INFORMATIVO DO CONSELHO REGIONAL DE QUÍMICA OUTUBRO-DEZEMBRO DE 2015 ANO XIX Nº139
A QUÍMICA NA INDÚSTRIA DO LEITE Saiba mais sobre as adulterações, fiscalização e futuro dos laticínios no RS
OLIMPÍADAS DE QUÍMICA
FOSFOETANOLAMINA
Os vencedores do concurso que abrange cada vez mais escolas, professores e estudantes secundaristas do Rio Grande do Sul
A polêmica em torno da distribuição da cura do câncer e as alternativas internacionais na administração da vitamina K2.
Índice TECNOLOGIA
Editorial pg . 3
Proteína de bactéria impede derretimento de sorvetes.
INDÚSTRIA
pg . 4
A Química na indústria do leite.
SAÚDE
pg . 8
Os rumos da fosfoetanolamina no Brasil.
UTILIDADE
pg . 10
Olimpíada de Química do RS.
MURAL E AGENDA
pg . 11
Expediente Presidente Paulo Roberto Bello Fallavena Vice-presidente Estevão Segalla Secretário Renato Evangelista Tesoureiro Ricardo Noll Assessoria de Comunicação do CRQ-V assecom@crqv.org.br Jornalista responsável e Redação Carolina Reck Editoração Gráfica Giuliana Lopes Galvão Tiragem 2.000 Impressão Gráfica Ideograf INFORMATIVO CRQ-V AV. ITAQUI, 45 - CEP 90460-140 PORTO ALEGRE/RS FONE/FAX: 51-3330 5659 WWW.CRQV.ORG.BR
Finalizando este ano, a edição 139 do Informativo CRQ-V vai abordar uma das questões mais polêmicas dentro da indústria alimentícia: o leite. Tendo em vista adulterações que ocorreram em maio e outubro, assim como a maior necessidade de fiscalização, técnicos químicos no processo e urgência na preocupação com o consumidor, que é atingido diretamente, a discussão se faz necessária. Entre fraudes, apreensões, operação Leite Compensado e Projetos de Lei, realizamos um levantamento de como foi o ano para esse setor da indústria e quais as possíveis projeções para 2016. Elucidando este panorama, explicamos sobre o caminho do leite e processos de análise técnica para averiguar possíveis adulterações, contando com relatos de profissionais como o químico industrial e fiscal José Luiz Foschiera, o engenheiro químico e também fiscal do CRQ, Luciano Miguel Jung e a representante do CRQ-V, Thayse Bienert Goetze. Ainda quanto a assuntos delicados, a fosfoetanolamina, considerada capaz de curar o câncer, tem a sua distribuição questionada. Devido a poucos estudos concretizados, dúvidas percorrem no meio. Para entender um pouco sobre o que é a fosfoetanolamina e ilustrar o cenário atual a seu respeito, conversamos com o oncologia do Hospital Moinhos de Vento (HMV), Sergio Roithmann e com o professor do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Eduardo Rolim. Dentro destas discussões, buscamos entender que outras substâncias podem alcançar estes resultados, como seria o caso da vitamina K2. O nutricionista Júlio Caleiro nos descreveu um panorama a respeito da vitamina, estudos realizados com esta no exterior e a relação dela com a cura do câncer. Aproveitando o final de ano e começo da temporada de verão, apresentamos o sorvete que não derrete. A invenção, além de evitar ocasionais lambuzos, tem em sua fórmula componentes químicos inovadores, que aplicados à indústria alimentícia ou farmacêutica podem acarretar em avanços benéficos para os consumidores. Para finalizar, apresentamos com orgulho os vencedores da Olimpíada Rio Grandense de Química, revelando a participação a nível federal e as conquistas alcançadas dentro da competição. Boa leitura a todos!
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Dica de Livro
Histórias Periódicas A obra de Hugh Aldersey Williams aborda de forma lúdica a trajetória cultural dos elementos da tabela periódica. Com histórias curiosas, o autor explica o que torna esses elementos tão fascinantes para os cientistas, enfatizando a importância destes na vida cotidiana e o motivo de aparecem nas obras de artistas como Shakespeare e Wagner. Em uma das passagens mais curiosas do livro, Hugh conta os detalhes por trás da descoberta de um elemento que capturou a imaginação pública: o rádio. Isso aconteceu em 1898, quando Marie e Pierre Curie anunciaram a novidade do elemento, cuja radioatividade virou manchete nos jornais do mundo todo. Desavisadas do perigo, as pessoas fizeram fila para comprar chocolate, cerveja e até contraceptivos, todos “turbinados” com o elemento. Essas e outras histórias recheiam o livro, que combina descobertas químicas e científicas com rituais, valores e superstição.
Números do Conselho JUL/AGO/SET Registro Profissional
229
PJ
38
Fiscalizações
595
Autuações
177
TECNOLOGIA
A
s memórias de infância que compõe a imagem de mãos pegajosas e sorvete derretido podem se tornar obsoletas em breve. Cientistas das Universidades de Edimburgo e Dundee, da Escócia, descobriram uma proteína que pode ser utilizada para criar sorvetes mais resistentes ao derretimento do que os produtos alimentícios convencionais. O segredo por trás deste sorvete ultra-resistente é a proteína que ocorre naturalmente, denominada BSIA (Surface Bacteriana Camada A). Ela está presente, por exemplo, em alimentos como o natto (prato de soja fermentada servido no café da manhã japonês), que é extraído das bactérias Bacillus subtilis. Os cientistas responsáveis pelos estudos revelaram que os microorganismos usam a proteína BSIA para envolver e proteger as suas colônias. De acordo com Cait MacPhee, que está liderando a pesquisa, a proteína é capaz de firmar a gordura, a água e o ar do sorvete, criando uma consistência suave e funcionando perfeitamente ao ser adicionada ao alimento, devido às suas propriedades físicas aptas a “proteger” este. Isto assegura que o sorvete seja mais resistente à fusão, permitindo que a temperatura se mantenha firme por longos períodos de tempo, mesmo durante os dias quentes de verão. Os pesquisadores também garantem que a proteína impede a formação de cristais de gelo. O que de acordo com eles irá permitir que os fabricantes produzam sorvetes com teores mais baixos de gordura saturada e calorias, sem comprometer a textura ou sabor. Além disso, a proteína também vai ajudar a reduzir os custos de energia, uma vez que não é necessário manter o produto refrigerado durante o processo de transporte, por exemplo. Além de tudo, o Bacillus subtilis, ou de feno, como também é chamado devido à sua presença nas camadas mais superficiais do solo, é uma bactéria muito comum. Ele pode ser encontrado em toda parte - na água, ar, terra e até mesmo no nosso trato gastrointestinal. Isto significa que é configurado como bactéria amigável, sendo perfeitamente seguro para o consumo.
