Informativo 132

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INFORMATIVO DO CONSELHO REGIONAL DE QUÍMICA JAN/FEV/MAR DE 2014 ANO XVIII Nº 132

Sódio Saiba a influência dos níveis de sódio no consumo de água e de alimentos

química nas mãos

CONSELHEIROS

CIÊNCIA E O CASO JANGO

Confira os aplicativos para Android e iOS que auxiliam os estudos

Confira os conselheiros desta edição

A química forense desvendando a morte do ex-presidente Jango


Índice

Editorial TECNOLOGIA

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A Tecnologia LIBS

CIÊNCIA

04

Artigo - Paradigmas da Química de Ione Maluf Baibich

SAÚDE

06

Matéria da Capa: Níveis de sódio no consumo de água e de alimentos

C ONSELHEIROS

10

Conheça mais alguns conselheiros do CRQ-V neste edição.

AGENDA

Expediente Presidente Paulo Roberto Bello Fallavena Vice-presidente Estevão Segalla Secretário Renato Evangelista Tesoureiro Ricardo Noll Assessoria de Comunicação do CRQ-V assecom@crqv.org.br Jornalista responsável e Redação Carolina Reck Editoração Gráfica Giuliana Lopes Galvão Tiragem 2.000 Impressão Gráfica Ideograf INFORMATIVO CRQ-V AV. ITAQUI, 45 - CEP 90460-140 PORTO ALEGRE/RS FONE/FAX: 51-3330 5659 WWW.CRQV.ORG.BR

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Tendo em vista as discussões a respeito da quantidade de sódio na água e nos alimentos e sua influência na saúde, o Informativo CRQ-V preparou uma matéria sobre o sódio, fundamental para o funcionamento do organismo e prejudicial quanto ingerido em grandes quantidades. O assunto é abordado por profissionais da saúde, como o médico nutrólogo Carlos Alberto Werutsky e o cardiologista Alfeu Rombaldi. Pensando no consumo de água filtrada da torneira e qualidade desta, falamos com a Engenheira Química, Sissi Maria Maciel Cabral, da Gerência de Tratamento de Água do Departamento Municipal de Água e Esgotos de Porto Alegre (DMAE). Esta edição também traz o artigo Paradigmas da Química, da acadêmica Ione Maluf Baibich. Como estamos formando nossos novos pesquisadores? Serão estes capazes de construir novos paradigmas? Percorrendo os processos e descoberta da alquimia antiga, o conteúdo estabelece estes questionamentos, construindo o diálogo do passado da Química com o presente, e questionando a sua utilização futura. Na temática da tecnologia, a espectroscopia de emissão com plasma induzido por laser e sua relação com a agronomia são apresentadas. Quase finalizando a série Conheça o CRQ-V, apresentamos os conselheiros Hermes Luís Neubauer de Amorim, Newton Battastini e Renato João Zuccheti. Boa leitura!

Números do Conselho JAN/FEV/MAR Registro Profissional

365

PJ

55

Fiscalizações

959

Autuações

70

CRQ-V realiza modificações que beneficiam a àrea da Química no Estado Há mais de três anos, o Conselho Regional de Química da 5ª Região tem se esforçado para realizar modificações e criar estruturas capazes de despertar o orgulho em cada profissional da química. Dentre elas, a criação da Academia Riograndense de Química, que hoje conta com 12 acadêmicos e tem sido consolidada a cada ano. O Química na Praça, evento anual que atrai centenas de pessoas ao Parque da Redenção para comemorar o dia do Químico, unindo as entidades ligadas à área (Sindiquim, Associação Brasileira de Química e Sindicato dos Químicos) as escolas, universidades e sociedade. Também é importante salientar o desenvolvimento do Programa de Qualificação e Inserção no Mercado de Trabalho (PQUIM), que já auxiliou no encaminhamento da carreira de inúmeros técnicos, bacharéis e licenciados. Nesse sentido, o apoio à criação de uma nova área de atuação, o Curso Técnico em Imagem Pessoal, aprovado pelo CFQ, pôde beneficiar ainda mais profissionais. Junto a essas medidas, o fortalecimento da Câmara das Escolas, com a participação de mais de 20 escolas técnicas e universidades traz à tona o debate sobre o ensino e a formação do profissional. Além disso, os processos de interiorização do CRQ-V, por meio de delegacias regionais e representantes, expandem o alcance da instituição e facilitam o acesso. Paulo Roberto Bello Fallavena, presidente do CRQ-V, salienta que essas ações devem ser seguidas de outras que também visem o crescimento do segmento da química no Rio Grande do Sul. Nota-se um constante esvaziamento do setor da química no nosso estado, com inúmeras empresas fechando as portas, outras migrando para outros estados e outras ainda fundindo-se com empresas do centro do Brasil. É preciso que o segmento da química formado por escolas, universidades, alunos, professores, indústrias e profissionais tomem a frente em um processo de recondução do nosso Estado a um degrau mais elevado do que se encontra hoje.


