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verdade com conteúdo evangélico
Abril / Maio 2009 Ano 2, número 10
R E P O R T A G E N S
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14 Homens que ferem
Violência contra a mulher é uma dura realidade brasileira que desafia a Igreja
P o r Tr e i c i S c h w e n g b e r |
22 Por baixo dos panos
Divulgação
Divulgação
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24 Um país em oração
Campanha 40 Dias de Jejum e Oração, que começa em 19 de abril, já mobiliza centenas de igrejas
Por Daniel Machado |
26 Mais do mesmo
P o r M o i s é s F i l h o | Crescimento da Igreja Mundial do Poder de Deus expõe a disputa por fiéis no neopentecostalismo brasileiro
30 Um ao outro ajudou
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Igreja de Willow Creek investe nas parcerias com ministérios locais e promove ações sociais na África
Por Mark Galli |
36 O encontro da Igreja global
P o r J o a n n a B r a n d ã o | Cape Town 2010, o terceiro congresso do Movimento Lausanne, vai discutir a expansão do Reino de Deus no mundo pós-moderno
38 A marca de Cristo
44 divulgação
Quatro meses depois de firmado, tratado entre Brasil e Vaticano só agora chama a atenção da sociedade e desperta críticas
P o r Yu r i N i k o l a i |
P o r Ty l e r W i g g - S t e v e n s o n | A evangelização na era do consumo tem muito do discurso do marketing – mas a Igreja não pode oferecer o Evangelho como produto de mercado
44 O apóstolo da China
P o r C a r l o s Fe r n a n d e s | Um dos principais líderes da Igreja clandestina chinesa, Liu Zhenying, o Irmão Yun, tem uma trajetória marcada pelo sofrimento por amor a Cristo
48 Pesca de arrastão
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Foto de capa: Duard van der Westhuizen
P o r J o a n n a B r a n d ã o | Rede Evangélica Nacional de Ação Social mobiliza ativistas cristãos do Terceiro Setor
56 Lobista do bem
P o r C a r l o s Fe r n a n d e s | À frente do movimento Rio de Paz, o pastor Antônio Carlos Costa diz que a pressão social é uma solução contra a violência urbana
Abril / Maio 2009
S E Ç Õ E S
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C O L U N A S
6 Primeiras palavras
7 Cartas e mensagens
10 Em um ano, Igreja Católica dos EUA gastou US$ 1 bi em indenizações por pedofilia divulgação
N O T Í C I A S ,
8 CH Informa P&R:
Rob Bell
MENTE E CORAÇÃO:
Charles Spurgeon
34 Espiritualidade | E d u a r d o R o s a P e r e i r a
Crise de identidade
50 Reflexão | R i c a r d o A g r e s t e
Entre desertos e palácios
52 CH Cultura
Livros | J a q u e l i n e R o d r i g u e s Música | N e l s o n B o m i l c a r Vídeos | N a t a n i e l G o m e s
arquivo
60 CH Digital | W h a n e r E n d o
Uma mensagem que não volta vazia
10 Alice Cooper faz o bem
62 Os outros seis dias | C a r l o C a r r e n h o
O dia em que nasci como pai
Uma missão pela frente
12 Evidências de Deus pela via matemática
ENTREVISTA
Espiritualidade pelos motivos errados Eugene Peterson fala sobre mentiras e ilusões que destroem a Igreja Salto de fé Tony Blair diz que religião e globalização podem caminhar juntas – em um bom sentido
DESTAQUE
Bono Vox parece profético Estrela do rock e ativista é inspirado pela Bíblia Astros convertidos Roqueiros, como o baterista do Iron Maiden, antes idolatrados por multidões de fãs, agora cultuam a Jesus Cristo
MINISTÉRIO
Pastor provocador Mark Driscoll é realmente um pastor diferenciado. Sua passagem pela Igreja Emergente, sua teologia reformada e seu plano de ter uma grande igreja assusta muita gente
IGREJA
Cr´ticos se retratam Antigos detratores de Watchman Nee e Witness Lee agora endossam ‘Igrejas Locais’
RELIGIÃO
Momento de dar as mãos Rabino Yechiel Eckstein quer que judeus confiem em evangélicos e que evangélicos amem Israel
Divulgação
64 Últimas palavras | A r i o v a l d o R a m o s
Primeiras palavras Marcos simas Editor
Pecado de omissão
Revista Cristianismo Hoje A verdade com conteúdo evangélico www.cristianismohoje.com.br Quem somos Cristianismo Hoje é uma publicação evangélica, nacional e independente, que tem como objetivo informar, encorajar, unir e edificar a Igreja brasileira, comunicando com verdade, isenção e profundidade os fatos ligados ao segmento cristão, bem como o poder transformador do Evangelho a todos os seus leitores
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sta edição de CRISTIANISMO HOJE causou impacto na equipe da redação. E acreditamos que vai incomodar também o leitor. O drama das mulheres agredidas por quem deveria amá-las é daquelas coisas que chocam a todos. Pior ainda é quando se sabe que a violência contra o gênero feminino atinge também famílias cristãs – e a matéria de capa, elaborada pela repórter Treici Schwengber, com colaboração de Valter Gonçalves Jr e Marcos Couto, traz revelações inquietantes para a Igreja. A primeira é de que ela não tem conseguido formular uma resposta à altura da dimensão do problema. A outra é que muito mais mulheres crentes do que se imagina sofrem com a violência de maridos e companheiros. Só numa instituição cristã de apoio, 90% das que procuram ajuda são oriundas de famílias evangélicas.
A revista tem uma parceria com o grupo Christianity Today International, um dos mais importantes grupos de mídia cristã do mundo, com 8 revistas e 30 sites de conteúdo Conselho Editorial Carlo Carrenho • Carlos Buczynski • Eleny Vassão Eude Martins da Silva • Marcelo Augusto Souto Mário Ikeda • Mark Carpenter • Nelson Bomilcar Richard Werner • Ronaldo Lidório • Volney Faustini William Douglas • Ziel Machado Editor Marcos Simas Diretor de redação e jornalista responsável Carlos Fernandes – MTb 17336
O sofrimento dessas mulheres certamente tem muitas causas sociais e psicológicas. Mas não se pode negar que uma compreensão errada da Palavra de Deus, juntamente com um dos pecados mais antigos da humanidade – a necessidade do ser humano de sentir-se superior ao que realmente é –, pode produzir uma distorção enorme dos ensinos bíblicos acerca do amor. Para muitos homens, as admoestações sobre a submissão das mulheres a seus maridos é legitimação para todo tipo de abuso, inclusive os físicos. Nestas circunstâncias, a contrapartida tipificada pela relação de Cristo com sua Igreja – aquela que o fez capaz de entregar a própria vida por ela – é totalmente deixada de lado.
Jornalistas desta edição Daniel Machado • Joanna Brandão Marcos Couto • Mark Galli • Moisés Filho Treici Schwengber • Valter Gonçalves Jr • Yuri Nikolai Colunistas Carlo Carrenho • Nataniel Gomes Nelson Bomilcar • Ricardo Agreste Rubinho Pirola • Whaner Endo Revisora Alzeli Simas Colaboradores desta edição Ariovaldo Ramos • Eduardo Pedreira • Tyler Wigg-Stevenson
Os testemunhos relatados na matéria são realmente fortes e servem de alerta. É bem verdade que a sociedade fornece certo estímulo ao caráter agressivo do sexo masculino como forma de obter conquistas; por outro lado, falta incentivo ao diálogo como forma de contornar conflitos. Contudo, nada, absolutamente nada, justifica a violência, ainda mais se praticada dentro do lar, onde muitas vezes é de difícil identificação, o que incentiva a impunidade.
Arte Oliverartelucas Publicidade publicidade@cristianismohoje.com.br Assinaturas 0800 644 4010 assinaturas@cristianismohoje.com.br Informações e permissões para republicação de artigos faleconosco@cristianismohoje.com.br
A reportagem Homens que ferem fornece elementos para uma discussão consciente do tema. No entender dos especialistas, o simples fato de o assunto estar chamando a atenção da opinião pública brasileira já é um tremendo avanço na busca por soluções. A omissão, no caso, é um equívoco imperdoável – e, no caso da Igreja, um pecado.
Distribuição MR Werner Distribuidora de livros Ltda. CNPJ 06.013.240/0001-07 – IE 07.450.716/001-45 Caixa postal 2351 Brasília, DF CEP 70842-970 Impressão Gráfica Ediouro Tiragem – 20.000 exemplares Cristianismo Hoje é uma publicação bimestral da Msimas Editora Ltda. ISSN 1982-3614
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chei tremendo o modo como a missionária Débora Kornfield vem enfrentando o problema de saúde de sua filha, um tipo de situação que deixa a todos muito sensíveis. Em suas respostas, ela transparece muita sensibilidade, confiança, fé e, acima de tudo, paz, pois a esperança está firme no seu coração. É comovente ver que, em momentos tão delicados de sua vida, Débora jamais deixou de crer. Que Deus a recompense.
Rosiley Nascimento Vaz
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É comovente ver que, em momentos tão delicados de sua vida, Débora jamais deixou de crer
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oi muito edificante a entrevista com a missionária Débora Kornfield [publicada na edição 9]. Lembro-me do testemunho que ela deu, anos atrás, junto com seu marido, David, sobre a enfermidade da filha. Mesmo não os conhecendo pessoalmente, passei a amar esta família e os terei em minhas orações. Que Deus continue abençoando os Kornfield, e que muitas pessoas sejam alcançadas por seu testemunho de fé e fidelidade.
Lucy de Almeida Pezzolo
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ostei da postura do compositor Régis Danese em relação à cobrança de cachês por cantores evangélicos [sobre reportagem O milagre da multiplicação de CDs, edição 9]. Existem abusos, tanto dos artistas gospel quanto de alguns líderes que querem apenas uma atração a mais para seus cultos. O trabalhador é digno do seu salário; mas, infelizmente, muitos músicos cristãos não conseguem sobreviver com dignidade se não forem tocar, como se diz, “na noite”. Por outro lado, quando existe um ministério, um chamado para servir a Deus e divulgar o Evangelho usando a música como linguagem, é preciso ter sabedoria e discernimento para saber como tratar cada caso.
Aristeu Pires
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ou admirador do pastor Ed René Kivitz e já o ouvi falar algumas vezes sobre o céu. Kivitz dá a entender que crê no céu como um lugar – seja lá onde for, como diz –, mas que, acima disso, para ele é mais importante crer no céu como um “estado de ser” na vida com Deus. Como de costume,
sua reflexão foi interessante, mas acho que também aqui ele deveria ter feito uma ressalva sobre a existência do céu propriamente dito – não para ser politicamente correto, mas para evitar que os irmãos, especialmente os novos na fé, fiquem demasiadamente confusos. Crer no céu como um “estado de ser” aqui mesmo neste mundo, enquanto se caminha com Deus, é fundamental; entretanto, eu ainda creio nas palavras de Jesus: “Na casa de meu Pai há muitas moradas” Marco Antônio Correia
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cerca do movimento emergente [mostrado na reportagem Mudança de maré, edição 10] há questões que não querem calar. Uma delas é: o movimento emergente se origina em Jesus Cristo ou adapta a figura do Senhor ao que julga ser a realidade presente? É Igreja que se abre para o mundo, justificando a atitude de dar resposta necessária (coisa que originou também na noção de que política só se faz de mãos sujas), pelo modismo advindo da insatisfação, ou pelo entender sutil de que a época é que comanda o Evangelho? Tomara que não, mesmo. No fim das contas, o movimento pode ser só uma liberdade cosmética e vazia, levantando a bandeira de um cristianismo diferente para poder se acomodar ao mundo.
Angelo Davi
Por necessidade de clareza e em função do espaço disponível, CRISTIANISMO HOJE reserva-se o direito de editar as cartas que recebe, adaptando sua linguagem ou suprimindo texto. Todas as mensagens foram recebidas via portal www.cristianismohoje.com.br
CONTATO COM CH Redação da revista
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Leia Também
» Fé faz bem ao casamento 9 » A fé do cristão Alice Cooper 10 » Assembleia de Deus decide seus rumos 13
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[ R e l i g i ão ]
Em socorro dos dalits
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Entidades ecumênicas reivindicam engajamento da Igreja mundial contra injustiças do sistema de castas indiano A novela Caminho das Índias, da Rede Globo, está revelando a milhões de brasileiros alguns costumes da cultura indiana. Um deles é a divisão da sociedade por castas, rígida segregação baseada em princípios do hinduísmo. Mas, muito além de amores proibidos como o dos personagens Maya ( Juliana Paes) e Bahuan (Márcio Garcia), o sistema social é responsável pela condenação de mais de 250 milhões de pessoas – um quarto da população indiana – a uma existência de miséria e desesperança. Eles são os dalits, ou intocáveis, os quais, acredita-se, devem pagar com sofrimentos nesta vida os erros de existências anteriores. Visando a despertar a consciência internacional
contra esta injustiça, o Conselho Mundial de Igrejas (WCC, na sigla em inglês) e a Federação Luterana Mundial realizaram, no fim de março, a Conferência sobre Justiça Ecumênica Global para os Dalits, em Bangcoc, na Tailândia. O encontro ecumênico convidou igrejas de todo o mundo a assumir o desafio dalit, que os governos mundiais não têm sido capazes de encarar. “O sofrimento e a injustiça vivida por milhões de indivíduos e comunidades dalit é um desafio para a credibilidade das igrejas, confissões de fé na Índia e em todo o mundo”, frisou o reverendo Deenabandhu Manchala, que lidera o Programa para a Equidade e Inclusão das Comunidades do WCC. Segundo as estatísticas, cerca de 16 milhões de indianos dalits são cristãos. “A chamada intocabilidade e a discriminação baseada em castas são uma contradição direta em relação à dádiva dada por Deus, que é a dignidade de cada ser humano”, denuncia o secretário-geral adjunto da Federação Luterana, Chandran Paul Martin.
Americanos creem menos Pesquisa mostra que diminuiu proporção de cristãos na população dos EUA Vistos aos olhos do mundo como uma nação onde a religião exerce forte influência, os Estados Unidos têm presenciado, dentro de suas fronteiras, a um esfriamento da fé. O número de americanos que se dizem agnósticos dobrou nas duas últimas décadas. Isso não é tudo: de acordo com o estudo American Religious Identification Survey, realizado junto a 54 mil adultos em 2008 pela Universidade Trinity College, de Connecticut, 76% dos entrevistados se disseram cristãos – contra 86% que fizeram a mesma afirmação em pesquisa semelhante, realizada em 1990. O sentimento religioso também regride em termos totais, com 15% dos americanos afirmando “não se reconhecer” em nenhuma religião. [ P o l í t i ca ]
Novo uso para verbas federais Obama reestrutura Escritório Religioso da Casa Branca O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tem dado demonstrações claras de que sua relação com os grupos protestantes será bem diferente daquela adotada no governo do antecessor, o republicano George W.Bush. Uma das mudanças foi no Escritório da Casa Branca de Iniciativas Comunitárias e Baseadas na Fé, criado por Bush. O órgão foi rebatizado como Escritório da Casa Branca de Parcerias de Vizinhança e Baseadas na Fé e Obama determinou
Voluntária cristã atende indiana dalit: CMI e Federação Luterana estão empenhadas na luta contra a segregação social 8
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Fé faz bem ao casamento Estudo mostra que religiosidade é fator de proteção contra adultério Um estudo que acaba de ser divulgado nos Estados Unidos confirma cientificamente o que muita gente já sabia: a religiosidade faz bem ao casamento. Pesquisadores da Universidade do Colorado analisaram o perfil social e familiar de 2,3 mil pessoas casadas para identificar fatores que predispõem ao adultério. E a fé de um dos cônjuges, ou dos dois, serve como fator de proteção contra as escapadas. Ao que parece, as restrições religiosas, assim como a noção de que a infidelidade tem um caráter pecaminoso, resultam em casais mais fiéis. A pesquisa não fez distinção entre o credo dos voluntários, mas de modo geral, todos os que têm vivência religiosa – como o hábito de frequentar cultos e orar – mostraram-se bem mais zelosos pela manutenção do casamento.
Se eu quiser falar com Deus Artista holandês lança serviço de chamadas por celular para o Todo-Poderoso O artista plástico holandês Johan van der Dong acaba de lançar o serviço
de Discagem Direta para Deus. Ele divulgou uma linha de telefone cujo assinante titular é ninguém menos que o Todo-Poderoso. Quem quiser falar com o celular do Senhor deve apenas discar o número 06-44244901. Claro que tudo não passa de brincadeira e uma maneira de chamar a atenção para o trabalho de Dong – mesmo assim, segundo a agência de notícias holandesa ANP, o número está recebendo um “mar de chamadas”. O artista diz que escolheu um número de celular porque se encaixa com a idéia cristã de que Deus está sempre disponível a quem acredita nele. Dong já teve grande sucesso com outro projeto parecido, pelo qual os holandeses podiam enviar uma carta para Deus através de uma caixa postal. Os correios da Holanda tiveram muito trabalho, mas, ao que se sabe, o destinatário não respondeu a ninguém.
Monges de fim de semana
(cerca de R$ 235), os hóspedes são alojados em quartos dos mais simples, com apenas uma cama, um crucifixo e uma Bíblia, e são submetidos a uma rotina que inclui orações, estudo e muita meditação. O programa é aberto a homens e mulheres – mas os grupos são separados por sexo, evidentemente. O chamado “Fim-de-semana de teste monástico” foi criado para atrair pessoas que queiram conhecer a vida de obediência, disciplina, pobreza e castidade que o sacerdócio oferece, diante da vertiginosa queda de vocações religiosas no Reino Unido. Uma das instituições mais procuradas é o majestoso mosteiro Worth Abbey, na cidade de West Sussex. A alvorada é por volta das 6h e as refeições, embora fartas, devem ser feitas em absoluto silêncio. Quem gostar pode inscreverse no Compass Project, um pacote de nove fins de semanas consecutivos no mosteiro.
“Homossexualidade é pecado”
Mosteiros britânicos abrem portas para turismo inusitado Uma forma diferente de fazer turismo está surgindo na Grã-Bretanha. Além das atrações clássicas do Reino Unido, como o Big Ben, o Palácio de Buckinghan e o charme da Família Real, agora os visitantes podem experimentar a sobriedade e a quietude da vida monástica passando um fim de semana dentro de um... convento. Em troca de doações de até 70 libras
Para 84% dos brasileiros, Deus criou homem e mulher com papel sexual definido
Uma pesquisa sobre sexualidade mostrou que 58% dos brasileiros consideram o homossexualismo “um pecado” contra as leis de Deus. O estudo foi realizado pela Fundação Perseu Abramo e pela organização alemã Rosa Luxemburgo Stiftung, que realizaram 2 mil entrevistas nas cinco regiões do país. Mas para 29% das pessoas ouvidas, o comportamento homossexual é uma “doença a ser tratada”. Além da ideia de pecado, o estudo revelou que 84% dos brasileiros concordam plenamente com a tese de que homem e mulher foram criados por Deus para “cumprir sua função sexual”, ou seja, manter relacionamentos héteros, capazes de Turistas posam diante do mosteiro Worth Abbey: gerar filhos. fim de semana na clausura a b r i l
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Arquivo
a inserção de uma cláusula no estatuto da entidade, estabelecendo que o uso de verbas federais por organizações religiosas seja “compatível com a Constituição”. Entre suas atribuições, o órgão presta assessoria ao chefe de Estado em assuntos domésticos e internacionais relacionados ao segmento religioso. De acordo com o presidente, o órgão, agora dirigido pelo pastor pentecostal Joshua DuBois, de 26 anos, não vai favorecer nenhum grupo religioso. “Não podemos perder de vista a linha divisória entre a Igreja e o Estado”, diz Obama. Durante a administração Bush (2001-2008), o escritório recebeu inúmeras críticas por conta de favorecimentos a entidades protestantes fundamentalistas. “Não se pode usar dinheiro federal para fazer proselitismo”, diz o presidente.
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[ J u s t i ça ]
[ Gente ]
O relatório da vergonha
Alice Cooper faz o bem
Conferência Episcopal dos EUA divulga dimensão dos crimes sexuais cometidos por padres
Roqueiro que já foi visto como encarnação do demo monta entidade cristã para atender viciados Nos anos 1970, ele causava arrepios com suas performances nos palcos. Ostentando adereços satânicos e pesada maquiagem, soltava a voz rascante enquanto encenava enforcamentos, manipulava serpentes e derramava muito sangue cenográfico. Mas agora o cantor Alice Cooper, outrora conhecido como o Príncipe das Trevas, está muito mais comportado – e fazendo boas obras, ainda por cima. O artista americano de 61 anos está empenhado na criação de um centro cristão para jovens em situação de risco em Phoenix, no Arizona (EUA). A intenção de Cooper, que já levantou US$ 2 milhões dos US$ 7 milhões necessários, é criar um lugar onde adolescentes possam fugir das drogas. “Se a gente puder levá-los a largar o vício do crack e se apaixonar pela guitarra, isso vai mudar suas vidas”, diz o músico. O centro vai incluir um estúdio de gravação, sala de concertos e café com palco para apresentações, e suas atividades terão a mensagem cristã como base. Cooper, cujo nome verdadeiro é Vincent Damon Furnier, é filho de um pastor, mas abandonou a fé na juventude, passando a levar uma vida inteiramente desregrada. “Eu bebia tanto que acordava vomitando sangue”, lembra. “Estava seguindo o mesmo caminho de Jimmy Hendrix e Jim Morrison”, compara, referindo-se a outros astros do rock. Há cerca de 20 anos, garante, deu uma guinada na vida e aproximou-se de Cristo. Agora, Cooper é um coroa cabeludo que se divide entre a música, a fé e a paixão pelo golfe.
Arquivo
Divulgação
Sacerdotes católicos americanos: escândalos de pedofilia drenaram 1 bilhão de reais da Igreja nos EUA só no ano passado Somente no ano de 2008, a Igreja Católica nos Estados Unidos desembolsou mais de US$ 400 milhões (algo perto de 1 bilhão de reais) devido ao problema dos padres pedófilos – sacerdotes que cometem abuso sexual contra menores. Quase tudo foi destinado a cobrir indenizações determinadas pela Justiça a vítimas e suas famílias ou para compor acordos com elas. A informação consta de relatório divulgado mês passado pela Conferência Episcopal americana. Cerca de 500 pessoas receberam o dinheiro no ano passado. A Igreja destinou ainda US$ 22 milhões (cerca de 55 milhões de reais) em tratamentos médicos e psicológicos para as vítimas. A maioria dos casos que desencadearam as indenizações ocorreu nas décadas de 1960 e 70, segundo o relatório. De acordo com as estatísticas, pelo menos uma a cada cinco vítimas tinha menos de 10 anos quando sofreu o abuso. Muitos dos religiosos apontados como agressores já morreram ou não exercem mais o sacerdócio. 10
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O roqueiro americano Alice Cooper: antes demon´aco, agora um cristão engajado |
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Christianity Today International
“Pregação é uma arte” Rob Bell é mais que um pastor da nova geração: é uma figuraça. Fundador da Igreja B´blica de Mars Hill, em Grand Rapids, Michigan, ele usa elementos inusitados em suas pregações, como um celular que deixa tocando em pleno sermão. Ou então apela para o bizarro, como quando levou uma cabra – isso mesmo, uma cabra – para o púlpito. Autor do livro Jesus Wants to Save Christians (“Jesus quer salvar os cristãos”), Bell, de 38 anos, fala em arte, experimentalismo e ruptura com a mesma desenvoltura com que discorre sobre justificação, Trindade e salvação. Seus ensinamentos são uma mistura de imagens, histórias pessoais e exegeses, além de algumas perspectivas provavelmente inéditas nas igrejas. A mensagem, entretanto, é ortodoxa, b´blica e bem informada pela história. O pacote inteiro, Bell diz, é subversivo, como Jesus. Ele conversou com CRISTIANISMO HOJE: CRISTIANISMO HOJE – Por que as imagens são criticadas na pregação de hoje?
