Espaço pintura doc

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HISTÓRIA DA ARTE PINTURA

ESPAÇO PLANAR PERSPECTIVA

2014



Cristina Pape

Este site foi feito para servir de apoio às minhas aulas no Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É de minha responsabilidade o conteúdo escrito e as fotos foram obtidas nos sites dos artistas ou dos museus. Este curso tem como objetivo desenvolver o olhar para uma pintura e pode ser acessado por quem tiver interesse no assunto: o espaço planar através da História da Arte, iniciando na pintura realizada durante a ocupação da Europa pelo Império Romano ( séc. I d. C. ) até a pintura de Jackson Pollock ( séc. XX, 1950 c.). Não falaremos aqui sobre escultura ou espaço tridimensional. Não tem fins comerciais.


ESPAÇO PLANAR / PERSPECTIVA / RECURSOS

Introdução Neste espaço ao qual chamamos planar, vamos observar como o artista realizou a pintura, como está composto, como é sua estrutura, quais os temas, quais os recursos da geometria e da matemática utilizados. Vamos percorrer um caminho baseado na perspectiva (ou não) para desenvolver o olhar, refletir e aprender a nos expressarmos com a linguagem verbal que a arte usa: plano, pigmento, camada pictórica, textura, matiz, cromatismo etc. O que chamamos de espaço planar é aquele que recebe toda e qualquer manifestação em duas dimensões: pintura, gravura, desenho, colagem dentre outros. Um mundo tão vasto que ocupará a vida de quem se interessar em ir mais adiante. Começaremos pelas imagens pictóricas do Império Romano e passaremos cronologicamente para os afrescos do Egito antigo, mosaicos bizantinos, pinturas proto-cristãs, período Românico, Gótico, Barroco, Renascimento, Maneirismo, Romantismo, Realismo- Paul Cézanne, Vincent Van Gogh e Paul Gaugin ( estes são únicos na História da Arte e bem diferentes entre si), Impressionismo, Henri Matisse ( outro que é único em seu tempo), Cubismo, Construtivismo Russo, Dadaísmo e vamos dar um salto cronológico até Arshile Gorky e Jackson Pollock nos anos 1950.


Porque esta trajetória, perguntarão alguns. O objetivo é mostrar a construção do plano pictórico, ou seja, da não perspectiva até a sua plenitude da pintura ilusória do Renascimento, depois o seu questionamento e então a ruptura. Nada melhor do que o arroz com feijão didático. É muito importante que todos tenham bem claro que a opção de trabalhar só com pintura e cronologicamente é minha e por questões metodológicas para a introdução ao que chamamos de arte. Ela- a arte- está no mundo para ser feita, refeita, aceita, negada, transformada, estudada, assim como tudo em que nos cerca. Esta é só mais uma maneira de estudá-la. Lembrando: não confundir Romano( séc. I d.C), Românico( c. séc. IX –XII) e Romântico( séc. XIX ). Fará diferença se fizerem confusão com os termos. c. significa que aproximamos a data. C. 1450 significa que não sabemos a data certa e podemos afirmar que uma pintura pode ter sido feita neste ano.


Império Romano. Afrescos no interior de uma casa em Roma antiga, simulavam aberturas, janelas ou espaços tridimensionais na superfície planar.


Domus Aurea Séc. I d.C. Ilusão de espaço tridimensional. Existe um ponto de fuga.

Pintura em catacumba em Roma. Não há espaço tridimensional simulado. séc. I d.C.


Pintura nas catacumbas em Roma. Não há o recurso da ilusão de profundidade espacial. séc. I d.C.


Igreja de santo Apolinário, Ravena. Mosaicos. A doutrina cristã já havia sido aceita pelo Império Romano do Oriente. Observem que não há ilusão de três dimensões (3D) nos mosaicos.


Mais um detalhe de mosaico da Igreja de santo Apolinário, em Ravena. Os mosaicos bizantinos são um desdobramento da estética da doutrina cristã que pregava a liberdade e grandeza do espírito. Não havia que se dar tanto cuidado ao corpo e a forma de dizer isto a uma população enorme de analfabetos era através das imagens. As primeiras pinturas protocristãs são simples, mas quando o Império Romano do Oriente incorpora a doutrina cristã, também incorpora os valores estéticos. Une o imperador à figura maior da Igreja mostrando este e seu séqüito contra um fundo dourado, o fundo que simboliza o reino dos céus.


Iluminura ( pintura sobre papel. Geralmente aquarela) do período Românico. séc. XII. O espaço pictórico é planar. Neste período, que alguns genericamente chamam de Idade Média, mas não é um bom termo para nós porque é muito vago, os temas eram os mais sofridos e miseráveis da bíblia. Vejam que as quatro cenas só mostram sofrimento e culpas. Assim foi o período românico e que custou o afastamento dos fiéis da fé cristã. O espaço é chapado, não há perspectiva e importante era o tema. O QUE desenhar. Mas é preciso lembrar que mesmo numa época que todos atribuem um grande retrocesso da cultura (não foi bem assim), Fibonacci descobriu um sistema de proporções que permeia quase toda a natureza, das galáxias ao microcosmo. Essa descoberta foi extremamente importante porque baseado nesta série descobriu-se


o número de ouro ou proporção áurea, amplamente usada nas artes. A Série Fibonacci mostrou como o espaço real se arruma. Quais são as proporções que a vida segue.

