz, A INVENÇÂO DO PURGATÓRIO. Eu sei que há muitas citações Bíblicas a respeito do purgatório, mas o senhor poderia esclarecer-me se no início do Cristianismo já havia a crença no purgatório com algum documento antigo, para que eu possa combater essa tese de que foi uma invenção da Idade Média ? Resposta dada por Católico: Evidentemente a Igreja Católica não inventou o purgatório. Você diz que conhece os textos da Sagrada Escritura que o fundamentam. Mas deixe-me repetir alguns deles, para que outros leitores os aproveitem. Em São Mateus se lê que Cristo disse: "Por isso vos digo: todo pecado e blasfémia serão perdoados aos homens, porém, a blasfémia contra o Espírito Santo não será perdoada. Todo o que disser alguma palavra contra o Filho do homem, lhe será perdoado; porém o que a disser contra o Espírito Santo não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no futuro" (Mt. XII, 31-32). Portanto, há pecados que são perdoados no mundo futuro. Com essas palavras Cristo nos ensinou que há pecados que Deus perdoa após a morte. Portanto, existe o purgatório. Os primeiros Cristãos já sabiam disso, pois liam os Evangelhos e os Apóstolos lhos explicavam. Também no livro II dos Macabeus se afirma que "É um santo e saudável pensamento orar pelos mortos, para que sejam livres de seus pecados" (II Mac. XII , 46). Portanto, documento mais antigo e mais autêntico do que a própria Sagrada Escritura não há. Entretanto, é preciso dizer-lhe que já entre os judeus era costume, após a morte de alguém, rezar durante onze meses seguidos a Deus, para que apressasse a purificação da alma da pessoa falecida. Rezava-se, então, a oração chamada Qaddish, palavra que deriva de Qaddosh, ou seja santo, para pedir a santificação da alma da pessoa falecida. Se os judeus já faziam isso, baseados no livro dos Macabeus, é claro que essa tradição continuou na igreja.

Céu, Inferno e Purgatório Resposta dada por Cristão, não Católico

“Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? “ Rm. 11.34 A Bíblia é um Livro que nasceu no coração de Deus, ditada a homens puros pelo Espírito Santo e contém uma mensagem de cunho totalmente espiritual, direcionada a um povo em especial, eleito, escolhido pelo próprio Deus para viverem uma realidade diferenciada dos demais povos. Os ensinamentos dados pelo Espírito Santo, jamais devem serem questionados. São na 56


verdade para serem cumpridos no dia-a-dia. Infelizmente, no decorrer dos milênios, muitos homens criaram teses e ou teorias teológicas que deturparam a palavra santa, incluindo ensinamentos falsos e danosos. A existência do Purgatório é um bom exemplo. O lugar denominado Purgatório, segundo o catolicismo, não é um nível intermediário entre o Céu e o Inferno, mas um local de purificação onde ficam as almas das pessoas que morreram em estado de graça -isto é, salvas-, mas ainda precisariam se preparar para ter condições de ver Deus nos Céus. A sua existência foi teorizada no pontificado do Papa Gregório I, em 593, com base no livro de 2º Macabeus 12.42-46 (livro Apócrifo e que consta na versão católica da Bíblia). Em 1439, no Concílio de Florença, a doutrina foi aprovada e confirmada depois, em 1563 no Concílio de Trento. A Palavra Divina em sua totalidade nos apresenta apenas dois destinos eternos, são eles: Céu e Inferno. E encontram-se na dimensão espiritual. O Céu é destinados àqueles que perseveraram nas doutrinas determinadas por Deus e o Inferno aos desobedientes às verdades bíblicas. Medite nestes textos: a) "Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno." Dn 12.2. b) "Ora, havia certo homem rico que se vestia de púrpura e de linho finíssimo e que, todos os dias, se regalava esplendidamente. Havia também certo mendigo, chamado Lázaro, coberto de chagas, que jazia à porta daquele; e desejava alimentar-se das migalhas que caíam da mesa do rico; e até os cães vinham lamber-lhe as úlceras. Aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de Abraão; morreu também o rico e foi sepultado. No inferno, estando em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio. Então, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim! E manda a Lázaro que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro igualmente, os males; agora, porém, aqui, ele está consolado; tu, em tormentos. E, além de tudo, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que querem passar daqui para vós outros não podem, nem os de lá passar para nós. Então, replicou: Pai, eu te imploro que o mandes à minha casa paterna, porque tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de não virem também para este lugar de tormento. Respondeu Abraão: Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos. Mas ele insistiu: Não, pai Abraão; se alguém dentre os mortos for ter com eles, arrepender-se-ão. Abraão, porém, lhe respondeu: Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos."Lc 16.19-31. c) "Ora, se é corrente pregar-se que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos?... Visto que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos... Mas alguém dirá: Como ressuscitam os mortos? E em que corpo vêm? Insensato! O que semeias não nasce, se primeiro não morrer; e, quando semeias, não semeias o corpo que há de ser, mas o simples grão, como de trigo ou de qualquer outra semente. Mas Deus lhe dá corpo como lhe aprouve dar e a cada uma das sementes, o seu corpo apropriado. Nem toda carne é a mesma; porém uma é a carne dos homens, outra, a dos animais, outra, a das aves, e outra, a dos peixes. Também há corpos celestiais e corpos terrestres; e, sem dúvida, uma é a glória dos celestiais, e outra, a dos terrestres. Uma é a glória do sol, outra, a glória da lua, e outra, a das estrelas; porque até entre estrela e estrela há diferenças de esplendor. Pois assim também é a ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo na corrupção, ressuscita na incorrupção. Semeiase em desonra, ressuscita em glória." 1Co 15.12,21,35-42.

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d) "Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro;" 1Ts 4.16. Em lugar algum, a Bíblia faz referência ao purgatório e ou a existência de um local de purificação pós-morte. a) – Céu: Na visão dos judeus achava-se simbolizado pelo Santo dos Santos, e era a Casa de Deus e dos anjos. O Senhor Jesus Cristo era originário deste céu e para o qual voltou após a ressurreição ("Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir." At 1.11) e em breve retornará a terra ("Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro." 1Ts 4.16). Paulo foi levado a este céu ("Conheço um homem em Cristo que, há catorze anos, foi arrebatado até ao terceiro céu (se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe)" 2Co 12.2). A falta de entendimento sobre as coisas espirituais, até mesmo, pela incapacidade do homem em compreender a “dimensão espiritual” na qual o Senhor encontra-se, bem como, o Seu reino; faz surgir diversas ideias extremamente pobres sobre o paraíso. Entre elas: - O céu é um lugar vazio, todos ficarão “boiando” no espaço, numa eternidade cansativa; - O homem será desprovido de entendimento e vontade; - A memória será apagada, inclusive, perdendo-se a identidade pessoal; - Não reconheceremos uns aos outros; - entre outras. É preciso compreender que o Senhor Deus vive numa “dimensão” a espiritual, totalmente diferente desta na qual vivemos, física e dependente do tempo. O Pai está numa região onde as coisas existem, numa pobre comparação, tão palpável quanto as existente aqui neste planeta; porém, numa magnitude incompreensível a mais brilhante das mentes humanas. Paulo diz: “... arrebatado ao Paraíso e ouviu palavras indizíveis, as quais não é lícito ao homem referir”. 2Co 12.4. É necessário que nossa mente seja aberta e que cresça a ideia de quão magnífico é o Senhor, Suas obras são poderosas e perfeitas. O céu é um paraíso, maravilhoso demais para ser descrito por palavras humanas, preparadas exclusivamente para os que permaneceram firme nas promessas de Salvação. Nos céus seremos eternamente felizes, está diante do Todo Poderoso e contemplar a sua glória e amor será o nosso prazer. A contemplação da glória do Senhor Jesus nos fará entender a extensão do sacrifício e quanto nos amou; em nosso peito arderá o desejo de “gastarmos” a eternidade em louvores infindáveis ao Rei dos Reis. O Céu é prometido àqueles que são fiéis às ordenanças de Deus. a) “Na casa de meu Pai há muitas moradas." Jo 14.2. b) “Assim diz o Senhor: O céu é o meu trono.” Is 66.1. O Céu é: a) Lugar eterno: "Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus." 2Co 5.1; "O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; ceptro de equidade é o ceptro do teu reino." Sl 45.6; "O teu reino é o de todos os séculos, e o teu domínio subsiste por todas as gerações. O SENHOR é fiel em todas as suas palavras e santo em todas as suas obras." Sl 145.13.

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b) Alto lugar: "Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos." Is 57.15. c) Lugar de paz, sem fome, sem tristeza, dores e choro: "Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima." Ap 7.16,17. Não é simbólico ou um estado de espírito. É real, não posso descrevê-lo, é impossível, maravilhoso demais! Foram levados para esse lugar em vida: a) Enoque: "Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte; não foi achado, porque Deus o trasladara. Pois, antes da sua trasladação, obteve testemunho de haver agradado a Deus." Hb 11.5. b) Elias: "Indo eles andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho." 2Rs 2.11. c) Senhor Jesus que retornou: "Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir." At 1:11. Foram arrebatados e contemplaram os céus: a) Estevão: "Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, fitou os olhos no céu e viu a glória de Deus e Jesus, que estava à sua direita, e disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, em pé à destra de Deus." At 7:55,56. b) Paulo: "Se é necessário que me glorie, ainda que não convém, passarei às visões e revelações do Senhor. Conheço um homem em Cristo que, há catorze anos, foi arrebatado até ao terceiro céu (se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe) e sei que o tal homem (se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe) foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir." 2Co 12.1-4. c) João: "Achei-me em espírito, no dia do Senhor, e ouvi, por detrás de mim, grande voz, como de trombeta, dizendo: O que vês escreve em livro e manda às sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia. Voltei-me para ver quem falava comigo e, voltado, vi sete candeeiros de ouro e, no meio dos candeeiros, um semelhante a filho de homem, com vestes talares e cingido, à altura do peito, com uma cinta de ouro. A sua cabeça e cabelos eram brancos como alva lã, como neve; os olhos, como chama de fogo; os pés, semelhantes ao bronze polido, como que refinado numa fornalha; a voz, como voz de muitas águas. Tinha na mão direita sete estrelas, e da boca saía-lhe uma afiada espada de dois gumes. O seu rosto brilhava como o sol na sua força. Quando o vi, caí a seus pés como morto. Porém ele pôs sobre mim a mão direita, dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o último e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno." Ap 1:10-18. b) - Inferno: A existência do Inferno é incontestável!

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O verdadeiro Servo é aquele que está na presença do Pai, não pelo medo do inferno, sim, pelo prazer e satisfação de honrar e glorificar ao Senhor Deus. Na Bíblia as palavras: Geena, Hades, Tártaro (grego) e Sheol (hebraico), são traduzidas pela palavra Inferno. O Inferno é descrito como: a) Castigo eterno: "E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna." Mt 25.46. b) Fogo eterno: "Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos." Mt 25.41. c) Chamas eternas e Fogo devorado: "Os pecadores em Sião se assombram, o tremor se apodera dos ímpios; e eles perguntam: Quem dentre nós habitará com o fogo devorador? Quem dentre nós habitará com chamas eternas?" Is 33.14. d) Fornalha acesa: "Mandará o Filho do Homem os seus anjos, que ajuntarão do seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniquidade e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes... Assim será na consumação do século: sairão os anjos, e separarão os maus dentre os justos, e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes." Mt 13.41,42,49,50. e) Lago de fogo: "E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo." Ap 20.15. f) Fogo e enxofre: "Seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro, dizendo, em grande voz: Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão, também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro." Ap 14.9,10. g) Fogo que não apaga: "A sua pá, ele a tem na mão e limpará completamente a sua eira; recolherá o seu trigo no celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível." Mt 3.12. h) Lugar de punição: "Ora, se Deus não poupou anjos quando pecaram, antes, precipitando-os no inferno, os entregou a abismos de trevas, reservando-os para juízo;" 2Pe 2.4. i) Lugar de tormento: "No inferno, estando em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio." Lc 16.23. c) - Purgatório: Trata-se de uma invenção do catolicismo, criada pelo Papa Gregório I, em 593. O Concílio de Florença, realizado em 1439 a aprovou e foi confirmada no Concílio de Trento, em 1563. Sua sustentação está no livro de 2º Macabeus 12.42-46 (livro apócrifo). Não há na Bíblia textos que afirmam a existência do purgatório, na realidade, a Palavra de Deus mostra com clareza a existência de apenas dois destinos eternos, o Céu e o Inferno, que são selados com a morte. Ouça as Palavras de Cristo: "E Jesus terminou assim: —Portanto, estes irão para o castigo eterno, mas os bons irão para a vida eterna." Mt 25.46.

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O malfeitor crucificado ao lado do Senhor Jesus, tomado pelo arrependimento, recebeu a remissão dos pecados e a promessa da eminente ida para os céus. Cristo não disse: Passe uma temporada no purgatório, purifique-se e venha aos céus! As palavras do Senhor foram: “...em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.” Lc. 23:43. A Bíblia Sagrada nos afirma: “O sangue de Jesus Cristo, nos purifica de todo o pecado.” 1 Jo 1:7. A purificação dada por Cristo é suficiente para restaurar por completo nossa vida, transformando-nos em "Novas Criaturas": "E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas." 2Co 5:17. Só pela graça do Senhor Jesus somos salvos, por meio da fé e jamais exclusivamente pelas obras de justiça que possamos fazer. Leia: "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie." Ef 2:8,9. "Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação. Porquanto a Escritura diz: Todo aquele que nele crê não será confundido. Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo." Rm 10:9-13; "Visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado. Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos e sobre todos os que crêem; porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus. Onde, pois, a jactância? Foi de todo excluída. Por que lei? Das obras? Não; pelo contrário, pela lei da fé. Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei." Rm 3:20-28. "Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus. E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado. Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. Dificilmente, alguém morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer. Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo facto de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira." Rm 5:1-9. A Bíblia não nos deixa dúvida quanto à forma de Salvação. Lembre-se: Se temos ciência da existência de Deus, Jesus, Espírito Santo, diabo, demônio, anjos, céus, inferno, salvação, condenação, etc. ela veio através das páginas da Bíblia, não há outra fonte que traz a existência tal realidade. Portanto, é preciso que nos encaixemos nas verdades da Bíblia quanto à salvação. Não é uma atitude sábia trocarmos as informações bíblicas por teses e ou teorias teológicas criadas com fins duvidosos; o purgatório é um bom exemplo da ação humana. Deixe o Espírito Santo de Deus envolver a tua vida! 61


10 - Igreja Ortodoxa Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Grega de Antioquia A Igreja Ortodoxa Grega de Antioquia é uma igreja Cristã Ortodoxa com sede em Damasco, Síria. Chama-se Ortodoxia ao grupo de igrejas orientais Cristãs que aceitam somente os primeiros sete Concílios Ecuménicos. Sua origem está no próprio berço do Cristianismo, uma vez que a Igreja de Cristo teve início no Oriente e de lá se expandiu para todo o mundo. Essas Igrejas não têm um "fundador", como acontece com vários grupos religiosos, uma vez que elas se organizaram a partir das primeiras comunidades Cristãs. Tudo começou em Jerusalém, com a pregação e ministério de Jesus, considerado o Cristo de Deus, seu Filho Unigênito e Salvador do mundo. Ao iniciar-se, porém, a perseguição judaica contra os Cristãos, como lemos no livro dos Actos dos Apóstolos (Actos dos Apóstolos 7, 54-8,4) e o derramamento do sangue do primeiro mártir por Cristo, o diácono Santo Estêvão, aproximadamente pelo ano 32., muitos Cristãos deixaram Jerusalém e se dispersaram por toda a Judéia, Samaria, Antioquia e outras regiões, anunciando e assim foram se formando as primeiras Comunidades, promovidas, posteriormente, a sedes episcopais e, por sua importância, patriarcais. Sabe-se que os Cristãos foram perseguidos tanto pelas autoridades judaicas, quanto pelo Império Romano que os via como praticantes de uma religião "não-autorizada", ilegal, razão pela qual os mesmos não tinham liberdade de culto, realizando suas reuniões nas casas e junto aos túmulos dos mártires (catacumbas). Entrementes, a fé no Filho de Deus já havia chegado à Acaia, hoje Grécia, e à capital do império, Roma. Tal situação, com maior ou menor rigor, perdurou até o ano 313, quando o Imperador Constantino, o Grande, pelo Édito de Milão, concedeu liberdade religiosa a todos. O mesmo imperador Constantino fundou a cidade de Constantinopla (cidade de Constantino), onde antes existia o sítio de Bizâncio, na Ásia, onde hoje está a cidade de Istambul, na Turquia, cidade para a qual transferiu a sede do império, razão pela qual passou-se a falar em Império Bizantino, o Império Romano do Oriente, sob franca influência da cultura helênica. Constantinopla foi chamada "a nova Roma". Já então a administração da Igreja estava estruturada, tendo à frente os Bispos, Presbíteros (Padres) e Diáconos, como atestou Santo Inácio de Antioquia pelo ano 107. A partir de então, com a liberdade e oficialização concedidas pelo Império, a Igreja passou a se fortalecer e definir liturgicamente, passando, ainda, a enviar missionários aos não-Cristãos. A Igreja Cristã oriental foi profundamente marcada, de forma geral, pela época em que era a Igreja oficial do império. Em 381 foi conferido ao Arcebispo da sede imperial, Constantinopla, o primado de honra e o título de Patriarca, colocando-o, em honra, logo depois do Bispo de Roma, e em 451 recebeu a igualdade em honra e primazia em relação ao mesmo. Finalmente, em 587 recebeu o título de Patriarca Ecuménico. A par a Igreja de Constantinopla, as Comunidades Cristãs mais antigas, ou seja, as Igrejas de Jerusalém, Alexandria e Antioquia estavam igualmente organizadas quanto à hierarquia e corpo doutrinário, em comunhão com as igrejas irmãs. Concílios Ecuménicos Desde cedo a autoridade na Igreja foi exercida de forma colegiada, a exemplo do que fizeram os próprios apóstolos que convocaram o primeiro Concílio da história da Igreja (Actos dos Apóstolos 15, 5-21), na cidade de Jerusalém, no ano 49, para resolver a polémica judaizante, na qual se decidiu desobrigar os Cristãos das práticas judaicas. 62


E foi assim que a Igreja passou a dirimir dúvidas doutrinárias suscitadas pelo surgimento de ensinos errôneos, chamados heresias, com a convocação de Concílios Ecuménicos, assim chamados por contarem com a participação de representantes da Igreja em todo o mundo Cristão e terem autoridade sobre todos os Cristãos. Foram em número de sete os Concílios Ecuménicos, pois após o sétimo a Igreja já havia sofrido a triste divisão Oriente-Ocidente e as assembléias eclesiásticas não mais teriam caráter e autoridade universais, pois o termo "ecumêne" se refere a "toda a terra habitada", aplicandose o termo, à época, a "todo o território do império". Em 325, na cidade de Niceia, se reuniu o Primeiro Concílio Ecuménico, para analisar as ideias de Ário (Arianismo), sacerdote líbio radicado em Alexandria, que punha em questão a identificação plena de Deus em Cristo, afirmando que Jesus não era Deus "de forma perfeita". O Concílio proclamou, contra Ário, que Jesus Cristo era "da mesma natureza" que Deus Pai. Em 381, na cidade de Constantinopla, realizou-se o Segundo Concílio Ecuménico para esclarecer a fé na Santíssima Trindade, estabelecendo os artigos do Credo (Profissão de Fé) que se havia preparado em Niceia, dando-lhes formulação mais ampla e definitiva (este é o Credo Niceno-Constantinopolitano, recitado nas liturgias Ortodoxas até nossos dias). Pronunciou-se este Concílio contra Macedónio, Arcebispo de Constantinopla, que dizia ser o Espírito Santo uma criatura de Deus, como os anjos. Destacou-se nesse Concílio a participação de três grandes Santos Padres: Basílio Magno, Gregório de Nissa e Gregório Teólogo (Nazianzeno). O Terceiro Concílio Ecuménico realizou-se na cidade de Éfeso, no ano 431 e condenou o nestorianismo, doutrina errônea ensinada por Nestório, sacerdote e monge sírio que chegou à sé arquiepiscopal de Constantinopla e que ensinava haver duas pessoas em Jesus, uma humana e outra divina, razão pela qual a Virgem Maria não poderia ser chamada "Mãe de Deus" (Theotokos) e sim "mãe de Cristo" (Christotokos). Os Santos Padres ali reunidos definiram claramente a única pessoa de Jesus, o Cristo, com duas naturezas perfeitamente unidas: a divina e a humana, daí falar-se do Deus-Homem Jesus Cristo, e ser Nossa Senhora a Mãe de Deus. Em 451 se realizou o Quarto Concílio Ecuménico em Calcedónia, que se pronunciou contra Êutiques, um monge pouco instruído, porém influente, superior de um mosteiro próximo de Constantinopla, que pregava que em Cristo existia apenas uma natureza, a divina, e que Jesus, portanto, não era uma pessoa humana e não tinha uma alma como os outros. Ele cria que após a Encarnação, a natureza divina tinha absorvido a natureza humana em Jesus. Essa heresia da "natureza única" ficou conhecida como monofisismo. O Concílio afirmou a existência de duas naturezas (divina e humana) na pessoa única de Jesus, unidas sem confusão, mutação, divisão ou separação. O Quinto Concílio Ecuménico se reuniu novamente em Constantinopla, no ano 553 e reafirmou a condenação do monofisismo. O Sexto Concílio Ecuménico, realizado nos anos 680-681, novamente em Constantinopla, repeliu a heresia monotelista, o "monotelismo" (do grego "monos" = uma, "thelema" = vontade), proposição de que em Jesus havia apenas uma vontade, a divina, segundo o Patriarca Sérgio e o imperador de origem monofisita Heráclio. O Sétimo Concílio Ecuménico (último) reunido em Niceia no ano 787, teve a incumbência de explicar e legitimar o uso e veneração dos santos ícones (imagens) contra os "iconoclastas" ("destruidores de imagens"). Tal vitória é lembrada e comemorada a cada primeiro domingo da Quaresma em todas as Igrejas Ortodoxas, chamado "Dia da Ortodoxia" ou "Dia da Vitória". A forma colegiada de governo permanece nas Igrejas Ortodoxas, tendo cada qual seu Santo Sínodo que se reúne periodicamente sob a presidência do Patriarca ou Arcebispo Primaz, com a Participação de todos os Bispos.

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O "Cisma" e a Reconciliação A triste separação entre os Cristãos do Oriente e do Ocidente, que passou à história sob o título de "Grande Cisma" (não "Grande Cisma do Oriente", pois não se tratou de atitude unilateral) e que se concretizou no ano de 1054, trouxe a perda de comunhão daquela que, até então, era a Igreja indivisa de Cristo. Os factores que, num lento processo, levaram à separação do Oriente e Ocidente Cristãos são vários: políticos, culturais, eclesiásticos e doutrinários. Após aquele ano os Cristãos do Oriente passaram a se denominar "Ortodoxos" (do grego "orthos" = recto, correcto e "doxa" = louvor), ou seja, aqueles que se consideram professar a fé correcta; enquanto os Cristãos do Ocidente passaram a ser chamados "Católicos" por sua ligação à Sé Apostólica Romana e pelo primado de honra da mesma. A 7 de dezembro de 1965, o Patriarca Ecuménico Atenágoras I e o Papa Paulo VI, em documento conjunto, sustaram (desfizeram) oficialmente as excomunhões mútuas entre as igrejas irmãs, com a criação posterior de uma Comissão de Diálogo Teológico, uma vez que a caminhada fraterna já era realidade.

- Os primeiros seis Concílios Ecuménicos (325-681) A vida da Igreja no período inicial bizantino é dominada pelos Sete Concílios Gerais. Estes Concílios preencheram uma tarefa dupla. Primeiro, eles esclareceram e articularam a organização visível da Igreja, tornando clara a posição das cinco grandes Sedes ou Patriarcados, como vieram a ser conhecidos. Segundo e mais importante, os Concílios definiram de vez por toda os ensinamentos da Igreja sobre as doutrinas fundamentais da fé Cristã - a Trindade e a Encarnação. Todos os Cristãos concordam em encarar tais coisas como "mistérios" os quais se encontram além da linguagem e compreensão humanas. Os bispos, quando redigiam definições nos Concílios, não intencionavam explicar o mistério, apenas procuravam eliminar certas maneiras erradas de falar e raciocinar sobre ele. Para impedir que os homens se desviassem em erro ou heresia, eles tão somente esclareciam o modo correto de se referir ao mistério. As discussões nos Concílios às vezes parecem abstratas e remotas, embora tenham uma finalidade prática: a salvação do homem. O homem, como ensina o Novo Testamento, é separado de Deus pelo pecado, e não pode por seus próprios meios romper a barreira que o pecado criou. Deus, portanto tomou a iniciativa: tornou-se homem, foi crucificado, e ressuscitou, libertando desta forma a humanidade da prisão do pecado e da morte. Esta é a mensagem central da fé Cristã e é a mensagem de redenção que os Concílios estavam preocupados em salvaguardar. As heresias eram perigosas e exigiam condenação, pois prejudicavam o ensinamento do Novo Testamento, criando uma barreira entre o homem e Deus, tornando assim impossível para o homem atingir a salvação total.São Paulo exprimiu essa mensagem de redenção em termos de participação. Cristo participou de nossa pobreza para que pudéssemos participar das riquezas de sua divindade: "Pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, se fez pobre pelo amor de vós, para que pela sua pobreza vos tornásseis ricos" (2 Coríntios 8:9). No Evangelho de São João é encontrada a mesma ideia de modo ligeiramente diferente. Cristo declara que Ele deu a seus discípulos uma participação na divina glória e Ele ora para que possam alcançar a união com Deus: "Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado para que sejam um como nós o somos; eu neles e Tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que Tu me enviaste, e os amaste como também amaste a mim" (João 17:22-23). Os Padres Gregos tomaram este e outros textos similares em seu sentido literal e ousaram falar da "deificação" do homem (do grego theosis). Se é para o homem participar da glória de Deus, eles dizem, se é para que sejam "aperfeiçoados na unidade" com Deus, isto significa de facto que o homem precisa ser 64


"deificado". Ele é chamado para tornar-se, pela graça, o que Deus é por natureza. A este respeito, Santo Atanásio resumiu a finalidade da Encarnação com o seguinte: "Deus tornou-se homem para que possamos nos tornar Deus”.Assim, se este "tornar-se Deus, esta theosis, é possível, Cristo o Salvador deve ser ambos, completamente homem e completamente Deus. Ninguém a não ser Deus pode salvar o homem. Portanto, se Cristo é quem salva, ele deve ser Deus. Mas apenas se ele for verdadeiramente homem, como somos, podemos nós homens participar naquilo que ele fez por nós. É firmada uma ponte entre Deus e o homem pelo Cristo Encarnado, homem-Deus. "E acrescentou: Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem" (João 1:51). Não apenas os Anjos usam aquela escada mas toda a raça humana. Cristo deve ser completamente Deus e completamente homem. Cada heresia, a seu tempo, nega alguma parte desta afirmação vital. Ou Cristo foi criado menos do que Deus (Arianismo); ou sua humanidade era tão afastada de sua divindade que ele tornou-se duas pessoas em vez de uma (nestorianismo), ou Ele não era apresentado como verdadeiramente homem (monofisismo, monotelismo). Cada Concílio defendia esta afirmação. Os dois primeiros, ocorridos no século IV, concentraram-se na primeira parte (de que Cristo deve ser completamente Deus) e formularam a doutrina da Trindade. Os quatro seguintes nos séculos V, VI e VII, concentraram-se na segunda parte (a plenitude da humanidade de Cristo) e também procuraram explicar como humanidade e divindade podiam ser unidas numa única pessoa. O sétimo Concílio, em defesa dos Santos Ícones, parece, à primeira vista, afastado da questão; mas, como os primeiros seis, estava basicamente relacionado com a Encarnação e a salvação do homem. - Niceia: I Concílio Ecuménico A principal realização do Concílio de Niceia em 325 foi a condenação do Arianismo. Arius, um padre de Alexandria, sustentava que o Filho era inferior ao Pai e, ao traçar uma linha divisória entre Deus e a criação, ele colocou o Filho entre as coisas criadas: uma criatura superior, é verdade, mas uma criatura. Sua intenção, sem dúvida, era proteger a unidade e transcendência de Deus, mas o efeito de seus ensinamentos, fazendo Cristo menos do que Deus, tornava a deificação do homem impossível. Apenas se Cristo for verdadeiramente Deus, o Concílio respondeu, poderá nos unir a Deus, pois ninguém além de Deus poderá abrir para o homem o caminho da união. Cristo é "um em essência" (homoousios) com o Pai. Ele não é um semideus ou uma criatura superior, mas Deus da mesma forma que o Pai é Deus: "Deus verdadeiro de Deus verdadeiro”, o Concílio proclamou no Credo que redigiu, "gerado não criado, consubstancial ao Pai."O Concílio de Niceia tratou também da organização visível da Igreja. Fazendo referência aos três grandes centros: Roma, Alexandria e Antioquia (Cânone VI). Ele também dispôs que à Sé de Jerusalém, mesmo permanecendo sujeita ao Metropolita de Cesareia, deveria ser dado o próximo lugar de honra após essas três (Cânone VII). Constantinopla obviamente não foi mencionada, uma vez que ainda não havia sido oficialmente inaugurada como capital, o que somente aconteceu cinco anos depois; ela continuava sujeita como antes, ao Metropolita de Heraclea. - I Constantipolitano: II Concílio Ecuménico O trabalho de Niceia foi retomado pelo segundo Concílio Ecuménico, realizado em Constantinopla em 381. Este Concílio aumentou e adaptou o Credo de Niceia, desenvolvendo em particular os ensinamentos a respeito do Espírito Santo, de quem afirmava ser Deus da mesma forma que o Pai e o Filho o são: "que procede do Pai e com o Pai e o Filho recebe a mesma adoração e a mesma glória”. O Concílio alterou também o conteúdo do sexto Cânone de Niceia. A posição de Constantinopla, agora capital do Império, não podia mais ser ignorada, e lhe foi designado o segundo lugar, após Roma e antes de Alexandria. "O Bispo de Constantinopla deve ter prerrogativas de honra após o Bispo de Roma, pois Constantinopla é a nova Roma" (Cânone III).Por trás das definições do Concílio existia o trabalho de teólogos que davam precisão às formulações que o Concílio empregava. Era a suprema realização de Santo 65


Atanásio de Alexandria, extrair todas as implicações das palavras-chaves no Credo de Niceia; homoousios, um na essência ou substância, consubstancial. Complementando seu trabalho havia o dos três Padres Capadócios, São Gregório de Nazianzo, conhecido na Igreja Ortodoxa como Gregório, o Teólogo (329-390), São Basílio, o Grande (330-379) e seu irmão caçula São Gregório de Nissa (morto em 394). Enquanto Atanásio enfatizava a unidade de Deus - Pai e Filho são um em essência (ousia) - os capadócios enfatizavam a trindade divina - Pai, Filho e Espírito Santo são três pessoas (hypostaseis). Preservando um equilíbrio delicado entre a trindade e a unidade em Deus, eles deram significado total ao clássico sumário da doutrina Trinitária, três pessoas em uma essência. Nunca até então a Igreja havia possuído quatro teólogos de tal envergadura em uma única geração. - Éfeso: III Concílio Ecuménico Após 381 o Arianismo deixou rapidamente de ser uma questão empolgante, exceto em certas partes da Europa Oriental. O aspecto polêmico do trabalho do Concílio está no seu terceiro Cânone, do qual se ressentiram igualmente Roma e Alexandria. A Velha Roma se questionava aonde as pretensões da Nova Roma terminariam. Não poderia Constantinopla vir a reivindicar o primeiro lugar? Roma decidiu ignorar o Cânone ofensivo e somente no Concílio de Latrão (1215) o Papa reconheceu formalmente a reivindicação de Constantinopla de segundo lugar. (Constantinopla encontrava-se naquela época nas mãos dos Cruzados e sob a legislação de um Patriarca latino). Mas o Cânone era igualmente um desafio para Alexandria, que até então havia ocupado o primeiro lugar no Oriente. Os setenta anos seguintes testemunharam um agudo conflito entre Constantinopla e Alexandria e, por um tempo, a vitória foi para a última. O primeiro grande sucesso de Alexandria foi no Sínodo de Oak, quando Teófilo de Alexandria garantiu a deposição e o exílio do Bispo de Constantinopla, São João Crisóstomo, "João Boca de Ouro" (344-407). Um pregador fluente e eloquente - seus sermões duravam frequentemente uma hora ou mais. João expressava de forma popular as ideias teológicas, formuladas por Atanásio e pelos Capadócios. Um homem de vida austera e meticulosa, inspirado por uma profunda, compaixão pelos pobres e por um ardoroso zelo por justiça social. De todos os Padres ele talvez seja o mais amado da Igreja Ortodoxa, e o que tem seus trabalhos mais lidos. O segundo grande sucesso de Alexandria foi conseguido pelo sobrinho e sucessor de Teófilo, São Cirilo de Alexandria (morto em 444), que provocou a queda de outro Bispo de Constantinopla, Nestório, no Terceiro Concílio Ecuménico realizado em Efeso (431). Mas em Éfeso havia mais em jogo do que a rivalidade de duas Sés. Assuntos doutrinais, adormecidos desde 381 despertaram de novo, centralizados agora não mais na Trindade, mas na Pessoa do Cristo. Cirilo e Nestório concordavam que Cristo era completamente Deus, um da Trindade, mas divergiam em suas descrições 'de sua humanidade e em seus métodos de explicar' a união de Deus e homem numa única pessoa. Eles representavam diferentes tradições ou escolas de teologia. Nestório cresceu na escola de Antioquia, mantida a integridade da humanidade de Cristo, mas distinguia tão enfaticamente a humanidade e a divindade que parecia correr o risco de terminar, não com uma pessoa, mas com duas coexistindo no mesmo corpo. Cirilo, o protagonista da tradição oposta de Alexandria, partia da unidade da pessoa do Cristo, antes que da diversidade de sua humanidade e de sua divindade, mas falava da humanidade de Cristo com menos empolgação que o antioquino. Qualquer uma das teses, se pressionada com força, poderia tornar-se herética, e a Igreja necessitava de ambas para formar uma imagem equilibrada de todo o Cristo. Foi uma tragédia para o Cristianismo que as duas escolas, em vez de se equilibrarem mutuamente, entraram em conflito. Nestório precipitou a controvérsia se recusando chamar a Virgem Maria "Mãe de Deus" (Theotokos). Este título já era aceito na devoção popular, mas parecia a Nestório implicar uma 66


confusão na humanidade de Cristo e sua divindade. Maria, ele questionava, e aqui fica evidente seu "separatismo" antioquino - somente deve ser chamada "Mãe do Homem" ou no máximo "Mãe do Cristo”, uma vez que ela é mãe apenas da humanidade de Cristo, não de sua divindade. Cirilo, apoiado pelo Concílio respondeu com o texto "E o Verbo se fez carne" (S. João l:4): Maria é a mãe de Deus, pois "ela deu à luz o Verbo de Deus feito carne." A quem Maria deu à luz não era um homem vagamente unido à Deus, mas uma única e íntegra pessoa, que é Deus e homem ao mesmo tempo. O nome Theotokos salvaguarda da unidade da pessoa do Cristo: negar-lhe tal titulo significa separar o Cristo Encarnado em dois, rompendo a ponte entre Deus e o homem e erigindo na pessoa do Cristo um muro de separação. Assim podemos ver que não apenas títulos de devoção estavam envolvidos em Efeso, mas a própria mensagem de salvação. A mesma primazia que a palavra homoousios ocupa na doutrina da Trindade, a palavra Theotokos tem na doutrina da Encarnação. Alexandria teve outra vitória no segundo Concílio realizado em Efeso em 449, contudo essa reunião, ao contrário de sua predecessora de 431, não foi aceita pela totalidade da Igreja. Sentiu-se que o partido de Alexandria havia ido dessa vez longe demais. Dióscoro e Eutiques, levando a extremos os ensinamentos de Cirilo, sustentavam que em Cristo havia não apenas uma unidade de pessoas, mas uma única natureza - Monofisismo. Parecia a seus oponentes embora os monofisitas negassem que se tratava de mera interpretação de seus pontos de vista - que tal modo de falar punha em perigo a totalidade da humanidade de Cristo, a qual no monofisismo, tornou-se tão amalgamada com sua divindade que poderia ser engolida como uma gota no oceano. - Calcedónia: IV Concílio Ecuménico Apenas dois anos mais tarde, o Imperador convocou na Calcedónia uma nova reunião de bispos, que a Igreja de Bizâncio e o ocidente consideram como o quarto Concílio Geral. O pêndulo agora voltou em direção aos antioquinos. O Concílio reagiu tenazmente contra a terminologia monofisita e afirmou que embora Cristo seja uma pessoa, existe n'Ele, não uma, mas duas naturezas. Os bispos aclamaram o Livro de São Leão o Grande, Papa de Roma (morto em 461), no qual as duas naturezas estão claramente distinguidas. Em sua proclamação de fé eles afirmavam sua crença em "um e verdadeiro Filho, perfeito na divindade e perfeito na humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem..., reconhecido em duas naturezas inconfundíveis, imutáveis, indivisíveis, inseparáveis; a diferença entre as naturezas não é de forma alguma removida por causa da união, ao contrário a propriedade peculiar de cada natureza é preservada e ambas combinam em uma pessoa e em uma hipostase”. A Definição de Calcedónia, pode-se notar, não é dirigida apenas aos monofisitas ("em duas naturezas, inconfundíveis, imutáveis), mas também aos seguidores de Nestório ("um e verdadeiro Filho... indivisível, inseparável).Mas Calcedónia foi mais do que uma derrota para a teologia de Alexandria: foi uma derrota para os apelos de Alexandria de governadora suprema no Oriente. O Cânone XXVIII de Calcedónia confirmou o Cânone III de Constantinopla, assegurando à Nova Roma o próximo lugar em honra logo após a velha Roma. Leão repudiou este cânone, mas o Oriente, desde então, reconheceu sua validade. O Concílio também emancipou Jerusalém da jurisdição de Cesareia e lhe deu o quinto lugar entre as grandes Sedes. O sistema mais tarde conhecido entre os Ortodoxos como Pentarquia agora estava completo, por meio do qual cinco grandes Sedes da Igreja eram mantidas em honra especial e uma dada ordem de precedência foi estabelecida entre elas: em ordem decrescente: Roma; Constantinopla; Alexandria; Antioquia; Jerusalém.

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Todas as cinco reivindicavam fundação apostólica. As quatro primeiras eram as mais importantes cidades do Império Romano; a quinta foi anexada por tratar-se do lugar onde Cristo sofreu na cruz e ressuscitou dos mortos. O bispo de cada uma dessas cidades recebia o título de Patriarca. Os cinco patriarcados dividiam entre eles em esferas de jurisdição todo o mundo conhecido, com exceção de Chipre, a quem foi garantido independência pelo Concílio de Éfeso e permaneceu independente desde então. Quando se fala da concepção Ortodoxa de Pentarquia existem dois prováveis mal entendidos que devem ser evitados. Primeiro, o sistema de Patriarcas e Metropolitas é um assunto relativo à organização eclesiástica. Contudo, se olharmos a Igreja do ponto de vista não de ordem eclesiástica, mas de direito divino, então temos que dizer que todos os bispos são essencialmente iguais, por mais humilde ou nobre que seja a cidade que ele preside. Todos os bispos participam igualmente na sucessão apostólica, todos têm os mesmos poderes sacramentais e todos são divinamente indicados mestres da fé. Se surge uma disputa sobre doutrina, não é suficiente aos Patriarcas expressar sua opinião: todos os bispos das dioceses tem o direito de assistir ao Concílio Ecuménico, de falar e de votar. O sistema da Pentarquia não reduz a igualdade essencial de todos os bispos, nem priva cada comunidade local da importância que Inácio lhes havia assegurado. Em segundo lugar, os Ortodoxos acreditam que entre os cinco Patriarcas o Papa tem um lugar de destaque. A Igreja Ortodoxa não aceita a doutrina da autoridade papal, publicada nos decretos do Concilio Vaticano de 1870, e ensinada hoje na Igreja Católica Romana; mas ao mesmo tempo, a Ortodoxia não nega à Santa e Apostólica Sé de Roma, uma primazia de honra, junto com o direito (sob certas condições) de atender chamados de todas as partes da cristandade. Note que usamos a palavra "primazia”, não "supremacia". Os Ortodoxos consideram o Papa corno o Bispo "que preside no amor," para adaptar uma frase de Santo Inácio: o erro de Roma, assim crêem os Ortodoxos - foi tornar essa primazia ou "presidência de amor" em supremacia de jurisdição e força externa.Esta primazia que Roma goza tem sua origem em três factores. Primeiro, Roma foi a cidade onde São Pedro e São Paulo foram martirizados e onde Pedro foi bispo. A Igreja Ortodoxa reconhece Pedro como o primeiro entre os apóstolos: ela não esquece os célebres "textos Petrinos" nos Evangelhos (Mateus 16:8-19; Lucas 22:2; João 21:5-17) embora os teólogos Ortodoxos não entendam estes textos da mesma forma que os comentaristas Católicos romanos modernos. E enquanto muitos teólogos Ortodoxos diriam que não apenas o Bispo de Roma, mas todos os bispos são sucessores de Pedro, muitos deles ao mesmo tempo admitem que o Bispo de Roma é sucessor de Pedro de uma forma especial. Em segundo, a sé de Roma também possuía sua primazia na posição ocupada pela cidade de Roma no Império: ela era a capital, a cidade principal do mundo antigo, e como tal em certa medida ela continuou a ser mesmo após a fundação de Constantinopla. Em terceiro embora houvesse ocasiões em que o Papa caisse em heresia, de um modo geral durante os oito primeiros séculos da história da Igreja, a sé romana se destacava pela pureza de sua fé: outros patriarcados oscilavam durante as grandes disputas doutrinais, mas Roma geralmente permanecia firme. Quando bastante pressionada na batalha contra os heréticos, os homens sabiam que podiam confiar no Papa. Não apenas o Bispo de Roma, mas todo bispo é indicado por Deus para ser um mestre da fé; seja porque a sé de Roma havia na prática ensinado a fé com uma destacada lealdade a verdade, era acima de tudo a Roma que os homens pediam orientação nos primeiros séculos, da Igreja. Mas como com os Patriarcas, também com o Papa; a primazia assegurada por Roma não sobrepõe a igualdade essencial de todos os bispos. O Papa é o primeiro bispo na Igreja - mas ele é o primeiro entre iguais. Éfeso e Calcedónia foram a base da Ortodoxia, mas formam também um marco de ofensas. Os Arianos se reconciliaram gradualmente e não formaram um cisma duradouro. Mas até os 68


dias de hoje existem Cristãos nestorianos que não aceitam as decisões de Efeso e monofisitas que não aceitam as de Calcedónia. Os nestorianos em sua maioria ficaram fora do Império e se ouviu muito pouco a respeito deles na história bizantina. Contudo, grande número dos monofisitas, particularmente no Egipto e Síria, ficaram súditos do Imperador, e numerosos e mal sucedidos esforços foram feitos para trazê-los de volta à comunhão com a Igreja de Bizâncio. Como acontece com frequência, diferenças teológicas tornam-se mais amargas por tensões nacionais e culturais. Egipto e Síria, ambos predominantemente não gregos na língua e cultura, se ressentiam do poder da grega Constantinopla, tanto em questões religiosas como políticas. Assim, um cisma eclesiástico foi reforçado por separatismo político. Não fossem por tais factores teológicos ambos os lados poderiam talvez ter alcançado uma compreensão teológica após Calcedónia. Estudiosos modernos estão inclinados a pensar que a diferença entre monofisitas e calcedônios foi basicamente de terminologia: os dois partidos usavam linguagem diferente, mas intimamente ambos estavam preocupados em manter as mesmas crenças.

- V e VI Concílios Ecuménicos A Definição de Calcedónia foi suplementada pelos dois concílios seguintes, ambos realizados em Constantinopla. O quinto Concílio Ecuménico (553) reinterpretou os decretos de Calcedónia de um ponto de vista alexandrino e procurou explicar em termos mais construtivos do que Calcedónia havia usado, como as duas naturezas de Cristo se uniram para formar uma única pessoa. O sexto Concílio Ecuménico (680-1) condenou a heresia monotelista, uma nova forma de monofisismo. Os monotelistas argumentavam que embora Cristo tenha duas naturezas e sendo Ele uma única pessoa, ele tem apenas uma vontade. O Concílio respondeu que se Ele tem duas naturezas, então Ele deve ter duas vontades. Os monotelistas como os monofisitas depreciavam a totalidade da humanidade de Cristo, uma vez que humanidade sem vontade humana seria incompleta, uma mera abstração. Uma vez que Cristo é verdadeiro homem e verdadeiro Deus, Ele deve ter uma vontade humana assim como uma divina. Durante os cinquenta anos antes do encontro do sexto concílio, Bizâncio confrontou um repentino e alarmante acontecimento: o surgimento do Islão. O facto mais surpreendente sobre a explosão do Islão é sua velocidade. Quando o Profeta morreu em 632, sua autoridade pouco se estendia além de Hejaz. Mas em quinze anos seus seguidores árabes haviam tomado a Síria, Palestina e Egipto; nos próximos cinquenta anos eles estavam nos muros de Constantinopla e quase capturaram a cidade; em cem anos haviam varrido o Norte da África, avançado através da Espanha, e forçado a Europa ocidental a lutar por sua vida na batalha de Poitiers (oeste de França). As invasões árabes foram chamadas "uma explosão centrífuga, dirigindo em todas as direções pequenos corpos de cavaleiros montados, em guerra de comida, saque e conquista. Os antigos impérios não estavam em condições de resistir a eles. O Cristianismo sobreviveu, mas com dificuldades. Os bizantinos perderam suas possessões orientais e os três Patriarcados de Alexandria, Antioquia e Jerusalém passaram para controle dos infiéis; com o Império Cristão do Oriente, o Patriarcado de Constantinopla estava agora sem rival. Desde então, Bizâncio nunca mais se viu livre dos ataques dos maometanos e embora tenha resistido mais oito séculos ao final ela sucumbiu.

Igrejas Cristãs Logo depois da morte de Jesus, seus discípulos directos fundaram a Igreja primitiva e alguns núcleos Cristãos foram edificados por eles, dando início à divulgação da Boa Nova. Os primeiros Cristãos foram os discípulos quase todos judeus que acreditavam que Jesus era o Messias, o salvador esperado por sua raça. Os adeptos da nova crença gradativamente foram se afastando do judaísmo, entretanto adotaram as Escrituras do Velho Testamento dos judeus, o que foi fonte de discordâncias entre alguns dos apóstolos, nos primeiros tempos. Mais tarde, apareceu no cenário histórico a figura de Paulo de Tarso, chamado "apóstolo dos gentios". 69


Devido sua profunda dedicação ao ideal do Cristo, as actividades Cristãs se multiplicaram e várias comunidades foram fundadas sob sua orientação. A história da vida desse apóstolo, pode ser apreciada na Bíblia, através das cartas que escrevia às Igrejas e aos seus discípulos. Nesses escritos, ele procurava passar as orientações devidas aos núcleos, profundamente apaixonado que era pelo ideal de amor de Jesus. Foi devido a sua coragem e perseverança que a doutrina de Jesus, o Rabi Galileu, não permaneceu circunscrita à comunidade judia e ultrapassou as fronteiras de raça, indo ser semeada para todos os povos. Neste período, as práticas nos templos seguiam os rituais da antiguidade que os judeus trouxeram da Mesopotâmia, em especial da Babilônia onde havia ficado por mais de 70 anos, desde o reinado de Nabucodonosor. Os adeptos se reuniam para estudar os princípios da moral evangélica, deixada por Jesus. Uns liam, outros interpretavam e eram comuns as manifestações do Espírito Santo, o que para eles era muito natural. A invocação do Espírito Santo era feita através de hinos de louvores, súplicas e bençãos dadas pelos sacerdotes. O baptismo era um dos principais rituais dessas Igrejas pois era o princípio dos novos ensinamentos. Através dele o ser humano livrava-se do pecado que o degradou. O sacrifício do corpo e sangue de Cristo, representados pelo pão e vinho, era a oferenda para o Deus Pai. Esses e os outros sacramentos já estavam definidos desde os primórdios pelo próprio Cristo. A primeira organização da comunidade Cristã em forma de igreja, tal como a conhecemos hoje, isto é com um sacerdote que oferece o pão e vinho como sacrifício a Deus, foi em Jerusalém e seu mestre, orientador e chefe máximo foi São Tiago, irmão de Jesus. Acredita-se que a primeira construção utilizada como igreja, isto é templo, foi a casa de João Marcos, onde Cristo realizou a última ceia com seus discípulos. Lá hoje é o Mosteiro de São Marcos, mantido pela Igreja Siríaca Ortodoxa de Antioquia, onde, até hoje funciona o Seminário Teológico de São Marcos, em Jerusalém. Concomitantemente, os outros discípulos, fundaram as igrejas de Antioquia na Síria (S. Pedro), da Mesopotámia do Norte (S. Judas Tadeu), Alexandria no Egipto (S. Marcos). Depois disso, os discípulos e apóstolos avançaram para Oeste, chegando a Roma (S. Pedro e S. Paulo), e de lá para toda a Europa e também para Oriente até a Índia (S.Tomé) . Por onde passavam, ensinavam e deixavam seus representantes e bispos e diáconos. A organização definitiva das igrejas Cristãs ocorre no último quartel do primeiro século do Cristianismo tendo por base a estrutura da Igreja de Antioquia, já que Jerusalém fora destruída pelos romanos em 70d.C (acredita-se que os Cristãos de Jerusalém teriam fugido antes do cerco dos romanos, pois somente lá permaneceram os judeus fanáticos que se autodestruíram). A estrutura hierárquica da Igreja Primitiva já compreendia a seguinte estrutura: o Bispo, chefe máximo que administrava diversas comunidades eclesiásticas, os padres que administravam cada comunidade local e os diáconos que ajudavam na celebração das oferendas, cantavam e protegiam a Igreja dos ataques dos opositores, pagãos e outros que procuravam destruir a Igreja nascente. Com a destruição de Jerusalém, a referência Cristã passou para a comunidade de Antioquia, onde S. Pedro estabelecera uma base firme. Para continuar sua missão pelo mundo, S. Pedro deixara em seu lugar um bispo chamado Evódios que dá continuidade aos trabalhos de S. Pedro. Em 68 D.C. com o falecimento de Evódios, a comunidade elege um outro bispo, S. Inácio (Ighnatios na língua siríaca), cognominado "o iluminador". Foi S. Ignácio quem deu formato final à organização interna e à celebração e ritual da oferenda, ou seja da missa, a qual teve seu início com a liturgia de S. Tiago (essa liturgia é utilizada por todas as Igrejas Apostólicas Originais quais sejam, de Antioquia, Alexandria e Roma e a elas acrescenta-se a de Constantinopla). S. Ignácio promove a música sacra e organiza os cantores em dois grupos (gudo dzamore na língua aramaica), um à esquerda do altar e outro à direita, com o sacerdote no centro olhando o altar e cada grupo canta em resposta ao outro, estrutura esta chamada de antifónica.

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A história da Igreja atingiu um momento decisivo em 313, quando o imperador romano Constantino, o Grande, deu aos Cristãos a liberdade para a prática de sua religião e o Estado devolveu aos seguidores de Jesus muitos bens materiais que deles haviam sido confiscados no período da perseguição. Após o Concílio de Niceia, no ano 325 D.C., fixou-se definitivamente o símbolo da fé e a partir daí instalou-se a edificação nos templos, de altares consagrados ao Senhor. Em 330, Constantino deixou Roma e se estabeleceu a capital do Império numa nova cidade, batizada com seu nome - Constantinopla (actualmente Istambul, na Turquia). A cidade tornouse então o mais novo centro do Cristianismo oriental.

Patriarcado de Alexandria A Igreja de Alexandria foi fundada pelo apóstolo São Marcos. Fora conferido ali o título de Papa, pela primeira vez na história, ao Patriarca Hiraclas, em 232. Patriarcado de Antioquia Os fundadores da Igreja Antioquina são os corifeus dos apóstolos, Pedro e Paulo. O primeiro Concílio Ecuménico reconheceu no bispo de Antioquia a primazia sobre todos os bispos do Oriente, tendo o segundo Concílio confirmado a decisão do primeiro Concílio. Em 540, os partas (persas) pagãos tomam Antioquia e praticam pilhagens fenomenais, levando a cidade quase à destruição total. O patriarcado então começa uma peregrinação de diversos séculos e somente para em eee Em 1098 os cruzados ocuparam Antioquia e foram deslocados pelos árabes em 1648. Por isso o Patriarcado Antioquino estabeleceu-se em Damasco no ano de 1342. Patriarcado dos Assírios Os assírios da Mesopotâmia Oriental, sob a orientação do bispo de Seleucia-Qutesifon, recusam-se a aceitar a decisão do Concílio de Éfeso e separaram-se da Igreja Antioquina em 451. Seu bispo assume o título de Católicos (=universal). Igreja Maronita Fundada por um pregador siríaco chamado João Marun, no século V. Em 1183 os maronitas declararam-se independentes do Patriarcado Antioquino e por influência dos cruzados fazem um pacto com o representante do Papa de Roma o qual indicou Eramia Hamchiti como patriarca. O Patriarcado Maronita tem sua sede em Kanubin, nas montanhas do Líbano. Os Gregorianos Em 1050 os gregorianos desligaram-se do Patriarcado Antioquino. No século XVI, as missões religiosas européias começaram a se realizar no Oriente. Em 1648 o Patriarca Makario empreendeu uma visita histórica à Rússia e a todos os países balcânicos. Em 1724 os gregos Católicos deixaram a Igreja Antioquina. Patriarcado de Jerusalém O apóstolo Jacó fundou a Igreja de Jerusalém (mãe de todas as Igrejas Cristãs). No ano 52 ele presidiu o Sínodo Apostólico. Nesta mesma Igreja, muito depois, em 326 a rainha do Império Romano, Santa Helena, encontrou a Santa Cruz e construiu a Igreja da Ressurreição e da Natividade e mais outros templos sobre a gruta, o Gólgota e o Santo Sepulcro. 71


Patriarcado Russo Santo André é considerado o primeiro pregador do Cristianismo na Rússia. Propagou-se a doutrina Cristã na Rússia na era do Imperador de Bizâncio, Basílio I (867 - 886). A princesa Olga foi batizada em 975 pelo Patriarca Ecuménico, na catedral Hagia Sofia, em Constantinopla. Em 1657, o Patriarcado Russo passou a ser definitivamente independente, desligando-se do Patriarcado de Constantinopla. Patriarcado da Geórgia O Cristianismo ingressou na Geórgia na primeira metade do século IV, por intermédio de uma escrava síria de nome Nuna, que conseguiu converter o rei Mirban para o Cristianismo, juntando-se seus adeptos ao Patriarcado de Antioquia. A Igreja da Geórgia declarou-se independente da Igreja Antioquina no fim da gestão do Patriarca Antioquino Pedro III. Patriarcado da Sérvia Os povos da Sérvia adotaram o Cristianismo na segunda metade do século IX, ano 870, por intermédio de missionários enviados pelo Patriarcado Ecuménico, sendo a sede de seu bispado a cidade de Rask. Patriarcado da Roménia O Cristianismo propagou-se na Roménia graças aos esforços do Patriarcado Ecuménico, auxiliado pelos povos eslavos, por intermédio dos missionários bizantinos. A Roménia, submetida espiritualmente ao Patriarcado de Constantinopla, em 1885, separou-se no tempo do Patriarca Ecuménico Joaquim IV. Em 1925 o Patriarcado da Roménia foi fundado oficialmente. Patriarcado da Bulgária O Cristianismo ingressou nos Bálcãs no meado do século IX, graças aos missionários e pregadores enviados pelo Patriarcado Ecuménico. O rei Boris adoptou o Cristianismo em 864, graças aos esforços de sua irmã, a princesa Teodora e o gigantesco empenho de Metódio, que concitou o povo Búlgaro a adotar o Cristianismo. O rei Simão declarou em 927 o arcebispo da Bulgária Patriarca independente, desligando-o do Patriarcado de Constantinopla, fixando a sede em Dorostol (actual Silestra) e depois em Okhrida e Ternovo. Nos fins do século XIV (1393 - 1398), a Bulgária fora conquistada pelas armas otomanas que eliminaram o Arcebispado de Ternovo, submetendo as suas dioceses ao Patriarcado de Constantinopla, bem como subordinaram o Arcebispado de Okhrida em 1767 ao Patriarca Ecuménico Samuel. Separou-se a Bulgária do Patriarcado Ecuménico em 1860 e, em 1872 declarou-se definitivamente independente, tornando-se Patriarcado em 1953, sendo oficialmente reconhecida pelas Igrejas Ortodoxas em 1961. A Igreja de Chipre O fundador da Igreja de Chipre é o apóstolo Barnabé. Logo após o Concílio de Calcedonia, o Bispo da Igreja de Chipre se rebelou contra a Igreja de Antioquia e aderiu a Igreja de Constantinopla. Os cruzados invadiram Chipre em 1211, os turcos em 1571 e os britânicos em 1887. A ilha declarou-se independente e consequentemente uma república em 1960, sendo sua beatitude o Arcebispo Makarios, eleito o primeiro presidente da República. Ele, por direito de

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ofício religioso, tem as suas prerrogativas próprias: vestir a púrpura e portar o ceptro real e usar tinta rubra para as suas assinaturas. A Igreja da Grécia As Igrejas da Grécia e de Corinto foram fundadas pelo apóstolo Paulo. Juntaram-se as duas Igrejas com todas as Igrejas da Grécia sob a égide da Igreja de Tessalônica, no princípio do século II. A Igreja da Grécia submeteu-se ao Patriarcado Ecuménico em princípios do século VIII, desligando-se do mesmo em 1833, proclamando-se independente, obtendo o alvará de reconhecimento do Patriarcado Ecuménico em 1850. A Igreja da Albánia A Igreja da Albánia era uma Diocese do Patriarcado Ecuménico. Declarou-se independente em 1926 e obteve o alvará em 1937, sob a chefia de sua beatitude o arcebispo de Tirana. A Igreja da Polónia Após a independência política da nação polonesa, a Igreja da Polônia ficou independente, igualmente, desligando-se do Patriarcado Ecuménico por um decreto do Patriarca de então, Melétio Metaksaky, em 1922, e foi confirmado pelo Patriarca Ecuménico Gregório VII, em 1925. A Igreja da Polônia, após a guerra mundial, virou uma diocese do Patriarcado da Rússia, restituindo-se em 1961 a sua independência integral. A Igreja da Tchecoslováquia A Igreja da Checoslováquia era uma Diocese do Patriarcado Ecuménico, declarando-se independente após a segunda grande guerra, em 1961. O Patriarca de Constantinopla reconheceu-lhe a independência, sendo chefiada pelo arcebispo de Praga. A Igreja da Ucránia O grão-príncipe Volodymyr, o Grande, era filho do grão-príncipe Sviatoslav e neto da grãprincesa Olga, que governou a Rússia-Ucránia de 980 a 1015, depois de uma breve luta entre os filhos de Sviatoslav pela sucessão. Volodymyr (São Valdomiro Magno) herdou o temperamento guerreiro de seu pai e continuou sua política unindo ao redor de Kyiv (Kiev) todas as tribos eslavas orientais, consolidando seu poder até se tornar imperador de um grande império, dono dos mares Negro, Báltico e Cáspio. Os principais acontecimentos de seu reinado foram: 1) sua conversão ao Cristianismo com o nome de Basílio, que aconteceu no ano de 986, perto de Kyiv, no povoado Vassilkiv; 2) a oficialização do Cristianismo e o baptismo em massa do povo nas águas do rio Dnipró, no ano de 988; e 3) a organização da Igreja Cristã, que foi um passo de grande importância no desenvolvimento cultural dos eslavos orientais. Os eslavos orientais, em conjunto, não tinham uma forma de cultura estabelecida, nem um sistema religioso desenvolvido. Essas crenças vagas e indefinidas cederam facilmente ante a Igreja Cristã Bizantina. Não obstante, como não queria ficar lhe devendo nem pedir nada, iniciou uma guerra contra os bizantinos sitiando a cidade Korsunh (Quersones), uma colónia bizantina da Crimeia, perto da actual cidade de Sebastopol. Quando conquistou a cidade, impôs como condição para a paz que lhe dessem como esposa a princesa grega Anna, irmã dos imperadores Basílio e Constantino.

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A "Crónica dos tempos passados" narra: "Após a conquista de Korsunh, Volodymyr carregou a princesa Anna, Anastácio (bispo de Quersones), os sacerdotes de Korsunh, como também os objetos litúrgicos e ícones. Quando voltou a Kyiv, ordenou a todos, ricos e pobres, a batizaremse na fé Cristã no rio Dnipró (Dnieper). Após o baptismo, no mesmo ano, construiu uma igreja dedicando-a a seu padroeiro, São Basílio, e no ano de 989 começou a construir outra igreja dedicando-a à Santíssima Virgem Maria." Assim começou a se formar a Igreja Ortodoxa Ucraniana. A partir deste momento a Igreja Ortodoxa Autocéfala Ucraniana começou a crescer até o ano de 1930, quando o então governo da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas proibiu qualquer actividade religiosa à Igreja Ortodoxa Autocéfala Ucraniana. Entre os anos de 1930 a 1938 foram fuzilados ou condenados a campos de concentração quase todos os bispos e sacerdotes, e até 1942 a Igreja Ortodoxa Autocéfala Ucraniana praticamente deixou de existir. Igreja Ortodoxa Russa Com 250 milhões de fiéis, a Igreja Ortodoxa continua sendo a principal religião da Rússia, do leste e sudeste da Europa. Igreja Ortodoxa do Egipto É conhecida como Igreja Copta. Mais de oito milhões de Cristãos vivem no Egipto. Esta Igreja mantém a liturgia antiga, celebrada na língua copta e seu ponto forte é sua inconfundível arte religiosa. Igreja Ortodoxa Etíope A Igreja Ortodoxa da Etiópia apresenta características bem peculiares, utiliza a liturgia da Igreja Copta de Alexandria e sempre a ela se refere para questões internas e litúrgicas.

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11 - Jesus teve irmãos? Ponto de vista protestante Autor : Prof. Paulo Cristiano

Indubitavelmente, este é um assunto já resolvido no meio protestante tradicional devido à abundância de textos nas Escrituras neotestamentária que o elucidam. Poderíamos até considerá-lo obsoleto se não fosse pelo mariocentrismo, doutrina da Igreja Católica Romana que teima em admitir que Maria permaneceu virgem após o parto (virginitas post partum), o que torna parte dessa teologia um verdadeiro desvario e um grande óbice ao verdadeiro Cristianismo ortodoxo. Durante séculos, a mariologia tem sofrido evoluções cada vez mais ousadas, e o tempo é testemunha disso: • Em 400 d.C, Maria foi proclamada “Mãe de Deus”; • Em 1854, a “Imaculada Conceição de Maria” torna-se dogma; • Em 1950, a “Assunção de Maria” vira artigo de fé. Hoje, cogita-se em colocar Maria junto à Trindade divina, formando assim uma quaternidade. O catolicismo está criando cada vez mais uma Maria totalmente diferente daquela apresentada pelos evangelhos. Ao inventarem supostos pais para Maria, Santa Ana e São Joaquim, baseados em livros apócrifos, os Católicos ao mesmo tempo omitiram a verdadeira família de Maria e roubaram-lhe a nobre missão de mãe. Origens dessa doutrina Não se sabe ao certo onde e como começou a acreditar-se que os irmãos de Jesus, de quem tanto a Bíblia fala e “de modo explícito”, eram apenas seus primos ou irmãos em sentido espiritual (versão Romana) ou meio-irmãos de um casamento anterior de José (versão Grega). Parece que isso surgiu com uma deturpação da resposta de um soldado romano chamado Pantera aos judeus que acusavam Maria de cometer adultério (Actos de Pilatos 11.3 e Talmud, séc. II). No ponto de vista judaico, Jesus seria um filho bastardo desse suposto soldado. O facto é que essa doutrina ganhou força somente após o século IV, com Jerónimo. Até então, era praticamente desconhecida pelos antigos escritores pré-niceno. Como habitualmente, é mais uma das invencionices da Igreja Católica. Um dos pais primitivos que mais colaborou para que essa distorção criasse corpo foi Orígenes, que se baseou em duas obras apócrifas: o “Proto-Evangelho de Tiago” e o “Evangelho de Pedro”, de meados do século II. Não demorou muito, Epifânio seguiu os passos de Orígenes e acabou abraçando tal ideia. É interessante notar que Orígenes, Epifânio e Jerónimo eram adeptos do ascetismo e da vida monástica que incluía a castidade. Orígenes, segundo alguns historiadores, chegou a castrarse! Mais tarde, porém, essa teoria sobre os irmãos de Jesus foi desenvolvida e aperfeiçoada. Empacotada de modo sofismável pelos teólogos Católicos, é agora um dos dogmas do catolicismo romano. O que muitos Protestantes talvez não saibam é que até mesmo os primeiros reformadores como Lutero e Calvino criam na virgindade perpétua de Maria. Mas, por outro lado, é bom frisarmos que muitos pais primitivos como Hegesipo, Tertuliano, Irineu e, posteriormente, Eusébio e Helvídio defendiam a ideia de que os irmãos de Jesus eram de facto seus irmãos carnais. A mesma defesa é feita actualmente por uma maioria esmagadora de Protestantes e também por alguns teólogos Católicos.

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Analisando o evangelho de Mateus O texto de Mateus 1.25 afirma o seguinte: “e não a conheceu enquanto (até que) ela não deu à luz um filho; e pôs-lhe o nome de Jesus”. Para os Protestantes, a referência bíblica em apreço parece ser, a princípio, uma fortaleza inexpugnável, e não é para menos, pois diz categoricamente que José não a conheceu “até” ou “enquanto” (heos, hou) ela não deu à luz. Ora, o que depreende e subentende-se é que, após o parto, Maria teve relações sexuais com seu marido como qualquer casal judeu normal de seu tempo! Parece ser esta a preocupação principal do evangelista ao transmitir sua mensagem. Mas, por outro lado, devemos concordar com nossos antagonistas romanos em que há casos em que Mateus usa a preposição “até” para dizer que não houve mudança após a ocorrência de determinado evento. Por exemplo, “Não esmagará a cana quebrada, e não apagará o pavio que fumega, até que faça triunfar o juízo” (Mt 12.20). É claro que o texto não está dizendo que o manso Messias será um ditador cruel após o triunfo do juízo. Outros textos bíblicos, além de Mateus, podem ser usados como exemplo: Salmo 110.1 e 1 Timóteo 4.13. Mas podemos ver Mateus usando a preposição “até” (que indica um limite de tempo, nos espaços, ou nas ações) quando o contexto diz claramente que há mudança. Vejamos: “E, havendo eles se retirado, eis que um anjo do Senhor apareceu a José em sonho, dizendo: Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egipto, e ali fica até que eu te fale; porque Herodes há de procurar o menino para o matar” (Mt 2.13). Assim, tomar este trecho de forma isolada não é de modo nenhum conclusivo para ambas as partes; não resolve o problema. Se quisermos obter uma ideia mais clara do assunto teremos de nos voltar para um contexto maior e achar algo fora desse trecho que complete esta lacuna e dirima a incógnita. Será que Mateus usou a preposição “até” para indicar mudança ou não? Resolveremos isso usando dois princípios de interpretação: o contexto imediato e o contexto mais lato. É notório que os casamentos orientais da época de Jesus eram, sem sombra de dúvida, bem diferentes dos do nosso tempo. Mateus declara que Maria estava desposada (entenda-se noiva) com José. Diz ainda que ele não a “conheceu até” (Mt 1.18). Algumas vezes a palavra “conhecer” é usada na Bíblia de modo figurado, significando relação sexual (Gn 4.25), e, neste caso, o contexto apóia este sentido. A voz dos outros evangelistas Outro factor que corrobora com a interpretação acima é o facto de Lucas ter usado a expressão grega prototokos, que significa “Primogénito”, em relação ao nascimento de Cristo: “e teve a seu filho primogénito...” (Lc 2.7). Se Lucas quisesse dizer que Jesus foi o único filho de Maria, teria usado, de modo inequívoco, a expressão monogenes (unigênito, em português) que significa “[filho] único gerado”, como acontece em João 3.16. Mas não, ele usou, de modo consciente, o termo certo: “primogénito”, indicando que Jesus foi apenas o “primeiro” filho de Maria, e não o “único”. Se Jesus tivesse sido o único filho de Maria, os evangelistas mostrariam isso, de modo explícito, em seus escritos. Mas não é isso que constatamos no Novo Testamento. O que diz o Novo Testamento Uma leitura superficial do Novo Testamento, em especial dos evangelhos, mostrará, sem sombra de dúvida, que Jesus Cristo teve irmãos e irmãs (Mt 12.46,47, 13.55-56; Mc 6.3). E ainda nos dão os nomes dos irmãos: Tiago, José, Simão e Judas. E essas pessoas aparecem sempre relacionadas com Maria, mãe de Jesus, o que nos dá a impressão de que os escritores 76


e os evangelistas quiseram nos transmitir o quadro de uma família composta por mãe e filhos. Vejamos: “Enquanto ele ainda falava às multidões, estavam do lado de fora sua mãe e seus irmãos, procurando falar-lhe. Disse-lhe alguém: Eis que estão ali fora tua mãe e teus irmãos, e procuram falar contigo” (Mt 12.46-47). Depois do milagre em Caná, Maria e os irmãos do Senhor aparecem juntos: “Depois disso desceu a Cafarnaum, ele, sua mãe, seus irmãos, e seus discípulos; e ficaram ali não muitos dias” (Jo 2.12). Em outra ocasião, Maria e seus irmãos mandam chamá-lo: “Chegaram então sua mãe e seus irmãos e, ficando da parte de fora, mandaram chamá-lo” (Mc 3.31). João acrescenta que nem os seus criam em Jesus: “Pois nem seus irmãos criam nele” (Jo 7.5). E, por último, os irmãos de Jesus aparecem no cenáculo orando com Maria: “Todos estes perseveravam unanimemente em oração, com as mulheres, e Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele” (At 1.14).

Resposta a um suposto argumento Não conseguindo desmentir o consenso cristalino das Escrituras, os mestres romanistas acabam forjando sofismas cada vez mais mascarados de piedade que, aos poucos, vão alcançando a mente e o coração dos adeptos Católicos. Todavida, quando confrontados com a Bíblia, tais disparates revelam ser apenas paliativos ardilosos que, por vezes, acabam sendo pulverizados diante dos fartos argumentos bíblicos. Na tentativa de esquivar-se dos argumentos Protestantes, os líderes Católicos desenterram, das ruínas medievais, teses falaciosas floreadas com terminologias teológicas modernas para causar impressão. Uma dessas teses tenta transferir os irmãos de Jesus para uma outra Maria e, para alcançar esse objectivo, faz verdadeiro malabarismo com os nomes bíblicos. Consegue fazer uma combinação engenhosa com os textos de Marcos 6.3, 3.18, 15.14, 16.1 e João 19.25. Diz que Maria, mãe de Tiago (o menor) e de José é irmã de Maria (a mãe de Jesus) e mulher de Cleofas, a quem confundem com Alfeu. Resumindo: esses “irmãos” (Tiago e José) de Marcos 6.3, segundo essa teoria, na verdade seriam primos de Jesus. Uma explicação plausível e uma suposta base “bíblica” para a questão. Ledo engano! Um argumento de fácil refutação Contudo, não há nada no texto que insinua ser Alfeu cunhado de Maria! Naquela época, esses nomes eram comuns! Demais disso, a Bíblia não relata o nome da irmã de Maria, e é pouco provável que duas irmãs tivessem o mesmo nome. Suponhamos, por um momento, que isso fosse verdade! Não é estranho que esses personagens apareçam sempre junto a Maria, sua “tia”, e nunca junto à sua verdadeira mãe ?! Outros ainda insistem no facto de que aqueles irmãos de Jesus na verdade seriam seus discípulos, simplesmente porque na igreja todos os discípulos de Cristo são chamados de “irmãos”. Esse parece ser o argumento mais inócuo, pois a Bíblia faz nítida distinção entre ‘seus discípulos” e os “irmãos” do Senhor (Jo 2.12; At 1.13,14). Todavida, a maior dificuldade enfrentada por esse argumento é que o texto diz que nem “seus irmãos criam nele” (Jo 7.3,5,10). Ora, como então poderiam ser seus discípulos?! O significado de irmãos na Bíblia Em Mateus 12.47, na Bíblia católica, versão dos “Monges Maredsous”, o tradutor teceu o seguinte comentário sobre os “irmãos” de Jesus no rodapé da página: “Irmãos: na língua

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hebraica esta palavra pode significar também ‘parentes próximos’ ou ‘primos’, como neste caso. Exemplo: Abraão, tio de Lot, chama-o com a designação de irmão (Gn 11.27; 13.8)”. Outro estudioso Católico afirma: “Assim sendo, é possível que por detrás dos ‘irmãos’ e ‘irmãs’ de Jesus estejam seus ‘primos’ ou ‘parentes’. Refutação bíblica: Não existe um só caso na Bíblia, e principalmente no Novo Testamento, em que a palavra grega adelphós (irmão) é traduzida por primo ou parente. Das 343 vezes em que o N.T usa o termo adelphós, ele apresenta dois sentidos para a palavra “irmão”: a de irmão legítimo (carnal) e o metafórico. Sentido metafórico: Neste sentido, enquadram-se todos os textos sobre os seguidores de Jesus (Mc 3.35), os Cristãos da igreja (1Co 1.1), os judeus (Rm 9.3) e os seres humanos em geral (Hb 2.11,17). É obvio que as referências nos evangelhos e nas epístolas aos “irmãos” (filhos de Maria) de Jesus não se enquadram nesta categoria. Sentido literal: É justamente neste sentido que a palavra irmãos (no plural) é usada, em sua grande maioria, na Bíblia. Nenhum estudioso Católico jamais traduziu esta palavra como primos ou irmãos espirituais. As Escrituras não deixam nenhuma dúvida quanto a esse assunto. Duvido que alguém leia os textos que seguem e consiga empregar o sentido de primo ou irmão espiritual onde aparece a palavra irmãos. “E, passando mais adiante, viu outros dois (irmãos) Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, no barco com seu pai Zebedeu, consertando as redes; e os chamou” (Mt 4.21)”. “E todo o que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras, por amor do meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna” (Mt 19.29)”. A Bíblia deixa patente que quando a palavra “irmãos” aparece junto aos termos “pai” e “mãe” ela denota filiação legítima de sangue, e isto ninguém consegue eclipsar. Compare: “Não é este o filho do carpinteiro? E não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão, e Judas?” (Mt 13.55). Nas quinze ocorrências em que é empregado o termo adelphós em relação a Jesus o sentido básico é de irmãos legítimos. Mas alguns podem objetar dizendo que a palavra hebraica ah (irmão) aparece várias vezes significando irmãos não de sangue, mas primos ou sobrinhos. É verdade que a língua hebraica tinha um vocabulário um pouco pobre e, por isso, não possuía uma palavra específica para primos ou parentes. Então utilizava a expressão “irmão” de modo lato (Gn 29.12, 24.48). Esse artifício, no entanto, não é suficiente para que os Católicos se esquivem da derrocada teológica! A palavra “irmão”, no hebraico, pode significar primo, mas, mesmo neste caso, temos de tomar cuidado. Geralmente, quando a palavra “irmão” é empregada no sentido de parente próximo o contexto esclarece a questão (1Cr 23.21-22). Além disso, o Novo Testamento foi escrito em grego, e não em hebraico. Será que no grego Coiné, língua na qual foi escrito o Novo Testamento, existia esta distinção praticamente ausente no hebraico? Vejamos. Termos do Novo Testamento para irmãos e primos Não devemos nos esquecer de que quando o Novo Testamento faz referências aos irmãos de Jesus o contexto não traz nenhum tipo de esclarecimento adicional, como acontece no Antigo Testamento. Além disso, os escritores sabiam a diferença entre os termos irmão (adelphós), primo (anepsiós) e parentes (sungenes). Mesmo Paulo, que usava bastante metáfora, sabia usar com distinção essas palavras. Tanto é que escreveu sobre os “irmãos” de Jesus sem deixar nenhuma dúvida ao laço carnal entre o Senhor e seus irmãos. Vejamos: “Não temos nós direito de levar conosco esposa crente, como também os demais apóstolos, e os irmãos do 78


Senhor, e Cefas?” (1Co 9.5). “Mas não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor” (Gl 1.19). Como já falamos, e isso é interessante, o apóstolo Paulo sabia perfeitamente usar a palavra correcta para primo (anepsiós) e parente (sungenes) em suas epístolas. Não havia motivo de confusão! “Saúda-vos Aristarco, meu companheiro de prisão, e Marcos, o primo de Barnabé...” (Cl 4.10). “Saudai a Herodião, meu parente” (Rm 16.11). Caso a tese católica estivesse correcta, o apóstolo poderia muito bem ter usado a expressão hoi anepsiós Kyriou (primos do Senhor), e não adelphói tou Kyriou (irmãos do Senhor), até porque os irmãos de Jesus estavam vivos quando o apóstolo escreveu as duas epístolas. Argumentos contraproducentes Diante do exposto, a única consideração plausível a que podemos chegar é que os “irmãos” de Jesus eram realmente seus irmãos legítimos. É justamente esse o sentido do termo adelphós no Novo Testamento. Apesar de todo o esforço empregado pelos Católicos para defender a virgindade perpétua de Maria, seus argumentos são totalmente contraproducentes. O Salmo 69 é um texto profético com força suficiente para desmantelar o arcabouço erigido pelas artimanhas teológicas católicas. Qualquer exegeta que ler esse salmo terá de admitir que se trata de um salmo messiânico, ou seja, um salmo que fala sobre o ministério e a vida de Jesus, o Messias. No verso 8, o autor descreve perfeitamente a família de Jesus sem deixar dúvidas quanto à legitimidade carnal de parentesco entre eles. Vejamos: “Tornei-me como um estranho para os meus irmãos, e um desconhecido para os filhos de minha mãe”. “Disseram-lhe, então, seus irmãos: Retira-te daqui e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. Porque ninguém faz coisa alguma em oculto, quando procura ser conhecido. Já que fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo. Pois nem seus irmãos criam nele. Disse-lhes, então, Jesus: Ainda não é chegado o meu tempo; mas o vosso tempo sempre está presente. O mundo não vos pode odiar; mas ele me odeia a mim, porquanto dele testifico que as suas obras são más. Subi vós à festa; eu não subo ainda a esta festa, porque ainda não é chegado o meu tempo”. Compreendemos agora, por meio desse texto, o porquê de Jesus ter deixado sua mãe aos cuidados de João, e não de seus irmãos!

Irmãos e Irmãs de Jesus? (Visão católica e Ortodoxa) Autor: rev. William G. Most

Mt.13,55 e Mc.6,3 nomeiam as seguintes pessoas como irmãos de Jesus: Tiago, José (ou Josés - os manuscritos variam na forma) Simão e Judas. Mas Mt. 27,56 diz que junto à cruz estava Maria, a mãe de Tiago e José. Mc. 15,40 diz que ali estava Maria, a mãe de Tiago, o menor, e José. Logo, embora a prova não seja conclusiva, parece que os dois primeiros Tiago e José (ou Joses), - exceto se supormos que estes eram outras pessoas com os mesmíssimos nomes - eram filhos de outra mãe, e não da Mãe de Jesus. Vemos aqui que o termo “irmão” foi usado para indicar aqueles que não eram filhos de Maria, a Mãe de Jesus. Do mesmo modo, facilmente poderia ter ocorrido o mesmo com os outros dois “irmãos”, Simão e Judas. Além disso, se Maria tivesse outros filhos e filhas naturais no tempo da crucificação, seria estranho Jesus ter pedido a João para que cuidasse dela. Especialmente porque Tiago, o “irmão do Senhor” ainda estava vivo em 49 dC (cf. Gál.1,19); certamente ele poderia ter cuidado dela...

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Lot, que era sobrinho de Abraão (cf. Gen.11,27-31), é chamado de “seu irmão” em Gen. 13,8 e 14,14-16. O termo hebraico e aramaico ah era usado para expressar vários tipos de graus de parentesco (v. Michael Sokoloff, A Dictionary of Jewish Palestinian Aramaic", Bar Ilan University Press, Ramat-Gan, Israel, 1990, p.45). O hebraico não tem palavra para os parentes. Eles poderiam dizer ben-dod para expressar filho de um tio por parte de pai, mas para outros graus de parentesco eles precisavam construir uma frase complexa, tal como “filho do irmão de sua mãe” ou “filho da irmã de sua mãe” (para consultar expressões complexas do aramaico, v. Sokoloff, pp.111 e 139). Objeção 1: não deveríamos usar o hebraico, já que o grego possui um termo para designar primo e outros tipos de parentes, também os Evangelhos não se utilizam de outras palavras específicas para designar os parentes de Jesus. Eles usam somente o termo grego adelphos, o que significa irmão real. Resposta: A Septuaginta (tradução grega do Antigo Testamento hebraico, (cuja abreviatura padrão é LXX), usa o grego adelphos para Lot que, como vimos acima, era, na verdade, sobrinho. Além disso, os escritores dos Evangelhos e Epístolas sempre tinham em mente as palavras hebraicas, mesmo quando escreviam em grego. Isto vale principalmente para São Paulo. E, como podemos ver actualmente, há uma forte evidência de que São Lucas, em certos pontos, estava traduzindo documentos hebraicos - dois tipos de hebraico [hebraico e aramaico] - com grande cuidado. A LXX, para Mal.1,2-3, traduz: “Eu amei Jacó e odiei Esaú”. São Paulo, em Rom. 9,13, cita exactamente da mesma forma que a tradução grega. Ainda que os tradutores da LXX conhecessem o hebraico e o grego - e assim também Paulo - utilizaram um modo muito estranho de expressão, modificando potencialmente a expressão hebraica. Como isso aconteceu? O hebraico e o aramaico carecia dos graus de comparação (tais como: bom, melhor, o melhor; claro, mais claro, claríssimo) e então precisava-se encontrar outra forma de expressar as ideias. Enquanto nós poderíamos dizer: “Amo mais a um que a outro”, o hebreu diria: “Amo a um e detesto o outro”. Em Lc.14,26, Nosso Senhor nos diz que devemos “odiar nossos pais” é óbvio, porém, que quer dizer que devemos amar mais a Cristo do que a nossos pais. De forma semelhante, em 1Cor.1,17, Paulo afirma: “Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar”; só que o próprio Paulo já havia declarado ter batizado algumas pessoas logo, o que realmente queria dizer é: “Minha missão mais importante é pregar batizar é menos importante”. São Paulo, em 1Tes. 4,5 diz que os gentios “não conhecem a Deus”. Ele usa o termo “conhecer” no sentido do hebraico yada, um termo amplo que significa conhecer e amar. De facto, não são raras as vezes em que podemos afirmar que certa palavra hebraica encontrava-se na mente de São Paulo, que se expressava em grego. Todos os estudiosos admitem que o Evangelho de São Lucas possui mais semitismos que os livros escritos por outros semitas (Lucas não era semita, mas médico de origem grega). Por quê? A princípio, parece que Lucas escrevia assim para imitar o estilo da LXX, mas, em um estudo que fiz (v. meu artigo “São Lucas imitava a Septuaginta?”, publicado no Jornal [Internacional] de Estudos do Novo Testamento, jul./1982, pp.30-41, editado pela Universidade de Sheffied, Inglaterra), mostrei, estatisticamente, que Lucas não tentava imitar a Septuaginta. Eu fiz um estudo de um semitismo bem estranho em Lucas: o aditivo kai, que reflete o aditivo hebraico wau. Eis um exemplo tirado de Lc.5,1: “E isto aconteceu quando as multidões se apertavam para ouvir dele a palavra de Deus e ele se encontrava de pé junto ao Lago [de Genesaré]”. A palavra “e”, grifada em itálico, poderia existir no hebraico, mas não no grego, nem mesmo no aramaico. Pela contagem real, São Lucas usa este “e” somente de 20 a 25% das vezes que poderia usá-lo se estivesse imitando a Septuaginta. Certamente, não foi esta a razão de seu uso. Então por que ele a empregou assim? Em linhas gerais, São Lucas nos diz que tomou grande cuidado, conversou com testemunhas oculares e checou relatos escritos sobre Jesus. Estes relatos escritos poderiam estar em grego (alguns judeus sabiam se comunicar em grego), hebraico ou aramaico. Logo, seria possível que São Lucas tivesse usado relatos escritos nessas linguagens. O problema não seria perceptível no grego se fossem usadas fontes gregas, é lógico; mas se ele usou, em certos momentos, documentos hebraicos, 80


e se ele os traduziu com extremo cuidado - tão extremo a ponto de manter a estrutura hebraica no texto grego, onde não existiria - então poderíamos afirmar que foi dessa forma que ele resolveu fazer. As estranhas estruturas que encontramos - também anormais no aramaico - usadas por São Lucas em alguns pontos, mas não em outros, parecem demonstrar a existência de documentos hebraicos, traduzidos com extremo cuidado. Lucas sabia como escrever em grego culto, como demonstra certas passagens. Mas por que escreveu assim? Certamente por causa de seu extremo cuidado, para ser fiel aos textos originais que usava. Portanto, precisamos conhecer o hebraico fundamental para compreendermos a questão correctamente (o “e”é omitido nas traduções das linguagens modernas, como o inglês; o problema só é verificável quando lemos São Lucas na língua grega original). Há uma palavra importante em Rom.5,19, que diz que “muitos” se tornaram pecadores (= pecado original). É óbvio, porém, que São Paulo se referia a “todos”. De facto, o grego usa polloi; no grego comum, sempre significa muitos, mas não todos. Entretanto, se conhecermos o hebraico que estava na mente de Paulo, tudo torna-se claro. Havia uma estranha palavra, rabbim, que aparece pela primeira vez em Is. 53, na profecia da Paixão. Pelo contexto, percebemos claramente que significa todos, ainda que também signifique muitos, para ser mais exacto ela significa todos dos que são muitos. Por exemplo, se eu estiver em uma sala com outras três pessoas, eu poderia dizer todos, mas não poderia dizer muitos; agora, se usarmos uma concordância grega para encontrarmos todas as citações em que São Paulo usa a palavra polloi como substantivo, veremos, pelo contexto, que sempre - sem exceção - significará todos; é o caso de Rom.5,19. Assim, precisamos retornar ao hebraico para compreender o termo grego usado aqui por Paulo. Em outras partes, São Paulo frequentemente faz uso do termo grego dikaiosyne não na forma estrita utilizada pelo sentido grego, mas na forma ampla do sentido hebraico de sedaqah. Há muitos outros lugares no Novo Testamento onde devemos considerar o fundamento hebraico para obter o sentido correto do grego. Demos apenas alguns exemplos que são suficientes para mostrar como os escritores do Novo Testamento trabalharam e a necessidade de se evitar que entendamos somente o que diz o grego (que insiste que devemos ignorar o fundamento hebraico, afirmando que o grego possui palavras próprias para designar primos e outros parentes, ao contrário do hebraico). Objeção 2: J. P. Meier, em “A Marginal Jew” (Doubleday, 1991, pp.325-326) afirma que “o Novo Testamento não é uma tradução grega”; assim, o termo hebraico usado para referir-se a irmão não pode ter gerado uma “desastrosa” tradução. Resposta: muitos estudiosos crêem que parte ou até mesmo todos os Evangelhos são traduções gregas. A evidência citada acima, no “Jornal de Estudo do Novo Testamento” contribui para demonstrar isso. Em adição, temos evidências extensivas mostrando que, apesar dos autores não terem feito uma tradução, eles muitas vezes usavam palavras gregas com o significado do pensamento hebraico fundamental. Isto é especialmente notável em Paulo, ainda que Meier afirme que Paulo não estava fazendo uma tradução, bem como conhecia “Tiago, o irmão do Senhor” em pessoa. Meier também assegura (pp.327-328) que Josefo, um judeu que escreveu em grego, várias vezes utiliza a palavra correcta para designar primo, mas usa a palavra irmão para indicar os “irmãos de Jesus”. Concordamos que Josefo assim se expressa. No entanto, será que Josefo possuía informação directa acerca da real natureza dos “irmãos” de Jesus? É óbvio que não. Meier também não analisa a questão sob este ponto de vista... Objeção 3: Meier afirma (p. 323) que se quisermos que ah signifique primo, então deveríamos ler Mt.12,50 assim: “Todo aquele que faz o desejo de meu Pai que está nos céus é meu primo,

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prima e mãe”. De maneira similar (p.357), ele diz que Mc 3,35 deveria então ser lido: “Nem seus primos acreditavam nele”. Resposta: Meier parece ser deliberadamente cego nestes pontos. Ora, se ah possui um significado amplo, poderíamos então mantê-lo na tradução, não apenas limitando-o a primo; poderia ser primo, mas também qualquer outra espécie de parente. Objeção 4: em Mt.1,25, os Protestantes apontam para duas palavras: até que e primogénito. Resposta: "Até que": muitas palavras antigas têm diversos significados possíveis. Às vezes a palavra "até que" abrange o tempo posterior ao indicado mas nem sempre isso acontece. Em Dt.34,6, Moisés foi enterrado “e até hoje ninguém sabe onde se encontra sua sepultura”. Isto era verdade no dia em que o autor do Deuteronômio relatou o facto; e continua sendo verdade ainda hoje. No Sal. 110,1, conforme interpretado pelo próprio Jesus, “o Senhor disse ao meu Senhor (= de David): ‘Senta à minha mão direita até que eu coloque os teus inimigos sob os teus pés’”. Obviamente, Jesus sempre estará à direita do Pai; logo, a palavra até que jamais significará uma mudança de estado. O Sal.72,7, um salmo messiânico, diz que em seus dias “a paz abundará até a lua não mais existir”. Aqui novamente, o poder do Messias jamais deixará de existir ainda que a lua deixe de brilhar (Mt. 24,29). Em 2Sam. 6,23, diz-se que “Mical, esposa de David, não terá mais filhos até o dia de sua morte”. Logicamente, ela não os terá mesmo após sua morte! Em Mt. 11,23, Nosso Senhor diz que se os milagres feitos em Cafarnaum tivessem sido feitos em Sodoma, “ela teria durado até o presente dia”. Isso não significa que Jesus a destruiria logo a seguir. Em Mt. 28,20, Jesus promete que permanecerá com sua Igreja e seus seguidores até o fim do mundo. Será que deserdará depois, na eternidade? Em Rom. 8,22, São Paulo diz que toda a criação suspira, esperando pela revelação dos filhos de Deus até os seus dias (de Paulo). Nem por isso ele irá para sua missão, mas continuará até a restauração final. Em 1Tim. 4,13, o Apóstolo pede para que Timóteo se devote à leitura, exortação e ensinamento “até eu (Paulo) chegar”. Isso não quer dizer que Timóteo deveria parar de fazer tais coisas após a chegada de Paulo. E existe muitos outros exemplos, embora estas poucas citações sejam suficientes para demonstrar que a expressão "até que", no Antigo e no Novo Testamento, significa uma mudança de coisas que está para acontecer segundo o ponto a que se refere. Até mesmo J.P. Meier, que trabalha exaustivamente para tentar provar que Jesus tinha irmãos naturais, admite que o argumento baseado na expressão "até que" nada prova. Primogénito: Jesus é assim chamado em Lc.2,7 (e também em Mt.1,25, se considerarmos a adição ao texto grego encontrada na Vulgata latina). Este termo se refere ao hebraico bekor, que expressa principalmente a posição privilegiada do primeiro filho com relação aos demais filhos. Não implica, porém, na existência real de outros irmãos. Podemos ler numa inscrição grega encontrada numa sepultura em Tel el Yaoudieh (cf. Biblica 11, 1930, pp.369-390) que uma mãe faleceu ao dar à luz ao seu filho: “Nas dores do parto de meu filho primogénito, o destino me trouxe o fim da vida”. No mesmo sentido, existe outro epitáfio em Leontópolis (v. "Biblical Archaeology Review," Set.-Out./1992, p.56). Objeção 5: Alguns escritores Cristãos primitivos dizem que os irmãos do Senhor eram irmãos reais. Resposta: Meier, que tão diligentemente coleta todos os dados que possam servir para contestar a virgindade de Maria após o nascimento de Jesus, menciona apenas quatro: (1) Hegésipo, no séc. II - Mas Meier admite (p. 329): “...tal testemunho não está livre de problemas e possíveis auto-contradições”;

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(2) Tertuliano - Contudo, Meier reconhece que isto ocorria porque queria “reforçar sua oposição ao ponto de vista docético sobre a humanidade de Cristo”; tal desejo fez com que fizesse tal afirmação. De facto, Tertuliano, com a mesma predisposição, afirmou que a aparência do corpo de Cristo era horrível (Sobre o Corpo de Cristo, cap.9)! Realmente ele era um extremista, como se comprova pelo facto de que não sendo os montanistas tão severos quanto à moralidade, acabou por fundar sua própria sub-seita; (3) Meier também sugere que duas passagens de Santo Ireneu (séc.II) podem implicar na negação da virgindade pós-parto: na primeira Ireneu faz um paralelo entre Adão e Cristo, para segurança de sua “teologia da recapitulação”; na segunda, Ireneu desenvolve o tema da nova Eva. É difícil, porém, encontrar nessas passagens qualquer dica que negue a virgindade pósparto. O próprio Meier admite que a interpretação desses textos são improváveis; (4) Helvídio, no séc.IV [totalmente refutado por São Jerónimo]. Estes textos, contudo, são desprezíveis se comparados com o extenso suporte patrístico que favorecem a tese da virgindade perpétua (cf. "Marian Studies," VIII, 1956, pp. 47-93). Por isso, em seu sumário de conclusões (pp. 331-332), Meier não faz qualquer menção a estes escritores da Igreja primitiva. Objeção 6: Meier (p.331) diz que devemos seguir o critério do múltiplo atestado: Paulo, Marcos, João, Josefo e talvez Lucas atestam a existência dos irmãos de Jesus. Resposta: Isto nada mais é que o retorno ao início da questão. Meier não provou que qualquer um destes “irmãos” seja, de facto, um irmão real de Jesus. Meier acrescenta que o sentido natural de irmão é o que indica irmão real, mas já vimos na segunda resposta (acima), que tal sentido não é absolutamente obrigatório. Ele também afirma que não existe outro caso claro no Novo Testamento que possa admitir outro significado, a não ser irmão real ou meio-irmão. Novamente ele acaba retornando ao início do problema pois não consegue provar que algum desses textos possa significar irmão real. O próprio Meier reconhece (p. 331) que “todos estes argumentos em conjunto não podem produzir uma certeza absoluta”. Nós acrescentamos: em Mc.3,20-21, os parentes de Jesus vão até ele para prendê-lo - os irmãos mais novos não poderiam tomar tal atitude na cultura semita, pois Jesus era o primogénito. E, quando Jesus contava com 12 anos ao visitar o Templo de Jerusalém seus irmãos mais novos deveriam acompanhá-lo (exceto as irmãs), se de facto existissem de outra forma Maria teria ficado em casa cuidando dos filhos mais novos. Vemos, assim, que não há evidências sólidas na Escritura que nos permitam supor que Nossa Senhora tenha tido outros filhos. Há por outro lado, respostas lógicas para todas as objeções formuladas. Porém, a razão decisiva é o ensino da Igreja; os credos mais antigos chamam Maria de aei-parthenos, ou seja, “sempre Virgem”. Meier parece querer usar um machado para cavar... Em seu longo artigo publicado na CQP (1992, pp. 1-28), ele diz, na última página, que deveríamos perguntar se a hierarquia das verdades não nos deixaria aceitar Protestantes dentro da Igreja Católica sem que pedíssemos a eles para que acreditassem na virgindade perpétua de Nossa Senhora. De facto, existe uma hierarquia de verdades, algumas mais básicas que outras. Mas isso não significa, em absoluto, que possamos incentivar a negação de uma doutrina que vem sendo repetidamente ensinada pelo Magistério Ordinário, bem como pelos mais antigos credos (portanto, infalíveis). Realmente, se alguns Protestantes querem aderir à Igreja sem aceitar a autoridade do Magistério, então jamais serão Católicos de facto, ainda que aceitem todos os demais ensinamentos. Aceitar realmente a autoridade significa aceitar tudo, e não quase tudo. Até mesmo Meier, tão inclinado à negação da virgindade perpétua, admite (pp.340-341) que existe uma estranha tradição rabínica que diz que Moisés, após seu primeiro contacto com Deus, deixou de se relacionar sexualmente com sua esposa. Isto aparece primeiro em Filo de Alexandria e foi suportado, depois, pelos rabinos. Ora, se Moisés, em virtude de um contacto 83


externo com Deus, agiu dessa maneira, porque então não poderia ocorrer o mesmo com Nossa Senhora, que foi preenchida pela divina presença para a concepção de Jesus e carregou a própria Divindade em seu ventre durante nove meses? De facto, Lutero e Calvino, como Meier reconhece (p.319), aceitaram a doutrina da virgindade perpétua de Maria. Por que, então, Meier luta tanto contra ela? Realmente, os Protestantes, se forem lógicos, não podem apelar para provas bíblicas, a partir do momento em que nem mesmo têm como determinar quais livros são inspirados. Lutero achava que se um livro pregasse a justificação somente pela fé, então ele era inspirado, caso contrário, não. Mas, lamentavelmente, ele nunca conseguiu provar que isso era verdade (tanto ele quanto eu poderíamos escrever livros sobre o assunto e nem por isso seriam inspirados) eis que vários livros da Bíblia não mencionam a justificação pela fé... É que, infelizmente, Lutero não sabia o que São Paulo queria dizer com a palavra fé.. (sobre este assunto, consultar a obra fundamental do Protestantismo, “Interpreter's Dictionary of the Bible”, Supplemento, p.333).

Outros pontos de vista a) Jesus tinha irmãos? Me desculpem, mas sempre tive duas dúvidas com relação a Jesus. 1° se ele era mesmo filho de Deus (filho carnal, porque filhos de Deus, com certeza ele é, aliás todos somos), como diz a Biblia. 2° se Maria teve outros filhos. Na Bibilia diz, que ele foi concebido pelo poder de um Espirito Santo. Minha duvida é, se Deus criou o sexo, é porque ele não é uma coisa ruim. Então porque Ele, passaria por cima das leis que Ele criou, para conceber Jesus? Porque Ele é seu filho? Mas todos somos filhos de Deus. E qual o problema de Jesus ser filho de José? Isto diminuiria a importancia das mensagens do Mestre? E se Jesus fosse filho de Deus, e não de José, ele não poderia pertencer a Casa de David, isto é, ele não teria o sangue de David. E na Biblia diz que o Messias viria da casa de David, neste caso, ele não seria o Messias prometido. Outra coisa, onde estaria a Justiça de Deus, se Ele criasse um filho perfeito (Jesus), e os outros (nós) com tantos defeitos? Fala-se na virgindade de Maria. (Vamos ao dicionário: Virgindade vem do Latim virginitate, que significa estado ou qualidade de pessoa virgem; por ext. pureza). Será que, os apostolos, não quiseram, ao invés de dizer virgem, dizer pura. Pura de coração, de carater, de espírito, de pecado? Os evangelhos, não foram escritos pelos apóstolos, por isto se diz, segundo o evangelho de ... Será que estas pessoas, que escreveram os evangelhos, querendo agradar Jesus, não enfeitaram um pouco seu nascimento? É claro que Jesus, merece todos os tipos de homenagens e agradecimentos, quanto mais melhor. Mas será que estes excessos, não foram os responsaveis por toda esta polémica? O meu maior problema é, que sou muito crítico, não consigo aceitar tudo que me dizem, sem raciocinar. Acho que é por este motivo que, estou há mais de 20 anos sem religião. Mas creio que, mesmo que Jesus fosse filho de José e, Maria tivesse outros filhos, nada mudaria a importância das mensagens de Jesus. E Ele continuaria sendo o Filho de Deus mais perfeito que pisou o planeta terra.

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b) Jesus tinha irmãos? Indícios indicam que Jesus tinha irmãos sim. 1) Lemos em João 2.12: "Desceu [Jesus] a Carfanaum, com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos. E ficaram ali muitos dias". Não pode ser outro o entendimento: Jesus com sua família, a mãe com seus filhos ficaram muitos dias naquela cidade. Não há como forçarmos uma interpretação que nos levaria a pensar que Maria, não tendo filhos com José, resolvera criar seis ou mais parentes. Vejam também a distinção entre "discípulos" e "irmãos". 2) Quando o termo "irmãos e irmãs" é empregado em conjunto com "pai" ou "mãe", o sentido não pode ser o de primos e primas, mas de irmãos biológicos, filhos de um mesmo pai ou mãe. Exemplo: "Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e até mesmo a sua própria vida, não pode ser meu discípulo" (Lucas 14.26). 3) Vejamos quais as palavras usadas no grego - a língua original do Novo Testamento - para designar IRMÃOS, IRMÃS, PARENTES, PRIMOS e SOBRINHOS, conforme a Concordância Fiel do Novo testamento, dois volumes, Editora Fiel, 1a Edição, 1994: Adelphos - Usada 343 vezes para designar pessoas que têm em comum pai e mãe, ou apenas pai ou mãe; indicar duas pessoas que têm um ancestral comum ou que faz parte do mesmo povo, ou membros da mesma religião. Com essa palavra são nomeados os irmãos de Jesus (Mt 12.46-4813.55; Mc 6.3; Jo 2.12; 7.3,5,10; At 1.14; 1 Co 9.5; Gl 1.19; Jd 1). Adelphe - O termo é traduzido 26 vezes como irmã, indicando (poucas vezes) a participante de uma mesma fé, e (a maioria dos casos) a filha de um mesmo pai ou mãe. Foi usado, por exemplo, para designar as irmãs de Jesus (Mt 13.56; Mc 3.32; 6.3), a irmã da mãe de Jesus (Jo 19.25), as irmãs de Lázaro, Marta e Maria (Jo 11.1,3,5,28,39). Syngenis - Usado como o feminino de "parente" para indicar o parentesco de Maria, mãe de Jesus, com Isabel: "Também Isabel, tua parenta..." (Lucas 1.36). Syngenes - Termo usado para designar pessoa consanguínea, da mesma família, ou da mesma pátria (compatriota). Vejamos alguns dos 11 casos em que o termo foi usado: "Um profeta só é desprezado em sua pátria, em sua parentela e em sua casa" (Marcos 6.4). Nota: Quando se trata dos "irmãos de Jesus", o termo usado é "adelphos" ou "aldephe". "Isabel tua parenta [ou prima] concebeu um filho em sua velhice..." (Lucas 1.36). Nota: Se Isabel fosse irmã de Maria (filhas de pais comuns) o termo teria sido "adelphe", de igual modo como foi usado em João 19.25 para designar a irmã da santa Maria. "... e começaram a procurá-lo entre os parentes e conhecidos" (Lucas 2.44). "Sereis traídos até por vosso pai e mãe, irmãos, parentes, amigos, e farão morrer pessoas do vosso meio..." (Lucas 21.16). Nota: Muito importante registar que nesse versículo são usadas as palavras "adelphos", para irmãos, e "syngenes", para parentes. Entende-se que o termo "adelphos", quando associado às palavras pai ou mãe tem o natural significado de filhos carnais. Anepsios - Usada somente uma vez para identificar o termo "primo", na seguinte passagem: "Saúdam-vos Aristarco, meu companheiro de prisão, e Marcos, PRIMO de Barnabé..." (Colossenses 4.10, Bíblia [católica] de Jerusalém). Nota: Havia portanto na linguagem grega palavras para identificar irmãos, primos e parentes. Logo, se Tiago, José, Simão, Judas e mais algumas mulheres (Mt 13.55-56; Mc 6.3) fossem parentes de Jesus, e não filhos de Maria, a palavra grega mais correcta seria "anepsios" ou "syngenes".

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Os irmãos de Jesus (Visão Evangélica) Augusto Bello de Souza Filho - Bel em Teologia

Igreja Evangélica, segundo o aspecto histórico, é toda congregação que concorda com a Reforma Protestante.