TECNOLOGIA

A TECNOLOGIA LIBS Dentro da intitulada agricultura de precisão, que utiliza cada vez mais de instrumentos e recursos de tecnologias para melhorar a produção agrícola, está uma nova ferramenta. Pequenos feixes de luz laser, dirigidos sobre folhas de uma planta ou porção de solo, podem se tornar comuns nas lavouras dentro de alguns anos. O laser é um meio para analisar elementos químicos presentes nos vegetais e trazer informações importantes sobre a adubação. Chamada de espectroscopia de emissão com plasma induzido por laser (Libs, em inglês), a tecnologia é usada em Marte pelo robô Curiosity, com o intuito de verificar a presença de elementos como o ferro, carbono e alumínio nas rochas. O primeiro sistema Libs brasileiro foi desenvolvido pela Embrapa Instrumentação, localizada em São Carlos, no interior paulista.

VERSÃO MAIS SOFISTICADA

O duplo pulso é uma versão mais sofisticada da técnica Libs. A intensidade do sinal pode ser aumentada diversas vezes, aumentando o limite de detecção entre duas e 20 vezes melhores. Existem alguns equipamentos comerciais que exploram outras áreas da espectroscopia, estes instalados em máquinas agrícolas que possibilitam que a análise de solos ocorra em tempo real. O objetivo é que a Libs também possa contribuir para a avaliação do estado nutricional das culturas agrícolas em tempo real. O objetivo da Embrapa foi construir um equipamento portátil e adaptá-lo a uma espécie de robô, que pode ser levado a campo. FUNCIONAMENTO O processo é dividido na etapa relacionada ao laser, em que ocorre quebra de moléculas e evaporação destas. E na etapa de uso do espectômetro, em que elementos presentes na amostra são identificados, como o fósforo, o carbono e o cobre. Confira o processo:

BRILHO REVELADOR

Utilizando a espectroscopia de emissão com plasma induzido por laser (Libs) AQUECIMENTO Temperatura até 50.000 K

Laser emitido pelo espectrômetro

EVAPORAÇÃO

FORMAÇÃO DO PLASMA

Temperatura 5.000 a 15.000 K

1ºs microssegundos Elétrons se desprendem das moléculas

PLASMA ESFRIA E EMITE LUZ

Moléculas do material se desprendem

Plasma contendo átomos, ions e elétrons

1ºs microssegundos Linhas de emissão de luz diferentes para cada elementos químico

Luz viaja de volta para o Libs e é captada pelas lentes do espectrômetro, que faz a identificação dos elementos

Vantagens da Libs: Menor tempo gasto comparado aos testes convencionais feitos em laboratório e contribuição com o meio ambiente - diminui a geração de resíduos em função de não ser necessária a preparação de amostras de reagentes químicos 3


CIÊNCIA

PARADIGMAS NA QUÍMICA Ione Maluf Baibich - Departamento de Química Inorgânica, Instituto de Química - UFRGS Membro da Academia Riograndense de Química

Segundo Thomas Kuhn – filósofo americano (1923 – 1996) uma ciência evolui por etapas que ora são de evolução normal, ora de ruptura revolucionária, sendo as rupturas revolucionárias as que mais contribuem para o progresso dessa ciência. Para Khun, paradigmas são as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções para um determinado fenômeno científico. Dessa forma, novos paradigmas que realmente contribuam para o progresso da ciência deveriam representar uma verdadeira revolução, onde o antigo paradigma já não pode ser mais usado e o novo paradigma é construído. Em Química costumamos usar o termo Modelos Científicos para denominar paradigmas, que explicam determinado fenômeno químico observado. Para Ana Maria Goldfarb, historiadora da Química da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, as etapas consideradas normais não são tão normais assim, e as etapas de ruptura não necessariamente representam rupturas. Mas há mudanças que podem ser consideradas verdadeiras revoluções científicas. Khun usou como exemplo de ruptura revolucionária as evoluções da Química geradas por Lavoisier e Dalton. Considerando a evolução da Química, muitas etapas ocorreram desde a mais remota antiguidade. Muitos processos químicos, alguns utilizados ainda nos dias de hoje são legados dos alquimistas: os chineses sabiam como retirar zinco de seus óxidos aquecendo minerais de zinco com carvão, os hindus aproximadamente em 300 A.C já desti4