Séc. XI. Esta é uma Iluminura. O espaço todo ocupado por figuras sem ilusão de perspectiva. Geralmente o que está no alto da cena está mais longe dos olhos de quem vê a cena. Esta maneira de organizar a cena pictórica também se aproxima das gravuras orientais. Veja a próxima imagem, do séc.X. Podemos ver com clareza a disposição no espaço: no alto, mais longe e embaixo, mais perto.


Gravura do ano 980 d.C. - Dinastia Song - China Sobre papel Vejam a disposição das figuras. Sabemos que o que fica mais ao alto da imagem é porque está longe e no primeiro plano embaixo, está mais perto. A gravura e a pintura na tradição chinesa não se aproximam das pinturas, desenhos e gravuras ocidentais apesar do exemplo comparativo que aqui está. No ocidente não se pinta a alma da montanha e a experiência de trabalhar o mesmo tema do mestre é a forma de se crescer como artista no oriente tradicional. Para o ocidental a criatividade segue cursos diferentes. Aqui se procura a originalidade e ela é supervalorizada.


Na China ou Japão a tradição é forte e o que importa é a delicadeza como se pinta uma montanha que já foi retratada inúmeras vezes e é essa tradição que torna tão difícil fazer uma bela pintura dentre tantas. Todas podem ter seu valor reconhecido mas algumas são primorosas.

Simoni Martini. 1328 c.séc. XIV - Gótico. Têmpera sobre madeira. Provavelmente parte de um retábulo Observem a tentativa de iludir um espaço 3D na superfície. Como é este espaço pictórico?


COMO pintar começava a se colocar mais importante do QUE ( tema) pintar. A iluminura mostra o espaço da cidade e uma cena narrada na bíblia certamente. No período Gótico, os temas trágicos e terríveis foram sendo abandonados e outros tomaram lugar: Anunciação, Nascimento, Ascensão e tantos outros mais suaves. Por quê? Com tanta espoliação, culpa e sofrimento além de impostos devoradores e uma religião tirana, o período da arte Românica levou os fiéis cristãos a abandonar sua fé. Como recupera-los? Com uma igreja menos opressora. A igreja é associada ao poder e este para ser mantido nas mãos de quem o queria para si, precisaria alterar algumas coisas, então o espaço onde as pessoas eram doutrinadas deveria ser mais agradável e não assusta-las. Para quem gostar de seguir a linha sociológica da arte, Arnold Hauser é um bom autor para iniciantes.


Outro recurso que foi muito utilizado pelo Gótico foram os vitrais, e o arco em ogiva facilitou tudo porque permitia mais espaço para colocar os vitrais ( uma conquista importante na arquitetura). Com essa novidade era possível trazer muita luz vindo através destes vidrinhos coloridos recortados e/ou pintados para dentro dos salões das catedrais.


Iluminura do Breviário Belle Ville. Gótico. Pintura de tema leve com a Anunciação abrindo o texto. Os ícones da cristandade estavam presentes: o anjo Gabriel, açucena, as palavras de Deus. Observemos os arcos góticos na catedral e também neste retábulo de Martini.


Anunciação de Simoni Martini. c. 1328 sec. XIV Retábulo. Tempera e douração sobre madeira. Vejam o espaço de fundo dourado totalmente chapado. Parece de novo um paradoxo: falamos de espaço plano. Trata-se de um espaço pictórico coberto de folhas de ouro que ocupa o plano de fundo da pintura e as figuras provavelmente em têmpera. Este plano de fundo também é uma superfície. Aliás, toda pintura está sobre uma superfície. Esta superfície pode ser uma tela ou uma face do cubo. Para que possamos comparar o desenvolvimento do espaço pictórico e o que queremos dizer com “desenvolvimento”, vamos analisar uma iluminura do período Românico e depois a mesma cena pintada por Giotto. O Românico foi no séc. X-XII, depois o Gótico no séc. XII e agora vamos apresentar Giotto no séc. XIV. Porque não incluímos este pintor em nenhum período e nos referimos a ele isolado? Porque a sua importância é de tal ordem que ele deve ser estudado sozinho agora.


Iluminura ( pintura tempera sobre papel) . Saltério de Belmont. Séc. XIII. Arte Românica( não confundir com Romântico nem Romano). O espaço pictórico é superlotado de figuras.