Recentemente fui consultado por um irmão que ficou perturbado com um texto de origem católica, que se acha no final deste estudo, porque a matéria defende que Jesus não teve outros irmãos. Pediu-me então que me pronunciasse à respeito, inclusive porque eu havia escrito um artigo com o título “A Crença em Maria”, no qual argumento que Maria não permaneceu virgem depois do nascimento de Jesus e que ela havia tido outros filhos. O autor menciona que a igreja católica ensina que Jesus não tinha irmãos e irmãs de sangue, o que não é verdade à luz da hermenêutica neo-testamentária, mas se trata sim de uma heresia que de há muito vem sendo transmitida de geração a geração do catolicismo romano. Tudo começou oficialmente no Concílio de Latrão, no ano de 649 quando decretaram que Maria não teve filhos além de Jesus. Porque o espírito de idolatria que já estava entranhado no seio da Igreja Romana, acabou por respaldar a teologia inconsistente e descabida de que Maria não tinha tido outros filhos, com o fito propósito de torná-la como instrumento de adoração por seus fiéis. Creditando-lhe poderes e mediação que não possuem respaldo bíblico. Foi desta forma que Maria passou a ser consagrada como virgem mesmo depois do nascimento de Jesus. O que sabemos cientificamente é que uma mulher pode ficar grávida sem ter deixado de ser virgem. Mas, por ocasião do nascimento a virgindade se desfaz e não mais se repõe. A partir daí, a igreja se encarregou de pregar esta heresia pelo mundo à fora. É uma doutrina equivocada e não tem sua teologia baseada na Bíblia, mas na tradição católica determinada no Concílio de Latrão. Daí então, passou-se ao trabalho de descaracterizar os textos do Novo Testamento que afirmavam que Jesus tinha outros irmãos e irmãs, com o argumento de que ditos textos queriam dizer primos e não irmãos. Os mais eruditos conhecedores do Grego, são categóricos em afirmar que as palavras que lá estão querem mesmo dizer irmãos de sangue e não primos. Mas, os Católicos vêm enganando o mundo há muito tempo com essa estória de que Maria não teve outros filhos. É mais uma das mentiras do Vaticano, que tem medo e vergonha de vir a público dizer que o Concílio de Latrão foi uma farsa. Em Mateus 1:25 está escrito que José não coabitou com Maria sua esposa enquanto Jesus não havia nascido. Logo, fica patente que depois do nascimento de Jesus, José coabitou com Maria e teve outros filhos. Muitos dos pais da Igreja, alguns do segundo século, como: Irineo, Euzébio, Tertuliano, Epifâneo, Hegesipo e Helvídio tiveram o mesmo entendimento que a Igreja Evangélica tem hoje, de que Maria teve outros filhos com José, baseado na revelação bíblica. Aliás, deixemos claro que a teologia que os evangélicos formulam sobre esta questão é unânime. Nenhuma denominação evangélica discorda, porque a nossa teologia está fundamentada no que está revelado na Bíblia e o que cada crente pode comprovar é que tanto nos originais gregos como nas diversas traduções da Bíblia, inclusive a Versão Católica diz que Jesus teve outros irmãos. Já a defesa de que Jesus não teve irmãos é baseada simplesmente na tradição que teve sua oficialização no Concílio de Latrão. Examinamos os textos mencionados no argumento: Judas 1:1 “Judas, servo de Jesus Cristo, e irmão de Tiago, aos chamados, amados em Deus Pai, e guardados em Jesus Cristo:” Judas era irmão de sangue de Tiago conforme sua confissão. Ambos eram filhos de José e de Maria e como tal, irmãos de Jesus. Estes irmãos de Jesus se converteram depois de sua morte e ressurreição, mas acompanharam o ministério de Jesus, veja: 86


Mateus 12:46 “Enquanto ele ainda falava às multidões, estavam do lado de fora sua mãe e seus irmãos, procurando falar-lhe...” Mateus 12:47 “Disse-lhe alguém: Eis que estão ali fora tua mãe e teus irmãos, e procuram falar contigo.” Depois Jesus mesmo os apresenta aos seus discípulos, veja: Mateus 12:49 “E, estendendo a mão para os seus discípulos disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos.” As pessoas que conheciam a família de Jesus, testificavam que ele tinha irmãos, e que dois deles se chamavam Tiago e Judas, por isso Judas inicia a sua carta dizendo que era irmão de Tiago, veja: Mateus 13:55 “Não é este o filho do carpinteiro?, e não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão, e Judas? Em muitas citações dos evangelhos é mencionada a palavra irmãos se referindo a irmãos de sangue e em outras a irmãos na fé. Jesus chama os seus discípulos de irmãos e diz também que seus irmãos são os que fazem a vontade de seu Pai. Mas, no texto a seguir é feita uma separação singular, onde o apóstolo João menciona explicitamente os discípulos e os irmãos de Jesus além de sua mãe, veja: João 2:12 “Depois disso desceu a Cafarnaum, ele, sua mãe, seus irmãos, e seus discípulos; e ficaram ali não muitos dias.” É curioso notar, que segundo o argumento Católico a mãe de Jesus andava sempre com seus primos. Nunca aparece estes primos com seus tios ou tias. É muito estranho e inconsistente afirmar que estes irmãos queriam dizer primos. Vejamos mais: Os irmãos de sangue de Jesus o aconselham, veja: João 7:3 “Disseram-lhe, então, seus irmãos: Retira-te daqui e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes”. Estes mesmos irmãos não criam em Jesus, veja: João 7:5 “Pois nem seus irmãos criam nele”. Após a morte e ressurreição de Jesus seus irmãos se converteram e foram líderes Cristãos do primeiro século como Judas e Tiago. No texto a seguir, Maria e os irmãos de Jesus, juntamente aos discípulos estão em oração, veja: Actos 1:14 “Todos estes perseveravam unanimemente em oração, com as mulheres, e Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele”. É muito estranho que os seus primos ficassem o tempo todo acompanhando o ministério de Jesus. Isto só pode ser atribuído a pessoas com laços de parentesco em primeiro grau. Que aí se insere relacionamento entre pais e filhos e entre irmãos, que faz com que estas relações sejam de amor fraternal, fazendo com que se mantenham unidos mesmo na adversidade. Então eles acompanhavam a mãe (Maria) que acompanhava o Filho (Jesus). E tem muito mais. Jesus não somente tinhas irmãos mas também irmãs, veja: Mateus 13:55 “Não é este o filho do carpinteiro? e não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão, e Judas? Mateus 13:56 “E não estão entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe vem, pois, tudo isto?”. O autor do texto Católico, afirmou citando a Bíblia que Judas cita Tiago como seu irmão (Judas 1:1) e que Paulo diz que Tiago era irmão de Jesus (Gálatas 1:19). A conclusão evidente, é que ambos são irmãos de Jesus. Contudo ele tenta negar estas citações dizendo que Maria não é a mãe deles, o que a teologia evangélica discorda totalmente. 87


Cita Mateus 27:56 “...entre as quais se achavam Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu”. Cita Mateus 10:3 “Felipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu”. Haviam quatro pessoas com o nome de Tiago no Novo Testamento, vejamos: O primeiro (apóstolo): Mateus 4:21 E, passando mais adiante, viu outros dois irmãos - Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, no barco com seu pai Zebedeu, consertando as redes; e os chamou. O segundo (apóstolo): Mateus 10:3 Felipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; Um era filho de Zebedeu e o outro filho de Alfeu. Nenhum destes é o Tiago irmão de Judas e irmão de Jesus porque são filhos de outros pais. Terceiro (irmão de Jesus): Mateus 13:55 “Não é este o filho do carpinteiro? e não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão, e Judas? Mateus 13:56 “E não estão entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe vem, pois, tudo isto?” Pronto. Neste texto está bem claro que Judas e Tiago são irmãos de Jesus, além de terem mais dois irmãos chamados de José e Simão, e irmãs que a Bíblia não mencione os seus nomes, nem quantas eram. Quarto: Marcos 15:40 “Também ali estavam algumas mulheres olhando de longe, entre elas Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago o Menor e de José, e Salomé;” Esta Maria é mãe de Tiago, chamado de “o menor”, de José e Salomé e só aparece no Novo Testamento nesta citação. Ela não é a mãe de Judas e do Tiago que Judas e Paulo citaram. Neste ponto, deliberadamente e sem fundamento o autor Católico defende que esta Maria é a esposa de Alfeu, e mãe de Tiago “o menor”, de José, Judas e Simão. Só que o texto afirma apenas que ela é a mãe de Tiago “o menor”, de José e de Salomé. Não afirma nada do que defende. Nem em momento algum a Bíblia menciona “Maria de Alfeu”. Aí reside a grande tentativa de defender a teologia de que Judas e Tiago não eram irmãos de Jesus e por consequência Jesus não teria outros irmãos e Maria não teria tido outros filhos. Erroneamente o autor do texto Católico menciona (Mateus 13:55-56) que vimos anteriormente para afirmar que Maria não era a mãe de Tiago e Judas, sem usar nenhum argumento convincente. E estes dois versículos se constituem no argumento mais forte da Igreja Evangélica, porque menciona explicitamente que as pessoas se arrazoavam entre si dizendo: “Não é este o filho do carpinteiro e a sua mãe não se chama Maria e seus irmãos...”. Na verdade o que as pessoas estavam dizendo, era, que conheciam bem a Jesus e todos que faziam parte de sua família. O restante do texto do autor Católico é sem fundamento, incoerente vazio e sem argumento algum e termina dizendo que a Igreja apenas afirma uma tradição. E de tradição já basta o que tem atrapalhado o evangelho de Jesus. E só para encerrar, Jesus confiou Maria a João e João a Maria por dois motivos. João era o mais novo dos apóstolos por quem Jesus nutria grande atenção, amor e carecia de proteção e amparo. Pediu-lhe então que cuidasse de João como se fosse um filho e João cuidasse de Maria como se fosse sua mãe. Não confiou a seus irmãos talvez porque eles não fossem convertidos ou estivessem ausentes. Além do mais, há cuidados que só uma mãe pode dar.

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12 - Jesus era Deus?

Cristologia Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Mosaico retratando o Cristo Pantocrator (Pan Creator = Criador de todas as coisas), na Igreja de Daphne, Atenas, Grécia. A imagem foi terminada entre os anos de 1090 e 1100.

A Cristologia é o estudo sobre Cristo; é uma parte da teologia Cristã que estuda e define a natureza de Jesus, a doutrina da pessoa e da obra de Jesus Cristo, com uma particular atenção à relação com Deus, às origens, ao modo de vida de Jesus, visto que estas origens e o papel dentro da doutrina de salvação tem sido objecto de estudo e discussão desde os primórdios do Cristianismo. A Cristologia tem sido debatida incansavelmente durante séculos, em várias nações, dentro de várias correntes Cristãs, com pontos de vista semelhantes, divergentes e mesmo com algumas controvérsias. Talvez a disputa mais antiga dentro do Cristianismo centrou-se sobre se Jesus era Deus. Um número de Cristãos primitivos acreditavam que Jesus não era divino, mas fora simplesmente o Messias humano prometido no Antigo Testamento. A inclusão das genealogias de Jesus Cristo em São Mateus 1:1-17 e São Lucas 3:23-38 são explicadas às vezes por esta opinião. Uma explanação alternativa é que eram uma oposição às doutrinas dos Cristãos Gnósticos que afirmavam que Jesus Cristo teve somente a ilusão de um corpo humano e, assim, nenhuma ancestralidade humana. A opinião de que Jesus era somente humano foi oposta (penso que aqui, oposta, significa “apoiada”) por líderes da igreja tais como São Paulo, e veio eventualmente a serem aceitas somente por seitas como a dos Ebionitas e (de acordo com São Jerónimo) dos Nazarenos, mas logo subjugadas pelas igrejas Ortodoxas de uma forma ou outra.

A Natureza de Cristo A natureza de Jesus Cristo, é uma questão da busca por determinar se Cristo era um homem com a tendência para pecar igual à de Adão antes do pecado, ou uma tendência ao pecado igual à de Adão depois do pecado, ambas directamente relacionadas com o Plano da Salvação, visto que o ministério de Cristo, se caracterizava pelo exemplo na superação do pecado, mostrando que era possível o homem viver sem pecar. Entre as principais escolas que buscaram determinar a natureza de Cristo temos: 

Arianismo, que crê que Jesus, apesar de um ser superior, seja inferior ao Pai sendo uma criatura sua; 89


Docetismo, defende que Jesus era um mensageiro dos céus e que seu corpo era "carnal" apenas na aparência e sua crucificação teria sido uma ilusão;

Ebionismo, que crê em Jesus como um profeta, nascido de Maria e José, que teria se tornado Cristo no acto do baptismo;

Monofisismo, segundo a qual Cristo teria uma única natureza composta da união de elementos divinos e elementos humanos.

Nestorianismo, segundo a qual Jesus Cristo é, na verdade, duas entidades vivendo no mesmo corpo: uma humana (Jesus) e uma divina (Cristo).

Sabelianismo, o qual defendia que Jesus e Deus não eram pessoas distintas, mas sim "aspectos" ou "modos" diferentes do trato da Divindade com a humanidade ;

Trinitarianismo, que crê em Jesus como a segunda pessoa da Trindade divina .

Cristologia Ortodoxa A Cristologia Ortodoxa tem por base o Concílio de Calcedónia (em 451 D.C.), o qual estabelece as bases da Cristologia Ortodoxa, na qual o Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem e se apresenta em duas naturezas sem distinção, indivisíveis e inseparáveis, de tal forma que as propriedades de cada uma permanecem ainda mais firmes quando unidas numa só pessoa. Para os defensores desta cristologia, o termo "Filho de Deus" aplicado a Jesus deve ser interpretado com a natureza de Deus, gerado já desde o início de tudo e, portanto coeterno.

Cristologia Monofisita Discordando da Cristologia Ortodoxa, os monofisitas afastaram-se para compor as Igrejas dissidentes da Síria, da Arménia, do Egipto, da Etiópia e da Índia do Sul. Para eles a natureza divina em Jesus era muito mais forte e preponderante daquela natureza humana.

Cristologia Ariana O Arianismo, que recebeu este nome por ser derivado da doutrina de Ário, apresenta uma distinção clara entre o Cristo e o Logos como razão divina. O Cristo é apresentado como uma criatura pré-temporal, super-humana, a primeira das criaturas, não Deus, porém mais que homem.

Jesus era Deus? (visão Católica) “Se Jesus era Deus como é que Ele podia orar a Deus? Jesus estava orando a Si mesmo?" Para entender Jesus como Deus na terra orando ao Seu Pai que era Deus no céu, precisamos entender que o Pai eterno e o Filho eterno tinham uma relação eterna antes de Jesus tornar-se 19 humano. Leia-se João 5:19,27, especialmente 5:23, “ Jesus lhes deu esta resposta: “Eu lhes digo verdadeiramente que o Filho não pode fazer nada de si mesmo; só pode fazer o que vê o Pai fazer, porque o que 20

o Pai faz o Filho também faz.

Pois o Pai ama ao Filho e lhe mostra tudo o que faz. Sim, para admiração de 21

vocês, ele lhe mostrará obras ainda maiores do que estas. mortos e lhes dá vida, o Filho também dá vida a quem ele quer. 23

todo julgamento ao Filho,

Pois, da mesma forma que o Pai ressuscita os

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Além disso, o Pai a ninguém julga, mas confiou

para que todos honrem o Filho como honram o Pai. Aquele que não honra o Filho,

também não honra o Pai que o enviou.

24

“Eu lhes asseguro: Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me

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enviou, tem a vida eterna e não será condenado, mas já passou da morte para a vida. Eu lhes afirmo que está chegando a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e aqueles que a ouvirem, 26

viverão. 27

Pois, da mesma forma como o Pai tem vida em si mesmo, ele concedeu ao Filho ter vida em si mesmo.

E deu-lhe autoridade para julgar, porque é o Filho do homem” 10

onde Jesus ensina que o Pai enviou o

Filho (leia-se também João 15:10) “ Se vocês obedecerem aos meus mandamentos, permanecerão no meu amor, assim como tenho obedecido aos mandamentos de meu Pai e em seu amor permaneço”. Jesus não se tornou o Filho de Deus quando nasceu em Belém muitos anos atrás. Ele sempre tem sido o Filho de Deus desde a eternidade passada, ainda é, e sempre será. Isaías 9:6 nos diz que “um menino nos nasceu, um filho se nos deu”. Jesus (juntamente com o Espírito Santo) sempre fez parte do relacionamento triuno. A trindade sempre existiu: Deus Pai, Deus Filho e o Espírito de Deus. Não três Deuses, mas um Deus que existe em três pessoas distintas. Jesus ensinou que Ele e o Seu Pai são um (João 10:30). Jesus quis dizer que Ele e Seu Pai, e o Espírito Santo também, eram da mesma substância, da mesma essência, o mesmo Deus ou divindade. Três pessoas semelhantes e distintas que existem como Deus. Esses três tinham e continuam a ter um relacionamento eterno. O que aconteceu quando Jesus, o eterno Filho de Deus, passou a ser um homem perfeito, Ele também passou a ser um servo, deixando de lado Sua glória celestial (leia-se Filipenses 5 6 a 2:5,11) “ Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus , não considerou que o 7

ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se 8

semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz! 9

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Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome,

para que ao nome

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de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai ”. Como o Deus homem, Ele teve que aprender obediência

(Hebreus 5:8) ao Pai ao ser tentado por Satanás, falsamente acusado pelos homens, rejeitado por Seu povo e eventualmente crucificado. 41

Sua oração ao Pai Celestial era para pedir por poder (João 11:41,42) “ Então tiraram a pedra. 42

Jesus olhou para cima e disse: “Pai, eu te agradeço porque me ouviste. Eu sei que sempre me ouves, mas disse isso por causa do povo que está aqui, para que creia que tu me enviaste ” e sabedoria (Marcos 1:35; 6:46) “Jesus ora”. Sua oração mostrou Sua dependência no Pai em Sua humanidade para poder

cumprir o plano de redenção de Deus Pai (note a oração de Cristo como o grande sacerdote em João 17); e então completamente se submeter à vontade do Pai no Jardim para enfrentar a 38 cruz e pagar pela penalidade (a morte) por termos quebrado a lei de Deus (Mateus 26:31,46) “ 39

Disse-lhes então: “A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem comigo”. Indo um pouco mais adiante, prostrou-se com o rosto em terra e orou: “Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres”.

40

Depois, voltou aos seus discípulos e os

encontrou dormindo. “Vocês não puderam vigiar comigo nem por uma hora?”, perguntou ele a Pedro. orem para que não caiam em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca.”

42

41

“Vigiem e

E retirou-se outra vez para

orar: “Meu Pai, se não for possível afastar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade”.

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Quando voltou, de novo os encontrou dormindo, porque seus olhos estavam pesados. 45

Então os deixou

novamente e orou pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras. Depois voltou aos discípulos e lhes disse: “Vocês ainda dormem e descansam? Chegou a hora! Eis que o Filho do homem está sendo entregue nas mãos 46

de pecadores.

Levantem-se e vamos! Aí vem aquele que me trai! ”.

Como se sabe, Ele ressuscitou dos mortos corporalmente, ganhando por nós perdão e vida eterna que podemos ter agora mesmo se nós O aceitarmos como nosso Salvador pessoal. Não há problema nenhum com o Deus Filho orando ou falando com o Deus Pai. Como mencionado anteriormente, eles tinham um relacionamento eterno antes de Cristo se tornar humano. Em Sua humanidade, esse relacionamento foi descrito nos Evangelhos para que possamos ver como o Filho de Deus em Sua humanidade realizou a vontade de Seu Pai para 91


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que redenção fosse alcançada para todos (João 6:38) “ Pois desci dos céus, não para fazer a minha vontade, mas para fazer a vontade daquele que me enviou” . A contínua submissão de Cristo ao Seu Pai Celestial foi fortificada e focalizada através de sua vida de oração. O exemplo de Cristo na área de oração nos foi deixado para que sigamos Seu modelo. Jesus Cristo não foi menos Deus na terra quando orava a Deus Pai no Céu. Ele estava descrevendo como até em humanidade perfeita é necessário ter uma vida de oração vigorosa para cumprir a vontade de Seu Pai. Quando Jesus orou ao Pai, Ele estava fazendo uma demonstração do relacionamento dentro da Trindade, com o Pai, como um exemplo para nós, que precisamos depender de Deus, através de oração, para obter a força e sabedoria das quais precisamos. Se Cristo, como Deus homem, precisava ter uma vigorosa vida de oração, quanto mais o seguidor de Cristo hoje!

A Divindade de Jesus (visão Católica) Kelson Mota T. Oliveira

"Que pensais vós do Cristo? de quem é filho?" (Mt 22:42). "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mt 16:15). A Bíblia afirma claramente que Jesus, o Verbo divino, se fez carne e andou entre os homens (Jo 1:14). Quando estudamos a pessoa e obra de Jesus, não podemos fugir ao importante facto de Deus ter se encarnado e assumido a condição humana, à semelhança de todos os homens. Igualmente importante é a pergunta: Jesus é realmente Deus ou apenas um homem extraordinário? Todos os verdadeiros Cristãos crêem que Jesus é Deus, com todas as prerrogativas divinas do Pai. Mas há sustentação bíblica para tal afirmação? Vejamos. 1. As características Exclusivas de Deus em Jesus. As Escrituras não afirmam explicitamente que Jesus é Deus, mas deixam muito claro que o Filho possui todas as características e atributos de Deus, não podendo ser tido por alguém menos que Deus. As provas são abundantes em todo o NT. Comecemos pela ideia que Cristo a seu próprio respeito. A Auto consciência de Jesus. Jesus tinha uma clara consciência sobre sua pessoa. As alegações que Jesus fez sobre sua própria pessoa não teriam sentido se Ele não tivesse sobre si mesmo a clara noção de divindade. Tudo indica que Ele sabia que era Deus, pois disse: Que os anjos eram seus, e os poderia enviar (Mt 13:41). Em Lc 12:8,9 e 15;10, os anjos são chamados anjos de Deus. Que o reino dos Céus (Mt 13:24,31,33,44,45,47), que é o reino de Deus (Lc 17:20), é também o seu reino (Mt 13:41). Ter autoridade para perdoar os pecados (Mc 2: 1-12), tarefa que cabe exclusivamente a Deus. Aliás, por causa disso os fariseus o acusaram dizendo "Isto é blasfêmia! Quem pode perdoar pecados, senão um que é Deus?". Perdoar pecados é uma prerrogativa divina. Que julgará todos os homens, separando os bons dos maus (Mt 25:31-46, Lc 13: 23-30). No AT, o Deus Todo-Poderoso, é o único chamado de Juiz de toda a terra (Gn 18:25) e o único com prerrogativa de julgar as nações (Jz 11:27; Sl 75:7; Sl 82:8; Ec 11:9 e 12:4). Só Deus pode exercer tal autoridade e poder. Ser o Senhor do sábado (Mc 2: 27,28). O valor do sábado foi definido por Deus (Ex 20: 8-11), e somente alguém igual a Deus poderia anular ou modificar essa norma. Ter autoridade pessoal no mesmo nível que a autoridade do AT (Mt 5:21,22,27,28). Nessas passagens, Jesus deixa claro ter autoridade para estabelecer novos ensinamentos, no mesmo nível da autoridade que era dispensada ao ensino de Moisés e dos profetas das Escrituras. Ter poder para vivificar e ressuscitar os mortos (Jo 5:21). Somente Deus teria poder para vivificar os mortos. Jesus não só alegou, como também ressuscitou a várias pessoas (Lc 7:1192


15; Mt 9:18,19,23-26; Jo 11:17-44). Mas de seus milagres, sem dúvida, a ressurreição de si mesmo, foi seu maior sinal (Mt 12:39). Ser a ressurreição e a vida (Jo 11:25). Alegava ter poder suficiente para fazer tornar a viver qualquer que cresse nEle, mesmo que esta morresse. Um atributo exclusivo do Senhor Deus, que Ele estava reivindicando nessa passagem. Suas afirmações com respeito ao Pai. Jesus, alegou várias vezes possuir um relacionamento íntimo e mesmo bastante incomum com o Pai, que soaria como loucura, caso Ele não fosse Deus. Ele afirma ser um com o Pai (Jo 10:33). Afirma que quem O vê, vê o Pai (Jo 14: 7-9). Afirma que preexistia antes de Abraão (Jo 8:58). Sua afirmação é no presente "Eu Sou", semelhante ao nome com que o Deus Eterno se revelou a Moisés no sinai (Ex 3:14,15). Isso ficou tão claro para os judeus (sua reivindicação de divindade), que quiseram apredejar a Jesus por blasfêmia. Afirma que quem O honra, está honrando o Pai (Jo 5:23). Afirma ter a mesma natureza de vida que existe somente em Deus, o Pai (Jo 5:26). As reacções e afirmações das pessoas que conviveram com Ele. Várias pessoas do NT, que tiveram contacto com Jesus, se manifestaram, uns contra, outros a favor, da clara posição e prerrogativa que Jesus requeria e assumia para sua vida. A reacção do povo comum (Jo 7:11,12,31,40,41,46): muitos acreditavam ser Ele o Messias prometido, outros que enganava o povo. Ninguém permanecia indiferente ante a sua pessoa. A reacção e declaração do sumo sacerdote à resposta franca de Jesus (Mt 26: 62-65): a clara afirmação de Jesus que se sentaria a direita do Todo-Poderoso (o lugar de honra, que só deveria ser dada a Deus), levou o sumo sacerdote a rasgar suas vestes (acto realizado na presença de uma grande calamidade) e o sinédrio a sancionar a pena de morte por blasfêmia, uma vez que Ele se fizera igual a Deus. Aliás, essa passagem é uma das declarações mais claras da divindade de Jesus. De alguns escribas e fariseus (Jo 19:7,8): que Ele se fez a si mesmo o Filho de Deus. A declaração de Tomé (Jo 20:28): "Senhor meu e Deus meu!!". Jesus aceita a declaração e adoração de Tomé. Caso não fosse Deus, certamente Ele aproveitaria tal oportunidade para corrigir uma concepção errada sobre a sua pessoa. 2. Vários Testemunho das Escrituras sobre a divindade de Jesus 2.1. No evangelho de João. João identifica Jesus como o Verbo pré-encarnado, a Palavra em ação. Em Jo 1, lemos "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus" (vs.1). João deixa claro que Jesus é um com Deus, e ao mesmo tempo o distingue de Deus (vs. 2). Afirma que todas as coisa foram feitas por meio dEle, e sem Ele nada do que foi feito se fez (vs. 3). a Bíblia também afirma que no princípio todas as coisas foram criadas por Deus (Gn 1:1), e assim João estabelece uma identificação entre Jesus e o Deus Criador. Afirma também que esse Verbo divino se fez carne (vs. 14), e que somente Ele revela plenamente a Deus (vs. 18). É um grande testemunho a respeito da divindade do Filho. 2.2. Nos escritos de Paulo. Paulo mostra claramente sua crença na divindade de Jesus. Em Cl 1:15-20, Paulo afirma que Jesus é a imagem do Deus invisível, no qual todas as coisa subsistem, e que nEle reside toda a plenitude (veja também Cl 2:9).Paulo se refere ao julgamento de Deus (Rm 2:3) e ao julgamento de Cristo (IITm 4:1; IICo 5:10), de maneira intercambiável. Em Fp 2:5-11, Paulo ensina que Jesus, sendo Deus, se auto limitou, esvaziando-se a si mesmo de seus privilégios divinos e sendo reconhecido em figura humana. Quando Paulo diz que Jesus tem a forma (morphé no original) de Deus, a ideia é que Cristo tem a mesma essência de Deus. Em outras palavras, o vs.5 quer dizer que, embora Jesus tivesse a mesma essência de Deus, não utilizou isso em vantagem própria. E logo em seguida deixa claro que 93


virá um dia em que todos haverão de prestar honras e louvores a Ele, numa linguagem só permitida a alguém que crê que Jesus seja realmente Deus. 2.3. Nas outras epístolas. Em Hebreus: das epístolas não-paulinas, a de Hebreus, é a que mais contrasta a divindade de Jesus com relação aos anjos e aos homens. Em Hb 1:3, afirma que Jesus é o resplendor da glória e a expressão exacta de Deus. Não somente isso, mas também afirma que Jesus foi o meio pelo qual todas as coisas foram feitas (vs. 2), as quais são sustentadas pela palavra do seu poder (vs. 3). Uma afirmação clara é encontrada no vs.8, no qual Jesus é tratado por Deus: "mas acerca do Filho: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre, e: Ceptro de equidade é o ceptro do seu reino". A epístola continua argumentando que Jesus é muito superior aos anjos (Hb 1:4 - 2:9), a Moisés (3:1-6) e aos sumos sacerdotes (4:14 - 5:10). Mas o autor deixa claro que sua superioridade não reside apenas em termos de posição hierárquica, mas sim de natureza intrínseca, pois todos os outros são criaturas, mas o Filho é Deus. Vejamos mais alguns argumentos da Bíblia: Em I João: em 1:1,3 Jesus é o Verbo da vida eterna, já pré existente no princípio de todas as coisas, juntamente com o Pai. No capítulo 5:20, Jesus é chamado de Filho de Deus e explicitamente identificado como verdadeiro Deus e a vida eterna: "Também sabemos que o Filho de Deus é vindo, e nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna". Em II Pedro: em 1:1, Pedro também chama a Jesus de Deus e Salvador: "Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que connosco obtiveram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo". Em Apocalipse: em 1:8, o Senhor Deus Todo Poderoso é apresentado como o Alfa e o Ómega, que representado o princípio e o fim de todas as coisas. Mas em 1:17,18 Jesus se apresenta com os mesmos títulos outorgados ao Deus Todo Poderoso: "Quando o vi, caí a seus pés como morto. Porém ele pôs sobre mim a sua mão direita, dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o último, e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da morte e do inferno." Também em 19:16, Jesus recebe o título de Rei dos reis e Senhor dos senhores, uma clara alusão a sua soberania e majestade divinas. 2.4. No uso comum do termo Senhor por todo o N.T. Vários foram os nomes pelos quais as Escrituras provam ser Jesus, o próprio Deus encarnado: Deus (Hb 1:8); Filho de Deus (Mt 16:16); Reis dos reis e Senhor dos senhores (Ap 19:16); Verbo (Jo 1:1), etc. Mas é pelo título Senhor que Jesus é mais conhecido. ainda que tal termo seja geral e não prove por si mesmo a divindade de Jesus, em várias passagens ele realmente indica a posição divina que Jesus desfrutava. Quando os judeus traduziram o A.T. para o grego, os nomes sagrados de Deus Yahveh (YHWH) e Adonai, foram traduzidos por Kyrios (que quer dizer Senhor, dono), sendo tido por um termo reverente. O termo era também usado respeitosamente pelos romanos para se referir a César, como o Senhor. Somente por estas razões, este termo quando aplicado a Jesus já deveria dar suficiente conotação da divindade de Jesus. Mas além disso, várias passagens que se referem a Jesus como Senhor são na verdade citações do A.T., onde o nome original de Deus foi traduzido por Senhor (At 2: 20,21 em contraste com o 36 e Rm 10: 9, 13 e verifique Jl 2: 31,32; I Pe 3:15, confira com Is 8:13). O título aqui dado a Jesus é no mesmo sentido que o A.T. dava ao Deus Todo Poderoso. Há outros textos que o título Senhor é usado tanto para o Pai (Mt 1;20; 9:38; At 17;24) quanto para o Filho (Lc 2:11; Jo 20:28; I Co 2:8; Fp 2;11).

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Para o judeu, chamar a Jesus de Senhor, seria colocá-LO na mesma posição de igualdade com o Deus das Escrituras. Os escritores do N.T., tinham isso em mente ao se referir, muitas vezes, a Jesus como Senhor.

JESUS NÃO É DEUS (visão de um Espírita) Martins Peralta, no seu livro “Estudando o Evangelho”, faz minucioso estudo sobre o título em epígrafe, do qual extraímos alguns tópicos: I - Meu Pai e Eu somos Um. "Aqueles que afirmam, ou, pelo menos, crêem que Jesus e Deus são a mesma entidade, louvam-se, sem dúvida, nas seguintes palavras do Mestre: "Meu Pai e Eu somos Um". Baseando-nos, contudo, nessas palavras para cultivarmos a crença de que Jesus é o próprio Deus, seremos forçosa e inevitavelmente, compelidos a também igualar o Mestre aos discípulos, o Cristo aos apóstolos, pois no Evangelho segundo João (14:20) está escrito "... estou em meu Pai e vós em mim e eu em vós". Não há outra alternativa. Não há diferença entre essas duas frases: "Meu Pai está em mim e eu n'Ele", com que refere Jesus a Deus, e a outra: "Vós (estais) em mim e eu em Vós", com o que o mesmo Jesus se reporta aos discípulos. De facto, Jesus sempre estava com Deus. E Deus, por sua vez, sempre esteve com Jesus. A vontade de um sempre foi a vontade do outro. "São um pelo pensamento - uma vez que tudo quanto Cristo realizava, e realiza ainda, é sob a inspiração de Deus..." II - Meu Pai, nas tuas mãos entrego a minha alma. (...) Folheemos, pois, muito respeitosamente o Evangelho do Senhor, Repositório de Suas lições, Santuário de Suas palavras. Deixemos que os próprios ensinos do Cristo de Deus façam luz sobre o assunto, equacionem o problema que tanto tem aguçado a curiosidade dos homens. As passagens que alinharemos a seguir, foram extraídas do Novo Testamento. Todas elas se reportam, com absoluta clareza, ao assunto em estudo, deixando, pelo menos em nós, Espíritas, a convicção de que Jesus é um, e Deus é outro. Um é o Pai, outro é o Filho. Deus - o Criador do Universo. Jesus - o Governador Espiritual da Terra. "A palavra que ouvistes não é minha, mas do Pai que me enviou" (João, 14:24). "Por que me chamou de bom? Não há bom senão um só, que é Deus (Mateus, 19:17; Marcos, 10:18; Lucas, 18:19). "... eu desci do Céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou" (João 6:38). "Assim procedo para que o mundo saiba que eu amo o Pai e faço como o Pai me ordenou" (João 14:31). "Quem quer me receber, recebe aquele que me enviou" (Lucas 9:48). "... agora procurais dar-me a morte, a mim que vos tenho dito a verdade que aprendi de Deus" ( João 8:40). "Ainda estou convosco por um pouco de tempo e vou em seguida para aquele que me enviou" (João 7:33). "E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco" (João 14:16). "Se me amásseis, alegrar-vos-ei de que eu vá para o Pai, pois o Pai é maior do que eu" (João 14:28). "Meu Pai, se for possível, afaste de mim este cálice" (Mateus, 26:39).

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Mais adiante, no versículo 42, continua a sublime e incompreendida conversação com Deus: "Meu Pai, se não é possível passar de mim este cálice, sem que eu beba, faça-se a tua vontade". Mais adiante, ainda, o incisivo, admirável, incontroverso apontamento de Lucas (23:46): "Meu Pai, nas tuas mãos entrego a minha alma". III - (...) Herdeiros de Deus e co-herdeiros de Jesus Cristo. No exame do problema da identidade de Jesus com Deus, do Filho com o Pai, é justo e conveniente auscultemos, também a opinião dos apóstolos. Precisamos conhecer o pensamento, o testemunho daqueles que foram vasos escolhidos para o ministério evangélico. Diz Allan Kardec, com a prudência e a sensatez que lhe caracterizavam o Espírito: "De todas essas opiniões, as de maior valor, são incontestavelmente, as dos apóstolos, uma vez que estes O assistiram em sua missão, e uma vez também que, se Ele lhes houvesse dado instruções secretas, com respeito à sua natureza, alguns traços dessas instruções se descobririam nos escritos deles. Tendo vivido na sua intimidade, melhor que ninguém haviam eles de conhecê-Lo. Ouçamos a palavra de Pedro que assistiu Jesus desde a primeira hora: Actos, 5:30: "O Deus de nossos Pais ressuscitou a Jesus, que vós fizestes morrer, pendurando-o no madeiro". Actos, 2:22: "Varões israelitas, atendei a estas palavras: Jesus, o Nazareno, varão aprovado por Deus diante de vós...". Actos, 2:32): "A este Jesus, Deus ressuscitou, de que todos nós somos testemunhas". Actos, 2:36: "Que, pois, toda a Casa de Israel saiba, com absoluta certeza, que Deus fez Senhor e Cristo a esse Jesus que vós crucificastes". Actos, 3:26: "Foi por vós, primeiramente, que Deus ressuscitou seu filho e vo-lo enviou para os abençoar, a fim de que cada um se convertesse da sua má vida". Ouçamos, agora, a Paulo de Tarso, o erudito e sublimado Doutor dos gentios. Paulo de Tarso - o ardoroso discípulo de Gamaliel e seu presumível substituto no Sinédrio. Conheçamos, também, o vigoroso e inspirado pensamento do notável bandeirante do Evangelho do Reino, "cujos escritos prepararam os primeiros formulários da religião Cristã". Rom. 5:10: "Porque se nós, quando inimigos formos reconciliados - com Deus mediante a morte do Seu Filho, muito mais estando já reconciliados - seremos salvos pela sua vida". Hebreus, 2:9: "Deus, em sua bondade, tendo querido que Ele morresse por todos - por ser Ele bem digno de Deus...". Rom. 8:17: "Se somos filhos, somos também herdeiros de Deus e co-herdeiros de Jesus Cristo". Como se vê, assimilando o pensamento de Jesus, os apóstolos dão testemunho sobre a personalidade do Mestre. Se a palavra de Jesus e as opiniões dos apóstolos nos merecem fé, não tenhamos dúvidas em afirmar que Deus é um, e Jesus é outro. Deus - é o Pai. Jesus - é o Filho. E nós, os homens, somos os irmãos de Jesus. Herdeiros de Deus. Co-herdeiros de Jesus".

Jesus não é Deus (visão de um Espírita) "...porque o Pai é maior do que eu" Tentaremos, com este estudo, mostrar que esta questão é importante para nós, os Cristãos. Se tivermos a Jesus como o próprio Deus é-nos difícil seguir seus ensinos, exemplificados em 96


suas acções, pois tudo o que fez não servirá para nós como modelo de como fazer ou agir, visto ter partido de um ser que tudo pode, seria algo inatingível para nós, os mortais. Por outro lado, com o conhecimento que vamos adquirindo através de estudos vemos, como iremos demonstrar, uma perfeita consonância com os missionários divinos de religiões não Cristãs, e com isto a crença em nossa religião fica bem abalada. E se ao contrário o colocarmos na condição de homem, ficaria muito mais fácil seguir seus exemplos, pois de igual para igual encontraremos forças para aplicar os seus ensinos. Mas afinal, quando Jesus foi considerado Deus? Desde o início do Cristianismo? O que pensavam seus discípulos sobre o assunto? O que o povo e Ele mesmo pensava? Para respondermos estas perguntas, primeiramente, iremos recorrer ao Evangelho.

a) O que o povo pensava: Mateus 16:13,14: "Tendo chegado à região de Cesareia de Filipe, Jesus perguntou aos discípulos: Quem dizem por aí as pessoas que é o filho do homem?" Responderam: "Umas dizem que é João Baptista, outras que é Elias, outras enfim, que é Jeremias ou alguns dos profetas". Mateus 26:67,68: "Então, cuspiram no seu rosto e cobriram-no de socos. Outros lhe davam bordoadas. E lhe diziam: "Mostra que és profeta, Ó Cristo, advinha quem foi que te bateu?". João 7:40,41: "Muitos daquela gente que tinham ouvido essas palavras de Jesus afirmavam: "Verdadeiramente ele é o profeta". João 9, 17: "Perguntaram ainda ao cego: "Qual é a tua opinião a respeito de quem abriu os olhos?" Respondeu: "É um profeta". b) O que os discípulos pensavam: Lucas 24, 19: "Jesus foi um profeta, poderoso em obras e palavras diante de Deus e do povo". Actos 2, 22: "Homens de Israel, escutai o que digo: "Jesus foi o homem credenciado por Deus junto a nós com poderes extraordinários, milagres e prodígios. Bem sabeis as coisas que Deus realizou através dele no meio de vós". c) O que dizia Jesus: Lucas 13, 33: "Entretanto devo continuar meu caminho hoje, amanhã e no dia seguinte, porque não convém que um profeta morra fora de Jerusalém". João 8, 40: "Procurais tirar-me a vida a mim que sou homem, que vos digo a verdade que de Deus ouvi". Marcos 6:4,5: "Mas Jesus Ihes dizia: "Um profeta só deixa de ser honrado em sua pátria, em sua casa e entre seus parentes. E não podia ali fazer milagre algum". (Argumento que utilizou para justificar porque Ele não fez milagres na sua terra natal). Observamos, assim, que o povo e os seus discípulos acreditavam que Jesus era um profeta, o que foi confirmado pelo próprio Jesus. Na passagem de João, 14:12,13, ele diz: "Eu vos afirmo e esta é a verdade: quem crê em mim fará as obras que eu faço. E fará até maiores, porque vou ao Pai, e o que pedirdes ao Pai em meu nome eu farei, para que o Pai seja glorificado no filho". Se seguirmos a linha de raciocínio que Ele seja Deus, nós também seríamos deuses, pois segundo suas próprias palavras, poderíamos fazer o que ele fez e até mais. Vemos que não há como considerá-lo Deus. A base central desta linha de pensamento, que ele era Deus, 97


basicamente vamos encontrá-la em João 10, 30: "Eu e o Pai somos um". Com isto chegaram à conclusão de que se o Pai é Deus e Jesus sendo um com o Pai, por conseguinte também seria Deus. Conclusão digamos apressada e incoerente, pois não pegaram o sentido da frase, apegaram-se à letra. Mas porque não tiveram a mesma linha de pensamento nesta outra passagem de João (17:20,23): "Não rogo somente por eles, mas também por todos aqueles que hão de crer em mim pela sua palavra. Que todos sejam um! Meu pai, que eles estejam em nós, assim como tu estás em mim e eu em ti. Que sejam um, para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes dei a glória que tu me deste, para que sejam um, como nós somos um: eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitamente unidos, e o mundo conheça que tu me enviaste e que os amaste como tu me amaste". Não seria o caso de dizer então que os discípulos eram deuses? Em outras passagens, Jesus se coloca na condição de subordinado a Deus, prestando-lhe obediência e cumprindo-lhe a vontade, ora, quem é subordinado está sob ordens de alguém que lhe é superior, vejamos: João, 4,34:"Jesus afirmou:"Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou a levar a cabo a sua obra". João, 5,19:"Eu vos afirmo e esta é a verdade: o Filho nada pode fazer por si mesmo, a não ser o que vê o Pai fazer". João 5,30:"Não posso fazer nada por mim mesmo, julgo segundo o que ouço; e o meu julgamento é justo, porque não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou". João 6:37,38: "Tudo o que o Pai me dá, virá a mim e não jogarei fora o que vem a mim, porque desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou". João 7, 28: "Se me amásseis, vos alegraríeis de que eu vá ao Pai, porque o Pai é maior do que eu". Nessa última passagem, é bem taxativa a superioridade do Pai sobre Jesus. Não há como contestar. A divindade de Jesus, que inicialmente foi rejeitada por três concílios, dos quais o mais importante foi o de Antioquia em 269, foi em 325 proclamado pelo de Niceia. Após a declaração de que Jesus era Deus, vem para o encaixar, o dogma da Santíssima Trindade. Mas somos levados a crer, que esta trindade nada mais foi que uma cópia da base fundamental de outras religiões, bem mais antigas que o Cristianismo. Podemos citar as que constam do Livro "O Redentor", de Edgard Armond:

Brahma, Shiva e Vishnu - dos hindus. Osiris, Isis e Orus - dos egípcios. Ea, Istar e Tamus - dos babilónios. Zeus, Demétrio e Dionísio - dos gregos. Orzmud, Arimam e Mitra - dos persas. Voltan, Friga e Dinas - dos celtas. Achamos muito interessante o estudo do Dr. Paul Gibier (O Espiritismo o faquirismo ocidental) em que ele coloca: "Uma das analogias mais notáveis do catolicismo, não com o Budismo, mas com o Bramanismo, encontra-se em uma das encarnações de Vishnu (filho de Deus) sob a forma de Krishna. Krishna, que alguns autores escreviam Christna ou Kristna, foi concebido "sem pecado", seu nascimento foi anunciado por profecias numerosas e muito antigas. Sua mãe Devanaguy, o concebeu por obra de um Espírito, que lhe apareceu sob os traços de Vishnu, segunda pessoa da trindade Hindu. Segundo a tradição Hindu e o "Bhagavedagita", anunciando uma profecia 98


que ele destronaria seu tio, o tirano de Madura, este último mandou encarcerar sua sobrinha Devanaguy, que foi libertada por Vishnu; então o tirano mandou assassinar em todos os seus estados as crianças do sexo masculino nascidas na mesma noite em que Krishna veio à luz (grifo do original). Mas o menino foi salvo por milagre e 3500 anos mais ou menos antes de nossa era, ele pregava a sua doutrina. Depois de converter os homens, morreu de morte violenta às margens do Ganges, segundo ordens de Brahma (Deus, o Pai), para realizar a redenção dos homens, como lhes fora prometido". Parece que tudo se encaixa na tradição Cristã a respeito de Jesus, talvez até fosse necessário, considerando a cultura da época, torná-lo um Deus para que as pessoas pudessem acreditar em seus ensinos, entretanto, achamos que para os dias de hoje isto poderá causar mais incrédulos, por uma coisa bem simples: é que o homem moderno coloca a razão e a lógica com base para acreditar ou não em algo, e agindo assim também em relação à crença religiosa terá uma fé inabalável. Com relação a Jesus, poderemos afirmar com absoluta certeza que era um ser superior a nós humanos, sem, entretanto, chegar a ser um Deus, principalmente pelos seus ensinos e exemplos de vida, virtudes essas que serão o nosso passaporte para o "Reino dos Céus", pois somente através dele é que chegaremos ao Pai, conforme suas palavras: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão através de mim".

Jesus era humano ou divino? (visão Islâmica) Uma das mais importantes fontes de informações, e que nos ajudará a entender o contexto histórico - tempo e espaço - do personagem JESUS, e bem conceituá-lo, é - sem dúvida - o Novo Testamento. Para nós, muçulmanos, o Alcorão Sagrado constitui-se numa fonte INCONTESTÁVEL para qualquer das grandes verdades, inclusive àquela que trata do tema: JESUS CRISTO, porque acreditamos, absolutamente, que o texto corânico é Palavra de Deus. E Deus tudo sabe, hoje, ontem e amanhã. Todavida, como escrevemos para não muçulmanos inclusive, os quais não têm a mesma crença em relação ao Alcorão, porém a têm em relação à Bíblia (Velho e Novo Testamentos), vamos prosseguir, como vimos procedendo, pesquisando a Bíblia para conferir o seu conteúdo: se confere e coincide com o conteúdo do Alcorão. Neste capítulo estamos analisando o tema: Jesus Cristo, é de natureza humana ou divina? Pelos enunciados teológicos da Bíblia, assim como pelas palavras do próprio Jesus, Deus é de uma natureza, de uma dimensão, absolutamente diferentes - no mínimo: diferentes - das dos homens, e das de todos os outros seres. Portanto, Deus não poderia - nem pode ser - o próprio Jesus Cristo. Mas, vamos consultar o Novo Testamento, para sabermos como os contemporâneos de Jesus - e os discípulos dele - o definiram. 1 - No Evangelho de São Mateus, 12:33, vamos encontrar que as pessoas de seu tempo o chamaram: Filho de David. ---É, este, porventura, o Filho de David? Mt, 12:33 2 - Em Mateus 13:55 “Não é este o filho do Carpinteiro?” 3 - Em Marcos 6:3 “Não é este o carpinteiro, filho de Maria?” 4 - Em Marcos 6:15 “Outros diziam: é Elias; ainda outros: É profeta como um dos profetas.” 5 - Em Lucas 4:22 "Perguntavam: Não é este o filho de José?” 6 - Em Lucas 7:16 “Todos ficaram possuídos de temor, e glorificaram a Deus, dizendo: Grande profeta se levantou entre nós.” 99


OBSERVAÇÃO: Está claríssimo neste versículo que Jesus era uma coisa, para eles, e Deus outra! 7 - Em Lucas 22:11 Jesus chama-se a si mestre: “O mestre manda perguntar-te….” 8 - Em João 3:2 “Nicodemos disse a Jesus: Rabi sabemos que és mestre, vindo da parte de Deus.” 9 - Em João 13:13 (Jesus quem fala): “Vós me chamais o Mestre e o senhor, e dizeis bem; porque eu o sou.” 10 - Em João 18:2 “Jesus saiu com seus discípulos.” Estes 10 textos, extraídos dos quatro evangelhos, expressam FIELMENTE o que os contemporâneos, os simpatizantes, os seguidores e os discípulos de Jesus entendiam que ele era! Jesus, para eles, era: "Filho de David", "Filho do carpinteiro", "Carpinteiro", "Filho de Maria", "Profeta" (como Elias e os outros profetas), "Mestre", "Enviado de Deus"... Tudo, tudo... no âmbito HUMANO, jamais no âmbito da divindade, nunca foi considerado DEUS! Até ele, Jesus, aprova que o chamem - e conceituem de MESTRE, e comenta: ---dizeis bem". E mais que isso, ainda concorda: ---Porque eu o sou. Além de tudo isso, há um texto que, embora nos pareça ESTRANHO, mesmo assim é IMPORTANTÍSSIMO. Vamos a ele: Lucas 2:48 “Logo que seus pais o viram, ficaram maravilhados, e sua mãe lhe disse: Filho, por que fizeste isso connosco? Teu pai e eu, aflitos, estamos à tua procura. " Queremos logo esclarecer o termo ESTRANHO que usamos antes: Refere-se à PATERNIDADE de Jesus que a Bíblia confere a José! Mais que isto: a própria mãe de Jesus, a Virgem Maria, diz a Jesus: “Teu pai e eu, aflitos, estamos à tua procura.” Enquanto o Sagrado Alcorão, o Livro do Islamismo, sempre que aborda a figura de Jesus, não deixa qualquer dúvida de que ele - Jesus - nasceu sem pai humano, sem genitor físico. Nasceu, isto sim, de um sopro divino. Portanto, todas as referências a Jesus, nos dez exemplos transcritos da Bíblia Sagrada dos Cristãos, coincidem com os textos do Alcorão Sagrado que designa Jesus Cristo de: "Filho de Maria", de "Profeta", de "Enviado de Deus", e acima de tudo: HOMEM, de natureza humana. Outra análise importantíssima diz respeito aos chamados "Apóstolos de Cristo" como São Paulo, São Pedro, São João e outros, e como eles CONCEBIAM Deus. Será que eles adoravam a Jesus como Deus? A resposta isenta, autêntica e veraz está na própria Bíblia Sagrada dos Cristãos, mais precisamente: Exactamente como o qualifica o Alcorão no Novo Testamento. Eis alguns textos: 1 - São Paulo diz, de acordo com ACTOS DOS APÓSTOLOS 24:14 “Eu sirvo ao Deus de nossos pais…”. Sabe-se, sobejamente, que São Paulo professava o Judaísmo antes de converter-se à fé pregada por Jesus. Evidentemente que os pais dele (e antepassados) não poderiam JAMAIS ter Jesus como o Deus deles. Daí conclui-se que o - Deus de nossos pais, nas palavras de São Paulo, é o Deus dos judeus, e não Jesus. E para reforçar ainda mais o que afirma-se, eis um outro texto bíblico que não deixa qualquer dúvida sobre o DEUS de São Paulo. O texto é da EPíSTOLA A TIMOTEO, 1:3 onde Paulo diz: “Dou graças a Deus a quem desde os meus antepassados, sirvo com consciência pura”. 2 - São Pedro diz em sua V Epístola: Por meio dele (Jesus) tendes fé em Deus, o qual O ressuscitou dentre os mortos, e lhe deu glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus. 1 Pedro, 1:12. 100


A distinção entre Deus e Jesus - para São Pedro - é tão manifesta... que dispensa qualquer comentário! 3 - São João afirma em sua 1a Epístola: -Quem é o mentiroso senão aquele que nega que Jesus é Cristo? 1 João 2:22. Portanto, é MENTIROSO - para São João - todo aquele que nega ser Jesus... o Cristo, e não DEUS, pois Cristo é de Deus, e não é o próprio Deus, conforme 1 Coríntios 3:23: Tudo é vosso, e vós de Cristo, e Cristo de Deus. 4- São Paulo diz na sua Epístola aos Romanos, 1:25: -Adorando e servindo a criatura, em lugar do Criador. Em ACTOS 10:25,26 Aconteceu que, indo Pedro a entrar, lhe saiu Cornélio ao encontro e, prostrando-se-lhe aos pés, o adorou. Mas Pedro o levantou dizendo: Ergue-te que eu também sou homem. Como não havia nenhuma dúvida para os discípulos de Jesus de que ele era um HOMEM, não poderia ser confundido - por eles - com Deus, a quem deve-se adorar, conforme o diz São João no APOCALIPSE 22:9. Então ele me disse: vê, não faças isso; adora a Deus.

Jesus é Deus? (visão Islâmica) A Bíblia diz que Deus não é Homem. A Bíblia diz: Números 23:19 “Deus não é homem...”. Oséas 11:9 “...porque eu sou Deus, e não homem...”. Jesus é chamado de um homem muitas vezes na Bíblia: João 8:40 “...um homem que vos falou a verdade…”. Actos 2:22 “Jesus, o Nazareno, um homem aprovado por Deus para vós com milagres, prodígios e sinais que Deus realizou através dele no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis”. Actos 17:31 “Ele julgará o mundo através do homem que escolheu”. 1. Timóteo 2:5 “...o homem Cristo Jesus”. Deus não é um homem, mas Jesus, que Deus o exalte, era um homem, portanto, Jesus não era Deus. 2. A Bíblia diz que Deus Não é um Filho de Homem. Números 23:19 “Deus não é homem...nem filho do homem...”. A Bíblia frequentemente chama Jesus de “um filho do homem” ou “o filho do homem”. Mateus 12:40 “...assim ficará o filho do homem...”. Mateus 16:27 “Porque o filho do homem há de vir...”. Mateus 16:24-28 “...antes de terem visto chegar o filho do homem com o seu reino”. Marcos 2:10 “Mas para que saibais que o filho do homem tem autoridade...”. João 5:27 “...porque é o filho do homem”. Nas escrituras hebraicas, o “filho do homem” também é usado muitas vezes falando de pessoas (Jó 25:6; Salmos 80:17; 144:3; Ezequiel 2:1; 2:3; 2:6; 2:8; 3:1; 3:3; 3:4; 3:10; 3:17; 3:25). Uma vez que Deus não Se contradiz, ao primeiro dizer que Ele não é filho de um homem, e depois se tornar um ser humano que era chamado de “o filho do homem”, ele não o fez. Lembre que Deus não é o autor de confusão. Seres humanos, incluindo Jesus, também são chamados “filho do homem” especificamente para distingui-los de Deus, que não é um “filho do homem” de acordo com a Bíblia. 3. A Bíblia Diz que Jesus Negou ser Deus. Lucas 18:19 Jesus falou a um homem que o chamou de “bom,” perguntando-lhe, “Por que me chamas de bom? Ninguém é bom excepto Deus”. 101


Mateus 19:17 E ele lhe disse, “Por que me perguntas sobre o que é bom? Existe apenas Um que é bom; mas se queres entrar na vida, guarda os mandamentos”. Jesus não ensinou às pessoas que ele era Deus. Se Jesus tivesse dito às pessoas que era Deus, ele teria saudado o homem. Ao invés disso, Jesus o repreendeu, negando ser bom, ou seja, Jesus negou que fosse Deus. 4. A Bíblia Diz que Deus é Maior que Jesus. João 14:28 “Meu Pai é maior que eu”. João 10:29 “Meu Pai é maior que todos”. Jesus não pode ser Deus se Deus é maior que ele. A crença Cristã de que o Pai e o filho são iguais está em contraste directo com as palavras claras de Jesus. 5. Jesus nunca instruiu seus discípulos a adorá-lo ou ao Espírito Santo, mas a Deus e a Deus somente. Lucas 11:2 “Quando orardes, dizei Nosso Pai que está no céu”. João 16:23 “Naquele dia, nada me perguntareis. Se pedirdes alguma coisa ao Pai, ele vo-la concederá em meu nome”. João 4:23 “Mas a hora vem e agora é, quando os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura aqueles que assim o adorem”. Se Jesus fosse Deus, ele teria buscado adoração para si mesmo. Uma vez que ele não o fez, ao invés disso buscou adoração para Deus nos céus, ele, portanto não era Deus. 6. A Bíblia diz que Jesus reconheceu, orou e adorou o único verdadeiro Deus. Jesus orou a Deus com as palavras: João 17:3 "...que eles conheçam a ti, o único verdadeiro Deus, e Jesus Cristo que enviastes”. Jesus orou a Deus toda a noite: Lucas 6:12 “ele continuou durante toda a noite em oração a Deus”....porque: Mateus 20:28: O filho do homem não vem para ser servido, mas para servir. Como Jesus orou a Deus? Mateus 26:39 “...ele prostrou-se com o rosto em terra e orou, dizendo, ‘Meu Pai...”. Até Paulo disse: Hebreus 5:7 “Durante os dias da vida de Jesus na terra, ele ofereceu orações e súplicas com clamor e lágrimas ao que podia livrá-lo da morte, e ele foi ouvido por causa de sua reverência”. Para quem Jesus estava orando quando prostrou-se com seu rosto em terra com grande clamor e súplicas? Para si mesmo? Jesus estava chorando para suplicar a si mesmo ser salvo da morte? Nenhum homem, são ou insano, ora para si mesmo! Certamente a resposta deve ser um sonoro 'Não'.’ Jesus estava orando para “o único verdadeiro Deus.” O Deus de quem Jesus era servo. Aquele que o enviou. Pode haver uma prova mais clara de que Jesus não era Deus? O Alcorão confirma que Jesus conclamou à adoração do único verdadeiro Deus: “Verdadeiramente, Deus é meu Senhor e vosso Senhor. Então, adorai-O (somente). Essa é a senda recta”. (Alcorão 3:51). 7. A Bíblia diz que os discípulos não acreditavam que Jesus era Deus. Os Actos dos Apóstolos na Bíblia detalham a actividade dos discípulos em um período de trinta anos após Jesus, que Deus o exalte, ser elevado aos céus. Ao longo desse período, eles nunca se referiram a Jesus como Deus. Por exemplo, Pedro se levantou com os onze discípulos e se dirigiu à multidão dizendo: Actos 2:22 “Homens de Israel, ouçam estas palavras: Jesus era um homem aprovado por Deus entre vós por milagres, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis”. Para Pedro, Jesus era um servo de Deus (confirmado em Mateus 12:18): Actos 3:13 “O Deus de Abraão, Isaque e Jacó, o Deus de nossos antepassados, glorificou seu servo Jesus”. Actos 3:26 “Deus suscitou seu servo...”. 102


Quando confrontado pela oposição das autoridades, Pedro disse: Actos 5:29-30 “Importa antes obedecer a Deus que aos homens. O Deus de nossos pais que ressuscitou Jesus...”. Os discípulos oraram a Deus como foram ordenados por Jesus em Lucas 11:2, e consideravam Jesus como servo de Deus. Actos 4:24 “...eles elevaram suas vozes unanimemente em oração a Deus. ‘Senhor,’ eles disseram, ‘tu que fizestes os céus, a terra e o mar, e tudo que neles há’. Actos 4:27 “...teu santo servo Jesus, ao qual ungiste”. Actos 4:30 “...de Teu santo servo Jesus”. Isso é exactamente o que o Alcorão afirma de Jesus: Alcorão 19:30 “...Eu sou de facto um servo de Deus”. 8. A Bíblia diz que Jesus era um servo de Deus, um escolhido, e amado. Mateus 12:18 “Eis aqui o meu servo que escolhi, em quem a minha alma se compraz”. Se Jesus é servo de Deus, Jesus não pode ser Deus. 9. A Bíblia diz que Jesus não podia Fazer Nada por Si Mesmo. João 5:19 “O filho de si mesmo nada pode fazer; senão o que vir o Pai fazer”. João 5:30 “Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma”. Jesus não se considerava igual a Deus, ao contrário, ele negou fazer qualquer coisa por si mesmo. 10. A Bíblia diz que Deus realizou milagres através de Jesus e Jesus era limitado no que ele podia fazer. Mateus 9:8 “E as multidões, vendo isso, temeram, e glorificaram a Deus, que dera tal autoridade aos homens”. Actos 2:22 “um homem aprovado por Deus para vós com milagres, prodígios e sinais que Deus realizou através dele no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis”. Actos 10:38 “...ele andou por toda a parte fazendo o bem e curando a todos os oprimidos pelo diabo, porque Deus estava com ele”. Se Cristo fosse Deus, a Bíblia simplesmente diria que o próprio Jesus fez milagres, sem fazer referência a Deus. O facto de que era Deus suprindo o poder para os milagres mostra que Deus é maior que Jesus. Jesus também era limitado na realização de milagres. Uma vez Jesus tentou curar um cego, o homem não foi curado após a primeira tentativa, e Jesus tentou uma segunda vez (Marcos 8:22-26). Uma vez uma mulher foi curada de sua hemorragia incurável. A mulher veio por trás dele e tocou seu manto, e ela foi imediatamente curada. Mas Jesus não tinha ideia de quem o tocou: Marcos 5:30 “E logo Jesus, percebendo em si mesmo que saíra dele poder, virou-se no meio da multidão e perguntou, ‘Quem me tocou as vestes?’. Marcos 6:5 “Ele não podia fazer ali nenhum milagre, a não ser curar alguns enfermos, impondo-lhes as mãos”. De forma muito óbvia, alguém com tais limitações não pode ser Deus. O poder dos milagres não estava dentro de Jesus. 11. A Bíblia diz que em momentos de fraqueza os anjos fortaleciam Jesus; Deus, entretanto, não precisa ser fortalecido. Lucas 22:43 “Então lhe apareceu um anjo do céu, que o confortava”. Marcos 1:13 “E esteve no deserto quarenta dias sendo tentado por Satanás; estava entre as feras, e os anjos o serviam”. Homens precisam ser fortalecidos; Deus não, porque Deus é Todo-Poderoso. Se Jesus tinha que ser fortalecido, ele não devia ser Deus.

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12. A Bíblia diz que Jesus queria que a vontade de Deus fosse feita, não a sua própria. Lucas 22:42: “não se faça a minha vontade, mas a tua”. João 5:30 “Eu não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou”. João 6:38 “Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou”. Alguns membros da Trindade co-igual são subservientes, e menos iguais, que os outros membros? Mesmo que tenham vontades diferentes (“eu não procuro a minha vontade”), eles obedecem sem questionar as ordens dos outros (“a vontade daquele que me enviou”)? Jesus admite subordinar sua própria vontade, ainda assim de acordo com a doutrina trinitariana eles devem ter todos a mesma vontade. Um dos parceiros triunos deve abrir mão de sua própria vontade em favor da vontade de outro membro da Trindade? Não devem ter todos exactamente a mesma vontade? 13. A Bíblia diz que Jesus considerava o testemunho de Deus como separado do seu. Jesus considerava a si próprio e a Deus como dois, não “um”. João 8:17 e 18: “Eu dou testemunho de mim mesmo e o Pai que me enviou também dá testemunho de mim”. João 14:1 “Não se turve o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim”. Se Jesus fosse Deus, ele não teria considerado o testemunho de Deus como separado do seu. 14. A Bíblia diz que Jesus é subordinado a Deus. 1 Coríntios 11:3 “Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher, e Deus, o cabeça de Cristo”. 1 Coríntios 15:28 “E, quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então também o próprio Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos”. Uma vez que Jesus era subordinado a Deus, ele não era Deus. 15. A Bíblia diz que Jesus cresceu em sabedoria e aprendizado, mas Deus é Sábio e não precisa aprender. Jesus cresceu em sabedoria, mas Deus é Sábio: Salmos 147:5 “Grande é o Senhor nosso e muito poderoso; o seu entendimento não se pode medir”. Lucas 2:52 “E Jesus crescia em sabedoria”. Deus não precisa aprender, mas Jesus aprendeu. Hebreus 5:8 “Embora sendo um filho, ele aprendeu obediência...”. 16. A Bíblia diz que Jesus tinha conhecimento limitado, mas o conhecimento de Deus é infinito. Marcos 13: 32 “Mas a respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe; nem os anjos no céu, nem o Filho, senão o Pai”. Uma vez que Jesus, que Deus o exalte, não sabia, ele não era omnisciente e, portanto, ele não podia ser Deus cujo conhecimento a tudo abrange. 17. A Bíblia diz que Jesus foi tentado, mas Deus não pode ser tentado. Hebreus 4:15 “tentado de todas as formas - assim como nós”. Tiago 1:13 “porque Deus não pode ser tentado pelo mal”. Uma vez que Deus não pode ser tentado, mas Jesus foi, então, Jesus não era Deus. 18. A Bíblia diz que os ensinamentos de Jesus eram de Deus, NÃO do próprio Jesus. João 7:16 “Respondeu-lhes Jesus: O meu ensino não é meu, e sim daquele que me enviou”. Jesus não poderia ter dito isso se ele fosse Deus porque a doutrina teria sido dele. 19. A Bíblia diz que Jesus morreu, mas Deus não pode morrer. Romanos 1:23 e outros versos dizem que Deus é imortal. Imortal significa “não sujeito à morte”. Esse termo se aplica apenas a Deus. 20. A Bíblia diz que Jesus viveu por causa de Deus. 104


João 6:57 “eu vivo pelo Pai”. Jesus não pode ser Deus porque ele depende de Deus para sua própria existência. 21. A Bíblia diz que os poderes de Jesus foram dados a ele. Mateus 28:18 “Toda a autoridade me foi dada...”. Deus é Todo-Poderoso, ninguém dá a Deus Seus poderes, de outra forma Ele não seria Deus porque Ele seria fraco. Portanto, Jesus não podia ser Deus. 22. A Bíblia diz que Jesus foi ensinado e ordenado por Deus. João 8:28 “...mas falo como o Pai me ensinou”. João 12:49 “...o Pai, que me enviou, esse me tem prescrito o que dizer e o que anunciar”. João 15:10 “...eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai...”. Ninguém pode ensinar Deus, de outra forma Deus não seria Sábio e estaria em débito com Seu professor. Uma vez que Jesus foi ensinado e comandado por Deus, Jesus não pode ser Deus. O professor e o aluno, o comandante e o comandado não são um. 23. A Bíblia diz que Deus fez Jesus “Senhor”. Actos 2:36 “Deus o fez Senhor e Cristo”. “Senhor” é usada em muitas formas na Bíblia, e outros além de Deus e Jesus são chamados de “Senhor.” Por exemplo: 1) proprietários (Mateus 20:8). 2) chefes de família (Marcos 13:35). 3) donos de escravos (Mateus 10:24). 4) maridos (1 Pedro 3:6). 5) um filho chamou seu pai de Senhor (Mateus 21:30). 6) o Imperador romano foi chamado de Senhor (Actos 25:26). 7) As autoridades romanas foram chamadas de Senhor (Mateus 27:63). “Senhor” não é o mesmo que “Deus.” “Senhor” (a palavra grega é kurios) é um título masculino de respeito e nobreza usado muitas vezes na Bíblia. Se Jesus fosse Deus, então a Bíblia dizer que ele foi “feito” Senhor não teria sentido. 24. A Bíblia diz que Jesus estava abaixo dos anjos. Hebreus 2:9 “Vemos, todavia, aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus,...”. Deus, o Criador dos anjos, não pode estar abaixo de Sua própria criação, mas Jesus estava. Portanto, Jesus não era Deus. 25. A Bíblia diz que Jesus chamou o Pai “meu Deus”. Mateus 27:46 “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”. João 20:17 “Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus”. Apocalipse 3:12 “...o santuário de meu Deus...o nome de meu Deus...a cidade de meu Deus...desce do céu vinda da parte de meu Deus”. Jesus não pensava sobre si mesmo como Deus, ao contrário, o Deus de Jesus é o mesmo nosso. 26. A Bíblia diz que Deus não pode ser visto, mas Jesus era. João 1:18 “Ninguém jamais viu a Deus”. 27. A Bíblia diz duas vezes que Jesus foi acusado de ser Deus, mas que ele negou. De acordo com a Bíblia, em apenas duas situações os judeus se opuseram a Jesus com base nele pretender ser Deus ou igual a Deus. Se Jesus, que Deus o exalte, tivesse clamado ser Deus, ele provavelmente teria enfrentado oposição com mais frequência. Porque nessas duas situações, quando acusado, em um caso, de se fazer de Deus, e em outro, de se fazer igual a Deus, ele negou as acusações. Em resposta à acusação de ser um igual a Deus, ele disse imediatamente: 105


João 5: 19,30 “o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai”; e imediatamente depois: “Eu nada posso fazer de mim mesmo”. Em resposta à acusação de se fazer de Deus, ele apela aos judeus da seguinte maneira: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: sois deuses? Se ele chamou deuses àqueles a quem foi dirigida a palavra de Deus, e a Escritura não pode falhar, então, daquele a quem o Pai santificou e enviou ao mundo, dizeis: Tu blasfemas; porque declarei: sou Filho de Deus? (João 10:34-36). É improvável que essa tenha sido a resposta real de Jesus. Hastings em “The Dictionary of the Bible (O Dicionário da Bíblia)” diz, “Se Jesus se referiu dessa forma a si mesmo é duvidoso”. A enciclopédia de Grolier, sob o título “Jesus Cristo,” diz, “é incerto se a linguagem Pai/Filho (Marcos 18:32; Mateus 11:25-27; João, em alguma passagens) se refere ao próprio Jesus.” Um professor da Universidade de Richmond, Dr. Robert Alley, após pesquisa considerável em documentos antigos recém-descobertos conclui que: “...As passagens (bíblicas) onde Jesus fala sobre o Filho de Deus são adições posteriores...que a igreja disse a respeito dele. Essa alegação de divindade para si próprio não teria sido consistente com todo o seu estilo de vida, da forma como podemos reconstruí-lo. Durante as primeiras três décadas após a morte de Jesus o Cristianismo continuou como uma seita dentro do Judaísmo. As primeiras três décadas de existência da igreja foram dentro da sinagoga. Teria sido inimaginável eles (seguidores) terem claramente proclamado a divindade de Jesus”. Supondo que Jesus disse que ele era “filho” de Deus. O que isso significava? Nós primeiro precisamos saber a língua de seu povo, a língua dos judeus para quem ele estava falando. Primeiro, a maioria das pessoas pensam que não existem outros versos que contradizem ou dão filiação divina a outras pessoas no Velho ou Novo Testamento. Mas de acordo com a Bíblia Deus teve uma quantidade razoável de “filhos”: Adão, Jacó é filho de Deus e primogénito, Salomão, Efraim é primogénito de Deus, pessoas comuns eram chamadas de filhos de Deus. Todos os quatro Evangelhos registam Jesus dizendo, “Abençoados são os pacificadores; eles serão chamados filhos de Deus”. A palavra “filho” não pode ser aceita literalmente porque na Bíblia, Deus aparentemente trata muitos de seus servos escolhidos como “filho” e “filhos.” Os hebreus acreditavam que Deus é Um, e não tinha nem esposa ou filhos em qualquer sentido literal. Portanto, é óbvio que a expressão “filho de Deus” significava meramente “Servo de Deus”; alguém que, por causa do seu serviço fiel, era próximo e querido de Deus como um filho é para o seu pai. Os Cristãos que vieram de uma origem grega ou romana, posteriormente fizeram mau uso desse termo. Em sua herança, “filho de Deus” significava uma encarnação de um deus ou alguém nascido de uma união física entre deuses e deusas. Isso pode ser visto em Actos 14:11-13, onde lemos que quando Paulo e Barnabás pregavam em uma cidade da Turquia, os pagãos clamaram que eles eram deuses encarnados. Eles chamaram Barnabás de Zeus, o deus romano, e Paulo de Hermes, outro deus romano. Além disso, no Novo Testamento as palavras gregas traduzidas como “filho” são “pias” e “paida” que significam “servo,” ou “filho no sentido de servo.” Elas são traduzidas para “filho” em referência a Jesus e “servo” em referência a todos os outros em algumas traduções da Bíblia. Assim, consistente com outros versos, Jesus estava simplesmente dizendo que ele é servo de Deus. Problemas Adicionais com a Trindade. Para um Cristão, Deus tinha que assumir a forma humana para compreender a tentação e o sofrimento humano, mas o conceito não é baseado em quaisquer palavras claras de Jesus. Em contraste, Deus não precisa ser tentado e sofrer para ser capaz de compreender e perdoar os pecados do homem, porque Ele é o Criador do homem, Omnisciente. Isso está expresso no verso: 106


Êxodo 3:7 “Disse ainda o Senhor: Certamente, vi a aflição do meu povo, que está no Egipto, e ouvi o seu clamor por causa dos seus algozes. Conheço-lhe o sofrimento. Deus perdoou os pecados antes do aparecimento de Jesus, e Ele continua a perdoar sem qualquer assistência. Quando um crente peca, ele pode se apresentar perante Deus em arrependimento sincero para receber o perdão. De facto, a oferta de se humilhar perante Deus e ser salvo é feita a toda a humanidade. Isaías 45:21-22, compare Jonas 3:5-10 “Pois não há outro Deus, senão eu, Deus justo e Salvador não há além de mim. Olhai para mim e sede salvos, vós, todos os limites da terra; porque eu sou Deus, e não há outro”. Biblicamente, as pessoas podem receber perdão dos pecados directamente de Deus através de arrependimento sincero. Isso é verdade em todos os tempos e em todos os lugares. Nunca houve necessidade de um suposto papel intercessor de Jesus na obtenção de expiação. Os factos falam por si. Não existe verdade na crença Cristã de que Jesus morreu por nossos pecados e de que a salvação se dá somente através de Jesus. E sobre a salvação das pessoas antes de Jesus? A morte de Jesus não traz nem expiação do pecado, nem é de forma alguma o cumprimento de profecia bíblica. Os Cristãos alegam que no nascimento de Jesus ocorreu o milagre da encarnação de Deus na forma de um ser humano. Dizer que Deus se tornou de facto um ser humano convida a um número de perguntas. Deixe-nos perguntar o seguinte sobre o homem-Deus Jesus. O que aconteceu a seu prepúcio após sua circuncisão (Lucas 2:21)? Ascendeu aos céus, ou se decompôs como qualquer pedaço de carne humana? Durante sua vida o que aconteceu com seu cabelo, unhas e o sangue que saiu de suas feridas? As células de seu corpo morreram como nos seres humanos comuns? Se seu corpo não funcionava de uma forma verdadeiramente humana, ele não podia ser verdadeiramente humano e também verdadeiramente Deus. Ainda assim, se seu corpo funcionasse exactamente de um jeito humano, isso anularia qualquer alegação de divindade. Seria impossível para qualquer parte de Deus, mesmo se encarnado, se decompor em qualquer forma e continuar sendo considerado Deus. O eterno, Deus único, em todo ou em parte, não morre, desintegra ou se decompõe: Malaquias 3:6 “Porque eu, o Senhor, não mudo”. A carne de Jesus resistiu após sua morte? A menos que o corpo de Jesus nunca tenha sofrido “deterioração” durante sua vida ele não poderia ser Deus; mas se ele não sofreu “deterioração” então ele não era verdadeiramente humano.

Jesus era Deus? (Visão Espírita de Allan kardec)

Estudo sobre a natureza do Cristo. I - Fonte das provas da natureza do Cristo A questão da natureza do Cristo foi debatida desde os primeiros séculos do Cristianismo, e pode-se dizer que não está ainda resolvida, uma vez que ainda é discutida em nossos dias. Foi a diferença de opinião sobre este ponto, que deu nascimento à maioria das seitas que dividiram a Igreja há dezoito séculos, e é notável que todos os chefes dessas seitas foram bispos ou membros do clero com diversos títulos. Por conseguinte, eram homens esclarecidos, a maioria escritores de talento, nutridos na ciência teosófica, que não achavam concludentes as razões evocadas em favor do dogma da divindade do Cristo; não obstante, então como hoje, as opiniões se formaram sobre abstrações, mais do que sobre factos, procurou-se, sobretudo, o que o dogma poderia ter de plausível ou de irracional, e, geralmente, se negligenciou, de parte a parte, em fazer ressaltar os factos que poderiam lançar, sobre a questão, uma luz decisiva. 107


Mas onde encontrar esses factos se isso não for nos actos e nas palavras de Jesus? Jesus, nada tendo escrito, seus únicos historiadores foram os apóstolos que, eles não mais, nada escreveram quando vivos; não tendo nenhuma história profana contemporânea falado dele, não existe sobre a sua vida e a sua doutrina, nenhum outro documento senão os Evangelhos; portanto, é ali somente que é necessário procurar a chave do problema. Todos os escritos posteriores, sem disso excetuar os de São Paulo, não são, e não podem ser, senão comentários ou apreciações, reflexo de opiniões pessoais, frequentemente contraditórias, que não poderiam, em nenhum caso, ter a autoridade do relato daqueles que receberam as instruções directamente do Mestre. Sobre essa questão, como sobre as de todos os dogmas em geral, o acordo dos Pais da Igreja, e outros escritores sacros, não poderia ser evocado como argumento preponderante, nem como uma prova irrecusável em favor de sua opinião, tendo em vista que nenhum deles pôde citar um único facto, fora do Evangelho, concernente a Jesus, nenhum deles descobriu documentos novos desconhecidos de seus predecessores. Os autores sacros não puderam senão voltar sobre o mesmo círculo, dar a sua apreciação pessoal, tirar consequências de seu ponto de vista, comentar sob novas formas, e com mais ou menos desenvolvimento, as opiniões contraditórias. Todos os do mesmo partido deveram escrever no mesmo sentido, se não nos mesmos termos, sob pena de serem declarados heréticos, como o foram Orígenes e tantos outros. Naturalmente, a Igreja não colocou, entre seus Pais, senão os escritores Ortodoxos do seu ponto de vista; ela não exaltou, santificou e colecionou senão aqueles que tomaram a sua defesa, ao passo que rejeitou os outros e destruiu os seus escritos tanto quanto possível. O acordo entre os Pais da Igreja, portanto, nada tem de concludente, uma vez que é uma unanimidade de escolha formada pela eliminação dos elementos contrários. Se se leva em consideração tudo o que foi escrito pró e contra, não se sabe muito de que lado penderia a balança. Isso nada tira ao mérito pessoal dos sustentadores da ortodoxia, nem ao seu valor como escritores e homens conscienciosos; foram os advogados de uma mesma causa, que defenderam com incontestável talento, e deveriam, forçosamente, chegar às mesmas conclusões. Longe dem querer denegri-los, em que quer que seja, quisemos simplesmente refutar o valor das consequências que se pretende tirar de seu acordo. No exame que vamos fazer, da questão da divindade do Cristo, pondo de lado as sutilezas da escolástica que não serviram senão para embrulhar em lugar de elucidar, nos apoiaremos exclusivamente sobre os factos que ressaltam do texto do Evangelho, e que, examinados friamente, conscienciosamente, sem ideia preconcebida, fornecem superabundantemente todos os meios de convicção que se possam desejar. Ora, entre esses factos, não há de mais preponderante, nem de mais concludentes, senão as palavras mesmas do Cristo, palavras que não se saberia recusar sem infirmar a veracidade dos apóstolos. Pode-se interpretar de diferentes maneiras uma palavra, uma alegoria; mas afirmações precisas, sem ambiguidade, cem vezes repetidas, não poderiam ter um duplo sentido. Nenhum outro, senão Jesus, pode pretender saber melhor do que ele o que quis dizer, como ninguém pode pretender estar melhor informado do que ele sobre a sua própria natureza: quando ele comenta as suas palavras, e as explica, para evitar todo equívoco, deve-se confiar nele, a menos lhe neguemos a superioridade que se lhe atribui, e substituamos a sua própria inteligência. Se foi obscuro em certos pontos, quando se serviu de linguagem figurada, sobre o que toca à sua pessoa não há equívoco possível. Antes do exame das palavras, vejamos os actos. II - A divindade do Cristo está provada pelos milagres? Segundo a Igreja, a divindade do Cristo está estabelecida, principalmente pelos milagres, como testemunho de um poder sobrenatural. Esta consideração pôde ter um certo peso numa época em que o maravilhoso era aceito sem exame; mas hoje, que a ciência levou as suas 108


investigações até as leis da Natureza, os milagres encontram mais incrédulos do que crentes; e o que não contribuiu pouco para o seu descrédito, foi o abuso das imitações fraudulentas e a exploração que deles se fez. A fé nos milagres foi destruída pelo próprio uso que dela se fez; disso resultou que os do Evangelho são agora considerados, por muitas pessoas, como puramente legendários. A Igreja, aliás, ela mesma, retira aos milagres toda a sua importância, como prova da divindade do Cristo, declarando que o demônio também pode fazê-los tão prodigiosos quanto ele: porque se o demônio tem um tal poder, fica evidente que os factos desse género não têm, de nenhum modo, um caráter exclusivamente divino; se ele pode fazer coisas admiráveis para seduzir mesmo os eleitos, como simples mortais poderiam distinguir os bons milagres dos maus, e não há a temer que, vendo factos similares, não confundam Deus e Satanás? Dar a Jesus um tal rival em habilidade era uma grande falta de jeito; mas, pelo que respeita a contradições e inconsequências, não eram olhadas de tão perto em uma época em que os fiéis ter-se-iam feito um caso de consciência em pensar por eles mesmos, e de discutir o menor artigo imposto à sua crença; então, não se contava com o progresso e não se pensava que o reino da fé cega e ingênua, reino cómodo como o do bel prazer, pudesse ter um termo. O papel, tão preponderante que a Igreja se obstinou em dar ao demónio, teve consequências desastrosas para a fé, à medida que os homens se sentiram capazes de ver pelos próprios olhos. O demónio, que se explorou com sucesso durante um tempo, tornou-se o machado posto ao velho edifício das crenças, e uma das principais causas da incredulidade; podese dizer que a Igreja, se fazendo dele um auxiliar indispensável, alimentou em seu seio aquele que deveria virar-se contra ela e miná-la em seus fundamentos. Uma outra consideração não menos grave, é que os factos miraculosos não são o privilégio exclusivo da religião Cristã: não há, com efeito, uma religião idólatra ou pagã, que não teve os seus milagres, tão maravilhosos e tão autênticos, para os adeptos, quanto os do Cristianismo. A Igreja se tirou o direito de constatá-los, atribuindo às potências infernais o poder de produzilos. O caráter essencial do milagre, no sentido teológico, é ser uma exceção nas leis da Natureza, e, por conseguinte, inexplicável por essas mesmas leis. Desde o instante que um facto pode se explicar, e que se ligue a uma causa conhecida, cessa de ser milagre. Assim é que as descobertas da ciência fizeram entrar no domínio do natural, certos efeitos qualificados de prodígios enquanto a causa ficou ignorada. Mais tarde, o conhecimento do princípio espiritual, da ação dos fluidos sobre a economia, do mundo invisível no meio do qual vivemos, das faculdades da alma, da existência e das propriedades do perispírito, deu a chave dos fenómenos de ordem psíquica, e provou que não são, não mais do que os outros, derrogações às leis da Natureza, mas que, ao contrário, delas são aplicações frequentes. Todos os efeitos de magnetismo, de sonambulismo, de êxtase, de dupla vista, de hipnotismo, de catalepsia, de anestesia, de transmissão do pensamento, de presciência, de curas instantâneas, de possessões, de obsessões, de aparições e de transfigurações, etc., que constituem a quase totalidade dos milagres do Evangelho, pertencem a essa categoria de fenómenos. Sabe-se agora que esses efeitos são o resultado de aptidões e de disposições fisiológicas especiais; que se produziram em todos os tempos, entre todos os povos, e puderam ser considerados como sobrenaturais sob o mesmo título de todos aqueles cuja causa era incompreendida. Isso explica por que todas as religiões tiveram os seus milagres, que não são outros senão os factos naturais, mas quase sempre amplificados ao absurdo pela credulidade, a ignorância e a superstição, e que os conhecimentos actuais reduziram ao seu justo valor, permitindo levá-los em conta de lenda. A possibilidade da maioria dos factos que o Evangelho cita como tendo sido realizados por Jesus, está hoje completamente demonstrada pelo Magnetismo e pelo Espiritismo, como fenómenos naturais. Uma vez que se produzem sob os nossos olhos, seja espontaneamente, seja por provocação, não há nada de anormal em que Jesus possuísse faculdades idênticas às 109


de nossos magnetizadores, curadores, sonâmbulos, videntes, médiuns, etc. Desde o instante que essas mesmas faculdades se encontram, em diferentes graus, numa multidão de indivíduos que nada têm de divino, que são encontradas mesmo entre os heréticos e os idólatras, elas não implicam, em nada, uma natureza sobre-humana. Se Jesus qualificava, ele mesmo, os seus actos de milagres, é que nisso, como em muitas outras coisas, devia apropriar a sua linguagem aos conhecimentos de seus contemporâneos; como estes poderiam aprender uma nuance de palavra que não é ainda compreendida por todo o mundo? Para o vulgo, as coisas extraordinárias que ele fazia, e que pareciam sobrenaturais, naquele tempo e mesmo muito mais tarde, eram milagres; não podia dar-lhe um outro nome. Um facto digno de nota é que deles se serviu para afirmar a missão que tinha de Deus, segundo as suas próprias expressões, mas disso jamais se prevaleceu para se atribuir o poder divino (1). (1) Para o desenvolvimento completo da questão dos milagres, ver A Gênese segundo o Espiritismo, capítulos XIII e seguintes, onde são explicados, pelas leis naturais, todos os milagres do Evangelho.

É necessário, pois, riscar os milagres das provas sobre as quais se pretende fundar a divindade da pessoa do Cristo; vejamos agora se as encontramos em suas palavras. III - Divindade de Jesus está provada pelas suas palavras? Dirigindo-se aos discípulos, que entraram em disputa, para saber qual dentre eles era o maior; e lhes disse pegando uma criança e colocando-a junto a si: "Quem me recebe, recebe aquele que me enviou; porque aquele que é o menor entre vós, é o maior." (São Lucas, cap. IX, v. 48). "Quem recebe em meu nome uma criancinha como esta, me recebe, e quem me recebe, não recebe só a mim, mas recebe aquele que me enviou." (São Marcos, cap. IX, v. 36). "Jesus lhes disse, pois: "Se Deus fosse o vosso Pai, me amaríeis, porque foi de Deus que eu saí, e que é de sua parte que vim; porque não vim por mim mesmo, mas foi ele quem me enviou." (São João, cap. VIII, v. 42). "Jesus lhes disse, pois: "Estou ainda convosco por um pouco de tempo, e em seguida vou para aquele que me enviou." (São João, cap. VII, v. 33). "Aquele que vos escuta me escuta; aquele que vos despreza me despreza, e quem me despreza, despreza aquele que me enviou." (São João, cap. X, v. 16). O dogma da divindade de Jesus está fundado sobre a igualdade absoluta entre a sua pessoa e Deus, uma vez que é o próprio Deus: é um artigo de fé; ora, estas palavras, tão frequentemente repetidas por Jesus: Aquele que me enviou, testemunham não somente quanto a dualidade das pessoas, mas, ainda, como dissemos, excluem a igualdade absoluta entre elas; porque aquele que é enviado, necessariamente, está subordinado àquele que envia; obedecendo, faz acto de submissão. Um embaixador, falando de seu soberano, dirá: Meu senhor, aquele que me enviou; mas se é o soberano em pessoa que vem, ele falará em seu próprio nome e não dirá: Aquele que me enviou, porque não se pode enviar a si mesmo. Jesus o disse, em termos categóricos por estas palavras: eu não vim por mim mesmo, mas foi ele quem me enviou. Estas palavras: Aquele que me despreza, despreza aquele que me enviou, não implicam, de nenhum modo, a igualdade e ainda menos a identidade; em todos os tempos, o insulto feito a um embaixador era considerado como feito ao próprio soberano. Os apóstolos tinham a palavra de Jesus, como Jesus tinha a de Deus; quando lhes disse: Aquele que vos escuta me escuta, não entendia dizer que seus apóstolos e ele não faziam senão uma única e mesma pessoa, igual em todas as coisas. A dualidade de pessoas, assim como o estado secundário e subordinado de Jesus, com relação a Deus, ressaltam, além disso, sem equívoco, das passagens seguintes:

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"Fostes vós que permanecestes sempre firmes comigo nas minhas tentações. . Por isso eu vos preparo o Reino, como meu pai mo preparou, . a fim de que comais e bebais à minha mesa no meu reino, e que vos senteis sobre os tronos para julgar as doze tribos de Israel." (São Lucas, cap. XXII, v. 28, 29 e 30). "Por mim eu digo o que vi na casa de meu Pai, fazeis vós o que vistes na casa de vosso pai." (São João, cap. VIII, v. 38). "Ao mesmo tempo apareceu uma nuvem que os cobriu, e saiu dessa nuvem uma voz que fez ouvir estas palavras: Este é meu filho bem-amado; escutai-o." (Transfigur. São Marcos, cap. IX, v. 6). "Ora, quando o filho do homem vier em sua majestade, acompanhado de todos os anjos, sentar-se-á sobre o trono de sua glória; e todas as nações estando reunidas, separará umas das outras, como o pastor separa as ovelhas dos bodes, e colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda. Então, o Rei dirá àqueles que estarão à sua direita: Vinde, vós que fostes abençoados por meu Pai, possuir o reino que vos foi preparado desde o começo do mundo." (São Mateus, cap. XXV, v. 31 a 34). "Quem me confessar e me reconhecer diante dos homens, eu o reconhecerei e o confessarei também diante de meu pai que está nos céus; . e quem me renunciar diante dos homens, eu o renunciarei também, eu mesmo, diante de meu pai que está nos céus." (São Mateus, cap. X, v. 32, 33). "Ora, eu vos declaro que quem me confessar e me reconhecer diante dos homens, o filho do homem o reconhecerá também diante dos anjos de Deus; mas se alguém me renunciar diante dos homens, eu o renunciarei também diante dos anjos de Deus." (São Lucas, cap. XII, v. 8, 9). "Mas se alguém se envergonhar de mim e de minhas palavras, o filho do homem se envergonhará também dele, quando vier em sua glória e na de seu pai e dos santos anjos." (São Lucas, cap. IX, v. 26). Nestas duas últimas passagens, Jesus parecia mesmo colocar acima dele os santos anjos, compondo o tribunal celeste, diante do qual seria o defensor dos bons e o acusador dos maus. "Mas por aquilo que é de estar sentado à minha direita ou à minha esquerda, não é a mim, de nenhum modo, que cabe vo-lo dar, mas será por aquele a quem meu Pai preparou." (São Mateus, cap. XX, v. 23). "Ora, os Fariseus estando reunidos, Jesus lhes fez esta pergunta . e lhes disse: "Que vos parece do Cristo? De quem é filho? Eles lhe responderam: De Davidd. . E como, pois, lhes disse, Davidd chama-o em espírito o seu Senhor com estas palavras: O Senhor disse ao meu Senhor: Sentai-vos à minha direita até que reduza os vossos inimigos a vos servir de escabelo? Se, pois, Davidd chama-o seu Senhor, como é seu filho? "(São Mateus, cap. XXII, v. 41 a 45). "Mas Jesus, ensinando no templo, lhes disse: Como os escribas dizem que o Cristo é o filho de Davidd, . uma vez que Davidd, ele mesmo, disse ao meu Senhor: Sentai-vos à minha direita até que haja reduzido vossos inimigos a vos servir de escabelo? . Depois, portanto, que Davidd o chama, ele mesmo, seu senhor, como é seu filho? "(São Marcos, cap. XII, v. 35, 36, 37. . São Lucas, cap. XX, v. 41 a 44). Jesus consagra, com estas palavras, o princípio da diferença hierárquica que existe entre o Pai e o Filho. Jesus podia ser o filho de Davidd por filiação corpórea, e como descendente de sua raça, foi porque teve o cuidado de ajuntar: "Como o chama em espírito, seu senhor? " Se há uma diferença hierárquica entre o pai e o filho; Jesus, como filho de Deus, não pode ser o igual de Deus. Jesus confirma essa interpretação e reconhece sua inferioridade em relação a Deus, em termos que não deixam equívoco possível: "Ouvistes o que vos disse:" Eu me vou, e volto a vós. Se me amais, vos alegrareis de que vou para meu Pai, porque meu Pai É MAIOR DO QUE EU." (São João, cap. XIV, v. 28). "Então um jovem se aproxima e lhe diz: Bom mestre, que bem é necessário que eu faça para adquirir a vida eterna? Jesus lhe respondeu: "Por que me chamais bom? Não há senão Deus

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que seja bom. Se quereis entrar na vida, guardai os mandamentos." (São Mateus, cap. XIX, v. 16, 17. . São Marcos, cap. X, v. 17, 18, . São Lucas, cap. XVIII, v. 18, 19). Não somente Jesus não se deu, em nenhuma circunstância, por ser o igual de Deus, mas aqui ele afirma positivamente o contrário, considera-se como inferior em bondade; ora, declarar que Deus está acima dele pelo poder e suas qualidades morais, é dizer que ele mesmo não é Deus. As passagens seguintes vêm em apoio destas, e são também explícitas.

"Não falei, de nenhum modo, de mim mesmo; mas meu Pai, que me enviou, foi quem me prescreveu, por seu poder, o que devo dizer, e como devo falar; . e eu sei que o seu poder é a vida eterna; o que eu digo, pois, o digo segundo o que meu Pai mo ordenou." (São João, cap. XII, v. 49, 50). "Jesus lhes respondeu: "Minha doutrina não é minha doutrina, mas a doutrina daquele que me enviou. . Se alguém quer fazer a vontade de Deus, reconhecerá se a minha doutrina é dele, ou se falo de mim mesmo. . Aquele que fala de seu próprio movimento procura sua própria glória, mas aquele que procura a glória de quem o enviou é verídico, e nele, de nenhum modo, há injustiça." (São João, cap. VII, v. 16, 17, 18). "Aquele que não me ama nada, não guarda, minha palavra; em a palavra que ouvistes não foi a minha palavra em nada, mas a de meu Pai que me enviou.. (São João, cap. XIV, v. 24). "Não credes que estou em meu Pai e que meu Pai está em mim? O que vos digo, não vo-lo digo por mim mesmo; mas meu Pai, que mora em mim faz, ele mesmo, as obras que eu faço." (São João, cap. XIV, v. 10). "O céu e a Terra passarão, mas as minhas palavras não passarão. . Pelo que é do dia e da hora, o homem não o saiba, não, nem mesmo os anjos que estão no céu, nem mesmo o Filho, mas somente o Pai. "(São Marcos, cap. XIII. v. 32. . São Mateus, cap. XXIV v. 35, 36. "Jesus lhes disse, pois: "Quando houverdes levantado ao alto o filho do homem, então conhecereis o que sou, porque eu não faço nada de mim mesmo, não digo senão o que meu Pai me ensinou; e aquele que me enviou está comigo, e de modo nenhum me deixou só, porque faço sempre o que lhe é agradável." (São João, cap. VIII, v. 28, 29). "Desci do céu não para fazer a minha vontade, mas para fazer a vontade daquele que me enviou." (São João, cap. VI, v. 38). “Não posso nada fazer de mim mesmo. Julgo segundo o que entendo, e meu julgamento é justo porque não procuro minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou." (São João, cap. V, v. 30). "Mas, por mim, tenho um testemunho maior do que o de João, porque as obras que meu Pai me deu o poder de fazer, as obras, digo eu, que faço, dão testemunho de mim, que foi meu Pai que me enviou." (São João, cap. V, v. 36). "Mas agora procurais me fazer morrer, eu que vos disse a verdade que aprendi de Deus, foi o que Abraão nunca fez." (São João, cap. VIII, v. 40). Desde então, que ele não disse nada de si mesmo; que a doutrina que ensinou não é a sua, mas que a tem de Deus, que lhe ordenou vir fazê-la conhecer; que não faz senão o que Deus lhe deu o poder de fazer; que a verdade que ensina, ele aprendeu de Deus, à vontade de quem está submetido; é que não é o próprio Deus, mas seu enviado, seu messias e seu subordinado. É impossível recusar, de maneira mais positiva, toda assimilação à pessoa de Deus, e de determinar seu principal papel em termos mais precisos. Não estão aí pensamentos ocultos sob o véu da alegoria, e que não se descobrem senão à força de interpretação: é o sentido próprio, expresso sem ambiguidade. Se se objetasse que Deus, não querendo se fazer conhecer na pessoa de Jesus, enganasse sobre a sua individualidade, poder-se-ia perguntar sobre o quê está fundada essa opinião, e quem tem autoridade para sondar o fundo de seu pensamento, e dar, às suas palavras, um sentido contrário àquele que elas exprimem? Uma vez que, quando vivo, ninguém o considerava como Deus, mas era olhado, ao contrário, como um messias, se não quisesse ser conhecido pelo que era, bastar-lhe-ia nada dizer; de sua afirmação espontânea é preciso 112


concluir que ele não era Deus, ou que, se o era, voluntariamente e sem utilidade, disse uma coisa falsa. É de notar-se que São João, aquele dos Evangelistas sobre a autoridade de quem mais se apoiou para estabelecer o dogma da divindade do Cristo, seja precisamente o que encerra os argumentos contrários mais numerosos e os mais positivos; pode-se disso convencer pela leitura das passagens seguintes, que não acrescentam nada, é verdade, às provas já citadas, mas vêm em seu apoio, porque delas ressaltam evidentemente a dualidade e a desigualdade das pessoas. "Por causa disso, os Judeus perseguiam Jesus e procuravam fazê-lo morrer, porque fizera essas coisas no Sábado. . Mas Jesus lhes disse: Meu pai age até o presente, e eu ajo também. (São João, cap. V, v. 16, 17). "Porque o Pai não julga ninguém; mas dá todo poder de julgar ao Filho, . a fim de que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Aquele que não honra em nada o Filho, não honra em nada o Pai que o enviou. Em verdade, em verdade vos digo, aquele que ouve a minha palavra, e que crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não cai, na condenação; mas já passou da morte à vida." "Em verdade, em verdade vos digo, a hora vem, e ela já veio, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e aqueles que ouvirão, viverão; porque como o Pai tem a vida em si mesmo, também deu ao Filho ter a vida nele mesmo, . e lhe deu o poder de julgar, porque é o Filho do homem. "(São João, cap. V, v. 22 a 27). "E o Pai que me enviou, ele mesmo, tem dado testemunho de mim. Jamais ouvistes a sua voz, nem vistes a sua face. E sua palavra não permanecerá em vós, porque não credes naquele que ele enviou." (São João, cap. V, v. 37,38). "E quando eu julgar, o meu julgamento será digno de fé, porque não estou só; mas meu Pai, que me enviou, está comigo." (São João, cap. VIII, v. 16). Jesus, tendo dito essas coisas, levou os olhos ao céu e disse: "Meu Pai, a hora é chegada; glorificai vosso Filho, a fim de que vosso Filho vos glorifique. . Como lhe deste poder sobre todos os homens, a fim de que dê a vida eterna a todos aqueles que lhe destes. . Ora, a vida eterna consiste em vos conhecer, a vós que sois O ÚNICO DEUS verdadeiro, e a Jesus Cristo que enviastes. "Eu vos glorifiquei sobre a Terra; acabei a obra da qual me encarregastes. . E vós, meu Pai, glorificai-me, pois, agora em vós mesmos, dessa glória que tive em vós antes que o mundo fosse. "Logo eu não estarei mais no mundo; mas, por eles, estão ainda no mundo, e eu dele retorno a vós. Pai santo, conservai em vosso nome aqueles que me destes, a fim de que sejam um como nós." "Eu lhes dei vossa palavra, e o mundo os odiou, porque não são em nada do mundo, como eu, não sou, eu mesmo, do mundo". "Santificai-os na verdade. A vossa palavra é a própria verdade.. Assim como vós me enviastes ao mundo, eu também os enviei ao mundo, e eu me santifico, a mim mesmo, por eles, a fim de que sejam também santificados na verdade". "Eu não peço por eles somente, mas ainda por aqueles que devem crer em mim pela sua palavra; . a fim de que estejam todos juntos, como vós, meu Pai, estais em mim e eu em vós; que eles, sejam do mesmo modo, um em nós, a fim de que o mundo creia que me enviastes". "Meu Pai, desejo que lá onde estou, aqueles que me destes ali estejam também comigo; a fim de que contemplem minha glória, que me destes, porque me amastes antes da criação do mundo". "Pai justo, o mundo em nada vos conheceu; mas eu, eu vos conheci: e estes conheceram que me enviastes. . Eu lhes fiz conhecer vosso nome e o farei conhecer ainda, a fim de que o amor, com o qual me amastes, esteja neles, e que eu próprio o esteja neles." (São João, cap. XVII, v. 1 a 5, 11 a 14, de 17 a 26, Prece de Jesus). "É por isso que meu Pai me ama, porque deixo a minha vida para retomá-la. . Ninguém ma arrebata, mas sou eu que a deixo por mim mesmo; tenho o poder de deixá-la e tenho o poder de retomá-la. É o poder que recebi de meu Pai." (São João, cap. X, v. 17, 18).

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"Eles tiraram a pedra, e Jesus, levantando os olhos para o alto, disse estas palavras: Meu Pai, eu vos dou graça pelo que me atendestes ... Por mim, sabia que me atenderíeis sempre; mas digo isso para esse povo que me cerca, a fim de que creia que foi vós que me enviastes." (Morte de Lázaro, São João, cap. XI, v. 41, 42). "Eu não vos falarei muito mais, porque o príncipe deste mundo vai chegar, embora não tenha nada em mim que lhe pertença: mas a fim de que o mundo conheça que amo meu Pai, e que faço o que meu Pai me ordenou." (São João, cap. XIV, v. 30 e 31). "Se guardardes meus mandamentos, permanecereis no meu amor, como eu mesmo guardei os mandamentos de meu Pai, e permaneço em seu amor." (São João, cap. XV, v. 10). "Então Jesus, lançando uma grande exclamação, disse: Meu Pai, reponho minha alma em vossas mãos. E, pronunciando estas palavras, expirou." (São Lucas, cap. XXIII, v. 46). Uma vez que Jesus, ao morrer, repunha a sua alma entre as mãos de Deus, tinha, portanto, uma alma distinta de Deus, submissa a Deus, portanto, não era o próprio Deus. As palavras seguintes dão testemunho de uma certa fraqueza humana, de uma aprensão da morte e dos sofrimentos que Jesus vai suportar, e que contrasta com a natureza, essencialmente divina, que se lhe atribui; mas elas testemunham, ao mesmo tempo, uma submissão que é a do inferior ao superior. "Então, Jesus chegou num lugar chamado Getsêmani; e disse aos seus discípulos: Sentai-vos aqui enquanto vou ali para orar. . E tendo tomado consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a se entristecer e a estar numa grande aflição. Então, lhes disse: Minha alma está triste até à morte; permanecei aqui e velai comigo. . e indo um pouco mais longe, se prosternou o rosto contra a terra, pedindo e dizendo: Meu Pai, se for possível, faça com que este cálice se afaste de mim; não obstante, que isso seja não como eu o quero, mas como o quereis. . Veio em seguida para os seus discípulos, e tendo-os encontrado dormindo, disse a Pedro: O quê! Não pudestes velar uma meia hora comigo? . Velai e orai, a fim de que não cairdes, na tentação. O Espírito está pronto, mas a carne é fraca. . Foi-se ainda orar uma segunda vez, dizendo: "Meu Pai, se este cálice não pode passar sem que eu o beba, que a vossa vontade seja feita." (Jesus no Jardim das Oliveiras. (São Mateus, cap. XXVI, v. de 36 a 42). "Então, lhes disse: Minha alma está triste até à morte; permanecei aqui e velai. . E, tendo ido um pouco mais longe, se prosternou contra a terra, pedindo que, se fosse possível, essa hora se afastasse dele. . E dizia: Abba, meu Pai, tudo vos é possível, transportai este cálice para longe de mim; contudo, que a vossa vontade seja feita e não a minha." (São Marcos, cap. XIV, v. 34, 35, 36). "Quando chegou naquele lugar, lhes disse: Orai a fim de que não sucumbais em nada à tentação. . E estando longe deles em torno de um lanço de pedra, pôs-se de joelhos, dizendo: Meu Pai, se quereis, afastai este cálice de mim; contudo, que isso não seja minha vontade que se faça, mas a vossa. . Então apareceu-lhe um anjo do céu que veio fortificá-lo. . E, tendo caído em agonia, redobrou as suas preces. . E lhe veio um suor de gotas de sangue que corria até a terra." (São Lucas, cap. XXII, v. de 40 a 44). E na nona hora, Jesus lançou um grande grito, dizendo: Eli! Eli! Lamma Sabachthani? quer dizer: meu Deus! meu Deus! por que me abandonastes? (São Mateus, cap. XXVII, v. 46). "E na nona hora, Jesus lançou um grande grito, dizendo: Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonastes?" (São Marcos, cap. XX, v. 34). As palavras seguintes poderiam deixar alguma incerteza e dar lugar a crer numa identificação de Deus com a pessoa de Jesus; mas, além de que não poderia prevalecer sobre os termos precisos daquelas que precedem, levam ainda, nelas mesmas, a sua própria retificação. "Eles lhe disseram: Que sois vós, pois? Jesus lhes respondeu: eu sou o princípio de todas as coisas, eu mesmo que vos falo. . Tenho muitas coisas a dizer de vós; mas aquele que me enviou é verdadeiro, e não digo senão o que aprendi com ele." (São João, cap. VII, v. 25, 26). "O que meu Pai me deu é maior do que todas as coisas; e ninguém pode arrebatá-lo da mão de meu Pai. Meu Pai e eu somos uma mesma coisa. " 114


Quer dizer, que seu pai e ele não são senão um pelo pensamento, uma vez que exprime o pensamento de Deus; que ele tem a palavra de Deus. "Então, os judeus pegaram pedras para lapidá-lo. . e Jesus lhes disse: Fiz, diante de vós, várias boas obras pelo poder de meu Pai: por qual delas é que me lapidais? . Os judeus lhe responderam: Não é por nenhuma boa obra que vos lapidamos, mas por causa de vossa blasfêmia e porque, sendo homem, vos fazeis Deus. . Jesus lhes replicou: Não está escrito na vossa lei: Eu disse que sois deuses? . Se, pois, ela chama deuses àqueles a quem a palavra de Deus está dirigida, e que as Escrituras não possam ser destruidas, . por que dizeis que blasfemo, eu que meu Pai santificou e enviou no mundo, porque eu disse que sou filho de Deus? . Se não faço as obras de meu Pai, não me creiais; mas se as faço, quando não queirais crer em mim, crede nas minhas obras, a fim de que conheçais e creiais que meu Pai está em mim, e eu em meu Pai." (São João, cap. X, v. 29 a 38). Num outro capítulo, dirigindo-se aos seus discípulos, lhes disse: "Naquele dia, conhecereis que estou em meu Pai e vós em mim, e eu em vós." (São João, cap. XIV, v. 20). Dessas palavras, não se pode concluir que Deus e Jesus são uma única entidade, pois, de outro modo, seria preciso concluir também, das mesmas palavras, que os apóstolos e Deus eram um. IV - Palavras de Jesus depois de sua morte "Jesus lhes respondeu: Não me toqueis, porque ainda não subi para o meu Pai; mas ide procurar os meus irmãos e lhes dizei, de minha parte: Eu subi para o meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus." (Aparição a Maria Madalena. São João, cap. XX, v. 17). "Mas Jesus, aproximando-se, assim lhes falou: Todo poder me foi dado no céu e sobre a Terra." (Aparição aos Apóstolos. São Mateus, cap. XXVIII, v. 18). "Ora, sois testemunhas destas coisas; . E eu vou enviar-vos o dom de meu Pai que vos foi prometido." (Aparição aos Apóstolos. São Lucas, cap. XXIV, v. 48, 49). Tudo acusa, pois, nas palavras de Jesus, seja quando vivo, seja depois de sua morte, uma dualidade de pessoas perfeitamente distintas, assim como o profundo sentimento de sua inferioridade e de sua subordinação com relação ao Ser supremo. Por sua insistência ao afirmar espontaneamente, sem ser a isso constrangido, nem provocado, por quem quer que seja, parece querer protestar de antemão contra o papel que ele previa que se lhe seria atribuído um dia. Se tivesse guardado silêncio sobre o caráter de sua personalidade, o campo estaria aberto para todas as superstições como a todos os sistemas; mas a precisão de sua linguagem afasta toda incerteza. Que autoridade maior se pode encontrar do que as próprias palavras de Jesus? Quando diz, categoricamente: sou ou não sou tal coisa, quem ousaria se arrogar o direito de dar-lhe um desmentido, fosse isso para colocá-lo mais alto do que ele mesmo não se coloca? Quem é que, razoavelmente, pode pretender estar mais esclarecido do que ele sobre a sua própria natureza? Que interpretações podem prevalecer contra afirmações tão formais e tão multiplicadas como estas: "Não vim por mim mesmo, mas aquele que me enviou é o único Deus verdadeiro. . É de sua parte que venho. . Eu digo o que vi na casa de meu Pai.. . Não cabe a mim vo-lo dar, mas isso será para aqueles a quem meu Pai o preparou. . Eu me vou para meu Pai, porque meu Pai é maior do que eu. . Por que me chamais bom? Não há senão Deus que seja bom. . (Mc. 10, 18). Não falo por mim mesmo, mas meu Pai, que me enviou, foi quem me prescreveu pelo seu mandamento, o que devo dizer. . A minha doutrina não é minha doutrina, mas a doutrina daquele que me enviou. . A palavra que ouvistes, não é a minha palavra, mas a do meu Pai 115


que ma enviou. . Não faço nada por mim mesmo, mas não digo senão aquilo que meu Pai me ensinou. . Nada pude fazer por mim mesmo. . Eu não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. . Eu vos disse a verdade que aprendi de Deus. . Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou. . Vós sois o único Deus verdadeiro, e Jesus Cristo que enviastes. . Meu Pai, reponho a minha alma em vossas mãos. . Meu Pai, se for possível, fazei com que este cálice se afaste de mim. . Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes? . Eu subo para o meu Pai e vosso Pai, para o meu Deus e vosso Deus." (Jo 20, 17). Quando se lê tais palavras, pergunta-se somente como pôde vir ao pensamento dar-lhes um sentido diametralmente oposto àquele que elas exprimem tão claramente, conceber uma identificação completa de natureza e de poder entre o senhor e aquele que se diz seu servidor. Nesse grande processo, que dura há quinze séculos, quais são as peças de convicção? Os Evangelhos, . não há outras, . que, sobre o ponto em litígio, não dão lugar a nenhum equívoco. A esses documentos autênticos, que não se pode contestar sem se inscrever em falso contra a veracidade dos evangelistas e do próprio Jesus, documentos estabelecidos por testemunhos oculares, que se lhes opõem? Uma doutrina teórica puramente especulativa, nascida três séculos mais tarde de uma polémica estabelecida sobre a natureza abstrata do Verbo, vigorosamente combatida durante vários séculos, e que não prevaleceu senão pela pressão de um poder civil absoluto. V - Dupla natureza de Jesus Poder-se-ia objetar que, em razão da dupla natureza de Jesus, suas palavras eram a expressão de seu sentimento como homem, e não como Deus. Sem examinar, neste momento, por qual encadeamento de circunstâncias se conduziu, bem mais tarde, à hipótese dessa dupla natureza, admitamo-la, por um instante, e vejamos se, em lugar de elucidar a questão, ela não a complica mais, ao ponto de torná-la insolúvel. O que devia ser humano em Jesus era o corpo, a parte material; deste ponto de vista compreende-se que ele haja mesmo podido sofrer como homem. O que devia ser divino nele era a alma, o Espírito, o pensamento, em uma palavra, a parte espiritual do Ser. Se sentia e sofria como homem, deveria pensar e falar como Deus. Ele falou como homem ou como Deus? Está aí uma questão importante pela autoridade excepcional de seus ensinamentos. Se falou como homem, suas palavras são discutíveis; se falou como Deus elas são indiscutíveis; é preciso aceitá-las e a elas se conformar sob pena de deserção e de heresia; o mais ortodoxo seria aquele que delas se aproximasse mais. Dir-se-á que, sob o envoltório corpóreo, Jesus não tinha consciência de sua natureza divina? Mas, se fora assim, não teria mesmo pensado como Deus, sua natureza divina teria ficado no estado latente; só a natureza humana teria presidido à sua missão, aos seus actos morais como aos seus actos materiais. É, pois, impossível fazer abstração de sua natureza divina durante a sua vida, sem enfraquecer a sua autoridade. Mas se falou como Deus, por que esse incessante protesto contra a sua natureza divina que, nesse caso, não podia ignorar? Estaria, pois, enganado, o que seria pouco divino, ou teria conscientemente enganado o mundo, o que o seria ainda menos. Parece-nos difícil sair desse dilema. Admitindo-se que falou ora como homem, ora como Deus, a questão se complica, pela impossibilidade de distinguir o que vinha do homem e o que vinha de Deus. No caso, onde haveria tido motivos para dissimular a sua verdadeira natureza durante a sua missão, o meio mais simples era dela não falar, ou se exprimir como o fez em outras circunstâncias, de maneira vaga e parabólica, sobre os pontos cujo conhecimento estava reservado para o futuro; ora, tal não é aqui o caso, uma vez que as suas palavras não têm nenhuma ambiguidade. Enfim, se, apesar de todas essas considerações, se pudesse ainda supor que, quando vivo, ignorou a sua verdadeira natureza, essa opinião não é mais admissivel depois da sua ressurreição; porque, quando aparece aos seus discípulos, não é mais o homem que fala, é o Espírito desligado da matéria, que deve ter recobrado a plenitude de suas faculdades 116


espirituais e a consciência de seu estado normal, de sua identificação com a divindade; e, entretanto, é então que diz: Eu subo para o meu Pai e vosso Pai, para o meu Deus e vosso Deus! A subordinação de Jesus é ainda indicada pela sua própria qualidade de mediador, que implica a existência de uma pessoa distinta; é ele que intercede junto de seu Pai; que se oferece em sacrifício para resgatar os pecadores; ora, se é Deus, ele mesmo, ou lhe era igual em todas as coisas, não tinha necessidade de interceder, porque não se intercede junto de si mesmo. VI - Opinião dos Apóstolos Até o presente, apoiamos-nos exclusivamente nas próprias palavras do Cristo, como o único elemento peremptório de convicção, porque fora disso não pode haver senão opiniões pessoais. De todas essas opiniões, as que têm mais valor, incontestavelmente, são as dos apóstolos, tendo em vista que eles o assistiram em sua missão, e que, se lhes deu instruções secretas quanto à sua natureza, delas se encontrará traços em seus escritos. Tendo vivido em sua intimidade, melhor do que quem quer que seja, deveriam conhecê-lo. Vejamos, pois, de que maneira o consideraram. "Ó Israelitas, escutai as palavras que vou vos dizer: Sabeis que Jesus foi um homem que Deus tornou célebre entre vós pelas maravilhas, pelos prodígios e pelos milagres que fez por ele no vosso meio. . Entretanto, o crucificastes, e o fizestes morrer pelas mãos dos maus, tendo-o entregue por uma ordem expressa da vontade de Deus e por um decreto de sua presciência. . Mas Deus o ressuscitou, parando as dores do inferno, sendo impossível que ali fosse retido. . Porque David disse em seu nome: Tenho sempre o Senhor presente diante de mim, porque ele está à minha direita, a fim de que eu não seja abalado. . É por isso que o meu coração está alegre, que a minha língua cantou cânticos de alegria, e que mesmo a minha carne repousará em esperança; . porque não deixareis, minha alma no inferno, e que não permitis nunca que vosso Santo sofra a corrupção. . Vós me fizestes conhecer o caminho da vida, e me enchereis com a alegria que dá a visão do vosso rosto." (Actos dos Apóstolos, cap. II, v. 22 a 28. Pregação de São Pedro). "Depois, portanto, que foi elevado pelo poder de Deus, e que recebeu o cumprimento da promessa de que o Pai lhe enviara o Santo Espírito, ele difundiu esse Espírito Santo que vedes e entendeis agora; . porque David nunca subiu ao céu; . ora, ele mesmo disse: O Senhor disse ao meu Senhor: Sentai-vos à minha direita, até que eu haja reduzido os vossos inimigos a vos servir de escabelo. . Que toda a casa de Israel saiba, pois, muito certamente que Deus fez Senhor e Cristo esse Jesus que crucificastes." (Actos dos Apóstolos, capítulo II, v. de 33 a 36, Pregações de São Pedro). "Moisés disse aos nossos pais: O Senhor vosso Deus vos suscitará, dentre os vossos irmãos, um profeta como eu; escutai-o em tudo o que vos dirá. . Quem não escutar esse profeta será exterminado do meio do povo. "Foi por vós primeiramente que Deus suscitou seu filho, e volo enviou para vos bendizer, a fim de que cada um se convertesse de sua má vida." (Actos dos Ap., cap. III, v. 22, 23, 26. Pregação de São Pedro). "Nós vos declaramos, a todos vós e a todo povo de Israel, que é pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, o qual haveis crucificado, e que Deus ressuscitou dentre os mortos; foi por ele que este homem está agora curado como o vedes diante de vós." (Actos dos Ap., cap. IV, v. 10. Pregação de São Pedro). "Os reis da Terra foram levantados, os príncipes se uniram juntos contra o Senhor e contra seu Cristo. . Porque Herodes e Pôncio Pilatos, com os Gentios e o povo de Israel, verdadeiramente se puseram de acordo, nesta cidade, contra vosso santo Filho Jesus, que consagrastes pela vossa unção, para fazer tudo o que o vosso poder e o vosso conselho ordenaram dever ser feito." (Actos dos Ap. cap. IV, v. 26, 27, 28. Prece dos Apóstolos).