lavam e sublimavam e os egípcios extraíam, lavavam, fundiam e pesavam o ouro. Os egípcios e os gregos já sabiam a importância da nomenclatura e dos símbolos em Química. Com a conquista da Pérsia e do Egito no século VII, os árabes absorveram a cultura dessas regiões, e surgiu a alquimia árabe, que tem origem grega e egípcia. Seu interesse principal foi o preparo de elixires para a cura de doenças, surgindo uma farmacopéia que foi utilizada através dos séculos. A alquimia árabe entrou principalmente na Europa via Espanha. Assim a alquimia européia originou-se na tradução de textos árabes. Roger Bacon (séc. XIII) desenvolveu o lado experimental da alquimia. Acreditava-se que havia um paralelismo entre a matéria durante sua transmutação com o que ocorre na alma do alquimista. A passagem da alquimia para a química ocorre com o mecanicismo (baseado na clareza e nas medidas, em que o homem não é participante ativo do processo) representado por Robert Boyle (séc. XVII) quando alma e matéria foram separadas. A alquimia vai então se transformando em química. Em 1660-1734 Stahl, médico e químico alemão, introduziu a doutrina do animismo, segundo a qual os organismos vivos teriam um sopro vital. Segundo Stahl, a química não podia produzir ou explicar compostos produzidos pelos organismos vivos (vitalismo). Somente em 1828, quando Wohler sintetizou a uréia (componente da urina) é que essa crença caiu por terra. Stahl também introduziu a teoria do flogisto para explicar a combustão. Para esse cientista todo corpo que

queima perde flogisto, ou seja, metal = cal + flogisto. O gás inflamável, assim era chamado o hidrogênio, era considerado flogisto puro, já que não deixa resíduo na sua queima, mas água. Com o desenvolvimento de balanças observou-se que a perda de flogisto levava ora a resíduos mais pesados ora a resíduos menos pesados. Imagino que muitas revoluções científicas possam ter ocorrido nos tempos mais longínquos. Surge Lavoisier, considerado o pai da Química Moderna, que era totalmente contrário à Teoria do Flogisto. Lavoisier era poderoso, amigo do rei e tinha os melhores equipamentos. Dessa forma possuia um aparelho com lentes enormes que fazia a temperatura de combustão ser muito alta, melhorando o processo. Também possuía balanças muito precisas. Essas balanças encontram-se no Museu de “arts e metiers”de Paris. Em uma palestra na Academia Real de Ciências em 1777, que chamou Reflexões sobre o Flogisto, Lavoisier disse: “... se tudo se explica em química de uma maneira satisfatória sem a ajuda do flogisto, só por isso é infinitamente provável que esse princípio não exista, que seja um ser hipotético, uma suposição gratuíta ....uma suposição que vejo como um erro funesto à química, e que me parece ter retardado consideravelmente os progressos (desta) pela maneira equivocada de filosofar que ela introduziu. Rogo-lhes meus leitores...transportarem-se aos tempos anteriores a Stahl, esquecerem-se por um momento, se possível, de que sua teoria existiu”. Scheele e Priestley descobriram o oxigênio (nome dado por Lavoisier) e rela-


taram a Lavoisier, que nunca os citou. Comparando Lavoisier e Stahl, em reações de combustão pode-se escrever:

As reações de combustão levaram Lavoisier a escrever a lei das massas: “... podemos estabelecer como um axioma que em todas as operações da arte e da natureza nada se cria; uma quantidade igual de matéria existe antes e depois do experimento; a qualidade e a quantidade dos elementos permanecem precisamente as mesmas; e nada ocorre além de variações e modificações na combinação dos elementos. Deste princípio depende toda a arte de executar experimentos químicos: devemos sempre supor uma igualdade exata entre os elementos do corpo examinado e aqueles dos produtos de sua análise.” Em uma carta (1792) a Benjamim Franklin, Lavoisier escreveu: “Ocorreu uma revolução numa parte importante do conhecimento Humano após sua saída da Europa (...). Eu considerarei esta revolução Como tendo progredido consideravelmente e mesmo completamente realizada se o senhor se posicionar ao nosso lado”. “... após tê-lo posto a par do que está acontecendo na química, seria Interessante falar de nossa revolução política. Nós a consideramos como executada e sem qualquer possibilidade de retorno à velha ordem.” Portanto, Lavoisier usou a palavra revolução bem antes de Kuhn para descrever essa mudança de paradigma que ocorreu. Kuhn também cita Dalton como revolução científica – volta do conceito de átomo, que já havia sido proposto pelo grupo de Demócrito na Grécia no século IV A.C explicando controvérsias quanto às proporções (Proust x Bertholet). Segundo Dalton o átomo seria a menor partícula indivisível, composta de esferas rígidas neutras. Thompson adaptou o modelo ou paradigma de Dalton ao descobrir elétrons e com o início do século XX uma verdadeira revolução na ciência surgiu com Planck e sua quantização de energia. Logo surgiu o modelo quântico, em que a dualidade onda-partícula e o princípio de Incerteza de Heisenberg são baseados. Esse modelo já completou 100 anos e é o que usamos. Será que outros modelos acontecerão ou este se tornou um axioma? Com o avanço incrível da tecnologia nos últimos anos, diversos novos paradigmas estão ou deverão ser construídos. Descobertas que não podem ser explicadas pelos paradigmas existentes (configurando-se em crises, conforme Kuhn) como Nanotecnologia, Novos materiais (ex: os quasicristais), Biomoléculas, entre outros. Para construir novos paradigmas é necessário ter flexibilidade a mudanças, o que é mais fácil ocorrer com mentes jovens. Um desafio muito importante nos é colocado. Como estamos formando nossos novos pesquisadores? Serão estes capazes de construir novos paradigmas? Coelho está certo quando diz: “os tempos do cientista brilhante, que aspirava ao conhecimento como a sua maior riqueza, estão aparentemente com os dias contados”. Muitos dos futuros pesquisadores parecem estar mais interessados em passar em concursos, em publicar em revistas de impacto, mesmo antes de serem capazes de discutir com aprofundamento seus resultados. Quando entram na vida acadêmica normalmente escolhem participar de grupos já consolidados, continu-

ando a pesquisa desses grupos em vez de propor novos projetos, novos desafios. Cada vez mais se vê dissertações e teses onde há um acúmulo de diferentes dados com equipamentos cada vez mais sofisticados, mas não parece haver discussão ou proposição de novos paradigmas para explicar os dados. A única forma de reverter esse quadro, a meu ver, é realmente incentivar jovens pesquisadores a propor novos projetos, mesmo que um tempo maior para consolidação da pesquisa seja requerido.

Referências Carlos A.L. Filgueiras, Lavoisier, O estabelecimento da Química Moderna, Odysseus ed, São Paulo, 2002 . Ana Maria Goldfarb, Da alquimia a Química, Ed. Nova Stella, São Paulo, 1988 . C.E. Filgueiras, A Revolução Química de Lavoisier: Uma verdadeira Revolução?, Química Nova, 18(2), 219 (1995). A.M. A. Goldfarb, M.H. M. Ferraz, As possíveis origens da Química Moderna, Química Nova, 18(1), 63 (1993). M. F. Lappert, J.N. Murrell, John Dalton, the man and his legacy: the bicentenary pf his atomic theory, JCS Dalton Transactions, 3811(2003). F. Coelho Quím. Nova vol.29 no.2 , editorial, São Paulo Mar./Apr. 2006.