Quantos elementos têm esta iluminura? Vejamos: Nove (9) seres entre anjos e humanos. Um esquife, panejamento( tecido) farto, uma cruz e 2 turíbulos. Não sobra espaço para nem mais um galho de planta ou um sapatinho esquecido no canto da cena. Todos juntos e apertados no mesmo plano pictórico. O QUE tinha que ser mostrado? Anjos, quatro judeus( vejam os chapéus típicos da época entre os hebreus), Maria e Jesus. Aperta daqui e dali. Pronto. Couberam todos. Importava sim o tema: O QUE PINTAR. Passemos à mesma cena pintada por Giotto (séc. XIV). Afresco sobre parede


Vamos contar o número de anjos voando: dez ( 10) Pessoas lamentando a morte de Cristo: onze( 11) Seres puros de alma: sete (7) – possuem auréola Jesus Cristo – claro, um só. Temos uma colina, céu, uma árvore nesta cena e ainda sobrou espaço para inúmeros anjos se ele quisesse. Cada grupo em um plano pictórico diferente e duas figuras de costas para nós, observadores. Se observarmos com cuidado vamos identificar as cabeças dos que estão lamentando a morte do Cristo sem necessidade de pintá-los de corpo inteiro. Assim, sabemos que neste local havia muita gente, mas os rostos são todos iguais. O que aconteceu na pintura? O tema ( O QUE pintar) estava definido ( ou por vontade própria ou por encomenda) para o copista, mas COMO IA SER PINTADO é que foi obra de Giotto. COMO pintar a lamentação de Cristo sem espremer todos num plano só? Ele pintou a cena numa parede, mas convenhamos, não é isso que importa. O que interessa é COMO ele organizou as imagens e a relação de proporção entre todas elas. Poderia ter sido numa folha de papel. Estamos chegando perto de uma grande transformação no mundo com mudança de paradigmas fundamentais. Imaginem aceitar que a terra não é o centro do universo e que ela gira em torno do sol? O progresso que a civilização alcançou foi enorme, mas também criou um mundo apoiado no racionalismo: penso, logo existo. O mundo moderno (estamos falando da Idade Moderna e não da Arte Moderna) foi base para a ciência. Estamos chegando ao momento da pintura do Renascimento (séc. XV e XVI).


Depois que Giotto apresentou o espaço pictórico com possibilidades de respiração entre as figuras, os pintores do Renascimento ( geralmente eram mais do que só pintores), acompanhando o momento histórico das transformações pelas quais o mundo ocidental passava, desenvolveram o espaço ilusório da tridimensionalidade baseada na geometria, matemática, filosofia, dentre outras fontes de conhecimento. A natureza passou a ser observada de perto, mas esse olhar foi tão próximo que também criou distorções na maneira de pintar. Veremos.

País de Flandres. Anunciação Séc. XIV. - Retábulo - Tempera sobre madeira.


Não tem nenhum ponto de fuga delineado. O que nos leva a crer que há um espaço tridimensional ali é a porta aberta. O rosto do anjo é igual ao da Madona. Mas foi no País de Flandres que Jan van Eyck fez a sua pintura considerada um ícone: O Casal Arnolfini. Esta tela possui inúmeros elementos e a observação da natureza chegava a ser excessiva, porque observando bem, vamos ver que o cãozinho em primeiro plano mostra-nos todos os fios de sua pelagem e não há olho humano que possa ver tantos detalhes numa imagem real. Só se estivermos muito perto.

Detalhe do cão na tela de Casal Arnolfini de Jan van Eyck. Vejam os pelos do animal. Pintura Flamenga : região norte da Bélgica, Países baixos( Holanda atual).


Jan van Eyck (ele era holandês) Casal Arnolfini - 1434 (Séc. XV) Primeira tela de óleo sobre tecido.


Marcação dos pontos de fuga. Concorda com esta marcação?


Detalhe do espelho que está no centro da composição. Nele podemos ver o Casal Arnolfini de costas e quem estava presente no espaço naquele momento. Provavelmente o pintor e/ ou testemunhas daquela união. Neste espelho o pintor mostra que este é convexo e faz a pintura deste detalhe com toda a distorção que poderia ser real. Por outro lado mostrava como dominavam a técnica pictórica e os segredos da geometria, porque o espelho mostra o espaço distorcido.


Jan van Eyck. Retábulo. Observar o ponto de fuga bem definido .

Jan van Eyck – séc. XV Embaixador Rolim e a Virgem. Óleo sobre tela - País de Flandres.


Nesta pintura no ponto de fuga pode ser vista a ponte, o castelo e os domínios territoriais deste senhor, certamente abastado e merecedor da presença da Virgem. Vejam o ponto de fuga bem definido. Imaginemos hoje uma pessoa encomendando um retrato dela própria com Jesus Cristo ou com a Virgem Maria. Para nós poderia parecer um absurdo, mas naquela época era a mais pura demonstração de poder e riqueza.

Hans Holbein, o jovem. Mercador alemão. Como você pode perceber que é uma pintura do séc. XV ?


Hans Holbein, o moço. Os Embaixadores, 1533 Óleo sobre tela - Norte da Europa. Observar a pintura em seus mínimos detalhes e comparar com a próxima. Identificar o que está diferente entre as duas. É o jogo de um ( 1) erro. A diferença entre as duas é de fato marcante porque indica quem são eles. Porque esta observação? Para que saibam que quando vemos uma imagem num livro ou mesmo na internet nem sempre ela é completa. É preciso atenção e pesquisa.