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"Pedro e os outros apóstolos responderam: é necessário antes obedecer a Deus do que aos homens. . O Deus de nossos Pais ressuscitou Jesus que fizestes morrer dependurando-o no madeiro. . Foi ele que Deus elevou para a sua direita como sendo o príncipe e o salvador, para dar a Israel a graça da penitência e a remissão dos pecados." (V. Actos dos Ap., cap. V, v. 29, 30, 31. Respostas dos Apóstolos ao grande sacerdote). "Foi esse Moisés que disse aos filhos de Israel: Deus vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta como eu, escutai-o. Mas o Mais Alto não habita, nos templos feitos pela mão dos homens, segundo esta palavra do profeta: . O céu é o meu trono, e a terra é o meu escabelo. Que casa me edificareis, disse o Senhor? E qual poderia ser o lugar de meu repouso? "(Actos dos Apóstolos, cap. VII, v. 37, 48, 49. Discurso de Estêvão)”. "Mas Estêvão, estando cheio do Santo Espírito, e levantando os olhos aos céus, viu a glória de Deus, e Jesus que estava de pé à direita de Deus, e ele disse: Vejo abertos os céus, e o Filho do homem que está de pé à direita de Deus. "Então, lançando grandes gritos, e tapando os ouvidos, lançaram-se juntos sobre ele; . e tendoo arrastado fora dos muros da cidade, lapidaram-no; e as testemunhas depuseram as sua vestes aos pés de um jovem chamado Saulo (mais tarde São Paulo). . Assim lapidaram Estêvão, e invocava Jesus, e dizia: Senhor Jesus, recebei o meu Espírito." (Actos dos Apóstolos, cap. VII, v. de 55 a 58. Martírio de Estêvão). Estas citações testemunham claramente o caráter que os apóstolos atribuíam a Jesus . A ideia exclusiva que delas ressalta é a de sua subordinação a Deus, da constante supremacia de Deus, sem que nada ali revele um pensamento de assimilação qualquer de natureza e de poder. Para eles, Jesus era um homem profeta, escolhido e bendito por Deus. Não foi, pois, entre os apóstolos que a crença na divindade de Jesus nasceu. São Paulo, que não conhecera Jesus, mas que, de ardente perseguidor se tornou o mais zeloso e o mais eloquente discípulo da fé nova, e cujos escritos prepararam os primeiros formulários da religião Cristã, não é menos explícito a esse respeito. É o mesmo sentimento de dois seres distintos, e da supremacia do Pai sobre o filho. "Paulo, servidor de Jesus Cristo, apóstolo da vocação divina, escolhido e destinado para anunciar o evangelho de Deus, . que ele prometera antes, pelos seus profetas, nas escrituras santas, . com respeito a seu filho, que lhe nasceu, segundo a carne, do sangue e da raça de David; . que foi predestinado para ser filho de Deus, num soberano poder, segundo o Espírito de santidade, pela ressurreição dentre os mortos; com respeito, disse eu, a Jesus Cristo, nosso Senhor; . por quem recebemos a graça do apostolado, para fazer obedecer, ao mesmo tempo, todas as nações pela virtude de seu nome; . . na fileira das quais estais também, como sendo chamadas por Jesus Cristo; . . a vós que estais em Roma, que sois queridos de Deus, e chamados para serem santos; que Deus, nosso Pai, e Jesus Cristo, nosso Senhor, vos dêem a graça e a paz." (Romanos, cap. I, v. 1 a 7). "Assim, estando justificados pela fé, tenhamos a paz com Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. Pois por que, quando estávamos na languidez do pecado, Jesus Cristo morreu por ímpios como nós, no tempo destinado por Deus? Jesus Cristo não deixou de morrer por nós no tempo destinado por Deus. Assim, estando agora justificados pelo seu sangue, seremos com mais forte razão livrados por ele da cólera de Deus. E não somente fomos reconciliados, a nós, nos glorificamos mesmo em Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor, por quem obtivemos essa reconciliação. Se pelo pecado de um só vários morreram, a misericórdia e o dom de Deus se derramaram, com mais forte razão, abundantemente, sobre vários pela graça de um só homem, que é Jesus Cristo." (Romanos, cap. V, v. 1, 6, 9, 11, 15, 17). "Se somos filhos, somos também herdeiros; HERDEIROS de Deus e CO-HERDEIROS de Jesus Cristo, desde que, todavida, soframos com ele." (Romanos, cap. VIII, v. 17).

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"Se vos confessais de boca que Jesus Cristo é o Senhor e se credes de coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, sereis salvos." (Romanos, cap. X, v. 9). "Em seguida virá a consumação de todas as coisas, quando terá entregue o seu reino a Deus, seu Pai, e tiver destruido todo império, toda dominação, todo poder, . porque Jesus Cristo deve reinar até que seu Pai tenha posto todos os seus inimigos sob os pés. . Ora, a morte será o último inimigo que será destruído; porque as Escrituras disseram que Deus os pôs todos sob os pés e a todos sujeitou-lhe; é indubitável que nisso é preciso excetuar aquele que sujeitou todas as coisas. . Quando, pois, todas as coisas estiverem submetidas ao Filho, quando o Filho estiver, ele mesmo, submetido a aquele que lhe terá submetido todas as coisas, a fim de que Deus seja tudo em todos." (1a. aos Coríntios, cap. XV, v. de 24 a 28). "Mas veremos que Jesus, que se tornara, por um pouco de tempo, inferior aos anjos, foi coroado de glória e de honra por causa da morte que sofreu; Deus, em sua bondade, tendo querido que ele morresse por todos, . porque era bem digno de Deus, por quem e para quem são todas as coisas, que, querendo conduzir à glória vários filhos, consumou e aperfeiçoou pelo sofrimento, aquele que deveria ser o chefe e o autor de sua salvação. "Assim, aquele que santifica e aqueles que são santificados, vêm todos de um mesmo princípio; é por isso que não ruboriza ao chamá-los seus irmãos, . dizendo: Eu anunciarei o vosso nome aos meus irmãos; eu cantarei os vossos louvores no meio da assembléia de vosso povo. . E, alhures, porei a minha confiança em Deus. E em um outro lugar: eis-me com os filhos que Deus me deu. "Eis porque foi necessário que fosse em tudo semelhante aos seus irmãos, para ser para com Deus um pontífice compassivo e fiel em seu ministro, a fim de expiar os pecados do povo. . porque foi das penas e dos próprios sofrimentos, pelos quais foi tentado e provado, que tirou a virtude e a força de socorrer aqueles que, são também tentados." (Hebreus, cap. II, v. de 9 a 13, 17, 18). "Portanto, vós meus santos irmãos, que tendes parte na vocação celeste, considerai Jesus, que é o apóstolo e o pontífice da religião que professamos; . que é fiel àquele que o estabeleceu nesse cargo, como Moisés lhe foi fiel em toda sua casa; . porque ele foi julgado digno de uma glória tanto maior do que a de Moisés, do que aquele que edificou a casa, e mais estimável do que a própria casa; porque não há casa que não haja sido construída por alguém. Ora, aquele que é o arquiteto e o criador de todas as coisas é Deus." (Hebreus, cap. III, v. de 1 a 4). VII - Predições dos Profetas concernentes a Jesus Além das afirmações de Jesus e da opinião dos apóstolos, há um testemunho do qual os mais Ortodoxos dos crentes não saberiam contestar o valor, uma vez que o apontam constantemente como artigo de fé; é o do próprio Deus; quer dizer, o dos profetas, falando sob a inspiração e anunciando a vinda do Messias. Ora, eis as passagens da Bíblia consideradas como a predição desse grande acontecimento. "Eu o vejo, mas não agora; eu o vejo mas não de perto; uma estrela procede de Jacó, e um ceptro se levanta de Israel e trespassa os chefes de Moab, e destruirá todos os filhos de Seth." (Números, XXIV, v. 17). "Eu lhes suscitarei um profeta, como tu, de entre seus irmãos, e colocarei as minhas palavras em sua boca, e lhes dirá ele o que eu lhe tiver ordenado. E ocorrerá que, quem não escutar as palavras que dirá em meu nome, disso lhe pedirei conta." (Deuteronômio. XVIII, v. 18, 19). "Ocorrerá, pois, quando os dias tiverem se cumprido para lá levar-te com teus pais que farei levantar a tua posteridade depois de ti, um dos teus filhos, e estabelecerei o seu reino, e ele me construirá uma casa, e afirmarei seu trono para sempre. Eu lhe serei pai e ele me será filho; e não retirarei a minha misericórdia dele, como a retirei daquele que foi antes de ti, e o estabelecerei em minha casa e em meu reino para sempre, e seu trono será afirmado para sempre." (I, Paralipômenos, XVII, v. de 11 a 14).

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"É porque o próprio Senhor vos dará um sinal. Eis: uma virgem ficará grávida, e ela parirá um filho, e será chamado seu nome Emmanuel." (Isaías, VII, v. 14). "Porque a criança nos nasceu, o Filho nos foi dado, e o poder foi posto sobre o seu ombro, e se chamará seu nome o Admirável, o Conselheiro, o Deus forte, o Poderoso, o Pai da eternidade, o Príncipe da paz." (Isaías, IX, v. 5). "Eis meu servidor, eu o sustentarei; é o meu eleito, minha alma nele colocou sua afeição; coloquei o meu Espírito sobre ele; ele exercerá a justiça entre as nações. "Não se retirará nunca, nem se precipitará nunca, até que haja estabelecido a justiça sobre a Terra, e os seres se detiverem à sua lei." (Isaias, XLII, v. 1 e 4). "Ele gozará do trabalho de sua alma, e nisso será saciado; e meu servidor justo nisso justificará vários, pelo conhecimento que terão dele e ele mesmo levará suas iniquidades." (Isaías, LIII, v. 11). "Rejubila-te extremamente, filha de Sião; lance gritos de alegria, filha de Jerusalém! Eis: teu rei virá a ti, justo e salvador humilde, e montará sobre um asno, e sobre o potro de uma jumenta. E proibirei os carros de guerra de Efraim, e os cavalos de Jerusalém, e o arco do combate será também proibido e teu rei falará de paz às nações; e seu domínio se estenderá desde um mar ao outro mar, e desde o rio até os confins da Terra." (Zacarias, IX, v. 9, 10). "E ele (o Cristo) se manterá, e governará pela força do Eterno, e com a magnificência do nome do Eterno, seu Deus. E eles farão as pazes, e agora será glorificado até os confins da Terra, e será ele que fará a paz. (Miquéias, V, v. 4). A distinção entre Deus e seu enviado futuro está caracterizada da maneira mais formal; Deus o designa seu servidor, por consequência seu subordinado; em suas palavras, nada há que implique a ideia de igualdade de poder, nem de consubstancialidade entre as duas pessoas. Deus terse-ia enganado, e os homens vindos três séculos após Jesus Cristo teriam visto mais justo do que ele? Tal parece ser a sua pretensão. VIII - O Verbo se fez carne "No começo era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. . Ele estava no começo com Deus. . Todas as coisas foram feitas por ele; e nada do que fez não fez sem ele. . Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens; . E a luz brilhou nas trevas, e as trevas não a compreenderam. "Houve um homem enviado de Deus que se chamava João. . Ele veio para servir de testemunha, para dar testemunho à luz, a fim de que todos cressem por ele. . Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho daquele que era a luz. "Aquela era a verdadeira luz que clareia todo homem vindo neste mundo. . Ele estava no mundo e o mundo nada fez por ele, e o mundo não o conheceu. . Ele veio aos seus e os seus não o receberam. . Mas deu a todos aqueles que o receberam o poder de serem feitos filhos de Deus, àqueles que creram em seu nome, que não são nascidos do sangue nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus mesmo. "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós; e vimos a sua glória, sua glória tal quanto o Filho único deveria recebê-la do Pai; ele, digo eu, habitou entre nós, cheio de graça e de verdade." (João, cap. 1º, v. de 1 a 14). Esta passagem dos Evangelhos é a única que, à primeira vista, parece encerrar implicitamente uma ideia de identificação entre Deus e a pessoa de Jesus; é também aquela sobre a qual se estabeleceu, mais tarde, a controvérsia a este respeito. Essa questão da divindade de Jesus não chegou senão gradualmente; nasceu das discussões levantadas a propósito das interpretações dadas, por alguns, às palavras Verbo e Filho. Não foi senão no quarto século que ela foi adotada, em princípio, por uma parte da Igreja. Esse dogma é, pois, o resultado de uma decisão dos homens e não de uma revelação divina. Há de início a notar que, as palavras que citamos mais acima, são de João, e não de Jesus, e que, admitindo que não hajam sido alteradas, não exprimem, em realidade, senão uma opinião 120


pessoal, uma indução onde se encontra o misticismo habitual de sua linguagem; elas não poderiam, pois, prevalecer contra as afirmações reiteradas do próprio Jesus. Mas, aceitando-as tais quais são, elas não resolvem de nenhum modo a questão no sentido da divindade, porque se aplicariam igualmente a Jesus, criatura de Deus. Com efeito, o Verbo é Deus, porque é a palavra de Deus. Tendo Jesus recebido essa palavra directamente de Deus, com a missão de revelá-la aos homens, assimilou-a; a palavra divina, da qual estava penetrado, se encarnou nele; trouxe-a ao nascer, e foi com razão que Jesus pôde dizer: O Verbo se fez carne, e habitou entre nós. Jesus pode, pois, estar encarregado de transmitir a palavra de Deus sem ser Deus, ele mesmo, como um embaixador transmite as palavras de seu soberano, sem ser o soberano. Segundo o dogma da divindade, é Deus que fala; na outra hipótese, ele fala pela boca de seu enviado, o que não rouba nada à autoridade de suas palavras. Mas quem autoriza essa suposição antes do que outra? A única autoridade competente para decidir a questão são as próprias palavras de Jesus, quando disse: "Eu nunca falei de mim mesmo, mas aquele que me enviou me prescreveu , por seu mandamento o que devo dizer; minha doutrina não é a minha doutrina, mas a doutrina daquele que me enviou, a palavra que ouvistes não é, minha palavra, mas a de meu Pai que me enviou." É impossível exprimir-se com mais clareza e precisão. A qualidade de Messias ou enviado, que lhe é dada em todo o curso dos Evangelhos, implica uma posição subordinada com relação àquele que ordena; aquele que obedece não pode estar igual àquele que manda. João caracteriza essa posição secundária, e, por consequência, estabelece a dualidade das pessoas quando disse: E vimos a sua glória, tal quanto "o Filho único deveria receber do Pai"; porque aquele que recebe não pode ser igual àquele que dá, e aquele que dá a glória não pode ser igual àquele que a recebe. Se Jesus é Deus, possui a glória por si mesmo e não a espera de ninguém; se Deus e Jesus são um único ser sob dois nomes diferentes, não poderia existir entre eles nem supremacia, nem subordinação; desde então, que não há paridade absoluta de posição, é que são dois seres distintos. A qualificação de Messias divino não implica a igualdade entre o mandatário e o mandante, como a do enviado real entre um rei e seu representante. Jesus era um messias divino pelo duplo motivo que tinha a sua missão de Deus, e que as suas perfeições o colocavam em relação directa com Deus. IX - Filho de Deus e filho do homem O título de Filho de Deus, longe de implicar a igualdade, é bem antes o indício de uma submissão; ora, deve estar submetido a alguém e não a si mesmo. Para que Jesus fosse o igual absoluto de Deus, seria necessário que fosse como ele, de toda a eternidade, quer dizer, que fosse incriado; ora, o dogma diz que Deus o engendrou de toda a eternidade; mas quem disse engendrar diz criar; que isso seja, ou não, de toda a eternidade, não se é menos uma criatura, e, como tal, subordinada a seu Criador; é a ideia implícita encerrada na palavra Filho. Jesus nasceu no tempo? De outro modo dito: foi um tempo na eternidade, na eternidade passada, onde ele não existia? Ou bem é co-Eterno com o Pai? Tais são as sutilezas sobre as quais discutiu-se durante os séculos. Sobre qual autoridade se apóia a doutrina da coeternidade passada ao estado de dogma? Sobre a opinião dos homens que a estabeleceram. Mas esses homens, por qual autoridade fundaram a sua opinião? Isso não é sobre a de Jesus, uma vez que se declara subordinado; não é sobre a dos profetas que o anunciam como o enviado e o servidor de Deus. Em quais documentos desconhecidos, mais autênticos do que os Evangelhos encontraram essa doutrina? Aparentemente, na consciência e na superioridade de suas próprias luzes.

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Deixemos, pois, essas vãs discussões que não poderiam terminar, e cuja solução mesmo, se fora possível, não tornaria os homens melhores. Digamos que Jesus é Filho de Deus, como todas as criaturas; ele o chama seu Pai como nós aprendemos a chamar nosso Pai. É o Filho bem-amado de Deus porque, tendo chegado à perfeição que o aproxima de Deus, possui toda a sua confiança e todo o seu afecto; ele se diz, ele mesmo, Filho único, não que seja o único ser chegado a esse grau, mas porque só ele estava predestinado a cumprir essa missão sobre a Terra. Se a qualificação de Filho de Deus parecia apoiar a doutrina da divindade, não era, do mesmo modo daquela do Filho do homem que Jesus se deu em sua missão, e que fez o assunto de muitos comentários. Para melhor compreender-lhe o verdadeiro sentido, é necessário remontar à Bíblia, onde está dada por ele mesmo ao profeta Ezequiel. "Tal foi a imagem da glória do Senhor que me foi apresentada. Tendo, pois, visto essas coisas, lancei meu rosto por terra: e ouvi uma voz que me falava e disse: Filho do homem, tendevos sobre os vossos pés e eu falarei convosco. . E o Espírito, tendo me falado da sorte, entrou em mim, e me firmou sobre os meus pés e eu o ouvi que me falava e me dizia: Filho do homem, eu vos envio aos filhos de Israel, para um povo apóstata que se retirou de mim. Violaram até este dia, eles e seus pais, a aliança que fiz com eles." (Ezequiel, cap. II, v. 1, 2, 3). "Filho do homem, eis que vos prepararam os grilhões; a eles vos prenderão e deles não saireis nunca." (Cap. III, v. 25.). "O Senhor me dirigiu ainda a sua palavra e me disse: . E vós, Filho do homem, eis o que disse o Senhor Deus à terra de Israel: o fim vem; ele vem, esse fim, sobre os quatro cantos desta terra." (Cap. VII, v. 1, 2). "No décimo dia, do décimo mês, do nono ano, o Senhor me dirigiu a palavra e me disse: . Filho do homem, marcai bem esse dia que o rei de Babilônia reuniu as sua tropas diante de Jerusalém." (Cap. XXIV, v. 1, 2). "O Senhor me disse ainda estas palavras: . Filho do homem, vou vos ferir com uma ferida e vos arrebatar o que é mais agradável aos vossos olhos; mas não fareis nunca lamentos fúnebres; não chorareis nunca, e as lágrimas nunca correrão em vosso rosto. . Suspirareis em segredo, e não fareis luto nunca como foi feito para os mortos; vossa coroa permanecerá ligada sobre a vossa cabeça, e tereis vossos sapatos em vossos pés: não cobrireis o rosto e não comereis nunca a carne que se dá àqueles que estão no luto. . Eu falei, pois, de manhã ao povo, e à noite minha mulher morreu. No dia seguinte de manhã, fiz o que Deus me ordenara. (Cap. XXIV, v. de 15 a 18). "O Senhor me falou ainda e me disse: Filho do homem, profetizai com respeito aos pastores de Israel; profetizai e dizei aos pastores: Eis o que disse o Senhor Deus: Infelizes os pastores de Israel que apascentam a si mesmos: os pastores não apascentam os seus rebanhos?" (Cap. XXXIV, v. 1, 2). "Então eu ouvi que me falava, no interior da casa; e o homem que estava próximo de mim me disse: - Filho do homem, eis aqui o lugar de meu trono: o lugar onde porei os meus pés, e onde permanecerei para sempre no meio dos filhos de Israel, e a casa de Israel não profanará mais meu santo nome no futuro, nem eles, nem seus reis, por suas idolatrias, pelos sepulcros de seus reis, nem pelos seus nobres." (Cap. XLIII, v. 6, 7). "Porque Deus nunca ameaça como os homens, e não entra nunca em furor como o Filho do homem." (Judite, Cap. VIII, v. 15). É evidente que a qualificação de Filho do homem quer dizer isto: que nasceu do homem, por oposição àquilo que está fora da Humanidade. A última citação, tirada do livro de Judite, não deixa dúvida sobre o significado desta palavra, empregada num sentido muito literal. Deus não designou Ezequiel senão sob esse nome, sem dúvida para lhe lembrar que, apesar do dom da profecia que lhe foi concedido, com isso não pertencia menos à Humanidade, e a fim de que não se cresse de uma natureza excepcional.

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Jesus se dá a si mesmo essa qualificação com uma persistência notável, porque não é senão em muito raras circunstâncias que se diz Filho de Deus. Em sua boca não pode ter outro significado que o de lembrar que, também ele, pertence à Humanidade: por aí se assimila aos profetas que o precederam e aos quais se comparou fazendo alusão à sua morte, quando disse: JERUSALÉM QUE MATA OS PROFETAS? A insistência que coloca em se designar como filho do homem, parece um protesto antecipado contra a qualidade que prevê que dar-se-lhe-á mais tarde, a fim de que seja bem constatado que ela não saiu de sua boca. É notável que, durante essa interminável polémica que apaixonou os homens durante uma longa série de séculos, e dura ainda, que acendeu as fogueiras e fez verter ondas de sangue, disputou-se sobre uma abstração, a natureza de Jesus, da qual se fez a pedra angular do edifício, embora disso não haja falado; e que se haja esquecido uma coisa, a de que o Cristo disse ser toda a lei e os profetas: o amor de Deus e do próximo, e a caridade, da qual fez a condição expressa de salvação. Agravou-se sobre a questão da afinidade de Jesus com Deus, e se passou completamente sob silêncio as virtudes que ele recomendou e das quais deu o exemplo. O próprio Deus, se apagou diante da exaltação da personalidade do Cristo. No símbolo de Niceia, está dito simplesmente: Cremos em um Deus único, etc.; mas como é esse Deus? De nenhum modo se fez menção aos seus atributos essenciais: a soberana vontade e a soberana justiça. Essas palavras seriam a condenação dos dogmas que consagram sua parcialidade para com certas criaturas, sua inexorabilidade, seu ciúme, sua cólera, seu espírito vingativo, dos quais se autoriza para justificar as crueldades cometidas em seu nome. Se o símbolo de Niceia, que se tornou o fundamento da fé católica, estava segundo o Espírito do Cristo, por que o anátema com que o termina? Não é a prova de que é obra da paixão dos homens? Aliás, a que se deve a sua adoção? À pressão do imperador Constantino que disso fizera uma questão mais política do que religiosa. Sem a sua ordem, o Concílio de Niceia não ocorreria; sem a intimidação que exerceu, é mais do que provável que o Arianismo o arrebataria. Portanto, dependeu da autoridade soberana de um homem que não pertencia à Igreja, que reconheceu mais tarde o erro que fizera politicamente, e que inutilmente procurou retornar sobre os seus passos conciliando as partes, para que não sejamos Arianos em lugar de sermos Católicos, e para que o Arianismo não fosse hoje a ortodoxia, e o catolicismo a heresia. Depois de dezoito séculos de lutas e de disputas vãs, durante os quais se pôs completamente de lado a parte mais essencial do ensino do Cristo, a única que poderia assegurar a paz da Humanidade, se está ainda nessas discussões estéreis que não levaram senão a perturbações, engendraram a incredulidade, e cujo objeto não satisfaz mais à razão. Há, hoje, uma tendência manifesta da opinião geral de retornar às ideias fundamentais da primitiva Igreja, e à parte moral do ensinamento do Cristo, porque é a única que pode tornar os homens melhores. Aquela é clara, positiva, e não pode dar lugar a nenhuma controvérsia. Se a Igreja houvesse seguido este caminho desde o princípio, seria hoje omnipotente em lugar de estar em declínio; teria reunido a imensa maioria dos homens em lugar de estar despedaçada pelas fações. Quando os homens caminharem sob essa bandeira, se estenderão mãos fraternas, em lugar de se lançarem anátemas e maldições, por questões que, na maioria do tempo, não compreendem. Essa tendência da opinião é o sinal de que chegou o momento para levar a questão para o seu verdadeiro terreno.

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13 - Reencarnação ou Ressurreição Reencarnação na Bíblia O escritor José Reis Chaves, em seu livro "A Reencarnação Segundo a Bíblia e a Ciência" consegue, com grande clareza, indiciar que a reencarnação consta da Bíblia. No capítulo “3 – Através da Bíblia”, diz: "Há muitas pessoas que afirmam convictamente que a reencarnação não está na Bíblia. O autor deste livro também foi uma pessoa que pensava assim. Mas ela está lá, só que de um modo oculto, esotérico ou velado, sobre o que já falamos numa outra parte anterior deste livro". "Quando Jesus disse que examinássemos as Escrituras, Ele quis dizer que nos aprofundássemos no estudo da Bíblia, para que pudéssemos compreender a sua mensagem". "Portanto, não basta que nos informemos do conteúdo da Bíblia. É necessário que façamos um estudo profundo do seu conteúdo. E isso tem de ser feito por quem tenha estrutura para tal, ou seja, tenha um bom nível de instrução, seja inteligente e tenha dom para isso. É, pois, engano pensar que só um bispo, padre ou pastor sejam pessoas que entendam a fundo de Bíblia, embora encontremos entre eles grandes sumidades no assunto. Esses indivíduos, geralmente, pensam de maneira diferente da maioria dos padres e pastores sobre alguns textos bíblicos, embora, às vezes, sejam discretos em seus conhecimentos, pois têm de prestar obediência à hierarquia de suas igrejas. A nossa opinião é a de que o indivíduo só pode conhecer as Escrituras Sagradas, tendo liberdade de raciocínio e oportunidade, inclusive de comparar os textos bíblicos com os de outros livros sagrados de outras religiões, pois arquétipos junguianos estão, também, presentes nas literaturas de todas as escrituras sagradas, e não só da Bíblia". Iniciamos colocando a fala de José Reis Chaves, independentemente da religião que ele tenha ou não tenha, por não nos parecer relevante neste momento de procura de textos. Recomendamos até, o seu livro a todos os que sinceramente buscam conhecer a verdade, principalmente aos que seguem: "Examinai tudo, conservai o que é bom" (1 Tes. 5, 21). Neste livro encontramos várias passagens bíblicas, analisadas pelo autor, sobre a reencarnação; nós iremos nos concentrar apenas em algumas que podemos encontrar no Novo Testamento. Em Mateus 16, 13-14, temos: "Tendo chegado à região de Cesareia de Felipe, Jesus perguntou aos discípulos: "Quem dizem por aí as pessoas que é o Filho do homem?" Responderam: "Umas dizem que é João Baptista; outras, que é Elias; outras, enfim, que é Jeremias ou algum dos profetas". Veja bem, se o povo pensava que Jesus poderia ser João Baptista, Elias, Jeremias ou algum dos profetas é porque acreditavam que alguém que já havia morrido pudesse voltar como outra pessoa, razão da resposta. Entretanto, não tinham noção como isso poderia acontecer. Sendo João Baptista contemporâneo de Jesus, não haveria a menor possibilidade d’Ele ser João Baptista reencarnado. É a única ressalva que poderemos fazer a esse texto. Outra passagem que podemos citar é a de João 3, 1-8; entretanto essa talvez seja a mais polémica, porquanto as várias traduções e interpretações da Bíblia são divergentes quanto ao termo "nascer de novo". Mas, mesmo assim a citaremos: "Havia entre os fariseus um, chamado Nicodemos, dos mais importantes entre os judeus. Ele foi encontrar-se com Jesus à noite e lhe disse: "Rabi, bem sabemos que és um Mestre enviado por Deus, pois ninguém seria capaz de fazer os sinais que tu fazes, se Deus não estivesse com ele. Jesus respondeu: "Eu te afirmo e esta é a verdade; ninguém verá o reino de Deus se 124


não nascer de novo". Disse-lhe, Nicodemos: "Como pode nascer um homem já velho? Porventura poderá entrar de novo no seio de sua mãe e nascer?" Jesus respondeu: "Eu vos afirmo e esta é a verdade: se alguém não nascer da água e do Espírito, não poderá entrar no Reino de Deus. O que nasce da carne é carne. O que nasce do Espírito é espírito! Não te admires do que eu disse: é necessário para vós nascer de novo. O vento sopra para onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem aonde vai. Assim é quem nasce do Espírito". O que se pode deduzir do texto é que Nicodemos entendeu perfeitamente que era sobre nascer de novo, que Jesus estava a falar; sua dúvida ficou apenas como isso poderia ocorrer. Querem alguns que o nascer da água seja o baptismo. Se for por que, então Jesus reafirma: O que nasce da carne é carne; o que nasce do Espírito é espírito. Perfeitamente coerente com o sentido de nascer da água, pois seu significado, à época, era de ser a origem da matéria. Vemos que toda a vida material, dela depende, e especificamente nós os humanos, além de sermos mais água que carne, ficamos nove meses "dentro de água" antes de nascermos de novo. E, como afirmamos anteriormente, esta passagem é causa de longos e polémicos debates. Entretanto, encontraremos em Mateus (17, 10-13) a reencarnação de forma bem mais clara, senão vejamos: "Os discípulos lhe perguntaram: "Por que dizem os escribas, que Elias deve vir antes?" Respondeu-lhes: "Elias há de vir para restabelecer todas as coisas. Mas eu vos digo que Elias já veio e não o reconheceram, mas fizeram com ele o que quiseram. Do mesmo modo, também o filho do homem está para sofrer da parte deles. Então, os discípulos compreenderam que Jesus lhes tinha falado a respeito de João Baptista". Por que Elias não foi reconhecido? Porque agora animava outro corpo. Simples não? Mas poderiam objectar: Jesus não afirmou que João Baptista era Elias. Foram seus discípulos que pensaram assim. Certo! Mas em várias oportunidades Jesus demonstrou conhecer o pensamento das pessoas, por isso, se não disse nada em contrário é porque sancionava o que os discípulos estavam a pensar. As dúvidas poderão ser dissipadas nesta outra narrativa. Vejamos Mateus 11, 14-15: "E, se quiserdes compreendê-los, João é o Elias que estava para vir. Quem tem ouvidos, que escute bem". Essa última frase deve ter sido dita por Jesus porque sabia que muitos não iriam aceitar o princípio da reencarnação, mas reafirmamos: quem quiser ouvir que ouça! É sempre colocada a passagem de Hebreus 9, 27 como contrária à reencarnação, que diz: "Como está determinado que os homens morram uma só vez, e logo em seguida vem o juízo, assim o Cristo se ofereceu uma só vez para tomar sobre si os pecados da multidão, e aparecerá uma segunda vez, não, porém, em razão do pecado, mas para trazer a salvação àqueles que o esperam". No texto não há nenhuma afirmativa contra a reencarnação. O que foi dito é o que acontece realmente no presente corpo, em que o espírito nele habita; morrerá só uma vez, não temos nenhuma dúvida disso. Isso é válido para todas as vezes que ele (espírito) se reencarnar, ou seja, para cada reencarnação: somente uma morte.

Ressurreição, o significado bíblico O erro não se torna verdade por multiplicar-se na crença de muitos, nem a verdade se torna erro por ninguém a ver... (GANDHI).

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Introdução Vamos procurar fazer um estudo sobre a questão da ressurreição, na tentativa de encontrar qual o entendimento que os antigos tinham sobre isso. Sabemos não ser muito fácil fazer esse tipo de pesquisa, pois os textos bíblicos de hoje, não sendo os originais e estando eivados de “vícios” de tradução, torna o resultado dessa tarefa assaz comprometido com a verdade, já que “a verdade bíblica” pode ser bem diferente da realidade. Por outro lado, conceitos arraigados que servem de arquétipo ao homem hodierno, talvez possam levar-nos a um caminho fora do nosso objectivo principal que é saber quais são realmente os factos verdadeiros. Mas, para que não fiquemos apenas numa opinião isolada, e mesmo de pouco valor, trazemos a opinião do pesquisador holandês Emanuel Tov, especialista nos Manuscritos do Mar Morto, contida na Revista “Veja” edição 1747, na reportagem “Espião do Passado”, de autoria de Adriana Carvalho: Nas cavernas de Qumran e em outros lugares de Israel, nós encontramos centenas de manuscritos, todos da Bíblia hebraica, o Velho Testamento. Comparando com as traduções que conhecemos hoje da Bíblia, notamos que há passagens que eram mais curtas, outras mais compridas ou com textos diferentes dos que conhecemos hoje. O Livro de Jeremias nos manuscritos aparece em uma versão talvez 15% mais curta. Isso significa que, nas cópias feitas por gerações após gerações, frequentemente os escribas mudavam os textos, acrescentando alguns detalhes, suprimindo outros. Eles consideravam-se também autores e permitiam-se fazer alterações. Isso ocorreu com os textos de Homero, as tragédias gregas, não apenas com a Bíblia. (CARVALHO, 2002, p. 14). Primeiramente, cabe-nos informar qual é o significado daquilo que iremos tratar. Diz-nos o Dicionário Aurélio que ressurreição significa: “S. f. 1. Acto ou efeito de ressurgir ou ressuscitar; ressurgência. 2. Rel. Festa católica comemorativa da ressurreição de Cristo, ao terceiro dia após a morte: 3. Fam. Cura surpreendente e imprevista. 4. Fig. Vida nova; renovação, restabelecimento. 5. Quadro que representa a ressurreição de Cristo. 6. Rel. Na doutrina Cristã, o surgir para uma nova e definitiva vida, distinta e, em certa medida, oposta à existência terrestre, e que, a partir da ressurreição de Cristo, aguarda todos os fiéis Cristãos”. E que ressuscitar significa: “V. t. d. 1. Fazer voltar à vida; reviver, ressurgir. 2. Restaurar, renovar, reproduzir: V. int. 3. Voltar à vida; tornar a viver; reviver, ressurgir. 4. Tornar a surgir; reaparecer, ressurgir: 5. Escapar de grande perigo”. Assim, podemos, para o nosso estudo, concluir que ressurreição é a ocorrência que faz voltar à vida, tornar a viver ou reviver; quem passou pelo derradeiro momento da morte física. Nesse conceito, mais abrangente, podemos também considerar como ressurreição a volta do Espírito à sua condição anterior no plano espiritual, ou seja, a ressurreição do espírito. Já pelo conceito encontrado no Dicionário Bíblico Universal é: Ressurreição não é a volta à vida. É de maneira inexacta que se fala de ressurreição a propósito das crianças curadas por Elias e Eliseu (1Rs. 17, 2Rs. 4), a propósito do filho da viúva de Naim (Lc. 7,11-17), de Lázaro (Jo. 11) etc. Os textos se referem somente a um retorno à vida que não dispensa a pessoa beneficiada de ter que morrer um dia. Ressuscitar é descobrir, além da morte, uma vida de tipo novo, comportando relações novas dos homens entre si e dos homens com Deus. (p. 681) O que não conseguimos estabelecer é quando e porque o povo hebreu passou a acreditar na ressurreição, pois os textos bíblicos, só mais tardiamente, por volta de 175 a 161 A.C., é que passam a falar dessa possibilidade. Histórico Nos livros que compõem o Antigo Testamento, percebemos que essa ideia aparece, como que caída de um pára-quedas, já que até o século II A.C., nem se pensava nisso; antes, ao contrário, não tinham nenhuma perspectiva para a existência de alguma coisa depois da morte. 126


A cultura egípcia admitia a vida após a morte. Leiamos: A morte, para os egípcios, tinha um especial interesse. Havia entre eles uma crença absoluta no renascer dos mortos. Por isso, a preocupação em preservar o cadáver e o desenvolvimento da técnica de mumificação. De acordo com sua religião, a alma precisava de um corpo para morar por toda a eternidade. Acreditava-se que a morte apenas separava o corpo da alma. Daí, a obrigação a ser cumprida pelos parentes quanto ao morto querido: a mumificação de seu corpo. Se a vida poderia durar eternamente, desde que a alma encontrasse no túmulo o corpo destinado a servi-lhe de morada, era precioso, portanto, preservar suas características físicas. (A Magia do Egipto, nº 01, p. 47). É interessante o que pensavam a respeito do após morte: A vida no outro mundo começava no próprio túmulo com uma viagem pelo subterrâneo. Primeiro, o ka (energia vital) deixaria o corpo acompanhado por ba (alma). O deus Coros conduz o ba através dos portais de fogo até o salão do juízo final. O julgamento final era a prova de fogo para que a pessoa morta alcançasse, finalmente, a vida eterna. No julgamento final, o morto deveria provar que foi verdadeiro e justo durante a vida, sem ter faltado com a verdade. Se a pessoa não passasse pelo julgamento final, estaria condenada a uma espécie de coma perpétuo, ou seja, teria então uma segunda morte porque, agora, o acesso à eternidade estaria vedado. (A Magia do Egipto, nº 05, p. 12). Os egípcios acreditavam que o corpo ressuscitaria magicamente do outro lado da vida por meio de um ritual chamado de ‘abertura da boca’. O sacerdote ou alguém da família tocava a boca do morto com um instrumento de metal para que ele pudesse ter uma boa passagem para o outro mundo e conseguisse pronunciar as palavras necessárias na hora do julgamento. No mundo dos mortos, os egípcios eram julgados pelo deus Osíris e seus 42 assessores. Diante de cada juiz, o defunto declarava não ter passado por determinada infração. Seu coração era pesado numa balança. ‘Se pesasse mais que a pluma da justiça de Maat, a deusa da ordem universal, o morto seria engolido por um monstro em forma de crocodilo, leão e hipopótamo e teria, assim, uma morte definitiva, deixando por completo de existir’, afirma o historiador Ciro Flamarion Cardoso, da Universidade Federal Fluminense. (Revista das Religiões, p. 42). Ora, sabemos que o povo hebreu permaneceu por 430 anos em escravidão no Egipto, tempo suficiente para incorporar, em sua cultura, os costumes do povo que o subjugava. O que nos causa espécie é por que a ressurreição não aparece na Bíblia desde a época dos hebreus no Egipto? O que vemos é que, inicialmente, nem tinham ideia de vida após a morte. Não aparece nem mesmo, quando promulgados, no monte Sinai, os Dez Mandamentos. Neles observamos que todas as recompensas e penalidades, estabelecidas por Deus, estão relacionadas às situações terrenas, não para uma vida futura após a morte. Na visão que tinham, todos iam para o mesmo lugar; o sheol. Com o passar dos anos, desenvolveu-se a ideia de que somente os injustos é que iam para lá. O sheol era, na verdade, a sepultura comum, da qual não viam nenhum corpo voltar, razão de pensarem que a vida só se resumia a essa aqui na terra. Quando imaginavam que alguém estava nas graças de Deus, davam a ela uma vida longa. É por isso que aparecem na Bíblia pessoas com tempo de vida inverosímil. A ideia da ressurreição aparece, pela primeira vez, no período histórico situado entre 175 A.C. a 161 A.C., narrados em 2 Macabeus e em Daniel; ambos os relatos se referem a esse mesmo período. 127


É certo que alguns teólogos admitem que Isaías teria falado a respeito dela. Mas é difícil saber com certeza, pois que “suas palavras não foram conservadas e sofreram acréscimos. ... São acréscimos mais extensos ‘o Apocalipse de Isaías’ (24-27), que por seu género literário e por sua doutrina não pode ser situado antes do século V A.C.;...” (Bíblia de Jerusalém, p. 1238). Quando lemos em Is. 26,19: “Os teus mortos tornarão a viver, os teus cadáveres ressurgirão”, ficamos na dúvida sobre de que se trata realmente; mas, em nota de rodapé, explicam-nos: “O texto poderia entender-se como restauração nacional (cf. Ez 37) ou como afirmação da fé na ressurreição dos mortos (Dn 12,2)”. (Bíblia Sagrada Vozes, p. 912). Reportando-nos a Ezequiel, lemos a seguinte explicação para o passo 37,1-14: Cumprindo-se os castigos anunciados pelo profeta (Ez 4-24) os exilados caíram em profunda prostração. Longe de sua terra, sem templo nem culto, estavam ameaçados de perder a identidade de povo eleito (cf. 20,32; 33,10). As esperanças de uma restauração pareciam perdidas (37,11). Neste contexto Ezequiel anuncia uma restauração milagrosa de Israel, a ser produzida pelo espírito de Deus. (Bíblia Sagrada Vozes, p. 1072). E, confirmando essa afirmativa, citamos da Bíblia de Jerusalém: “Como em Os 6,2; 13,14 e Is 26,19, Deus anuncia aqui (cf. 11-14) a restauração messiânica de Israel, após os sofrimentos do Exílio (cf. Ap 2-,4+)” (p. 1534). Até aí estavam indo muito bem; mas... Contudo, pelos símbolos utilizados, ele já orientava os espíritos para a ideia de ressurreição individual da carne, entrevista em Jó 19,25+, explicitamente afirmada em Dn 12,2; 2Mc 7,9-14; 12,43-46; Cf. 2Mc 7, 9+. Para o NT, ver Mt 22, 29-32 e sobretudo 1Cor 15. (Bíblia de Jerusalém, p. 1534). Do texto de Ezequiel: “... estes ossos representam toda a casa de Israel, que está a dizer: ‘Os nossos ossos estão secos, a nossa esperança está desfeita. Para nós está tudo acabado. Pois bem, profetiza e dize-lhe: Assim diz o Senhor Iahweh: Eis que abrirei os vossos túmulos e vos farei subir dos vossos túmulos, ó meu povo, e vos reconduzirei para a terra de Israel” (37,1112), confirmando o que foi dito a respeito da restauração do povo de Israel. Não é, portanto, uma ressurreição colectiva e nem individual o que se pode deduzir do texto. Vemos este apenas como uma tentativa de se achar uma saída para justificar a crença na ressurreição da carne. Embora não fosse desta forma que pensávamos em tratar desse assunto, devemos, para uma melhor compreensão, ver o que se narra nos livros 2 Macabeus e Daniel. a) Livro de Macabeus (Deuterocanónicos-Macabeus) O Segundo Livro dos Macabeus não é uma continuação dos factos narrados por 1Mc . É antes um relato paralelo a 1 Mc. 1-7. Começa com os factos do tempo do Sumo Sacerdote Onias III e do rei Seleuco IV (180 A.C.). E termina pouco antes da morte de Judas Macabeu, com a derrota de Nicanor (161 A.C.). Apresenta-se como um resumo de uma obra mais ampla, em cinco volumes, de um tal de Jasão de Cirene (2,19-32). Este Jasão mostra-se bem informado ao menos sobre a situação em Jerusalém, a administração selêucida e seu funcionamento. O autor do resumo é um desconhecido, profundamente religioso, talvez um fariseu. É um apaixonado pela causa dos judeus e grande admirador de Judas Macabeu, seu herói principal. A obra de Jasão de Cirene deve ter sido composta em torno de 130 A.C. E o ‘resumo’ deve ser posterior a 124 A.C. (data da primeira carta; 1,9) e anterior a 63 A.C., quando Jerusalém foi ocupada pelos romanos. Como se nota pelas duas cartas iniciais e pelo prólogo, o ‘resumo’ foi composto em Alexandria e sobretudo para leitores da comunidade judaica local. (Bíblia Sagrada Vozes, p. 573). 128


As informações que Jasão possuía – segundo o que podemos deduzir do resumo fiel – especialmente as notícias minuciosas e exactas sobre certas particularidades da história dos Selêucidas, informações precisas sobre títulos, cargos etc., nos levam a crer que tenha consultado arquivos palestinenses e ouvido boas testemunhas. É sabido, com efeito, que os judeus cultos da época costumavam empreender tais viagens e pesquisas. A exactidão das notícias, que Jasão dá só poderá ter recolhido por via oral, leva-nos a crer que as tenha escrito quando ainda vivas as testemunhas oculares dos factos, e que, portanto, sua obra tenha sido escrita nos últimos 20 anos séc. II A.C. (Bíblia Paulinas, p. 553). Por que o autor sentiu necessidade de retomar uma história já conhecida? Qual a originalidade? Podemos dizer que a intenção do autor é reler os mesmos factos, para mostrar que a luta em defesa do povo se enraíza na atitude de fé, que confia plenamente no auxílio de Deus. (Bíblia Pastoral, p. 611). Os minúsculos que atestam a recensão do sacerdote Luciano (300 D.C.) conservam por vezes um texto mais antigo que os dos outros manuscritos gregos, texto que se reencontra nas Antiguidades Judaicas do historiador Flávio Josefo, que segue geralmente 1Mc e ignora 2Mc. A Vetus Latina, também, é a tradução dum texto grego perdido e frequentemente melhor que o dos manuscritos que conhecemos. O texto que está na Vulgata não foi traduzido por são Jerónimo – para quem os livros dos Macabeus não eram canónicos – e não representa senão uma recensão secundária. (Bíblia de Jerusalém, p. 718). As informações acima são necessárias para compreendermos bem o que nos traz esse livro. Observe, principalmente, o que grifamos em negrito. Podemos tirar que esse livro foi escrito por alguém que acreditava na ressurreição e o escreveu depois dos factos acontecidos. 2Mc. 7,9 (Deuterocanónicos-Macabeus): “Estando prestes a dar o último suspiro, disse: ‘Tu, execrável como és, nos tiras desta vida presente. Mas o Rei do universo nos ressuscitará para uma vida eterna, pois morremos por fidelidade às suas leis”. Analisando a frase “nos tira desta vida presente”, presumimos que acreditavam em outra vida, e quando se disse: “nos ressuscitará para uma vida eterna”, confirma essa ideia. Então, a ressurreição aqui tratada é a do espírito. E sobre essa última expressão, nos informam na Bíblia de Jerusalém que: “Lit. ‘para uma revivificação eterna da vida’” (Bíblia de Jerusalém, p. 777), o que sustenta a ideia concluída por nós. 2Mc. 7,11 : “dizendo com dignidade: ‘De Deus eu recebi esses membros, e agora, por causa das leis dele, eu os desprezo, pois espero que ele os devolva para mim’”. Aqui, ao que parece, a ressurreição que esperavam é a do corpo. 2Mc. 7,13-14 : “Passado também este à outra vida, submeteram o quarto aos mesmos suplícios, desfigurando-o. Quase a expirar, disse: ‘É desejável passar para a outra vida às mãos dos homens, conservando em Deus a esperança de ser um dia ressuscitado por ele. Para ti, porém, não haverá ressurreição para a vida!”. Essa passagem é singular, pois volta à questão de se acreditar em “outra vida”; entretanto, o texto já induz à ideia de uma ressurreição futura, talvez a do juízo final. Mas, é aí que a coisa fica difícil de entender, pois em outras Bíblias encontramos coisa diferente; vejamos: “Morto este, aplicaram os mesmos suplícios ao quarto, e este disse, quando estava a ponto de expirar: ‘É uma sorte desejável perecer pela mão humana com a esperança de que Deus nos ressuscite. Mas para ti, certamente não haverá ressurreição para a vida”. (Bíblia Sagrada Ave Maria). 129


Tiraram a ideia da versão anterior de que acreditavam em uma “outra vida”, mas já não se tem a ideia que a ressurreição seja para um tempo futuro, dá-nos a entender que é próxima. Ao dizer que “para ti, não haverá ressurreição para a vida”, que vida? Não seria a vida espiritual? Não seria a ressurreição do Espírito? Se for, ficaria contrário a ideia da ressurreição do corpo. Assim esse livro não nos fornece elementos seguros para saber o que realmente pensavam. 2Mc 7,23: “Por isso, é o Criador do mundo, que organizou o nascimento dos homens e preside à geração de todas as coisas, ele mesmo é quem, na sua misericórdia, vos dará de novo o espírito e a vida, pois agora desprezais a vós mesmos, por amor às suas leis”. Será que aqui poderemos entender que “vos dará de novo o espírito e a vida” como a ressurreição espiritual? Acreditamos que sim. Observe que é mais forte essa ocorrência do que a ressurreição do corpo. 2Mc 12,43-44: “Em seguida fez uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados: belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles”. Oferecerem sacrifícios pelos pecados, apenas teria sentido, se acreditassem que já estariam ressuscitados, para que esses sacrifícios tivessem valor imediato. b) Livro de Daniel A data desta composição é fixada pelo testemunho claro fornecido pelo cap. 11. As guerras entre Selêucidas e Lágidas e uma parte do reinado de Antíoco Epífanes nele são narradas com grande luxo de pormenores insignificantes para o propósito do autor. Este relato não se parece com nenhuma profecia do Antigo Testamento e apesar de seu estilo profético, relata acontecimentos já ocorridos. Mas a partir de 11,40 muda o tom: o “Tempo do fim” é anunciado de um modo que recorda os outros profetas. O livro teria sido composto, portanto, durante a perseguição de Antíoco Epífanes e antes da morte dele, antes mesmo da vitória da insurreição macabaica, isto é, entre 167 a 164 A.C. (Bíblia de Jerusalém, p. 1245). O livro de Daniel já não representa a verdadeira corrente profética. Não contém mais a pregação dum profeta enviado por Deus em missão junto de seus contemporâneos; foi composto e imediatamente escrito por um autor que se oculta por detrás dum pseudónimo, como já sucedera no opúsculo de Jonas. (Bíblia de Jerusalém, p. 1246). Autor e tempo de origem: Dn 1-6 nos coloca no tempo do exílio babilônico (séc VI A.C.). Dn 712, onde Daniel fala de si na primeira pessoa, é atribuído a Daniel, judeu deportado em 606 A.C. De facto, até o séc. XIX o livro foi atribuído a este profeta exílico; mas deste então tornouse opinião generalizada entre autores não Católicos e Católicos que na realidade o livro foi escrito no séc. II A.C, no tempo da perseguição de Antíoco IV, entre os anos 167 a 163 A.C., no início do período macabeu. ... Portanto, o autor é um desconhecido, talvez pertencente ao grupo assideu (cf. 1Mc 2,27), o que não exclui que o livro contenha elementos mais antigos. O Autor desconhecido quis oferecer aos seus contemporâneos, cruelmente perseguidos pelo rei Antíoco, um livro de conforto e consolação. Com efeito, este escrito foi redigido em três línguas: em hebraico, em grego e em aramaico; ora, os dois últimos idiomas não eram ainda utilizados no tempo em que o livro coloca o profeta. O seu redator, que escreveu certamente no segundo século A.C., serviu-se de documentos anteriores, que podem remontar até a própria época de Daniel. Pouco depois dele, (Dn 12,2) explicitará a fé numa retribuição após a morte e no pensamento dele esta fé estará ligada à fé na ressurreição dos mortos, já que a mentalidade hebraica não 130


concebe a vida do espírito separada da carne. No judaísmo alexandrino a doutrina progredirá em caminho paralelo e irá mais adiante. Depois que a filosofia platónica, com sua teoria da alma imortal, tiver libertado o pensamento hebraico de seus entraves, o livro da Sabedoria afirmará que “Deus criou o homem para a imortalidade (2,23) e que depois da morte a alma fiel gozará de felicidade sem fim junto de Deus, enquanto os ímpios receberão seu castigo (3,112). (Bíblia de Jerusalém, p. 798). A situação histórica coloca o nosso Daniel no reinado do Antíoco IV Epífanes, que determinou o extermínio da religião judaica e a consecutiva helenização da Palestina. O autor do livro de Daniel (a nós desconhecido) serve-se de histórias antigas, segundo o género agádico, então muito em voga (cc. 1-6; 13-14), para inculcar esperança e fé aos judeus perseguidos por Antíoco IV. Assim como Deus protegeu Daniel e os seus companheiros de todos os perigos, assim acontecerá com os judeus que forem fiéis à Lei e às tradições religiosas. O autor não tem em vista descrever factos históricos, mas histórias moralizadoras, que poderiam, na realidade, ter um fundo ou um núcleo histórico, mas de segunda importância. Os dados internos do livro, linguístico, histórico e teológico obrigam-nos a datar o livro por altura da morte do rei Antíoco IV (165-164 A.C). (Bíblia Santuário, p. 1313). A explicação que encontramos para o grupo dos assideus: “Forma grecizada do hebr. Hasîdîm, os ‘piedosos’, comunidade de judeus apegados à Lei. Eles resistiram à influência pagã desde antes dos Macabeus e tornaram-se a tropa de choque de Judas (cf. Mc 14,6), mas sem se subordinarem à política dos Asmoneus (cf. 1Mc 7,13). Segundo Josefo, durante a chefia de Jónatas, por volta de 150, eles se dividiram em fariseus (Mt 3,7+ e At 4,1+) e essénios, mais bem conhecidos desde as descobertas de Qumrã (cf. Ant. XIII, 17s)”. (Bíblia de Jerusalém, p. 724). Os fariseus acreditavam na ressurreição, anjo, espírito, imortalidade da alma, coisas que dariam para justificar o aparecimento da ideia de ressurreição, somente agora, já que estes dois livros, Macabeus e Daniel, provavelmente tiveram como autores pessoas com essas origens. O historiador Flávio Josefo regista, nessa época, as classes dos fariseus, dos saduceus e a dos essênios; inclusive, as duas primeiras são citadas no Novo Testamento. Recapitulando: autor desconhecido, escrito por volta de 165-164 A.C., o que nos coloca em data próxima do livro anterior, ou seja, 2 Macabeus. Dn 12,2: “Muitos dos que dormem na terra poeirenta, despertarão; uns para a vida eterna, outros para vergonha, para abominação eterna”. Encontramos a seguinte nota na Bíblia Santuário: O profeta anuncia a libertação de Israel após os horrores levados a efeito por Antíoco Epífanes. Além da ressurreição nacional, o v.2 anuncia a ressurreição da carne (Is 26,29; 2Mc 7,9-14, 2336; 12,43-46). A doutrina da ressurreição da carne é tipicamente bíblica e semita, enquanto que a da imortalidade da alma é de sabor mais helênico. (pp. 1338-1339). Aqui, como já explicamos anteriormente sobre Ezequiel, é provável que a ideia seja mesmo a da ressurreição nacional, ou seja, restauração do povo de Israel. Vejamos agora o que ainda mais encontramos para desvendar qual era o conceito de ressurreição. a) Voltar à vida no mesmo corpo Elias, que ressuscitou um filho de uma viúva (1Rs. 17,17-24); Elizeu, que fez o mesmo com um filho de uma sunamita (2Rs. 4,32-37); Pedro, por ter ressuscitado a jovem chamada Tabita (At. 9,36-41); 131


Paulo, que fez voltar à vida o menino Êutico, que havia morrido após ter caído de uma janela (At. 20,9-12); Jesus, a filha de Jairo (Mt. 9,18-26; Mc. 5,21-24.35-43; Lc. 8,40-42.49-56), o filho da viúva de Naim (Lc. 7,11-17) e Lázaro (Jo. 11,1-44). Será que realmente houve propriamente uma morte? Devemos observar, que no caso da filha de Jairo, Jesus disse: “a menina não morreu, está dormindo” (Mt. 9,24; Mc. 5,39 e Lc. 8,52). Em relação a Lázaro a coisa é mais complicada, pois, apesar de Jesus ter afirmado que “esta doença não é para a morte” (Jo. 11,4), e “nosso amigo Lázaro dorme” (Jo. 11,11), o texto bíblico apresenta uma contradição a partir do versículo 13 a 16, dizendo que se trata de morte mesmo. Ora, isso, a nosso ver, decorre de um acréscimo ao texto original para se justificar a tese da ressurreição corporal, cujo teor, se retirarmos do texto não ocasiona solução de continuidade da narrativa, mantendo incólume o contexto. Temos dito, em várias oportunidades, que os médicos de hoje, se tivessem vivido naquele tempo, seriam considerados “profetas”, pois, com certeza, com os actuais conhecimentos de medicina, iriam “ressuscitar” inúmeras pessoas. A grande questão é saber se Lázaro e a filha de Jairo, e o filho da viúva de Naim estavam realmente mortos, ou se passaram por uma EQM - Experiência de Quase Morte, que tem despertado o interesse de vários pesquisadores nos tempos actuais... Esse conceito é o popular; mas, como já demonstramos pelo Dicionário Bíblico, ele não é exacto. b) Voltar à vida em outro corpo Lc 9,7-9: “O tetrarca Herodes, porém, ouviu tudo o que se passava, e ficou muito perplexo por alguns dizerem: ‘É João que foi ressuscitado dos mortos’; e outros: ‘É Elias que reapareceu’; e outros ainda: ‘É um dos antigos profetas que ressuscitou”. Herodes, porém, disse: ‘A João eu mandei decapitar. Quem é esse, portanto, de quem ouço tais coisas?’ E queria vê-lo”. (ver Mt 14,1-2 e Mc 6,14-16). Lc 9,18-19: “Um dia Jesus rezava num lugar retirado e seus discípulos estavam com ele. Ele lhes fez a seguinte pergunta; ‘Quem sou eu no dizer das turbas?’ Eles responderam: ‘Para uns, João Baptista, para outros, Elias ou algum dos antigos profetas ressuscitado’”. (ver também Mt 16,13-14; Mc 8,27-28). Por essas passagens podemos perfeitamente saber que o povo realmente acreditava que alguém, que já havia morrido, poderia voltar como outra pessoa; senão, não teria sentido o que o povo pensava a respeito de Jesus. E se isso não fosse possível, com certeza, Jesus não teria feito essa pergunta; e, mais ainda: teria dito dessa impossibilidade, em função da resposta dada pelos discípulos. Assim, fica claro que o conceito de ressuscitar aqui nessas passagens pode muito bem ser entendido por reencarnar. Somente devemos fazer uma ressalva quanto a João Baptista, que não poderia se enquadrar nesse conceito; nós o estaremos explicando no item “d”. c) Resurgir em Espírito Qual a ressurreição foi pregada por Jesus: a da carne ou a do Espírito? Para responder essa questão é necessário lermos a resposta que Jesus deu aos saduceus, negadores da ressurreição, sobre uma mulher que, para cumprir a lei mosaica, teve que casar com os sete irmãos. A dúvida deles era: quando da ressurreição ela seria mulher de qual deles? A isso responde Jesus: “As pessoas deste mundo se casam. Contudo, as que são julgadas dignas de ter parte naquele mundo e na ressurreição dos mortos, lá não se casam. E já não podem morrer outra vez, porque são iguais aos anjos e filhos de Deus, sendo 132


participantes da ressurreição”. (Lc 20, 34-36). Se os que morrem são iguais aos anjos, isso significa que serão seres espirituais; daí, não se justifica mais o casamento, que é coisa para os que possuem corpos materiais. Jesus disse que “O espírito é que dá vida, a carne de nada serve” (Jo 6,63), o que vem reforçar a nossa natureza como sendo a espiritual. Por outro lado, partindo de que “Deus é Espírito” (Jo 4,24) e que somos a sua imagem e semelhança, é inevitável concluirmos que, na verdade, somos também Espíritos. Seguindo a leitura de Lucas, temos: “E que os mortos ressuscitem, é Moisés quem dá a conhecer através do episódio da Sarça Ardente, quando chama ao Senhor: o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó. Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos; para ele, então, todos são vivos”. (Lc 20,37-38). Considerando que se afirma, na narrativa, que Abraão, Isaac e Jacó “todos são vivos” e que ainda não aconteceu o juízo final, para a esperada ressurreição dos corpos; considerando que os três tiveram morte física, é de se deduzir que, se eles estão vivos, estão, portanto, vivos em Espírito. E, concluindo: pela comparação de Jesus, eles já ressuscitaram, ou seja, estão vivendo a vida do Espírito; por isso, não morrem mais. Disso concluímos que, o que Jesus ensinou foi a ressurreição do Espírito; não a do corpo físico, dogma de igrejas tradicionais. O que também poderá ser confirmado em Paulo, quando diz: “a carne e o sangue não poderão herdar o reino de Deus” (1Cor 15,50). d) Ressurgir em Espírito influenciando outra pessoa Mt 14,1-2: “Naquele tempo, Herodes, o tetrarca, veio a conhecer a fama de Jesus e disse aos seus oficiais: ‘Certamente se trata de João Baptista: ele foi ressuscitado dos mortos e é por isso que os poderes operam através dele!’”. Essa passagem nós a estamos a colocar para explicar a questão de João Baptista. Ora, se acreditavam que Jesus estava fazendo prodígios porque “os poderes de João Baptista operam através dele”, isso, num português bem claro, seria a possibilidade de um morto exercer algum tipo de influência sobre um vivo. Confirmando, pelo menos como uma hipótese muito provável, que aceitavam a interferência dos mortos sobre os vivos, ou seja, isso nada mais é do que a comunicação entre os dois planos da vida. Assim, também, podemos dizer que ressurreição, neste caso, seria a volta de um morto à sua condição de espírito.

Conclusão Podemos concluir que o conceito de ressurreição não é só o que nos têm passado as tradições religiosas. É mais abrangente. Mas, ainda ficou uma questão no ar, poderá alguém nos falar. Sim, deixamos de propósito para falar agora: Jesus não ressuscitou no corpo físico? Tudo parece indicar que não, apesar de que isso possa lhe causar um certo choque. Explicaremos. Sabemos que em várias oportunidades, Jesus disse aos seus discípulos que ressuscitaria após sua morte. Preocupa-nos a compreensão correcta do que, em seu conceito, era a ressurreição. Vejamos a seguinte passagem: Lc 20,37-38: “E que os mortos ressuscitem, é Moisés quem dá a conhecer através do episódio da Sarça Ardente, quando chama ao Senhor: o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó. Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos; para ele, então, todos são vivos”. Veja bem; se Jesus, referindo-se a pessoas que haviam morrido, diz que, para Deus, todos “são vivos” é porque nossa individualidade sobrevive após a morte; em outras palavras, poderia estar referindo-se à nossa condição de espíritos eternos. Ao que chamamos de morte é apenas um processo, ao qual nosso espírito, em seu regresso ao plano espiritual, de onde 133


veio, devolve à natureza os elementos constitutivos do corpo físico, cuja finalidade era viabilizar o seu desenvolvimento moral e intelectual. Em vista disso, é que devemos entender que a ressurreição de que Jesus falava não era no corpo físico, e sim o ressurgir em espírito. Foi o que aconteceu com ele. Depois de sua morte, esteve ainda na terra em seu corpo espiritual, conforme se encontra em Actos: “Após sua paixão, ele lhes mostrou, com muitas provas, que estava vivo, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando-lhes do Reino de Deus” (At 1,3). Através das explicações dadas por quem estuda outras hipóteses, ficamos a saber que, por informação dos próprios espíritos, que eles se manifestam em seu corpo espiritual, denominado perispírito. Nele é evidenciada toda a evolução moral do espírito; assim quanto mais luminoso for, maior evolução e, como consequência, quanto menos luz produzir, mais inferior é o espírito. Deve ser pelo motivo de sua luminosidade que, em algumas situações, Jesus não foi reconhecido pelos seus discípulos, como observamos em Mc 16,12: “Depois disto, ele apareceu sob outra forma, a dois deles que estavam a caminho do campo”. Também ao aparecer a Saulo, na estrada de Damasco (At 9,3-9), veio em sua plenitude espiritual, facto que impossibilitou aos que presenciavam o fenómeno de vê-lo; só ouviram sua voz. Ao narrar esse acontecimento, Paulo diz: “... aí pelo meio-dia, de repente uma grande luz que vinha do céu brilhou ao redor de mim” (At 22,6-9), o que confirma o que estamos dizendo sobre o perispírito reflectir a evolução moral. Pelo que nos foi dito, a matéria, igualmente, não oferece nenhuma resistência a esse corpo perispiritual. Temos a prova disso pelo facto de Jesus ter entrado em ambiente fechado: “Oito dias depois, os discípulos se achavam de novo na casa, e Tomé com eles. Jesus entrou, estando as portas fechadas, pôs-se no meio deles e os cumprimentou: A paz esteja convosco!”. (Jo 20,26). Podemos aceitar também que, em algumas circunstâncias, Jesus se materializou diante dos discípulos. Neste caso tornou-se tangível, o que podemos verificar quando diz: “Olhai para minhas mãos e pés: sou eu mesmo! Apalpai-me e vede: um fantasma não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho! Dizendo isto, mostrou-lhes mãos e pés. Mas como hesitavam em acreditar, por causa da muita alegria, e continuavam espantados, Jesus lhes disse: ‘Tendes aqui alguma coisa para comer?’ Deram-lhe um pedaço de peixe grelhado. Ele o tomou e comeu na presença deles”. (Lc 24,39-43). Segundo aquela explicação, é bem provável que Jesus, ao se materializar, precisou demonstrar sua tangibilidade, tendo em vista que nem os discípulos nem os de sua época tinham conhecimento dos mecanismos das manifestações espirituais para entender o que estava a acontecer. Temos que convir que, em certos relatos do Evangelho, existem alguns exageros. Assim, determinados acontecimentos foram colocados buscando valorizar os factos ou a pessoa quem os produziu. Vejamos, como exemplo, o que consta em Jo 21,25: “Há, porém, muitas outras coisas que Jesus fez. Se todas elas fossem escritas uma por uma, creio que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que seriam escritos”. Dito isso, vamos à 1ª carta aos Coríntios 15, 3-6: “Eu vos transmiti principalmente o que eu mesmo recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; que foi sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras; que apareceu a Cefas, depois aos doze. Em seguida apareceu, de uma só vez, a mais de quinhentos irmãos, dos quais a maior parte vive ainda hoje, embora alguns tenham morrido”. Nenhum dos quatro evangelistas fala que Jesus teria aparecido a quinhentas pessoas, assim podemos supor que pode ser apenas um exagero de Paulo. 134


Por outro lado, até mesmo a questão de Jesus ter ficado quarenta dias no meio dos discípulos poderíamos entender de outra forma, pois o número 40 possuía, para eles, um significado importante; observe esses exemplos: - O povo hebreu permaneceu 40 anos no deserto (Nm 14,33-34); - No dilúvio choveu 40 dias e 40 noites (Gn 7,12.17); - Jacó ao morrer ficou 40 dias embalsamado (Gn 50,2-3); - Moisés ficou no Sinai 40 dias e 40 noites, quando recebe os Mandamentos (Ex 24,18); - Deus, por castigo, entrega os israelitas aos filisteus por 40 anos (Jz 13,1); - Em desafio um filisteu se apresenta ao exército hebreu por 40 dias (1Sm 17,16); - David reinou por 40 anos (2Sm 5,4); - O templo tinha 40 côvados.(1Rs 6,17); - O reinado de Salomão durou 40 anos (1Rs 11,42); - Elias, após comer o que um anjo lhe dá, caminha 40 dias e 40 noites (1Rs 19,8); - Jesus jejuou 40 dias e 40 noites (Mt 4,2). Carlos Torres Pastorino, no Livro A Sabedoria do Evangelho (vol. I, p. 9), quando fala sobre como devemos fazer a interpretação da Bíblia, coloca: Os números possuem sentido muito simbólico, assim: 10 – diversos. 40 – muitos. 07 – grande número. 70 – todos, sempre. Então, conclui, esse autor: “não devem ser tomados à risca”. Dessas aparições de Jesus podemos realçar duas coisas. A primeira, é que há vida após a morte; caso contrário, ninguém poderia aparecer depois de morto. A segunda, é que os mortos se comunicam com os vivos, por mais que alguns ainda venham dizer que isso não pode ocorrer. Alguns querem sustentar que Jesus tenha se manifestado com o corpo físico; entretanto isso não condiz com o que podemos tirar dos acontecimentos. Então o Mestre não ressuscitou no corpo físico? Reafirmamos: não, apesar de que isso possa lhe causar um certo choque; no entanto, analisemos: Quando se apresenta a Maria de Madalena, Jesus diz a ela: “não me toques porque ainda não subi para meu Pai” (Jo 20,17). Entretanto, em relação a Tomé disse: “Põe aqui o teu dedo, vê as minhas mãos, aproxima também a tua mão, põe-na no meu lado” (Jo 20,27), nos parecendo uma contradição. Ainda fica mais difícil compreender quando colocam Jesus dizendo “porque um espírito não tem carne, nem ossos, como vós vedes que eu tenho” (Lc 24,39), e, na sequência, ele está comendo peixe assado (Lc 24,42-43). Tudo isso nos parece uma montagem para justificar a ideia que os hebreus tinham que a alma não sobreviveria sem o corpo físico. No livro de Tobias, encontramos um anjo fazendo coisas comuns ao seres humanos, inclusive comendo; mas, ao final, ele declara: “Eu sou Rafael, um dos sete anjos... Vocês pensavam que eu comia, mas era só aparência... E o anjo desapareceu. Quando se levantaram, não o puderam ver mais”. (Tb 12,15-22). No caso de Jesus não poderia ser uma materialização? Nessa hipótese, estaria justificada a questão de ser tangível. Mas, considerando que, em determinadas oportunidades, se manifesta e ninguém o reconhece, somente acontecendo após algum gesto, como isso poderia ocorrer se ele tivesse ressuscitado no corpo físico? Se fosse em espírito poderia muito bem pela sua evolução espiritual transparecer com tanta luz que não conseguiram mesmo identificá-lo prontamente. 135


Teria Ele, quando vivo, dito algo que negaria depois de morto, já que acreditamos que o que pregou mesmo foi a ressurreição do Espírito? Todos os evangelistas são unânimes em dizer que o corpo de Jesus foi colocado num túmulo novo. Enquanto pela narrativa de Mateus (27,59-60) e Marcos (15,46) o túmulo era de José de Arimatéia, Lucas (23,52) não dá a entender isso e João (19,41-42) diz que o túmulo se localizava no jardim perto do lugar onde Jesus fora crucificado, e o colocaram lá porque estava perto, ficando, portanto, a ideia que não pertencia a José de Arimatéia. Preste atenção: “colocaram” e não “enterraram”; não seria, por conseguinte, um lugar provisório? Em Actos (5,1-11), quando se narra a morte de Ananias, e, logo após, a de Safira, sua mulher, está dito: “levaram para enterrar” (At 5,6.10), ou seja, em definitivo. Assim, por falta de maiores comprovações, podemos concluir que o lugar onde colocaram o corpo de Jesus não seria o seu túmulo definitivo, o que, provavelmente, foi feito depois; daí, a razão do desaparecimento de seu corpo, hipótese mais provável, pelas narrativas. Por outro lado, no Domingo de manhã, dois dias depois da morte de Jesus, algumas mulheres compraram perfumes e foram ao sepulcro para embalsamar o corpo (Mc 16,1; Lc 24,1), reforçando a ideia de que foi colocado ali provisoriamente. No relato de João (20,1-2) somente Maria Madalena foi ao sepulcro, sem dizer o motivo e que, ao encontrá-lo vazio, diz: “Retiraram do sepulcro o Senhor e não sabemos onde o puseram”. (20,2), ou seja, falou exactamente o que se esperava acontecer para um lugar provisório. Por que estamos dizendo isso? Quem vai nos tirar desse impasse? Em Actos (16,7) Paulo e Timóteo tentam entrar na Bitínia; aí diz o texto: “mas o Espírito de Jesus os impediu”. Em 2Cor 3,17, Paulo afirma: “O Senhor é Espírito”. Pedro nos diz que Jesus: “...sofreu a morte em seu corpo, mas recebeu vida pelo Espírito” (1Pe 3,18) e nos dá outra informação dizendo que Jesus foi pregar o Evangelho aos mortos (1Pe 4,6); se isso aconteceu, Jesus só poderia ter feito em Espírito. Assim, tudo se converge para a ideia de que Jesus, após sua morte, ressuscitou em Espírito. A conclusão final, portanto, fica-nos que a ressurreição contida na Bíblia é a do Espírito e não a do corpo. E sendo a do Espírito, a consequência é a influência do Espírito sobre um encarnado. Fica aí evidenciada a necessidade de uma exegese (interpretação) mais realista dos factos acontecidos, já que aquilo que os teólogos nos colocaram não condiz com a realidade.

Ressurreição ou Reencarnação? Assunto ligado especialmente às crenças religiosas nos leva a buscar como fonte de pesquisa a Bíblia. Antigo Testamento Isaías 26, 19: Os teus mortos e também o meu cadáver viverão e ressuscitarão; despertai e exultai, os que habitais no pó, porque o teu orvalho será como o orvalho das ervas, e a terra lançará de si os mortos. Daniel 12, 1-2: E naquele tempo se levantará Miguel, o grande príncipe, que se levanta a favor dos filhos do teu povo, e haverá um tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o teu povo, todo aquele que for achado escrito no livro. E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno.

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Oseias 6, 1-2: Vinde, e tornemos ao Senhor, porque ele despedaçou, e nos sarará; feriu, e nos atará a ferida. Depois de dois dias nos dará a vida; ao terceiro dia nos ressuscitará, e viveremos diante dele. Podemos constatar que, desde a antiguidade, já se acreditava que um dia iremos ressuscitar. Entretanto, essa ideia não era muito nítida quanto a sua abrangência e quanto a época em que ocorrerá a nossa ressurreição. Daniel, por exemplo, diz que muitos dos que dormem ressuscitarão. Será que estaria querendo dizer que a ressurreição não seria para todos? Diz mais, que uns para a vida eterna e outros para a vergonha e desprezo eterno. Não devemos atribuir a Deus sentimento de desprezo, ainda mais eterno, pois onde ficaria sua misericórdia que também é eterna? Poderíamos sim, ver aí apenas um simbolismo: os que irão para a vida eterna são os Espíritos que não necessitam mais da reencarnação, ao passo que os que irão para a vergonha e desprezo eterno, são os que ainda permanecerão presos ao ciclo das reencarnações sucessivas, até que um dia atinjam as mesmas condições dos primeiros. Devemos entender que esse ciclo é eterno enquanto dure, já que o termo eterno, neste caso, significa um período de longa duração. Oseias já nos traz a ideia de uma ressurreição próxima ao da nossa passagem para o mundo espiritual, para vivermos eternamente diante de Deus. Diferente de Daniel não faz qualquer tipo de exclusão, como também, não fala de nenhuma condenação eterna. De sua fala podemos concluir que todos receberemos o prémio. Muito embora não seja tão imediato esse estar "vivendo diante Dele", mas sim, quando nos tornarmos Espíritos puros, não necessitando mais reencarnar. Novo Testamento Mateus 14, 1-2: "Por aquela mesma época, o tetrarca Herodes ouviu falar de Jesus. E disse aos seus cortesãos: "É João Baptista que ressuscitou. É por isso que ele faz tantos milagres". Mateus 16, 13-14: "Chegando ao território de Cesareia de Felipe, Jesus perguntou a seus discípulos: "No dizer do povo, quem é o Filho do homem?" Responderam: "Uns dizem que é João Baptista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas" Temos agora, a primeira ideia que faziam da ressurreição é o que denominamos de reencarnação. Se pensavam que Jesus poderia ser João Baptista, Elias, Jeremias ou um dos profetas, é porque, sem sombra de dúvidas, acreditavam que alguém morto poderia voltar em outro corpo, não há como fugir dessa verdade. Entretanto, neste caso específico, Jesus só não poderia ser João Baptista reencarnado, pois eles viveram na mesma época. Mateus 11, 14: "E, se quereis compreender, é ele o Elias que devia voltar". É uma afirmação positiva de Jesus. Ao falar que João Baptista era o Elias, Jesus diz em outras palavras, e numa expressão mais simples, que João Baptista era o Elias reencarnado. A expressão "devia voltar" pode-se muito bem entender que estaria querendo dizer "devia ressuscitar". Mateus 28, 5-6: Mas, o anjo disse às mulheres: "Não temais! Sei que procurais a Jesus que foi crucificado. Não está aqui: ressuscitou como disse". Comprovação evangélica de que a ressurreição, como voltar à condição de espírito existe, e ninguém contesta tal possibilidade. Seria a segunda ideia que tinham a respeito da ressurreição. Já que a ressurreição aqui narrada não se trata da dita ressurreição do final dos tempos, podemos concluir, sem medo de errar, que naquela época, acreditavam em dois tipos de 137


ressurreição. Hoje compreendemos estes dois tipos da seguinte forma: um imediato quando, pela morte do nosso corpo físico, voltamos à condição de Espírito; outra no final dos tempos quando, finalmente sairmos do ciclo da reencarnação tornando-nos espíritos puros. Mateus 9, 18-19 e 23-26: "Falava ele ainda, quando se apresentou um chefe de sinagoga. Prostrou-se diante dele e lhe disse: "Senhor, minha filha acaba de morrer: Mas vem, impõe-lhe as mãos e ela vivera". Jesus levantou-se e o foi seguindo com seus discípulos. Chegando à casa do chefe da sinagoga, viu Jesus os tocadores de flauta e uma multidão alvoroçada. Disselhes: "Retirai-vos, porque a menina não está morta; ela dorme". Eles, porém, zombaram dele. Tendo saído a multidão, ele entrou, tomou a menina pela mão e ela levantou-se. Esta notícia espalhou-se por toda a região". Lucas 7, 11-16: "No dia seguinte dirigiu-se Jesus a uma cidade chamada Naim. Iam com ele diversos discípulos e muito povo. Ao chegar perto da porta da cidade, eis que levavam um defunto a ser sepultado, filho único de uma viúva; acompanhava-a muita gente da cidade. Vendo-a o Senhor, movido de compaixão para com ela, disse-lhe: "Não chores!" E aproximouse, tocou no esquife, e os que o levavam, pararam. Disse Jesus: "Moço, eu te ordeno, levantate". Sentou-se o que estivera morto e começou a falar, e Jesus entregou-o à sua mãe". Estes dois casos de ressurreição poderiam muito bem serem idênticos aos que ainda acontecem nos dias de hoje. Apesar de todo o avanço da Medicina do Século XX ela também se engana. Vejam o que foi registado pelo Jornal "O Estado de Minas" na coluna "Um dia no Mundo": Em 01.11.94 – Título: Ex-defunto "Uma religiosa budista de 71 anos provocou pánico entre os sacerdotes presentes em seu enterro, quando acordou em meio a seu próprio funeral, depois de ter parado de respirar durante 24 horas, informou ontem uma fonte de Bangcoc. A ex-defunta foi levada então para um hospital e estava bem viva e em boa saúde, segundo declarou um médico, explicando que a religiosa sofrera um ataque de diabetes e perdido os sentidos (mas nada disse sobre o facto de ele ter parado de respirar)". Em 18.04.96 – Título: Ressurreição "A britânica Maureen Jones, 59 anos, foi oficialmente declarada morta por um médico depois de sofrer um ataque de diabetes. Momentos depois, cumprindo função de rotina, policiais examinaram o corpo e, mexendo em suas pernas, a ressuscitaram. Este foi o segundo caso deste tipo neste ano na Grã-Bretanha. Em Janeiro, a mulher de um fazendeiro, Daphne Banks, 61 anos, foi encontrada viva dentro de um necrotério, na região central do país, depois que um médico a declarou morta. Mais tarde, Daphne disse que estava tentando se matar". Se nos dias actuais ainda acontece isso, imaginem antigamente, quando a Medicina não conhecia tais fenómenos. Era, ou não era, para tê-los como milagre? Observar que no caso da filha de Jairo, Jesus chegou a dizer "a menina não está morta; ela dorme", assim houve, na verdade, uma cura, não uma ressurreição propriamente dita. João 11, 1-44: Ora, estava enfermo um homem chamado Lázaro, de Betánia, aldeia de Maria e de sua irmã Marta. E Maria, cujo irmão Lázaro se achava enfermo, era a mesma que ungiu o Senhor com bálsamo, e lhe enxugou os pés com os seus cabelos. Mandaram, pois, as irmãs dizer a Jesus: Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas. Jesus, porém, ao ouvir isto, disse: Esta enfermidade não é para a morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela. Ora, Jesus amava a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro. Quando, pois, ouviu que estava enfermo, ficou ainda dois dias no lugar onde se achava. Depois disto, disse a seus discípulos: Vamos outra vez para Judeia. Disseram-lhe eles: Rabi, ainda agora os judeus procuravam apedrejar-te, e voltas para lá? Respondeu Jesus: Não são doze as horas 138


do dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo; mas se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz. E, tendo assim falado, acrescentou: Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono. Disseram-lhe, pois, os discípulos: Senhor, se dorme, ficará bom. Mas Jesus falara da sua morte; eles, porém, entenderam que falava do repouso do sono. Então Jesus lhes disse claramente: Lázaro morreu; e, por vossa causa, folgo de que eu lá não estivesse, para que creiais; mas vamos ter com ele. Disse, pois, Tomé, chamado Dídimo, aos seus condiscípulos: Vamos nós também, para morrermos com ele. Chegando, pois Jesus encontrou-o já com quatro dias de sepultura. Ora, Betánia distava de Jerusalém cerca de quinze estádios. E muitos dos judeus tinham vindo visitar Marta e Maria, para as consolar acerca de seu irmão. Marta, pois, ao saber que Jesus chegava, saiu-lhe ao encontro; Maria, porém, ficou sentada em casa. Disse, pois, Marta a Jesus: Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. E mesmo agora sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá. Respondeu-lhe Jesus: Teu irmão há de ressurgir. Disse-lhe Marta: Sei que ele há de ressurgir na ressurreição, no último dia. Declarou-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, jamais morrerá. Crês isto? Respondeu-lhe Marta: Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo. Dito isto, retirou-se e foi chamar em segredo a Maria, sua irmã, e lhe disse: O Mestre está aí, e te chama. Ela, ouvindo isto, levantou-se depressa, e foi ter com ele. Pois Jesus ainda não havia entrado na aldeia, mas estava no lugar onde Marta o encontrara. Então os judeus que estavam com Maria em casa e a consolavam, vendo-a levantar-se apressadamente e sair, seguiram-na, pensando que ia ao sepulcro para chorar ali. Tendo, pois, Maria chegado ao lugar onde Jesus estava, e vendo-o, lançou-se-lhe aos pés e disse: Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Jesus, pois, quando a viu chorar, e chorarem também os judeus que com ela vinham, comoveu-se em espírito, e perturbou-se. E perguntou: Onde o puseste? Responderam-lhe: Senhor, vem e vê. Jesus chorou. Disseram então os judeus: Vede como o amava. Mas alguns deles disseram: Não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer também que este não morresse? Jesus, pois, comovendo-se outra vez, profundamente, foi ao sepulcro; era uma gruta, e tinha uma pedra posta sobre ela. Disse Jesus: Tirai a pedra. Marta, irmã do defunto, disse-lhe: Senhor, já cheira mal, porque está morto há quase quatro dias. Respondeulhe Jesus: Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus? Tiraram então a pedra. E Jesus, levantando os olhos ao céu, disse: Pai, graças te dou, porque me ouviste. Eu sabia que sempre me ouves; mas por causa da multidão que está em redor é que assim falei, para que eles creiam que tu me enviaste. E, tendo dito isso, clamou em alta voz: Lázaro, vem para fora! Saiu o que estivera morto, ligados os pés e as mãos com faixas, e o seu rosto envolto num lenço. Disse-lhes Jesus: Desligai-o e deixai-o ir". Se Jesus disse: "esta enfermidade não é para a morte" reafirmando, por essa outra, que "Lázaro, nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono" ora, essas duas afirmativas, estariam em contradição com a seguinte: "Então Jesus lhes disse claramente: Lázaro morreu". Como não aceitamos que Jesus tenha se contradito, preferimos acreditar que houve uma interpolação ao texto original, para reforçar a ideia da ressurreição da carne, coisa que Jesus nunca ensinou, já que falava da ressurreição espiritual. Paulo confirma isso ao dizer que: "Irmãos, garanto o seguinte: a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem o que é destrutível herdar a indestrutibilidade" (1 Coríntios 15, 50). Mateus 22, 23-32: "Naquele mesmo dia, os saduceus, que negavam a ressurreição, interrogaram-no: "Mestre, Moisés disse: Se um homem morrer sem filhos, seu irmão case-se com a sua viúva, e dê-lhe assim uma posteridade. Ora, havia entre nós sete irmãos: o primeiro casou-se e morreu. Como não tinha filhos, deixou sua mulher ao seu irmão. O mesmo sucedeu ao segundo, depois ao terceiro, até ao sétimo. Por sua vez, depois deles todos, morreu também a mulher. Na ressurreição, de qual dos sete será a mulher, uma vez que todos a tiveram? Respondeu-lhes Jesus: Errais, não compreendendo as Escrituras nem o poder de 139


Deus. Na ressurreição, os homens não terão mulheres, nem as mulheres maridos: mas serão como os anjos de Deus no céu. Quanto à ressurreição dos mortos, não lestes o que Deus vos disse: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó. Ora, ele não é o Deus dos mortos, mas Deus dos vivos". Nessa passagem Jesus nos traz a ideia de que a ressurreição é mesmo a espiritual. É pensamento comum, principalmente, nas religiões dogmáticas que iremos ressuscitar de corpo e alma no final dos tempos. Isso não condiz com aquele ensinamento de Jesus. Aliás, perguntamos: se os homens não terão mulheres, nem as mulheres maridos, qual a necessidade de ressuscitarmos neste mesmo corpo físico? Não seremos como os anjos do céu? E já que se diz que "anjo não tem sexo", então qual seria utilidade do corpo físico no plano espiritual? Se nós seremos iguais aos anjos do céu é por que os anjos já foram homens? Se Deus, na criação, criou também os anjos, como poderemos distinguir o anjo que foi criado do que foi um homem? Anjos, para nós Espíritas, nada mais são que Espíritos Puros, ou seja, espíritos humanos que evoluíram, os que não mais necessitam reencarnar, são os que "vivem diante Dele". E, para concluir nosso estudo, perguntamos qual das duas hipóteses – ressurreição do corpo ou ressurreição do espírito - estaria mais próxima do reconhecimento da Ciência? Mas, antes de respondermos, teremos que reafirmar: tudo que a ciência vier a descobrir as leis que regulam qualquer tipo de fenómeno, coisa ou situação, ela estará comprovando, na verdade, as leis divinas, já que tudo que existe no Universo é obra de Deus. A ciência diz que nosso corpo é composto principalmente de oxigénio, hidrogénio, azoto e carbono que se combinaram para formá-lo, mas uma vez morrendo e se decompondo, esses elementos vão para novas combinações formar novos corpos minerais, vegetais e animais (aqui incluindo o homem). Assim, não haverá a mínima possibilidade de voltarmos ao mesmo corpo que tínhamos quando vivos. Está em plena expansão a TVP – Terapia de Vidas Passadas. Ainda não se pode dizer que é uma ciência, mas mais cedo do que muitos pensam, estará no rol dela. Bom, a TVP é um processo que, por hipnose ou relaxamento profundo, o terapeuta utiliza para levar o indivíduo às suas vidas passadas, buscando nelas as causas determinantes dos actuais problemas daquele indivíduo. Cada vez mais encontramos médicos, psiquiatras e psicólogos lançando mão deste recurso terapêutico para cura de seus pacientes. Embora não seja uma de suas metas provar a reencarnação, fatalmente chegarão a isso. Além da TVP, encontramos também pesquisas sendo realizadas com métodos científicos buscando a comprovação dos factos relatados por crianças que se lembraram espontaneamente de uma vida anterior. Por outro lado, se entendermos ressuscitar como fazer voltar à vida; reviver; ressurgir, como consta do Dicionário Aurélio e considerando o que se diz popularmente de ressurreição da carne ou, algumas vezes, de ressurreição na carne, podemos perceber duas situações para que isso ocorra. A ressurreição na carne significa voltar a viver em um novo corpo, ou seja, é o que nós denominamos de reencarnação. Já ressurreição da carne, seria a saída definitiva do Espírito do ciclo da ressurreição na carne, para viver sua plena vida de Espírito imortal.

Reencarnação no contexto histórico Pois não há nada de escondido que não venha a ser revelado, e não existe nada de oculto que não venha a ser conhecido". (JESUS, Mt 10,26).

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A cada dia que desenvolvemos nossos estudos sobre o tema reencarnação estamos vendo que, infelizmente, muitas coisas foram expurgadas das Sagradas Escrituras, a verdade pouco lhes importa, com o objectivo de justificar a manutenção de dogmas religiosos. Dogmas esses que ainda servem aos interesses das lideranças religiosas, que buscam de todas as formas fazer com que seus fiéis permaneçam na ignorância e assim sigam acreditando nessa teologia "Adão e Eva". Assim, é que já em Êxodo 20, 5, mudaram a preposição, que fatalmente nos levaria à conclusão da existência da reencarnação, quando trocam o "na" por "até", vejamos: "... porque eu, Iahweh teu Deus, sou um Deus ciumento, que puno a iniquidade dos pais sobre os filhos até a terceira e quarta geração dos que me odeiam". Só que, com essa mudança, o texto entra em conflito com outra passagem bíblica: "Os pais não serão mortos em lugar dos filhos, nem os filhos em lugar dos pais. Cada um será executado por seu próprio crime". (Dt 24, 16). Entretanto, se colocarmos a preposição "na" em lugar da usada no texto, ficaremos perfeitamente coerentes com essa passagem anterior e a justiça divina não puniria um inocente, mas o próprio espírito culpado que nasceria como neto ou bisneto dele mesmo, ou seja, o próprio criminoso reencarnado como um de seus descendentes. Sempre lemos, de outros autores, que a ideia da reencarnação existia no Cristianismo primitivo e existe no judaísmo, como por exemplo, Dr. Severino Celestino da Silva, em Analisando as Traduções Bíblicas, H. Spencer Lewis, F.R.C, Ph.D., no livro A Vida Mística de Jesus e o teólogo alemão Holger Kersten, autor de Jesus Viveu na Índia, do qual transcrevemos: "Até agora, quase todos os historiadores da Igreja acreditaram que a doutrina da reencarnação foi declarada herética durante o Concílio de Constantinopla em 553. No entanto, a condenação da doutrina se deve a uma ferrenha oposição pessoal do imperador Justiniano, que nunca esteve ligado aos protocolos do Concílio. Segundo Procópio, a ambiciosa esposa de Justiniano, que, na realidade, era quem manejava o poder, era filha de um guardador de ursos do anfiteatro de Bizâncio. Ela iniciou sua rápida ascensão ao poder como cortesã. Para se libertar de um passado que a envergonhava, ordenou, mais tarde, a morte de quinhentas antigas ‘colegas’ e, para não sofrer as consequências dessa ordem cruel em uma outra vida como preconizava a lei do Carma, empenhou-se em abolir toda a magnífica doutrina da reencarnação. Estava confiante no sucesso dessa anulação, decretada por ‘ordem divina’". "Em 543 D.C. o imperador Justiniano, sem levar em conta o ponto de vista papal, declarou guerra frontal aos ensinamentos de Orígenes, condenando-os através de um sínodo especial. Em suas Obras De Principiis e Contra Celsum, Orígenes (185-235 D.C.), o grande Padre da Igreja, tinha reconhecido, abertamente, a existência da alma antes do nascimento e sua dependência de acções passadas. Ele pensava que certas passagens do Novo Testamento poderiam ser explicadas somente à luz da reencarnação". "Do Concílio convocado pelo imperador Justiniano só participaram bispos do Oriente (Ortodoxos). Nenhum de Roma. E o próprio Papa, que estava em Constantinopla naquela ocasião, deixou isso bem claro". "O Concílio de Constantinopla, o quinto dos Concílios, não passou de um encontro, mais ou menos em carácter privado, organizado por Justiniano, que, mancomunado com alguns vassalos, excomungou e maldisse a doutrina da pré-existência da alma, apesar dos protestos do Papa Virgílio, com a publicação de seus Anathemata".

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"A conclusão oficial a que o Concílio chegou após uma discussão de quatro semanas teve que ser submetida ao Papa para ratificação. Na verdade, os documentos que lhe foram apresentados (os assim chamados ‘Três Capítulos’) versavam apenas sobre a disputa a respeito dos três eruditos que Justiniano, há quatro anos, havia por um édito declarado heréticos. Nada continham sobre Orígenes. Os Papas seguintes, Pelágio I (556-561), Pelágio II (579-590) e Gregório (590-604), quando se referiram ao quinto Concílio, nunca tocaram no nome de Orígenes". "A Igreja aceitou o édito de Justiniano – ‘Todo aquele que ensinar esta fantástica pré-existência da alma e sua monstruosa renovação será condenado’ – como parte das conclusões do Concílio. Portanto, a proibição da doutrina da reencarnação não passa de um erro histórico, sem qualquer validade eclesiástica". (pág. 240-241). E especificamente quanto ao judaísmo podemos comprovar pelo historiador judeu Flavius Josephus, citado por Dr. Hernani de Guimarães Andrade, no livro Você e a Reencarnação, à página 28. Dr. Hernani em referência a WHISTON (The Works of Flavius Josephus, trad. Willian Whiston, M.A., London: War, Loc & Co. Limited.), diz-nos: Flavius Josephus (37 a 95 D.C.), intelectual e historiador judeu, em sua famosa obra De Bello Judaico, faz a seguinte advertência aos soldados judeus que preferiam desertar, suicidando-se: "Não vos recordais de que todos os espíritos puros que se encontram em conformidade com a vontade divina vivem no mais humildes dos lugares celestiais, e que no decorrer do tempo eles serão novamente enviados de volta para habitar corpos inocentes? Mas que as almas daqueles que cometeram suicídio serão atiradas às regiões trevosas do mundo inferior?" (Josephus, 1910). Entretanto, até nessa clássica obra desse autor da antiguidade modificaram o texto para, obviamente, fugir da ideia da reencarnação, conforme podemos comprovar pela tradução de Vicente Pedroso, publicada no livro História dos Hebreus, (CPAD, 7ª ed., 2003), que diz o seguinte (pág. 600): Não sabeis que Ele difunde suas bênçãos sobre a posteridade daqueles, que depois de ter chamado para junto de si, entregam em suas mãos, a vida, que, segundo as leis da natureza, Ele lhes deu e que suas almas voam puras para o céu, para lá viverem felizes e voltar, no correr dos séculos, animar corpos que sejam puros como elas (*) e que ao invés, as almas dos ímpios, que por uma loucura criminosa dão a morte a si mesmos são precipitados nas trevas do inferno. (*) Parece, segundo estas palavras, que Josefo acreditava na metempsicose (reencarnar em animais).

Observar que apesar dos textos serem bem semelhantes, mudaram todo o sentido do original para fugir da ideia da reencarnação. Dúvida que envolveu até o próprio editor: "Parece, segundo estas palavras, que Josefo acreditava na metempsicose", querendo dissimular o pensamento sobre a reencarnação. Mas se esqueceu de modificar o que disse Josephus, quando fala no que acreditavam os fariseus: "Eles julgam que as almas são imortais, que são julgadas em um outro mundo e recompensadas ou castigadas segundo foram neste, viciosas ou virtuosas; que umas são eternamente retidas prisioneiras nessa outra vida e que outras voltam a esta". (op. cit., pág. 416).

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Entretanto, o mesmo não aconteceu com a tradução do livro Actos dos Apóstolos 23, 8, onde se diz que os fariseus sustentam "a ressurreição", quando, na verdade, deveria ser "a reencarnação", conforme nos informa o historiador judeu. Podemos ainda acrescentar as informações contidas no livro As Rodas da Alma, onde o Rabino Philip S. Berg desenvolvendo o tema dentro da óptica cabalista, diz a certa altura (pág. 29): "Entre todos os que aceitam a doutrina da reencarnação, talvez os cabalistas sejam os únicos que acreditam que uma alma pode retornar num nível inferior daquele que deixou em uma vida anterior. Efectivamente, se o peso do tikun (correcção) for suficientemente pesado, uma alma humana poderá se encontrar reencarnada no corpo de um animal, de uma planta ou até mesmo de uma pedra". "A Cabala é o significado mais profundo e oculto da Torá, ou Bíblia", diz Berg, o que confirma que é um conhecimento do judaísmo místico, segundo suas próprias palavras. Trazemos também a opinião de Sérgio F. Aleixo, escritor e estudioso da Bíblia, que em seu livro Reencarnação – Lei da Bíblia, Lei do Evangelho, Lei de Deus, diz o seguinte (pág. 21): "Neste trabalho, queremos demonstrar que a cultura judaico-Cristã tem precedentes reencarnacionistas incontestáveis, a despeito de as políticas igrejeiras, sustentadas pelos mais absurdos teologismos, se obstinarem ainda em negá-los". É comum a certas pessoas advogarem que devemos, para interpretar a Bíblia, levar em conta o contexto histórico, mas quando o facto é reencarnação não seguem a sua própria recomendação. Os factos históricos estão aí relatados, e não há como mudá-los. Resta então aos fanáticos a humildade de mudarem de posicionamento em relação ao assunto. Embora sinceramente achamos isso muito difícil, pois são completamente cegos, cuja única verdade que aceitam é a que lhes ensinaram, pouco importa se corresponde à realidade ou não. Todos os que pensam diferente deles são "heréticos" que precisam ser combatidos. Aos que ainda nos dias de hoje perseguem os Espíritas por causa desse princípio doutrinário do Espiritismo, recomendamos que leiam mais, mas saiam da literatura de autores "recomendados" e busquem a verdade em outras obras, principalmente de outros autores, estudiosos e pesquisadores da reencarnação, que não os de sua corrente religiosa. Somente os que temem a verdade é que proíbem a leitura de obras fora do "nihil obstat" de sua liderança religiosa.

