Informativo nº 116

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Jan-Fev-Mar de 2010 | Ano XIV | N° 116

PODE SER ABERTO PELA ECT

ENTREVISTA Paulo Griebler, diretor da AICSUL, fala sobre o papel do Químico na indústria do couro

INSTITUCIONAL Academia Riograndense de Química prorroga inscrições

ARTIGO Censo feito nas regiões do RS quanto ao uso de agrotóxicos e suas implicações socioambientais

Tecnologia Nacional cria filtro solar inovador


índice 4 entrevista

“Para cada aplicação, uma fórmula diferente”

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especial

Tecnologia nacional cria filtro solar inovador

artigo

Censo feito nas regiões do Estado do Rio Grande do Sul quanto ao uso de agrotóxicos no plantio de diversas culturas e suas implicações socioambientais

agenda

Abelhas gostam de cafeína e nicotina, mas sem exageros Pesquisadores da Universidade de Haifa, em Israel, descobriram que as abelhas preferem os néctares que contém pequenas doses de nicotina e cafeína aos que são desprovidos de tais substâncias. O néctar das flores é composto principalmente de açúcares, que são a base da polinização. Só que algumas espécies de plantas apresentam pequenas quantidades de nicotina (como o tabaco) e cafeína (como as flores cítricas, principalmente a flor da toranja). Mas as pesquisas mostraram que as abelhas não curtem exageros. Elas preferiram concentrações de 1 miligrama por litro, similares às encontradas na natureza. Quando lhes ofereceram níveis maiores de nicotina e cafeína, optaram pelo néctar puro. Agora os cientistas querem descobrir se as abelhas também podem se viciar nessas substâncias e se a presença delas no néctar torna a polinização mais eficiente.

EDITORIAL A cada ano a necessidade do uso de protetores solares se intensifica. Estudos comprovam que a exposição excessiva à radiação solar nos traz mais prejuízos que benefícios. O Informativo foi conversar com a professora do Instituto de Química da UFRGS e uma das coordenadoras do projeto que resultou no Photoprot, filtro solar com fator de proteção 100 e um dos únicos no mundo que utiliza a nanotecnologia. Nesta edição também entrevistamos o diretor executivo da AICSUL (Associação das Industrias do Curtume do Rio Grande do Sul), que falou sobre a importância do químico na indústria do couro. Aproveitamos este editorial para lembrar que já estamos programando as atividades para o Dia do Químico. Como de praxe, dentro das comemorações, no dia 18 de junho teremos o jantar comemorativo no Restaurante Panorama, prédio 40 da PUC/RS. Os ingressos estarão à venda na secretaria do CRQ e no Sindiquim, a partir de maio. Aguardem mais novidades!

Luz do supermercado deixa os vegetais mais saudáveis De acordo com um estudo feito pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, a luz incidindo continuamente sobre verduras e vegetais pode dobrar a concentração de vitaminas A,

E , C e K em alguns deles. Isso acontece porque a exposição permanente à luz induz os vegetais a fazerem fotossíntese por mais tempo, estimulando, assim, a produção de nutrientes.

números do conselho DOCUMENTOS

NOV/DEZ

TOTAL

AFT’S emitidas

1.510 58 10 6 184

5.813 545 320 51 1.582

DOCUMENTOS

JAN/FEV/MAR

TOTAL

AFT’S emitidas

1.597 210 120 20 687

1.597 210 120 20 687

Registros Definitivos Registros Provisórios Certidões Processos Analisados

Registros Definitivos Registros Provisórios Certidões Processos Analisados

Expediente INFORMATIVO CRQ-V - Av. Itaqui, 45 - CEP 90460-140 - Porto Alegre/RS - Fone/fax: 51 3330.5659 - www.crqv.org.br Presidente: Paulo Roberto Bello Fallavena Vice-Presidente: Estevão Segalla Secretário: Renato Evangelista Tesoureiro: Ricardo Noll

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Assessoria de Comunicação do CRQ-V assecom@crqv.org.br Jorn. Resp.: Vanessa Valiati Edição de Arte: Letícia Lampert

Colaboração: Camila Vargas Estagiário: Felipe S. Decker Tiragem: 9.000 Impressão: Ideograf