Descobriu a diferença entre as duas imagens? O que significa esta imagem que você encontrou? Este senhor que está a esquerda é o embaixador da França na Inglaterra e a sua descoberta vai indicar sua posição política, social, econômica e cultural no mundo naquela época. E esta imagem que parece ser uma caveira? Chama-se anamorfose( retorno da forma). É um recurso matemático/ geométrico aplicado ao desenho e a outras linguagens da arte. Dizem que se nos posicionarmos no local certo perto da tela, veremos a caveira normalmente.


Esta é a posição em que deveríamos ver a pintura para poder reconstruir a caveira. É o ponto de observação.

Esta pintura está na Galeria nacional de Londres.


Rafael Sanzio O triunfo de Galatea. 1512 (SĂŠc. XVI ) Afresco - Renascimento Veremos algumas pinturas renascentistas agora.


Sandro Botticelli – Primavera – 1482 c. ( séc XV) Tempera sobre madeira Vejam o detalhe da Flora. As flores são tão bem detalhadas que foi possível identificar todas elas, tão perfeitas que foram pintadas. Observar, esboçar e reproduzir fidedignamente no seu atelier.


Margarida Pratolina ( Bellis perennis)

Sandro Botticelli - afresco sobre parede Nascimento da VĂŞnus . 1486 c. (sĂŠc. XV)


Sandro Botticelli Anunciação – 1485 c. ( séc. XV) Tempera sobre madeira. A este momento chamam Conturbatio, quando a Virgem não acredita e recusa a notícia do anjo, porque sendo virgem, como poderia gerar um filho? A Virgem na Anunciação pode ser representada em cinco situações diferentes: Conturbatio, Cogitatio, Interrogatio, Humiliatio e Meritatio. São os cinco momentos pelos quais ela passa. Esta pintura mostra-nos quantos planos? Como você poderia descrevê-la?


Leonardo da Vinci Última Ceia. 1495- 97 (Séc. XV) Capela de Santa Maria, Milão. Foi pintada na parede e ocupava o local onde os monges faziam suas refeições. Alimentavam-se com Cristo e os apóstolos. Quantos planos você identifica nesta pintura?



Michelangelo. Capela Sistina, Vaticano. 1510 ( séc XVI) Afresco

Andrea Mantegna Cristo morto. Séc. XVI. Óleo sobre tela Aqui vemos duas pinturas com escorço. O que vem a ser isso?


Para alguns esta técnica era uma espécie de maneirismo. Escorço ( que significa encurtar) é uma técnica que comprime a figura mas mesmo assim não nos parece distorcida. Requer certamente um grande domínio da geometria e da matemática. Há quem considere só um maneirismo ( no sentido pejorativo). Um jeito difícil de pintar, quase um truque.

Este é um desenho com a figura em escorço. Foi feita no séc. XVII ( Barroco).

Passemos para a pintura do Barroco ou Contra-Reforma.


Caravaggio Crucificação de São Pedro. 1600-01 (Séc. XVII) Óleo sobre tela O que você pode ver no plano de fundo desta pintura? Quais as diferenças ao comparar esta pintura do Barroco com uma pintura do Renascimento ( Michelangelo) com o mesmo tema ? Encontramos escorço aqui, nesta tela de Caravaggio? Veja agora a pintura renascentista com o mesmo tema. Observe a iluminação das duas cenas. Quais diferenças você identifica? São Pedro estava com medo ou não nesta tela barroca? Tem escorço nesta cena de Michelangelo?


Michelangelo. A Crucificação de São Pedro. Séc. XVI Renascimento


Caravaggio A ceia de Emaús. 1601 (Séc. XVII) Óleo sobre tela Quantos planos? Como e onde podemos ver o movimento que a tela nos dá a percepção? Você identifica alguma figura em escorço? Há algum propósito para esta cena? O que você acha que esta estrutura pretende? Descreva-a.


Diego Velásquez As Meninas - 1656 ( séc. XVII) Óleo sobre tela Esta pintura é muito importante porque possui vários elementos interessantes. Vejamos: O que o pintor está pintando e como você pode afirmar? Quem é este pintor na tela? Podemos ter idéia de temporalidade em que figura? Onde está o ponto de fuga?

A próxima pintura já faz parte do período Neoclássico. Vamos identificar as figuras e o ponto de fuga.


Jacques Louis David O Juramento dos Horacios 1784 ( sĂŠc. XVIII)


Caspar David Friedrich 1818 – (Séc. XIX) - Romantismo alemão Olhar para o infinito e para o espaço. A fragilidade do homem diante da grandeza da vida e da morte. Percebam a diferença entre esta tela e a pintura anterior.


E você diria que há perspectiva ou só profundidade na cena pintada? Vejamos agora um outro trabalho do Romantismo.

William Turner Camelo no deserto. C.1845 ( séc. XIX) - Romantismo Óleo sobre tela Podemos ver temas nesta pintura além do título dela? O que ela possui de diferente de todas as imagens que vimos até agora? Observem bem e digam se ela se relaciona com a imagem a seguir. Caso afirmem que sim, quais são os aspectos em comum?