Reencarnação no Concílio de Constantinopla (Orígenes versus Teodora) Introdução É interessante observar que sempre aparece um ou outro fanático religioso querendo "ser mais realista do que o rei", conhecer mais de Espiritismo do que seus profitentes, e assim, defender seus dogmas dizendo que a reencarnação não fazia parte dos ensinos de Jesus, nem do Cristianismo primitivo. A estes recomendamos que leiam alguns de nossos textos sobre reencarnação, que podem ser acedidos pelos links (cujo conteúdo lido está nos textos anteriores): 1. http://www.apologiaespirita.org/assuntos_biblicos/reencarnacao_na_biblia.htm 2. http://www.apologiaespirita.org/assuntos_biblicos/ressurreicao_significado_biblico.htm 143


3. http://www.apologiaespirita.org/assuntos_biblicos/ressurreicao_ou_reencarnacao.htm 4. http://www.apologiaespirita.org/assuntos_biblicos/reencarnacao_no_contexto_historico.htm Neles abordamos a questão bíblica, daí só iremos nos preocupar aqui com relação ao Cristianismo primitivo, especificamente quanto a Orígenes, considerado um dos pais da Igreja, e sempre citado pelos anti reencarnacionistas, como alguém que não aceitava a ideia da reencarnação. Iremos apresentar vários autores que falam sobre o assunto, inclusive, alguns fora do meio Espírita, para não se colocar sob suspeita essas opiniões, alegando ser isso invenção de Espíritas. O que vários autores falam disto 1. José Reis Chaves (à época era Católico) A preexistência do espírito é uma teoria que prega a existência do espírito, antes da existência do corpo. Foi – como veremos sem outro capítulo – uma das teses defendidas pelo grande sábio Orígenes, e que foi condenada pelo polémico V Concílio Ecuménico de Constantinopla II (553). Se o espírito fosse criado junto com o corpo, a este seria subordinada a existência daquele, mas o que aconteceu é justamente o contrário, pois jamais o espírito é subordinado ao corpo. Este é vivificado pelo espírito, sem o qual não vive; todavia o espírito vive sem o corpo: “O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita” (São João 6:63). Como o espírito é criado por Deus, enquanto que o corpo é criado directamente pelo homem, subordinar a criação do espírito à criação do corpo – e isso querem os antireencarnacionistas – seria querer colocar a criação das obras do homem acima da criação das obras de Deus. Além disso, submeter a criação do espírito à criação do corpo implicaria sujeitar o livre arbítrio de Deus ao livre arbítrio do homem. Em outros termos, Deus, para criar um espírito, dependeria da vontade de um casal de ir para a cama para realizar uma cópula. Na hipótese de que o espírito fosse criado juntamente com o corpo, como se explicaria a criação de um espírito, cujo corpo fosse abortado, se a finalidade de um espírito, para a qual foi criado, é a de vivificar o corpo? Ficaria ele sem exercer eternamente a sua função? E não poderíamos dizer que o corpo abortado seria sempre por culpa dos homens, pois, apesar de isso acontecer, há também os abortos naturais. A preexistência do espírito com relação ao corpo vivificado por ele, é a base fundamental para a Teoria da Reencarnação, pois que, ao admitirmos o reencarne de um espírito, automaticamente estamos admitindo que ele já encarnou antes, pelo menos uma vez que seja. Seria por isso que ela foi condenada pelo V Concílio Ecuménico de Constantinopla II, em 553? É possível, pois as pressões do imperador Justiniano e de sua mulher Teodora, como veremos num outro capítulo, foram muito sérias, para não dizer um caso de polícia, como se diz hoje. Aliás, veremos que, na realidade, ele nem foi condenada por esse tal concílio. (CHAVES, 2002, pp. 139-140). (...) Orígenes é conhecido como um dos maiores sábios do Cristianismo de todos os tempos. Foi praticamente o criador da nossa teologia Cristã. Com apenas 17 anos tornou-se reitor da Universidade de Alexandria, o mais importante centro intelectual do mundo, no século III. O que Santo Agostinho foi para a teologia ocidental, Orígenes foi para a teologia oriental; de sabedoria e inteligência tão brilhantes, que ganhou o título de Adamantino. Além disso, era dotado de um profundo misticismo e de virtudes raras. Chegou a se mutilar para, segundo ele, poder servir melhor ao Evangelho de Jesus Cristo. Isso, sem dúvida, foi um 144


exagero. Nem tanto, talvez, para a mentalidade da época, mas, de qualquer maneira, é um exemplo de seu elevado sentimento de religiosidade. Porém, como sempre acontece com as pessoas cujo brilho ofusca a vista dos invejosos, ele foi vítima da inveja por parte de Demétrio, bispo de Alexandria. Mas Orígenes, num exemplo de humildade e obediência a seu superior eclesiástico, procurava cumprir todas as suas ordens, pois desejava ordenar-se padre. Demétrio, porém, negava-lhe a ordenação. Foi então que o bispo de Jerusalém, Alexandre, e de Cesareia, Teoctisto, ofereceram a Orígenes a ordenação, o que é óbvio ele aceitou. Com isso, Demétrio ficou irado, tentando de todos os meios prejudicar o nome de Orígenes perante a Igreja. E, infelizmente, Demétrio conseguiu o seu objectivo. Porém, perante Deus, a História do Cristianismo e mesmo perante a Igreja de hoje, Orígenes é admirado e citado frequentemente por estudiosos e pesquisadores da Bíblia, da Filosofia e da Teologia. Embora ele tenha tido algumas de suas ideias condenadas pela Igreja, duas delas continuam sendo atacadas normalmente, e não só por Católicos, mas por Protestantes também. E foi o polémico V Concílio Ecuménico de Constantinopla II, de 553, que condenou suas doutrinas célebres: a Preexistência do Espírito e a Apocatástase (restauração de todas as coisas), as quais a humanidade, hoje, está amadurecida para entendê-las, julgá-las e aceitálas. (CHAVES, 2002, pp. 162-163). O V Concílio Ecuménico de Constantinopla II (553) A Igreja teve alguns concílios tumultuosos. Mas parece que o V Concílio de Constantinopla II (553) bateu o recorde em matéria de desordem e mesmo de desrespeito aos bispos e ao próprio Papa Virgílio, Papa da época. O imperador Justiniano tem seus méritos, inclusive o de ter construído, em 552, a famosa Igreja de Santa Sofia, obra-prima da arte bizantina, hoje uma mesquita muçulmana. Era um teólogo que queria saber mais que teologia do que o Papa. Sua mulher, a imperatriz Teodora, foi uma cortesã e se imiscuía nos assuntos do governo do seu marido, e até nos de teologia. Contam alguns autores que, por ter sido ela uma prostituta, isso era motivo de muito orgulho por parte das suas ex-colegas. Ela sentia, por sua vez, uma grande revolta contra o facto de suas ex-colegas ficarem decantando tal honra, que, para Teodora, se constituía em desonra. Para acabar com esta história, mandou eliminar todas as prostitutas da região de Constantinopla – cerca de quinhentas. Como o povo naquela época era reencarnacionista, apesar de ser em sua maioria Cristão, passou a chamá-la de assassina, e a dizer que deveria ser assassinada, em vidas futuras, quinhentas vezes; que era seu carma por ter mandado assassinar as suas ex-colegas prostitutas. O certo é que Teodora passou a odiar a doutrina da reencarnação. Como mandava e desmandava em meio mundo através de seu marido, resolveu partir para uma perseguição, sem tréguas contra essa doutrina e contra o seu maior defensor entre os Cristãos, Orígenes, cuja fama de sábio era motivo de orgulho dos seguidores do Cristianismo, apesar de ele ter vivido quase três séculos antes. Como a doutrina da reencarnação pressupõe a da preexistência do espírito, Justiniano e Teodora partiram, primeiro, para desestruturar a da preexistência, com o que estariam, automaticamente, desestruturando a da reencarnação. Em 543, Justiniano publicou um édito, em que expunha e condenava as principais ideias de Orígenes, sendo uma delas a da preexistência. Em seguida à publicação do citado édito, Justiniano determinou ao patriarca Menas de Constantinopla que convocasse um sínodo, convidando os bispos para que votassem em seu 145


édito, condenando dez anátemas deles constantes e atribuídos a Orígenes [O Mistério do Eterno Retorno, pág. 127-127, Jean Prieur, Editora Best Seller, São Paulo, 1996]. A principal cláusula ou anátema que nos interessa é a da condenação da preexistência que, em síntese, é a seguinte: “Quem sustentar a mítica crença na preexistência da alma e a opinião, consequentemente estranha, de sua volta, seja anátema” [A Reencarnação e a Lei do Carma, pág. 47, William Walker Atikinson, Ed. Pensamento, São Paulo, 1997]. Vamos ver agora essa cláusula na íntegra: “Se alguém diz ou sustenta que as almas humanas preexistiram na condição de inteligências e de santos poderes; que, tendo-se enojado da contemplação divina, tendo-se corrompido e, através disso, tendo-se arrefecido no amor a Deus, elas foram, por essa razão, chamadas de almas e, para seu castigo, mergulhadas em corpos, que ele seja anatematizado!” [O Mistério do Eterno Retorno, pág. 127-127, Jean Prieur, Editora Best Seller, São Paulo, 1996]. (Si quis dicit, aut sentit proexistere hominum animas, utpote quae antea mentes fuerint et sanctae, satietatemque cepisse divinae contemplationis, e in deterius conversas esse; atque ideirco apofixestai id este refrigisse a Dei charitate, et inde fixás graece, id est, animas esse nuncupatas, demissasque esse in corpora suplicii causa: anathema) [Magia e Religião, Dr. Rozier, Editora Iniciação, abril de 1898, tradução para o francês por Papus. A Reencarnação, págs. 89-90, Editora Pensamento, São Paulo, 1995]. (CHAVES, 2002, pp. 185-187). 2. Edward Wriothesley Russel

(Repórter norte americano)

O caso Teodora “A resistência às ideias novas aumenta em função do quadrado de sua importância”. A lei de Russel Cap. 7 – O que passou é prólogo. (...) Embora se esteja quebrando o tabu e o público cada vez mais se interesse pela reencarnação – como qualquer livraria ou jornaleiro o demonstram – os líderes Cristãos, com algumas excepções notáveis, ainda consideram o assunto de grande importância potencial, mas inadequado para discussões. Tudo isso é mais estranho ainda porque a reencarnação é realmente implícita no Cristianismo. Porque os Cristãos acreditavam que Cristo existiu, como o Filho de Deus, antes de se encarnar na forma humana. Acreditam que sua finalidade era levar os homens a se conduzirem como Ele; e que o seu poder permite que o consiga. Os homens, todavia, dificilmente poderiam fazer isto se as suas naturezas e origens fossem completamente diferentes. E se isto acontecesse, certamente Cristo iria mencioná-lo e não iria esperar que fossem como Ele. Por uma das ironias mais divertidas da História, esta atitude estranha do clero do século vinte é parcialmente o resultado das intrigas desapiedadas de uma cortesã super libidinosa do Oriente Médio, que viveu acerca de 1400 anos atrás. Trata-se de Teodora, filha de um guardião de ursos, que se tornou amante e mais tarde a esposa do Imperador bizantino Justiniano. Naquele tempo, muitos Cristãos aceitavam a reencarnação como uma parte essencial do Cristianismo. Seguiam os ensinamentos de Orígenes, um dos sábios mais brilhantes das Igrejas Cristãs primitivas, que uns 250 anos antes escreveu no seu Princípios: “cada alma... vem a este mundo fortificada pelas fraquezas ou vitórias da vida anterior. Seu lugar neste mundo, como um vaso escolhido para honrar ou desonrar, é determinado pelos seus méritos ou deméritos. Seu trabalho neste mundo determina a sua vida num mundo futuro”. Esta filosofia enraiveceu Teodora, que queria acreditar – e que o público acreditasse – que sua actividade neste mundo lhe daria a certeza de uma posição, mais eminente no outro. Esperava, em outras palavras, um “céu” imediato, e naturalmente encarou com desagrado qualquer sugestão de que ela só obteria o “céu” em encarnações sucessivas nas quais expiaria seus crimes. Então esforçou-se por tirar tais noções do Cristianismo. 146


Há suspeitas de que tenha sido a responsável pelo assassinato de dois Papas que a ela se opuseram, segundo o estudo fascinante de suas conspirações desonestas pelo romancista e teatrólogo Noel Langley. E, depois de sua morte, Justiniano, que também esperava um “céu” imediato, encerrou a discussão sobre a reencarnação convocando no ano de 553 o Quinto Concílio Ecuménico da Igreja que – em termos modernos – foi cuidadosamente organizado para declarar que a reencarnação era anátema. Sem dúvida o Imperador e seus bobocas eclesiásticos ordenaram a destruição de qualquer escrito que desenvolvesse ideias sobre a reencarnação porque pretendiam liquidar as últimas reminiscências do ensino sobre esta matéria. E estes escritos poderiam conter algumas das “pérolas” sobre as quais Cristo admoestou seus discípulos que não as jogassem aos porcos – um caminho para segurança, de passagem, que suscitaria uma revolta épica sobre o direito do público de se manter informado se houvesse jornais naqueles tempos. Mas Justiniano e seus colaboradores não fizeram um serviço completo de censura e há ainda algumas referências na bíblia e Apócrifos que, pelo menos, sugerem que a reencarnação foi aceita naturalmente. À primeira vista, é difícil entender por que as Igrejas Cristãs não questionaram a teologia do Imperador e da Imperatriz dissoluta e do falso concílio. Mas, provavelmente, há duas razões para isto: Por muitos séculos a autoridade e os dogmas das Igrejas raramente foram contestados, em parte porque todos os que o tentaram receberam certamente um tratamento doloroso e pouco Cristão. Mais importante, os líderes Cristãos primitivos, que lutaram para aumentar o poder da Igreja, provavelmente julgaram as ideias de Teodora e Justiniano mais eficazes politicamente que o ensinamento da doutrina da reencarnação, porque prometer um “céu” e um “inferno” imediatos dava-lhes mais poder e autoridade que ensinar a doutrina da reencarnação, que promete não somente uma segunda chance mas também muitas outras. Torna-se difícil rejeitar ou modificar um dogma uma vez cristalizado, como poderemos ver pelas angustiantes discussões teológicas de nossa época actual. Assim, devemos compreender nosso clero moderno que sem culpa própria está preso numa gaiola teológica fabricada -bastante estranhamente – pela filha do alimentador de ursos enjaulados, de 1400 anos atrás. (RUSSEL, 1972, pp. 128-130). 3. Elizabeth Clare Phophet Preexistência, reencarnação ou ambos? Uma vez que muitos dos textos de Orígenes foram destruídos, e o restante profundamente alterado, os estudiosos discutem se ele realmente ensinou a reencarnação. Alguns afirmam que ele apenas fala sobre a preexistência: a existência da alma antes do corpo. Mas, no tempo de Orígenes, a preexistência e a reencarnação eram inseparáveis. Algumas vezes Orígenes parece confirmar a reencarnação, em outras foge ao assunto e, numa certa ocasião, ele a nega. Para descobrirmos a verdadeira crença de Orígenes, precisamos avaliar essa sua única negação no contexto dos seus outros escritos, do tempo em que viveu e da sua prática deliberada do sigilo. Depois de examinarmos todos esses elementos, ficará claro que ele ensinou a reencarnação secretamente. Para Orígenes, a reencarnação fazia parte de um sistema de salvação – uma salvação baseada no esforço individual e no relacionamento da alma com o Deus interior que acabaria conduzindo à união com Deus. Nos séculos II e III muitas pessoas cultas aceitavam a reencarnação. Sabemos que pelo menos cinco fontes que afirmavam a reencarnação eram familiares a Orígenes: 1. As Escrituras Cristãs e judaicas – Orígenes conhecia bem as tradições judaicas sobre a reencarnação e a divinização e, às vezes, parecia fazer eco à palavras de Filon, que escreveu sobre a reencarnação. Orígenes acreditava que os judeus ensinavam a reencarnação.

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2. Os clássicos gregos – Os textos de Platão e Pitágoras fizeram parte da educação de Orígenes. 3. O Gnosticismo – Orígenes absorveu este conceito através de um professor chamado Paulo de Antioquia. 4. O neoplatonismo – Orígenes estudou-o com o seu fundador, Amónio Sacas. 5. Clemente de Alexandria, um professor Cristão que dirigiu a escola de catequese antes de Orígenes. – Diz-se que ele ensinava a reencarnação. Existe ainda uma possível sexta fonte para a crença de Orígenes na reencarnação. Ele pode tê-la aceito por ter-se convencido – através do estudo do Gnosticismo, dos escritos de Clemente ou de outras escrituras que se perderam – de que a reencarnação fazia parte dos ensinamentos secretos de Jesus. Se Orígenes tivesse rejeitado a reencarnação, teria que ter sido coerente e defendido da sua posição diante das pessoas cultas da sua audiência, porque muitas, sendo neoplatónicas e gnósticas, acreditavam na reencarnação. Mas não existe qualquer registo disto. Ao contrário, perguntava constantemente se os actos das vidas anteriores não seriam a causa dos problemas que as pessoas enfrentavam. Em sua obra Sobre os Primeiros Princípios Orígenes explica que as almas são enviadas para o seu “lugar, região ou condição” de acordo com os actos realizados “antes da vida actual”. Deus “organizou o universo de acordo com o princípio de uma retribuição totalmente imparcial”, diz ele. Deus não criou “com favoritismos” mas deu corpos às almas “de acordo com os pecados de cada uma”. Orígenes pergunta: “Se as almas não existiam previamente, por que encontramos cegos de nascença que nunca pecaram, enquanto outros nascem sãos?” Ele responde à sua própria pergunta: “É claro que alguns pecados existem [isto é, foram cometidos] antes das almas [terem corpos] e, como resultado, cada alma recebe a recompensa de acordo com o seu mérito”. Em outras palavras, o destino das pessoas é determinado por suas acções anteriores. Estas passagens demonstram que Orígenes ensinou a preexistência da alma. E, certamente, trazem implícito o conceito da reencarnação. Como observou o teólogo do século XII, Tomás de Aquino, quem quer que tenha afirmado a preexistência da alma afirmou implicitamente a reencarnação. Ao dizer que o nosso destino resulta de nossas acções passadas, Orígenes dá a entender que tivemos alguma forma de existência anterior que precedeu o nosso corpo actual. Para Orígenes a conclusão óbvia é que a esta existência anterior também foi vivida sob a forma humana. Um mar tempestuoso A falta de referência explícitas sobre a reencarnação nos textos de Orígenes deve-se ao facto dele ter ocultado sua crença, por temer represálias de seus superiores, que já a haviam excluído de sua teologia. Quando escreveu Sobre os Primeiros Princípios, pretendia reservá-lo aos seus discípulos mais avançados. Mas cópias deste trabalho acabaram vindo a público e envolvendo-o em controvérsias. Mas tarde, comparou as atribulações causadas pela sua doutrina a um mar tempestuoso e passou a ser mais cauteloso com os seus escritos. Demétrio, bispo de Orígenes, invejava seu crescente prestígio e irritava-se com as suas especulações filosóficas. Em 215, quando Orígenes já dirigia a escola de catequese há mais de 10 anos, Demétrio proibiu-o de pregar na igreja por nunca ter sido ordenado padre. Mas ele era muito requisitado em outros locais. Numa visita a Cesareia, na Palestina, Orígenes pregou a pedido do bispo local. Enfurecido, Demétrio exigiu que ele retornasse a Alexandria. Mas sua fama continuou a se espalhar pelo império, inclusive na Corte. Julia Mamea, mãe do Imperador Alexandre Severo e eminência parda do trono, convocou Orígenes para que lhe explicasse o Cristianismo. 148


No ano de 231, Orígenes deixou Alexandria e retornou a Cesareia, onde o bispo local o ordenou à revelia de Demétrio. Utilizando como pretexto a ordenação não autorizada de Orígenes e suas opiniões controversas, Demétrio iniciou então uma campanha contra ele. Acusando-o de dizer que o Demónio seria salvo, obteve o apoio dos outros bispos do Egipto, que anularam a ordenação de Orígenes e o excomungaram. Ele defendeu-se dizendo que somente havia afirmado que o Demónio poderia ser salvo. Como veremos, este argumento sobre o Demónio é muito importante nas doutrinas de Orígenes sobre o livre arbítrio e a justiça divina que incluem a preexistência da alma. Depois da morte de Demétrio, Orígenes teve um período de trégua. Estabeleceu-se em Cesareia, que se tornara a cidade mais importante da Palestina depois da destruição de Jerusalém nos anos 70. Sob a protecção dos bispos da Palestina, recebeu finalmente o respeito que merecia. O conflito entre Orígenes e seu bispo, Demétrio, representa em menor escala os futuros conflitos entre a Igreja e os “hereges”. Orígenes, que estudara a filosofia grega, assim como as Escrituras judaicas e Cristãs, seguiu a tradição dos sábios gregos e judeus – instrutores inspirados e solitários que buscavam a verdade onde pudessem encontrá-la. Ao tentar estruturar-se e consolidar sua autoridade, a Igreja não poderia permitir que tais instrutores se mantivessem independentes. Nos séculos seguintes, como veremos, a Igreja restringiu severamente a sua liberdade ao codificar a doutrina e definir as escrituras, substituindo a iluminação pela ordem. Os ataques de Demétrio e de outros bispos reduziram o impacto das últimas obras de Orígenes. Como refugiado da Alexandria, sabia que a sua situação na Cesareia era precária. Em seu Comentário sobre João, trata da questão da reencarnação, mas não chega a oferecer uma resposta dizendo: “O assunto da alma é muito amplo e difícil de ser esclarecido... Exige, por isso, tratamento diferenciado”. Embora Orígenes tenha argumentado contra a reencarnação no Comentário sobre Mateus que escreveu quando já estava com mais de 60 anos (por volta dos anos 246-48), o seu contexto leva-nos a questionar se não a estaria negando como uma tentativa de despistar seus inimigos. Pois Orígenes, assim como todos os iniciados nos mistérios gregos e gnósticos, praticava o sigilo. O ensinamento secreto de Orígenes Clemente, precursor de Orígenes na escola de catequese de Alexandria, dizia possuir uma tradição secreta, reservada aos poucos que a podiam compreender, que lhe havia sido passada por Pedro, Tiago, João e Paulo. Clemente afirmava que os mistérios ocultos que Cristo revelara aos apóstolos eram diferentes dos ensinamentos dados aos Cristãos comuns. Orígenes também tinha um ensinamento secreto. Ao contrário de Clemente, não dizia tê-lo recebido dos apóstolos mas tê-lo encontrado nas próprias Escrituras. Afirmava possuir a inspiração, o conhecimento e a graça necessários para descobri-lo. Isto não quer dizer que os revelasse a todos. Orígenes diz que o homem que encontrar o significado oculto das Escrituras, deve escondê-lo: “Um homem vem ao campo... e encontra um tesouro oculto de sabedoria... E, ao encontrá-lo, esconde-o, pois pensa ser perigoso revelar a todos os significado oculto das Escrituras, ou os tesouros de sabedoria e de conhecimento em Cristo”. Qual seria o conteúdo deste seu ensinamento secreto? Nos Primeiros Princípios Orígenes dános uma pista. Numa lista das doutrinas mais importantes aponta a “questão das diferenças entre as almas e de como elas surgiram”. O estudioso R.P.C. Hanson conclui que esta lista de doutrinas representa claramente “os pontos do ensinamento secreto de Orígenes”. Se o ensinamento secreto de Orígenes inclui as razões pelas quais as almas são diferentes no nascimento, seria lógico que ele incluísse também a preexistência e a reencarnação.

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Se ainda restam dúvidas sobre o facto de Orígenes ter se referido ou não à reencarnação, podemos confiar no Patriarca da Igreja do século IV, Jerónimo, que o acusou de fazê-lo. Jerónimo teve acesso aos seus textos originais em grego, e disse que uma das passagens de Primeiros Princípios prova que Orígenes “acreditava na transmigração das almas”. (PROPHET, 1999, pp. 174-178). Jogo de Poder Bizantino (...) Justiniano, que reinou de 527 a 565, foi o imperador mais hábil depois de Constantino – e o que mais activamente interferiu na teologia Cristã. Emitiu éditos, que esperava que a Igreja endossasse sem questionar, nomeou bispos e mandou até mesmo prender o Papa. Sua esposa Teodora, antiga cortesã, manipulava os assuntos da Igreja nos bastidores. Depois da queda do Império Romano no final do século V, Constantinopla permaneceu como capital do Império Oriental ou Bizantino. A história da rejeição ao origenismo inclui os jogos de poder que ornaram famosa a corte imperial. Por volta de 543, Justiniano parecia ter tomado o partido dos antiorigenistas, porque promulgou um édito condenando dez princípios do origenismo, inclusive a preexistência. Decretou um “anátema para Orígenes... e para todos os que assim pensarem”. Em outras palavras, Orígenes e qualquer um que acreditasse nestas ideias estaria eternamente condenado. O édito, que todos os bispos tiveram que assinar, foi ratificado por um concílio em Constantinopla. (PROPHET, 1999, p. 211). As igrejas Protestantes também rejeitam a preexistência e a reencarnação. Baseando-se, em primeiro lugar, nos anátemas de Justiniano, Martinho Lutero não aceitava Orígenes, em parte porque não gostava da prática de Orígenes de procurar alegorias nas Escrituras. Lutero escreveu: “Na obra de Orígenes não existe uma só palavra sobre Cristo”. (PROPHET, 1999, p. 213). 4. Holger Kersten Dentro dos moldes deste ideal budista, no seio dos incontáveis ciclos de reencarnação, o que importa é aperfeiçoar constantemente o Carma através de acções correctas, para que, finalmente, se possa atingir o plano divino. Quando abordei o tema da “Reencarnação no Novo Testamento” tentei demonstrar que Jesus – e depois dele todas as comunidades Cristãs primitivas – aceitavam sem problemas a ideia de metempsicose, tal como exposta pelas crenças orientais da reencarnação. Aqui é interessante esclarecer como foi que o princípio da reencarnação se converteu em um tremendo erro histórico em algum momento do século 4. Até agora, quase todos os historiadores da Igreja acreditaram que a doutrina da reencarnação foi declarada herética durante o Concílio de Constantinopla em 553. No entanto, a condenação da doutrina se deve a uma ferrenha oposição pessoal do imperador Justiniano, que nunca esteve ligado aos protocolos do Concílio. Segundo Procópio, a ambiciosa esposa de Justiniano, que, na realidade, era quem manejava o poder, era filha de um guardador de ursos do anfiteatro de Bizâncio. Ela iniciou sua rápida ascensão ao poder como cortesã. Para se libertar de um passado que a envergonhava, ordenou, mais tarde, a morte de quinhentas antigas “colegas” e, para não sofrer as consequências dessa ordem cruel em uma outra vida como preconizava a lei do Carma, empenhou-se em abolir toda a magnífica doutrina da reencarnação. Estava confiante no sucesso dessa anulação, decretada por “ordem divina”! Em 543 D.C. o imperador Justiniano, sem levar em conta o ponto de vista papal, declarou guerra frontal aos ensinamentos de Orígenes, condenando-os através de um sínodo especial. Em suas obras De Principiis e Contra Celsum, Orígenes (185-235 D.C.), o grande Padre da Igreja, tinha reconhecido, abertamente, a existência da alma antes do nascimento e sua dependência de acções passadas. Ele pensava que certas passagens do Novo Testamento poderiam ser explicadas somente à luz da reencarnação. 150


Do Concílio convocado pelo imperador Justiniano só participaram bispos do Oriente (Ortodoxos). Nenhum de Roma. E o próprio Papa, que estava em Constantinopla naquela ocasião, deixou isso bem claro. O Concílio de Constantinopla, o quinto dos Concílios, não passou de um encontro, mais ou menos em carácter privado, organizado por Justiniano, que, mancomunado com alguns vassalos, excomungou e maldisse a doutrina da preexistência da alma, apesar dos protestos do Papa Virgílio, com a publicação de seus Anathemata. A conclusão oficial que o Concílio chegou após uma discussão de quatro semanas teve que ser submetida ao Papa para ratificação. Na verdade, os documentos que lhe foram apresentados (os assim chamados “Três Capítulos”) versavam apenas sobre a disputa a respeito de três eruditos que Justiniano, há quatro anos, havia por um édito declarado heréticos. Nada continham sobre Orígenes. Os Papas seguintes, Pelágio I (556-561), Pelágio II (579-590) e Gregório (590-604), quando se referiram ao quinto Concílio, nunca tocaram no nome de Orígenes. A Igreja aceitou o édito do Justiniano – “Todo aquele que ensinar está fantástica preexistência da alma e sua monstruosa renovação será condenado” – como parte das conclusões do Concílio. Portanto, a proibição da doutrina da reencarnação não passa de um erro histórico, sem qualquer validade eclesiástica. (KERSTEN, 1988, pp. 239-241). 5. Hernani Guimarães Andrade Actualmente, qualquer pessoa que saiba aceder à Internet, poderá obter informações, inclusive, de documentários históricos sobre diversos assuntos, até há pouco, interditados à análise devido à sua antiguidade e raridade com obras ou registos dos mesmos. Por exemplo: O Quinto Concílio Ecuménico Constantinopla II, 553 da nossa era; este Concílio é muito importante, porque foi nele que se lançaram os fundamentos do dogma anti-reencarnacionista que predomina nas religiões judaico-Cristãs do Ocidente. Por esse documentário, acessível a qualquer pessoa, fica-se sabendo que tal Concílio não deveria ter validade universal, pois não foi convocado pela Papa Vigilius que, na ocasião, achava-se prisioneiro do Imperador Justiniano I. Vamos, por curiosidade, transcrever o início da introdução histórica desse célebre Concílio, contida na obra “Hefele, History of the Councils, Vol. IV, p.289”: “In accordance with the imperial command but without the assent of the Pope, the synod was opened on the 5th of May A.D. 553, in the Secretarium of the Cathedral Church at Constantinople. Among those present were the Patriarchs, Eutychius of Constantinople, who presided, Apollinaris of Alexandria, Domninus of Antioch, three bishops as representatives of Patriarch Eustochius of Jesuralém, and 145 other metropolitans and bishops, of whom many came also in the place of a sent colleagues”. (De acordo com ordens do Imperador mas sem o consentimento do Papa, o Sínodo foi aberto em 5 de Maio de 553 da nossa era Cristã, na Secretaria da Igreja Catedral em Constantinopla. Entre os presentes achavam-se os Patriarcas Eutichis de Constantinopla, quem presidiu, Apollinaris de Alexandria, Domninus de Antioquia, três bispos como representantes do Patriarca Eustochius de Jerusalém, e 145 outros bispos metropolitanos e bispos, dos quais vários vieram também em lugar de colegas ausentes). Um dos objectivos desse Concílio foi a condenação da heresia de Orígenes, entre cujas afirmativas encontra-se a asserção da preexistência das almas. Devido à extensão das atas que compõem o documento em questão, permitimo-nos ficar nesse ponto, sugerindo aos demais interessados uma consulta ao site da Encyclopaedia Britânica. É importante que se diga ainda que a Encyclopaedia Britânica define Orígenes como “o mais distinto e ilustre entre todos os teólogos da antiga Igreja”. Orígenes ensinava a preexistência da alma, segundo a 151


ideia Platónica. Os outros que tiveram a mesma ideia (de Platão e Hermes Trismegisto) foram Agostinho e Clemente, também Pais da Igreja. Resumindo: no Século VI, o Imperador Justiniano I, chefe do Império do Oriente declarou guerra aos discípulos de Orígenes. No Sínodo de 553, em Constantinopla, os seus ensinos foram condenados. Em 553, foram também publicados os anátemas contra Orígenes e sua doutrina da preexistência da alma. Ficou claro que o V Concílio Ecuménico: Constantinopla II, 553 foi promovido pelo Imperador Justiniano e conduzido por bispos orientais manobrados pelo próprio Imperador Justiniano, sem nenhum representante de Roma. É estranho que a Igreja Católica e, mais tarde, a Protestante hajam adoptado as mesmas ideias, ao que parece, sem razões fortes para semelhante adopção. 6. Giovanni Reale e Dario Antiseri (...) O pensamento de Orígenes foi durante longo tempo objecto de debates e acesas polémicas, que envenenaram os ânimos e alcançaram sua fase culminante no início do século VI, a ponto de provocarem a condenação de algumas teses de Orígenes até pelo imperador Justiniano, em 543, e depois por um concílio, em 553. Provocadas em larga medida pelos excessos a que haviam sido levados os origenistas, essas condenações causaram a perda de grande parte da enorme produção de Orígenes. Dentre as obras que nos chegaram, interessam à filosofia: Os princípios, que é a sua obra-prima doutrinária (infelizmente, porém, não nos chegou em sua redacção original), Contra Celso e Comentários a João. (REALE, e ANTISERI, 1990, pp. 412-413). (...) Uma doutrina típica de Orígenes (derivada dos gregos, embora com notáveis correcções) é aquela segundo a qual o "mundo" deve ser entendido como uma série de mundos, não contemporâneos, mas subsequentes um ao outro: "Deus não começou a agir pela primeira vez quando criou este mundo visível. Acreditamos que, como depois do fim deste mundo haverá outro, da mesma forma, antes deste houve outros". Essa visão relaciona-se estreitamente com a concepção origeniana segundo a qual, no fim, todos os espíritos se purificarão, resgatando as suas culpas, mas para purificarem-se inteiramente é necessário que sofram longa, gradual e progressiva expiação e correcção, passando, portanto, por muitas reencarnações em mundos sucessivos. Portanto, para Orígenes, o fim será exactamente igual ao princípio, isto é, tudo deverá tornar a ser como Deus criou. (REALE, e ANTISERI, 1990, p. 415). Dados dos autores: Giovanni Reale nasceu em 1931. É doutor em filosofia pela Universidade Católica de Milão, onde lecciona, com aperfeiçoamento em universidades alemãs. É autor de vasta obra filosófica. Dario Antiseri nasceu em 1940. É doutor pela Universidade de Perúgia, com aperfeiçoamento em filosofia nas universidades de Viena, Munster e Oxford. É professor de filosofia da linguagem e filosofia da ciência na Universidade de Pádua. Autor de vasta bibliografia filosófica. 7. Léon Denis Dentre os padres da Igreja, Orígenes é um dos que mais eloquentemente se pronunciaram a favor da pluralidade das existências. Respeitável a sua autoridade. São Jerónimo o considera, “depois dos apóstolos, o grande mestre da Igreja, verdade, diz ele, que só a ignorância poderia negar”. São Jerónimo vota tal admiração a Orígenes que assumiria, escreve, todas as calúnias de que ele foi alvo, uma vez que, por esse preço, ele, Jerónimo, pudesse ter a sua profunda ciência das Escrituras.

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Em seu livro célebre, “Dos Princípios”, Orígenes desenvolve os mais vigorosos argumentos que mostraram, na preexistência e sobrevivência das almas noutros corpos, em uma palavra, na sucessão das vidas, o correctivo necessário à aparente desigualdade das condições humanas, uma compensação ao mal físico, como ao sofrimento moral que parece reinarem no mundo, se não se admite mais que uma única existência terrestre para cada alma. Orígenes erra, todavida, num ponto. É quando supõe que a união do espírito ao corpo é sempre uma punição. Ele perde de vista a necessidade da educação das almas e a laboriosa realização do progresso. Errónea opinião se introduziu em muitos centros, a respeito das doutrinas de Orígenes, em geral, e da pluralidade das existências em particular, que pretendem ter sido condenadas, primeiro pelo concílio de Constantinopla. Ora, se remontarmos às fonte [Ver Pezzani, A pluralidade das Existências, páginas 187 e 190], reconheceremos que esses concílios repeliram, não a crença na pluralidade das existências, mas simplesmente a preexistência da alma, tal como a ensinava Orígenes, sob esta feição particular: que os homens eram anjos decaídos e que o ponto de partida tinha sido para todos a natureza Angélica. Na realidade, a questão da pluralidade das existências da alma jamais foi resolvida pelos concílios. Permaneceu aberta às resoluções da Igreja no futuro, e é esse um ponto que se faz preciso estabelecer. (DENIS, 1987, pp. 50-51). O Cristianismo primitivo possuía, pois, o verdadeiro sentido do destino. Mas, com as subtilezas da teologia bizantina, o sentido oculto desapareceu pouco a pouco; a virtude secreta dos ritos iniciáticos desvaneceu-se como um perfume subtil. A escolástica abafou a primeira revelação com o peso dos silogismos ou arruinou-a com sua argumentação especiosa. Entretanto, os primeiros padres da Igreja e, entre todos, Orígenes e S. Clemente de Alexandria, pronunciaram-se em favor da transmigração das almas. S. Jerónimo e Ruffinus (“Carta a Anastácio”) afirmam que ela era ensinada como verdade tradicional a um certo número de iniciados. Em sua obra capital, “Dos Princípios”, livro I, Orígenes passa em revista os numerosos argumentos que mostram, na preexistência e sobrevivência das almas em outros corpos, o correctivo necessário à desigualdade das condições humanas. De si mesmo inquire qual é a totalidade dos ciclos percorridos por sua alma em suas peregrinações através do Infinito, quais os progressos feitos em cada uma de suas estações, as circunstâncias da imensa viagem e a natureza particular de suas residências. S. Gregório de Nysse diz “que há necessidade natural para a alma imortal de ser curada e purificada e que, se ela não o foi em sua vida terrestre, a cura se opera pelas vidas futuras e subsequentes”. Todavia, esta alta doutrina, não podia conciliar-se com certos dogmas e artigos de fé, armas poderosas para a Igreja, tais como a predestinação, as penas eternas e o juízo final. Com ela, o Catolicismo teria dado lugar mais largo à liberdade do espírito humano, chamado em suas vidas sucessivas a elevar-se por seus próprios esforços e não somente por graça do alto. Por isso, foi um acto fecundo em consequência funesta a condenação das opiniões de Orígenes e das teorias gnósticas pelo Concílio de Constantinopla em 553. Ela trouxe consigo o descrédito e a repulsa do princípio das reencarnações. Então, em vez de uma concepção simples e clara do destino, compreensível para as mais humildes inteligências, conciliando a Justiça Divina com a desigualdade das condições e do sofrimento humanos, vimos edificar-se todo um conjunto de dogmas, que lançaram a obscuridade no problema da vida, revoltaram a razão e, finalmente, afastaram o homem de Deus. (DENIS, 1989, pp. 273274). 8. Jayme Andrade (ex-Pastor) Orígenes, discípulo de Clemente, foi o mais completo dos Pais da Igreja no tocante ao ensino palingenésico. Ele chegou a tecer judiciosas ponderações sobre certos trechos da Escritura

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(como os de Malaq. 1;2/3 e Jerem. 1:5) que não teriam sentido sem admitir a preexistência da alma: “Se o nosso destino actual não era determinado pelas obras de nossas existências passadas, o que dizer de um Deus justo permitindo que o primogénito servisse ao mais jovem e fosse odiado, antes de haver cometido actos que merecessem a servidão e o ódio? Só as nossas vidas anteriores podem explicar a luta de Jacó e Esaú antes do seu nascimento, a eleição de Jeremias quando ainda estava no seio da sua mãe... e tantos outros factos que atirarão o descrédito sobre a Justiça Divina, se não forem justificados pelos actos bons ou maus cometidos ou praticados em existências passadas” (“Contra Celso”, I, III, cit. por Mário C. Mello, em “Como os Teólogos Refutam”, pg. 153). (ANDRADE, J., 1997, pp. 183-184). 9. Francisco Cajazeiras A ideia da reencarnação, dissemos antes, integrava os princípios aceitos pelos protoCristãos ou, pelo menos, por aqueles que o conseguiam entender. Dentre os chamados “Pais da Igreja”, muitos foram os que aceitaram ou, pelo menos, conjecturaram acerca desta questão, como Santo Agostinho, Clemente de Alexandria e Justino, o Mártir. Mas, indubitavelmente, foi Orígenes, que viveu em Alexandria, considerado um dos maiores pensadores Cristãos do seu tempo e também um dos maiores de todos os tempos, autor de cerca de dois mil livros doutrinários, aquele que mais defendeu e propagou o fenómeno da reencarnação. Com ele surge uma corrente no seio da Igreja, que recebeu o nome de Origenismo, que defendia os seguintes princípios. ORIGENISMO a) Todos somos filhos de Deus e, dessa foram, somos iguais diante d’Ele. b) Deus não usa de favoritismos com ninguém, mas trata a todos os Seus filhos de maneira semelhante. c) Os Espíritos foram criados por Deus em condições de felicidade, mas em função de sua rebeldia, caíram e passaram a depender de um desenvolvimento no corpo de carne. d) Todos somos dotados de livre arbítrio e, em assim sendo, somos responsáveis por nossa felicidade e nosso sofrimento. e) Os Espíritos preexistem aos corpos. f) A alma, com a ajuda de Deus, é responsável por sua própria salvação. g) Os demónios são os Espíritos que mais se rebelaram, por isso, tiveram maior queda. No entanto, todos voltarão ao seio do Criador. Nesse tempo, havia várias polémicas, todas resultantes das diferentes maneiras de interpretar (ou mesmo de acomodar) os ensinamentos de Jesus. Um dos temas mais discutidos era a divindade de Jesus. Uma ala afirmava ser Jesus um Espírito criado por Deus, a despeito de se haver tornado perfeito e, assim, uno com o Criador. Outros, não aceitavam esta teoria, elevando o Cristo à condição de Deus. Constantino resolveu interferir e convocar um concílio para a discussão do caso. Assim, em 325 D.C., realizou-se o Concílio de Niceia, onde se tratou principalmente sobre a Divindade de Jesus, criando-se a ideia da trindade (um só deus mas três pessoas distintas – Pai, Filho e Espírito Santo), importada, em verdade, da Índia e do Egipto. A discussão, no entanto, persistiu por longo tempo. Já no sexto século da nossa Era, Roma era governada por Justiniano e, como o Cristianismo havia sido declarado por Teodósio I (Édito de Constantinopla) a religião oficial do Estado, no ano de 391 D.C., o imperador afirmava-se Cristão.

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Conta-se que influenciado por sua esposa Teodora e aproveitando ainda a polémica que se mantinha, a despeito do Concílio de Niceia, sobre a divindade crística, o imperador convocou um concílio a se realizar em Constantinopla, então capital do Império. Dez anos antes, porém, preciso é saber, havia convocado um sínodo para discutir (!?) sobre a questão das vidas sucessivas que tanto lhe incomodava, mas especialmente à sua esposa, haja vista não admitirem retornar a um corpo em condição social inferior, pois, assim, de deuses, como eram considerados seus antecessores, desceriam, conduzido por esta doutrina, à condição de simples Espíritos, podendo mesmo renascerem na condição de plebeus, por exemplo... Contam alguns historiadores que a imperatriz havia sido prostituta e, por isso, ordenou a matança de quinhentas mulheres nessa condição, em Constantinopla, porque estas se orgulhavam de haver saído de seu meio a mais nova imperatriz romana, sentimento não compartilhado por Teodora. O povo, que em grande parte acalentava a ideia da reencarnação, passou a comentar que a imperatriz deveria, por esse motivo, ser assassinada quinhentas vezes em suas vidas futuras. Isto teria levado Teodora a convencer o imperador a anatematizar definitivamente e com o seu áureo poder a crença na reencarnação. O resultado deste sínodo foi apresentado no Concílio de Constantinopla, como matéria secundária, de vez que o principal assunto a ser tratado dizia respeito, ainda, á discutida questão da divindade de Jesus. Ao quinto concílio ecuménico – o II Concílio de Constantinopla (1) – realizado no ano de 553 D.C., compareceram praticamente membros da Igreja do Oriente, pois até mesmo o Papa Virgílio, de Roma, em decorrência de desentendimentos com o Imperador, foi impedido de comparecer, sendo mesmo mantido prisioneiro por sua ordem, quando viajava para Constantinopla. Hermínio Correia de Miranda, notável pesquisador Espírita, anota em seu livro “Reencarnação na Bíblia”, a afirmativa do Reverendo Leslie D. Weantherhead, da Igreja Anglicana de Londres, que no sínodo há pouco citado, a reencarnação foi posta em votação e derrotada em um apertado e inexpressivo placar de 3x2. Foi, portanto, desde este concílio que, aos poucos se foi deixando de aceitar a reencarnação no Movimento Cristão, portanto, a partir da anatematização do Origenismo, como se pode depreender dos anátemas que ali se fizeram, como reproduzido abaixo parcialmente: “Contra todo aquele que assevere a fábula da preexistência das almas e afirme que se segue monstruosa reconstrução: anátema seja”. “Contra todo aquele que diga que, após a ressurreição, o corpo do Senhor era etéreo, e em forma de esfera, e que assim serão os corpos de todos depois da ressurreição; e que depois que o próprio Senhor tenha jogado seu corpo e os outros que surgem tenham jogado os seus, a natureza de sues corpos será destruída: anátema seja”. Além destes, havia um anátema do próprio imperador: “Contra todo aquele que declare ou pense que a alma humana preexistia, ou seja, que foram primeiro espírito e sagrados poderes (...): anátema seja”.

10. Outros autores citando outros autores 10.1 - José Reis Chaves. Rufino, em carta a Santo Atanásio, o autor de um dos credos Cristãos, afirma que a crença na reencarnação era comum entre os padres primitivos. [Reencarnação, Annie Besant, pág. 12, 155


Editora Pensamento, São Paulo, citando Ed Walker em Reincarnation: a Study of a Forgotten Truth]. (CHAVES, 2002, p. 157). Papus [A Reencarnação, pág. 87, Editora Pensamento, São Paulo, 1996], o renomado escritor cabalista francês, diz que a ideia da reencarnação faz parte dos ensinos secretos da Igreja, pois esta recebe continuação directa da religião egípcia: cada um dos evangelistas é acompanhado pelo símbolo de cada uma das quatro formas de esfinge, a cabeça humana ou anjo, águia, o leão e o touro. (CHAVES, 2002, p. 157). John Van Auken [Reencarnação, pág. 151, Editora Record, Rio de Janeiro] diz que a reencarnação não tem tido nenhum lugar na corrente principal do Cristianismo, mas que havia sido um conceito na época de Jesus, pouco depois de sua ressurreição, e muito antes do seu nascimento. Fala ainda que ela foi condenada no Quinto Concílio de Constantinopla, em 553, quando os escritos do pai da Igreja primitiva, Orígenes, foram expurgados da Igreja, tendo sido, inclusive, modificados alguns conceitos na Bíblia, referentes à reencarnação. (CHAVES, 2002, p. 157). Não é de se estranhar que Santo Agostinho tenha sido reencarnacionista, já que era inteiramente platónico. De uma enciclopédia anotamos: “Santo Agostinho aceitava a reencarnação” [The Catholic Encyclopaedia, 1909, Ed., Vol. 10. Metempsychosis e The Esoteric Tradition, por G. de Purucker, pág. 236-7]. (CHAVES, 2002, p. 166). São Jerónimo, o famoso autor da Vulgata e amigo de Santo Agostinho, também aceitava a reencarnação. Ele afirma que a transmigração das almas foi ensinada durante um longo tempo na Igreja [Evangelho Esotérico de São João, pág. 68, Paul le Cour, Editora Pensamento, São Paulo, 1993]. (CHAVES, 2002, p. 167). São Gregório de Nissa era reencarnacionista, e fazia parte dos teólogos e cabalistas que afirmavam que o maior argumento a favor da reencarnação era a justiça de Deus [A Reencarnação e a Lei do Carma, pág. 47, Willian Walker Atkinson, Editora Pensamento, São Paulo, 1990]. Um texto dele: “Há necessidade de natureza para a alma imortal ser curada e purificada, e se ela não o for na sua vida terrestre, a cura se operará através de vidas futuras e subsequentes” [Reencarnação, pág. 153, John Van Auken, Editora Record, Rio de Janeiro, 1989; e O Mistério do Eterno Retorno, pág. 123, Jean Prieur, Editora Best Seller, São Paulo]. (CHAVES, 2002, p. 169). São Justino, mártir, autor de Apologia da Religião Cristã, também faz parte da lista de santos reencarnacionistas e sábios do Cristianismo primitivo. Segundo ele, “a alma habita corpos sucessivos, perdendo a memória das vidas passadas” [A Reencarnação e a Lei do Carma, pág. 46, William Walker Atkinson, Editora Pensamento, São Paulo]. (CHAVES, 2002, p. 170). São Francisco é um outro santo da Igreja que aceitava a reencarnação [The Catholic Encyclopaedia, pág. 235-67, Ed., vol. 20, Metempsychosis e The Esoteric Tradition, G. de Pururucker, 1909], embora a Igreja faça silêncio sobre isso, como no caso de Santo Agostinho e outros mencionados neste livro. (CHAVES, 2002, p. 171). São Boaventura é mais um grande sábio e santo da Igreja, que abraçou a reencarnação [Reencarnação, pág. 14, Annie Besant, Editora Pensamento, São Paulo, 1989]. (CHAVES, 2002, p. 171). 10.2 – Hermínio C. Miranda O sacerdote Católico G. Nevin Drinkwater escreveu, na publicação The Liberal Catholic, que a reencarnação nunca foi declarada herética por um Concílio Ecuménico. -O que realmente aconteceu – diz ele textualmente – segundo Robertson e Hefele, foi que um sínodo local condenou os ensinamentos de Orígenes acerca da preexistência em 543, na cidade de Constantinopla, mas isto não é, naturalmente, uma decisão a ser obrigatoriamente acatada pela Igreja Universal (²). E conclui o padre Drinkwater: -Há pessoas hoje na Igreja Católica que aceitam a reencarnação sem que sejam declaradas heréticas. 156


(²) cf. Church History, de Robertson, vol. I, p. 157 e History of the Councils of the Church, de Hefele, vol. IV, p. 223 ss. (MIRANDA, 1995, p. 96).

Conclusão Embora alguns autores não tragam a mesma versão para o caso Teodora, todos são unânimes em relatar a influência do Imperador Justiniano, quer por conta dele próprio quer por sua esposa, mas o facto é que exerceram essa influência no V Concílio Ecuménico de Constantinopla, de tal forma que as ideias de Orígenes foram anatematizadas. Para finalizar, transcrevemos a opinião lúcida, imparcial e abalizada de Elizabeth Clare Phophet: Os Ortodoxos usaram a frase “com Deus tudo é possível” para explicar a falta de lógica de uma ressurreição física. Mas Orígenes classificou esta crença como “pobreza intelectual” ou “falta de instrução”. Qualificando-a como “uma ideia excessivamente baixa e insignificante”, disse que essas especulações contradiziam a afirmação de Paulo de que o corpo ressurrecto é espiritual. Orígenes achava que a doutrina da ressurreição física era para os “simplórios” e para o “povo comum, que é induzido a viver uma vida melhor através da sua crença”. (...) A ressurreição física é um conceito de difícil explicação e talvez por isso a Igreja Católica diga àqueles que perguntam como ela ocorre que a resposta “excede a nossa imaginação e compreensão e só pode ser aceita através da fé”. (PROPHET, 1999, pp. 152-153). Ao terminar esse estudo, relacionamos abaixo, uma literatura sobre o tema, para os que quiserem se aprofundar em suas pesquisas a respeito desse assunto.

RESSURREIÇÃO DOS MORTOS (visão Católica) "Creio na ressurreição da carne" O Credo Cristão - profissão de nossa fé em Deus Pai, Filho e Espírito Santo, e em sua acção criadora, salvadora e santificadora - culmina na proclamação da ressurreição dos mortos, no fim dos tempos e na vida eterna. Cremos firmemente - e assim esperamos - que, da mesma forma que Cristo ressuscitou verdadeiramente dos mortos, e vive para sempre, assim também, depois da morte, os justos viverão para sempre com Cristo ressuscitado e que Ele os ressuscitará no último dia. Como a ressurreição de Cristo, também a nossa será obra da Santíssima Trindade: Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou Cristo Jesus dentre os mortos dar vida também aos vossos corpos mortais, mediante o seu Espírito que habita em vós (Rm 8,11). O termo "carne" designa o homem em sua condição de fraqueza e de mortalidade. A "ressurreição da carne" significa que após a morte não haverá somente a vida da alma imortal, mas que mesmo os nossos "corpos mortais" (Rm 8,11) readquirirão vida. Crer na ressurreição dos mortos foi, desde os inícios, um elemento essencial da fé Cristã. "Fiducia christianorum resurrectio mortuorum; ilíam credentes, sumus - A confiança dos Cristãos é a ressurreição dos mortos; crendo nela, somos Cristãos": Como podem alguns dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, vazia é 157


a nossa pregação, vazia é também a vossa fé. Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, primícias dos que adormeceram (1Cor 15,12-14-.20). A ressurreição dos mortos foi revelada progressivamente por Deus a seu povo. A esperança na ressurreição corporal dos mortos foi-se impondo corno uma consequência intrínseca da fé em um Deus criador do homem inteiro, alma e corpo. O criador do céu e da terra é também aquele que mantém fielmente sua aliança com Abraão e sua descendência. E nesta dupla perspectiva que começará a exprimir-se a fé na reacção. Nas provações, os mártires Macabeus confessam: O Rei do mundo nos fará ressurgir para uma vida eterna, a nós que morremos por suas leis (2Mc 7,9). É desejável passar para a outra vida pelas mãos dos homens, tendo da parte de Deus as esperanças de ser um dia ressuscitado por Ele (2Mc 7,14). Os fariseus e muitos outros contemporâneos do Senhor esperavam a ressurreição. Jesus a ensina com firmeza. Aos saduceus que a negam, ele responde: "Não é por isto que errais, desconhecendo tanto as Escrituras como o poder de Deus?" (Mc 12,24). A fé na ressurreição baseia-se na fé em Deus, que "que não é um Deus dos mortos, mas dos vivos" (Mc 12, 27). Mais ainda: Jesus liga a fé na ressurreição à sua própria pessoa: "Eu sou a ressurreição e a vida" (Jo 11,25). É Jesus mesmo quem, no último dia, há de ressuscitar os que nele tiveram crido e que tiverem comido seu corpo e bebido seu sangue. Desde já, Ele fornece um sinal e um penhor disto, restituindo a vida a certos mortos, anunciando com isso sua própria ressurreição, que no entanto será de outra ordem. Deste acontecimento único Ele fala como do "sinal de Jonas", do sinal do templo: anuncia sua ressurreição, que ocorrerá no terceiro dia depois de ser entregue à morte. Ser testemunha de Cristo é ser "testemunha de sua ressurreição" (At 1,22), "ter comido e bebido com Ele após sua ressurreição dentre os mortos" (At 10,41). A esperança Cristã na ressurreição está toda marcada pelos encontros com Cristo ressuscitado. Ressuscitaremos como Ele, com Ele, por Ele. Desde o início, a fé Cristã na ressurreição deparou com incompreensões e oposições. "Em nenhum ponto a fé Cristã depara com mais contradição do que em torno da ressurreição da carne." Aceita-se muito vulgarmente que depois da morte a vida da pessoa humana prossiga de um modo espiritual. Mas como crer que este corpo tão manifestamente mortal possa ressuscitar para a vida eterna? Que é "ressuscitar"? Na morte, que é separação da alma e do corpo, o corpo do homem cai na corrupção, ao passo que sua alma vai ao encontro de Deus, ficando à espera de ser novamente unida a seu corpo glorificado. Deus, em sua omnipotência, restituirá definitivamente a vida incorruptível a nossos corpos, unindo-os às nossas almas, pela virtude da Ressurreição de Jesus. Quem ressuscitará ? Todos os homens que morreram: "Os que tiverem feito o bem (sairão) para uma ressurreição de vida; os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de julgamento" (Jo 5,29). De que maneira? Cristo ressuscitou com seu próprio corpo: "Vede as minhas mãos e os meus pés: sou eu!" (Lc 24,39). Mas ele não voltou a uma vida terrestre. Da mesma forma, nele" ressuscitarão com seu próprio corpo, que têm agora"; porém, este corpo será "transfigurado em corpo de glória", em "corpo espiritual" (1Cor 15, 44): Mas, dirá alguém, como ressuscitam os mortos? Com que corpo voltam? Insensato! O que semeias não readquire vida a não ser que morra. E o que semeias não é o corpo da futura planta que deve nascer, mas um simples grão de trigo ou de qualquer outra espécie (...) 158


Semeado corruptível, o corpo ressuscita incorruptível (...) os mortos ressurgirão incorruptíveis. (...) Com efeito, é necessário que este ser corruptível revista a incorruptibilidade e que este ser mortal revista a imortalidade (1Cor 15,35-37.42.52-53). Este "ponto" ultrapassa nossa imaginação e nosso entendimento, sendo acessível só na fé. Nossa participação na Eucaristia, no entanto, já nos dá um antegozo da Transfiguração de nosso corpo por Cristo: Assim como o pão que vem da terra, depois de ter recebido a invocação de Deus, não é mais pão comum, mas Eucaristia, constituída por duas realidades, uma terrestre e a outra celeste, da mesma forma os nossos corpos que participam da Eucaristia não são mais corruptíveis, pois têm a esperança da ressurreição. Quando? Definitivamente "no último dia" (Jo 6,39-40.44-54); "no fim do mundo". Com efeito, a ressurreição dos mortos está intimamente associada à Parusia de Cristo: Quando o Senhor, ao sinal dado, à voz do arcanjo e ao som da trombeta divina, descer do céu, então os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro (1Ts 4,16). Se é verdade que Cristo nos ressuscitará "no último dia", também que, de certo modo, já ressuscitamos com Cristo. Pois, graças ao Espírito Santo, a vida Cristã é, já agora na terra, uma participação na morte e na ressurreição de Cristo: Fostes sepultados com Ele no Baptismo, também com Ele ressuscitaste, pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos. (...) Se, pois, ressuscitaste com Cristo, procurai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus (Cl 2,12;3,1). Unidos a Cristo pelo Baptismo, os crentes já participam realmente na vida celeste de Cristo ressuscitado, mas esta vida permanece "escondida com Cristo em Deus" (Cl 3,3). "Com ele nos ressuscitou e fez-nos sentar nos céus, em Cristo Jesus" (Ef 2,6). Nutridos com seu Corpo na Eucaristia, já pertencemos ao Corpo de Cristo. Quando ressuscitarmos, no último dia, nós também seremos "manifestados com Ele cheios de glória" (Cl 3,3). Enquanto aguardam esse dia, o corpo e a alma do crente participam desde já da dignidade de ser "de Cristo"; daí a exigência do respeito para com seu próprio corpo, mas também para com o de outrem, particularmente quando este sofre: O corpo é para o Senhor, e o Senhor é para o corpo. Ora, Deus, que ressuscitou o Senhor, ressuscitará também a nós por seu poder. Não sabeis que vossos corpos são membros de Cristo? (...) Não pertenceis a vós mesmos. (...) Glorificai, portanto, a Deus em vosso corpo (1Cor 6,5.19-20). Para ressuscitar com Cristo é preciso morrer com Cristo, é preciso "deixar a mansão deste corpo para ir morar junto do Senhor" (2 Cor 5,8). Nesta "partida" que é a morte, a alma é separada do corpo. Ela será reunida a seu corpo no dia da ressurreição dos mortos "É diante da morte que o enigma da condição humana atinge seu ponto mais alto." Em certo sentido, a morte corporal é natural; mas para a fé ela é na realidade "salário do pecado" (Rm 6,23). E, para os que morrem na graça de Cristo, é uma participação na morte do Senhor, a fim de poder participar também de sua Ressurreição. A morte é o termo da vida terrestre. Nossas vidas são medidas pelo tempo, ao longo do qual passamos por mudanças, envelhecemos e, como acontece com todos os seres vivos da terra, a morte aparece como o fim normal da vida. Este aspecto da morte marca nossas vidas com um carácter de urgência: a lembrança de nossa mortalidade serve também para recordar-nos de que temos um tempo limitado para realizar nossa vida: 159


Lembra-te de teu Criador nos dias de tua mocidade (...) antes que o pó volte à terra donde veio, e o sopro volte a Deus, que o concedeu (Ecl 12,1.7). A morte é consequência do pecado. Intérprete autêntico das afirmações da Sagrada Escritura e da tradição, o magistério da Igreja ensina que a morte entrou no mundo por causa do pecado do homem. Embora o homem tivesse uma natureza mortal, Deus o destinava a não morrer. A morte foi, portanto, contrária aos desígnios de Deus criador e entrou no mundo como consequência do pecado. "A morte corporal, à qual o homem teria sido subtraído se não tivesse pecado", é assim "o último inimigo" do homem a ser vencido (1 Cor 15,26). A morte é transformada por Cristo. Jesus, o Filho de Deus sofreu também Ele a morte, própria da condição humana. Todavida, apesar de seu pavor diante dela, assumiu-a em um acto de submissão total e livre à vontade de seu Pai. A obediência de Jesus transformou a maldição da morte em bênção. Graças a Cristo, a morte Cristã tem um sentido positivo. "Para mim, a vida é Cristo, e morrer é lucro" (Fl 1,21). "Fiel é esta palavra: se com Ele morremos, com Ele viveremos" (2Tm 1,11). A novidade essencial da morte Cristã está nisto: pelo Baptismo, o Cristão já está sacramentalmente "morto com Cristo", para Viver de uma vida nova; e, se morrermos na graça de Cristo, a morte física consuma este "morrer com Cristo" e completa, assim, nossa incorporação a ele em seu acto redentor: É bom para mim morrer em ("eis") Cristo Jesus, melhor do que reinar até as extremidades da terra. É a Ele que procuro, Ele que morreu por nós: é Ele que quero, Ele que ressuscitou por nós. Meu nascimento aproxima-se. (...) Deixai-me receber a pura luz; quando tiver chegado lá, serei homem. Na morte, Deus chama o homem a si. É por isso que o Cristão pode sentir, em relação à morte, um desejo semelhante ao de São Paulo: "O meu desejo é partir e ir estar com Cristo" (Fl 1,23); e pode transformar sua própria morte em um acto de obediência e de amor ao Pai, a exemplo de Cristo: Meu desejo terrestre foi crucificado; (...) há em mim uma água viva que murmura e que diz dentro de mim: "Vem para o Pai". Quero ver a Deus, e para vê-lo é preciso morrer. Eu não morro, entro na vida. A visão Cristã da morte é expressa de forma privilegiada na liturgia da Igreja: Senhor, para os que crêem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível A morte é o fim da peregrinação terrestre do homem, do tempo de graça e de misericórdia que Deus lhe oferece para realizar sua vida terrestre segundo o projecto divino e para decidir seu destino último. Quando tiver terminado "o único curso de nossa vida terrestre", não voltaremos mais a outras vidas terrestres. "Os homens devem morrer uma só vez" (Hb 9,27). Não existe "reencarnação" depois da morte. Alma e corpo na ressurreição final A Igreja ensina que cada alma espiritual é directamente criada por Deus - não é "produzida" pelos pais - e é imortal: ela não perece quando da separação do corpo na morte e se unirá novamente ao corpo na ressurreição final. 160


Cremação e fé na ressurreição dos corpos A autópsia de cadáveres pode ser moralmente admitida por motivos de investigação legal ou de pesquisa científica. A doação gratuita de órgãos após a morte é legítima e pode ser meritória. A Igreja permite a cremação, se esta não manifestar uma posição contrária à fé na ressurreição dos corpos. Eucaristia força de ressurreição O viático, último sacramento do Cristão Aos que estão para deixar esta vida, a Igreja oferece, além da Unção dos Enfermos, a Eucaristia como viático. Recebida neste momento de passagem para o Pai, a comunhão do Corpo e Sangue de Cristo tem significado e importância particulares. E semente de vida eterna e poder de ressurreição, segundo as palavras do Senhor: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia" (Jo 6,54). Sacramento de Cristo morto e ressuscitado, a Eucaristia é aqui sacramento da passagem da morte para a vida, deste mundo para o Pai. Fé na ressurreição dos mortos elemento essencial na fé Cristã Crer na ressurreição dos mortos foi, desde os inícios, um elemento essencial da fé Cristã. "Fiducia christianorum resurrectio mortuorum; ilíam credentes, sumus - A confiança dos Cristãos é a ressurreição dos mortos; crendo nela, somos Cristãos": Como podem alguns dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação é vazia é também a vossa fé. Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, primícias dos que adormeceram (1Cor 15,12-14-.20). Modos de ressurreição dos mortos De que maneira? Cristo ressuscitou com seu próprio corpo: "Vede as minhas mãos e os meus pés: sou eu!" (Lc 24,39). Mas ele não voltou a uma vida terrestre. Da mesma forma, nele" ressuscitarão com seu próprio corpo, que têm agora"; porém, este corpo será "transfigurado em corpo de g1ória", em "corpo espiritual" (1Cor 15, 44): Mas, dirá alguém, como ressuscitam os mortos? Com que corpo voltam? Insensato! O que semeias não readquire vida a não ser que morra. E o que semeias não é o corpo da futura planta que deve nascer, mas um simples grão de trigo ou de qualquer outra espécie (...) Semeado corruptível, o corpo ressuscita incorruptível (...) os mortos ressurgirão incorruptíveis. (...) Com efeito, é necessário que este ser corruptível revista a incorruptibilidade e que este ser mortal revista a imortalidade (1Cor 15,35-37.42.52-53). Este "corno" ultrapassa nossa imaginação e nosso entendimento, sendo acessível só na fé. Nossa participação na Eucaristia, no entanto, já nos dá um antegozo da Transfiguração de nosso corpo por Cristo: Assim como o pão que vem da terra, depois de ter recebido a invocação de Deus, não é mais pão comum, mas Eucaristia, Constituída por duas realidades, uma terrestre e a outra celeste, da mesma forma os nossos corpos que participam da Eucaristia não são mais corruptíveis, pois têm a esperança da ressurreição.

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Oposições e incompreensões relativas à fé na ressurreição dos mortos Desde o início, a fé Cristã na ressurreição deparou com incompreensões e oposições. "Em nenhum ponto a fé Cristã depara com mais contradição do que em torno da ressurreição da carne." Aceita-se muito vulgarmente que depois da morte a vida da pessoa humana prossiga de um modo espiritual. Mas como crer que este corpo tão manifestamente mortal possa ressuscitar para a vida eterna? Razões e fundamentos da fé na ressurreição dos mortos Os fariseus e muitos outros contemporâneos do Senhor esperavam a ressurreição. Jesus a ensina com firmeza. Aos saduceus que a negam, ele responde: "Não é por isto que errais, desconhecendo tanto as Escrituras como o poder de Deus?" (Mc 12,24). A fé na ressurreição baseia-se na fé em Deus, que "que não é um Deus dos mortos, mas dos vivos" (Mc 12, 27). Mais ainda: Jesus liga a fé na ressurreição à sua própria pessoa: "Eu sou a ressurreição e a vida" (Jo 11,25). É Jesus mesmo quem, no último dia, há de ressuscitar os que nele tiveram crido e que tiverem comido seu corpo e bebido seu sangue. Desde já, Ele fornece um sinal e um penhor disto, restituindo a vida a certos mortos, anunciando com isso sua própria ressurreição, que no entanto será de outra ordem. Deste acontecimento único Ele fala como do "sinal de Jonas", do sinal do templo: anuncia sua ressurreição, que ocorrerá no terceiro dia depois de ser entregue à morte. §995 Ser testemunha de Cristo é ser "testemunha de sua ressurreição" (At 1,22), "ter comido e bebido com Ele após sua ressurreição dentre os mortos" (At 10,41). A esperança Cristã na ressurreição está toda marcada pelos encontros com Cristo ressuscitado. Ressuscitaremos como Ele, com Ele, por Ele. Ressurreição de todos os mortos Quem ressuscitará ? Todos os homens que morreram: "Os que tiverem feito o bem (sairão) para uma ressurreição de vida; os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de julgamento" (Jo 5,29). Ressurreição dos mortos obra da santíssima Trindade Cremos firmemente - e assim esperamos - que, da mesma forma que Cristo ressuscitou verdadeiramente dos mortos, e vive para sempre, assim também, depois da morte, os justos viverão para sempre com Cristo ressuscitado e que Ele os ressuscitará no último dia. Como a ressurreição de Cristo, também a nossa será obra da Santíssima Trindade: Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou Cristo Jesus dentre os mortos dar vida também aos vossos corpos mortais, mediante o seu Espírito que habita em vós (Rm 8,11). Revelação progressiva da ressurreição dos mortos A ressurreição dos mortos foi revelada progressivamente por Deus a seu povo. A esperança na ressurreição c corporal dos mortos foi-se impondo corno uma consequência intrínseca da fé em um Deus criador do homem inteiro, alma e corpo. O criador do céu e da terra é também aquele que mantém fielmente sua aliança com Abraão e sua descendência. E nesta dupla perspectiva que começará a exprimir-se a fé na reacção. Nas provações, os mártires Macabeus confessam:

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O Rei do mundo nos fará ressurgir para uma vida eterna, a nós que morremos por suas leis (2Mc 7,9). É desejável passar para a outra vida pelas mãos dos homens, tendo da parte de Deus as esperanças de ser um dia ressuscitado por Ele (2Mc 7,14). Significação de ressurgir Que é "ressuscitar"? Na morte, que é separação da alma e do corpo, o corpo do homem cai na corrupção, ao passo que sua alma vai ao encontro de Deus, ficando à espera de ser novamente unida a seu corpo glorificado. Deus, em sua omnipotência, restituirá definitivamente a vida incorruptível a nossos corpos, unindo-os às nossas almas, pela virtude da Ressurreição de Jesus. Significação de ressurreição da carne O termo "carne" designa o homem em sua condição de fraqueza e de mortalidade. A "ressurreição da carne" significa que após a morte não haverá somente a vida da alma imortal, mas que mesmo os nossos "corpos mortais" (Rm 8,11) readquirirão vida. Tempo da ressurreição dos mortos Quando? Definitivamente "no último dia" (Jo 6,39-40.44-54); "no fim do mundo". Com efeito, a ressurreição dos mortos está intimamente associada à Parusia de Cristo: Quando o Senhor, ao sinal dado, à voz do arcanjo e ao som da trombeta divina, descer do céu, então os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro (1Ts 4,16). A ressurreição de todos os mortos, "dos justos e dos injustos" (At 24,15), antecederá o Juízo Final. Este será "a hora em que todos os que repousam nos sepulcros ouvirão sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para uma ressurreição de vida; os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de julgamento" (Jo 5,28-29). Então Cristo "virá em sua glória, e todos os anjos com Ele. (...) E serão reunidas em sua presença todas as nações, e Ele há de separar os homens uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos, e por as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. (...) E irão estes para o castigo eterno, e os justos irão para a Vida Eterna" (Mt 25,31-33.46). Transfiguração de Cristo sinal da ressurreição do homem No limiar da vida pública, o Baptismo; no limiar da Páscoa, a Transfiguração. Pelo Baptismo de Jesus "declaratum fuit mysterium primae regenerationis - foi manifestado o mistério da primeira regeneração": o nosso Baptismo; a Transfiguração "est sacramentum secundae regenerationis - é o sacramento da segunda regeneração": a nossa própria ressurreição. Desde já participamos da Ressurreição do Senhor pelo Espírito Santo que age nos sacramentos do Corpo de Cristo A Transfiguração dá-nos um antegozo da vinda gloriosa do Cristo, "que transfigurar nosso corpo humilhado, conformando-o ao seu corpo glorioso" (Fl 3,21). Mas ela nos lembra também "que é preciso passarmos por muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus" (At 14,22): Pedro ainda não tinha compreendido isso ao desejar viver com Cristo sobre a montanha. Ele reservou-te isto, Pedro, para depois da morte. Mas agora Ele mesmo diz: Desce para sofrer na terra, para servir na terra, para ser desprezado, crucificado na terra. A Vida desce para fazer-se matar; o Pão desce para ter fome; o Caminho desce para cansar-se da caminhada; a Fonte desce para ter sede; e tu recusas sofrer?

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14 - Protestantismo Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Protestantismo é a denominação do conjunto de igrejas Cristãs e doutrinas que se identificam com as teologias desenvolvidas no século XVI na Europa Ocidental, na tentativa de reforma da Igreja Católica Apostólica Romana, por parte de um importante grupo de teólogos e clérigos, entre os que se destacam o ex-monge agostiniano Martinho Lutero, de quem as igrejas luteranas tomam seu nome. Porém, a maior parte dos Cristãos europeus (especialmente na Europa meridional) não concordavam com as tentativas de reforma, o que produziu uma separação entre as emergentes igrejas reformadas e uma reformulação na Igreja Católica, a chamada Contra-Reforma, que reafirmou explicitamente todas aquelas doutrinas rechaçadas pelo protestantismo (Concílio de Trento). Definição O termo protestante surgiu como apelido pejorativo para aquele grupo de príncipes eleitores e cidades imperiais alemãs que se atreveram a expressar seu protesto, o testemunho público de objecção, na Dieta de Speyer (em política, a Dieta é uma assembleia deliberativa oficial de alguns Estados) de 1529, contra o Édito de Worms que proibia crer e ensinar as doutrinas luteranas naquelas localidades do Sacro Império Romano-Germánico onde ainda não eram conhecidas, mas que entregava completa liberdade ao clero católico para rebatê-las e persegui-las naquelas localidades do império onde já havia sido implantado.

Martinho Lutero.

Ramos Na Suíça de fala alemã, Ulrico Zuínglio, Johannes Oekolampad e outros começaram também uma tentativa de reforma da Igreja católica, de carácter mais urbano e enriquecida pelo humanismo de Erasmo de Roterdão. João Calvino foi o dirigente desta segunda geração da Reforma protestante, chamada popularmente calvinista. Esta corrente foi a mais dinâmica e internacional do Protestantismo entre os séculos XVI e XVII. A Igreja da Inglaterra (Anglicana) não se deixou influenciar, num primeiro momento, pelo protestantismo, mas depois de sua quebra com a Igreja de Roma, começou uma aproximação com os ideais reformados. Actualmente as igrejas da Comunhão Anglicana se declaram claramente reformadas. O protestantismo apresenta elementos em comum apesar de sua grande diversidade. A Bíblia é considerada a única fonte de autoridade doutrinal e deve ser interpretada de acordo com regras históricas e linguísticas, observando-se seu significado dentro de um contexto histórico. 164


A salvação é entendida como um dom gratuito (presente, graça) de Deus alcançado mediante a Fé . As boas obras não salvam, sendo resultados da fé e não causa de salvação. O culto sempre é no idioma vernáculo e em sua grande maioria é simples tendo como base as Escrituras Sagradas. O protestantismo histórico, conserva as crenças Cristãs ortodoxas tais como a doutrina trinitária, a cristologia clássica, o credo niceno-constantinopolitano, entre outros. Os protestantes expressam suas posições doutrinais por meio de Confissões de Fé e breves documentos apologéticos. A Confissão de Augsburgo expressa a doutrina Luterana. As confissões reformadas incluem a Confissão Escocesa (1560), a segunda Confissão Helvética (1531), a Confissão de Fé de Westminster (1647), os 39 Artigos de Religião da Igreja da Inglaterra (1562). As Declarações de Barmen contra o regime Nazista e a Breve Declaração de Fé da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos são exemplos de declarações de fé recentes. O ensino religioso tem como base o estudo de catecismos. No Luteranismo fazem-se uso dos Catecismo Maior e Menor de Lutero. O catecismo de Heildelberg e o Catecismo Maior e Menor de Westminster são utilizados pelas Igrejas Reformadas. O protestantismo rejeita parte das doutrinas que caracterizam o catolicismo; tais como: o purgatório, a supremacia papal, as orações pelos mortos, a intercessão dos santos, a assunção de Maria e sua virgindade perpétua, a veneração dos santos, a transubstanciação, o sacrifício da missa, o culto às imagens, etc. O protestantismo, em maior parte, segue a doutrina agostiniana da eleição. Estabelece que a salvação é pela graça (favor imerecido) de Deus. Para os protestantes a autoridade da Igreja está vinculada a obediência da palavra de Deus e não à sucessão apostólica. Assim sendo, a Igreja Cristã existe onde se escuta e obedece a palavra de Deus. O protestantismo deseja regressar às doutrinas apostólicas e à simplicidade da fé e prática da Igreja primitiva. Portanto deve-se ao protestantismo a iniciativa as primeiras práticas ecuménicas adoptadas a partir da segunda metade do século XIX. Vale lembrar que até hoje a Igreja Católica não faz parte do Conselho Mundial de Igrejas, e somente abriu-se ao diálogo ecuménico em 1965, após o Concílio Vaticano II. Os "reformadores" foram pessoas de vasta cultura teológica e humanista: Calvino estudou em Sorbonne e seu pai era bispo, Lutero foi monge e professor universitário da Bíblia; Zuínglio era sacerdote e humanista. De acordo com o programa dos humanistas, buscaram nas fontes da antiguidade Cristã as bases para uma renovação religiosa. Lendo as Sagradas Escrituras e retornando aos Pais da Igreja, descobriram uma nova visão da fé e uma doutrina bíblica cristocéntrica. O protestantismo se disseminou principalmente nos meios urbanos e através da nobreza. A difusão das ideias protestantes foi facilitada pela invenção da imprensa, que tornou possível a divulgação e a tradução da Bíblia nas línguas vernáculas. Desde então, as doutrinas Cristãs passaram a necessitar do aval bíblico. No Concílio de Trento (1545 a 1563), os bispos católicos partidários de Roma optaram por limitar o aceso laico às escrituras, proibindo a tradução da Bíblia para o vernáculo e impondo a Vulgata em latim como a única Bíblia autorizada e aumentando o índice de livros proibidos aos fiéis (Index Librorum Prohibitorum). (1229 D.C. A Igreja Católica proíbe aos leigos a leitura da Bíblia). A "Reforma" Protestante alcançou êxito em muitas áreas da Europa. Em sua forma luterana é predominante no norte da Alemanha e em toda a Península Escandinava. Na Escócia surgiu a Igreja Presbiteriana. As Igrejas Reformadas também frutificaram nos Países Baixos, na Suíça e no oriente da Hungria. Com o desenvolvimento dos impérios europeus, principalmente o Império Britânico, nos séculos XIX e XX o protestantismo continuou a se expandir, se tornando uma fé de escala mundial. Actualmente mais de 600 milhões de pessoas professam alguma das diferentes manifestações do protestantismo no mundo. 165


O protestantismo assumiu três formas básicas: a luterana, a reformada (calvinista) e a anglicana. O protestantismo não possui organização centralizadora, porém suas igrejas estão organizadas em igrejas nacionais e em concílios internacionais tais como a Aliança Mundial Reformada e a Federação Luterana Mundial. O trabalho missionário do século XIX levou a cooperação inter-nacional e consequentemente ao movimento ecuménico do qual surgiu o Conselho Mundial de Igrejas. Fora desse protestantismo, que muitos estudiosos denominam "protestantismo magisterial", surgiu outro ramo que se distinguiu tanto do catolicismo como das igrejas protestantes de carácter histórico-nacional. Este ramo recebe o nome de Reforma Radical. O historiador George Williams distingue as seguintes correntes dentro desta reforma: espiritualistas, racionalistas e anabaptistas. Os anabaptistas rechaçaram a união da igreja e estado e repudiaram o baptismo infantil, constituindo-se em igrejas independentes ou segregadas. O maior aporte à modernidade descansaria em sua persistente promoção da separação entre a igreja e o estado, a liberdade religiosa pessoal e o exercício de um governo plenamente democrático em suas congregações.

Principais ramos do protestantismo: Pré-Reforma    

John Wycliffe Lollardismo Valdenses Hussitas

"Reforma"  

 

Luteranismo Calvinismo o Igrejas Reformadas o Presbiterianismo o Congregacionalismo Anglicanismo Anabaptismo

Desenvolvimento posterior   

Baptistas Metodismo Adventismo

Desenvolvimento recente 

Pentecostalismo o Pentecostalismo tradicional o Deutero-pentecostalismo o Neopentecostalismo

Os dez países com maior número de protestantes no mundo actualmente são: 1. Estados Unidos 2. Reino Unido 3. Nigéria 166


4. Alemanha 5. África do Sul 6. Quénia 7. China 8. Brasil 9. Indonésia 10. República Democrática do Congo Movimentos teológicos de origem protestantes        

Puritanismo Pietismo Evangelicalismo Ecumenismo Fundamentalismo Cristão Pentecostalismo Neo-ortodoxia Liberalismo teológico

Reforma Protestante Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A Reforma Protestante foi um movimento reformista Cristão iniciado no século XVI por Martinho Lutero, que, através da publicação de suas 95 teses, protestou contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica, propondo uma reforma no catolicismo. Os princípios fundamentais da Reforma Protestante são conhecidos como os Cinco solas. Lutero foi apoiado por vários religiosos e governantes europeus provocando uma revolução religiosa, iniciada na Alemanha, e estendendo-se pela Suíça, França, Países Baixos, Reino Unido, Escandinávia e algumas partes do Leste europeu, principalmente os Países Bálticos e a Hungria. A resposta da Igreja Católica Romana foi o movimento conhecido como Contra Reforma ou Reforma Católica, iniciada no Concílio de Trento. O resultado da Reforma Protestante foi a divisão da chamada Igreja do Ocidente entre os católicos romanos e os reformados ou protestantes, originando o Protestantismo. Pré-Reforma A Pré-Reforma foi o período anterior à Reforma Protestante no qual se iniciaram as bases ideológicas que posteriormente resultaram na reforma iniciada por Martinho Lutero. A Pré-Reforma tem suas origens em uma denominação Cristã do século XII conhecida como Valdenses, que era formada pelos seguidores de Pedro Valdo, um comerciante de Lyon que se converteu ao Cristianismo por volta de 1174. Ele decidiu encomendar uma tradução da Bíblia para a linguagem popular e começou a pregá-la ao povo sem ser sacerdote. Ao mesmo tempo, renunciou à sua actividade e aos bens, que repartiu entre os pobres. Desde o início, os valdenses afirmavam o direito de cada fiel de ter a Bíblia em sua própria língua, considerando ser a fonte de toda autoridade eclesiástica. Eles reuniam-se em casas de famílias ou mesmo em grutas, clandestinamente, devido à perseguição da Igreja Católica, já que negavam a supremacia de Roma e rejeitavam o culto às imagens, que consideravam como sendo idolatria.

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John Wycliffe.

No seguimento do colapso de instituições monásticas e da escolástica nos finais da Idade Média na Europa, acentuado pelo Cativeiro Babilónico da igreja no papado de Avignon, o Grande Cisma e o fracasso da conciliação, se viu no século XVI o fermentar de um enorme debate sobre a reforma da religião e dos posteriores valores religiosos fundamentais. No século XIV, o inglês John Wycliffe, considerado como precursor da Reforma Protestante, levantou diversos questionamentos sobre questões controversas que envolviam o Cristianismo, mais precisamente a Igreja Católica Romana. Entre outras ideias, Wycliffe queria o retorno da Igreja à primitiva pobreza dos tempos dos evangelistas, algo que, na sua visão, era incompatível com o poder político do Papa e dos cardeais, e que o poder da Igreja devia ser limitado às questões espirituais, sendo o poder político exercido pelo Estado, representado pelo rei. Contrário à rígida hierarquia eclesiástica, Wycliffe defendia a pobreza dos padres e os organizou em grupos. Estes padres foram conhecidos como "lolardos". Mais tarde, surgiu outra figura importante deste período: Jan Hus. Este pensador tcheco iniciou um movimento religioso baseado nas ideias de John Wycliffe. Seus seguidores ficaram conhecidos como Hussitas. Reforma Na Alemanha, Suíça e França No início do século XVI, o monge alemão Martinho Lutero, abraçando as ideias dos préreformadores, proferiu três sermões contra as indulgências em 1516 e 1517. A 31 de outubro de 1517 foram pregadas as 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, com um convite aberto ao debate sobre elas. Esse facto é considerado como o início da Reforma Protestante.

Martinho Lutero, aos 46 anos de idade.

Essas teses condenavam a "avareza e o paganismo" na Igreja, e pediam um debate teológico sobre o que as indulgências significavam. As 95 Teses foram logo traduzidas para o alemão e amplamente copiadas e impressas. Após um mês se haviam espalhado por toda a Europa. Após diversos acontecimentos, em Junho de 1518 foi aberto um processo por parte da Igreja Romana contra Lutero, a partir da publicação das suas 95 Teses. Alegava-se, com o exame do processo, que ele incorria em heresia. Depois disso, em Agosto de 1518, o processo foi alterado para heresia notória. Finalmente, em Junho de 1520 reapareceu a ameaça no escrito "Exsurge Domini" e, em Janeiro de 1521, a bula "Decet Romanum Pontificem" excomungou Lutero. Devido a esses acontecimentos, Lutero foi exilado no Castelo de Wartburg, em Eisenach, onde permaneceu por cerca de um ano. Durante esse período de retiro forçado, Lutero trabalhou na sua tradução da Bíblia para o alemão, da qual foi impresso o Novo Testamento, em Setembro de 1522. 168


As reformas que Lutero propunha não se referiam apenas a questões doutrinárias, mas também aos abusos eclesiásticos: - a diminuição do número de cardeais e outras exigências da corte papal; - a abolição das rendas do Papa; - o reconhecimento do governo secular; - a renúncia da exigência papal pelo poder temporal; - a abolição dos Interditos e abusos relacionados com a excomunhão; - a abolição das peregrinações nocivas; - a eliminação dos excessivos dias santos; - a supressão dos conventos para monjas, da mendicidade e da sumptuosidade; a reforma das universidades; - a abolição do celibato do clero; - a união dos boémios; - e, finalmente, uma reforma geral na moralidade pública. Muitas destas propostas reflectiam os interesses da nobreza alemã, revoltada com sua submissão ao Papa e, principalmente, com o facto de terem que enviar riquezas a Roma.

Extensão da Reforma Protestante na Europa.

Enquanto isso, em meio ao clero saxónio, aconteceram renúncias ao voto de castidade, ao mesmo tempo em que outros tantos atacavam os votos monásticos. Entre outras coisas, muitos realizaram a troca das formas de adoração e terminaram com as missas, assim como a eliminação das imagens nas igrejas e a ab-rogação (negação) do celibato. Ao mesmo tempo em que Lutero escrevia “a todos os Cristãos para que se resguardem da insurreição e rebelião”. Seu casamento com a ex-freira cisterciense Catarina von Bora incentivou o casamento de outros padres e freiras que haviam adoptado a Reforma. Com estes e outros actos consumouse o rompimento definitivo com a Igreja Romana. Em Janeiro de 1521 foi realizada a Dieta de Worms, que teve um papel importante na Reforma, pois nela Lutero foi convocado para desmentir as suas teses, no entanto ele defendeu-as e pediu a reforma. Toda essa rebelião ideológica resultou também em rebeliões armadas, com destaque para a Guerra dos camponeses (1524-1525). Esta guerra foi, de muitas maneiras, uma resposta aos discursos de Lutero e de outros reformadores. Revoltas de camponeses já tinham existido em pequena escala em Flandres (1321-1323), na França (1358), na Inglaterra (1381-1388), durante as guerras hussitas do século XV, e muitas outras até o século XVIII. Mas muitos camponeses julgaram que os ataques verbais de Lutero à Igreja e sua hierarquia significavam que os reformadores iriam igualmente apoiar um ataque armado à hierarquia social. Porém não foi assim: Lutero condenou essa revolta armada.

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O Muro dos Reformadores. Da esquerda à direita, estátuas de Guilherme Farel, João Calvino, Teodoro de Beza e John Knox.

Em 1530 foi apresentada na Dieta imperial convocada pelo Imperador Carlos V, realizada em Abril desse ano, a Confissão de Augsburgo, escrita por Felipe Melanchton com o apoio da Liga de Esmalcalda. Os representantes católicos na Dieta resolveram preparar uma refutação ao documento luterano em Agosto, a Confutatio Pontificia (Confutação), que foi lida na Dieta. O Imperador exigiu que os luteranos admitissem que sua Confissão havia sido refutada. A reacção luterana surgiu na forma da Apologia da Confissão de Augsburgo, que estava pronta para ser apresentada em Setembro do mesmo ano, mas foi rejeitada pelo Imperador. A Apologia foi publicada por Felipe Melanchton no fim de Maio de 1531, tornando-se confissão de fé oficial quando foi assinada, juntamente com a Confissão de Augsburgo, em Esmalcalda, em 1537. Ao mesmo tempo em que ocorria uma reforma em um sentido determinado, alguns grupos protestantes realizaram a chamada Reforma Radical. Queriam uma reforma mais profunda. Foram parte importante dessa reforma radical os Anabaptistas, cujas principais características eram a defesa da total separação entre igreja e estado e o "novo baptismo" (que em grego é anabaptizo).

João Calvino.

Enquanto na Alemanha a reforma era liderada por Lutero, Na França e na Suíça a Reforma teve como líderes João Calvino e Ulrico Zuínglio. João Calvino foi inicialmente um humanista. Nunca foi ordenado sacerdote. Depois do seu afastamento da Igreja católica, este intelectual começou a ser visto como um representante importante do movimento protestante. Vítima das perseguições aos huguenotes na França, fugiu para Genebra em 1533 onde faleceu em 1564. Genebra tornou-se um centro do protestantismo europeu e João Calvino permanece desde então como uma figura central da história da cidade e da Suíça. Calvino publicou as Institutas da Religião Cristã, que são uma importante referência para o sistema de doutrinas adoptado pelas Igrejas Reformadas. Os problemas com os huguenotes somente concluíram quando o Rei Henry IV, um exhuguenote, emitiu o Édito de Nantes, declarando tolerância religiosa e prometendo um reconhecimento oficial da minoria protestante, mas sob condições muito restritas. O catolicismo se manteve como religião oficial estatal e as fortunas dos protestantes franceses diminuíram gradualmente ao longo do próximo século, culminando na Louis XIV do Édito de Fontainebleau, que revogou o Édito de Nantes e fez do catolicismo única religião legal na França. Em resposta 170


ao Édito de Fontainebleau, Frederick William de Brandemburgo declarou o Édito de Potsdam, dando passagem livre para franceses huguenotes refugiados e status de isenção de impostos a eles durante 10 anos. Ulrico Zuínglio foi o líder da reforma suíça e fundador das igrejas reformadas suíças. Zuínglio não deixou igrejas organizadas, mas as suas doutrinas influenciaram as confissões calvinistas. A reforma de Zuínglio foi apoiada pelo magistrado e pela população de Zurique, levando a mudanças significativas na vida civil e em assuntos de estado em Zurique. No Reino Unido O curso da Reforma foi diferente na Inglaterra. Desde muito tempo atrás havia uma forte corrente anticlerical, tendo a Inglaterra já visto o movimento Lollardo, que inspirou os Hussitas na Boémia. No entanto, ao redor de 1520 os lollardos já não eram uma força activa, ou pelo menos um movimento de massas.

Henrique VIII.

O carácter diferente da Reforma Inglesa deve-se ao facto de ter sido promovida inicialmente pelas necessidades políticas de Henrique VIII. Sendo este casado com Catarina de Aragão, que não lhe havia dado filho homem, Henrique solicitou ao Papa Clemente VII a anulação do casamento. Perante a recusa do Papado, Henrique fez-se proclamar, em 1531, protector da Igreja inglesa. O “Acto de Supremacia”, votado no Parlamento em Novembro de 1534, colocou Henrique e os seus sucessores na liderança da igreja, nascendo assim o Anglicanismo. Os súbditos deveriam submeter-se ou então seriam excomungados, perseguidos e executados, como aconteceu com importantes opositores, tais como Thomas More e o Bispo John Fischer. Quando Henrique foi sucedido pelo seu filho Eduardo VI em 1547, os protestantes viram-se em ascensão no governo. Uma reforma mais radical foi imposta diferenciando o anglicanismo ainda mais do catolicismo. Seguiu-se uma breve reacção católica durante o reinado de Maria I (1553-1558). De início moderada na sua política religiosa, Maria procura a reconciliação com Roma, consagrada em 1554, quando o Parlamento votou o regresso à obediência ao Papa. Um consenso começou a surgir durante o reinado de Elizabeth I. Em 1559, Elizabeth I retornou ao anglicanismo com o restabelecimento do Acto de Supremacia e do Livro de Orações de Eduardo VI. Através da Confissão dos Trinta e Nove Artigos (1563), Elizabeth alcançou um compromisso entre o protestantismo e o catolicismo: embora o dogma se aproximasse do calvinismo, só admitindo como sacramentos o Baptismo e a Eucaristia, foi mantida a hierarquia episcopal e o fausto das cerimónias religiosas.

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John Knox.

A Reforma na Inglaterra procurou preservar o máximo da Tradição Católica (episcopado, liturgia e sacramentos). A Igreja da Inglaterra sempre se viu como a ecclesia anglicanae, ou seja, A Igreja Cristã na Inglaterra e não como uma derivação da Igreja de Roma ou do movimento reformista do século XVI. A Reforma Anglicana buscou ser a "via média" entre o catolicismo e o protestantismo. Em 1561 apareceu uma confissão de fé com uma Exortação à Reforma da Igreja modificando seu sistema de liderança, pelo qual nenhuma igreja deveria exercer qualquer autoridade ou governo sobre outras, e ninguém deveria exercer autoridade na Igreja se isso não lhe fosse conferido por meio de eleição. Esse sistema, considerado "separatista" pela Igreja Anglicana, ficou conhecido como Congregacionalismo. Richard Fytz é considerado o primeiro pastor de uma igreja congregacional, entre os anos de 1567 e 1568, na cidade de Londres. Por volta de 1570 ele publicou um manifesto intitulado As Verdadeiras Marcas da Igreja de Cristo. Em 1580 Robert Browne, um clérigo anglicano que se tornou separatista, junto com o leigo Robert Harrison, organizou em Norwich uma congregação cujo sistema era congregacionalista, sendo um claro exemplo de igreja desse sistema. Na Escócia, John Knox (1505-1572), que tinha estudado com João Calvino em Genebra, levou o Parlamento da Escócia a abraçar a Reforma Protestante em 1560, sendo estabelecido o Presbiterianismo. A primeira Igreja Presbiteriana, a Church of Scotland (ou Kirk), foi fundada como resultado disso. Nos Países Baixos e na Escandinávia

Erasmo de Roterdão.

A Reforma nos Países Baixos, ao contrário de muitos outros países, não foi iniciado pelos governantes das Dezassete Províncias, mas sim por vários movimentos populares que, por sua vez, foram reforçados com a chegada dos protestantes refugiados de outras partes do continente. Enquanto o movimento Anabaptista gozava de popularidade na região nas primeiras décadas da Reforma, o calvinismo, através da Igreja Reformada Holandesa, tornou a fé protestante dominante no país desde a década de 1560 em diante. Duras perseguições aos protestantes pelo governo espanhol de Felipe II contribuíram para um desejo de independência

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nas províncias, o que levou à Guerra dos Oitenta Anos e eventualmente, a separação da zona protestante (actual Holanda, ao norte) da zona católica (actual Bélgica, ao sul). Teve grande importância durante a Reforma um teólogo holandês: Erasmo de Roterdão. No auge de sua fama literária, foi inevitavelmente chamado a tomar partido nas discussões sobre a Reforma. Inicialmente, Erasmo se simpatizou com os principais pontos da crítica de Lutero, descrevendo-o como "uma poderosa trombeta da verdade do evangelho" e admitindo que, "É claro que muitas das reformas que Lutero pede são urgentemente necessárias." Lutero e Erasmo demonstraram admiração mútua, porém Erasmo hesitou em apoiar Lutero devido a seu medo de mudanças na doutrina. Em seu Catecismo (intitulado Explicação do Credo Apostólico, de 1533), Erasmo tomou uma posição contrária a Lutero por aceitar o ensinamento da "Sagrada Tradição" não escrita como válida fonte de inspiração além da Bíblia, por aceitar no canon bíblico os livros deuterocanónicos e por reconhecer os sete sacramentos. Estas e outras discordâncias, como por exemplo, o tema do Livre arbítrio fizeram com que Lutero e Erasmo se tornassem opositores.

Catedral luterana em Helsínquia, Finlândia.

Na Dinamarca, a difusão das ideias de Lutero deveu-se a Hans Tausen. Em 1536 na Dieta de Copenhaga, o rei Cristiano III aboliu a autoridade dos bispos católicos, tendo sido confiscados os bens das igrejas e dos mosteiros. O rei atribuiu a Johann Bugenhagen, discípulo de Lutero, a responsabilidade de organizar uma Igreja Luterana nacional. A Reforma na Noruega e na Islândia foi uma consequência da dominação da Dinamarca sobre estes territórios; assim, logo em 1537 ela foi introduzida na Noruega e entre 1541 e 1550 na Islândia, tendo assumido neste último território características violentas. Na Suécia, o movimento reformista foi liderado pelos irmãos Olaus Petri e Laurentius Petri. Teve o apoio do rei Gustavo I Vasa, que rompeu com Roma em 1525, na Dieta de Vasteras. O luteranismo, então, penetrou neste país estabelecendo-se em 1527. Em 1593, a Igreja sueca adoptou a Confissão de Augsburgo. Na Finlândia, as igrejas faziam parte da Igreja sueca até o início do século XIX, quando foi formada uma igreja nacional independente, a Igreja Evangélica Luterana da Finlândia. Em outras partes da Europa Na Hungria, a disseminação do protestantismo foi auxiliada pela minoria étnica alemã, que podia traduzir os escritos de Lutero. Enquanto o Luteranismo ganhou uma posição entre a população de língua alemã, o Calvinismo se tornou amplamente popular entre a etnia húngara. Provavelmente, os protestantes chegaram a ser maioria na Hungria até o final do século XVI, mas os esforços da Contra-Reforma no século XVII levaram uma maioria do reino de volta ao catolicismo. Fortemente perseguida, a Reforma praticamente não penetrou em Portugal e Espanha. Ainda assim, uma missão francesa enviada por João Calvino se estabeleceu em 1557 numa das ilhas da Baía de Guanabara, localizada no Brasil, então colónia de Portugal. Ainda que tenha durado pouco tempo, deixou como herança a Confissão de Fé da Guanabara. Na Espanha, as ideias reformadas influíram em dois monges católicos: Casiodoro de Reina, que fez a primeira tradução da Bíblia para o idioma espanhol, e Cipriano de Valera, que fez sua revisão, originando a conhecida como Biblia Reina-Valera.

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Um dos pontos de destaque da reforma é o facto de ela ter possibilitado um maior acesso à Bíblia, graças às traduções feitas por vários reformadores (entre eles o próprio Lutero) a partir do latim para as línguas nacionais. Tal liberdade fez com que fossem criados diversos grupos independentes, conhecidos como denominações. Nas primeiras décadas após a Reforma Protestante, surgiram diversos grupos, destacando o Luteranismo e as Igrejas Reformadas ou calvinistas (Presbiterianismo e Congregacionalismo). Nos séculos seguintes, surgiram outras denominações reformadas, com destaque para os Baptistas e os Metodistas.

Consequências Contra-reforma

Massacre de São Bartolomeu.

Imediatamente após o início da Reforma Protestante, a Igreja Católica Romana decidiu tomar medidas para frear o avanço da Reforma. Realizou-se, então, o Concílio de Trento (15451563), que resultou no início da Contra-Reforma ou Reforma Católica, na qual os Jesuítas tiveram um papel importante. A Inquisição e a censura exercida pela Igreja Católica foram igualmente determinantes para evitar que as ideias reformadoras encontrassem divulgação em Portugal, Espanha ou Itália, países católicos. O biógrafo de João Calvino, o francês Bernard Cottret, escreveu: "Com o Concílio de Trento (1545-1563)... trata-se da racionalização e reforma da vida do clero. A Reforma Protestante é para ser entendida num sentido mais extenso: ela denomina a exortação ao regresso aos valores Cristãos de cada "indivíduo. Segundo Bernard Cottret, a reforma Cristã, em toda a sua diversidade, aparece centrada na teologia da salvação. A salvação, no Cristianismo, é forçosamente algo de individual, diz mais respeito ao indivíduo do que à comunidade, diferente da pregação católica que defende a salvação na igreja. O principal acontecimento da contra-reforma foi o Massacre da noite de São Bartolomeu. As matanças, organizadas pela casa real francesa, começaram em 24 de Agosto de 1572 e duraram vários meses, inicialmente em Paris e depois em outras cidades francesas, vitimando entre 70.000 e 100.000 protestantes franceses (chamados huguenotes).

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Tabela ilustrando através dos séculos as diferentes correntes do Protestantismo.

Ramos do Protestantismo.

Comparação entre o Catolicismo e o Protestantismo no século XVI Igreja Católica. Livro sagrado - A Bíblia é a fonte de fé, mas devia ser interpretada pelos padres da Igreja. A tradição católica também é uma fonte de fé, assim como o Magistério da Igreja. Salvação humana - Salvação pela carta de indulgencia. Sacramentos - São sete: Batismo, Crisma, Eucaristia, Matrimônio, Penitência, ordem e Unção dos doentes. Rito religioso - Missa solene em latim. Países de influência - Espanha, Portugal, Itália, sul da Alemanha, maioria da França, maioria da Irlanda. Luterana. Livro sagrado - A Bíblia é a única fonte de fé. Permitia-se seu livre exame. Salvação humana - Salvação pela fé em Deus. Sacramentos - São dois: Batismo e Eucaristia. Rito religioso - Culto simples (com liturgia) com o uso das línguas nacionais. Países de influência - Norte da Alemanha, Dinamarca, Noruega, Suécia, Finlândia. Calvinista. Livro sagrado - A Bíblia é a única fonte de fé. Permitia-se seu livre exame. Salvação humana - Salvação pela fé e graça de Deus (predestinação). As boas obras eram vistas como consequência da salvação. Sacramentos - São dois: Batismo e Eucaristia. Rito religioso - Culto bem simples (com liturgia) com o uso das línguas nacionais. Países de influência - Suíça, Países Baixos, parte da França (huguenotes), Inglaterra (puritanos), Escócia (presbiterianos). Anglicana. Livro sagrado - A Bíblia é a fonte principal de fé. Devia ser interpretada pela Igreja (tradição) e permitia-se seu livre exame (razão). Salvação humana - Salvação pela fé e graça de Deus (predestinação). As boas obras eram vistas como consequência da salvação.

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Sacramentos - Para os anglicanos o Batismo e a Eucaristia foram os dois sacramentos instituídos por Jesus Cristo. Os demais ritos sacramentais da Igreja também são aceitos, apesar de não terem sido instituídos por Cristo, mas são reconhecidos por serem, em parte, estados de vida aprovados nas Escrituras: a Confirmação, Penitência, Ordens, Matrimônio e a Unção dos enfermos. Rito religioso - Culto conservando a forma católica (liturgia, hierarquia da Igreja). Uso da língua nacional (inglês). Países de influência - Inglaterra.

João Huss (Jan Hus) Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Jan Hus. Jan Hus (Husinec, Boémia do Sul, 1369 - Constança, 6 de Julho de 1415) foi um pensador e reformador religioso. Ele iniciou um movimento religioso baseado nas ideias de John Wycliffe. Os seu seguidores ficaram conhecidos como os Hussitas. A igreja católica não perdoou tais rebeliões e ele foi excomungado em 1410. Condenado pelo Concílio de Constança, foi queimado vivo. Um precursor do movimento protestante (ver: Reforma Protestante), a sua extensa obra escrita concedeu-lhe um importante papel na história literária checa. Também é responsável pela introdução do uso de acentos na língua checa por modo a fazer corresponder cada som a um símbolo único. Hoje em dia a sua estátua pode ser encontrada na praça central de Praga, a Staroměstské náměstí (Praça da Cidade Velha). Sua infância e estudos Jan Hus,(ou mais conhecido por João Huss) o famoso reformador da Boémia, nasceu em Husinec (75 km s. s. w. de Praga) possivelmente a 6 de Julho de 1369, como se acredita, tendo sido queimado vivo em Constança a 6 de Julho de 1415. O nome Hus é a abreviação do seu lugar de nascimento, feita pelo próprio, em cerca de 1399; anteriormente era conhecido como Jan Husinecký, ou, em Latim, Johannes de Hussinetz. Seus pais eram checos de poucas posses. Teve de ganhar a vida cantando e prestando serviços na Igreja. Sentiu-se atraído pela profissão clerical não tanto por um impulso interior mas pela atracção de uma vida tranquila como clérigo. Estudou em Praga. Nos seus escritos usava frequentemente citações de John Wyclif. Era uma personalidade de temperamento quente. Em 1400 foi ordenado padre, em 1401 tornou-se reitor da faculdade de Filosofia, e no ano seguinte foi reitor da Universidade Carlos. Em 1402 foi nomeado também pregador na Igreja de Belém em Praga, onde pregava em língua checa. Influência de Wyclif na Boémia No seguimento do casamento da irmã do rei Venceslau, Anne, com Ricardo II de Inglaterra em 1382, os escritos filosóficos de Wyclif tornaram-se conhecidos na Boémia. Como estudante, Huss tinha sido atraído por eles, particularmente pelo seu realismo filosófico. O chamado Hussismo das primeiras décadas do século XV não era mais do que Wyclifismo transplantado para solo Boémio. (ver também: Guerras Hussitas).

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Preparação da execução de Jan Hus. Os escritos teológicos de John Wycliffe espalharam-se rapidamente pela Boémia, trazidos em 1402 por Jerónimo de Praga, que havia estudado na Universidade de Oxford (onde Wyclif lecionara no século XIV) e que, mais tarde, tornou-se amigo e seguidor de Huss. Tais escritos causaram profunda impressão em Hus. A Universidade decretou-se contra as novas doutrinas, e em 1403 proibiu uma disputa sobre 45 Teses tiradas em parte de Wyclif. Sob a tutela do Arcebispo Zbyněk Zajíc (desde 1403), Hus gozou inicialmente de boa reputação. Em 1405 ele estava activo como pregador sinodal, mas o bispo foi forçado a depor contra ele devido aos ataques dele contra o sacerdócio. Hus pregava o Sacerdócio Universal dos Crentes, no qual qualquer pessoa pode comunicar-se com Deus sem a mediação humana. Antes de ser queimado, Hus disse as seguintes palavras ao carrasco: "Vocês hoje estão queimando um ganso (Hus significa "ganso" na língua boémia), mas dentro de um século, encontrar-se-ão com um cisne. E este cisne vocês não poderão queimar." Costuma-se identificar Martinho Lutero com esta profecia (que 102 anos depois pregou suas 95 teses em Wittenberg), e costumeiramente se costuma identificá-lo com um cisne. O Cisma Papal O desenvolvimento da situação na Universidade de Praga dependeu em grande parte da questão do cisma papal. O rei Venceslau, que estava prestes a assumir o comando do governo, mas que não dispunha do apoio de Gregório XII, afastou-se dele e ordenou ao seu prelado que observasse a estrita neutralidade face a ambos os papas, esperando o mesmo da Universidade. O arcebispo permaneceu fiel a Gregório, e na Universidade foi apenas a nação Boémia, com Hus como seu porta-voz, que se manifestou neutra. Irado com esta atitude, Venceslau, com a instigação de Hus e de outros líderes checos, emitiu em Kutná Hora um decreto segundo o qual seriam concedidos à nação boémia três votos em todos os assuntos da Universidade, enquanto que às nações estrangeiras, principalmente a alemã, teriam apenas um voto. Como consequência, muitos doutores, mestres e estudantes alemães deixaram a Universidade em 1409, e a Universidade de Leipzig foi fundada. Desta forma, Praga tornou-se uma escola checa, tendo os emigrantes espalhado a fama das doutrinas Boémias para zonas distantes.

Martinho Lutero Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Lutero em 1529 por Lucas Cranach.

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Martinho Lutero (Eisleben, 10 de Novembro de 1483 — Eisleben, 18 de Fevereiro de 1546) foi um monge agostiniano alemão, teólogo, professor universitário, "Pai do Protestantismo" e reformista da Igreja Católica, cujas ideias influenciaram a Reforma Protestante e mudaram o curso da Civilização ocidental.