IAPC lança curso de Técnico em Imagem Pessoal A beleza para o ser humano não é questão apenas de exibir um status social, mas de se sentir bem consigo. Assim, surge a preocupação com a qualidade do trabalho desenvolvido pelos profissionais da estética. Na maioria dos procedimentos realizados por cabeleireiros são utilizados produtos químicos como as tinturas, os alisamentos, que além de alto potencial tóxico podem causar danos ao cliente caso sejam utilizados incorretamente. Isso fez com que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não promovesse o registro de inúmeros produtos perigosos, tais como os alisantes de cabelos que possuem formol em sua composição e outros materiais com características químicas e toxicológicas. Se o cabeleireiro conhecesse todo o arsenal que utiliza desde a elaboração aos riscos, a atividade seria exercida de forma muito mais adequada e segura. Para que haja qualidade nestes procedimentos, o Instituto de Apoio aos Profissionais da Ciência (IAPC), com o apoio do Conselho Regional de Química promove o Curso Técnico em Imagem Pessoal – ênfase em Cosmética e Tricologia.

O curso é destinado aos profissionais da beleza em geral, que queiram ampliar a sua área de atuação. O egresso do curso poderá exercer sua profissão de forma liberal e em empresas privadas (indústrias de cosméticos, consultorias, farmácias de manipulação e etc), em instituições de pesquisa, cooperativas, organizações não-governamentais entre outras possibilidades. O profissional se qualificará para ser autônomo tendo a opção de trabalhar no ramo da tricologia e cosmética. O Técnico em Imagem Pessoal poderá obter junto ao Conselho Regional de Química o seu registro profissional, pois durante o curso serão ministradas disciplinas como química básica, química dos cosméticos e cosmetologia. Em aproximadamente um ano e meio, o profissional irá adquirir todos os conhecimentos para exercer a profissão de Técnico em Imagem Pessoal. A primeira edição do curso está prevista para este ano em Porto Alegre. MAIS INFORMAÇÕES: Instituto de Apoio aos Profissionais da Ciência iapc.escola@terra.com.br

divulgação científica O futuro está chegando. Pelo menos para o grafeno, que está cada vez mais próximo dos computadores, nos quais poderá ocupar o lugar do hoje onipresente – mas cada vez mais próximo do limite tecnológico – silício. Desde que essa nova forma de carbono foi isolada, em 2004, pelo grupo de Andre Geim, na Universidade de Manchester, diversos centros de pesquisa espalhados pelo mundo têm estudado as propriedades e aplicações dessa nova forma de carbono. Em artigo publicado na revista Science, um grupo do Centro de Pesquisa Watson da IBM, nos Estados Unidos, descreve a produção de transistores de efeito de campo formados por uma camada de grafeno sobre uma lâmina de silício.

Brasil quer usar fórmula de etanol e peróxido de hidrogênio como combustível para foguetes Um grupo de pesquisadores brasileiros está tentando criar um combustível verde e seguro para usar em foguetes nacionais. Os primeiros testes, realizados com sucesso, utilizaram peróxido e etanol em um pequeno motor. Há 15 anos o Brasil tenta descobrir como colocar no ar foguetes movidos a combustíveis líquidos, em especial o álcool nacional. A ideia é substituir a hidrazina, combustível sólido corrosivo e tóxico usado atualmente.

Mais rápido que o silício

O mais notável, segundo o estudo, é que o dispositivo atingiu a frequência de 100 gigahertz por uma distância de 240 nanômetros. A performance de alta frequência desse transistor de grafeno em tal distância supera os melhores de silício até hoje construídos. Transistores feitos de grafeno podem alternar sinais eletrônicos mais rapidamente do que os de silício, apontam os pesquisadores. Tais transistores poderão se mostrar, no futuro, muito úteis em aplicações que exigem grande frequência e velocidade. O grafeno é o mais fino e também considerado o mais forte de todos os materiais. Por características insólitas (reduzida espessura, por exemplo) e propriedades notáveis (condução de eletricidade), ele tem sido cotado,

entre outras coisas, como possível sucessor do silício na fabricação de chips de computador ou como o material de base para a nova geração de dispositivos eletrônicos. Por formar folhas resistentes e capazes de serem dobradas sem danos – por conta do arranjo de átomos de carbono em uma estrutura que lembra o de uma colmeia –, uma das principais aplicações potenciais do grafeno está na fabricação de aparelhos eletrônicos flexíveis. O artigo 100-GHz Transistors from Wafer-Scale Epitaxial Graphene (10.1126/ science.1184289), de Yu-Ming Lin e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org. Agência FAPESP (http://www.agencia.fapesp.br)