ROB BELL – As Escrituras são cheias de imagens. Jesus, por exemplo, disse que o Espírito é como o vento. A mente oriental pensa muito em termos de figuras, enquanto a ocidental trabalha com palavras. Lá, eles pensam, por exemplo: “Jesus é uma rocha”. Do lado de cá do mundo, preferimos mencionar o Senhor em declarações de fé. Pregar é uma forma de arte?
Eu penso que nós temos que recuperar a voz pregadora da poesia profética. Nós temos que recuperar aquele momento quando a pessoa falava “assim diz o Senhor!” e aquilo era a Palavra de Deus, que todo mundo reconhecia. É uma coisa linda. Eu quero recuperar isso como uma forma de arte revolucionária que realmente tem poder para transformar comunidades e culturas. Eu quero ver os poetas, os profetas e os artistas segurando o microfone e dizendo coisas boas sobre Deus. Penso que toda uma forma de arte tem sido perdida e precisa ser recapturada.
Tradução: Sulamita Ricardo
CH Informa
CH Informa
Manifesto pelos ´ndios Agências missionárias evangélicas defendem sua atuação entre povos ind´genas A Associação Missionária Transcultural Brasileira (AMTB) divulgou seu manifesto em defesa da ação cristã nas aldeias indígenas brasileiras. O documento, que vem sendo elaborado desde o ano passado com apoio do Conselho Nacional dos Povos e Líderes Evangélicos Indígenas (Conplei), é uma resposta à crescente oposição, por parte de setores do governo, intelectuais e ONGs, à atividade das missões evangélicas nas áreas indígenas. O manifesto tem o apoio de 32 agências missionárias ligadas à AMTB e de mais de cinquenta denominações. Com o título “Presença e ação missionária evangélica entre os povos indígenas do Brasil”, o manifesto descreve quem são as agências missionárias que atuam entre os indígenas, quais os valores que defendem e que tipo de ação têm desenvolvido. O documento também explica as motivações das entidades evangélicas. “Enquanto ONGs humanistas atuam sem dificuldade junto aos povos indígenas em nosso país, sentimo-nos discriminados por termos, na raiz de nossa motivação, o amor de Deus por todo homem”, frisa o manifesto. As missões lembram ainda sua capacidade para colaborar com ações dos órgãos públicos em favor dos povos indígenas: “Infelizmente, a inexistência de convênios formais impede que milhares de atendimentos realizados pelos missionários constem nos relatórios oficiais.”
Orações sintetizadas Site oferece serviço de preces virtuais para quem alega não ter tempo de orar
[ M ercado ]
Avon chama Distribuidora de cosméticos se especializa na venda de livros cristãos A empresa de distribuição Avon tornou-se conhecida por seu exército de vendedoras de porta em porta. A frase “Avon chama” virou uma espécie de sinônimo do comércio direto de cosméticos, a especialidade do grupo. Pois de uns anos para cá a multinacional tem abocanhado 12
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Para quem alega não ter tempo para fazer orações, a novidade pode agradar. Por mensalidades que variam entre 2 e 50 dólares (algo entre R$ 5 e R$ 125 reais), o site Information Age Prayer disponibiliza um serviço que promete fazer diariamente orações selecionadas pelos assinantes. “Mostre a Deus que você o leva a sério”, diz a propaganda do produto. De olho na diversidade religiosa, o site oferece pacotes de preces para católicos, protestantes, judeus, muçulmanos e ainda um quinto grupo, classificado como de “outras religiões”. Cada oração é feita por sintetizadores de voz, enquanto o nome do cliente aparece na tela do computador. “O serviço dá aos usuários a satisfação de saber que suas orações serão sempre feitas, mesmo que eles acordem atrasados ou se esqueçam”, diz o site, que promete doar 10% da taxa de adesão a obras de caridade. Os preços são definidos pelo tamanho das orações – mas quem não tiver muito dinheiro pode contar ainda com promoções especiais.
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[ C i ê nc i a ]
2 mais 2 dá Deus Padre polonês relaciona Criação com teoria da relatividade A comprovação da existência de Deus através de cálculos matemáticos rendeu ao padre polonês Michael Heller, de 72 anos, um dos mais disputados prêmios acadêmicos do mundo. O religioso, que além de teólogo é filósofo e doutor em cosmologia, receberá em maio, em Londres, o Prêmio Templeton, conferido pela fundação homônima de estudos religiosos. O valor do prêmio é de 820 mil libras, equivalentes a R$ 2,9 milhões. Os trabalhos mais recentes de Heller abordam a questão da origem do universo debruçando-se sobre aspectos avançados da teoria geral da relatividade e da mecânica quântica. “Vários processos no universo podem ser caracterizados como uma sucessão de estados, de maneira que o estado anterior é a causa do estado que o sucede”, defende o padre, sugerindo que essa causa original tenha sido processo criativo de Deus.
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fatia considerável de um mercado que nada tem a ver com seus tradicionais batons, perfumes e cremes para a pele: a Avon é hoje uma das maiores distribuidoras de livros do país, superando inclusive grandes redes de livrarias. E boa parte dessas publicações tem temática cristã. Só a Thomas Nelson Brasil (TNB) – braço nacional de uma das principais editoras cristãs dos Estados Unidos – vendeu pela Avon, em apenas um mês, a bagatela de 100 mil exemplares dos títulos Dias melhores virão e Todo dia é um dia especial, ambos do festejado escritor Max Lucado. “Nas livrarias, onde esses dois livros são vendidos desde 2007, foram comercializadas 34 mil unidades. Pela Avon, já foram mais de 320 mil em um período menor”, destaca Carlo Carrenho, publisher da TNB. Hoje, a Avon representa 15% do faturamento mensal da editora no país.
[ Soc i edade ]
Michael Heller, no anúncio do Prêmio Templeton: evidências de Deus pela via matemática
[ V i o l ê nc i a ]
Morta com a B´blia na mão Evangélica é assassinada porque pediu que ladrão lhe devolvesse o livro e um crachá Um crime brutal chocou a comunidade evangélica no Rio de Janeiro no mês passado. A universitária Karla Leal dos Reis foi morta friamente diante de seus pais na noite de 29 de março, quando voltava de um culto na Igreja Assembleia de Deus da Penha, na zona norte da cidade. A família desceu do ônibus e ia caminhando para casa quando foi abordada por três rapazes armados. Após saquearem dinheiro e celulares, a moça pediu que um dos bandidos devolvesse sua Bíblia e o crachá da empresa onde trabalhava. Irritado, um dos assaltantes atendeu o pedido, mas logo depois desferiu um tiro à queima-roupa na cabeça de Karla. Ela já chegou morta ao hospital. A polícia chegou ao bandido três dias depois do crime. Ele é o morador de rua Augusto Cesar de Souza, 27 anos, que estaria sob efeito de crack. No enterro da moça, o clima era de consternação. “Choca muito essa crueldade. O bandido voltou só para atirar porque Karla pediu de volta coisas que eram importantes para ela. Morreu com a Bíblia debaixo do braço”, lamentou o pastor Fábio Borges, amigo da família. Na véspera do crime, ela havia completado 25 anos. [ M i n i s tér i o ]
Pastores em perigo Missão Vida promove congresso sobre os riscos do ministério Pelo quarto ano consecutivo, a Missão Vida realizará, entre os dias 27 e 30 de maio, o seu 4º Congresso de Pastores e Líderes do Centro-Oeste, em Cocalzinho (GO). Com o tema “Pastores em perigo”, o evento vai abordar os riscos que envolvem os líderes evangélicos nos dias de hoje, marcados pelo mau testemunho de diversos dirigentes cristãos. Este ano, o encontro terá a presença dos
pastores Carlos Alberto Bezerra, da Comunidade da Graça (São Paulo), e Jeremias Pereira, da Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte(MG), além de Thierry Kleifin, da França. Com preços bem acessíveis, o congresso é uma oportunidade para pastores e líderes de pequenas igrejas, que não têm condições de arcar com as despesas de participação nos grandes eventos do gênero no eixo Rio-São Paulo. O encontro é uma promoção da Missão Vida, especializada no atendimento e ressocialização de mendigos com sede em Anápolis (GO), trabalho que conta com reconhecimento internacional. Mais informações e inscrições pelo telefone (62) 3318-1985 ou pelo e-mail mvida@mvida.org.br.
Mente e coração
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astor batista, o britânico Charles Haddon Spurgeon (18341892) foi o maior pregador de seu tempo e, para muitos, o maior da história da Igreja. Conhecido como “Príncipe dos pregadores”, chegou a reunir cerca de 24 mil pessoas para ouvi-lo no Crystal Palace, de Londres, no dia 7 de outubro de 1857 – público enorme para a época. Deixou rico acervo literário que inclui obras de cunho devocional, comentários e estudos. Veja o que ele disse:
[ I g reja ]
Assembleia de Deus decide seus rumos
“As jóias de um cristão são as suas aflições” Meditações matinais
”Como esperar que o nosso grande Senhor nos abençoe em nossa ocupação se oprimirmos aqueles que nos servem?”
Maior denominação evangélica do pa´s escolhe seus l´deres agora em abril Os rumos da maior organização religiosa evangélica do Brasil são decididos agora em abril. Entre os dias 20 e 24 deste mês, a Convenção Geral das Assembleias de Deus do Brasil (CGADB) realiza sua 39ª Assembleia Geral Ordinária, em Serra, na Grande Vitória (ES). Na ocasião, será eleita a Mesa Diretora da entidade, que segundo as próprias estatísticas, congrega mais de 10 milhões de fiéis em todo o país. Concorrem à presidência do órgão denominacional o atual presidente, José Wellington Bezerra da Costa – que exerce o cargo desde 1995, após sucessivas reeleições –, que pastoreia a Assembleia de Deus do Belenzinho, em São Paulo; e o pastor Samuel Câmara, da AD de Belém (PA) e dirigente da Rede Boas Novas. A disputa é acompanhada pelo Tribunal Superior Eleitoral, o TSE, a pedido do candidato de oposição. É que na última eleição, em 2007, o grupo de Câmara, derrotado por Wellington, denunciou que a chapa vencedora cometeu irregularidades na disputa, fato negado pelo grupo de Wellington. Os convencionais votarão em urnas eletrônicas, as mesmas utilizadas pelo TSE nas eleições gerais. a b r i l
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Joias de promessas divinas
”Precisamos ser exemplos para o rebanho. Aquele que não pode ser imitado com segurança não deve ser tolerado em um púlpito” Preparado para o combate da fé
”Grande parte da sabedoria humana é mera fachada para encobrir a ausência de piedade vital” Um ministério ideal
Seleção de Carlos Buczynski
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Homens que Passeata contra a violência: segundo estat´sticas, casos aumentaram 300% em três anos
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Treici Schwengber
(Colaboração: Valter Gonçalves Jr)
No dia 22 de março, um domingo, Ana Cláudia Melo da Silva, de 18 anos, foi esfaqueada em um apartamento em São Paulo. Seu filho, de um ano e sete meses, foi levado pelo ex-marido, Janken Evangelista, 29, principal suspeito do crime. Ana se mudou do interior da Bahia para fugir de Janken, que costumava agredila por ciúmes. Mas ele a seguiu até São Paulo e ganhou na Justiça o direito de ver o filho semanalmente. Na terceira visita, a jovem mãe foi assassinada. Esta não é uma história isolada. Casos de agressões
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e homicídios a mulheres se multiplicam no Brasil. E as igrejas evangélicas têm o desafio de ajudar a impedir que situações assim se espalhem ainda mais. Espaço de acolhimento e de tratamento da alma, nem sempre a Igreja, contudo, consegue lançar luz nos quartos escuros e vencer a lógica da violência que recai sobre mulheres de todas as classes sociais. As estatísticas são alarmantes. De acordo com a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e o portal Violência Contra a Mulher (www.violen-
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ciamulher.org.br), em 2007, a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 registrou 205 mil atendimentos, um aumento de 306% em relação a 2006. Do total, dez por cento referem-se a denúncias concretas de violência. Foram 20 mil casos de agressões físicas, psicológicas, morais e sexuais contra mulheres. Houve também 211 tentativas de homicídio e 79 assassinatos. A psicóloga Esly Carvalho, autora do livro Família em Crise Enfrentando problemas no lar cristão, diz que a violência doméstica faz parte dos
segredos bem guardados de muitas famí- em amor”, declara, observanlias cristãs. Para ela, que é especialista em do que a sociedade está muito saúde emocional e costuma tratar os mais exposta à violência. diversos tipos de abusos no ambiente familiar, é preciso romper o silêncio. Esly Dentro de casa – Segundo chama os crentes à responsabilidade. “A levantamento do Banco MunIgreja deve ser a primeira a erguer sua voz dial e do Banco Interamericaprofética e denunciar o terrível segredo no de Desenvolvimento, um da violência doméstica”, afirma. em cada cinco dias de falta ao Evangélica, Esly acredita que trabalho no muno primeiro passo para se comdo é causado pela Sociedade bater a violência doméstica é violência sofrifalar sobre isso. “Quantas vezes você ouviu da pelas mulheres dentro de um sermão sobre violência doméstica?”, suas casas. A estimativa é de indaga. “As pessoas precisam ser orien- que o custo total da agressão tadas”. Ela critica o legalismo religioso, doméstica oscile entre 1,6% e que levaria muitas mulheres a suportarem 2% do PIB de cada país. Dacaladas a violência. Mesmo sem querer dos da Organização Mundial entrar em polêmicas teológicas, Esly ar- de Saúde, publicados em 2005, revelaram gumenta que a violência é, sim, uma ra- que uma em cada seis mulheres no mundo zão bíblica para o divórcio. “A violência é sofre violência doméstica. Ainda segundo uma traição. Quando o homem bate numa a pesquisa, até 60% dos casos envolvendo mulher, ele está traindo os votos matrimo- violência física foram cometidos por mariniais. O Evangelho nos chama a uma vida dos ou companheiros. Em Brasília, um programa do governo do Distrito Federal dá suporte a mulheres e crianças que já não podem ficar em casa, diante da violência de um marido ou companheiro. É a Casa Abrigo, criada em 1993 para acolher aquelas que não tem para onde ir. O refúgio é mantido O folder da campanha “Quebrando o Silênsob sigilo e em constante vigilância. Ali, cio”, da Igreja Adventista do Sétimo Dia, as mulheres estão sob proteção da Justiça enumera uma série de atitudes que podem e recebem apoio jurídico, social e psicoajudar vítimas de violência doméstica e lógico. Evangélica, a agente social Maria seus agressores a encontrar uma solução. Aparecida Pereira dos Santos, 30 anos, Destacando que “o abuso não é da vontatrabalha há cinco anos na instituição e diz de de Deus”, o folheto tem um tópico intique todo dia aprende alguma coisa com tulado O que as igrejas devem fazer para as pessoas que lá chegam. “Vem gente de prevenir a violência doméstica: todas as classes sociais. As que ficam são aquelas que não têm outra alternativa.” 99 Incentivar líderes a falar sobre o proEla conta ainda que chegam muitas irmãs blema; em Cristo. Em sua opinião, esse proble99 Convidar pessoas experientes para ma não é abordado nas igrejas porque as fazer apresentações educativas, inclupessoas não gostam de se expor. “Você sive para crianças; não comenta esse tipo de coisa”, avalia. 99 Participar de campanhas de conscienEla confirma na prática profissional o tização na comunidade; que revelam os analistas: a maioria das 99 Orientar e instruir a congregação somulheres não quer a separação, mas sim bre como proceder em casos assim
Solidariedade na igreja
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A psicóloga Esly: “A Igreja deve erguer sua voz profética e denunciar a violência profética” que o marido mude. “De dez que chegam aqui, oito voltam para os companheiros”, revela. Em março, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), em Washington, nos Estados Unidos, premiou o Laboratório de Análise e Prevenção da Violência, o Laprev, da Universidade Federal de São Carlos (SP), por sua contribuição na criação do serviço de psicoterapia para mulheres vítimas de violência. Ao falar sobre o prêmio, a coordenadora da entidade, Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams, disse que para enfrentar o problema da violência contra a mulher é preciso envolver toda a família, a escola e a comunidade. “O trabalho com o agressor, ainda pouco frequente no Brasil, é fundamental para que ele conheça e possa aplicar outras formas de resolução de conflitos. O acompanhamento psicológico das crianças também é importante porque elas geralmente carregam sequelas da violência intrafamiliar”, aponta. “No Laprev atendemos gratuitamente tanto as vítimas como os agressores. Aqui eles têm possibilidade de tratamento”, diz o psicólogo e doutor em educação Ricar2 0 0 9
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Violência contra a mulher é uma dura realidade brasileira que desafia a Igreja
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Agência Brasil
Divulgação
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Todos os anos, adventistas organizam a campanha mundial “Quebrando o Silêncio”, realizada em várias cidades brasileiras
ou é uma pessoa obsessiva e possessiva”, enumera. Padovani vê no uso de álcool e outras drogas uma possibilidade de potencializar a violência já existente. “É um risco a mais. Mas isso só não explica o fenômeno”. O psicológo diz não atender com frequência pessoas religiosas. “Dependendo do perfil do indivíduo, um suporte religioso pode ser fator de proteção. Isso também depende de fatores pessoais”, analisa o especialista.
do Padovani, de 34 anos, pesquisador do laboratório, que estuda o perfil dos agressores conjugais. Segundo ele, ter sido vítima de maus tratos infantis e ter presenciado o pai agredir a mãe são fatores de risco para tornar-se um agressor, já que a criança aprende que a forma de resolver um conflito é pela violência. “Os agressores apresentam baixa auto-estima, têm uma rede social de apoio restrita, uma dependência emocional extrema da parceira e muita dificuldade de lidar com a frustração e de manejar a raiva”, explica ele, para quem as mulheres precisam ficar atentas a alguns sinais. “Ela deve observar se tem um parceiro que quer controlar tudo o que faz, demonstra ciúme excessivo, não permite que ela tenha amigos
Mobilização – As igrejas estão despertando para o problema. Os adventistas realizam, desde 2002, a campanha mundial “Quebrando o Silêncio”, de educação e prevenção contra a violência doméstica. No quarto sábado de agosto, todas as igrejas da denominação abordam o assunto. Além disso, são realizados atos públicos como caminhadas, seminários e apresentações teatrais para adultos e crianças. Segundo a coordenadora do projeto para a América do Sul, a pedagoga Wiliane Marroni, é preciso reconhecer que a violência contra a mulher existe: “Temos que orientar os pais e os filhos”, diz, lembrando os princípios cristãos de amor e igualdade. O projeto inclui a publicação de vasto material educativo, disponível no site www.quebrandoosilencio.org.br.
Uma lei que protege
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O principal instrumento jurídico de proteção e combate à violência doméstica e familiar contra a mulher no Brasil é a Lei 11.340/06, a Lei Maria da Penha. O nome homenageia a cearense Maria da Penha Maia, vítima de duas tentativas de homicídio perpetradas pelo seu então marido, o professor de economia Marco Antonio Herredia Viveros, pai de suas duas filhas. Paraplégica em decorrência do primeiro ataque, ela lutou por quase 20 anos para colocá-lo na cadeia. Com a demora da Justiça brasileira, Maria da Penha recorreu à Comissão Interamericana dos Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), que, pela primeira vez, acatou denúncia de um crime de violência doméstica. Em 2001, a Comissão responsabilizou o Estado brasileiro por negligência, omissão e tolerância em relação à violência doméstica contra as mulheres. Entre as principais mudanças introduzidas pela lei, está a definição da violência doméstica e familiar contra a mulher
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Já a Igreja Evangélica de Confissão Luterana (IECLB) lançou, há dois anos, a cartilha Temas e conversas – Pelo encontro da paz e superação da violência doméstica, com reflexões e instruções para as comunidades da denominação. A cartilha define a violência contra a mulher como pecado. “Infelizmente, o lar é para muitas mulheres e crianças um lugar mais inseguro do que caminhar numa estrada escura durante a noite”, compara a psicóloga Valburga Schmiedt Streck. “A comunidade cristã é um espaço privilegiado para auxiliar as pessoas a identificar e rever os valores que norteiam as relações de gênero, com vistas a alcançar relações mais amorosas e de maior reciprocidade”, diz o pastor presidente da IECLB, Walter Altmann, quando do lançamento Do material. No mês passado, em artigo publicado no Jornal do Comércio, de Pernambuco, o deão Sérgio Andrade, da Igreja Anglicana da Santíssima Trindade, em Recife, subiu o tom das críticas quanto à atuação das igrejas na prevenção desse tipo de violência. “Ao invés de anunciar o Evangelho comprometido com a libertação e a verdade, reforçamos modelos de subserviência e inferioridade feminina. E ainda utilizamos o nome de Deus em nossas argumentações”, afirmou. Para ele, é preciso “ler a Bíblia com os olhos de Jesus”, observando que “o homem não está acima da mulher, não tem domínio ou propriedade sobre ela, mas se coloca como companheiro”.
V´tima do próprio marido, Maria da Penha Maia virou um s´mbolo na luta contra a impunidade
como qualquer ação ou omissão que cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico, bem como dano moral ou patrimonial. Ela prevê ainda atendimento policial especializado para as vítimas, em delegacias de Atendimento à Mulher, bem como a criação de Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher – uma mudança jurídica, já que, até então, esse tipo de crime era considerado de menor potencial ofensivo. As punições também ficaram mais severas, com o aumento do tempo máximo de prisão em caso de agressão doméstica, que passou de um para três anos.
Braços de mãe
Mulheres vitimadas pela violência encontram abrigo e esperança na Casa de Isabel
Marcos Couto
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“Em geral, as mulheres só vêm aqui quando o copo já está para transbordar.” O diagnóstico é de Sônia Regina Maurelli, pesquisadora do tema violência familiar e fundadora da Casa de Isabel, uma organização não-governamental
localizada no Itaim Paulista, zona leste de São Paulo, tida como uma das regiões mais violentas da cidade. Formada em Direito, com especialização em violência doméstica contra crianças e adolescentes pela Universidade de São
Lágrimas de dor ureira Rosana (nome fictício, Quando fala de sua vida, a cost s citadas nesta reportagem), dida agre como o de todas as mulheres já er o choro. Seu drama começou de 53 anos, não consegue cont sua de rou sepa a pais o divórcio dos aos dois anos de vida, quando os foi um dilema para ela e para pai do to men casa novo O . mãe como gente r alha trab a ada forç era , irmãos. Desde os oito anos a maàs muitas brigas entre o pai e grande. E, em casa, em meio mas Algu . eias corr sas a com gros drasta, acabava sendo espancad as que para tir men a avam forç me vezes, ia parar no hospital. “Eles infância uma Foi s. lada reve em foss surras não maldita”, lembra Rosa-
Paulo, a USP, ela começou a trabalhar há 25 anos na defesa das mulheres, envolvendo-se em diversos movimentos. Após sua conversão ao Evangelho, em 1993, passou a fazer o trabalho com viés cristão. Em 1996, ela fundou a Casa de Isabel, cujo nome, explica, é uma homenagem à mãe de João Batista, o profeta que anunciou a chegada do Messias. “É uma identificação com as mulheres de hoje”, diz ela, que integra a Igreja Unida. Sônia diz que o descaso sofrido pelas mulheres é um motivo para continuar o trabalho. “Quem vem aqui é rotulada como ‘mal-amada’ e um grave
na. As crises nervosas se repetiram ao longo dos anos. Hoje, quando elas acontecem, Rosana fica desacordada por horas em decorrência dos fortes remédios que recebe. Ela lamenta não levar uma vida normal. “Minha família vai comigo à igreja e tento poupar meu marido e três filhos de meus problemas, mas é difícil. Sei que tenho muitas dificuldades para me relacionar e que precisarei de tratamento até o fim da
vida”, resigna-se.