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INDÚSTRIA
ADULTERAÇÃO DO LEITE NO RIO GRANDE DO SUL INTENSIFICA A NECESSIDADE DE PROFISSIONAIS DA QUÍMICA NA INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS R
elembrando episódios que marcaram a Operação Leite Compensado, em 2013, os acontecimentos de maio e outubro de 2015 continuaram assinalando as falhas e as necessidades do setor de laticínios do Rio Grande do Sul. Dois mandatos de prisão e 15 laudos técnicos da Secretaria Estadual de Agricultura evidenciaram caso de adulteração no leite por adição de água no final do ano. O ocorrido desencadeou em ação realizada como parte da Operação Leite Compen$ado 10, em que o Ministério Público Estadual (MP) se encarregou da busca e apreensão de mercadorias na fábrica de leite H2B e na distribuidora Drw Comércio de Laticínios, ambas de Venâncio Aires. O resultado da investigação sentenciou o acréscimo de água em proporção muito acima da tolerada por lei, chegando a 32% além do permitido e acarretando na interdição dos locais e prisão dos responsáveis. De acordo com o promotor Mauro Rockenbach, que coordena a Operação Leite Compen$ado 10, água e estabilizantes foram acrescentados ao leite que não apresentava condições de consumo seguro, estando fora da validade ou azedo. Com base em nove laudos de 2014 e seis de 2015, todos atestando adição de água em excesso no leite Lactibom, o promotor expôs ainda que quando o produto era de baixa qualidade a empresa o revendia para uma queijaria de Lajeado. Referente a isto, outro problema foi identificado. Queijarias de Carlos Barbosa e Lajeado estão sendo investigadas devido ao fato de trabalharem com leite oriundo de outras cidades, que sofria apenas fiscalização municipal — ou seja, não poderia ser transportado ou vendido em outras regiões do Rio Grande do Sul. Alguns laudos apontam coliformes fecais presentes em amostras do queijo e, também, produto estocado sem rótulo e embalagens sem menção ao prazo de validade. O químico industrial José Luiz Foschiera explica que existem riscos na 4
Foto:Fernando Gomes RBS
A fábrica H2B e a distribuidora Drw Comércio de Laticínios foram interditadas após busca e apreensão do Ministério Público Estadual (MP)
ingestão destes produtos e que durante o processo de fabricação há uma série de fatores que podem influenciar na contaminação. “Os queijos contaminados com coliformes fecais são originados de processos produtivos com leite já contaminados, e/ou com práticas de fabricação sem a devida higienização e assepsia dos equipamentos. Ou água sem o devido tratamento de desinfecção com cloro”, expõe. As fraudes preocupam consumidores e autoridades, que convivem há anos com diferentes irregularidades nas empresas de laticínios. No processo de adulteração de outubro, a intenção dos fraudadores foi aumentar o volume do leite com a adição de água. De acordo com o depoimento de Foschiera, o leite é considerado uma emulsão de glóbulos graxos, estabilizados por substâncias albuminóides num soro que contém em solução um açúcar (a lactose), matérias protéicas, sais minerais e orgânicos, e pequena quantidade de vários produtos, tais como: lecitina, uréia, aminoácidos, ácido cítrico, ácido láctico, ácido acético, álcool, lactocromo, vitaminas, enzimas, entre outros. Em sua composição, a soma das quantidades dos componentes, com exceção da água, é chamada de extrato seco total (EST). A percentagem de extrato seco é indispensável para se julgar a integridade do leite. O rendimento que é alcançado no processo de adulteração por adição de água chega a um acréscimo considerável no volume total. Tendo em vista que com isto o estrato seco fica abaixo dos padrões normais, o produto não é aprovado por testes como o crioscopia ou análise de densidade, e a fraude é detectada. O engenheiro químico e fiscal do CRQ, Luciano Miguel Jung, acrescenta que apesar de no primeiro momento, em caso de a água da adulteração ser considerada potável, não haver configuração de grave risco à saúde dos consumidores, a adulteração em si prejudica a qualidade de produção de derivados de leite na indústria. “A água não causa riscos à saúde, a não ser que seja água contaminada. Porém, os produtos (uréia, soda cáustica...) que são adicionados para mascarar a adição de água é que podem causar algum dano, especialmente se consumidos por longos períodos. Além de que a
fraude é crime”, acrescenta Foschiera. Após a empresa H2B ser lacrada na 10ª Operação do Leite Compen$ado e 2ª Operação do Queijo Compen$ado, integrantes do Conselho Regional de Química da 5ª Região averiguaram o ocorrido, pontuando a importância de um profissional químico dentro de empresas alimentícias. A partir de 2006 o acompanhamento destes profissionais nos processos industriais das empresas era obrigatoriedade. Hoje, devido à vigência de uma lei estadual, a presença dos químicos passou a ser facultativa no Rio Grande do Sul, sendo a medida exigência apenas para médicos veterinários. A adulteração de outubro acarretou na prisão de Fábio Bayer, responsável pelo setor de qualidade da H2B, e do sócio-proprietário Luciano Petry. Segundo a representante legal do CRQ, Thayse Bienert Goetze, Bayer estava desde 2012 sem a Anotação de Função Técnica (AFT) atualizada, o que o impede legalmente de exercer a profissão de químico. Sobre a mudança na lei, Thayse e Jung, ressaltaram que falta fiscalização. “Eles não estão fiscalizando e depois disso que começaram a acontecer estes problemas”, salientam. Mesmo respeitando a referida decisão judicial, o Conselho manteve a convicção de que são os químicos os profissionais preparados para realizar as análises físico-químicas e pela produção dos materiais derivados do leite. Além desta área, outras que também requerem o trabalho de químicos são a de alimentos, couros, curtumes, tintas e vernizes, cimento, bebidas, combustíveis, borrachas, celulose e papel, cerâmicas, colas e adesivos, cosméticos e artigos de higiene pessoal, explosivos, farmacoquímicos, fertilizantes, gases, metalurgia, meio ambiente, perícias judiciais, saneantes, têxteis e diversas outras atividades em que a química se faz presente. Para que este cenário seja revertido, e as fraudes nas indústrias de laticínios deixem de ocorrer, é necessária uma mudança na cultura de produção e maior investimento em profissionais especializados. Para que o número de fraudes seja reduzido, Foschiera dá a fórmula: “Sem dúvida a punição exemplar dos fraudadores auxiliaria no processo de melhoria. Além de exigir que as análises de controle de matérias-primas, processo e produto acabado, bem como a supervisão dos processos produtivos, seja realizada por profissionais realmente capacita-
