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verdade com conteúdo evangélico
Dezembro 2008 / Janeiro 2009 Ano 2, número 8
R E P O R T A G E N S
Fotomontagem
14 Lobos em pele de cordeiro
Aumento dos casos de pedofilia no país assusta a sociedade, leva ao endurecimento da legislação e desafia Igreja a uma tomada de posição
Por Marcelo Brasileiro |
20 Nem só de pão
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P o r W i l l i a m L a n e C r a i g | Em pleno século 21, filósofos encontram novos argumentos para defender a existência do Todo-poderoso
28 Emergência africana
P o r T i m o t h y C . M o r g a n | Fome endêmica no continente mais pobre do mundo é um desafio a governos, Igreja e instituições humanitárias
34 Doutor da esperança
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Ataques terroristas a Mumbai, na Índia, atraiu mais atenção do que a sangrenta onda de violência religiosa que já matou mais de mil cristãos
P o r C a r l o s Fe r n a n d e s |
42 Construindo o espírito de Natal
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P o r D a n i e l M a c h a d o | Jürgen Moltmann, um dos mais respeitados teólogos da atualidade, visita o Brasil e defende a contextualização total da fé
38 Tragédia que ninguém vê
38 Arquivo
P o r Va l t e r G o n ç a l v e s J r | Brasileiros ainda lêem pouco, mas editoras já enxergam futuro mais promissor para a literatura cristã
24 Deus ainda não morreu
Arquivo
Fábio Pozzebom (Agência Brasil)
Ministério Musalaha promove reconciliação entre palestinos e israelenses e incentiva ação social conjunta
Por Jonathan Miles |
44 Salvação via satélite
Projeto Minha Esperança Brasil contabiliza os resultados de uma das maiores campanhas evangelísticas já realizadas no país
Por Joanna Brandão |
46 A vida nos anos de chumbo
P o r Va l t e r G o n ç a l v e s J r | O Ato Institucional nº 5, que colocou a cidadania na parede completa 40 anos sem ser esquecido por suas vítimas
56 “A teologia da prosperidade é demoníaca”
P o r M a r c o s C o u t o | Depois de reaparecer na televisão e agora ligado à Igreja Mundial do Poder de Deus, Ronaldo Didini repudia parte do que acreditou no passado
Dezembro 2008 / Janeiro 2009
N O T Í C I A S ,
S E Ç Õ E S
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C O L U N A S
6 Primeiras palavras
7 Cartas e mensagens P&R: Larry
Crabb
Mente e coração: Ricardo
Barbosa
18 Especial | P h i l i p Ya n c e y
Um investimento infalível
41 Espiritualidade | E d u a r d o R o s a P e d r e i r a
8 Tragédia de Jim Jones faz 30 anos
Um místico urbano
45 Reflexão | E d R e n é K i v i t z
Arquivo
8 CH Informa
Ensaio sobre a visão
9 O craque Zé Roberto: “Quero ser pastor”
52 CH Cultura
Livros | J a q u e l i n e R o d r i g u e s Vídeos | N a t a n i e l G o m e s Música | N e l s o n B o m i l c a r
Divulgação
60 CH Digital | W h a n e r E n d o
Nós podemos mudar o mundo?
62 Os outros seis dias | C a r l o C a r r e n h o
Votarás no teu próximo como por ti mesmo
64 Últimas palavras | Z i e l M a c h a d o A voz das urnas
13 Igrejas vão construir megatemplos em São Paulo
divulgação
Primeiras palavras Marcos Simas editor Revista Cristianismo Hoje A verdade com conteúdo evangélico www.cristianismohoje.com.br Quem somos Cristianismo Hoje é uma publicação evangélica, nacional e independente, que tem como objetivo informar, encorajar, unir e edificar a Igreja brasileira, comunicando com verdade, isenção e profundidade os fatos ligados ao segmento cristão, bem como o poder transformador do Evangelho a todos os seus leitores
A revista tem uma parceria com o grupo Christianity Today International, um dos mais importantes grupos de mídia cristã do mundo, com 11 revistas e 28 sites de conteúdo Conselho Editorial Carlo Carrenho • Carlos Buczynski • Eleny Vassão Eude Martins da Silva • Marcelo Augusto Souto Mário Ikeda • Mark Carpenter • Nelson Bomilcar Richard Werner • Ronaldo Lidório • Volney Faustini William Douglas Editor Marcos Simas Diretor de redação e jornalista responsável Carlos Fernandes – MTb 17336 Jornalistas desta edição Daniel Machado • Isaac Phiri • Joanna Brandão Jonathan Miles • Marcelo Brasileiro Marcos Couto • Timothy C. Morgan • Treici Schwengber Troy Anderson • Valter Gonçalves Jr Colunistas Carlo Carrenho • Jaqueline Rodrigues Nataniel Gomes • Nelson Bomilcar Rubinho Pirola • Whaner Endo Tradutores Cláudia Ziller Faria • Jorge Camargo Karen Bomilcar • OK Lingüistica
Crer ou não crer
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o longo da história, a “morte” de Deus foi declarada diversas vezes. A idéia de que existe um Criador sob cuja ação todas as coisas – inclusive o ser humano – passaram a existir tem sido combatida, em maior ou menor intensidade, ao longo dos tempos. Uma verdadeira luta ideológica é travada continuamente entre crentes e céticos; e, muitas vezes, o Senhor realmente parece ter morrido, inclusive por culpa da própria Igreja que se diz porta-voz do Eterno. Agora em 2009, a famosa e bastante questionada obra do naturalista Charles Darwin, A origem das espécies, faz 150 anos de publicação. De lá para cá, muitos cientistas se penduraram nela para dizer que tudo o que o Cristianismo havia proposto teria sido um grande engano, principalmente no que diz respeito à Criação, bem como suas derivações. Isso daria margem para muita dúvida acerca da historicidade e da autoridade da Bíblia. Talvez por causa disso, alguns livros se tornaram best-sellers, como as obras de autores como Dawkins e Hitchens, que se aproveitam das dúvidas e da falta de fé de muitos para vender suas idéias. É o movimento denominado novo ateísmo, que nasce fazendo barulho, mas carecendo de sustentação. Nesta edição, CRISTIANISMO HOJE mostra como uma nova geração de pastores, pesquisadores e filósofos têm respondido a esse novo ateísmo. Para eles, as evidências da ação divina são tão claras que só não as vê quem não quer – embora seja forçoso admitir que a idéia de Deus pode variar muito, dependendo do ponto de vista e dos interesses de quem o observa. Há aqueles que querem construir um deus (neste caso, a inicial minúscula é inevitável) que caiba dentro de sua ganância. Por isso, na entrevista especial desta edição, o pastor e comunicador Ronaldo Didini é tão enfático em dizer que a teologia da prosperidade é demoníaca, já que ela é usada para extorquir e manipular pessoas, afastando-as do convívio amoroso do Pai.
Revisora Alzeli Simas Colaboradores desta edição Ed René Kivitz • Eduardo Rosa, Philip Yancey • William Lane Craig • Ziel Machado Arte Oliverartelucas Publicidade publicidade@cristianismohoje.com.br Assinaturas 0800 644 4010 assinaturas@cristianismohoje.com.br
Em visita ao Brasil, o chamado teólogo da esperança, Jürgen Moltmann – um dos maiores e mais importantes estudiosos da velha escola alemã do século 20 –, em sua simplicidade, deixa claro que, ao contrário do que dizem os céticos, é justamente em meio à tragédia que podemos ver a bondade de Deus. Em contrapartida, frisa Moltmann, a ausência de Deus é que capacita o homem a cometer atrocidades.
Informações e permissões para republicação de artigos faleconosco@cristianismohoje.com.br Distribuição MR Werner Distribuidora de livros Ltda. CNPJ 06.013.240/0001-07 – IE 07.450.716/001-45 Caixa postal 2351 Brasília, DF CEP 70842-970 Impressão Gráfica Ediouro Tiragem – 20.000 exemplares
Aproveite a leitura!
Cristianismo Hoje é uma publicação bimestral da Msimas Editora Ltda. ISSN 1982-3614
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cartas e mensagens a um pragmatismo exacerbado – ela possui 200.000 km de comprimento e 2cm de profundidade. Tornamo-nos a igreja da música e da dança. Achamos que seremos profetas tocando flauta e esquecemos da trombeta. A verdade individual tornou-se o cânon de cada um. Excelente a entrevista!
Luiz Fernando Ramos de Souza
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Ainda tem gente que busca o Evangelho puro e simples
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precisão da análise feita pelo reverendo Augustus Nicodemus Lopes [entrevistado na edição nº 7] não exclui a dinâmica do Espírito. Se abandonarmos as bases teológicas e doutrinárias cairemos, como já caímos, em um caos eclesiástico. Nas palavras de John Mackay, “ação sem reflexão é paralisia da razão”. A Igreja brasileira perdeu sua profundidade espiritual e teológica devido
oncordo com que disse o pastor Nicodemus. Ainda tem gente que busca o Evangelho puro e simples e que se dedica aos verdadeiros ensinamentos bíblicos. Wallyson de Souza
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arabéns pela reportagem O Evangelho segundo o SexxxChurch [edição nº 7]. A sexualidade é tratada como se não fizesse parte do mundo evangélico. Mesmo diante de tantas coisas abomináveis, muitos preferem ignorá-las. Precisamos de cristãos que tenham iniciativa e coragem, para seguirmos na guerra que travamos diariamente no mundo.
Maria Aparecida Almeida
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uito boa a matéria sobre o SexxxChurch. Apenas uma correção: o pastor australiano Mike Guglielmucci não é do Hillsong, como foi dito, e sim, pastor da Igreja Planet Shakers. Ele foi apenas convidado especial e cantou em uma música do CD do ministério Hillsong. Simmy Cohen
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plaudo a coragem do articulista Carlo Carrenho [coluna Os outros seis dias, edição nº 7]. Estou com ele e assino embaixo em tudo o que disse. Sou contra o homossexualismo e o aborto, mas a favor da liberdade que as pessoas têm de fazer suas escolhas; claro, sempre respeitando os direitos dos outros. Ninguém é obrigado a viver uma vida oprimida por um sistema de crenças em que não acredita. Vivemos em um país livre e secular, e construir uma ditadura cristã no Brasil não é a solução.
Mozart Paulino
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credito que a liderança evangélica deveria se preocupar com suas próprias mazelas e tratá-las, bem como cuidar do rebanho do Senhor que está sob seus cuidados. Quanto a outras questões como aborto e homossexualismo, o próprio Deus já cuidou, e há textos em abundância na Palavra do Senhor. Podemos, sim, nos posicionar e não deixar que ninguém tire nosso direito de opinião; agora, querer que o mundo pense e viva igual aos santificados em Cristo é outra coisa. Quanto a nós, que continuemos amando os pecadores dos quais somos os principais... E Deus nos ajude. Alexsandro Silva
Por necessidade de clareza e em função do espaço disponível, CRISTIANISMO HOJE reserva-se o direito de editar as cartas que recebe, adaptando sua linguagem ou suprimindo texto. Todas as mensagens foram recebidas via portal www.cristianismohoje.com.br
CONTATO COM CH Redação da revista
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Leia Também
» ‘Missionárias’ namoradoras 9 » Reverendo do sexo 10 » Biografia do diabo 13
[Memória]
Uma tragédia para não esquecer Suic´dio coletivo na Guiana, que matou mais de 900 fanáticos seguidores do l´der Jim Jones, completa 30 anos
Homem observa corpos de fiéis em Jonestown: suic´dio coletivo ordenado por Jim Jones levou mais de 900 à morte Uma das maiores tragédias com motivação religiosa de todos os tempos acaba de completar 30 anos. No dia 18 de novembro de 1978, 913 seguidores da seita Templo do Povo, comandada pelo fanático James Warren Jones (o Jim Jones), cometeram suicídio coletivo na comunidade agrícola conhecida como Jonestown, na Guiana. Entre os mortos, havia centenas de crianças e adolescentes, forçados por seus pais a ingerir um refresco contendo cianeto, seguindo a orientação de Jones. O episódio foi o ponto culminante de uma história iniciada anos antes, quando Jim Jones, nascido no estado americano de Indiana, começou a reunir seguidores – em sua maioria, pessoas pobres e marginalizadas, atraídas pelas eloqüentes pregações com promessas de uma vida melhor. O sonho de uma sociedade alternativa concretizou-se em 1977, quando Jones e os adeptos da seita migraram para a Guiana, na América do Sul. Jonestown era uma comunidade 8
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auto-suficiente, à semelhança dos kibutzin israelenses, estabelecida no meio da selva amazônica. Isolados, seus moradores viviam sem contato com o mundo exterior, submetidos constantemente à lavagem cerebral promovida pelo líder. Os seguidores eram obrigados a satisfazer todos os caprichos de Jones. O dirigente podia até escolher parceiras sexuais entre as seguidoras. O mundo só tomou conhecimento de que algo de muito grave acontecia quando o congressista americano Leo Ryan foi executado durante uma visita à seita. Ele foi até Jonestown e passou alguns dias conhecendo as instalações e o modo de vida da comunidade. Procurado por fiéis que desejavam desesperadamente sair dali, o deputado conseguiu transporte aéreo para levar um grupo de volta aos Estados Unidos. Antes do embarque, contudo, os homens de Jones mataram todos a tiros numa emboscada. Jim Jones percebeu que o fim da seita estava próximo Àquela altura, o governo americano já considerava os fiéis como prisioneiros do religioso. O falso profeta, então, reuniu todo o seu rebanho para o último sermão, dizendo que a morte era melhor que a rendição aos infiéis. Todos aceitaram de bom grado sua ordem para ingerir a bebida mortal, na expectativa de que a morte lhes abriria a porta para um mundo novo. O corpo do dirigente foi encontrado com um tiro na cabeça. Três seguidores de Jones, que conseguiram fugir antes do suicídio coletivo, sobreviveram para contar em detalhes as histórias de horror de Jonestown.
Mago das palavras Há 45 anos, morria C.S.Lewis, o escritor britânico que falou do Cristianismo com sua arte poética e metafórica Clive Staples Lewis, ou simplesmente C.S.Lewis, foi um daqueles artistas
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cuja obra transmite com clareza o que lhe vai pela alma. O escritor britânico, morto em 22 de novembro de 1963 – há exatos 45 anos, portanto –, fez uma transição espiritual nem sempre das mais fáceis, migrando de um ateísmo assumido para a fé cristã, defendida com unhas e dentes após sua conversão. Lewis pertenceu à Igreja Anglicana e é considerado uma espécie de porta-voz não oficial do Cristianismo. O escritor soube divulgar as verdades cristãs como poucos, através de seus livros e palestras. E sempre apresentava sua crença na verdade literal das Escrituras Sagradas, falando sobre o Filho de Deus, sua vida, morte e ressurreição de maneira poética e metafórica. C.S. Lewis notabilizou-se por uma inteligência privilegiada, e por um estilo espirituoso e imaginativo. O regresso do peregrino, publicado em 1933, O problema do sofrimento (1940), Milagres (1947), e Cartas de um diabo ao seu aprendiz, de 1942, são algumas de suas obras mais conhecidas. Escreveu também ficção científico-religiosa, caso de Trilogia espacial: Longe do Planeta Silencioso (1938) e Perelandra (1943). Mas sua obra mais famosa ultimamente são As crônicas de Nárnia, que ganharam versões cinematográficas em grande estilo, cheias de efeitos especiais que reproduzem o mundo de fantasia de suas fábulas. O autor britânico morreu no mesmo dia em que o então presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, foi assassinado e que morreu o também escritor Aldous Huxley. A coincidência serviu como pano de fundo para o livro O diálogo – Um debate além da morte entre John F. Kennedy, C. S. Lewis e Aldous Huxley, de Peter Kreeft, onde os três personagens, representando o teísmo ocidental (Lewis), o humanismo (Kennedy) e o panteísmo oriental (Huxley) discutem sobre religião e Cristianismo.
Arquivo
P a r a n o t c i a s d i á r i a s , v e j a e m w w w. c r i s t i a n i s m o h o j e . c o m . b r
[Gente]
Globeleza de Deus Divulgação
Valéria Valenssa, a mulata das vinhetas de carnaval da Rede Globo, diz que arrepende-se do passado ‘de pecados’. Durante mais de dez anos, ela foi um dos ícones de sensualidade do carnaval carioca. Valéria Valenssa, a mulata Globeleza, agora é crente e repudia seu passado platinado, quando apenas (poucas) lantejoulas lhe cobriam o corpo nas vinhetas da Rede Globo. “Eu pecava quando fazia aqueles anúncios”, reconhece. “Mas não estava na presença do Senhor, não tinha os conhecimentos que tenho hoje”, ressalva. Dizendo-se convertida ao Evangelho, ela conta que sua mudança de vida coincidiu com um período conturbado de sua carreira, quando foi demitida da Globo. “Caí em profunda depressão”, lembra. A partir daí, passou a freqüentar reuniões na Igreja Universal do Reino de Deus e cultos que funcionários crentes promovem nas dependências da Globo. Foi ali, diz, que conheceu o Senhor. “Tive um encontro real com Deus e chorei por uma hora e meia. A partir daquele momento, nunca mais me separei de Deus.” Sobre o carnaval, a artista demonstra não ter saudades: “Vivi tudo o que podia lá. Hoje sou mais feliz”, alegra-se.
Divulgação
Brilho gospel no Grammy A cantora evangélica Soraya Moraes fatura três troféus na mais importante premiação da música latina A cantora gospel Soraya Moraes foi o destaque brasileiro na cerimônia de premiação do Grammy Latino 2008.
Considerado o “Oscar” da música, o Grammy premia diversas categorias, e desde 2005 distribui troféus também a artistas cristãos. Soraya, integrante do casting da gravadora Line Records, venceu nas três categorias em que concorria. A participação de Soraya no Grammy deste ano, realizado em Houston, no Texas (EUA), teve surpresas, já que essa foi a primeira vez que uma cantora gospel concorreu na categoria “Melhor Canção Brasileira em Língua Portuguesa”. Basta dizer que, ao lado da artista, que venceu com a música Som da chuva, disputaram medalhões como Djavan, Vanessa da Matta, Jorge Vercillo e Sérgio Mendes. Já nas categorias voltadas para a música cristã, Soraya venceu com os álbuns Som da chuva (“Melhor Álbum Cristão em Língua Portuguesa”) e Tengo sed de ti, escolhido como o melhor em espanhol. Entre os artistas cristãos, disputaram Marcos Witt, Aline Barros, Fernanda Brum, André Valadão e Ministério Toque no Altar, entre outros. [Esportes]
Aloha, Jesus! Lançada na Austrália a B´blia dos Surfistas, edição impermeável das Escrituras que pode ser lida sobre as ondas Pegar onda agora pode ser uma atividade mais, digamos, espiritual. Foi lançada na Austrália – uma das mecas do surfe mundial – a Bíblia dos Surfistas, iniciativa da Sociedade da Bíblia e do ministério Surfistas Cristãos daquele país. A edição tem capa à prova d’água para não estragar em contato com o mar e pode ser lida, por exemplo, enquanto o praticante está sobre sua prancha, esperando a onda perfeita. Segundo os idealizadores do produto, o objetivo da nova versão da Palavra de Deus é conectar os surfistas com o Criador enquanto praticam o esporte. É o segundo lançamento do gênero – a edição anterior da obra, de 2002, vendeu 75 mil exemplares no mundo e esgotou-se rapidamente.
Dos campos para o púlpito Evangélico, o volante Zé Roberto anuncia que quer ser pastor após pendurar as chuteiras Soraya com um dos troféus que faturou em Houston: vitória em três categorias
O volante Zé Roberto, jogador do Bayern de Munique, na Alemanha, anunciou d e z e m b r o
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Zé Roberto diz que deseja estudar teologia e tornar-se pastor após deixar os gramados que, quando pendurar as chuteiras, vai se tornar um pastor. Aos 34 anos, o atleta, que é evangélico, disse ao jornal alemão Sport Bild que seu destino pode ser o púlpito: “Vejo-me como pastor após terminar a minha carreira nos campos”, comentou. Ele se diz disposto a estudar os quatro anos de teologia. Titular da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2006, onde marcou um gol, Zé Roberto tem contrato com o clube alemão até o fim desta temporada. “Se for a vontade de Deus, posso renovar com o Bayern”, acredita. “Tenho orado para saber o que é melhor.” [ C o mp o r t am e n t o ]
‘Missionárias’ namoradoras O bizarro ministério Namorar para Salvar propõe o envolvimento sexual de mulheres cristãs com ‘homens ´mpios’ para salvar suas almas do inferno “Sou sensual e quero usar minha beleza para salvar homens do inferno.” O bizarro anúncio faz parte da estratégia do ministério Namorar para Salvar e é como Tamara, uma morena de 29 anos, se apresenta para divulgar uma maneira bem heterodoxa de cumprir a grande comissão de Cristo. Dizendo-se “uma mulher cristã que ama Jesus e se importa com todos os seres humanos, mesmo os ímpios”, ela conclama outras mulheres para sua cruzada em favor da “salvação” de almas pelo sexo. Tamara criou uma página na web para atrair o que chama de “missionários namoradores”, cuja missão seria se envolver sexualmente com outras 2 0 0 9
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CH Informa pessoas e ganhar suas vidas para Deus. A base bíblica da coisa, se é que se pode chamar assim, é uma leitura torta do texto de Romanos 12.1:”Rogo-vos, pois, irmãos, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo”. “Devemos usar nossos lindos corpos para glorificar o nome do Senhor através do namoro, e o Espírito fará o resto, uma vez que Ele é a parte mais forte em nós. Essa é a melhor maneira de começar o trabalho”, continua Tamara, que segundo o site vive em Oakland, na Califórnia (EUA). Ela aparece na página em uma foto bem sugestiva. “Jesus está salvando muita gente através do contato íntimo com suas servas”, diz a inacreditável “missionária”. O ministério oferece camisetas e outros materiais de apoio para quem deseja iniciar o trabalho. A iniciativa faz lembrar a seita dos Meninos de Deus, que alcançou grande projeção nos anos 1960 e 70. Em plena contracultura, o grupo tinha práticas rituais que incluíam o amor livre como forma de atrair outros jovens para o movimento.
Reverendo do sexo
Arquivo
O pastor americano Ed Young lança campanha estimulando o sexo entre seus fiéis – os casados, evidentemente
[Justiça]
O pastor americano Ed Young, de 47 anos, já está sendo chamado de “o reverendo do sexo”. Mas o motivo do apelido é dos mais nobres, e nada tem a ver com promiscuidade sexual – ao contrário. Young acaba de começar
Disciplinar, não pode Pastor vai responder a processo e pode ser preso haver dado palmadas em seu filho
Young e sua mulher, Lisa, em um evento: incentivo ao sexo
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uma campanha entre os fiéis da sua congregação, a Fellowship Church de Grapevine, no Texas, estimulando os casais a dedicarem mais atenção à sua vida sexual. A idéia é que cada casal tenha relações sexuais durante sete dias seguidos, a fim de, segundo o religioso, melhorar a relação conjugal, fortalecer os laços afetivos e familiares e abençoar a vida do parceiro. “O sexo é um ato muito espiritual”, afirma, ressalvando que apenas no caso de pessoas casadas. Ele próprio, que é casado com Lisa e tem quatro filhos com ela, planeja ser o primeiro a dar o exemplo. Young é um conferencista e escritor de sucesso nos EUA. Boa pinta, articulado e popular, tem programas na TV e dirige um ministério que leva o seu nome. Bem humorado, ele lançou a campanha em cima de uma cama, para deixar a mensagem ainda mais explícita. O pastor reúne, a cada domingo, cerca de 20 mil pessoas em sua igreja, que tem uma filial em Miami. Entrevistado no programa The Early Show, da rede CBS, acerca de sua inusitada iniciativa, o pastor afirmou que sua meta é que a Igreja Evangélica fale sobre sexo, tema ainda considerado tabu no segmento. “Foi Deus quem inventou o sexo”, frisou no ar. “Achei estupenda a idéia de ter milhares de crentes praticando o sexo durante sete dias seguidos”, brincou.
A Bíblia recomenda aos pais que as crianças devem ser corrigidas por seus erros. É claro que a Palavra de Deus não autoriza ninguém a espancar os filhos, mas deixa implícito que, como se diz popularmente, uma palmada na hora certa educa. Mas o pastor americano Barry Barnett Jr, de 43 anos, pode ser preso por seguir o conselho das Escrituras. Dirigente do Lighthouse Family Ministries, na cidade de Poynette, Wisconsin, ele foi detido por haver dado duas palmadas no filho, um menino de 12 anos. O religioso foi denunciado por assistentes sociais da escola do garoto. O detalhe é que a própria criança, cujo |
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The Leadership Interview
O valor do quebrantamento Conferencista, psicoterapeuta e professor, Larry Crabb é um dos mais festejados escritores cristãos da atualidade. Autor de O lugar mais seguro da Terra, Crabb fala ali sobre a natureza do quebrantamento, lembrando que é uma virtude desprezada nas igrejas. Ele conversou com CRISTIANISMO HOJE sobre o assunto: CRISTIANISMO HOJE – O senhor costuma falar em comunidade espiritual de maneira meio idealizada. Ali, poder´amos ser honestos acerca de nossos pecados e abertos quanto às nossas fraquezas. Isso inclui também os pastores?
LARRY CRABB – Penso que o elemento que falta na vida de muitos pastores é justamente a comunidade. Pastores dedicam muito tempo à Palavra, estão dispostos a permanecer longos períodos em oração. Mas alguns não estão dispostos a abrir seus corações para um irmão ou irmã e dizer: “Você pode me ajudar?” Pastores precisam de quebrantamento, que é a virtude mais menosprezada na comunidade cristã dos nossos dias. Ele proporciona um profundo entendimento de nossas fraquezas. Esta tem sido sua experiência?
Este é meu testemunho. Quebrantamento não fazia parte da minha vida nos últimos anos. E sinto que é algo que cresce em mim. Mas não acho que o quebrantamento seja algo mórbido, de maneira nenhuma – existe algo vivo dentro de mim que simplesmente trouxe o quebrantamento à tona. Quando descobrimos que estamos sendo quebrantados?
Há cerca de um mês, estava lendo a epístola de Paulo aos Efésios, quando então comecei a ter pensamentos que nunca havia tido. Planejei até usar aquilo num próximo livro ou palestra, quando em um daqueles momentos místicos, percebi o Senhor me dizer: “Isso deve ser algo entre você e eu. Não quero que use para os seus propósitos. Só quero que aproveite o alimento que estou lhe oferecendo”. Tive que deixar a caneta sobre a mesa. Senti-me como um alcoólatra se afastando de sua bebida. Eu havia descoberto minha própria idolatria. Os ricos pensamentos de Deus se tornaram algo que eu utilizava para cumprir meus compromissos; eram como que ídolos.