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Mulheres aguardam atendimento na Casa de Isabel: nove em cada dez que procuram instituição vêm de lares cristãos
Fotos de Marcos Couto
(Colaboração: Treici Schwengber)
problema social é empurrado para a frente, sem resolvê-lo”. Mesmo antes de ser crente, ela já trabalhava com aconselhamento e conta que a maioria das mulheres que a procuravam já era de cristãs. Hoje, grande parte das atendidas pela Casa de Isabel é de evangélicas. Embora a instituição seja aberta a todas, Sônia diz que cerca de 90% das mulheres que são atendidas ali são provenientes de lares cristãos. “Já vi casos de homens que batem e
acreditam estar fazendo a vontade de Deus. ‘Bati em você em nome de Jesus’, dizem, garantindo que foi Deus quem mandou, para que a mulher aprenda a ser submissa. Depois vão aos cultos como se nada tivesse acontecido”, conta. “Só que, a cada cinco anos de sofrimentos, elas perdem um ano de vida saudável.” Sônia ainda diz que, apesar do problema estar dentro das igrejas, evita ir aos templos falar sobre o assunto. “Não
Confiança em Deus
Sônia Maurelli, fundadora da entidade, critica os rótulos que mascaram o problema: “Um grave drama social não é enfrentado”
Foram 23 anos de casamento. Mas não de união e amor e, sim, de muita violência, conta Célia, que casou-se com o primeiro namorado, grávida, aos 17 anos.“Ele era um sujeito fantástico, gentil e normal”, lembra. Após o nascimento do filho, veio o primeiro tapa. A situação foi só piorando. “O sexo era quando ele queria e da forma como desejasse. Se não o atendesse, era espancada”, recorda. Por causa dos maus-tratos, sofreu o primeiro surto psicótico. Como diversos familiare s já eram evangélicos, encontrou refúgio na igreja. Estudou a Bíblia, converteu-se e superou aquele mau momento. “Ao conhecer Jesus, aprendi a lidar com a questão de uma maneira diferente”, diz ela. Mas o marido, não. Quando estava grávida do segundo filho, chegou a ser jogada no chão, batendo a barriga. “Estar nos caminhos do Senhor acabou trazendo um peso extra, pois fiquei convencida de que teria que viver com ele até o final da vida”, diz Célia. Há três anos, diante da revolta dos filhos, que apanhavam muito do pai, a situação ficou insustentável. Depois de tanto apanhar – até uma martelada tomou na cabeça e quase morreu – e sem apoio de ninguém , Célia teve um novo surto. Cozinheira profissional, não pode mais trabalha r e passou a viver à base de calmantes. Só encontrou ajuda na Casa de Isabel. Lá recebeu atendimento jurídico e psicológico. Descobriu que, se quisesse viver, deveria se separar. Agora, aos 40 anos, enquanto aguarda audiência para o divórcio, pensa em recomeçar a vida. Porém, sabe que a marca desses 23 anos permanecerá em sua alma. “Sempre que me vê, ele me chama de doida. Mas estou confiando em Deus”, diz ela.
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quero escandalizar. Esse não é o caminho. Mas a Igreja precisa tomar com urgência uma posição. Não dá mais para disfarçar e fazer de conta que não existem problemas familiares gritantes no seu meio, problemas de relacionamento nas famílias, e dizer que as mulheres são mentirosas ou não querem viver em submissão”, analisa. “Muitos pastores de igrejas conservadoras não deixam as mulheres se separarem”, destaca, por sua vez, a psicóloga Roseli Galan Lisboa, que trabalha há sete anos na entidade. Segundo ela, a própria concepção de que existe uma luta no mundo espiritual faz com que muitas crentes demorem a tomar uma posição. “Elas acham que é possível lutar com jejum e tolerância”, explica. Iniciativa premiada – Com 12 unidades, a Casa de Isabel funciona de segunda a sexta, das 8h às 20h, prestando atendimento gratuito a mulheres vítimas de violência, crianças e adolescentes, até mesmo em casos de abuso sexual ou pedofilia. Além de orientação jurídica, há atendimento psicossocial m a i o
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“Preciso de uma nova chance” Aos 46 anos, a agente esco lar Valéria toma 19 comprimidos todos os dias. Membro da Congreg ação Cristã no Brasil, ela é uma vítim a da violência no lar. Na adolescê ncia, era espancada pelo pai, que quando não a fazia desmaiar, tent ava estuprá-la. “Só não cometi suic ídio porque não consegui”, adm ite. Para fugir do tormento, Valéria casou-se ainda adolescente, gráv ida. Mas bastou o filho nascer para o marido, suspeitando de infidelida de, começar a agredi-la. A sogr a apoiava a atitude. “Ela dizia a ele que, em mulher, só não se bate para ficar em pé. Tentei revidar, mas não consegui”. Com a saúde mental abalada, teve depressão pós-parto, transtor no bipolar, diabetes, problema s cardíacos e tremedeira. Func ionária pública, foi afastada do trabalho. Valéria conseguiu forç as para se separar e hoje é apoiada pela Casa de Isabel. Está namorando. “Ainda creio que servir a Deus é algo belo. Não é fácil, mas quero uma nova chance. Preciso”.
A psicóloga Roseli, aconselhando abrigada, diz que muitas crentes acham que jejum e oração, sozinhos, podem ser a solução
Marcas da brutalidade Noiva de um aspirante a pastor, a autônoma Ester, 23 anos, obreira da Igreja Universal, estava feliz. Mas não demorou muito para ela perceber que algo estava errado. Às vésperas do enlace, o rapaz passou a agredí-la psicologicamente, chamando-a de feia, gorda e ignorante. Depois, partiu para a violência física. Segundo ela, em duas oportunidades o namorado a puxou pelos cabelos, bateu, mordeu e pelo corpo. “Ele me chaas atom xingou. Ester ainda tem hem da. Por fim, cuspiu em raça desg , tituta mou de maldita, pros mento. “Não ia perder minha mim”, lembra. Desistiu do casa icta. A carreira eclesiástica salvação por nada”, afirma, conv ao problema. Ester procudo devi do ex-noivo foi interrompida registrou queixa, e também rou a Delegacia da Mulher, onde situação de outras mulheres, a direção da igreja. Diferente da e da Universal, que afastou o ela teve apoio de sua família obramentos da questão. desd rapaz e tem acompanhado os
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e psiquiátrico, tudo feito em parceria com delegacias de mulheres, universidades e Defensoria Pública, com sigilo garantido. Ao todo, são mais de 20 mil atendimentos por mês e consultas agendadas por e-mail ou telefone. No dia 12 de março deste ano, a instituição foi a primeira a ser condecorada com o Prêmio Ruth Cardoso, conferido pelo governo paulista, que homenageia personalidades que desenvolvem trabalhos ligados à cidadania e gênero. Apesar da importância do reconhecimento, Sônia diz que não quer medalhas e, sim, mulheres com dignidade. “Mulher cristã é ser humano. Tem fantasias como qualquer outra e precisa ser respeitada”, sentencia. “Vemos casais em que o marido não aceita beijar a mulher na boca ou que ela use uma camisola. Para ele, isso já é pecado”, protesta. “Em outros casos, o marido diz que a mulher está possuída apenas porque quer se depilar. Isso é um absurdo”. Quem quiser conhecer mais sobre a instituição pode acessar o site www.casadeisabel.org.br
Por baixo dos panos
Quatro meses depois de firmado, tratado entre Brasil e Vaticano só agora chama a atenção da sociedade e desperta críticas
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Lula cumprimenta Bento XVI no Vaticano: encontro em novembro ratificou acordo entre governo brasileiro e a Santa Sé
Yuri Nikolai
Um acordo assinado entre o governo brasileiro e o Vaticano no patrimônio da Igreja e instituições católicas. Representantes de fim do ano passado e que agora tramita no Congresso Nacio- órgãos ligados à Igreja Evangélica já manifestam preocupação. nal está deixando setores da Igreja Evangélica nacional bastan- “A proposta de ensino religioso, nos termos do Artigo 11 do te preocupados. Os detalhes, que começaram a ser acertados acordo, contrapõe o princípio de laicidade do Estado”, aponta o durante a visita do papa Bento XVI ao país, em 2007, estão Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso (Fonaper). Em manifesto, a entidade reclama que o conteúdo do acordo no documento Acordo entre a República Federativa do Brasil e a Santa Sé relativo ao estatuto jurídico da Igreja Católica no Brasil, não passou por um debate público, aberto e transparente sobre as firmado no dia 13 de novembro de 2008, durante visita oficial implicações que poderiam trazer à sociedade brasileira. “O prodo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Estado do Vatica- cesso democrático exige que as questões de interesse público seno. O instrumento leva as assinaturas dos ministros do Exterior jam amplamente debatidas pela sociedade”, lembra o Fonaper. O da Santa Sé, D.Dominique Mamberto, e do Brasil, o chanceler fórum expressa maior preocupação em relação à parte que trata do ensino religioso. No entender do organismo, a menCelso Amorim. Negociado sem um debate mais amção específica ao ensino católico nos currículos escolaplo e sem a divulgação adequada – apesar da comiReligião res contraria a Lei de Diretrizes e Bases da Educação tiva de jornalistas que acompanhava o presidente, as (Lei nº 9.475), que estabelece que o ensino religioso notícias veiculadas sobre o assunto não detalharam aspectos do tratado –, o acordo, em tese, apenas regulamenta o deve ter caráter amplo, baseado nos princípios e valores comuns a funcionamento da Igreja Católica Apostólica Romana em terri- toda as religiões “como forma de exercitar e promover a liberdade tório brasileiro. Mas também pode desencadear interpretações de concepções”. Para o Fonaper, a proposição poderia expressar uma concepção de ensino religioso a serviço das instituições reenviesadas e tendenciosas. Submetido mês passado ao Legislativo na forma da Mensa- ligiosas – no caso, o catolicismo – e não da educação. “Poderia a gem 134/2009, o documento deverá ser apreciado pelas Comis- Igreja Católica transformar tal espaço em aulas de religião, para sões de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN) catequização e doutrinação religiosa?”, indaga o manifesto. Além disso, o status do tratado confere à Igreja Católica uma e pela de Constituição e Justiça e de Cidadania – CCJC. No momento, o acordo aguarda a designação dos relatores res- representatividade que as demais confissões jamais terão, já ponsáveis pelos pareceres em cada Comissão. Com 20 artigos, que é ligada a um Estado estrangeiro. O Colégio Episcopal da ele trata de diversos assuntos, incluindo amenidades como as Igreja Metodista também veio a público manifestar sua contrarelações diplomáticas entre a Santa Sé e o Estado brasileiro e riedade com a iniciativa, em nota assinada pelo seu presidente, o reconhecimento mútuo de títulos e graduações acadêmicas. bispo João Carlos Lopes. Lembrando que o direito à liberdade Mas alguns de seus trechos geram polêmica, como o que trata religiosa é um dos pilares das sociedades democráticas, o órgão do ensino religiosos nas escolas e da natureza e conservação do denominacional denuncia que ele fere preceitos constitucionais
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Patamar diferenciado – “Ratificar o acordo significará o Congresso Nacional alçar a Igreja Católica, por meio de um acordo internacional, a um patamar oficialmente diferenciado das demais religiões”, critica a professora Roseli Fischmann, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ela, uma vez aprovado pelo Legislativo, o texto – que chama de concordata entre um Estado laico, o Brasil, e um teocrático, o Vaticano – passa a integrar o direito brasileiro, “atropelando processos legislativos complexos como os que a ordem constitucional garante, tanto do ponto de vista processual da técnica legislativa, quanto das negociações políticas inerentes à democracia”. A estudiosa lembra que o texto assinado busca justificação baseando-se, de um lado, nos documentos do Concílio Vaticano II e no Código Canônico, o que, no seu entender, pode representar O pastor Walter Altmann, da IECLB, reivindica tratamento semelhante às demais confissões
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Ricardo Stuckert/Presidência da República Divulgação
relativos à separação entre a Igreja e o Estado e apela aos legisladores para que não referendem o acordo.
uma regulamentação da esfera civil baseada em normas religiosas. “A Igreja Católica, como religião, tem direito de escolher a norma que quiser para regulamentar a vida de seus seguidores, mas estes também precisam ver respeitados seus demais direitos como cidadãos brasileiros, sendo que poderão invocá-los quando quiserem, sem restrições ou privilégios.” Outro item polêmico do acordo binacional é o que versa sobre isenções fiscais para rendas e patrimônios de pessoas jurídicas eclesiásticas, mencionadas no artigo 15. É que existe uma grande preocupação sobre o uso da imunidade tributária das receitas das igrejas, e não apenas a Católica. Uma das cláusulas determina que imóveis, documentos e objetos de arte sacra integram o patrimônio cultural brasileiro, e que tanto a Igreja quanto o poder público passam a ser responsáveis pela sua manutenção. Em tese, o dispositivo abre brecha para que recursos públicos sejam investidos na conservação de bens de natureza privada. “Mais que estabelecer o território dos templos católicos como se tivessem imunidade diplomática, o acordo estende seu braço normativo e restritivo de direitos estabelecidos pela Constituição Federal ao conjunto da cidadania brasileira”, insiste Roseli. Apontada pelo Acordo entre a República Federativa do Brasil e a Santa Sé como instância representativa do catolicismo nacional junto ao governo brasileiro, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) defende que seu conteúdo não concede privilégios à Igreja Católica. Em nota divulgada logo após a assinatura do tratado, a CNBB afirma que ele “não concede privilégios à Igreja Católica nem faz nenhuma discriminação com relação às outras confissões religiosas”. A senadora Ada Mello (PTB-AL) também defende a constitucionalidade do tratado. Segundo a parlamentar, ele apenas “formaliza aspectos já vigentes no diaa-dia do país”. Na verdade, o documento firmado entre o Executivo brasileiro e o Estado do Vaticano não foi uma resolução nova. Há alguns anos, a Santa Sé vem trabalhando para fazer com que o maior país católico do mundo firmasse o compromisso. O assunto foi discutido muitas vezes nos últimos anos dentro de vários ministérios em Brasília, visando à formulação do texto. O caráter sigiloso da matéria é que chama a atenção. De forma semelhante, em 2004, um tratado do gênero foi assinado entre o governo de Portugal, outra nação tradicionalmente católica, e o Vaticano. Desde então, uma comissão paritária , com membros nomeados pelas duas partes, tem poder de decisão sobre assuntos nacionais, como o ensino religioso nas escolas públicas. “Na medida em que o acordo contenha direitos e prerrogativas para a Igreja Católica, esperamos que o governo brasileiro os estenda, com naturalidade, às demais confissões, pois tratase de preceito constitucional que não pode ser ferido”, defende o pastor Walter Altmann, presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Em uma carta pastoral, o dirigente avalia a substância do acordo quanto às suas consequências e repercussões em relação à liberdade de culto, ao ensino religioso nas escolas públicas e ao reconhecimento dos ministros religiosos. “São assuntos que dizem respeito não apenas à Igreja Católica, mas também às demais igrejas. Nesse sentido, lamentamos que o acordo tenha sido elaborado, negociado e, por fim, assinado sem que tivesse havido uma troca de idéias e um diálogo com outras confissões religiosas, bem como com a sociedade em geral”, enfatiza a carta.
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Pastores oram pelas ruas de Santo André: campanha iniciada na cidade inspirou a mobilização nacional
Campanha 40 Dias de Jejum e Oração, que começa em 19 de abril, já mobiliza centenas de igrejas
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Daniel Machado
Uma mobilização espiritual de grandes proporções está dré (SP), ele iniciou o movimento lá, em 2006. Em sua tomando corpo no Brasil. Cerca de 300 mil crentes já se primeira edição, os quarenta dias de consagração e intercomprometeram a orar e jejuar simultaneamente entre os cessão se restringiram aos membros de sua congregação. dias 19 de abril e 31 de maio. A iniciativa, denominada 40 Em 2008, mais de 650 igrejas de diversas denominações Dias de Jejum e Oração – Por um novo Brasil, é a maior do já estavam integradas ao projeto, numa grande rede de gênero já intentada no país se forem considerados o núme- fé envolvendo 180 mil pessoas. Agora, é hora de alarro de pessoas e organizações envolvidas, a simultaneidade gar as tendas. “Em 2009, igrejas dos Estados Unidos, da campanha e seu tempo de duração. O período não foi Alemanha, Portugal, Bolívia, Chile, Paraguai e Argenescolhido por acaso. Quarenta dias foi o tempo que Jesus tina também aderiram à campanha”, celebra Queiroz. “A Cristo passou em oração e jejum no deserto, no início de melhor forma de mudar a nação é primeiramente museu ministério terreno. Quarenta também foi o número dando o interior do homem, com busca por consagração de anos que Moisés e o povo de Israel passaram e santidade.” em peregrinação antes de entrar na Terra PromeO movimento de fé tem caráter não só de Brasil tida. Com tanto simbolismo bíblico, o idealizaconsagração, mas também evangelístico. Outra dor do projeto, o pastor batista Edison Queiroz, diretriz do projeto é que, no início da campaestá com as mais altas expectativas. “Vamos orar e jejuar nha, cada participante faça uma lista de, no mínimo, até que as comportas do céu sejam abertas e Deus derrame três, e no máximo, dez nomes pelos quais vai orar e jejuar sobre o Brasil tamanhas bênçãos que o país venha a ser re- durante o período. O objetivo das orações é que se abram conhecido mundialmente como a nação do Senhor Jesus”, oportunidades para que essas pessoas sejam evangelizaempolga-se. das, ganhas para Cristo e discipuladas. “Já pensou no caQueiroz é um entusiasta da missão evangelizadora da ráter multiplicador se cada uma das pessoas convertidas Igreja (ver entrevista no quadro). Foi um dos organizado- através da campanha saírem por aí anunciando a Palavra res do I Congresso Missionário Ibero-Americano, o Co- de Deus?”, comenta o pastor. Ele reconhece que o projeto mibam, realizado em 1987, e presidente, por oito anos, tem muito de sonho e utopia, mas não esmorece na fé: da Cooperação Missionária dos Hispanos da América “O Evangelho tem um poder capaz de mudar o mundo”, Latina (Comhina). Líder da Igreja Batista de Santo An- destaca.
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Um país em oração
O pastor Queiroz enxerga no cenário nacional uma série de fatos que considera resultados da campanha do ano passado. “Oramos pela economia do país e riquezas minerais, como as gigantescas jazidas de petróleo do pré-sal foram descobertas. Clamamos também pela derrocada da corrupção no nosso país e uma sucessão de fatos inéditos começaram a ocorrer, como o desbaratamento de grandes esquemas criminosos que culminaram na prisão e condenação de empresários, magistrados e policiais corruptos”, diz. O lançamento do projeto 40 Dias de Jejum e Oração está previsto para acontecer dia 19 de abril em todas as igrejas participantes. O esforço intercessório termina em 31 de maio, data que, não por coincidência, é considerada o Dia Mundial de Oração. A mobilização conta com parceiros como Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), Ministério de Louvor Diante do Trono, Missão Portas Abertas, Servindo Pastores e Líderes (Sepal), AMME Evangelizar e Ministério Propósitos. Quem quiser saber mais sobre a campanha ou inscrever sua igreja pode acessar o site www.jejum40dias.com.br.
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Esforço intercessório – Apesar das dimensões da campanha, os organizadores estão fazendo de tudo para que haja concordância nos pedidos. Um livro de autoria de Queiroz, contendo 40 devocionais – um para cada dia da mobilização –, numa tiragem de 100 mil exemplares, já está sendo distribuído. O livro inclui pedidos diários de oração por missões, pelo avivamento no país e por quarenta etnias indígenas brasileiras. “Cada dia os participantes clamarão por um tema específico. Essa oração conjunta é muito poderosa”, explica o pastor. No ano passado, foram vendidos 55 mil exemplares, e para 2009, o manual também tem edições em inglês, espanhol e alemão. A publicação também conta com temas semanais e sugestões aos pastores das igrejas participantes, que podem fazer suas pregações alusivas à campanha. Já o jejum poderá ser feito de acordo com as possibilidades pessoais. “Às pessoas impossibilitadas de ficar determinado período sem comer, estamos sugerindo que ao menos orem. A oração é a parte mais importante da campanha”, diz.
“A igreja local é a protagonista das missões”
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Desde que foi ordenado pastor, em 1976, Edison Queiroz está envolvido em desafios evangelísticos. Um dos organizadores do I Congresso Missionário Ibero-Americano, o Comibam (1987), o religioso presidiu, durante oito anos, a Cooperação Missionária dos Hispanos da América Latina (Comhina). Autor de vários livros, sua obra mais conhecida é Igreja local e missões, na qual defende a importância fundamental da igreja local na obra missionária. Agora, seu objetivo é que a campanha de quarenta dias de intercessão, surgida em sua igreja em 2006, se espalhe pelo país e no exterior. Edison Queiroz concedeu a seguinte entrevista a CRISTIANISMO HOJE: CRISTIANISMO HOJE – Quais foram os resultados da campanha de oração em Santo André? EDISON QUEIROZ – Formamos um conselho de pastores que articula estratégias para ganhar o município para Cristo. Uma delas vai mobilizar cerca de 250 igrejas e um verdadeiro exército de Deus numa grande corrente de oração pelas ruas da cidade. Dividimos o mapa de Santo André e cada igreja se responsabilizará por um bairro. Nossa meta é orar em todas as localidades da cidade. Também investiremos numa forte campanha de comunicação. Obra missionária e evangelismo são a mesma coisa? Muitos missiólogos fazem distinção entre missionário e evangelista. Eles defendem que o missionário é quem cruza barreiras geográficas e culturais para anunciar o Evangelho. Mas em Atos 1.8, vemos que a Palavra de Deus deve ser le-
O pastor Queiroz: “A igreja local está na base de qualquer projeto missionário”
vado não só aos confins da Terra, mas também a Jerusalém, Judéia e Samaria – ou, em outras palavras, à nossa cidade, estado e país. Resumindo, os missionários também são os membros da igreja. Qual é o papel da igreja local em missões? Um papel fundamental, de protagonista. É óbvio que as instituições missionárias também são importantes e devem dividir a responsabilidade pela obra, mas tanto a “matéria-prima” das missões – ou seja, as pessoas – como os recursos e as orações para este tipo de trabalho saem das igrejas. Então, elas estão na base de qualquer projeto missionário. E as igrejas estão desempenhando este papel? Infelizmente, não. Nossas igrejas não estão vivendo o Evangelho por falta de visão e acomodação dos pastores. Se existem igrejas, não é normal, por exemplo, haver bêbados e mendigos pelas ruas. Não dá para aceitar isso! Há muita gente se dizendo cristã e evangélica e não vivendo como Jesus. A Igreja brasileira é igual ao Mar do Caribe: grande, mas rasa, tanto intelectual como espiritualmente.
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Mais do mesmo Crescimento da Igreja Mundial do Poder de Deus expõe a disputa por fiéis no neopentecostalismo brasileiro
São seis horas da manhã de um domingo com elas e derrama grossas gotas de suor, e algo anormal acontece na região central prontamente enxutas com uma toalhinha da cidade de São Paulo, geralmente deser- que depois é disputada pelos fiéis. Microta no primeiro dia da semana. Veículos e fone em punho, Valdemiro entrevista pespedestres disputam lugar na Rua Carneiro soas da platéia. Testemunhos de cura de Leão, que abriga a sede da Igreja Mundial câncer, Aids, surdez, miopia se misturam do Poder de Deus (IMPD), a mais nova a relatos de famílias restauradas, filhos que denominação neopentecostal de gran- largaram as drogas e empregos que caíram de porte a surgir no cenário brasileiro. do céu, tudo contado sob forte emoção. Dentro do enorme salão, antes utilizado Tanta efervescência tem feito com que a por uma fábrica e agora chamado Tem- Igreja Mundial cresça e apareça. Nascida plo dos Milagres, cerca de 15 mil pesso- há pouco mais de dez anos, em Sorocaba as parecem hipnotizadas pelo discurso (SP), a denominação já alardeia possuir do homem de meia-idade, negro e alto 500 templos em quase todo o país, além que está sobre o palco. O cenário lembra de representações em Portugal, Espanha, uma mistura de romaria católica, Japão e Moçambique, bem como com fiéis segurando esperançosanos vizinhos Uruguai, Argentina Igreja mente fotos de parentes, carteiras e Colômbia. Não se tem estatísprofissionais e garrafas de água – tica confiável sobre o número de objetos que mais tarde serão ungidos –, e membros, mas os templos surgem aos borarena de boxe, com refletores e câmeras botões pelos centros urbanos, repetindo de tevê iluminando o tablado central. Não o que aconteceu, se pode perder uma cena sequer – afinal, em tempos idos, todo o material gravado vai ao ar nos di- com duas outras versos horários que a igreja ocupa na tevê. gigantes neopenO foco das atenções é Valdemiro Santiago tecostais: a Igreja de Oliveira, 45 anos, o apóstolo da de- Universal do Reinominação. Com inconfundível sotaque no de Deus (Iurd), mineiro – é natural da pequena cidade surgida em 1977, de Palmas, interior de Minas Gerais –, o e a Igreja Internapregador movimenta-se de um lado para o cional da Graça de outro, com bom domínio de cena. Deus, fundada em Entre suas pregações feijão-com-arroz, 1980 como dissiele se define, rindo, como “roceiro” e “co- dência da primeimedor de angu”. Abraça as pessoas, chora ra.