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SAÚDE

O TEOR DE SÓDIO NA ÁGUA E NOS ALIMENTOS O sódio, abundante na natureza, tem

como estado natural a solidez, e é encontrado no sal marinho e no mineral halita. No cotidiano das cidades, percebemos sua utilização na fabricação de detergentes (combinado aos ácidos graxos), na purificação de metais fundidos, na fabricação de células fotoelétricas, na indústria de borrachas sintéticas, na iluminação pública por meio de lâmpadas de vapor de sódio e na água e alimentos consumidos pelo homem. Alusivo ao consumo alimentar, é essencial para o funcionamento do organismo, mas pode se tornar prejudicial quando ingerido em grandes quantidades. De acordo com acontecimentos do final do ano de 2013, o debate em torno da quantidade de sódio na água mineral foi salientado. Algumas marcas da água possuíam taxas mais elevadas de sódio, enquanto outras apresentavam um índice baixo. O fato gerou o debate dentro de comunidades médicas e entre consumidores, que se preocupavam com a saúde. Assim como na água, o teor elevado de sódio é comprovado em alguns alimentos, como é o caso das azeitonas. As quantidades, no caso da água, variam conforme as fontes da qual esta provem. “A água mineral é formada pelo ciclo natural da água da chuva que se infiltra no solo e, ao passar pelas rochas, carrega os sais minerais ali existentes. Quando a água atinge uma rocha impermeável, forma-se uma jazida de água mineral, com sais diferentes e em quantidades distintas, de acordo com as características da jazida. Assim, as características das águas minerais variam, 6

sendo determinadas pelo contato que elas sofrem com as rochas do subsolo, de onde normalmente são captadas”, explica a Engenheira Química, Sissi Maria Maciel Cabral, da Gerência de Tratamento de Água do Departamento Municipal de Água e Esgotos de Porto Alegre (DMAE). Sem contraindicações, a água é recomendada de forma quase unânime por médicos, nutricionistas e diversos profissionais da saúde. No mercado, nenhuma marca de água mineral está fora dos limites aceitos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) quanto à quantidade de sódio, que deve ser inferior a 600mg/L para água. Porém, a variação entre a quantidade de uma marca para a outra pode ser elevada. O médico nutrólogo Carlos Alberto Werutsky conta que no caso das águas minerais a relação qualitativa e quantitativa entre minerais e seus sais depende da fonte de extração. “Em geral, os oligo-elementos (vanádio, bário) são encontrados em proporções diminutas, por isso a denominação de elementos ‘traço’. Em geral, os minerais que vão caracterizar as diferenças entre as águas minerais são: cálcio (carbonatos), sódio (cloretos e bicarbonatos), magnésio (bicarbonatos) e enxofre (sulfatos e sulfitos)”, expõe. Conforme o depoimento do profissional, a quantidade de sódio nos alimentos, devido a sua maior concentração, é mais prejudicial à saúde. “Para uma água mineral (de extração em território brasileiro) chegar a concentração de sódio equivalente a quatro colheres de sopa de arroz cozido, seriam necessários aproximadamente 100 litros de

“No mercado, nenhuma marca de água mineral está fora dos limites aceitos pela ANVISA quanto à quantidade de sódio.” água mineral de maior concentração de sódio (100mg/L)”, comenta, acrescentando que a preocupação específica com a água é desnecessária, mesmo quando esta tem a adição de sucos em pó (em torno de 7 mg de sódio a cada 2g do pó) ou leite em pó (400mg de sódio a cada 100g do leite em pó). De acordo com o cardiologista Alfeu Rombaldi, todos os alimentos industrializados e refrigerantes contêm sódio, assim como os conservantes e aditivos alimentares, como o glutamato monossódico, cloreto de sódio, ciclamato de sódio e outros. “O sódio é um eletrólito importante para o organismo, pois é essencial para a manutenção da pressão osmótica do sangue, plasma e fluídos intercelulares, distribuição orgânica da água e volume sanguíneo. Na deficiência de sódio poderemos ter fraqueza, letargia, progredindo para convulsões e morte. Seu excesso leva a retenção de água, podendo causar hipertensão arterial, endema generalizado e insuficiência cardíaca”, resume Rombaldi. “Em torno de 70% dos acidentes vasculares cerebrais acometem hipertensos”,


Na SÓDIO - mg/L CRYSTAL

SARANDI

103,6

71,00

30,17

23,02

20,90

FLORESTA

VERSANT

PERRIER

PURIS

PUREZA VITAL

16,00

14,59

9,5

3,993

3,086

S.LOURENÇO Á. DA PEDRA CHARRUA

pH Níveis de Ph 12 9,58

10

ácido 0 à 6,5

9,35

8

7,44

7,2

6

7,0 5,45

4

5,83

6,98

6,66 5,5

2

neutro 7

básico 8 à 14

0

l

cr

ta ys

a o a l dr esta sant rier ta nç rru ris i e e u v p r r r r a p za flo ve pe ch sa da lou a re o u u ã p s ág di