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[ Sa ú d e ]
A dor da traição Médico descobre a ‘cefaléia dos amantes’, dor de cabeça intensa causada pelo estresse de uma relação extraconjugal Há muito tempo se sabe que casos extraconjugais costumam dar uma tremenda dor de cabeça, não só para quem é traído, mas para quem pula a cerca. Mas agora o que o imaginário popular já consagrara acaba de ser provado cientificamente. O neurologista italiano Lorenzo Pinessi descobriu que o estresse psicológico e o esforço físico de manter uma relação extraconjugal pode dar origem à “cefaléia dos amantes” – nada mais, nada menos, que a célebre dor de cabeça. Só que no sentido físico mesmo, e não apenas figurado. “Esse tipo de cefaléia afeta sobretudo os homens, que têm em geral um papel mais ativo durante a relação, com uma intensidade proporcional à excitação”, explica o médico, presidente da Sociedade Italiana para o Estudo da Cefaléia. “Uma série de fatores, como alimentos afrodisíacos, remédios estimulantes, cansaço físico e o 12
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estresse psicológico devido à relação extraconjugal podem desencadear fortes dores”, explica o especialista. [Sociedade]
Ate´smo volante Campanha pretende disseminar mensagens anti-Deus nos ônibus londrinos
Ônibus com cartaz promovendo o ate´smo circula em Londres: campanha tem caráter hedonista Terra de grandes evangelistas como John Wesley e celeiro da obra missionária mundial nos séculos 18 e 19, a GrãBretanha tem se debatido em meio ao ateísmo da pós-modernidade européia. E ele não está restrito aos debates acadêmicos em suas famosas universidades, como Oxford ou Cambridge, mas acaba de ganhar as ruas de Londres. Literalmente. Uma campanha liderada pela Associação Humanista Britânica (BHA, na sigla em inglês) quer fazer circular, impressas nos famosos ônibus vermelhos de dois andares, inscrições de caráter hedonista como “Provavelmente, Deus não existe. Pare de se preocupar e curta a vida”. A idéia é que a campanha seja implementada a partir de janeiro de 2009. Inicialmente, sessenta veículos devem exibir pôsteres com o slogan. O objetivo da BHA é promover o ateísmo na Grã-Bretanha. “Queremos encorajar mais ateus a assumir publicamente sua posição”, diz um comunicado do grupo. A iniciativa tem o apoio de ninguém menos que o escritor Richard Dawkins, autor do livro Deus, um delírio, espécie de bíblia do ateísmo contemporâneo. “Em meio a tantas mensagens nos ameaçando com a condenação eterna, tenho certeza de que essa campanha será vista como um sopro de ar fresco”, diz Hanne Stinson, presidente da BHA. d e z e m b r o
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[Religião]
Mesquita de Jesus Fam´lia islâmica que construiu templo diz que nome é demonstração de tolerância religiosa Uma mesquita na cidade de Madaba, a 30 km de Amã, capital da Jordânia, recebeu o nome de... Jesus Cristo. É isso mesmo – o Salvador da humanidade está recebendo uma inusitada homenagem dos muçulmanos, justamente o grupo religioso que mais se opõe ao Cristianismo. A mesquita de Jesus Cristo, como explicou o imã Belal Hanini, é “uma homenagem à tolerância”, mas representa também “uma mensagem ao mundo da consideração que os muçulmanos têm pela figura de Jesus”. Madaba é cortada por um trecho do Rio Jordão, onde, segundo a Bíblia, Cristo foi batizado por João Batista. Foi deste fato que surgiu a idéia do nome do santuário. “Há séculos vivemos em paz com nossos irmãos cristãos, e o novo templo simboliza esta fraternidade”, explica Hanini. Segundo ele, a Mesquita de Jesus é a prova de que o Islamismo e o Cristianismo podem coexistir em paz. Nas paredes internas da mesquita, algumas inscrições reproduzem versos do Corão, o livro sagrado do Islã, em honra ao Nazareno e à sua mãe, Maria. O templo foi construído pela família muçulmana Al Otaibi, tradicional na região e com fortes ligações com a comunidade cristã local. “Queremos estabelecer um exemplo que possa ser seguido em outras partes do mundo a favor da coexistência entre religiões”, diz Marwan Al Otaibi.
‘Crise demonstra falta de valores cristãos’ Para o cardeal do Vaticano, colapso econômico dos Estados Unidos revela que Deus tem sido ‘ignorado’ A atual crise financeira, iniciada nos Estados Unidos e que vem contaminando mercados em escala global, é motivada pelo abandono dos valores cristãos. A avaliação é do cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano e segundo na hierarquia católica. O religioso fez declarações
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nome não foi revelado, defendeu o pai por lhe haver castigado: “Eu mereci. Estou mentindo muito”. Barnett, que tem outros oito filhos, só foi liberado após pagar fiança de 10 mil dólares, mas está sendo processado por abuso físico contra menor e pode pegar até três anos de detenção. Como medida liminar, ele foi impedido de impor qualquer disciplina aos filhos. No entender da promotora que move a acusação, o pastor excedeu os limites da “disciplina razoável”. Contudo, médicos que periciaram o menino registraram que as palmadas causaram apenas momentânea vermelhidão na área das nádegas, sem qualquer ferimento mais sério. O menino disse ainda que tanto ele quanto o pai choraram enquanto o castigo era executado. No dia da audiência, uma das filhas de Barnett, Amber, de 21 anos, ficou do lado de fora do tribunal com um cartaz de mensagem de apoio ao pastor: “Obrigada, papai, por me disciplinar”.
sobre o colapso econômico durante uma conferência. “A política precisa da religião, principalmente da mensagem ética do Cristianismo”, frisou o clérigo. “O fim trágico de todas as ideologias demonstra isso.” Para Bertone, ao ter “ignorado Deus” e esquecido os valores cristãos, o sistema capitalista relegou também princípios como o respeito aos direitos humanos e ao bem comum. Segundo o cardeal, para administrar a globalização, a política precisa não só de valores inspirados na religião, mas de uma ética racional, que seria oferecida pelo cristianismo.
São Paulo de todas as crenças Judeus, católicos e evangélicos prevêem a inauguração de grandes templos em São Paulo
Mente e coração
100 mil pessoas – o dobro da Basílica de Aparecida –, o templo abrigará os fiéis que se reúnem no Santuário do Terço Bizantino, liderado pelo padre popstar Marcelo Rossi. “É importante reunir pessoas em um mesmo lugar para celebrar. Esse efeito do contágio, da emoção das grandes celebrações, deve ser levado em conta para o fortalecimento da fé”, diz o religioso. Já os evangélicos da Igreja Universal do Reino de Deus, especialistas na construção de grandes espaços de culto como o Templo Maior, no Rio, anunciam com pompa o projeto da nova sede mundial da denominação, na Avenida Celso Garcia, bairro do Brás. A inspiração vem do passado – mais precisamente do Templo de Salomão, erguido em Jerusalém por volta do século 9 a.C. O novo prédio, que ocupará uma área construída de 65 mil m², terá 12 andares e dois subsolos, com capacidade para pelo menos 10 mil pessoas. E a grande comunidade judaica de São Paulo também não ficará para trás. A nova sinagoga da Congregação Mekor Haim será construída no bairro de Santa Cecília, e promete ser um dos maiores centros religiosos do Judaísmo na América Latina.
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astor da Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília, Ricardo Barbosa de Sousa é um escritor e palestrante dos mais requisitados, mas não abre mão do convívio com os fiéis de sua congregação. Mais que um líder, é um pensador cristão que mergulha a fundo na espiritualidade humana.
“Quando os impulsos do coração alcançam nossa vontade e determinam nossos desejos, a´ pode ser muito tarde para evitar o pecado” Janelas para a vida
“Precisamos mudar a ênfase, carregada de valores e conceitos mundanos, que damos hoje ao l´der, e resgatar a figura b´blica do pastor como modelo de liderança para a igreja, porque este modelo de liderança que temos acabou por secularizar a vocação pastoral”
[ L i t e ra t u ra ]
Nova liderança
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Biografia do diabo O Templo Maior, sede da Igreja Universal no Rio: evangélicos, judeus e católicos vão construir grandes espaços de culto em São Paulo São Paulo, a maior metrópole brasileira, logo será também a cidade dos megatemplos. Católicos, evangélicos e judeus prevêem para 2010 a inauguração de grandes construções de caráter religioso, capazes de abrigar dezenas de milhares de fiéis. Com linhas arquitetônicas arrojadas, as catedrais do século 21 são uma mistura de estilo, modernidade e funcionalidade a serviço do sagrado. Os católicos elegeram o tradicional bairro de Interlagos para erguer o Santuário da Mãe de Deus, cujo projeto é assinado pelo arquiteto Ruy Othake. Com capacidade prevista para
“O cultivo da oração apenas como uma amizade com Deus, pelo simples prazer de estar em sua presença e gozar sua companhia, é uma experiência uma tanto rara para muitos cristãos, simplesmente porque não sabemos o que significa amizade”
Lançado no Brasil livro que faz uma verdadeira dissecação da figura de Satanás Satanás vai se tornar mais conhecido. Pelo menos, esta é a proposta do escritor americano Henry Ansgar Kelly, autor de Alvorada nas trevas, genealogia da escuridão – Satã: uma biografia, lançado no Brasil pela Editora Globo. Professor emérito de literatura inglesa e especialista em cultura medieval, Kelly já escreveu outros livros sobre o capeta, e anuncia que este é para quem deseja “levar o demônio a sério”. Calma, não se trata de satanismo: a proposta é dar um mergulho na teologia, na história e na sociologia para lançar luz – se é que isso é possível – sobre o príncipe das trevas. d e z e m b r o
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O caminho do coração
“Precisamos recuperar o lugar da santidade e da sabedoria na teologia. A esterilidade da academia precisa dar lugar à compaixão, ao envolvimento pessoal, à devoção e à comunhão” O melhor da espiritualidade brasileira 2 0 0 9
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No Rio, o animador de festas infantis Rogger Peixoto Lucas, de 40 anos, foi preso em novembro sob a acusação de usar sua atividade para aproximarse de crianças, aliciá-las e cometer abusos sexuais. Algumas dessas crianças eram internas de um abrigo de meninas, onde ele realizava trabalho sociais. Um dia depois, foi a vez de o americano Andrew Kenneeth Grayg ser detido pela polícia fluminense. A acusação – pedofilia, praticada durante anos no seu país de origem, e a suspeita de que tenha seviciado crianças também aqui. Na semana anterior, o país horrorizou-se com uma série de crimes brutais praticados contra crianças no Paraná. Ao longo de 12 dias, quatro meninas foram mortas, não sem antes serem estupradas, por diferentes criminosos. Uma delas, a pequena Rachel Maria de Oliveira Genofre, de nove anos, foi violentada, estrangulada e teve o corpo deixado dentro de uma mala na rodoviária. A sucessão de casos é apavorante, muitos deles com detalhes bizarros. Em Brasília, um graduado servidor do Senado Federal foi flagrado com imagens no seu computador onde aparece abusando sexualmente de bebês e crianças de até quatro anos de idade. Em São Paulo, um empresário de 32 anos abusava da própria filha de nove transmitia as cenas de sexo ao vivo, através de uma webcam, para centenas de outros pedófilos conectados ao seu programa de mensagens simultâneas. O que acontece no país são indícios de uma verdadeira tragédia: estima-se que, a cada oito minutos, uma criança é violentada. Todos os anos, são cerca de 60 mil vítimas, segundo a Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH), órgão da Presidência da República. Isso sem falar, claro, nos casos que nunca chegam ao conhecimento da polícia e da Justiça, e que podem bem chegar ao dobro disso. A maioria das vítimas, cerca de 80%, é de meninas entre dois a dez anos idade. E os abusadores quase nunca levantam suspeitas, ao contrário – como no caso do animador de festas. . A situação levou o diretor do Abrigo de Meninas Leylá, no Rio, onde Rogger aliciou algumas de suas vítimas, a dar o tom exato da situação: “Jamais poderíamos imaginar que ele fazia isso. Trata-se de um lobo em pele de cordeiro.” No país do carnaval, onde a sensualidade é tratada como commoditie brasileiro, cada vez mais a sociedade
Crianças estão cada vez mais expostas à ação de pedófilos Marcelo Brasileiro
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m pele de cordeiro se assusta com a escalada de notícias sobre crimes sexuais con- dos Direitos Humanos na internet, a aprovação da lei preenche tra crianças. É bem verdade que a maior parte desses abusos “lacunas inaceitáveis” que consistiam numa das principais cauocorrem no ambiente doméstico, entre pessoas da mesma fa- sas de impunidade em relação à pedofilia. Ele lembra que em mília, amigos ou vizinhos. Estima-se que oito em duas grandes investidas da Polícia Federal contra a 10 casos ocorram nestas circunstâncias. “Mas isso pornografia infantil na web, através das operações Sociedade não é coisa de bêbado. Há muita gente boa na socieCarrossel 1 e 2, foram expedidos mais de 200 mandade, inclusive com militância religiosa, envolvida dados de busca e apreensão. “E toda essa mobilizaem crimes de pedofilia”, diz o senador Magno Malção só conseguiu prender cinco pessoas. Por quê? ta (PR–ES), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito Porque não se podia dar voz de prisão para quem apenas porta(CPI) da Pedofilia. va esse material. O crime era somente para casos de publicação Criada em março deste ano, a CPI conseguiu, após um in- e distribuição”, lamenta. tenso braço-de-ferro com a gigante Google, o acesso aos dados Fundada em dezembro de 2005, a Safernet criou a Central de mais de 18 mil perfis do site Orkut, que continham imagens Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos, que recebe pornográficas de crianças. Cerca de 80% das denúncias sobre cerca de 2, 5 mil denúncias por dia, das quais cerca de 60% são pedofilia na internet referem-se ao site de relacionamentos. “O referentes à pornografia infantil. “Infelizmente, muitas crianprecedente foi aberto com a assinatura do Termo de Ajusta- ças possuem acesso a sites de relacionamentos, ficando exposmento de Conduta assinado pelo Google Brasil e o Ministério tas ao assédio de pedófilos e também a sites com conteúdo Público Federal na CPI da Pedofilia. Agora, eles terão de abrir impróprio para crianças”, comenta o psicólogo Rodrigo Nejm, as portas para outros países. Essa luta em favor da criança é coordenador da área de prevenção da ONG. uma causa mundial”, discursou o seÉ justamente na rede mundial de nador, que é evangélico. computadores onde os crimes sexuUm dos objetivos da CPI alcanais envolvendo crianças mais prolifeçado recentemente, no dia 11 de ram. Para se ter uma idéia, nas salas novembro, foi a aprovação de um de bate-papo do portal UOL, havia Projeto de a Lei que atualiza o Esuma com o título “incesto”. Mas, é tatuto da Criança e do Adolescente nas salas de bate-papo infantil e nas (ECA) e prevê a tipificação de práredes sociais que as pequenas vítimas ticas que, até então, não eram concostumam ser aliciadas e, de forsideradas crimes no Brasil. A partir ma ingênua, repassam informações da sanção presidencial e publicação pessoais para desconhecidos. “Nós no Diário Oficial da União, quem sempre perguntamos durante as paproduz, reproduz, dirige, fotografa, lestras: você deixaria seu álbum de filma, vende, adquire, armazena ou fotografias no meio de uma praça? troca arquivos virtuais com pornoSua agenda com endereços e inforgrafia infantil estará sujeito à prisão mações pessoais? Pois é preciso saber de até oito anos. Nos últimos anos, o que o Orkut também é um espaço governo federal e diversas entidades público e pode estar sendo vasculhatêm promovido diversas campanhas do por criminosos”, alerta Rodrigo. incentivando a população a denunTavares acredita que a internet muciar casos de abusos contra criançase dou o perfil das vítimas e potencialiadolescentes. zou a prática criminosa da exploração sexual infantil. “Antes, as vítimas de “Lacunas inaceitáveis” – De acor- Cartas de campanha incentivando a denúncia abusos pertenciam, em sua maioria, do com Thiago Tavares, presidente de crimes sexuais praticados contra menores: a classes sociais como a D e E. Com da Safernet, uma organização não- Secretaria de Direitos Humanos estima em 60 mil a internet, as vítimas geralmente são governamental que atua na defesa os casos anuais, mas número pode ser bem maior crianças de classe média, com acesso
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fácil aos computadores e com conexão banda-larga”. Ele lembra que, se há alguns anos os consumidores de pornografia infantil tinham que se associar a redes criminosas e descobrir fontes para obter vídeos e fotos, hoje ela pode, através da facilidade do mundo virtual, obter isso sem sair de casa. “Mas com as mudanças na legislação, quem obtém esse tipo de material também será criminalizado”, comenta Tavares. Fragilidade – Os efeitos nas crianças vitimadas pela ação de pedófilos são avassaladores. “É aí que entra a importância da igreja. É lá que muitas famílias buscam ajuda”, destaca Débora Kornfield, autora do livro Vítima, sobrevivente, sofredor – Perspectivas sobre o abuso. Para a escritora, que também é missionária da organização Servindo Pastores e Líderes (Sepal), cuja editora publicou seu livro, é aí que reside um grande conflito: os líderes das igrejas geralmente não estão preparados para atender um problema tão complexo como o abuso sexual infantil. Para tentar dar respostas a este problema, ela ajudou a criar grupos de apoio às vítimas de abuso sexual nas igrejas evangélicas. “É necessário que os líderes desses grupos tenham um grande equilíbrio emocional e sejam dignos de confiança. As vítimas estão muito fragilizadas, seja pela circunstância atual ou mesmo por uma dolorosa recordação do passado”.
Débora Kornfield diz que a Igreja deve estar preparada para enfrentar a situação 16
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Cena de Alice no Pa´s das Maravilhas, da Disney, baseado em clássico de Lewis Carrol: assédio do autor a garotinha que inspirou história assustou os pais Seu envolvimento com tema começou quando se preparava para a conclusão de seu curso de pós-graduação em Assessoramento Familiar. “Em três meses, recebi 17 mulheres de igrejas evangélicas, que me relataram histórias de abusos na infância”. Foi quando se deu conta do tamanho do problema, que castigava também famílias evangélicas. “Muitos abusos tinham suas origens até mesmo dentro do ambiente das igrejas e com a família de líderes cristãos”, destaca. Débora também ouviu o outro lado, o do abusador. “Conheci um rapaz que, na adolescência, havia abusado de crianças. Ele jamais havia contado isso para nin2 0 0 9
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Sessão da CPI da Pedofilia, presidida pelo senador Magno Malta (segundo à esquerda): avanços ainda são insuficientes diante da impunidade
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Logo após ser preso, há dez anos, por ter filmado, fotografado e mantido relações sexuais com crianças, o biólogo Leonardo Chain, que trabalhava como instrutor de acampamentos para crianças, defendeu-se de maneira insólita: “Na Grécia Antiga, a pedofilia era comum. Platão nunca foi condenado pelo que eu fiz”. O bizarro é que ele tinha razão. Tão antigo quanto a humanidade, o uso de menores para satisfação sexual de adultos foi um costume tolerado e até mesmo incentivado na Grécia e no Império Romano. Na China, durante milênios, castrar meninos e vendê-los a ricos pederastas foi um comércio legalizado. Contase até que Maomé, o profeta do Islã, tinha 53 anos quando casou-se com uma menina de apenas oito. Em casas européias de prostituição, eram celebres os leilões de meninas virgens que, depois de suas primeiras experiências sexuais, eram colocadas para viver nos prostíbulos. Os termos “meninas” ou “raparigas” denotam bem a idade precoce das prostitutas. No mundo da literatura, o flerte entre arte e sedução muitas vezes saía da mera ficção. O escritor inglês Lewis Carrol (18621898), autor de Alice no País das Maravilhas, inspirou-se numa garotinha de 4 anos, chamada Alicia Lidll. O assédio dele pela menina era tão intenso que os pais da criança o proibiram de aproximar-se da filha. Já o romance Lolita, do russo Vladmir Nabokov (18991977), retrata a história de um padrasto europeu que se apaixonou pela enteada adolescente. Mais recentemente, o cineasta polonês Roman Polanski admitiu ter feito sexo com uma menina de 13 anos, quase trinta anos mais jovem que ele. Desde então, Polanski é considerado foragido pela polícia norte-americana. Em artigo publicado pelo jornal carioca O Globo, o filósofo Olavo de Carvalho escreveu que “por toda parte onde a prática da pedofilia recuou, foi a influência do cristianismo – e praticamente ela só – que libertou as crianças desse jugo temível”.
Antônio Cruz / ABr
Longa história de abusos
A pedagoga Marisa Mello, com crianças atendidas pela Parábola: fé e carinho ajudam a superar trauma da violência sexual
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guém, nem mesmo para sua mulher. Um dia, ele teve um colapso nervoso e precisou ser internado num hospital psiquiátrico. A culpa era intensa e, só após esse episódio, ele contou sua história”. Mas as maiores marcas ficam mesmo nas pequenas vítimas. Que o diga a pedagoga evangélica Marisa Mello Mendes, vítima de abuso pelo próprio pai, quando tinha 11 anos. “Durante muitos anos, associei a imagem do pai como a sendo de um violentador. Foi quando Deus se revelou a mim como Pai, curando minhas feridas. É isso que procuro repassar para as crianças e jovens que nos procuram todos os dias”. Ela se refere à instituição que dirige, a Parábola, que funciona na cidade de São Paulo. A entidade é premiada internacionalmente e reconhecida pela
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Se no Brasil os pedófilos se esgueiram entre as conexões de internet e muitos casos envolvem raptos As atividades da Nambla incluiriam seguido de abusos contra redes de pedofilia crianças, em países como os Estados Unidos e a Holanda eles chegam a se organizar oficialmente. Na América, há uma associação gay conhecida como North American Man and Boy Love Association, a Nambla, cuja tradução literal já explicita as intenção: “Associação do amor entre homem e garoto”. A entidade conta com o apoio de intelectuais, como a polêmica escritora Camille Paglia, e já teve seus membros denunciados por participação em redes de pedofilias internacionais. Na Holanda, a coisa vai além. Homologado pelo Tribunal Internacional de Haia em 2006, um grupo fundou um partido político assumidamente pedófilo. Com o singelo nome de Partido Para o Amor Fraternal, Liberdade e Diversidade, a primeira meta proposta pelos pedófilos é apresentar um projeto legislativo que autorize crianças de 12 anos a manterem relações sexuais com adultos.
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Organização das Nações Unidas (ONU) por seu trabalho junto a jovens e crianças vitimas da violência. “São cerca de duas mil crianças atendidas todos os anos, e oitenta por cento delas têm histórico de violência sexual.” Marisa analisa os caminhos trilhados pelas vítimas: “Podem se tornar extremamente tímidas, ter problemas com obesidade, tendências depressivas e comportamento apático. Por outro lado, podem se tornar agressivas, desenvolver compulsão sexual e reproduzir a violência sofrida.” Marisa garante que, em 20 anos de experiência com casos de abusos de crianças, nunca encontrou um agressor sexual que não tenha sofrido a mesma violência na infância ou juventude.
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Fábio Pozzebom / ABr
Thiago Tavares, da Safernet, festeja lei que tipifica como crime disseminar material virtual de pornografia infantil: “Havia lacunas inaceitáveis”
Do carinho ao abuso – Combater o crime sexual contra crianças e adolescentes ou identificar um possível caso de abuso é uma tarefa árdua. Isso porque o tema ainda é tratado como tabu, e apenas uma fração dos casos chega a ser denunciada. “A dificuldade de identificar um agressor sexual é que, muitas vezes, ele é um sujeito comum e acima de qualquer suspeita. Por isso, é preciso dedicar atenção às crianças, perceber mais do que ela demonstra”, explica a psicóloga e pastora evangélica Télcia Lamônica de Azevedo Oliveira, coordenadora do projeto Sentinela, de Londrina (PR). A dica, segundo ela, vale tanto para os contatos virtuais como os físicos. “A gente explica, na linguagem da criança, o que é um carinho, um abraço. Mas quando o adulto começa a passar a mão pelo corpo da criança ou pedir que ela tire a roupa, isso já passa a ser abusivo”. O Sentinela é um programa federal que, em parceria com os municípios, desenvolve ações de prevenção e assistência às crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual. Para a pastora, que coordena também o Núcleo Social Evangélico de Londrina (Nuselon), ligado a Igreja Casa de Oração para Todos os Povos – Ministério Sagradas Missões, é preciso de um envolvimento maior dos evangélicos acerca dessa “cruel realidade brasileira”. “Muitos chegam às igrejas com um histórico de violência sexual na infância, mas não são poucos os casos de abusos que acontecem através de agressores ditos evangélicos”, aponta. A escalada de crimes sexuais contra crianças demonstra bem o tamanho do desafio para a sociedade e a Igreja. 2 0 0 8
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ESPECIAL Philip Yancey First published in Christianity Today, copyright © 2008. Used by permission, Christianity Today International
Um investimento infal´vel
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De fato, a oração é o melhor meio possível de externar nossos medos
s historiadores hão de olhar para o ano de 2008 como um tsunami financeiro cuja onda deixou milhões de pessoas sem casa, provocou falências e liquidou empregos. Como se estivessem competindo para abandonar os princípios básicos do capitalismo, os governos jogaram dinheiro em bancos, companhias de investimento e grandes seguradoras, numa tentativa de restaurar a confiança e estancar o fluxo de capital. Durante um dos períodos mais voláteis, uma semana em que as bolsas de valores de todo o globo caíram por volta de US$ 7 trilhões, recebi um telefonema de um editor da Time. “Você escreveu um livro sobre oração, certo?”, ele disse. “Diga-me, como uma pessoa deve orar durante uma crise como essa?”. No decorrer da conversa, chegamos a um modo de orar em três estágios. O primeiro estágio é simples, tal como um grito instintivo: “Socorro!”. Para alguém que encara uma demissão no emprego ou uma crise na saúde, ou assiste às suas reservas previdenciárias desmoronarem, a oração oferece uma saída para expressar o medo e a ansiedade. Tenho aprendido a resistir à tendência de editar minhas orações, de modo que pareçam sofisticadas e maduras. Acredito que Deus quer que nos acheguemos a ele exatamente como somos – e não importa quão infantil possamos nos sentir. Um Deus consciente de cada pardal que cai certamente sabe o impacto dos momentos de crise financeira sobre os frágeis seres humanos. De fato, a oração é o melhor meio possível de externar nossos medos. Como um modelo para orações em tempo de crise, olho para Jesus na noite do Getsêmani. Ele se jogou no chão por três vezes, suou tanto que, de seu corpo, saíam gotas como de sangue e se sentiu “angustiado, com tanta tristeza até a morte”. No meio daquela angústia, entretanto, sua oração mudou do desesperado “afasta de mim este cálice” para o resignado “faça-se a tua vontade”. Nas cenas de traição que se seguiram, Jesus foi a pessoa mais calma ali presente. Seu período de oração o aliviara da ansiedade, reafirmara sua confiança no Pai amoroso e lhe dera coragem para encarar o horror que o esperava. Se eu oro com a intenção de ouvir tanto quanto falo, posso entrar num segundo estágio, o da meditação e reflexão. Então, se tudo o que guardei em vida virtualmente desapareceu, que posso esperar no meio da catástrofe? Um tempo de crise mostra uma boa oportunidade de se identificar a fundação sobre a qual construímos nossa vida, se foi sobre a areia ou a rocha. Se eu deposito minha máxima confiança numa seguradora ou na habilidade do gover-
no em resolver meus problemas, certamente vou assistir à inundação de meu chão, e as paredes vão desmoronar. Um amigo costumava dizer que a Bíblia faz três perguntas principais sobre dinheiro. A primeira é: como você o obteve, de maneira legal e justa ou por meio de exploração? A segunda, o que você está fazendo com ele, satisfazendo luxúrias desnecessárias ou ajudando os necessitados?; e, em terceiro lugar, o que ele está fazendo com você? Aliás, algumas das parábolas e ensinos mais incisivos de Jesus vão direto ao ponto central da última pergunta. Diante do colapso financeiro, talvez passemos a tirar o pó de palavras fora de moda, como cobiça, moderação, integridade e confiança. Mas quando os executivos forram seus bolsos à custa de empregados e ações, os bancos fazem empréstimos especulativos com pouca probabilidade de liquidação da dívida e quem pede emprestado foge dos contratos de boa-fé, o sistema inevitavelmente entra em crise. Uma economia funcional se mantém firme por uma fina teia de confiança. Se você duvida, visite um país em que seja preciso pagar subornos para que algo aconteça e onde se tenha de contar o troco depois de cada compra. Na mesma semana que a saúde global encolheu por volta de US$ 7 trilhões, a taxa de inflação do Zimbábue bateu um recorde de 231.000.000%. Em outras palavras, se você havia poupado Z$ 1 milhão (1 milhão de dólares zimbabuanos) na segunda-feira, na terça esse montante valia Z$ 1,58. Este fato surpreendente me leva ao terceiro e mais difícil estágio da oração em meio à crise: preciso da ajuda de Deus para tirar meus olhos dos meus próprios problemas, a fim de que olhe com compaixão para os verdadeiramente desesperados. Jesus nos ensinou a orar nestes termos: “Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”, e nós sabemos que o céu não inclui sem-tetos, indigentes ou famintos. Quando as ações da bolsa afundaram a uma profundidade desconhecida, não pude deixar de pensar nos hospitais, azilos, creches, agências missionárias e outras instituições não-lucrativas, todas muito dependentes da dádiva de doadores. Que testemunho seria se, em 2009, os cristãos resolvessem aumentar suas doações para a construção de casas para os desabrigados, combater a Aids na África e anunciar os valores do Reino a uma cultura decadente, conduzida por celebridades? Esta resposta desafia todo o sentido comum e lógico – a menos que, é claro, levemos a sério a lição moral de Jesus naquela simples parábola a respeito de como construir casas sobre uma fundação firme.