dos. E os profissionais da Química são os mais bem preparados para esse trabalho”. O profissional revela que além de fazer a análise do produto, é fundamental saber interpretar o resultado. “De nada adianta fazer uma análise se não souber interpretar o resultado. Para isto são necessários profissionais da área da Química, que a partir do resultado podem tomar as decisões cabíveis para cada caso”, exemplifica Foschiera, que defende a presença de químicos em todas as empresas de laticínios, postos de resfriamento e inclusive órgãos de Fiscalização dos Produtos. Considerando que o profissional da área da medicina veterinária responde pelos laticínios em geral, pela possível falta de conhecimento técnico quanto aos processos de fiscalização se abrem pressupostos para que os resultados das análises do produto, especificamente os com adulteração, sejam aprovadas. “Para reduzirmos, ou então para que possamos dizer que o índice de adulteração seja zero, é muito simples, basta avaliar os resultados das análises de laboratório no momento da chegada do leite nos caminhões por profissional da Química habilitado”, resume Jung. O profissional, que trabalha na área de fiscalização, ressalta que o CRQ-V possui uma fiscalização atuante em todos os seguimentos do estado, mas que uma das ferramentas imprescindíveis é a postura das empresas dentro deste cenário. “O que é necessário é uma conscientização das empresas em realmente produzir produtos que estejam dentro dos padrões de qualidade vigentes, e que se cumpra a lei federal, que está acima de qualquer outra lei, estadual ou municipal”, reitera. De acordo com Thayse e Jung, também é relevante que todas as empresas das áreas citadas estejam registradas no Conselho Regional de Química. Conforme os integrantes do Conselho, este seria o momento oportuno para intensificar a fiscalização e as exigências direcionadas ao profissional da Química dentro das empresas, alcançando a melhor qualidade dos produtos no mercado e na valorização
Luciano Miguel Jung, fiscal do CRQ-V, visitando indústria de Venâncio Aires para averiguar fraudes que ocorreram em outubro
destes profissionais. “As principais dificuldades são as mesmas de sempre, a atuação dos profissionais da Química habilitados em todos os setores desde a chegada do leite nos postos de resfriamento de leite até as indústrias na produção, controle de qualidade, tratamento dos efluentes, meio ambiente, destinação, gerenciamento dos resíduos sólidos”, consolidou Jung. Em maio também ocorreram processos de adulteração. Laudos realizados por dois laboratórios credenciados ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento comprovaram a fraude que consistia em alterar a quantidade, densidade e a acidez elevada do leite, adicionando água, sal, açúcar, amido de milho e até mesmo soda cáustica para mascarar leite azedo. Nas fases anteriores da Leite Compen$ado era comum a adição de uréia e formol, substâncias cancerígenas.
O caminho do leite O recolhimento do leite, nos produtores, ocorre por meio das chamadas Linhas de Leite. Neste processo um único transportador tem um número de produtores que lhe entregam o produto previamente resfriado. Diversas linhas atendem 5
a um município ou região. Os proprietários das linhas entregam o leite nos postos de resfriamento, ou diretamente nas indústrias, dependendo da distância e normas das empresas compradoras. Antes do carregamento, é realizado um teste qualitativo no estabelecimento do produtor, para verificar se o leite está em condições de ser carregado (teste do alizarol). Antes do descarregamento é realizada uma bateria de testes físico-químicos que avaliam integridade, a adição de conservantes e detectam fraudes no leite. Desde 2013 são fortes os indícios de adulteração de leite em empresas do Rio Grande do Sul. Nas fraudes ocorridas em 2013, por exemplo, inicialmente foram encontradas duas fórmulas de adulteração. Uma delas continha uréia e água de poço. Na outra havia uréia, água de poço, bicarbonato e açúcar. Além destas, posteriormente foi descoberto outro procedimento, em que o sal foi adicionado. A adição destes produtos que constavam nas fórmulas de adulteração tinha como objetivo mascarar o acréscimo de água e consequentemente a diluição do leite, que diminui o extrato seco (proteína, gordura, carboidratos). “A uréia é fonte de nitrogênio, o que compensa a diminuição deste, que se encontra no leite de forma natural por meio das proteínas. O bicarbonato diminui a acidez. Já o açúcar serve para compensar a perda de carboidratos naturais do leite que ocorre na diluição”, afirma Foschiera. Neste processo, a água dilui a lactose (açúcar natural do leite) e a adição de açúcar sacarose compensa esta diminuição, disfarçando a fraude. São diversos os tipos de adulteração, todos visando o lucro à custa dos consumidores, que podem ter a saúde prejudicada. As fraudes mais comuns são as de reconstituintes, de conservantes e as que mudam o pH da matéria prima. Na de reconstituintes são repostos os sólidos perdidos quando acrescida água no leite. A de mudança do pH consiste em alterar o estado de acidez, medida em dornic (d), da matéria prima. Normalmente a acidez é considerada entre 14d e 18d (1,4g a 1,8g de ácido láctico / L de leite). Se o leite chega ácido (acima de 18d), é necessário alcalinizá-lo (valor próximo de 14d e 18d). Para isto, aqueles que fraudam adicionam soda cáustica ou bicarbonato, sendo a primeira mais violenta na funcionalidade e para a saúde dos consumidores. No caso de implementar bicarbonato à fór6