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O avanço da IMPD chama a atenção de especialistas, que já enxergam uma inevitável concorrência. “O crescimento da Igreja Mundial põe em evidência uma feroz disputa por fiéis”, opina o professor Ricardo Bitun, doutor em ciências sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Autor da tese Igreja Mundial do Poder de Deus: Rupturas e continuidades no campo religioso neopentecostal, o especialista diz que o aparecimento da denominação trouxe à tona um controvertido fenômeno entre os evangélicos que materializa aquela máxima de que “nada se cria, tudo se copia”: “Encontrei muitos pastores, não só entre os da Mundial, que imitam os trejeitos de Valdemiro. Falam com o mesIsabel expressa devoção a seu l´der: “O apóstolo é um homem ungido”
Moisés Filho
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Moisés Filho
Dennys Farias/Revista Eclésia
Fiéis aguardam oração com fotos de parentes, garrafas de água e objetos: Igreja Mundial aposta no simbolismo para conquistar seguidores
D i v u l g a ç ã o / Ed i t o r a M u n d o C r i s t ã o Dennys Farias/Revista Eclésia
mo sotaque mineiro, andam pelo púlpito, apertam os fiéis entre os braços”, observa. Além da clonagem de estilo, que se assemelha ao processo que ocorre na Universal – onde os pastores imitam a voz e até os gestos manuais do líder supremo, bispo Edir Macedo –, Valdemiro Santiago tem muito mais a ver com a Iurd. Foi lá que ele se converteu e foi lançado no ministério religioso, pelas mãos do próprio Macedo. Durante 18 anos, militou na Universal, primeiro como pastor, e depois bispo. Foi missionário e ajudou a expandir as fronteiras da denominação na África. “Mochileiros da fé” – O dirigente da IMPD dá muita ênfase ao relato de um salvamento no Oceano Índico, narrado em seu livro O grande livramento. Ele conta que só não se afogou porque foi resgatado por anjos. “A narrativa espetacular, de alguém que foi salvo da morte, fortalece sua imagem de homem de fé e valoriza seu discurso”, observa Bitun, deixando claro que não questiona se a história é verdadeira ou não. O motivo da saída de Valdemiro da Universal teriam sido desentendimentos acerca da nomeação de novos bispos para a cúpula da igreja, processo que o próprio Macedo faz questão de capitanear pessoalmente. Fato é que uma pequena reunião domiciliar com outras dezesseis pessoas, entre as quais a mulher de Valdemiro, Franciléa, e as duas filhas, Rachel e Juliana – mais tarde alçadas aos cargos de, respectivamente, bispa, missionária e ministra de louvor –, logo começou a expandir suas tendas. Um salão alugado aqui, um cinema adaptado ali, e a Mundial foi crescendo, visando à mesma fatia de público que a Universal e a Graça: as classes de C para baixo. “É o que chamo de mochileiros da fé. Há muitos membros egressos da Graça e
da Universal, inclusive pastores e obreiros”, continua Ricardo Bitun, que também é pastor e professor de ciências da religião na Universidade Mackenzie. A disputa por almas entre as três denominações já se faz sentir de maneira intensa. As provocações contra outras igrejas são, de certa forma, incentivadas pelo apóstolo da IMPD. É comum ele entrevistar pessoas que narram suas frustrações em outras igrejas e suas conquistas na Mundial. “Ele diz: ‘Lá não aconteceu, é? Vem pra cá, Brasil, aqui o milagre acontece’. É uma forma de dizer que apenas ali e, não nas concorrentes, está a bênção”, conclui Ricardo Bitun. Não por acaso, “Vem pra cá, Brasil”, é o bordão da programação televisiva da Mundial. Valdemiro se diz perseguido por líderes evangélicos e políticos. Diz que querem fechar suas igrejas e tirá-lo da televisão. Sem mencionar o nome, faz menção a um pregador muito “educadinho”. “Ele diz ser missionário”, provoca o líder da Mundial, numa clara alusão ao fundador e dirigente da Igreja da Graça, Romildo Ribeiro Soares, o R.R.Soares, outro que faz da telinha um púlpito para entrar em milhões de lares pelo Brasil afora (ver quadro). Animosidade – Milagre é o assunto predileto de quem vai à Igreja Mundial do Poder de Deus. A maioria dos fiéis diz ter uma história para contar. “Ele é um homem ungido”, diz Isabel Clementino Ferreira, 52 anos, referindo-se a Valdemiro. Como prova da cura que diz ter recebido, gesticula amplamente os braços. “Tinha tantas dores que não conseguia fazer esses movimentos”, explica. Ao lado, as pessoas assentem com a cabeça. A comerciária Ângela Maria Marques da Silva, 53, chega para a conversa e começa a contar sua história de três anos na Igreja Universal, onde, segundo ela, nunca recebeu “a bênção”. “Aqui, com o apóstolo,
Valdemiro caminha pelo altar, diante das câmeras e com a já famosa toalhinha: comportamento calculado para agradar
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Paulo Romeiro compara a Mundial à segunda onda do pentecostalismo brasileiro, entre os anos 1950 e 60 fui curada de uma hérnia de disco e um mioma no útero. Quando ele chega, dá para sentir uma presença diferente no lugar”, acredita, reverente. A mulher abre sua pequena Bíblia e lê a passagem de Mateus 24, onde Jesus afirma que derrubaria o Templo de Jerusalém e o reconstruiria em três dias, numa alusão à sua morte e ressurreição. “Sabe o que é isso? São os falsos profetas. Vê só a Renascer que desabou. Aqui, é diferente”, diz, com orgulho. A tragédia, ocorrida no dia 18 de janeiro, quando o templo-sede da Igreja Renascer em Cristo, também em São Paulo, veio abaixo, provocou a morte de nove crentes. A animosidade demonstrada pelos membros da Mundial é um eco do que é dito em seu púlpito. Em recente programa de tevê, Valdemiro se queixou que o “pastor educadinho” teria articulado com políticos maranhenses para que ele não pudesse usar o ginásio municipal da capital daquele estado, São Luís, para seus cultos. “Mas foi melhor, fizemos na praça e reunimos muito mais pessoas que caberiam no ginásio”, desdenha. Procurada por CRISTIANISMO HOJE para dar sua versão sobre o acontecido, bem como responder às insinuações do líder da Mundial, a Igreja da Graça não retornou os contatos da reportagem. Da mesma forma, a Igreja Universal, embora tenha solicitado que as perguntas fossem feitas por e-mail, não respondeu questionamentos acerca de suposta evasão de seus fiéis em direção à IMPD. Hierarquicamente subordinado a Valdemiro, o pastor Ronaldo Didini é o homem forte da IMPD. Só que, ao contrário do chefe, que se reconhece simples e
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Pressão pelo dinheiro – O pesquisador Paulo Romeiro, doutor em ciências da religião pela Universidade Metodista e dirigente da Agência de Informações Religiosas (Agir), reconhece que a igreja de Valdemiro tem características que a diferem das organizações similares. “Sua metodologia diverge da praticada por outros líderes de igrejas neopentecostais. A maioria das pessoas que frequentam a Mundial é composta por gente simples, mas que se identifica com seu líder, que senta-se ao lado delas, abraça e chora com seus fiéis”, analisa. “Eu o comparo com o movimento que David Miranda, da Igreja Deus é Amor, e Manoel de Mello, de O Brasil para Cristo, fizeram entre os anos 1950 e 60, época da segunda onda do pentecostalismo brasileiro, baseado nas curas divinas – com a diferença de que está melhor preparado em termos de conhecimento e não enfatiza usos, costumes e doutrinas”, comenta Romeiro, que é pastor da Igreja Cristã da Trindade, na capital paulista. No entanto, o estudioso acha que a Mundial já dá sinais de que logo será mais do mesmo. “O ministério de Valdemiro, assim como outras igrejas, direcionará suas ações pastorais para as necessidades imediatas das pessoas”, prevê. Ele lembra que a Mundial também usa símbolos de fé, como o copo de água, a rosa e o pão abençoado. “Isso é copyright da Universal”, brinca. Autor do livro Teatro, templo e mercado: Organização
Telinha disputada
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Desde que assumiu 22 horas diárias na programação do Canal 21, da Rede Bandeirantes, Valdemiro Santiago, apóstolo da Igreja Mundial do Poder de Deus, evidenciou algo que até então era pouco falado: a guerra pela audiência evangélica na tevê brasileira. Além do Canal 21, a Mundial ocupa espaços na Bandeirantes, na Rede TV! e na Rede Boas Novas. A voracidade pela telinha se explica. Desde a década de setenta, quando televangelistas americanos como Pat Robertson, Rex Humbard e Jimmy Swaggart fizeram sucesso entre os crentes brasileiros, a TV se revelou o melhor espaço para ganhar almas para Cristo e fiéis para as igrejas. O veterano missionário R.R.Soares está no ar desde 1980. Atualmente, a Igreja da Graça tem apostado suas fichas na própria emissora, a Rede Internacional de Televisão (RIT). Com programação diversificada, que inclui cultos, jornalismo, entretenimento, debates e infantis, entre outras atrações, a RIT tem abocanhado fatia grande do público evangélico. A Graça também investe pesado em TV aberta, com diversos horários comprados na Bandeirantes, CNT e Rede TV! Já a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) é dona da Record, a segunda maior rede da televisão brasileira. Embora o projeto de desbancar a Globo não passe de megalomania do bispo Edir Macedo – apesar de alguns triunfos sobre a rival, como a exclusividade na transmissão dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012 –, a Record tem crescido e conquistado cada vez mais telespectadores e publicidade. Na Iurd, a estratégia é adquirir espaços na grade da Record para transmitir cultos e programas apresentados por seus bispos. Além da mídia própria, a igreja também compra horários na Rede TV!.
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O pesquisador Leonildo: “Pressão pelo dinheiro” e marketing de um empreendimento neopentecostal (Editora Vozes), o professor Leonildo Campos, do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, concorda: “De todas as dissidências da Universal, apenas a Igreja da Graça e a Mundial do Poder de Deus ‘deram certo’ nesse complicado processo de clonagem e de reprodução de igrejas e fórmulas semelhantes”, avalia. Na visão do estudioso, o que está em jogo para a Mundial é sua consolidação no mercado religioso brasileiro – no que, a propósito, iguala-se às igrejas que tanto critica. “Esses novos empreendimentos religiosos, ao empregarem a visão de mercado, desenvolvem mecanismos de competição apropriados para tempos de pluralismo e diversidade religiosa na geração de sua própria marca publicitária.” Nesta análise, a Igreja Mundial é apenas mais do mesmo – “No neopentecostalismo, está cada vez mais difícil separar o novo do velho. Na disputa por um lugar ao sol, Valdemiro tem mais é que bater nos demais pentecostais ou evangélicos tradicionais.” Leonildo lembra outro ponto comum entre as denominações dessa linha teológica: a pressão pelo dinheiro, fundamental na manutenção dos enormes aparatos de mídia que montaram. O estudioso estima que o gasto mensal da IMPD com televisão chegue aos 5 milhões de reais mensais, embora o montante e a origem do dinheiro arrecadado sejam guardados sob sigilo absoluto. “A pressão pelo dinheiro já levou a uma monetarização dos cultos em vários grupos neopentecostais. Aqui, o milagre não acontece sem que os pastores, bispos ou apóstolos peçam dinheiro.”
Arquivo pessoal/Marcelo Hamamoto
de pouca instrução, Didini é articulado, preparado e tem extrema vocação empresarial. É ele que está à frente da expansão corporativa da igreja, inclusive dando as cartas quando o assunto é televisão. Com passagem fulgurante pela Universal, onde se destacou como apresentador do extinto programa 25ª Hora, exibido pela Rede Record e que marcou época na TV evangélica brasileira, Didini também passou pela Graça, tendo ajudado a consolidar a igreja de Soares na Europa. Mais tarde, fundou lá a própria denominação, a Igreja do Caminho, mas pouco mais de três anos depois estava de volta ao Brasil. Didini conta que chegou em situação dificílima e que foi Valdemiro quem lhe estendeu a mão. Agora, faz questão de destacar as qualidades da casa nova. “A Mundial representa um movimento autêntico de fé”, afirma. “Nosso culto tem três horas e meia e não se vê o apóstolo pedir mais do que 15 minutos de oferta”, argumenta, numa crítica nada velada à Iurd, cujos cultos promovem verdadeiros leilões de bênçãos. Ele admite que esteve “cego” no passado, em relação à teologia da prosperidade – doutrina que fundamenta a atuação das igrejas neopentecostais e que foi pregada durante anos pelo próprio Didini e por Valdemiro, que agora a definem como “coisa do demônio”.
First published in Christianity Today, copyright © 2009. Used by permission, Christianity Today International
Criança assistida por ministério parceiro de Willow Creek na África: igrejas locais são apoiadas em suas iniciativas
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Igreja de Willow Creek investe nas parcerias como forma de socorrer ministérios e promover crescimento sustentado em comunidades pobres da África 30
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Mark Galli
No momento em que as igrejas ocidentais se debatem em busca de relevância para seus ministérios, parece cada vez mais difícil fazer o dever de casa – ou seja, sair da posição confortável de meramente satisfazer a alma e o gosto de seus membros para realmente impactar a sociedade com o Evangelho de Cristo. Há menos de dois anos, uma das principais representantes do que se convencionou chamar de megaigreja entrou em crise consigo mesma. A Igreja Comunitária de Willow Creek (WCCC, na sigla em inglês), sediada em Chicago, nos EUA, passou pelo dissabor de ver seus dirigentes questionando a própria razão de ser de uma enorme organização de alcance internacional, que envolve mais de 12 mil igrejas associadas em 35 diferentes países. “Parece que algumas atividades em que gastamos milhões de dólares simplesmente não provocaram mudanças na vida das pessoas”, escreveu Greg Hawkins, pastor-executivo da WCCC no livro Reveal: Where Are You? (“Revele: Onde você está?”), obra baseada em pesquisas que causou tremenda polêmica entre os 20 mil membros que se reúnem todos os domingos na majestosa sede da denominação.
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Um ao outro ajudou
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Pois agora Willow Creek tem buscado cada vez mais recursos mas sem criar dependência”. A denominação coessa tal de relevância na mutualidade do Corpo de Cristo. meçou fazendo isso na República Dominicana. Em 2004, E o faz justamente onde sua ação pode representar a dife- Lynne Hybels, mulher do fundador de Willow Creek e rença entre a vida e a morte para milhares de pessoas – em hoje pastor aposentado, Bill Hybels, voltou de uma viagem uma das regiões mais carentes do planeta, bem longe do à África sobrecarregada pelas necessidades que a pandemia brilho da luminosa Chicago. A WCCC vem investindo em de Aids agravou sensivelmente. “Por que nós não estamos parcerias com igrejas africanas para levar a mensagem da fazendo nada?”, perguntou à liderança. “Se nós vamos ser salvação, o socorro e a dignidade a populações de países Igreja, como poderíamos encarar Deus algum dia sem ter como Angola, Zâmbia, Malaui e África do Sul. Na verda- combatido o que está acontecendo na África Subsaariana?” de, o ministério da Igreja de Willow Creek é tão extensiE assim começou o trabalho da Willow na África. vo quanto extraordinário. É extensivo, irônica e Corrigindo – não é um trabalho da Willow, precisamente, porque ignora ONGs multimiliomas sim, o trabalho dos africanos. “E a marca Ministério nárias para trabalhar com congregações locais. é a igreja local”, emenda Beach. Pouco tempo E extraordinário porque, ao invés de buscar sudepois, a WCCC encontrou ministérios sérios porte em recursos tecnológicos, baseia-se na realidade de e comprometidos o bastante, e começou a investir US$ 2 igrejas pequenas e pobres, que nada mais têm a oferecer do milhões por ano na África. Um dos vetores do trabalho que seu conhecimento e disposição. E isso tem sido tudo. são as conferências que a igreja promove na África do Sul, A mudança de filosofia é bem sintetizada por Warren e que reúnem por volta de 5 mil líderes e crentes locais. Beach, diretor do ministério da Willow Conexões Globais: Daí, foi mais fácil formar uma rede de igrejas dispostas a “Se, como diz o mantra da Willow, nós acreditamos que a entrar no programa. “Nós gostamos de trabalhar com pesigreja local é a esperança do mundo, temos que construir soas primeiro, antes de providenciar qualquer forma de firelacionamentos com nossos irmãos e irmãs que estão na nanciamento”, diz o líder da Associação Willow Creek na linha de frente, lutando contra a pobreza, a Aids e ganhan- África do Sul, Gerry Couchman. “Buscamos conhecer os do suas comunidades para Cristo”. Ele cita o texto de II indivíduo e testemunhamos sua integridade. Temos visto o Crônicas 16.9: “Quanto ao Senhor, seus olhos passam por que eles estão tentando fazer por eles mesmos com recursos toda a terra, para fortalecer aqueles cujos corações são com- muito limitados”, destaca. pletamente compromissados com ele”. Enquanto a contriNos últimos quatro anos, a associação encontrou 28 probuição de Willow Creek para esses ministérios africanos jetos para acompanhar. Na Cidade do Cabo, por exemplo, é fundamental, o papel da megaigreja é quase invisível. Lerato’s Hope é uma organização sem fins lucrativos da Willow não é a primeira a praticar um modelo de minis- Igreja Batista de Pineland. Faz parceria com organizações tério de igreja para igreja – mas monitora essa métrica do populares já existentes que cuidam, tratam e dão suporte sucesso como ninguém. A ênfase da coisa é colaborar com para famílias pobres afetadas pela Aids nos municípios de as igrejas locais e permanecer nos bastidores. Simples as- Gugulethu, Nyanga, Crossroads e Philippi. Essas áreas são sim. Mas é uma metodologia que tem sido bastante copiada. Ajuda sem dependência – Willow começou procurando igrejas que estavam interessadas, independente se iria apoiá-las ou não. Descobriu uma coisa simples: a demanda não é simplesmente pela ajuda, mas pela conquista do desenvolvimento autosustentado. “Os crentes africanos não estão esperando o Ocidente mandar recursos”, continua Beach. “Eles estão olhando para dentro e dizendo: ‘O que Deus tem dado para nossa comunidade resolver?’”. O executivo diz que era isso que a WCCC estava procurando. “Vínhamos orando para encontrar lugares onde o Senhor estivesse trabalhando nas igrejas locais e andar ao lado desses irmãos, providenciando alguns
Ações de saúde são uma das prioridades: epidemia de Aids já vitima quase 30 milhões de africanos
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lar para meio milhão de pessoas, cujas estatísticas incluem um quadro deprimente de pobreza: o desemprego atinge 60% da população e mais da metade das pessoas vive em cabanas, sem água encanada, energia elétrica ou qualquer infraestrutura. Cerca de trinta por cento das mortes são causadas pelo vírus da Aids. O nome Lerato’s Hope (“A esperança de Lerato”) foi escolhido em homenagem a uma menina da localidade. Há oito anos, ela era um frágil bebê de 18 meses que foi trazido a um orfanato chamado Beautiful Gate. Algumas famílias da Igreja Batista de Pineland estavam abrindo uma escola dominical lá. Eles se envolveram profundamente com a comunidade e perceberam que a pequena Lerato não estava bem. Abatida pelo vírus HIV, já não conseguia falar ou andar. O prognóstico dos médicos davam conta de uma morte iminente. Mas a família se recusou a aceitar isso. “Se ela irá morrer”, eles diziam, “vai partir sendo cuidada e amada”. Eles continuaram uma amorosa vigília na cabeceira do leito hospitalar, e milagrosamente a criança começou a se recuperar. Hoje, Lerato é uma garota forte, de dez anos de idade. Sua história de superação não apenas avivou a fé da igreja, como causou sensação na comunidade onde ela vivia.
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Pontas do iceberg – Tudo que se possa fazer em termos de promoção social diante da dura realidade africana será apenas a ponta de um iceberg de gigantescas demandas. A epidemia de Aids, embora ostente números desastrosos – dos 33 milhões de doentes registrados no mundo, 28 milhões vivem ali –, é apenas uma delas. Mas trabalhos pontuais como Lerato’s Hope têm a mágica capacidade de se capilarizar. Dirigindo pela Klipfontein Road, atravessa-se uma das áreas mais ricas da África do Sul. Shopping centers, ruas bem pavimentadas e escolas particulares compõem a Intervalo de culto na sede da paisagem, mas bastam alguns WCCC: após crise de vocação, quilômetros para se chegar a megaigreja trabalha sem o apoio de grandes organizações
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um prédio pintado de verde, sem decoração e com janelas e portas cobertas por grades. Ali funciona o projeto Izandla Zethemba, organização sem fins lucrativos fundada pela Igreja Comunidade Khanyisa, que trabalha com 40 órfãos e crianças vulneráveis e mais de 80 famílias que vivem no entorno da sede. Além da distribuição de suprimentos, a entidade oferece programas de prevenção da doença e grupos de suporte aos infectados e suas famílias. Em um grande quarto, são visíveis os sinais da presença constante de crianças. Há desenhos nas paredes e objetos de artesanato feitos por elas mesmas. Xolile e Unathi são dois estudantes que deixaram a universidade por um ano para trabalhar na Izandla. Apesar da consciência de que faz o que está a seu alcance, Xolile anda frustrada. “Quando você descobre que existe tanta necessidade, somente deseja poder tirar o sofrimento dessas pessoas”, resume. Unathi faz coro com a colega: “Algumas vezes você encontra uma criança que precisa de mais ajuda do que você pode dar. Eu me sinto perdido, porque a situação é dura demais”. Mas eles estão no jogo, de acordo com o diretor executivo Rowan Haarhoff: “Encontrar pessoas nessas comunidades que darão tanto tempo e esforço como esses dois é muito difícil”, ele diz. “Eles estão tirando um ano de suas vidas, sem salário. É formidável”, elogia. Com este tipo de atores no jogo, a ajuda prestada pela WCCC a estes empreendimentos sociais resume-se a suprir as necessidades na medida em que vão aparecendo. Na localidade pomposamente chamada de Barcelona – na verdade, um subúrbio miserável da Cidade do Cabo onde mais de dois mil barracos feitos de madeira, telhas de estanho ondulado e qualquer outro material que possa ser empilhado –, o cheiro de lixo podre não respeita as precárias janelas de vidros quebrados. Por aquelas vielas, uma van financiada pela Willow Creek transporta pessoas, comida, móveis e remédios para atender uma população formada por 230 mil pessoas, das quais 63 mil são soropositivas. No meio de Barcelona foi construído um prédio de concreto que abriga o ministério Ubuntu, liderado pela holandesa Cobi De Bonte e pela sul-africana apelidada de Mama Beauty, que é uma verdadeira mãe para a comunidade. O edifício ferve todos os dias com as diversas atividades que envolvem crianças e jovens, como clube de café da manhã – sem o qual eles iriam com fome para a escola –, companhia de teatro, coral gospel e time de futebol, todos organizados pelos membros da comunidade. Se não fossem essas atividades, as crianças estariam vagando sem rumo pela ruelas de terra batida, sujeitas a negligência e abuso. “Isso é um município, e um município é caos. Um dia você tem um emprego, no outro, não. Um dia você está bem, e no outro, doente”, descreve Cobi. A única maneira de sobreviver a isso, o que todos ali sabem muito bem, é a solidariedade e uma rede sólida de parcerias. Os africanos já perceberam isso há muito tempo – e igrejas ocidentais como a WCCC parecem cada vez mais dispostas a caminhar lado a lado com os protagonistas dessa revolução.