Como se deve orar no meio de uma crise como essa, diante de um tsunami financeiro cuja onda deixou milhões sem casa, provocou falências e liquidou empregos?
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Philip Yancey é escritor e editor de Christianity Today
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Brasileiros ainda lêem pouco, mas pesquisas mostram que Bíblia continua sendo campeã de preferência e editoras já enxergam futuro mais promissor para literatura cristã
Corredores lotados na Expo Cristã, maior feira de produtos cristãos da América Latina: segmento editorial é a locomotiva do setor
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Valter Gonçalves Jr (Colaborou Treici Schwengber)
A pesquisa Retratos da Leitura no Bra- cação, a ficção O Código Da Vinci, do insil 2008, encomendada pelo Instituto glês Dan Brown, cujo enredo mostra a fé Pró-Livro ao Observatório do Livro e cristã como uma trama conspiratória. A da Leitura e ao Ibope, traz informações Bíblia também ficou na frente como “gêpreciosas para os evangélicos. Divulgada nero” mais lido (45% dos leitores) e foi em setembro, a pesquisa investiga o hábi- citada como “livro mais importante da to de leitura dos brasileiros e mostra que vida” dos entrevistados – dez vezes mais a Bíblia segue como o livro mais lido no lembrado que o segundo colocado, o Sípaís. Os demais livros cristãos, porém, tio do Pica-Pau Amarelo, título que na ainda ficam muito atrás. Foram 5.012 en- verdade não existe, mas é uma referência trevistados, abrangendo um à literatura de Monteiro conjunto de 172 milhões de Lobato. Mesmo entre os Literatura pessoas – 92% da popula“não leitores”, a Bíblia teção. Desse contingente, 95,6 ria sido a última leitura de milhões teriam lido pelo menos um livro 4,5 milhões de pessoas. nos três meses que antecederam a entreEsses números não surpreendem o vista, e assim foram considerados “leito- pastor luterano Erní Seibert, de 55 anos, res”. Em plena vigência do “Ano Macha- secretário de Comunicação da SBB. “Não do de Assis”, para a Academia Brasileira há outro livro mais lido e distribuído, de Letras, e do “Ano da Bíblia”, para a com tantos grupos que se reúnam para Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), os ou- lê-lo ou estudá-lo toda semana. É livro tros 77 milhões, que não teriam lido livro de referência diária para o cristão”, diz, algum nos três meses anteriores, foram lembrando que em 2007 a SBB distribuiu classificados como “não leitores”. 5,16 milhões de exemplares das Sagradas Um total de 6,9 milhões de brasilei- Escrituras. Somadas às que teriam sido ros estaria lendo a Bíblia no momento impressas por outras editoras evangélicas da pesquisa, número 18 vezes maior do e católicas, chega-se a cerca de 8 milhões que o livro que aparece na segunda colo- de bíblias distribuídas só no ano passado.
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“E há espaço para crescer mais”, observa Seibert, explicando que muitos dos exemplares foram parar nas mãos de gente que já costuma ler as Escrituras. “A durabilidade média de cada Bíblia é de 12 a 15 anos, se manuseada com freqüência. A pessoa, então, quer uma nova”, comenta. A SBB também tem preocupação com quem mostra menos interesse no livro sagrado. A pesquisa Retratos da leitura no Brasil revela que entre as pessoas com menos de 25 anos a Bíblia não é o livro mais lido – perde para obras didáticas, poesias, romances e, dependendo da faixa etária, até para histórias em quadrinhos. “A gente tem feito um esforço grande nos últimos anos para desenvolver textos para essa faixa. Temos a Bíblia do Bebê, com muita ilustração, e também edições para crianças e adolescentes. A tradução precisa ser legítima, criteriosa, com uma linguagem adequada. Temos tido bastante êxito, e veremos os verdadeiros resultados daqui a dez anos”, prevê Seibert. A Bíblia segue na dianteira, mas o mesmo não acontece com as obras evangélicas. Se O Código Da Vinci aparece em segundo lugar entre os livros mais lidos,
Décio Figueiredo/Divulgação
Nem só d
de pão Expansão rápida – Mas esses números não incomodam as editoras evangélicas, que só têm visto seus lucros crescerem nos últimos anos. De acordo com a Câmara Brasileira do Livro, entre 2006 e 2007 a quantidade de títulos evangélicos no mercado saltou 27%, no mesmo ritmo do aumento do poder aquisitivo das classes C, D e E – onde se concentra a maioria dos crentes. “Em 2005, tivemos 365 mil livros vendidos; em 2008, já são mais de um milhão”, diz Renato Soares Fleischner, gerente de Produção Editorial da Mundo Cristão, sediada em São Paulo. A editora tem investido fortemente em novos canais de vendas, onde a competição é acirrada. “A população evangélica cresce muito e não dá para as igrejas e livrarias atenderem suficientemente a demanda. Hoje, 20% das nossas vendas acontecem em livrarias comuns e supermercados, além de catálogos e no sistema porta a porta”, informa Fleischner, que também é vice-presidente da Associação de Editores Cristãos (Asec). Fleischner explica que, apesar do leque de opções de 50 títulos com que a
Arquivo pessoal
D i v u l g a ç ã o SBB
logo atrás está o esóterico O Segredo, da australiana Rhonda Byrne, seguido do infanto-juvenil campeão de vendas, a série Harry Potter, da inglesa J.K Rowling, e de clássicos infantis, como Cinderela e Chapeuzinho Vermelho. O primeiro título evangélico citado na pesquisa é Bom dia, Espírito Santo, do televangelista americano Benny Hinn, em 20º lugar.
editora trabalha – aí entram livros de auto-ajuda com receitas de sucesso, desde que guardem princípios evangélicos –, a Mundo Cristão procura se situar em uma linha editorial que não confunda a cabeça do leitor. “Não publicamos teologia da prosperidade, de um lado, nem teologia de cunho muito liberal, de outro”, afirma o gerente, marcando o terreno. A crise econômica que se avizinha, com potencial aumento do preço de insumos para a produção de livros, não chega a assustálo. Fleischner acredita que seja possível manter nas prateleiras o “preço mágico” de R$ 19,90 em várias publicações. E acha que uma boa saída é fomentar bibliotecas em escolas e igrejas. “O segmento evangélico é um mercado novo e emergente. Vale a pena. Se houver crise, vem desemprego, e aí é até mais fácil achar vendedores porta a porta”, diz, por sua vez, André Peres, diretor executivo do Grupo Didática, especializado em livros escolares. A empresa criou, há dois anos, o selo Templus, dedicado a obras religiosas. Já são seis títulos, que incluem bíblias de estudos, além de atlas e dicionário bíblicos, comercializados em domicílio. “Temos um plano audacioso de, até 2011, colocar mais de 30 mil vendedores na rua”, anuncia. Em geral, os vendedores são evangélicos, e já sabem a quem oferecer os produtos. “São livros baratos e do gosto do público”, resume o diretor.
Alcançando quem não gosta de ler
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Olhar pastoral – Pastor da Igreja de Nova Vida na capital federal, Richard Werner comanda há dez anos a distribuidora MW, a maior do país, e circula incansavelmente em eventos evangélicos – vários patrocinados por ele mesmo. “Quanto mais o líder lê, mais cita o que está lendo em suas pregações, e mais a igreja lê”, ensina Richard. Se, como distribuidor, ele simplesmente atende à demanda dos leitores e aos pedidos das denominações, como editor demonstra um critério diferente, que guarda também um olhar pastoral. Ele comanda a Editora Palavra, e tem apostado em traduções de clássicos da fé cristã – como Vida de Oração, de Teresa de Ávila, e Mente
Há bíblias para todos os gostos. Desde as populares, de R$ 7 – mais barato que muitos lanches de fast-food –, às edições de estudo ou luxuosas, que custam mais de R$ 150. Mas Erní Seibert, secretário de Comunicação da Sociedade Bíblica do Brasil, a SBB, resiste à idéia de ver o público leitor da Bíblia como um mercado consumidor. Seibert sublinha que a grande maioria das pessoas que têm um exemplar das Escrituras simplesmente o recebeu gratuitamente. Isso porque muitos crentes e igrejas têm costume de distribuir bíblias de presente. Além disso, há inúmeros grupos assistidos por programas sociais da SBB, que busca popularizar a Palavra de Deus, fornecendo-a gratuitamente, por exemplo, em presídios e hospitais. Mas ainda há muita gente que vê as Escrituras com preconceito. “É o ‘não li e não gostei’”, observa Seibert, que também é pastor luterano. “As pessoas não têm noção da importância cultural da Bíblia, o primeiro livro a ser impresso na história”, argumenta. Para atingir esse público, a SBB monta exposições e conta com um museu em Barueri (SP), onde fica sua sede, e com um centro cultural no Rio de Janeiro. E como a Bíblia não é exatamente um livro fácil de ler, a editora se dedica também a publicar versões com a linguagem mais simples. A Nova Tradução na Linguagem de Hoje usa cerca de quatro mil palavras, metade dos vocábulos empregados na tradução de João Ferreira de Almeida. O que se perde em beleza poética, ganha-se em facilidade de compreensão. Para se ter uma idéia, em 2007 foram distribuídas 649 mil versões em linguagem moderna.
Ern´í Seibert enaltece a B´blia não só como produto de sucesso, mas por sua importância espiritual
Para Renato Fleischner, há consumo reprimido: “Igrejas e livrarias evangélicas já não conseguem atender a demanda”
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em Chamas, de Blaise Pascal – e em reflexões mais aprofundadas. Entre elas, Ortodoxia Generosa, de Brian McLaren, que deu o que falar e em agosto levou o Prêmio Aretê, oferecido pela Asec, como Livro do Ano. “Muitos consideram o autor polêmico, mas sua obra é um convite ao diálogo entre os diferentes segmentos evangélicos; afinal, o que nos une é maior do que o que nos separa”, define Richard, feliz com a procura que os livros da Editora Palavra tiveram na última Expo Cristã. A feira de produtos evangélicos, pelo gigantismo – atraiu quase 150 mil pessoas na última edição, em setembro, e é a maior do gênero na América Latina –, já entrou no calendário oficial da cidade de São Paulo.
Um pa´s que lê
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(ainda pouco)
De acordo com a pesquisa Retratos da leitura no Brasil 2008, a Bíblia continua sendo a campeã de preferência nas estantes do país. Dos mais de cinco mil entrevistados, 64% souberam dizer qual foi o último livro que leu ou está lendo: Bíblia Sagrada O Código Da Vinci O Segredo Harry Potter (série) Cinderela Chapeuzinho Vermelho
A l e k s a n d r a P.
Violetas na Janela Branca de Neve Os Três Porquinhos Sítio do PicaPau Amarelo (série) 22
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A MW fornece material das mais diversas editoras, e, para atender aos pedidos, não nega lugar em suas prateleiras a nenhuma linha teológica. A lista de mais vendidos da empresa em todo o Brasil confirma a parceria com as igrejas. E Então Virá o Fim: A Mensagem Final, de Magno Paganelli, livro premiado pela Asec em 1996 e publicado pela Bompastor, liderou as vendas no último ano, seguido pelo comentário de João Calvino I Coríntios, com 528 páginas, editado pela Parakletos. Em terceiro, mais uma obra sobre a mesma epístola paulina, desta vez com os comentários de Hernandes Dias Lopes, lançamento da editora Hagnos. Também é fácil encontrar ali pilhas com best-sellers de pregadores eletrônicos americanos. Circulando pelos estoques da loja em Brasília, o casal Carlos Mesquita e Silvani Lopes fazem as compras do mês, levam muitas Bíblias e incluem na cesta títulos da pregadora americana Joyce Meyer e do escritor Philip Yancey. Tudo é revendido a preço de custo aos membros da Igreja Batista Família de Deus, em Planaltina (DF) – “uma igreja nova e pequena, que tem só uns 400 membros”, descreve Silvani. Além de colportora, ela é seminarista e vai às compras com a lista encomendada pelos membros da congregação, que pagam em até quatro parcelas e, segundo Silvani, estão ávidos pela leitura. “Já as bíblias são distribuídas aos novos convertidos”, afirma Carlos. À porta da loja, Gilcélia Lopes, de 25 anos, a Ju, espera para fechar as novas compras. Para muitos fregueses, ela é mais do que uma simples vendedora. Ju dá dicas sobre as melhores obras. “Tem gente que só compra livro comigo, e que telefona para saber das novidades”, relata. “Eu tenho que ler os principais autores, para poder indicar ou não”. Crente batista, Ju demonstra preocupação com as escolhas dos clientes, ainda que não tenha preconceito contra outras denominações. “O vendedor cristão não precisa mentir. Ele fala a verdade e indica aquilo que é bom mesmo. A consciência fala mais alto”, frisa. Certa vez, vendo uma moça que se dizia nova convertida ao Evangelho fazer uma cesta de livros que incluía obras de Rebecca Brown e Mary K. Baxter, com relatos as-
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sustadores sobre batalha espiritual, Ju não teve dúvidas. Convenceu-a a trocar tudo aquilo por apenas um livro do pastor Ivênio dos Santos, Alma Nua. A compra saiu mais barata, mas ela afirma ter livrado a moça “de filmes de terror que não iriam edificar a sua vida”. Richard, dono do negócio, não se incomoda. “Ele sabe que no fim os clientes ficam gratos e voltam para comprar mais”, afirma Ju. Base sólida – Consumidor voraz de livros teológicos, o mestre em sociologia Rômulo Corrêa, 41 anos, é um desses leitores que não tem mais onde guardar seus livros. Eles estão espalhados por todo seu apartamento e disputam espaço com as coisas da família. Mas, Rômulo não compra tudo que vê: foge dos títulos de auto-ajuda e jamais adquire obras das quais não tenha referência. Por meio de notas bibliográficas, segue a trilha de seus autores prediletos – os ligados à linha evangelical – e está sempre atento às novidades. “Muito da minha vida espiritual, devocional, está vinculado à leitura. Ao longo de todos esses anos, absorvi muito”, reconhece, advertindo que há muito livro “raso” no mercado, que oferece solução fácil e receita para tudo. “Se eu pudesse, dava um pacote básico para cada novo convertido: obras de John Stott, Francis Schaeffer, C.S.Lewis e N.T.Wright. São livros fundamentais, base sólida para quem está começando a fé”, aconselha. Para o sociólogo, nem sempre as editoras zelam pela qualidade. “Há quem publique obras sem notas bibliográficas. Já vi até livros traduzidos mutilados, publicados no Brasil sem capítulos inteiros”. Rômulo, que também lê em inglês, lamenta a ausência de tradução para o português de muitos clássicos cris-
Treici Schwengber
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Pastor e distribuidor, Richard Werner defende a excelência do conteúdo
A vendedora Gilcélia: diversidade de t tulos e orientação cristã ao cliente
tãos. “Até hoje não publicaram as obras completas de C.S.Lewis”, sublinha, confessando que tem lido pouca ficção. Essa história, Gabriele Greggersen, autora de A Antropologia Filosófica de C.S.Lewis e O Senhor dos Anéis: Da imaginação à ética, conhece bem (ver box). Estudiosa da obra do autor de As Crônicas de Nárnia, Gabriele, que é doutora em filosofia e pedagogia e também escreve contos, lembra que há 10 anos, no centenário do autor, bateu na porta de várias editoras
com projetos voltados para aproveitar o momento e popularizar a leitura de um dos mais celebrados escritores evangélicos do mundo. “Quem lê C.S.Lewis no Brasil?”, chegou a ouvir como resposta. “O que atrai mais? Temas como liderança, casais, filhos, finanças... Mas a literatura de ficção educa a imaginação e ajuda a construir pontes e sentidos que a pessoa não compreendeu na Bíblia”, argumenta. “No Brasil há muito sincretismo religioso, e por isso há preconceito entre
os cristãos contra a literatura imaginativa”, continua a filósofa. “Tudo que não é exatamente bíblico, que é mitológico, qualquer figura fantástica, e já se liga o alerta vermelho, associando-se a algo místico, a ocultismo”, diz Gabriele. Ela não tem dúvida: um conto de fadas pode ser instrumento para disseminar verdades filosóficas e espirituais. “Quem lê a Bíblia e fica com a mente mais fechada, em vez de aberta, não está lendo direito. Jesus contava histórias”, conclui.
“O imaginário forma caráter e valores”
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Filósofa e pedagoga, Gabriele Greggersen tem paixão por contos de fada. Estudiosa de autores como C.S.Lewis e J.R.Tolkien, que criaram verdadeiros universos paralelos e fantásticos, sem se perder da fé cristã, ela também escreve contos para o público infanto-juvenil. Seu sonho é o dia em que os cristãos brasileiros terão mais intimidade com o mundo da literatura e da imaginação. CRISTIANISMO HOJE – A pesquisa Retratos da leitura no Brasil mostra que a Bíblia é pouco lida entre crianças e adolescentes. Falta material direcionado a eles? GABRIELE GREGGERSEN – Eles estão lendo pouco. Associo isso ao quadro da educação escolar, com nível cada vez mais baixo, e à falta de preparo das igrejas no papel da educação. Em geral, as igrejas não fazem idéia de que têm um papel educacional. Há pouco material para as escolas dominicais, e a maioria é importada. As editoras poderiam se mobilizar para estimular o hábito e o gosto da leitura. Parece que contos literários não servem para nada – mas contar historias educa a criança.
Mergulhar no mundo imaginário de autores como C.S.Lewis e Tolkien ajudaria? Esses autores perceberam o potencial do fantástico, do imaginário, para formação do caráter e dos valores. Eles não esconderam o fato de serem cristãos e conseguiram articular de forma harmônica sua literatura e sua fé. Para C.S.Lewis, a razão cuida da verdade; a imaginação, do sentido. Na escola, se um professor coloca uma fórmula abstrata na lousa, só dez por cento dos alunos compreendem. Mas, se contar uma história, se mexer com o imaginário, os alunos pegam. Jesus Cristo fazia isso. A obra de C.S.Lewis é respeitada. Há dez anos, em seu centenário, eventos na Inglaterra reuniram estudiosos para debater seus livros, e Jesus ficou no centro em tudo isso – porque, para Lewis, o caminho do imaginário era o único aberto para Deus. A via da igreja, do pastor e da pregação direta da fé não conseguiram evangelizá-lo. Mas o Tolkien conseguiu. Quem lê a Bíblia e fica com a mente mais fechada, em vez de aberta, não está lendo direito. Mas não é simples unir imaginário e ortodoxia... O ser é simbolico. “Tudo que sei de filosofia já estava lá no quarto de criança, nos contos de fada”, diz G.K.Chesterton em Ortodoxia. No Brasil e no mundo, os contos de fadas foram infantilizados, relegados à literatura infantil. Não são coisas de adulto. O racionalismo é um obstáculo grande, mesmo neste mundo pós-moderno. Ao contrário da literatura imaginativa, o realismo literal, da novela, é que tem
Estudiosa da obra de C.S.Lewis, Gabriele destaca o valor da ficção
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efeito de alienação. A vida não é como a novela mostra. O pai cristão fica mais preocupado com o Harry Potter, mas no dia a dia das novelas da TV, vários valores distorcidos são passados o tempo todo. Interessante ver o percurso de C.S. Lewis. Seu imaginário só aflorou depois que ele se converteu a Cristo. Então, a coisa fluiu, e um conto gerou outro... Vejo Lewis como uma pessoa que foi liberta para fazer uma missão muito especial. A senhora também escreve contos na linha do fantástico. Como é a vida de escritora no Brasil? É muito difícil. Muitas vezes, o escritor acaba bancando a própria obra. E há muitos autores não cristãos de livros infanto-juvenis que são talentosíssimos, então a concorrência é grande. Não é fácil entrar nesse mercado, é difícil as editoras se interessarem. Escrevo por amor à arte. No Brasil, o escritor está sozinho. Nos Estados Unidos e na Europa, existem os agentes. Quem escreve geralmente não é bom vendedor. E o que a inspira? O artista cristão não tem outra fonte senão Deus. No caso do escritor, é a mesma coisa. Ele não precisa fazer proselitismo e citar a Bíblia toda hora. Mas deve aprender a usar seus dons para louvar a Deus e pode educar através da literatura. Esse é um projeto que o Senhor elaborou desde o início da Criação: somos um poema de Deus, como diz o texto bíblico no original hebraico, no trecho em que o homem é formado. O que faço de artístico só pode ser para a glória de Deus; é dele que colho a inspiração. A Bíblia, aliás, não é “concorrência desleal” para o escritor cristão. Pelo contrário, há troca, interação. São infinitos os espaços.
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Em pleno século 21, filósofos encontram novos argumentos para defender a existência do Todo-poderoso
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Nos últimos tempos, o mercado literário tem sido inundado por títulos defendendo o ateísmo. Boa parte deles viraram best-sellers – caso de Deus, um delírio, de Richard Dawkins, o mais ruidoso lançamento recente nesta linha. Pode-se supor, à primeira vista, que seja impossível aos pensadores modernos defender intelectualmente a existência de Deus. Todavia, um exame rápido nos livros do próprio Dawkins, bem como de autores como Sam Harris e Christopher Hitchens, entre outros, revela que o chamado novo ateísmo não possui base intelectual e deixa de lado a revolução ocorrida na filosofia anglo-americana. Tais obras refletem mais a pseudociência de uma geração anterior do que retratam o cenário intelectual contemporâneo. O ápice cultural dessa geração aconteceu em 8 de abril de 1966. Naquela ocasião, o principal artigo da revista Time, um dos maiores semanários da imprensa americana, foi apresentado numa capa
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completamente preta, com três palavras ção libertou os filósofos para voltarem a destacadas em vermelho: “Deus está tratar de problemas tradicionais que hamorto?”. A história contava a suposta viam sido deixados de lado. “morte” de Deus, movimento corrente na Com o renascimento do interesse nas teologia naquela época. Porém, usando questões empíricas tradicionais, suceas palavras de Mark Twain, a notícia do deu algo que ninguém havia previsto: “falecimento” do Criador foi prematura. o renascimento da filosofia cristã. A Ao mesmo tempo em que teólogos escre- mudança começou, provavelmente, em viam o obituário divino, uma nova gera- 1967, com a publicação do livro God and ção de filósofos redescobria a vitalidade Other Minds: A Study of the Rational Jusde Deus. tification of Belief in God (“Deus e outras Para entender melhor a questão, é mentes: um estudo sobre a justificação preciso fazer uma pequena digressão. racional da crença em Deus”), de AlNas décadas de 1940 e 50, muitos filó- vin Plantinga. Seguiram-se a ele vários sofos acreditavam que falar filósofos cristãos, que milisobre Deus era inútil – aliás, taram escrevendo em perióTeologia verdadeira tolice –, já que não dicos eruditos, participando há como provar a existência de conferências e publicando dele pelos cinco sentidos humanos. Essa suas obras nas melhores editoras acadêtendência à verificação acabou se des- micas. Como resultado, a aparência da fazendo, em parte porque os filósofos filosofia anglo-americana se transfordescobriram simplesmente que não ha- mou. Embora talvez ainda seja o ponto via como verificar a verificação! Esse foi de vista dominante nas universidades o evento filosófico mais importante do americanas, o ateísmo hoje é uma filososéculo 20. O fim do império da verifica- fia em retirada.