Esta foi feita em 1840 ( séc. XIX) por William Turner. Óleo sobre tela O que você vê neste espaço pictórico? Há ilusão de espaço tridimensional ? Como voce descreveria esta pintura?


Gustave Coubert c. 1855 ( séc. XIX) - Realismo Como é este espaço que vemos? Tem perspectiva? Como é a luz desta cena? De onde vem a sua fonte? Como o artista pode ter feito esta tela? Quem seriam estas pessoas? O que este tema nos diz? O Realismo é um desdobramento do Naturalismo, mas ainda assim há certa idealização do espaço e das figuras. A pintura procurava ainda ser muito mais real do que ela mesma.


Embora os pintores realistas quisessem retratar a vida comum, no campo ou cidades, eles não as realizavam ao ar livre. Os primeiros artistas a fazerem isso foram os chamados impressionistas.

Édouard Manet retrata Claude Monet em seu estúdio flutuante trabalhando. 1874 – ( séc. XIX) Óleo sobre tela Os artistas levavam a tela e seus apetrechos e lá, no local, faziam as pinturas. Esta condição ao ar livre determinava também uma outra situação: o tamanho das telas. Não se verá telas impressionistas de grandes proporções, porque haviam de ter


medida boa para carregar a pé ou de bicicleta. Quem sabe de carroça. Vejam que não se passa muito tempo entre os realistas e os impressionistas. Seguir uma estética antiga é porque queremos ou porque não conseguimos ultrapassar fronteiras. O que cria grandes artistas? Aquela “coisinha transformadora” que eles carregam dentro de si.

Claude Monet Impressionismo 1873 ( séc. XIX ) - óleo sobre tela Por causa desta tela, ele foi recusado no Salão oficial francês e uniu-se a outros artistas e fizeram o Salão dos Recusados. Foi uma grande ruptura dos pintores e a academia.


Claude Monet. As duas pinturas foram feitas na Gare Saint Lazare ( Paris). O pintor ia para o local e pintava. ApĂłs o impressionismo surgiram trĂŞs pintores que nĂŁo podem ser colocados em nenhum movimento ou estilo porque possuem


características e pesquisas muito própria, mas foram de extrema importância para a arte. São eles Paul Cézanne, Vincent van Gogh e Paul Gaugin. Paul Cézanne foi outro artista que alterou os rumos da pintura. Construiu um espaço pictórico sem a ilusão de perspectiva e introduziu a questão espaço-tempo na discussão da arte. Em relação a cor, ele usava pinceladas de cores iguais por toda a tela para obter harmonia cromática. É preciso olhar com atenção suas pinturas e aquarelas.

Paul Cézanne Jogadores de cartas. 1890-94 ( séc. XIX ) Óleo sobre tela Vejam como ele o organizou a pintura. Ele rompe com o que chamamos de naturalismo.


O espaço é pintura.

Paul Cézanne Cupido de gesso e a “ Anatomia”. 1895 ( séc. XIX ) Óleo sobre tela O espaço é pictórico. Não tenta ser o que não é. É pintura.


Cézanne Esta é uma de suas últimas telas. Observem as pinceladas em todas as suas pinturas. Cada tela tem as cores repetidas na pincelada. Observem a diferença entre Os jogadores de Cartas e esta aqui. Vejam como são as pinceladas. Você diria que há desenho ou não nestas duas citadas agora? Quais as diferenças entre elas? E o espaço? Como foram construídos?


Cada dia ĂŠ um dia diferente do outro e a pintura tambĂŠm tinha que ser. Ele pintava ao ar livre.


Cézanne abriu o caminho para que outros artistas pensassem o espaço da pintura. Vamos desdobrar a obra de Cézanne em Picasso, Braque e o Cubismo mais adiante. Parece que não há sossego e é isto mesmo. A curiosidade ajuda bastante na elaboração de nossas vidas científica, artística ou nosso cotidiano que não tem aparentemente nada de magnífico. Vamos olhar a pintura de Paul Gaugin para podermos desdobrar em Matisse. Na busca por novas estéticas e parâmetros, Paul Gaugin foi morar no Taiti. Lá encontrou cores fortes e temas que jamais encontraria na Europa, aparentemente saturada.


Paul Gaugin Ta matete – séc. XIX Perspectiva ? Figura e fundo? Como são as figuras que ele pintou sentadas no banco? Há alguma relação com momentos anteriores da arte? Caso positivo, quando e onde? As sombras são acadêmicas? Você identifica traços de academia nesta pintura?


Paul Gaugin Arcarea – 1892 ( séc. XIX) Óleo sobre tela Podemos repetir as mesmas perguntas para esta pintura.

Passemos agora a outro desbravador no século XIX: Vincent van Gogh. Quem não conhece pelo menos uma tela de sua autoria?


Van Gogh, como outros grandes pintores, trazia já sua marca desde o início. O tempo e a experiência permitiram que a sua pintura realizasse a sua potência. Tracejados com o pincel e muita cor pura.