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entrevista

“Para cada aplicação, uma fórmula diferente”

Foto: Arquivo Pessoal

Paulo Ricardo Griebeler, atual diretor executivo da Associação das Indústrias de Curtume do Rio Grande do Sul (AICSUL), contratado com o objetivo de reestruturar a entidade, colocando o foco na prestação de serviços aos associados e na busca de alternativas e soluções para as empresas em questões de governo, legislação, entraves e captação de recursos através de projetos fala sobre a importância do químico na indústria do couro

Qual o papel do Químico na indústria do couro? A indústria química sempre foi fundamental como suporte tecnológico para que o setor coureiro pudesse dar às peles as características necessárias aos produtos finais a que se destinam. Com o foco de significativa parcela da indústria brasileira do couro em moda, a indústria química passou a ser parceira decisiva também no desenvolvimento de produtos com grande conteúdo de design para atender às novas exigências do mercado. O aumento da preocupação ambiental também exigiu novas tecnologias para reduzir a geração de efluentes e para diminuir seu impacto na natureza. Em todos estes momentos o químico tem papel essencial nestes dois momentos Onde ele atua dentro da fábrica? O químico atua nos laboratórios das empresas e nos departamentos de produção fazendo o trabalho de matizador junto ao couro nos processos produtivos, assim como pode atuar no centro tecnológico do couro junto aos seus laboratórios. O que o Químico faz, na prática, no processo de curtição? Principalmente o trabalho de matizador, ou seja, encontrando as fórmulas químicas adequadas para tornar o couro da forma adequado conforme a sua utilização como o mercado da moda, sapato, bolsas, acessórios e estofamento automotivo e móveis. Para cada aplicação as fórmulas são diferentes.

Paulo Griebler

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Quais são as responsabilidades do químico quanto ao lado humano? O químico tem várias responsabili-

dades, a começar pelos cuidados para que sejam evitados acidentes com os colaboradores das empresas ou na área ambiental. E também deve zelar para que as empresas possam alcançar seus objetivos comerciais, porque assim se gera emprego e renda, beneficiando a sociedade como um todo. Como começar a trabalhar na área? A formação profissional se dá nas escolas dos centros tecnológicos do couro. Uma referência em formação é a escola do Centro Tecnológico do Couro de Estância Velha, uma iniciativa do Senai, nos anos 70, com o apoio das indústrias do couro gaúchas. Há novidades no setor? O setor tem investido muito em melhorias no processo produtivo assim como nos produtos para atender aos mais exigentes mercados internacionais pois o setor curtidor brasileiro exporta em torno de 60% da sua produção e participa em 20% do mercado mundial do couro. Poucos produtos brasileiros têm esta expressiva participação. No mercado da moda o setor tem participação das melhores feiras da moda, como Le Cuir em Paris e sendo muitas vezes premiados com a qualidade dos couros brasileiros fruto do investimento em pesquisas e desenvolvimento de novas tecnologias. Outra novidade é o investimento que o setor tem feito na sustentabilidade ambiental investindo em torno de 1% do seu faturamento em tratamentos ambientais e busca de novas tecnologias para inclusive fazer o reaproveitamento da água no seu processo produtivo ou seja o reuso da água fechando o terceiro ciclo do tratamento.



especial

Tecnologia nacional cria filtro solar inovador Todos sabem da importância do uso de protetores solares atualmente. Ficar exposto às radiações solares não é nada saudável. Desde a década de 80, surgem protetores solares eficientes, mas que sempre exigem atenção por parte dos usuários: saem na água e devem ser reaplicados a cada 2 horas, em média. Como a maioria das pessoas não tem este costume, e ainda levam muito em conta o preço do produto, acabam por não aplicá-lo corretamente.

do filtro solar nas camadas superiores da pele, evitando uma absorção que normalmente pode acontecer, nos protetores convencionais, nos quais as partículas são moleculares”, explica. As nanopartículas ficam mais tempo agindo onde elas devem estar: na camada superior da pele. O que acontece é que, como as cápsulas do Photoprot são refletoras da luz, elas ficam mais tempo intactas. Assim ele se torna mais eficiente do que os protetores convencionais.