Espiritualidade Eduardo Rosa Pereira teólogo e escritor
Crise de identidade
Não só as pessoas, mas também grupos humanos sofrem crises de identidade
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ós, seres humanos, passamos por muitas crises. Mas são as crises de identidade que nos fazem experimentar um dos mais delicados momentos da nossa vida. Qualquer pessoa saudável emocional e existencialmente passa por uma crise de identidade, na qual a maneira como nos percebemos e somos percebidos sofre profundas alterações. As forças comuns propiciadoras do equilíbrio são abaladas; o chão nos foge dos pés; uma certa angústia vinda de um sentimento de vazio se instala; as respostas, as certezas, são engolidas pelas dúvidas; um f lerte com a frustração, a tristeza e a depressão se mistura a um namoro com a esperança, o odor de novos ares, a silhueta de novos horizontes. Os chineses têm razão quando escrevem a palavra crise com dois ideogramas, um representando “perigo”, e outro, “oportunidade”. São exatamente estas as duas sementes contidas numa crise de identidade: o perigo de nos perdermos e cristalizarmos quem somos, repetindo automaticamente erros, ou a oportunidade de nos reinventar, superar limitações, corrigir rumos, sair da periferia e vir para o centro. Este segundo processo é capaz de equilibrar tudo em nós e nos religar à nossa vocação mais original. Não só as pessoas, mas também os grupos humanos sofrem crises de identidade. Quando olhamos para trás, vemos na história da Igreja momentos quando ela entrou em crise de identidade. Somente para citar alguns exemplos, foi assim com o nascimento do monasticismo, no século 4; com a Reforma Protestante, em 1517; e com a eclosão do pentecostalismo, no início do século passado. Todos esses e outros movimentos marcados simultaneamente pelo perigo e pela oportunidade tinham algo em comum: eles clamaram por um retorno à identidade essencial da Igreja. Queriam respostas a questões cruciais, como qual a razão de ser da Igreja? O que essencialmente é sua identidade? Para que existe? Em busca dessas respostas, confesso, um dia já cheguei a me perguntar se Jesus realmente quis a Igreja! Qualquer leitura rasa dos evangelhos vai nos mostrar que o centro da pregação, da vida, da morte e da ressurreição de Jesus foi o Reino de Deus. Ele nos ensinou a orar dizendo “venha o teu Reino” e não “a tua Igreja”. Será que Jesus sonhou o Reino e o que veio foi a Igreja? A verdade é que Jesus também quis a Igreja. É claro que ele não idealizou prédios maravilhosos, líderes com
habilidades gerenciais ou estruturas complexas consumidoras de recursos e energia na manutenção de programas que acontecem sem a necessidade de sua própria presença. Em seu projeto de Igreja, ele concebeu uma comunidade de discípulos que se reunia para adorá-lo e renovar as forças para viverem sua missão transformadora deste mundo. Esta é a conspiração divina iniciada por Jesus: discípulos cheios do Espírito Santo, imersos nas dores deste mundo, sendo instrumentos da concretização do Reino de Deus. Esta é a identidade original da igreja; é para isso que ela existe. Mas o que aconteceu com este sonho? Uma autêntica busca de resposta a esta pergunta vai nos levar, como Igreja, a uma saudável crise de identidade. Muitas vezes, a resposta do que somos está no passado – daí a necessidade de fazer os retornos necessários. Porém, existimos no presente caminhando para o futuro, e precisamos fazer as atualizações necessárias. O caminho de retorno ao ideal perdido do Corpo de Cristo nos exige, em primeiro lugar, uma redefinição da Igreja como uma comunidade relacional e geradora de autênticos discípulos. A Igreja precisa ser um centro de formação espiritual que irradia a vida do Reino de Deus para o mundo. Por outro lado, é fundamental redefinir o que é o discipulado: um processo de formação espiritual que nos convida a ser uma encarnação histórica desse Reino. Falar de formação espiritual é falar de impactar e mudar o mundo, e não estabelecer métodos e programas eclesiásticos para o crescimento das igrejas. Por último, o papel pastoral precisa ser necessariamente revisto. Na solução de sua crise de identidade, a Igreja deve superar essa dinâmica pedagógica passiva na qual se vai à igreja para ouvir, e não para ser desafiado a viver. Para que voltemos a ser Igreja, precisamos de pessoas comprometidas com Deus em se tornarem pais, mães, mentores espirituais e agentes de formação cristã, amando mais os indivíduos do que as multidões – embora estas sejam resultado abençoado do investimento em pessoas –, e que, consequentemente, recusem-se a ser meros animadores de auditório ou líderes gerenciais de grandes projetos. Que uma santa crise de identidade venha sobre todos nós, fazendo-nos protagonistas de um retorno ao sonho original de Reino de Deus que transforme nossas igrejas em centros de formação espiritual.
Falar de formação espiritual é falar de impactar e mudar o mundo, e não estabelecer métodos e programas eclesiásticos para o crescimento das igrejas
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O encontro da Igreja global Cape Town 2010, o terceiro congresso do Movimento Lausanne, vai discutir a expansão do Reino de Deus no mundo pós-moderno
A Cidade do Cabo, na África do Sul: Lausanne III deve reunir delegados de 200 nações
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Para os veteranos de Lausanne-74, o momento de passar o bastão é motivo de júbilo. O teólogo britânico John Stott acredita que os atuais dirigentes do movimento compartilham o que chama de “espírito de Lausanne”: “Creio que Deus os usará para unir a Igreja na evangelização mundial.” Já Graham diz estar orando para que Deus abençoe todos os envolvidos na liderança e planejamento do megaevento de fé. “Confio que Deus usará o congresso da África do Sul para unir a Igreja em seu compromisso com o Evangelho – para a esperança do mundo e a glória do Senhor.” A expectativa dos organizadores do III Congresso Internacional de Evangelização Mundial é reunir 4 mil participantes na Cidade do Cabo, que já estão sendo selecionados através de um comitê. Quem tiver interesse em saber mais sobre Cape Town 2010 pode acessar o site do Movimento Lausanne (www.lausanne.org), que também disponibiliza informativos regulares sobre o evento. ( Joanna Brandão)
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Cena do último encontro, em Manila, nas Filipinas: desafio agora é traçar rumos para a evangelização no contexto global
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Foi em 1974 que o reverendo Billy 80, como choque de civilizações, confliGraham reuniu pela primeira vez o Con- tos étnicos, degradação ambiental e o imgresso Internacional de Evangelização pacto das novas tecnologias. “Precisamos Mundial na cidade suíça que deu nome ao estar envolvidos com as novas realidades”, encontro, Lausanne. A reunião, que atraiu sentencia Birdsall. mais de 2,7 mil líderes cristãos, represen“O encontro de 1974 foi crucial para os tando 150 países – o Brasil, inclusive –, esforços evangelísticos daquele momento. entrou para a história da Igreja ao apontar Mas as questões que se colocam na geração novos rumos para o pensamento teológi- atual são radicalmente diferentes”, destaca co e o esforço de expansão do Reino de o evangelista Billy Graham, fundador do Deus. Ali consolidou-se a noção do Evan- Movimento Lausanne. Cape Town 2010 gelho integral, enfatizando a necessidade abordará principalmente três questões rede alcançar o ser humano para Cristo em lativas à evangelização global. A primeira todas as suas necessidades – espirituais, delas é a singularidade de Jesus em um físicas e sociais. Quinze anos depois, foi mundo pós-moderno e pluralista, que prea vez da capital filipina, Matende discutir as formas de innila, hospedar Lausanne II, já centivar a humanidade a enxerEvangelismo com 4.300 participantes e 173 gar Cristo como a resposta final nações representadas. Agora, para seus desafios. A segunda quase uma década depois da virada do abordagem será acerca do problema da dor milênio, o mundo protestante prepara-se e do sofrimento, na qual serão debatidas as para a terceira edição do congresso. Vem formas de a Igreja assumir a liderança na aí o Cape Town 2010, ou Lausanne III, formulação de respostas à pobreza, ao tero ponto culminante da agenda da Igreja rorismo, às catástrofes naturais e à epidemundial neste novo século. O cenário é a mia de Aids que se alastram pelo mundo. Cidade do Cabo, na África do Sul. Cape Town 2010 será realizado entre Fé e prática – O terceiro tema na pauta de os dias 16 e 25 de outubro do ano que vem, Lausanne III diz respeito diretamente à com o tema Deus em Cristo, reconciliando o fé e prática dos crentes contemporâneos. mundo com ele mesmo, inspirado no texto Os delegados vão tentar encontrar solude II Coríntios 5.19. Novos tempos, novas ções para a falta de maturidade espiritual propostas. Segundo Doug Birdsall, presi- e discipulado adequado na Igreja de hoje. dente executivo do Movimento Lausanne, De acordo com a organização, a ideia é o evento deve reunir líderes eclesiásticos analisar as causas da superficialidade do de 200 países. “Com os milhões de pesso- cristianismo pós-moderno e conduzir os as que poderão acompanhar tudo on-line, servos de Cristo à maturidade espiritual. Lausanne III será um verdadeiro Conse- Para Michael Oh, presidente do Christ lho da Igreja global”, define. O congresso Bible Seminary e membro japonês do Coterá singularidades marcantes em relação mitê Administrativo Lausanne, existem aos antecessores. Além de ser o primeiro momentos decisivos na história: “Acredito depois da falência do comunismo, vai dis- que Cape Town 2010 será um desses mocutir temas inimagináveis nos anos 1970 e mentos para a minha geração”, avalia.
A marca de Cristo First published in Christianity Today, copyright © 2008. Used by permission, Christianity Today International
A evangelização na era do consumo tem muito do discurso do marketing – mas a Igreja não pode oferecer o Evangelho como produto de mercado
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A marca Jesus é uma das mais conhecidas e rentáveis do mundo. O nome do Filho de Deus acompanha a humanidade há dois milênios, resistiu a toda sorte de crises – da opressão romana no início da Era Cristã ao comunismo, das trevas da Idade Média ao ateísmo filosófico do século 19 – e é a razão da fé de pelo menos 2 bilhões de pessoas. Seus ensinos e as frases que disse em seu ministério terreno – como o genial “Dai a César o que é de César” ou o inquietante “Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra” – fazem parte dos mais diversos cases de marketing. Mas são justamente as estratégias empregadas na propagação do Evangelho que têm causado mais controvérsia. Esta é a questão que se levanta quando pesamos os métodos de evangelismo público por parte de igrejas marcadas pela cultura ocidental, saturadas pelo marketing. Ora, qualquer secundarista sabe que marketing pode ser definido como todas as atividades que ajudam empreendedores a identificar e moldar o desejo de seu alvo, os consumidores – e, então, satisfaze-los mais do que seus competidores o fazem. Isso geralmente envolve pesquisas de mercado, análise das necessidades do cliente, e, então, decisões estratégicas sobre design de produtos, preços, promoções, propaganda e distribuição. A Igreja enfrentou – e enfrenta – questões inevitáveis por escolher manter o evangelismo pessoal e testemunho público em uma sociedade marcada por uma cultura consumista. A primeira questão é: Será que devemos transformar em artigo de mercado
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a Igreja e a mensagem de Cristo? Podemos usar técnicas de mar keting no cumprimento do “Ide” de Jesus? Temos condições de mudar o meio sem afetar a mensagem? Ou será que o próprio meio do marketing mancha nossa pregação, fazendo-nos resistir até o último suspiro a toda acomodação à nossa cultura de consumo? Parece evidente que, a menos que nos abstenhamos de toda forma de evangelismo, o marketing é inevitável. Se ele é a linguagem da nossa cultura, os cristãos devem ter fluência nele, da mesma forma que os missionários transculturais precisam dominar o idioma dos povos aonde vão atuar. O marketing é apenas a última encarnação dos clássicos modelos evangelísticos, como a persuasão e o exemplo de vida. Por esta perspectiva, o erro estaria em fazer um marketing da Igreja de forma pobre, o que a faria parecer menos do que ela é – como uma marca indesejável – para um público de não cristãos. Devese ter em mente, também, que o marketing tem um problema: às vezes, ele leva as pessoas a fazer exatamente o oposto do desejado.
Uma fé genuinamente apaixonada está enraizada em quem Cristo de fato é
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Conflitos com a vida cristã – Em outros termos, as pessoas que respondem ao marketing eclesiástico encaram Jesus como uma mercadoria. Este é o primeiro e grande problema, pois isso é blasfêmia: nós estamos falando sobre o Logos encarnado, e não sobre uma logo. Por outro lado (caso blasfêmia não seja o suficiente...), isso deveria nos preocupar pelo problema que traz para o discipulado. O consumismo não é apenas um
First published in Christianity Today, copyright © 2009. Used by permission, Christianity Today International
fenômeno social – é espiritual. Ele vem dos hábitos consumidores, buscamos novos produtos quando perEspecial e comportamentos espirituais que conflitam com as cebemos os primeiros sinais de irritação. Como as práticas particulares da vida cristã. clinicamente identificáveis dependências de compras, Existem vários conflitos desta natureza, mas quatro se des- esse é um espantoso indicador de uma cultura decadente. tacam como mais arriscados: A maioria das pessoas, nos mais diversos lugares, não tem o luxo de lutar por vidas livres do sofrimento e da dor. Eviden1. “Você é o que você compra” versus senhorio de Cristo – temente, termos todas as nossas necessidades sempre supridas Em uma sociedade consumista, a identidade das pessoas vem do é precisamente o oposto do que o discípulo deve experimentar. elas consomem. O principal foco de uma sociedade consumis- Paulo mostra uma indiferença quanto às circunstâncias da próta é o consumidor – o que é essencial. Marcas comerciais não pria vida, sentimento que era fruto de sua maturidade espirifazem nada para abalar essa auto-suficiência fundamental; na tual: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. verdade, elas dependem disso. A dinâmica é simples – nós paga- Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo mos pelo privilégio de algumas marcas porque gostamos do que e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de elas fazem por nós. Em contrapartida, as marcas estão bastante fartura como de fome; assim de abundância como de escassez. satisfeitas em receber nosso dinheiro. Consumidores espiritu- Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4.11-13). ais, portanto, haverão de se aproximar da Igreja com o mesmo A questão levantada pelo apóstolo não é que veremos todas narcisismo com o qual se aproximam das demais marcas, com as nossas necessidades prontamente assistidas, mas que, faquestionamentos como: “O que estou expressando a meu res- zendo de Jesus o Senhor de fato de nossas vidas, precisaremos peito, caso eu compre a marca Jesus?”; ou “Como o cristianismo cada vez de menos coisas para termos satisfação completa. O completará a visão que eu tenho de mim mesmo?”. discipulado, presente na comunidade cristã, tem como objetivo A implicação teológica disso é: eu pertenço a mim mesmo. satisfazer com uma só coisa: o senhorio de Cristo em sua vida. Sou meu próprio projeto, meu próprio produto. Essa é uma terrível rejeição à glória que deve ser dada 3. O relativismo das marcas versus a Deus como Criador. O perigo está no o senhorio de Cristo – Um bom profisfato de que a Igreja passa, com isso, a sional do marketing busca formar um transformar rapidamente o Evangelho tipo de pessoa que se identifica tanto em mera ferramenta de preenchimento com sua marca que passa a considerar pessoal. Pregações e evangelismo que enalgo inimaginável a possibilidade de vifatizam apenas os benefícios de se tornar ver sem ela. Em se tratando de valores, um crente apresentam uma mensagem esse tipo de entusiasmo parece indicar não muito diferente das propagandas que uma superioridade das marcas na vida falam sobre as vantagens de determinade alguém. Entretanto, subjacente a dos modelos de carros, por exemplo. Essa esse fanatismo pelas marcas, está o relaatitude prejudica o crescimento dos discítivismo inerente no consumismo. Uma pulos rumo a uma vida centrada em Deus marca de celular não é inerentemente e no próximo. Sim, a vida cristã traz plemelhor do que a concorrente, embora nitude para além da imaginação; mas ela vem apenas quando produtos do gênero precisem ter certa dose de competição técbuscamos a Deus mais do que a nós mesmos. Aqueles que vêm nica. Uma delas pode até fazer um melhor trabalho de captuà igreja esperando satisfações de mercado e procurando apenas rar as mentes e os corações; todavia, dizer que determinado salvar sua vida não encontrarão nem uma coisa nem outra. logo é melhor do que outro é tão ridículo quanto afirmar que os moradores de Boston são melhores do que os moradores 2. Descontentamento versus a suficiência de Cristo – de Chicago. Melhores por quais padrões? Para ser honesto, Embora o consumismo prometa plenitude pessoal, os ciclos as marcas comunicam coisas diferentes umas das outras. No econômicos dependem inteiramente de um descontentamen- mercado americano de automóveis, Mercedes representa luxo, to contínuo. No fundo, o consumismo não se trata apenas de enquanto Honda expressa confiança. Ambas, porém, fazem comprar um produto novo, mas sim, de adquirir esse produto o que devem fazer em termos de qualidade. Portanto, a supepara que você se sinta novo. As pessoas que trabalham com o rioridade de uma sobre a outra está única e exclusivamente na marketing sabem disso e planejam seus produtos de tal forma cabeça do consumidor. que o consumidor sempre é levado a desejar o novo que está O consumidor que compra nosso marketing fará de Jesus sua por vir, o último modelo do que já tem. marca escolhida, e o zelo resultante dessa escolha parecerá fé Consumidores descontentes também carregam uma arma- apaixonada. Aparências nos desapontam. Uma fé genuinamente dilha espiritual semelhante. Inicialmente, nossa busca per- apaixonada está enraizada em quem Cristo de fato é. Um zelo pétua por conforto e felicidade, na verdade, aniquila-se toda pela marca, por sua vez, está centrado na própria pessoa, pois a suchance de satisfação de nossos desejos. O prazer de comprar perioridade de uma marca sobre a outra depende tão somente do um novo produto ou serviço, na verdade, durará pouco tempo. entusiasmo do seu devoto. O zelo existente mascara a arbitrarieLogo vai embora – e o pior é que imediatamente depois, pas- dade da escolha. Entretanto, a escolha por Cristo não é arbitrária. samos a desejar algo novo. Em seguida – e esta é uma questão Se um consumidor descontente com uma marca de TV escolhe perversa –, nós não conseguimos lidar com desconforto. Como outra, a primeira perde e a segunda ganha. Mas se uma pessoa
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deixa de escolher a Cristo para servir a outros deuses – ou a deus algum –, Cristo não é nem um pouco diminuído. Consumidores espirituais não têm porque achar que o cristianismo não é uma opção entre muitas. Entretanto, a santidade na vida de uma igreja é um grande testemunho do contrário. A Igreja revela a supremacia de Cristo em um mundo que nega seu poder quando ama o que não é amado, perdoa o imperdoável, promove reconciliações aparentemente impossíveis e faz a perseverança triunfar sobre as dificuldades. 4. Fragmentação versus unidade de Cristo – A chave para o sucesso no marketing é a segmentação: dividir determinada população em grupos identificáveis por suas preferências relacionadas ao consumo. Trata-se de uma análise demográfica. Um profissional do marketing pode olhar para as contas mensais de uma pessoa, ou apenas para o CEP de seu endereço e descobrir coisas importantes para acerca de seu perfil de consumo. As segmentações nos chamados nichos de mercado permitem aos marqueteiros concentrar suas mensagens em públicos mais restritos, tornandoas mais eficazes. Isso tem permitido que o ser humano do século 21 com capacidade de consumo possa viver praticamente alocado dentro de suas preferências. Vivemos em bairros residenciais com pessoas que se parecem conosco, vamos a igrejas cujos membros têm perfil social semelhante ao nosso, passeamos com companheiros que têm os mesmos gostos que nós. Tudo isso contribui para relutarmos contra a vida em contextos nos quais as pessoas não são como nós. Isso, é claro, é um problema para a Igreja. A unidade cristã é um valor bíblico inegociável. Pense na oração de Jesus em João 17, na exortação de Paulo aos filipenses para que fossem um com a mente de Cristo, ou na metáfora da Igreja como o corpo de Cristo, com diferentes membros igualmente importantes em suas funções. Como Paulo afirmou em Gálatas 3.28, a unidade de Cristo rompeu todas as principais diferenças da sociedade romana: de tribo, classe e gênero. Com efeito, nenhuma identidade importa tanto quanto a identidade cristã.
O consumismo veio para ficar. Hábitos como autocriação, descontentamento, relativismo e fragmentação se tornarão mais dominantes nos próximos anos. Essa é a forma que a economia global e as transações comerciais julgam ser interessante. Não podemos derrotar nossa realidade; podemos, sim, viver de forma fiel em meio a esse contexto. Para isso, é fundamental nos lembrarmos da natureza da Igreja de Cristo. Em todas as épocas, cristãos têm lutado para defini-la; é uma tarefa difícil porque é a única instituição divina e humana ao mesmo tempo. A Igreja é como uma família, um reino, uma organização social, um reduto de vida, de companheirismo e – para os nossos dias – um mercado. O problema se instaura quando procuramos definir a Igreja como um todo a partir de apenas um de seus aspectos. Ou seja, tratando-a como um mercado que tem uma marca a ser vendida. Se tratarmos o Evangelho como um produto, não estaremos levando aqueles que não crêem a pensar na cruz como apenas mais um logo? Nós também precisamos entender, porém, que, não importa o que façamos, o consumismo inevitavelmente estará presente na forma pela qual as pessoas veem a Igreja em nossa sociedade. Toda nossa comunicação da Palavra de Deus será encarada como um marketing; toda exposição dos conteúdos do Evangelho será tida como um produto. E o evangelismo será visto como uma venda. Nada há que possamos fazer para mudar esse contexto. Há ainda mais razões para desafiarmos as expectativas. Consumidores espirituais virão às nossas igrejas como vão às vitrines das lojas nos shoppings, procurando um produto que combine com suas preferências. Eles desejarão isso porque consumir é a única salvação que eles conhecem. Trarão todos os seus recursos e terão grande dificuldade em entender a graça de Deus, porque não conseguem conceber algo que não pode ser comprado. Eles virão à nossa vitrine buscando o que querem, da mesma forma como fizeram aqueles que foram a Jesus, em seus dias, buscando comprar seus produtos – os milagres que operava. Naquela época, eles estavam procurando por um mestre, um homem louco, um profeta ou revolucionário, e – no fim – por um cadáver. Hoje, eles estão buscando uma marca espiritual. Nos dias de Jesus na Terra, quem o procurou encontrou um Messias vivo e um Senhor. Eles encontraram o Deus pelo qual nem mesmo estavam procurando. A pergunta que nos cabe, hoje, é se aqueles que o buscam hoje haverão de achá-lo no que se chama de corpo de Cristo, chamado para transformar o mundo – e se, procurando algo novo para comprar, serão surpreendidos por Deus.
Precisamos, portanto, estar atentos para as infiltrações da segmentação do marketing nas nossas igrejas. Isso tem provocado duas inaceitáveis consequências: igrejas extremamente homogêneas representando tendências consumistas e, na outra ponta, pequenos grupos homogêneos dentro de grandes igrejas. Ambas as tendências tendem a nos separar dos que nos parecem “diferentes” e a nos levar uma comunhão restrita por padrões sociais, culturais, etários ou até mesmo étnicos – ou seja, caímos no nicho eclesiástico. Certamente foi a isso que Paulo referiu-se como “conformação com este século”, citada em Romanos 12.2. 40
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Tyler Wigg-Stevenson é pastor batista e autor de Brand Jesus: Christianity in a Consumerist Age.