Vicent van Gogh 1890 ( séc. XIX) Óleo sobre tela

O Quarto em Arles 1889 - Óleo sobre tela


Trigal com corvos 1889 c. - Ă“leo sobre tela

Detalhe da pincelada


A obra mais importante de van Gogh foi feita praticamente em três anos. Nos últimos 2 meses de vida, pintou aproximadamente 80 telas. Não vamos aprofundar neste momento a questão da arte e saúde mental, mas este é um tema que não pode ser desprezado. Temos excelentes artistas que passaram por instituições de saúde mental e creio que devemos abrir sempre espaço para o artista, seja ele considerado louco ou não. A obra geralmente é mais forte do que a doença. A África e a Oceania atraíram muitos artistas e Pablo Picasso tornou-se um grande colecionador de esculturas africanas. Quando Picasso pintou “ les Demoiselles d’Avignon” em 1907, não mostrou a tela imediatamente. Aguardou um pouco. Não


acreditou que ela era revolucionária. Podemos ver todas as influencias das esculturas africanas nas figuras que ele fez. O espaço pictórico obedece a uma coerência desta nova estética.

Pablo Picasso Les Demoiselles d’Avignon. Óleo sobre tela. 1907 ( séc. XX). Mas vemos que há figura e fundo e uma atenção com esta diferença entre um e outro.


Óleo sobre tela. Pablo Picasso pesquisou Cézanne. Podemos ver na pintura. Início do que seria depois o cubismo. As formas geometrizadas. Nesta época ele estava trabalhando bastante com George Braque, outro grande pintor cubista.

Na próxima pintura já vemos o Cubismo Analítico com toda sua potencia. Figura e fundo misturados. Não há indício de perspectiva.


Pablo Picasso - 1910 c. -Cubismo analĂ­tico Quantos planos podemos identificar?


George Braque 1911 Cubismo analĂ­tico



Na pintura anterior ( Pablo Picasso) podemos ver alguns elementos que se anunciam no que será o Cubismo Sintético. Há o espaço do cubismo analítico e a fragmentação da figura, mas temos também algumas imagens recortadas e coladas sobre a tela. Aparece a introdução de uma situação ímpar na pintura: colagem.

George Braque 1912 c. O pintor procura misturar o fundo e a figura. Existe a pintura de uma esquina de porta ou de moldura, mas não é colagem. É uma indicação de colagem, porque mesmo recortada a figura podemos tê-la como colagem. Na anterior destacamos um pedaço de papel pintado ( a pintura simula o papel).


Pablo Picasso Cubismo sintético - colagem sobre tela 1914 c. O que é figura e o que é fundo?


George Braque c. 1914 Cubismo sintético Pintura sem perspectiva. Há figura e fundo? Se identificamos várias questões numa pintura de um determinado momento da arte e não encontramos as mesmas questões noutras da mesma época ou grupo, o que podemos deduzir? O que você acha que é isso? O que é um sistema? A história da arte é um sistema ? E os pontos fracos? Onde estão eles quando falamos em sistemas?


A obra de Henri Matisse

Henri Matisse Harmonia em vermelho Data: 1908 Óleo sobre tela Figura e fundo? Perspectiva? Profundidade de campo? E as cores? O que você pode dizer sobre elas? Vejam os detalhes de construção desta tela e descreva-a. O que estava acontecendo simultaneamente a esta pintura na França? Matisse foi operado em 1944 e entre os anos de 1946-48, ele ficou preso a uma cadeira de rodas e a partir desta data, desenvolveu uma pintura que tem suas características já anunciadas: a colagem


e depois de fato, realizou em recortes as formas que já se via em suas telas desde o início do século como volutas e “ Costela de Adão” ( um planta subtropical- veja o fundo verde da pintura).


Qual a maior dificuldade em arte para você? Para mim é difícil criar um sistema de cunho pedagógico para as aulas, porque cada artista traz tanta riqueza em sua obra (quando o artista já produziu bastante e tem alguma experiência podemos dizer que tem uma obra – minha opinião) que os links são tantos que podemos nos perder.



Há figura e fundo? E as cores? O que você poderia nos dizer? Já não falamos mais de perspectiva. Estamos falando de forma e cor agora. Em que não estamos? Colagem. Será que a colagem começou mesmo no século XX ? Já observaram que existe um outro tipo de colagem nas pinturas do Renascimento italiano, aquele que nos mostra a perspectiva aérea? Seguindo o que muitos acreditam ser uma lógica aceita, a obra de Van Gogh teria sido fundamental para o Expressionismo Alemão ( foi na Alemanha que ele foi mais marcante). Acredito que não só ele, mas também Cézanne, Paul Gaugin, os impressionistas um pouco, Pablo Picasso e George Braque. Imaginemos que o início do século XX fervilhava. Na Alemanha uma situação sócio /política /econômica difícil e o nacional socialismo ganhando espaço. Em França estavam quase todos os grandes artistas da época, na Suíça o Dadaísmo e o Surrealismo ganhando adeptos por toda a Europa. Estranho seria se não houvesse influência entre todos. Vou apresentar algumas obras que são consideradas expressionistas, e escolhi basicamente artistas alemães, mas também, já que a arte alemã naquele momento estava passando por uma enorme pressão do governo, vou mostrar algumas imagens do III Reich. Como se sabe, Goebbles mandou confiscar obras de inúmeros artistas na Alemanha e montou a exposição itinerante “ Arte Degenerada” ( Enteartete Kunst). Esta circulou por toda a Alemanha nos anos 1937 e 38. Pelas fotos, parece que todos tinham interesse no assunto. Os nazistas não queimaram as obras. Guardaram-nas.