mula, devido a sua potência ser inferior a da soda caustica, são necessárias grandes quantidades, que algumas vezes formam aglomerados no leite. A fraude do conservante aumenta o tempo de prateleira do produto. Nestes casos são utilizados formol, amoníaco (age principalmente pelo pH), peróxido de hidrogênio (água oxigenada), entre outros. O formol elimina a flora, assim como o peróxido, e não há decomposição de lactose, o que garante maior durabilidade do produto. Outro ponto crucial para a detecção de fraudes é a densidade do leite, especialmente no caso de adição de água, como os reportados no final deste ano. As densidades conforme a origem animal dos leites divergem, mas a variação não é grande devido ao principal componente do leite: a água. Para um leite integral in natura, são consideradas normais densidades entre 1.028 g/L e 1.033 g/L, e para um leite pasteurizado, entre 1.031 g/L e 1.035 g/L. As densidades do leite que são apresentadas fora deste intervalo podem ser derivadas de fraudes. A 20ºC o leite deveria ter a densidade ao redor de 1031 g/L. “Quanto à integridade do leite, são feitas análises de acidez, densidade, crioscopia, teor de gordura e determinação do extrato seco. Quanto à adição de conservantes existem diversas análises, tais como a de bicarbonato de sódio, formol, ácido bórico, bicromato de potássio, ácido salicílico e peróxido de hidrogênio. E de fraude: amido, urina, sacarose”, esclarece Foschiera. Um dos métodos comuns é a crioscopia, processo físico-químico que tem a propriedade de medir o ponto de congelamento de soluções. Variando de acordo com a composição química, cada composto possui um ponto de congelamento específico. A faixa de temperatura de congelamento aceitável para o leite in natura varia entre –0,550 oC e –0,530 oC. Em contraponto, a temperatura de congelamento da água é de 0,0 oC. Pontos de congelamento próximos ao da água indicam a adição da mesma ao leite e, consequentemente, fraude. Outros dos testes comuns é o de alisarol, que oferece uma faixa consideravelmente grande do pH do produto, facilitando o conhecimento quanto a este ser alcalino ou não. Algumas vezes o teste de alisarol é substituído pelo licor de plataforma, uma solução de hidróxido de sódio que muda a coloração da amostra de leite a partir de 18d, tornando o conteúdo rosa.
Um ano de dificuldades e a projeção de outro cenário da indústria de laticínios Marcada novamente por fraudes e adulterações, a indústria do leite teve acontecimentos relevantes em 2015, tanto a nível estadual como federal. Apesar do declínio em produção e vendas, ligado à crise do Rio Grande do Sul, medidas para sobrevivência e ascensão deste mercado são estudadas e vêm sendo aplicadas. Os acontecimentos do ano referentes ao leite apresentaram casos como a retirada de produtos do comércio, adulterações e recolhimento de produtos, 136 denúncias por parte do Ministério Público do RS, atraso na entrega de contas do Instituto Gaúcho do Leite por parte do Conselho Deliberativo do FUNDOLEITE, movimentação de ação indenizatória, empresas e pessoas físicas em fraude apurada na 10ª fase da Operação Leite Compensado, denúncia de 19 pessoas envolvidas com fraude no leite e queijos em Venâncio Aires em outubro e projetos protocolados. Apesar de conturbada, esta realidade incentivou ações positivas, que visam o benefício para consumidores e buscam readaptar a produção dentro do mercado de laticínios e fiscalizar esta. Dentro dos exemplos positivos é possível destacar casos como o da Santa Clara, que aposta no crescimento da produção para 2016, de acordo com o presidente da coorporativa, Rogério Bruno Sauthier. Além disso, medidas como o Programa Leite Saudável, lançado em Brasília, permitem investimentos no setor leiteiro gaúcho. Este consiste em um programa que irá auxiliar em investimentos em cinco estados brasileiros, incluindo o RS com benefícios para 18 mil propriedades de 132 municípios das regiões Norte e Noroeste. O Projeto de Lei Transleite é outra proposta que pode gerar melhorias no setor, tendo como foco regular o transporte de leite no RS. No campo do Ministério Público aconteceram a 10ª Operação Leite Compen$ado e 2ª Queijo Compen$ado. No final de dezembro, a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul aprovou o Projeto de Lei PL 414/2015, criando o Programa de Qualidade na Produção,
Transporte e Comercialização de Leite. O projeto visa a aumentar as condições de fiscalização e coibir fraudes e adulterações no alimento, prevendo a criação de um documento padronizado para o transporte de leite no Rio Grande do Sul. Além disso, cobra treinamento para transitar com a carga e a vinculação do transportador com as indústrias, que poderão ser responsabilizadas pela qualidade do produto. A ideia é reforçar as limitações para comercialização de leite cru, liberada apenas para produtores e estabelecimentos de processamento e postos de refrigeração. Os valores punitivos por conta de irregularidades também crescem. ”A multa pode chegar a R$ 350 mil e não acaba por aí. Se houver reincidência esse valor dobra”, alertou o secretário da Agricultura, Ernani Polo. O próximo passo para a PL é a sansão do governador José Ivo Sartori e a regulamentação do projeto, que tem prazo de 90 dias para ocorrer após assinatura. A princípio, a regulamentação será discutida após a apresentação de um esboço da equipe técnica da Secretaria da Agricultura para as entidades que representam o setor lácteo gaúcho. A ideia constitui na construção conjunta, tendo cada artigo detalhado com a participação desde produtores até a indústria.