Porém, um grupo de pesquisadores da UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul resolveu usar sua experiência em nanotecnologia para resolver o problema. A Universidade lançou um edital para estimular a interação universidade-empresa no desenvolvimento de nanocosméticos. Assim, surgiu a parceria com a Biolab Sanus Farmacêutica. Depois de três anos de trabalho com uma equipe de bolsistas DTI (Desenvolvimento Tecnológico Industrial), surgiu o Photoprot FPS 100, que foi lançado no final de 2009, com o preço médio de 70 reais. É o único que utiliza nanotecnologia desenvolvida no Brasil e já tem patente nacional e internacional (PCT – Patent Cooperation Treaty). Na Austrália, existem alguns fotoprotetores desse tipo, entretanto, neste caso nanotecnologia está relacionada à partícula inorgânica.

O fator 100 significa que num experimento controlado através de norma técnica, com intensidade de luz e tempo de exposição controlados, comparando uma mesma pele sem protetor solar e uma pele protegida, a que está usando o fotoprotetor está 100 vezes mais segura do que sem o produto. A formação do eritema (queimadura) será 100 vezes mais difícil que sem o

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Para efeito de comparação, um FPS 30 protege 96,7% protegido da radiação, enquanto um FPS 60 bloqueia 98,3% dos raios solares. Portanto, o incremento de proteção em um FPS maior não é linear, é exponencial. Há uma maior proteção de um fator 50 contra um fator 30. A diferença está no tempo de reaplicação. Um fator 60 fica mais tempo agindo na pele mais do que um fator 50. Antigamente, se acreditava que não existia diferença considerável entre os fatores de proteção solar. Outro ponto importante é que o Photoprot é totalmente desenvolvido com substâncias orgânicas. Ele é composto por um poliéster alifático, que é biodegradável, assim como todos os materiais tensoativos. Como atua na pele

Divulgação

Segundo a professora do Instituto de Química da UFRGS Adriana Pohlmann, o Photoprot é baseado em nanotecnologia orgânica, é seguro e de química limpa, pois suas partículas são biodegradáveis. As partículas têm ao mesmo tempo a capacidade de absorver raios UV-A e UV-B e também de refletir a luz, por causa do tamanho reduzido dela. “Dessa forma, tais partículas podem ser usadas com segurança porque vão se tornar reservatórios

fotoprotetor. Não quer dizer que esteja 100% protegida, nem 100 vezes mais tempo de proteção. A norma técnica diz que se deve usar 2g de produto por centímetro quadrado aplicado. Numa situação real isso não acontece. A grande vantagem do FPS 100 é que a proteção é garantida mesmo usando uma quantidade menor do que a recomendada.

A nanotecnologia permite que a pele fique totalmente coberta pelo produto. Quando se usa uma emulsão clássica, a gotícula é micrométrica, assim, não consegue penetrar em todos os espaços da pele. Com o tempo estes lipídios acabam se dissolvendo nos lipídios da pele e resulta numa proteção adequada. No caso da nanotecnologia desenvolvida para o Photoprot, devido às partículas apresentarem um diâmetro de 240 nanômetros – um nanômetro corresponde a um bilionésimo de metro – elas se colocam nas fendas da pele no extrato córneo. Por


Felipe S. Decker/ CRQ-V

Professora Adriane Pohlmann e aluno conversam sobre o produto

isso o recobrimento de superfície é muito mais eficiente e mais resistente à água. Quanto à radiação, a proteção é completa. O espectro ultravioleta é composto pelas regiões UV-C, a UV-B, que é bem pequena, e a UV-A. A UV-C não nos afeta porque a camada de ozônio a bloqueia. A proporção de UV-B é muito grande no sul do planeta por causa do buraco na camada de ozônio. Em Porto Alegre os níveis de UV-B são sempre extremos. Portanto, O FPS 100 protege contra as radiações UV-B e UV-A. A maioria dos filtros comuns é designada para radiação UV-A, mas o problema é que os filtros químicos se degradam muito rápido. Com as nanocápsulas, o filtro age por mais tempo, pois atua em três diferentes mecanismos simultâneos: reflete a luz, absorve radiação UV-A e absorve radiação UV-B. A partir da reflexão de uma determinada quantia de luz, tem uma maior capacidade de absorção. A pesquisa na UFRGS As pesquisas da UFRGS em nanotecnologia começaram há 15 anos.