Lutero com a tonsura monástica. Em 19 de Outubro de 1512, Martinho Lutero graduou-se Doutor em Teologia e, em 21 de Outubro do mesmo ano, foi "recebido no Senado da Faculdade Teológica" com o título de "Doutor em Bíblia". Em 1515, foi nomeado vigário de sua ordem tendo sob sua autoridade onze monastérios. Durante esse período, estudou grego e hebraico, para aprofundar-se no significado e origem das palavras utilizadas nas Escrituras - conhecimentos que logo utilizaria para a sua própria tradução da Bíblia. A controvérsia acerca das indulgências A indulgência é a remissão (parcial ou total) do castigo temporal imputado a alguém por conta dos seus pecados. Naquele tempo qualquer pessoa poderia comprar uma indulgência, quer para si mesmo, quer para um parente já morto que estivesse no Purgatório. O frade Johann Tetzel fora recrutado para viajar através dos territórios episcopais do arcebispo Alberto de Mogúncia, promovendo e vendendo indulgências com o objectivo de financiar as reformas da Basílica de São Pedro, em Roma. Lutero viu este tráfico de indulgências como um abuso que poderia confundir as pessoas e levá-las a confiar apenas nas indulgências, deixando de lado a confissão e o arrependimento verdadeiros. Proferiu, então, três sermões contra as indulgências em 1516 e 1517. Segundo a tradição, a 31 de Outubro de 1517 foram pregadas as 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, com um convite aberto ao debate sobre elas. Essas teses condenavam a avareza e o paganismo na Igreja como um abuso, e pediam um debate teológico sobre o que as Indulgências significavam. Para todos os efeitos, contudo, nelas Lutero não questionava directamente a autoridade do Papa para conceder as tais indulgências. Sob essas circunstâncias de crise, e confrontando aos nobres alemães, Lutero escreveu "À Nobreza Cristã da Nação Alemã" (Agosto de 1520), onde recomendava ao laicado, como um sacerdote espiritual, que fizesse a reforma requerida por Deus, mas abandonada pelo Papa e pelo clero. Pela primeira vez Lutero referiu-se ao Papa como o Anticristo. O cativeiro babilónico Lutero gerou muitas polémicas doutrinárias com seu "Prelúdio no Cativeiro Babilónico da Igreja", em especial no que diz respeito aos sacramentos. Eucaristia - apoiava que fosse devolvido o "cálice" ao laicado; na chamada questão do dogma da transubstanciação, afirmava que era real a presença do corpo e do sangue do Cristo na eucaristia, mas refutava o ensinamento de que a eucaristia era o sacrifício oferecido por Deus. Baptismo - ensinava que trazia a justificação apenas se combinado com a fé salvadora em o receber; de facto, mantinha o princípio da salvação inclusive para aqueles que mais tarde se convertessem. Penitência - afirmou que sua essência consiste na palavra de promessa de desculpas recebidas com fé.

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Para ele, apenas estes três sacramentos podiam assim ser considerados, pois sua instituição era divina e a promessa da salvação de Deus estava ligada a eles. Contudo, em sentido estrito, apenas o baptismo e a eucaristia seriam verdadeiros sacramentos, pois apenas eles tinham o "sinal visível da instituição divina": a água no baptismo e o pão e vinho da eucaristia. Lutero negou, em seu documento, que a confirmação (Crisma), o matrimónio, a ordenação sacerdotal e a extrema-unção fossem sacramentos. Liberdade de um Cristão As duas teses que Lutero desenvolve são aparentemente contraditórias, mas, em verdade, são complementares: - "O Cristão é um senhor libérrimo sobre tudo, a ninguém sujeito"; - "O Cristão é um servo oficiosíssimo (feito por obséquio) de tudo, a todos sujeito". A primeira tese é válida "na fé"; a segunda, "no amor". A excomunhão A 15 de Junho de 1520, o Papa advertiu Lutero, com a bula "Exsurge Domine", onde o ameaçava com a excomunhão, a menos que, num prazo de sessenta dias, repudiasse 41 pontos de sua doutrina, destacados pela Igreja. Em Outubro de 1520, Lutero enviou seu escrito "A Liberdade de um Cristão" ao Papa, acrescentando a frase significativa: "Eu não me submeto a leis ao interpretar a palavra de Deus". O Papa Leão X excomungou Lutero a 3 de Janeiro de 1521, na bula "Decet Romanum Pontificem".

Castelo Wartburg em Eisenach.

Martinho Lutero e o Cardeal Caetano, em 1557.

O selo de Lutero.

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Martinho Lutero pregando no Castelo Wartburg, quadro de Hugo Vogel.

Seu quarto no castelo de Wartburg, em Eisenach. Lutero aconselhou uma reforma cuidadosa, que leve em consideração a consciência daqueles que ainda não estivessem persuadidos a acolher a Reforma. A consagração do pão foi restaurada por um tempo e o cálice sagrado foi ministrado somente àqueles do laicado que o desejaram. O canon das missas, devido ao seu carácter imolatório, foi suprimido. Devido ao sacramento da confissão ter sido abolido, verificou-se a necessidade que muitas pessoas ainda tinham de confessar-se em busca do perdão. Matrimónio e família Em Abril de 1523, Lutero ajudou 12 freiras a escaparem do cativeiro no Convento de Nimbschen. Entre essas freiras encontrava-se Catarina von Bora, filha de nobre família , com quem veio a se casar, em 13 de Junho de 1525. Dessa união nasceram seis filhos: Johannes, Elisabeth, Magdalena, Martin, Paul e Margaretha. O casamento de Lutero com a ex-freira cisterciense incentivou o casamento de outros padres e freiras que haviam adoptado a Reforma. Foi um rompimento definitivo com a Igreja Romana. A discordância com João Calvino No movimento reformista (também chamado de Reforma), Lutero não concordou como o "estilo" de reforma de João Calvino. Martinho Lutero queria reformar a Igreja Primitiva, enquanto João Calvino, acreditava que a Igreja estava tão degenerada, que não havia como reformá-la. Calvino se propunha a organizar uma nova Igreja que, na sua doutrina (e também em alguns costumes), seria idêntica à Igreja Primitiva. Já Lutero decidiu reformá-la, fundando, então, o Protestantismo, que não seguia tradições, mas apenas a doutrina registada na Bíblia, e cujos usos e costumes não ficariam presos a convenções ou épocas. A doutrina luterana está explicitada no "Livro de Concórdia", e não muda, embora os costumes e formas variem de acordo com a localidade e a época.

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João Calvino Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

João Calvino João Calvino (Noyon, 10 de Julho de 1509 — Genebra, 27 de Maio de 1564) foi um teólogo Cristão francês. Calvino teve uma influência muito grande durante a Reforma Protestante, uma influência que continua até hoje. Portanto, a forma de Protestantismo que ele ensinou e viveu é conhecido por alguns pelo nome Calvinismo, mesmo se o próprio Calvino teria repudiado contundentemente este apelido. Esta variante do Protestantismo viria a ser bem sucedida em países como a Suíça (país de origem), Países Baixos, África do Sul (entre os africanderes), Inglaterra, Escócia e Estados Unidos da América. Nascido na Picardia, ao norte da França, foi baptizado com o nome de Jean Cauvin. A tradução do apelido de família "Cauvin" para o latim Calvinus deu a origem ao nome "Calvin", pelo qual se tornou conhecido. Calvino foi inicialmente um humanista. Nunca foi ordenado sacerdote. Vítima das perseguições aos protestantes na França, fugiu para Genebra em 1536, onde faleceu em 1564. Genebra tornou-se definitivamente num centro do protestantismo Europeu e João Calvino permanece até hoje uma figura central da história da cidade e da Suíça. Martinho Lutero escreveu as suas 95 teses em 1517, quando Calvino tinha oito anos de idade. Para muitos, Calvino terá sido para a língua francesa aquilo que Lutero foi para a língua alemã - uma figura quase paternal. Lutero era dotado de uma retórica mais directa, por vezes grosseira, enquanto que Calvino tinha um estilo de pensamento mais refinado. Em Estrasburgo, Calvino casa-se em Agosto de 1540 com a viúva Idelette de Bure, que tinha sido previamente adepta do anabaptismo. Traz duas crianças do seu prévio casamento. Calvino tem 31 anos de idade. Por volta de 1550, Calvino escreve ao rei Eduardo VI de Inglaterra, um protestante, encorajando-o nas suas reformas. O rei Eduardo VI fez acolher protestantes franceses, perseguidos no país natal. Após o reinado de Eduardo VI (1547-1553) o catolicismo regressa à Inglaterra sob a liderança de Maria Tudor. João Calvino faleceu em Genebra a 27 de Maio de 1564. Foi enterrado numa sepultura simples e não marcada, conforme o seu próprio pedido. Em 2009, serão comemorados os 500 anos de nascimento de Calvino. A Federação Suiça de Igrejas Protestantes juntamente com a Alinça Mundial de Igrejas Reformadas lançam um concurso mundial de sermões e composições de hinos religiosos como parte dessas comemorações.

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Controvérsias no Protestantismo Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Controvérsias no protestantismo é uma denominação extremamente abrangente para as diversas controvérsias nas posições actuais ou históricas do protestantismo e das igrejas que seguem esta doutrina (Protestantes e Evangélicas), em suas acções, ensinamentos, estrutura ou natureza, bem como em suas divergências e interpretações teológicas. Tais controvérsias ocorreram principalmente nas igrejas protestantes mais tradicionais, tais como a Igreja Luterana, a Igreja Presbiteriana, a Igreja Anglicana e outras. Uma vez que existem diversas igrejas protestantes sem ligações entre si, com diferentes pontos de vista e muitas vezes com certa rivalidade, estas controvérsias não representam a opinião da maioria dos crentes protestantes e de suas igrejas. Catolicismo e Protestantismo Os protestantes e católicos sempre entraram em controvérsia quanto à veneração de imagens, purgatório, supremacia papal, justificação pela fé e outras doutrinas, fazendo acusações mútuas de heresia. Apenas pelos esforços ecuménicos, a tese da justificação pela fé e a doutrina católica da fé e das obras foi esclarecida, e não é mais um ponto controverso entre protestantes luteranos históricos e Católicos. Há esforços ecuménicos para deixarem de lado as diferenças. Porém são criticados por alguns membros de ambos os lados: para o lado protestante, há a acusação de a Igreja Católica de "não mudar" e para o lado católico, que afirma que o verdadeiro ecumenismo não se dá abandonando a verdade revelada, mas seguindo-a plenamente através da "Igreja do Deus Vivo, Coluna e sustentáculo da Verdade" (I Tim 3:15), a qual os católicos creem ser a Igreja Católica. Muitos reformadores protestantes, incluindo Martinho Lutero, João Calvino, Thomas Cranmer, John Knox, Cotton Mather, e John Wesley, foram anti-católicos e chamaram o Papa de anticristo, o que deteriorou as relações já muitos ruins entre católicos e protestantes. Calvino despertou revolta inclusive entre seus próprios seguidores ao chamar de papistas muitos Cristãos respeitados. Nota: Há ainda outras suspeitas de que alguns grupos protestantes tenham tido influência na Inquisição e Caça às Bruxas, na Censura, anti-semitismo, nos Estados Unidos na Ku Klux Klan (organização terrorista racista), na Alemanha Segundo Reich e no Terceiro Reich Alemanha nazista, mas na Wikipédia está o alerta para que Este artigo ou secção possui passagens que não respeitam o princípio da imparcialidade e assim é necessário mais pesquisas para escrever com neutralidade.

Testemunhas de Jeová Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Ver também “A história das Testemunhas de Jeová” na página 18.

Testemunhas de Jeová realizando seu típico trabalho de evangelização.

O movimento religioso conhecido por Testemunhas de Jeová assume-se como uma religião Cristã não-trinitária. Afirmam adorar exclusivamente a Jeová e consideram-se seguidores de Jesus Cristo. Crêem que a sua religião é a restauração do verdadeiro cristianismo, mas 182


rejeitam a classificação de serem fundamentalistas no sentido em que o termo é comummente usado. Afirmam basear todas as suas práticas e doutrinas no conteúdo da Bíblia. Como parte da sua adoração a Deus, assistem semanalmente a reuniões congregacionais e a grandes eventos anuais, onde o estudo da Bíblia constitui a principal temática. São ainda conhecidas por recusarem muitas das doutrinas centrais das demais religiões Cristãs, pelo apego a fortes valores que afirmam ser baseados na Bíblia, nomeadamente quanto à neutralidade política, à moralidade sexual, à honestidade e à recusa em aceitar transfusões de sangue. Alguns as chamam de propagandistas Cristãos, de um novo culto Cristão, de uma seita Cristã influenciada pelo judaísmo ou de fanáticos que rejeitam tratamento médico. Todavia, a Associação Mundial das Testemunhas de Jeová refuta tais afirmações. Segundo as Testemunhas de Jeová, não importa quanto lhes custe isso, dizem seguir à risca os preceitos bíblicos. Afirmam que não inventaram uma nova religião, mas apenas seguem o que está escrito na Bíblia, e que não importa qual seja a situação, ela contém as orientações e os conselhos para suas vidas. Afirmam que suas crenças, ensinos e actividades são baseadas nela, e por isso incentivam a sua leitura diária.

Congresso de Distrito realizado em Tessalônica Grécia nos dias 4 a 6 de Julho de 2008.

História e actividades básicas

Charles Taze Russell (1852–1916).

As Testemunhas de Jeová iniciaram suas actividades nos tempos modernos por meio de Charles Taze Russell, a partir da década de 70 do Século XIX. Russell e alguns amigos formaram um pequeno grupo de estudo não sectário da Bíblia, em Allegheny (hoje integrada na cidade de Pittsburgo, Pensilvânia), nos Estados Unidos da América. Com o fim de publicar as suas idéias sobre o que considerava ser a verdade bíblica em contraste com erros doutrinais que atribuía a outras denominações religiosas, Russell começou a publicar A Sentinela, que se assume como a mais distribuída revista religiosa do mundo, bem como a mais traduzida revista de qualquer género. Originalmente, a impressão de A Sentinela e tratados religiosos era feita quase que inteiramente por firmas comerciais. Mas, visando uma maior divulgação pela página impressa, Russell fundou a Sociedade de Tratados da Torre de Vigia de Sião, sendo que esta associação 183


religiosa é hoje conhecida como Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados de Pensilvânia. Estava deste modo formado o principal instrumento legal do grupo religioso que posteriormente viria a ficar conhecido por Testemunhas de Jeová, visando a realização da sua obra mundial de evangelização. Usualmente, ao se empregar a expressão Sociedade Torre de Vigia, pretende-se mencionar esta primeira Sociedade (Watch Tower Society), ainda em funcionamento hoje em dia. A directoria desta Sociedade veio a constituir o que se convencionou chamar Corpo Governante, ou seja, o grupo de homens responsáveis pelas actividades mundiais das Testemunhas de Jeová. A partir da década de 70 do Século XX, passou a existir uma clara distinção entre o Corpo Governante e as várias sociedades jurídicas que as Testemunhas usam em todo o mundo. Estas sociedades ou associações, incluindo a mais antiga delas, são encaradas como simples instrumentos legais para as suas actividades.

Reunião congregacional num Salão do Reino, em Portugal.

Hoje, as Testemunhas de Jeová constituem um grupo mundial de milhões de membros, agrupados em células locais designadas por Congregações, unidas sob uma estrutura mundial que coordena todas as suas actividades. Apesar de possuírem o que chamam de organização e nela existirem homens que assumem responsabilidades locais ou mais abrangentes, as Testemunhas não formam distinção entre clero e leigos, tal como acontece com muitas denominações religiosas. Os seus responsáveis não possuem títulos honoríficos, não usam vestimenta ou símbolos distintivos, não se lhes impõe o celibato, não são assalariados e espera-se que sejam os primeiros a dar o exemplo de boa conduta e moral aos restantes membros da congregação. As suas reuniões e congressos, bem como a realização de cerimónias como casamentos e funerais, são sempre realizadas gratuitamente e nunca fazem colectas, nem se cobram dízimos. Aceitam contribuições voluntárias e anónimas para o financiamento da sua obra e dos seus locais de reunião. Mantêm ainda extensos programas de educação e de serviço voluntário em várias frentes.

Pedra Memorial aos Triângulos roxos que sofreram terror no campo de Mauthausen, Áustria.

As Testemunhas de Jeová continuam a experimentar um contínuo aumento entre as suas fileiras. Apesar de duramente perseguidas e proscritas em muitos países, sendo alvo de críticas e várias controvérsias devido à sua singular interpretação da Bíblia e apego intransigente às suas doutrinas que, na sua maioria, diferem da teologia da cristandade, 184


rejeitando assim qualquer envolvimento no ecumenismo, mantendo uma estrita neutralidade política e militar. Defendendo uma conduta moral bastante rígida, mostram um zelo notável, que alguns consideram proselitismo agressivo, no que chamam "obra de pregação das Boas Novas do Reino". Este serviço realizado voluntariamente distingue-as e torna-as conhecidas mundialmente, sendo habitual observá-las nas suas regulares visitas às casas dos seus vizinhos e no contacto directo com o público onde quer que haja pessoas. O seu nome distintivo No Domingo, 26 de Julho de 1931, no culminar do Congresso realizado em Columbus, Ohio, nos Estados Unidos da América, os presentes adoptaram unanimemente uma resolução intitulada "Um Novo Nome", apresentada por Joseph Rutherford, o segundo presidente da Sociedade Torre de Vigia. Nela foi proposto o nome descritivo e distintivo de "Testemunhas de Jeová". Algumas vezes, as suas publicações usam a expressão "Testemunhas Cristãs de Jeová", como forma de reforçar a sua crença em Jesus Cristo como o Filho de Deus e Salvador da humanidade e não apenas em Jeová Deus, seu Pai. Também afirmam que fazem parte de uma "grande nuvem de testemunhas" pré-Cristãs de Jeová. (Hebreus 11 a 12:1) Argumentam que o próprio Jesus Cristo é chamado de "testemunha fiel e verdadeira". (Revelação ou Apocalipse 3:14)

Tetragrama YHVH, composto das letras hebraicas ‫( י‬yod) ‫( ה‬heh) ‫( ו‬vav) ‫( ה‬heh).

Afirmam que, desde o início, terá existido apenas uma religião verdadeira, constituída por aqueles que a Bíblia menciona como fazendo a vontade de Jeová, e que todas as outras formas de adoração podem ser englobadas num império mundial de religião falsa. A única autoridade reconhecida pelas Testemunhas de Jeová em termos teológicos é a Bíblia. A interpretação do texto bíblico é feita segundo o entendimento aprovado pelo Corpo Governante das Testemunhas de Jeová e publicado pela Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados. Confiam no seu Corpo Governante como "porta-voz" de Jeová Deus, para fornecer ensino e entendimento bíblico no tempo apropriado. Este Corpo Governante é composto de anciãos, procedentes de vários países, e usa como base a sede mundial das Testemunhas de Jeová. No entanto, nem os membros do Corpo Governante nem qualquer outra Testemunha de Jeová afirmam ser inspirados por Deus, ao contrário do que crêem ter acontecido com os escritores bíblicos cuja escrita terá sido guiada pelo Espírito Santo. Assim, as suas publicações podem e são sujeitas a alterações a nível doutrinal, talvez quando um estudo mais detalhado de determinado assunto conduz a um ajuste de pensamento.

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Divulgação das suas doutrinas

Trabalho de evangelização contactando as pessoas de casa em casa.

Apesar de estarem presentes na Internet, actualmente não possuem quaisquer emissões de TV ou Rádio. No entanto, foram pioneiras no uso do cinema sincronizado com som e fizeram vasto uso de emissoras de rádio no passado, principalmente na década de 30 e 40 do Século XX, quando chegaram a montar as maiores redes radiofónicas da época. Hoje possuem um dos maiores parques gráficos do mundo, com capacidade para imprimir centenas de milhões de exemplares de publicações a cada ano, sendo que algumas das suas edições estão entre as mais distribuídas mundialmente. Apenas nos últimos 30 anos do Século XX, imprimiram-se mais de vinte mil milhões de livros, folhetos, brochuras e revistas. Os títulos publicados são traduzidos individualmente em dezenas ou mesmo centenas de idiomas e apresentados em versões diferentes, tal como edições com caracteres de grandes dimensões ou em braille para os que possuem deficiências visuais, DVD's com língua de sinais, gravações áudio cassete e mp3 entre outros. Desde 1926, a Sociedade Torre de Vigia, publicou mais de 159 milhões de exemplares de diversas versões da Bíblia, em 74 línguas. Além da Bíblia, sua mensagem é apresentada ao público, principalmente através de duas revistas: A Sentinela - Anunciando o Reino de Jeová Despertai! A Sentinela, sendo a principal revista para estudo bíblico aos membros da fé, tem uma média de 37 milhões de revistas impressas quinzenalmente, dando-lhe a maior circulação de qualquer revista religiosa do mundo. É publicada em 174 línguas. Todas as edições são traduzidas e impressas para a liberação simultânea. Despertai!, Publicada em 82 línguas, é de interesse geral como uma revista de notícias, com um cunho religioso e tem uma média de 36 milhões de revistas impressas mensalmente. Todas suas edições também são traduzidas e impressas para a distribuição simultânea. As Testemunhas de Jeová mantêm o www.watchtower.org como principal web site oficial. A partir de Janeiro de 2009, este site inclui informação educativa publicado em 376 línguas. Modo de vida

Estudo pessoal da Bíblia.

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As Testemunhas de Jeová encaram a sua religião como um modo de vida, sendo que todos os outros interesses, incluindo o emprego e a família, giram em torno da adoração exclusiva que prestam a Jeová, o seu Deus. Assim, não importam o que façam, incluindo a selecção de diversão ou de vestuário, de carreira na escola ou na profissão ou mesmo a escolha de cônjuge, o comportamento e interacção com a comunidade, nos negócios ou em lazer, tudo isso é influenciado pela decisão que tomaram de dedicar a sua vida incondicionalmente a Jeová. A Bíblia é encarada como um manual de aplicação prática e obrigatória em todos os campos da vida. Pretendem aplicar seriamente a seguinte injunção bíblica: 1 Coríntios 10:31 "Portanto, quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei todas as coisas para a glória de Deus”. Afirmando-se Cristãs, observam o exemplo de Jesus procurando imitá-lo, conforme a seguinte instrução: 1 Pedro 2:21 "Fostes chamados para este proceder, porque até mesmo Cristo sofreu por vós, deixando-vos um modelo para seguirdes de perto os seus passos".

Na Visita Zonal, reunidas no Estádio Nacional do Jamor, Lisboa, Portugal, em 5 de Maio de 2007, com mais de 41.000 presentes na assistência.

Todas as Testemunhas de Jeová são incentivadas a serem diligentes estudantes da Bíblia e das publicações que afirmam basear-se nela, bem como a apresentar um elevado grau de compromisso com a sua religião. Crêem que todas elas, sejam homens ou mulheres, são ministros de Deus, ordenados no dia do seu baptismo pessoal por imersão completa em água. Este passo não é permitido a crianças incapazes de tomar decisões, nem é imposto a adultos. Usualmente, alguém que se reúne com as Testemunhas necessita de vários meses, ou mesmo anos, para ser aprovada para o baptismo e só depois de expressar convictamente o seu desejo de se tornar uma Testemunha de Jeová. Serviço voluntário das Testemunhas de Jeová As Testemunhas de Jeová encontram-se entre as organizações que usam amplamente o serviço voluntário e, pertencendo a uma religião que se afirma Cristã, encaram o amor ao próximo como um sinal identificador do cristianismo genuíno. Todos os seus membros são voluntários, usando as suas habilidades, tempo, esforço e recursos financeiros em projectos específicos promovidos pela organização a que pertencem. Também se ressalta o trabalho voluntário realizado com os surdos. Em vários países, voluntários Testemunhas de Jeová ajudam milhares de surdos. Outra forma de serviço voluntário prestado pelas Testemunhas de Jeová é a ajuda humanitária. Desde a Segunda Guerra Mundial, as Testemunhas de Jeová têm organizado ajuda humanitária de socorro aos seus irmãos Cristãos e outras pessoas que sofrem efeitos da guerra, desastres naturais ou outras calamidades. A sua experiência na organização de um 187


grande número de voluntários que actuam em projectos de construções de Salões do Reino e em seus congressos anuais, contribuem para o seu sucesso neste respeito. Muitas vezes elas são a primeira agência de Socorro urgente a aparecer em cena. Conceito sobre outras religiões As Testemunhas de Jeová crêem praticar a religião verdadeira (ou seja, o primitivo Cristianismo), (João 17:3), (Mateus 24:13). Já por muitos anos, as suas publicações têm expresso a opinião que todas as outras religiões são falsas, particularmente as religiões da cristandade, ou seja aquelas que professam ser Cristãs. A todas as religiões acusam de permissividade moral, envolvimento na política e nos conflitos mundiais, divulgação de ensinos que consideram pagãos e anti-bíblicos, ostentação material, conduta imprópria ou destaque pessoal dos seus líderes e que, por essas razões, todas elas serão destruídas. Crêem que isso acontecerá às mãos dos governos políticos do mundo que abolirão a religião e que, sem se aperceberem, apenas estarão a executar o julgamento de Deus. Embora sejam criticadas por serem intolerantes com as outras religiões, elas respeitam as diferenças de opinião e não procuram impor as suas crenças. Criticam as organizações religiosas nas suas doutrinas e práticas que consideram biblicamente erradas, mas nunca a fé individual e a sinceridade dos seus crentes. Oposição às Testemunhas de Jeová

Pedra Em Memória dos Objectores de consciência - 15/05/1994.

Durante o Século XX e XXI, as Testemunhas de Jeová são consideradas como um dos grupos religiosos mais perseguidos por todas as vertentes do poder, seja religioso, seja político. Além de esta afirmação ser várias vezes mencionada nas suas publicações, outras fontes também se referem a esta oposição. Não ouvimos falar muito sobre o modo em que fizeram face a Hitler. [...] Nenhuma outra organização religiosa permaneceu tão firme e sofreu tanto em proporção ao seu tamanho". A oposição a este grupo religioso, espalhado pelos vários continentes, ainda permanece viva em quase três dezenas de países, onde as suas actividades estão banidas oficialmente e vários dos seus membros estão encarcerados. Segundo as Testemunhas, a perseguição movida contra elas, mesmo em países considerados democráticos, tem tomado muitas formas distintas, desde a intolerância na família, na escola, no emprego e na sociedade em geral.

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Posições controversas das Testemunhas de Jeová

A posição religiosa das Testemunhas de Jeová em relação ao uso de sangue é uma das mais controversas e criticadas ao longo dos anos.

Ao longo da sua história, as suas crenças, doutrinas e práticas religiosas têm sido, amiúde, alvo de algumas controvérsias. Especialmente visadas têm sido as suas doutrinas sobre a vinda iminente de um Armagedom mundial (Armagedom é identificado na Bíblia como a batalha final de Deus contra a sociedade humana iníqua. Essa batalha aparece citada duas vezes no último livro da Bíblia (Apocalipse 16:14,16). A Bíblia fala do Armagedom como local duma guerra que preparará o caminho para uma nova ordem mundial e que destruirá apenas a iniquidade. - Salmo 92:7), o seu trabalho intenso de

proselitismo, a sua neutralidade e distanciamento quanto a tradições seculares ou assuntos políticos, a prática da excomunhão ou desassociação de membros, a rejeição do uso de sangue na alimentação e na medicina, entre outras temáticas. Muitos médicos têm reconhecido, que a posição contrária à transfusão de hemo-componentes por parte das Testemunhas de Jeová, incentivou a pesquisa de tratamentos alternativos, permitindo efectuar cirurgias complexas sem a necessidade do uso de sangue total e hemoterapia, técnicas que beneficiam tanto as Testemunhas como outros pacientes. Parte da comunidade médica, porém, continua crítica em relação à opção religiosa, recusando-se a dar tratamento ou submeter a cirurgias a menos que seja permitida a transfusão sanguínea. Isto obriga estes pacientes a buscar tratamento em outros hospitais ou buscar um médico disposto a utilizar as diversas técnicas disponíveis para se evitar transfusões.

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15 – Espiritismo, uma contribuição para a verdade Dora Incontri (Pós-doutorada FEUSP)

O Que é o Espiritismo? É a ciência que estuda a origem, a natureza, o destino dos Espíritos e as relações que existem entre o Mundo Corporal e o Mundo Espiritual. É uma Ciência Espiritualista que tem suas Bases referendadas pela Filosofia, apresentando um Código de Ética que demanda a Religião, sendo porém considerado uma Filosofia de vida, porque o Espiritismo proclama os seguintes princípios: A Crença em Deus; A Imortalidade da Alma; A Comunicabilidade dos Espíritos; A Reencarnação; A Pluralidade dos Mundos Habitados; A Vivência do Evangelho de Jesus, em Espírito e Verdade. Espiritismo é ao mesmo tempo, ciência, filosofia e religião. O Espiritismo procura, na vivência da ciência , fazer a verdade através da prova. Na filosofia, procura mostrar, afirmar, reunir e expor o pensamento sobre a evolução da vida à luz do conhecimento. Na concepção religiosa, faz vida consciente, operando, mediante a história de vida de cada um, a força do auto-conhecimento, objectivando o alcance da identidade com o Criador. Quais são seus pontos fundamentais? · Deus é a inteligência, é a causa primária de todas as coisas. É eterno, imutável, imaterial, único, omnipotente, soberanamente justo e bom. · O Universo é criação de Deus. Abrange todos os seres racionais e irracionais, animados e inanimados, materiais e imateriais. · Além do mundo corporal, habitação dos Espíritos encarnados (homens), existe o mundo espiritual, habitação dos Espíritos desencarnados. · No Universo há outros mundos habitados, com seres de diferentes graus de evolução: iguais, mais evoluídos e menos evoluídos que os homens. · Todas as Leis da Natureza são Leis Divinas pois que Deus é o seu autor. Abrangem tanto as Leis Físicas quanto as Leis Morais. · O homem é um Espírito encarnado em um corpo material. O perispírito é o corpo semimaterial que une o Espírito ao corpo material. · Os Espíritos são seres inteligentes da criação. Constituem o mundo dos Espíritos, que preexiste e sobrevive a tudo. · Os Espíritos são criados simples e ignorantes. Evoluem intelectual e moralmente, passando de uma ordem inferior a outra mais elevada, até a perfeição, onde gozam de inalterável felicidade. · Os Espíritos preservam sua individualidade antes, durante e depois de cada encarnação. · Os Espíritos reencarnam tantas vezes quantas forem necessárias ao seu próprio aprimoramento. · Os Espíritos evoluem sempre, em suas múltiplas existências corpóreas podem estacionar, mas nunca regridem. A rapidez do seu progresso, moral e intelectual, depende dos esforços que faça para chegar à perfeição. · Os Espíritos pertencem a diferentes ordens, conforme o grau de perfeição a que tenham alcançado: Espíritos Puros, que atingiram a perfeição máxima; Bons Espíritos, nos quais o desejo do bem é o que predomina; Espíritos Imperfeitos, caracterizados pela ignorância, pelo desejo do mal e pelas paixões inferiores.

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· As relações dos Espíritos com os homens são constantes, e sempre existiram. Os Bons Espíritos nos atraem para o bem, nos sustentam nas provas da vida e nos ajudam a suportálas com coragem e resignação. Os imperfeitos nos impelem para o mal. · Jesus é o Guia e Modelo para toda a humanidade. E a Doutrina que ensinou e exemplificou é a expressão mais pura da Lei de Deus. · A moral do Cristo contida no Evangelho é o roteiro para evolução segura de todos os homens e a prática é a solução para todos os problemas humanos e o objectivo a ser atingido pela humanidade. · O homem tem livre arbítrio para agir, mas responde pelas consequências de suas acções. · A vida futura reserva aos homens penas e gozos compatíveis com o procedimento de respeito ou não à Lei de Deus. · A prece é um acto de adoração a Deus. Está na Lei Natural, e é o resultado de um sentimento inato do homem, assim como é inata a ideia de existência do Criador. · A prece torna melhor o homem. Aquele que hora com fervor e confiança se faz mais forte contra as tentações do mal e Deus lhe envia Bons Espíritos para assisti-lo. É este um socorro que jamais se lhe recusa, quando pedido com sinceridade. Prática Espírita · Toda prática Espírita é gratuita, dentro do princípio do Evangelho: "Dai de graça o que de graça recebestes". · A prática Espírita é realizada sem nenhum culto exterior, dentro do princípio Cristão que Deus deve ser adorado em espírito e verdade. · O Espiritismo não tem corpo sacerdotal e não adopta e nem usa em suas reuniões e em suas práticas: altares, imagens, andores, velas, procissões, sacramentos, concessões de indulgências, paramentos, bebidas alcoólicas ou alucinogéneas, incenso, fumo, talismãs, amuletos, horóscopos, cartomantes, pirâmides, cristais, búzios ou quaisquer outros objectos, rituais ou formas de culto exterior. · O Espiritismo não impõe os seus princípios. Convida os interessados em conhecê-los, a submeter seus ensinos ao crivo da razão antes de aceitá-los. · A mediunidade que permite a comunicação dos Espíritos com os homens é uma faculdade que muitas pessoas trazem consigo ao nascer, independentemente de religião ou da directriz doutrinária de vida que adopte. · A prática mediúnica Espírita só é aquela que é exercida com base nos princípios da Doutrina Espírita e dentro da moral Cristã. · O Espiritismo respeita todas as religiões, valoriza todos os esforços para a prática do bem e trabalha para a confraternização entre todos os homens, independentemente de sua raça, cor, nacionalidade, crença, nível cultural ou social. · Reconhece, ainda, que o verdadeiro homem de bem é o que "cumpre a Lei de Justiça, de Amor e de Caridade, na sua maior pureza". O Espiritismo é uma religião? - O Espiritismo, segundo definição de Allan Kardec (fundador desta filosofia com a publicação do livro “O Livro dos Espítitos” em 1857), é Ciência e Filosofia com consequências morais. Vulgarmente, temos diversas definições para a palavra religião. O mais comum é atribuirmos às religiões dogmas, hierarquia sacerdotal, cultos, rituais, cerimónias e uma directriz formal. Dentro desta definição, o Espiritismo não seria uma religião, pois não atenderia aos requisitos aceitos. No entanto, há os que defendem que tendo ele influência nos códigos morais, e sendo as religiões, em princípio, estimuladoras de novas realidades morais, seria também o Espiritismo, uma religião. O Espiritismo, segundo Allan Kardec, pretende ser ao mesmo tempo uma ciência, que demonstra através do estudo empírico dos fenómenos mediúnicos a existência dos espíritos e sua actuação sobre o mundo; uma filosofia, que propõe uma cosmovisão evolucionista e 191


reencarnacionista; e uma religião, sem dogmas, rituais e sacerdócio organizado, que faz uma releitura do Cristianismo e prega uma prática religiosa centrada na moral e na ligação directa do homem com Deus. Para além dessas três dimensões, porém, ou como resultante de todas elas, o Espiritismo tem um caráter eminentemente pedagógico. [1] Não só porque seu fundador, Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869), depois Allan Kardec, tenha sido um grande educador francês, seguidor da proposta de Pestalozzi, seu mestre. Mas porque o cerne da filosofia Espírita é uma proposta de educação do espírito. O Espiritismo não entende o devir humano, como uma história de salvação, segundo o conceito do Cristianismo tradicional, mas como uma história de evolução. O homem foi criado simples e ignorante e está destinado a conquistar a perfeição, através do aprendizado de múltiplas vidas sucessivas (reencarnação). Não houve uma tragédia inicial de queda e nem a necessidade de uma intervenção divina, para a redenção das criaturas. Tudo corre conforme previsto pelo Criador. A humanidade está em processo educativo, aprendendo, através da ação livre no mundo, a crescer espiritualmente, a fazer desabrochar as virtudes e a sabedoria que serão suas, quando atingir o alvo evolutivo a que Deus nos destinou. Todo mal e todo desvio de rota estão por nossa conta, mas são males e desvios passageiros, porque a imanência de Deus em nós garante mais dia, menos dia, a volta ao caminho da perfeição. Perde-se a tragicidade do drama do pecado, da queda; ganha-se em autonomia para o ser, pois que de nós depende quando e como vamos aderir a esse projecto de perfeição e felicidade, para o qual fomos criados. Um dos pontos mais polémicos em torno dessa cosmovisão é que ela se pretende Cristã e ao mesmo tempo universal. Em que sentido uma coisa e outra? Cristã, porque as ideias de redenção universal, que ninguém estaria eternamente condenado ao mal, nem mesmo o demónio (que para o Espiritismo, nem sequer existe – os espíritos maus apenas o são temporariamente, aprendendo a serem bons através de várias reencarnações ), de reencarnação, da possibilidade de aperfeiçoamento autónomo do indivíduo, estavam presentes nos primeiros três séculos de Cristianismo. As duas primeiras foram aceitas por Orígenes, a última, por Pelágio. Ambos, depois condenados pela ortodoxia, tiveram suas interpretações do Cristianismo banidas da Igreja Católica. [2] Outro aspecto que inviabiliza, segundo Católicos e Protestantes, chamar-se o Espiritismo de Cristão é a negação da Trindade. Dogma essencial da ortodoxia, considera-se como indispensável para a identidade do Cristianismo. Entretanto, também esse dogma, segundo a posição Espírita, foi construído historicamente. Árius, o padre que defendia que Jesus não era Deus, mas um seu enviado, foi combatido por Atanásio e quando o Imperador Constantino tornou o Cristianismo a religião oficial do Estado romano, a doutrina na Trindade foi assumida como a ortodoxia e a ariana, como herética. Comenta Kardec: “Se o símbolo de Niceia, que se tornou o fundamento da fé católica, fosse conforme o espírito do Cristo, para que o anátema final? Não é isto prova de que é obra da paixão dos homens? A que se deve a sua adoção? À pressão do Imperador Constantino, que fez dele uma questão mais política do que religiosa. Sem sua ordem não se teria realizado o Concílio e sem a sua intimidação é mais do que provável que o Arianismo tivesse triunfado. Dependeu, pois, da autoridade soberana de um homem, que não pertencia à Igreja, que reconheceu mais tarde o erro que cometera e que procurou inutilmente voltar atrás conciliando os partidos, não sermos hoje Arianos em vez de Católicos, e não ser hoje o Arianismo a ortodoxia e o catolicismo a heresia.” Essa questão da divindade de Jesus está intimamente ligada às outras, levantadas por Pelágio e Orígenes: entendendo-se Cristo como um modelo de perfeição (e não como o próprio Deus), entendendo-se que podemos atingir esse modelo, segundo o nosso esforço pessoal, através

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de múltiplas vidas, tira-se a tragicidade da queda, do pecado, que corrompeu o homem, que precisa da graça e do sangue de Deus encarnado para reconciliar-se com a divindade. [3] “Do ponto de vista dos Arianos, era essencial que Jesus não fosse Deus, pois Deus, sendo perfeito por natureza, era inimitável. Em compensação, a virtude transcendente de Cristo, que era fruto de actos repetidos de sua vontade, era ao menos potencialmente acessível ao resto dos mortais.” Embora as correntes Ortodoxas do Cristianismo também acreditem na herança divina na criatura, como uma presença imanente, há, segundo elas, algo que turva o ser do homem e precisa de uma reparação. Ocorre que esta reparação, intermediada por Cristo, é intermediada pelas instituições que o representam (e essa ideia é mais forte no catolicismo), tornando o homem de dependente de uma graça, que é de alguma forma materializada por mãos humanas. O Espiritismo entende que toda essa doutrina foi instrumentalizada para a dominação das consciências e por isso vê em Jesus um modelo de perfeição moral, que qualquer ser humano é convidado a seguir, porque o nosso destino de espíritos, criados por Deus, é o da perfeição. Ao mesmo tempo, o mal perde seu caráter trágico, para tornar-se, apesar de todas as barbáries humanas, uma espécie de aprendizado da liberdade. Deus nos deixa inclusive experimentar os caminhos mais escabrosos, para aprendermos o valor do bem. (Assemelha-se essa ideia ao construtivismo na pedagogia: a criança erra para aprender ou o erro é uma experimentação necessária). Dizia acima também que o Espiritismo se pretende universal, além de Cristão, porque, embora reconheça em Cristo o Espírito mais puro que já veio à terra e se insira dentro da tradição judaico-Cristã, Kardec dizia que a verdade da revelação divina está presente em todas as religiões. Em todas as épocas, em todas as culturas, entre todos os povos, houve enviados de Deus, para ensinar aos homens as leis da vida. (Além, é claro, dessas leis estarem impressas na própria consciência humana). Uma proposta pedagógica Espírita Se lemos o Espiritismo com olhos pedagógicos, como foi escrito por Kardec e teorizado e praticado por iniciadores da pedagogia Espírita no Brasil (tais como Eurípedes Barnanulfo, Anália Franco, Herculano Pires, Ney Lobo e outros) veremos que se podem deduzir alguns princípios fundamentais, que aqui, didaticamente, resumo em três. Esses princípios podem ser extraídos da cosmovisão Espírita, mas não por acaso, aparecem em três clássicos da Educação, de que Kardec foi herdeiro: Comenius, Rousseau e Pestalozzi. Se o Espiritismo entende o percurso da alma humana através do tempo, como um processo educativo, deflagrado por Deus, compreendido como Pai, então deve haver uma pedagogia divina. Esta pedagogia tem três parâmetros: 1) A liberdade: fomos lançados livres no universo, com o direito e o dever de construirmos a nós mesmos e cultivarmos as sementes de divindade que trazemos em nós; 2) A acção: somos livres, para agir no mundo e é através da acção, que promovemos o nosso aprendizado, experimentando situações e vivências, em diversas vidas, até adquirirmos sabedoria e virtude; 3) O amor: embora Deus tenha nos criado livres para agir, não nos deixou ao abandono, cercanos com seu amor incessante, enviando seus mensageiros, para ensinar ao homem a verdade e o bem, colocando ao nosso lado Espíritos que nos amam e orientam e intervindo junto a nós como Providência, que nos acompanha. São esses três princípios, pois, que podemos erigir como fundadores de uma proposta pedagógica Espírita: respeitar a liberdade e a individualidade da criança, que deve agir para aprender (e isso vai desde a aplicação prática de fórmulas matemáticas até o exercício das virtudes), mas essa ação livre deve ser acompanhada pelo amor dos educadores, empenhados 193


em incentivar e cultivar o lado bom dos educandos, com atenção, diálogo, observação e autoridade moral. Dentro dessa filosofia educacional, como se apresenta o ensino da religião? O Espiritismo reconhece que a dimensão espiritual do ser humano é essencial para o seu desenvolvimento integral. Ao mesmo tempo, Kardec não queria que a doutrina Espírita tivesse um caráter proselitista (embora isso nem sempre seja seguido por seus adeptos), pois o respeito à liberdade de consciência é quesito absoluto da ética por ele proposta. Herculano Pires (que lutou na década de 60, pela escola laica, gratuita e obrigatória), diante da necessidade de se recuperar o aspecto espiritual na esducação, propõe que: “…não podemos ter Educação sem Religião, o sonho da Educação Laica não passou de resposta aos grandes equívocos do passado (…). O laicismo foi apenas um elemento histórico, inegavelmente necessário, mas que agora tem de ser substituído por um novo elemento. E qual seria essa novidade? Não, certamente, o restabelecimento das formas arcaicas e anacrônicas do ensino religioso sectário nas escolas. Isso seria um retrocesso e portanto uma negação de todas as grandes conquistas (…). Reconhecendo que a Religião corresponde a uma exigência natural da condição humana e a uma exigência da consciência humana, e que pertence de maneira irrevogável ao campo do Conhecimento, devemos reconduzi-la à escola, mas desprovida da roupagem imprópria do sectarismo. Temos de introduzir nos currículos escolares, em todos os graus de ensino, a disciplina Religião ao lado da Ciência e da Filosofia. Sua necessidade é inegável, pois sem atender aos reclamos do transcendente no homem não atingiremos os objectivos da paideia grega: a educação completa do ser para o desenvolvimento integral e harmonioso de todas as suas possibilidades.” (PIRES, 1985:40) [1] Essa era a tese de José Herculano Pires, um dos grandes intérpretes do Espiritismo no Brasil e defensores da pedagogia Espírita. Essa foi a tese que pretendi demonstrar em meu doutoramento: INCONTRI, Dora. Pegadogia Espírita, um projecto brasileiro e suas raízes histórico-filosóficas. Tese de doutorado. São Paulo, FEUSP, 2001 [2] Há polémica em torno na posição de Orígenes, mas lendo suas obras, fica clara a sua defesa, tanto da reencarnação, quanto da salvação universal: “Deus, pai do universo, tudo organizou, segundo o reino inefável de seu Verbo e Sabedoria, em vista da salvação de todas as suas criaturas… (ORIGÈNE, 1976:81) ou ainda “Detivemo-nos sempre a demonstrar que a providência de Deus, que dirige todas as coisas segundo a justiça, conduz também as almas imortais pelas leis mais justas, adaptadas aos méritos e às responsabilidades de cada um; pois o plano de Deus para o homem não está fechado nos limites da vida deste século, mas um estado anterior de méritos fornece sempre a causa do estado que se segue; assim, graças à lei imortal e eterna de equidade e graça no governo da divina providência, a alma imortal é levada à perfeição suprema.” (ORIGÈNE 1976:167) [3] Expliquei a posição de Jesus no Espiritismo da seguinte maneira: “Não sendo o Ser Supremo do Universo (aliás, desde a época da formulação do dogma da Trindade, esse universo se expandiu infinitamente e se aceitamos a existência de Deus, e a sua presença, governo e poder entre bilhões e bilhões de galáxias e em meio a prováveis inúmeras humanidades, fica mais difícil aceitar a ideia de uma encarnação sua na Terra), Jesus Cristo não se vulgariza com isso, tornando-se apenas mais um homem entre outros tantos. Ele seria o Espírito que já atingiu a perfeição como todos nós atingiremos um dia, segundo a lei da evolução. Portanto ele é a realização daquilo de que somos ainda potência. É a meta a ser atingida, por um processo de educação do espírito, nas sucessivas existências.” (INCONTRI, 2001)

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16 - Agostinho de Hipona (Santo Agostinho) e Orígenes Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre e outras fontes.

Agostinho de Hipona, Aurélio Agostinho, ou Santo Agostinho (Tagaste, 13 de Novembro de 354 - Hipona, 28 de Agosto de 430) foi um bispo Católico, teólogo e filósofo, considerado pelos Católicos santo e Doutor da Igreja. Agostinho cresceu no norte da África colonizado por Roma, e foi educado em Cartago. Vida Mónica sua mãe, nasceu no ano 331 na cidade de Tagaste (hoje Souk Ahrás) província romana da Numídia, actualmente Argélia, na África. Desde menina e moça revelou um grande amor a Deus, deixando transparecer ideais sadios, ao demonstrar que compreendia as dores e as misérias da Humanidade. Os pobres representavam uma grande preocupação em sua vida. Esperava na porta de sua casa a passagem de um pobre, para oferecer-lhe uma refeição. Era uma devota Cristã, que agora celebramos como Santa Mónica, no dia 27 de Agosto. Estava com 20 anos de idade quando foi dada por seus pais em casamento a Patrício (um pequeno proprietário de terras) que fazia parte da Câmara Municipal de Tagaste. Patrício era pagão, indiferente a tudo que se relacionasse com religião e tinha uma vida pouco exemplar. Era de temperamento violento. Patrício possuía o dobro da idade de Mónica. Foram os pais de ambos, preocupados com a segurança financeira e o destaque que tinham as respectivas famílias na sociedade, que combinaram este casamento. Mónica, com a idade de 23 anos, teve o primeiro filho Aurélio Agostinho, no dia 13 de Novembro do ano 354, em Tagaste. O segundo filho foi Navígio e mais tarde teve uma filha chamada Perpétua que se tornou freira. Os pais mandaram Agostinho para uma Escola famosa em Madaura, que possuía excelentes professores. A Escola em Madaura ofereceu-lhe uma aprendizagem eficaz e evoluída, mas por outro lado, sendo a maioria dos habitantes formada por gente aristocrática, corrupta e pagã, era muito frequente os festins e a orgia desenfreada em honra dos deuses. E isto foi péssimo para o seu carácter em formação. Aquela influência maléfica atingiu-o em cheio, excitando os seus sentidos. Aos 16 anos, estava preocupado quase que exclusivamente com o sexo e a orgia. Antes que ele deixasse Tagaste para vir a Cartago, sua mãe lhe deu um conselho solene: “Minha mãe pediu que eu não cometesse fornicação, e especialmente que não maculasse a esposa de alguém. Isto não parecia melhor que conselho de mulher, o que seria uma vergonha para eu seguir. Corri com tanta cegueira que tinha vergonha, entre os meus pares, de ser menos culpado ou desaforado do que eles eram, e eu os ouvia gabarem-se de seus erros; sim, e quanto mais bestiais, mais eles se gabavam; eu me alegrava de fazer o mesmo, não pelo prazer do acto apenas, mas pelo louvor dele também”. Neste tempo se envolveu com a heresia Maniqueísta durante 9 anos e também passou a conviver com uma moça cartaginense que lhe deu em 372, um filho, Adeodato. Naquela época era costume baptizar as pessoas depois de crescidas, adultas, suficientemente doutrinadas, possuindo os conhecimentos fundamentais da religião. Assim o baptismo, foi feito quando ele já era adulto, seguindo os costumes estabelecidos. Foi baptizado junto com o filho Adeodato, pelo Bispo Ambrósio, na Páscoa do ano de 387, ele com trinta e três anos e o filho com quinze anos de idade. Agostinho era um rapaz inquieto, sempre envolvido em paixões e atitudes contrárias aos ensinamentos da mãe e dos Cristãos. Possuidor de uma inteligência rara, depois da fase de

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desmandos da juventude, centrou-se nos estudos e se formou brilhantemente em retórica. Excelente escritor dedicava-se à poesia e filosofia. Agostinho tinha 16 anos quando o pai dele morreu. Agostinho passou por uma grande provação: seu filho morreu. Era um menino muito inteligente a quem dedicava muita atenção e afecto. Decidiu então voltar com a mãe para sua terra natal, a África, mas Mónica também veio a falecer, no porto de Óstia, não muito distante de Roma. Depois do sepultamento da mãe, Agostinho regressou a Tegaste em 388. Ali se decidiu pela vida religiosa e ao lado de alguns amigos fundou uma comunidade monástica, cujas regras escritas por ele deram depois origem a várias Ordens, femininas e masculinas. Porém, o então Bispo de Hipona decidiu que "a luz não devia ficar oculta" e convidou Agostinho para acompanhá-lo em suas pregações, pois já estava velho e doente. Para isto ele o consagrou sacerdote em Hipona em 391 e, logo após a sua morte em 397, Agostinho foi aclamado pelo povo o novo Bispo de Hipona. Durante trinta e quatro anos Agostinho foi Bispo daquela diocese e, considerado o pai dos pobres, um homem de alta espiritualidade e um grande defensor da doutrina de Cristo. Na verdade foi definido como o mais profundo e importante filósofo e teólogo do seu tempo. Sua obra iluminou quase todos os pensadores dos séculos seguintes. Escreveu livros importantíssimos, entre eles estão sua autobiografia, "Confissões", e "Cidade de Deus". Foi professor de retórica em Milão em 383. Depois da sua passagem pelo Maniqueísmo nos seus dias de estudante, converteu-se ao Cristianismo pela pregação de Ambrósio de Milão. Tornou-se um pregador famoso (há mais de 350 sermões dele preservados, e crê-se que são autênticos) e notado pelo seu combate à heresia do Maniqueísmo. Defendeu também o uso de força contra os Donatistas, perguntando "Por que (...) a Igreja não deveria usar de força para compelir seus filhos perdidos a retornar, se os filhos perdidos compelem outros à sua própria destruição?" (A Correção dos Donatistas, 22-24). Em 395 foi nomeado bispo assistente de Hipona (com o direito de sucessão em caso de morte do bispo corrente), e permaneceu como bispo de Hipona até sua morte em 430. Deixou seu mosteiro, mas manteve vida monástica em sua residência episcopal. Deixou a Regula para seu mosteiro que o levou a ser designado o "santo Patrono do Clero Regular", que é uma paróquia de clérigos que vivem sob uma regra monástica. Depois de uma grave enfermidade ele morreu amargurado, aos setenta e seis anos de idade, em 28 de Agosto de 430, durante o cerco de Hipona pelos Vândalos pois os bárbaros haviam invadido sua cidade episcopal. Diz-se que ele encorajou seus cidadãos a resistirem aos ataques, principalmente porque os Vândalos haviam aderido ao Arianismo, que Agostinho considerava uma heresia. Agostinho foi canonizado por reconhecimento popular e reconhecido como um doutor da Igreja. O seu dia é 28 de Agosto, o dia no qual ele supostamente morreu. Ele é considerado o santo padroeiro dos cervejeiros, impressores, teólogos e de um grande número de cidades e dioceses. No ano 725, o seu corpo foi transladado para Pavia, Itália, sendo guardado na Igreja São Pedro do Céu de Ouro, próximo do local de sua conversão. Santo Agostinho recebeu o honroso título de Doutor da Igreja e é celebrado no dia de sua morte. Agostinho e os Judeus Agostinho escreveu, no Livro 18, Capítulo 46, da Cidade de Deus, "Os Judeus que O assassinaram, e não criam nele, porque coube a Ele morrer e viver novamente, foram ainda mais miseravelmente assolados pelos romanos, e completamente expulsos do seu reino, onde estrangeiros já os tinham dominado , e foram dispersos pelas terras (tanto que não há lugar onde eles não estejam), e são assim, pelas suas próprias Escrituras, um testemunho para nós 196


de que não forjámos as profecias a respeito de Cristo." Escreveu também uma das principais obras que apoia a crença na Trindade. Agostinho considerou a dispersão importante, porque ele acreditava que isto era um cumprimento de certas profecias, provando assim que Jesus era o Messias. Isto deve-se ao facto de Agostinho crer que os judeus que foram dispersos eram inimigos da Igreja Cristã. Ele também cita parte da mesma profecia, que diz "Não os mates, para que o meu povo não se esqueça; espalha-os pelo teu poder". Algumas pessoas usaram as palavras de Agostinho para atacar os judeus, enquanto outros as usaram para atacar Cristãos. Influência como teólogo e pensador

Santo Agostinho de Hipona

Na história do pensamento ocidental, sendo muito influenciado pelo platonismo e neoplatonismo, particularmente por Plotino, Agostinho foi importante para a entrada do pensamento grego na tradição Cristã e, posteriormente, na tradição intelectual europeia. Também importantes foram os seus adiantados e influentes escritos sobre a vontade humana, um tópico central na ética, que se tornaram um foco para filósofos posteriores, como Schopenhauer e Nietzsche, mas ainda encontrando eco na obra de Camus e Hannah Arendt (ambos os filósofos escreveram teses sobre Agostinho). É largamente devido à influência de Agostinho que o Cristianismo ocidental concorda com a doutrina do pecado original e a Igreja Católica sustenta que baptismo e ordenações feitos fora dela podem ser válidos (a Igreja Católica Romana reconhece ordenações feitas na Igreja Ortodoxa Oriental e Ocidental, mas não nas igrejas Protestantes, e reconhece baptismos de quase todas as igrejas Cristãs). Os teólogos Católicos geralmente concordam com a crença de Agostinho de que Deus existe fora do tempo e no "presente eterno"; o tempo só existe dentro do universo criado. O pensamento de Agostinho foi também basilar na orientação da visão do homem medieval sobre a relação entre a fé Cristã e o estudo da natureza. Agostinho afirmava que a interpretação das escrituras deveria ser feita de acordo com os conhecimentos disponíveis, em cada época, sobre o mundo natural. Escritos como sua interpretação do livro bíblico do Génesis como o que chamaríamos hoje de um "texto alegórico" iriam influenciar fortemente a Igreja medieval, que teria uma visão mais interpretativa e menos literal dos textos sagrados. Tomás de Aquino tomou muito de Agostinho para criar sua própria síntese do pensamento grego e Cristão. Dois teólogos posteriores que admitiram influência especial de Agostinho foram João Calvino e Cornelius Jansen. O Calvinismo desenvolveu-se como parte da teologia da Reforma, enquanto que o Jansenismo foi um movimento dentro da Igreja Católica; alguns Jansenistas entraram em divisão e formaram a sua própria igreja.

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Agostinho foi um autor prolífico em muitos géneros: tratados teológicos, sermões, comentários da escritura, e autobiografia. As suas Confissões são geralmente consideradas como a primeira autobiografia; Agostinho descreve sua vida desde sua concepção até à sua então (com cerca de cinquenta anos) relação com Deus, e termina com um longo discurso sobre o livro de Génesis, no qual ele demonstra como interpretar as escrituras. A consciência psicológica e auto-revelação da obra ainda impressionam leitores. No fim da sua vida (426-428?) Agostinho revisitou os seus trabalhos anteriores por ordem cronológica e sugeriu que teria falado de forma diferente numa obra intitulada Retracções, que nos daria uma imagem considerável do desenvolvimento de um escritor e os seus pensamentos finais, além de se arrepender de ter utilizado demais filósofos pagãos.

Pensamento de Agostinho Nota: Ambrósio de Milão (Trier, Alemanha 340 - 4 de abril de 397), conhecido como Santo Ambrósio, foi bispo da actual Arquidiocese de Milão, e é considerado um dos Padres e Doutores da Igreja. Foi ele quem ministrou o baptismo a Agostinho de Hipona. É considerado um dos quatro máximos doutores da Igreja, aprendeu de Orígenes a conhecer e a comentar a Bíblia e teve grande influência sobre o pensamento de Agostinho. A exegese A exegese de Ambrósio está centrada no Antigo Testamento, e o jovem ouvinte Agostinho declara ter frequentemente encontrado aí resposta para questões perturbadoras. Não se conhece dele a não ser um único escrito consagrado ao Novo Testamento, aliás o mais volumoso. O texto de Lucas é estudado sistematicamente, como o são, no caso do Antigo Testamento, a narrativa da criação, doze Salmos e as 22 estrofes do Salmo 118. Habitualmente, o texto anunciado por Ambrósio é antes um pretexto. Ora reagrupa deliberadamente um florilégio de citações bíblicas comentadas em torno de um tema: a morte, a fuga dos séculos, a felicidade..., ora prolonga o texto de partida mediante outro texto da Escritura no qual se demora longamente: o reencontro de Isaac e Rebeca desemboca definitivamente no Cântico dos cânticos. Muitas vezes a personagem principal do texto torna-se a encarnação de uma virtude, e o comentário torna-se um tratado sobre a paciência, a castidade ou o jejum... Esse desenvolvimento supõe uma interpretação alegórica. Ambrósio, sem negá-lo, ultrapassa constantemente os factos históricos. Nos quatro poços cavados pelos servos de Isaac (Gn 26 15-24), ele descobre não verdades “terrestres”, mas do “espiritual”, “a profundeza de uma ciência abissal”, uma tripla sabedoria inspirada nas três partes da filosofia antiga, que ele situa além do racional: moral, física (ou metafísica) e mística, divisão essa encontrada pelo menos quinze vezes na sua obra. Algures, ele vê nos personagens e acontecimentos do Antigo Testamento as realidades da vida de Cristo. Noé e as águas do dilúvio são “tipos” que anunciam a “verdade”: Jesus, seu sangue e as águas do Baptismo. Alegoria e tipologia misturam-se numa procura progressiva de Deus, que tem seus altos e baixos, enquanto espera a visão. Já se chamou muitas vezes a atenção para os empréstimos de Ambrósio na sua obra Os quatro poços (cf. Gn 26,15-24) terem sido explicados precedentemente por Ambrósio no seu contexto (IV, 22), em que o primeiro poço, chamado poço da visão, é identificado com a parte racional da alma. O Problema do Mal Em seu livro 'O Livre arbítrio', Santo Agostinho tenta provar de forma filosófica de que Deus não é o criador do mal. Pois, para ele, tornava-se inconcebível o facto de que um ser tão bom, pudesse ter criado o mal. A concepção que Agostinho tem do mal, está baseada na teoria platónica, assim o mal não é um ser, mas sim a ausência de um outro ser, o bem. O mal é aquilo que “sobraria” quando não existe mais a presença do bem. Deus seria a completa personificação deste bem, portanto não poderia ter criado o mal. No diálogo com seu amigo 198


Evódio, Agostinho tenta explicar-lhe de que a origem do mal esta no Livre Arbítrio concedido por Deus. Deus em sua perfeição, quis criar um ser que pudesse ser autónomo e assim escolher o bem de forma voluntária. O homem, então, é o único ser que possuiria as faculdades da vontade, da liberdade e do conhecimento. Por esta forma ele é capaz de entender os sentidos existentes em si mesmo e na natureza. Ele é um ser capacitado a escolher entre algo bom (proveniente da vontade de Deus) e algo mal (a prevalência da vontade das paixões humanas). Entretanto, por ter em si mesmo a carga do pecado original de Adão e Eva, estaria constantemente tendencialmente a escolher praticar uma acção que satisfizesse suas paixões (a ausência de Deus em sua vida). Deus, portanto, não é o autor do mal, mas é autor do livre arbítrio, que concede aos homens a liberdade de exercer o mal, ou melhor, de não praticar o bem. A moral Por meio do honesto, do útil e de seus conflitos, o autor trata, em especial, sobretudo na primeira parte, das grandes virtudes que ele chama de cardeais: a prudência, a justiça acompanhada da beneficência, da benevolência e até da gratidão, a fortaleza e a temperança. Mas a Bíblia insufla outra alma nesse corpo e toda a actividade moral está orientada para a vida eterna. Trata com da “verdadeira liberdade”, da demência Cristã no exercício da justiça, do bem supremo... É também o caso, da paciência com Jó, da castidade com José, do jejum com Elias, da penitência e do perdão dos grandes com David... Como temas predominantes, poderíamos ficar, no bem, com a misericórdia e, no mal, com o abuso das riquezas. Certas formas da misericórdia aparecem já no objecto mesmo dos opúsculos e comentários enumerados. No tratado Da penitência, Ambrósio sublinha a compaixão de Cristo, oposta à intransigência dos novacianos (Novácio ficou revoltado quando viu que Cristãos que haviam negado a fé e oferecido sacrifícios aos deuses pagãos durante a perseguição de Décio estavam sendo readmitidos como membros e até mesmos diáconos. Para isso, ele se fez anti-Papa, para tentar mudar isso. Porém, ele e seus seguidores foram excomungados. Novácio foi martirizado no período do imperador Valeriano I (253-260). Suas ideias eram que deveriam ser baptizados todos os que vinham do paganismo e das igrejas que haviam adoptado o baptismo infantil. Seus seguidores são tachados de cismáticos, que queriam destruir a unidade Cristã, porém eles só queriam ser fiéis ao ensino bíblico. As igrejas novacianas se espalharam pelo império e foram beneficiadas com a cessação das perseguições, por ocasião do Édito de Milão).

É ocasião de páginas terríveis contra a rapacidade dos ricos: “São os vossos imensos palácios que vos enchem de orgulho? (...) Recobris os muros enquanto desnudais os homens. (...) A pedra preciosa que cintila no teu dedo poderia muito bem salvar a vida de todo um povo”. Encontra também ocasião para denunciar a usura e a avareza. Existe um ponto sobre o qual ele insista mais: a comunidade original das riquezas.

A terra é de todos A natureza derramou todas as coisas em comum para todos. Com efeito, Deus mesmo ordenou que todas as coisas fossem criadas de tal sorte que o alimento fosse comum para todos e que a terra, por conseguinte, fosse uma espécie de propriedade comum de todos. Foi, pois, a natureza que produziu o direito comum, e a usurpação que criou o direito de propriedade. Dizem os filósofos, “os estóicos” que os produtos da terra são todos criados para as necessidades dos homens e que os homens foram gerados por outros homens, a fim de que eles próprios possam ajudar uns aos outros”. O Senhor nosso Deus quis que esta terra fosse a posse comum de todos os homens e que os frutos dela fossem destinados a todos. Mas a avidez repartiu os direitos de propriedade. Se reivindicas para ti em particular uma coisa que foi posta em comum para o género humano, ou antes para todos os seres vivos, é justo que distribuas entre pobres pelo menos alguma coisa dela, de forma que não recuses o alimento a quem deves a partilha de teu direito.

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A natureza não é de forma alguma deficiente: ela deu os alimentos, não propôs vícios. Fez seus dons em comum, para que tu não reivindiques certas coisas como próprias. (...) Os elementos são dados a todos em comum. A terra foi estabelecida em comum para todos, tanto ricos como pobres; por que então vos arrogais para vós somente, ó ricos, o direito de propriedade? A natureza não conhece ricos, ela nos gera todos pobres. O mundo foi criado para todos, e vós, que sois uma minoria de ricos, quereis a todo o custo reivindicá-lo para vós. Não é teu aquilo que distribuis ao pobre; estás apenas lhe restituindo o que é dele. Porque foste tu que usurpaste aquilo que é dado a todos para o bem de todos. A terra pertence a todos, e não aos ricos.

Santo Agostinho (outra fonte) A Vida e as Obras Aurélio Agostinho destaca-se entre os Padres como Tomás de Aquino se destaca entre os Escolásticos. E como Tomás de Aquino se inspira na filosofia de Aristóteles, e será o maior vulto da filosofia metafísica Cristã, Agostinho inspira-se em Platão, ou melhor, no neoplatonismo. Agostinho, pela profundidade do seu sentir e pelo seu génio compreensivo, fundiu em si mesmo o carácter especulativo da patrística grega com o carácter prático da patrística latina, ainda que os problemas que fundamentalmente o preocupam sejam sempre os problemas práticos e morais: o mal, a liberdade, a graça, a predestinação. Aurélio Agostinho nasceu em Tagasta, cidade da Numídia, de uma família burguesa, a 13 de novembro do ano 354. Seu pai, Patrício, era pagão, tendo recebido o baptismo pouco antes de morrer; sua mãe, Mónica, pelo contrário, era uma Cristã fervorosa, e exercia sobre o filho uma notável influência religiosa. Indo para Cartago, a fim de aperfeiçoar seus estudos, começados na pátria, desviou-se moralmente. Caiu em uma profunda sensualidade, que, segundo ele, é uma das maiores consequências do pecado original; dominou-o longamente, moral e intelectualmente, fazendo com que aderisse ao maniqueísmo, que atribuía realidade substancial tanto ao bem como ao mal, julgando achar neste dualismo maniqueu a solução do problema do mal e, por consequência, uma justificação da sua vida. Tendo terminado os estudos, abriu uma escola em Cartago, donde partiu para Roma e, em seguida, para Milão. Afastou-se definitivamente do ensino em 386, aos trinta e dois anos, por razões de saúde e, mais ainda, por razões de ordem espiritual. O encontro com a Bíblia desapontou o jovem Agostinho pois não encontrava a superioridade da filosofia. Depois de maduro exame crítico - abandonara o maniqueísmo, abraçando a filosofia neoplatónica que lhe ensinou a espiritualidade de Deus e a negatividade do mal. Deste modo chegara a uma concepção Cristã da vida - no começo do ano 386. Entretanto a conversão moral demorou ainda, por razões de luxúria. Finalmente, como por uma fulguração do céu, sobreveio a conversão moral e absoluta, no mês de Setembro do ano 386. Agostinho renuncia inteiramente ao mundo, à carreira e ao matrimónio; retira-se, durante alguns meses, para a solidão e o recolhimento, em companhia da mãe, do filho e dalguns discípulos, perto de Milão. Aí escreveu seus diálogos filosóficos, e, na Páscoa do ano 387, juntamente com o filho Adeodato e o amigo Alípio, recebeu o baptismo em Milão das mãos de Santo Ambrósio, cuja doutrina e eloquência muito contribuíram para a sua conversão. Tinha trinta e três anos de idade. Depois da conversão, Agostinho abandona Milão, e, falecida a mãe em Óstia, volta para Tagasta. Aí vendeu todos os haveres e, distribuído o dinheiro entre os pobres, funda um mosteiro numa das suas propriedades alienadas. Ordenado padre em 391, e consagrado bispo 200


em 395, governou a igreja de Hipona até à morte, que se deu durante o assédio da cidade pelos vândalos, a 28 de Agosto do ano 430. Tinha setenta e cinco anos de idade. Após a sua conversão, Agostinho dedicou-se inteiramente ao estudo da Sagrada Escritura, da teologia revelada, e à redacção de suas obras, entre as quais têm lugar de destaque as filosóficas. As obras de Agostinho que apresentam interesse filosófico são, sobretudo, os diálogos filosóficos: Contra os académicos, Da vida beata, Os solilóquios, Sobre a imortalidade da alma, Sobre a quantidade da alma, Sobre o mestre, Sobre a música . Interessam também à filosofia os escritos contra os maniqueus: Sobre os costumes, Do livre arbítrio, Sobre as duas almas, Da natureza do bem. Dada, porém, a mentalidade agostiniana, em que a filosofia e a teologia andam juntas, compreende-se que interessam à filosofia também as obras teológicas e religiosas, especialmente: Da Verdadeira Religião, As Confissões, A Cidade de Deus, Da Trindade, Da Mentira. O Pensamento: A Gnosiologia Agostinho considera a filosofia praticamente, platonicamente, como solucionadora do problema da vida, ao qual só o Cristianismo pode dar uma solução integral. Todo o seu interesse central está portanto, circunscrito aos problemas de Deus e da alma, visto serem os mais importantes e os mais imediatos para a solução integral do problema da vida. O problema gnosiológico é profundamente sentido por Agostinho, que o resolve, superando o cepticismo académico mediante o iluminismo platónico. Inicialmente, ele conquista a certeza da própria existência espiritual; daí tira uma verdade superior, imutável, condição e origem de toda a verdade particular. Embora desvalorizando, platonicamente, o conhecimento sensível em relação ao conhecimento intelectual, admite Agostinho que os sentidos, como o intelecto, são fontes de conhecimento. E como para a visão sensível além do olho, é necessária a luz física, do mesmo modo, para o conhecimento intelectual, seria necessária uma luz espiritual. Esta vem de Deus, é a Verdade de Deus, o Verbo de Deus, para o qual são transferidas as ideias platónicas. No Verbo de Deus existem as verdades eternas, as ideias, as espécies, os princípios formais das coisas, e são os modelos dos seres criados; e conhecemos as verdades eternas e as ideias das coisas reais por meio da luz intelectual a nós participada pelo Verbo de Deus. Como se vê, é a transformação da reminiscência platónica, em sentido teísta e Cristão. Permanece, porém, a característica fundamental, que distingue a gnosiologia platónica da aristotélica e tomista, pois, segundo a gnosiologia platónica-agostiniana, não bastam, para que se realize o conhecimento intelectual humano, as forças naturais do espírito, mas é mister uma particular e directa iluminação de Deus. A Metafísica Em relação com esta gnosiologia, e dependente dela, a existência de Deus é provada, fundamentalmente, à priori, enquanto no espírito humano haveria uma presença particular de Deus. Ao lado desta prova à priori, não nega Agostinho as provas à posteriori da existência de Deus, em especial a que se afirma sobre a mudança e a imperfeição de todas as coisas. Quanto à natureza de Deus, Agostinho possui uma noção exacta, Ortodoxa, Cristã: Deus é poder racional infinito, eterno, imutável, simples, espírito, pessoa, consciência, o que era excluído pelo platonismo. Deus é ainda ser, saber, amor. Quanto, enfim, às relações com o mundo, Deus é concebido exactamente como livre criador. No pensamento clássico grego, tínhamos um dualismo metafísico; no pensamento Cristão agostiniano temos ainda um dualismo, porém moral, pelo pecado dos espíritos livres, insurgidos orgulhosamente contra Deus e, portanto, preferindo o mundo a Deus. No Cristianismo, o mal é negação, privação; moralmente, porém, tem uma realidade na vontade má, aberrante de Deus. O problema que Agostinho tratou, em especial, é o das relações entre Deus e o tempo. Deus não é no tempo, o qual é uma criatura de Deus: o tempo começa com a criação. Antes da criação não há tempo, dependendo o tempo da existência de coisas que vem a ser e são, portanto, criadas. 201


Também a psicologia agostiniana harmonizou-se com o seu platonismo Cristão. Por certo, o corpo não é mau por natureza, porquanto a matéria não pode ser essencialmente má, sendo criada por Deus, que fez boas todas as coisas. Mas a união do corpo com a alma é, de certo modo, extrínseca, acidental: alma e corpo não formam aquela unidade metafísica, substancial, como na concepção aristotélico tomista, em virtude da doutrina da forma e da matéria. A alma nasce com o indivíduo humano e, absolutamente, é uma específica criatura divina, como todas as demais. Entretanto, Agostinho fica indeciso entre o criacionismo e o traducionismo, isto é, se a alma é criada directamente por Deus, ou provém da alma dos pais. Certo é que a alma é imortal, pela sua simplicidade. Agostinho, pois, distingue, platonicamente, a alma em vegetativa, sensitiva e intelectiva, mas afirma que elas são fundidas em uma substância humana. A inteligência é divina em intelecto intuitivo e razão discursiva; e é atribuída a primazia à vontade. No homem a vontade é amor, no animal é instinto, nos seres inferiores cego apetite. Quanto à cosmologia, pouco temos a dizer. Como já mais acima se salientou, a natureza não entra nos interesses filosóficos de Agostinho, preso pelos problemas éticos, religiosos, Deus e a alma. Deus, a princípio, criou alguns seres já completamente realizados; de outros criou as causas que, mais tarde, desenvolvendo-se, deram origem às existências dos seres específicos. Esta concepção nada tem que ver com o moderno evolucionismo , como alguns erroneamente pensaram, porquanto Agostinho admite a imutabilidade das espécies, negada pelo moderno evolucionismo. A Moral A moral agostiniana é teísta e Cristã e, logo, transcendente e ascética. Nota característica da sua moral é o voluntarismo, a saber, a primazia do prático, da acção (própria do pensamento latino), contrariamente ao primado do teorético, do conhecimento (próprio do pensamento grego). A vontade não é determinada pelo intelecto, mas precede-o. Não obstante, Agostinho tem também atitudes teoréticas como, por exemplo, quando afirma que Deus, fim último das criaturas, é possuído por um acto de inteligência. A virtude não é uma ordem de razão, hábito conforme à razão, como dizia Aristóteles, mas uma ordem do amor. Entretanto a vontade é livre, e pode querer o mal, pois é um ser limitado, podendo agir desordenadamente, imoralmente, contra a vontade de Deus. E deve-se considerar não causa eficiente, mas deficiente da sua acção viciosa, porquanto o mal não tem realidade metafísica. O pecado, pois, tem em si mesmo imanente a pena da sua desordem, porquanto a criatura, não podendo lesar a Deus, prejudica a si mesma, determinando a dilaceração da sua natureza. A fórmula agostiniana em torno da liberdade em Adão (antes do pecado original) é: poder não pecar; depois do pecado original é: não poder não pecar; nos bem-aventurados será: não poder pecar. A vontade humana, portanto, já é impotente sem a graça. O problema da graça (que tanto preocupa Agostinho) tem, além de um interesse teológico, também um interesse filosófico, porquanto se trata de conciliar a causalidade absoluta de Deus com o livre arbítrio do homem. Como é sabido, Agostinho, para salvar o primeiro elemento, tende a descurar o segundo. Quanto à família , Agostinho, como Paulo apóstolo, considera o celibato superior ao matrimónio (Nota: eu pessoalmente não considero, porque a missão mais sagrada que os seres vivos têm, é a de transmitir os seus genes, o que não seria possível sem a ligação heterosexual); se o mundo terminasse por causa do

celibato, ele alegrar-se-ia, como da passagem do tempo para a eternidade. Quanto à política , ele tem uma concepção negativa da função estatal; se não houvesse pecado e os homens fossem todos justos, o Estado seria inútil. Consoante Agostinho, a propriedade seria de direito positivo, e não natural. Nem a escravidão é de direito natural, mas consequência do pecado original, que perturbou a natureza humana, individual e social. Ela não pode ser superada 202


naturalmente, racionalmente, porquanto a natureza humana já é corrompida; pode ser superada sobrenaturalmente, asceticamente, mediante a conformação Cristã de quem é escravo e a caridade de quem é amo. O Mal Agostinho foi profundamente impressionado pelo problema do mal - de que dá uma vasta e viva fenomenologia. Foi também longamente desviado pela solução dualista dos maniqueus, que lhe impediu o conhecimento do justo conceito de Deus e da possibilidade da vida moral. A solução deste problema, por ele achada, foi a sua libertação e a sua grande descoberta filosófico-teológica, e marca uma diferença fundamental entre o pensamento grego e o pensamento Cristão. Antes de tudo, nega a realidade metafísica do mal. O mal não é ser, mas privação de ser, como a obscuridade é ausência de luz. Tal privação é imprescindível em todo ser que não seja Deus, enquanto criado, limitado. Desta forma é explicado o assim chamado mal metafísico , que não é verdadeiro mal, porquanto não tira aos seres o lhes é devido por natureza. Quanto ao mal físico, que atinge também a perfeição natural dos seres, Agostinho procura justificá-lo mediante um velho argumento, digamos assim, estético: o contraste dos seres contribuiria para a harmonia do conjunto. Quanto ao mal moral, existe realmente a má vontade que livremente faz o mal. Este pode unicamente provir do homem, livre e limitado, e não de Deus, que é puro ser e produz unicamente o ser. O mal moral entrou no mundo humano pelo pecado original e actual; por isso, a humanidade foi punida com o sofrimento, físico e moral, além de o ter sido com a perda dos dons gratuitos de Deus. O mal físico tem, deste modo, uma outra explicação mais profunda. Remediou este mal moral a redenção de Cristo, Homem Deus, que restituiu à humanidade os dons sobrenaturais e a possibilidade do bem moral; mas deixou permanecer o sofrimento, consequência do pecado, como meio de purificação e expiação. E a explicação última de tudo isso - do mal moral e de suas consequências - estaria no facto de que é mais glorioso para Deus tirar o bem do mal, do que não permitir o mal. Resumindo a doutrina agostiniana a respeito do mal, diremos: o mal é, fundamentalmente, privação de bem (de ser); este bem pode ser não devido (mal metafísico) ou devido (mal físico e moral) a uma determinada natureza; se o bem é devido nasce o verdadeiro problema do mal; a solução deste problema é estética para o mal físico, moral (pecado original e Redenção) para o mal moral (e físico). A História Agostinho trata do problema da história na Cidade de Deus, e resolve-o ainda com os conceitos de criação, de pecado original e de Redenção. A Cidade de Deus representa, talvez, o maior monumento da antiguidade Cristã e, certamente, a obra prima de Agostinho. O conceito de criação é indispensável para o conceito de providência, que é o governo divino do mundo; este conceito de providência é, por sua vez, necessário, a fim de que a história seja susceptível de racionalidade. O conceito de providência era impossível no pensamento clássico, por causa do basilar dualismo metafísico. Entretanto, para entender realmente, plenamente, o plano da história, é mister a Redenção, graças aos quais é explicado o enigma da existência do mal no mundo e a sua função. Cristo tornara-se o centro sobrenatural da história: o seu reino, a cidade de Deus, é representada pelo povo de Israel antes da sua vinda sobre a terra, e pela Igreja depois de seu advento. Contra esta cidade se ergue a cidade terrena, mundana, satânica, que será absolutamente separada e eternamente punida nos fins dos tempos. Agostinho distingue em três grandes secções a história antes de Cristo. A primeira concerne à história das duas cidades, após o pecado original, até que ficaram confundidas em um único caos humano, e chega até a Abraão, época em que começou a separação. Na Segunda descreve Agostinho a história da cidade de Deus, recolhida e configurada em Israel, de Abraão até Cristo. A terceira retoma, em separado, a narrativa do ponto em que começa a história da 203


Cidade de Deus separada, isto é, desde Abraão, para tratar paralela e separadamente da Cidade do mundo, que culmina no império romano. Esta história, pois, fragmentária e dividida, onde parece que Satanás e o mal têm o seu reino, representa, no fundo, uma unidade e um progresso. É o progresso para Cristo, sempre mais claramente, conscientemente e divinamente esperado e profetizado em Israel; e profetizado também, a seu modo, pelos povos pagãos, que, consciente ou inconscientemente, lhe preparavam directamente o caminho. Depois de Cristo cessa a divisão política entre as duas cidades; elas se confundem como nos primeiros tempos da humanidade, com a diferença, porém, de que já não é mais união caótica, mas configurada na unidade da Igreja. Esta não é limitada por nenhuma divisão política, mas supera todas as sociedades políticas na universal unidade dos homens e na unidade dos homens com Deus. A Igreja, pois, é acessível, invisivelmente, também às almas de boa vontade que, exteriormente, dela não podem participar. A Igreja transcende, ainda, os confins do mundo terreno, além do qual está a pátria verdadeira. Entretanto, visto que todos, predestinados e ímpios, se encontram empiricamente confundidos na Igreja - ainda que só na unidade dialéctica das duas cidades , para o triunfo da Cidade de Deus - a divisão definitiva, eterna, absoluta, justíssima, realizar-se-á nos fins dos tempos, depois da morte, depois do juízo universal, no paraíso e no inferno. É uma grande visão unitária da história, não é uma visão filosófica, mas teológica: é uma teologia, não uma filosofia da história. Santo Agostinho, no seu livro Confissões, chegou a interpelar a si mesmo: "não vivi em outro corpo antes de entrar no ventre de minha mãe?" Desta questão, alguns deduzem a crença de Santo Agostinho na sua própria reencarnação.

Pecado original Santo Agostinho 354-430

"Alguém aqui ainda não foi baptizado?" Perguntou o vigário. Um jovem de 12 anos, levantou a mão. “VOCÊ PRECISA SER BATIZADO HOJE”, disse o padre. “Caso contrário, você pode sair da Igreja, ser atropelado por um carro e ir directo para o inferno.” Depois desta observação o jovem decidiu baptizar-se imediatamente. Este incidente aconteceu em 1962, na Igreja da Inglaterra, embora hoje muitos padres e ministros possam não fazer mais afirmações tão extremas como esta, o conceito geral de que as crianças que não forem baptizadas vão para o inferno persiste até hoje. Este conceito originou-se nos debates do século V sobre o pecado original. Depois que a Igreja começou a rejeitar o ORIGENISMO E A PREEXISTÊNCIA, teve que encontrar uma outra explicação para a ocorrência de factos negativos às pessoas boas. Sem as acções passadas para explicar as diferenças entre destinos, a igreja voltou-se para a doutrina, que deixou uma cicatriz profunda na alma da civilização ocidental, é resultado directo da negação da preexistência e da reencarnação. O pecado original é a negação total, feita pela igreja, do direito que os Cristãos têm de constatar o Deus interior. A Igreja pregava a ideia de que o estado lamentável da condição humana relacionava-se, de alguma forma, com a Queda de Adão e Eva do Paraíso. Mas foi Santo Agostinho que apanhou do chão esta maçã empoeirada, limpou-a em seu manto de bispo e transformou-a naquilo que ainda hoje é um fundamento da teologia Cristã – o pecado original. Agostinho chegou à ideia do pecado original por uma rota sinuosa. Nascido no ano 354 no norte da África, 29 anos depois do Concílio de Niceia, foi criado por mãe Cristã e pai pagão. Seguiu o maniqueísmo (religião fundada por Mani, de origem Iraniana no século III antes de Cristo) durante 9 anos. Depois, foi para a Itália e tornou-se neo-platónico, adoptando a ideia de um Deus transcendental e interior. Tornar-se Cristão foi, para ele, um processo muito difícil. Embora se sentisse atraído pelo Cristianismo, achava que seguir a fé implicaria tornar-se celibatário – e ele não estava pronto para isto. Acabou se convertendo, depois de muita luta, aos 32 anos. 204


Mandou embora a sua concubina, desmanchou seu noivado com uma jovem da aristocracia e aceitou o baptismo. Formulou sua famosa doutrina pouco depois do Concílio de Alexandria, convocado pelo bispo Teófilo, que condenava os textos de Orígenes. O povo perguntava: como os pecados de alguém que havia vivido há 5 mil anos ou mais poderiam fazer de mim um pecador. E Agostinho encontrou apoio para sua doutrina nas Escrituras, em Romanos 5:12. O versículo diz: “ O pecado veio ao mundo através de um homem, e a morte veio através do pecado, e a morte espalhou-se por todos porque todos haviam pecado”. A versão que Agostinho possuía deste versículo havia sido mal traduzida. Ele não lia grego, a língua original do Novo Testamento. Agostinho fez de Adão uma personalidade que incorporava a natureza de todos os homens futuros, transmitida através do sémen. Ele escreveu: “Todos nós estávamos naquele homem.” Embora não tivéssemos ainda uma forma física, “ a natureza seminal pela qual seríamos propagados já se encontrava ali”. Por isso, todos os descendentes de Adão seriam corruptos e condenáveis, porque estavam presentes dentro dele (como sémen) quando pecou. Agostinho descreveu o pecado como algo que fora “Contraído” e que se espalhara pela raça humana como uma doença venérea. Jesus ficou isento do pecado original porque, de acordo com os Ortodoxos, foi concebido sem sémen. Agostinho concluiu que, como resultado do pecado de Adão toda a raça humana era um “comboio do mal” dirigindo-se para a destruição pela segunda morte. Com excepção, é claro, daqueles que conseguem alcançar a graça divina através da igreja. A doutrina de Agostinho sobre o pecado original gerou uma discussão sobre o baptismo infantil. A pergunta central era: O que acontece aos bebés que morrem sem terem sido baptizados? Vão para o céu ou para o inferno? Parecia difícil acreditar que Deus os mandaria para o inferno uma vez que não tinham cometido qualquer pecado. Mas, se fossem mandados para o céu, por que então precisariam ser baptizados? Na verdade por que alguém precisa ser baptizado? Esta controvérsia ameaçava grandemente a autoridade da igreja. O Cristianismo actual abandonou algumas das conclusões mais incoerentes de Agostinho. A Igreja Católica, por exemplo, diz que crianças que não foram baptizadas não vão para o inferno mas sim para um local de “perfeita felicidade natural. Ali são excluídas da visão celestial de Deus mas, em contrapartida, não experimentam a dor. Fazer com que a igreja engolisse a pílula amarga do pecado original não foi uma tarefa fácil. Mas Agostinho devotou 20 anos a este fim. Combatendo com eficácia as ideias de João Crisóstomo, de Pelágio, dos Arianos, Origenistas, Pitagoricos, Gnósticos entre outros que pregavam a preexistência da alma ou seja a reencarnação, que ele Agostinho, estudara durante muitos anos no maniqueísmo e no neoplatonismo. Examinemos agora por que a igreja resolveu aceitar a teologia de Agostinho e como ela afectou as futuras gerações de Cristãos. Na luta contra Pelágio, Agostinho escreveu uma carta ao Papa Inocêncio I, advertindo-o de que a visão de Pelágio sobre a natureza humana deveria ser condenada, para que a autoridade da igreja prevalecesse. Pelágio argumentava que a salvação é alcançada através do esforço pessoal e não simplesmente pela aceitação da regras da igreja. Agostinho mostrou ao Papa que se a visão de Pelágio prevalecesse, as pessoas deixariam de procurar a Igreja para receber a graça ou a garantia de salvação. Até mesmo as orações oferecidas pelo clero poderiam tornar-se apenas palavras vãs queixava-se, insistindo em que o ponto de vista de Pelágio em relação ao livre arbítrio fosse anatematizado. A controvérsia tornou-se uma questão de sobrevivência da Igreja. Se quisesse manter sua autoridade, a Igreja teria que aceitar a solução de Agostinho. E o pecado original certamente também servia às necessidades das classes dominantes da sociedade romana. Agostinho foi também parcialmente responsável pela atitude posterior da igreja ao perseguir os 205


hereges. Ensinou que a coerção era um meio aceitável para obter a unidade da Igreja. E seria melhor, argumentava, forçar um herege a aceitar a fé da Igreja do que permitir que sua alma fosse destruída pelo fogo do inferno após a morte. E assim Santo Agostinho tornou-se o mais influente teólogo da Igreja. Depois a obediência absoluta e irrestrita tornou-se única oferta que os bons Cristãos poderiam fazer à Igreja. Deixou-nos um total de 232 livros escritos durante a sua vida de 76 anos. Muitas de suas obras foram escritas antes de tornar-se Cristão, e nelas defendeu as ideias de Platão e Plotino que aceitavam a reencarnação. Agostinho é um dentre os santos que é chamado tanto de "santo" quanto de "são". Normalmente, apenas os santos com a letra inicial de seu nome iniciada em vogal são chamados de "santo" (Ex. Santo Antonio), e os que possuem a letra inicial de seu nome em consoante, são chamados de "são" (Ex. São João, São Pedro)[carece de fontes?].

Maniqueísmo Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Maniqueísmo, filosofia religiosa sincrética e dualística ensinada pelo profeta persa Mani (ou Manes), combinando elementos do Zoroastrismo, Cristianismo e Gnosticismo, condenado pelo governo do Império Romano, filósofos neoplatonistas e Cristãos Ortodoxos. Filosofia dualística que divide o mundo entre Bem, ou Deus, e Mal, ou o Diabo. A matéria é intrinsecamente má, e o espírito, intrinsecamente bom. Com a popularização do termo, maniqueísta passou a ser um adjectivo para toda doutrina fundada nos dois princípios opostos do Bem e do Mal. A igreja Cristã de Mani era estruturada a partir dos diversos graus do desenvolvimento interior. Ele mesmo a encabeçava como apóstolo de Jesus Cristo. Junto a ele eram mantidos doze instrutores ou filhos da misericórdia. Seis filhos iluminados pelo sol do conhecimento assistiam cada um deles. Esses "epíscopos" (bispos) eram auxiliados por seis presbíteros ou filhos da inteligência. O quarto círculo compreendia inúmeros eleitos chamados de filhos e filhas da verdade ou dos mistérios. Sua tarefa era pregar, cantar, escrever e traduzir. O quinto círculo era formado pelos auditores ou filhos e filhas da compreensão. Para esse último grupo, as exigências eram menores. Eles deviam seguir sobretudo os dez mandamentos seguintes como fio condutor da sua vida quotidiana: Não adorar nenhum ídolo; Purificar o que sai da boca: não praguejar, não mentir, não levantar falso testemunho ou caluniar; Purificar o que entra pela boca: não comer carne, nem ingerir álcool; Venerar as mensagens divinas; Ser fiel ao seu cônjuge e manter a continência sexual, especialmente durante os jejuns; Auxiliar e consolar aqueles que sofrem; Evitar os falsos profetas; Não assustar, ferir, atormentar ou matar animais; Não roubar nem cometer fraude; Não praticar nenhuma magia ou feitiçaria; Há um romance histórico escrito por Amin Maalouf, um jornalista libanês, que enfoca o nascimento do maniqueísmo. O livro, "Jardins de Luz", foi publicado pela Ed. Record e conta sobre a vida de Mani, desde que ele teria sido levado de junto de sua mãe para o convívio na comunidade dos "Vestes Brancas".

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Liberdade para o maniqueismo Para os maniqueus, havia duas divindades supremas a presidir o universo: o princípio do Bem e o do Mal – a luz e as trevas. Como consequência moral, afirmavam ter o homem duas almas. Cada uma presidida por um desses dois princípios. Logo, o mal é metafísico e ontológico. A pessoa não é livre nem responsável pelo mal que faz. Este lhe é imposto.

Orígenes Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Orígenes

Orígenes (185 - 253 D.C.) foi um teólogo e prolixo escritor Cristão. Nasceu em Alexandria, Egipto, e faleceu, segundos alguns dados em Cesareia, na actual Palestina ou, mais provavelmente, segundo outras fontes, em Tiro. Biografia O maior erudito da Igreja antiga - segundo J. Quasten - nasceu de uma família Cristã egípcia e teve como mestre Clemente de Alexandria. Assumiu, em 203, a direcção da escola catequética em Alexandria - que havia sido fundada por um estóico chamado Panteno que se havia convertido à mensagem de Cristo - atraindo muitos jovens estudantes pelo seu carisma, conhecimento e virtudes pessoais. Depois de ter também frequentado, desde 205, a escola de Amónio Sacas - fundador do neo-platonismo e mestre de Plotino -, apercebeu-se da necessidade do conhecimento apurado dos grandes filósofos. No decurso de uma viagem à Grécia, no ano de 230, foi ordenado sacerdote na Palestina pelos bispos Alexandre de Jerusalém e Teoctisto de Cesareia. Em 231, Orígenes foi forçado a abandonar Alexandria devido à animosidade que o bispo Demétrio lhe devotava pelo facto de se ter feito eunuco no sentido literal e físico desta palavra (Eunuco é um homem cujos testículos foram removidos) . Também, contribui para esse facto o de Orígenes ter levado ao extremo a apropriação da filosofia platónica, tendo sido considerado herético. Orígenes, então, passou a morar num lugar onde Jesus havia, muitas vezes, estado: Cesareia, na Palestina, onde prosseguiu as actividades com grande sucesso abrindo a chamada Escola de Cesareia. Na sequência da onda de perseguição aos Cristãos, ordenada por Décio, Orígenes foi preso e torturado, o que lhe causou a morte, por volta de 253.

Orígenes (visão reencarnacionista) Um dos maiores lumiares do início do Cristianismo, "O maior erudito da Igreja antiga", segundo J. Quasten - pertencente à Igreja Grega e do Oriente, diga-se de passagem, enquanto a de Roma ainda não tinha a supremacia que viria a ter em virtude de manipulações políticas Orígenes nos encanta por sua apurada visão espiritual e sua maneira especialmente lúcida de abordar a mensagem do Cristo. Nascido por volta de 185 de nossa era, em Alexandria - onde 207


ficava a famosa biblioteca, marco único na história intelectual humana, e que foi destruída pela ignorância e sede de poder dos romanos e, depois, por pseudo-Cristãos ensandecidos e fanáticos -, desde cedo teve contacto com a doutrina de Cristo, especialmente com seu pai, Leonídio, que foi martirizado em testemunho de sua fé. Com isso, a família de Orígenes passou a ser estigmatizada, tendo sido sequestrado todo o patrimômio que lhe pertencia. Para sobreviver, o jovem e brilhante Orígenes passou a leccionar para ganhar seu sustento. Mente curiosa e aberta, Orígenes dedicava-se ao estudo e à discussão da filosofia, notadamente Platão e os estóicos. Orígenes bebeu da mesma formação intelectual que viria a ter Plotino, na escola de Amónio Sacas e, com certeza, as doutrinas ditas orientais não lhe eram estranhas, e muito menos a ênfase num conhecimento pisíquico directo com o transcendente que era típica da escola de Amónio, fundador do neoplatonismo e, também, um simpatizante (pelo menos em parte) do Cristianismo. Por isso, com absoluta certeza, o conhecimento na doutrina Paligenética (da Reencarnação), tão cara a Platão e a Sócrates, lhe era muito familiar em sua fase de formação, e posteriormente ele viria a divulgá-la abertamente - este foi um dos motivos pelos quais foi perseguido pela vertente Católico romana, e por isso, temos hoje poucos de seus escritos, mesmo assim, devidamente "maquilados" (c.f. Reale & Antiseri, 1990, volume I, página 413; e Fadiman & Frager em Teorias da Personalidade, 1986, ed. Harbra, páginas 175-176). Pouco antes do nascimento de Orígenes, um estóico chamado Panteno havia se convertido à mensagem do Cristo, e fundara uma escola catequética em Alexandria. Em 203 o jovem Orígenes assumiu a direção desta escola, atraindo muitos jovens estudantes pelo seu carisma, conhecimento e virtudes pessoais. Em 231, Orígenes foi forçado a abandonar Alenxandria devido à animosidade que o bispo Demétrio (na verdade, um invejoso) lhe devotava. Orígenes, então, passou a morar num lugar onde Jesus havia, muitas vezes, estado: Cesareia, na Palestina, onde prosseguiu suas atividades com grande sucesso. Mas nem mesmo lá ele encontraria a paz, pois logo veio a onda de perseguição aos Cristãos ordenada por Décio. Lá, Orígenes foi preso e torturado barbaramente, o que lhe causou a morte, em 253. O pensamento de Orígenes e sua forma de interpretar o evangelho foi durante muito tempo causa de acesa polémica entre os sofistas da igreja de Roma, ao ponto de algumas teses de seu pensamento serem oficialmente condenadas pelo imperador Justiniano que via nelas uma ameaça aos resquícios do pensamento antigo que considerava o imperador romano quase uma divindade e, posteriormente, que teve sua ratificação religiosa feita por um concílio Católico-romano, em 553. Orígenes também sofreu o triste e típico caso dos seguidores de um líder que pervertem a mensagem original.... Muito do que escreveu e disse Orígenes foi reinterpretado e corrompido pelos origenistas, o que causou, junto com as condenações de Roma, uma perda em grande parte da sua enorme produção literária. Resta-nos dela Os Princípios, Contra Celso e Comentário a João. O centro do pensamento de Orígenes é Deus: "Deus não pode ser entendido como corpo, mas como uma realidade transcendente apenas passível de ser palidamente entendida como realidade intelectual e espiritual", diz ele. Deus não pode ser conhecido em sua natureza, por meio das limitações dos seres relativos que somos, pelo simples facto de que nossas percepções e concepções sobre tudo está sempre em transformação, quer em maturação, quer em uma espécie de regressão (basta ver o mundo à nossa volta para nos certificarmos disso). Qualquer ideia que possamos fazer de Deus é apenas uma projecção antropomórifca de uma dada época e que apenas toca de leve uma ideia ainda maior: "Deus, em sua realidade, é incompreensível e inescrutável. Com efeito, podemos pensar e compreender humanamente qualquer coisa sbre Deus, mas devemos também saber que Ele é amplamente superior a tudo àquilo que Dele pensamos (...)". Ou seja, temos uma intuição de Deus, não uma compreensão racional definitiva Dele. Aqui ouve-se claramente ecos do pensamento neoplatônico de Amónio Sacas, e Orígenes até mesmo usou a expressão "acima da inteligência e do ser", muito famosa por ter sido utilizada por Plotino.

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A compreensão da criação do universo por Deus, de Orígenes, nos lembra e muito a das tradições orientais, notadamente as da Índia e a dos mistérios gregos, e, principalmente, Platão e Plotino. Primeiro, Deus teria criado seres racionais e livres, todos simples e iguais entre si - e os criou à própria imagem, por serem seres dotados da capacidade de de desenvolver a razão. Mas a própria simplicidade original (a ignorância) os levaram, por meio da liberdade a que tinham direito, a divergirem no seu comportamento e, em sua busca por instrução, a se diferenciarem entre si (podemos encontrar um retorno a esta ideia no moderno Espiritismo kardecista que diz que "todos os espíritos foram criados simples e ignorantes", sendo as diferenças entre eles fruto dos percalços e escolhas no caminho evolutivo individual de cada um). O mundo material e o corpo são consequências directas disto, pois tornaram-se necessários a fim de corrigir os erros dos espíritos que se afastaram demasiado de Deus. Mas o corpo não é, em absoluto, algo negativo, como diriam os platônicos e os gnósticos. É, isso sim, o instrumento e o meio mais eficaz para o aprendizado ou para a expiação de erros cometidos anteriormente. A alma, ou espírito, pois, preexistia ao corpo (Reale & Antiseri, História da Filosofia, vol. I, 1990), e a diversidade dos homens e de suas condições remonta à diversidade de comportamento na vida anterior. A doutrina da reencarnação é uma constante em Orígenes, como o fora anteriormente para Pitágoras, Sócrates, Platão, e toda a tradição órifca grega até Plotino. Orígnes tinha consciência de indícios desta doutrina no próprio evangelho, como em Lucas 1:13-17; Mateus 17:9-13 e em João, 3:1-15. Igualmente, com os mistérios gregos, admitia que nosso universo é constituido por uma série de "mundos" habitados, onde a alma se aperfeiçoa (isto séculos antes de Giordano Bruno e de Kardec). Diz-nos Orígenes: "Deus não começou a agir pela primeira vez quando criou este nosso mundo visível. Acreditamos que (...) antes deste houve muitos outros". Tal concepção nos lembra, e muito, a concepção de Pierre Teilhard Chardin. Orígenes, como Chardin, acredita que tudo no universo tende a voltar a Deus, o ponto ômega. Todos os espíritos se purificarão em sua marcha progressiva pela eternidade em direção a Deus, uma marcha longa e gradual, de correção e expiação, passando, portanto, por inúmeras reencarnações neste e em outros mundos! (Reale & Antiseri, 1990). Diz Orígenes: "Devemos crer que (...) todas as coisas serão reintegradas em Deus (...). Isso, porém, não acontecerá num momento, mas lenta e gradualmente, através de infinitos séculos, já que a correção e a purificação advirão pouco a pouco e singularmente: enquanto alguns com ritmo mais veloz se apressarão como primeiros na meta, outros os seguirão de perto e outros ainda ficarão muito para trás. E assim, através de inumeráveis ordens (...)". Orígenes exaltou ao máximo a liberdade e o livre arbítrio de todas as criaturas do mundo, em todos os níveis de sua existência. Em certo sentido, Orígenes tinha uma percepção Holística do mundo. No próprio estágio final ( o estágio próximo ao ponto ômega, como diria Teilhard Chardin ), será o livre arbítrio juntamente com uma compreensão esclarecida do sentido do universo que o espírito irá aderir ao amor de Deus, sábio e senhor de milhares de anos de experiência. Assim, terá cumprido o círculo, partindo do ponto de ignorância absoluta ao de sabedoria absoluta, sempre de e em direção a Deus. Orígenes também teve a suficiente visão e sabedoria para distinguir três níveis de leitura das escrituras: 1) o literal (muito usado ainda hoje pela maioria das igrejas evangélicas no Brasil), 2) o Moral e 3) e Espíritual, que é o mais importante e também o mais difícil. Cada um destes níveis indica um estado de consciência e amadureciamento espiritual e psicológico. Como nos fala Reale & Antiseri, a importância de Orígenes é notável em todos os campos. Ele quis ser, antes de tudo, um Cristão, e o foi até as últimas consequências, suportando com heroísmo as torturas que o matariam, para permanecer fiel a Cristo. Orígenes, sábio Cristão e mestre da igreja, ensinava que "todas as almas chegam a este mundo fortalecidas pelas vitórias ou debilitadas pelas derrotas de uma vida pregressa. O seu lugar neste planeta é determinado por seus méritos ou deméritos do passado". Essa 209


assertiva do sábio Orígenes traduz sua ampla confissão da sua crença viva na reencarnação da alma.

Orígenes escreveu - diz-nos São Jerónimo - nada menos que 600 obras, entre as quais as mais conhecidas são: "'De Princippis'"; "'Contra Celso'" e a "'Hexapla'". Entre os seus numerosos comentários bíblicos devem ser realçados: "Comentário ao Evangelho de Mateus"; "Comentário ao Evangelho de João". O número das suas Homílias que chegaram até aos dias de hoje ultrapassam a centena.

Orígenes (visão católica) Traços de um pensamento A importância do Espírito Santo «O Espírito sopra onde quer (Jo 3, 8). Isto significa que o Espírito é um ser substancial e não, como alguns afirmam, uma simples força ou actividade de Deus sem existência individual. O Apóstolo (São Paulo), depois de enumerar os dons do Espírito, prossegue: "um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um de acordo com a sua vontade" (1 Cor 12, 11). Portanto, se actua e distribui de acordo com a sua vontade, é um ser substancial activo, e não uma mera actividade ou manifestação.» Fragm. in Jo. 37. Orígenes, além dos seus trabalhos teológicos, dedicou-se ao estudo e à discussão da filosofia, em especial Platão e os filósofos estóicos. No seu pensamento, podemos referir a tese da préexistência da alma e a doutrina da "apocatastase", ou seja, da restauração universal (palingenesia), ambas posteriormente condenadas no Segundo Concílio de Constantinopla, realizado em 553, por serem formalmente contrárias ao núcleo irredutível do ensinamento bíblico -, embora estudiosos modernos e contemporâneos reconheçam inequivocamente que a primeira era mais «atribuída a Orígenes (por outros) do que propriamente defendida por ele». Segundo o renomado livro sobre a História da Filosofia de Giovanni Reale, a condenação de algumas doutrinas de Orígenes se deu muito pelos exageros cometidos pelos seus discípulos, os origenistas. Ao contrário do que afirmam certos teosofistas - como, por exemplo Geddes MacGregor no seu livro de 1978 "Reincarnation in Christianity: A New Vision of the Role of Rebirth in Christian Thought" -, Orígenes era totalmente contrário à doutrina da metempsicose (renascimento do ser humano em animais). Profundo conhecedor deste conceito a partir da filosofia grega, afirma que a metempsicose (transmigracão) «é totalmente alheia à Igreja de Deus, não ensinada pelos Apóstolos e não sustentada pela Escritura» ( "Comentário ao Evangelho de Mateus" XIII, 1, 46–53). Orígenes, embora não duvidando de que o texto sagrado seja invariavelmente verdadeiro, insiste na necessidade da sua correcta interpretação. Assim, teve a suficiente percepção para distinguir três níveis de leitura das escrituras: 1) o Literal 2) o Moral; 3) o Espiritual, que é o mais importante e também o mais difícil. Segundo Orígenes, cada um destes níveis indica um estado de consciência e amadurecimento espiritual e psicológico. Santíssima Trindade Orígenes como é comum nos escritores Cristãos influenciados pelas doutrinas derivadas de Platão coloca as Ideias platónicas na Mente Divina, na Sabedoria de Deus. O Filho de Deus, Segunda Pessoa da Trindade, é a Sabedoria bíblica: Mente de Deus, substancialmente subsistente: 210


“... Deus sempre foi Pai, e sempre teve o Filho unigénito, que, conforme tudo o que expusemos acima, é chamado também de sabedoria (...) nesta sabedoria que sempre estava com o Pai, estava sempre contida, preordenada sob a forma de ideias, a criação, de modo que não houve momento em que a ideia daquilo que teria sido criado não estivesse na sabedoria...”.(2) Influenciado pelo Medioplatonismo e pelo início do Neoplatonismo Orígenes admite certa subordinação do Filho ao Pai. É importante ressaltar que tal subordinação foi exagerada por seus adversários. E que apesar de discordar da perfeita paridade entre o Pai e o Filho, na História da Filosofia de Giovanni Reale afirma que Orígenes defende que o Pai e o Filho possuem a mesma essência. Ao contrário dos homens que tornaram-se filhos de Deus pela adopção do Espírito: “Porquanto não recebestes um espírito de escravidão para viverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adopção pelo qual clamamos: Aba! Pai!” (Romanos 8,15). Orígenes afirma que Cristo é Filho por natureza, "o Filho unigênito do Pai"(2). (2) Os princípios, livro I, 4, 4-5 - Orígenes. O que vai configurar o pensamento do Concílio de Nicéia, com a ressalva que Cristo Se fez menor do que o Pai quando Se encarnou até a morte na cruz, quando ressuscita ao terceiro dia e se senta segundo Suas palavras à direita do Poder (Mt 26, 64). Maria no Cristianismo O pensamento de Orígenes chama bastante atenção no que diz respeito a esse tema, pois além de afirmar a virgindade perpétua de Maria, o que foi praticamente uma unanimidade nos primeiros séculos do Cristianismo, realça os olhos com que naturalidade afirma também a imaculada conceição de Maria: “Desposada com José, mas não carnalmente unida. A Mãe deste foi Mãe imaculada, Mãe incorrupta, Mãe intacta. A Mãe deste, de qual este? A Mãe do Senhor, Unigênito de Deus, do Rei universal, do Salvador e Redentor de todos.” (Orígenes - homilia inter collectas ex variis locis). Primado de Pedro Conforme fragmento conservado na "História Eclesiástica" de Eusébio, III,1 Orígenes conta como foi o martírio do apóstolo Pedro em Roma: "Pedro, finalmente tendo ido para Roma, lá foi crucificado de cabeça para baixo". E professa também o Primado de Pedro: “E Pedro, sobre quem a Igreja de Cristo foi edificada, contra a qual as portas do inferno não prevalecerão (...)". Baptismo Orígenes também atesta que a Igreja como sempre fez deve baptizar as crianças: "A Igreja recebeu dos Apóstolos a tradição de dar baptismo também aos recém nascidos". (Epist. ad Rom. Livro 5,9).