Para 2016
Apesar deste avanço, outros projetos de lei tramitam na Assembleia e na Câmara dos Deputados. Capazes de impactar o agronegócio, estes ficaram para análise durante 2016, como são os casos do Projeto de Lei 214, Projeto de Lei 31 e Mudança na Falência. 1) PROJETO DE LEI 214: a proposta do Executivo gaúcho prevê redução de apropriação de crédito presumido. Atualmente é de 100%. Pela proposta, passa a ser de, no máximo, 70%. Foi encaminhada em regime de urgência, depois derrubada. O objetivo do governo com a medida é ampliar a arrecadação em R$ 300 milhões por ano entre 2016 e 2018. Indústrias da carne e de leite, no entanto, afirmam que o Rio Grande do Sul perderia competitividade no cenário nacional diante da guerra fiscal entre Estados brasileiros. Está na Comissão de Constituição e Justiça. 2) PROJETO DE LEI 31: prevê que terras de agricultores familiares (com até quatro módulos fiscais) e de pecuaristas (com 300 hectares) não sejam alvo de demarcação. E que as demarcações, quando ocorrerem em áreas de uso agrícola, sejam de forma descontínua. O texto passou pela Comissão de Constituição e Justiça e está atualmente na Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assemblaia Legislativa. 3) MUDANÇA NA FALÊNCIA: a crise que fez empresas de laticínio fecharem as portas no Rio Grande do Sul foi o principal incentivo para a elaboração de três projetos de deputados gaúchos que têm por objetivo tirar o produtor do fim da fila de recebimento em caso de falência. Sem essa mudança, agricultores com valores por receber de indústrias não estão no topo da lista em caso de enceramento de atividades.
Esclarecimento do CRQ-V a respeito da adulteração do leite no RS O Conselho Regional de Química da 5ª Região, jurisdição no Estado do Rio Grande do Sul, pertencente ao sistema químico brasileiro, tendo como objetivo a defesa da sociedade, garantindo que apenas profissionais capacitados possam exercer as suas funções na área da Química, da forma mais adequada possível. Os profissionais que fazem parte dessa profissão são: os químicos, químicos industriais, bacharéis em química, engenheiros químicos, engenheiros de alimentos, engenheiros ambientais, tecnólogos em química, técnicos em química e meio ambiente, licenciados em química, enólogos, e mais uma enorme gama de cursos voltados para as áreas que compões a ciência química. As atividades que estão relacionadas com a química são muito extensas e dela fazem parte: área de alimentos, couros, curtumes, tintas e vernizes, cimento, bebidas, combustíveis, borrachas, celulose e papel, cerâmicas, colas e adesivos, cosméticos e artigos de higiene pessoal, explosivos, farmoquímicos, fertilizantes, gases, metalurgia, meio ambiente, pericias judiciais, saneantes, têxteis e diversas outras atividades em que a química se faz presente. Logo, todas as empresas das áreas citadas devem estar registradas no CRQ, que junto às empresas aprova ou não o responsável técnico que a estas desejam contratar para exercer as funções desejadas. Realiza também a fiscalização destas empresas e de seus responsáveis técnicos, avaliando através da competência do responsável a qualidade dos produtos. O caso específico do leite está inserido na área de alimentos. Até 2006, as empresas produtoras de leite e derivados tinham a obrigação de estarem registradas no CRQ e apresentarem um químico responsável pelo processo de produção, controle de qualidade e atividades complementares. Esta obrigatoriedade está definida no decreto lei 85877/81, no artigo 2º, e cita que: “são privativos do químico:(...) produção de produtos industriais derivados de matéria-prima de origem animal, vegetal ou mineral(...)”. Portanto, seria de se esperar que todas as indústrias de laticínios tivessem em seus quadros profissionais da química. No entanto, uma decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, publicada em 19 de março de 2009, obriga a indústria a ter um médico veterinário e torna facultativa a presença de um profissional da química. Mesmo respeitando a referida decisão judicial, o Conselho Regional de Química do Rio Grande do Sul mantém a convicção de que são os químicos os profissionais preparados para realizar as análises físico-químicas e pela produção dos produtos derivados do leite. A sua falta pode ter contribuído para os fatos ocorridos, assim como para outros possíveis problemas que venham a acontecer no futuro. No caso de ser um químico o responsável pelas atividades de falsificação ou adulteração do leite, ele está incorrendo em falta grave pelo código de ética do Conselho Federal de Química e deve responder a um processo instaurado no CRQ, podendo perder o registro profissional, deixando de atuar como químico. 7
SAÚDE
OS RUMOS DA FOSFOETANOLAMINA NO BRASIL N
a batalha contra o câncer é preciso tomar cuidado com soluções de efeitos promissores e “milagrosos” ainda não comprovados. Reproduzida sinteticamente no Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), desde a década de 90, a fosfoetanolamina (fosfoamina sintética) tem atraído cada vez mais a atenção dos brasileiros. Especialmente a partir de 2014, quando a USP de São Carlos restringiu a distribuição de drogas experimentais sem registro no Ministério da Saúde ou na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em suas dependências. Logo em seguida, ações judiciais desencadearam uma polêmica nacional que deixa de lado, muitas vezes, a saúde dos pacientes. Encontrada naturalmente em nosso organismo, a substância fosfoamina é produzida nas células de músculos longos e no fígado. A sua função no corpo humano é agir no transporte de ácido graxo para as mitocôndrias, responsáveis pela produção de energia na célula. A versão sintética da substância começou a ser estudada no Brasil há cerca de 15 anos, por um grupo de pesquisadores coordenado pelo professor de Química aposentado da USP Gilberto Chierice. Por meio de um convênio entre a USP e o Hospital Amaral Carvalho, em 1995, testes pré-clínicos da substância foram realizados em roedores. Chierice observou que a fosfoetanolamina poderia agir como um reforço no sistema imunológico, visto que a fosfoamina produzida naturalmente pelo organismo é insuficiente para combater as células cancerígenas. Não há evidências de testes em seres humanos. ”Revisamos toda a literatura a respeito e os estudos feitos até agora se limitam a modelos pré-clínicos: linhagens celulares e alguns poucos dados em camundongos”, afirma o chefe da Oncologia do Hospital Moinhos de Vento (HMV), Sergio Roithmann. “Anualmente, são relatados dezenas de compostos com este tipo de atividade pré-clínica. Mas, infelizmente, na grande maioria dos casos, estes dados iniciais promissores não chegam a se confirmar em estudos clínicos”, completa Roithmann. Um dos exemplos que ele traz é da substância endostatina, que nos anos 90 provocou furor nos Estados Unidos por curar câncer em animais, 8