Tradução: Daniel Leite Guanaes
O problema é quando procuramos definir a Igreja como um todo a partir de apenas um de seus aspectos – ou seja, tratando-a como um mercado que tem produtos a serem vendidos
O ap Um dos principais líderes da Igreja clandestina chinesa, Liu Zhenying, o Irmão Yun, tem uma trajetória marcada pelo sofrimento por amor a Cristo
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Aos 51 anos de idade, Irmão Yun é considerado um dos maiores evangelistas da história da China 44
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O livro de Atos dos Apóstolos menciona a trajetória de homens que se tornaram verdadeiros heróis da fé por anunciar o Evangelho em um mundo hostil à mensagem cristã. Gente como Pedro, Silas e, principalmente, Paulo sofreram na própria pele o preço de seguir a Jesus e fazê-lo conhecido: foram perseguidos, espancados, presos e alijados dos mais elementares direitos por sua opção de seguir o “Ide” do Mestre. Das páginas da Bíblia aos dias de hoje, quase tudo mudou, menos a disposição de alguns crentes em arriscar a própria vida em favor das almas sem salvação. Conhecido simplesmente como Irmão Yun, o chinês Liu Zhenying é um homem simples, de pouca instrução formal, para quem o conhecimento do Reino de Deus vem muito mais pela experiência prática do que dos bancos teológicos. Mas tem construído em plena pós-modernidade uma biografia daquelas que a própria Bíblia define como a de homens dos quais o mundo não é digno. Missionário por convicção, Yun dedicou a maior parte de sua vida à pregação do Evangelho aos seus compatriotas. Foi preso diversas vezes, submetido a trabalhos forçados, fome e maus tratos. Mesmo assim, nunca perdeu a disposição e a visão do Reino de Deus. Ele é o “Homem do Céu”. O apelido, que dá nome ao seu livro autobiográfico
póstolo da China Arquivo pessoal
escrito em parceria com Paul Hattaway (lançado no Brasil vi-lo. Batizava os novos convertidos às escondidas, durante pela Editora Betânia), surgiu depois de um dos muitos pro- as madrugadas. “Multidões se convertiam todos os dias”, reblemas que teve com as autoridades de seu país por insistir lata em seu livro. Começou a ser perseguido, e à semelhança em fazer proselitismo cristão, o que, pelas leis comunistas dos apóstolos do Novo Testamento, compartilhava a Palaque regem a China, é proibido. Líder da Igreja doméstica vra de Deus por onde ia ou era levado – inclusive na cadeia. chinesa – que, ao contrário da Igreja oficial, monitorada Chegou a passar três anos preso, e numa dessas detenções pelo governo, luta para viver sua fé livremente (ver quadro conseguiu fugir inexplicavelmente pelo portão principal da com entrevista) –, ele certa vez recusou-se a dar aos policiais penitenciária. Esteve com a vida por um fio diversas vezes, o seu verdadeiro nome e endereço, para não pôr em risco como na ocasião em que jejuou por mais de 70 dias. “Tenho seus irmãos na fé. Simplesmente gritou: “Sou um fome de homens e almas”, dizia resolutamente aos homem do céu, meu lar é o céu!”, senha que, ouvique lhe aconselhavam a comer. Perfil da pelos outros crentes, permitiu que todos fugisPara Yun, os longos períodos de prisão, embora sem a tempo das casas vizinhas. o afastassem da igreja, da mulher, Deling, e dos Nascido em 1958, Yun veio ao mundo numa aldeia pobre dois filhos, eram uma oportunidade e tanto para evangelida província de Henan, região central da República Popu- zar os companheiros de cela. “Eu fiz um acordo com o líder lar da China. Era uma época de extrema repressão política da prisão, que se eu fizesYun ao lado do filho, Isaac: no país, quando a Guarda Vermelha da Revolução Cultural se bem as minhas tarefas, agora no Ocidente, pregador espalhava o terror entre os considerados inimigos do regime. ele me deixaria ficar com a desperta as igrejas para a situação Como a Bíblia era um livro proibido e pregar o Evangelho, minha Bíblia”, lembra. “A dos crentes perseguido em seu pa´s um crime contra o Estado, só mesmo uma evidente manifestação do poder de Deus poderia levar alguém a crer em Jesus. E ela aconteceu quando o pai de Yun, abatido por um câncer mortal, teve a saúde restabelecida, fato atribuído pela família a um milagre divino. A partir dali, a casa da família virou uma igreja doméstica, onde o nome de Jesus era pregado entre portas trancadas e janelas cerradas. Uma congregação sem bíblias, mas com extremo ardor missionário, nasceu. Nasce um pregador – “Eu tinha 16 anos de idade quando o Senhor me chamou para segui-lo”, lembra Yun. Seus primeiros passos na fé foram marcados por situações inusitadas – como certa vez em que sonhou que dois homens lhe davam uma Bíblia. Por toda a China, pouquíssimos exemplares das Escrituras resistiram às fogueiras do Partido Comunista. Apenas a leitura de O livro vermelho de Mao Tsé-Tung era permitida. Após orar e jejuar semanas a fio por uma Bíblia, os dois homens que vira no sonho foram sorrateiramente à sua casa e lhe entregaram um exemplar da Palavra de Deus. Após ler e decorar passagens inteiras, o jovem Yun ouviu alguém lhe dizer, no meio de uma noite, que seria enviado a pregar o Evangelho. Pensou que era sua mãe quem o chamava, mas após ouvir a voz mais duas vezes, entendeu, à semelhança do que ocorreu com Samuel, que era o próprio Deus que o comissionava como sua testemunha. Em pouco tempo, a história do rapaz que havia recebido “um livro do céu” correu a região. Yun começou a ser chamado a várias vilas, sempre encontrando pessoas ávidas por ou
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maioria dos prisioneiros não eram criminosos perigosos e descobri que muitos deles tinham membros da família que eram cristãos”. Após sucessivos processos, foi solto pela última vez em 1999 e fugiu da China com a família, primeiro para Myanmar e depois para a Alemanha, onde obteve a condição de refugiado. Mesmo no Ocidente, Yun mantém contato frequente com a Igreja clandestina chinesa e atua
mobilizando a comunidade evangélica internacional em favor dos crentes perseguidos de seu país. Ele fundou a missão Back to Jerusalem (“De volta a Jerusalém”), que treina missionários para pregar o Evangelho na chamada Janela 10-40, região imaginária situada entre aqueles paralelos geográficos e que inclui as nações menos evangelizadas do mundo, inclusive a China.
“Orem pela Igreja clandestina”
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Poucas semanas antes de embarcar rumo ao Brasil, o missionário Liu Zhenying atendeu com exclusividade a reportagem de CRISTIANISMO HOJE na Alemanha, onde vive. Nesta entrevista, concedida em mandarim, ele faz um relato da situação dos cristãos em seu país e apela à Igreja ocidental que renuncie ao materialismo e assuma posição de relevância na obra de evangelização mundial. “Orem pela China”, pede. CRISTIANISMO HOJE – Qual é a real situação, hoje, da Igreja perseguida em seu país? IRMÃO YUN – Ela está crescendo, apesar da constante perseguição. Hoje mesmo, pela manhã [N.da Redação: a entrevista foi concedida no dia 8 de março], recebi um telefonema dando conta de que, nas últimas três semanas, mais de setenta líderes das igrejas não-oficiais, somente na minha cidade de origem, foram presos. Os policiais tomaram deles tudo o que possuíam – que já era pouco – e ainda lhes aplicaram uma multa em dinheiro. Como todos os nossos pastores e líderes são pobres, não têm como pagar; então, permanecem na prisão por muito tempo. Estima-se que a população cristã na China de hoje beira os 80 milhões de indivíduos, o que a colocaria na segunda posição mundial em números absolutos de crentes. Esse número corresponde à realidade? Bem, conforme os últimos relatos do ministério encarregado dos assuntos religiosos do governo chinês, o número de cristãos na China já passou dos 100 milhões. Os dados passados pelos responsáveis do governo são reais, pois há poucos dias um líder da Igreja doméstica me confirmou esse número. Eu, pessoalmente, acredito que são mais de 20 mil conversões por dia. Mas há organizações que falam em mais de 30 mil novos convertidos ao Evangelho diariamente. Quantos deles pertencem às igrejas clandestinas? Cerca de 70 por cento dos crentes chineses são ligados às igrejas clandestinas e às comunidades evangélicas domésticas. Os outros são membros da Igreja oficial. Qual o perfil social da membresia da Igreja chinesa? Antigamente, havia cristãos somente nas pequenas províncias, e eles eram muito pobres. Após 1989 [N.da redação: naquele ano, houve um grande levante estudantil contra o
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regime chinês, que desencadeou o Massacre da Praça da Paz Celestial, na capital Pequim], muitos estudantes se converteram a Jesus. Desde então, pessoas de poder aquisitivo também passaram a crer no Senhor. O senhor acha possível ser um verdadeiro cristão estando ligado à Igreja oficial? É possível, sim. Eles amam a Deus, assim como os outros cristãos da Igreja subterrânea também o fazem. Esses irmãos trabalham para o governo, mas seus corações pertencem a Jesus. Existe algum diálogo entre o Estado e a Igreja nãooficial? Não existe esse diálogo porque o governo chinês não dá ninguém nenhuma oportunidade de conversação. Eles perseguem a Igreja clandestina continuamente. Quais são as maiores penalidades a que um cristão pode ser submetido pelas leis chinesas? Na China, o cristão pode ser condenado até mesmo à pena de morte. É proibido falar do Evangelho. São permitidos apenas os cultos realizados pela Igreja oficial – e o governo impõe dia, hora e local para a realização dessas reuniões. Quem não cumpre exatamente o estabelecido é multado como os setenta pastores recentemente punidos. Como já disse, quem não tem dinheiro para arcar com essas multas acaba preso. Como é o ensino religioso e a formação de obreiros na China? Existem escolas bíblicas nas igrejas oficiais. Nas congregações subterrâneas, temos seminários clandestinos para preparo de líderes. Mas quando as aulas são dadas por um professor estrangeiro e ele é descoberto pelas autoridades, é imediatamente deportado e não pode retornar ao país durante cinco anos. É possível montar uma liderança forte nestas condições? As igrejas clandestinas têm a sua liderança autóctone muito forte e bem preparada – para ser aprovado para dirigir uma igreja não-oficial, é necessário que o candidato a líder tenha passado pelo cativeiro ao menos de uma até três vezes. Apenas estudar numa escola bíblica não é suficiente.
Presença requisitada no mundo todo, o missionário visita o Brasil pela primeira vez agora em abril. Aqui, cumpre uma agenda que inclui São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte (MG) e Brasília, entre outras localidades. “Minha primeira impressão sobre o país veio pelas palavras de um jogador de futebol brasileiro que, depois da conquista da Copa do Mundo de 1994, disse que foi Deus quem lhe deu a vitória”,
diz Yun. Com esta viagem, ele espera proclamar aos cristãos brasileiros a necessidade de cada qual, em particular, se tornar um “discípulo consequente” de Jesus. Irmão Yun quer que sua presença no Brasil sirva de despertamento para a Igreja Evangélica nacional acerca de urgência da evangelização mundial. “Nosso chamado é o de levar o Evangelho a todas as nações por onde passarmos”, conclui.
Como é o dia-a-dia de um crente perseguido em função de sua fé? Um cristão ou lider perseguido não deve retornar para sua casa. Caso a sua família ou os seus amigos o acolham, tornam-se seus cúmplices, e também podem ser presos. Muitos vão para as pequenas províncias para fazer o trabalho missionário. Mas, muitos outros, mesmo correndo o risco de serem presos, permanecem onde estão, falando do Evangelho por amor a Jesus.
Divulgação
Como é o seu ministério hoje, depois que obteve asilo na Alemanha? Meu ministério continua sendo pregar o Evangelho e dar testemunho do poder de Jesus. Eu trabalho principalmente com obreiros e pastores. Eu amo a Igreja clandestina chinesa e considero-me seu porta-voz aqui no Ocidente. Em seu livro, o senhor relata diversos episódios marcados pelo que considera ação sobrenatural de Deus, como a cura de seu pai e a sua fuga da prisão. Muitos crentes, contudo, acham que esse tipo de manifestação está restrito ao passado. O que é preciso para ver o milagre acontecer? Nós precisamos ter fé, confiar no Senhor e orar para que o milagre possa acontecer. Nós precisamos obedecer exatamente às instruções de Deus, então pode acontecer um milagre. Eu acredito que milagres assim não aconteceram só na época dos apóstolos ou comigo, mas ocorrem diariamente e podem acontecer com todos os que creem na verdade divina. Mesmo que o mundo se modifique, a Palavra de Deus jamais mudará. Ela permanece a mesma, sempre real e viva! O senhor faz críticas ao materialismo da Igreja Evangélica ocidental. Na sua opinião, como essa Igreja pode exercer papel relevante no Reino de Deus? Primeiramente, verifiquei que os pastores das igrejas tradicionais ocidentais veem sua obra como uma profissão. Isso significa que não realizam a obra de Deus como um chamado e não querem abrir mão do seu poder aquisitivo. Na China, nossas prioridades são diferentes: primeiro, tornar-se cristão, através da conversão. Segundo, afastar-se das tentações e tentar viver uma vida sem pecado. Acredito que, apesar da influência do materialismo sobre o Ocidente, a Igreja dessa parte do mundo deve se empenhar para
divulgar o Evangelho e ajudar aos necessitados.
Segundo o missionário, a média de conversões diárias na China é de 20 mil
O que a Igreja brasileira, especificamente, pode fazer em relação àqueles irmãos chineses que sofrem restrições e supressão de direitos em virtude de sua fé em Cristo? Em primeiro lugar, orar pelas famílias dos líderes e pastores encarcerados. Eu sou muito grato aos irmãos de todo o mundo que oraram por mim e por minha família enquanto estive preso. É preciso orar também pela evangelização nos países budistas, islâmicos e hinduístas, e pelas Igrejas clandestinas chinesas, também chamadas subterrâneas, para que não sejam influenciadas pelo crescimento econômico. Pedir a Deus que, apesar da perseguição, elas continuem firmes e convictas na visão do Reino de Deus. O desejo sincero do meu coração é que cada cidadão chinês possa possuir a sua própria Bíblia. Aos 51 anos de idade e depois de tantos sofrimentos, experiências milagrosas e realizações para o Reino de Deus, o que o senhor faria diferente em seu ministério, caso pudesse voltar no tempo? Olha, eu agradeço a Deus por haver me convertido ao cristianismo aos 16 anos de idade. Na minha vida, já passei por muitos sofrimentos e também obtive muitas vitórias. Não me arrependo de nada. Porém, se eu tivesse a oportunidade de voltar no tempo novamente, eu faria tudo com maior convicção, dedicação e fé.
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Integrantes da Renas no último encontro nacional, no Paraná: movimento une forças da ação social cristã
Joanna Brandão
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Arquivo pessoa
Quando surgiu, em 2003, ela era apenas um grupo de cristãos de diferentes denominações interessados em cumprir um dos mais basilares princípios do Evangelho: o da solidariedade. A ideia era reunir diferentes atores sociais cristãos, na certeza de que uma ação conjunta, assim com a súplica do justo, pode muito mais em seus efeitos. A união em torno da mesma causa fez nascer a Rede Evangélica Nacional de Ação Social (Renas), uma ampla confraria de organizações evangélicas interessadas em dar o peixe, ensinar a pescar e cobrar das autoridades que forneçam o anzol e as iscas. O tempo passou, a rede cresceu – já realizou três encontros nacionais e o quarto acontece em agosto deste ano (ver quadro) – e hoje Renas é uma agência incentivadora de políticas públicas com base na ética e nos valores cristãos.
O cientista social Flávio Conrado: “Construção de pontes” 48
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Pesca de arrastão Rede Evangélica Nacional de Ação Social mobiliza ativistas cristãos do Terceiro Setor
A coordenadora da Renas, Débora Atualmente, 23 organizações cristãs são filiadas a ReFahur, cita como um dos principais ob- nas. Entidades como a Rede Mãos Dadas, a Rede Fale e o jetivos da rede a identificação da ação so- SOS Global, entre outras, têm feito do voluntariado evancial evangélica no Brasil. “Também pro- gélico uma força importante do Terceiro Setor nacional. A curamos facilitar a capacitação dos atores vantagem é que, ao invés de encetar esforços isolados, grusociais evangélicos e articular e mobilizar pos de diferentes perfis, estruturas e vocações encontram a rede em torno de ações transformadoras na Renas um amplo guarda-chuva que possibilita maior no campo das políticas públicas”, explica. alcance. “Uma contribuição importante desse movimento Flávio Conrado, cientista tem sido a capacidade de construir pontes ensocial com bastante expetre organizações e igrejas, num momento em Solidariedade riência cristã, lidera hoje a que a regra é o isolamento e a competitividade coordenação da rede no Rio no meio evangélico”, aponta Flávio Conrado. de Janeiro. Ele fala num discipulado radical, conforme a mensagem e a prática de Visão integral – É impossível falar em empreendedorisJesus: “É assim que atualizamos o com- mo social religioso sem fazer uma crítica ao vácuo crônico promisso com a transformação de todas deixado pelo setor público no combate à pobreza no país. as coisas”, afirma. Segundo ele, a Renas No entanto, a coordenadora do Núcleo de Gestão Social da é resultado do envolvimento de variados Renas, Vânia Dutra, ressalta que o movimento não pretensetores do protestantismo brasileiro. “São de que a Igreja tome o lugar do Estado. “O que queremos é os setores evangélicos que entendem que que a ação política tenha uma visão integral do ser humano, a Igreja no Brasil precisa assumir o papel que precisa de trabalho, educação, saúde, assistência, lazer, de acompanhar as políticas sociais e defender o direito da segurança”, explica. O pastor Ariovaldo Ramos, ligado à população no acesso aos serviços públicos essenciais com Visão Mundial e integrante do Conselho de Segurança qualidade”, defende. Alimentar da Presidência da República (Consea), acredita que a existência de um movimento como a Renas aponta que muita gente tem direitos que não estão sendo satisfeitos. “Atender carências é o princípio da Igreja de Cristo. Sempre foi”, sentencia. Para Gerhard Fuchs, coordenador da Rede Evangélica Paranaense de Ação Social (Repas), agência ligada a ReO 4º Encontro Nacional da Renas será no Rio de Janeiro, nas, o encontro de pessoas aliadas na memsa causa gera reentre os dias 27 e 29 de agosto, com o tema A Igreja lacionamentos significativos. “Muitas coisas maravilhosas de Cristo promovendo a Justiça. Um dos preletores será acontecem simplesmente porque estamos juntos e o Senhor o escritor e ativista social evangélico Ronald Sider, dos Jesus está conosco.” A Repas foi a anfitriã do último enEstados Unidos. Mais informações sobre o evento e a Recontro do movimento, em Curitiba. Ali, foi avaliada a ação nas podem ser obtidas através do site da entidade (www. das entidades envolvidas e traçadas as estratégias para o renas.org.br). A homepage disponibiliza ainda um boletim desenvolvimento do trabalho conjunto. “Foi um privilégio eletrônico semanal gratuito e promove filiações ao movipoder receber e conhecer tantas pessoas. Todos saímos gamento. nhando”, alegra-se Fuchs.
Lançando a rede
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reflexão Ricardo Agreste teólogo e escritor
Entre desertos e palácios
É preciso concordar com Paulo quando diz que tudo podemos no Senhor
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o longo de minha caminhada cristã, não foram poucas as vezes em que me encontrei cercado por circunstâncias adversas. Em diversas ocasiões, carreguei dentro de mim um sentimento de que não conseguiria sair de uma determinada situação. Se não bastassem os problemas externos que me afligiam, meu ânimo se encontrava debilitado e sentimentos contraditórios me deixavam ainda mais confuso. Para completar o cenário caótico, em alguns destes momentos, um outro elemento intensificava ainda mais a crise: a sensação de que Deus não estava ouvindo minhas palavras ou olhando por mim. Apesar de ouvirmos muito pouco acerca da realidade destes momentos, ao longo da jornada de um cristão eles existem de fato. Descrevendo sua angústia em uma destas fases de sua caminhada cristã, João da Cruz chega a definir tal momento como sua “noite escura da alma”. Eu, particularmente, tenho optado por nomeá-lo simplesmente como deserto. O deserto, como espaço geográfico, é um lugar árido e de visual caracterizado pela desolação. Sua imagem transmite a todos a idéia de ausência de vida e iminência de morte. No entanto, é interessante notar que na espiritualidade bíblica o deserto não representa um lugar de perdição e destruição. Muito pelo contrário – nas páginas das Escrituras ele é retratado inúmeras vezes como um lugar onde pessoas são surpreendidas pela presença de Deus e por seu cuidado gracioso para com suas vidas. Neste sentido, o deserto pode se visto como um lugar para onde muita gente se desloca por força das circunstâncias, como aconteceu com Davi, ou voluntariamente, a fim de buscar a presença de Deus, como aconteceu com Jesus. Mas o deserto pode também ser momento existencial caracterizado pelas adversidades, decepções, enfermidades, crises e perdas; um tempo que não gostaríamos de atravessar, mas que, no futuro, nos dará plena consciência de sua importância na construção de nossas vidas. Há pessoas que acreditam que este tempo de deserto pode ser altamente perigoso para sua caminhada com Deus. Elas temem que, diante das pressões externas e lutas espirituais, possam vir a desanimar ou mesmo a se decepcionar com o Senhor, abandonando até mesmo a caminhada. No entanto, as histórias bíblicas nos mostram o contrário. No deserto, servos do Senhor são lapidados e ganham maior consciência do amor de Deus por suas vidas e de sua vocação na história. É ali que, ao invés de se perderem, foram encontrados pelo Pai. Na verdade, existe um espaço muito mais
perigoso e nocivo para a genuína espiritualidade do que o deserto. É o que podemos chamar de palácio: o lugar onde experimentamos o poder e a fartura. No palácio, temos a sensação de que tudo está sob nosso controle. No palácio, nem mesmo precisamos de Deus, pois o pão nosso de cada dia está garantido pelas nossas próprias conquistas. Por isso mesmo, as histórias bíblicas e as biografias de homens e mulheres do passado nos revelam que, em sua grande maioria, o espaço em que pessoas mais frequentemente se perdem não é o deserto, mas o palácio. É quando vivem no palácio que abaixam a guarda, passam a confiar demais em si mesmas e se veem cercadas de oportunidades que não tinham antes. É no contexto do palácio que o dinheiro, o sexo e o poder se mostram mais sedutores, levando o ser humano à ruína. Creio que somos convidados a desenvolver nossa espiritualidade ao longo de uma caminhada que envolve tempos de desertos e tempos de palácios. Nos desertos, precisamos encontrar o caminho da confiança no caráter de Deus e da submissão aos seus desígnios, principalmente quando eles não são os da nossa vontade. Mas, nos palácios, precisamos exercitar a humildade de coração e a dependência do Senhor, reconhecendo que tudo o que temos e somos veio de suas mãos – e que as bênçãos não nos são privilégios, mas sim, responsabildade. Isso porque ambos – tanto os palácios como os desertos – segredam armadilhas próprias. Enquanto desertos são lugares onde a amargura e a desconfiança nos assaltam, nos palácios somos constantemente envolvidos pela tentação de assumirmos o controle de nossas próprias vidas. É tendo em mente a consciência de que nossa espiritualidade é construída através de desertos e palácios que podemos compreender as palavras de Paulo em Filipenses 4.10-13: “Alegro-me grandemente no Senhor (...) pois aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece”. Aprender a cruzar desertos e a viver em palácios é uma tarefa árdua que requer uma vida inteira de muita oração e dependência de Deus. No entanto, é preciso concordar plenamente com o apóstolo quando diz que tudo podemos no Senhor. Só isso pode explicar o fato de que, apesar dos desertos e palácios, ainda estamos firmes – e, apesar de nossos tombos e deslizes, ainda continuamos no caminho.