Lyonel Feinniger – 1921.

Franz Marc – 1911 Cavalos azuis


Emil Nolde. Dançarinas. 1912. Observem a pincelada, as cores e o espaço pictórico. O que tem a dizer sobre o tema ( o quê) e sobre a técnica ( como)?


Karl Schmidt-Rotlluff. 1906 Vejam as pinceladas. Lembra-nos Van Gogh?


Franz Marc - 1912


Ernst Kirchner - 1913

Estes artistas foram considerados produtores de uma arte degenerada por Hitler e Goebbels. As obras foram confiscadas, expostas como “porcari� e depois escondidas.


Vejam como ficou a entrada da exposição de Arte Degenerada em 1937, na Alemanha. As filas eram enormes e a entrada franca.


Cinema expressionista alemão. Cena de “ O Gabinete do dr. Caligari”. 1920. O espaço é quase dadaísta. Este não era um filme que agradasse aos nazistas. Os filmes que eles queriam foram feitos por Leni Riefenstahl. A estética é primorosa como vamos ver nas fotos de cenas do filme “ O Triunfo da vontade”, que foi rodado durante uma demonstração de força e poder do nazismo na cidade de Nuremberg. Em 1936 Berlin, capital da Alemanha recebeu a Olimpíada. Um grande momento para cultuar o corpo, uma estética rigorosa e acadêmica.


Esta foi a estética do nazismo. Corpos germânicos perfeitos. A importância dada ao corpo não foi invenção de Goebbels. Ele se apropriou de uma tradição nórdica e a usou politicamente. Há influência do academicismo retrógrado da época.


Esta imagem é de um cartaz nazista conclamando o povo alemão a formar uma “ Grande Alemanha” e dizer SIM no dia 10 de abril. A outra é Lênin.


Quando as artes se voltam para a propaganda ideológica como foi na Rússia já no início do séc. XX, é preciso que observemos a estética que foi desenvolvida assim como os temas. Lênin e Stalin foram os grandes representados, mas como o foram nos importa muito. Não devemos entretanto nos esquecer que muitos artistas que trabalharam para o Estado na Rússia eram de vanguarda. Diferente da situação da Alemanha que massacrou a vanguarda e apoiou os acadêmicos. Se ao longo dos séculos a pintura se distanciou do tema, agora ele é muito importante. Quem trabalhou para o estado? Rodchenko, por exemplo. Seus cartazes eram brilhantes. Vejam alguns.


Dois cartazes famosos de autoria de Rodchenko. Até hoje trabalha-se em releituras deles e tantos outros. Estou dizendo que se a Rússia contou com artistas brilhantes, a Alemanha fez o contrário, renegando-os. Porque? Estes artistas “ degenerados” usavam suas formas de expressão para denunciar questões numa


Observem a postura da mĂŁo. As imagens de LĂŞnin e de Stalin eram sempre a de homens poderosos que podiam indicar o caminho a um povo.


Esta imagem é de Lênin também fazendo propaganda política na Rússia. No meu ponto de vista estas propagandas são iguais e tem o mesmo objetivo de provocar comoções na massa. Assunto controverso.



Quando a II guerra terminou, os aliados encontraram vários depósitos com todas as obras confiscadas, inclusive a arte degenerada. Muitas obras foram devolvidas mas provavelmente outras tantas não. Este foi nosso momento político neste site. Arte também não é distante da vida das pessoas. Artista não é um ser “iluminado”. Pode ter suas diferenças e talentos, mas deve conhecer sua matéria.

Passemos ao Construtivismo. Os grandes artistas do Construtivismo Russo são Kasimir Malevitch, Alexander Rodchencko, El Lissitzky, Valdimir Tatlin, László Moholy-Nagy dentre outros.

Kasimir Malevitch As três telas pintadas em 1912


Kasimir Malevitch c. 1915 Figura e fundo. HĂĄ movimento nesta imagem? Como e onde vocĂŞ percebe movimento?


Malevich Cruz negra 1916 Vejam que aqui não se aplica mais as questões sobre as quais vínhamos apresentando. Agora é somente pintura e seus elementos constituintes: forma, cor, dimensão, harmonia, material, conceito. O que é a pintura, pergunta-se agora.


Kasimir Malevich 1918 Ă“leo sobre tela


Uma exposição com todas as obras de Malevitch. Observem as dimensões das telas, como estão distribuídas nas paredes. A presença da cadeira não incomoda. Hoje numa instalação, a cadeira seria questionada se é ou não parte da obra. O espaço da exposição hoje é muito diferente do início do século XX. Já se passam quase cem anos.