mas sem resultados satisfatórios em humanos. Mesmo sem comprovações clínicas, a fosfoetanolamina ganhou popularidade pelos seus efeitos “milagrosos” e seu fácil acesso. O professor do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Eduardo Rolim, elucida que a fosfo é uma molécula bastante simples.“Ela pode ser feita a partir de um etanol (C2H6O) com um substituinte que é uma amina (NH2). A etanolamina formada (C2H7NO) com a substituição de um fósforo no lugar do oxigênio é o que chamamos, então, de fosfoetanolamina (C2H8NO4P)”, explica Rolim. Nesse caso, a base da síntese é a etanolamina, uma molécula comercial, vendida largamente e conhecida há bastante tempo. Ou seja, não há grandes custos ou dificuldades para sintetizar a fosfoetanolamina. Mesmo assim, o professor da UFRGS alerta que a utilização do medicamento em humanos deve passar por testes, principalmente pela questão de toxicidade. “Colocar uma droga no mercado sem, necessariamente, passar por todas as fases clínicas é algo bastante discutível e preocupante”, expõe. A polêmica da fosfoetanolamina chegou até o governo do Rio Grande do Sul, que em novembro chegou a assinar um convênio para que a “cura do câncer” fosse produzida e verificada pelo Laboratório Farmacêutico do RS (Lafergs). Apesar disso, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação considerou os estudos no Lafergs desnecessários, visto a confirmação do investimento federal de R$ 10 milhões em pesquisas da fosfoetanolamina em um período de dois anos. No fim de novembro, R$ 2 milhões já foram liberados para acelerar as análises nos laboratórios envolvidos – Centro de Inovação e Ensaios Pré-Clínicos (SC), Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (CE) e Laboratório de Avaliação e Síntese de Substâncias Bioativas (RJ). Enquanto pacientes e familiares depositam as suas esperanças em uma possível cura, médicos e especialistas se preocupam cada vez mais com os rumos da substância. “A decisão de distribuir o composto sem testes clínicos é muito não usual e intrigante. Saímos do mundo da ciência e entramos no mundo da ma-
gia”, salienta Roithmann. A aceitação da substância pela população mais carente é totalmente compreensível, segundo o oncologista. Ele questiona: “Se alguém vier te propor uma medicação que milagrosamente cura todos os tumores e não tem nenhum efeito colateral, quem não aceitaria?”. Na falta de terapias eficazes, é muito comum o uso de alternativas “milagrosas”. Muitas vezes, até mesmo os tratamentos tradicionais têm seus benefícios exagerados, como aponta Roithmann. “Se forem empregados de forma indiscriminada e sem limites, podem terminar sendo fúteis e prejudiciais”, analisa. A disseminação de uma possível “cura do câncer” e a pressão social fizeram com que médicos receitassem fosfoetanolamina a pacientes, e juízes julgassem a favor dos mesmos. O chefe da Oncologia do HMV assinala que a opção por tratamentos alternativos pode ser mais confortável do que uma “discussão mais profunda e sincera sobre nossas limitações humanas”, frequentemente evitada por muitos médicos, famílias e pacientes. A verdade é que, até o momento, a cura do câncer está associada ao diagnostico precoce e ao acesso rápido a terapias que envolvem cirurgias, quimioterapias, radioterapia e novos tratamentos biológicos. Fonte: USP/Divulgação
Profissionais da Saúde e da Química aguardam as novas pesquisas sobre a substância sintetizada na USP. Antes disso, os profissionais estão inaptos a discutir a respeito da eficiência da fosfoetanolamina e de sua segurança para utilização como medicamento em pacientes com câncer.
A administração de vitamina K2 como resposta Apesar de ser recente a discussão a respeito da fosfoetanolamina no Brasil, estudos e pesquisas internacionais já discutiam a temática, especialmente tendo como foco a vitamina K2 e a produção endógena natural da fosfoetanolamina no organismo. Pesquisas apontam que a suplementação de menaquinona aumenta em até 500% a fosfoetanolamina dentro das células tumorais, podendo ocasionar na apoptose (morte celular) destas. De acordo com demonstrações metabolômicas, diversos artigos comprovam que a administração da menaquinona K2 é capaz de matar o câncer. Outro estudo relevante demonstrou efeitos de apoptose em casos de cânceres de fígado, pulmão, estômago, cérebro, colorretal e leucemia. A vitamina K2 (menaquinona) exerce múltiplos fatores sobre tumores, reduzindo o crescimento e progressão destes, congelando o ciclo celular, bloqueando a replicação e promovendo a morte celular programada por apoptose. Em casos como o de leucemina, por exemplo, ela induz certos tipos de células a transformar-se em sangue com células brancas normais. Em células de determinados tumores cerebrais, câncer no estômago, câncer colorretal, a vitamina K2 pára o ciclo celular reprodutivo e induz a apoptose. Cânceres de pulmão, notoriamente agressivos e difíceis de serem tratados, também tiveram resultados positivos com a aplicação de K2. Pesquisas verificaram que quando a vitamina K2 foi adicionada a um medicamento (mesilato de imatinib) rapidamente foi suprimido o crescimento em todas as linhas de células cancerígenas. Um artigo publicado em 24 de março de 2010, no ‘American Journal of Clinical Nutrition’, relata o encontro de pesquisadores do Centro Alemão de Pesquisa do Câncer e do Centro Alemão de Pesquisa para Saúde Ambiental, averiguando uma associação entre a ingestão reduzida de vitamina K2 e um aumento do risco de morte por câncer. A pesquisa analisou dados de 24.340 participantes na ‘Investigação Prospectiva Europeia sobre Câncer e Nutrição-Heidelberg (EPIC-Heidelberg)’. Questionários dietéticos completos no momento da inscrição foram analisados para filoquinona (vitamina K1) e consumo menaquinonas (vitamina K2). Durante o acompanhamento, houve 1.755 casos de câncer. Dos pacientes, 25% ingeriram K2, apresentando 14% de redução não-significativa na incidência de