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Fotomontagem
Deus ainda não morreu
First published in Christianity Today, copyright © 2008. Used by permission, Christianity Today International
Em um artigo recente, o filósofo Quentin Smith, da Universidade Western Michigan, lamentou o que chama de “dessecularização” da academia, que no seu entender evoluiu nos departamentos de filosofia desde o fim dos anos 60. Ele se queixa da passividade dos naturalistas diante da onda de “teístas inteligentes e talentosos que entram na academia hoje”. E conclui: “Deus não está morto na academia; voltou à vida no fim da década de 60 e hoje está vivo em sua última fortaleza acadêmica – os departamentos de filosofia”. Teologia natural – O renascimento da filosofia cristã foi acompanhado pelo ressurgimento do interesse na teologia natural, ramo que tenta provar a existência de Deus sem usar a revelação divina. O alvo dessa teologia natural é justificar uma visão de mundo teísta ampla, que é comum entre cristãos, judeus e muçulmanos – e, claro, deístas. Embora poucos os considerem provas atraentes da existência de Yahweh dos cristãos, todos os argumentos tradicionais a favor da veracidade de Deus, além de alguns novos, encontram hoje defensores hábeis. O argumento cronológico, por exemplo, defende que tudo o que existe tem uma explicação para sua existência, seja na necessidade de sua natureza ou em uma causa externa. E, se há uma explicação para a existência do universo, essa é a existência de Deus. Trata-se de um argumento com validade lógica, já que uma causa externa para o universo tem de estar além do espaço e do tempo; portanto, não pode ser física nem material. O argumento cronológico é defendido por estudiosos como Alexander Pruss, Timothy O’Connor, Stephen Davis, Robert Knoos e Richard Swinburne, entre outros. Já o argumento cosmológico considera que tudo que começa a existir tem uma causa; portanto, se o universo passou à existência, também ele tem uma causa. Stuart Hackett, David Oderberg, Mark Nowacki e eu, particularmente, o defendemos. A premissa básica com certeza parece mais plausível do que sua negativa – afinal, acreditar que as coisas simplesmente comecem a existir sem uma causa é pior do que acreditar em mágica. Ainda assim, é surpreendente o número de ateus que evitam tal explicação. Tradicionalmente, os ateus
defendem a eternidade do universo. Há, porém, muitos motivos, tanto filosóficos quanto científicos, para duvidar dessa eternidade. Para a filosofia, por exemplo, a idéia de passado infinito é absurda; se o universo nunca teve início, então o número de eventos históricos é infinito. Essa idéia é muito paradoxal, e, além disso, levanta um problema: como o evento presente poderia acontecer se houvesse um número infinito de eventos para acontecer antes? Além do mais, uma série notável de descobertas astronômicas e astrofísicas do século passado conferiu nova vida ao argumento cosmológico. Temos, hoje, evidências bem fortes de que o universo não é eterno no passado, mas que teve um início absoluto há cerca de 13,7 bilhões de anos, em um cataclismo conhecido como Big Bang. Esta tese é espantosa porque representa a origem do universo a partir de praticamente nada – afinal,
É tarefa da apologética cristã ajudar a criar e sustentar um ambiente cultural onde o Evangelho seja ouvido como opção intelectual viável para pessoas que pensam toda matéria e energia, inclusive o espaço e o tempo físicos, teriam derivado dele. Os recentes experimentos com o LHC, o mega-acelerador de partículas instalado nos Alpes suíços, caminham justamente nesta direção. Alguns cosmólogos até tentaram fabricar teorias alternativas para fugir a esse início absoluto – porém, nenhuma delas foi aceita pela comunidade científica. Em 2003, os cosmólogos Arvind Borde, Alan Guth e Alexander Vilenkin conseguiram provar que qualquer universo que exista, em estado de expansão como o nosso, não pode ter passado eterno; mas teve, necessariamente, um início absoluto. “Os cosmólogos não podem mais se esconder atrás da possibilidade de um universo com passado d e z e m b r o
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eterno”, diz Vilenkin. “Não há como fugir – eles têm de encarar o problema do início cósmico”. Segue-se, então, que precisa ter havido uma causa transcendente que trouxe o universo à existência. Uma causa plausível no tempo, acima do espaço, e portanto, imaterial e pessoal. “Assinatura de Deus” – Resta o argumento teológico. Este permanece firme como sempre, defendido, em várias formas, por gente como Robin Collins, John Leslie, Paul Davies, William Dembski e Michael Denton. Ultimamente, com o movimento denominado Projeto Inteligente, boa parte destes pesquisadores prosseguem na tradição de encontrar exemplos da “assinatura de Deus” nos sistemas biológicos. Todavia, o ponto sensível da discussão enfoca a recente descoberta da sintonia do cosmos com a vida. Essa sintonia assume dois aspectos – primeiro, porque quando as leis da natureza são expressas em equações matemáticas, como a da gravidade, apresentam certas constantes. Logo, não determinam esses valores. Segundo, há certas variantes arbitrárias que fazem parte das condições iniciais do universo – a quantidade de entropia, por exemplo. Essas constantes e quantidades se encaixam em um alcance extraordinariamente pequeno de valores que permitem a existência de vida. Se fossem alteradas em valor inferior ao da grossura de um fio de cabelo, o equilíbrio que permite a existência e sustentação da vida seria destruído – ou seja, não haveria vida. A essência dessa argumentação é de que a existência do universo, tal qual o conhecemos, decorre do acaso ou de um projeto. Quanto ao acaso, teóricos contemporâneos cada vez mais reconhecem que as evidências contra a sintonia são quase insuperáveis, a não ser que se esteja pronto a aceitar a hipótese especulativa de o nosso universo ser apenas um membro de um hipotético conjunto infinito e aleatório de universos. Nesse conjunto, pode-se imaginar qualquer tipo de mundo físico, e obviamente só encontraríamos um onde as constantes e quantidades são compatíveis com nossa existência. Claro que todos esses argumentos são objeto de réplicas e contra-réplicas – e ninguém imagina que algum dia se chegará a consenso. Na verdade, há sinais de que o gigante adormecido do ateís-
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Lee Strobel (à esquerda) em debate sobre o Design Inteligente: para ele, a reação da apologética cristã tem relação direta com os desafios que o Cristianismo enfrenta
mo, após um período de passividade, vai despertando de sua soneca e entrando na briga. J. Howard Sobel e Graham Oppy escreveram livros grandes e eruditos criticando os argumentos da teologia na-
tural, e a Cambridge University Press lançou Companion to Atheism (“Companheiro do ateísmo”) no ano passado. De toda forma, a simples presença do debate na academia prova como é saudável e vi-
brante a visão de mundo teísta hoje. Relativismo – Muita gente pode pensar que a reaparição da teologia natural em nossos dias seja apenas trabalho desperdiçado. Afinal, não vivemos em uma cultura pós-moderna, onde o apelo a argumentos apologéticos como esses deixaram de ser eficazes? Hoje, não se espera mais que argumentos para defender o teísmo funcionem. Não por outra razão, cada vez mais cristãos apenas compartilham sua história e convidam outros a participar dela. Esse tipo de raciocínio carrega um diagnóstico errado, desastroso para a cultura contemporânea. A suposição de que vivemos em uma cultura pósmoderna não passa de mito. Na verdade, esse tipo de cultura é impossível; não poderíamos viver nela. Ninguém é relativista quando se trata de ciência, engenharia e tecnologia – o relativismo é seletivo, só surge quando o assunto é religião e ética. Mas é claro que isso não é pós-modernismo; é modernismo! Não
Novos tempos para a apologética
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A despeito de todos os ataques recentes à fé – ou, talvez, por causa deles –, os tempos de hoje constituem a melhor época para apologistas cristãos. Gente como Lee Strobel, William Lane Craig, Ben Witherington III, Darell Bock e J. P. Moreland tem escrito livros, gravado documentários, concedido entrevistas e participado de debates e conferências, sempre apresentando ao público o que, afirmam eles, é uma montanha crescente de evidências científicas e arqueológicas que documentam a verdade do cristianismo. “A reação da apologética cristã tem relação direta com os desafios que o cristianismo enfrenta, quer na forma de ateísmo militante nas universidades, na internet, em documentários na televisão ou em livros da lista dos mais vendidos”, diz Strobel, ex-editor jurídico do jornal Chicago Tribune e, mais recentemente, autor do livro Em defesa de Cristo – Jornalista ex-ateu investiga as provas da existência de Cristo. Dinesh D’Souza, que escreveu What’s So Great About Christianity? (“O que há de tão formidável no cristianismo?”), afirma que os novos ateístas levantam questões
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que requerem uma apologética do século 21. “A apologética dos anos 1970 e 80 é útil para quem ensina no ambiente das igrejas, mas não é relevante diante das alegações dos novos ateístas, que são muito diferentes”, diz D’Souza. “Os novos ateístas aproveitam a onda provocada pelos ataques do 11 de Setembro e igualam o cristianismo ao radicalismo islâmico. C.S. Lewis e Josh McDowell não trataram dessas questões.” Essa enxurrada de ataques provocou um aumento inesperado no interesse dos jovens pela apologética. De acordo com Strobel, não faz muito tempo que os eruditos desprezavam a apologética e diziam que no mundo pós-moderno os jovens não se interessariam por assuntos como o Jesus histórico. No verão passado, a entidade Foco na Família, fundada e presidida por James Dobson, realizou uma conferência apologética para adolescentes. Uma multidão de 1.500 jovens ficou do lado de fora, sem conseguir vaga para participar. Enquanto isso, os berços da educação apologética – Universidade Biola e sua Escola de Teologia Talbot, o Seminário Evangélico do Sul e a Univer-
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sidade Liberty – estão repletos de alunos em busca de formação em filosofia e apologética. Fascinação – Ao mesmo tempo em que essa fascinação com a evidência do cristianismo toma conta da mente do povo, Craig, D’Souza e outros debatem com os principais filósofos ateístas e liberais estudiosos da Bíblia em universidades e outros fóruns, nos Estados Unidos, Canadá e Europa. Esses debates costumam atrair milhares de universitários. Os jovens querem saber se é possível defender o cristianismo racionalmente, em pleno século 21. No ano passado, mais de 2 mil estudantes lotaram o Central Hall, em Londres, na Grã-Bretanha, para assistir o debate entre Craig e o biólogo Louis Wolpert sobre o tópico “Deus é uma ilusão?”. O moderador foi John Humphrys, comentarista da BBC. “Ele ficou atônito”, contou Craig. “E comentou: ‘Olho para esse mar de rostos jovens diante de mim e, quer acredite em Deus ou não, reconheço que alguma coisa está acontecendo. Nunca vi antes tal interesse em assuntos religiosos na Inglaterra.’”
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passa do antigo verificacionismo, que sustentava que tudo que não se pode testar com os cinco sentidos é uma questão de preferência pessoal. Fato é que vivemos em uma cultura que continua profundamente modernista. Se não for assim, não haverá explicação para a popularidade do novo ateísmo. Dawkins e sua turma são inegavelmente modernistas e até científicos em sua abordagem. Na leitura pós-modernista da cultura contemporânea, seus livros deveriam ter sido como água sobre pedra – porém, as pessoas os agarram ansiosas, convictas de que a fé religiosa é tolice. Sob essa ótica, adequar o Evangelho à cultura pós-moderna leva à derrota. Deixando de lado as armas da lógica e da evidência, deixaremos o modernismo nos vencer. Se a Igreja adotar esse curso de ação, a próxima geração sofrerá conseqüências catastróficas. O Cristianismo se tornará apenas mais uma voz em meio a uma cacofonia de vozes que competem entre si – cada uma apresentando sua
narrativa e alegando ser a verdade objetiva sobre a realidade. Enquanto isso, o naturalismo científico continuará a moldar a visão da cultura sobre como o mundo realmente é. Uma teologia natural consistente é bem necessária para que a sociedade ocidental ouça bem o Evangelho. Em geral, a cultura do Ocidente é profundamente pós-cristã – e este estado de coisas é fruto do iluminismo, que introduziu o fermento do secularismo na cultura européia. Hoje, esse fermento permeia toda a sociedade ocidental. Enquanto a maioria dos pensadores originais do iluminismo eram teístas, os intelectuais de hoje, majoritariamente, consideram o conhecimento teológico impossível. Aquele que se dedica ao raciocínio sem vacilar até o fim acabará ateísta – ou, na melhor das hipóteses, agnóstico. Entender nossa cultura da forma correta é importante, porque o Evangelho nunca é ouvido isoladamente, mas sempre no cenário da cultura corrente. Uma
pessoa que cresce em ambiente cultural que vê o Cristianismo como opção viável estará aberta ao Evangelho – mas, neste caso, tanto faz falar aos secularistas sobre fadas, duendes ou Jesus Cristo! Cristãos que depreciam a teologia natural porque “ninguém se converte com argumentos intelectuais” têm a mente fechada. O valor dessa teologia vai muito além dos contatos evangelísticos imediatos. Ao passo que avançamos no século 21, a teologia natural será cada vez mais relevante e vital na preparação das pessoas para receberem o Evangelho. É tarefa mais ampla da apologética cristã, incluindo a teologia natural, ajudar a criar e sustentar um ambiente cultural em que o Evangelho seja ouvido como opção intelectual viável para pessoas que pensam. Com isso, lhes será conferida permissão intelectual para crer quando seu coração for tocado. William Lane Craig é professor pesquisador de filosofia
Os princípios irrefutáveis da fé cristã continuam transformando vidas John Bloom, professor de física em Biola, moderou o que foi chamado de “debate selvagem” entre o Projeto Inteligente e o darwinismo. Ele afirma que os desafios recentes ao cristianismo coincidem com o 150º aniversário de publicação da obra Origem das Espécies, de Darwin. Há, ainda, os ataque à imagem neotestamentária de Jesus como Filho de Deus. Witherington, professor de Novo Testamento no Seminário Teológico Asbury, diz que as alegações do Seminário Jesus e outros semelhantes dispararam alarmes entre os estudiosos ortodoxos da Bíblia. Darrell Bock é professor pesquisador de estudos do Novo Testamento e autor de Dethroning Jesus (“Destronando Jesus”). Bock faz palestras, por todos os Estados Unidos, sobre os evangelhos de Judas e Tomé, usados para alegar que o Cristo do cristianismo foi inventado e que o verdadeiro Jesus é uma figura, digamos, menos divina. “Foi criada uma indústria para desautorizar a Bíblia”, diz Bock. “O alvo é tirar essa leitura cética da Palavra de Deus da torre de marfim e levá-la às praças públicas”.
Do ateísmo à fé – Enquanto isso, os apologéticos cristãos começam a avançar no sentido de mostrar o outro lado da história. D’Souza, ex-analista político na Casa Branca durante a presidência de Ronald Reagan (1980-88), recebeu atenção da mídia internacional ao debater com o bufão ateísta Christopher Hitchens, com o editor da revista Skeptic, Michael Shermer, e outros. Embora Strobel e os outros apelem em primeiro lugar para o intelecto, as pessoas respondem com o coração. Strobel diz que a recente agressão contra a fé abriu uma oportunidade excelente para apresentar Jesus aos não-cristãos. Ele está convicto de que a apologética ajuda a levar as pessoas ao Senhor. Muitos têm alguma dificuldade espiritual – uma dúvida sobre a fé. Mas o autor diz que, assim que encontram uma resposta, o mais comum é cair a última barreira que os separava de Deus. Uma dessas pessoas foi Evel Knievel, o motociclista ousado que morreu em novembro de 2007. No início daquele ano, ele havia telefonado para Strobel, depois que um amigo lhe deu um exemplar de A Defesa de Cristo. Knievel afirmou que o d e z e m b r o
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livro foi o instrumento que o levou a se converter do ateísmo à fé cristã. Strobel, que é fanático por motocicletas desde a infância, tornou-se amigo de Knievel, e conversava com ele toda semana por telefone. Strobel conta que ele foi transformado de forma “surpreendente”: “Sei que a última entrevista que concedeu foi para uma revista só para homens, e ele acabou em pranto, contando sobre o relacionamento com Cristo que havia acabado de descobrir”, aponta. De acordo com o escritor, o rapaz se mostrava imensamente grato. Sabia que havia levado uma vida imoral e se arrependia disso. “Disse-me muitas vezes que gostaria de poder viver de novo para Deus”, continua Strobel, “mas que o Senhor preferiu alcançá-lo em seus últimos dias e levá-lo para o Reino. Ele ficou atônito diante da graça divina. Foi maravilhoso contemplar aquele machão ousado se transformar em um seguidor de Jesus, humilde, cheio de amor e de coração sincero”, encerra.
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Troy Anderson é repórter do Los Angeles Daily News
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First published in Christianity Today, copyright © 2008. Used by permission, Christianity Today International
Emergência
africana
Fome endêmica no continente mais pobre do mundo é um desafio a governos, Igreja e instituições humanitárias Fila de famintos aguarda distribuição de comida: na África, miséria, guerras e corrupção aumentam o desastre humanitário
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Timothy C. Morgan
Fotos: AFP
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Prezado leitor, se você demorar meia hora para ler esta matéria, saiba que, neste mesmo intervalo de tempo, cerca de 500 pessoas ao redor do mundo morrerão de fome ou por doenças decorrentes da carência alimentar. Hoje, um contingente de nada menos que 850 milhões de seres humanos são considerados famintos crônicos. É muita gente, sobretudo quando se sabe que nunca houve tanta fartura de comida. Nos últimos 45 anos, a produção global de alimentos experimenta um período de crescimento ininterrupto. No ano passado, por exemplo, houve uma produção recorde de 2,3 bilhões de toneladas de grãos – inclusive no Brasil, que tem conquistado super-safras sucessivas. Os excedentes Queniana aguarda severamente atingidas alimentares, no entanto, não têm sido entre 1990 e 2005, godistribuição de água pela escassez de alicapazes de fazer face à demanda mun- vernos da região gastacom o filho: escassez mentos, 21 estão na dial, e a má distribuição de riqueza, ram o equivalente a 285 de recursos naturais é África, de acordo com tão antiga quanto a humanidade, se bilhões de dólares em grave na parte oriental a ONU. E a Etiópia encarrega de traçar o pavoroso quadro conf litos. A montanha do continente africano de dinheiro, equivalente representa o pior dos da fome. piores. Guerra, seca, Nos últimos 18 meses, o preço dos aos recursos recebidos alimentos básicos subiu às alturas em em ajudas internacionais ao longo do escassez e fome são f lagelos comuns todo o mundo. Especialistas estimam mesmo período, seria suficiente para aos etíopes há várias gerações. Agora que aproximadamente 100 milhões de debelar a crise da AIDS, prevenir do- mesmo, 15 milhões de etíopes passam pessoas pobres deslocaram-se de um enças endêmicas como a malária e a fome. Comprometidos em seu desenestilo de vida de subsistência com o tuberculose e proporcionar água potá- volvimento pela desnutrição crônica, equivalente a 2 dólares por dia para vel e saneamento básico a boa parte da crianças de 12 anos aparentam ter a metade disso. apenas um dólar – o limiar da pobreza população do continente. O estudo Africa’s misDezenove nações da África orienabsoluta, segundo a Orgasing billions, realizado tal, onde fica a Etiópia, têm uma nização das Nações UniSolidariedade pelo Banco Mundial, população total de 300 milhões de das. E o último ano tem investigou as economias pessoas, cujas vidas dependem diretasido uma montanha russa de variação de preços, secas, inunda- africanas e, pela primeira vez, calculou mente da agricultura. Em média, 80 ções e escassez de alimentos. A crise os efeitos das guerras sobre o Produto por cento delas vivem em situação de financeira que eclodiu em setembro só Interno Bruto daqueles Estados. A risco alimentar. Nas áreas urbanas, a piorou o cenário, sobretudo nas regiões conclusão é de que os países africanos situação não é melhor – milhões de mais pobres do planeta, como a Amé- afetados por conf litos armados, como africanos não conseguem encontrar rica Latina e a Ásia. Mas é na África Angola, Serra Leoa, Sudão, Uganda e comida, e quando está disponível, não que o drama da falta de alimentos é Costa do Marfim, têm sua economia têm como pagar por ela. Em Nairóbi, mais evidente. Continente marcado reduzida numa média de 15%. A des- capital do Quênia, mais de um milhão pela exploração de seus povos, muitos nutrição aumenta no mesmo percen- de pessoas rotineiramente passam dos quais escravizados séculos a fio, a tual, e o continente inteiro desperdiça fome. No Zimbábue, a projeção é de África sofreu ainda com o colonialis- cerca de 18 bilhões de dólares por ano que mais de cinco milhões, do total mo, que lhe exauriu as riquezas, e com em armamentos, formação de tropas de 12 milhões da população do país, guerras étnicas que drenam fortunas e manutenção de campanhas mili- estejam famintos ano que vem. Para de suas combalidas economias. Só tares. Das trinta e sete nações mais o Bispo Paul Mususu, líder da Co
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munhão Evangélica da Zâmbia, um ativista em prol das vítimas da seca e da inundação no sul e nordeste rurais do país, a crise da região “quase que se tornou uma norma”. Fogo cruzado – Uma das maiores e mais perturbadoras perguntas para líderes de igreja, pesquisadores de campo e estrategistas políticos é esta: quanto da crise atual é promovido pelo homem? A Christian Aid, instituição beneficente com sede no Reino Unido e que apóia programas de auxílio alimentar por toda a África, opõe-se a sugestões de que a crise de alimentos se deve principalmente a fatores naturais tais como secas, inundações e ciclones. “Esta é uma crise produzida pelo homem, não pela natureza”, declara seu relatório sobre crise alimentar, divulgado em julho passado. Para a entidade, há muitos fatores em ação, como a drástica redução em subsídios governamentais, o pequeno investimento na modernização da agricultura tradicional e a corrupção, pela política partidária, da distribuição de auxílio alimentar – além, claro, dos conf litos. Basicamente, a insegurança alimentar é um fato da vida para milhões de pessoas. Fragilizada e subnutrida, Eunice Emanure mora no vilarejo de Gangura, um grupamento de barracas ao longo da fronteira sul do Sudão com a República Democrática do Congo. Ela fica sem comida porque o pouco que tinha foi roubado quando um bando violento da milícia autoproclamada Exército de Resistência do Senhor passou por seu vilarejo. “Eles chegaram em minha casa e levaram tudo”, lamentou ela à reportagem de Christianity Today. No nordeste rico do Congo, os habitantes Nyabondo ficam sem comida porque não há estabilidade suficiente para se plantar ou cultivar rebanhos. A população sobrevive com o que acham na selva para comer, depois que um grupo rebelde hostil invadiu seu vilarejo. Em Mogadíscio, a capital da Somália – outra nação exaurida pela guerra –, voluntários de instituições humanitárias não conseguem entregar comi30
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da por medo de serem apanhados no fogo cruzado entre facções inimigas. O perigo é real e não poupa nem mesmo aqueles que vêm oferecer ajuda: na região conf lituosa de Darfur, no Sudão, 100 caminhões da ONU com alimentos foram atacados neste ano. No vilarejo de Wondo Genet, o pastor Philip, que ajuda a distribuir alimentos, pediu para não ter sua identidade revelada por razões de segurança. Ele foi entrevistado durante uma visita aos Estados Unidos em busca de financiadores para o auxílio que presta às comunidades carentes. “Não priorizamos a distribuição de alimentos por religião. Damos prioridade de acordo com a necessidade. Eles talvez sejam muçulmanos, cópticos ou o que quer que sejam. Nós distribuímos alimentos aos mais necessitados”. Quando os caminhões de alimentos chegam, líderes locais usam informação colhida a partir dos questionários por residência para decidir quem recebe os grãos reforçados e outros ingredientes. “Estamos nos concentrando na área rural. As mulheres e crianças são as mais afetadas”. Segundo ele, as mães dão prioridade às crianças. “O problema é que tudo acaba antes que muitas delas recebam alguma coisa. Essa é a parte mais triste”, lamenta o pastor. Almoço ou jantar – Em Nairóbi, a coordenadora de programa da Comunhão Evangélica do Quênia, Sophie Nyokabi, ainda está chocada com a conta de agosto em sua mercearia. “Gastei duas vezes o que havia gasto em janeiro”, reclama. No entanto, do outro lado da capital, em Kibera, uma das maiores favelas do mundo, milhares passam fome porque não têm dinheiro para comprar o alimento exposto nos quiosques sem autorização, ao longo de suas ruas empoeiradas. Mas o pior está por vir para Nyokabi, os residentes de Kibera e todos os quenianos. A Christian Aid diz que os preços dos alimentos devem permanecer altos em 2009 como conseqüência da redução de cultivos, baixos estoques e alta nos preços do petróleo. Em Zâmbia, moradores de vilarejos
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na província do sul vivem dos chamados alimentos de escassez (frutas silvestres, nozes e raízes). Sua safra em 2008 foi arrasada pelas inundações. Em Lusaka, a capital, uma família de oito pessoas vive no limite, uma vez que os preços dos alimentos subiram 50 por cento desde janeiro. Suas refeições são alternadas – se tomam café da manhã, não podem almoçar; se almoçam, vão dormir sem janta, e assim por diante. Tokunboh Adeyemo, ex-secretário-geral da Associação dos Evangélicos na África, conhece de perto o problema da fome. Ele tem viajado por quase todo o continente e raramente esteve tão alarmado. Adeyemo acredita que, se a situação alimentar não for tratada de maneira efetiva, poderá desencadear novos conf litos. “Estamos sentados sobre uma bombarelógio”, ele disse à reportagem, em um cômodo repleto de livros em seu apartamento em Nairóbi. O religioso faz uma previsão sombria: “Quando a fome se transformar em raiva, as pessoas lutarão”. No seu entender, uma das causas principais da fome crônica no continente é o mau gerenciamento. “Os africanos devem aprender a administrar seus recursos com eficiência”, diz. Ele cita a narrativa bíblica da Criação – os seres humanos foram criados depois que todos os recursos necessários à sua sobrevivência foram colocados em seus devidos lugares. “Os africanos devem maximizar o uso produtivo de seus recursos dados por Deus”, defende. No entanto, o problema que frustra Adeyemo ainda mais é a “incompetência da liderança” – a falha dos líderes africanos em suscitar soluções duradouras à crise, tais como a disponibilidade e a acessibilidade alimentar. “Eles continuam culpando o colonialismo, cinqüenta anos depois de ele ter acabado”, observa. Ao invés de apontar o dedo, ele diz, os líderes africanos deveriam desenvolver e implementar maneiras de combater o drama humanitário que é a fome. “Nossos agricultores estão padecendo. Temos de melhorar as condições dos produtores de alimento”.
O chamado de Adeyemo aos cristãos ocidentais é para que não “esmoreçam” em se tratando do desenvolvimento de novas maneiras de responder às dificuldades, uma vez que o auxílio alimentar sozinho nunca resolverá esses problemas. Ele acredita que com o tipo certo de ajuda, a África pode alimentar a si mesma. Colocando de lado os papéis que lhe abarrotam a mesa, inclina-se para fazer um apelo apaixonado: “Dêem a nós o tipo certo de missionário, que
capacite o nosso povo a produzir seu próprio alimento”. Monetização – David Beckmann, presidente da instituição Bread for the World (“Pão para o Mundo”), organização que atua em prol da erradicação da fome, disse a Christianity Today que o povo cristão precisa saber que o mundo tem feito progressos contra a fome, a pobreza e as doenças. “Vejo isso como Deus movendo-se em nossos dias. No entanto, as pessoas precisam entender
que estamos passando por um revés muito sério nesse progresso”, pondera. “Estamos observando um aumento expressivo da fome nos países em desenvolvimento. Se quisermos voltar aos trilhos, precisaremos ser cidadãos participantes, e fazer com que os governos cumpram com a sua parte”. Três anos atrás Christopher Barrett, um professor da Universidade de Cornell e especialista em desenvolvimento, co-escreveu a obra de vasta pesquisa intitulada Food aid after fifty years: Re-
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Na linguagem repleta de iniciais das agências de auxílio, eles são rotulados de OCSV – sigla para a expressão “órfãos e crianças vulneráveis”. Globalmente, há 143 milhões de OCSV. Fraqueza, atrofiamento, desnutrição e doenças roubam delas sua infância e praticamente toda a esperança. Na Zâmbia, há 90 mil dessas crianças que perderam no mínimo um dos pais ou foram abandonadas. Elas deixam as zonas rurais onde nasceram e migram para as áreas urbanas a fim de viver nas ruas e mendigar. “É pela graça de Deus que conseguimos sustentar essas crianças”, diz Joy Chisompola, dirigente do Projeto Lazarus, um programa de reabilitação que cuida de 41 orfãos urbanos. Mães de uma igreja de Lusaka começaram o projeto em 1999. Situado em uma fazenda nos arredores da capital, o projeto tem sido prejudicado pelo aumento nos preços dos gêneros alimentícios, decorrente tanto de fatores internos como da crise global. Não há fome no momento, mas os alimentos básicos estão em falta para 450 mil pessoas no país. No ano passado, as inundações geraram uma queda de 50 por cento na colheita de alguns grãos. “É um grande de-
safio. Os preços de comida, açúcar e óleo de cozinha estão subindo”, preocupa-se Chisompola. Além da ajuda direta aos famintos, Lazarus também desenvolve programas vocacionais e uma escola comunitária com 250 alunos, cuja idade média é de 9 anos. Além de leitura, escrita e matemática, as crianças maiores aprendem a como plantar grãos e verduras de cultivo comercial, além de criar frangos. As crianças do Lazarus são recolhidas nas ruas e algumas se integram com dificuldade aos programas. “Obviamente, as refeições não são suficientes para elas”, diz a diretora. “Elas vêm das ruas onde cheiram cola, o que faz com que tenham mais apetite que uma criança normal”. Noventa por cento do orçamento mensal da instituição vêm de contribuintes individuais locais. “Há poucas pessoas que nos ajudam ocasionalmente”, continua ela. “Não temos nenhum simpatizante permanente que contribua conosco todo mês. Posso dizer que vivemos pela graça de Deus”. Os órfãos também precisam de roupas, tanto quanto de alimento. Quase todas as crianças assistidas cobrem-se com trajes esfarrapados. “Elas ficarão assim até que alguém seja guiado pelo Espírito de Deus a doá-las”, comenta a diretora. Segundo ela, os internos são ensinados que não podem viver apenas de pão. “Nós demonstramos a ela amor e cuidado. A Palavra de Deus lhes é ensinada. Esse ministério as ajuda a mudar suas vidas”, acredita. Três anos atrás, um menino bem novinho foi abandonado em uma estação de trem na Zâmbia. Os funcionários do projeto o recolheram e lhe deram o nome de Lazarus. Hoje ele vive no orfanato e está aprendendo a lavrar a terra, bem como o ofício da carpintaria. No Projeto Lazarus, a lista de pedidos de oração é longa. A comida, no entanto, vem primeiro. Joy Chisompola diz que na oração dos órfãos, o alimento vem antes de novas instalações, novas roupas ou melhor educação. As hortas e os frangos bem cuidados da fazenda Crianças zambianas estão ajudando, mas muitas assistidas pelo Projeto das 41 crianças dali ainda vão Lazarus: apesar dos para a cama famintos todos os poucos recursos, dias. (Isaac Phiri)
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Mesmo em regiões casting the role (“Auxílio alideira americana ameprodutoras de mentar depois de cinquenta ricana transportando alimento, risco de anos: Reformulando o pagrãos para mercados escassez é agravado pel”), onde faz uma crítiestrangeiros. Com conpor conflitos ca contundente ao auxílio troles cuidadosos em e movimentos alimentar prestado pelo vigor, esse alimento migratórios Primeiro Mundo – parnão-emergencial é venticularmente, os Estados Unidos – à dido. O dinheiro então é usado para regiões como a África. O estudo foi fornecer assistência in loco que, em alelaborado por ocasião dos 50 anos da guns casos, inclui programas valiosos implementação da ajuda sistemática de modernização da produção local. americana e demonstrou como tenta- Os críticos acreditam que essa prátitivas de instituições beneficentes qua- ca reduz o preço dos alimentos locais, se sempre dão errado. desse modo solapando os produtores “Auxílio alimentar é um instru- da região onde ele é produzido. Ano mento profundamente falho”, ele es- passado, a instituição beneficencreve. Isso porque o sistema sofre com te norte-americana CARE abalou o problemas fundamentais, como ques- mundo em desenvolvimento quando tões econômicas – o auxílio alimentar decidiu recusar US$ 45 milhões em prestados pelos EUA beneficia princi- auxílio alimentar para monetização, palmente o agronegócio, transporta- porque, alegou, isso trabalharia contra dores e políticos, e não pessoas famin- seus objetivos de redução da pobreza e tas. Muitas vezes, a ajuda chega tarde fome crônica. Antecipando-se à modemais a quem precisa. É extrema- netização, o Programa Alimentício mente caro, por exemplo, transportar para o Mundo da ONU e muitas oudois milhões de toneladas de grãos do tras nações adquirem grãos em mercacentro-oeste americano através de mi- dos regionais e os usam para esforços lhares de quilômetros a pessoas com de auxílio em países próximos. fome em lugares remotos. EstatistiVárias agências de auxílio, como a camente, somente 35 centavos de cada Visão Mundial, adotam a monetização. dólar empregado no auxílio alimentar Robert Zachritz, diretor de Defesa e de vão efetivamente para o alimento. O Relações Governamentais da entidade, resto vai para pagar pelo transporte. diz que ela é uma ferramenta efetiva A prática mais controvertida no para salvar vidas. “Ela é perfeita? Não. auxílio alimentar é chamada de mo- Mas atinge o objetivo”, defende. Senetização, que envolve navios de ban- gundo ele, 75% dos programas de deC R I S T I A N I S M O
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senvolvimento de longo prazo são feitos através do sistema. “Se você remove esse recurso, ele não será substituído”, argumenta. Zachritz disse que os programas de monetização estão sujeitos a controles cuidadosos para evitar dano aos mercados locais e limitar os lucros excessivos dos transportadores. Ele se empolga ao enfatizar que nenhuma instituição tem “a resposta total” à fome global. “Precisamos de bons governos. Precisamos de negócios. Precisamos da Igreja, a comunidade com base na fé. E precisamos de grandes e pequenas organizações nãogovernamentais. Precisamos trabalhar juntos – onde obtemos sinergia é onde desenvolvemos respostas”. Em algumas partes da África oriental, ao menos, esse tipo de sinergia é possível. Há um desejo crescente por líderes políticos e eclesiásticos que lidem com a fome crônica usando todo recurso que puderem disponibilizar nessa luta. “Todos os nossos recursos globais têm sido mobilizados para responder”, afirma Stuart Katwikirize, conselheiro de Relações Emergenciais para a África da Visão Mundial. “Ação política e espiritual” – “Esta situação demanda ação, política e espiritual”, prega o ativista Tony Hall, autor do livro Changing the face of hunger (“Mudando a face da fome”, inédito no Brasil). “O problema está se tornando tão grande que precisamos trazer Deus à discussão, e não estamos fazendo isso. Nós estamos atacando a fome parcialmente. Precisamos pedir ao Senhor sabedoria e ajuda, pois trata-se de uma prioridade.” Se parece romântico demais diante da magnitude do problema, vale lembrar que ele aprendeu a lição durante uma visita à Índia, com ninguém menos que madre Teresa de Calcutá, a religiosa que entrou para o panteão dos heróis da humanidade com seu trabalho em favor dos desvalidos. “Ela dizia que quando você está com os pobres e os ajuda, Deus está ali. Trata-se de um belo lugar para se estar. Madre Teresa ensinou-me minha primeira lição – fazer o que está diante de mim. O que está se passando em sua igreja? Preste atenção ao que estiver bem à sua frente”, questiona Hall.