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SAÚDE complementa Werutsky. A boa hidratação do corpo humano está ligada a quantidade de água ingerida por dia (3L recomendados) e na presença de sódio que retém água corporal (metade do peso humano é água). “A atividade metabólica de nossas células está na dependência do bom funcionamento das membranas celulares onde é vital a presença do sódio. Toda a atividade elétrica de condução do estímulo nervoso (células nervosas) e muscular (contração/relaxamento) tem a presença do sódio”, salienta Werutsky. Para saber a quantidade de sódio que pode ser ingerida, em média, diariamente, são realizados estudos epidemiológicos e longitudinais (acompanhados anualmente) com grandes grupos de indivíduos, em que são analisados os teores de sódio consumidos e a relação destes com o surgimento de eventos cardiovasculares (hipertensão, acidente vascular cerebral e infarto do miocárdio). “Foram significativos os eventos não-fatais e fatais com o consumo igual ou superior a 600mg de sódio diário”, conta Werutsky. Devido ao metabolismo humano, algumas pessoas têm a tendência maior a doenças relacionadas com grandes quantidades de sódio. No caso de idosos, por exemplo, é mais complexo para o organismo dispensar as quantidades ingeridas. A análise de sódio nos alimentos e água, por sua vez, pode ser realizado pelo método laboratorial de absorção atômica ou por espectrometria de emissão atômica. “No caso das águas minerais, a análise é realizada ‘in loco’ pelo laboratório credenciado da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) do Ministério de Minas e Energia. A comercialização do alimento ou bebida vai atender a resoluções específicas da ANVISA”, explana o nutrólogo.

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Teor de sódio em preparações mais comuns de alimentos:

ALIMENTO

PORÇÃO

SÓDIO (mg)

Linguiça de frango ou grelhada

1 unid. (100g)

1351

Bife grelhado

1 unid. (130g)

719

Hambúrguer bovino grelhado

1 unid. (56g)

610

Feijão pronto

1 concha (150g)

521

Pastel de carne frito

1 unid. peq. (50g)

520

Pão de queijo

1 unid (50g)

387

Pão francês

1 unid. (50g)

324

Arroz pronto

4 colheres de sopa (100g)

322

Azeitona

(100g)

Bebidas isotônicas

(240ml)

110

Biscoito água e sal

(100g)

835

2.087

Fonte: Depoimento do médico e nutrólogo Carlos Alberto Werutsky em entrevista ao CRQ-V e dados de pesquisa da especialista em nutrição clínica pelo Grupo de Apoio de Nutrição Humana, Camila Garcia Marques no site www.nutritotal.com.br

DICA: A adição de sal de cozinha no preparo dos alimentos pode ser um fator de risco para a saúde, assim como o seu consumo exagerado. Sempre que possível, se certifique da quantidade de sódio que os produtos que consome contêm.


Da torneira para o consumo A água também é comumente consumida filtrada diretamente da torneira. Nestes casos, a quantidade de sódio existente varia conforme a cidade, seus métodos de tratamento de água e manancial. “A água de torneira fornecida pelo DMAE é proveniente de manancial superficial, as contribuições de sódio vão depender das características do solo e do processo de tratamento da água, resultando, no caso de Porto Alegre, em uma água tratada com 8mg/L de sódio, em média”, afirma Sissi. De acordo com seu depoimento, enquanto empresa de saneamento o DMAE esta submetido às exigências da Portaria 2914/2011 do Ministério da Saúde, que estabelece o máximo permitido de 200mg Na/L na água tratada. “A água distribuída pelo DMAE nos últimos três anos apresentou, em média, 8,0 mg Na/L, sendo o máximo valor observado de 19,7mg Na/L. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é um consumo de sódio aproximado de 2g por dia. Considerando um teor de sódio médio de 8,0 mg/L da água distribuída pelo DMAE e uma ingestão média de 2L de água por dia, a ingestão de sódio através da água corresponde a apenas 0,8% da ingestão diária recomendada pela OMS”, esclarece. O teor de sódio na água de torneira é influenciado também pela adição de produtos químicos, como por exemplo, de agentes alcalinizantes, utilizados na etapa de alcalinização da água e correção de pH. Quanto aos outros elementos presentes na água e suas quantidades, a relação é intrínseca ao tratamento, distribuição e locais de captação. Os sais são sempre compostos por um cátion e um ânion ou um íon e um contra-íon, no caso do sódio, este se apresenta como íon, possuindo