câncer quando comparados com aqueles que não ingeriram. O grupo com a maior ingestão experimentou um risco 28% menor de morrer da doença. Uma análise adicional dos dados determinou que a redução da incidência estava associada com a ingestão da vitamina. Quanto aos tipos de câncer, foi constatada uma redução de 62% no risco de câncer de pulmão e um risco 35% menor de câncer de próstata. Na Universidade de Pittsburgh Cancer Institute (UPCI), cientistas descobriram uma nova forma de vitamina K, que ao que tudo indica é extremamente promissora no tratamento de câncer primário de fígado, um tipo notoriamente resistente à quimioterapia. A pesquisa foi publicada no ‘Journal of Biological Chemistry’ e descreveu uma abordagem inovadora para tratar e possivelmente prevenir o câncer de fígado. A equipe responsável verificou que análogos da vitamina K - chamado de Composto 5 (CPD5) - provocam um desequilíbrio na atividade normal de enzimas. Este composto controla a adição ou a remoção de moléculas pequenas (grupos fosfato) a partir de proteínas de dentro das células. Especificamente, a CPD5 bloqueia a atividade de enzimas do tipo (tirosina fosfatases) que normalmente removem grupos de fosfato de proteínas dentro das células selecionadas de câncer de fígado. A CPD5, no entanto, não interfere com o outro grupo de enzimas chamadas proteína-tirosina-quinases, que adicionam grupos de fosfato para as mesmas proteínas. O resultado é um excesso de proteínas fosforiladas em tirosina, o que desencadeia uma variedade de atividades no interior das células, incluindo a morte subsequente da célula. Os estudos nesse campo prosseguem internacionalmente, tendo uma infinidade de publicações e análises de caso nos Estados Unidos. O Brasil ainda não apresenta estudos aprofundados sobre a K2, tendo como enfoque no momento o investimento em pesquisas relacionadas com a fosfoetanolamina.
ENTREVISTA COM JÚLIO CALEIRO
O nutricionista Júlio Caleiro, um dos profissionais do Brasil que discute a vitamina K2 e a sua possível utilização: CRQ-V: O que é a K2 e como se dá quimicamente a intervenção desta em células cancerígenas? Júlio Caleiro: A K2-MK7 é uma vitamina lipossolúvel, que tem a função direta de alocar íons de cálcio na matriz óssea atuando diretamente no complicado metabolismo do cálcio. Sua atuação também vai além disso, tendo em vista alguns artigos demonstrarem efeitos contra alguns tipos de câncer, atuando na produção endógena de fosfoetanolamina no tecido tumoral e assim ativando o metabolismo desta substância no incremento do sistema imune a levar células tumorais a apoptose. CRQ-V: Além da discussão relacionada ao câncer, existe suplementação de K2 no Brasil? Qual o objetivo desta e como a vitamina reage no organismo? JC: A K2 ao que tudo me parece é importada dos USA. Não li nada a respeito dos órgãos da saúde e de regulamentação ao menos citá-la, sem RDA ou DRI por aqui. Como citado acima uma de suas ações é a atuação direta no metabolismo do cálcio, atuando juntamente com a vitamina D e o próprio cálcio, evitando a osteoporose e similares. Ao que tudo parece ela reequilibra a cinética do cálcio de forma correta. CRQ-V: Qual seriam os benefícios de estudos mais aprofundados sobre a vitamina? JC: Os benefícios que a população poderia vir a ter, na minha opinião, são enormes, tendo em vista análises de artigos científicos em revistas médicas em outros países, estudos com metodologias padrão ouro com randomização, que demonstram que a suplementação ou mesmo ações de planos alimentares onde esta vitamina é presente, tem menores níveis de doenças correlacionadas acima e também nas áreas de odontologia, neurologia, hematologia, cardiologia e na oncologia, atuando contra uma variedade de cânceres, assim como no desenvolvimento correto dos ossos, crânios, beneficiando adultos, idosos e crianças. É de extrema importância a elucidação e educação sobre os alimentos ricos em K2 ou mesmo a sua suplementação, uma vez que o quadro alimentar da família Brasileira é totalmente deficitária. Pronunciamento do CRQ-V quanto ao assunto: Tendo em vista a enorme polêmica que envolve a fosfoetanolamina, o CRQ-V aguarda que sejam regularizados os estudos com a substância fosfoetanolamina para se pronunciar publicamente. 9
UTILIDADE
OLIMPÍADA DE QUÍMICA DO RS PREMIA ESTUDANTES COM OS MELHORES RESULTADOS Divididos em três modalidades, os estudantes com os melhores resultados nas provas da Olimpíada de Química do Rio Grande do Sul foram reconhecidos na tarde de 09 de novembro, durante a Solenidade de Premiação, no Salão de Eventos da FIERGS, em Porto Alegre. A 4ª edição do concurso reuniu 3.325 alunos do Ensino Médio de 269 escolas do estado. Gabriel Kripka, do Colégio Israelita Brasileiro (Porto Alegre), conquistou o 1º lugar na Modalidade EM-3 e ganhou uma Bolsa de Estudos integral da Unisinos para qualquer curso de graduação oferecido pela universidade. Na Modalidade EM-1, o 1º lugar ficou com Rafael Marcos Formolo, do Colégio Riachuelo (Santa Maria). João Pedro de Medeiros Gomes, do Colégio Militar (Porto Alegre), levou pra casa a medalha de ouro da Modalidade EM-2. Gabriel Kripka e Rafael Marcos Formolo estavam entre os escolhidos da edição passada para representar