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Jürgen Moltmann (com o diploma) recebeu o t´tulo de Doutor Honoris Causa da Universidade Metodista de São Paulo
Doutor da esperança Jürgen Moltmann, um dos mais respeitados teólogos da atualidade, visita o Brasil e defende a contextualização total da Igreja Daniel Machado
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Um dos teólogos europeus mais profícuos e inovadores da participantes de um congresso de teologia e lançou o livro atualidade visitou o Brasil em novembro. Figura das mais Testamento teológico para a América Latina. Com um jeito representativas da teologia protestante contemporânea, au- naturalmente singelo e discurso cadenciado, Moltmann tor europeu mais lido nos seminários brasileiros e pai da falou por quase uma hora e mostrou porque tem tamanha chamada Teologia da Esperança, o alemão Jürgen Molt- credibilidade. Boa parte de sua construção teológica tem mann costuma ter seu nome precedido por muitos super- por base a experiência pessoal, como o período de três anos lativos, sobretudo por aqueles que conhecem sua extensa em que foi prisioneiro de guerra, entre os anos de 1945 e obra. Caso de Levy Bastos, professor da Faculdade de Te- 1948. Ex-integrante da Força Aérea Alemã, ele foi captuologia da Universidade Metodista de São Paulo rado pelas forças aliadas e mantido preso na Bélgi(Umesp), que recebeu Moltmann e lhe concedeu ca e na Inglaterra. “Foi quando clamei: ‘Meu Deus, Perfil o título de Doutor Honoris Causa: “Trata-se de um onde estás?’. Desde então, fui perseguido pela perestudioso que vem marcando gerações inteiras com gunta básica acerca do porquê de estar vivo e de suas idéias”, destaca. qual o sentido de minha existência”, lembra. Do alto de seus 82 anos de vida, o escritor, pastor e proDe volta à Alemanha, Moltmann foi estudar teologia para fessor Jürgen Moltmann concedeu uma entrevista a CRIS- obter respostas. Em 1964, lançou Teologia da esperança, livro TIANISMO HOJE (ver quadro) durante esta sua segunda que o projetaria no cenário teológico mundial e se tornaria – e, provavelmente, última – estada no país. Ele falou aos sua obra-prima. A obra defende uma esperança que deve ir
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além do sentimento de resignação que projeta uma existência melhor somente na vida eterna, mas preconiza uma luta para transformar o mundo atual num lugar mais humano e justo. “Isso rompeu o paradigma tradicional da teologia européia da época”, salienta Levy Bastos. Partido pelos pobres – De fato, Teologia da esperança superou o pensamento de Ernst Bloch (autor de O princípio da esperança). A meta da missão cristã pregada por Moltmann não se limita simplesmente à ênfase na salvação individual, pessoal, mas à realização da esperança da justiça, da socialização de humanidade e da paz do mundo. Esse pensamento ganhou novos contornos em 1972, com O Deus crucificado, livro no qual Moltmann elabora uma teologia da cruz, baseada na premissa de que “um Deus incapaz de sofrer é também incapaz de amar”. Para o teólogo alemão, tal sofrimento não é imposto de fora – visto que Deus é imutável –, mas sim um sofrimento de amor, livre, de um Senhor que sofre diante de tragédias como (novamente por influência de sua vivência na Segunda Guerra) Auschwitz e o extermínio dos judeus. Com base nesse pensamento, Moltmann rebate a grande pergunta de Emanuel Lévinas – “Como falar de Deus depois de Auschwitz?” – com a seguinte provocação: “De quê, então, é para falar depois de Auschwitz, senão de Deus”? Segundo ele, como as pessoas, em sua maioria, são vítimas e não opressoras, é necessário vivenciar uma cristologia que pronuncie claramente que Jesus está ao lado das vítimas, e que Deus fará justiça. Já em A Igreja no poder do Espírito (1975), são exploradas, com viés fortemente ecumênico, as implicações eclesiásticas dessa teologia. “A Igreja deve estar aberta a Deus, aos homens e ao futuro, tanto de Deus quanto dos homens”, escreveu Moltmann. “Isso pede da Igreja não uma simples adaptação às rápidas mudanças sociais, mas uma renovação interior pelo Espírito de Cristo”. Numa linha de pensamento vanguardista para sua época, o teólogo preconizava uma Igreja ecumênica, que quebrasse as barreiras entre as denominações e também na política. Moltmann, aliás, foi um dos principais inspiradores da Teologia da Libertação, movimento que ganhou força, inclusive no Brasil, nos anos 1960 e 70, pregando uma Igreja que tomasse partido pelos pobres e humilhados deste mundo. Sua identificação com os mais humildes pode ser percebida quando fala de si mesmo: “Sou apenas um simples cristão que busca entender sua fé. Nada além disso.”
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“Devemos abrir os olhos para orar” CRISTIANISMO HOJE – O senhor diz que esta sua viagem ao Brasil é a apresentação de seu “testamento teológico” para a América Latina. Qual seria a principal herança de sua obra? JÜRGEN MOLTMANN – O debate sobre a esperança. Precisamos de fé, esperança e amor; mas destaco que é necessário aplicar a esperança não somente na eternidade, mas também exercitá-la para que cause efeitos nos dias de hoje. A maioria dos cristãos está aguardando o céu, e não uma nova Terra, de onde brote justiça. Essa é sua proposta a partir do livro Teologia da Esperança: uma abordagem da esperança que fuja ao sentimento de resignação. Então, ela é uma força capaz de transformar o mundo? Exatamente. Nos tempos em que vivemos, presenciamos milagres e sinais, certamente não feitos por teólogos, mas por Deus. Acompanhamos o fim do appartheid na África do Sul e muitas outras revoluções democráticas que deixaram para trás formas de ditadura política e militar. Agora, estamos acompanhando a queda do capitalismo, tendo a oportunidade para viver em um mundo mais livre e justo. A maioria dos crentes pensa que espiritualidade é orar; porém, no Novo Testamento, aprendemos que é preciso orar e vigiar. Precisamos de uma espiritualidade dotada de sentidos – ou seja, em uma forma bem figurativa, ao invés de fechar os olhos, temos de abri-los para orar. Uma Igreja desconectada do cotidiano não tem futuro, só passado. O senhor acha que a crise atual é a derrocada do capitalismo, assim como o colapso do socialismo no fim dos anos 1980? Bem, não estou satisfeito com esse capitalismo. Espero que consigamos pôr em prática um capitalismo mais social, ou seja, um capitalismo em que o Estado regule de forma mais efetiva a economia. Há um bom tempo, a Alemanha vem tentando fazer isso: desenvolver uma economia social e ecológica, para que o mercado seja para o ser humano e o ser humano não seja sacrificado pelo mercado. Isso tudo está relacionado à Teologia Política, ou Teologia Pública, que o senhor inaugurou e sempre destacou? Sim. Isso inclui refletir o aspecto público e a justiça no Reino de Deus. A teologia pública é a política pensada teologicamente e a teologia na abordagem política; por outro lado, também é a cultura num aspecto teológico e a teologia sob o aspecto cultural. Ou seja, a teologia dialoga com a Igreja e a Igreja dialoga com a teologia. Porém, o futuro da Igreja e da teologia é o Reino de Deus, e isso tem de ser o centro de tudo. Estamos numa globalização sem globo, ou seja, a Terra não tem voz nem vez nesse processo. Precisamos de uma nova política da Terra, uma nova economia da Terra, isto é, uma nova ligação com o organismo vivo que a Terra representa.
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“a teologia feminista é para a mulher, e a teologia negra é para os negros”. Eles não aceitavam o desafio que o outro pode trazer para o diálogo, aprofundando a sua própria teologia.
Logo, a atuação do teólogo vai muito além da Igreja... Claro que sim! Eu, por exemplo, já fui convidado para ser teólogo em uma faculdade de medicina.
O que dizer acerca do fundamentalismo? Os fundamentalistas nas igrejas protestantes deveriam ler e estudar a Bíblia e tentar entender o que temos de viver. Os bispos do Opus Dei deveriam ler os textos do Concílio Vaticano II. Eles estão esquecendo daquele legado, e isso é uma vergonha! E também é uma vergonha que os protestantes estejam lendo a Bíblia como se fosse o Corão. Para o teólogo, a Deus se tornou em Cristo não um livro, mas sim, esperança precisa ser exercitada para causar um ser humano. Por outro lado, os fundamentaefeitos nos dias de hoje listas também são seres humanos e precisam ser acolhidos, assim como as crianças, que não podem crescer sem o amor e respeito dos seus próprios pais. Eu não aconselho falar com fundamentalistas sobre o fundamentalismo, mas sobre experiências de vida e Paulo Freire, famoso educador brasileiro, dizia que de como eles administraram os sofrimentos, desafios etc. “ninguém liberta ninguém; ninguém se liberta sozinho. Os homens se libertam em comunhão”. Esta frase, reO senhor foi colega de docência do teólogo alemão feita de acordo com a sua teologia, talvez ficasse algo Joseph Ratzinger, hoje o papa Bento XVI. Conte sobre assim: “Ninguém liberta ninguém; ninguém se liberta essa experiência. sozinho. O homem se liberta na comunhão cristã que Ratzinger passou por uma experiência experimenta Deus no outro”. É nisso traumática em 1968, época da revoluque o senhor acredita? ção estudantil. Na época, ele passou por Isso me lembra Dostoiévski, que dizia um medo apocalíptico, com uma idéia que “o ser humano deve se libertar por fixa no diabo – destaco que ele escreconta própria”. Passei pela experiência veu isso em sua biografia, portanto não de ser um prisioneiro de guerra por três se trata de difamação. E desde então, longos anos e fui liberto por Cristo. Não ele tenta combater o marxismo ateísta. tive condição de libertar-me a mim mesSó que esse marximo não existe mais mo. Paulo Freire tem uma posição humana Europa. Na sua última encíclica, a da nista. Eu sou um teólogo cristão, apesar Esperança, ele gastou três páginas para de contra a minha própria vontade, pois matar o marxismo. E eu lhe escrevi uma queria estudar Física e Matemática. Mas carta dizendo: “Você matou um cadáver”. eu respeito os humanistas que querem É por isso que Bento XVI persegue tanto os teólogos da lise libertar por conta própria. bertação, porque, segundo sua concepção, isso se trata de marxismo. Gente como Jon Sobrinho e Leonardo Boff não Então é possível crer em Deus após Auschwitz? são marxistas, isso é uma besteira! Sem dúvida. O texto O Deus crucificado é minha resposta a Auschwitz e ao horror que vivi na guerra. A minha pergunta é: E o que o senhor pensa sobre o papado? em quem se deve crer depois de Auschwitz, senão em Deus? Não o considero uma instituição evangélica. A Teologia da Libertação teve muita força aqui na Quais os seus livros prediletos? América Latina, mas o senhor foi um dos poucos teóA Bíblia, especialmente o Antigo Testamento; O princípio da logos europeus a dialogar com essa teologia. Enfrenesperança, de Ernst Bloch; e A dogmática da Igreja, de Karl tou muitas reações por isso? Barth. Mas este último tem cerca de 8 mil páginas... [risos]. A maioria dos colegas não abraçou a Teologia da Libertação simplesmente porque eram ocupados e preocupados demais A despeito de todos os adjetivos que lhe devotam, com suas teologias denominacionais e confessionais. Não como o senhor gostaria de ser lembrado? lhes sobrava tempo para dialogar com o mundo, com as teSou apenas um simples cristão que busca entender sua fé. ologias ecumênicas e tudo o mais que acontecia ao redor. A Nada além disso. resposta mais infame que já escutei sobre isso foi algo como O senhor enfatiza muito a questão de um suposto sofrimento de Deus. Qual é o valor da cruz e da morte de Cristo para Deus nessa linha de pensamento? Deus sofre para estar próximo de todos os que sofrem por solidariedade e amor. Cristo deixou tudo para procurar aqueles que foram deixados por todos. É a nova forma de uma cristologia de solidariedade – e, como a maioria das pessoas são vítimas e não opressores, precisamos de uma cristologia que pronuncie claramente que Cristo está ao lado das vítimas e que Deus fará justiça.
A maioria dos cristãos está aguardando o céu, e não uma nova Terra, de onde brote justiça
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Tragédia que ninguém vê Ataques terroristas a Mumbai, região turística da Índia, atraiu mais atenção internacional do que sangrenta onda de violência religiosa que já teria matado mais de mil cristãos
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As apavorantes imagens das labaredas saindo do Hotel Taj Mahal, em Mumbai, na Índia, chocaram o mundo no fim de novembro. Em 62 horas de terror, quase 200 pessoas foram mortas na maior e mais rica cidade do país, em ações concatenadas que atingiram pontos-chaves da metrópole, como estações de trem, hospitais, centros comerciais e o hotel, um A onda de intolerância começou em 24 de agosto, um dia dos mais luxuosos da Ásia. Sobreviventes, incluindo muitos turistas, relataram cenas de horror em meio às requintadas após o assassinato de Laxmanananda Saraswati, líder da oracomodações, como execuções sumárias e uma espécie de ganização extremista hindu Vishwa Hindu Parishad (o VHP, caçada a estrangeiros, principalmente cidadãos americanos e Conselho Hindu Mundial), no distrito de Kandhamal. Embobritânicos. Até o fechamento desta edição, ainda não havia ra um grupo separatista de orientação maoísta tenha admiticerteza acerca da autoria dos atentados, reivindicados pela do mais tarde a autoria das mortes, o VHP culpou os cristãos pelo crime. Seguiu-se uma onda de ataques violentos contra a desconhecida organização Mujahedin do Deccan. Suspeitase do envolvimento de radicais islâmicos paquistaneses, o que comunidade cristã, provocando a depredação de mais de 150 faz crescer a já histórica tensão entre os dois países, que fo- igrejas e de 4,5 mil casas da localidade. De Orissa, a onda de ram à guerra três vezes no último meio século e alardeiam violência, que já é considerada a maior da história moderna do país, se espalhou para outras regiões. Mais de 50 mil cristãos possuir arsenais nucleares. fugiram de suas cidades e se refugiaram em campos Dos 11 terroristas identificados, dez foram abatidos, ou na selva. Os números oficiais são imprecisos, mas e as baixas incluíram também vinte agentes indianos e Terror fala-se em mais de mil mortos e cerca de 20 mil femais de 150 civis. Apesar de o Centro Judaico da cidaridos – mas representantes das comunidades cristãs de também ter sido atacado, aparentemente não houve motivação religiosa para os ataques. No entanto, ali mesmo na Ín- denunciam que nem sempre a polícia toma conhecimento das dia, e ao longo dos últimos quatro meses, uma outra guerra suja ocorrências e que muitos agentes fazem vista grossa quando tem se ocorrido praticamente à margem da atenção internacional. sabem que os crimes são praticados por hindus. O primeiroDesde agosto, um sangrento conflito vem provocando centenas ministro da Índia, Manmohan Singh, classificou a crise como de mortes no interior do país – mais precisamente, no Estado de uma “desgraça nacional”. Orissa, no leste da Índia, onde milícias de orientação hinduísta têm promovido uma verdadeira perseguição aos cristãos. Além Minoria perseguida – De acordo com um comunicado o sedisso, comunidades inteiras têm sido deslocadas à força ou obri- cretário-geral da Federação das Conferências Episcopais da gadas a deixar suas casas e vilas. Além da brutalidade, a ofensiva Ásia (FABC) e arcebispo de Cotabato, Orlando Quevedo, a inclui estratégias de convencimento para forçar ex-hindus que se violência não recuou – ao contrário, só tem aumentado. Lídeconverteram ao Cristianismo a retornar às suas crenças de origem res cristãos queixam-se da omissão das autoridades do governo e da polícia, que nada estariam fazendo para conter os ânimos. (ver quadro).
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Carlos Fernandes
Desnascidos de novo
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Cristãs indianas olham desoladas para o que restou de sua casa, demolida por radicais hindus: violência religiosa tem provocado um desastre humanitário na Índia Na mensagem, escrita em nome dos bispos de toda a Ásia, Quevedo mostra a preocupação pela violência contra os católicos e os cristãos de outras confissões. “É trágica a imagem que está dando hoje um país que era exemplo de grande harmonia e tolerância religiosa, arruinada por uma minoria de extremistas”, destaca. As organizações cristãs têm realizado atos públicos para denunciar ao mundo o que acontece no país e cobrar soluções imediatas das autoridades. Os fundamentalistas hindus não pouparam nem mesmo a casa das Missionárias da Caridade, a ordem fundada pela mítica madre Teresa de Calcutá, religiosa que ganhou o Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho em favor das castas miseráveis do país. Estatisticamente pequeno, o Cristianismo, professado por apenas 2,4% dos 1,1 bilhão de indianos, tem pouca expressão social. As confissões dominantes são o Hinduísmo (80% da população) e o Islamismo, seguido por treze por cento dos indianos. Desde sua independência, em 1947, o moderno Estado da Índia professa o laicismo, mas os dois principais grupos religiosos já se lançaram em sangrentos confrontos. Os mais graves deles ocorreram na região da Caxemira, próxima à fronteira com o Paquistão, nação muçulmana criada por ocasião da partilha do subcontinente indiano pelos britânicos. As fronteiras traçadas não levaram em conta as diferenças históricas e religiosas que caracterizam as cen
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Laba Digal, de 50 anos, vive de remendar pneus de bicicletas e triciclos perto de Kasinipada, um vilarejo de Orissa. A quem pergunta, ele conta que era cristão até setembro, quando foi procurado por um oficial local do grupo radical hindu Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS). O borracheiro fala sem rodeios: “Ele me disse para me tornar hindu, e que, se não fizesse isso, perderia minha casa. Disse ainda que eu não poderia morar no vilarejo sendo um cristão. Como eu não queria problemas, aceitei”, resume. Por mais de uma década, o RSS tem reconvertido pessoas como Digal, que em algum momento da vida abraçaram a fé cristã, ao Hinduísmo. E agora, os esforços da milícia têm aumentado. A campanha de reconversão é bem organizada e tem oficiais distribuídos em quase todas as partes da Índia. Alguns grupos organizam encontros em que denunciam a Igreja cristã como sendo o inimigo. As palestras são entremeadas com advertências de que os cristãos devem se reconverter ao Hinduísmo ou arcar com as conseqüências. O exército RSS encarregado da força vem depois e perpetra ataques como depredações de casas e templos. Os mais resistentes são simplesmente eliminados. Uma lei de 1967 proíbe conversões religiosas por meio de indução ou violência em Orissa. Mas, pelo que se vê, é letra morta – em setembro deste ano, Vidyaram Pandey, oficial de uma divisão do RSS em Uttar Pradesh, declarou que a milícia havia reconvertido 50 mil cristãos em todo aquele Estado, o maior do país, e que todos os pastores da região seriam expulsos em cinco anos. A organização foi fundada em 1925 e agora já tem aproximadamente 30 divisões, incluindo o Bharatiya Janata, principal partido político de direita da Índia. Os grupos são formados geralmente por jovens radicais hindus armados, que têm espalhado o terror religioso entre os cristãos. A ofensiva raramente atinge os convertidos ricos. Já os cristãos pobres – a absoluta maioria – são alertados para que se reconvertam, senão perderão seus poucos pertences e até suas vidas. Sem alternativa ou proteção legal, quase todos cedem à intimidação. O RSS também se opõe aos ensinos cristãos, afirmando, por exemplo, que o perdão por meio de Jesus Cristo é impossível, versão que encontra apoio na crença hindu de que os deuses são vingativos. A campanha para reconverter cristãos à fé hindu é parte de uma grande estratégia do RSS para transformar a Índia de uma nação secular em um Estado hindu. Os acontecimentos em Orissa são apenas o começo. (Vijay Simha, editor sênior da revista indiana Tehelka, para Christianity Today)
Extremistas promovem destruição em vilas cristãs como forma de intimidação
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Religiosos ligados à Ordem das Missionárias de Caridade protestam em Nova Déli: crise tem sido ignorada pela comunidade internacional tenas de etnias da região, transformando a área num imenso barril de pólvora. De acordo com relato de uma equipe de investigação do Partido Comunista, que faz oposição ao governo federal, mais de 500 pessoas, a maioria cristãos, podem ter sido mortas pela violência só no distrito de Kandhamal desde o início dos massacres. Entidades civis e internacionais suspeitam que o governo local tenha subestimado e encoberto provas de mor-
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tes não-relatadas. “As vítimas estão com medo de voltar para seus vilarejos porque foram ameaçadas de que, se retornassem, seriam cortadas em pedaços”, destaca o relatório. “Os desordeiros também estão declarando que apenas os convertidos ao Hinduísmo terão permissão para retornar.” Em contrapartida, os responsáveis pelos campos de refugiados – só no distrito, há cerca de 12 mil desalojados pela violência –, preocupados com as implicações humanitárias da crise, estariam pressionando as vítimas do tumulto para retornar para seus vilarejos, dizendo que a vida já está normalizada e que a paz está de volta. Para muitos cristãos da Índia, o melhor presente neste Natal não é nenhum bem material – eles querem simplesmente poder voltar a suas casas e viver com segurança. Durante recente encontro de líderes da comunidade com o ministro-chefe do Estado de Orissa, o arcebispo Raphael Cheenath fez um apelo para que o governo local ofereça garantias, como escolta policial para o retorno dos desalojados. Segundo o prelado, muitas pessoas temem sofrer novos ataques ou serem forçadas a se converter ao Hinduísmo. Cheenath espera que todos possam estar de volta antes do Natal. Para ele, o objetivo dos fanáticos hindus é “destruir toda a Igreja cristã de Kandhamal”, e que, por isso, a celebração da festa cristã seria emblemática para marcar sua resistência. Mas a situação deve permanecer instável até pelo menos o mês de abril de 2009, quando acontecem as eleições estaduais em Orissa.
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Espiritualidade Eduardo Rosa Pedreira
Um m´stico urbano
Equivocadamente, pensa-se que uma experiência mística é o eclipse da razão
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omás de Aquino (1225-1274) foi um homem interessante e intrigante. Apesar de ter nascido numa rica família, optou, em certo momento de sua vida, por ser um pobre frade. Por ter um corpo grande, desajeitado e lento, ganhou o apelido de “boi burro”. Quando seus colegas assim o chamavam, não poderiam imaginar estar diante daquele que seria considerado um dos teólogos mais geniais da história do Cristianismo, cuja voz iria atravessar os tempos. Aquino foi um sistemático pensador aristotélico em um ambiente teológico imerso no platonismo. Ele foi um severo crítico do subjetivismo platônico, por entender que os teólogos influenciados por este pensamento caíam num transcendentalismo desconectado da realidade. Por isso, foi a mosca que pousou na sopa de tais teólogos místicos, influenciados por um pensar mais aberto ao sobrenatural. Sua Suma Teológica tornouse o primeiro tratado de teologia sistemática do Ocidente, uma tentativa de sintetizar em volumes os múltiplos e infindáveis tópicos teológicos. Mas aqui reside um mistério: propositadamente, ele deixou sua Suma Teológica inacabada. Seu amigo Reginaldo ficou preocupado quando observou que Aquino parou de trabalhar na sua obraprima. Instado a continuar, Aquino respondeu que não poderia mais escrever. Diante da insistência do amigo, o teólogo abre o coração e diz: “Eu não posso mais escrever, porque tenho visto coisas que fazem todos os meus escritos serem como palhas”. E assim foi. Aquino não mais escreveu depois de ter tido uma experiência mística com Deus durante uma celebração, que o fez baixar a pena em uma atitude de humilde adoração. No leito de morte, este grande filósofo e teólogo, pai da Teologia Natural e um dia antagonista da Teologia Mística, pede para ouvir a leitura bíblica do Cântico dos Cânticos. Afinal, qual foi a experiência mística que levou Aquino a considerar tudo quanto tinha escrito – e que constitui um dos principais pilares da teologia ocidental – como palha? Tentar descobrir é profanar com uma curiosidade racional a santidade de uma experiência única; mas reporto-me a esta experiência de Aquino porque ela mexe o meu mundo interior, despertando sonhos antigos. Pois eu tenho um sonho de me tornar um místico! Sim, eu gostaria de organizar a minha vida em torno do mistério de Deus. A mística é considerada na tradição espiritual cristã uma “ciência” mais elevada, pois é uma forma de conhecer Deus como fruto da
experiência com ele, e não do acúmulo de informações frias sobre a sua pessoa. Equivocadamente, pensa-se que uma experiência mística é o eclipse da razão, um suicídio intelectual em nome do indescritível. Nada mais errôneo para com a mística cristã. Um místico não é um louco, ou alguém intelectualmente preguiçoso e limitado, mas alguém que crê por ter experimentado encontros com Deus não explicados puramente pela razão e nem totalmente descritos com palavras. É uma forma de conhecer a Deus – no dizer de Teófilo, “a sabedoria escondida e secreta de Deus, na qual, sem ruído de palavras e ajuda de algum sentido corporal nem espiritual, como no silêncio e quietude da noite, obscura a todos os sentidos naturais; ensina Deus a alma, no oculto e no secreto, sem que esta saiba como está sendo ensinada”. Eu tenho um sonho de influenciar uma geração de estudantes de teologia e de jovens pastores a se tornarem místicos. Queria poder dizer-lhes que os anos de estudo teológico não podem seqüestrar sua devocionalidade. Gostaria de alertá-los de que a Igreja contemporânea tem uma necessidade urgente de místicos intelectualmente sólidos, teologicamente saudáveis, e não de oradores que produzem discursos dominicais vazios por não nascerem do encontro com o Deus vivo. Sonho poder inspirá-los a refundarem a mística protestante, deturpada pela onda neopentecostal. Sonho poder falar-lhes de liderança, não a partir de modelos puramente técnicos advindos do mundo corporativo, mas sim de uma liderança com base na mística capaz de fazer de homens e mulheres de Deus verdadeiros sábios espirituais. Eu tenho um sonho de libertar a palavra discipulado da prisão reducionista na qual nós a pusemos. O discípulo de Jesus é um místico que sobe o monte da transfiguração com ele e desce de novo para expulsar os demônios do vale. Sonho em transformar minha igreja em um centro de formação espiritual, dentro da qual são gestados místicos preocupados com a transformação da sociedade. Então, tenho o sonho de ser um místico urbano. Não quero ir para o mosteiro, mas desejo trazer para minha realidade pós-moderna os maravilhosos princípios da espiritualidade monástica. Sonho viver aquilo que Bonhoeffer disse: “Somente um novo monasticismo pode salvar a Igreja atual.” Quero ser este novo monge, que usa celular, assiste televisão e comunica-se por e-mail, mas cultiva o silêncio e a contemplação no meio do barulhento inferno urbano.