um contra-íon associado o seu balanço de cargas. “Dos íons temos como cátions o sódio, o vanádio, o bário, o zinco e o lítio; e como ânions o cloreto, o sulfato e o nitrato. Não pode se afirmar, com certeza, que exista uma relação direta entre esses íons, mas o que existe é uma busca de um equilíbrio iônico próprio da água. Todos esses íons são monitorados conforme preconizado na Portaria MS Nº 2914/2011, nos Valores Máximos Permitidos (VMPS): sódio (200mg/L), bário (0,7 mg/L), zinco (5 mg/L), cloreto (250mg/L), sulfato (250mg/L) e nitrato (10 mg/L). E através da resolução da CONAMA 357/2005: Lítio total 2,5mg/L Li, Vanádio total 0,1 mg/L V ”, explica Sissi. As condições da rede de distribuição de água são outro fator que pode alterar a qualidade da água de torneira, incluindo o pH. Canos enferrujados são um indicativo de que oxidação do ferro presente no material. O óxido de ferro formado pode ser solubilizado na água que será consumida, podendo ocasionar um aumento de ferro na água, o que é perceptível pela mudança de coloração e sabor. Para que tal fenômeno não ocorra, é imprescindível a correção de pH da água antes de sua distribuição. “O pH elevado pode provocar incrustação indesejada na tubulação. Já o pH baixo pode provocar corrosão de tubulações metálicas”, reitera Sissi. A água distribuída pela rede municipal tem como parâmetros de maior impacto de qualidade: os resíduos de cloro (ou outro oxidante utilizado), cor, turbidez, pH, fluoreto e coliformes. “O residual de cloro é necessário para garantir a desinfecção da água ao longo da rede de distribuição; a cor e a turbidez informam diretamente a qualidade do processo de clarificação da água, bem como são também um indicativo das condições da rede de distribuição; o pH deve ser controlado para evitar corrosão e incrustações nas redes de abastecimento; o fluoreto deve estar presente na água para prevenção de cáries, conforme solicitação da Portaria e Secretaria Estadual da Saúde; e os coliformes indicam se há contaminação bacteriológica na água”, elucida Sissi.

DICA: O consumidor deve ficar atento à limpeza periódica de sua caixa de água, assim como às alterações da qualidade de água. Não é recomendada a utilização de água para consumo humano nos casos atípicos em que seja observada qualquer alteração. O DMAE fornece nas contas mensais o resumo mensal dos resultados obtidos nos ensaios analíticos referentes aos parâmetros básicos de qualidade da água distribuída em cada Sistema de Abastecimento, dados também disponíveis no link www2.portoalegre. rs.gov.br/dmae/. Caso haja alguma alteração na água de torneira de sua casa, entre em contato com o DMAE discando 156 e escolhendo a opção 2. O serviço é prestado 24h por dia. 9


C ONSELHEIROS

CONHEÇA O CRQ-V

Se aproximando ao final da série Conheça o CRQ-V, apresentamos mais três Conselheiros .Confira as entrevistas.

NEWTON BATTASTINI Newton é graduado em Química, em Licenciatura em Química e em Licenciatura em Ciências pela PUCRS. Possui MBA de Gestão em Saúde – Central de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) pela UNESP. Já foi presidente da Associação Brasileira de Química e, em 1999, nomeado pelas entidades de Química do RS como Químico Empreendedor do Ano. No momento é Diretor Presidente do Grupo TECPON e Presidente do Sindicato das Indústrias Químicas do Estado do RS. Além disso, é membro da Câmara Setorial de Saneantes da ANVISA, representando o Conselho Federal Química, membro do Comitê de Saúde e também da Câmara Técnica do CFQ. CRQ-V: Como se interessou pela área da química? Newton Battastini: Sempre gostei da química. Aos 12 anos tive o meu primeiro contato com a química e desde então nunca mais deixei de gostar. CRQ-V: Como se tornou Conselheiro? N.B.: No regional como representante da ABQ e no Federal sou membro técnico da Câmara Técnica representando o CRQ-V. CRQ-V: Lembra de algum momento relacionado ao seu trabalho com química que mudou suas expectativas ou influenciou na sua escolha e modo de entender a área? N.B.: Trabalho em química desde o segundo mês de faculdade, quando conclui a faculdade de química eu já era gerente industrial de uma indústria aqui no RS. A partir de 1980 comecei a empreender na química, onde sempre, como qualquer negócio, existem os altos e os baixos. Atualmente atuo na TECPON faz 20 anos, que fundei em 1994. O mais importante é estar diariamente com foco em inovação, sem isso as empresas não sobrevivem. 10