Estoicismo Estoicismo é uma doutrina filosófica que afirma que todo o universo é corpóreo e governado por um Logos divino. A alma está identificada com este princípio divino, como parte de um todo ao qual pertence. Este logos (ou razão universal) ordena todas as coisas: tudo surge a partir dele e de acordo com ele, graças a ele o mundo é um kosmos (termo que em grego significa "harmonia"). O estoicismo propõe viver de acordo com a lei racional da natureza e aconselha a indiferença (apathea) em relação a tudo que é externo ao ser. O homem sábio obedece à lei natural reconhecendo-se como uma peça na grande ordem e propósito do universo.

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O estoicismo floresceu na Grécia com Cleantes de Assos e Crisipo de Solis (além da clara influência de Sócrates), sendo levada a Roma no ano 155 a.C. por Diógenes de Babilónia. Ali seus continuadores foram Marco Aurélio, Séneca, Epiteto e Lucano. Estóico: Diz-se daquele que revela fortaleza de ânimo e austeridade. Impassível; imperturbável; insensível.

Logos Logos no grego, significava inicialmente a palavra escrita ou falada - o Verbo. Mas a partir de filósofos gregos como Heráclito, Logos passa a ser um conceito filosófico traduzido como razão, tanto como a capacidade de racionalização individual ou como um princípio cósmico da Ordem e da Beleza. Na teologia Cristã o conceito filosófico do Logos viria a ser adoptado no Evangelho de João, o evangelista se refere a Jesus Cristo como o Logos, isto é, a Palavra: "No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com o Deus, e a Palavra era Deus" João 1:1. No Cristianismo o Logos é Jesus Cristo. No primeiro capítulo do Evangelho do apóstolo João: “O Logos Se fez carne e habitou entre nós” (Jô 1, 14).

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16 - Turquia e o Cristianismo Judaísmo, Cristianismo e islamismo são religiões semítico-proféticas que têm como solo comum o Oriente Médio. Apesar das diferenças de crença, doutrina e ritos, apresentam semelhanças e convergências na medida em que expressam o confronto do homem com o mistério de sua origem e de seu destino, bem como com o sentido de sua vida e de sua morte. Essas três grandes religiões se aproximam pela fé num único Deus; por uma história que se desenvolve num tempo linear, que começa com a criação e se desdobra num caminho em direção ao aperfeiçoamento do mundo e do homem e à salvação da alma; se aproximam, ainda, por expressarem a sua mensagem em livros considerados sagrados - Bíblia, Torah, Corão - e pela orientação da conduta de seus seguidores segundo mandados divinos. Entretanto, apesar de ser uma das religiões orientais e de guardar semelhanças com as demais, o Cristianismo apresenta uma diferença essencial: a doutrina Cristã, fundamentada na palavra de Jesus, nascida na Palestina, impôs-se no mundo romano do oriente e chegou até os nossos dias, levando a todos os homens a mensagem de uma nova solidariedade, caracterizada por um engajamento acima de tudo amoroso com o próximo. Mais do que a observância a leis religiosas, o Cristianismo propõe uma ética fundamental, isto é, o direcionamento de todos os esforços para constituição de um ethos (ética (ethics) moral) verdadeiramente humano. No processo de nascimento, expansão e consolidação do Cristianismo, a Turquia tem um papel relevante, que poucos conseguem vislumbrar. Foi neste país que a mensagem Cristã firmou-se e se expandiu. Paulo, de Tarso, viajou intensamente pelo sul e oeste da Anatólia, entre os anos 45 e 58 DC. Muitos dos relatos dessas viagens se encontram no Livro Bíblico dos Actos dos Apóstolos. Foi em Perge que o missionário proferiu seu primeiro sermão e, incansável na disseminação da fé Cristã, estendeu a sua obra a cidades como Éfeso, Antalya, Iconium, Antioquia, Mileto e Assos. Antioquia, cidade turca, foi cenário privilegiado para solidificação da doutrina do Cristo, o ungido. São Pedro visitou a cidade. Ali, Inácio, segundo ou terceiro bispo, foi preso e levado a Roma para ser executado, durante o reinado de Trajano; ao longo do caminho, embora conduzido por uma escolta de dez soldados, Inácio encontrou forças para escrever cartas de encorajamento e instrução para seis igrejas e para Policarpo, bispo de Esmirna. Antioquia foi ainda um importante centro de ensinamentos bíblicos. Nela floresceu a chamada " Escola de Antioquia", cuja expressão máxima é João Crisóstomo, com quem se confrontam as interpretações de Orígenes, representante da " Escola de Alexandria". A igreja de São Pedro, situada em Antioquia é uma das quatro primeiras igrejas do mundo. A tradição do Cristianismo primitivo identifica Éfeso com João, " o discípulo amado". Tendo sido designado pelo próprio Jesus para cuidar de sua Mãe, foi em companhia de Maria que João deixou Jerusalém para se fixar em Éfeso. A casa de Maria pode ser visitada na cidade, assim como o túmulo de São Lucas. Vestígios da vida Cristã primitiva, da história da igreja e dos que a fizeram nos primeiros tempos estão em toda a Turquia. A síntese a seguir somente representa o esforço inadiável de levar aos Cristãos o papel relevante desta terra na estruturação do Cristianismo e na sua propagação pelo mundo. São João escreveu o Apocalipse ou Livro da Revelação e o dedicou a sete Igrejas localizadas na Turquia: Éfeso, Pérgamo, Laodicea, Filadélfia, Sardis, Tiatira e Esmirna. São Paulo nasceu na Turquia e evangelizou mais de vinte cidades desse país. Na cidade de Éfeso viveram a Virgem Maria, o apóstolo João, o evangelista Lucas e Madalena. Nesta cidade, existem actualmente a casa da Virgem Maria e os túmulos de Madalena, João e Lucas. 213


Pedro foi o primeiro Bispo de Antioquia, cidade em que, pela primeira vez, seguidores de Jesus foram chamados de Cristãos. Constantinopla, hoje Istambul, foi considerada a segunda Roma. Nessa cidade, existem duas grandes e sagradas curiosidades com relação a Maria, mãe de Jesus. Na Igreja de São Pedro e São Paulo há uma pintura de Maria, feita por Lucas, e na Igreja de Salvador, em Chora, a vida de Jesus é apresentada em belíssimos mosaicos, principal instrumento de expressão da arte bizantina. Na Turquia nasceu Abraão e no Monte Ararat repousa, em gelo eterno, a Arca de Noé. Na Turquia foram realizados os oito primeiros Concílios Ecuménicos do Cristianismo - Nicea (2); Éfeso (2); Constantinopla (3) e Calcedónia (1). No primeiro concílio, realizado em Nicea, foi criado o Credo e excluída qualquer subordinação do Verbo ao Pai. No segundo Concílio, realizado em Éfeso, foi decidido que há em Cristo uma só pessoa e duas naturezas, e que a Virgem Maria é verdadeiramente a Mãe de Deus. No Concílio da Calcedónia, a condenação do Monofisismo provocou uma cisão na Igreja e o surgimento de cinco igrejas Cristãs: Kopta do Egipto, Síria Ocidental, Malabar, Armênia e Etíope, até hoje existentes. No ano de 381, o primeiro concílio realizado em Constantinopla decidiu que o Espírito Santo é Deus, da mesma substância que o Pai e o Filho, nascendo daí o Dogma da Santíssima Trindade. No ano de 869, em outro concílio ocorrido em Constantinopla, o culto às imagens foi confirmado, isto é, a Deus se adora, aos santos se venera. Em Nicea, em 787, a veneração aos santos, o culto à Cruz, a intercessão de Maria e dos anjos foram confirmados e reconhecidos oficialmente pela Igreja.

ARARAT De acordo com o Livro do Génese, 8:4, no final do dilúvio a Arca de Noé repousou no Monte Ararat, que se situa no leste de Anatólia, próximo às fronteiras russa e iraniana. Trata-se de um vulcão extinto, com dois cumes conhecidos como Buyuk Agri, com 5.165 metros de altitude e Kuçuk Agri, com 3.846 metros. No épico Gilgamesh há uma versão babilônica primitiva deste mito. O herói desta versão é Utnapishtim, favorito de Ea, deusa da sabedoria. A versão babilônica baseia-se numa enchente do Rio Eufrates, quando a arca encalhou do declive do Monte Zarpos. A palavra bíblica para Ararat pode ter sido derivada de Urartu, o reino histórico, mas também significa "terra distante" ou "lugar no norte". ÉFESO (Actos 18:19, 21,24; 19:1, 17, 26, 35; 20:16, 17; 1 Cor 15:32; 16:8; 1 Tim 1:18; 4:12; Apoc 1:11; 2:1; ver também Actos 19:28). Éfeso é hoje um importante centro de turismo da região do Egeu, por ser uma das maiores zonas arqueológicas do mundo. Está entre as cinco maiores cidades do império Romano e ainda hoje é possível ver estradas de mármore, ruínas de terraços e casas romanas. O nome de Éfeso está associado ao de vários personagens do Cristianismo primitivo, entre eles a Virgem Maria, Lucas, Maria Madalena, Apolo, Timóteo, Priscila e Áquila. Na cidade está a Casa da Virgem Maria. São Paulo esteve na cidade na segunda e terceira jornadas missionárias; esforçou-se para derrubar o culto à deusa Artêmis e, em consequência, fundou aí uma das sete igrejas do Apocalipse. Na segunda jornada, sua visita a Éfeso foi breve; Priscila e Áquila, marido e mulher, acompanharam Paulo e, quando este deixou a cidade, o casal ali permaneceu (Actos 18:18-20). Depois que Paulo deixou Éfeso, chegou na cidade Apolo de Alexandria, cuja fé era deficiente em alguns aspectos; devido a isso, Priscila e Áquila o instruíram mais vivamente (Actos 18: 24-28). Paulo também estava em Éfeso quando escreveu a primeira Epístola aos Coríntios e parte da segunda. Nesta cidade, ele encontrou discípulos e os batizou, em nome de Jesus; quando Paulo lhes impôs as mãos, ali em Éfeso, o Espírito Santo desceu sobre eles e "falavam em línguas estrangeiras e profetizavam" , conforme está em Actos, 19. Éfeso é ainda

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o local da famosa Caverna dos Sete Dorminhocos, ponto importante de peregrinação dos Cristãos. NICEIA-IZNIK No tempo das viagens de Paulo, Niceia dividia com Nicomédia (Izmit) a rivalidade de ser a mais importante cidade da Bitínia. A cidade sediou os 1º e 7º concílios ecuménicos, ocorridos respectivamente em 325 e 787. O primeiro concílio, presidido por Constantino, reuniu-se para combater o Arianismo, doutrina dos seguidores do Bispo Ário. Foi também a primeira tentativa de estabelecer os critérios da ortodoxia Cristã e as relações da comunidade Cristã por meio da instituição de um "Credo" cuja síntese é a conhecida oração católica. Nela se afirma a total igualdade das Três Pessoas da Santíssima Trindade. Ainda, no primeiro concílio de Niceia, foi admitido o princípio de cooperação Igreja/Estado e Antioquia ficou reconhecida oficialmente como sede episcopal, com autoridade especial, depois de Roma e Alexandria. O sétimo concílio foi provocado pela controvérsia iconoclasta. Foi realizado na Igreja de Santa Sofia, cujas ruínas podem ser vistas no centro da cidade. Entre outras coisas, o concílio definiu a veneração das imagens e a adoração exclusivamente a Deus, entendimento que foi confirmado pelo Papa Adriano I. Por um erro de tradução, as palavras gregas veneração e adoração foram igualadas em seu sentido e consolidou-se o cisma entre Católicos e Ortodoxos. Esta divisão já vinha sendo estimulada desde o 4º Concílio Ecuménico, realizado na Calcedónia, em 451. TARSO ( 2 Mac 3:5; 4:30; Actos 9:11, 30; 11:25; 21:39; 22:3). A cidade foi, provavelmente, fundada por Set, filho de Adão e Eva. É o local de nascimento de São Paulo, um dos grandes missionários, místicos e teólogos da História da Igreja. Em Tarso está a tumba de Set, localizada no edifício Eski Camii, que tem as fundações de uma igreja Cristã e pode ter sido um santuário Cristão. No distrito de Camii Cedid, encontra-se o Poço de São Paulo, construído no local em que fora a casa do missionário; acredita-se que o poço existente no jardim da casa, abriga, em suas águas, propriedades milagrosas. Em Tarso também se encontra o local em que foi sepultado o Profeta Daniel. Submetida sucessivamente ao domínio dos hititas, assírios, persas, macedônios e romanos, Tarso, depois da morte de Julio César, foi governada por Marco Antonio. É nesta cidade que ele sucumbe aos encantos de Cleópatra, a rainha egípcia, ao vê-la chegar em Tarso para ir ao seu encontro, vestida de Afrodite e acompanhada de sua frota magnífica. São João e a Virgem Maria Não há evidências históricas escritas que testemunhem a presença de Maria na Anatólia. Nos relatos bíblicos ela é mencionada quando é narrado o nascimento e a vida de Jesus e, somente uma vez, num episódio de Sua vida pública. No Evangelho, João fala dela duas vezes: nas Bodas de Caná e durante a Paixão, quando Cristo mostra o discípulo amado a sua mãe e recomenda esta aos cuidados do discípulo. Entretanto, de acordo com uma antiga tradição local, durante a primeira perseguição aos Cristãos de Jerusalém, no ano 49 DC, os discípulos decidiram colocar a Mãe de Deus em segurança e João, a quem Jesus havia confiado a Sua Mãe, acompanhou Maria a Éfeso, onde ela morou, se não até a sua morte, pelo menos por alguns anos até que a situação em Jerusalém se normalizasse. Leal a Jesus, João levou ainda para Éfeso Maria Madalena e vários outros Cristãos fiéis a sua fé. Meryem Ana Evi, ou a Casa da Virgem Maria, é a relíquia, parcialmente reconstruída, da pequena casa onde a Virgem Abençoada viveu, durante a sua permanência em Éfeso. O homem que fez o primeiro esforço para localizá-la foi o padre francês Abbé Julien Gouyet. Ele chegou a ir a Éfeso e encontrou-a, mas ao contar a sua descoberta aos seus superiores de Roma e Paris, um véu de silêncio pairou sobre a descoberta. Várias outras expedições posteriores coletaram evidências sobre a casa até que fosse finalmente reconhecida pelo Vaticano. No final do século XVIII, quando a Europa estava convulsionada pela eclosão da Revolução Francesa, um movimento contra a Igreja foi desencadeado, por considerá-la supostamente ligada ao Ancién Regime. Na ocasião, imagens da Virgem Maria foram destruídas, quebradas 215


e queimadas, e removidas das igrejas. Em 29 de dezembro de 1812, quando os remanescentes da Grande Armada de Napoleão estavam retornando a França, deixando as neves da Rússia, a Irmã Anne Catherine Emmerich, uma freira alemã, nascida em Flamske, perto de Koesfeld, Westfalia, Alemanha Ocidental, no dia oito de setembro de 1874, filha de trabalhadores pobres, começou subitamente a sangrar nos pés e nas mãos e a ter visões do que, oitenta anos mais tarde, conduziria para a Casa de Maria em Éfeso. Conhecida como a primeira Igreja dedicada a Nossa Senhora, a edificação abrigou os Concílios de 431 e 449, facto confirmado por uma inscrição de sexto século, encontrada no local. Em visita a Éfeso, João Paulo II celebrou missa no local.

História final de Éfeso Termino dizendo-lhes o que aconteceu com Éfeso; lá pelos anos 256, de qualquer jeito no terceiro século, foi destruído totalmente o templo de Alvo em Éfeso. Aí começou a destruição de Éfeso; depois, pelos anos seiscentos, no século VII, já quando Maomé tinha tomado o poder, então chegaram os muçulmanos e destruíram aos Cristãos, destruíram as coisas Cristãs, algumas não. O imperador Justiniano tinha construído à santa sabedoria, Santa Sofía, um grande templo que se chama o templo de Santa Sofía; esse não o destruíram, senão que puseram na cúpula, a meia lua dos muçulmanos, tiraram tudo o que era cruz, e agora é uma mesquita de Santa Sofía que foi construída por Justiniano, algo Cristão. Aí nessa mesquita, o que antes era um templo Cristão, celebraram-se em Éfeso quatro concílios: um primeiro para tratar de disciplina dos clérigos, o primeiro concílio no ano 200 quando Polícrates, de quem lhes falei da vez passada, que foi um líder em Éfeso, e que junto com outros irmãos dirigentes dessa região, chegaram a um concílio para tratar o assunto do movimento crerical. Isso se tratou no primeiro concílio de Éfeso, não o Ecuménico. Depois, pelo ano 431 se celebrou o primeiro concílio Ecuménico de Éfeso, que foi um concílio cristológico onde Cirilo de Alexandria presidiu, e se opôs ao nestorianismo que apresentava a duas pessoas em Cristo: uma pessoa humana e uma divina, e não duas naturezas numa pessoa; e aí foi quando a Maria foi chamada pela primeira vez Teotocos (do grego - significa mãe de Deus); não querendo dizer que Deus tenha tido uma mãe, senão que Deus se submeteu a nascer como um homem, como o Verbo encarnado através de Maria; nesse sentido era que eles diziam Teotocos; mas vejam em que um espírito que já operava em Éfeso com Diana fez que essa palavra que num princípio queria dizer que o que nasceu de Maria era o Verbo de Deus feito carne, foi sendo levando em outro sentido e foi levando à mariolatría; e a mariolatría se desenvolveu com um exagero de certas verdades que foram faladas no primeiro concílio Ecuménico de Éfeso, mas depois se desviou. Depois, no ano 449, teve outro segundo concílio de Éfeso, que foi chamado o Concílio dos Ladrões, porque tomaram a linha de Cirilo de Alexandria, que era correcta no sentido de que na pessoa de Cristo tinha somente uma pessoa ainda que com natureza divina e humana; eles se foram ao outro extremo no sentido de dizer que Cristo tinha só uma natureza; isso foi Eutiques; então nesse concílio, o segundo de Éfeso, eles estabeleceram em concílio que Cristo só tinha uma natureza; os demais não o reconheceram; então se chamou a esse concílio, o concílio dos ladrões. Depois foi que veio o Concílio de Calcedónia onde se refutou esse concílio de Éfeso, e começaram a suceder problemas em Éfeso. Depois, no ano 470 e pouco, teve outro concílio em Éfeso onde se trataram de outros assuntos diferentes. Depois vieram os mulçumanos no século VII e destruíram a cidade, mataram os Cristãos, porque eles a conquistaram à força; e por último, quando já os mulçumanos tinham feito esse trabalho, vieram os mongois sob o comando de Tamerlão; o famoso Tamerlão dos mongois no século XI, ano 1050 por aí, e arrasaram completamente a cidade de Éfeso. Hoje em dia Éfeso não existe; a cidade de Éfeso foi varrida, por problemas, problemas, problemas. Ao não ser fiel ao Senhor, irmãos, se abre uma porta a uma coisa, depois a outra, 216


depois a outra, até que veio o castigo do Senhor; e ela foi totalmente removida. Antes a cidade de Éfeso era um porto que ficava onde desembocava o rio Coisto, ali em Anatólia, ou seja na Turquía; ficava para o Mar Mediterrâneo, precisamente no mar Egeu; então aí era onde estava; mas depois, o rio Coisto foi sendo assoreado e foi afastando cada vez mais da cidade. Hoje em dia onde, a velha Éfeso dista onze quilômetros do antigo lugar; onde antes era um porto, agora é onze quilômetros só de detrito, ou seja, toda a sujeira que trouxe o rio, foi-o afastando até que ficou totalmente destruído. Hoje em dia, no lugar que ocupava a antiga cidade de Éfeso, é uma pequena cidade turca mulçumana; ou seja, Éfeso hoje não existe.

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17 - A Inquisição

Inquisição Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Galileu sendo confrontado, oficialmente, pelos representantes da Santa Igreja

Inquisição (do latim Inquisitio Haereticæ Pravitatis Sanctum Officium) ou Tribunal da Inquisição, Santa Inquisição ou Tribunal do Santo Ofício (dentre outros nomes) é um termo que deriva do acto judicial de inquirir, o que se traduz e significa perguntar, averiguar, pesquisar, interrogar etc. A Inquisição foi um tribunal Cristão utilizado para averiguar heresia, feitiçaria, bigamia, sodomia e apostasia, o culpado era muitas vezes acusado por causar uma "crise da fé", pestes, terramotos, doenças e miséria social, o acusado era entregue às autoridades do Estado, que o puniriam; as penas variam desde confisco de bens, perda de liberdade, até a pena de morte (muitas vezes na fogueira, método que se tornou famoso, embora existissem outras formas de aplicar a pena de morte). A Inquisição foi criada e utilizada inicialmente pela Igreja Católica, devido à pluralidade de crenças populares entre os Católicos, tal como a adoração de plantas e animais e utilização de mancias, que eram consideradas "heresias”. Os tribunais da inquisição não eram permanentes, sendo instalados quando surgia alguma heresia e eram depois desfeitos. A Inquisição posteriormente seria utilizada por Estados e pelas igrejas Protestantes. O delator que apontava o "herege" para a comunidade, muitas vezes garantia sua fé e status perante a sociedade. A caça às bruxas não foi perpetrada pela inquisição, mas sim por Estados e tribunais civis independentes sem reais ligações com a inquisição. Diz Oliveira Marques em «História de Portugal», tomo I, página 393: «(...) A inquisição surge como uma instituição muito complexa, com objectivos ideológicos, económicos e sociais, consciente e inconscientemente expressos. “A sua actividade, rigor e coerência variavam consoante a época.»

Origem e histórico

Cena da Inquisição

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A ideia da criação da inquisição surgiu em 1183, quando delegados enviados pelo Papa averiguaram a crença dos cátaros de Albi, no sul de França, cujos praticantes ficaram conhecidos como albigenses, que acreditavam na existência de um deus do Bem e outro do Mal. Cristo seria o deus do bem enviado para salvar as almas humanas. Após a morte as almas boas iriam para o céu, enquanto as más iriam praticar metempsicose. Isto foi considerada uma heresia e no ano seguinte no Concílio de Verona, foi criado o Tribunal da Inquisição. O Papa Gregório IX, em 20 de Abril de 1233, editou duas bulas que marcam o reinício da Inquisição. Nos séculos seguintes, ela julgou, absolveu ou condenou e entregou ao Estado vários de seus inimigos propagadores de heresias. A bula Licet ad capiendos (1233), a qual verdadeiramente marca o início da Inquisição, era dirigida aos dominicanos inquisidores: Onde quer que os ocorra pregar estais facultados, se os pecadores persistem em defender a heresia apesar das advertências, a privá-los para sempre de seus benefícios espirituais e proceder contra eles e todos os outros, sem apelação, solicitando em caso necessário a ajuda das autoridades seculares (poder secular ou "poder temporal", com a ideia de duração finita, limitada, usada para diferenciar o poder "eterno" ou "infinito" da Igreja. Nesta altura, os bispos detinham poder religioso e também secular, enquanto reis, príncipes e nobres detinham apenas o poder secular) e vencendo sua oposição, se isto for necessário, por meio de censuras eclesiásticas inapeláveis. A privação de benefícios espirituais era a não administração de sacramentes aos heréticos, que caso houvesse ripostação deveria ser chamada a intervir a autoridade não religiosa (casos de agressão verbal ou física. Se nem assim a pessoa queria arrepender-se era dada, conscientemente, como anátema (reconhecimento oficial da excomunhão): "censuras eclesiásticas inapeláveis". O uso da tortura era, de facto, bastante restrito e, aos poucos, foi sendo extinto dos processos inquisitoriais. Esta era apenas autorizada quando já houvesse meia-prova, ou quando houvesse testemunhas fidedignas do crime, ou então, quando o sujeito já apresentasse antecedentes como má fama, maus costumes ou tentativas de fuga. E ainda assim, conforme o Concílio de Viena, de 1311, obrigava-se os inquisidores a recorrerem à tortura apenas quando o bispo diocesano, junto de uma comissão julgadora, houvesse aprovado a mesma em cada caso em particular. Também é sabido que a tortura aplicada pela inquisição era, por demais, mais branda que a aplicada pelo poder civil, não permitindo, de forma alguma, amputação de membros (como era comum na época), e não permitindo perigo de morte. Convém explicar que a tortura era um meio incluído no "inquiridio". São mais comuns os casos de endemoninhados ou réus em suspeita mentira. No entanto, e bem mais tarde, já em pleno século XV, os reis de Castela e Aragão, Isabel e Fernando, solicitam, e obtêm do Papa a autorização para a introdução de um Tribunal do Santo Ofício: a Inquisição. Tal instituição afigurava-se-lhes necessária para garantir a coesão num país em unificação (foi do casamento destes dois monarcas que resultou a Espanha) e que recentemente conquistara terras aos mouros muçulmanos na Península Ibérica e expulsara alguns dos judeus, por forma a obter «unidade» nacional que até ali nunca existira. A acção do Tribunal do Santo Ofício tratou de mais casos depois da conversão de alguns judeus e mouros que integravam o novo reino. Alguns judeus e mouros preferiram renegar as suas religiões, e abraçar o Cristianismo, a abandonar a nova terra conquistada. A estes é dado o nome de "Cristãos-novos": alguns esqueciam de facto a religião dos seus antepassados, outros continuavam a praticar secretamente a antiga religião. Eram frequentes os levantamentos populares e muitas denúncias por parte dos "Cristãos velhos". Sendo essencialmente um tribunal eclesiástico, desde cedo o reino, o poder régio se apossou do mesmo, por forma a prosseguir os seus particulares fins económicos, esquecendo o fundamental "inquirido" aos réus por motivos religiosos. Tomado pelo poder régio, o Tribunal da Santa Inquisição, em Espanha, deu azo a uma persistente propaganda por parte dos inimigos da Espanha católica: ao sujeitar o poder da fé ao poder da lei, da coacção, e da violência, a 219


Inquisição espanhola tornou-se, no imaginário colectivo, uma das mais tenebrosas realizações da Humanidade. Mais tarde, em certas regiões da Itália, e em Portugal, o Papa autorizou a introdução de instituições similares, em condições diferentes. No caso de Portugal, a recusa do Papa ao pedido, tendo visto os abusos da Espanha, mereceu que o rei tivesse como alternativa ameaçar com a criação de uma "inquisição" régia, que segundo ele era coisa urgente para o reino. De facto, a introdução da Inquisição em Portugal resultou das pressões espanholas que, para além de uma sinceridade zelota, não queriam ver o reino rival beneficiar com os judeus e mouriscos expulsos de Espanha.

Fogo O fogo era elemento imprescindível. De fenómeno natural, o fogo transformava-se em elemento símbolo da purificação, configurando à ideia de desobediência a Deus (pecado) e ilustrando a imagem do Inferno. Esta necessidade constante que a Inquisição tinha de destruir publicamente o herege fazendo-o "por fogo em pó", expressa ao mesmo tempo a sua insegurança. O herege, elemento crítico e contestador da "verdade" imposta, deveria ser eliminado. Mas, se o fogo destruía seu corpo nem sempre conseguia destruir suas ideias. Queimava-se os livros em praça pública e seu autor que eram avaliados pelos inquisidores como símbolos do pecado: " No fim do auto leu-se a sentença dos livros proibidos e se mandaram queimar três canastras delles. Maio de 1624". Foi por causa da sua obra: Discours pathetéque ou suget des calamités..., publicado em Londres (1756) que Cavalhero de Oliveira foi relaxado à justiça secular que o fez queimar em estátua com o livro suspenso ao pescoço - como herege convicto - durante o auto-de-fé realizado em Lisboa no ano de 1761. Neste momento, estamos diante da "apropriação penal" dos discursos, acto que justificou por muito tempo a destruição de livros e a condenação dos seus autores, editores ou leitores. Como muito bem lembrou Chartier: " A cultura escrita é inseparável dos gestos violentos que a reprimem". Ao enfatizar o conceito de perseguição enquanto o reverso das protecções, privilégios, recompensas e pensões concedidas pelos poderes eclesiásticos e pelos príncipes, este autor retoma os cenários da queima dos livros que, enquanto espectáculo público do castigo, inverte a cena da dedicatória.

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A inquisição espanhola

Pintura representando um "Auto de fé" da Inquisição Espanhola. Visões artísticas sobre o tema geralmente apresentam cenas de tortura e de pessoas queimando na fogueira durante os rituais.

A Inquisição espanhola é, entre as demais inquisições, a mais famosa porque mais marcante na lembrança. David Lances, por exemplo, relata-nos: "A perseguição levou a uma interminável caça à bruxa, completa com denunciantes pagos, vizinhos bisbilhoteiros e uma racista "limpieza de sangre". Judeus convertidos eram apanhados por intrigas e vestígios de prática mosaica: recusa de porco, toalhas lavadas à sexta-feira, uma prece escutada à soslaia, frequência irregular à igreja, uma palavra mal ponderada. A higiene em si era uma causa de suspeita e tomar banho era visto como uma prova de apostasia para marranos e muçulmanos. A frase "o acusado era conhecido por tomar banho" é uma frase comum nos registos da Inquisição. Sujidade herdada: as pessoas limpas não têm de se lavar. Em tudo isto, os espanhóis e portugueses rebaixaram-se. A intolerância pode prejudicar o perseguidor (ainda) mais do que a vítima. Deste modo, a Ibéria e na verdade a Europa Mediterrânica como um todo, perdeu o comboio da chamada revolução científica". Segundo Michael Baigent e Richard Leigh, a 1 de Novembro de 1478, uma Bula do Papa Sixto IV autorizava a criação de uma Inquisição Espanhola. Confiou-se então o direito de nomear e demitir aos monarcas espanhóis. O primeiro Auto da Fé foi realizado a 6 de Fevereiro de 1481, e seis indivíduos foram queimados vivos na estaca. Em Sevilha, só em Novembro, 288 pessoas foram queimadas, enquanto setenta e nove foram condenadas à prisão perpétua. Em Fevereiro de 1482 o Papa autorizou a nomeação de mais sete dominicanos como Inquisidores, entre eles, Tomás de Torquemada. Este viria a passar à história como a face mais aterrorizante da Inquisição. Em Abril de 1482, o próprio Papa emitiu uma bula, na qual concluía: ¨A Inquisição há algum tempo é movida não por zelo pela fé e a salvação das almas, mas pelo desejo de riqueza¨. Após essa conclusão, revogaram-se todos os poderes confiados à Inquisição e o Papa exigiu que os Inquisidores ficassem sobre o controle dos bispos locais. O Rei Fernando ficou indignado e ameaçou o Papa. A 17 de Outubro de 1483, uma nova bula estabelecia o Consejo de La Suprema y General Inquisición para funcionar como a autoridade última da Inquisição, sendo criado o cargo de Inquisidor Geral. Seu primeiro ocupante foi Tomás de Torquemada. Até à sua morte em 1498, Torquemada teve poder e influência que rivalizavam com os próprios 221


monarcas Fernando e Isabel. Sob os inflexíveis auspícios de Torquemada, o trabalho da Inquisição espanhola prosseguiu com renovada energia. A 25 de Fevereiro de 1484, 30 vítimas foram queimadas vivas em Ciudad Réal. Entre 1485 e 1501 foram queimadas 250 pessoas em Toledo. Em Barcelona, em 1491 três foram executadas e 220 condenadas à morte.

Procedimentos Segundo Michael Baigent e Richard Leigh ao chegar a uma localidade, os Inquisidores proclamavam que todos seriam obrigados a assistir a uma missa especial, e ali ouvir o "édito" da Inquisição lido em público. No fim do sermão, o Inquisidor erguia um crucifixo e exigia-se que os presentes erguessem a mão direita e repetissem um juramento de apoio à Inquisição e seus servos. Após este procedimento lia-se o "édito", que condenava várias heresias, além do Islão e o judaísmo, e mandavam que se apresentassem os culpados de "contaminação". Se confessassem dentro de um "período de graça" poderiam ser aceites de volta à igreja sem penitência, porém teriam que denunciar outras pessoas culpadas que não tivessem se apresentado. Não bastava denunciar-se como herege para alcançar os benefícios do "édito", deveria denunciar os cúmplices. O ónus da justificação ficava com o acusado. Essa denúncia foi usada por muitos como vingança pessoal contra vizinhos e parentes, para eliminar rivais nos negócios ou no comércio. A fim de se adiantarem a uma denúncia de outros, muitas pessoas prestavam falso testemunho contra si mesmas e denunciavam outras. Em Castela, na década de 1480, diz-se que mais 1500 vítimas foram queimadas na estaca em consequência de falso testemunho, muitas delas sem identificar a origem da acusação contra elas. Reservava-se a pena de morte, aplicada pelo braço secular (o Estado) basicamente para os hereges não arrependidos, e para os que haviam recaído após conversão nominal ao catolicismo.

A inquisição em Portugal e no Brasil

Gravura a cobre intitulada "Die Inquisition in Portugall" por Jean Davidd Zunner retirada da obra "Description de L'Univers, Contenant les Differents Systemes de Monde, Les Cartes Generales & Particulieres de la Geographie Ancienne & Moderne" por Alain Manesson Mallet, Frankfurt, 1685

Na História da cultura universal - e, mais especificamente, da cultura portuguesa e brasileira que se viram amordaçadas durante séculos pela actuação da Santa Inquisição -, são múltiplos os exemplos de "caça à literatura sediciosa". Podemos considerar Portugal pioneiro na censura literária e defesa da fé e dos bons costumes. Antes mesmo da instituição da Inquisição em Portugal (1536), observamos por parte do Estado a preocupação em cercear ideias consideras como perigosas ao regime. Em meados do século XV foi instituída a censura real através de um alvará de Afonso V, de 18 de Agosto de 1451, que manda "queimar livros falsos e heréticos". Orientado pelo Conselho, ordenava que os livros de Johannes Wickef, Johannes Hus, Frei Gaudio e de outros fossem queimados e "non fossem mais achados em os nossos reinos" . 222


A Inquisição foi pedida inicialmente por D. Manuel I, para cumprir o acordo de casamento com Maria de Aragão. A 17 de Dezembro de 1531, o Papa Clemente VII, pela bula Cum ad nihil magis a instituiu em Portugal, mas um ano depois anulou a decisão. Em 1533 concedeu a primeira bula de perdão aos Cristãos-novos portugueses. D. João III, filho da mesma D. Maria, renovou o pedido e encontrou ouvidos favoráveis no novo Papa Paulo III que cedeu, em parte por pressão de Carlos V de Habsburgo (Habsburgo, também chamada a Casa da Áustria, foi uma das famílias mais importantes da História da Europa). Em 23 de Maio de 1536, por outra bula em tudo semelhante à primeira, foi instituída a Inquisição em Portugal. Sua primeira sede foi Évora, onde se achava a corte. Tal como nos demais reinos ibéricos, tornou-se um tribunal ao serviço da Coroa. A bula Cum ad nihil magis foi publicada em Évora, onde então residia a Corte, em 22 de Outubro de 1536. Toda a população foi convidada a denunciar os casos de heresia de que tivesse conhecimento. No ano seguinte, o monarca voltou para Lisboa e com ele o novo Tribunal. O primeiro livro de denúncias tomadas na Inquisição, iniciado em Évora, foi continuado em Lisboa, a partir de Janeiro de 1537. Em 1539 o cardeal D. Henrique, irmão de D. João III e depois ele próprio rei, tornou-se inquisidor geral do reino. Até 1541, data em que foram criados os tribunais de Coimbra, Porto, Lamego e Évora, existia apenas a Inquisição portuguesa que funcionava junto à Corte. Em 1541 foram criados os Tribunais de Coimbra, Porto, Lamego e Tomar. Em 1543-1545 a Inquisição de Évora efectuou diversas visitações à sua área jurisdicional. Mas em 1544 o Papa mandou suspender a execução de sentenças da Inquisição portuguesa e o autos-de-fé sofreram uma interrupção. Foram, então, redigidas as primeiras instruções para o seu funcionamento, assinadas pelo cardeal D. Henrique, e datadas de Évora, a 5 de Setembro. O primeiro regimento só seria dado em 1552. Em 1613, 1640 e 1774, seriam ordenados novos regimentos por D. Pedro de Castilho, D. Francisco de Castro e pelo Cardeal da Cunha, respectivamente. De acordo com Henry Charles Lea no período entre 1540 e 1794, os tribunais de Lisboa, Porto, Coimbra e Évora resultaram na morte por fogueira de 1175 pessoas, e na queima de 633 efígies, e em 29590 outras penas. No entanto a documentação de alguns autos de fé desapareceu podendo estes números estar ligeiramente abaixo da realidade. Segundo o regimento de 1552 deviam ser logo registadas em livro as nomeações, as denúncias, as confissões, as reconciliações, a receita e despesa, as visitas e as provisões enviadas "para fora". A natureza dos documentos dos tribunais de distrito é idêntica, visto que a sua produção era determinada pelos regimentos e pelas ordens recebidas do inquisidor-geral ou do Conselho e obedecia a formulários. Ao mesmo tempo, diz o livro «D. João III» de Paulo Drumond Braga, página 136, o pontífice emanou sucessivos perdões gerais aos Cristãos novos em 1546 e 1547. Em 1547 Paulo III autorizou que o Tribunal português passasse a ter características idênticas aos tribunais de Castela: sigilo no processo e inquisidores gerais designados pelo Rei. No mesmo ano saiu o primeiro rol de livros proibidos e deixaram de funcionar os Tribunais de Coimbra (restaurado em 1565), Porto, Lamego e Tomar. Em 1552 o Santo Ofício recebeu seu primeiro Regimento, que só seria substituído em 1613. Em 1545 Damião de Góis tinha sido denunciado como luterano. Em 1548 Fernão de Pina, guarda-mor da Torre do Tombo e cronista geral do reino, sofreu idêntica acusação. No Arquivo da Torre do Tombo encontra-se abundante documentação. D. Diogo da Silva, primeiro inquisidor-mor, nomeou um conselho para o coadjuvar, composto por quatro membros. Este Conselho, do Santo Ofício de 1536 foi a pré-figuração do Conselho Geral do Santo Ofício criado pelo cardeal D. Henrique em 1569 e que teve regimento em 1570. Entre 223


suas competências, saliente-se: a visita aos tribunais dos distritos inquisitoriais para verificar a actuação dos inquisidores, promotores e funcionários subalternos, o cumprimento das ordens, a situação dos cárceres. Competia-lhe a apreciação e despacho às diligências dos habilitandos a ministros e familiares do Santo Ofício, julgar a apelação das sentenças proferidas pelos tribunais de distrito, a concessão de perdão e a comutação de penas, a censura literária para impedir que entrassem no país livros heréticos; a publicação de índices expurgatórios; as licenças para impressão. Apesar de não estar instituído no Brasil, esta colónia estava subordinada ao Tribunal de Lisboa, que enviava um visitador para investigar presencialmente como se encontravam a fé e o cumprimento dos dogmas Católicos pela população. Desse modo, registaram-se três visitas à colónia brasileira, nomeadamente na Capitania da Bahia, na Capitania de Pernambuco e no Estado do Maranhão e Grão-Pará. Esta última, classificada como extemporânea pelos historiadores, ocorreu já ao final do século XVIII, momento em que a instituição já se encontrava enfraquecida.

Censura literária O Index ou Index Librorum Prohibitorum era a lista de livros proibidos cuja circulação tinha de ser controlada pela Inquisição. Os livros autorizados eram impressos com um "imprimatur" ("que seja publicado") oficial. Assim era evitada a introdução de conteúdo considerado herege pela Igreja. Em 1558 foi introduzida na Espanha (pela própria Coroa Espanhola, à revelia da Igreja) a pena de morte para quem importasse livros estrangeiros sem permissão ou para quem imprimisse sem a autorização oficial. Um exemplo desta desconfiança dos espanhóis perante as ideias que lhes chegavam da Europa é-nos dado pela estatística dos alunos espanhóis da Universidade de Montpellier (cidade francesa). Esta universidade costumava receber estudantes de medicina espanhóis. Eles deixaram de ir. Entre 1510 e 1559 foram 248. Já entre 1560 e 1599 foram apenas 12 (Goodman).

Extinção da Inquisição A Inquisição foi extinta gradualmente ao longo do século XVIII, embora só em 1821 se dê a extinção formal em Portugal numa sessão das Cortes Gerais. Porém, para alguns estudiosos, a essência da Inquisição original - entendida como a guarda da pureza da Fé -, permaneceu na Igreja Católica através de uma nova congregação: a Congregação para a Doutrina da Fé.

Catarismo Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Expulsão dos Cátaros de Carcassonne, em 1209.

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O catarismo (do grego καϑαρός [katharós], "puro") foi uma seita Cristã, considerada como heresia, surgida no Languedoc (região do sul da França) e no norte da península Itálica ao final do século XI. As suas ideias constituíam-se numa amálgama de conceitos Cristãos, gnósticos e maniqueístas (Maniqueísmo - filosofia dualística que divide o mundo entre Bem ou Deus, e Mal ou o Diabo. A matéria é intrinsecamente má, e o espírito, intrinsecamente bom. Com a popularização do termo, maniqueísta passou a ser um adjectivo para toda doutrina fundada nos dois princípios opostos do Bem e do Mal) . Alguns historiadores (carece de fonte?) indicam a sua formação a partir do século VII quando heréticos

daquelas correntes, oriundos do Oriente Médio e do Norte da África, migraram para aquelas regiões da Europa diante da expansão muçulmana; outros, entretanto, afirmam que seriam fruto da expansão das heresias dos bogomilos (Reino dos Búlgaros) e dos paulicianos (Oriente Médio)[carece de fontes?]. (Ver também em baixo Valdenses).

As ideias do Catarismo A doutrina cátara diferenciava-se da doutrina católica em alguns dos principais "pilares" da doutrina católica. Para eles, o livro sagrado era a Bíblia, em particular o Novo Testamento, mas segundo a sua crença, Jesus não era filho de Deus, mas apenas um profeta importante. Eles também recusavam a hóstia sagrada (apenas repartiam o pão em suas cerimónias) e não admitiam distinção entre sexos, permitindo inclusive que mulheres celebrassem ritos religiosos. Muito menos reconheciam a autoridade Papal ou dos bispos, dividindo os seguidores da religião em três níveis: Perfeitos, Crentes e Ouvintes. Os Perfeitos ou "bons homens" praticavam o celibato e passavam os dias em oração e em jejuns. Eram excelentes oradores. Os Crentes praticavam a virtude e a humildade, mas não eram obrigados a abstinências. Os Ouvintes eram simpatizantes da religião, acompanhando as palestras dos Perfeitos.

A criação do mundo Os cátaros não acreditavam que o mundo tivesse sido criado directamente por Deus, mas que era uma materialização do Mal e que, portanto, os que aqui viviam estavam destinados à expiação até que, após uma vida destinada ao bem, voltassem ao Paraíso perdido. Enquanto não conseguissem isso teriam que reencarnar em sucessivas vidas na Terra.

A salvação é uma responsabilidade individual Outra diferença fundamental da então doutrina Ortodoxa era que os cátaros acreditavam na salvação pela acção pessoal, e que cada indivíduo era responsável por sua própria salvação através de seus actos. Isso implicava a salvação sem restrições (todos teriam direito à salvação, tudo dependia de suas acções), e na crença de que a relação Deus-homem não necessitava de intermediários; todos os homens teriam o direito e a capacidade de vivência com a experiência do êxtase espiritual, o que, na doutrina Ortodoxa era intermediado pelos ritos e sacerdotes da Igreja. Algumas ideias do catarismo reapareceriam mais tarde em diversos momentos, como no Movimento da Reforma Protestante e naquelas doutrinas que visam resgatar o Cristianismo primitivo, como o Gnosticismo e a Doutrina Espírita.

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Os Cátaros e o Santo Graal Rezam as lendas que o Santo Graal (supostamente, o cálice onde Jesus teria bebido vinho na Santa ceia) teria sido possuído pelos cátaros. Porém, os templários, cavaleiros cruzados encarregados pela Igreja Medieval de resgatar o Santo Graal teriam capturado os cátaros. Mesmo sendo o objectivo central dos cruzados resgatar o cálice de Jesus, o maior objectivo de todos os cruzados era impor o Catolicismo aos outros povos. Então, os cruzados tentaram impor o Cristianismo Católico aos cátaros, que se recusaram a abandonar sua fé. Quase todos foram queimados vivos, mas os poucos que sobreviveram levaram o Santo Graal consigo na sua fuga. Confunde-se muito Templários com cruzados em geral. Os Templários eram cruzados, em sua origem, mas poucos cruzados eram Templários. Na verdade, os Templários - originários da região de Languedoc - desobedeceram uma ordem directa do Papa e não participaram da Cruzada Albigense.

A heresia cátara A heresia cátara ou Albigense, da localidade de Albi - provocou a Cruzada albigense, onde vários que eram considerados "Hereges Medievais", e habitavam as cidades e seus arredores, sofreram agressões e mortes violentas no século XIII. Toda a região de Rennes-le-Château carrega o estigma dos resíduos dessa história de amargura e sangue até hoje. Bérenger Saunière, um sacerdote de Rennes-le-Château, se viu envolvido nessa história de sua terra natal, e entrou em contacto com as tradições cátaras, ouviu sobre as lendas do cálice sagrado, e encontrou muitos pergaminhos que remetiam a essa seita, e assim as investigações sobre os mitos e a verdadeira história tiveram início. A Cruzada Albigense, iniciada em 1209 e que durou cerca de 35 anos, foi comandada por Simon de Montfort sob ordem do Papa Inocêncio III e seus enviados estampavam a cruz em suas túnicas e tinham como meta e recompensas a absolvição de todos os pecados, remissão das penas, um lugar à salvo no céu e, como recompensa material, o produto de todos os saques. Na Cruzada participou Luís VIII de França. Ela só teve fim após diversas batalhas (onde se destacam de Muret, em 1213, e de Toulouse, em 1218) e após estabelecido o Tratado de Meaux (1229), já sob o reinado de Branca de Castela. Em efeito, porém, o último braço de resistência, Montségur, permaneceu até 1244. Os cátaros eram dualistas, acreditavam no conflito, portanto, entre o bem e o mal, o espírito e a carne, o superior e o inferior. Para eles, toda a Criação estava imersa em uma guerra eterna entre os dois princípios irreconciliáveis: A luz - ou seja, o espírito - e a escuridão, ou matéria; sendo os primeiros obra e origem Divina do Bem, e o segundo obra e criação do Mal. Dois deuses: um sendo o Princípio, o Puro Espírito, a Energia livre das manchas da matéria. O Deus do Amor, considerado incompatível com o poder. Sendo a carne uma manifestação do poder, toda criação material portanto seria obra do segundo deus, um deus usurpador, mau em seu interior, chamado pelos cátaros de Deus do Mundo.

Cruzada albigense Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Em 1167 realizou-se o Concílio Cátaro de Saint Feliz de Caramon, presidido pelo patriarca cátaro de Constantinopla, Niceia ao que parece houve insucesso da pregação. No Concílio de Lombers (1178) a heresia foi condenada de novo. O III Concílio de Latrão em 1179, os 226


heréticos são entregues ao braço secular. Vejamos o que diz o Canon 27, que se refere parcialmente aos Cátaros: “Embora a Igreja se satisfaça com um julgamento sacerdotal e não realize execuções sangrentas, ela deve recorrer às leis seculares e pedir ajuda aos príncipes para que o temor de um suplício temporal obrigue os homens a utilizar o remédio espiritual”. Deste modo, como os heréticos que alguns denominam Cátaros, outros patarinos e outros publicanos, fizeram grandes progressos na Gasconha, em Albi, em Toulouse e em outras regiões, onde ensinam os seus erros e se esforçam em perverter os simples, nós os anatematizamos, bem como a seus protectores. Nós proibimos a todos de ter qualquer relação com eles. Se persistirem no pecado, não se fará nenhuma acção em seu favor e não se lhes dará sepultura entre os Cristãos.” Apesar das repressões, a heresia cátara continuou se expandindo no Languedoc, até o advento ao trono papal de Inocêncio III em 1198. Este Papa procurou alertar o Rei Felipe Augusto, no sentido de levar em consideração a Bula Ad-Abolenda a qual privava de feudos os vassalos que protecção dessem aos heréticos. Assim Inocêncio III referiu-se: “É preciso que os heréticos sejam esmagados pelo vosso poder e que as misérias de guerra os aproximem da verdade”. Mesmo com toda repressão eclesiástica e civil a heresia cátara continuou se expandindo por vastas regiões do Languedoc. A Cruzada Albigense: Em 1209 uma cruzada anti-albigense é conduzida por barões originários do norte da França, em direcção ao sul, para esmagar a heresia pelo chefe Simon de Montfort. Este conflito interno durou cerca de 10 anos. A Cruzada Albigense é um marco tão importante para a história do medievo, que substimar seus passos é desconhecer a luta ferrenha do poder local e do nacionalismo do midi versus aliança do papado com o poder monárquico. Em primeiro lugar, o caso surgiu por motivos puramente religiosos e morais. Motivou a iniciativa de Inocêncio III, decidido restabelecer a ortodoxia ameaçada por uma heresia, cujas consequências sociais comprometiam a própria moralidade Cristã. Em segundo lugar, este conflito tinha raízes políticas profundas na oposição que existia em França entre o Norte e o Sul: oposição baseada na diversidade dos costumes, das culturas e das próprias línguas. A isto se juntavam as rivalidades e ambições feudais. O pretexto religioso serviu aos senhores do Norte para empreender uma cruzada, em causa própria, com as mesmas vantagens e indulgências das cruzadas longínquas, custosas e aleatórias. As demais causas foram secundárias ou ocasionais, como a intolerância e resistência dos Cátaros, as pretensões de certos feudais sulistas, o assassinato do legado do Papa e tendências guerreiras do mundo feudal daquela época. Formou-se um exército cruzado em Lyon. Formado por senhores eclesiásticos e laicos, vassalos, cavaleiros assalariados e voluntários e aventureiros que ansiavam ganhar indulgências do Papa. Algumas fontes dão conta que aproximadamente vinte mil cavaleiros armados e mais de dois mil vilões e camponeses participaram desta cruzada. Desta feita, verificou-se a destruição de Béziers e Carcassone. Simão de Montfort declarou guerra ao vicecondado de Trencavel em 1211, reduto herético sob protecção de Raimundo e Rogério de Trencavel. A campanha militar estendeu-se depois ao condado de Toulouse em 1212. Simão de Montfort, senhor de Toulouse, promulgou os estatutos de Pamiers, codificando as conquistas dos novos senhores feudais. O próprio Concílio de Latrão de 1215, confirmou as novas possessões de Simão de Montfort e a conciliação dos senhores do Sul com a Igreja, desde que perseguissem a heresia. Inocêncio III tentou convencer o rei da França, Felipe Augusto, da necessidade de sua intervenção na questão albigense, mas não o conseguiu. Depois de ter excomungado Raimundo VI, o Papa enviou o seu legado, Pedro de Casteunau, a converter os hereges, mas este foi assassinado por um escudeiro do conde (1208). Resolveu então organizar uma 227


cruzada, e, os senhores do Norte, não hesitaram em aproveitar a ocasião. Colocou-se à frente da expedição punitiva o conde Simon de Montfort. Os castelos do Languedoc foram tomados um após o outro e quando Pedro, rei de Aragão, interveio em favor de seu cunhado Raimundo VI, deu-se à Batalha de Muret (1213) na qual morreu o aragonês e foi vencedor Simont de Montfort, que acabou ocupando Toulouse. Foi uma guerra civil selvagem em que o fanatismo das massas foi aproveitado pelas ambições dos nobres. Episódios como a tomada de Béziers, o sangue e o massacre das populações se multiplicaram em toda a região. O conflito terminou perdendo seu aspecto religioso e revelava-se quase exclusivamente político. Simont de Montfort morreu no sítio de Toulouse em 1218. Foi então que Filipe Augusto enviou seu filho Luís que, depois de rei sob o nome de Luís VIII, ocupou toda a região, que, o rei da França, aproveita-se do pretexto anti-herético para anexar o Languedoc, à França dos Capetíngios, pelo Tratado de Meaux, em 1229. Apesar dos inquisidores serem repelidos pelo povo e pelas autoridades municipais, durante o reinado de Filipe, o Belo, em 1302, acentuam-se as perseguições aos Cátaros. Mesmo com toda cruel perseguição aos hereges, o catarismo ainda reviveu após 1250, na aldeia de Montaillou, devido entre outras causas, a acção enérgica e militante dos irmãos Authié, de Ariége, que se tornaram missionários albigenses. Não obstante, o inquisidor Fournier e seus assessores, conseguiram desalojar o último ninho de resistência, com condenações à fogueira, prisão, as cruzes amarelas (pregadas nas costas dos vestuários) para distinguir os condenados. Após o golpe de 1320 foi difícil o catarismo se reerguer. A Cruzada contra os albigenses ordenada por Inocêncio III, foi uma grande carnificina. os cruzados reprimiram cruelmente, os cátaros e a população, de cidades inteiras foi aniquilada. O legado papal dizia: “matem a todos, Deus, no outro mundo reconhecerá os seus, isto é, Deus distinguirá entre o Católico e o herege”. Duas consequências principais daí decorreram: Foi consolidada a monarquia francesa com a extinção da heresia e a ocupação de regiões que davam ao domínio real acesso ao Mediterrâneo. De outro lado, tendo o Papa Gregório IX julgado necessário averiguar por meio de inspectores os casos de heresia, instituiu, em 1123, o Tribunal da Inquisição. Esta instituição vinha provar à Santa Sé que a Cruzada contra os Albigenses havia sido desvirtuada e que outro processo devia ser encarado para combater as heresias. A moderação dos primeiros inquéritos foi cedo substituída por processos mais severos e abusos. Os proveitos e confiscos que daí resultaram para o poder civil levaram o braço secular a tomar parte activa na Inquisição e torná-la odiosa. De “eclesiástica” que era no século XIII, tornou-se em alguns países, no século posterior, uma instituição da realeza. Muitos condenados à prisão eram logo queimados, se tinham bens para confiscar.” A Cruzada Albigense abateu-se sobre o sul da França, extirpou-se a heresia cátara, que serviu de pretexto para expandir os limites da França, durante a monarquia dos Capetos. Foi um genocídio. O Midi: religião, literatura, poesia – foi devastado e assolado os habitantes do Languedoc, tornaram-se súbditos do rei da França. Ocupado com a cruzada que redundou em interesses políticos, destruiu o Midi, com toda florescência cultural. A França perdeu a oportunidade de ser a pioneira do Renascimento Cultural, fenómeno que explodiu belamente na Itália. Em 1212, um exército cruzado de aproximadamente 180 mil homens, composto por :   

tropas castelhanas(60 mil homens), tropas navarras e aragonesas (50 mil)e um contingente de cruzados (70 mil)

derrota os almohades(250 mil) nas Navas de Tolosa, impedindo uma nova invasão árabe na Espanha. 228


No Languedoc e na Aquitânia (sudoeste francês) a maior parte da nobreza era favorável; pois ao negar à Igreja o direito a possuir bens terrenos, justificava seu despojo. Razão havia para isso porque a autoridade real era praticamente nula. Os hereges mais fanáticos eram os das comarcas de Albi e Toulouse, que incendiavam igrejas, pisavam hóstias consagradas e cometiam outros atentados contra os Católicos. Calcula-se que havia 14 mil "perfeitos" na Europa, distribuídos principalmente entre o norte da Itália e o sul da França. Todos os "perfeitos" tinham a obrigação de ganhar adeptos e pecava gravemente o "perfeito" que não tratasse de converter um interlocutor, ainda estranho à seita. Calcula Guillermo de Tudela que os soldados contra os cruzados no território de Toulouse eram 200 mil. Mesmo reduzindo o seu número por 4 teríamos na época um grande número. A Igreja, sem prestígio devido a seus costumes mundanos, não oferecia argumentos contrários aos hereges; tudo pelo contrário, favorecia a propagação de suas doutrinas austeras. O cardeal Humberto da Silva defendeu o uso da espada contra os hereges. Em contra, no mesmo tempo, S. Pedro Damião (1007-1072) grande diplomata dos Papas, defensor da aliança entre o Império e o Papado, mantinha ideias contrárias. Em 1119 a pregação em Tolouse, assim como a seguinte excomunhão, teve efeitos nulos. Do fracasso de Bernardo (1145) e dos dominicanos fundados para combater a heresia, chegou-se a conclusão de que a guerra era a única maneira justa de encontrar a paz. A primeira cruzada tinha já conquistado Jerusalém (1099) e em 1118 foi fundada a primeira ordem militar da Igreja, os Templários. Ela foi reconhecida em 1128 pelo Papa como "sua milícia", pois só a ele estavam submetidos. Finalmente o Decreto de Graciano justifica as guerras contra hereges, cismáticos e pagãos(1140) João Graciano era um monge de um mosteiro camaldulense de Bolónia (Itália nordeste). Escreveu o Concordis Discordantium Canonum, conhecido como Decreto de Graciano. Era uma recompilação de cânones e decretos do direito romano civil e eclesiástico. No Concílio de Tours (1163) a heresia é condenada. Em 1165 houve um encontro, promovido pelo bispo de Albi, entre "bons hommes" e Católicos que foi um fracasso, terminando em gritos e insultos. Em 1167 convoca-se o concílio cátaro de Saint-Félix-de-Caraman perto de Toulouse, em que as diversas igrejas cátaras se organizaram, definindo seus limites e nomearam bispos titulares como chefes das mesmas. Em 1176 teve lugar o Concílio de Lombers perto de Albi: o arcebispo de Narbona em pessoa, com outros bispos teve um colóquio com os cátaros sem resultado. O Papa Alexandre III no último capítulo do concílio Lateranense III(1179) anatematizou - isto é, lançou a excomunhão, declarando estar fora da Igreja - os que publicamente ensinavam o catarismo nas regiões de Gasconia (Vascunha francesa), Albegesia et partibus Tolosanis, exortando os nobres a tomar as armas contra os hereges em defesa do povo fiel. No ano seguinte o Cardeal legado, Henrique de Albano, foi enviado à frente de uma cruzada contra Roger II, conde de Beziers, e Carcasona. Em 1184 o Papa Lucio II e o imperador Federico Barbarossa se concertaram para o combate contra a heresia. Do acordo saiu o decreto Ad Abolendam em que se previa um certo aparato diocesano que estaria em actuação e seria apoiado pelos poderes seculares. Mas não se previa a pena de morte. Foi em 1199 que o Papa Inocêncio III renova o anterior decreto pela bula Vergentis in Senium que introduziu uma novidade perigosa equiparando a heresia com o delito de lesa majestade. Nela como pena da heresia estava a fogueira. Em 1206 Inocêncio III, vista a inoperância dos bispos e do clero local, designa como legado para o condado de Tolouse, com plenos e independentes poderes, mas só em matéria de heresia [era o início da Inquisição papal], Pierre de Castelnau com a ajuda de Arnaud Amalric, abade da Ordem do Cister e de S. Domingos, o fundador da ordem dominicana. 229


Em 1208 Pierre excomungou o conde Raymond VI, castigo que acarretava a confiscação dos bens e das terras. No dia seguinte depois de ser comunicada a excomunhão o delegado papal foi assassinado. O Papa aproveitou a ocasião para declarar mártir a Pierre e convocar uma cruzada (a chamada 5ª cruzada) contra os hereges. Em 1209 no sínodo de Avignon, presidido pelo próprio Papa, instou na obrigação que as autoridades laicas tinham de perseguir os hereges, sob pena de excomunhão. Bispos, sacerdotes, cistercienses e dominicanos exortaram o povo a tomar as armas. Com poucas tropas, o conde se submeteu e o novo legado pontifício como penitência mandou fosse açoitado perante três arcebispos e mais de vinte bispos. Sob o mando do tristemente célebre Arnau de Amalric o enorme exército cruzado (300 mil homens) foi conquistando os castelos e cidades cátaras a começar pela cidade de Beziers. Dizem que 7 mil pessoas foram massacradas na igreja da Madalena, sendo que a cidade foi saqueada durante dois dias, sem distinção entre hereges, Católicos, mulheres e crianças. Todos foram eliminados. Calcula-se o número em 30 mil. Ao perguntar a Arnau como distinguir entre Católicos e hereges, ele respondeu: "Matai todos eles. Deus reconhecerá os seus". Era o ano 1209. Esta matança fez que as restantes cidades se rendessem, excepto Carcassone. Após um severo assédio de quinze dias, o conde rendeu-se, morrendo no cárcere. O condado foi dado a Simão de Monfort, antigo cruzado em terra santa. Este continuou a luta durante um tempo. Famosa foi a batalha de Muret, [Setembro de 1213] em que o rei de Aragão pereceu lutando a favor dos albigenses ou melhor de seu cunhado o visconde Trencavel de Carcassone. Monfort continuou na luta até 1218 em que uma pedra lançada por um artefacto bélico, segundo a lenda manejado por mãos de uma mulher, o atingiu mortalmente na cabeça. Após a morte de Simão foi o rei da França que tomou a direcção da luta. Com a conquista do castelo de Montsegur em 1243 e Queribus em 1258, terminou finalmente a luta. A guerra contra os cátaros durou 45 anos e causou um milhão de vítimas. Cronologia Como nota final sobre a inquisição pontifícia ou romana podemos dar estas duas datas importantes: 1215 Concílio IV de Latrão sob o Papa Inocêncio III, cânon III em que se afirmava:    

Toda heresia deve ser perseguida por meio de uma acção concertada das autoridades eclesiásticas e laicas. os bispos disporão de inquisidores de hereges em cada paróquia de sua diocese. Os convictos arrependidos sofrerão a confiscação dos bens. Os empedernidos serão relegados ao braço secular para serem castigados por este com a animadversio debita (devida repreensão ou castigo) [não se especifica a pena].

1224: Introdução da pena capital contra os hereges. Federico II da Alemanha decreta que aquele manifestamente convicto de heresia pelo bispo de sua diocese será imediatamente tomado pelas autoridades do lugar e entregue ao fogo. Desta vez o imperador se adiantava ao Papa. Por isso em 1226 houve queima de hereges em Rimini e Masserata., então sob o domínio do imperador. 1225: Os albigenses passaram de 3 para 4 bispados, aumentando seu poder. Cruzada nova sob o Papa Honório III (1226-27) com as mesmas indulgências que as de Terra Santa. O Papa pede a Luís VIII rei da França que dirija a cruzada até a total exterminação do mal. O Papa pede aos bispos que empreguem como inquisidores os frades dominicanos, sem negar a autoridade dos bispos na matéria.

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1226: Concílio Provincial de Bourges que pede aos reis da França e de Aragão incorporem em suas leis o cânon 3 do Concílio de Latrão, condenando com animadversatione debita os hereges que tivessem sido condenados pelos bispos. 1229: Eram os tempos de Gregório IX (1227-41). Firmada a paz com o conde de Toulouse em Abril de 1229, este se compromete a dar dois marcos a quem denunciasse um herege. Imediatamente os regentes de Luís IX, o santo(1226-70), então com 15 anos, promulgam a Ordenança Cupientes que previa a pena de morte na fogueira como castigo supremo para os hereges. Toda heresia deve ser perseguida como o primeiro a decretar a pena de morte para os hereges. No Outono deste ano se celebra o Concílio de Toulouse que recomendava aos bispos que para combater a heresia tivessem juízes especiais como os dominicanos que possuíam grandes conhecimentos teológicos. Estabelece a obrigação dos fiéis adultos de denunciar os hereges e testemunhar contra eles. Os testemunhos devem ser secretos embora se indicava a confrontação dos mesmos com as deposições dos indiciados. Finalmente se distinguem os três casos inquisitoriais típicos:   

Os que espontaneamente se apresentam a confessar. Os que se convertem por medo da morte com pena de prisão. Os recalcitrantes para ser entregues ao braço secular, com a animadversio debita que significa já morte na fogueira.

As disposições acabaram prontamente com valdenses e cátaros. 1231: Constituição Excommunicamus et anathematisamus [excomungamos e anatematizamos] de Gregório IX em que se limita a coleccionar e refundir todas as antigas disposições de Verona, Latrão, Avignon, Narvona e Toulouse convertendo-as em lei universal da Igreja. Especialmente após o tratado de Meaux o delegado do Papa Cardeal Romano do Santo Ângelo, convocou o concílio de Tolouse. Redigiram-se 45 cânones cujo objectivo era a busca, instrução e castigo dos convictos em heresia. Aceitava-se a identificação da animadversio e da morte na fogueira, assim como o cárcere perpétuo para os arrependidos pelo temor da morte. Gregório IX pediu que se negasse sepultura sagrada aos hereges que tivessem sido condenados à pena capital[ devemos ter em conta que as sepulturas estavam dentro das igrejas e só no final do século XIX por razões de assépsia os cadáveres foram enterrados nos chamados cemitérios que receberam o nome de campos-santos, fora pois do terreno eclesial]. 1233: Na França teve lugar o auto de fé de La Charité onde numerosos hereges foram queimados. 1234: A Inquisição foi de modo pleno submetida juridicamente aos bispos de modo que nunca na França, Espanha ou Itália decaiu o poder dos mesmos para revisar as sentenças dos inquisidores (Pg 261 Vol I de História da Inquisição Espanhola, BAC). Estes detalhes indicam que apontar a Inquisição espanhola como referente para certos factos é uma ignorância da História, imperdoável. 1242: Em Avignonet dois dominicanos com os familiares da inquisição, mais de setenta homens, foram degolados quando dormiam. Inicia-se de novo a guerra entre os poderes feudais de Occitãnia e o rei da França, neste caso S. Luís IX. 1243:Bula de Inocêncio IV contra cátaros e patavinos. 1244: Traz a queda de Montsegur, 200 perfeitos que se negaram a retratar-se foram queimados vivos. 1252:A inquisição adopta a tortura. A guerra duraria até a queda de Queribus no ano 1258 terminou a heresia albigense. O problema da Inquisição no século XIV foi o dos místicos 231


chamados espirituais e as beguinas, papelardas ou bizocche que sem constituir ordem Religiosa aceitavam qualquer tipo de exagero. Finalmente nos últimos anos da idade média, como revelação de um neopaganismo, temos o fenómeno da bruxaria. No século XIII a Igreja tomou a decisão de que a crença nas bruxas era uma ilusão. Antes de 1350 bruxaria e feitiçaria significavam a mesma coisa. A feitiçaria é eterna e universal. Porém a bruxaria está limitada ao período 1450-1750. Antes de 1300 somente houve casos isolados. Até o século XV a lei secular não continha nenhum parágrafo sobre bruxaria. Foi no início deste século que apareceu o primeiro tratado teológico sobre os males da bruxaria o Fornicarius do dominicano John Nider (1380-1438). Nele se afirma que um bruxo pode provocar uma nevada matando um frango preto. Porém em 1484 [final do século XV] o Papa Inocêncio VIII emitiu a chamada Bula Bruxa que se tornou lei para toda a Europa e foi a base legal para que a Inquisição pudesse castigar e exterminar todas as bruxas. A ideia de que o diabo estava como pacto pelo menos implícito nos factos de bruxaria está em Tomás de Aquino (que fala de pactos expressos e tácitos), pois sem a ajuda de poderes extra-naturais não se podem fazer determinados feitos extraordinários. Como resumo: A luta contra os albigenses foi também uma luta entre o poder feudal e o poder real na França. Esta obteria a Occitánia como terra dentro de suas divisas e só faltava a Normandia no Norte e o Rossilhão no sul, que conseguiria séculos mais tarde. Por outra parte o anarquismo e anti-hierarquismo das doutrinas cátaras favoreceram as ideias políticoreligiosas contrárias como os poderes reais e religiosos, especialmente o papado. Foi também uma defesa religiosa que usou como método a Inquisição, devido às dificuldades de conhecer os adeptos das doutrinas cátaras.

Heresia Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Heresia (do latim haerĕsis, por sua vez do grego αἵρεσις, "escolha") é a doutrina ou linha de pensamento contrária ou diferente de um credo ou sistema religioso que pressuponha um sistema doutrinal organizado, ortodoxo. A palavra pode referir-se também a qualquer "deturpação" de sistemas filosóficos instituídos, ideologias políticas, paradigmas científicos, movimentos artísticos, ou outros. A quem funda uma heresia dá-se o nome de heresiarca.

Heresia no Cristianismo Quando o Império Romano impunha o culto às suas divindades, judeus e Católicos o rejeitavam e eram acusados de paganismo e de atrair a ira das divindades sobre Roma. Era uma heresia. No contexto da doutrina Cristã significa uma doutrina contrária à Verdade revelada e pregada por Jesus Cristo. Verdades reveladas, como a divindade de Jesus e do Espírito Santo, podem se tornar dogmas da Igreja Católica.

Heresia no Cristianismo primitivo Desde Jesus Cristo (Jo. 17,21) passando por todos os apóstolos, especialmente Paulo, existe um impulso para estabelecer unidade no Cristianismo. A primeira forma de demonstração desse impulso foi a manutenção da unidade em torno de Pedro. Se há um só Deus, que se revelou em Jesus Cristo, que fundou Sua única Igreja (Mt 16,18) e se Jesus Cristo mesmo diz que Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida, não podem existir outras verdades verdadeiras. No início não havia uma Igreja ainda não estava organizada, como hoje e desde o tempo de Jesus, entre seus discípulos, sempre existiram controvérsias doutrinárias e disciplinares, como se vê em At 15, 1-5. Havia grupos em Roma, no Oriente e norte da África, que sob influência 232


helenística, zoroastrista e de convicções pessoais, que queriam adaptar a doutrina de Jesus às suas ideias. Tais foram os grupos dissidentes ou heréticos fundados por Donato, a gnose de Marcion o "Primogénito de Satanás", Montanus, Nestório, Paulo de Samósata e Valentinus entre outros. Os escritos de Tertuliano contra os heréticos e o "Contra as heresias" de Ireneu foram respostas às heresias. O Concílio de Niceia foi convocado pelo imperador Constantino devido a disputas em torno da natureza de Jesus "não criado, consubstancial ao Pai" Na Trindade as três pessoas têm a mesma natureza, ou seja, a divina. A partir de 325, algumas verdades do Cristianismo foram estabelecidas como dogma através de cânones promulgados pelo concílio de Niceia, dentre outros. O Credo Niceno esclarecia os erros do Arianos que negava a divindade de Jesus. Foi usado por Cirilo para expulsar Nestório. O sacerdote espanhol Prisciliano de Ávila foi o primeiro a ser executado por heresia, 60 anos após o Concílio de Niceia (em 385), sob o protesto de Martinho, Bispo de Tours, que não aceitava o “crime novo de submeter uma causa eclesiástica a um juiz secular”. Uma das linhas que foi condenada como heresia eram as que divergiam da afirmação de que Cristo era totalmente divino e totalmente humano, e que as três pessoas da Trindade são iguais e eternas. Este dogma (Um só Deus em Três Pessoas = Três pessoas e uma só natureza divina assim como existem bilhões de pessoas e uma só natureza humana)) só foi estabelecido depois que Ário o desafiou. Historicamente, houve muitos que discordaram dos dogmas da Igreja. Eram considerados hereges quando se tornavam uma ameaça à unidade e porque contrários à Verdade ensinada por Jesus Cristo e contidas nos Escritos Sagrados. A condenação máxima imposta pela Igreja é a pena de excomunhão. É preciso esclarecer que a pena de excomunhão era aplicada e se uma pessoa ficasse mais de um ano excomungada era considerada herege e processada pela Igreja como tal. Geralmente este processo culminava com a sentença da entrega do herege ao braço secular. Corroboram esse raciocínio, não apenas relatos históricos, como também o teor dos sermões realizados pelos padres que se referiam aos crimes do hereges, bem como a presença de autoridades eclesiásticas aos autos da Fé. Há farta documentação histórica sobre os autos de fé e seus critérios, merecendo destaque a obra "Manual dos Inquisidores" de Nicolau Eymerich e posteriormente modificado, mais ou menos 200 anos após, por Francisco de La Pena.

Heresias importantes na história Gnosticismo Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

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Gnosticismo designa o movimento histórico e religioso Cristão que floresceu durante os séculos II e III, cujas bases filosóficas eram as da antiga Gnose (palavra grega que significa conhecimento), com influências do neoplatonismo e dos pitagóricos. Este movimento reivindicava a posse de conhecimentos secretos (a "gnose apócrifa", em grego) que, segundo eles, os tornava diferentes dos Cristãos alheios a este conhecimento. Originou-se provavelmente na Ásia menor, e tem como base as filosofias pagãs, que floresciam na Babilónia, Egipto, Síria e Grécia. O gnosticismo combinava alguns elementos da Astrologia e mistérios das religiões gregas, mistérios de Elêusis, bem como os do Hermetismo, com as doutrinas do Cristianismo. Em seu sentido mais abrangente, o Gnosticismo significa "a crença na Salvação pelo Conhecimento" (Joan O'Grady). Gnosticismo, tem por origem etimológica o termo grego "gnosis", que significa "conhecimento". Mas não um conhecimento racional, científico, filosófico, teórico e empírico (a "episteme" dos gregos), mas de carácter intuitivo e transcendental; Sabedoria. É usada para designar um conhecimento profundo e superior do mundo e do homem, que dá sentido à vida humana, que a torna plena de significado porque permite o encontro do homem com sua essência eterna, centelha divina, maravilhosa e Crística, pela via do coração. É uma realidade vivente sempre activa, que apenas é compreendida quando experimentada e vivenciada. Assim sendo jamais pode ser assimilada de forma abstracta, intelectual e discursiva. O Gnosticismo usa de explicações metafísicas e mitológicas para falar da criação do universo e dos planos espirituais, mas nunca deixa de relacionar esse mundo externo e mitológico a processos internos que ocorrem no homem.

Doutrina gnóstica! O gnosticismo tornou-se forte influência na Igreja primitiva levando muitos Cristãos da época como Marcião (160 d. C.) e Valentim de Alexandria a ensinar sobre a cosmo visão dualista, a qual a uma visão leiga aparenta ser a premissa básica do movimento. Efectivamente, para os gnósticos, existem dois deuses: o deus criador imperfeito, que eles associam ao Jeová do Velho Testamento e outro, bom, associado ao Novo Testamento. O primeiro criou o mundo com imperfeição, e desta imperfeição é que se origina o sofrimento humano, tendo a humanidade sido aprisionada neste mundo pelo mesmo. Mas a essência humana seria oriunda de uma "centelha divina" que perpassa todo o cosmos mesmo sem nele se situar, e o deus bom teve pena e lhes deu a capacidade de despertar deste mundo de ilusões e imperfeição. O pré-requisito essencial da filosofia gnóstica é o postulado da existência de uma "entidade imortal", que não é parte deste mundo, que pode ser chamado de Deus interno, Ser imortal, divina essência, etc. que existe em todos os homens e é a sua única parte imortal. Os gnósticos consideram que o estado do homem neste mundo é "anti-natural", pois ele está submetido a todo tipo de sofrimentos. Para eles, é necessário que o homem se liberte deste sofrimento, e isto só pode ocorrer pelo conhecimento. Os gnósticos, de um modo geral, acreditam que o Universo manifestado principia com emanações do Absoluto, seres finitos chamados de Aeons que se reúnem no Pleroma. No princípio tudo era Uno com o Absoluto, então em um determinado momento, emanaram do Absoluto estes aeons (éons), formando o pleroma. O pleroma dos gnósticos é um plano arquetípico, abaixo do qual está o plano material, manifestado. Assim, o que antes era Uno e vivia no pleroma, se despedaça em partes. Este estado de infelicidade, pela descida no pleroma (e separação do Todo Uno), é o que ocasiona o sofrimento do homem neste mundo. Um dos éons (Sophia) deu à luz o Demiurgo (artesão em grego), que criou o mundo material "mau", juntamente com todos os elementos orgânicos e inorgânicos que o constituem. Os gnósticos ensinavam que a salvação vem por meio de um desses éons, geralmente apresentado como o décimo terceiro éon (identificado com o Cristo), distinto dos doze éons que regem o mundo decaído. 234


Segundo a doutrina, Cristo se esgueirou através dos poderes das trevas para transmitir o conhecimento secreto (gnosis) e libertar os espíritos da luz, cativos no mundo material terreno, para conduzi-los ao mundo espiritual mais elevado. Segundo algumas linhas gnósticas, Cristo não veio em carne e nunca assumiu um corpo físico, nem foi sujeito à fraqueza e às emoções humanas, embora parecesse ser um homem, enquanto a principal linha de gnosticismo Cristão, a Valentiniana defende a tese próxima do nestorianismo doutrina Cristã, nascida no Século V, segundo a qual há em Jesus Cristo duas pessoas distintas, uma humana e outra divina, sendo Cristos (o ungido) o éon celestial que a um tempo se une a Jesus. Alguns historiadores afirmam que o apóstolo João se refere a esse assunto quando enfatiza que "o Verbo se fez carne" (Jo l .14) e em sua primeira epístola que "todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus..." (l Jo 4.3). Os escritos joaninos são do final do primeiro século, quando nasceu o gnosticismo. No entanto, muitas comunidades gnósticas tinham o Evangelho de João em alta conta, o que contraria esta tese. Para que o homem possa se libertar dos sofrimentos deste mundo, segundo os gnósticos, ele deve retornar ao Todo Uno, por ascensão ao pleroma, e isto só pode ser alcançado pelo Conhecimento Verdadeiro (representado pela Gnose). Este despertar só pode ocorrer se o homem se descobre, "conhecendo-se a si próprio". "As Escrituras Sagradas têm um sentido que é aparente à primeira vista, e um outro que a maioria dos homens não percebe. Porque são escritas em forma de certos Mistérios, e à imagem de coisas divinas. A respeito do que há uma opinião em toda a Igreja, que toda a Lei em verdade é espiritual, porém que o sentido espiritual da Lei não é conhecido a todos, mas apenas aqueles que receberam a graça do Espírito Santo na palavra de sabedoria e conhecimento". Assim, os primeiros Cristãos sabiam que dois tipos de pessoas se achegariam ao Cristianismo, um tipo sem o toque pneumático, e, portanto, incapaz de aproximar-se da salvação pelo conhecimento e pela sabedoria dos Mistérios, mas possuindo apenas capacidade de assimilar pela fé o lado superficial da Lei; o outro tipo, tocado pelo dom pneumático, pela centelha-espírito, que possuiria plena capacidade de assimilar os conhecimentos e a sabedoria dos Mistérios divinos e descer ao nível profundo e espiritual da Lei, podendo gozar de completa iluminação e redenção." Orígenes " De Principiis" Os Cristãos Gnósticos constituíram, nos primeiros anos dessa nossa era, uma comunidade fechada, iniciática, que guardou os aspectos esotéricos dos evangelhos, principalmente das parábolas do Mestre Jesus, o Cristo, apresentando um Cristianismo muito mais profundo e filosófico do que daqueles Cristãos que ficaram conhecidos como a ortodoxia. Dentre os grupos mais activos nos dois primeiros séculos de nossa era destacam-se os naasenos, perates, sethianos, docéticos, carpocráticos, basilidianos e valentinianos.Com o passar do tempo, os herdeiros da tradição gnóstica e maniqueísta foram mudando de nome, podemos indicar o aparecimento dos seguintes grupos: entre os séculos III e IX: Euchites, Magistri Comacini, Artífices Dionisianos, Nestorianos e Eutychianos; no século X: Paulicianos e Bogomilos; no século XI: Cátharos, Patarini, Cavaleiros de Rodes, Cavaleiros de Malta, Místicos Escolásticos; no século XII: Albigenses, Cavaleiros Templários, Hermetistas; no século XIII: a Fraternidade dos Winklers, os Beghards e Beguinen, os Irmãos do Livre Espírito, os Lollards e os Trovadores; no século XIV: os Hesychastas, os Amigos de Deus, os Rosacruzes e os Fraticelli; no século XV: os Fraters Lucis, a Academia Platónica, a Sociedade Alquímica, a Sociedade da Trolha e os Irmãos da Boémia (Unitas Fratrum); no século XVI: a Ordem de Cristo (derivada dos Templários), os Filósofos do Fogo, a Militia Crucífera Evangélica e os Ministérios dos Mestres Herméticos; no século XVII: os Irmãos Asiáticos (Irmãos Iniciados de São João Evangelista da Ásia), a Academia di Secreti e os Quietistas; no século XVIII: os Martinistas; no século XIX: a Sociedade Teosófica. Os “paulicianos” formavam um grupo gnóstico activo no Império Romano desde o século VII. Se declaravam contra todas hierarquias que exerciam seu poder para combater a iluminação interior. Até o século XI, os paulicianos foram mortos pela igreja romana, assim como os maniqueus antes deles. Mas o gnosticismo sobreviveu, sua luz e força continuaram a irradiar 235


com os bogomilos...A herança Gnóstica dos séculos XII e XIII, foram transmitidas aos Cátaros, que também foram perseguidos e mortos pela igreja romana. Na Idade Média, o gnosticismo manifestou-se na Ordem dos Templários, depois no século XVII, foi revivificada pelos Rosacruzes pelas mãos de Johann Valentin Andrea, mantiveram ligações com a FrancoMaçonaria,com a Teosofia e com o Martinismo. Todos testemunhando o Cristianismo Interior, descrevendo o caminho de retorno a Deus, que foi aberto pelo seu filho, Mestre Jesus, o Cristo. Fontes Pouco material chegou até os dias de hoje, a maioria dos personagens e suas doutrinas só puderam ser conhecidos por meio dos críticos do gnosticismo, sendo estes a principal fonte. A maior polémica contra os gnósticos apareceu no período patrístico, com os escritos apologéticos de Irineu (130-200), Tertuliano (160-225) e Hipólito (170-236). Por isso a descoberta da Biblioteca de Nag Hammadi,em 1945, foi de suma importância, visto que seu conteúdo é eminentemente gnóstico. O achado impulsionou as pesquisas sobre o assunto na segunda metade do século XX. Estes manuscritos totalizavam cinquenta e dois textos, em treze códices de papiro, escritos em copta. Entre as obras aí guardadas encontravam-se diversos tratados gnósticos, três obras pertencentes ao Corpus Hermeticum e uma tradução parcial da República de Platão. Parte deles conhecidos também como Evangelhos gnósticos Os Manuscritos Pistis Sophia, "Piste Sophiea Cotice" ou "Códice Askew", atribuídos a Valentim foi adquirido do médico e coleccionador de manuscritos antigos Dr. Askew pelo Museu Britânico em 1795 , datam de 250–300 AD, relatam os ensinamentos Gnósticos do Mestre Jesus, o Cristo transfigurado aos apóstolos. Até a descoberta da biblioteca de Nag Hammadi em 1945, o Códice Askew era um dos três códices que continha quase todos os escritos gnósticos que tinham sobrevivido, sendo os dois outros códices o Códice Bruce e o Códice de Berlim. Mais recentemente um outro documento gnóstico foi encontrado, gerando diferentes especulações sobre o verdadeiro relacionamento de Jesus Cristo com o seu discípulo Judas, este documento é o Evangelho de Judas que estava desaparecido por mais de 1700 anos, tendo sido encontrado finalmente no Egipto. Paralelos com religiões orientais O gnosticismo tem alguns elementos em comum com o sufismo, o budismo, o helenismo, o hermetismo, o zoroastrismo e o hinduísmo.

Gnosticismo e psicologia No século XX, Carl Gustav Jung pesquisou profundamente as doutrinas gnósticas, inclusive ajudando no trabalho de organização da Biblioteca de Nag Hammadi, e fez uma ligação entre os mitos gnósticos e os arquétipos do inconsciente colectivo. Escreveu o livro "Sete sermões aos mortos", sob o pseudónimo de Basilides de Alexandria, onde coloca a sua visão gnóstica em sete textos no formato dos evangelhos.

Monotelismo

foi uma heresia surgida na Igreja Católica Ortodoxa quando a teologia cristológica ainda possuía muitos adeptos de correntes distintas. Opôs-se ao nestorianismo (que afirmava haver em Jesus Cristo duas pessoas, a divina e a humana, o que foi condenado pelo Concílio de Éfeso, em 431). 236


Eutiques, arquimandrita de um mosteiro de Constantinopla, defendeu que, havendo uma só pessoa em Jesus Cristo, também devia haver uma só natureza, admitindo que a humana fora absorvida pela divina. A discussão foi turbulenta e a questão só foi definitivamente resolvida no Concílio de Calcedónia, em 451, que definiu haver em Jesus Cristo duas naturezas, a divina e a humana, subsistindo na única pessoa divina do Verbo encarnado. Esta definição não convenceu diversas comunidades, que continuaram a aderir ao monotelismo, algumas até hoje. Tempos depois, o patriarca Sérgio de Constantinopla, com a intenção de congraçar os monofisitas, proclamou que em Jesus Cristo, embora havendo duas naturezas, só havia uma vontade, pela identificação perfeita da vontade humana com a vontade divina, o que ficou conhecido na história das heresias por monotelismo. A questão ficou esclarecida no Terceiro Concílio de Constantinopla, em 681.

Nestorianismo é uma doutrina Cristã, nascida no século V, segundo a qual há em Jesus Cristo duas pessoas distintas, uma humana e outra divina, completas de tal forma que constituem dois entes independentes. A doutrina surgiu em Antioquia e manteve forte influência na Síria, e é sustentada ainda hoje pela Rosacruz e outras doutrinas ligadas à gnose. O seu surgimento deu-se dentro das disputas cristológicas que abalaram o Cristianismo nos séculos III, IV e V, sendo proposto por Nestório, monge oriundo de Alexandria, que assumiu o bispado de Constantinopla. Isto o levou a opor-se a Cirilo de Alexandria, bispo daquela cidade, que defendia a tese da unidade entre a pessoa humana e divina de Cristo. Tanto os nestorianos quanto os partidários de Cirilo foram chamados ao Concílio de Éfeso, no ano de 431. A disputa centrou-se fundamentalmente em torno do título com o qual se devia referir a Maria, se somente cristotocos (mãe de Cristo, a dizer, de Jesus humano e mortal), como defendiam os nestorianos, ou de theotocos (mãe de Deus, ou seja, também do Logos divino), como defendiam os partidários de Cirilo. Resolveu-se adoptar como verdade de fé a doutrina proposta por Cirilo, concedendo a Maria o título de Mãe de Deus, e os nestorianos foram considerados hereges. A diáspora nestoriana foi desterrada do Império Romano, encontrando refúgio no Império Sassânida. Todavia, em algumas regiões isoladas do Oriente Próximo é ainda possível encontrar nestorianos. Os nestorianos se propagaram pela Ásia Central, chegando até a China, e durante algum tempo influenciaram os mongóis, até a conversão destes ao lamaísmo, quando abandonaram o nestorianismo. Actualmente subsistem as igrejas nestorianas (conhecidas, de uma forma geral, como Igreja Assíria do Oriente) na Índia e no Iraque, Irão, China e nos Estados Unidos e em outros lugares onde haja migrado comunidades Cristãs dos países citados. A igreja nestoriana teve um papel fundamental na conservação de antigos textos gregos que foram traduzidos para o siríaco (um ramo do arameu). Mais tarde foram traduzidos para o árabe e no século XIII para o latim.

Sodomia é uma palavra de origem bíblica usada para designar as perversões sexuais, com ênfase para o sexo anal, que pode ser entre homossexuais ou heterossexuais. O termo foi por muito tempo também utilizado, até mesmo cientificamente, para designar actos sexuais entre homens, ou qualquer acto sexual não reprodutivo dependendo do contexto. Entretanto, desde as últimas décadas do século XX, tal palavra tem sido considerada pejorativa. 237


Origem A palavra sodomia tem origem na descrição bíblica da destruição de Sodoma e Gomorra. A Bíblia, no livro do Génesis, narra que Deus enviou dois anjos para analisarem tais cidades, que seriam origem de diversos pecados. …à tarde chegaram os dois anjos a Sodoma. Ló estava sentado à porta de Sodoma e, vendo-os, levantou-se para os receber; prostrou-se com o rosto em terra, (2) e disse: Eis agora, meus senhores, entrai, peço-vos em casa de vosso servo, e passai nela a noite, e lavai os pés; de madrugada vos levantareis e ireis vosso caminho. Responderam eles: Não; antes na praça passaremos a noite. (3) Entretanto, Ló insistiu muito com eles, pelo que foram com ele e entraram em sua casa; e ele lhes deu um banquete, assando-lhes pães ázimos, e eles comeram. (4) Mas antes que se deitassem, cercaram a casa os homens da cidade, isto é, os homens de Sodoma, tanto os moços como os velhos, sim, todo o povo de todos os lados; (5) e, chamando a Ló, perguntaram-lhe: Onde estão os homens que entraram esta noite em tua casa? Trá-los cá fora a nós, para que os conheçamos. (6) Então Ló saiu-lhes à porta, fechando-a atrás de si, (7) e disse: Meus irmãos, rogo-vos que não procedais tão perversamente; (8) eis aqui, tenho duas filhas que ainda não conheceram varão; eu vo-las trarei para fora, e lhes fareis como bem vos parecer: somente nada façais a estes homens, porquanto entraram debaixo da sombra do meu telhado. (9) Eles, porém, disseram: Sai daí. Disseram mais: Esse indivíduo, como estrangeiro veio aqui habitar, e quer se arvorar em juiz! Agora te faremos mais mal a ti do que a eles. E arremessaram-se sobre o homem, isto é, sobre Ló, e aproximavam-se para arrombar a porta. (10) Aqueles homens, porém, estendendo as mãos, fizeram Ló entrar para dentro da casa, e fecharam a porta; (11) e feriram de cegueira os que estavam do lado de fora, tanto pequenos como grandes, de maneira que cansaram de procurar a porta. Génesis, capítulo 19, versículos 1 a 11. Transcrito da Tradução Ferreira de Almeida, em Domínio Público.

De acordo com a narrativa, as duas cidades foram destruídas depois do tumulto apresentado. A interpretação actual do texto acima por parte de entidades religiosas como a Igreja Católica é que o pecado de Sodoma seria o sexo entre homens e tal justifica o significado da palavra sodomia. Críticas

Espanhóis e o genocídio dos "sodomitas". Gravura do período colonial das Américas.

Alguns estudiosos[carece de fontes?] bíblicos argumentam que o trecho desencadeador da "ira divina" é fruto de um grande mal entendido. O termo conhecer, presente em traduções mais antigas (e traduzido por ter relações sexuais em algumas traduções modernas), não indicaria necessariamente o acto sexual. Indica, de acordo com esses estudiosos, o abuso sexual e a intenção de fazer o mal ao próximo. Esses estudos, pregam a partir daí que os sodomitas, que eram todos os habitantes de Sodoma (homens, mulheres, velhos e crianças), eram tão perversos que desejavam humilhar os forasteiros, abusando-os pela simples razão de serem estrangeiros. E dizem ainda que a intenção dos habitantes pode ser entendida apenas como vontade de fazer o mal. O texto bíblico é claro em indicar que não havia dez homens justos em Sodoma (Génesis 18:32) e por isso a cidade e suas vizinhas foram destruídas por Deus. 238


Ezequiel, capítulo 16, versículos 48 a 50 (48) Vivo eu, diz o Senhor Deus, não fez Sodoma, tua irmã, nem ela nem suas filhas, como fizeste tu e tuas filhas. (49) Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão, e próspera ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca fortaleceu a mão do pobre e do necessitado. (50) Também elas se ensoberbeceram, e fizeram abominação diante de mim; pelo que, ao ver isso, as tirei do seu lugar.

No versículo cinquenta é empregado o termo "abominação", não explicando exactamente o que seria, deixando a passagem ambígua e não de todo clara para que se entenda o que ocorreu em Sodoma e Gomorra. Segundo alguns religiosos, a palavra abominação é usada apenas para pecados "mais graves", como idolatria e adultério. No entanto a palavra abominação é repetida dezenas de vezes no Levítico por penas "mais triviais" como comer certo tipo de alimentos (marisco, polvo...) ou fazer tatuagens. Outros religiosos alegam que no conceito do deus hebraico não existem diferentes tipos de pecados, todos têm a mesma condenação. Evangelho de Mateus, capítulo 10, versículos 5 a 15 (14) E, se ninguém vos receber, nem ouvir as vossas palavras, saindo daquela casa ou daquela cidade, sacudi o pó dos vossos pés. (15) Em verdade vos digo que, no dia do juízo, haverá menos rigor para a terra de Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade.

Novamente a clara ausência em relação a actividades sexuais reforça a opinião de que a ocorrência foi a falta de hospitalidade e o desrespeito aos estrangeiros (xenofobia). Génesis, capítulo 19, versículos 6,7,8 Então saiu Ló a porta, e fechou a porta atrás de si, e disse: Meus irmãos rogo-vos que não façais mal; Eis aqui, duas filhas tenho, que ainda não conheceram varão; fora vo-las trarei, e farei delas como for bom aos seus olhos; somente nada façais a estes varões, porque por isso vieram a sombra do meu telhado. Este trecho deixa a pergunta sobre o que esses homens desejavam para que Ló oferecesse as filhas como maneira de acalmar esse desejo. Judas 1.7 (7)Assim como Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que havendo-se entregue à fornicação como aqueles, e ido após outra carne, foram postas por exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno.

Aqui está bem explícita a conotação que o apóstolo Judas, irmão de Jesus, fazia do trecho. Esse ir atrás de outra carne não pode ter outro sentido. Criminalização As Ordenações Afonsinas, primeira consolidação de leis em Portugal, feita no século XV, declaram que a sodomia é o mais torpe, sujo e desonesto pecado ante Deus e o mundo, impondo ao infractor que seja queimado até virar pó, para que não reste memória de seu corpo e sepultura.

Apostasia

(em grego antigo απόστασις [apóstasis], "estar longe de") não se refere a um mero desvio ou um afastamento em relação à sua fé e à prática religiosa. Tem o sentido de um afastamento definitivo e deliberado de alguma coisa, uma renúncia de sua anterior fé ou doutrinação. Pode manifestar-se abertamente ou de modo oculto. Dependendo de cada religião, um apóstata, afastado do grupo religioso no qual era membro, pode ser vitima de preconceito, intolerância, difamação e calúnia por parte dos demais membros activos. Um caso extremo, é aplicação da pena de morte para apóstatas na religião islâmica em países muçulmanos, como por exemplo, na Arábia Saudita.

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Apostasia da Fé Cristã Apostasia da Fé Cristã, ou seja, do Cristianismo primitivo, na óptica das diversas religiões Cristãs, é controverso. A razão é que cada uma delas afirma-se como "a Religião Verdadeira", em oposição a todas as outras, consideradas na sua perspectiva como religiões falsas. Existe uma notória diferença entre apostasia da Fé Cristã e apostasia de uma determinada organização religiosa. Existe diferentes motivações para apostasia e para a forma como a pessoa gere e manifesta essa divergência. As igrejas Cristãs trinitárias, consideram naturalmente como apostasia a rejeição do dogma da Trindade, uma rejeição dos ensinos fundamentais do Cristianismo. Ou seja, é apostasia a rejeição de que Jesus Cristo é a segunda pessoa Divina da Trindade, e que o Espírito Santo é a terceira pessoa Divina da Trindade. Para os Cristãos, negar que Jesus, seja o Filho de Deus e o Cristo (Messias), comete um gravíssimo pecado religioso. Este tipo de apostasia é considerado como de extrema ingratidão e uma rebelião contra Deus. (João 3:16) O apóstata da Fé Cristã torna-se parte da identidade colectiva chamada na Bíblia de "anticristo", isto é, "alguém está contra o Cristo (Messias)".

Apostasia no Catolicismo Romano Segundo o Código de Direito Canónico de 1983 e actualizado em 1998, apostasia é o repúdio total à fé Cristã, ou a recusa em submeter-se à autoridade do Papa ou à comunhão com os membros da Igreja a ele sujeitos (cânon 751)

Mancia Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Sufixo indicando que a palavra é um domínio de um método de adivinhação do futuro, por exemplo, hidromancia ( hidro, que significa água, e mancia, método de adivinhação.) é um método de adivinhação a partir da água.

História dos Valdenses Nos vales alpinos da região de Piemont, na Itália, também houve igrejas que continuaram o seu testemunho desde a época dos apóstolos. Estas, como os Paulícios, nunca se associaram ao esquema oficial baseado em Roma. Elas foram deixadas em paz, comparativamente sem perseguição, principalmente devido ao isolamento causado pela inacessibilidade das montanhas onde habitavam, pois, como bem sabemos, naquela época não existiam as facilidades de transporte de que hoje dispomos. No ano de 1689 um escritor declarou: “Os Valdenses são, de facto, descendentes daqueles que fugiram da Itália depois que São Paulo pregou o Evangelho entre eles. Eles abandonaram a seus pais e foram morar nas montanhas, onde, daquela época até hoje, têm pregado o Evangelho de pai para filho na mesma pureza e simplicidade como foi pregado por São Paulo”. O nome “Valdense”, com que foram alcunhados por outros, vem de PEDRO VALDO (? – 1217), de Leão, na França, um professor eminente entre eles no século 12. Pedro Valdo era um comerciante e banqueiro bem sucedido e nunca havia pensado em Deus até o dia quando um de seus convidados morreu repentinamente numa festa por ele promovida. Ele viu, então, a sua grande necessidade de salvação e converteu-se a Cristo. Tornou-se um estudioso das Escrituras até que, em 1173 vendeu quase todos os seus bens, apenas fazendo provisão para a sua esposa e saiu pregando o Evangelho. Logo outros juntaram-se a ele. De início tentaram acomodar-se ao sistema vigente na Igreja Católica, mas 240


já em 1184 foram excomungados. O grupo passou a ser visto como uma “seita” que ficou conhecida como “Os pobres de Leão”. Como resultado do seu testemunho houve conversões até na Alemanha. Pedro Valdo foi um dos poucos pregadores que faleceu de morte natural, em 1217, na Boémia (hoje República Checa). A influência de Pedro Valdo sobre aquelas igrejas foi grande, especialmente com respeito à responsabilidade de evangelizar. Até então elas estavam contentes em ficar apenas na região deles, mas receberam grande impulso para a evangelização quando Pedro Valdo e seus companheiros compartilharam com elas uma nova visão de outros lugares necessitados da palavra da cruz. Em termos de doutrina prática, seguiam a simplicidade que criam ser o padrão do Novo Testamento. 1. Cada igreja local era governada por anciãos. 2. O baptismo de crianças de colo era rejeitado e somente os crentes verdadeiros podiam ser baptizados. 3. Em questões de disciplina, reconhecimento de anciãos, etc., toda a igreja participava juntamente com os anciãos. É lógico que este ponto de vista seria certo somente se os assuntos de disciplina fossem tratados primeiramente pelos anciãos, para que fosse dada orientação bíblica e fosse eliminada a possibilidade de serem as decisões tomadas com base em falsas acusações. 4. Na celebração da Ceia do Senhor o pão era compartilhado por todos, tanto quanto o vinho, ao contrário da prática adoptada pela Igreja Católica. 5. Além dos anciãos nas igrejas locais, existia um grupo de irmãos, que eles chamavam de “apóstolos” (equivalente a “obreiros” nos dias de hoje). Estes irmãos viajavam de igreja em igreja trabalhando no ensino da Palavra. Viviam uma vida de pobreza voluntária por causa do Evangelho. 6. Era dada ênfase à leitura diária da Bíblia e ao culto familiar. Conferências eram promovidas com frequência para ensino da Palavra e estímulo da comunhão entre os irmãos. Significativo é o depoimento de Raisero Sachoni. Ele foi por dezassete anos um dos mais activos pregadores dos "Cátaros" ou "Valdenses". Mais tarde uniu-se à ordem dominicana apostatando da fé. Tornou-se um acérrimo inimigo dos Valdenses, e por isso o Papa fê-lo inquisidor da Lombardia. Por muitos anos, até sua morte, acusou e mandou matar seus exirmãos anabaptistas. Foi um Judas. Sua opinião sobre a origem dos valdenses é como se segue: "Entre todas as seitas não há mais perniciosa à igreja (católica é claro) do que os valdenses. Por três razões: Primeira, porque é a mais antiga, pois alguns dizem que data do tempo de Silvestre, 325 A.D. (Silvestre foi o Papa que junto com Constantino condenou os donatistas, montanistas e novacianos), outros ao tempo dos apóstolos. Segunda, é a mais largamente espalhada, porque dificilmente haverá um país onde não existam. Terceira, porque, se outras seitas horrorizam aos que a ouvem, os valdenses, pelo contrário, possuem uma grande aparência de piedade. Como matéria de facto, eles levam vidas irrepreensíveis perante os homens e no que respeita a sua fé, aos artigos do seu credo, são Ortodoxos. Sua única falta é que blasfemam contra a igreja e o seu credo". O testemunho desse apóstata é muito importante. Não é fácil para um legado Católico dizer que "datam do tempo de Silvestre ou dos apóstolos". Outro escritor, dessa vez um francês, Michelet, diz na Historie de France, II, pg 402, Paris 1833: "Os valdenses criam numa 241


continuidade secreta através da Idade Média, igual a da Igreja Católica". E Neander adiciona na History of the Christian, pg 605, Vol. IV, 1859: "Não é sem fundamento a afirmação dos valdenses deste período (1100 em diante), a respeito da antiguidade de sua seita, e que tinha havido, desde o tempo da secularização da igreja, a mesma oposição (a igreja Romana) que eles sustentavam". Os historiadores que se tem especializado na história dos valdenses sustentam a ideia de que as doutrinas dos valdenses não se originaram com Pedro Valdo. Diz Faber, The Waldenses and Albigenses: "A evidência que acabo de produzir, prova, não somente que os valdenses e albigenses existiram antes de Pedro de Lião; mas também, que no tempo do aparecimento dele nos fins do século doze, havia duas comunhões de grande antiguidade (O autor refere-se aos albingenses e valdenses ao dizer que existias duas comunhões). Segue-se, portanto, que mesmo nos séculos doze e treze, as igrejas valdenses eram tão antigas, que a sua origem remota foi atribuída, mesmo pelos seus inimigos inquisitoriais, ao tempo além da memória do homem. Os romanistas mais bem informados do período, não ousaram fixar a data da sua origem. Eram incapazes de fixar a data exacta dessas veneráveis igrejas. Tudo que se sabe é que eles tinham florescido ao longo do tempo, e que eram muito mais antigos do que qualquer seita moderna". Portanto, a se alguém quer saber a origem dos valdenses saiba que, apesar de receberem esse apelido somente a partir de 1100, já eram conhecidos como albigenses, paulicianos, donatistas, novacianos e montanistas. Tinham de diferente apenas o apelido, mas eram todos de uma mesma comunhão. Também todos, sem excepção, foram chamados de "anabaptistas". O facto de aparecer paralelamente no mesmo período albigenses e valdenses, não quer dizer que os valdenses não seja uma continuação dos albigenses. Quer dizer que durante um período de mais ou menos meia década, enquanto o apelido albigense caía em desuso, crescia o nome valdense. É o que chamo de período de transição. O estudante notará que a mesma coisa aconteceu no século XVI. Neste período, enquanto caía o apelido anabaptista, surgia o apelido baptista. A doutrina dos valdenses Suas doutrinas eram idênticas a dos primitivos anabaptistas. Há dois documentos datados de cerca do ano 1260 A.D. escritos por Católicos que descrevem os valdenses: Um deles diz: "os valdenses vestiam com relativa simplicidade, comiam e bebiam moderadamente, sempre laboriosos estudiosos, havendo entre eles muitos homens e mulheres que sabiam de cor todo o novo testamento". O outro documento é o tratado de David de Augsburgo, escrito sobre os "pobres de Lião" ou valdenses, e impregnado de ódio e antipatia. Este documento diz que os valdenses proclamavam-se "discípulos de Cristo e sucessores dos apóstolos" e quando eram excomungados, regozijavam-se com o facto de terem de sofrer perseguição como outrora os apóstolos, "nas mãos dos escribas e fariseus". O documento informa que eles rejeitavam os milagres eclesiásticos e os festivais, ordens, bênçãos, etc., dizendo que essas coisas foram introduzidas pelo clero cobiçoso; batizavam os que abraçavam seus princípios, dizendo alguns deles que o batismo de crianças não vale nada, pois elas são incapazes de crer. Não criam que o sangue e o corpo de Cristo estão na eucaristia, limitando-se a abençoar o elemento como um símbolo. Celebravam a ceia, recitando palavras do evangelho; negavam o purgatório, o concubinato, o sacerdotalismo, o legalismo, etc. A Perseguição dos Valdenses Porém, a paz no vale dos Valdenses foi interrompida em 1380 pelo Papa Clemente VII. Este enviou um monge inquisidor para tratar com os “hereges”. Nos treze anos seguintes mais de 242


230 pessoas morreram queimadas vivas. De 1400 em diante a perseguição aumentou, obrigando muitos a fugir para as montanhas onde morreram de frio e fome, especialmente mulheres e crianças. Esta perseguição estendeu-se por mais de cem anos. Assim como os albigenses os valdenses foram tenazmente perseguidos pela Igreja Católica. A Inquisição matou, queimou, afogou, esfolou, torturou e fez muito mais para destruir os valdenses. Só para o estudante ter uma ideia, o Papa João XXII (1316-1334), tendo um rendimento farto e regular dos impostos criados por ele mesmo, gastava 63% do tesouro papal para financiar a guerra contra os anabaptistas e os muçulmanos. (O Papado na Idade Média, pg 140 e 143). O papado obrigou o povo a pagar impostos com o intuito de financiar guerras visando o extermínio dos anabaptistas. Em todos os países era passada a chamada "rota romana" com os ad doc - que significa "a isto" - pressionando e atormentando o povo a pagar o tributo para o Papa. No final do século XV os valdenses ainda estavam de pé. Suas forças estavam nos vales dos Alpes. Tinham uma escola prática em Milão e de ramificações em zonas distantes como a Calária e a Apúlia. Possuidores de um noviciado e de seminários independentes, os valdenses punham em campo uma grande quantidade de missionários itinerantes, os quais, conheciam de cor longas passagens dos evangelhos e das epístolas. Infelizmente muitos se ligaram com os hussitas na Boêmia e com os Lolardos na Inglaterra. Isso degradou em muito a pureza de muitas igrejas valdenses, pois estas igrejas, assim como as Protestantes, pregavam uma fé que podia-se pegar em armas para defender direitos. No século XVI a euforia da reforma também varreu uma grande parte dos valdenses. Acredito que isso destruiu o grupo como denominação. Alguns se aliaram com os luteranos na Alemanha, outros a Zuinglio na Suiça, e uma grande parcela com Calvino. Os fiéis, que não se misturaram, continuaram anaBaptistas puros. Até hoje existe algumas igrejas com o nome denominacional "valdense". Picardos, ou Irmãos Valdenses, não celebravam festividades à Virgem e aos Apóstolos. Alguns guardavam o Domingo. Outros, entretanto, só observavam o Sábado, como os judeus.