Um m´stico não é um louco, ou um sujeito intelectualmente preguiçoso e limitado, mas alguém que crê em Deus por ter experimentado com ele encontros não explicados pela razão e nem totalmente descritos com palavras
Eduardo Rosa Pedreira é teólogo e escritor
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First published in Christianity Today, copyright © 2008. Used by permission, Christianity Today International
Construindo o espíri Ministério Musalaha promove reconciliação entre palestinos e israelenses e incentiva ação social conjunta Jonathan Miles
Bishara Awad, presidente da Faculdade B´blica de Belém, teve de superar os próprios rancores para que “pudesse perdoar”
ito anos atrás, Ali Elhaij, 35 anos, nascido tem dado certo – são promovidos encontros isolados, em que no Líbano, converteu-se ao Cristianis- israelenses e palestinos passam uma semana ou mais viajando mo enquanto vivia nos Estados Unidos. juntos por regiões desoladas. No início, o clima é de desconQuando ele conheceu a cultura evangéli- fiança mútua; mas dessas jornadas emergem relacionamentos ca, ficou incomodado pelo profundo mal- novos e mais saudáveis. Nos últimos 20 anos, como o contíentendido dos cristãos americanos acerca nuo conf lito tem restringido as já limitadas interações entre do Islamismo, bem como de impressão se- os dois povos, a Musalaha é uma maneira de fazer árabes e jumelhante em relação à fé cristã no Oriente deus cruzarem fronteiras territoriais, ideológicas e religiosas. Médio. Tal sentimento lhe ocorreu em 2006, A Musalaha recebe aclamação mundial por seus esforços. quando aconteceu a guerra entre o Hezbollah e Depois de conversar com Munayer, Awad e outros líderes Israel, diante da enxurrada de notícias , tanto na mídia quanto do ministério, Ali Elhaij sonhou em encontrar um modo de nas igrejas, acerca do conflito. “Senti que precisava fazer algo. firmar uma parceria com eles. Um dia, ele perguntou à sua Precisava ser a cola entre o Ocidente e o Orienmulher, Jennifer, o que achava de incluir amerite”, diz. Após a guerra, Elhaij, que tem ascendêncanos nesse projeto. Depois de muita discussão, Ministério cia islâmica, visitou Israel e o West Bank. Ele se em 2007 o casal lançou o Projeto Natal em Beencontrou com os cristãos palestinos Salim Mulém, em sua mesa da sala de jantar em Weston, nayer, reitor acadêmico e graduado no seminário da Faculdade Flórida (EUA). A idéia era convidar americanos para viajar Bíblica de Belém (BBC, na sigla em inglês), e Bishara Awad, a Belém no começo de dezembro, a fim de ajudar os crenpresidente da instituição. tes locais a distribuir presentes de Natal a famílias carentes, Munayer e Awad são parte de um inf luente núcleo de independentemente de sua religião. O casal estabeleceu uma evangélicos palestinos que está comprometido com a expan- instituição sem fins lucrativos e começou a estabelecer contasão e a reconciliação cristã através das incontáveis fronteiras tos pela internet com líderes interessados, bem como a procupolíticas e religiosas na região. A iniciativa, intitulada Mu- rar colaboradores. Um dos que se apresentaram de imediato salaha (palavra árabe para “reconciliação”), surgiu em 1990, foi o executivo Chuck Wenger, da Igreja Prairie Ridge, em a fim de criar um novo contexto para a interação entre os Ankeny, Iowa. Wenger freqüentemente visita Israel e agora dois grupos, tão divididos por hostilidades que remontam aos serve à equipe de Elhaij. “Muitos judeus e muçulmanos acretempos bíblicos. A idéia pode parecer romântica demais, mas ditam em um princípio de vingança e a praticam”, diz o exe42
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cutivo. “Mas a Igreja pode lhes trazer uma estratégia de paz, amor e reconciliação”. “Anjo” – Durante o Natal de 2007, uma pequena equipe de cristãos palestinos, israelenses e americanos entregou presentes para 200 crianças em Belém. Como era de se esperar, os mais necessitados estavam num orfanato e em escolas para portadores de necessidades especiais. A dura realidade vivida por essas crianças faz com que os presentes escolhidos passem longe da idéia de supérfluo – nada de jogos eletrônicos, mas sim roupas, brinquedos educativos e itens básicos para usar na escola e em casa. O voluntário israelense Alex Voitenko, que participou da distribuição de presentes ano passado, teve primeiramente de superar as suspeitas em relação a Elhaij por ele ser árabe. Mas, agora, Voitenko o descreve simplesmente como “um anjo”. “Esta guerra já acontece por muito tempo, e eu não vejo nenhuma solução sem Cristo”, pondera. Elhaij garante que tem lutado para que esse tipo de desconfiança caia por terra. “Temos um corpo em Cristo que não é hostil para com o próximo, que não está preocupado com quem ganha o quê com relação a terra e recursos. Estamos todos trabalhando pela paz”, resume. Tal ponto de vista é bem diferente do que Elhaij tinha quando criança. Ele cresceu na zona oeste de Beirute, a capital libanesa, durante a década de 1980 – ou seja, no olho do furacão da sangrenta guerra civil que arruinou a outrora próspera nação do Oriente Médio. Elhaij se lembra de seus familiares e amigos que diziam: “Israel não é seu amigo – não diga a palavra ‘Israel’. Diga ‘Palestina’. Não tenha amizade com os israelenses”. A doutrinação levou anos, mas Elhaij Jovens palestinos atiram pedras em direção a soldados israelenses: ra zes do conflito remontam aos tempos b blicos
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agora acredita que o melhor meio de se lidar com os israelenses não é com pedras, mas numa mesa de café em Belém. “Quando vim para Cristo, tive de entender que ele morreu por mim, para me reconciliar com Deus”, comenta. “Então, eu, como cristão e cidadão do seu Reino, devo agir como pacificador.” Awad, exatamente como Elhaij, experimentou uma profunda mudança em seu coração. O presidente da BBC era criança durante a Guerra de Independência de Israel, em 1948, quando os judeus enfrentaram e venceram uma liga formada por Líbano, Egito, Jordânia e Síria. Por anos, ele considerou os israelenses responsáveis pela morte de seu pai, grego-ortodoxo. Vítima de um atirador, ele morreu na frente de sua casa, em Jerusalém, à vista de Awad, à época com nove anos. Ele nunca se esqueceria do episódio. Anos mais tarde, Awad sentia-se frustrado porque era incapaz de despertar a fé em seus estudantes que se denominavam cristãos. “Ninguém estava se convertendo ao Senhor. Então, uma noite, orei a Jesus, perguntando-lhe o que acontecia”, lembra. “Logo Deus mostrou-me o rancor em meu coração.” O educador então percebeu que aqueles jovens tinham o mesmo ódio que ele sentia, já que, de uma forma ou de outra, todos haviam sofrido com a guerra. “Orei ao Senhor pedindo que me perdoasse, e ele mudou completamente minha vida”, lembra. “No dia seguinte, fui à capela, como nos demais dias, mas havia algo diferente. Os alunos estavam se convertendo ao Senhor e pedindo um lugar para estudar teologia.”. O BBC surgiu justamente paras atender a necessidade. Legitimidade – Elhaij, Awad e Munayer não encobrem injustiças passadas, mas suas experiências pessoais de reconciliação lhes dão uma visão do Reino de Deus que transcende velhas barreiras. Awad disse à Chstianity Today: “Jesus Cristo não morreu apenas pelos cristãos, mas por toda a humanidade, e isso inclui os muçulmanos”, destaca. A cada ano, o Projeto Natal em Belém ganha legitimidade por seu modelo de ministério de reconciliação. Elhaij e sua equipe já embarcaram em direção ao Oriente Médio para mais uma campanha. O grupo, representando 13 igrejas da Flórida, Carolina do Sul e Iowa, juntamente com cristãos de Israel e Palestina, vão visitar a cidade onde Jesus nasceu para distribuir presentes para 500 crianças. Abdulluah Awwad, diretor do Centro Albasma para Crianças com Necessidades Especiais, lembra a reação dos pequenos durante a visita do ano passado. “Eles não querem saber quem deu os presentes. Simplesmente, ficam felizes. Essas crianças possuem os sentidos mais simples da vida”. Essa atitude junta todos os pedaços da visão original de Elhaij: crentes israelenses, palestinos e americanos, todos trabalhando para atender necessidades jamais supridas no Oriente Médio. Para ele, a percepção estereotipada a respeito do evangélico como um obtuso é tão infundada quanto alguns dos estereótipos dos cristãos acerca dos islâmicos. “Se você simplesmente atrair as pessoas, encontrará uma ampla opção de crenças e motivações. Tentamos encontrar pessoas que sejam abertas, prontas a aprender e queiram fazer a vontade de Deus”. Talvez seja precisamente esta a melhor definição para o tal espírito de Natal. 2 0 0 8
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Salvação via satélite Projeto Minha Esperança Brasil contabiliza os resultados de uma das maiores campanhas evangelísticas já realizadas no país
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Parte do Brasil parou nos dias 6, 7 e 8 de de comandar”, comemora Bill Conard, novembro diante da TV. Não era jogo de vice-presidente de Ministérios Internaseleção em Copa do Mundo nem último cionais da entidade. “As igrejas no Brasil capítulo de novela, mas milhões de brasi- dedicaram uma enorme quantidade de leiros prestigiaram o projeto Minha Espe- tempo e energia para alcançar pessoas rança Brasil, organizado pela Associação com o Evangelho de Jesus Cristo, e esEvangelística Billy Graham (AEBG). A peramos que Deus faça coisas poderosas transmissão de programas evangelísticos por seus esforços de fé”, frisa. em rede nacional de TV foi o ponto alvo de um grandioso Mobilização – Para o pastor Evangelismo empreendimento destinado assembleiano Geremias do a semear a Palavra de Deus Couto, coordenador nacionuma dimensão nunca vista antes no ter- nal do projeto Minha Esperança Brasil, ritório nacional. A fórmula foi simples: a aceitação do trabalho pela comunidade famílias evangélicas receberam em suas evangélica brasileira foi enorme. “Cerca de casas amigos e parentes para assistir aos 80% das denominações independentes do programas, falar de Jesus e encaminhar país se envolveram com o projeto. Houve aqueles que se decidissem pelo Evangelho uma mobilização muito grande”, diz. O a uma igreja. Em todo o país, uma rede de acompanhamento do projeto, após as exiquase 55 mil igrejas e 850 mil lares foram bições dos programas, está sendo dividido envolvidos no esforço de evangelização. em duas vertentes. A primeira se concentra Os programas foram ao ar em todo o no papel das igrejas locais para manter os território nacional pela Rede Bandeirantes resultados obtidos até agora, ou seja, acoem horário nobre, sempre a partir de 21h. lhendo e discipulando os novos convertiTestemunhos de celebridades evangélicas dos. Geremias lembra que este é um tra– como o craque Kaká –, belos clipes de balho contínuo e interminável. “O projeto música cristã e pregações dos evangelis- também foi muito importante para chamar tas Billy Graham e seu filho, Franklin, atenção de todos para a função evangelístiforam as atrações. No sábado, último dia ca da Igreja. O que acontece atualmente é da campanha, Minha Esperança exibiu o emocionante drama Compromisso precioso, com mensagem de forte conteúdo cristão. A campanha envolveu uma grande mobilização que começou em março, com a No dia 7 de novembro, enquanto milhões apresentação do projeto a pastores e líde- de brasileiros assistiam ao segundo prores. Seguiu-se a divulgação, cadastramen- grama do projeto Minha Esperança, o to das igrejas interessadas, distribuição de evangelista Billy Graham, fundador da enmaterial e treinamento dos voluntários. tidade que empreendeu o projeto, estava Os principais protagonistas do movimen- cercado por 160 parentes, amigos e colato foram os “mateus”, pessoas que abriram boradores para comemorar seus noventa suas residências para o trabalho – à seme- anos de vida. Com a saúde fragilizada, lhança de Mateus, o discípulo de Jesus o veterano pregador já não pode mais que reuniu diversas pessoas em sua casa realizar grandes cruzadas de evangelização. Mas a Associação Evangelística Billy para ouvir as palavras do Mestre. “Minha Esperança Brasil foi um dos Graham (AEBG) administra um enorme projetos mais emocionantes que a Asso- leque de ministérios, entidades e empreciação Billy Graham já teve o privilégio endimentos de caráter cristão ao redor do
que muitos grupos acabam se fechando em si mesmos e esquecem de olhar para fora e anunciar a Palavra. É esta a maior função de uma igreja”, enfatiza o pastor. A segunda parte concentra-se na totalização e recolhimento dos resultados alcançados pelo projeto. Este trabalho é realizado diariamente e ainda encontra-se em andamento. “Cada Lar Mateus recebeu envelopes com cartões de decisão que estão sendo enviados para nossa central e contabilizados. Além disso, também ocorrem ligações diárias para nosso found bank, onde estão cadastrados todos as residências e igrejas associadas”, explica Geremias. Até agora, de acordo com o coordenador, foram apurados cerca de 16% do total. E os resultados já são bastante animadores. “O último relatório emitido, do dia 27 de novembro, já contabiliza 55.721 decisões” anuncia. O pastor também conta que durante o projeto ocorreram muitos testemunhos surpreendentes. “Tenho exemplos de decisões comoventes que ocorreram através do Minha Esperança. Em uma cadeia pública em Alagoas, por exemplo, o diretor permitiu que os detentos assistissem os programas,e no fim, a maioria manifestou o desejo de entregar-se a Jesus”, conta.
O evangelista do século
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Graham com o filho, Franklin: sucessão ministerial mundo, sob o comando do pastor Franklin Graham, filho mais velho e sucessor do pai no comando de sua vasta obra.
D i v u l g a ç ã o / A EBG
Joanna Brandão
Reflexão Ed René Kivitz
Ensaio sobre a visão Quem recebe a graça de ver recebe a missão de servir
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uanto menor o seu mundo, maiores os seus problemas, mais intenso seu sofrimento e menor o seu Deus. Pois nos últimos dias os horizontes do meu mundo foram estendidos, alcançando Casablanca e Marrakech, no Marrocos, e Dakar, no Senegal. Tudo agora tem outra densidade e tamanho. A vida é uma questão de proporções – e as proporções, evidentemente, dependem dos termos de comparações. O que vi e ouvi me obriga a reorganizar valores e medidas. O Marrocos é um país do norte da África com 36 milhões de habitantes, mas com apenas pouco mais de 1.000 cristãos, congregados em aproximadamente 50 igrejas que se reúnem nas casas, grupos não maiores do que vinte pessoas. Um pastor marroquino me esclareceu que considera igreja aquele grupo que se reúne regularmente e tem uma liderança espiritual definida; nesse caso, o número de igrejas marroquinas chegaria apenas a vinte e cinco, pois as demais dependem de lideres itinerantes e chegam a ficar meses sem uma reunião. Já no Senegal, na costa ocidental africana, existem os marabus, mestres do Corão que escravizam, abusam sexualmente e torturam milhares de meninos. Essas crianças, os talibês, são entregues pelos próprios pais, que acreditam que seus filhos estarão assim servindo ao Islã. Na chamada África Negra, aproximadamente 20% das mulheres são submetidas à mutilação vaginal, feita sem anestesia com instrumentos como lâmina de barbear, facas ou mesmo tesouras. A excisão mínima é a retirada do capuz do clitóris. Já a infibulação consiste na amputação do clitóris e dos pequenos lábios, seguido do corte dos grandes lábios, que depois são aproximados e suturados. Apenas uma minúscula abertura é deixada, para escoamento da urina e da menstruação. Esse orifício é mantido aberto por algo como um palito de fósforo. O primeiro ímpeto é pedir a Deus que me faça esquecer rapidamente o que vi e ouvi. A vontade que dá é de balançar a cabeça para que as imagens se dissolvam e sejam substituídas. Mas considero a possibilidade de pedir ao Senhor exatamente o contrário: que jamais me deixe esquecer das imagens da barbárie explícita na violência praticada contra mulheres e crianças, da pobreza mais extrema das ruas de Dakar e da quase absoluta carência da Igreja no Marrocos. A pobreza ignominiosa da África islâmica faz emergir a clássica pergunta: onde está Deus? A miserabilidade social e a barbárie perpetrada pela religião lançam o inquiridor
num vazio de Deus, como se ele não estivesse lá. Mas o mesmo ocorre com a América protestante: Deus também parece não dar as caras por entre os neons de Las Vegas, as prateleiras do Wal-Mart e as calçadas de Wall Street. A opulência da sociedade de consumo, que transforma tudo em mercadoria, inclusive Deus, faz cair sobre o Ocidente um outro tipo de miséria, e talvez a mais perigosa e nefasta, pois vem disfarçada de luz, progresso e civilização. Essas experiências me fizeram lembrar a expressão que costura o enredo de Ensaio sobre a cegueira: “Se tu pudesses ver o que eu sou obrigado a ver, quererias estar cego”. José Saramago sugere que, num mundo onde todos estão cegos, a visão passa perto de ser uma maldição. Quem enxerga se torna responsável, e o peso da responsabilidade aos poucos vai se tornando insuportável, quase tanto como a própria cegueira. A Bíblia Sagrada fala da experiência espiritual cristã como “passagem das trevas para a luz” e anuncia a irrupção do Reino de Deus na pessoa de Jesus. A descrição é clara: “O povo que estava em trevas viu uma grande luz”; e, por essa razão, “aqueles que seguem a Jesus não andam em trevas”. Quem nasceu de novo, isto é, recebeu o toque do Espírito Santo e acolheu o reinado de Deus em sua vida foi iluminado e passou a ver, como o cego curado por Jesus: “Eu era cego, agora vejo”. Cristo disse que o olho é a lâmpada do corpo. Assim, se você tiver um olho bom, todo o seu corpo será repleto de luz; mas se tiver um olho mau, tudo em você estará repleto de escuridão. E, continua o Mestre, “caso a luz que está em você seja escuridão, quão terrível será essa escuridão”. No Judaísmo, “ter um olho bom”, um ayin tovah, significa ser generoso; e ter “um olho mau”, ou ayin ra’ah, significa o contrário – ser mesquinho. A cegueira é comparada ao egoísmo; a visão, à solidariedade, à compaixão e também à auto-doação voluntária e ao serviço abnegado. Enxergar é servir. Andar na luz é praticar as boas obras, preparadas de antemão para que andássemos nelas, e sem as quais a fé é morta. Contrariando o dito popular que afirma que o pior cego é aquele que não quer ver, podemos crer que a pior cegueira é a cegueira da cegueira. Quem transforma a fé em Cristo numa crença inconseqüente é cego que pensa que vê. E é cego de sua própria cegueira, o que faz dele o pior dos cegos. A distância entre a cegueira e a visão é a mesma que separa a indiferença do engajamento. Quem recebe a graça de ver recebe a missão de servir.
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Ed René Kivitz é teólogo e escritor
A vida nos anos de chumbo
O Ato Institucional nº 5, que colocou a sociedade – e a Igreja Evangélica – na parede, completa 40 anos sem ser esquecido Valter Gonçalves Jr
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(Colaborou Treici Schwengber)
Nem todas as feridas fecham em 40 anos. Em 13 de dezem- intensa disputa político-ideológica daquele período, passaram bro completam-se quatro décadas que, em nome do combate a ser vistos como ameaça pelo regime militar, que não poupou à suposta ameaça comunista, o Brasil mergulhou numa era de os religiosos. total supressão das liberdades individuais e políticas. E ainda Vários protestantes vinculados a movimentos ecumênicos choram Marias e Clarices, como cantou Elis Regina em 1979, que pregavam a responsabilidade social da igreja e a transforna campanha em favor da anistia. Quem viveu sob o Ato Ins- mação do país sofreram perseguição. Muitos eram entusiastitucional nº 5, imposto em 1968 pelo general-presidente Ar- mados seguidores dos ensinos do teólogo norte-americano tur da Costa e Silva, depois de uma reunião do Conselho de Richard Shaull (1919 -2002), que, expulso da Colômbia, viera Segurança Nacional, não esquece facilmente a experiência de ao Brasil ainda nos anos 50 pregando o engajamento político não ter qualquer garantia constitucional contra os desmandos das igrejas para mudar a sociedade, profundamente desigual. do Estado. Foram dez anos de linha-dura. “Às favas todos es- Um dos principais organizadores, por meio da Confederação crúpulos de consciência”, disse o então ministro do Trabalho, Evangélica do Brasil (CEB), do encontro “Cristo e o Processo Jarbas Passarinho, na reunião que sacramentou o AI-5. Revolucionário Brasileiro”, que reuniu em 1962, no Nordeste, O chamado golpe dentro do golpe, que veio para calar os 167 representantes de diversas igrejas, o sociológo e jornalista protestos estudantis que varriam o país pedindo democracia e Waldo Lenz César (1923-2007) também foi preso e teve que reverberavam no Congresso, deu poderes totais a Costa e Silva deixar o Brasil. O presbiteriano Paulo Wright, deputado ese suspendeu o instrumento legal do habeas corpus. tadual por Santa Catarina, tornou-se militante da Qualquer pessoa poderia ser presa sem acusação Ação Popular (AP) – organização de esquerda que História formal por até 60 dias para responder a inquéritos de início agregava estudantes católicos e um punhapolíticos, ficando incomunicável durante até 10 do de protestantes – e desapareceu nos porões do dias. Anunciado em rede nacional pelo então ministro da Jus- regime em 1973. Seu irmão, o pastor Jaime Wright, acabou se tiça, Luís Antônio da Gama e Silva, que o redigiu, o AI-5 foi a destacando na luta contra a ditadura, unindo-se ao arcebispo deixa para uma feroz caça às bruxas, que para a extrema direita de São Paulo, D.Paulo Evaristo Arns, para denunciar os criainda restavam soltas mesmo com o Golpe de 1964. mes do Estado brasileiro. Ele trabalhou intensamente no ProFechado o Congresso, políticos, intelectuais e artistas jeto Brasil: Nunca Mais, que uniu o Conselho Mundial das – muitos deles sem qualquer identificação com a esquerda – Igrejas (CMI) e a Arquidiciocese de São Paulo para expor a foram presos imediatamente. Era a “doutrina de segurança violência do regime. nacional”, pregada pelo general Golbery do Couto e Silva no âmbito da Escola Superior de Guerra e fortemente influencia- Boas-vindas – A história da Igreja Evangélica, porém, não da pelos Estados Unidos. Tratava-se de uma guerra contra os foi exatamente das mais bonitas. A principal razão era o inimigos internos, não contra potências estrangeiras. E a Igre- medo do comunismo, como reconheceu, certa vez, o próprio ja Evangélica? Muitos crentes em Jesus Cristo, que já enfren- Jaime Wright em entrevista ao jornalista Jorge Antônio Bartavam problemas em suas próprias denominações por conta da ros. “Na União Soviética a prática da religião foi cerceada e
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Militares detêm civis em plena rua: resultado do AI-5 foi uma sangrenta caça às bruxas de brasileiros contra brasileiros proibida; os evangélicos tinham alguma razão para ter receio disso”, declarou Wright, que era profundamente identificado com a visão de um Evangelho social e faleceu em 1999. Em 1963, em plena Guerra Fria, a alguns meses do golpe militar, o nascente movimento carismático, que dava ênfase aos dons do Espírito Santo, se mobilizava em jejum e oração para que o Brasil não caísse sob poder do comunismo. Em pouco tempo, no entanto, o país viveria as agruras de uma ditadura de extrema direita. Em relato publicado em 2005 no site da Igreja Metodista do Brasil, o líder leigo Anivaldo Padilha, recentemente beneficiado pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, afirma ter sido acusado de comunista e delatado aos militares por um pastor da própria denominação (ver quadro). “A liderança evangélica, de modo geral, deu boas-vindas ao regime. Surgiram matérias nos jornais das igrejas apoiando o novo governo”, reconhece o pastor Alderi Souza de Matos, historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB). Para ele, que se dedica ao projeto de escrever sobre os últimos 50 anos da denominação, é difícil analisar aquele período. “Havia muito radicalismo, muito extremismo. Na minha avaliação houve excessos de ambas as partes: tanto dos conservadores, que se apossaram do poder na igreja, quanto da oposição, vinculada ao movimento social, ao ecumenismo e ao liberalismo
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teológico”, diz, lembrando que os pastores e seminaristas à esquerda batiam de frente com determinações vindas da direção da denominação. “Difícil dizer como seria a igreja hoje, o que teria acontecido se o grupo vencedor fosse o oposto”, comenta, observando que muitos sínodos da IPB foram simplesmente dissolvidos, pela sua recusa em cumprir a ordem de expulsar os pastores desobedientes. “Era uma época de muita tensão, confrontação, polêmica e polarização; não era fácil alcançar equilíbrio”, diz o pesquisador. Dois anos antes do AI-5, a Igreja Presbiteriana, preocupada com a influência do liberalismo, já dera uma guinada forte à direita. Em 1966, Boanerges Ribeiro fora eleito presidente do Supremo Concílio da denominação com a promessa de moralizar os seminários, varrendo a influência dos modernistas. Durante os anos de chumbo, ele permaneceria à frente da igreja, que era então a mais influente entre os protestantes. O tenentecoronel Renato Guimarães, ligado ao temido Serviço Nacional de Informações (SNI), tinha assento no Supremo Concílio. Teólogos esquerdistas como o próprio Waldo César, o escritor Rubem Alves, Zwinglio Mota Dias – que foi torturado e teve o irmão, Ivan, assassinado pela ditadura – e João Dias de Araújo, que escreveu o livro Inquisição sem fogueiras, deixaram a IPB. Surgia a Igreja Presbiteriana Unida (IPU), que abrigou no período grande parte da esquerda protestante. 2 0 0 8
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Luta armada – “Eu fiz uma decisão radical, muito consciente, em 1970: jamais me envolver com política eclesiástica”, conta Eduardo Emerich, de 64 anos, ministro presbiteriano que, já próximo de aposentar-se, após 40 anos de ministério, atua como pastor auxiliar em Ourinhos (SP). Simpático às idéias naquele momento combatidas pela direção da IPB, o então seminarista considerava um total equívoco a idéia sair da igreja e preferiu dedicar-se a pastorear uma pequena comunidade na mesma denominação, que já chegou aos 150 anos de existência. “A igreja perdeu
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Poder total para o chefe do Executivo, num documento que não tinha sequer um prazo de validade. Este era o cerne do Ato Institucional nº 5, imposto pela ditadura militar em 1968. Na reunião do Conselho de Segurança Nacional, no Palácio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, que decidiu calar toda voz política destoante, o então ministro da Justiça, Luís Antônio da Gama e Silva, não teve nenhum pudor em dizer que nem mesmo da Constituição de 1967, já sob os militares, sobrava parágrafo algum. Nem daquela Constituição, nem dos poderes Legislativo e Judiciário ou dos direitos e garantias individuais. Um discurso do deputado Márcio Moreira Alves contra a repressão ao movimento estudantil e a invasão, pelos militares, da Universidade de Brasília, serviu A Passeata dos Cem Mil: de pretexto para fechar resistência à ditadura dos o Congresso e suspencoturnos der o direito ao habeas corpus, fundamental nas democracias. Os ecos da tenebrosa reunião que soltou as feras da repressão política sobre o povo brasileiro podem ser ouvidos no site www.ims.uol.com.br – é que foi tudo gravado e entregue ao jornalista Elio Gaspari, que doou a fita ao Instituto Moreira Salles. O clima era de terror e valia tudo em nome do objetivo de deter a ameaça comunista representada pela União Soviética e seu satélite mais próximo, a Cuba de Fidel Castro. Como efeito colateral, multiplicaram-se no Brasil as organizações clandestinas de esquerda, e só aumentou o número de jovens incorformados, que optaram pela luta armada para tentar implantar uma revolução socialista. Como queria o guerrilheiro argentino Ernesto Che Guevara, a idéia era fazer ainda “muitos Vietnãs”.