o estado na Olimpíada Brasileira de Química 2015, realizada em agosto, e acabaram conquistando duas medalhas de prata, junto a outros sete medalhistas gaúchos que estiveram em Fortaleza (CE), no dia 26 de novembro, para receber a premiação. Integrante da Comissão Organizadora das Olimpíadas do Rio Grande do Sul, Daniel Jacobus destaca que “houve um incremento no número de medalhistas na etapa nacional, e isso quer dizer que o estado está se destacando no cenário nacional”. Durante a Solenidade de Premiação, também foram anunciados os 25 melhores estudantes da Modalidade EM-1 e os 25 melhores da Modalidade EM-2, que representarão o estado no ano que vem na etapa nacional da competição. Um número recorde de alunos inscreveu-se na edição deste ano das Olimpíadas de Química do Rio Grande do Sul. Para Jacobus, o crescente envolvimento das escolas e dos professores é um dos fatores principais da expansão da competição. “A própria participação das escolas na Solenidade de Premiação demonstra que elas têm valorizado bastante a atuação das Olimpíadas de Química”, aponta. Além disso, as provas que abordam temas do cotidiano para avaliar o conhecimento específico acabam despertando o interesse dos alunos. Segundo Jacobus, “a Química, normalmente, é vista pelos alunos do Ensino Médio como uma disciplina muito ‘carrancuda’ e difícil. As Olimpíadas abordam a Química de uma maneira um pouco mais próxima da realidade dos alunos, fazendo com que eles consigam verificar a aplicação daquele conceito que eles aprenderam na escola”. E mesmo que o número de mulheres nos cursos de ciências exatas ainda seja baixo se comparado ao número de homens, cada vez mais, elas têm conquistado seu espaço na Química. “Normalmente, as meninas têm um destaque muito grande, tanto nas inscrições como nas premiações”, comenta Jacobus. O Conselho Regional de Química da 5ª Região é parceiro das Olimpíadas de Química do Rio Grande do Sul desde o início, apoiando e incentivando o desenvolvimento do ensino da Química no estado.
Por dentro da experiência de Gabriel Kripka, o 1º lugar na modalidade EM-3 1) Qual é a tua experiência com a Olimpíada de Química? Eu já havia feito as Olimpíadas de Química do RS ano passado (2014), e conquistei o segundo lugar da minha categoria, então já conhecia a prova e os principais assuntos... Além disso, por ter tido a chance de participar da Olimpíada Brasileira de Química, que consegui conquistar medalha de prata inclusive, meus estudos para essas olimpíadas já serviram como preparação para a regional também, o que facilitou muito. 2) Quais são os teus planos em relação ao teu futuro profissional? Nenhum plano ainda é muito certo, mas este ano me inscrevi para prestar o vestibular da UFRGS de Biotecnologia, um curso relativamente novo aqui, e por isso não sei muito bem para onde leva. Li um pouco sobre e me interessei muito, mas me considero muito novo ainda para ter certo Gabriel Kripka (Colégio Israelita - Porto Alegre) recebeu medalha de ouro na Modalidade EM-3 e em mente a minha carreira ou escolha profissional. Não bolsa de estudos integral da UNISINOS vejo problema em querer trocar de curso posteriormente. 3) No que tu achas que a Olimpíada de Química pode influenciar na carreira de quem pretende trabalhar em áreas relacionadas à Ciência? Certamente o certificado é algo ratificante, mas acho que as olimpíadas me ajudaram a me mostrar um certo potencial e um certo ânimo em relação à parte das ciências exatas em geral. Ao fazer as olimpíadas e receber essa premiação, acho que o que mais me marcou foi o fato de eu mesmo ter achado aquilo por que me interesso, e para isso que acho que as olimpíadas mais serviram. 10
MURAL E AGENDA João Pedro De Medeiros Gomes (Colégio Militar - Porto Alegre) - Medalha de OURO Modalidade EM-2 e Rafael Marcos Formolo (Colégio Riachuelo - Santa Maria) - Medalha de OURO Modalidade EM-1 - Olímpiada de Química do RS.
Ganhadores Olimpíada Brasileira de Química 2015 - Solenidade de Premiação
NOTA FALECIMENTO Flávio Lewgoy É com pesar que informamos a todos o falecimento do acadêmico Flávio Lewgoy, aos 89 anos. Nascido em Porto Alegre, era ex-presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) e lutava contra um câncer de próstata. Formou-se em Química Industrial pela Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde por muito tempo foi professor da cadeira de Ecogenética. Lewgoy foi responsável pelo laboratório do Instituto de Criminalística do Rio Grande do Sul e pioneiro na introdução da química forense no estado. Os agrotóxicos e o impacto da indústria de celulose gaúcha eram as principais causas do ambientalista. Em 1973, participou do fechamento da norueguesa Borregaard, em Guaíba. Também participou da elaboração da lei estadual e nacional dos agrotóxicos. Foi professor, pesquisador e especialista em genética. Relembraremos do profissionalismo e trabalho de Lewgoy com carinho.
Marinho Emílio Graff
AGENDA 18 de fevereiro de 2016 Transporte de Cargas Perigosas - Nível II Informações e inscrições: www.escolaformula.com.br Telefone: (51) 30726508 / E-mail: escolaformula@escolaformula.com.br
06 de março de 2016 Tratamento de Águas de Piscina, Limpeza de Reservatório de Água Potável, Controle e Manejo de Pragas Informações e inscrições: www.escolaformula.com.br Telefone: (51) 30726508 / E-mail: escolaformula@escolaformula.com.br
Engenheiro químico que dedicou grande parte de sua carreira à Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), Marinho Emílio Graff faleceu em 25 de dezembro. Formado em Engenharia Química pela UFRGS, em 1974, participou do Sindicato e do CQR-V por anos, sendo vice-presidente do segundo. Após formado ingressou na Corsan, em Passo Fundo, dando início a uma trajetória de 35 anos na companhia. Especializado em Engenharia Ambiental pela Universidade de São Paulo (USP), residia, desde 1985, em Porto Alegre. O legado de Marinho será sempre lembrado. 11
CONSELHO REGIONAL DE QUÍMICA DA 5ª REGIÃO
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