Metempsicose Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Metempsicose (do grego: meta: mudança + en: em + psiquê: alma) é o termo genérico para transmigração da alma, de um corpo para outro, seja este do mesmo tipo de ser vivo ou não. É usualmente denominada de metacomorfose. Essa crença não se restringe à reencarnação humana, mas abrange a possibilidade da alma humana encarnar em animais ou vegetais. Era uma crença amplamente difundida na Pré-história e na Antiguidade, sendo encontrada entre os egípcios, gregos, romanos, chineses, etc, mas não na Índia. Entre os budistas tibetanos essa migração é possível, embora muito rara (os budistas descrevem várias formas de reencarnação, sob vários contextos diferentes). Os esquimós e outros povos actuais considerados "primitivos" mantém a mesma convicção. É considerada entre os espiritualistas em geral uma involução. O termo é encontrado em Pitágoras e Platão. Acredita-se que Pitágoras aprendeu seu significado com os egípcios, que por sua vez aprenderam com os indianos. A problemática desse raciocínio é a divergência entre as crenças. Platão e os indianos não acreditavam na metempsicose. Utilizavam o termo na ausência de outro como sinónimo de reencarnação. Já os Egípcios, estes sim, acreditavam na metempsicose (como ela é descrita aqui). Dessa maneira, sendo o termo grego, há polémica quanto ao seu significado.

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Metempsicose (visão Espírita kardecista) Doutrina filosófica de origem indiana, transportada para o Egipto, de onde mais tarde Pitágoras a importou para a Grécia. Os discípulos desse filósofo ensinavam ser possível uma mesma alma, depois de uma período mais ou menos longo no império dos mortos, voltar a animar outros corpos de homens ou de animais, até que transcorra o tempo de sua purificação e possa retornar à fonte da vida. Como se constata, há uma diferença capital entre a metempsicose e a doutrina da reencarnação: em primeiro lugar, a metempsicose admite a transmigração da alma para o corpo de animais, o que seria uma degradação; em segundo lugar, esta transmigração não se opera senão na Terra. Na doutrina Espírita, os Espíritos leccionam o contrário. A reencarnação é um progresso constante e que o homem é um ser cuja alma nada tem de comum com a dos animais; assim a reencarnação só se verifica no corpo humano, começando progressivamente a partir do momento em que há fecundação de um óvulo humano e se inicia assim uma nova vida humana. As diferentes existências podem realizar-se, quer na Terra, quer, por uma lei progressiva, em mundos de ordem superior, até que se torne Espírito purificado.

A Santa Inquisição (Outra fonte) Tribunal da Igreja Católica instituído no século XIII para perseguir, julgar e punir os acusados de heresia. A Santa Inquisição foi fundada pelo Papa Gregório IX (1148-1241) em sua bula Excommunicamus, publicada em 1231. Heresias são doutrinas ou práticas contrárias ao que é definido como matéria de fé. Na época inicial da Igreja elas eram punidas com a excomunhão. Quando no século IV o Cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano, os heréticos passam a ser perseguidos como inimigos do estado. Na Europa , entre o século XI e XV, as heresias são geradas principalmente pelo desenvolvimento cultural, acompanhado de prosperidade econômica e crescimento urbano. As reflexões filosóficas e teológicas da época produzem conhecimento que contradizem a concepção de mundo defendida até então pelo poder eclesiástico. Além disso, surgem movimentos Cristãos, como os cátaros em Albi, e os valdenses em Lyon, no sul da França, que pregam a volta do Cristianismo às origens, defendendo a necessidade de a Igreja abandonar suas riquezas. Em resposta a essas heresias, milhares de albigenses são liquidados por exércitos papais, entre os anos de 1208 e 1229. A Inquisição é criada dois anos depois. A responsabilidade pela ortodoxia da religião passa dos bispos aos inquisidores, sob a directa jurisdição do Papa, e são estabelecidas punições severas. As penas podem variar, desde a obrigação de fazer uma abjuração pública ou uma peregrinação a um santuário até o confisco dos bens e a prisão em cadeia. A pena mais severa é a prisão perpétua, mas as autoridades civis automaticamente a converte em execução pública na fogueira ou na forca. Os heréticos não podem recorrer ao direito de asilo, e em geral, duas testemunhas constituem suficiente prova de culpa. Em 1252, o Papa Inocêncio IV sanciona o uso da tortura como método de obtenção da confissão de suspeitos. As condenações dos culpados são lidas numa cerimônia pública no fim dos processos. É o chamado auto-de-fé. Nos séculos XIV e XV, os tribunais da Inquisição diminuem sua atividade e são recriados sob a forma de uma Congregação da Inquisição contra os movimentos da Reforma Protestante e contra as "heresias" filosóficas e científicas saídas do Renascimento. Vítimas notórias da fogueira da Inquisição são a heroína francesa Joana D'Arc (1412-1431), executada por declarar-se mensageira de Deus e usar roupas masculinas, e o 244


italiano Giordano Bruno (1548?-1600), considerado o pai da Filosofia moderna, condenado por concepções intelectuais consideradas contrárias às aceitas pela Igreja. Uma forma ainda mais violenta da Inquisição surge em 1478, na Espanha, a pedido dos reis Católicos Fernando e Isabel, contra os judeus e muçulmanos, que são convertidos pela força ao catolicismo. As Perseguições Embora a Inquisição tenha alcançado seu apogeu no século XIII, suas origens remontam ao século IV: - no século X muitos casos de execuções de hereges, na fogueira ou por estrangulamento; - em 1198 o Papa Inocêncio III liderou uma cruzada contra os "ALBIGENSES" (hereges do sul da França), com execuções em massa; - em 1229, no Concílio de Tolouse, foi oficialmente criada a Inquisição ou Tribunal do Santo Ofício, sob a liderança do Papa Gregório IX; - em 1252, o Papa Inocêncio IV publicou o documento intitulado "AD EXSTIRPANDA", em que vociferou: "os hereges devem ser esmagados como serpentes venenosas". Este documento foi fundamental na execução do diabólico plano de exterminar os hereges. As autoridades civis, sob a ameaça de excomunhão no caso de recusa, eram ordenadas a queimar os hereges. O "AD EXSTIRPANDA" foi renovado ou reforçado por vários papas, nos anos seguintes: Alexandre IV (1254-1261); Clemente IV (1265-1268), Nicolau IV (1288-1292); Bonifácio VIII (1294-1303) e outros. Inocêncio IV autorizou o uso da tortura. “Sagrada Congregação da Romana e Universal Inquisição” hoje “Congregação para a Doutrina da Fé”, actuo nesses casos impugnando o pensamento tanto filosófico, científico ou religioso que maculem a doutrina cristâ, por eles interpretada. A Sagrada Inquisição criada por Paulo III em 1542, sob influencia do cardeal Gian Pietro Carafa, que logo se convertera em Paulo IV, foi renomeada por São Pio X em 1908 como “Sagrada Congregação do Santo Oficio” e a que Paulo VI deu seu actual nome, Congregação para a Doutrina da Fé em 1965. Era presidida desde 1981 pelo cardeal Joseph Ratzinger até no último conclave em que este fora eleito Papa o actual Bento XVI, que nomeou para presidir a Congregação ao arcebispo norte-americano William Joseph Levada elevado ao cargo de cardeal , Mons. Levada é membro da Congregação desde 1976. Ela não terminou nem desapareceu, ela se foi transformando de acordo com o avanço do conhecimento da civilização,e com a consequente perda de poder e territorios da Igreja Católica como estado europeo, ainda tem grande influença nas decições do Vaticano, rejeitando as ideias de aggiornamento filosófico-religioso, coma Teoría da Libertação de Leonardo Boff, condenado a um "silêncio obsequioso" por um ano em 1981 sendo proibido de se manifestar publicamente. Em 1992, ao ser condenado novamente, o teólogo resolveu deixar a Ordem dos Frades Menores (os franciscanos). O Concilio Vaticano II, convocado por João XXII em 1962 e acabado em 1965 sob o papado de Paulo VI, reformou fundamentalmente a liturgia, (apresentando novas formas de evangelizar) tornando-a como hoje a conhecemos, e que o actual Papa (Bento XVI) quer reinterpretar voltando a celebrar a missa em latim de costas ao público e com cantos gregorianos. A aplicação de algumas das conclusões do Concilio Vaticano II, trouxe em seu momento um ar de renovaçao, que não foi aproveitado e hoje vem a Igreja Católica vivendo tensões internas muito fortes e a tendência do Vaticano é cada vez mais se interessar em ter uma igreja forte e não um mundo melhor. Será que a Santa Inquisição terminou? Não, o nome dela é Congregação para a Doutrina da Fé. 245


Fonte(s): http://www.miniweb.com.br/historia/artig...

A Inquisição (visão católica por D. Estêvão Bettencourt) Dom Estêvão Bettencourt (Rio de Janeiro, 16 de Setembro de 1919 - 14 de Abril de 2008) foi um teólogo brasileiro. Foi monge da Ordem dos Beneditinos do Mosteiro de São Bento, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Foi considerado um dos mais destacados intelectuais Católicos do Brasil

Nota: Como era de esperar, a visão Católica suaviza os crimes da Inquisição Católica e salienta os crimes da Inquisição Protestante. Porém este artigo Católico acrescenta alguns detalhes históricos que não se encontram na visão independente dos artigos anteriores. O mais importante, contudo, é retermos que, ambas as Inquisições (os seus responsáveis e executores) se esqueceram do Mandamento transmitido a Moisés “Não matarás”. A Inquisição não foi criada de uma só vez, nem procedeu do mesmo modo no decorrer dos séculos. Por isto distinguem-se: 1) A lnquisição Medieval, voltada contra as heresias cátara e valdense nos séculos XII/XIII e contra falsos misticismos nos séculos XIV/XV. 2) A lnquisição Espanhola, instituída em 1478 por iniciativa dos reis Fernando e Isabel; visando principalmente aos judeus e muçulmanos, tornou-se poderoso instrumento do absolutismo dos monarcas espanhóis até o século XIX, a ponto de quase não poder ser considerada instituição eclesiástica (não raro a lnquisição Espanhola procedeu independentemente de Roma, resistindo à intervenção da Santa Sé, porque o rei de Espanha a esta se opunha). 3) A lnquisição Romana (também dita “o Santo Ofício”), instituída em 1542 pelo Papa Paulo III, em vista do surto do protestantismo. Apesar das modalidades próprias, a Inquisição medieval e a romana foram movidas por princípios e mentalidade características. Passamos a examinar essa mentalidade e os procedimentos de tal instituição, principalmente como nos são transmitidos por documentos medievais. Antecedentes da Inquisição Contra os hereges a Igreja antiga aplicava penas espirituais, principalmente a excomunhão; não pensava em usar a força bruta. Quando, porém, o lmperador romano se tornou Cristão, a situação dos hereges mudou. Sendo o Cristianismo religião de Estado, os Césares quiseram continuar a exercer para com este os direitos dos lmperadores romanos (Pontífices maximi) em relação à religião pagã; quando Arianos, perseguiam os Católicos; quando Católicos, perseguiam os hereges. A heresia era tida como um crime civil, e todo atentado contra a religião oficial como atentado contra a sociedade; não se deveria ser mais clemente para com um crime cometido contra a Majestade Divina do que para com os crimes de lesa majestade humana. As penas aplicadas, do século IV em diante, eram geralmente a proibição de fazer testamento, a confiscação dos bens, o exílio. A pena de morte foi infligida pelo poder civil aos maniqueus e aos donatistas; aliás, já Diocleciano em 300 parece ter decretado a pena de morte pelo fogo para os maniqueus, que eram contrários à matéria e aos bens materiais. Agostinho, de início, rejeitava qualquer pena temporal para os hereges. Vendo, porém, os danos causados pelos donatistas (circumcelliones), propugnava os açoites e o exílio, não a 246


tortura nem a pena de morte. Já que o Estado pune o adultério, argumentava, deve punir também a heresia, pois não é pecado mais leve a alma não conservar fidelidade (fides, fé) a Deus do que a mulher trair o marido (epist. 185, n21, a Bonifácio). Afirmava, porém, que os infiéis não devem ser obrigados a abraçar a fé, mas os hereges devem ser punidos e obrigados ao menos a ouvir a verdade. As sentenças dos Padres da lgreja sobre a pena de morte dos hereges variavam. São João Crisóstomo (†407), bispo de Constantinopla, baseando-se na parábola do joio e do trigo, considerava a execução de um herege como culpa gravíssima; não excluía, porém, medidas repressivas. A execução de Prisciliano, prescrita por Máximo lmperador em Tréviris (385), foi geralmente condenada pelos porta-vozes da lgreja, principalmente por S. Martinho e S. Ambrósio. Das penas infligidas pelo Estado aos hereges não constava a prisão; esta parece ter tido origem nos mosteiros, donde foi transferida para a vida civil. Os reis merovíngios e carolíngios castigavam crimes eclesiásticos com penas civis assim como aplicavam penas eclesiásticas a crimes civis. Chegamos assim ao fim do primeiro milénio. A Inquisição teria origem pouco depois. As origens da lnquisição No antigo Direito Romano, o juiz não empreendia a procura dos criminosos; só procedia ao julgamento depois que Ihe fosse apresentada a denúncia. Até a Alta ldade Média, o mesmo se deu na Igreja; a autoridade eclesiástica não procedia contra os delitos se estes não Ihe fossem previamente apresentados. No decorrer dos tempos, porém, esta praxe mostrou-se insuficiente. Além disto, no séc. XI apareceu na Europa nova forma de delito religioso, isto é, uma heresia fanática e revolucionária, como não houvera até então: o catarismo (do grego katharós, puro) ou o movimento dos albigenses (de Albi, cidade da França meridional, onde os hereges tinham seu foco principal). Considerando a matéria por si os cátaros rejeitavam não somente a face visível da lgreja, mas também instituições básicas da vida civil, o matrimónio, a autoridade governamental, o serviço militar e enalteciam o suicídio. Desta arte constituíam grave ameaça não somente para a fé Cristã, mas também para a vida pública; ver capítulo 29. Em bandos fanáticos, às vezes apoiados por nobres senhores, os cátaros provocavam tumultos, ataques às igrejas, etc., por todo o decorrer do séc. XI até 1150 aproximadamente, na França, na Alemanha, nos Países Baixos... O povo, com a sua espontaneidade, e a autoridade civil se encarregavam de os reprimir com violência: não raro o poder régio da França, por iniciativa própria e a contra gosto dos bispos, condenou à morte pregadores albigenses, visto que solapavam os fundamentos da ordem constituída. Foi o que se deu, por exemplo, em Orleães (1017), onde o rei Roberto, informado de um surto de heresia na cidade, compareceu pessoalmente, procedeu ao exame dos hereges e os mandou lançar ao fogo; a causa da civilização e da ordem pública se identificava com a fé! Entrementes a autoridade eclesiástica limitava-se a impor penas espirituais (excomunhão, interdito, etc.) aos albigenses, pois até então nenhuma das muitas heresias conhecidas havia sido combatida por violência física; S. Agostinho († 430) e antigos bispos, S. Bernardo († 1154), S. Norberto († 1134) e outros mestres medievais eram contrários ao uso da forma (“Sejam os hereges conquistados não pelas armas, mas pelos argumentos”, admoestava São Bernardo, In Cant, serm. 64). Não são casos isolados os seguintes: em 1144 na cidade de Lião o povo quis punir violentamente um grupo de inovadores que aí se introduzira: o clero, porém, os salvou, desejando a sua conversão, e não a sua morte. Em 1077 um herege professou seus erros diante do bispo de Cambraia; a multidão de populares lançou-se então sobre ele, sem esperar o julgamento, encerrando-o numa cabana, a qual atearam o fogo! Contudo em meados do século XII a aparente indiferença do clero se mostrou insustentável: os magistrados e o povo exigiam colaboração mais directa na repressão do catarismo.

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Muito significativo, por exemplo, é o episódio seguinte: o Papa Alexandre III, em 1162, escreveu ao arcebispo de Reims e ao Conde de Flandria, em cujo território os cátaros provocavam desordens: “Mais vale absolver culpados do que, por excessiva severidade, atacar a vida de inocentes.. A mansidão mais convém aos homens da Igreja do que a dureza.. Não queiras ser justo demais (noli nimium esse iustus)” informado desta admoestação pontifícia, o rei Luís VII de França, irmão do referido arcebispo, enviou ao Papa um documento em que o descontentamento e o respeito se traduziam simultaneamente: “Que vossa prudência dê atenção toda particular a essa peste (a heresia) e a suprima antes que possa crescer. Suplicovos para bem da fé Cristã. Concedei todos os poderes neste Campo ao arcebispo (do Reims), ele destruirá os que assim se insurgem contra Deus, sua justa severidade será louvada por todos aqueles que nesta terra são animados de verdadeira piedade. Se procederdes de outro modo, as queixas não se acalmarão facilmente e desencadeareis contra a Igreja Romana as violentas recriminações da opinião pública” (Martene,, Amplissima Collectio II 638s). As consequências deste intercâmbio epistolar não se fizeram esperar muito: o concílio regional de Tours em 1163, tomando medidas repressivas à heresia, mandava inquirir (procurar) os seus agrupamentos secretos. Por fim, a assembleia de Verona (Itália), à qual compareceram o Papa Lúcio III, o lmperador Frederico Barba roxa, numerosos bispos, prelados e príncipes, baixou em 1184 um decreto de grande importância: o poder eclesiástico e o civil, que até então haviam agido independentemente um do outro (aquele impondo penas espirituais, este recorrendo à força física), deveriam combinar seus esforços em vista de mais eficientes resultados: os hereges seriam doravante não somente punidos, mas também procurados (inquiridos); cada bispo inspeccionaria, por si ou por pessoas de confiança uma ou duas vezes por ano, as paróquias suspeitas; os condes, barões e as demais autoridades civis os deveriam ajudar sob pena de perder seus cargos ou ver o interdito lançado sobre as suas terras; os hereges depreendidos ou abjurariam seus erros ou seriam entregues ao braço secular, que lhes imporia a sanção devida. Assim era instituída a chamada “Inquisição episcopal”, a qual, como mostram os precedentes, atendia a necessidades reais e a clamores exigentes tanto dos monarcas e magistrados civis como do povo Cristão; independentemente da autoridade da lgreja, já estava sendo praticada a repressão física das heresias. No decorrer do tempo, porém, percebeu-se que a inquisição episcopal ainda era insuficiente para deter os inovadores; alguns bispos, principalmente no sul da França, eram tolerantes; além disto, tinham seu raio de acção limitado às respectivas dioceses, o que Ihes vedava uma campanha eficiente. À vista disto, os Papas, já em fins do século XII, começaram a nomear legados especiais, munidos de plenos poderes para proceder contra a heresia onde quer que fosse. Desta arte surgiu a “Inquisição pontifícia “ ou “legatina”, que a princípio ainda funcionava ao lado da episcopal, aos poucos, porém, a tornou desnecessária. A Inquisição papal recebeu seu carácter definitivo e sua organização básica em 1233, quando o Papa Gregório IX confiou aos dominicanos a missão de Inquisidores; havia doravante, para cada nação ou distrito inquisitorial, um lnquisidor Mor, que trabalharia com a assistência de numerosos oficiais subalternos (consultores, jurados, notários ...), em geral independentemente do bispo em cuja diocese estivesse instalado. As normas do procedimento inquisitorial foram sendo sucessivamente ditadas por Bulas pontifícias e decisões de Concílios. Entrementes a autoridade civil continuava a agir, com zelo surpreendente contra os sectários. Chama a atenção, por exemplo, a conduta do Imperador Frederico II, um dos mais perigosos adversários que o Papado teve no séc. XIII. Em 1220 este monarca exigiu de todos os oficiais de seu governo prometessem expulsar de suas terras os hereges reconhecidos pela lgreja; declarou a heresia crime de lesa majestade, sujeito à pena de morte e mandou dar busca aos hereges. Em 1224 publicou decreto mais severo. do que qualquer das leis citadas pelos reis ou Papas anteriores: as autoridades civis da Lombardia deveriam não somente enviar ao fogo quem tivesse sido comprovado herege pelo bispo, mas 248


ainda cortar a língua aos sectários a quem, por razões particulares, se houvesse conservado a vida. É possível que Frederico II visasse a interesses próprios na campanha contra a heresia; os bens confiscados redundariam em proveito da coroa. Não menos típica é a atitude de Henrique II, rei da Inglaterra: tendo entrado em luta contra o arcebispo Tomás Becket, primaz de Cantuária, e o Papa Alexandre III, foi excomungado. Não obstante, mostrou-se um dos mais ardorosos repressores da heresia no seu reino: em 1185, por exemplo, alguns hereges da Flandria tendo-se refugiado na Inglaterra, o monarca mandou prendê-los, marcá-los com ferro vermelho na testa e expô-los, assim desfigurados, ao povo; além disto, proibiu aos seus súbditos lhes dessem asilo ou Ihes prestassem o mínimo serviço. Estes dois episódios, que não são únicos no seu género, bem mostram que o proceder violento contra os hereges, longe de ter sido sempre inspirado pela suprema autoridade da Igreja, foi não raro desencadeado independentemente desta, por poderes que estavam em conflito com a própria lgreja. A inquisição, em toda a sua história, se ressentiu dessa usurpação de direitos ou da demasiada ingerência das autoridades civis em questões que dependem primeiramente do foro eclesiástico. Em síntese, pode-se dizer o seguinte: 1) A Igreja, nos seus onze primeiros séculos, não aplicava penas temporais aos hereges, mas recorria às espirituais (excomunhão, interdito, suspensão ...). Somente no século XII passou a submeter os hereges a punições corporais. E por quê? 2) As heresias que surgiram no século XI (as dos cátaros e valdenses), deixavam de ser problemas de escola ou academia, para ser movimentos sociais anarquistas, que contrariavam a ordem vigente e convulsionavam as massas com incursões e saques. Assim tornavam-se um perigo público. 3) O Cristianismo era património da sociedade, à semelhança da prática e da família hoje. Aparecia como o vínculo necessário entre os cidadãos ou o grande bem dos povos; por conseguinte, as heresias, especialmente as turbulentas, eram tidas como crimes sociais de excepcional gravidade. 4) Não é, pois, de estranhar que as duas autoridades ´ a civil e a eclesiástica tenham finalmente entrado em acordo para aplicar aos hereges as penas reservadas pela legislação da época aos grandes delitos. 5) A lgreja foi levada a isto, deixando sua antiga posição, pela insistência que sobre ela exerceram não somente monarcas hostis, como Henrique II da Inglaterra e Frederico Barba roxa da Alemanha, mas também reis piedosos e fiéis ao Papa, como Luís VII da França. 6) De resto, a Inquisição foi praticada pela autoridade civil mesmo antes de estar regulamentada por disposições eclesiásticas. Muitas vezes o poder civil se sobrepôs ao eclesiástico na procura de seus adversários políticos. 7) Segundo as categorias da época, a Inquisição era um progresso para melhor em relação ao antigo estado de coisas, em que as populações faziam justiça pelas próprias mãos. E de notar que nenhum dos Santos medievais (nem mesmo S. Francisco de Assis, tido como símbolo da mansidão) levantou a voz contra a Inquisição, embora soubessem protestar contra o que Ihes parecia destoante do ideal na lgreja. Procedimentos da Inquisição As tácticas utilizadas pelos Inquisidores são-nos hoje conhecidas, pois ainda se conservaram Manuais de instruções práticas entregues ao uso dos referidos oficiais. Quem lê tais textos, 249


verifica que as autoridades visavam a fazer dos juízes inquisitoriais autênticos representantes da justiça e da causa do bem. Bernardo de Gui (séc. XIV), por exemplo, tido como um dos mais severos inquisidores, dava as seguintes normas aos seus colegas: “O Inquisidor deve ser diligente e fervoroso no seu zelo pela verdade religiosa, pela salvação das almas e pela extirpação das heresias. Em meio às dificuldades permanecerá calmo, nunca cederá cólera nem à indignação... Nos casos duvidosos, seja circunspecto, não dê fácil crédito ao que parece provável e muitas vezes não é verdade, também não rejeite obstinadamente a opinião contrária, pois o que parece improvável frequentemente acaba por ser comprovado como verdade... O amor da verdade e a piedade, que devem residir no coração de um juiz, brilhem nos seus olhos, a fim de que suas decisões jamais possam parecer ditadas pela cupidez e a crueldade” (Prática VI p... ed. Douis 232s). Já que mais de uma vez se encontram instruções tais nos arquivos da Inquisição, não se poderia crer que o apregoado ideal do Juiz Inquisidor, ao mesmo tempo equitativo e bom, se realizou com mais frequência do que comummente se pensa? Não se deve esquecer, porém, (como adiante mais explicitamente se dirá) que as categorias pelas quais se afirmava a justiça na ldade Média, não eram exactamente as da época moderna... Além disto, levar-se-á em conta que o papel do juiz, sempre difícil, era particularmente árduo nos casos da Inquisição: o povo e as autoridades civis estavam profundamente interessados no desfecho dos processos; pelo que, não raro exerciam pressão para obter a sentença mais favorável a caprichos ou a interesses temporais; às vezes, a população obcecada aguardava ansiosamente o dia em que o veredictum do juiz entregaria ao braço secular os hereges comprovados. Em tais circunstâncias não era fácil aos juízes manter a serenidade desejável. Dentre as tácticas adoptadas pelos Inquisidores, merecem particular atenção a tortura e a entrega ao poder secular (pena de morte). A tortura estava em uso entre os gregos e romanos pré Cristãos que quisessem obrigar um escravo a confessar seu delito. Certos povos germánicos também a praticavam. Em 866, porém, dirigindo-se aos búlgaros, o Papa Nicolau I a condenou formalmente. Não obstante, a tortura foi de novo adoptada pelos tribunais civis da Idade Média nos inícios do séc. XII, dado o renascimento do Direito Romano. Nos processos inquisitoriais, o Papa Inocêncio IV acabou por introduzi-la em 1252, com a cláusula: “Não haja mutilação de membros nem perigo de morte” para o réu. O Pontífice, permitindo tal praxe, dizia conformar-se aos costumes vigentes em seu tempo (Bullarum amplissima collectio II 326). Os Papas subsequentes, assim como os Manuais dos lnquisidores, procuraram restringir a aplicação da tortura; só seria lícita depois de esgotados os outros recursos para investigar a culpa e apenas nos casos em que já houvesse meia prova do delito ou, como dizia a linguagem técnica, dois “índices veementes” deste, a saber: o depoimento de testemunhas fidedignas, de um lado, e, de outro lado, a má fama, os maus costumes ou tentativas de fuga do réu. O Concílio de Viena (França) em 1311 mandou outrossim que os Inquisidores só recorressem a tortura depois que uma comissão julgadora e o bispo diocesano a houvessem aprovado para cada caso em particular. Apesar de tudo que a tortura apresenta de horroroso, ela tem sido conciliada com a mentalidade do mundo moderno ... ainda estava oficialmente em uso na França do séc. XVIII e tem sido aplicada até mesmo em nossos dias... Quanto à pena de morte, reconhecida pelo antigo Direito Romano, estava em vigor na jurisdição civil da Idade Média. Sabe-se, porém, que as autoridades eclesiásticas eram contrárias à sua aplicação em casos de lesa religião. Contudo, após o surto do catarismo (séc. XII), alguns canonistas começaram a julgá-la oportuna, apelando para o exemplo do Imperador Justiniano, que no séc. VI a infligira aos maniqueus.

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Em 1199 o Papa Inocêncio III dirigia-se aos magistrados de Viterbo nos seguintes termos: “Conforme a lei civil, os réus de lesa majestade são punidos com a pena capital e seus bens são confiscados. Com muito mais razão, portanto, aqueles que, desertando a fé, ofendem a Jesus, o Filho do Senhor Deus, devem ser separados da comunhão Cristã e despojados de seus bens, pois muito mais grave é ofender a Majestade Divina do que lesar a majestade humana” (epist. 2,1). Como se vê, o Sumo Pontífice com essas palavras desejava apenas justificar a excomunhão e a confiscação de bens dos hereges; estabelecia, porém, uma comparação que daria ocasião a nova praxe... O Imperador Frederico II soube deduzir-lhe as últimas consequências: tendo lembrado numa Constituição de 1220 a frase final de Inocêncio III, o monarca, em 1224, decretava francamente para a Lombardia a pena de morte contra os hereges e, já que o Direito antigo assinalava o fogo em tais casos, o Imperador os condenava a ser queimados vivos. Em 1230 o dominicano Guala, tendo subido à cátedra episcopal de Bréscia (Itália), fez aplicação da lei imperial na sua diocese. Por fim, o Papa Gregório IX, que tinha intercâmbio frequente com Guala, adoptou o modo de ver deste bispo: transcreveu em 1230 ou 1231 a constituição imperial de 1224 para o Registo das Cartas Pontifícias e em breve editou uma lei pela qual mandava que os hereges reconhecidos pela Inquisição fossem abandonados ao poder civil, para receber o devido castigo, castigo que, segundo a legislação de Frederico II, seria a morte pelo fogo. Os teólogos e canonistas da época se empenharam por justificar a nova praxe; eis como fazia S. Tomás de Aquino: “É muito mais grave corromper a fé, que é a vida da alma, do que falsificar a moeda que é um meio de prover à vida temporal. Se, pois, os falsificadores de moedas e outros malfeitores são, a bom direito, condenados à morte pelos príncipes seculares, com muito mais razão os hereges, desde que sejam comprovados tais, podem não somente ser excomungados, mas também em toda justiça ser condenados à morte” (Suma Teológica II/II 11,3c) A argumentação do S. Doutor procede do princípio (sem dúvida, autêntico em si) de que a vida da alma mais vale do que a do corpo; se, pois, alguém pela heresia ameaça a vida espiritual do próximo, comete maior mal do que quem assalta a vida corporal; o bem comum então exige a remoção do grave perigo (veja-se também S. Teol. II/II 11,4c). Contudo as execuções capitais não foram tão numerosas quanto se poderia crer. Infelizmente faltam-nos estatísticas completas sobre o assunto; consta, porém, que o tribunal de Pamiers, de 1303 a 1324, pronunciou 75 sentenças condenatórias, das quais apenas cinco mandavam entregar o réu ao poder civil (o que equivalia à morte); o lnquisidor Bernardo de Gui em Tolosa, de 1308 a 1323, proferiu 930 sentenças, das quais 42 eram capitais; no primeiro caso, a proporção é de 1/15; no segundo caso, de 1/22. Não se poderia negar, porém, que houve injustiças e abusos da autoridade por parte dos juízes inquisitoriais. Tais males se devem à conduta de pessoas que, em virtude da fraqueza humana, não foram sempre fiéis cumpridoras da sua missão. Os Inquisidores trabalhavam a distâncias mais ou menos consideráveis de Roma, numa época em que, dada a precariedade de correios e comunicações, não podiam ser assiduamente controlados pela suprema autoridade da lgreja. Esta, porém, não deixava de os censurar devidamente, quando recebia notícia de algum desmando verificado em tal ou tal região. Famoso, por exemplo, é o caso de Roberto o Bugro, lnquisidor Mor de França no século XIII. O Papa Gregório IX a princípio muito o felicitava por seu zelo. Roberto, porém, tendo aderido outrora à heresia, mostrava-se excessivamente violento na repressão da mesma. Informado dos desmandos praticados pelo lnquisidor, o Papa o destituiu de suas funções e mandou encarcerar. Inocêncio IV, o mesmo Pontífice que permitiu a tortura nos processos da inquisição, e Alexandre IV, respectivamente em 1246 e 1256, mandaram aos Padres Provinciais e Gerais dos Dominicanos e Franciscanos, depusessem os lnquisidores de sua 251


Ordem que se lhes tornassem notórios por sua crueldade. O Papa Bonifácio VIII (1294´1303), famoso pela tenacidade e intransigência de suas atitudes, foi um dos que mais reprimiram os excessos dos lnquisidores, mandando examinar, ou simplesmente anulando, sentenças proferidas por estes. O Concílio regional de Narbona (França) em 1243 promulgou 29 artigos que visavam a impedir abusos do poder. Entre outras normas, prescrevia aos lnquisidores só proferissem sentença condenatória nos casos em que, com segurança, tivessem apurado alguma falta, “pois mais vale deixar um culpado impune do que condenar um inocente” (canon 23). Dirigindo-se ao Imperador Frederico II, pioneiro dos métodos inquisitoriais, o Papa Gregório IX aos 15 de Julho de 1233 lhe lembrava que “a arma manejada pelo imperador Não devia servir para satisfazer aos seus rancores pessoais, com grande escândalo das populações, com detrimento da verdade e da dignidade imperial”. Procuremos agora formular um juízo sobre a lnquisição medieval. Não é necessário ao Católico justificar tudo que, em nome desta, foi feito. É preciso, porém, que se entendam as intenções e a mentalidade que moveram a autoridade eclesiástica a instituir a Inquisição. Estas intenções, dentro do quadro de pensamento da Idade Média, eram legítimas, diríamos até: deviam parecer aos medievais inspiradas por santo zelo. Podem-se reduzir a quatro os factores que influíram decisivamente no surto e no andamento da Inquisição: 1) os medievais tinham profunda consciência do valor da alma e dos bens espirituais. Tão grande era o amor à fé (esteio da vida espiritual) que se considerava a deturpação da fé pela heresia como um dos maiores crimes que o homem pudesse cometer (notem-se os textos de S. Tomás e do Imperador Frederico II atrás citados); essa fé era tão viva e espontânea que dificilmente se admitiria viesse alguém a negar com boas intenções um só dos artigos do Credo. 2) As categorias de justiça na Idade Média eram um tanto diferentes das nossas: havia muito mais espontaneidade (que às vezes equivalia a rudeza) na defesa dos direitos. Pode-se dizer que os medievais, no caso, seguiam mais o rigor da lógica do que a ternura do sentimentos; o raciocínio abstracto e rígido neles prevalecia por vezes sobre o senso psicológico (nos tempos actuais verifica-se quase o contrário: muito se apela para a psicologia e o sentimento, pouco se segue a lógica; os homens modernos não acreditam muito em princípios perenes; tendem a tudo julgar segundo critérios relativos e relativistas, critérios de moda e de preferência subjectiva). 3) A intervenção do poder secular exerceu profunda influência no desenvolvimento da inquisição. As autoridades civis anteciparam-se na aplicação da forma física e da pena de morte aos hereges; instigaram a autoridade eclesiástica para que agisse energicamente; provocaram certos abusos motivados pela cobiça de vantagens políticas ou materiais. De resto, o poder espiritual e o temporal na Idade Média estavam, ao menos em tese, tão unidos entre si que lhes parecia normal, recorressem um ao outro em tudo que dissesse respeito ao bem comum. A partir dos inícios do séc. XIV a lnquisição foi sendo mais explorada pelos monarcas, que dela se serviam para promover seus interesses particulares, subtraindo-a às directivas do poder eclesiástico, até mesmo encaminhando-a contra este; é o que aparece claramente no processo inquisitório dos Templários, movido por Filipe o Belo da França (12851314) à revelia do Papa Clemente V. 4) Não se negará a fraqueza humana de Inquisidores e de oficiais seus colaboradores. Não seria Iícito, porém, dizer que a suprema autoridade da Igreja tenha pactuado com esses factos de fraqueza; ao contrário, tem-se o testemunho de numerosos protestos enviados pelos Papas e Concílios a tais ou tais oficiais, contra tais leis e tais atitudes inquisitoriais. As declarações oficiais da Igreja concernentes à Inquisição se enquadram bem dentro das categorias da justiça medieval; a injustiça se verificou na execução concreta das leis.

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Diz-se, de resto, que cada época da história apresenta ao observador um enigma próprio na antiguidade remota, o que surpreende são os desumanos procedimentos de guerra. No lmpério Romano, é a mentalidade dos cidadãos, que não conheciam o mundo sem o seu lmpério (oikouméne ´ orbe habitado ´ lmperium), nem concebiam o Império sem a escravatura. Na época contemporânea, é o relativismo ou cepticismo público; é a utilização dos requintes da técnica para “lavar o crânio”, desfazer a personalidade, fomentar o ódio e a paixão. Não seria então possível que os medievais, com boa fé na consciência, tenham recorrido a medidas repressivas do mal que o homem moderno, com razão, julga demasiado violentas? Quanto a Inquisição Romana, instituída no séc. XVI, era herdeira das leis e da mentalidade da lnquisição medieval. No tocante à Inquisição Espanhola, sabe-se que agiu mais por influência dos monarcas da Espanha do que sob a responsabilidade da suprema autoridade da Igreja.

A Inquisição Protestante (visão católica) Alemanha: Na época era dividida em Principados. Como havia muito conflito entre eles, chegaram no acordo que cada Príncipe escolhesse para os seus súbditos a religião que mais lhe conviesse. Princípio administrativo do "cujus regio illius religio". Os príncipes não se fizeram rogar. Além da administração mundana, passaram também a formular e inventar doutrinas. A opressão sangrenta ao catolicismo pela força armada foi a consequência de semelhante princípio. Cada vez que se trocava um soberano o povo era avisado que também se trocavam as "doutrinas evangélicas" (Confessio Helvetica posterior ( 1562 ) artigo XXX ). Relata o famoso historiador Pfanneri: "uma cidade do Palatinado desde a Reforma, já tinha mudado 10 vezes de religião, conforme seus governantes eram calvinistas ou luteranos". Holanda: Aqui foram as câmaras dos Estados Gerais a proibir o catolicismo. Com afã miserável tomaram posse dos bens da Igreja. Martirizaram inúmeros sacerdotes, religiosos e leigos. Fecharam igrejas e mosteiros. A fama e a marca destes fanáticos chegou até ao Brasil. Em 1645 nos municípios de Canguaretama e São Gonçalo do Amarante ambos no actual Rio Grande do Norte cerca de 100 Católicos foram mortos entre dois padres, mulheres, velhos e crianças simplesmente porque não queriam se "batizar" na religião dos invasores holandeses. Foram beatificados como mártires este ano. Em 1570 foram enviados para o Brasil para evangelizar os índios o Pe Inácio de Azevedo e mais 40 jesuítas. Vinham a bordo da nau "S. Tiago" quando em alto mar os interceptou o "piedoso" calvinista Jacques Sourie. Como prova de seu "evangélico" zêlo mandou degolar friamente todos os padres e irmãos e jogar os corpos aos tubarões (Luigi Giovannini e M. Sgarbossa in Il santo del giorno, 4ª ed. E.P, pg 224, 1978). Suiça: O Senado coagido pelo rei aprovou a proibição do catolicismo e proclamou o protestantismo religião oficial. A mesma maldade e vileza ocorreram. Os mártires foram inumeráveis. ( J. B. Galiffe. Notices génealogiques, etc., tomo III. Pgna 403 )

Suécia: Gustavo Wasa suprimiu por lei o Catolicismo. Jacopson e Knut, os dois mais heróicos bispos Católicos foram decapitados. Os outros obrigados a fugir junto com padres, diáconos e 253


religiosos. Os seminários foram fechados, igrejas e mosteiros reduzidos a pó. O povo indignado com tamanha prepotência pegou em armas para defender a religião de seus antepassados. Os Exércitos do "evangélico" rei afogaram em sangue estas reivindicações. (A Reforma Protestante, Página 203, 7ª edição, em IRC. 1958 ) Dinamarca: O protestantismo foi introduzido por obra e graça de Cristiano II, por suas crueldades apelidado de " o Nero do Norte". Encarcerou bispos, confiscou bens, expulsou religiosos e proclamou-se chefe absoluto da Igreja Evangélica Dinamarquesa. Em 1569 publicou os 25 artigos que todos os cidadãos e estrangeiros eram obrigados a assinar aderindo à doutrina luterana. Ainda em 1789 se decretava pena de morte ao sacerdote Católico que ousasse por os pés em solo dinamarquês. ( Origem e Progresso da Reforma, página 204, Editora Agir, 1923, em IRC )

Escócia: O poder civil aboliu por lei o catolicismo e obrigou todos a aderir à igreja "calvinista presbiteriana". Os padres permaneceram, mas tinham de escolher outra profissão. Quem era encontrado celebrando missa era condenado à morte. Católicos recalcitrantes foram perseguidos e mortos, igrejas e mosteiros arrasados, livros Católicos queimados. Tribunais religiosos (inquisições) foram criados para condenar os Católicos clandestinos. Irlanda: Os camponeses da Irlanda pegaram em armas para defender o catolicismo. Foram trucidados impiedosamente pelos exércitos de Cromwell. Ao fim da guerra, as melhores terras irlandesas foram entregues aos ingleses Protestantes e os Católicos forçados à migrar para o sul do continente. Cerca de 1.000.000 de pessoas morreram de fome no primeiro ano do forçado exílio. Esta guerra criou uma rivalidade entre ingleses Protestantes e irlandeses Católicos que dura até hoje, e volta e meia aparecem nos noticiários. Inglaterra: A "reforma protestante" se expandiu rapidamente porque foi imposta de cima para baixo sem exceção em todos os países em que logrou vingar. O povo foi obrigado a "engolir" as novas doutrinas porque os reis e príncipes cobiçavam as terras e bens materiais da Igreja Católica. Infelizmente nesta época a Igreja era rica de bens materiais e pobre de bens espirituais. Foi com os olhos postos nesta riqueza mundana que os soberanos "escolheram" para si e para seu povo as doutrinas dos novos evangelistas, esquecidos de que todo ouro, terra ou prata se enferruja e fenece conforme ensina a escritura: "O vosso ouro e a vossa prata estão enferrujados e a sua ferrugem testemunhará contra vós e devorará as vossas carnes" .

Prova isto o facto de que as primeiras providências eram recolher ao fisco real tudo o que da Igreja Católica poderia se converter em dinheiro. Inglaterra: foi "convertida" na marra porque o rei Henrique VIII queria se divorciar de Ana Bolena. Como a Igreja não consentiu, ele fundou a "sua" igreja obrigando o parlamento a aprovar o "acto de supremacia do rei sobre os assuntos religiosos". 254


Padres e bispos foram presos e decapitados, igrejas e mosteiros arrasados, Católicos aos milhares foram mortos. Qualquer aproveitador era alçado ao posto de bispo ou pastor. Tribunais religiosos (inquisições) foram montados em todo o país. Fonte: www.veritatis.com.br

A Infância Negra do Protestantismo (visão católica) Como se Expandiu a "REFORMA" no Século XVI E XVII? Vamos recordar o caso "clássico" de Henrique VIII, rei da Inglaterra: Henrique VIII, casado com Catarina de Aragão (filha do rei da Espanha) apaixona-se por Ana Bolena e pede ao Papa para "anular " seu casamento. Evidentemente o Papa Clemente VII não consentiu. Então ele decretou que o Papa não teria autoridade sobre a Inglaterra, e ai começou a “Igreja Anglicana”, cujo chefe supremo era o próprio rei. Em 1536 o rei manda matar Ana Bolena, acusando-a de adultério e casou-se com Jane Seymor; depois da morte desta, desposou Ana Cléves, com a qual ficou pouco tempo. Divorciando-se desta, uniu-se a uma jovem de 17 anos, Catarina Howard, que também foi considerada leviana e condenada à morte; Já com 50 anos o rei tomou Catarina Parr, como a 6ª ”esposa”, com a qual conviveu até sua morte 6 anos depois, em 1547. Aí se vê como o diabo cria uma religião, do jeito que ele gosta: Cheia de adultérios, assassinatos e todo tipo de perversidade !!! A INQUISIÇÃO PROTESTANTE (visão católica) Por d. Estêvão Bettencourt

Pouco se escreve a respeito: A INQUISIÇÃO PROTESTANTE Em síntese: Muito se tem escrito sobre a Inquisição da Igreja Católica, menos, porém, sobre a Inquisição movida por Calvino e os Calvinistas e pela rainha Isabel Tudor na Inglaterra. As páginas seguintes referem algo a respeito. *** É muito comentada a Inquisição dirigida pela Igreja Católica na Idade Média e na época moderna em Espanha e Portugal. - Sem querer negar os erros cometidos, deve-se dizer que muitos falam e escrevem a respeito sem exacto conhecimento de causa, movidos por preconceitos e paixões. Tal é o caso da notícia que vai, a seguir, transcrita (difundida via Internet). “IGREJA CATÓLICA ROMANA, A ORGANIZAÇÃO RELIGIOSA MAIS SANGUINÁRIA E FRAUDULENTA QUE O MUNDO JÁ CONHECEU" Os grandes conhecedores da história asseveram que a Roma papal derramou muito mais sangue que a Roma pagã. Quem quiser é só conferir os actos praticados pela Igreja Católica Romana durante a chamada 'Santa Inquisição'! Iniciada, em 1163 pelo Papa Alexandre III, que no Concílio de Tours, na França, ordenou que o clero procurasse todos os opositores da idolatria romana para processá-los e levá-los a julgamento. Em 1253 o Papa Inocêncio IV, autorizou a prática de todos os tipos de torturas contra os Protestantes opositores aos ensinamentos antibíblicos da 'igreja' católica romana. Inácio de Loiola foi um dos maiores assassinos que o sol já cobriu, mas foi canonizado 'santo' por tais serviços prestados a essa igreja católica romana, que ainda hoje omite a verdade! 255


Pessoas que não concordavam com o grande comércio religioso e fraudulento da igreja católica romana, eram tidas como hereges. O Papa Inocêncio IV convocou sacerdotes, reis e pessoas da sociedade a unirem-se em guerra a essas pessoas. Prometendo remissão de pecados a quem levasse um herege à morte, a autorização papal declarava que as pessoas seriam torturadas e mortas e suas propriedades confiscadas. A igreja católica romana, através dos reis, sacerdotes e autoridades civis e militares, usou os mais cruéis métodos de tortura para assassinarem os que não concordavam com suas mentiras religiosas. Famílias inteiras foram destruídas, filhos sendo assassinados diante dos pais, mulheres sendo estupradas e mortas diante de seus esposos, esposos que passavam dias e dias amarrados sob os piores castigos e depois dilacerados". Abstração feita dos erros de português, este texto, violento como é, sugere algumas ponderações: 1) Afirma coisas graves sem indicar fonte alguma. Carece assim de seriedade e valor científicos. 2) O autor comete flagrante anacronismo ao afirmar que "em 1253 havia Protestantes opositores à Igreja Católica. Na verdade, o protestantismo não existia no século XIII, já que foi fundado no século XVI. 3) A aplicação da tortura e da pena de morte era muito mais rara do que dá a entender o autor da notícia. Este apresenta cenas horrendas ("filhos assassinados diante dos pais, mulheres estupradas e mortas diante de seus esposos..."), cenas que a imaginação preconceituosa concebe, mas que a historiografia científica não abona, como se pode deduzir do Apêndice a este artigo. S. Inácio de Loiola foi em juventude um cavaleiro que se dedicou a exercícios e torneios próprios da arte militar. Passou ao serviço do vice-rei de Navarra: combateu os franceses em defesa do castelo de Pamplona, onde foi ferido nas pernas por uma bala de canhão. Foi portanto um militar militante, mas não um assassino. Quem tem telhado de vidro não joga pedra no telhado do vizinho, diz o adágio popular. O protestantismo, que acusa a Igreja Católica, teve também sua Inquisição, da qual pouco se fala, mas que, a bem da verdade, merece ser conhecida. A respeito será dito algo nas páginas seguintes não pelo falso prazer de narrar desgraças, mas para mostrar que a Inquisição foi praticada também por aqueles que a lançam no rosto à Igreja Católica. João Calvino (1509-1564) - Em Genebra: Nasceu João Calvino em Noyon (França). Fez seus estudos humanísticos e jurídicos em Paris, onde teve contacto com elementos Protestantes. Em 1533 adoptou o protestantismo numa "conversão repentina", como ele mesmo a designa. Visto que o governo francês perseguia os Protestantes, Calvino emigrou para Basileia (Suíça) em 1534. Passando certa vez por Genebra, foi convidado por Farei para aí ficar. Calvino aceitou o convite e recebeu o encargo de pregar e implantar em sua nova sede a doutrina protestante - missão esta que ele assumiu com grande energia, impondo severa disciplina a todos os cidadãos. Teve que enfrentar a resistência de vários opositores, mas firmemente venceu-os e governou Genebra. O principal órgão administrativo de Calvino era o Consistório, composto por pregadores e anciãos, aos quais competia vigiar pela pureza da fé, inquirir os suspeitos de defeção e julgálos. As consequências da actividade de tal instituição vêm assim descritas por BihlmayerTuechle em sua "História da Igreja", vol. 3, pp. 74s: "Com o objectivo de controle, faziam-se várias vezes no ano visitas a domicílio e conforme o caso recorria-se também às denúncias e à espionagem paga. Os transgressores eram colhidos pela admoestação, de-ploração e excomunhão (exclusão da ceia sagrada) e obrigados a fazer 256


penitência pública. Os grandes pecadores, como os sacrílegos, os adúlteros e os adversários obstinados da nova fé, eram entregues ao Conselho da cidade para o castigo. Foram pronunciadas muitas condenações à morte (58, até 1546) e mais ainda ao exílio. A tortura foi usada da forma mais rigorosa. A cidade teve que submeter-se, embora a contragosto, à disciplina férrea de Calvino. Todas as festas religiosas desapareceram, exceto os domingos. O culto foi reduzido à pregação, à oração e ao canto dos salmos; quatro vezes por ano era distribuída à comunidade a sagrada ceia, com pão e vinho ordinário. A vida da sociedade genebrina adquiriu o teor de uma seriedade taciturna; as vestes de luxo, os bailes, o jogo de cartas, o teatro e divertimentos semelhantes eram severamente condenados. Naturalmente a 'teocracia' instaurada por Calvino com tanta habilidade e energia não persistia sem adversários. Os velhos fautores da liberdade (libertins) e a alegre aristocracia genebrina julgaram por demais opressor o jugo religioso; mas ele os reduziu ao silêncio mediante duras punições. Outras dificuldades foram suscitadas contra a sua teologia, mas soube dominá-las todas. O médico Jerónimo Bolsec, monge carmelita apóstata, proveniente de Paris, que ousara sublevar-se contra a doutrina de Calvino sobre a predestinação, foi exilado em 1551; o humanista e médico espanhol, Miguel Servet, que Calvino tinha denunciado antecedentemente à inquisição de Lião, foi queimado vivo em 27 de outubro de 1553, por ter negado o dogma da SS. Trindade1. Em 1555, Calvino havia conquistado a vitória sobre todos os seus inimigos. Nenhum pôde mais abalar-lhe a posição de ditador religioso, e em certo sentido também político, na sua "Roma protestante", onde afluíam os emigrados Protestantes da França, da Itália e da Inglaterra. Então as ordonnances foram atuadas plenamente e ao mesmo tempo aperfeiçoadas". Eis alguns episódios particulares: 1) Ami Perrin Ami Perrin era capitão-geral da cidade de Genebra e genro de Francisco Favre, família importante, alegre e ciosa de sua autonomia naquela sociedade. Por ocasião de um casamento, tal família deu um baile. Sabedor disto, o Consistório abriu um inquérito e convocou dançarinos e dançarinas; estes compareceram perante a autoridade e deram dos factos uma versão falsa, exceto Ami Perrin. Calvino então censurou, com veemência a dança, jurando punir os culpados. Furiosa, gritou-lhe: a mulher de Perrin, Franchequine: "Homem perverso, queres beber o sangue da nossa família, mas sairás de Genebra antes de nós". O litígio agitou a cidade inteira por muito tempo. Enquanto o capitão Perrin tentava apaziguar os ânimos, a sua esposa fazia o contrário, pois continuava a dançar. Chamada a comparecer novamente perante o Consistório, interpelou o ministro Abel Poupin como Gros pouacre (tratamento fortemente injurioso na linguagem da época), em consequência do que foi encarcerada. A opinião pública se abalou contra Calvino. Este, enraivecido, mandou fazer uma perquisição na casa de Jacques Gruet, amigo da família Favre; aí foram encontrados os rascunhos de um cartaz agressivo poucos dias antes afixado na cidade; em seus apontamentos íntimos Gruet escarnecia a Bíblia e o Cristianismo, em vista disto, Gruet foi logo preso, julgado e condenado a ser decapitado, ficando seu corpo exposto ao público aos 26 de julho de 1547. 2) Pierre Ameaux Pierre Ameaux era fabricante de cartas de baralho. O rigor do puri-tanismo calvinista fazia-o perder clientes, pois a população tinha medo de jogar. Proferiu então injúrias públicas contra Calvino - o que lhe valeu ser preso e encarcerado. Aos 8 de abril de 1546 o tribunal pronunciou sobre ele a sentença: deveria dar a volta da cidade vestido de camisola, com a cabeça coberta

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e uma tocha acesa na mão; feito isto, haveria de comparecer perante o tribunal e de joelhos daria graças a Deus e à Justiça, confessando ter falado indevidamente. É de notar que Pierre Ameaux era membro do Conselho Menor e gozava do respeito da população. 3) Os papistas Visando atingir qualquer indivíduo que ferisse a honra de Deus, o Consistório tinha funcionários inspecionando a cidade de Genebra e seus arredores. Cada qual devia semanalmente levar ao tribunal a relação dos feitos que julgasse merecedores de punição: jogo de damas ou similar, refeição mais copiosa do que de costume, consumo de vinho num botequim, faltar às prédicas, ceder às "superstições papistas"... Calvino, sentindo a repulsa da opinião pública, exclamou: "A raiva e a fúria contra mim chegaram a tal ponto que tudo o que digo suscita suspeitas. Ainda que eu afirmasse ser dia claro ao meio-dia, começariam logo a duvidar". São estes alguns traços da Inquisição calvinista em Genebra.

Fora de Genebra Calvinismo 1) Na Suíça Na Suíça o Caivinismo absorveu as ideias e os seguidores do reformador Zvinglio de Zurique. Propagou-se destruindo monumentos artísticos dos Católicos. Dentre os mártires seja citado São Fidelis de Sigmaringen (1577-1622). Este Santo foi advogado e muito trabalhou em favor dos pobres. Fez-se frade capuchinho e foi enviado para a região de Rezia, onde a população se tornara, em grande parte, calvinista. O êxito de sua pregação provocou a hostilidade dos calvinistas; estes, fingindo querer converter-se à fé católica, convidaram-no para pregar em Gruesch. Mal subira ao púlpito da igreja local, quando avistou um cartaz preso à parede com os dizeres: "Esta é a tua última predica". Quando começou a pregar, foi contra ele desferido um tiro, que errou o alvo. Frei Fidelis continuou intrépido e, ao terminar, dirigiu-se para a porta da igreja; ali cercou-o um bando de homens que o trucidaram a golpes de punhal e barras de ferro, chegando a amputar-lhe a perna esquerda. 2) Na Holanda A Alemanha, fiel ao luteranismo, rejeitou o calvinismo, que passou então para a Holada com grande veemência. Escreve um historiador protestante: "Os calvinistas (queux) eram os mais abomináveis piratas de todos os tempos... A sua cupidez era sem igual. Queriam fazer ressoar em toda parte o seu grito de guerra: 'A palavra de Deus segundo Calvino!'Saqueavam igrejas e conventos e infligiam aos Religiosos um trato tal que poucos paralelos se encontram na história dos povos" (Kervin de Lettenhove, Lês Huguenots et lês Gueux, tomo II Bruges, p. 408). As igrejas católicas eram saqueadas e os sagrados valores profanados. Ao ver um monge cartuxo sendo levado ao suplício, perguntou uma mulher: "Que mal fez esse homem?", respondeu o carrasco com furor: "É um monge, um papista". 258


Ao devastarem o mosteiro de Tene Rugge, os invasores encontraram um ancião que não conseguira fugir. Intimaram-no a exclamar: "Vivam os calvinistas!"; tendo-o recusado, foi condenado ao massacre; antes de lhe tirarem a vida, amputaram-lhe as orelhas, sendo uma afixada à porta da cidade, e a outra à porta da igreja. Alguns dias mais tarde, prenderam e mataram o pároco Henrique Bogaart, de Hellevoetsluis, após ter-lhe amputado mãos e pés. Caiu nas mãos dos algozes um sacerdote chamado Vicente, de 85 anos de idade; meteram-lhe na cabeça uma coroa de espinhos, e puseram-lhe no ombro uma cruz confeccionada às pressas, após o quê atrelaram o padre a uma carroça para que a puxasse; tendo assim tratado o ancião, deram-lhe o golpe mortal. Em Brielle foram presos alguns clérigos e leigos; um daqueles - o cónego Bervout Hanszoon recusou ceder alojamento à concubina de um dos carrascos, que era um Católico apóstata; por causa disto mais candente se tornou a sanha dos adversários. Sem processo prévio, foi condenado à morte: atiraram-no num poço cheio de lama, onde permaneceu algumas horas em luta contra a morte, que finalmente prevaleceu. Do mesmo modo foram executados três outros sacerdotes. Em suma, ao invadirem a cidade de Brielle, os calvinistas decapitaram ou queimaram vivos 84 sacerdotes; 19 outros morreram por ocasião da tortura. Não se pode deixar de mencionar, à guisa de complemento, o martírio dos Católicos do Rio Grande do Norte por obra dos índios instigados pêlos calvinistas holandeses em 1645: o primeiro grupo, contando setenta pessoas aproximadamente, foi trucidado na capela da vila de Cunhaú. O segundo grupo em Uruaçu. Por conseguinte não resta dúvida: o Calvinismo usou de violência cruel no trato com seus irmãos "papistas" (fiéis ao Papa).

O Anglicanismo O rei Henrique VIII em 1534 foi declarado pelo Parlamento, mediante o Acto de Supremacia, Chefe da Igreja na Inglaterra. Sob o seu sucessor, Eduardo VI, foram redigidos 42 artigos, que expressavam a fé reformada anglicana. De 1558 a 1603 reinou a rainha Isabel l, que implantou decisivamente o protestantismo de fundo calvinista na Inglaterra, visando à total extinção da Igreja Católica. Sob Isabel l Eis o que se lê na citada obra de Bihlmayer-Tuechle, pp. 270s: «Os 42 artigos de Eduardo VI, reduzidos a 39, foram elevados à categoria de norma confessional (1563) da igreja nacional inglesa; a obrigação de prestar o juramento de supremacia foi estendida a todos os membros da Câmara Baixa, aos mestres e aos procuradores públicos, enfim, a todas as pessoas suspeitas de adesão à antiga religião, às quais, em caso de recusa repetida, era cominada até a pena de morte. Numa primeira fase, é verdade, foram aplicadas somente penas consistentes na privação dos bens ou da liberdade, ainda que não raro, em medida realmente draconiana. Mais tarde, porém, quando Pio V (1570) fulminou Isabel com a excomunhão e a deposição desvinculando os súditos do juramento de fidelidade, foram emanadas novas e severíssimas leis e posto em atuação o patíbulo. Foi uma época tremendamente dolorosa para os fiéis Católicos da Inglaterra, que, amaldiçoados e perseguidos como inimigos do Estado e réus de alta traição, envolvidos na hostilidade suscitada pelo contraste político entre a Espanha e Inglaterra, viram-se oprimidos pela dura 259


crueldade de uma justiça sanguinária. Tiveram que pagar a caro preço as conjuras tramadas contra Isabel e as tramas urdidas para a libertação da prisioneira Maria Stuart. Não é, pois, para se maravilhar que o seu número fosse continuamente diminuindo. O perigo ameaçava sobretudo os sacerdotes; quem lhes dava hospitalidade era punido com a pena de morte. Para não deixar extinguir-se toda cura pastoral na Inglaterra, foi necessário providenciar à ereção de Institutos no exterior para a formação de padres. Guilherme Allen, cónego de Iorque e desde 1587 'cardeal da Inglaterra', fundou em 1568 em Douai um colégio inglês e o Papa Gregório XIII erigiu outro em Roma em 1579. Numerosos jovens de ilustres famílias inglesas realizaram nestes colégios os seus estudos teológicos e mais tarde dirigiramse secretamente como missionários para a Inglaterra, indo não raro ao encontro da morte certa. Uma das mais famosas vítimas da perseguição foi o douto jesuíta Edmundo Campion, ex-aluno de Douai, o qual foi executado com dois companheiros em 1581. Quando Filipe II da Espanha, para vingar a morte de Maria Stuarí, tentou em vão conquistar a Inglaterra com a sua Armada, a perseguição encarniçou-se mais ainda; mais de cem pessoas caíram vítimas dela. Globalmente sofreram a morte pela sua fé 124 sacerdotes e 61 leigos. Numerosos fiéis de ambos os sexos definharam por longos anos em horríveis masmorras. Aqueles que se abstinham do culto anglicano, 'os recusantes', foram colhidos por enormes penas pecuniárias. Sob o regime de coação religiosa da igreja nacional anglicana tiveram que sofrer não só os Católicos, mas também os puritanos e os presbiterianos, os quais se opunham também ao acto de uniformidade (não conformistas, dissenters)». Particularidades 1) Recusa do juramento Quem recusasse prestar o juramento de supremacia, era punido como réu de alta traição; era colocado sobre uma grade e assim arrastado até o lugar do suplício; aí era estendido sobre um cepo; abriam-lhe o ventre, recortavam-lhe as entranhas em ritmo lento de modo a prolongar a agonia; a seguir, arrancavam-lhe o coração e o corpo era esquartejado, ficando as diversas partes expostas ao público. Em alguns casos o senso humanitário deixava que a morte ocorresse antes da operação final; mais frequentemente os mártires eram recortados ao vivo. Em 1535 um monge cartuxo foi condenado a tal suplício juntamente com alguns companheiros; enquanto o monge era executado, os companheiros, aguardando sua vez, pregavam o Evangelho para quem estava assistindo. 2) São João Fisher O cardeal John Fisher, quase octogenário, ficou por um ano encarcerado na Torre de Londres. Foi condenado à morte por ter dito, em conversa particular, que o rei não tinha autoridade sobre a Igreja. Por ser Cardeal, Henrique VIII lhe concedeu a graça de ser simplesmente decapitado sem outra pena. Em 1535 na manhã do suplício J. Fisher fez questão de um asseio esmerado; provocou a surpresa do seu servidor, ao que respondeu o condenado: "Não vês que este é o meu dia de núpcias?". Ao partir para o suplício, leu dois versículos do Novo Testamento e rezou. Subiu com as próprias pernas até o patíbulo. Segundo o antigo costume, o carrasco se ajoelhou diante dele e pediu-lhe perdão, respondeu-lhe o Cardeal: "Eu te perdoo de todo o coração; tu me verás sair vitorioso deste mundo". Dirigiu-se à multidão que assistia, em tom de despedida; rezou ainda longamente e entregou a cabeça ao carrasco. Após a morte, esta foi exposta sobre a ponte de Londres. O corpo permaneceu no lugar do patíbulo, até que viessem soldados que o levaram, cavaram uma fossa e lá o depositaram. Tomás Moro, Primeiro-Ministro do rei, teve morte semelhante em 1535.

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Mais uma vez a história evidencia que os irmãos separados "inquiriram" e maltrataram os fiéis Católicos. Cometeram também eles o que acusam a Igreja de ter feito. Além de Bihlmayer-Tuechle, foi utilizado, na confecção deste artigo, o Dictionnaire Apologetique de Ia Foi Catholique, organizado por A. d'Alès, verbetes Reforme e Martyre.

APÊNDICE – O branqueamento Católico da Inquisição A fim de possibilitar uma visão mais objetiva e fiel à realidade, vão, a seguir, propostos alguns aspectos da Inquisição católica geralmente silenciados pelos manualistas. 1. O Inquisidor Os historiadores que hoje consideram esse passado, tendem a julgá-lo através das categorias de pensamento modernas, exigindo dos antigos o que eles não sabiam nem podiam dar; não levam em conta os textos que exprimem o ardente amor pela verdade, pela justiça e pelo bem que animava os Inquisidores de modo geral. Eis, por exemplo, o espelho do Inquisidor redigido por Bernardo de Gui, um dos mais famosos Inquisidores no século XIV (1308-1328): "O Inquisidor deve ser diligente e fervoroso no seu zelo pela verdade religiosa, pela salvação das almas e pela extirpação das heresias. Em meio às dificuldades permanecerá calmo, nunca cederá à cólera nem â indignação. Deve ser intrépido, enfrentar o perigo até a morte; todavida não precipite as situações por causa da audácia irrefletida. Deve ser insensível aos rogos e às propostas daqueles que o querem aliciar; mas também não deve endurecer o seu coração a ponto de recusar adiamentos e abrandamentos das penas conforme as circunstâncias. Nos casos duvidosos, seja circunspecto, não dê fácil crédito ao que parece provável e muitas vezes não é verdade; também não rejeite obstinadamente a opinião contrária, pois o que parece improvável, frequentemente acaba por ser comprovado como verdade... O amor da verdade e a piedade, que devem residir no coração de um juiz, brilhem nos seus olhos, a fim de que suas decisões jamais possam parecer ditadas pela cupidez e a crueldade" (Prática Vi p... ed. Douis 232s). Algo de semelhante se encontra sob a pena de outro célebre Inquisidor: Nicolau Eymeric O.P. em seu Directorium (Parte III, questão 1§, De conditione inquisitoris). Para preservar e garantir tais predicados dos Inquisidores, a autoridade eclesiástica promulgava certas normas, acompanhando os procedimentos da Inquisição: - garantias de idade: o Papa Clemente V, no Concílio de Viena (1311), seguindo preceitos de seus antecessores, dispôs que ninguém pudesse exercer as funções de Inquisidor antes dos 40 anos; - garantias de honestidade: Alexandre IV (1255), Urbano IV (1262), Clemente IV (1265), Gregório X (1275), Nicolau IV (1290) insistiram nas qualidades morais, na honestidade e na pureza de costumes a ser exigidas dos Inquisidores; - garantias de saber: também se declarava indispensável ao Inquisidor um bom conhecimento de Teologia e Direito Canónico. A maneira como procediam os juizes era continuamente acompanhada e controlada, na medida em que isto era possível na Idade Média. Mais de uma vez, a Santa Sé interveio para moderar o zelo e punir os excessos dos Inquisidores. É de notar, por exemplo, que o Papa Clemente V, no Concílio de Viena (1311), determinou fosse excomungado o Inquisidor que se aproveitasse das suas funções para fazer lucros ilícitos ou extorquir dos acusados quantias de dinheiro; para ser absolvido de tal pena, o Inquisidor deveria reparar os danos causados. Todo Inquisidor que abusasse comprovadamente do seu ministério, era sem demora deposto do cargo, fosse pêlos Superiores de sua Ordem, fosse pêlos legados papais, fosse directamente pela Santa Sé. Os bispos eram obrigados, em consciência, a comunicar ao Papa todos os 261


desmandos cometidos pêlos Inquisidores; o mesmo dever tocava aos notários e demais oficiais de justiça que acompanhavam o Inquisidor. 2. As penas e seu abrandamento 1. No tocante às penas infligidas a hereges e bruxas, não existe a documentação desejável, pois o registro de factos outrora se fazia mais dificilmente do que hoje. Como quer que seja, temos ao nosso alcance alguns espécimens dos séculos XIII e XIV; assim, por exemplo: De 1249 a 1258 em Carcassonne (França) a Inquisição proferiu 278 sentenças; a pena de prisão é relativamente rara; a mais frequente é a que manda prestar serviço na Terra Santa. De 1308 a 1328 Bernardo de Gui em Tolosa exerceu com severidade as suas funções: em dezoito Sermones Generales proferiu 929 sentenças assim distribuídas: Imposição da cruz: 132 vezes. Peregrinação: 9 vezes. Serviço na Terra Santa: 143 vezes. Encarceramento platónico pronunciado sobre defunto: 17 vezes. Entrega ao braço secular (pena de morte): 42 vezes. Absolvição de defuntos: 3 vezes. Exumação: 9 vezes. Sentenças contra contumazes: 40 vezes. Exposição no pelourinho: 2 vezes. Degradação: 2 vezes. Exílio: 1 vez. Destruição da casa: 22 vezes. Queima do Talmud: 1 vez. Absolvição de prisioneiro: 139 vezes. Esta lista mostra que a entrega ao braço secular ou a pena de morte era relativamente rara. (Nota: como vimos com os Cátaros, Espanha e Portugal, não era nada rara a pena de morte. Aqui está a tentativa de branqueamento dos crimes da Inquisição Católica). De 1318 a 1324 em Pamiers (França), a Inquisição julgou 98 acusados: 5 foram entregues ao braço secular; 35 condenados ao cárcere; 2 absolvidos; a respeito dos demais nada consta; terão sido absolvidos?... exilados?... enviados para a Terra Santa? Como quer que seja, de 98 consta que apenas cinco sofreram a condenação capital. 2. É de notar ainda que muitos dos réus sentenciados podiam gozar de indulto, que os dispensava total ou parcialmente da sua pena. Podiam também usufruir de licença para sair do cárcere e ir tirar férias em casa; em Carcassonne, por exemplo, aos 13 de setembro de 1250, o bispo deu a uma mulher chamada Alazais Sicrela permissão para sair do cárcere e ir aonde quisesse até a festa de Todos os Santos (1 - de novembro), ou seja, durante sete semanas. Licença semelhante foi dada por cinco semanas a um certo Guilherme Sabatier, de Capendu, na ocasião de Pentecostes (9/05/1251). Raimundo Volguir de VilIar-en-Val obteve uma licença que expirava no dia 20/05/1251, mas que lhe foi prorrogada até o dia 27. Outro caso é o de Pagane, viúva de Pons Arnaud de Preixan, que, encarcerada, obteve licença para férias de 15/06 a 15/08 de 1251. Os prisioneiros tinham o direito de se afastar do cárcere para tratamento de saúde por quanto tempo fosse necessário. São numerosos os casos de que se tem notícia: assim aos 16/04/1250, Bernard Raymond, de Conques, obteve a autorização para deixar a sua cela propter infirmitatem. Aos 9/08 seguintes, a mesma permissão era dada a Bernard Mourgues de ViHarzel-en-Razès, com a condição de que voltasse oito dias após obter a cura. A 14/05 a mesma concessão era feita a Armand Brunet de Couffoulens; e a 15/08 a Arnaud Miraud de Caunes. A 13/03/ 1252 Bernard Borrei foi posto em liberdade propter infirmitatem, devendo voltar ao cárcere quinze dias após a cura. A 17/08 seguinte, Raine, filha de Adalbert de Couffoulens, foi autorizada a permanecer fora do cárcere quousque convaluerit de aegritudine sua (até que ficasse boa da sua doença)... A repetição de tais casos a intervalos breves, e às vezes no mesmo dia, mostra que não se tratava de exceções, mas de uma rotina bem definida. 3. Também havia autorização aos presos para ir cuidar de seus familiares em casa. Às vezes os problemas de família levavam os Inquisidores a comutar a pena de prisão por outra que 262


permitisse atendimento à família. Até mesmo os mais severos praticavam tal gesto; sabe-se, por exemplo, que o rigoroso juiz Bernard de Caux em 1246 condenou à prisão perpétua um herege relapso, chamado Bernard Sabatier, mas, na própria sentença condenatória, observava que, o pai do réu sendo um bom Católico, ancião e doente, o filho poderia ficar junto do pai enquanto este vivesse, afim de lhe dispensar tratamento. 4. Acontece também que as penas infligidas aos réus eram abrandadas ou mesmo supressas: a 3/09/1252 P. Brice de Montreal obteve a troca da prisão por uma peregrinação à Terra Santa. Aos 27/06/1256 um réu que devia peregrinar à Terra Santa, recebeu em troca outra pena: pagaria 50 soldos de multa, pois não podia viajar propter senectutem (por causa da idade anciã). São conhecidos também os casos de indulto total: o Inquisidor Bernard Gui, em seu Manual apresenta a fórmula que se aplicava para agraciar plenamente o réu. O mesmo Bernard Gui reabilitou um condenado para que pudesse exercer funções públicas; a um filho de condenado que cumprira a pena, reconheceu o direito de ocupar o consulado e exercer funções públicas. 5. A história também regista o facto de que os Inquisidores estavam atentos a distinguir falsas e verdadeiras acusações. Conta-se, por exemplo, o caso, ocorrido em Pamiers (1324), de Pierre Peyre e Guilhaume Gautier: ambos colaboraram com Pierre de Gaillac, tabelião de Tarscon, numa campanha contra Guillem Trom; este também era tabelião e atraía a si a clientela, de modo que Pierre de Gaillac, querendo livrar-se dele, acusou-o de heresia perante a Inquisição, apoiado no falso testemunho de Pierre Peyre e Guillaume Gautier; estes dois cidadãos, comprova-damente tidos como falsários, foram condenados, e Guillem Trom reconhecido como inocente. 6. É certo, porém, que nem todos os Inquisidores tiveram a mesma elevação de espírito e a mesma retidão de consciência. Alguns se mostraram obcecados na repressão à heresia, procedendo cruelmente. Os historiadores registam tais abusos, mas não costumam registar as censuras que a Santa Sé infligiu aos oficiais imoderados ou indignos, sempre que ela teve notícia dos factos; aliás, não somente ela, mas também os legados papais e os bispos se insurgiram contra os excessos dos Inquisidores; não eram raras as admoestações à prudência e à brandura emanadas das autoridades eclesiásticas para a orientação dos Inquisidores; estes deviam proceder com pureza de intenção (superando paixões, pressões e preconceitos) e com a virtude da discrição. Consta também que os Papas mais de uma vez deram ordens aos Inquisidores para que usassem de brandura em casos precisos: Inocêncio IV, por exemplo, mandou aos Inquisidores Guillaume Durand e Pierre Raymond que absolvessem Guillaume Fort, cidadão de Pamiers; aos 247 12/1248 mandou soltar os hereges cuja punição lhe parecia suficiente; aos 5/08/1249, encarregou o bispo de Albi de restituir à comunhão da Igreja Jean Fenessa de Albi e sua esposa Arsinde, condenados pelo Inquisidor Ferrier. Em 1305 o Inquisidor de Carcassone provocou, por seus rigores, a revolta da opinião pública: os habitantes de Carcassonne, Albi e Cordes dirigiram-se à Santa Sé. As suas queixas foram acolhidas pelo Papa Clemente V, que aos 13/03/1306 nomeou os Cardeais Pierre Taillefer de Ia Chapelle e Béranger Frédol para fazer um inquérito do que ocorria na região; enquanto este se processava e as prisões eram inspecionadas, estava suspensa toda perseguição de hereges. Os dois prelados iniciaram a visita aos cárceres de Carcassonne nos últimos dias de abril; encontraram aí quarenta prisioneiros que se queixavam dos carcereiros; estes foram logo substituídos por outros mais humanitários; aos detidos foram assinaladas celas recémreformadas e foi permitido passear per carrerias muri largi ou em espaço mais amplo; os guardas receberam a ordem de entregar aos prisioneiros tudo o que fosse enviado pelo rei ou por seus amigos para a sua manutenção. Os dois Cardeais visitaram outrossim os cárceres de Albi aos 4/05/1306; mandaram retirar as correntes que prendiam os encarcerados, designaram outros guardas, mandaram melhorar as condições sanitárias das prisões, abrindo janelas para a penetração da luz e do ar. 263


Nota: A reviravolta religiosa de Lutero suscitou em alguns sectores a contestação do dogma trinitário: assim fizeram os Anabaptistas e certos livres pensadores, entre os quais o médico espanhol Miguel Servet, que professava um panteísmo neoplatónico e aspirava à superação da doutrina protestante sobre a justificação. A INQUISIÇÃO PROTESTANTE. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/5120

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19 – Islão Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O Islão (português europeu) ou Islã (português brasileiro) (do árabe al-Islām) é uma religião monoteísta que surgiu na Península Arábica no século VII, baseada nos ensinamentos religiosos do profeta Maomé (Muhammad) e numa escritura sagrada, o Alcorão. A religião é conhecida ainda por islamismo. Na visão muçulmana, o Islão surgiu desde a criação do homem, ou seja, desde Adão, sendo este o primeiro profeta dentre inúmeros outros, para diversos povos, sendo o último deles Maomé. Cerca de duzentos anos após Maomé, o Islão já se tinha difundido em todo o Médio Oriente, no Norte de África e na península Ibérica, bem como na direcção da antiga Pérsia e Índia. Mais tarde, o Islão atingiu a Anatólia, os Balcãs e a África subsariana. Recentes movimentos migratórios de populações muçulmanas no sentido da Europa e do continente americano levaram ao aparecimento de comunidades muçulmanas nestes territórios. A mensagem do Islão caracteriza-se pela sua simplicidade: para atingir a salvação basta acreditar num único Deus, rezar cinco vezes por dia, submeter-se ao jejum anual no mês do Ramadão, pagar dádivas rituais e efectuar, se possível, uma peregrinação à cidade de Meca. O Islão é visto pelos seus aderentes como um modo de vida que inclui instruções que se relacionam com todos os aspectos da actividade humana, sejam eles políticos, sociais, financeiros, legais, militares ou interpessoais. A distinção ocidental entre o espiritual e temporal é, em teoria, alheia ao Islão.

Etimologia

A mesquita de al-Nabawi ("Mesquita do Profeta"), em Medina.

Islão provem do árabe Islām, que por sua vez deriva da quarta forma verbal da raiz slm, aslama, e significa "submissão (a Deus)". Segundo o arabista e filólogo José Pedro Machado a palavra "Islão" não teria surgido na língua portuguesa antes de 1843, ano em que aparece no capítulo IX da obra Eurico, o Presbítero de Alexandre Herculano. O Islão é descrito em árabe como um "diin", o que significa "modo de vida" e/ou "religião" e possui uma relação etimológica com outras palavras árabes como Salaam ou Shalam, que significam "paz". Muçulmano, por sua vez, deriva da palavra árabe muslim (plural, muslimún), particípio activo do verbo asmala, designando "aquele que se submete". O vocábulo pode ter penetrado no português a partir do castelhano, sendo provável que esta língua o tenha tomado do italiano ou do francês, línguas nas quais o vocábulo surge em 1619 e 1657, respectivamente (no primeiro caso como mossulmani na obra Viaggi de Pietro della Valle e no segundo como mousulmans na obra Voyages de Le Gouz de la Boullaye).

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Em textos mais antigos, os muçulmanos eram conhecidos como "maometanos", este termo tem vindo a cair em desuso porque implica, incorrectamente, que os muçulmanos adoram Maomé (como, durante alguns séculos, por completo desconhecimento, o Ocidente pensou), o que torna o termo ofensivo para muitos muçulmanos. Durante a Idade Média e, por extensão, nas lendas e narrativas populares Cristãs, os muçulmanos eram também designados como sarracenos e também por mouros (embora este último termo designasse mais concretamente os muçulmanos naturais do Magrebe que se encontravam na Península Ibérica). Islão pode se referir também ao conjunto de países que seguem esta religião (a jurisprudência islâmica utiliza neste caso a expressão Dar-al-Islam, "casa do Islão").

O nascimento do Islão Contexto geográfico

A Península Arábica, local de nascimento do Islão

O Islão (ou Islã, no Brasil) nasceu na Arábia, região à qual os árabes se referem como Jazirat Al-'Arab, "a ilha dos árabes", o que denota o seu carácter isolado, separada da África e da Ásia pelo mar. É uma região inóspita marcada pela presença do deserto, onde a água é um bem raro. Distinguem-se na península Arábica três grandes conjuntos geográficos:   

O Hijaz, faixa montanhosa que se estende ao longo do Mar Vermelho; O Nadj, planalto central coberto por dunas; O Sul, região conhecida como a "Arábia Feliz", que recebia a chuva trazida pelas monções. É a terra do incenso, onde viviam populações sedentárias.

Contexto político, social e religioso Antes do advento do Islão, os árabes não formavam uma unidade política coerente. Nos inícios do século VII a Arábia posiciona-se em torno de dois impérios que se defrontam. A oeste, Bizâncio, Cristã e herdeira de Roma, dominava o norte de África, a Palestina, a Síria, a Anatólia, a Grécia e o Sul da Itália. A Leste, o Império Persa Sassânida ocupa uma área que corresponde aos actuais Iraque e Irão e tinha como religião oficial o zoroastrismo, mas nele também viviam Cristãos, judeus e maniqueus. A oeste da Arábia situava-se a Abissínia, que professava o Cristianismo copta. A base desta sociedade era a tribo que reunia descendentes de um mesmo antepassado. Uma tribo era composta por vários clãs, e agrupava famílias alargadas que se encontram sob a autoridade de um homem. Algumas tribos eram sedentárias e outras eram nómadas (beduínos). As tribos viviam em guerra constante. Do ponto de vista religioso, a Arábia era a terra do politeísmo, mas também viviam nela comunidades monoteístas. Tribos judaicas, talvez chegadas à península Arábica após a destruição do Segundo Templo em 70, formavam comunidades que habitavam os locais de Fardak e Yathrib, nome pré-islâmico da cidade de Medina. Algumas tribos da Arábia 266


setentrional tinham se convertido ao Cristianismo monofisita ou ao Cristianismo nestoriano. Influências zoroastrianas e Cristãs faziam-se sentir a sul, no Iémen. As principais divindades eram adoradas sob a forma de uma árvore ou de um bétilo (pedra sagrada). Alguns bétilos eram transportáveis e acompanhavam os nómadas nas suas deslocações. Os Árabes erguiam santuários e sacrificavam animais em sua honra. Outras práticas religiosas incluíam o jejum e a peregrinação. Acreditava-se igualmente na presença dos djins, espíritos, alguns dos quais tinham um carácter maligno. Os árabes reconheciam uma divindade a que chamavam de Al-lah, criador todas as coisas, mas este não tinha o carácter que lhe foi atribuído mais tarde pelo Islão. Al-lah tinha três filhas: Allat, Manat ("Destino") e Al´Uzza ("A Poderosa"). A cidade de Meca, no Hijaz, a cerca de 80 quilómetros do mar, era o centro de uma peregrinação anual feita pelos Árabes. Nela encontrava-se um santuário, a Kaaba, onde existia a Pedra Negra, provavelmente um meteorito, que era alvo de veneração. Os peregrinos davam sete voltas em torno dela no sentido contrário aos ponteiros do relógio. No século VII a cidade adquiriu importância como centro económico: ela controlava o tráfego de caravanas que atravessam a Arábia. Por ela passavam os produtos que tinham sido trazidos para o Iémen da Abissínia e da Índia e que eram transportados pelas caravanas para o Mediterrâneo. Uma rota que atravessava a Arábia a partir do Golfo Pérsico em direcção à Abissínia foi encerrada devido ao conflito entre a Pérsia e Bizâncio, o que fez aumentar a importância de Meca.

Maomé

Antes de sua morte em 632, Maomé uniu toda a península Árabe.

A 12 de Rabi-al-awwal (terceiro mês do calendário árabe), no ano do Elefante - o que corresponde a 570 ou 571 da era Cristã - nasce em Meca um homem que viria a alterar a história da Arábia e do Mundo. O seu nome era Maomé (Muhammad). Maomé era filho de Abdullah e de Amina. O seu pai faleceu pouco antes do seu nascimento e a sua mãe quando ele tinha seis anos. O menino teve como tutor o avô Abdu-l-Muttalib e depois o seu tio Abu Talib. Maomé pertencia a um clã empobrecido da poderosa tribo dos Coraixitas (Quraysh, "tubarão"), os haxemitas. O poder dos Coraixitas advinha do facto de controlarem o santuário da Caaba. Maomé tornou-se um mercador, realizando nesse contexto viagens à Síria; aos vinte e cinco anos casou com uma rica viúva de nome Khadija. Maomé tinha por hábito jejuar e meditar nas montanhas próximas de Meca. Por volta de 610, aos quarenta anos e enquanto fazia um desses retiros espirituais na montanha Hira, ele experimentou uma revelação divina. Um ser misterioso (Jibril, o arcanjo Gabriel) ordenou-lhe que recitasse; vencida a hesitação inicial, Muhammad recitou aquilo que viria a ser a primeira revelação do livro que mais tarde seria compilado como o Alcorão. Maomé duvidou de si próprio, mas estimulado pela sua esposa, começou a pregar a sua mensagem entre os mequenses. Ele proclamava o monoteísmo, criticava o materialismo que se tinha apoderado da cidade e que fazia com que se desprezasse a viúva e o órfão; anunciava o dia do Julgamento Final, no qual os actos de cada pessoa seria avaliados e a riqueza pessoal seria inútil. As reacções à sua mensagem oscilaram entre a sincera adesão à hostilidade. 267


Após a morte do seu tio Abu Talib e da sua esposa, dois dos seus protectores, Maomé e os seus seguidores tiveram que fugir de Meca para Yathrib, um oásis ao norte, devido às injúrias e ataques físicos que experimentaram na cidade. Esta migração ocorre em 622 e é chamada de Hijra. Ela marca o início do calendário islâmico. A fuga de Maomé e dos seguidores constituiu um desafio ao poder de Meca. As duas cidades entram em guerra. Em Yathrib, Muhammad estabelece uma aliança com as tribos judaicas e pagãs que ali viviam, formando com os seus discípulos a umma, a comunidade do Islão. Através da conquista e da conversão dos Árabes à sua doutrina, Maomé conseguiu reunir uma força que provocaria a capitulação de Meca no ano de 630. Em Meca ele destrói os ídolos da Caaba e fixa a nova peregrinação. Por altura da sua morte, a 8 de Junho de 632, toda a península Arábica encontrava-se quase toda unificada sob a bandeira do Islão.

Os quatro califas "correctamente guiados" (632-661)

A expansão do Islão

A morte de Maomé - que tinha sido não só um líder religioso, mas também um líder político -, representou um momento de crise na comunidade muçulmana, uma vez que ele não nomeou claramente um sucessor. A comunidade muçulmana decidiu convocar a Nidwa (Assembleia) para resolver o impasse e nomear um novo líder, que recebeu o título de califa (khalifa, "representante"). Nos anos que se seguiram à morte de Maomé houve quatro califas, aos quais os muçulmanos se referem como os "Califas Correctamente Guiados" (al-Khulufa al-Rashidun). O primeiro foi Abu Bakr (632-634), um dos sogros de Maomé e um dos seus companheiros mais próximos encarregue por ele de dirigir a oração quando a sua doença o impedira de fazêlo pessoalmente. Apesar de só ter governado dois anos, o seu califado foi determinante na medida em que consolidou o Islão na península Arábica. Após a morte de Maomé, algumas tribos de beduínos tinham abandonado o Islão e entendiam que não deviam lealdade à Abu Bakr. Para além disso, vários homens que se apresentavam como profetas geravam agitação. A revolta dos beduínos ficou conhecida como Ridda (apostasia) e foi solucionada por Abu Bakr através da diplomacia e do recurso à força militar. Uma vez unificada a Arábia, o califa Omar (634-644), nomeado por Abu Bakr para o suceder antes da sua morte, centrou-se na expansão do Islão para fora da península. As suas primeiras 268


conquistas territoriais ocorreram na Síria, com a tomada da cidade de Damasco (635). Em 638 é a vez de Jerusalém. Ao mesmo tempo, as forças islâmicas avançavam para este em direcção à Mesopotâmia e à Pérsia (actual parte do Iraque e Irão). O Império Persa Sassânida encontrava-se numa situação bastante debilitada devido às guerras com Bizâncio (Bizâncio (em grego: Βυζάντιον, transl. Byzántion; latim: Byzantium) foi uma cidade da Grécia Antiga, fundada por colonos gregos da cidade de Megara, em 667 A.C.., que recebeu o nome de seu rei, Bizas ou Bizante (Βύζας ou Βύζαντας, em grego). Os romanos latinizaram o nome para Byzantium. A cidade veio a se tornar o centro do Império Bizantino, a metade do Império Romano que falava o idioma grego, da Antiguidade tardia até a Idade Média, sob o nome de Constantinopla. Foi conquistada pelos turcos, em 1453, e passou a fazer parte do Império Otomano; em 1930 seu nome foi mudado novamente, e passou a se chamar Istambul) e não foi difícil para as forças

islâmicas vencer a decisiva Batalha de Al- Qadisiyya, perto do rio Eufrates. As tropas islâmicas continuam o seu avanço e conquistam a capital do Império Persa, Ctesifonte (637). Avançam igualmente em direcção ao ocidente e em 642 conquistam a cidade de Alexandria, no Egipto. Nos territórios conquistados foram instituídos dois tributos, kharaj (incidindo sobre a produtividade da terra) e jizya (garantia da liberdade religiosa para os não muçulmanos). Após a morte de Omar em 644 - assassinado por um Cristão persa - é eleito um genro do profeta, Otman (644-656), que continua a obra de expansão territorial. Em 647 envia uma expedição militar para oeste do Egipto, naquilo que era território bizantino. A ilha de Chipre é conquistada em 649 e por volta de 653 toda a Pérsia encontrava-se submetida ao seu poder (conquista da província oriental de Khurasan). É geralmente aceite que o primeiro contacto da China como o Islão ocorreu durante este califado, quando Otman enviou, em 650, uma embaixada presidida por Sa’ad ibn Waqqas (um tio materno do profeta) ao imperador chinês Yung-Wei. A missão não logrou converter o imperador ao Islão, mas este mostrou-se interessado pela religião e permitiu a construção de uma mesquita em Quanzhou. Otman nomeou o seu primo Muawiya como governador da Síria, o foi interpretado como um acto de nepotismo. Ambos pertenciam ao clã Omíada de Meca, que tinha tido no pai de Muawiya, Abu Sufyan, um dos inimigos mais encarniçados de Maomé. Os gastos excessivos de Otman também geraram descontentamento e em 656 este morre assassinado. Com a morte de Otman gerou-se uma certa confusão em torno de quem deveria ser o novo califa. Para alguns era claro que essa honra deveria ter recair sobre Ali, que já tinha sido excluído do califado três vezes seguidas após a morte de Maomé. Ali era casado com Fátima, uma das filhas do profeta, com que tinha tido os únicos descendentes de Maomé. Outra facção apoiava o primo de Otman, Muawiya.

Origem dos Xiitas Ali foi eleito califa em 656, mas foi contestado não só por Muawiya, mas também por Talha e Zubair, dois companheiros de Muhammad, e por Aisha, uma das viúvas do profeta. Na Batalha do Camelo (Dezembro de 656) Talha e Zubair foram mortos e Aisha feita prisioneira. Em Julho de 657 as forças de Ali e Muawiya enfrentam-se na Batalha de Siffin, mas nenhum dos lados consagra-se como vencedor. Ali concorda então com uma arbitragem proposta por Muawiya, que terminou na nomeação deste como califa. Uma parte dos apoiantes de Ali entendeu que ele procedeu incorrectamente ao aceitar a arbitragem e retirou-se, dando origem à primeira cisão no Islão, a dos Kharijitas. Outro partido permaneceu fiel a Ali e às suas pretensões ao califado e deu origem aos Xiitas. Ali foi assassinado por um kharijita em 661 em Kufa e Muawiya alcança o poder. A esta guerra civil no coração do Islão, que chocou muitos muçulmanos, a historiografia muçulmana chamou de a "tormenta maior".

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Os Omíadas (661-750)

Mesquita Omíada de Damasco (século VIII), um dos legados arquitectónicos da dinastia omíada.

Muawiya esforçou-se por terminar com o carácter electivo do califado, promovendo a hereditariedade. A dinastia que inaugurou, a dos Omíadas, representou uma deslocação do centro político do Islão de Medina para Damasco, cidade que os novos senhores fizeram a sua capital até à queda da dinastia em 750. A era omíada ficou marcada por uma segunda vaga de expansão territorial. A ocidente, o Magrebe é conquistado entre 669 e 710, a península Ibérica em 711 e as conquistas também avançam a este. Muawiya (661-680) divide o império em províncias e coloca à frente de cada uma um governador. Nomeia o seu filho Yazid como seu sucessor, o que gerou nova contestação, pois Yazid era conhecido por ser um debochado. Yazid I (680-683) enfrentou a oposição do filho mais novo de Ali, Hussein, que parte de Meca com um grupo de apoiantes em direcção a Kufa. Em Karbala, a 10 de Outubro de 680, ele e os seus homens foram derrotados pelo exército enviado por Yazid, apenas tendo sobrevivido dois dos seus filhos. O evento marcou a mente dos Xiitas, que todos os anos recordam o massacre de Hussein num festival de penitência e de luto conhecido como Ashura. Após a morte de Yazid, a sucessão recaiu sobre o seu filho Muawiya II que governou por alguns meses. Desencadeia-se uma pequena luta de sucessão, da qual saiu como califa Marwan I (684-685). Marwan I foi sucedido pelo seu filho Abd al-Malik. Abd al-Malik (685-705) fez do árabe a língua da administração, substituindo o grego e o persa nos locais em que estas línguas tinham continuado a ser utilizadas. Ele também introduziu um novo modelo de cunhagem de moedas, do qual se eliminaram os símbolos Cristãos e zoroastrianos, substituídos por inscrições em árabe que proclamavam a unicidade de Deus. Entre 680 e 692 ocorreu uma segunda guerra civil no mundo islâmico. Desta feita o movimento foi liderado pelos mawali, os muçulmanos não árabes que se sentiam discriminados pelos muçulmanos árabes. Em 711, durante o reinado de Walid I (705-715), o Islão alcançou a Península Ibérica. O reino visigodo que ali existia encontrava-se decadente, dilacerado por problemas internos. A invasão foi liderada por Tariq, um berbere. A população judia, que tinha experimentado perseguições durante os últimos tempos do reino visigodo, apoiou e facilitou a entrada dos muçulmanos; por volta de 714 já quase toda a península estava conquistada. Uma parte da população converteu-se ao Islão, mas a conversão forçada não foi uma característica do governo dos Omíadas, que se revelaram tolerantes em relação a outras religiões. Outra parte da população permaneceu Cristã, mas aderiu à língua e à cultura árabe (os moçárabes). Em 720, os exércitos islâmicos ultrapassam os Pirenéus, mas a vitória de Carlos Martel em Poitiers (Poitiers é uma cidade localizada no centro-oeste da França às margens do Rio Clain) trava a expansão do Islão na Europa Ocidental.

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Na Ásia, os árabes tornaram-se senhores do Sinde (Sinde é em Myanmar, antiga Birmánia) e de uma parte de Punjab (Punjab é um estado do noroeste da Índia. Ele faz fronteira com o Punjab (Paquistão) a oeste) entre os anos de 711 e 713. A conquista foi liderada pelo general Muhammad ibn Qasim, que não discriminou a população local budista e hindu; tomando conhecimento de que estes povos possuíam escrituras sagradas, tratou-os como dhimmis (Povos do Livro), tal como era hábito considerar judeus ou Cristãos. Este foi o primeiro momento da entrada do Islão na Índia. Na Ásia, salienta-se ainda a conquista do Afeganistão, da Transoxiana (Transoxiana - actuais Afeganistão, Turcomenistão e Uzbequistão) . e da Sogdiana (Sogdiana é uma região da Ásia central, no Uzbekistão eTajikistão). Uma série de intrigas palacianas marcou o reinado dos últimos Omíadas. Os opositores à dinastia omíada, durante a qual a religião foi relegada para um segundo plano, uniram-se a um grupo liderado pelos descendentes de um tio do profeta Muhammad, Abbas, ficando por isso conhecidos como os Abássidas. Os Abássidas prometeram aos seus apoiantes que a religião teria um papel mais central se tomassem o poder e que as diferenças entre os muçulmanos árabes e os não árabes terminariam. Desencadeando a revolta a partir da província do Khorasan, tomam o poder em 750. Todos os membros da família omíada foram exterminados, com excepção de Abd ar-Rahman I que fugiu para a Península Ibérica onde fundou um estado.

Os Abássidas (750-1258) Composta por 37 califas, a dinastia dos Abássidas foi iniciada com Abu al-Abbas as-Saffah. O seu sucessor, Al-Mansur (754-775), mudou a capital do império em 762 para Bagdade (Iraque), uma cidade construída para servir esse propósito. A influência persa vai predominar na vida política do califado e a nível cultural o fundo árabe mistura-se com elementos persas, sírios e indianos. Os Xiitas tinham sido apoiantes dos abássidas na sua investida pelo poder; porém os abássidas abandonam as pretensões destes em pouco tempo. Em 786, em Meca, ocorreu um massacre de descendentes de Ali. Alguns conseguiram fugir e estabelecem em 789 o reino independente dos Idríssidas no actual território de Marrocos, que perdurará até ao século X. Na época do califa Harun al-Rashid (786-809) Bagdade é um dos centros mais brilhantes da civilização mundial. Este califa ordenou que após a sua morte o império fosse dividido entre os seus dois filhos, Al-Amin e Al-Ma'mun. Quando Harun morreu os seus filhos envolveram-se numa luta pelo poder, tendo Al-Ma'mun saído vencedor em 813. Al-Ma'mun adoptou o mutazilismo, uma doutrina que rejeitava a teoria muçulmana da predestinação e que defendia que o Alcorão não deveria ser interpretado de uma forma literal. Este movimento era visto como herético pela maioria dos muçulmanos. O controlo dos califas abássidas sobre o vasto território do império era ténue e a desagregação política, com o surgimento de várias dinastias em diferentes espaços, foi uma marca quase desde o início. Na Pérsia, um antigo apoiante dos abássidas cria um reino separado na província do Khorosan. A dinastia dos taíridas ali se afirma entre 820 e 873, antes do seu território ser absorvido pelos Samânidas (819-999). No Magrebe surgiria no século IX a dinastia dos aglábidas que tinham a sua capital em Kairouan, na actual Tunísia. Os Aglábidas conquistaram a Sicília aos bizantinos entre 827 e 878 e só no início do século XI é que esta ilha regressaria ao domínio Cristão. Os Aglábidas viriam a ser derrotados pelos fatímidas que partindo da Tunísia fixam-se no Egipto abássida em 969.

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Por volta de 945 o território que é hoje o Iraque caiu nas mãos da dinastia dos emires buídas, antigos prefeitos do palácio abássida. O Islão prosseguiu o seu avanço na Ásia, começando a atingir as populações do Turquestão Ocidental. No início do século XI a casa dos turcos ghaznévidas, com o sultão Mahmud de Ghazni (998-1030), lança grandes incursões muçulmanas na Índia. Em 1055 os turcos seljúcidas colocam o califado abássida sob sua tutela e torna-se defensores da ortodoxia sunita contra os fatímidas Xiitas do Egipto. Os seljúcidas constituem um império que começava no Turquestão e englobava todo o Próximo Oriente. Por volta de 1171 o poder os fatímidas no Egipto é destronado pela nova dinastia dos aiúbidas. Esta dinastia foi fundada pelo famoso Saladino que se tornaria senhor da Arábia, Síria e Iraque. Saladino assumiu a liderança do mundo islâmico contra a agressão dos cruzados, tendo conquistado os estados francos de Alepo e Jerusalém. O último califa abássida, Al-Musta'sim, foi assassinado com toda a sua família pelo clã mongol Hulagu. Os sobreviventes desta dinastia foram acolhidos pelos sultões mamelucos do Cairo. No Egipto prosseguirá uma dinastia abássida de 21 califas, mas de título meramente honorífico, até que aquele território foi conquistado por Selim I, sultão otomano.

Os três Impérios No século XV e XVI foram criados três grandes impérios que tinham no Islão a sua religião oficial: o Império Otomano que dominou o Médio Oriente, os Balcãs e o Norte de África; o Império Sefévida no Irão e o Império Mongol na Índia.

O Império Mongol O Império Mongol resultou das várias invasões mongóis na Pérsia e na Índia. Foi fundado em 1526 por Babur, um descendente de Genghis Khan e de Tamerlão. O império governou os territórios que correspondem ao que hoje em dia são a Índia, o Paquistão, o Bangladesh e o Afeganistão, durante vários séculos antes de cair perante os ingleses em 1857. O império deixou um importante legado cultural e artístico na Índia. Entre os edifícios mais conhecidos mandados construir pelos Mongóis encontra-se o Taj Mahal.

O Império Otomano O mundo islâmico atingiu um novo esplendor com o Império Otomano, cujas origens se encontram nas migrações dos turcos das estepes da Ásia Central para a Anatólia (Anatólia é uma região do sudoeste da Ásia que corresponde hoje à porção asiática da Turquia) onde fundaram um pequeno estado. Em 1453, depois de um cerco de dois meses, os otomanos tomaram Constantinopla. O antigo Império Bizantino foi substituído pelo novo Império Otomano como a grande potência do mar Mediterrâneo. O auge deste império foi alcançado durante a era de Solimão, o Magnífico (1520-1566) quando foram conquistados os Balcãs e a Hungria. Em 1529 os otomanos tentaram conquistar Viena, mas o cerco à cidade fracassou. Em 1571 a Batalha de Lepanto representou um duro golpe para os otomanos, já que nela perderam parte importante da sua frota marinha (um dos grandes pontos fortes do Império Otomano). Em consequência da derrota dos otomanos na Batalha de Viena de 1883 o império perderia a posse da Hungria e de alguns territórios nos Balcãs.

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O Império Safávida Os safávidas governaram o Irão (Pérsia) entre 1501 e 1736. Embora se identificassem como descendentes de Ali, os safávidas tinham origens numa ordem sufista. Foi durante o governo dos safávidas, que tinham como capital a cidade de Isfahan, que o xiismo foi imposto como religião oficial do Irão, tendo sido perseguidas todas as outras formas do Islão. Este facto histórico está na origem da separação religiosa actual do Irão em relação aos seus vizinhos Sunitas. Até aquele momento o xiismo não tinha sido particularmente forte no Irão. Os Sefévidas foram derrubados por Nadir Xá em 1736.

O século XIX O começo da conquista do mundo islâmico pelos Europeus remonta ao fim do século XVIII, quando Napoleão Bonaparte conquistou o Egipto em 1798. Por volta de 1818 a Índia já estava praticamente toda sob influência britânica e em meados do século XIX já a maior parte do mundo islâmico tinha sido conquistado pelas potências europeias, em concreto pelo França, Inglaterra e Rússia.

O século XX Nos anos que antecedem a Primeira Guerra Mundial inicia-se a prospecção de petróleo no Médio Oriente, na qual os ingleses se revelarão os mais ávidos. Durante a Primeira Guerra Mundial os Aliados exploraram o descontentamento em relação ao Império Otomano existente em regiões como a Arábia e a Síria. Apesar das promessas de apoio ao movimento nacionalista árabe, o fim da guerra acabou por traduzir-se num aumento da colonização europeia sobre os países árabes. Os ingleses tinham prometido a Hussein Ibn Ali que seria o rei de um grande território formado por aquilo que é hoje o Líbano, a Síria, o Iraque, a Palestina, a Jordânia e a Arábia. Esta promessa não foi cumprida e a queda do Império Otomano em 1918 apenas fez com que os árabes mudassem de amo: aos franceses seria atribuído, pela Sociedade das Nações, um mandato sobre a Síria e o Líbano e aos ingleses sobre a Palestina. Os filhos de Hussein Ibn Ali governam dois territórios sob tutela britânico, a Transjordânia e o Iraque. Na Arábia forma-se um reino liderado por Ibn Saud, com o apoio dos Estados Unidos da América.

Crenças O Islão ensina seis crenças principais:   

  

A crença em Alá (Allah), único Deus existente; A crença nos Anjos, seres criados por Alá; A crença nos Livros Sagrados, entre os quais se encontram a Torá, os Salmos e o Evangelho. O Alcorão é o derradeiro e completo livro sagrado, constituindo a colectânea dos ensinamentos revelados por Alá ao profeta Maomé; A crença em vários profetas enviados à humanidade, dos quais Maomé é o último; A crença no dia do Julgamento Final, no qual as acções de cada pessoa serão avaliadas; A crença na predestinação: Alá tudo sabe e possui o poder de decidir sobre o que acontece a cada pessoa.

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Deus Alá (Allah) em árabe. A pedra basilar da fé islâmica é a crença estrita no monoteísmo. Deus é considerado único e sem igual. Cada capítulo do Alcorão (com a excepção de um) começa com a frase "Em nome de Deus, o beneficente, o misericordioso". Uma das passagens do Alcorão frequentemente usadas para ilustrar os atributos de Deus é a que se encontra no capítulo (sura) 59: "Ele é Deus e não há outro deus senão Ele, Que conhece o invisível e o visível. Ele é o Clemente, o Misericordioso! Ele é Deus e não há outro deus senão ele. Ele é o Soberano, o Santo, a Paz, o Fiel, o Vigilante, o Poderoso, o Forte, o Grande! Que Deus seja louvado acima dos que os homens Lhe associam! Ele é Deus, o Criador, o Inovador, o Formador! Para ele os epítetos mais belos" (59, 22-24). Ver Noventa e nove nomes de Alá para uma visão muçulmana sobre os atributos de Deus. Os Anjos Os Anjos são, segundo o Islão, seres criados por Alá a partir da luz. Não possuem livre arbítrio, dedicando-se apenas a obedecer a Deus e a louvar o seu nome. Maomé nada disse sobre o sexo dos anjos, mas rejeitou a crença dos habitantes de Meca de acordo com a qual estes seriam as filhas de Deus. Desempenham vários papéis, entre os quais o anúncio da revelação divina aos profetas, protegem os seres humanos e registam todas as suas acções. O anjo mais famoso é Gabriel, que foi o intermediário entre Deus e o profeta. Para além dos anjos, o islamismo reconhece a existência dos jinnis, espíritos que habitam o mundo natural e que podem influenciar os acontecimentos. Ao contrário dos anjos, os jinnis possuem vontade própria; alguns são bons, mas de uma forma geral são maus. Um desses espíritos maus é Iblis (Satanás), também ele um jinn, segundo a crença islâmica, que desobedeceu a Deus e dedica-se a praticar o mal. Os Livros Sagrados Os muçulmanos acreditam que Deus usou profetas para revelar escrituras aos homens. A revelação dada a Moisés foi a Taura (Torá – Antigo Testamento em versão judaica), a David foram dados os Salmos e a Jesus, o Evangelho. Deus foi revelando a sua mensagem em escrituras cada vez mais abrangentes que culminaram com o Alcorão, o derradeiro livro revelado a Muhammad. Os Profetas O islamismo ensina que Deus revelou a sua vontade à humanidade através de profetas. Existem dois tipos de profeta: os que receberam de Deus a missão de dar a conhecer aos homens a vontade divina (anbiya; singular nabi) e os que para além desta função lhes foi entregue uma escritura revelada (rusul; singular rasul, "mensageiro") Cada profeta foi encarregado de relembrar a uma comunidade a existência ou a unicidade de Deus, esquecida pelos homens. Para os muçulmanos a lista dos profetas inclui Adão, Abraão (Ibrahim), Moisés (Musa), Jesus (Isa) e Maomé (Muhammad), todos eles pertencentes a uma sucessão de homens guiados por Deus. Maomé é visto como o 'Último Mensageiro', trazendo a mensagem final de Deus a toda a humanidade sob a forma do Alcorão, sendo por isso designado como o "Selo dos Profetas". Quando Maomé começou a revelar o alcorão, ele não acreditou que isto teria proporções mundiais, mas sim que somente reforçaria a fé no Deus. 274


Estes profetas eram humanos mortais comuns; o Islão exige que o crente aceite todos os profetas, não fazendo distinção entre eles. No Alcorão é feita menção a vinte e cinco profetas específicos. Os muçulmanos acreditam que Maomé foi um homem leal, como todos os profetas, e que os profetas são incapazes de acções erradas (ou mesmo testemunhar acções erradas sem falar contra elas), por vontade de Alá. O dia do Julgamento Final Segundo as crenças islâmicas, o dia do Julgamento Final (Yaum al-Qiyamah) é o momento em que cada ser humano será ressuscitado e julgado na presença de Deus pelas acções que praticou. Os seres humanos livres de pecado serão enviados directamente para o Paraíso, enquanto que os pecadores devem permanecer algum tempo no Inferno antes de poderem também entrar no Paraíso. As únicas pessoas que permanecerão para sempre no Inferno são os hipócritas religiosos, isto é, aqueles que se diziam muçulmanos mas de facto nunca o foram. Segunda a mesma crença, a chegada do Julgamento Final será antecedida por vários sinais, como o nascimento do sol no poente, o som de uma trombeta e o aparecimento de uma besta. De acordo com o Alcorão o mundo não acabará verdadeiramente, mas sofrerá antes uma alteração profunda. A predestinação Os muçulmanos acreditam no qadar, uma palavra geralmente traduzida como "predestinação", mas cujo sentido mais preciso é "medir" ou "decidir quantidade ou qualidade". Uma vez que, para o islamismo, Deus foi o criador de tudo, incluindo dos seres humanos, e sendo uma das suas características a omnisciência, ele já sabia quando procedeu à criação as características de cada elemento da sua obra teria. Assim sendo, cada coisa que acontece a uma pessoa foi determinada por Deus. Esta crença não implica a rejeição do livre arbítrio, pois o ser humano foi criado por Deus com a faculdade da razão, pelo que pode escolher entre praticar acções positivas ou negativas.