Aprender a cruzar desertos e a viver em palácios é uma tarefa árdua que requer uma vida inteira de muita oração e dependência de Deus
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livros | música | vídeo
[Livros]
CH Cultura ESTANTE
Experimentalismo inquietante
CRÍTICA E AUTOCRÍTICA A tragédia da Igreja: Ausência de dons A.W.Tozer 180 páginas Danprewan Editora
COM SUA VEIA ARTÍSTICA, PASTOR AMERICANO ROB BELL QUESTIONA O MODO DE VIDA DOS CRISTÃOS DIANTE DOS DESAFIOS DO MUNDO DE HOJE Jesus quer salvar os cristãos Rob Bell Editora Vida
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esus quer salvar os cristãos – Manifesto em prol da Igreja no exílio é um livro que choca já pelo título. Afinal, os cristãos precisam ser salvos de quê? De si mesmos, responderia prontamente Rob Bell. Antes de completar 40 anos – aquela idade em que, na América, o ministro do Evangelho está diante do dilema de ser apenas mais um pregador ou descobrir uma fórmula ou método que catapulte seu ministério à fama –, Bell já é considerado um inovador. Suas mensagens na Mars Hill Bible Church de Grand Rapids, Michigan, são uma mistura de arte, experimentalismo e performances, além, claro, de uma desafiante exposição da Palavra de Deus. Pois seu livro, que chega aos leitores brasileiros pela Editora Vida, é uma demonstração de sua capacidade de fazer pensar usando fórmulas originais. As ambiguidades do mundo de hoje e, mais precisamente, os paradoxos do christian way of life à luz de fatos e verdades da Palavra de Deus são a tônica da obra. Bell faz concessões à estrutura da narrativa bíblica, embora recorra invariavelmente à própria veia poética e ao apurado senso estético e crítico. O resultado é um livro que fascina e incomoda. Trata de fé e medo, riqueza e guerra, pobreza, poder, segurança, terror – enfim, das incertezas deste mundo que jaz no maligno mas também floresce de esperança cada vez que um crente dobra seus joelhos. Trata do que significa ser parte da Igreja de Jesus Cristo em um mundo onde pessoas jogam aviões contra prédios enquanto outras carregam seus jipes com as compras do supermercado. 52
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Aiden Wilson Tozer (1897-1963), mais conhecido como doutor Tozer, influenciou bastante a Igreja brasileira nas décadas de 1970 e 80 através de seus escritos. Pastor, escritor, conferencista e conselheiro nascido nos Estados Unidos, ele exerceu um frutífero ministério que durou quase meio século, baseado na centralidade de Cristo e na luta contra o pecado. A tragédia da Igreja faz parte de uma série se sermões publicados após sua morte. Seu conteúdo fala contra a ideia de que um pastor precisa apenas ser treinado para exercer de maneira profícua seu ministério. Para Tozer, falta aos líderes a dependência do Espírito Santo e o preparo espiritual segundo os padrões da Palavra de Deus. Ele critica também a frouxidão teológica que faz com que os crentes nivelem por baixo os padrões doutrinários – uma palavra que atinge diretamente os atuais movimentos pós-modernos da Igreja.
BRADO DE ALERTA Este mundo: Lugar de lazer ou campo de batalha? A.W.Tozer 152 páginas Danprewan Editora Coletânea de artigos curtos, mas com conteúdo profundo – uma característica dos escritos de Tozer –, Este mundo: Lugar de lazer ou campo de batalha? reafirma a necessidade de o crente estar sempre preparado para a luta espiritual. Muito tempo antes do surgimento das novas eclesiologias que ensinam ser o Evangelho um caminho fácil em direção à felicidade, Tozer já propunha uma maior responsabilidade aos seguidores de Jesus, alertando-os acerca dos perigos da conformação com o mundo. A Terra, segundo o autor, é lugar de guerra, e não de descanso. Com habilidade e profundidade, os textos se sucedem abordando assuntos como santidade, juízo, qualidade da fé, humildade na liderança e por aí vai.
AMOR LEVADO AO EXTREMO A Paixão – O triunfo da ressurreição Compilação 160 páginas Publicações RBC Para os cristãos, o ponto culminante da História foi um certo dia na Judeia, quando o Filho de Deus deu sua vida para a salvação da humanidade. E este período é relatado em minúcias e profundidade em A Paixão – O triunfo da ressurreição, lançamento de Publicações RBC. É uma compilação de textos que expõe ao leitor não apenas o que aconteceu, mas sobretudo, o porquê de ter acontecido. Um livro que convida o leitor, crente ou não, a refletir acerca do significado do mais profundo ato de amor de que se tem notícia.
[Música – Nelson Bomilcar]
músico e escritor
PRATELEIRA GLAUBER PLAÇA
Outras praias
A voz de um
coração pastoral
JOSUÉ RODRIGUES, QUE FAZ DA MÚSICA UMA EXTENSÃO DE SEU MINISTÉRIO, LANÇA QUARTO SECRETO, CD QUE CELEBRA A INTIMIDADE DO CRENTE COM DEUS
Já é tempo de o Brasil tomar conhecimento da música, poesia e talento de Glauber Plaça. Representante da safra nova de compositores cristãos, ele tem uma veia artística bem brasileira. No CD Outras praias, lindas melodias são a moldura mais que adequada para a mensagem transformadora do Evangelho. Melhor ainda quando o artista se faz acompanhar por músicos extraordinários como Silvestre Kuhlmann, Stênio Marcius, Alexandre Viriato, Henrique Ramiro, Sérgio Pereira, Marivone Lobo, Gilson Oliveira e João Alexandre, que assina a produção junto com Jair Nascimento, o Jica. (www.myspace.com/glauberplaza)
BETO TAVARES Clamo
Beto Tavares é o fundador da Vila do Louvor. em Piratininga (SP), ministério ligado à Jocum. No CD Clamo, produzido pelo guitarrista e arranjador Maurício Caruso, Beto conseguiu produzir um álbum vigoroso nas sonoridades e desafiante nas letras, acompanhado por Renan Fernandes (guitarra), Altamir Coelho (baixo), Rodrigo e Thiago Falsetti (respectivamente, teclado e bateria). David Neto e Thiago Pinheiro também dão o ar da graça. Com a bolacha na bagagem, Beto Tavares está de mudança para a Itália, acompanhado da mulher, Raquel, e da filha Nicole. Lá, vai desenvolver atividades missionárias, sempre de braços dados com a Jocum. Parceria das melhores para o Reino de Deus. (www.viladolouvor.org)
VOCALE Vocale
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este belíssimo registro musical intitulado Quarto secreto, o intérprete e compositor Josué Rodrigues dá mais uma mostra de sua espiritualidade e sensibilidade. Quase 25 anos depois do lançamento do primeiro LP, Boas palavras, o álbum é mais uma rica coleção de canções poéticas e com profunda base bíblica. E nem poderia ser diferente. A música é uma extensão do ministério pastoral de Josué, que lidera a Igreja Presbiteriana Betânia de Niterói (RJ). Quarto secreto fala de intimidade com Deus, levando o ouvinte a caminhar, mediante a adoração, na direção dos segredos que só se pode descobrir quando se busca a face do Senhor no secreto, como recomenda o próprio Cristo. Em parceria na produção musical com o multiinstrumentista Heber Ribeiro e com a participação de amigos como Henrique Mafra e Felipe Vellozo, Josué vai desenvolvendo sua música de forma consciente e simples, como se estivesse mesmo sentado na própria cama e dedilhando no violão acordes de louvor. Um dos destaques do CD é a faixa Canto simples, e dueto com o filho Paulo Nazareth – que, além de assinar a canção, é vocalista do excelente grupo Crombie. (contatos: fone 21 2714-5152 ou e-mail jorodrigues@globo.com) www.nelsonbomilcar.com.br
Naora Knupp, Karol Stahr, Fabrícia Erler e Hellem Pimentel. Se você ainda não conhece estes nomes, é bom que saiba que elas formam o Vocale, que tem se destacado na capital capixaba. E foi lá mesmo em Vitória, no Estúdio Nova Arte, que o quarteto acaba de gravar seu primeiro álbum, Vocale. As faixas foram compostas pela genial musicista Karine Lessa e pelo tecladista e produtor Fabrício Araújo. Bastante eclético, com arranjos que valorizam suaves texturas e harmonias contemporâneas, o trabalho das quatro cantoras é daqueles que tocam mente, coração e espírito. (fones 27 3349-9837 e 9960-0930)
SIMONE ROSA Nada vai me calar
Já diz o ditado: filho de peixe, peixinho é. Morando nos Estados Unidos com sua família, Simone Rosa traz neste CD sua educada voz, herança musical do canto coral recebida de seus pais, maestro Almir Rosa e Berenice Rosa, ministros de música da Igreja Batista da Praia do Canto em Vitória (ES). Nada vai me calar já tem a chancela da qualidade na ficha técnica: com produção executiva de Max Hubner e produção musical de Jamba, foi mixado no estúdio Maze de Nova Iorque e masterizado no Tangerine Mastering. Os arranjos do álbum foram executados por músicos radicados na América. É um registro do ministério de Simone Rosa, marcado pela adoração a Deus. (contatos com Almir Rosa: www.ibpc.org.br) a b r i l
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[V deos – Nataniel Gomes]
professor e editor
Com sombra de dúvida Personagens religiosos densos são os destaques de Dúvida, longa que explora suas ambiguidades para traçar um quadro de indefinição que permanece até o fim e depois dele
PELÍCULAS A Bíblia condena duramente o pecado, apontado por Deus como raiz dos males humanos. Entre tantas atitudes que desagradam ao Senhor, a hipocrisia e o ódio estão entre as piores – e a seleção de sugestões desta edição traz filmes que exploram bem a infeliz capacidade do ser humano de afastar-se de seu Criador. Mas, felizmente, sempre há oportunidade para o arrependimento, tanto para os personagens como para nós, mortais de carne e osso.
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TROPAS ESTELARES III
Philip Seymour Hoffman interpreta o padre Flynn: personagem piedoso é o destaque de Dúvida
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á um verdadeiro duelo de estrelas “oscarizáveis” nesse filme: Amy Adams, Viola Davis, Philip Seymour Hoffman e Meryl Streep. Aliás, os quatro foram indicados à última estatueta. Só isso já é indício de qualidade, mas Dúvida tem muito mais. A história se passa um ano depois do assassinato do ex-presidente americano John Kennedy, quando os Estados Unidos ainda viviam um momento de profunda incerteza. Esse é o tema do sermão do padre Flynn (Hoffman) no início do filme. A mensagem tem forte impacto sobre a freira Aloysius Beavier (Streep), diretora da escola onde ambos atuam. Cada um deles representa um estilo de liderança: o padre é carinhoso, progressista e cheio de graça, enquanto a irmã é durona, legalista e conservadora. Apoiada numa denúncia, Beavier acusa o religioso de ter abusado de um dos meninos. A questão que surge é: Brendan Flynn é um pedófilo? O título do longa tem mais de uma interpretação, e essa é uma delas. O padre é um personagem ambíguo: cheio de sutilezas, sempre levanta dúvidas acerca de sua inocência, como se estivesse de fato escondendo algo. Por outro lado, a reitora atrai a antipatia do espectador com seu jeito frio e rígido, mas ganha pontos ao cuidar com denodo das religiosas mais velhas. Fica aí mais uma dúvida: será que ela, afinal de contas, não está mesmo certa? Um dos méritos do roteiro é justamente construir personagens religiosos nãodogmáticos, complexos e bem humanos. Um deles é a Irmã James (Amy Adams) doce e extremamente ingênua, com papel fundamental na trama. O filme não facilita a vida de espectador. Quem leu Dom Casmurro, de Machado de Assis, vai ficar com o mesmo sentimento no fim. A dúvida permanece... (Doubt, EUA, 2009. Direção e roteiro: John Patrick Shanley; elenco: Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Viola Davis, Joseph Foster, Lloyd Clay Brown. 104 min; drama) 54
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A segunda continuação de Tropas estelares (1997), de Paul Verhoeven, acaba de sair diretamente em DVD no Brasil. O filme traz de volta Johnny Rico (Casper Van Dien), agora como coronel, com a missão de liderar a missão de resgate de uma tripulação perdida em outro planeta infestado de insetos monstruosos. Obviamente, a produção não tem o mesmo impacto do primeiro filme, uma ficção científica inteligente e cheia de tons políticos, mas ainda consegue tratar de um momento apocalíptico da história, em que será proibido professar qualquer tipo de religião. Alguns personagens até manifestam uma crença, mas descobre-se que não passa de lavagem cerebral com contornos de traição – uma crítica à apropriação do discurso religioso a serviço de intenções que nada têm a ver com Deus. (Starship Troopers 3: Marauder, 104 minutos, EUA, 2008, Sony)
FUGA DE LOS ANGELES
Numa espécie de releitura da tragédia de Sodoma e Gomorra, a cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos, sofre uma dura punição por seus pecados. No ano 2000 (data bem apropriada em termos apocalípticos), um pregador fundamentalista candidata-se à Presidência com o discurso de que a ira divina está para se acender contra o lugar. Pronto – um terremoto separa a metrópole do continente americano e ela é transformada numa prisão gigantesca, para onde são mandados todos os criminosos. Treze anos depois, aquele candidato, já presidente vitalício, exerce um governo ditatorial, mas não contava com a rebeldia da própria filha, que se une a um chefão criminoso para tentar derrubar o pai. Assim, Snake Plisske, um misto de herói e bandido, recebe a missão de contornar a crise – e matar a garota. Continuação do filme Fuga de Nova York, é mais uma paródia do antecessor, mas serve de alerta – inverossímil, claro – contra os males do fundamentalismo hipócrita. (Escape From L.A., 101 minutos, EUA, 1996, Paramount)
PULP FICTION – TEMPO DE VIOLÊNCIA
O polêmico diretor Quentin Tarantino narra a missão de dois assassinos profissionais (John Travolta e Samuel L.Jackson) que são encarregados de fazer uma cobrança para um gângster. O filme conta várias histórias correndo paralelas, sempre com tons existencialistas – a dupla escapa da morte e começa a discutir se foi ou não um milagre, ao mesmo tempo que um boxeador decadente (o duro de matar Bruce Willis) se mete numa enrascada por vencer a luta que deveria perder. Mas o personagem de Jackson tem um tipo de conversão e decide realmente mudar de vida. Temas como poder, hedonismo, violência e superação misturam-se no longa, mais apropriado para quem tem estômago forte. (Pulp Fiction, 154 minutos, EUA, 1994, Miramax)
Lobista do bem À frente do movimento Rio de Paz, o pastor Antônio Carlos Costa diz que a pressão social é uma solução contra a violência urbana
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Carlos Fernandes
Eles já espalharam centenas de cruzes nas areias da badalada Praia conceito cristão referente à santidade da vida humana. Seu foco de Copacabana, estenderam faixas de protesto diante do Palácio principal, contudo, é a redução da letalidade no país, porque as Guanabara – a sede do governo estadual do Rio de Janeiro –, sol- mortes violentas são o maior problema social deste momento de taram balões vermelhos em homenagem aos mortos da guerra ur- nossa história. Rio de Paz é um movimento da sociedade civil bana e até simularam um cemitério clandestino usado por trafican- e não tem ligação formal com nenhuma instituição religiosa – tes para dar um sumiço nos desafetos. Por trás de cada uma dessas partimos, no entanto, de uma base intelectual cristã e temos ações pacíficas e criativas, está um grito de socorro – um brado de nos evangélicos brasileiros a maior parte da nossa mão-de-obra “basta” diante do descalabro em que se transformou a e sustento. Nosso desejo é uma organização o mais segurança pública brasileira, em geral, e a fluminense, ampla possível da população como um todo, a fim de Entrevista em particular. O objetivo é mesmo chamar a atenção, exercer constante pressão social. e tais iniciativas têm repercutido pelo país e no exterior. É o “lobby do bem”, nas palavras do teólogo e pastor Antônio Car- Quem idealiza os atos públicos do grupo? los Costa, coordenador do movimento Rio de Paz. A organização Olha, não quero criar uma aura mística sobre o que estamos fanão-governamental surgiu no fim de 2006 logo após um tenebro- zendo. Mas as ideias surgem em geral quando estou orando, e so episódio em que criminosos, em ação concatenada, saíram pela logo trato de compartilhá-las com integrantes do movimento. A Cidade Maravilhosa praticando chacinas, incendiando ônibus com partir daí, organizamos os atos públicos da maneira mais adegente dentro e espalhando o terror. Em um único dia, 19 pessoas, quada para a comunicação da mensagem que queremos emitir. incluindo trabalhadores e estudantes, estavam mortos. O número assusta, mas ainda é pequeno se comparado às esta- Manifestações como as promovidas pelo Rio de Paz em Cotísticas, que dão conta de 6 mil homicídios por ano no estado do pacabana trazem grande repercussão, mas sempre levantam Rio de Janeiro. “Se incluirmos os casos de pessoas desaparecidas e cr´ticas de segmentos que enxergam em tais atos uma exbaixas em confrontos com a polícia, chegaremos ao número de 10 cessiva preocupação midiática e certa elitização, sobretudo mil”, diz Costa. Quando soube do arrastão da morte, ele resolveu pelo fato de serem realizadas na Zona Sul da cidade. Essa é agir. “Reuni alguns amigos e falei do meu desejo de partir para o a motivação do movimento? enfrentamento pacífico e nas ruas”, lembra. Primeiro, ele conseguiu Posso compreender a preocupação de muitos. Corremos mesmo o risco de só trabalhar para a mídia e atentar para os dramas da a adesão dos membros da Igreja Presbiteriana da Barra da Tijuca, da qual é titular. Em pouco tempo, vários crentes, militantes sociais classe média. Mas, não é isso que queremos. Quando estamos e intelectuais aderiram. Hoje, o movimento é organizado, embora na Zona Sul protestando, apontamos para os dramas dos pobres, ainda não tenha muita adesão do segmento evangélico. “Nem sem- que são os que mais morrem devido à violência. Nosso desejo é pre podemos contar com o apoio dos evangélicos para combater o o de mobilizar a população – informar, despertar e mobilizar da problema da violência urbana no Brasil”, lamenta. Mas ele não de- forma mais extensa possível. Para isso, encontramos um meio: o sanima, e acredita que a pressão da sociedade sobre o poder público protesto midiático. Criamos imagens que são levadas ao mundo pode mudar as coisas. O mais curioso é que nem sempre Antônio inteiro através de todos os meios de comunicação. É por isso que Carlos é identificado como pastor nas reportagens sobre os atos pú- usamos a Praia de Copacabana. A mídia gosta disso e hoje a teblicos do Rio de Paz. “Mas quando a opinião pública nos vê corren- mos ao nosso lado, numa parceria que nos surpreende e permite do riscos pelo que cremos, expressando amor pela vida humana e dizer para o Brasil e o mundo que milhares de pessoas estão lutando pelo que faz sentido, passa a nos respeitar”, acentua. O pa- sendo assassinadas no nosso país. cifista concedeu a seguinte entrevista a CRISTIANISMO HOJE: CRISTIANIMO HOJE – Como pode ser definido o movimento Rio de Paz?
ANTÔNIO CARLOS COSTA – O Rio de Paz é o sonho de criar uma cultura de apreço pelos seres humanos no Brasil. Representa a luta pela defesa dos direitos humanos a partir do 56
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O fato de o senhor ser um pastor evangélico ajuda ou prejudica o movimento, nas relações do Rio de Paz com a m´dia e com a sociedade?
Sinto que parti em desvantagem, pois parece que a opinião pública tem a nós, pastores, como gente despreparada, indiferente e não necessariamente confiável. Percebo, no entanto, que quando
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Fundador do movimento Rio de Paz, o pastor Antônio Carlos diz os evangélicos precisam despertar para a trágica situação à sua volta essa mesma gente nos vê correndo riscos por causa do que cremos, expressando amor pela vida humana e lutando pelo que faz sentido, passa a nos respeitar. Hoje, temos muitas pessoas nos apoiando – professores universitários, policiais, jornalistas, parentes de vitimas da violência, dirigentes de ONGs, entre tantos outros. A pergunta do apóstolo Pedro continua ecoando: “Quem nos vai perseguir se formos zelosos pelo que é bom?”. Quando as pessoas que não são cristãs veem nossas boas obras, glorificam ao nosso Pai que está no céu. O meu sonho é que o Rio de Paz faça a Igreja recuperar o respeito perante a sociedade brasileira. Quais foram os casos de violência da crônica policial recente do Rio que mais o incomodaram?
Se já tivéssemos conseguido mobilizar as igrejas a uma resistência cont ´nua e pac´fica aos homic´dios no Brasil, muitas vidas teriam sido salvas – inclusive a de irmãos nossos na fé
O caso do João Roberto, menino de três anos morto por policiais na Tijuca no ano passado, foi certamente um desses casos que marcou a minha vida para sempre [N.da Redação: o crime aconteceu quando policiais militares abriram fogo contra o carro em que a criança estava com sua mãe. Eles disseram à Justiça que o confundiram com um veículo roubado]. Em todo o meu ministério, nunca vi dor maior do que a de um pai e uma mãe perante o corpo de um filho assassinado. Também chorei muito no enterro dos policiais assassinados na Fonte da Saudade [O soldado Francisco Alves Pereira Júnior e o sargento Joel de Almeida Gomes foram executados em serviço na região
da Lagoa Rodrigo de Freitas, área nobre da cidade]. Estendi uma faixa no local do crime com os seguintes dizeres: “Mataram aqui dois seres humanos que trabalhavam em condições desumanas”. Saiu na primeira página de O Globo. No velório, vi quando a filha adolescente aproximou-se do corpo do pai. Ela olhou seu rosto, recuou e começou a gritar. Existe algum tipo de parceria entre o movimento e outras instituições organizadas em torno do mesmo objetivo?
Nós temos mantido contato com várias organizações não-governamentais, como o Viva Rio, o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania e o Instituto Sou da Paz. Pesquisadores e professores universitários têm prestado ao Rio de Paz uma ajuda de valor incalculável. A ONU, através do seu escritório no Rio de Janeiro, concedeu-nos a honra de organizar em parceria três fóruns sobre segurança pública. Outro dia, uma pesquisadora disse algo que me fez muito bem. Para ela, é surpreendente a nossa capacidade de dialogar com todo mundo – mídia, meio acadêmico, parentes de vitima, policiais e, poderia acrescentar, a própria Igreja. Fico feliz, pois acredito que a Igreja do Senhor tem o chamado para fazer pontes entre os seres humanos. Afinal, os pacificadores serão chamados de filhos de Deus. a b r i l
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Como tem sido a reação das autoridades públicas diante das manifestações promovidas pelo Rio de Paz?
Já fui recebido pelo vice-presidente José de Alencar, pelo governador Sérgio Cabral Filho e seu secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. Todos esses encontros foram muito cordiais e fui tratado com grande respeito. Pude falar tudo o que pensava. Apontei para os maiores absurdos e pedi providências. Mas não vi até agora nenhuma mudança significativa na segurança pública, especialmente aqui no Rio.
O governo Sérgio Cabral tem sido acusado de incentivar a pol´tica do “atira primeiro e pergunta depois”, como no caso do pequeno João Roberto. Como mudar essa pol´cia?
A polícia é parte do problema e parte da solução. Uma polícia corrupta, mal preparada e pessimamente remunerada torna a atuação dos seus melhores homens quase inviável. Sei de excelentes policiais que não conseguem trabalhar. É preciso maior controle sobre a ação policial. Não se pode botar uma arma nas mãos de um ser humano em nome de milhares de pessoas, com base em um pacto social, sem exercer controle algum sobre alguém dotado de tanto poder. Outra coisa – essa polícia não pode ser usada com fins políticos, que é o que tem ocorrido ultimamente no Rio de Janeiro. Falta ao atual governo uma explicitação da sua política de segurança, com a apresentação de metas, planejamento e cronograma. A sociedade precisa cobrar a apresentação de metas de redução de homicídios. E essa política pública tem que se transformar em política de Estado, e não de governo apenas. Não se pode permitir que aquilo que um governante fez de bom pela segurança não tenha continuidade no governo seguinte. Por que o senhor começou a envolver-se com a questão da cidadania?
Além de coordenar o Rio de Paz, quais são suas outras atividades?