Assim, puderam desenvolver num espaço de tempo tão curto um produto totalmente novo que era uma preocupação da indústria. Com o conhecimento acumulado, ao surgir o problema, os pesquisadores já tinham uma idéia da solução. A interação universidade-empresa existe para possibilitar a transferência de conhecimento científico para um produto ao alcance da sociedade. A indústria não tem tempo disponível nem capacidade de criar uma equipe de pesquisa para desenvolver um produto deste tipo. Então é usado o conhecimento científico através de parcerias público-privadas. Nos casos de financiamentos dos projetos, o Finep – Financiadora de Estudo e Projetos, vinculada ao Ministério de Ciência e Tecnologia, entra com 50%. O restante vem da empresa interessada. Assim, existe uma parceria em todos os níveis: a competência científica da universidade, a busca de mercado da empresa, a formulação do problema, o financiamento público, o financiamento privado, e por consequência, a propriedade intelectual partilhada entre universidade e empresa. Neste

modelo, a universidade também tem lucros sobre o produto, mantendo o sistema ativo. O Photoprot foi desenvolvido pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul em parceria com a Biolab Sanus Farmacêutica, sob coordenação na Faculdade de Farmácia pela professora Sílvia Guterres e vice-coordenação no Instituto de Química pela professora Adriana Raffin Pohlmann. Outros projetos desenvolvidos pelo grupo de pesquisa em nanotecnologia envolvem nanopartículas para tratamento de tumores cerebrais, também para diminuição de efeitos tóxicos gastrointestinais de anti-inflamatórios, e também contra a artritereumatóide. Os grupos de pesquisa no Instituto de Química e na Faculdade de Farmácia trabalham com nano e micropartículas aplicadas à terapêutica. Eles têm desenvolvido nanopartículas poliméricas para a vetorização passiva de fármacos há 15 anos. Foram publicados mais de 40 artigos nos últimos três anos e demonstrada a aplicabilidade desses nanocarreadores na administração sistêmica, oral e cutânea de fármacos.


artigo

Censo feito nas regiões do Estado do Rio Grande do Sul quanto ao uso de agrotóxicos no plantio de diversas culturas e suas implicações socioambientais Raquel Fiori1; Jupira de Fátima Pedroso de Souza1; Renata Limberger2; Paulo Roberto Bello Fallavena3; Vanessa Valiati3; Tatiane Dutra4 1 4

IPB-LACEN/FEPPS/RS ; 2 Faculdade de Farmácia/UFRGS ; 3 Conselho Regional de Química – 5 Região ; Federação Nacional dos Profissionais da Química .

RESUMO O uso de agrotóxicos na comunidade rural é um dos recursos mais utilizados para tentar compensar a perda de produtividade provocada pela degradação do solo e controlar o aparecimento de doenças, porém, muitas vezes é feita de forma inadequada, sem o conhecimento das reais necessidades do solo e das plantas. O censo feito nas regiões do estado do Rio Grande do Sul fornece elementos de estudo aos profissionais, ajudando a relacionar os princípios ativos à presença de resíduos de agrotóxicos nos alimentos cultivados no estado e a exposição ocupacional de trabalhadores rurais, o que permite o diagnóstico ou a associação dos sintomas a determinadas substâncias na cadeia produtiva. PALAVRAS-CHAVE: agrotóxicos, censo, comunidade rural, regiões do estado do Rio Grande do Sul.

por ter uso em excesso. Neste sentido, a degradação ambiental é praticada tanto por grandes como por pequenos produtores agrícolas. Entretanto, ferem as normas e diretrizes por falta de esclarecimento, atreladas às questões financeiras e precárias condições de acompanhamento no controle fitossanitário. Neste cenário, os agrotóxicos atingem o equilíbrio da natureza e a economia da sociedade produzindo, portanto, uma relação perigosa e dependente, pois se apresentam de maneira dúbia, ao mesmo tempo em que trazem benefícios ao rendimento da produção, são agentes de degradação.