Os cinco pilares do Islão

A peregrinação (Hajj) a Meca é um dos "cinco pilares do Islão"

Os cinco pilares do Islão são cinco deveres básicos de cada muçulmano:     

A recitação e aceitação do credo (Chahada ou Shahada); Orar cinco vezes ao longo do dia (Salá,Salat ou Salah); Pagar esmola (Zakat ou Zakah); Observar o jejum no Ramadão (Saum ou Siyam) Fazer a peregrinação a Meca (Haj) se tiver condições físicas e financeiras.

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Os muçulmanos Xiitas consideram ainda três práticas como essenciais à religião islâmica; além da jihad, que também é importante para os Sunitas, há o Amr-Bil-Ma'rūf, "Exortar o Bem", que convoca todos os muçulmanos a viver uma vida virtuosa e encorajar os outros a fazer o mesmo, e o Nahi-Anil-Munkar, "Proibir o Mal", que orienta os muçulmanos a se abster do vício e das más acções, e também encorajar os outros a fazer o mesmo. Alguns grupos kharijitas existentes na Idade Média consideravam a jihad como o "sexto pilar do Islão". Actualmente alguns grupos do xiismo ismaelita entendem a "fidelidade ao Imam" como sexto pilar do Islão.[carece de fontes?]

A profissão de Fé (Chahada) A profissão de fé consiste numa frase - que deve ser dita com a máxima sinceridade - através da qual cada muçulmano atesta que "não há outro deus senão Alá e Maomé é seu servo e mensageiro". No entanto, os muçulmanos Xiitas têm por costume acrescentar "e Ali ibn Abi Talib é amigo de Alá"[carece de fontes?]. Esta frase também é dita quando se chama à oração (adhan). De acordo com a maioria das escolas islâmicas[carece de fontes?], para se converter ao Islão é necessário proclamar três vezes a chahada ("testemunho") perante duas testemunhas: Achadu ala ilaha ila Allah. Achadu ana Mohammad Rassululah ("Testemunho que não há outra divindade senão Deus. Testemunho que Maomé é seu profeta mensageiro").

O Salá (a oração) A oração no Islão (conhecida como Salá) é composta por 5 partes, todas espalhadas durante o dia e a noite iniciando pela alvorada até à noite. Considerada o ponto mais próximo que podese chegar de Deus. No Islão não há obrigatoriamente hierarquia entre os adeptos, porém a comunidade, conhecida como ummah escolhe uma pessoa com conhecimento suficiente para dirigir a adoração. Durante estas preces são recitadas suratas do Alcorão, geralmente ditas em árabe, conduzida pelo escolhido entre a comunidade. Não existe restrição para que o crente reze fora da mesquita, tampouco isso é uma desbonificação de sua oração que pode ser feita em qualquer lugar, desde que tenha feito antes sua purificação. A purificação é realizada através da higiene especifica e detalhada, que consistem basicamente em lavar as mãos, os antebraços, a boca, as narinas, a face, em passar água pelas orelhas, pela nuca, pelo cabelo e pelos pés. Se um muçulmano se encontrar numa área sem água ou numa área onde o uso da água não é aconselhável (porque poderia causar uma doença), pode substituir as abluções pelo uso simbólico de areia ou terra (tayammum). A oração abre-se com a orientação do crente na direcção de Meca (qibla).

A contribuição de purificação (Zakat) O Islão estabelece que cada muçulmano deve pagar anualmente uma certa quantia, calculada a partir dos seus rendimentos, que será distribuída pelos pobres ou por outros beneficiários definidos pelo Alcorão (prisioneiros, viajantes, endividados...). Esta contribuição é encarada como uma forma de purificação e de culto. A quantia corresponde a 2,5% do valor dos bens em dinheiro, ouro e prata, mas o valor pode variar se se tratar, por exemplo, de produtos agrícolas (neste caso a contribuição pode chegar a 10% da colheita agrícola). Quem tiver possibilidades pode ainda contribuir, de forma voluntária, com outras doações (sadaqa), mas é importante que o faça em segredo e sem ser movido pela vaidade. O anúncio 276


destas doações somente poderá ser feito se isto contribuir para que outras pessoas sejam motivadas a fazer o mesmo (caso de personalidades e pessoas proeminentes da sociedade), e este acto deve ser sincero, mesmo que em público.

O jejum no Mês do Ramadão (Saum) Durante o Ramadão (o nono mês do calendário islâmico) cada muçulmano adulto deve absterse de alimento, de bebida, de fumar e de ter relações sexuais desde o nascer até ao pôr-dosol. Os doentes, os idosos, os viajantes, as grávidas ou as mulheres lactantes estão dispensados do jejum. Em compensação estas pessoas devem alimentar um pobre por cada dia que faltaram ao jejum ou então realizá-lo noutra altura do ano. O jejum é interpretado como uma forma de purificação, de aprendizagem do auto-controlo e de desenvolvimento da empatia por aqueles que passam fome ou outras necessidades. O mês de Ramadão termina com o dia de celebração conhecido como Eid ul-Fitr, durante o qual os muçulmanos agradecem a Deus a força que lhes foi concedida para levar a cabo o jejum. As casas são decoradas e é hábito visitar os familiares. Esta comemoração serve também para o perdão e a reconciliação entre pessoas desavindas.

A Peregrinação (Hajj) Este pilar consiste na peregrinação a Meca, obrigatória pelo menos uma vez na vida para todos os que gozem de saúde e disponham de meios financeiros. Ocorre durante o décimo segundo mês do calendário islâmico. Os muçulmanos vestem-se com um traje especial todo branco, antes de chegar a Meca, para que todos estejam igualmente vestidos e não haja distinção de classes. Durante toda a peregrinação não se preocupam com o seu aspecto físico. Depois de praticarem sete voltas em torno da Kaaba, os peregrinos correm entre as duas colinas de Safa e Marwa. Na última parte do Hajj os muçulmanos devem passar uma tarde na planície de Arafat, onde Maomé disse o seu "Último Sermão". Os rituais chegam ao fim com o sacrifício de carneiros e bodes.

Jihad Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Bandeira da Jihad.

Jihad, às vezes referida como Jahad, Jehad, Jihaad, Jiaad, Djihad, ou Cihad, é um conceito essencial da religião Islâmica. Pode ser entendida como uma luta, mediante vontade pessoal, de se buscar e conquistar a fé perfeita. Ao contrário do que muitos pensam, jihad não significa "Guerra Santa", nome dado pelos Europeus às lutas religiosas na Idade Média (por exemplo: Cruzadas). Aquele que segue a Jihad é conhecido como Mujahid. A explicação quanto às duas formas de Jihad não está presente no Alcorão, mas sim nos ditos do Profeta Muhammad: Uma, a "Jihad Maior", é descrita como uma luta do indivíduo consigo mesmo, pelo domínio da alma; e a outra: a "Jihad Menor", é descrita como um esforço que os muçulmanos fazem para levar a mensagem do Islão aos que não têm ciência da mesma (ou seja, daqueles que não se submetem a Deus e à paz). 277


Há opiniões divergentes quanto às formas de acção que são consideradas Jihad. A Jihad só pode ser travada para defender o Islão. No entanto, alguns grupos acham que isto tem aplicação não apenas à defesa física dos muçulmanos, mas também à reclamação de terra que em tempos pertenceu a muçulmanos ou a protecção do Islão contra aquilo que eles vêem como influências que "corrompem" a vida muçulmana. A ideia da Jihad como uma guerra violenta é uma ideia criada por Ocidentais. De acordo com as formas comuns do Islão, se uma pessoa morre em Jihad, ela é enviada directamente para o paraíso, sem quaisquer punições pelos seus pecados. De acordo com o sociólogo sírio-alemão especialista no Islão, ele próprio um muçulmano sunita, Bassam Tibi, o fenómeno do fundamentalismo islâmico é uma forma de oportunismo político de alguns grupos, que se aproveitam da noção de Jihad, desvirtuando o Islão para torná-lo um factor de acção política em proveito próprio. Porém, não se pode esquecer que "Jihad" foi o termo utilizado por Maomé (profeta do Islamismo) que significava "guerra sagrada", simbolizando a luta pela conversão do maior número de pessoas para a religião. Isso ocorreu após a Hégira, quando então o apóstolo criou os cinco pilares do Islamismo, aliado ao conceito de Jihad. Esses factos aconteceram na antiga Iatreb (actual Medina).

O Alcorão A primeira sura do Alcorão, intitulada Al-Fatiha ("A Abertura") Os ensinamentos de Alá (Allah, a palavra árabe para Deus) estão contidos no Alcorão (Qur'an, "recitação"). Os muçulmanos acreditam que Maomé recebeu estes ensinamentos de Alá por intermédio do anjo Gabriel (Jibreel) através de revelações que ocorreram entre 610 e 632 D.C.. Maomé recitou estas revelações aos seus companheiros, muitos dos quais se diz terem memorizado e escrito no material que tinham à disposição (omoplatas de camelo, folhas de palmeira, pedras...). As revelações a Maomé foram mais tarde reunidas em forma de livro. Considera-se que a estruturação do Alcorão como livro ocorreu entre 650 e 656 durante o califado de Otman. O Alcorão está estruturado em 114 capítulos chamados suras. Cada sura está por sua vez subdividida em versículos chamados ayat. Os capítulos possuem tamanho desigual (o menor possui apenas 3 versículos e os mais longos 286 versículos) e a sua disposição não reflecte a ordem da revelação. Considera-se que 92 capítulos foram revelados em Meca e 22 em Medina. As suras são identificadas por um nome, que é em geral uma palavra distintiva surgida no começo do capítulo ("A Vaca", "A Abelha", "O Figo"). Uma vez que os muçulmanos acreditam que Maomé foi o último de uma longa linha de profetas, eles tomam a sua mensagem como um depósito sagrado, e tomam muito cuidado assegurando que a mensagem tenha sido recolhida e transmitida de uma maneira a não trair esse legado. Esta é a principal razão pela qual as traduções do Alcorão para as línguas vernáculas são desencorajadas, preferindo-se ler e recitar o Alcorão em árabe. Muitos muçulmanos memorizam uma porção do Alcorão na sua língua original; aqueles que memorizaram o Alcorão por inteiro são conhecidos como hafiz (literalmente "guardião"). A mensagem principal do Alcorão é a da existência de um único Deus, que deve ser adorado. Contém também exortações éticas e morais, histórias relacionadas com os profetas anteriores a Muhammad (que foram rejeitados pelos povos aos quais foram enviados), avisos sobre a chegada do dia do Juízo Final, bem como regras relacionadas com aspectos da vida diária como o casamento e o divórcio. 278


Além do Alcorão, as crenças e práticas do Islão baseiam-se na literatura hadith, que para os muçulmanos clarifica e explica os ensinamentos do profeta.

Conteúdo temático do Alcorão O Alcorão descreve as origens do Universo, o Homem e as suas relações entre si e o Criador. Define leis para a sociedade, moralidade, economia e muitos outros assuntos. Foi escrito com o intuito de ser recitado e memorizado. Os muçulmanos consideram o Alcorão sagrado e inviolável. Para os muçulmanos, o Alcorão é a palavra de Deus, sagrada e imutável, que fornece as respostas acerca das necessidades humanas diárias, tanto espirituais como materiais. Ele discute Deus e os seus nomes e atributos, crentes e suas virtudes, e o destino dos não-crentes (kuffar); até mesmo temas de ciência. Os muçulmanos não seguem apenas as leis do Alcorão, eles também seguem os exemplos do profeta, o que é conhecido como a Sunnah, e a interpretação do Corão contida nos ensinamentos do profeta, conhecida como hadith. Aos muçulmanos é ensinado que Deus lhes enviou outros livros. Para além do Alcorão, os outros são o livro de Ibrahim (que se perdeu), a lei de Moisés (a Torá), os Salmos de David (o Zabûr) e o Evangelho de Jesus (o Injil). O Alcorão descreve Cristãos e Judeus como "o povo do Livro" (ahl al Kitâb). Os ensinamentos do Islão englobam muitas das mesmas personagens do judaísmo e do Cristianismo. Personagens bíblicas bem conhecidas como Adão, Noé, Abraão, Moisés, Jesus, Maria (a mãe de Jesus) e João Baptista são mencionados no Alcorão como profetas do Islão. No entanto, os muçulmanos frequentemente se referem a eles por nomes em língua árabe, o que pode criar a ilusão de que se trata de pessoas diferentes (exemplos: Alá para Deus, Iblis para Diabo, Ibrahim para Abraão, etc). A crença no dia do julgamento (ver: escatologia) e na vida após a morte (Akhirah) também fazem parte da teologia islâmica.

O Alcorão na vida dos Muçulmanos Quando uma criança nasce no seio de uma família muçulmana, os seus pais são saudados com a fórmula "Que esta criança possa estar entre os anunciadores do Alcorão". As crianças muçulmanas aprendem desde cedo a começar determinados actos da sua vida, como as refeições, com a fórmula "Em nome de Deus" (Bismillah) e a concluí-los com a expressão "Louvado seja Deus" (Al-Hamdu Lillah). Estas frases são as mesmas que se encontram nos dois primeiros versículos da primeira sura. Algumas partes do Alcorão são recitadas durante momentos especiais da vida como o casamento ou no leito de morte. Em muitos países muçulmanos certos aspectos da vida pública começam com a recitação de passagens deste livro considerado sagrado. Os muçulmanos não tocam no livro sagrado senão após a ablução, conhecida como wudu. Normalmente, os muçulmanos guardam o Alcorão numa prateleira alta do quarto, em sinal de respeito pelo Alcorão e alguns transportam pequenas versões consigo para seu conforto ou segurança. Apenas a versão original em árabe é considerada como o Alcorão; as traduções são vistas como sombras fracas do significado original. Uma vez que os muçulmanos tratam o livro com reverência, consequentemente é proibido reciclar, reimprimir ou deitar cópias velhas do Alcorão para o lixo. Como solução alternativa, os volumes do Alcorão devem ser enterrados ou queimados de uma maneira respeitosa. 279


Autoridade religiosa Não há uma autoridade oficial que decide se uma pessoa é aceita ou excluída da comunidade de crentes. O Islão é aberto a todos, independentemente de raça, idade, género, ou crenças prévias. É suficiente acreditar na doutrina central do islamismo, acto formalizado pela recitação da chahada, o enunciado de crença do Islão, sem o qual uma pessoa não pode ser considerada um muçulmano. Embora não exista no islamismo uma estrutura clerical semelhante à existente nas denominações Cristãs, existe contudo um grupo de pessoas reconhecidas pelo seu conhecimento da religião e da lei islâmica, denominadas ulemás. Os homens que se destacam pelo seu grande conhecimento da lei islâmica podem receber o título de mufti, sendo responsáveis pela emissão de pareceres sobre determinada questão da lei islâmica; em teoria estes pareceres (fatwas) só devem ser seguidos pela pessoa que os solicitou.

Ramos do Islão Há várias denominações no Islão, cada uma com diferenças ao nível legal e teológico. Os maiores ramos são o Islão sunita e o Islão xiita. O profeta Maomé faleceu em 632 sem deixar claro quem deveria ser o seu sucessor na liderança da comunidade muçulmana (a Umma). Abu Bakr, um dos primeiros convertidos ao islamismo e companheiro do profeta, foi eleito como califa ("representante"), função que desempenhou durante dois anos. Depois da sua morte a liderança coube durante dez anos a Omar e logo de seguida a Otman durante doze anos. Quando Otman faleceu ocorreu uma disputa em torno de quem deveria ser o novo califa. Para alguns essa honra deveria recair sobre Ali, primo de Maomé que era também casado com a sua filha Fátima. Para outros, o califa deveria ser o primo de Otman, Muawiyah. Quando Ali é eleito califa em 656 Muawiyah contesta a sua eleição, o que origina uma guerra civil entre os partidários das duas facções. Ali acabaria por ser assassinado em 661 e Muawiyah conquista o poder para si e para a sua família, fundando a dinastia dos Omíadas. Contudo, o conflito entre os dois campos continua e em 680 Hussein, filho de Ali, é massacrado pelas tropas de Yazid, filho de Muawiyah. Estas lutas estão na origem dos dois principais ramos em que actualmente se divide o Islão. Os partidários de Ali (shiat ali, ou seja, Xiitas) acreditam que os três primeiros califas foram usurpadores que retiraram a Ali o seu direito legítimo à liderança. Esta crença é justificada em "hadiths" interpretados como reveladores de que quando Maomé se encontrava ausente ele nomeava Ali como líder momentâneo da comunidade. O islamismo sunita compreende actualmente cerca de 90% de todos os muçulmanos. Dividese em quatro escolas de jurisprudência (madhabs), que interpretam a lei islâmica de forma diferente. Essas escolas tomam o nome dos seus fundadores: maliquita (forte presença no Norte de África), shafiita (presente no Médio Oriente, Indonésia, Malásia, Filipinas), hanefita (presente na Ásia Central e do Sul, Turquia) e hanbalita (dominante na Arábia Saudita e Qatar). O muçulmanos Xiitas acreditam que o líder da comunidade muçulmana - o imã - deve ser um descendente de Ali e de sua esposa Fátima. O Islão xiita pode por sua vez ser subdividido em três ramos principais, de acordo com o número de imãs que reconhecem: Xiitas duodecimanos, ismailitas e zaiditas. Todos estes grupos estão de acordo em relação à legitimidade dos quatro primeiros imãs. Porém, discordam em relação ao quinto: a maioria do Xiitas acredita que o neto de Hussein,

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Muhammad al-Baquir, era o imã legítimo, enquanto que outros seguem o irmão de al-Baquir, Zayd bin Ali (zaiditas). Os Xiitas que não reconheceram Zayd como imã permaneceram unidos durante algum tempo. O sexto imã, Jafar al-Sadiq (702-765), foi um grande erudito que é tido em consideração pelos teólogos Sunitas. A principal escola xiita de lei religiosa recebe o nome de jafarita por sua causa. Após a morte de Jafar al-Sadiq ocorreu uma cisão no grupo: uns reconheciam como imã o filho mais velho de al-Sadiq, Ismail bin Jafar (m. 765), enquanto que para outros o imã era o filho mais novo, Musa al-Kazim (m. 799). Este último grupo continuou a seguir uma cadeia de imãs até ao décimo segundo, Muhammad al-Mahdi (falecido, ou de acordo com a visão religiosa, desaparecido em 874 para retornar no fim do mundo). Os primeiros ficaram conhecidos como ismailitas, enquanto que os que seguiram uma cadeia de doze imãs ficaram conhecidos como os Xiitas duodecimanos; o termo "xiita" é geralmente usado hoje em dia como um sinónimo dos Xiitas duodecimanos, que são maioritários no Irão. Para os ismailitas, Ismail nomeou o seu filho Muhammad ibn Ismael como seu sucessor, tendo a linha sucessória dos imãs continuado com ele e os seus descendentes. O ismailismo dividiuse por sua vez em vários grupos. Outra denominação que tem origem nos tempos históricos do Islão é a dos kharijitas. Historicamente, consideravam que qualquer homem, independentemente da sua origem familiar, poderia ser líder da comunidade islâmica, opondo-se às polémicas de sucessão entre Sunitas e Xiitas. Os membros deste grupo hoje são mais comummente conhecidos como muçulmanos ibaditas. Um grande número de muçulmanos ibaditas vive hoje no Omã.

Movimentos recentes Um movimento recente no Islão sunita é o dos wahhabitas, assim denominados por ocidentais e por pessoas de fora desta corrente ideológica. O wahhabismo é um movimento fundado por Muhammad ibn Abd al Wahhab no século XVIII, naquilo que hoje é a Arábia Saudita. Os wahhabitas consideram-se Sunitas e alguns afirmam seguir a escola hanbalita. O wahhabismo tem uma grande influência no mundo islâmico pelo facto do governo saudita financiar muitas mesquitas e escolas muçulmanas existentes em outros países.

Misticismo Muitas vezes visto pelos próprios muçulmanos como um ramo separado do Islão, o sufismo é antes uma forma de misticismo que pretende alcançar um contacto directo com Deus através de uma série de práticas que geralmente incluem o ascetismo e a meditação. Desconhece-se de onde deriva a palavra sufismo (em árabe: tasawwuf). O termo poderá provir de sūf, "lã", o que se encontra relacionado com o facto dos primeiros sufis vestirem roupas feitas com o material, imitando os ascetas Cristãos da Síria e da Palestina. Outra teoria procura relacionar sufismo com a palavra árabe safa, que significa "pureza". O sufismo já existia como movimento no primeiro século do Islão. Para os sufis o próprio profeta Maomé seria um deles, já que levaria uma vida extremamente simples, tendo por hábito retirar-se de Meca para meditar numa caverna, tendo estabelecido uma relação próxima com Deus. Um dos primeiros representantes do sufismo foi al-Hasan al-Basri (642-728), que rejeitou o materialismo do mundo e criticou os soberanos omíadas. Saliente-se ainda deste período inicial uma mulher, Rabi'ah al-Adawiyah (? - 801), cujo amor por Deus leva-a a excluir o apego ao mundo. 281


Desde o século XIII, os sufis organizam-se em ordens ou irmandades (tariqas) que seguem os métodos ensinados por um determinado mestre (os xeques ou pirs). As ordens sufis podem ser encontradas quer no sunismo, quer no xiismo. O sufismo foi por vezes entendido pelas autoridades Ortodoxas muçulmanas como uma ameaça, tendo os seus líderes e adeptos sido alvo de perseguições. O sufismo tem sido igualmente criticado devido ao facto de alguns dos seus mestres terem alcançado um estatuto de santo, tendo sido erguidos santuários nos locais onde nasceram ou faleceram que se tornaram locais de peregrinações.

Comemorações O calendário islâmico (também denominado calendário hegírico em função da sua origem remontar à Hégira ou migração dos primeiros muçulmanos de Meca para Medina em 622 D.C.) segue o ano lunar, que é cerca de onze dias mais curto que o solar. Consequentemente, as comemorações muçulmanas acabam por circular por todas as estações de ano. As duas comemorações do Islão são o Eid ul-Fitr, que celebra o fim do jejum do Ramadão, e o Eid ul-Adha que marca o fim da peregrinação a Meca (Hajj). O dia 10 do mês de Muharram (o primeiro mês do calendário islâmico) é um dia de particular importância para os muçulmanos Xiitas. Neste dia comemora-se o martírio do terceiro imã xiita, Hussein, morto em Karbala em 680 por aqueles que os Xiitas consideram usurpadores da liderança da comunidade muçulmana. No início deste mês as pessoas envolvem-se em actividades como ouvir contadores de histórias relatar o martírio de Hussein ou assistir a peças de teatro que pretendem reconstituir os acontecimentos. O dia é marcado com procissões, que incluem actos de auto-flagelação como bater no peito ou cortar-se com uma lâmina (os membros do clero xiita desencorajam estas práticas). Outras comemorações populares incluem o Mawlid, que celebra o aniversário de Maomé (12 do mês de Rabi al-Awwal), a Noite da Ascensão (Laylat al-Micraj, no dia 27 de Rajab), quando se recorda o dia em que Maomé subiu ao céu para dialogar com Deus e a Noite do Poder (Laylat al-Qadr, na noite do 26 para 27 do mês do Ramadão), que marca o aniversário da primeira revelação do Alcorão e durante a qual muitos muçulmanos acreditam que Deus decide o que acontecerá durante o ano.

Lugares sagrados

A Cúpula da Rocha, em Jerusalém, cidade sagrada para a religião muçulmana

A Caaba ("O Cubo"), um edifício situado dentro da mesquita principal de Meca (Al Masjid AlHaram) na Arábia Saudita, é o local mais sagrado do Islão. De acordo com o Alcorão, ela foi construída por Abraão (Ibrahim) para que todas as pessoas fossem ali celebrar os ritos da Hajj. No tempo do profeta Maomé o monoteísmo instituído por Abraão tinha sido corrompido pelo politeísmo e pela idolatria. Segundo o islamismo, Maomé não procurou fundar uma nova religião, mas antes restabelecer o culto monoteísta que existia no passado. Uma vez que o Islão se identifica com a tradição religiosa do patriarca Abraão é por isso classificado como 282


uma religião abraâmica. O islamismo não nega directamente o judaísmo e o Cristianismo, pelo contrário considera uma versão antiga e perdida dessas religiões monoteístas como parte da sua herança; as suas versões actuais teriam sido alteradas, o próprio Islão considerando-se uma restauração da verdade divina. O segundo local sagrado do islamismo é Medina, cidade para a qual Maomé e os primeiros muçulmanos fugiram (num movimento conhecido como Hégira), e onde se encontra o seu túmulo. A cidade de Jerusalém é o terceiro local sagrado do Islão. Este estatuto advém da sua associação aos profetas anteriores a Maomé e sobretudo pelo facto dos muçulmanos acreditarem que o profeta teria viajado para este local durante a noite, cavalgando um ser denominado Buraq, numa viagem conhecida como Isra. Uma vez em Jerusalém ele teria ascendido ao céu (Mi’raj), onde dialogou com Deus e outros profetas, entre os quais Moisés. No local de Jerusalém onde se acredita que Maomé subiu ao céu foi construída a Cúpula da Rocha em cerca de 690, sobre as ruínas do antigo Templo de Salomão dos judeus. Os muçulmanos Xiitas consideram ainda como sagradas as cidades de Karbala e Najaf, ambas no Iraque. Na primeira ocorreu o martírio de Hussein (filho de Ali e neto de Maomé) e dos seus companheiros quando este contestava o califado omíada. No Irão, devem também ser salientadas duas cidades sagradas para os Xiitas, Mashhad e Qom.

Lei Islâmica (Xariá) A Lei Islâmica chama-se Xariá. O Alcorão é a mais importante fonte da jurisprudência islâmica, sendo a segunda a Suna ou exemplos do profeta. A Suna é conhecida graças aos ahadith, que são narrações acerca da vida do profeta ou o que ele aprovava, que chegaram até nós graças a uma cadeia de transmissão oral a partir dos Companheiros de Maomé. A terceira fonte de jurisprudência é o itjihad ("raciocínio individual"), à qual se recorre quando não há resposta clara no Alcorão ou na Suna sobre um dado tema. Neste caso o jurista pode raciocinar por analogia (qiyas) para encontrar a solução. A quarta e última fonte de jurisprudência é consenso da comunidade (ijma). Algumas práticas também chamadas de "charia" têm também algumas raízes nos costumes locais (Al-urf). A jurisprudência islâmica chama-se fiqh e está dividida em duas partes: o estudo das fontes e metodologia (usul al-fiqh, raízes da lei) e as regras práticas (furu' al-fiqh, ramos da lei).

Adultério e Lapidação (morte por apedrejamento) Antigo Testamento (Lv. 20,10-13) Se um homem cometer adultério com a mulher de outro homem, com a mulher do seu próximo, tanto o adúltero quanto a adúltera terão que ser executados. 11 Se um homem se deitar com a mulher do seu pai, desonrou seu pai. Tanto o homem quanto a mulher terão que ser executados, pois merecem a morte. 12 Se um homem se deitar com a sua nora, ambos terão que ser executados. O que fizeram é depravação: merecem a morte. 13 Se um homem se deitar com outro homem como quem se deita com uma mulher, ambos praticaram um acto repugnante. Terão que ser executados, merecem a morte. 10

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Antigo Testamento (Dt. 22, 22-25) Se um homem for surpreendido deitado com a mulher de outro, os dois terão que morrer, o homem e a mulher com que se deitou. Eliminem o mal do meio de Israel. 23 Se numa cidade um homem se encontrar com uma jovem prometida em casamento e se deitar com ela, 24 levem os dois à porta da cidade e apedrejem-nos até à morte; a moça porque estava na cidade e não gritou por socorro, e o homem porque desonrou a mulher doutro homem. Eliminem o mal do meio de vocês. 25 Se, contudo, um homem encontrar no campo uma jovem prometida em casamento e a forçar, somente o homem morrerá. 26 Não façam nada à moça, pois ela não cometeu pecado algum que mereça a morte. 22

Novo Testamento, Jesus (Jo. 8, 3-11) 3

Os mestres da lei e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher surpreendida em adultério. Fizeram-na ficar 4

de pé diante de todos e disseram a Jesus: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em acto de adultério. 5

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Na Lei, Moisés nos ordena apedrejar tais mulheres. E o senhor, que diz?” Eles estavam usando essa pergunta como armadilha, a fim de terem uma base para acusá-lo. 7

Mas Jesus inclinou-se e começou a escrever no chão com o dedo. Visto que continuavam a interrogálo, ele se levantou e lhes disse: “Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra a 8

ela”. Inclinou-se novamente e continuou a escrever no chão. 9

Os que o ouviram foram saindo, um de cada vez, começando pelos mais velhos. Jesus ficou só, com a 10

mulher em pé diante dele. Ninguém te condenou?”

Então Jesus pôs-se em pé e perguntou-lhe: “Mulher, onde estão eles?

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“Ninguém, Senhor”, disse ela. Declarou Jesus: “Eu também não te condeno. Agora vai e abandona tua vida de pecado”.

Alcorão - Cap. 24, 2 e 6 A punição que vigora no Alcorão não é o de apedrejamento, mas sim de 100 chibatadas, para a adúltera e o adúltero, quando comprovado com o testemunho ocular de 4 pessoas. Não há lapidação no Alcorão.

Lapidação na vida real dos Islâmicos A lapidação é contemplada nas leis de alguns países muçulmanos. Curiosamente, o Alcorão nada diz sobre lapidação, mas sim o Hadith (recolha das palavras e lendas de Maomé). Na verdade, é uma pena herdada dos tempos bíblicos e da tradição judaica, onde era reservada entre outras, às adúlteras. A doutrina islâmica, charia, ensina que existem 5 escituras sagradas: a Torá, o Livro dos Salmos (do Antigo Testamento), os Evangelhos (do Novo Testamento, considerados como um único livro), o Alcorão e a Suna. A charia ou xariá, também grafadas sharia ou shariah, é o nome que se dá ao código de leis do islamismo. Em várias sociedades islâmicas, ao contrário da maioria das sociedades ocidentais dos nossos tempos, não há separação entre a religião e o direito, todas as leis sendo religiosas e baseadas ou nas escrituras sagradas ou nas opiniões de líderes religiosos. O Alcorão é a mais importante fonte da jurisprudência islâmica, sendo a segunda a Suna (obra que narra a vida e os caminhos do profeta). A partir da Suna, vêm os ahadith, as narrações do profeta.

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Um hadith é uma narração acerca da vida do profeta ou o que ele aprovava - ao passo que a Suna é a sua própria vida em si. Para a maioria dos muçulmanos, o hadith contém uma exposição com autoridade dos significados do Alcorão. Algumas práticas incluídas na charia têm também algumas raízes nos costumes locais (Al-Urf). A palavra árabe Suna ou Sunnah significa ‘caminho trilhado’, e logo, suna do profeta significa os caminhos trilhados pelo profeta, ou aquilo que é normalmente conhecido como Tradições do Profeta. Significa também os feitos, dizeres e aprovações do Profeta Muhammad (Maomé) durante os seus 23 anos de profeta, e isto significa que tudo o que ele disse, fez ou aprovou durante o seu tempo como profeta e mensageiro de Deus é considerado uma suna, e os muçulmanos têm de seguir e praticar as suas tradições. Os registros validados (a "hadith") desse "caminho", constituem um exemplo moral para os muçulmanos. Sunnah, deste modo, é a segunda fonte da lei islâmica após o sagrado Alcorão. O sagrado Alcorão para os muçulmanos é a palavra de Allah (Deus), e a Sunnah passa a ser os meios pelo que o profeta Muhammad aplicou e ensinou o Islão, para e com seus companheiros, sendo estas informações compiladas e armazenadas em muitos livros. O Hadith, é um corpo de leis, lendas e histórias sobre a vida de Maomé, (estas histórias chamam-se em Árabe Sunnah e incluem a sua biografia) e os próprios dizeres nos quais ele justificou as suas escolhas ou ofereceu conselhos; muitas partes do Hadith lidam com os seus companheiros (Sahaba). Para a maioria dos muçulmanos, o hadith contém uma exposição com autoridade dos significados do Alcorão. A LAPIDAÇÃO é uma prática punitiva que choca o mundo não-islâmico e parte do mundo islâmico. Apesar de estar intimamente ligada à lei islâmica, a verdade é que a lapidação ou apedrejamento até à morte foi importada da tradição judaica através de uma passagem da vida de Muhammad (Maomé) que narra que após a hégira (fuga) do Profeta de Meca para Medina, este teve de se relacionar com três tribos judaicas que ali habitavam, tornando-se no juiz local. Certa vez dois jovens foram levados à presença do juiz Maomé (Muhammad) acusados de cometerem adultério. Muhammad pediu ao acusador que procurasse na lei e na tradição judaica o que era referido em relação ao adultério, se mereceria castigo ou não. Uma vez que o castigo por adultério havia desaparecido no Alcorão, foi preciso ler a lei judaica, e enquanto o acusador lia, dá um pulo de surpresa, que leva o juiz a dizer: “lê exactamente o que diz”. Apesar de se ter perdido esse hábito aquilo que a lei judaica dizia era que o adultério deveria ser pago com a lapidação. Muhammad mandou aplicar. Portanto, é precisamente desta passagem da vida do Profeta que os legisladores islâmicos importaram a prática da lapidação perante o adultério. Note-se, que não se pretende branquear a culpa islâmica, apenas referimos as origens históricas do castigo, sabendo que a tradição islâmica deriva do judaísmo primitivo. Resumindo: O islâmico que pratica os ensinamentos do Alcorão (Lei mais importante – de Deus) não aplicará a lapidação. Os fundamentalistas islâmicos que se baseiam na hadith, por vezes, infelizmente, aplicam a lapidação. Infelizmente outras culturas a aplicaram e aplicam. Os Homens têm muito que evoluir.

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O Islão no mundo contemporâneo

O Islão no mundo contemporâneo: em verde países onde existe uma maioria sunita, e o azul onde há maioria xiita.

O Islão é a segunda religião com maior número de fiéis, atrás apenas do Cristianismo, segundo o CIA World Factbook de 2005. De acordo com o World Network of Religious Futurists, e o U.S. Center for World Mission o islamismo estaria crescendo mais rapidamente em número de crentes de qualquer outra religião. O Islão reúne hoje entre 1 a 1,3 bilhão de crentes. Apenas 18% dos muçulmanos vive no mundo árabe, um quinto encontra-se espalhado pela África subsariana, cerca de 30% vive no Paquistão, Índia e Bangladesh, e a maior comunidade nacional encontra-se na Indonésia. Há significantes populações islâmicas na China, Ásia Central, e Rússia. A Áustria foi o primeiro país europeu a reconhecer o Islão como uma religião oficial (1912), enquanto que a França tem actualmente a população mais elevada de muçulmanos da Europa Ocidental (entre 5 a 10%). Em Portugal existe igualmente uma comunidade muçulmana, que nada tem a ver com os muçulmanos que viveram no país durante a Idade Média; são na sua maioria naturais das antigas colónias portuguesas de Moçambique e Guiné-Bissau, que se fixaram em Portugal após a independência desses territórios. O Islão xiita ismailita também está presente em Portugal, tendo a sua sede no Centro Ismaili de Lisboa, construído pela Fundação Aga Khan. Estima-se que o número de muçulmanos em Portugal ronde os 30 mil. Segundo o censo de 2000, o Brasil regista 27239 muçulmanos. Porém, para a Federação Islâmica Brasileira o número de muçulmanos no Brasil ronda os 1,5 milhões. [carece de fontes?] A maioria dos muçulmanos brasileiros vive nos estados do Paraná e Rio Grande do Sul, mas também existem comunidades significativas no Mato Grosso do Sul e São Paulo. Grande parte destes muçulmanos são descendentes de emigrantes sírios e libaneses que se fixaram no Brasil durante a Primeira Guerra Mundial. Na Guiné-Bissau o Islão penetrou na Idade Média, tendo as ordens sufistas desempenhado um importante papel na sua difusão. Reúne hoje cerca de 45% da população. Outro país africano de língua oficial portuguesa com um número significativo de muçulmanos é Moçambique (17,8%). O islamismo contemporâneo é dominado pelo tradicionalismo, preocupado com a manutenção de rituais e práticas antigas, como o uso do véu pelas mulheres. Existem ainda correntes que pretendem conciliar o Islão com aspectos da modernidade, que são principalmente activas nos Estados Unidos da América. À semelhança do que acontece no judaísmo e no Cristianismo, o islamismo é também marcado pela existência de movimentos ditos integristas ou fundamentalistas. As tradições islâmicas baseiam-se no Alcorão, nos ditos do profeta (hadith) e nas interpretações destas fontes pelos teólogos. Ao longo dos últimos séculos, tem-se verificado uma tendência para o conservadorismo, com interpretações novas vistas como indesejáveis.

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A xariá antiga tinha um carácter muito mais flexível do que aquele hoje associado com a jurisprudência islâmica (fiqh), e muitos académicos muçulmanos islâmicos acreditam que ela deva ser renovada, e que os juristas clássicos deveriam perder o seu estatuto especial. Isto implica a necessidade de formular uma nova fiqh que seja praticável no mundo moderno, como proposto pelos defensores da islamização do conhecimento, e iria lidar com o contexto moderno. Este movimento não pretende alterar os pontos fundamentais do islamismo, mas sim evitar más interpretações e libertar o caminho para a renovação do prévio estatuto do mundo islâmico como um centro de pensamento moderno e de liberdade.

Perspectiva Islâmica de outras religiões O islamismo reconhece elementos de verdade no judaísmo e no Cristianismo. Todos os profetas do judaísmo são reconhecidos também como profetas no Islão, assim como Jesus Cristo, que de acordo com a perspectiva muçulmana teria anunciado a vinda de Maomé. Para os seguidores destas duas crenças o Alcorão reservou a noção de "Povos do Livro" (Ahl alKitab), estabelecendo que devem ser tolerados devido ao facto de possuírem escrituras sagradas. À medida que os muçulmanos tomaram contacto com outras religiões detentoras de revelações escritas, acabaram em alguns casos por conceder-lhes também esse estatuto (caso do zoroastrismo). Porém, se o Islão reconhece o papel preparatório do judaísmo e do Cristianismo, considera igualmente que os seguidores destas religiões acabaram por seguir caminhos errados. Os judeus procederam mal ao adorarem o bezerro de ouro, tendo se tornado idólatras, enquanto que os Cristãos erraram ao considerar Jesus filho de Deus e a defender doutrinas como a da Santíssima Trindade.

Comparação entre Cristianismo e doutrina Islâmica. (Visão Católica)

1)Termo: Vida após a morte Cristianismo : Cristãos estarão com o Deus no céu (Filipenses 1:21-24; 1 Coríntios 15:50-58). Os não Cristãos serão lançados no inferno para sempre (Mateus 25:46). O Paraíso é um estado intermediário entre a morte e a ressurreição (Lc.19:16-31). O Inferno - e todos os infiéis serão lançados no lago de fogo para todo o sempre (Ap. 20:14). Islamismo : Há uma vida após a morte (75:12) uma vida ideal no Paraíso (29:64), para muçulmanos fiéis, ou Inferno para os que não são fiéis. 2)Termo: Anjos Cristianismo: Seres criados, não-humanos alguns dos quais, caíram em pecado e tornaram-se demónios. Eles são muito poderosos. Os anjos que não caíram levam a cabo a vontade de Deus. Islamismo: Seres criados sem vontade própria que servem a Deus. Anjos são criados da luz.

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3)Termo: Reconciliação Cristianismo: O sacrifício de Cristo na cruz (1 Pedro 2:24) por meio do Seu sangue torna-se o Sacrifício que leva embora a ira de Deus (1 Jo. 2:2) do pecador quando o pecador o recebe (João 1:12), pela fé (Romanos. 5:1), no trabalho de Cristo na cruz. Islamismo: Não há nenhum trabalho de reconciliação no Islão diferente de uma sincera confissão de pecado e arrependimento pelo pecador. 4)Termo: Bíblia Cristianismo: Inspirada por Deus e formulada sem erros (2 Timóteo. 3:16). Islamismo: Palavra respeitada dos profetas mas a Bíblia foi corrompida pelos séculos e só é correcta na medida em que concorda com o Alcorão. 5)Termo: Crucificação Cristianismo: O lugar onde o Jesus expiou pelos pecados do mundo. Só por este sacrifício que qualquer um pode ser salvo da ira de Deus (1 Pedro 2:24). Islamismo: Jesus não morreu na cruz. Ao invés, Deus permitiu que Judas se parecesse com Jesus e este fosse crucificado ao invés. Alá mentiu e enganou o povo e foi injusto com Judas, pois fez o rosto de Cristo aparecer sobre ele. 6) Termo: Diabo Cristianismo: Um Anjo caído que opõe a Deus de todos os modos. Ele também busca destruir a humanidade (Isaías 14:12-15; Ezequiel 28:13-15). Islamismo: Íblis, um jinn caído. Jinn não são anjos nem homens, mas seres criados com vontades próprias. Os Jinns foram criados do fogo, (2:268; 114:1-6). 7) Termo: Deus Cristianismo: Deus é uma trindade de pessoas: Pai, Filho, e Espírito Santo. A Trindade não são três deuses em um deus, nem uma pessoa que tem três formas. Trinitarianismo é estritamente monoteísta. Não há nenhum outro Deus em existência. (Mt. 28:19). Islamismo: Deus é conhecido como Alá. Alá é uma pessoa, uma unidade rígida. Não há nenhum outro Deus em existência. Ele é o criador do universo (3:191), soberano acima de tudo (6:61-62). No alcorão lemos acerca de Maomé: Fui mandado adorar o senhor desta Terra (ou metrópole) - (Sura 27:91). Alá era um nome que se usava para um dos deuses da Arábia, que era conhecido como o pai das deusas Lat, Uzza e Manat, adoradas por muito. 8)Termo: Céu (Paraíso) Cristianismo: O lugar onde Deus mora. Céu é a casa dos Cristãos que são salvados pela graça de Deus. É céu porque é onde Deus e os Cristãos desfrutarão amizade eterna com Ele. (Jo. 14:1-3; II 5:1). 288


Islamismo: Paraíso para muçulmanos, um lugar de alegrias inimagináveis (32:17), um jardim com árvores e comida (13:35;15:45-48) onde são conhecidos os desejos de muçulmanos fiéis, (3:133; 9:38; 13:35; 39:34; 43:71; 53:13-15). Interessante é que há promessas de virgens belas só para os homens (Sura 56:156), deveria haver promessas de jovens belos para as mulheres também! Mas não há. O céu do islamismo parece algo bem estranho aos olhos de quem conhece a Bíblia, principalmente no NT que condena veemente a poligamia e a prostituição (I Cor. 7). 9) Termo: Inferno Cristianismo: Um lugar de tormento em fogo fora da presença de Deus. Não há fuga do Inferno (Mateus 25:46). Islamismo: Inferno é um lugar de castigo eterno e tormento (14:17; 25:65; 39:26), em fogo (104:6-7) para esses que não são os muçulmanos (3:131) bem como esses que de quem o trabalho e a fé não são suficientes (14:17; 25:65; 104:6-7). 10) Termo: Espírito Santo Cristianismo: Terceira pessoa da Trindade. O Espírito Santo é completamente Deus em natureza. (Jo. 14:26). Islamismo: O arcanjo Gabriel que entregou as palavras do Alcorão a Maomé. Os eruditos muçulmanos aplicam o texto de João 14:16 como se fosse uma referência a Maomé, pois no "Alcorão", livro sagrado dos islâmicos, ele é chamado de "Ahmad" (periclytos - que eles consideram a forma correcta de parakletos. Acontece porém que o texto no original grego do Novo Testamento não traz "periclytos" (o que é louvado), mas "parakletos" que é consolador. Para tentar dar consistência a seus argumentos os apologistas islâmicos se apegam ao evangelho apócrifo de Barnabé que ao invés de trazer a forma correcta "parakletos", traz "periklutos" que expressa o significado do nome Maomé. Mesmo sabendo que é um evangelho espúrio e com erros de gramática , os muçulmanos fazem vistas grossas à isto. O que eles querem mesmo é fazer Maomé ser o "outro consolador" a qualquer custo! 11) Termo: Jesus Cristianismo: Segunda pessoa da Trindade. Ele é a palavra que se tornou carne (João 1:1, 14). Ele é Deus e homem (Colossenses. 2:9). Islamismo: Um grande profeta, só sucede a Maomé. Jesus não é o filho de Deus (9:30) e certamente não é divino (5:17, 75) e ele não foi crucificado (4:157). 12) Termo: Dia do julgamento Cristianismo: Acontece no dia da ressurreição (João 12;48) onde Deus julgará todas as pessoas. Os Cristãos vão para o céu. Todos os outros para o inferno (Mateus. 25:46). Islamismo: Acontece no dia da ressurreição onde Deus julgará todas as pessoas. 289


Muçulmanos vão para o paraíso. Todos os outros para o inferno (10:53-56; 34:28). O Julgamento está baseado nas acções de uma pessoa (14:47-52; 45:21-22). 13) Termo: Alcorão Cristianismo: O trabalho de Maomé. Não é inspirado, nem é considerado como escritura. Não há nenhuma verificação precisa dos originais. É um livro que não está estribado no amor, pois manda perseguir e matar os inimigos, enquanto que o Novo Testamento manda oferecer a outra face (Mt. 5:39). Islamismo: A revelação de Deus para todo género humano dado pelo arcanjo o Gabriel para Maomé num período de mais de 23 anos. Está sem erro e resguardada de erros por Alá. Apesar disso, os muçulmanos acreditam que alguns versos mais antigos foram substituídos. Alguns especialistas afirmam que 225 versos foram suprimidos, o que é motivo de constrangimento para os muçulmanos. 14) Termo: Homem Cristianismo: Feito à imagem de Deus (Génesis 1:26). Isto não significa que Deus tem um corpo, mas que o homem é feito como Deus em suas habilidades (razão, fé, amor, etc.). Islamismo: Não feito na imagem de Deus (42:11). O Homem é feito do pó da terra (23:12) e Alá soprou o fôlego da vida no homem (32:9; 15:29). 15) Termo: Muhammad ou Maomé Cristianismo: Um homem não inspirado nascido em 570 em Meca que começou a religião Islâmica que é completamente diferente da ensinada por Jesus Cristo. Islamismo: O último e maior de todos os profetas de Alá e o Alcorão é o maior de todos os seus livros. 16)Termo: Pecado original Cristianismo: Este é um termo que descreve o efeito do pecado de Adão nos seus descendentes (Rom. 5:12-23). Especificamente, é nossa herança da natureza pecaminosa de Adão. A natureza pecaminosa de Adão é passada de pai para filho. Nós somos por natureza os filhos da ira (Efésios. 2:3). Islamismo: Não existe nenhum pecado original. Todas as pessoas são sem pecado até que eles se rebelem contra Deus. Elas não têm natureza pecaminosa. 17) Termo: Ressurreição Cristianismo: Ressurreição de todas as pessoas, são ressuscitados os não Cristãos para condenação eterna e Cristãos à vida eterna (1 Cor. 15:50-58). Islamismo: Ressurreição, alguns para o céu (os fiéis), alguns para o inferno (os não fiéis) (3:77; 15:25;75:36-40; 22:6).

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18) Termo: Salvação Cristianismo: Um dom gratuito de Deus (Efésios. 2:8-9) para a pessoa que acredita em Cristo e no Seu sacrifício na cruz. Ele é o nosso mediador (1 Timóteo. 2:5). Islamismo: A salvação depende do esforço e das boas obras de cada um. 19)Termo: Filho de Deus Cristianismo: O termo que define que Jesus é divino (João 5:18). Islamismo: Jesus não pode ser filho de Alá.

Cristianismo e Islamismo (outra opinião) A coexistência é possível 1. Não há que esconder: quem lê a Bíblia e quem lê o Alcorão percebe, sem ilusões, que cada uma das duas religiões crê que o seu Livro encerra a verdadeira revelação e, portanto, só a sua religião está certa. Há o exclusivismo Cristão, que afirma em Jesus Cristo: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida e ninguém vem ao Pai senão por mim. João 14:6 e que Jesus Cristo é o único nome dado entre os homens pelo qual podemos ser salvos Actos 4:12; e há, do outro lado, a máxima que todo o crente muçulmano proclama sem ambiguidade: Não há outro deus senão Deus e Maomé é o Seu Profeta acompanhando esta máxima o ensino que por “o Seu Profeta” se entende o último e portanto portador da mensagem suprema de salvação para quem crer e obedecer. O Islamismo afirma que Jesus foi um grande Profeta, mas não o Filho de Deus, e a sua mensagem foi realmente muito importante até que o Alcorão foi revelado. 2. Pode dizer-se que, ao nível da revelação escrita, o Cristianismo crê não ser necessário o Islamismo, pois tudo o que o homem precisa é reconhecer Cristo como Senhor e Salvador (o que implica cumprir a vontade de Deus revelada por Cristo); e o Islamismo diz que o Cristianismo está ultrapassado, pois Maomé veio trazer a última e definitiva palavra de salvação. O Islamismo é, nesta perspectiva, a reforma do Cristianismo e com mais razão do Judaísmo. Na verdade, ao nível dos textos chamados sagrados por cada uma das três religiões (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo) elas excluem-se claramente: o Cristianismo vê em Jesus Cristo o mediador de uma Nova Aliança Hebreus 12:24, logo, substituindo a Antiga Aliança com Israel; e o Islamismo vê em Maomé o profeta que reforma o Cristianismo, ainda que encontremos no Alcorão palavras muito positivas sobre o Judaísmo e o Cristianismo:, como estas: Na verdade, os que crêem, os que praticam o Judaísmo, os Cristãos e os sabeus – os que crêem em Deus e no último Dia e praticam o bem – terão a recompensa junto do seu Senhor. Para eles não há temor (Alcorão 2:62 – Sabeus eram membros de uma corrente religiosa existente na Arábia dos dias de Maomé). 3. Falando apenas do Cristianismo e do Islamismo, parece ser muito difícil, ou mesmo impossível, se ficarmos pelos textos bíblicos ou alcorãnicos, uma coexistência pacífica. Mas há aspectos a ter em conta para encontrarmos fundamentos para tal coexistência e mesmo cooperação, hoje urgentemente necessárias. Convém sublinhar à partida que não há na Bíblia uma rejeição radical e indiferenciada das religiões que não tenham Iahweh como único Deus. No Antigo Testamento é evidente que há oposição renhida a religiões dos povos que rodeiam Israel ou com que Israel convive, mas esta oposição tem de ver com características específicas dessas religiões, como os sacrifícios humanos que praticavam, com a prostituição sagrada, com a idolatria. 291


Os crentes israelitas proclamam enfaticamente no “Shema” que o Senhor Deus, Iahweh, é o único Deus Deuteronómio 6:4, e confessam que os deuses dos povos são deuses falsos, mas não encontramos mandamentos para combater, de modo indiferenciado, todas as religiões opostas a Iahweh. Fazendo do Antigo Testamento uma leitura Cristã (Jesus Cristo é a chave hermenêutica da Bíblia), repudiamos todo o uso descrito nele da violência usando o nome de Deus, mas é importante assinalar que não há em toda a Bíblia, para o Cristão, mandamento que permita qualquer forma de “compulsão na religião”, expressão que no Alcorão em português é dita assim: Não há constrangimento na religião Alcorão 2:256. Para os discípulos de Cristo há, é certo, a responsabilidade de difundir as Boas Novas por toda a terra Mateus 28:20, mas essa difusão é pela pregação Romanos 10:17. Os Cristãos dos primeiros séculos não pegaram em armas para obrigar os povos a aceitarem o Evangelho e escolheram ser perseguidos e mortos a perseguirem e matar. As Cruzadas vieram muito mais tarde e no seio de uma Cristandade subvertida, com influências externas. Se tem de haver um combate entre o Cristianismo e as outras religiões, esse combate deve ser pela palavra, pela pregação, pela escrita. Sem nunca esquecer que o Cristão é chamado a fazer o bem, como Jesus Actos 10:38; Efésios 5:1. 4. Autores islâmicos têm sublinhado a sura acima citada (Alcorão 2:256) para repudiar a associação que muitas vezes se faz entre “jihad” e “guerra santa”, violenta. E nesse caso, serão eles os primeiros a declarar erradas as interpretações dos radicais fanáticos que espalham a morte em nome de Allah. Provavelmente, os dias que vivemos não são muito propícios aos que quiserem dar uma imagem mais fiel do Alcorão, mas os Cristãos não devem confundir o Islamismo oficial com as interpretações abusivas de pessoas que alcançaram uma forma delirante de religião, nem deixar-se cair na lógica do “olho por olho, dente por dente” na reacção aos fundamentalistas. A coexistência entre Cristãos e islâmicos é possível se os Cristãos e os islâmicos não se olharem como inimigos a destruir mas como pessoas com ideias diferentes. Especialmente, importa reconhecer que o Cristianismo não pode esquecer que quem o quer guiar é o Espírito de Deus, cujo fruto é amor, alegria, paz, entre outros valores. Gálatas 5:22. 5. Os Cristãos devem também estar atentos a valores veiculados pelo Islamismo. Num mundo em que as igrejas estão vazias e a fé Cristã está quase ausente da vida quotidiana, é um desafio para o Ocidente verificar o interesse que os povos islâmicos dedicam à sua religião. Vemos, indubitavelmente, exageros lamentáveis entre muitos povos muçulmanos, mas temos de nos perguntar se a alternativa melhor é este desânimo e desencanto dos povos que se identificaram tradicionalmente com o Cristianismo. Por outro lado, não é difícil compreender que os povos islâmicos nos vejam como o mundo do Mal, se pensarmos na degradação de costumes que entre nós reina. A corrupção politica e económica alastra-se, a família está em derrocada, as drogas são responsáveis por mais de 70% da criminalidade, o sexo tornou-se um tema banal e conspurcado. A Europa, os Estados Unidos, o Canadá, a Austrália, a América Latina, honram-se da sua matriz Cristã, mas cada vez é menor a influência da mensagem de Cristo nesses lugares. A oposição firme do Islamismo ao consumo de bebidas alcoólicas (que os estudiosos do Islão estendem a qualquer dependência) é mais um valor que o “ocidente Cristão” deve ter presente para se não mostrar tão arrogante no seu progressismo. 6. Outro valor intrínseco do Islamismo é a sua simplicidade. Não tem sacerdotes nem tem um culto faustoso. Nesse aspecto parece-se bastante com o Protestantismo (aliás, já é antiga essa comparação do Islamismo com o Protestantismo, especialmente o Calvinismo). Essa simplicidade inclui, no Alcorão, uma rejeição vigorosa da idolatria, de que o Cristianismo adulterado das Igrejas não está eficazmente liberto, se entendermos 292


ídolo, como o fez Garaudy, como tudo o que reduz o infinito ao finito. Nesta perspectiva, o Islamismo é uma interpelação às Igrejas – incluindo as Novas Igrejas, dos teleevangelistas e outros que pregam a prosperidade e o sucesso, o dízimo e outras formas de tornar mais difícil a vida dos povos. 7. O Cristianismo e o Islamismo podem conviver e cooperar mutuamente se cada um deles se recusar a impor-se ao outro. Os Cristãos têm de renunciar a classificar o Islamismo como uma falsa revelação, porque não têm eles próprios revelação para tal dito. A Bíblia diz: As coisas escondidas são do Senhor, as coisas reveladas são para nós e nossos filhos Deuteronómio 29:29. Não está, pois, revelado, para nós, o que é o Islamismo. Já vimos que o Alcorão tem palavras positivas sobre o Cristianismo. Encontramos nele também frases elogiosas sobre Jesus, sobre Maria, sobre os Apóstolos. É verdade que nem sempre o Islamismo mesmo oficial foi coerente com essas afirmações do Alcorão e subjugou mesmo pela espada os Cristãos ou exigiu taxas especiais aos Cristãos que vivessem em suas terras – e os Cristãos vieram a pagar na mesma moeda, guerreando também e “convertendo” pela espada muçulmanos. Mas é urgente criar condições para a coexistência e o respeito mútuo. Os Cristãos não têm de renunciar à evangelização. Têm apenas de santificar a Cristo nos seus corações e estar sempre preparados para responder, com mansidão e temor, a qualquer que vos pedir a razão da esperança que neles há I Pedro 3:15. 8. Quando penso no que chamo acima “exclusivismo Cristão” (Jesus é o único Salvador) e penso no dever de respeitar outras religiões, agrada-me fazer esta parábola: «Helena é uma mulher jovem e solteira que trabalha num escritório com três colegas homens, também solteiros. Um dia apaixona-se por um deles, que também a ama e casam-se. Agora que ama o seu marido deve odiar ou desprezar os outros dois? Não. Deve ser fiel ao marido mas pode manter amizade pelos outros.» Se a família que mora ao meu lado prefere Maomé a Cristo, terei de a odiar? Não - basta ser fiel a Cristo e dar razão da minha fé, com mansidão e temor.

A IGREJA CATÓLICA E O ISLÃO (visão católica) Por D. Estêvão Bettencourt

Enquanto no Ocidente o Cristianismo se propagava sempre mais, no Oriente e no Norte da África sofreu sérias restrições por parte do Islamismo fundado no século VII. A pessoa de Maomé Maomé (Muhammad-ibn-Abdallag-ibn-Mottalib) nasceu em Meca (Arábia Central) provavelmente em 580. Faleceu com pouco mais de 50 anos, em 632. Desde adolescente, viajava com seu tio comerciante em caravanas pela Arábia, a Assíria e a Mesopotâmia, o que lhe proporcionou o contacto com judeus e Cristãos. Por volta de 610/11, Maomé efectuou sua "conversão". Profundamente impressionado pela desunião dos homens entre si, tornava-se cada vez mais meditativo: entregava-se a severas práticas de mortificação e retirava-se para a montanha a fim de rezar a sós. Certa vez, na "Noite do Destino", terá tido uma visão: em sonho, estranho personagem lhe apareceu trazendo nas mãos um rolo de pano coberto de sinais e mandandolhe que lesse; após lutar contra essa ordem no sonho, Maomé acordou, consciente de que finalmente um livro descera em seu coração. Percebia uma voz que lhe falava em nome de Deus, atribuindo-lhe a missão de reformar as crenças, pôr termo à idolatria e às disputas religiosas do seu povo, indicando a todos o caminho do céu. Muito perturbado, contou o ocorrido a sua esposa Kadija, que foi consultar um primo seu, Varaka, homem sensato e culto, que exclamou: "Deus o escolhe para ser profeta de nova fé!" Após repetidas visões, ignorando 293


quem era o personagem que lhe aparecia, Maomé julgava-se perseguido por espíritos e pensava em suicidar-se, quando, certa vez, a estranha voz lhe declarou: "Sou o anjo Gabriel e tu serás o apóstolo do Senhor". Doravante o "Iluminado" pôs-se a pregar nova forma de religião: o "Islam" ou, em árabe, a Submissão, Dedicação à Vontade de Deus. Maomé apoiava-se na fé em um só Deus, Allah, criticando os cultos pagãos, predizendo iminente catástrofe e apresentando reivindicações sociais em favor dos pobres. Tais proposições só fizeram irritar a aristocracia de Meca, de sorte que Maomé granjeou para si adversários cada vez mais hostis, temerosos pela sorte de seus ídolos e de suas rendas comerciais. Resolveu então transferir-se para a cidade de Medina na noite de 16/07/622. Tal acontecimento tomou o nome de Hidjra ou Hegira, Fuga, e assinala o início da era maometana. Em Medina Maomé, apoiado pela população local, revelou dotes de hábil chefe político. Visando a unir numa só população coesa seus compatriotas árabes, começou a estender o seu domínio por meio de expedições de ataque a caravanas comerciais. Os sucessos obtidos iamlhe assegurando crescente número de adeptos, até que finalmente em 629 Maomé conseguiu entrar em Meca e tomou posse do famoso santuário desta cidade dito "a Caaba", donde removeu os ídolos. Nos anos seguintes, foi dilatando o seu poder mediante guerras. Finalmente, aos 08/06/632, veio a morrer. A sua obra estava suficientemente adiantada para despertar a consciência religiosa e nacional dos árabes e lançá-los, coesos, à conquista de numerosas nações estrangeiras mediante a prática da "guerra santa". As proposições do Islão As fontes doutrinárias do Islam são o código sagrado do Corão (em Árabe, recitação, declamação, pois o texto devia ser recitado no culto) e a tradição oral dita Sunna. O Islam é monoteísta, ou seja, reconhece um só Deus Criador. A diferença do politeísmo, que professa muitos deuses, e do panteísmo, que identifica tudo com a Divindade. Acontece, porém, que o monoteísmo do Islam não é originário da Arábia mesma, mas derivado do monoteísmo judaico-Cristão. Maomé nunca se apresentou como o fundador de uma religião nova, e, sim, como o novo profeta de tradições mais antigas; a teologia que ele ensinou, deriva-se de três blocos religiosos anteriormente existentes: 1. A antiga religião Árabe, de índole politeísta. Cultuava pedras "divinas", consideradas como mansões de seres superiores, cujas graças os homens procuravam atrair a si. Um resquício deste culto é a veneração da "Pedra Negra", situada na Caaba em Meca. 2. A religião israelita, professada por judeus residentes na Arábia, onde se entregavam ao comércio e à agricultura. Foi desse património judaico que Maomé derivou as grandes linhas de sua orientação religiosa: existe um só Deus, que se foi revelando aos profetas da humanidade: Adão, Abraão, Moisés, Jesus Cristo, e consumou a sua revelação por meio de Maomé, o maior de todos os profetas. A inserção de Maomé na linha do judaísmo explica o uso da Bíblia no ensinamento islâmico assim como certos costumes muçulmanos (as purificações legais, a observância do talião, a poligamia ...). Maomé, porém, não se identificou com o pensamento bíblico, porque via em Jesus Cristo não o Filho de Deus feito homem, mas um profeta eminente (coisa que os judeus não aceitavam). 3. A religião dos Cristãos: Maomé a conheceu principalmente em suas viagens. Tais Cristãos eram geralmente nestorianos e monofisitas, que lhe apresentaram um Cristianismo debilitado; nunca chegou a ler os Evangelhos. Sem se comprometer nem com o judaísmo nem com o Cristianismo, Maomé se definiu como continuador da religião de Abraão e de seu filho imediato Ismael, personagens muito mais 294


antigos do que Moisés e Cristo na história sagrada (na verdade o povo árabe é descendente de Ismael, filho de Abraão e Agar). Para justificar sua independência religiosa, Maomé atribuiu a judeus e Cristãos "o grande erro de terem falsificado os livros sagrados e o monoteísmo de Abraão e Ismael". A Moral maometana prescreve cinco grandes deveres, tidos como "pilastras da Religião": 1. Professar a fé (praticamente o maior pecado para os muçulmanos é a apostasia da fé ou a adesão à idolatria e ao paganismo). 2. Orar cinco vezes por dia (ao alvorecer, ao meio-dia, pelas 3/4 horas da tarde, ao pôr do sol, no primeiro quarto da noite), cumprindo-se, de cada vez, as abluções rituais prescritas. 3. Jejuar durante o mês inteiro de Ramadão, desde o nascer até o pôr do sol diariamente. 4. Dar esmola aos pobres,(o que compreende também a obrigação de dar hospedagem momentânea seja a quem for e a qualquer hora). 5. Peregrinar a Meca uma vez na vida. O Corão autoriza todo homem a ter quatro esposas legítimas e tantas concubinas escravas quantas seus recursos financeiros lhe permitam. O conceito de guerra santa é central no Islamismo e foi responsável pela rápida propagação árabe nos séculos VII e VIII; morrer em batalha armada torna o maometano "mártir", ou seja, herói religioso; aliás, a noção de "predestinação", que inevitavelmente assinala a cada indivíduo a hora da sua morte, muito concorreu para precipitar destemidamente os discípulos de Maomé na aventura de fazer a guerra. A expansão do Islamismo Depois da morte de Maomé, os sucessores (califas = lugar-tenentes) chefiaram expedições conquistadoras e predatórias a países vizinhos e distantes da Arábia. Esse avanço arrebatou ao Império bizantino uma bela porção de seus territórios e ameaçou seriamente a própria cultura helenística.

Também o Cristianismo foi altamente prejudicado pela expansão maometana. Os califas Abu Bekr (632-4) e Omar (634-44) conquistaram a Palestina, a Síria, o Egipto e a Pérsia. Assim os Patriarcados de Antioquia (637), Jerusalém (638) e Alexandria (642) ficaram sob a dominação árabe. Tornou-se instável a condição dos Cristãos residentes naquelas regiões, especialmente caras à fé por serem o berço do Cristianismo; tal situação explicará o surto das Cruzadas na Idade Média. A expansão árabe foi facilitada pelo facto de que os Cristãos estavam divididos entre si nos territórios invadidos: os litígios cristológicos, em particular os monofisitas, jogavam população e governo imperial um contra o outro. Em consequência, os monofisitas egípcios chegaram a saudar com alegria as tropas árabes invasoras, pois estas lhes levavam a emancipação frente a Bizâncio! O Califa Othmam (644-56) mandou invadir também a Arménia, Chipre e o Norte da África (especialmente Cartago). Cartago, grande centro Cristão, caiu em 698; as tropas muçulmanas foram avançando para o Ocidente, atravessaram a Espanha de Sul a Norte e chegaram até Poitiers na França. Constantinopla sofreu intenso cerco nos anos de 717-18, mas resistiu às pressões bélicas. Finalmente os muçulmanos estabeleceram a sua capital ou a sede do seu Império no califado de Bagdad (750-1258). 295


Os maometanos não sufocavam o Cristianismo nos territórios ocupados, embora lhe fizessem restrições. Apenas na Arábia os Cristãos e os judeus foram obrigados a emigrar. Como quer que seja, o Cristianismo sofreu graves perdas em consequência da expansão islâmica; o Norte da África, que era uma região de vida Cristã intensa e férvida, foi aos poucos perdendo o seu cunho evangélico; isto, em parte, se explica pela debilitação que as longas controvérsias teológicas acarretaram, como dito atrás. Os muçulmanos não deixaram de procurar ganhar adeptos entre os Cristãos; favoreciam as conversões ao Islam e ocasionalmente praticavam pressões e proselitismo. Entre as medidas proselitistas podem-se citar: isenção de impostos para os apóstatas, emancipação dos escravos que se convertessem, e dos servos da gleba sujeitos a senhores Cristãos. Muito ao contrário, quem se passasse do lslamismo para o Cristianismo, era passível de morte; em consequência, tornava-se difícil e estéril o trabalho dos missionários da lgreja. Compreende-se que, em tais circunstâncias, tenha havido numerosas deserções da fé Cristã, sem possibilidade de se preencherem as lacunas abertas nos quadros da Igreja. O desaparecimento do Cristianismo implicava decadência cultural e até retorno à barbárie. Tal foi o caso, certamente, do Norte-ocidental da África. Em 1055 contavam-se aí cinco sedes diocesanas, já quase sem importância; a última delas, Cartago, extinguiu-se por completo em 1160 aproximadamente. O ideal da teocracia até hoje é muito vivo entre os muçulmanos; preconizam um império terrestre regido pelo poder religioso; tenha-se em vista o que ocorre actualmente no Irão e no Paquistão. Este império terrestre, para defender-se ou expandir-se, conta com cidadãos belicosos, pois a bem-aventurança celeste é prometida não propriamente aos pacíficos, mas àqueles que morrem na guerra santa. Em tais condições torna-se instável a sobrevivência e, mais ainda, a expansão missionária dos Cristãos. As leis religiosas e morais do Islamismo têm em mira principalmente os pecados públicos (mais susceptíveis de definição legal). O lslamismo reconhece quase exclusivamente o foro externo (ou o comportamento visível da pessoa). Os ditames da consciência ou o foro interno são menos levados em conta na avaliação da conduta humana. Ora precisamente este traço do Islamismo provocou no decorrer dos tempos uma reacção ou o surto e o cultivo da vida mística em ambientes islâmicos; assim a Mística veio a ser inseparável da religião da lei em muitas correntes maometanas. Entre os dizeres mesmos do Profeta não faltam os que inculcam a religião interior ou o predomínio dos bens do espírito sobre os da carne. Maomé chegou a falar de purificação da alma, apresentou a vida presente como "água que passa e erva que fenece" (Sur. X 25; XIII 18); afirmou a prevalência da devoção interior sobre os sacrifícios rituais (Sur. XXII 28). Assim o Corão mesmo era capaz de inspirar não somente uma religião formalista, mas também uma piedade muito intensa e profunda. Foi o que se deu nos círculos árabes que entraram em contacto com sistemas religiosos dos povos vizinhos, em particular com o Cristianismo; criou-se assim uma autêntica mística muçulmana, da qual dois grandes expoentes são Al-Hallaj (? 922) e Al-Ghazali (? 1111) Especialmente a corrente sufita dedicou-se ao cultivo da vida interior. A palavra árabe que corresponde a Mística é tasawwuf, derivada do termo suf, lã. Significa originariamente "vestirse de lã"; a roupa de lã era o traje que os antigos ascetas ou monges usavam. Designava, aos olhos do público, a vida retirada do mundo que o asceta levava. Quem se veste assim, no Islamismo, é chamado sufi. Deste vocábulo se deriva sufismo, o designativo da Mística islâmica. A partir do século XII foram-se formando comunidades de sufitas ou derviches21, que seguiam os ensinamentos dos grandes mestres; observavam Regras de vida cenobítica assemelhandose às Congregações religiosas do Catolicismo. Cada comunidade constava de um grupo relativamente pequeno de sufitas, que no convento viviam de esmolas, e de um grupo maior de leigos, que permaneciam no mundo, mas se reuniam oportunamente para cumprir certas 296


práticas religiosas sob a direcção de seus mestres. Algumas destas comunidades subsistem até hoje. Nos século XIII/XIV fizeram-se sentir no sufismo influências do Extremo-Oriente, principalmente do hinduísmo; caracterizaram-se em práticas como posições corporais e a repetição amiudada do santo nome de Deus. O panteísmo assim se introduziu em vários círculos da mística islâmica, acarretando certa degenerescência da mesma.

Resposta Cristã (católica) à afirmação Islâmica de que Maomé foi profetizado na Bíblia O islamismo e o Cristianismo são as duas religiões de maior porte no mundo actual. Ambas são as que mais se dedicam a missões. Suas crenças são semelhantes em muitos aspectos. São monoteístas, foram fundados por indivíduos específicos em contextos definidos e historicamente verificáveis, são universais, crêem na existência de anjos, no céu e no inferno, numa ressurreição futura e que Deus se manifesta ao homem por meio de uma revelação (ver matéria: Islamismo – desafio à fé Cristã – Defesa da Fé no. 08 – p. 10-23). Todavia, existem também diferenças óbvias entre elas, particularmente em relação à pessoa de Jesus, o caminho da salvação e a escritura ou escrituras de fé. Estas diferenças abrangem as doutrinas mais fundamentais de cada religião. Portanto, mesmo que ambos possam ser igualmente falsos, o islamismo e o Cristianismo não podem ser verdadeiros ao mesmo tempo. Toda religião que se iniciou depois do Cristianismo tenta mostrar que é compatível com a Bíblia, esforçando-se para demonstrar que a Bíblia se refere a seu fundador ou fé(1). Assim sendo, não é surpresa descobrir que os muçulmanos também afirmem que seu fundador foi profetizado no Antigo e Novo Testamentos. Embora o islamismo não seja o único a afirmar ser validado pela Bíblia, suas afirmações poderiam ser consideradas verdadeiras? Nosso objectivo é examinar as declarações islâmicas para ver se cada uma delas é confiável. A razão deve ser evidente por si mesma: é muito fácil fazer declarações a respeito de si mesmo, prová-las, porém, torna-se mais difícil. ANALISANDO OS VERSÍCULOS Há alguns versículos secundários e menos específicos que os muçulmanos declaram ser profecias relacionadas a Maomé. Entretanto, os versículos que a maioria dos muçulmanos citam como os mais explicativos são Deuteronómio 18.15-18 e João 14.16; 15.26 e 16.7. Em Deuteronómio 18: 15-18 lemos: O Senhor, teu Deus, te despertará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele ouvireis; conforme tudo o que pediste ao Senhor, teu Deus, em Horebe, no dia da congregação, dizendo: Não ouvirei mais a voz do Senhor, meu Deus, nem mais verei este grande fogo, para que não morra. Então, o Senhor me disse: Bem falaram naquilo que disseram. Eis que lhes suscitarei um profeta no meio seus irmãos, como tu, e porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar. Estes versículos são tidos universalmente pelos muçulmanos como uma profecia relativa a Maomé(2). Há várias razões porque acreditam que essa passagem não pode ser uma referência a Jesus. Primeira, o Profeta Prometido deveria ser um Profeta Legislador . Jesus não apresentou nenhuma declaração referente a uma nova lei. Segunda, o Profeta Prometido seria suscitado não dentre Israel, mas dentre seus irmãos e Jesus era um israelita. Terceira, a profecia diz: ... porei as minhas palavras na sua boca...Os evangelhos não consistem nas palavras que Deus pôs na boca de Jesus, eles apenas nos contam a história de Jesus, o que ele disse em alguns de seus discursos públicos e o que os seus discípulos disseram ou fizeram em ocasiões diferentes. Quarta, o Prometido deveria ser um profeta. O ponto de vista Cristão é que Jesus não era um profeta, mas o filho de Deus(3). Nesse sentido o muçulmano salientará 297


semelhanças entre Maomé e Moisés. Cada um deles surgiu dentre idólatras. Ambos são legisladores. Inicialmente foram rejeitados pelo seu povo e tiveram de se exilar. Retornaram posteriormente para liderar suas nações. Ambos casaram e tiveram filhos. Após a morte de cada um, os seus sucessores conquistaram a Palestina. A conclusão muçulmana é que esta profecia foi cumprida somente por Maomé: se estas palavras não se aplicam a Maomé, elas ainda permanecem sem cumprimento(4). Antes de prosseguir, analisaremos primeiramente estes pontos. A primeira objecção levantada contra esta profecia ter sido cumprida em Jesus foi a de que Jesus não foi um legislador. Os muçulmanos que afirmam isso demonstram apenas falta de compreensão do Novo Testamento. Vejamos o Evangelho de João 13.34 e a Epístola aos Gálatas 6.2: Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos ameis a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo. A próxima objecção foi que irmãos deve se referir aos ismaelitas, não aos próprios israelitas. Este argumento pode ser refutado facilmente. Basta verificar como o termo irmãos é usado na Bíblia. Um exemplo irrefutável encontra-se no próprio livro de Deuteronómio 17.15. Moisés instrui os israelitas: porás, certamente, sobre ti como rei aquele que escolher o Senhor, teu Deus, dentre teus irmãos porás rei sobre ti; não poderás pôr homem estranho sobre ti, que não seja de teus irmãos. Ora, alguma vez Israel estabeleceu algum estrangeiro como rei? É claro que não! Escolher um rei dentre teus irmãos refere-se a escolher alguém de uma das doze tribos de Israel. Da mesma forma, o Profeta Prometido de quem se fala no livro de Deuteronómio 18 deveria ser um israelita. Outra objecção à passagem de Deuteronómio 18.15-18 é que supostamente os evangelhos não consistem nas palavras que Deus deu a Jesus, dado extremamente importante à luz do versículo 18. Entretanto, dizer que Jesus não fala o que Deus Pai lhe orienta, revela, novamente, falta de conhecimento do Novo Testamento: Porque eu não tenho falado de mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, ele me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar. E sei que o seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu falo, falo-o como o Pai mo tem dito (Jo 12.49-50)(5). Percebemos, outra vez, que os muçulmanos têm pouca familiaridade com o Novo Testamento. O próprio Jesus, profetizando sua morte iminente, disse que deveria continuar sua jornada até Jerusalém: Importa, porém, caminhar hoje, amanhã e no dia seguinte para que não suceda que morra um profeta fora de Jerusalém (Lc 13.33)(6). O muçulmano salientará que as muitas semelhanças entre Moisés e Maomé ainda não foram explicadas. É verdade que existem muitas analogias, mas também muitas diferenças. Por exemplo, se Maomé era analfabeto como a maioria dos muçulmanos afirmam, então, ele não era como Moisés que foi instruído em toda a ciência dos egípcios... (At 7.22). Diz-se que Maomé recebeu suas revelações de um anjo. Moisés, porém, recebeu a Lei directamente de Deus. Maomé não operou sinais ou milagres para corroborar o seu chamado. Moisés, entretanto, executou muitos sinais. Maomé era árabe, Moisés, israelita. Analisando os evangelhos, percebemos que Jesus era diferente de Moisés em alguns aspectos; em outros, muito parecido. Ambos eram israelitas, o que é muito importante à luz do que aprendemos acerca da expressão dentre teus irmãos. Ambos deixaram o Egipto para ministrar a seu povo (Mt 2.15; Hb 11.27). Ambos renunciaram grandes riquezas, a fim de melhor se identificar com seu povo (Jo 6.15; 2 Co 8.9; Hb 11.24-26). Dessa maneira, percebemos que tanto Jesus como Maomé tiveram semelhanças com Moisés. Em que sentido, então, este Profeta Prometido seria semelhante a Moisés? A resposta encontra-se em Deuteronómio 34.10-12, porquanto duas características peculiares de Moisés são mencionadas: E nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, a quem o 298


Senhor conhecera face a face; nem semelhante em todos os sinais e maravilhas, que o Senhor o enviou para fazer na terra do Egipto, a Faraó, e a todos os seus servos, e a toda a sua terra; e em toda a mão forte e em todo o espanto grande que operou Moisés aos olhos de todo Israel. Esta é uma referência directa a Deuteronómio 18.15-18. Referindo-se à profecia anterior, uma característica de Moisés é mencionada aqui: o Senhor conhecia Moisés face a face(7). Maomé nunca teve esse tipo de relacionamento com Deus. Deus é tão transcendente no islamismo que, excito no caso de Moisés, nunca falou directamente com o homem. Jesus, o verbo feito carne (Jo 1.14), é o único que teve relacionamento com Deus, assim como Moisés. De facto, o relacionamento de Jesus ultrapassa em muito o de Moisés: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus (Jo 1.1). Pouco precisamos falar sobre a segunda característica de Moisés. Os muitos milagres que tanto Jesus como Moisés operaram são bem conhecidos. O próprio Alcorão testifica que Maomé não operou milagres(8), mas que Jesus operou milagres (9). Finalmente, o próprio Jesus nos diz quem é o Profeta Prometido de Deuteronómio 18.15-18: Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim, porque de mim escreveu ele (Jo 5.46)(10). EVANGELHO DE JOÃO 14.16; 15.26; 16.7 Os muçulmanos afirmam que os versículos referentes ao Consolador vindouro (Parácletos no original grego) são, na verdade, alusões à vinda de Maomé. A razão para tal afirmação está contida no Alcorão, o qual diz que seria enviado um apóstolo depois de Jesus, cujo nome será Ahmad (Alcorão 61.6). Yusuf Ali faz o seguinte comentário sobre este versículo: Ahmad ou Muhammad o Louvado é quase uma tradução da palavra grega Periclytos. No actual evangelho de João, XVI. 16 XV. 26 e XVI. 7, a palavra Confortador na versão inglesa é para a palavra grega Paracletos que significa Advogado, aquele chamado para ajudar um outro, um amigo, bondoso, mais que Confortador. Nossos doutores sustentam que Paracletos é uma leitura corrompida de Periclytos, e que no discurso original de Jesus havia uma profecia de nosso santo profeta Ahmad pelo nome(11). Esse é um dos motivos que leva os muçulmanos a acreditar que todas as nossas Bíblias foram corrompidas e que João realmente usou a palavra Periclytos nesses versículos, ao invés da palavra Paracletos. Ao examinar a afirmação muçulmana de que o texto foi corrompido, a crítica textual deveria analisar criteriosamente a verdadeira evidência textual. Há mais de 24 mil manuscritos do Novo Testamento que datam antes de 350 D.C.(12). Não existe manuscrito algum que contenha essa citação e apareça a palavra periclytos. A palavra registada todas as vezes é Parácletos. Não há evidência textual que possa apoiar a alegação de que o texto tenha sido corrompido. A posição muçulmana encontra ainda maiores dificuldades quando lemos cuidadosamente estes versículos para vermos o que Jesus estava dizendo. Poderíamos dizer muitas coisas a respeito de cada versículo. Limitaremos nosso exame às discrepâncias óbvias entre a posição islâmica e o que realmente está sendo dito: E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador(13), para que fique convosco para sempre (Jo 14.16). Jesus disse que o Pai vos dará outro Consolador. A quem Jesus estava se dirigindo nesses versículos? Aos árabes ou, mais especificamente, aos ismaelitas? É claro que não. Ele está falando aos crentes judeus. Por conseguinte, o Consolador deveria ser enviado inicialmente a eles, não podendo logicamente referir-se a Maomé. Além do mais, este versículo afirma que o Parácletos, o Consolador estaria convosco para sempre. Como pode, então, referir-se a Maomé? O profeta muçulmano morreu e foi enterrado há mais de 1300 anos. O evangelho de João diz: o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós (Jo 14.17). Aqui, o Espírito da verdade é um outro título ou sinónimo de Parácleto. Vemos, a partir deste 299


versículo, que o Parácleto estaria em vós. Reconciliar esta declaração com a posição islâmica é impossível. A declaração do Senhor Jesus no Evangelho de João 14.26 desmonta completamente a hipótese islâmica de que Maomé era verdadeiramente aquele profetizado nos versículos, pois eles se referem ao Consolador ou Parácleto: Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito. Jesus disse que o Consolador é o Espírito Santo. Esta é a razão pela qual todos os apologistas muçulmanos não citam esse versículo . O Consolador foi dado aos discípulos de Jesus. Maomé não foi seu discípulo. Jesus disse que os seus discípulos conheciam o Consolador: ...vós o conheceis (Jo 14.17) Eles não conheciam Maomé, que nasceu no século sexto depois de Cristo. Jesus disse que o Consolador seria enviado em nome de Jesus. Nenhum muçulmano crê que Maomé tenha sido enviado em nome de Jesus. Jesus disse que o Consolador não falaria de si mesmo (Jo 16.31). Em contrapartida, Maomé constantemente testifica de si mesmo no Alcorão(14). A Bíblia diz claramente que o Consolador iria glorificar a Jesus (Jo 16.14), e Maomé declara substituir Jesus, estando na condição de profeta superior. O Senhor Jesus em Actos 1.4-5, ordenou a seus discípulos: ...que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse ele) de mim ouvistes. Porque, na verdade, João baptizou com água, mas vós sereis baptizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias. Estes versículos poderiam honestamente ser aplicados a Maomé, que surgiu 570 anos depois, em Meca na Arábia? À luz do texto bíblico, a interpretação islâmica é impossível. O cumprimento das palavras do Senhor Jesus ocorreu dez dias depois, no dia de Pentecostes (Actos 2.1-4) e não seis séculos depois, a centenas de milhas de Jerusalém. Concluímos, portanto, que não há base bíblica alguma para afirmar que o Profeta Prometido em Dt 18.15-18 e o Consolador em Jo 14.16; 15.26 e 16.7 sejam profecias relacionadas ao fundador do islamismo, mas, como a própria Bíblia Sagrada declara, o Profeta Prometido em Dt 18.15-18 é o Senhor Jesus (Jo 5.46) e o Consolador (Jo 14.16; 15.26 e 16.7) é a pessoa Bendita do Espírito Santo (Jo 14.26). Notas 1 Por exemplo, Mani, no terceiro século, afirmou ser o Paracleto ou o Consolador de quem Jesus falou em Jo 14.16. Os Baha'is, que se originaram do próprio islamismo, acreditavam do mesmo modo que seu fundador Baha'u'llah fora predito na Bíblia. Os mórmons crêem que Ezequiel profetizou a vinda de uma de suas escrituras: O Livro de Mórmon. 2 Eles acreditam que o Alcorão refere-se a isso na surata 7.157. 3 Hazrat Mirza Bashir-Ud-Din Mahmud Ahmad, Introduction to the Study of the Holy Quran (London: The London mosque, 1949), pp 84-94. Também cf. Ulfat Aziz-Us-Samad, Islam and Christianity (Karachi, Pakistan: Begum Aisha Bauany Wakf, 1974), p. 96. 4 'Abdu 'L-Ahad Dauud, Muhammad in the Bible (Kuala Lumpur: Pustaka Antara, 1979). 5 também cf. Jo 7.16; 8.28. 6 Também cf. Mt 13.57; 21.11; Lc 7.16; Jo 4.19; 6.14; 7.40; 9.17. 7 Ver. Ex. 33.11. 8 Ver. Alcorão 1.59; 1.90-93; 6.37; 6.109. 9 Ver. Alcorão 5.110. 10 Ainda cf. Lc 24.27. 11 Abdullah Yusuf Ali, op. cit., p. 1540 (Também cf. p. 144). 12 A cópia mais antiga do Evangelho de João é o Papiro 75, datado entre 175-225 D.C. A palavra ali encontrada é Paracletos e não pariclytos, como querem os muçulmanos. 13 A palavra grega Paracletos pode ser traduzida por Confortador, Conselheiro, Advogado ou Ajudante.

14 Ver. Alcorão 33.40.

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MAOMÉ – Islamismo

(Visão Espírita)

Maomé fundou o islamismo de modo dramático: atacou Meca, a sua cidade natal (hoje, por isto mesmo, cidade considerada sagrada por seus seguidores) em aliança com os judeus (hoje, curiosamente, inimigos mortais dos mesmos muçulmanos). Havia 622 anos, Jesus tinha nascido. Maomé tinha 52 anos e seis filhos – todos de sua única mulher Cadija, morta três anos antes. Foi um homem monogámico em uma cultura que lhe dava o direito de ter uma companheira e mais vinte concubinas. Depois da morte de Cadija – sem a qual jamais teria sido o líder que se tornou -, decidiu lançar mão de sua prerrogativa de homem árabe: casou-se de novo e chegou a três mulheres ao mesmo tempo. Uma delas aos 9 anos de idade. Para conquistar Meca, Maomé enfrentou a poderosa aristocracia comercial da cidade, a mais rica e mais importante de Hijaz, nação que hoje corresponde à Arábia Saudita. Meca não chegava a ser uma capital porque o mundo árabe se organizava em tribos independentes. Não havia governo unificado nem religião própria. Muitos árabes eram Cristãos. A maioria seguia doutrinas antigas, vindas do Egipto e da Pérsia. A confusão espiritual era tão grande que, só em Meca, se adoravam 360 deuses. Parece que Maomé enxergou aí uma oportunidade. E tratou de vender entre os árabes uma postura contrária ao politeísmo. Para tanto, Maomé inspirou-se no Cristianismo e no judaísmo, cuja ideia central era a existência de deus único. Surgia ali ALAH, o Criador, ao qual todos deveriam demonstrar “submissão” (em árabe, Islão). Maomé admirava Abraão, Jesus Cristo e a sua mãe, Maria. Simpatizava com o monoteísmo desde a juventude pobre. Ainda menino, Maomé perdeu os pais. Foi educado por um tio e acabou se tornando, a exemplo do seu tutor, condutor de caravanas. Foi assim que conheceu Cadija, mulher rica, que o contratou para levar mercadorias à Síria. Casaram-se – ele com 25 anos, ela com 40 anos, viúva, e Maomé tornouse rico. Maomé sabia que seria perseguido pelos aristocratas de Meca se tentasse mudar os costumes. Os cimitarras tirariam a sua cabeça de cima do pescoço se ele não tirasse logo da cabeça aquelas ideias sobre monoteísmo. É aí que Cadija começa a exercer o seu papel histórico. Sua inteligência e coragem foram virtudes decisivas quando em 610, Maomé começou a disseminar as suas ideias – ou a palavra de ALAH, como você preferir – e atrair ódio e perseguições. (É curioso que a relevância de Cadija não tenha garantido melhor lugar para as mulheres árabes). Em 617, seus poucos seguidores, enxotados de todos os lugares, foram forçados a se refugiar num bairro afastado de Meca, logo cercado por guardas e espiões dos aristocratas e transformado em bunker. Esses primeiros muçulmanos ficaram cinco anos cercados, recebendo comida por contrabando. O cerco e as adversidades esgotaram a saúde de Cadija, levando-a a morte, conta a historiadora americana Karen Armstrong, biógrafa de Maomé, pouco antes de o Grupo de Maomé fugir de Meca, em 622. Essa fuga dramática, a hégira, tornou-se a data inicial da nova religião e o ano zero do calendário muçulmano. Maomé e seus seguidores se refugiaram em Yathrib, actual Medina. Ali o futuro líder dos árabes se preparou para voltar a Meca e subjugar os aristocratas da cidade. Apesar da perseguição, Maomé foi aos poucos conquistando os corações e as mentes do povo. Muitos moradores de Yathribe eram judeus e, portanto, monoteístas como Maomé. Ou seja: solo fértil para a mensagem do Islão, que começou a crescer. De facto, as orações islâmicas, que hoje são feitas com o rosto voltado para Meca, eram na época dirigidas a Jerusalém, cidade sagrada dos judeus. Em 625, Maomé deflagrou a guerra contra Meca, que terminou dois anos depois com a vitória dos muçulmanos.

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Não demorou a Maomé provar que era um dos grandes líderes da História. Com seu carisma e sua vocação para o poder, dez anos depois de subjugar Meca, todas as tribos de Hijaz (hoje Arábia Saudita) estavam reunidas sob o seu governo. E vinte anos depois da sua morte, aos 62 anos, em 632, o novo Estado já havia crescido e derrotado dois maiores impérios vizinhos, o bizantino e o persa. Menos de 100 anos depois de fundar o Islão, o território muçulmano tinha 4000 quilómetros de extensão – os seguidores de Maomé se estendiam da Líbia, no Mediterrâneo, até o Irão, na Ásia. MAOMÉ ERA FÃ DE JESUS CRISTO E FUNDOU UMA RELIGIÃO QUE HOJE SÓ PERDE PARA O PRÓPRIO CRISTIANISMO EM NÚMERO DE FIÉIS. É A SEGUNDA DO MUNDO. Antes da fundação do Papado, em 607, as forças espirituais se viram compelidas a um grande esforço no combate contra as sombras que ameaçavam todas as consciências. Muitos emissários do Alto tomam corpo entre as falanges católicas no intuito de regenerar os costumes da Igreja. Embalde, porém, tentam operar o retorno de Roma aos braços do Cristo, conseguindo apenas desenvolver o máximo de seus esforços no penoso trabalho de arquivar experiências para as gerações vindouras. Numerosos Espíritos reencarnam com mais altas delegações do plano invisível. Entre esses missionários, veio aquele que se chamou Maomé, ao nascer em Meca no ano 570. Filho da tribo dos Coraixitas, sua missão era reunir todas as tribos árabes sob a luz dos ensinos Cristãos, de modo a organizar-se na Ásia um movimento forte de restauração do Evangelho de Jesus Cristo, em oposição aos abusos romanos nos ambientes da Europa. Maomé, contudo, pobre e humilde no começo de sua vida, que deveria ser, de sacrifício e exemplificação, tornou-se rico após o casamento com Cadija e não resiste ao assédio dos Espíritos da Sombra, traindo nobres obrigações espirituais com as suas fraquezas. Dotado de grandes faculdades mediúnicas inerentes ao desempenho dos seus compromissos, muitas vezes foi aconselhado por seus mentores do Alto, nos grandes lances da sua existência, mas não conseguiu triunfar das inferioridades humanas. É por essa razão que o missionário do Islão deixa entrever, nos seus ensinos, flagrantes contradições. A par do perfume Cristão que se evola de muitas das suas lições, há um espírito belicoso, de violência e de imposição; junta doutrina fatalista encerrada no Alcorão (Bíblia Árabe), existe a doutrina da responsabilidade individual, divisando-se através de tudo isso uma imaginação superexcitada pelas forças do bem e do mal, num cérebro transviado do seu verdadeiro caminho. Por essa razão o Islamismo, que poderia representar um grande movimento de restauração do ensino de Jesus, corrigindo os desvios do Papado nascente, assinalou mais uma vitória das Trevas contra a Luz e cujas raízes era necessário extirpar. AS GUERRAS DO ISLÃO Maomé nas recordações do dever que o trazia a Terra, lembrando os trabalhos que lhe competiam na Ásia, a fim de regenerar a Igreja de Jesus, vulgarizou a palavra “infiel” entre as várias famílias do seu povo, designando assim os árabes que lhe eram insubmissos, quando a expressão se aplicava, perfeitamente, aos sacerdotes transviados do Cristianismo. Com o seu regresso ao plano espiritual, toda a Arábia estava submetida à sua doutrina, pela força da espada; e, todavia os seus continuadores não se deram por satisfeitos com semelhantes conquistas. Iniciaram no exterior as “guerras santas” subjugando toda a África setentrional, no fim do século VII. Nos primeiros anos do século imediato, atravessaram o estreito de Gibraltar, estabelecendo-se na Espanha, em vista da escassa resistência dos visigodos atormentados pela separação, e somente não seguiram caminho além dos Pirinéus porque o plano espiritual assinalara um limite às suas operações, encaminhando Carlos Martel para as vitórias em 732. (Emmanuel). Actualmente, o Islamismo, continua sem nenhuma alteração dogmática. Os países que seguem esta doutrina permanecem como se vivessem no período medieval, no trato com o governo, a justiça, as mulheres, em um totalitarismo fundamentalista e são administrados por 302


feudos governados por famílias que tem o poder absoluto do poder e da riqueza. Muitos são radicais denominados por Xiitas e realizam o terrorismo suicida, na suposição, que serão recompensados por ALAH o Deus dos Islâmicos. Na visão Espírita serão? A DOUTRINA ESPÍRITA Finalizando, o Espiritismo tem a sua origem no mundo espiritual, por certo, irá regenerar a Terra (gerar novamente uma nova geração). Portanto, por ser de origem divina, naturalmente, a sua contribuição já está modificando os costumes, a moral, os sentimentos, a justiça e a visão do homem no mundo no nosso planeta. Coube ao Codificador Allan Kardec, nos trazer as bases iniciais deste grande edifício espiritual para a transformação da nova Era. No dia em que os Árabes conhecerem a Doutrina Espírita, terão por certo, uma nova concepção de vida e de mundo. Mãos à obra Espíritas do Mundo. Agora, façamos, pois, a nossa parte!

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20 - Iluminismo Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Iluminismo, Esclarecimento ou Ilustração (em alemão Aufklärung, em inglês Enlightenment, em italiano Illuminismo, em francês Siècle des Lumières, em espanhol Ilustración) designam uma época da história intelectual ocidental. Definição Ainda que importantes autores contemporâneos venham ressaltando as origens do Iluminismo no século XVII tardio, não há consenso abrangente quanto à datação do início da era do Iluminismo. Boa parte dos académicos simplesmente utilizam o início do século XVIII como marco de referência, aproveitando a já consolidada denominação Século das Luzes. O término do período é, por sua vez, habitualmente assinalado em coincidência com o início das Guerras Napoleónicas (1804-15). Iluminismo é um conceito que sintetiza diversas tradições filosóficas, correntes intelectuais e atitudes religiosas. Pode-se falar mesmo em diversos micro-iluminismos, diferenciando especificidades temporais, regionais e de matiz religioso, como nos casos de Iluminismo tardio, Iluminismo escocês e Iluminismo católico.

Immanuel Kant

O uso do termo Iluminismo na forma singular justifica-se, contudo, dadas certas tendências gerais comuns a todos os iluminismos, nomeadamente, a ênfase nas ideias de progresso e perfectibilidade humana, assim como a defesa do conhecimento racional como meio para a superação de preconceitos e ideologias tradicionais. O Iluminismo é, para sintetizar, uma atitude geral de pensamento e de acção. Os iluministas admitiam que os seres humanos estão em condição de tornar este mundo um mundo melhor mediante introspecção, livre exercício das capacidades humanas e do engajamento políticosocial. Immanuel Kant, um dos mais conhecidos expoentes do pensamento iluminista, num texto escrito precisamente como resposta à questão O que é o Iluminismo?, descreveu de maneira lapidar a mencionada atitude: "O Iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma tutelagem que estes mesmos se impuseram a si. Tutelados são aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão independentemente da direcção de outrem. É-se culpado da própria tutelagem quando esta resulta não de uma deficiência do entendimento mas da falta de resolução e coragem para se fazer uso do entendimento independentemente da direcção de outrem. Sapere aude! Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! - esse é o lema do Iluminismo".

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As fases do Iluminismo

Frontispício da Encyclopédie (1772), desenhado por Charles-Nicolas Cochin e gravado por Bonaventure-Louis Prévost.

Esta obra está carregada de simbolismo: a figura do centro representa a verdade – rodeada por luz intensa (o símbolo central do iluminismo). Duas outras figuras à direita, a razão e a filosofia, estão a retirar o manto sobre a verdade. Os pensadores iluministas tinham como ideal a extensão dos princípios do conhecimento crítico a todos os campos do mundo humano. Supunham poder contribuir para o progresso da humanidade e para a superação dos resíduos de tirania e superstição que creditavam ao legado da Idade Média. A maior parte dos iluministas associava ainda o ideal de conhecimento crítico à tarefa do melhoramento do estado e da sociedade. Entre o final do século XVII e a primeira metade do século XVIII, a principal influência sobre a filosofia do iluminismo proveio das concepções mecanicistas da natureza que haviam surgido na sequência da chamada revolução científica do século XVII. Neste contexto, o mais influente dos cientistas e filósofos da natureza foi então o físico inglês Isaac Newton. Em geral, pode-se afirmar que a primeira fase do Iluminismo foi marcada por tentativas de importação do modelo de estudo dos fenómenos físicos para a compreensão dos fenómenos humanos e culturais. No entanto, a partir da segunda metade do século XVIII, muitos pensadores iluministas passaram a afastar-se das premissas mecanicistas legadas pelas teorias físicas do século XVII, aproximando-se então das teorias vitalistas que eram desenvolvidas pelas nascentes ciências da vida. Boa parte das teorias sociais e das filosofias da história desenvolvidas na segunda metade do século XVIII, por autores como Denis Diderot e Johann Gottfried von Herder, entre muitos outros, foram fortemente inspiradas pela obra de naturalistas tais como Buffon e Johann Friedrich Blumenbach. Os Iluminismos Regionais Alemanha No espaço cultural alemão, um dos traços distintivos do Iluminismo (Aufklärung) é a inexistência do sentimento anticlerical que, por exemplo, deu a tónica ao Iluminismo francês. Os iluministas alemães possuíam, quase todos, profundo interesse e sensibilidade religiosas, e almejavam uma reformulação das formas de religiosidade. O nome mais conhecido da Aufklärung foi Immanuel Kant. Outros importantes expoentes do iluminismo alemão foram: Johann Gottfried von Herder, Gotthold Ephraim Lessing, Moses Mendelssohn, entre outros.

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Escócia

David Hume, retratado por Allan Ramsey, 1766.

A Escócia, curiosamente um dos países mais pobres e remotos da Europa ocidental no século XVIII, foi um dos mais importantes espaços de produção de ideias associadas ao Iluminismo. Empirismo e pragmatismo foram as tendências mais marcantes do Iluminismo Escocês. Dentre os seus mais importantes expoentes destacam-se, entre outros: Adam Ferguson, David Hume, Francis Hutcheson, Thomas Reid, Adam Smith. Estados Unidos Nas colónias britânicas que formariam os futuros Estados Unidos da América, os ideais iluministas chegaram por importação da metrópole, mas tenderam a ser redesenhados com contornos religiosa e politicamente mais radicais. Ideias iluministas exerceram uma enorme influência sobre o pensamento e prática política dos chamados founding fathers (pais fundadores) dos Estados Unidos, entre eles: John Adams, Samuel Adams, Benjamin Franklin, Thomas Jefferson, Alexander Hamilton e James Madison. França

Voltaire, retratado por Nicolas de Largillière, 1718.

Na França, país de tradição católica, mas onde as correntes protestantes, nomeadamente os huguenotes, também desempenharam um papel dinamizador, havia uma tensão crescente entre as estruturas políticas conservadoras e os pensadores iluministas. Rousseau, por exemplo, originário de uma família huguenote e colaborador da Encyclopédie, foi perseguido e obrigado a exilar-se na Inglaterra. O conflito entre uma sociedade feudal e católica e as novas forças de pendor protestante e mercantil, irá culminar na Revolução Francesa. Madame de Staël, com o seu salão literário, onde avultam grandes nomes da vida cultural e política francesa, será aí uma grande referência. Inglaterra Na Inglaterra, a influência católica havia sido definitivamente afastada do poder político em 1688, com a Revolução Gloriosa. A partir de então, nenhum católico voltaria a subir ao trono embora a Igreja da Inglaterra tenha permanecido bastante próxima do Catolicismo em termos 306


doutrinários e de organização interna. Sem o controle que a Igreja exercia em outras sociedades, a exemplo da espanhola ou a portuguesa, é no Reino Unido que figuras como John Locke e Edward Gibbon dispõem da liberdade de expressão necessária ao desenvolvimento de suas ideias. Espaço luso-brasileiro

Marquês de Pombal.

Em Portugal, uma figura marcante desta época foi o Marquês de Pombal. Tendo sido embaixador em Londres durante 7 anos (1738-1745), o primeiro-ministro de Portugal ali teria recolhido as referências que marcaram a sua orientação como primeiro responsável político em Portugal. O Marquês de Pombal foi um marco na história portuguesa, contrariando o legado histórico feudal e tentando por todos os meios aproximar Portugal do modelo da sociedade inglesa. Entretanto, Portugal mostrara-se por vezes hostil à influência daqueles que em Portugal eram chamados pejorativamente de estrangeirados - facto pretensamente relacionado à influência Católica. Também ao longo do século XVIII, o ambiente cultural português permanecera pouco dinâmico, facto nada surpreendente num país onde mais de 80% da população era analfabeta. Nas colónias americanas do Império Português, foi notável a influência de ideais iluministas sobre os escritos económicos tanto de José de Azeredo Coutinho quanto de José da Silva Lisboa. Também se podem considerar como "iluministas" diversos dos intelectuais que participaram de revoltas anticoloniais no final do século XVIII, tais como Cláudio Manoel da Costa e Tomás António Gonzaga. Impacto

Declaração dos Direitos Humanos, França, 1789, um dos muitos documentos políticos produzidos no século XVIII sob a inspiração do ideário iluminista.

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O Iluminismo exerceu vasta influência sobre a vida política e intelectual da maior parte dos países ocidentais. A época do Iluminismo foi marcada por transformações políticas tais como a criação e consolidação de estados-nação, a expansão de direitos civis, e a redução da influência de instituições hierárquicas como a nobreza e a igreja. O Iluminismo forneceu boa parte do fermento intelectual de eventos políticos que se revelariam de extrema importância para a constituição do mundo moderno, tais como a Revolução Francesa, a Constituição polaca de 1791, a Revolução de Dezembro na Rússia em 1825, os movimento de independência na Grécia e nos Balcãs, bem como, naturalmente, os diversos movimentos de emancipação nacional ocorridos no continente americano a partir de 1776. Muitos autores associam ao ideário iluminista o surgimento das principais correntes de pensamento que caracterizariam o século XIX, a saber, liberalismo, socialismo, e socialdemocracia. Iluministas notáveis (ordenados por ano de nascimento)

Bento de Espinosa (1632–1672), filósofo neerlandês, com ascendência judaica portuguesa. É considerado o precursor das correntes mais radicais do pensamento iluminista. Escrito mais importante: Tratado Teológico-Político (1670). John Locke (1632 - 1704), filósofo inglês. Escritos mais importantes: Ensaio sobre o entendimento humano (1689); Dois tratados sobre governo (1689). Montesquieu (Charles-Louis de Secondat, barão de La Brède e de Montesquieu) (1689-1755), filósofo francês. Notabilizou-se pela sua teoria da separação dos poderes do estado (Legislativo, Executivo e Judiciario), a qual exerceu importante influência sobre diversos textos constitucionais modernos e contemporâneos. Escrito mais importante: Do Espírito das Leis (1748). Voltaire (pseudónimo de François-Marie Arouet) (1694-1778), Defendia uma monarquia esclarecida. Filósofo francês, era deista (acreditava que para chegar a Deus não era preciso a igreja, e sim a razão). Notabilizou-se pela sua oposição ao pensamento religioso e pela defesa da liberdade intelectual. Escritos mais importantes: Ensaio sobre os costumes (1756); Dicionário Filosófico (1764)Cartas Inglesas. Benjamin Franklin (1706-1790), político, cientista e filósofo estadunidense. Participou activamente dos eventos que levaram à independência dos Estados Unidos e da elaboração da constituição de 1787. Buffon (Georges-Louis Leclerc, conde de Buffon) (1707-1788), naturalista francês. A sua principal obra, A história natural, geral e particular (1749–1778; 36 volumes), exerceu capital influência sobre as concepções de natureza e história dos autores do Iluminismo tardio. David Hume (1711-1776), filósofo e historiador escocês. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), filósofo francês. Escrito mais importante: Do Contrato Social.

Denis Diderot, retratado por Louis-Michel van Loo, 1767.

Denis Diderot (1713-1784), filósofo francês. Elaborou juntamente com D'Alembert a "Enciclopédia ou Dicionário racional das ciências, das artes e dos ofícios", composta de 33 308


volumes publicados, pretendia reunir todo o conhecimento humano disponível, que tornou-se o principal vínculo de divulgação de suas ideias naquela época. Também se dedicou à teoria da literatura e à ética trabalhista. Adam Smith (1723-1790), economista e filósofo escocês. O seu escrito mais famoso é A Riqueza das Nações. Immanuel Kant (1724-1804), filósofo alemão. Fundamentou sistematicamente a filosofia crítica, tendo realizado investigações também no campo da física teórica e da filosofia moral. Gotthold Ephraim Lessing (1729–1781), dramaturgo e filósofo alemão. É um dos principais nomes do teatro alemão na época moderna. Nos seus escritos sobre filosofia e religião, defendeu que os fiéis cristãos deveriam ter o direito à liberdade de pensamento. Edward Gibbon (1737–1794), historiador inglês.

FIM

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