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cérebros brilhantes naquele período. Seria outra hoje em dia”, acredita. Em 1968, Emerich estava no Seminário Presbiteriano de Vitória (ES) e militava na esquerdista AP. Ele participou do histórico congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Ibiúna, no interior paulista – evento realizado clandestinamente, já que a entidade estudantil fora banida pelo regime militar. “Eu nunca havia usado uma arma”, conta Emerich, que acabou sendo designado para, em rodízio, ajudar a fazer a segurança do encontro: “Pela única vez na vida portei uma arma pesada, talvez um fuzil”, recorda. No meio da noite, porém, foi acordado pelos companheiros da AP e retirado às pressas do local. Pela manhã, mais de 200 policiais das forças da repressão cercaram o sítio e prenderam os cerca de mil estudantes da UNE. Depois disso, a entidade radicalizou. “Saí da AP em 1969, quando estava em meu último ano no seminário. Eles queriam que eu largasse tudo e entrasse na luta armada. Eu não era marxista, era um cristão, e jamais faria isso”, declara Emerich. A antropóloga Laurie Miller, de 57 anos, era uma adolescente durante os anos de chumbo do AI-5, mas guarda para sempre as lembranças da comunidade organizada por seu pai, o pastor americano John Lawrence Miller, em Ceilândia. A localidade não passava de uma miserável cidade-satélite no entorno de Brasília. Ele seguiu o caminho da IPU e trabalhou com Jaime Wright. Em Ceilândia, construiu uma igreja de madeira. Laurie guarda cópias de textos do teólogo Richard Shaull e muito material da então nascente Ação Cristã Pró-Gente, voltada a organizar a comunidade local e instruí-la a lutar por seus direitos, em especial a posse da terra. Um dos textos divulgados pela ONG – onde Laurie ainda trabalha – àquela população no início dos anos 70 mostrava em detalhes a correlação entre a Declaração Universal dos Direitos do Homem e muitos versículos da Bíblia. “Eu me lembro de ver o irmão de Jaime Wright, o Paulo, que era perseguido pela ditadura, escondido na casa de um dos presbíteros da igreja. Na época eu não entendia o que estava acontecendo”, diz ela, ainda na mesma congregação. 2 0 0 9
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Um documento que rasgava os outros
Alderi, historiador presbiteriano: “Foi uma época de muita tensão”
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Uma teologia pela revolução
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Enquanto sofria sob ditaduras de extrema direita, em um tempo em que as guerrilhas de esquerda ainda tinham apelo romântico, a América Latina viu nascer a chamada Teologia da Libertação, com foco na revolução política e com uma leitura bíblica centrada na luta de classes. Textos do frade franciscano Leonardo Boff, do dominicano peruano Gustavo Gutiérrez e do teólogo e educador Rubem Alves colocaram de cabeça para baixo os conceitos anticomunistas e influenciaram padres e pastores desencantados com uma visão mística do Reino dos Céus, voltada apenas para o pósmorte. O empolgante Jesus Cristo Libertador, de Boff, virou livro de cabeceira de muita gente. “Não havia uma, mas várias ‘teologias da libertação’”, escreve o bispo anglicano Robinson Cavalcanti no livro Cristianismo e política, da Editora Ultimato. Ele se refere aos muitos autores que tinham em comum um alinhamento político à esquerda, a influência do marxismo e uma interpretação bem liberal das Escrituras, na tentativa de dar uma resposta política à opressão na América Latina. “A Teologia da Libertação na verdade acabou se tornando um elemento complicador na unidade dos cristãos contra a ditadura. Muitos não aprovavam sua heterodoxia e assim não somavam forças para combater o regime”, opina Cavalcanti.
Laurie relata também o estranho atropelamento sofrido em setembro de 1974 pela ex-dirigente da Mocidade Presbiteriana Willie Gammon, filha de missionários norte-americanos, que se dedicava a ajudar o trabalho comunitário. Hospitalizada, Billy, como era conhecida, chegou a telefonar para confortar seus amigos, avisando que estava bem e se já recuperava. Poucos dias depois, estava morta. Guerra suja – O pastor Djalma Torres, de 68 anos, da Igreja Batista Nazareth, de Salvador (BA), classifica o período de vigência do AI-5 como uma época de terror. “O comportamento da Igreja Evangélica durante a ditadura militar foi lamentável. Foi mais de conivência do que de reação. A parcela que reagia, era com silêncio. E uns poucos foram para a clandestinidade, criando movimentos de resistência”, relembra, dizendo ter vivido, por ser alinhado a uma “teologia mais libertadora”, momentos de muita tensão e incerteza. Djalma diz ter acolhido “jovens insatisfeitos com a postura de conivência com o fechamento do Congresso, com a falta de liberdade” e confessa que era constante a sensação de vigilância pelos agentes da ditadura. “Olhando para todo o contexto 40 anos depois, vejo que os grupos que se enfrentaram na Igreja hoje têm muito mais respeito pelas opiniões diferentes”, ressalta. Outro pastor, Jorge Pinheiro dos Santos, da Igreja Batista de Perdizes, em São Paulo, nem era crente na época. Estava
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Para o bispo Robinson, a repressão mudou o cenário protestante nos anos 1960
entre os jovens que resolveram entrar para a guerrilha urbana, com o objetivo de derrubar o governo. Também jornalista, ele escreveu o livro Um Pedaço de Mim, novela de memórias, da Editora Cultural, que narra sua trajetória e o clima de medo vivido pelo país. Para Pinheiro, os que enfrentavam a ditadura – que pela sua violência estaria fadada ao fracasso e um dia iria despencar –, “estavam fazendo história”. Em 1974, assumiu o poder o quarto general-presidente, Ernesto Geisel, substituindo Emílio Garrastazu Médici. O luterano Geisel prometia uma abertura política “lenta, gradual e segura”. No ano seguinte, a enorme repercussão da morte do jornalista comunista Wladimir Herzog nas dependências do prédio do Comando do II Exército, em São Paulo, aumentou a pressão sobre os militares. Nos Estados Unidos, em 1976, o crente batista Jimmy Carter venceria as eleições pelo Partido Democrata, criticando duramente na campanha eleitoral o apoio dos EUA a ditaduras fascistas na América Latina. Eleito, Carter passara a pressionar por abertura política no Cone Sul, onde a Argentina, o Chile, o Paraguai, o Uruguai e o Brasil viviam a chamada Guerra Suja, com a Operação Condor, que saía à caça de militantes de organizações de esquerda. Nesse contexto, em 1978, Geisel deu fim à vigência do AI-5 e teve que segurar os cães raivosos do aparato de segurança do Estado. Era o primeiro passo para a anistia e a volta dos exilados. Mas os militares só deixariam o poder em março de 1985, após o enorme movimento popular por eleições diretas para presidente da República. Identidade e missão – “A Igreja Evangélica cresceu naquele período, mas houve uma ruptura com sua própria história e tradição”, diz o bispo anglicano de Recife (PE) e cientista político Robinson Cavalcanti, lembrando que o antigo “destino manifesto” dos protestantes brasileiros, de trazer transformação social, democracia e desenvolvimento para o país, contrapondo-se ao atraso da Igreja Católica, se perdeu nesse processo. Ele explica que, antes do golpe de 1964, os evangélicos se dividiam em quatro grandes alas: os pentecostais, os carismáticos, os tradicionais e os ecumênicos ou liberais. Para Cavalcanti, com a violenta polarização política logo antes e durante a vigência do regime militar, todos os evangélicos perderam. “Em apenas quatro anos, entre 1964 e 1968, o cenário protestante mudou totalmente”, continua o religioso, de 64 anos. Como resultado, diz, os pentecostais saíram 2 0 0 8
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Anistiados e indenizados
Laurie Miller lembra da igreja montada pelo pai, John, em Ceilândia: uma iniciativa que instruiu a comunidade a lutar por seus direitos 50
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Preso e torturado pelo regime, só neste ano Anivaldo Padilha recebeu indenização
torturado, o leigo Anivaldo Padilha, assim como o pastor americano Fred Morris, recebeu um pedido formal de desculpas da Igreja Metodista do Brasil pela omissão na época. A prisão de Fred, que trabalhava com o arcebispo de Recife, dom Hélder Câmara, teve grande repercussão nos Estados Unidos, em 1975.
fortalecidos, mas alienados, preocupando-se apenas com o Céu, sem projeto político. Os carismáticos – em sua maioria expulsos das igrejas tradicionais – se voltaram à construção de sua própria estrutura institucional e também se alienaram da situação política do país. Os tradicionais se fecharam. “A Confederação Evangélica do Brasil acabou. Houve intervenções nos movimentos de mocidades das denominações históricas, além de autocensura entre batistas, presbiterianos, metodistas e demais grupos”, observa, sublinhando que um documento progressista da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil, pedindo mudanças sociais em 1963, logo sumiu de circulação. “Já a IPB, que tinha sido a primeira denominação a formar quadros do mais alto nível, sofreu com as divisões e se alinhou ao regime militar”. Quanto aos liberais, Cavalcanti avalia que eles também teriam se prejudicado ao adotar um “discurso social correto”, mas com uma “completa perda de ênfase na conversão ou na expansão missionária”, em decorrência de sua visão universalista. “Eles não gastariam latim com a conversão de ninguém”, lamenta o bispo anglicano. Cavalcanti aponta ainda para o surgimento, ao final da ditadura, dos “neo” ou “pseudopentecostais”, representando aí “uma ruptura total com a fé evangélica”. Para o historiador Alderi, refletir sobre os desafios vividos pela geração do AI-5 é importante hoje. Os conflitos da época estavam relacionados a questões básicas a serem respondidas teologicamente pela igreja: identidade e missão. “Quem somos nós e para quê estamos aqui? A que viemos? O compromisso com Deus, com as Escrituras e com a Igreja se relaciona com o mundo e a sociedade. Não há respostas prontas; são perguntas às quais cada nova geração precisa responder”, conclui. 2 0 0 9
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No mês de setembro, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça beneficiou treze religiosos católicos e protestantes, ligados a movimentos ecumênicos de oposição à ditadura militar que perdurou de 1964 a 1985. Em comum, experiências de perseguição, prisão e tortura. Muito criticado por distribuir benefícios considerados elevados a alguns ex-militantes de esquerda que pegaram em armas para derrubar o regime, o governo apenas repete uma experiência que deu certo em outros países: reconhecer os desmandos do Estado, para que não venha um dia a repeti-los. E dessa vez a comissão contemplou gente bem pacífica. O órgão do governo analisou os casos de indenização e reparação de religiosos a pedido da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic), da Conferência dos Religiosos, da Comissão de Justiça e Paz e da Igreja Metodista do Brasil. Além de uma indenização do governo por ter sido preso e
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Comentário Judaico do Novo Testamento fornece elementos para entender a segunda parte da Bíblia sob o contexto cultural de quem a escreveu Comentário Judaico do Novo Testamento David H. Stern 937 páginas Atos
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omentário Judaico do Novo Testamento tem um objetivo claro: fornecer ao leitor mais informações acerca dos assuntos judaicos abordados do Novo Testamento. Não é uma tarefa das mais fáceis – afinal, a segunda parte da Bíblia foi escrita por judeus, no contexto judaico, e descreve amplamente a cultura e o modo de vida na Terra Santa dos primeiros anos da Era Cristã. No entanto, tem abrangência universal, já que destina-se tanto a judeus como a gentios. Num belíssimo e bem elaborado instrumento de estudos, David H. Stern – ele próprio, um judeu messiânico – consegue levar o leitor e novas conclusões sobre os textos neotestamentários, despertando-lhe a consciência e oferecendo novas opções e explicações de uma maneira profunda e esclarecedora. O resultado é empolgante para aqueles que amam e querem conhecer mais o texto sagrado. O diferencial da obra é que, além dos assuntos comumente tratados em obras do gênero, o Comentário Judaico fornece esclarecimentos fundamentando-os no perfil religioso, cultural e teológico, além de assuntos judaicos modernos. Questionamentos sobre a figura e a obra de Jesus (o Yeshua), o Novo Testamento e o próprio Cristianismo, bem como o Judaísmo e as raízes comuns das duas crenças são o pano de fundo da obra. Stern não tenta fazer com que um gentio se torne judeu, e muito menos que um judeu deixe de sê-lo; e sim, trazer um novo entendimento da Palavra de Deus. Jaqueline Rodrigues é professora de Português-Literatura
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Empresa familiar Fam´lia S/A Josué Campanhã 240 páginas Hagnos No mundo corporativo, desenvolvimento de projetos, cálculo de investimentos e estabelecimento de metas são fundamentais para que as empresas alcancem seus objetivos. É o que se chama de plano estratégico. Em Família S/A, Josué Campanhã mostra que entre quatro paredes fazer planos também dá bons resultados, se todos os membros da família se associarem – com a vantagem de que os lucros obtidos ali são para sempre. Graduado em administração e experiente no treinamento de liderança – é diretor de Servindo Pastores e Líderes, a Sepal –, o pastor Campanhã elaborou um manual prático que pode ser aplicado em pequenos grupos ou Classe de Casais nas igrejas como procedimentos para a família cristã.
Conselhos do mestre Meu legado espiritual James Houston 256 páginas Mundo Cristão Talvez o título não dê a idéia exata do conteúdo de Meu legado espiritual. A obra do grande (não há como evitar o adjetivo) James Houston é um guia de conduta cristã, e não exatamente um testamento. E isso Houston tem toda a legitimidade para fazer: apontar o caminho para uma vida cristã no sentido pleno da palavra. Do alto dos seus mais de oitenta anos de vida, esse doutor em teologia mostra novamente que é muito mais um conselheiro do que um acadêmico, alertando para os riscos do relativismo da pós-modernidade contemporânea e insistindo nos antigos e insubstituíveis conteúdos bíblicos.
Sansão moderninho True Warriors – Sansão (revista) Ginn & Caratti 22 páginas Naós Histórias bíblicas no formato de quadrinhos já não são novidade, mas a nova onda é retratar as aventuras dos heróis das Escrituras no tradicional estilo japonês, o mangá. Com atributos diferenciados em sua força, inteligência, caráter, comportamento e talentos, os personagens saltam das páginas da Bíblia e vão conquistando públicos de todas as idades – tanto os aficionados pelo estilo como quem precisa daquele empurrãozinho para a leitura, caso de muitas crianças e adolescentes. A Editora Naós acaba de lançar a série The Warriors, em formato de revista, totalmente feita por artistas brasileiros internacionalmente reconhecidos. A escolha não poderia ser melhor – o 1° número traz a empolgante história de Sansão, o herói hebreu que, com sua força descomunal, triturou milhares de inimigos filisteus. 2 0 0 9
[V deos – Nataniel Gomes]
PELÍCULAS
Fé sem triunfalismo
Igreja Batista de Sherwood lança Prova de fogo, seu segundo filme, com uma história familiar bem mais próxima da realidade
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uem não gosta de um bom seriado de TV? O gênero fez muito sucesso por aqui por volta dos anos 1960-70, com algumas produções que marcaram época e hoje deixam muitos cinqüentões saudosos. Mas algumas produções mais recentes também têm conquistado legiões de fãs e o público mais religioso vai achar muitos pontos em comum entre sua fé e o conteúdo de algumas dessas séries:
Família Soprano
Série criada em 1999 por David Chase e produzida pela HBO. Família Soprano narra a vida de Tony Soprano, um mafioso ítalo-americano de Nova Jersey que procura a ajuda de uma psiquiatra para conseguir lidar com a vida familiar e com os negócios da máfia. O detalhe é que sua mulher é uma cristã devota e fecha os olhos para a realidade, que se choca violentamente com suas convicções. A série durou seis temporadas abordando dilemas éticos e existenciais com bastante humor negro.
Heroes
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Igreja Batista de Sherwood, na Geórgia (EUA) ganhou notoriedade há dois anos, quando, com um orçamento apertadíssimo de apenas 100 mil dólares, produziu o filme Desafiando gigantes. Com elenco formado por membros da igreja, muita disposição e bastante fé, o pessoal da comunidade conseguiu o que parecia impossível, bem de acordo com o roteiro do filme: o longa foi um sucesso de bilheteria e arrecadou mais de US$ 10 milhões só nos States. Até a venda do DVD foi muito além do que se esperava. Bastante apreciado pelos evangélicos por sua mensagem cristã de superar obstáculos em nome de Jesus, o filme tem lá seus méritos, mas para muita gente – o colunista, inclusive –, é meio insosso. Pois agora a Igreja de Sherwood faz sua segunda incursão pela sétima arte com Prova de fogo (Fireproof ), e consegue mostrar amadurecimento. O filme retrata o bombeiro Caleb Holt (Kirk Cameron, de Deixados para trás) como um profissional que cumpre com todas as regras, sendo que uma delas é nunca deixar um companheiro para trás numa situação de perigo. Já em casa, ao lado da mulher Catherine (Erin Bethea), as coisas são bem diferentes. Sempre ausente, ele tem o dissabor de ver o casamento de sete anos perto do fim. Já a caminho do divórcio, Holt é desafiado por seu pai a tentar salvar seu casamento em 40 dias. E é aí que as coisas acontecem. O melhor é que, se no filme anterior ficou a idéia errônea de que experimentar a fé cristã significa ter uma vida maravilhosa e superar todos os obstáculos, o novo filme, Prova de fogo é bem menos triunfalista – e é por isso que o longa, em cartaz em mais de 850 salas nos EUA, tem chance de agradar ao público chamado secular. Para vários críticos americanos, ele é melhor do que o novo filme de Spike Lee (Milagre em Santa Anna) e outros em cartaz com estrelas no elenco como Controle absoluto (com Shia LaBeouf) e Noites de tormenta, com Richard Gere. Além de tudo, o orçamento mais gordo (500 mil dólares) foi um empurrão e tanto na qualidade de Prova de fogo. (Prova de fogo, 2008, EUA, direção de Alex Kendrick, com Kirk Cameron, Erin Bethea, Ken Bevel, Blake Bailey. Distribuição: BVFilm, 122 min)
A série narra a história de pessoas aparentemente comuns que de uma hora para outra descobriram que tinham poderes extraordinários. Em sua terceira temporada, Heroes tem como protagonistas tipos como um jovem que pode voar, um policial que consegue ouvir os pensamentos das pessoas e um artista que tem a capacidade de pintar o futuro, entre outros. Ou seja – é gente como a gente, que precisa aprender a lidar com seus dons para fazer a vida ser melhor.
Roma
Em 52 a.C., o general romano Júlio César derrota seu inimigo Vercingetorix na batalha de Alésia. Sua vitória desequilibra a batalha pelo poder contra o cônsul Pompeu, que representa a luta entre o povo e os patrícios. Este é o pano de fundo de Roma, seriado que retrata o mais poderoso reino de sua época. A luta pelo poder é o pano de fundo da série, que mostra como César tenta transformar a República Romana em um império. Este objetivo, entretanto, somente seria conseguido por seu sobrinho-neto, Otávio Augusto, no ano de 27 a.C. Para ambientar essa transição, a série se baseia na vida de dois legionários, Lúcio Voreno e Tito Pullo, personagens que aparecem no livro 5 dos Comentários das Guerras da Gália. A série retrata ainda o pensamento religioso dos romanos antes da chegada do Cristianismo.
Revelations
O doutor Richard Massey (Bill Pullman), famoso professor da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, tem sua filha assassinada por satanistas e começa uma cruzada em busca de justiça. Para isso, vai ao Chile e seqüestra Isaiah Hadem, o líder da seita satânica. De volta aos Estados Unidos, Hadem é mantido preso até o julgamento. Ao mesmo tempo, em um hospital, uma garota clinicamente morta começa milagrosamente a falar em latim, profetizando. Junto com a freira Josepha Montafiore, eles vão tentar evitar a chegada do Anticristo. Revelations é uma produção de 2005 da rede de TV NBC e exibido em seis episódios de aproximadamente 45 minutos. David Seltzer, autor de A profecia (The Omen, EUA, 1976), assina o roteiro e tem seu nome como chamariz nas sinopses oficiais da série.
Nataniel Gomes é professor e editor
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[Música – Nelson Bomilcar]
PRATELEIRA TENDA DO ENCONTRO Adorar para transformar (DVD)
Tenda do Encontro é um ministério de louvor que tem sua base em Campina Grande, na Paraíba, e une adoração, música e serviço social de maneira coerente. Ligada ao trabalho da Ação Evangélica, que atua no Nordeste há décadas, o grupo está lançando seu DVD Adorar para transformar, gravado no Teatro Municipal da cidade. A ênfase é na urgência da adoração prática, demonstrada no serviço ao próximo em busca das mudanças sociais – e, neste contexto, a música surge como ferramenta de conscientização e mobilização. A produção e coordenação do projeto foram de Gleydice Bernardes e Wóstenes. (www.tendadoencontro.com.br )
GOLGOTHA Anestesia
Danni e Rafaela: em Só pra dizer, belas interpretações
Com linguagem urbana e sonoridade contemporânea, a banda Golgotha surpreende pela ousadia e pelo livre trânsito por variados temas em Anestesia. Gravado em Niterói (RJ), o álbum dá uma bela mostra da competência desse sexteto paranaense. A produção musical é do baixista Nelsinho Rios e a co-produção e direção musical de Marcell Steuernagel (violão e voz). Destaque para as faixas Anestesia, Alvo certo e Via Crucis. (www.golgotha.com.br)
Divulgação
O Quintal e a Vila Só pra dizer, do grupo Quintal do Som, é mais uma mostra do magnífico trabalho artístico cristão desenvolvido pela Vila do Louvor
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Quintal do Som é formado por artistas cristãos mentoreados e treinados na Vila do Louvor, em Piratininga (SP). Só pra dizer, acústico que sensibiliza o coração e celebra a amizade, traz o casal Danni Distler e Rafaela Henriques assinando e cantando a maioria das composições. Belíssimas interpretações e canções de Beto Tavares, idealizador e fundador da Vila, dão corpo e sustentação ao trabalho, que é um verdadeiro memorial de gratidão a Deus. Os amigos do Quintal do Som souberam retratar em música – e com muita emoção – o coração e visão da Vila do Louvor, trabalho pioneiro ligado à agência Jovens com uma Missão (Jocum). Produzido pelo competente guitarrista e produtor Raphael Costa, com William Olivato na parceria, o álbum é um tributo àquele ministério, que ao longo dos anos tem treinado músicos, dançarinos, coreógrafos, compositores e atores para usar seu talento a serviço do Reino de Deus, fazendo da arte um instrumento para anunciar o Evangelho. Se, durante muito tempo, o segmento evangélico foi meio avesso à arte, por ver nela expressões do hedonismo, iniciativas como essa mostram que o belo também é uma magnífica expressão de louvor.
EDUARDO CALIXTO Vimos tua glória
Mahalia Jackson, pioneira do estilo gospel, trouxe para a música a nova roupagem dos spirituals cantados nas igrejas de afro-descendentes americanas. É uma música para se cantar com a voz e a alma – e a boa notícia é que esse estilo tem em Eduardo Calixto um excelente representante. Carioca, com fala e balanço característicos da gente do Rio, ele traz em sua música pitadas inconfundíveis do funk. O artista faz questão de preservar essas características em Vimos tua glória, com produção, arranjos e mixagem assinados pelo excelente Áureo Marquezini. (contatos@eduardocalixto.com)
VALTER JÚNIOR Fragmentos da vida
Fragmentos da vida, sétimo álbum do cantor e compositor Valter Júnior, é mais uma lição de vida e experiência humana diante da soberania do Criador. Mineiro radicado em Brasília, Valter tem um vibrante testemunho de fé diante dos dramas da vida – no seu caso, a perda total da visão em plena juventude, devido a uma crise de hipertensão intracraniana. O episódio o fez readaptar sua vida, e a música teve papel fundamental no processo. E quem ganha com a poesia e a sensibilidade do artista somos nós, seus ouvintes. Grato, Valter! (www.valterjunior.com.br)
Nelson Bomilcar é músico e escritor
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Depois de reaparecer na televisão, agora ligado à Igreja Mundial do Poder de Deus, Ronaldo Didini repudia parte do que acreditou no passado
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Marcos Couto
Nos últimos meses, a notícia de que uma igreja assumiria o con- Tendo peregrinado por igrejas como Universal, Graça e agora a trole de mais um canal da TV brasileira causou burburinho. Tra- Mundial do Poder de Deus – fora o período em que esteve em ta-se da Igreja Mundial do Poder de Deus (IMPD), comandada Portugal, onde montou a dirigiu a Igreja do Caminho –, ele copelo seu apóstolo Valdemiro Santiago, egresso da Igreja Uni- nhece como poucos o mundo do neopentecostalismo. “Não nego versal do Reino de Deus. A denominação assumiu o controle da meu passado, mas amadureci”, diz o religioso. Hoje, Didini é um Rede 21. Um dos grupos neopentecostais com crescidetrator da teologia da prosperidade, que, segundo ele, mento mais rápido no país, a IMPD iniciou as transé um câncer que está consumindo a Igreja brasileira. Entrevista missões disposta a se expandir ainda mais. O slogan “E muitos pastores a defendem abertamente em rede da nova emissora – “Vem pra cá, Brasil” – já sugere o nacional. É o que existe de pior na televisão do país”, caráter do empreendimento. O carro-chefe da programação são critica. O religioso recebeu a reportagem de CRISTIANISMO os cultos, cheios de imagens de exorcismo e curas, promovidos HOJE em sua nova casa no bairro do Morumbi, em São Paulo: por Valdemiro. Na telinha, ele chama as pessoas à plataforma, abraça-as e chora com elas, num ambiente que mistura comoção CRISTIANISMO HOJE – O senhor tornou-se uma referência e alguma histeria. O investimento da IMPD em mídia é manti- para a m´dia evangélica por ter comandado o 25ª Hora, exibido do em sigilo absoluto, mas comenta-se no mercado que chegaria pela Rede Record nos anos 1990. Como foi aquela experiência? RONALDO DIDINI – Foi uma experiência riquíssima, tanto do a 4 milhões de reais mensais. Tamanho investimento vale a pena? Para o pastor Ronaldo ponto de vista religioso como sociológico. Aquela foi a primeira Didini, sim. Quando a Igreja Universal comprou a Record, há vez que pastores evangélicos discutiram abertamente com a sociequase 20 anos, foi ele, na época pastor da denominação de Edir dade todos os problemas do nosso tempo. Quebramos barreiras, Macedo, quem esteve à frente das negociações. Naquela emis- pois deixamos claro que o evangélico é um cidadão como qualquer sora, comandou o 25ª hora, programa que marcou época na ra- outro. Ali, falávamos abertamente sobre qualquer assunto, como sexo e política, coisas então consideradas tabu em nosso meio, sem diodifusão evangélica. Dali, ligou-se à Igreja Internacional da Graça de Deus, comandada pelo missionário Romildo Ribeiro perder o compromisso com os valores da Palavra. Soares, onde colaborou na implantação da Nossa TV e da Rede Internacional de Televisão (RIT). Agora, depois de servir de in- Como o senhor avalia a programação evangélica feita hoje no terlocutor e sacramentar o negócio entre o Grupo Bandeirantes e Brasil? a Mundial, ele é o gestor da Rede 21. Inteligente e bem articula- O que existe de melhor, a meu ver, é a combinação que a Igreja do, Didini apresenta o programa Hora Brasil, exibido diariamen- Mundial do Poder de Deus faz entre proclamação da Palavra e te entre meia-noite e 1h30. “É uma continuação do que fazia no demonstração do poder de Deus. Também gosto de alguns programas que estudam a Bíblia nas madrugadas. Um exemplo são 25ª Hora”, define. Aos 51 anos, casado e pai de duas filhas, Didini considera a os programas de Silas Malafaia naquele horário, onde ele recebe televisão um poderoso instrumento para a evangelização. Sua pastores e gente interessante. Os peixes mais graúdos são os que trajetória chama a atenção não apenas por sua especialidade em estão ligados na madrugada. Quando alguém prega com manTV evangélica, mas também por sua migração denominacional. sidão e de maneira equilibrada nesse horário, em que a pessoa
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“A teologia da prosperidade é demoníaca”
liga a TV porque precisa ouvir a Palavra, não há quem não se quebrante. Com a entrada maciça dos evangélicos na televisão, não há uma “guerra santa” pela audiência?