INTRODUÇÃO O Brasil tem um grande contingente de trabalhadores rurais e o uso excessivo, principalmente na horticultura, tem como reflexo o comprometimento ambiental e social. É um fato preocupante, sobretudo no Rio grande do Sul, que se caracteriza pela importância das atividades econômicas centradas na agropecuária e no abastecimento nacional de cereais, frutas e outros produtos de origem vegetal, culturas relacionadas ao uso descontrolado de substâncias agroquímicas. A utilização de agrotóxicos parece, na maioria dos casos, maximizar a eficiência e aumentar a produtividade rural, trazendo benefícios socioeconômicos, porém tem-se que aceitar o risco sócio ambiental adicional ocasionado

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Figura1- Publicação do Livro I Mapeamento dos Agrotóxicos Utilizados no Rio Grande do Sul

Diante disso, a Câmara de Agrotóxicos do Conselho Regional de Química – 5ª Região, com o apoio das entidades parceiras incentivou a elaboração da


primeira edição da publicação do livro I Mapeamento dos Agrotóxicos Utilizados no Rio Grande do Sul (Figura1). Este levantamento feito por diversos profissionais e acadêmicos com experiência em análises toxicológicas é uma compilação de dados pesquisados em 2007, que traça o panorama do uso de agrotóxicos e os aspectos relacionados à saúde humana em diferentes regiões e culturas do Estado. Com o objetivo de mapear e identificar os agrotóxicos mais usados no Rio Grande do Sul, correlacionando-os à necessidade de conhecimento do grande número de ingredientes ativos envolvidos, ao incremento das estruturas de suporte laboratorial, das informações toxicológicas e subsidia dados para uma avaliação do risco, tanto da exposição à saúde do trabalhador rural, quanto à segurança alimentar, devido às possibilidades de afetar a saúde das pessoas e produzir efeitos deletérios ao ambiente. MATERIAIS E MÉTODOS O estudo realizado foi do tipo epidemiológico descritivo, através de entrevista com produtores e/ou trabalhadores rurais, utilizando como ferramenta um questionário orientado,

Figura 3 – Municípios visitados durante a pesquisa

conforme figura 2, o qual foi previamente testado, compreendendo questões de identificação dos agrotóxicos mais utilizados pelos produtores (ANVISA, 2007), culturas desenvolvidas, forma de abastecimento da água para irrigação, lavagem dos hortigranjeiros, agrotóxicos utilizados na lavoura, descarte de embalagens e resíduos, uso de equipamentos de proteção individual, relatos de intoxicações e saúde do trabalhador rural. Todos os entrevistados participaram voluntariamente do estudo e receberam cópia do instrumento de Consentimento Livre e Esclarecido no final da entrevista. Foi estabelecido atingir todas as 26 regiões do Estado, de acordo com os dados dos COREDES (2007) e, em cada região, foram escolhidos cinco municípios de produção relevante, nos quais foram entrevistados cinco produtores de cada município, de forma a contemplar as diferentes culturas, em grandes, médias e pequenas propriedades e estabelecer o perfil de insumos agrícolas utilizados.

Figura 2 - Questionário orientado

A visita e escolha das áreas produtivas se deram através de contatos prévios com as respectivas cooperativas agrícolas, escritórios regionais da

EMATER/RS, Sindicatos dos Produtores Rurais, Sindicatos dos Trabalhadores Rurais e ou Secretarias Municipais da Agricultura. A realização do projeto ocorreu durante o ano de 2007, acompanhado de busca e atualização do tema nos bancos de dados disponíveis (ATLAS SOCIOECONÔMICO RIO GRANDE DO SUL, 2008; CARACTERIZAÇÃO DO SOLO, 2008; FEE, 2008). Dos 496 municípios do RS, foram visitados 92, conforme mostra a figura 3 e entrevistados 519 produtores. Participaram da pesquisa professores e estudantes da Faculdade de Farmácia da UFRGS, Técnicos e estagiários do IPB-LACEN/ FEPPS/RS e Técnicos do CRQ-V Região. RESULTADOS E DISCUSSÃO O resultado demonstrado na figura 4 revela os princípios ativos mais utilizados na produção agrícola do Rio Grande do Sul segundo dados fornecidos pelos entrevistados, os quais assumem a característica de pessoas que “trabalharam toda a vida” na lavoura. Na maioria das vezes demonstraram domínio e conhecimento para uso, riscos e segurança relacionados aos agrotóxicos, contrastando-se com a fideli-