HERMES LUÍS NEUBAUER DE AMORIM Hermes (45) é Bacharel em Química pela ULBRA, Mestre em Química pela UFRGS (PPGQ) e Doutor em Biologia Celular e Molecular pela UFRGS (PPGBCM). Atualmente trabalha com simulação computacional de macromoléculas biológicas, o que envolve as áreas de modelagem molecular, bioinformática e quimioinformática. É professor do curso de Química da ULBRA, na mesma universidade também é docente do Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular Aplicada a Saúde (PPGBioSaúde) e coordenador do Mestrado Profissional em Genética e Toxicologia Aplicada. Seus planos futuros envolvem a conclusão dos trabalhos de orientação (iniciação científica, mestrado e doutorado) e realizar um pós-doutorado em 2015. CRQ-V: Como se interessou pela área da química? Hermes Luís Neubauer de Amorim: Sempre gostei da área de ciências, mas sem prioridade entre Química e Física. Contudo, no último ano do ensino médio tive um professor extraordinário de Química, que me inspirou a optar por este curso no vestibular. CRQ-V: Como se tornou Conselheiro? H.L.N.A: Através de uma indicação da universidade onde trabalho. CRQ-V: Lembra de algum momento relacionado ao seu trabalho com química que mudou suas expectativas ou influenciou na sua escolha e modo de entender a área? H.L.N.A: No início da graduação procurei a professora Elsa Nuch, com o objetivo de propor um projeto para uma bolsa de iniciação científica da FAPERGS. A inspiração foi uma aula dela. Paralelamente, eu consegui um estágio de pesquisa na Cientec (na área de Química Orgânica), com outro


docente do curso, o professor Luís Mazzini Fontoura. Este é responsável por outro marco na minha vida, pois devo a ele a maior inspiração em optar pela formação acadêmica. No mestrado trabalhei com o professor Valentim Uberti Costa, que me propôs vários temas de trabalho, dentre os quais o estudo do uso de enzimas em síntese orgânica, estudo ainda bastante incipiente no Brasil na época. Por fim, o desejo de entender como as enzimas funcionavam no nível molecular me levou a área em queestou hoje. Isto começou com o doutorado em Biologia Celular e Molecular, sob a orientação do professor Jorge Almeida Guimarães, que viabilizou o início dos meus estudos na área de simulação computacional de sistemas complexos com alguns dos melhores grupos do país e América latina.

RENATO JOÃO ZUCCHETI Renato (55) é Engenheiro Químico pela PUCRS e pós-graduado em Saneamento Básico pela UNISINOS. Trabalha com a produção de vinho e prosciutto e também é chefe da Divisão de Mineração da FEPAM (Fundação Estadual de Proteção Ambiental).

Agenda 27 e 28 de maio de 2014 SIQUIF - 1º Seminário Internacional de Química Forense Informações e inscrições: Telefone: 51 3225 9461 www.abq.com.br

31 de maio e 01 de junho de 2014 Curso de Licenciamento Ambiental em Porto Alegre Informações e inscrições: E-mail: cursos@maxiambiental.com www.maxiambiental.com

04 e 06 de junho de 2014 5º Fórum Internacional de Resíduos Sólidos Informações e inscrições: www.5firs.institutoventuri.org.br

CRQ-V: Como se interessou pelo área da química? Renato João Zuccheti: Com o Petróleo e a petroquímica, no início da revolução dos materiais. CRQ-V : Como se tornou Conselheiro? R.J.Z : Por meio do convite dos amigos do CRQ e da ligação e objetivos em comum com Paulo Fallavena, antes de sua eleição. CRQ-V : Lembra de algum momento relacionado ao seu trabalho com química que mudou suas expectativas ou influenciou na sua escolha e modo de entender a área? R.J.Z : Fui por 11 anos o responsável pelo Laboratório de Controle de Qualidade dos Combustíveis do Ministério Público. Projeto escolhido pelo Conselho Superior dos Ministérios Públicos para ser implantado em todo o Brasil. Implantei em dez estados da Federação o sistema de combate a adulteração dos combustíveis.

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CONSELHO REGIONAL DE QUÍMICA DA 5ª REGIÃO

A VIDA É NOSSO PRINCIPAL ELEMENTO

Av.Itaqui, 45 Porto Alegre/RS - CEP 90460-140 Fone/Fax: (51) 3330-5659 www.crqv.org.br


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