Não creio. Por mais que o homem fale, quem está no controle da Igreja é o Espírito Santo. Mas podemos fazer uma leitura diferente do que acontece no Brasil. Em 1985, acabou o regime militar. As pessoas esperavam por algo novo, desejavam mudanças, inclusive na esfera espiritual, já que a presença católica era hegemônica. A abertura também trouxe esse novo momento, em que as igrejas passaram a ter liberdade para usar os meios de comunicação. Houve imaturidade, inconsistência? Sim. A sociedade e a Igreja não souberam medir isso. Por outro lado, a liberdade foi também exacerbada. Há dez anos, as crianças estavam dançando na boquinha da garrafa por causa da TV. Hoje, amadurecemos e não se vê mais isso. Acho que o mesmo aconteceu com a Igreja Evangélica em seu crescimento; agora, é preciso colocar os pés no chão. Comenta-se à boca miúda que R.R.Soares paga R$ 5 milhões mensais à Bandeirantes e que Malafaia desembolsa outro tanto. Há informações de que sua igreja teria um investimento em TV estimado em 4 milhões por mês. Essas cifras são reais?
Não acredito que sejam reais, até porque, nesse caso, o mercado seria superinflacionado e não haveria condições de se pagar tanto. O próprio mercado publicitário não teria condições de concorrer com esses valores. Vivo no meio e posso dizer que falam de números muito mais altos que os reais.
Por que o senhor critica tanto a teologia da prosperidade?
Porque ela é demoníaca. Penso que os líderes evangélicos deveriam se unir e dar um basta nesses ensinos. A teologia da prosperidade bateu no fundo do poço e já deveria haver uma conscientização de muitos líderes acerca disso. Todos que optam por esse caminho ficam satisfeitos apenas em ir bem financeiramente, não ter sofrimento de nenhum tipo. Querem ficar independentes, achando que não precisam de mais nada. Os pregadores da prosperidade não têm contato com o povo e não enxergam isso, porque são pobres, cegos, miseráveis e estão nus. O homem não tem que ditar regras a Deus e dizer a ele como e a que horas fazer o milagre. Minha crítica a essa teologia é que ela proclama aquilo que é terreno e não o que é sagrado, sobrenatural. Com o tempo, tal mensagem se desgasta e o resultado está aí. Eu fui missionário em nações muito pobres da África. Por que a teologia da prosperidade não funciona lá? Para responder essa questão, o teólogo da prosperidade não está preparado. Se não funciona lá, ela é antibíblica. Jesus falou que é mais fácil um camelo passar pelo fundo da agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus. Ora, se a teologia da prosperidade fosse bíblica, todos seriam ricos e quase ninguém acabaria salvo. Pregar e acreditar na teologia da prosperidade é como construir um castelo na areia ou fazer um gigante com pés de barro – mais cedo ou mais tarde, tudo cairá.
Os especialistas criticam esse avanço [da m´dia evangélica], mas ele é uma âncora de valores há muito esquecidos e desprestigiados na sociedade
O Hora Brasil tem a mesma proposta do 25ª Hora?
O Hora Brasil funciona como se fosse um termômetro. Obviamente, do 25ª Hora para cá, a sociedade evoluiu muito. Hoje, cerca de 30% da população é evangélica. Eu chamo a sociedade para dialogar sobre assuntos religiosos, médicos, problemas sociais. Estou fazendo jornalismo e já pude observar algo interessante: uma preocupação generalizada com a preservação da família. Pessoas com as mais diferentes linhas de pensamento estão preocupados com o destino das famílias, com seus valores – ao contrário do que a mídia em geral incentiva, que é a falta de compromisso, a infidelidade conjugal, o individualismo e a libertinagem, que tanto marcam nosso tempo. Mas o Brasil não é uma Sodoma ou Gomorra. Isso é resultado do esforço feito ao longo dos anos por homens e mulheres de Deus para pregar o Evangelho, e que levou ao boom dos crentes na mídia. Os especialistas criticam esse avanço, mas ele é uma âncora de valores há muito esquecidos e desprestigiados. Infelizmente, esse avanço tem dois lados: o positivo, do qual já falei, e o negativo, que são os escândalos. Mas Jesus já disse que escândalos viriam. Temos que nos preocupar com os “ais” que os sucederão, para que não sejamos seus causadores. É preciso haver limites. Quais são esses limites?
Fiquei assustado com o que fez o pastor Marcos Feliciano em seu programa. Ao mesmo tempo em que pregava o Evangelho,
ele anunciava terrenos para as pessoas comprarem em prestações, dizendo que Deus abençoaria aquela compra. Isso ultrapassa o limite. Ao mesmo tempo em que se anuncia a salvação, vinculase isso à venda de produtos para receber a bênção de Deus. Lógico que aquele comercial está sendo pago. Feliciano ultrapassou a barreira ética. Para mim, isso é o que existe de mais vulgar na teologia da prosperidade. A igreja precisa de fundos? Sim. Mas de onde vêm? Dos dízimos e ofertas. Apenas eles têm fundamento bíblico. Sem esse pastor perceber, creio que o próprio Deus o fez tropeçar para expor a nudez desses cruéis ensinos. A teologia da prosperidade é um câncer no segmento evangélico.
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Mas durante muito tempo o senhor militou em igrejas propagadoras da teologia da prosperidade... Quem mudou, suas ex-igrejas ou o senhor?
Não mudei o meu pensamento. Foi a obra do Espírito Santo que me amadureceu. Sou muito grato por tudo que recebi na Igreja Universal e na Igreja da Graça. Não tenho nada contra essas instituições e nem contra seus líderes. Minha diferença é doutrinária. Uma coisa é enxergar, e outra é mudar, se for preciso, sair do sistema, quando ele se torna mais poderoso do que a Bíblia. O catolicismo está cheio de exemplos assim. Todos os padres sabem que não é uma bula papal que pode dizer que o líder é infalível ou que Maria subiu ao céu com seu corpo. Mas o sistema Católico Apostólico Romano requer que essa doutrina seja aceita, e muitos a defendem em nome desse sistema. O senhor não teme ser considerado ingrato por seus ex-l´deres?
Como eu disse, nada tenho contra Macedo ou Soares. Tanto, que quando eu saí da Universal, foi como que se perdesse meu chão. 2 0 0 8
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“ A te o l o g ia da pr o s peridade é de m o n í aca ”
A Iurd para mim era mais importante que qualquer outra coisa na vida; eu amava aquele ministério, dava minha vida por ele. Depois, conheci a Igreja da Graça. O missionário Soares me ajudou muito naquela época, pastoreando minha vida por dois anos. Foi um verdadeiro pai, preocupando-se com minha alma, porque eu não estava bem espiritualmente. A teologia da prosperidade me fez um mal tremendo. Continuei caindo e bati no fundo do poço quando abri a igreja lá em Portugal [a Igreja do Caminho, inaugurada por Didini em Lisboa em 2003]. Estava sozinho com minha mulher e duas malas de roupas começando uma igreja na periferia. Então, aprendi que ou dependia de Deus ou o meu ministério ia acabar. Deus me ensinou muito naqueles cinco anos, até me colocar ao lado do apóstolo Valdemiro. O bispo Renato Suhett, que saiu atirando da Universal e até abriu uma igreja onde criticava abertamente o que chamava de “sistema religioso” montado por Edir Macedo, acaba de voltar à Iurd. O senhor já foi chamado para retornar á Universal?
Nunca fui chamado para retornar à Igreja Universal, até porque já disse publicamente que não tenho interesse em regressar. Aqui, na Mundial, é como que se eu tivesse voltado para a Iurd em que comecei nos anos 80, uma igreja viva. Creio que, se o Suhett voltou, sabe o que está fazendo. Mas eu estou em casa agora. Rupturas no seio neopentecostal são comuns. Macedo e Soares começaram juntos na Cruzada do Caminho Eterno, sa´ram e fundaram a Universal, de onde o último desligou-se para fundar a Igreja da Graça. Valdemiro também é oriundo da Universal; o próprio Macedo começou na Nova Vida, de onde também saiu Miguel Ângelo, que dali fundou a Cristo Vive. As justificativas para a dança de cadeiras são sempre semelhantes, como a de divergências teológicas ou mudanças de visão – contudo, as novas igrejas que surgem acabam trazendo muito das denominações de origem, inclusive os aspectos que criticavam. O que acarreta tantas rupturas?
Então, vamos parar de vaidade! Eu, por exemplo, quando assumi a Igreja Internacional da Graça de Deus em Portugal, tornei-me vice-presidente vitalício da denominação. Poderia hoje reivindicar isso, já que nunca renunciei. Mas jamais chegaria lá e tentaria tomar a igreja. O verdadeiro pastor é Jesus. Acredito que se existir essa consciência, haverá menos ramificações. Pode explicar como foi sua adesão à Igreja Mundial?
Sou amicíssimo do apóstolo Valdemiro. Talvez seja uma das pessoas mais chegadas a ele, fora sua família. Mas não vim para cá só pela amizade. Nunca daria certo. Primeiro, reconheci que a Mundial era um movimento de fé muito forte, e depois comecei a observá-la. Fiz quatro viagens para o Brasil e observei claramente o reavivamento bíblico no século 21. Depois veio a fase mais difícil, a de submeter-me à autoridade espiritual dele, sendo seu amigo. Então, peguei a chave da minha igreja e dei na mão dele, dizendo: “Seu trabalho é maior que o meu. Você é mais importante que eu em Portugal”. E vim para ajudá-lo com os dons que Deus me deu. Acredito que estou em uma fase na qual Deus não quer me ensinar mais. É hora de dar frutos, pois ele já investiu muito em mim. O senhor tem salário na igreja?
Não. Tenho funções executivas na Igreja Mundial, mas não sou funcionário, não recebo qualquer benefício financeiro. Então, de onde vem seu sustento?
Sou contratado como jornalista pela Rede Bandeirantes. Pela misericórdia de Deus, eu moro numa boa casa, tenho um bom carro, visto boas roupas; mas nada disso me pertence, tudo é dado pelo Senhor. Por isso, posso exercer com liberdade minha vocação. Aliás, esse foi o motivo por que saí da Graça. Comecei a me sentir um funcionário da igreja, sem aquele algo mais, sem um desafio. Eu tinha o mais alto salário, carro à disposição, liberdade para pregar em qualquer lugar; todos os pastores da Graça me tratavam muito bem, eu era sempre recebido com festa. Mas não me sentia bem como executivo, com tarefas meramente burocráticas dentro de uma organização. Resolvi sair. Hoje, aprendi a lição.
O homem não tem que ditar regras a Deus e dizer a ele como e a que horas fazer o milagre
Uma árvore pode ter muitos ramos, muitos galhos. O importante é observar o que Jesus fala em João 15, e estar alicerçado nos ensinos de Cristo e na prática da verdade. Quando a igreja nasce pela vontade humana, para ser uma maneira de levar a vida, é complicado. Paulo também defende sua autoridade apostólica em Cristo. Por isso, não interessa quem pregou, se foi Paulo, Pedro ou Apolo – o importante é estar firmado em Jesus. No fim das contas, vejo que muitas ramificações poderiam ser evitadas se houvesse menos vaidade humana e mais compromisso com a videira verdadeira que é Jesus. Então, as divisões acontecem porque cada um quer ter seu próprio espaço?
Nem sempre. O que o dedo faz, os olhos não podem fazer. Não importa a função de cada um; importa que Cristo seja o cabeça do corpo. A Igreja Mundial, por exemplo, tem uma função que as outras igrejas mais tradicionais ou adeptas de ensinos não ortodoxos não podem cumprir. Mas no momento em que algum órgão do corpo adoece, todo o organismo passa a sofrer. A Igreja de Cristo hoje precisa se voltar para a mensagem original e entender o recado: o agricultor é o Pai e a videira aqui é Jesus. 58
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Quando estava em Portugal, o senhor se queixava de que os evangélicos brasileiros enfrentavam muitas restrições lá. Essa situação ainda persiste?
Persiste e piora. Digo isso por causa dessa lei xenófoba da imigração. Quase não são liberados vistos para brasileiros. O segundo problema gravíssimo que presenciei lá, quando participei de um congresso da Assembléia de Deus portuguesa, é que não há comunhão entre a Assembléia de Deus brasileira e a de lá. O pastor Joel, filho do José Wellington [presidente da Convenção Geral das Assembléias de Deus do Brasil], esteve presente também. As lideranças portuguesas não aceitam os pastores brasileiros que são enviados para lá. Como o Brasil se tornou um exportador de missionários, maior é a rejeição. No mundo inteiro, especialmente na Europa, igrejas com lideranças brasileiras atraem apenas público brasileiro. As únicas exceções são trabalhos com negros, que são imigrantes também, vindos de lugares como Cabo Verde, Quênia, Jamaica, Nigéria. 2 0 0 9
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Nós podemos mudar o mundo? Chama a atenção a forma como a campanha de Obama utilizou-se da internet
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eleição americana foi tema, há algumas semanas, de uma infinidade de matérias em quase todos os jornais, revistas, canais de televisão, rádios, sites, blogs... enfim, para onde você olhasse, lá estava a figura quase messiânica de Barack Houssein Obama II. Agora, com sua posse no dia 20 de janeiro, prepare-se para mais superexposições da imagem do novo presidente dos Estados Unidos. De todas as análises feitas sobre a “obamamania”, as que mais chamaram a minha atenção não estavam ligadas diretamente ao eleito e suas pretensões como comandante-mor do Ocidente, mas sim à forma com que a sua campanha utilizou-se da internet. Segundo o espanhol Pere-Oriol Costa, especialista em campanhas eleitorais, em entrevista ao jornal La Vanguardia, essa campanha redimensionou o papel da internet nas campanhas eleitorais. Segundo ele, a rede “confirmou sua importância brutal ao amplificar muitas coisas que já estavam inventadas, como arrecadar fundos para a campanha e construir uma poderosa rede de voluntários”. De fato, grande parte dos US$ 660 milhões arrecadados por Obama veio de pequenas contribuições feitas pela rede mundial. Mais do que uma ferramenta captadora de recursos, a grande descoberta foi o poder que a internet tem de mobilizar as pessoas, em especial os jovens, em prol de alguma idéia. Ainda mais, como afirmou Costa, se o conceito de unique selling proposition (a USP, ou “proposta única de venda”) for levado em conta. A USP surgiu no início dos anos 1940, como uma teoria para explicar o padrão existente entre as campanhas publicitárias de sucesso à época. Basicamente, afirmava que a eficácia das campanhas passava por três pontos cruciais: 1 – Cada anúncio publicitário deve trazer uma proposta que demonstre claramente ao consumidor os benefícios que ele obterá ao adquirir determinado produto; 2 – Essa proposta deve trazer um benefício que os concorrentes não podem oferecer; e 3 – A proposta deve ser forte o suficiente para mover milhões de pessoas, ou seja, deve trazer novos consumidores. No caso do Obama, o slogan We can change (“Nós podemos mudar”) era sua proposta diferencial. Outro exemplo é a campanha do energético RedBull, aquele cujo bordão é “RedBull te dá asas..” Mas a internet é mais do que isso, como afirmou o jornalista Ricardo Kotscho: “A campanha de Obama mostrou ao mundo e aos candidatos do futuro a importância da internet em todos os campos das campanhas eleitorais, do dinheiro à propaganda, da mobilização de militantes para os
eventos às respostas rápidas aos ataques dos adversários”. Já Costa lembrou ainda que o papel dos blogs foi fundamental para o resultado da eleição, principalmente quando os blogueiros democratas passaram a questionar Hillary Clinton, candidata que acabou ficando pelo caminho. Ficou claro que só quem ainda acha que as pessoas são as mesmas, que suas carências, fragilidades, etc, não mudaram desde Adão e Eva, não entende que as redes sociais e os blogs são os canais mais eficazes de comunicação nos dias de hoje. Vivemos no chamado Terceiro Entorno, onde as relações não se dão mais no espaço físico (o Primeiro Entorno) ou cultural (o Segundo), mas no chamado ciberespaço. Em seu livro Trendzoom, Abel Reis, o presidente da Agência Click, afirma que, dentre as tendências para o futuro – e nada mais tradicional, nestes tempos de fim de ano, que as indefectíveis listinhas de promessas e reflexões para o futuro – podem ser agrupadas em quatro categorias: recolhimento, ataque, escape e reorganização. Cada uma delas pode ser identificada como um aspecto da evolução dos sentimentos das pessoas e as respostas aos estímulos que a mídia exerce sobre elas. A coluna falará sobre isso numa futura edição, mas vamos nos ater agora à última categoria. A reorganização traz em seu bojo o conceito de degrowth, ou seja, decrescimento; afinal, precisamos desacelerar o ritmo alucinado vivido na sociedade, definido pelos economistas Herman Daly e Serge Latouche como um “vício em crescimento econômico que gera um consumo cada vez menos sustentável”. Dentro dessa tendência de reorganização, os conceitos de simplicidade, aceitação da imagem real (ou do envelhecimento da geração de baby boomers), promoção de marcas cidadãs e, principalmente a colaboração e a recomendação, são fundamentais para se encarar o futuro. Fico imaginando se a Igreja compreendesse essa tendência, especialmente no ciberespaço, onde o desempenho não deve mais ser avaliado pelos números frios de hits, ROI ou número de visitantes, mas sim pela influência que os sites exercem sobre as pessoas – e, conseqüentemente sobre a sociedade. A Igreja não pode esquecer que a mensagem de Cristo é simples: amar a Deus sobre todas as coisas e ao seu próximo como a si mesmo. Cidadania deve fazer parte da ação do cristão em cada um dos entornos e, em tempos de Web 2.0, a colaboração dentro e fora do mundo virtual é imprescindível. Somente assim, nós, como Igreja, poderemos afirmar: We can change the world.
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Whaner Endo é publisher
Os outros seis dias Carlo Carrenho
Votarás no teu próximo como por ti mesmo
Obama só ganhou porque muita gente deixou de pensar apenas em seus próprios interesses
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heguei ao aeroporto do Galeão, no Rio, logo após o segundo turno das últimas eleições municipais, em outubro. Querendo sentir o clima, puxei conversa com o taxista. Perguntei em quem havia votado e, ao me responder, o motorista disse que escolheu o candidato que apoiava as reivindicações da cooperativa de táxis em que ele atua – assim, sua vitória lhe traria benefícios pessoais. Aquele trabalhador não se importava com partidos políticos ou com as plataformas sociais defendidas pelo postulante. Aliás, ele não ligava nem para como as medidas deste candidato afetariam outras esferas de sua vida. Enquanto dirigia, o taxista deixou claro que só uma coisa importava: os benefícios que seu escolhido traria para a cooperativa e seu próprio interesse. O resto que se explodisse. Corta. Devido ao meu trabalho, converso com muitos americanos. Dia desses, um colega de trabalho da outra América, republicano da gema, surpreendeu-me ao declarar que votara no democrata Barack Obama. Surpreso, perguntei se ele mudara de ideologia. A resposta foi negativa, e ele explicou que não poderia votar em John McCain. Não aprofundei muito a conversa, mas ficou claro que aquele eleitor do Partido Republicano achava que Obama seria o melhor candidato para o seu país. Provavelmente, McCain lhe traria mais benefícios pessoais, mas ainda assim seu voto foi para o adversário. A diferença entre as duas posturas é marcante. Infelizmente, tendemos sempre a votar como o taxista brasileiro. Dentro de uma visão mais neoliberal, não haveria nenhum problema em votar pensando apenas nos próprios benefícios; afinal, o candidato que melhor satisfizesse interesses individuais da maioria da população seria o melhor governante para a sociedade em geral. Eu, no entanto, não compro esta idéia. Não acho que a soma dos interesses individuais de uma maioria seja igual ao interesse maior de uma sociedade. Em primeiro lugar, porque esses interesses individuais raramente são compatíveis entre si; e em segundo, porque é muito mais fácil manipular um eleitorado cego pelo próprio egocentrismo do que convencer o eleitor que busca, com clareza altruísta, do melhor para a sociedade. É difícil acreditar que a busca pelos interesses individuais – a competição – gere naturalmente o bem-estar social máximo. Se a competição e busca constante dos interesses próprios fosse de fato a melhor forma de se alcançar o bem geral, então a melhor maneira de evacuar um prédio em chamas seria deixar todo mundo correr para a porta, em um verdadeiro “cada um por si, Deus por todos”. A tragédia
que resultaria de tal evacuação é uma prova de que o pensar coletivo é muitas vezes a melhor saída, sem trocadilho. É por isso que a eleição de Barack Obama me deixou extremamente feliz. Obama só ganhou porque muita gente deixou de pensar apenas em seus próprios interesses e passou a considerar o que era melhor para o todo, para a nação, para a coletividade. Ou talvez os interesses individuais foram contaminados pelo interesse coletivo, fazendo com que os eleitores entendessem que o melhor social era o melhor individual, e não o contrário. Não importa. O que importa é que, como a New Yorker afirmou, “essa eleição foi tão extraordinária de tantas maneiras que seu significado levará anos para ser desdobrado e muito mais para ser entendido”. A mesma revista americana ainda foi mais longe ao afirmar que “a eleição de Obama é uma vitória gigante na longa luta contra algo que uma geração anterior de republicanos chamava de Poder Escravo e seu longo legado de exclusão e ódio”. Este é mais um motivo porque eu “votei em Obama”. O democrata representava a inclusão, a igualdade. Seu discurso quase social-democrata e a visão de negros e brancos abraçados comemorando a vitória no Hyatt Park são a prova inquestionável de que o candidato mais alinhado aos valores cristãos foi o vencedor. É claro que, até agora, tudo ficou no discurso e nas palavras (e que palavras!), mas o próprio Obama reconhece seus limites e se vê como parte de algo maior, de uma coletividade. Em seu discurso da vitória, o presidente eleito lembrou que o caminho será longo. “Nós podemos não chegar lá em um ano, ou mesmo em um mandato; mas, América, eu prometo a vocês, como um povo, nós vamos chegar lá”. Minha esperança é que um dia nós, brasileiros, aprendamos a votar pensando na sociedade como um todo, no coletivo, e que um dia não troquemos nossos votos por pares de sapatos, empregos, ascensão social, eliminação de mendigos ou melhorias econômicas para apenas nossas próprias classes sociais. Minha esperança é que aprendamos a votar como povo pelo povo, como sociedade pela sociedade, e como indivíduos pelo coletivo. Barack é um nome swahili de origem árabe, que significa “bênção”. Os EUA acabaram de eleger sua “bênção”. Já as nossas bênçãos serão eleitas quando praticarmos a determinação de Cristo: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” – ou, melhor dizendo, quando o lema “votarás pelo teu próximo como por ti mesmo” for uma realidade nacional.
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Carlo Carrenho é editor de livros
ÚLTIMAS PALAVRAS Ziel Machado
A voz das urnas
Não podemos esperar nada menos do que isso; que sejam fiés, honestos e diligentes
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s meses de outubro e novembro foram marcados pelo clima da disputa eleitoral. Aqui no Brasil, mais de 120 milhões de pessoas escolheram os prefeitos e vereadores de cada uma das 5.564 cidades do país. Nos Estados Unidos, uma campanha eleitoral como jamais se viu culminou com a escolha do primeiro presidente negro da história do país. Nos dois casos, o povo expressou, por meio do voto, seu desejo de renovação e de correção de rumos na res publica. Definitivamente, eleições sempre são marcadas pela esperança. No caso da americana, marcada por um valor simbólico que desafia os analistas e que ainda vai produzir muito debate, muita literatura e oportunidades para entender os diferentes caminhos que cada sociedade vai trilhando em sua forma de organizar a vida. Se por um lado as urnas expressam uma voz de esperança, não deixa de ser intrigante o fato de que, em nosso idioma, o termo “urna” também possa significar aquele pequeno recipiente onde se depositam as cinzas dos mortos – a chamada urna funerária. Neste caso, onde não houver uma firme convicção de ressurreição, a mensagem que se comunica é de desesperança. Quando olhamos para a história, vemos que muitas vezes os diferentes significados dessa palavra se tornam metáforas para expressar o que se passa na vida social de um povo. Assim, aquilo que era expressão de esperança se transforma numa declaração de morte; o voto ali depositado termina por levar à vida pública alguém que, com sua conduta, se torna uma espécie de agente funerário da esperança coletiva – noutras palavras, alguém que “ganha a vida” com a morte alheia. A história recente do Brasil nos mostra tal processo de mudanças internas ocorridas na Igreja Evangélica com relação à sua participação social e política. Se antes o distanciamento das coisas desta vida era o que os crentes almejavam, hoje existe certo encantamento com as urnas e suas possibilidades. Afinal, entre outras coisas, as urnas permitem transformar mero prestígio interno, junto aos domésticos da fé, em reconhecimento perante a sociedade em geral. Embora recente, esta relação dos evangélicos com o poder – não o espiritual, mas o temporal – tem sido marcada pela mesma ambigüidade que encontramos em outros setores da vida social. Sim, as vozes de nossas urnas também podem expressar esperança ou morte. Fiz parte de uma geração que acreditou que os saltos de qualidade histórica de um povo se dariam simplesmente pela articulação de determinados segmentos sociais organizados, como estudantes, camponeses e trabalhadores urba-
nos. Devo admitir que, àquele tempo, minha antropologia não tomava em conta a dimensão de ambigüidade presente em cada ser humano e de como isso afeta sua vida pessoal e comunitária. Embora ainda seja um crente no potencial da sociedade organizada e um militante na causa social, devo confessar que, em minhas andanças por este mundo, nada tem me impressionado mais do que a integridade daqueles que se ocupam da vida pública. E a integridade é definitivamente um valor revolucionário. Às vezes, criamos umas suspeitas de caráter ideológico por causa da confissão teológica de determinada pessoa, ou fazemos o inverso, suspeitando da teologia do indivíduo por causa de sua opção ideológica. Essas suspeições são simplistas e obscurecem nossas percepção da realidade. O fato é que, nos mais diversos segmentos, envolvendo representantes de diferentes partidos e variadas classes sociais – tanto entre os que se confessam cristãos como aqueles que não partilham da fé em Jesus Cristo –, encontramos gente que pauta sua vida pessoal e pública em sintonia com valores do Reino de Deus, e o resultado disso é uma conduta de integridade. E, toda vez que um líder íntegro se levanta, os mais beneficiados são os pobres. Não vivemos em um mundo perfeito, e nunca teremos um partido político perfeito. Até o retorno de Cristo, nem mesmo a Igreja militante será perfeita; então, o que esperar dos políticos evangélicos eleitos? Vale a pena lembrar de um jovem exilado, que viveu em circunstâncias completamente adversas e que foi conduzido a uma posição de liderança pública em um mundo repleto de contradições. Ele não contou com organizações políticas ideais, nem teve em seus superiores modelos de integridade. Foi levado à força, junto com seu povo, ao exílio. Teve que absorver outra cultura, aprender outra língua, adotar novos costumes e valores e até mudar o próprio nome. Aquele líder enfrentou a ameaça de morte e a morte de frente. Teve que conviver com as tramas e armações políticas palacianas, sofreu a perseguição dos que desviavam o dinheiro público e faziam da bajulação uma moeda política. Daniel, à semelhança dos líderes de hoje, não viveu em um mundo ideal; no entanto, tem assim descrito o seu caráter: “Não puderam achar nele falta alguma, pois ele era fiel; não era desonesto nem negligente” (Daniel 6.4). Este modelo de integridade é que esperamos dos políticos eleitos para o próximo mandato, sobretudo daqueles que se apresentam como evangélicos. Não podemos esperar nada menos do que isso; que sejam fiés, honestos e diligentes. A voz das urnas clama e demanda integridade!
Até o retorno de Cristo, nem mesmo a Igreja militante será perfeita; então, o que esperar dos pol ´ticos evangélicos eleitos?
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Ziel Machado é teólogo e historiador