Exerço também a função de pastor na Igreja Presbiteriana da Barra, de onde recebo todo o meu sustento. Escrevo, viajo, dirijo um programa de televisão, mantenho um blog diário e presido um seminário teológico, além de estar fazendo doutoramento em teologia na França. Faço parte da diretoria do Instituto Bola pra Frente e sou conselheiro de uma denominação calvinista chamada Missão Plena. Como sua fam´lia encara sua militância?
Temos passado dias difíceis. Há temores com possíveis retaliações e cerceamento da nossa liberdade, pois certamente temos C R I S T I A N I S M O
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Até bem pouco tempo, a ênfase nas igrejas era o céu. Costumava-se dizer dos púlpitos que, como os crentes não são deste mundo, as coisas terrenas deveriam tem pouca importância. Isso mudou radicalmente a partir dos anos 1980, e hoje a pregação escatológica virou uma raridade. O evangélico do século 21 quer prosperar e viver bem, com pouca visão da eternidade. Na sua opinião, quais as causas de tamanha guinada?
Sem a esperança cristã, a vida humana é uma piada trágica num contexto de total absurdo cósmico. Para mim, é um enigma como pessoas conseguem viver sem aguardar “novos céus e nova terra”. Quando a Igreja deixa de falar sobre o céu, priva o homem daquilo que dá sentido às suas ações na terra. O que está ocorrendo é que, com a perda do monopólio da verdade teo lógica por parte de uma única organização eclesiástica devido à Reforma Protestante, as igrejas passaram, com o decorrer do tempo, a ter sua vida regida por leis análogas às que regem o mercado. Todos estão procurando tornar seu produto mais atraente para atrair o consumidor. O que ocorre? Promessas que Deus nunca fez são feitas. Há mais preocupação com o reino da terra do que com o Reino do céu. Sempre que isso acontece, os seres humanos acabam não tendo nem uma coisa nem outra. A teologia da prosperidade quebrou o padrão protestante de produção de riqueza para a glória de Deus mediante trabalho duro. Hoje, pastores que enriquecem pregam para pessoas que fazem parte dos estratos sociais mais pobres da sociedade brasileira.
Ser defensor dos direitos humanos implica ser também defensor dos direitos de quem pratica crimes
Porque não consigo mais divorciar ética privada de ética pública. Não posso me preocupar apenas com álcool, dinheiro e sexo. Tenho que me preocupar também com violência, pobreza e falta de acesso à educação. A Igreja está precisando de mais homens de espírito público. Vivemos em um país no qual milhares de pessoas que têm seus direitos violados diariamente. E o pior é que não sabem em quê o Estado está falhando com elas, como também não sabem a quem recorrer. Como não sou especialista em segurança pública, tive que buscar muita informação com especialistas e ler um bocado, consultando tanto os clássicos sobre política quanto obras sobre crime, violência, controle social e segurança pública.
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gente acompanhando nossos passos. Confesso que senti certo alívio quando um dos meus filhos saiu do país para estudar.
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Vocês encontram dificuldades para mobilizar as igrejas?
As tentativas de procurar ajuda nas igrejas foram feitas das mais diferentes formas. Nem sempre, lamentavelmente, pudemos contar com o apoio dos evangélicos aos quais expusemos o problema da violência urbana no Brasil. Se o Rio de Paz já tivesse alcançado o alvo de mobilizar a igrejas visando à resistência contínua e pacífica aos homicídios no Brasil, milhares de vidas já teriam sido salvas – inclusive a de irmãos nossos na fé. Sei de pastores que perderam a vida da forma mais banal e cruel. Por que não temos uma multidão de evangélicos nas ruas, protestando juntamente conosco?
E qual é a resposta?
Primeiro, porque a nossa liderança não dá a sua glória a outrem. Não tem o mínimo interesse de promover alguém enquanto faz o papel de coadjuvante. Não há o espírito da Trindade, onde uma pessoa serve a outra e a exalta. Segundo, por causa da teologia que exerce domínio majoritário sobre as mentes no Brasil. É uma teologia que não dá esperança de transformação social nem tem senso de graça comum. Essa teologia é capaz de enfatizar o aspecto privado da ética cristã, mas não a sua dimensão pública. É boa para fazer o jovem se preocupar com masturbação, mas péssima para levá-lo a se preocupar com justiça social. Vivemos uma espiritualidade que se preocupa com a igreja, mas não se preocupa com o país. E, em terceiro lugar, falta amor mesmo. Estamos dentro dessa atmosfera de indiferença tão presente na nossa sociedade. Contudo, em momentos de fundamental im-
portância, pude contar com a ajuda de crentes de outras denominações, inclusive pastores, que abriram as portas de suas igrejas para o movimento, passaram madrugadas em claro conosco e constantemente têm nos encorajado.
narcotraficantes e diante do domínio territorial armado por parte do crime organizado, demanda, na minha opinião, uma ação análoga à que o Exército brasileiro levou a cabo no Haiti. E o que dizer do papel das classes média e alta na perpetuação do panorama de violência na cidade, sobretudo na questão do mercado de entorpecentes?
O que há de falácia e de fato quando se atribui a violência ao agravamento da crise social?
Estudos mostram que nem sempre a pobreza está ligada à violência. Há casos no Brasil de regiões onde as localidades mais pobres não são as mais violentas. O que vai determinar a violência é a ausência do Estado, tanto no que tange às políticas públicas quanto no que se refere ao poder de polícia, especialmente em áreas onde ocorre a dinâmica do narcotráfico associada à corrupção policial. Mas quem pode usar a miséria para justificar um traficante que arrancou os seios da namorada e a degolou em seguida? Nesse ponto, o cristianismo ajuda um bocado, pois somente ele nos dá uma base intelectual para enfatizarmos tanto a responsabilidade humana quanto a responsabilidade do Estado.
Estas são as maiores responsáveis por toda essa tragédia social. Apesar de toda informação que possuem, esses estratos sociais não agem, esperando um parente ser assassinado para abrir uma ONG. Os mesmos que consomem cocaína são os que querem a morte daqueles que são sustentados e compram armas com o dinheiro desses milhares de consumidores.
Quando estamos na Zona Sul protestando, criamos imagens que são levadas ao mundo inteiro, denunciando que milhares de pessoas são assassinadas no Brasil
Mas a opinião pública já parece meio cansada de ouvir falar em defesa dos direitos humanos dos bandidos...
É, mas ser defensor dos direitos humanos implica ser também defensor dos direitos de quem praticou o crime. Nossa Constituição não prescreve para o apenado campo de concentração, que é o caso do sistema prisional brasileiro. A lei não autoriza ninguém a executar quando se pode prender. Isso, contudo, não significa ter uma relação romântica com marginais, ou dizer que miséria justifica a hediondez e que o Estado não deve exercer seu poder de coerção. Nas vezes em que o Estado fez isso de maneira mais ostensiva, os resultados não foram dos melhores. A ação de forças militares federais na segurança do Rio já foi tentada algumas vezes – e só se conseguiu um efeito momentâneo. O senhor acha que o Exército na rua seria uma solução para a violência?
É claro que a solução do problema da violência envolve medidas de médio e longo prazo. Penso, no entanto, que alguma coisa precisa ser feita a curto prazo, se é que queremos salvar 10 mil vidas por ano – esse é o número total de mortes violentas se somarmos ocorrências como encontro de cadáveres, pessoas desaparecidas que na verdade estão mortas, homicídios dolosos e latrocínios e execuções praticadas pela polícia. Salvar toda essa gente num contexto de falta de policiamento ostensivo à altura da necessidade, do uso de armas de guerra por parte de
Como cidadão carioca, como o senhor se sente diante da dilapidação do tecido social no Rio?
Triste e irado. Sofro porque amo o lugar onde nasci. Minha geração já foi marcada para sempre. Fora o cerceamento da nossa liberdade, sofremos hoje com os nossos filhos na rua. Os fins de semana dos cariocas da minha geração se transformaram em sessões de monitoramente de filhos através de telefone celular, até eles chegarem em casa. É puro preconceito dizer que a imigração, sobretudo oriunda do Nordeste e das periferias, foi uma das responsáveis pelo agravamento da crise social nas grandes cidades brasileiras?
No caso do Rio de Janeiro, sim. O problema não é a pessoa vir do Nordeste, ou de outro lugar, mas o fato de ela chegar a uma metrópole desumana, impessoal, incapaz de oferecer condições dignas de vida para o imigrante pobre. E tudo isso ocorre sob o olhar de uma classe política que, movida por fins eleitoreiros, permite a utilização ilegal de espaços públicos, que acabam se transformando em favelas. Quais serão as próximas ações do movimento Rio de Paz?
Agora em 2009 investiremos pesado no lobby do bem, visando à diminuição da letalidade no Brasil. Estamos com planos de realizar atos públicos em Brasília e no Rio de Janeiro. Se não houver resposta das nossas autoridades públicas, vamos para Nova Iorque protestar em frente ao prédio da ONU. Continuaremos a prestar ajuda, tanto jurídica quanto psicológica, aos parentes de vítimas da violência. Esperamos, até o fim do ano, entregar nas mãos do presidente Lula o nosso Manifesto pela Redução dos Homicídios no Brasil com o respaldo de um milhão de assinaturas. O conteúdo desse manifesto encontra-se no site do Rio de Paz. a b r i l
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Uma mensagem que não volta vazia Hoje, podemos transmitir e gravar vídeos de alta qualidade até mesmo pelo celular
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leitor mais atento pode estar se perguntando: esse tema, de novo? Pois é, no mundo da internet é assim – um ano se vai e tudo muda. Desde a última vez em que falamos sobre vídeo neste espaço, várias coisas legais aconteceram. Por isso, é interessante reafirmar a importância dessa ferramenta, principalmente para a Igreja. E não é que algumas personalidades eclesiásticas já descobriram isso? No início de janeiro, o papa Bento 16 lançou o canal oficial do Vaticano no YouTube (www.youtube.com/vatican), com o objetivo de divulgar os principais eventos e atividades do pontífice católico, inclusive seus discursos, com versões em italiano, espanhol, inglês e alemão. O responsável pelo canal não é nenhum jovem nerd, mas a freira americana Judith Zoebelein, de 57 anos. Além do canal, é ela que administra o site da Santa Sé desde 1995. Em entrevista a The Scoble Show (http://tinyurl.com/amwt8j), a religiosa diz que “a missão da Igreja é colocar o mundo secular em contato com o espiritual. E é intrigante utilizar algo de fora da Igreja para aproximá-la do mundo secular, ainda mais através de um mix tão moderno como a internet e a tecnologia”. Para a freira, a web é a expressão do mistério que existe no homem e em seu Criador – e, sendo assim, a internet faz parte do nosso processo criativo. Outra, digamos assim, celebridade eclesiástica que começa a dar os seus primeiros passos na utilização do vídeo como ferramenta de comunicação direta com os seus fãs é a cantora Ana Paula Valadão Bessa. A líder do Ministério de Louvor Diante do Trono acaba de descobrir como incluir vídeos diretamente em seu blog (http:// blogdaana.wordpress.com/). Será interessante ver como uma artista que sabe como poucos trabalhar a sua imagem utilizará o vídeo como canal de marketing – e de bênção – para os crentes. Até mesmo uma das mais recentes ferramentas cristãs na grande rede, o site GodTube, já se metamorfoseou em curto espaço de tempo. É, no mundo digital as coisas voam! Desde janeiro de 2009, o GodTube virou Tangle, ou seja, de um mero site de vídeos passou a ser uma grande rede social cristã. Embora este colunista seja contrário a essa mentalidade de gueto, o Tangle é uma boa novidade para aqueles que seguem a Cristo, mesmo que o próprio site esteja com uma estratégia mais abrangente, conforme se define: “Nós acreditamos em Jesus. Acreditamos na Bíblia. Nós acreditamos que Deus ainda trabalha nas mani-
festações de motoqueiros e nas reuniões de chá da tarde; nas convenções Mary Kay e no Oktoberfest; em Wimbledon e na Copa do Mundo; nas feiras de cidadezinhas do interior e nas eleições presidenciais; nas escolas públicas e nas nossas vidas privadas; nas pistas de boliche e nas ruas desertas”. Com mais de 2 milhões de visitantes em um único mês, o Tangle está se tornando um ponto de encontro importante dos cristãos na web. Essa mudança foi necessária, pois hoje tudo na internet se resume a duas palavras: redes sociais. É claro que uma parte importante do conceito de redes sociais está relacionada à troca de informações – e a utilização de vídeo é uma forma muito eficaz e, mais ainda, muito ágil para que isso ocorra, principalmente, pela tecnologia disponível. Afinal, hoje você pode transmitir e gravar vídeos de alta qualidade até mesmo pelo celular. Foi o que aconteceu, por exemplo, no caso do recente conflito entre as forças de Israel e o grupo palestino Hamas. Enquanto os judeus incluíam vídeos no YouTube com a sua visão da guerra, o outro lado gravava imagens com celular e subia os arquivos para o portal PalTube, com sede em Moscou, na Rússia. Foi dessa maneira que os palestinos denunciaram ao mundo o que estava acontecendo na Faixa de Gaza, que consideravam um massacre. É claro que, no caso específico, a ferramenta foi utilizada a serviço da propaganda e da contrapropaganda. Sem fazer juízo de valor (para a coluna, nenhuma guerra se justifica), a iniciativa foi uma demonstração da importância da transmissão de imagens via interrnet. E o que dizer dos eventos? Em novembro passado, a W4 Editora promoveu o II Fórum Nacional de Cristianismo Criativo, em São Paulo. Os quatro encontros semanais foram transmitidos, ao vivo, pela internet. Pessoas de várias partes do Brasil, além dos Estados Unidos e Portugal, assistiram às transmissões. E nada daquela parafernália televisiva, como equipes, técnicos e enormes equipamentos de difusão via satélite. Foram precisos apenas um notebook, uma conexão 3G e uma webcam. Ou seja, coisa que a maioria das igrejas no contexto urbano tem hoje à disposição para começar a utilizar mais essa ferramenta para o cumprimento da sua missão. Então, mãos à obra: com celular ou webcam na mão, uma conexão de internet e uma ideia na cabeça, que tal começar a espalhar pelo ciberespaço aquela poderosa mensagem que nunca volta vazia?
Uma parte importante do conceito de redes sociais está relacionada à troca de informações – e a utilização de v´deo é uma forma muito eficaz e muito ágil para que isso ocorra
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Os outros seis dias Carlo Carrenho editor de livros
O dia em que nasci como pai Tudo ganha uma nova perspectiva diante da paternidade
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choro irrompeu pelo corredor da maternidade naquela tarde de sexta-feira. Lá fora, o verão escaldante do sertão baiano já dava o ar de sua graça naquele fim de dezembro de 2008. Com apenas um parto agendado para aquele dia, não havia dúvidas: aquele primeiro choro infantil era da minha filha. Naquele momento, não nascia apenas mais uma linda baianinha. Nasciam também um pai e uma mãe, que saíram correndo do quarto para encontrar aquele lindo bebê, cabeludinha, chorando e aprendendo a respirar. Minutos depois, ela estaria no colo de seus pais recém-nascidos e emocionados, que nada faziam para esconder sua felicidade. Tarsila é uma filha do coração. Foi adotada por mim e pela Carla, minha mulher, no momento em que veio ao mundo. Sua mãe biológica, que naquele momento ainda se recuperava da anestesia que a cesariana exigiu, optara por entregá-la para adoção, pois não tinha condições de criá-la. Por isso, a Tarsila nasceu com muito amor. Era amada por sua mãe biológica, que optou por levar até o fim uma gravidez indesejada e procurou a solução que seria melhor para seu bebê. E era amada por mim e por Carla, que naquele momento nascíamos como pai e mãe. Eu sempre quis adotar uma criança, mesmo antes de descobrir que não podia ter filhos. Tentamos, é verdade, tratamentos de infertilidade, mas não deu certo. Ao optarmos pela adoção, muitas dúvidas surgiram. Será que nos sentiríamos mesmo pais da criança? Será que conseguiríamos abrir mão da paternidade e maternidade biológicos? Agora, quase três meses depois, só posso dizer que a experiência tem sido maravilhosa. Não tenho dúvidas de que ser pai é muito mais do que conceber um filho. Aliás, é tanto mais que isso que o aspecto biológico acaba não fazendo a menor diferença. Eu olho a Tarsila e vejo minha filha. Ponto final. O processo de adoção no Brasil não é simples, mas também não é tão complicado como muitos apregoam. Acho fundamental fazer tudo de acordo com a lei – e, portanto, neste momento ainda estou esperando ansiosamente a finalização do processo de adoção. A tentação da adoção à brasileira é grande. Trata-se de uma prática difundida no Brasil de se registrar a criança diretamente no nome dos pais adotivos. Além de crime federal, o registro pode ser
invalidado em qualquer momento, enquanto a adoção é definitiva e irreversível. Mas por que escrevo tudo isso? Bom, em primeiro lugar porque ainda estou embasbacado em ser pai e não consigo pensar em nada mais importante para escrever aqui, é claro. Mas, brincadeiras à parte, escrevo para incentivar casais a adotarem. Especialmente nestas proximidades do Dia das Mães, eu sei por experiência própria como muitos casais sofrem por ainda não serem pais. E é preciso destacar que a adoção é uma forma de paternidade e maternidade tão legítima e bonita como a biológica. Infelizmente, ainda existe muito preconceito contra a adoção, mas a verdade é que é uma das atitudes mais belas do mundo. Crianças adotadas são crianças como quaisquer outras; merecem e precisam de uma família, de pai e mãe. Espero adotar pelo menos mais uma criança. E me encanta a idéia de adotar uma criança mais velha, de três anos ou mais. É que, infelizmente, no Brasil, a maioria das pessoas que querem adotar filhos busca recém-nascidos e, preferencialmente, meninas brancas (se forem loirinhas então, melhor ainda). Então, quero dar uma chance a uma criança com menos chances de adoção. E justamente por isso gostaria de estimular você, leitor, não apenas a considerar a adoção, mas também a pensar em adotar crianças mais velhas e não-brancas. Enquanto espero a adoção definitiva da minha querida filha, vou me divertindo aprendendo a trocar fraldas, fazer mamadeiras, criando canções de ninar e dando banhos (só de vez em quando, pois eu quase afogo a coitadinha de tão desajeitado). E depois que a Tarsila nasceu, tenho confirmado uma verdade que me foi dita por uma amiga sueca: “O aspecto mais maravilhoso de se ter um filho é o sentimento de alívio por você não ser mais a coisa mais importante de sua vida”. Não sei bem por que, essa frase nunca saiu da minha cabeça. E realmente tem sido um alívio delicioso ver minha filha como a coisa mais importante do mundo. Tudo ganha uma nova perspectiva diante da paternidade e as escalas de valores e prioridades mudam para melhor da noite para o dia. E é verdade: depois de se tornar pai, você vai menos ao cinema e a restaurantes. Mas quem precisa da sétima arte e de gastronomia quando tem uma coisa tão fofinha em casa?
Ainda estou embasbacado em ser pai, não consigo pensar em nada mais importante para escrever aqui, é claro
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ÚLTIMAS PALAVRAS Ariovaldo Ramos teólogo e professor
Uma missão pela frente
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Não temos mais como nos omitir ou nos ater apenas às chamadas questões espirituais
Brasil é uma nação a ser construída. Todos o sabemos. Construí-la, porém, diante dos obstáculos a serem superados, ainda nos custará muito. Só para citar um exemplo, temos um sistema eleitoral que gera coronéis, por ser proporcional. O que privilegia o poder econômico, pois o sujeito vota no candidato que mais aparece, e não no que conhece. Entretanto, apesar de tudo, a duras penas, avançamos. De quando em quando, infelizmente, temos retrocessos alarmantes. No Rio Grande do Sul, a governadora decidiu encerrar o convênio com as escolas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), sob a acusação de ser um grupo ideológico – como se todo movimento humano não o fosse. Já um editorial da Folha de São Paulo de 17 de fevereiro chamou a ditadura brasileira, que perdurou de 1964 a 1985, de “ditabranda”. Ricardo Reis, em seu blog, disse de que fonte veio esse aparente neologismo: ninguém menos que Augusto Pinochet, o ex-ditador chileno, que assim denominou o regime sanguinário que implantou no Chile nos anos setenta. Com essa afirmação, o jornal tomou partido daquele senador que acusou a ministra Dilma Roussef de mentirosa porque, aos 19 anos, sob tortura, recusouse a dizer o que o regime militar lhe exigia que dissesse. Esses dois casos falam mais do que gostaríamos de ouvir: que temos grande dificuldade em aprender com a nossa história. O jornalista Gilberto Dimenstein, em seu blog, chama a atenção para a pesquisa da Ação Educativa e do Instituto Paulo Montenegro, ligado ao Ibope, que classifica 74% da população brasileira como analfabeta. Esse percentual inclui desde o analfabeto clássico, aquele indivíduo que não lê nem escreve, até o funcional, que lê e não entende, ou entende muito pouco do que leu. Isso equivale a dizer que, de cada quatro brasileiros, apenas um sabe exatamente o que está lendo. O levantamento foi feito com base em questionários distribuídos a 2 mil pessoas, com idades entre 16 e 64 anos, pertencentes a várias classes sociais. A decisão da governadora gaúcha e a posição da Folha nos esclarecem quanto ao fato do país padecer de calamidade na área educacional: a elite brasileira é subdesenvolvida. Ela não dialoga e não cria espaço para a mobilidade social. Encerrar os convênios com as escolas do MST tem como objetivo enfraquecer a luta pela reforma agrária –
causa, aliás, claramente bíblica, como diz o texto de Isaías 5.8: “Ai dos que ajuntam casa sobre casa e terra sobre terra, até serem os únicos moradores do lugar.” Claro, levantase a questão da legalidade. Sobre isso, é muito interessante a resposta de Denise Abramo, no e-grupo do movimento Evangélicos pela Justiça, a outro membro da lista que não simpatiza com o MST: “(...) Sua preocupação com a legalidade é meio descabida. Qual legalidade? Aquela que arrancou os negros da África para escravizá-los e depois ‘libertá-los’ para morrerem de fome nas favelas? Ou essa legalidade que legitima que um por cento da população do país detenha 50% de suas terras?” Acerca dessa questão, temos, ainda, o conselho de Pedro: “Mas, também, se padecerdes por amor da justiça, bem aventurados sereis; e não temais as suas ameaças, nem vos turbeis” (I Pedro 3.14). O jornal paulista, por sua vez, além de zombar dos que foram assassinados, não consegue disfarçar o descaso para com a história sofrida desse país. Bem que o salientou a historiadora que escreveu sobre o relacionamento entre a ditadura militar e aquele veículo, que ainda vetou manifestações como as dos professores Comparato e Maria Benevides, alegando que por eles não serem contundentes contra as ditaduras de esquerda, não podiam manifestar-se sobre o tal editorial. Ora, negando o direito de dois de seus leitores se expressarem, o jornal apenas atesta que pratica a truculência de que acusa as tais ditaduras de esquerda. E a Igreja, de que lado está? Nós estamos crescendo. E, por isso, temos de assumir o nosso papel como novos protagonistas na construção da nação. Principalmente, na elaboração da ética nacional. Não temos mais como nos omitir ou nos ater apenas às chamadas questões espirituais. Todos, de alguma maneira – mesmo os mais críticos –, olham o crescimento evangélico como quem espreita uma maioria em gestação. Quantos de nós, crentes, entretanto, temos nos dado conta de que teremos de fazer nossa parte na formação deste país? Nessa perspectiva de crescimento, tudo o que acontece no Brasil passa a ser problema nosso. E, no nosso país, haverá mais enfrentamentos se não discutirmos a questão agrária; e sempre haverá o risco do retrocesso se não encararmos com seriedade o nosso passado recente. Não se trata de mórbida reabertura de feridas; mas precisamos saber com clareza de onde viemos para que nunca mais para lá voltemos.
Como Igreja, precisamos assumir o nosso papel como novos protagonistas na construção do pa´s – principalmente na elaboração da ética nacional
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