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aplicação de agrotóxicos, envolvendo rompimento de mangueiras, casos de tratamentos de saúde, como a depressão relacionada diretamente ao uso dos produtos. Convém destacar, com relevância, outras formas de contaminação, associadas à água de irrigação e de lavagem dos hortigranjeiros, presença de animais doentes convivendo no espaço de produção de verduras e a queima de embalagens de agrotóxicos. CONCLUSÃO

Figura 4 - Princípios ativos mais utilizados na produção agrícola do Rio Grande do Sul

dade de suas informações, ao revelar, em alguns casos, a falta de cuidados e exposição arriscada nas aplicações dos produtos, relevantes aos pequenos produtores. Numa diversidade de condições, encontraram-se grandes produtores com alto investimento em qualidade de insumos e implementos agrícolas, tratores com cabine e uso da aviação agrícola, passando pelos médios até aos pequenos produtores, os quais “pegam toda ponta” do trabalho e ficam mais expostos. Preocupam-se com a questão dos limites, do respeito às distâncias recomendadas entre as plantações e mananciais de água, além das rotações de culturas. Ressalta-se a questão do armazenamento dos agrotóxicos dentro da área do galpão, a reutilização de embalagens, casos de descarte inadequado e falta de estruturação de um programa de recolhimento ou o não cumprimento deste e falta de responsabilidade por parte do comércio em recolher estas embalagens. Houve relatos de acidentes graves durante a

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Aspecto relevante que não se pode deixar de destacar, uma vez que, foi observado “in loco”, é a de que as populações que fazem o uso indiscriminado de agrotóxicos são, na grande maioria, de pequenas comunidades rurais com nível de instrução inadequado para o desempenho das funções, o que dificulta a capacidade de leitura do rótulo e entendimento dos procedimentos adequados de preparação e aplicação para o manejo de forma correta. Além disso, ressalta-se que as condições sanitárias precárias em que se apresentavam estas comunidades rurais, a deficiência no sistema de saúde local e a falta de infra-estrutura são de baixas condições socioeconômicas. Do ponto de vista destas comunidades, uma legislação para controlar agrotóxicos de forma mais restritiva poderia significar perdas socioeconômicas, mesmo que estes produtos químicos representem um risco maior ao meio ambiente e a saúde humana. A diagnose de doenças de plantas no campo é tarefa difícil e um diagnóstico incorreto tem induzido á utilização de agrotóxicos de maneira e quantidades inadequadas, gerando resultados negativos e risco a saúde e meio ambiente. O maior penalizado nessa busca de manejo e controle é o trabalhador rural, uma vez que estaria diretamente e quase que diariamente exposto aos riscos associados a este processo, além é claro, de estar passando a terceiros sob a forma de contaminação indireta pelos resíduos gerado em alimentos, água, solo e ar.

Em última análise, o mapeamento dos agrotóxicos utilizados no Rio Grande do Sul favoreceu o questionamento e a mobilização das autoridades municipais, assistência técnica, entidades de classe e trabalhadores ao repensar o princípio fundamental das boas práticas agrícolas, novos estudos sobre a ação orgânica e metabólitos dos agrotóxicos, bem como sua influência na cadeia alimentar. Por outro lado, proporcionou subsídios aos profissionais de saúde ao relacionar a gama de princípios ativos pesquisadas às análises de resíduos de agrotóxicos nos alimentos. Oferece os elementos para a construção do conhecimento técnico sobre contaminações ambientais e os efeitos tóxicos para o trabalhador e seus familiares em possível atendimento nas unidades de saúde, o que permite diagnóstico ou a associação dos sintomas ao uso de determinadas substâncias na lavoura.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Toxicologia. Monografias de Produtos Agrotóxicos.Disponível para consulta em http://www.anvisa.gov.br/toxicologia/monografias/ index.htm, acesso em 01 de junho de 2007. ATLAS SOCIOECONÔMICO RIO GRANDE DO SUL. Disponível para consulta em http://www.scp.rs.gov.br/ atlas/atlas.asp/menu=467, acesso em 01 de junho de 2008. CARACTERIZAÇÃO DO SOLO. Disponível para consulta em http://coralx. ufsm.br/ifcrs/solos.htm, acesso em 01 de junho de 2008. COREDES – Conselhos Regionais de Desenvolvimento. Disponível para consulta em http://www.coredes.org. br, acesso em 10 de março de 2007. FEE - Fundação de Economia e Estatística. Disponível para consulta em http://www.fee.tche.br/sitefee/pt/ content/resumo/pg_municipios.php. letra=S, acesso em 01 de junho de 2008.