Paralelamente a tudo que acontecia na Europa, em Zurique surgiu um movimento chamado Dadaísmo. Movimento porque tinham manifesto. Hoje não há mais que se fazer manifestos. O que significa a palavra Dadaísmo? Nada. É o balbuciar de um bebê, por exemplo. Dá dá dá dá...


Hannah Höch. Colagem sobre papel

Um manifesto ( característica dos movimentos de vanguarda do século XX) na voz de seu propositor, Tristan Tzara: “Dada não significa nada: Sabe-se pelos jornais que os negros Krou denominam a cauda da vaca santa: Dada. O cubo é a mãe em certa região da Itália: Dada. Um cavalo de madeira, a ama-de-leite, dupla afirmação em russo e em romeno: Dada.


Sábios jornalistas viram nela uma arte para os bebês, outros jesus chamando criancinhas do dia, o retorno a primitivismo seco e barulhento, barulhento e monótono. Não se constrói a sensibilidade sobre uma palavra; toda a construção converge para a perfeição que aborrece, a ideia estagnante de um pântano dourado, relativo ao produto humano.” Tristan tzara

Tzara decreta: "A obra de arte não deve ser a beleza em si mesma, porque a beleza está morta". A arte tenta explicar o ser humano mas nós não queremos isso, era mais ou menos o que os artistas dada diziam. Tzara disse que o grande segredo da poesia é que "o pensamento se faz na boca". Como uma afirmação desse tipo é evidentemente incompreensível, ele procurou orientar melhor os seus seguidores dando uma receita para fazer um poema dadaísta:

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Pegue um jornal. Pegue a tesoura. Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema. Recorte o artigo. Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco. Agite suavemente. Tire em seguida cada pedaço um após o outro. Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco. O poema se parecerá com você. E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público.


Eis uma colagem de Hannah Höch . c. 1915 ( I guerra mundial)

Podemos falar sobre o quê, nesta colagem? Tem importância a discussão da figura e do fundo? Tem importância se ela possui perspectiva ou não? Discutir a academia e seus preceitos? Discutir a pintura realista? O Dadaísmo queria se enquadrar nos sistemas já construídos? Aproximava-se de qualquer outro momento que tenhamos estudado?

Este é um cartaz dada. Veja a alusão a Rodchenko.


Hannah Hรถch 1915 c. Colagem sobre papel.


Muita água passou por baixo da ponte que estamos atravessando. Não seria possível neste trabalho apresentar cada movimento e artista, então optei pelos que considero pertinentes ao nosso curso. Vamos dar um salto grande e vamos ver a obra de Arshile Gorky e de Jackson Pollock. Por que os dois? Porque eles encerraram com a discussão sobre a figura e o fundo, sobre a profundidade, perspectiva, enfim, foram os dois que deram por encerrada esta etapa da Arte Moderna. O espaço agora é de fato planar. Chego aonde eu pretendia leva-los. Gorky tem a sua pintura discutindo um espaço fragmentado e pronto. Em 1948 sua pintura era uma abertura para o que se chamou de expressionismo informal, abstração informal ( em oposição ao construtivismo que era totalmente formal ).


Arshile Gorky

Arshile Gorky Década de 1940 Óleo sobre tela

Pollock, num reducionismo fenomenal de minha parte, aborda a conversa sobre profundidade, intenção estética ou a perfeição de execução e instaura um espaço randômico. Há intenção e certeza de querer obter um resultado e para isso ele usa o corpo para pintar, o grande gesto, a tela no chão. Mas como uma tela ficará quando pronta? Quando ela está pronta?


Pollock é um artista de seu tempo. Que tempo é esse ? O período de tempo entre 1 de janeiro de 1940 e 31 de dezembro de 1949. No mundo a II guerra mundial, Japão ataca Pearl Harbor e os EUA entram na guerra, lançam as bombas que arrasam as cidades de Hiroshima e Nagasaki e milhares de civis morrem. Hitler comete suicídio e Mussolini é fuzilado. A União Soviética é criada e começa a Guerra Fria. O mundo nunca mais seria o mesmo. Nos anos 50, a sociedade América do Norte estava rica, a terra era de abundância, tornava-se uma superpotência capitalista no planeta, a luta contra o crescimento do regime socialista, e o sistema de arte ia muito bem. Um novo mundo rico e poderoso. Aí estavam os dois artistas que se tornaram ícones da pintura abstrata não geométrica. Ícones norte-americanos.


Pollock pintando. O espaço pictórico de Jackson Pollock é absolutamente planar. Não menciona o espaço ilusório de profundidade exatamente pela sua total ausência. Esta foi a grande conquista do abstracionismo informal. Aboliu-se a figura e o fundo. Todos os dois são integrados.



Vejamos o nosso caminho: um afresco de PompĂŠia ( sĂŠc. I d. C. ) e uma tela de De Kooning ( 1955 , sec. XX).


O objetivo maior deste trabalho era conduzir a todos para um novo olhar. Outro olhar. Espero ter obtido ĂŞxito.


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