FORMATURAS

Agenda 2010 Formatura do Curso de Química da URI-Campus de Frederico Westphalen, realizada no dia 23 de janeiro de 2010, no Salão de Atos da Universidade.

Academia Riograndense de Química prorroga inscrições

Os profissionais interessados em concorrer ao título de acadêmico devem ter atividade científica, técnicoprofissional ou docente (comprovada por títulos e trabalhos publicados), ou ainda, ter prestado serviços relevantes à profissão em níveis estadual, nacional ou internacional.

Para candidatar-se ou indicar um profissional, basta preencher o formulário de inscrição disponível no site www.academiaquimicars.com. br e enviá-lo para o e-mail academiaquimicars@gmail.com anexando o curriculum vitae resumido (modelo plataforma Lattes). Os documentos também podem ser enviados pelo correio ou entregues no protocolo do Conselho Regional de Química da 5ª Região (Av. Itaqui 45, B. Petrópolis.Porto Alegre/RS.CEP 90460-140). O prazo para o envio vai até 30 de abril. Mais informações e regulamento: www.academiaquimicars.com.br ou pelo telefone (51) 3225 6478.

Estão abertas as inscrições para o AVISULAT 2010 As inscrições já estão abertas aos interessados em participar do AVISULAT 2010 - II Congresso Sul-Brasileiro de Avicultura, Suinocultura e Laticínios, Feira de Equipamentos, Serviços e Tecnologia, Máquinas e Implementos Agrícolas. O evento acontece de 17 a 19 de novembro, no Centro de Exposições da cidade Bento Gonçalves - na serra gaúcha. Os inscritos a partir de 04 de março até 03 de agosto obterão desconto. Poderão se inscrever profissionais sócios, não sócios e estudantes. Mais informações em www.avisulat.com.br

Maio 8 • Efluentes Líquidos Realização: IAPC 21 e 22 • Operação de Caldeiras, Torres de Refrigeração, Reatores Químicos, Vasos de Pressão, Ventiladores, Bombas, Compressores, Trocadores de Calor e Permutadores Realização: ABQRS

Formatura do Curso de Química da Universidade de Passo Fundo UPF realizada no dia 29 de janeiro.

A Academia Riograndense de Química tem como objetivo congregar os vários segmentos da atividade Química no estado do Rio Grande do Sul. A instituição busca premiar e divulgar o trabalho de cidadãos que trabalham para o desenvolvimento da área da química, nos níveis estadual, nacional ou internacional

abril 23 e 24 • Curso de Direito Ambiental Realização: ABQRS

CURSO DE PERÍCIA AMBIENTAL EM PORTO ALEGRE/RS Dias 24 e 25 de Abril de 2010 Local: Hotel Intercity Premium Av. Borges de Medeiros, 2105, Bairro Praia de Belas. Porto Alegre/RS Horário: Das 9:00 às 12:00 hrs e das 13:30 às 18:30 hrs Carga horária: 16 horas Informações e inscrições no site www.maxiambiental.com

junho 5 • Pintura Industrial Realização: ABQRS 11 e 12 • Tratamento de Águas Industrial e Convencional Realização: ABQRS 26 • Tratamento de Não – Conformidades Realização: ABQRS Julho 09 e 10 • Tratamento de Efluentes Líquidos Industriais, Reuso de Efluente Líquido Tratado e Uso de Águas Pluviais Realização: ABQRS 17 e 24 • Capacitação em gerenciamento de projetos Realização: IAPC

ABQRS Rua Doutor Flores, 307, Sala 803 Porto Alegre – RS abqrs@abqrs.com.br www.abqrs.com.br (51) 3225.9461 IAPC Rua Baronesa do Gravataí, 700 Cidade Baixa - Porto Alegre iapc.escola@terra.com.br www.iapc.org.br (51)3072-6508

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