Informativo 140

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Índice pg . 3

TECNOLOGIA

Óleo de mamona e celulose bacteriana dão origem a foled pg . 4

ACADEMIA

Artigo: Ainda, a Química e a preocupação ambiental. Os problemas causados pelo excesso de N2 também são elevados

MATÉRIA ESPECIAL

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Vinícolas contornam queda na safra e dificuldades no mercado pg . 10

SAÚDE Dopamina: O prazer da autonomia feminina

MURAL E AGENDA

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Expediente Presidente Paulo Roberto Bello Fallavena Vice-presidente Estevão Segalla Secretário Renato Evangelista Tesoureiro Ricardo Noll Assessoria de Comunicação do CRQ-V assecom@crqv.org.br Jornalista responsável e Redação Carolina Reck Redação Paula Moizes Editoração Gráfica Giuliana Lopes Galvão Tiragem 2.000 Impressão Gráfica Ideograf INFORMATIVO CRQ-V AV. ITAQUI, 45 - CEP 90460-140 PORTO ALEGRE/RS FONE/FAX: 51-3330 5659 WWW.CRQV.ORG.BR

A edição 140 do Informativo CRQ-V abre o ano falando de um assunto crucial para a economia do RS: O vinho. Apesar da queda na safra deste ano, da desvalorização do real frente ao dólar, aumento nos custos de produção e problemáticas das adulterações, as vinícolas do estado seguem angariando prêmios e mantendo a excelência de seus produtos. Para entender mais sobre o cenário atual e como as empresas gaúchas estão lidando com esta realidade, conversamos com a sócia proprietária e enóloga da Vinícola Tonini, Fernanda Tonini, e o técnico agrícola e enólogo, diretor da Vitivinícola Jolimont, Algielto Paulo Bertuzzo. Consolidando o tema, os depoimentos do diretor da Associação Brasileira de Enologia (ABE), Luciano Vian, do enólogo e presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Dirceu Scottá, do diretor técnico do Ibravin, Leocir Bottega, do fiscal Federal agropecuário e coordenador do Laboratório Nacional Agropecuário do RS (LANAGRO-RS), Aguinaldo Parussolo, da química industrial e mestre em microbiologia agrícola e do meio ambiente, Fernanda Fabero Guedes e do químico industrial Ivan Pedro Lazzarotto Machado fecham o quadro. Além disto, dentro da temática de adulteração de vinhos, evidenciamos o papel do CRQ-V e sua Comissão de Ética Profissional (CEP). Com enfoque na preocupação ambiental, a edição também conta com o artigo do Acadêmico Nelson Calafate, que discute a presença de elevados índices de Nitrogênio e os problemas que são provenientes destes. Um dos principais neurotransmissores do corpo humano, a dopamina e suas funções estimulantes no sistema nervoso central parecem estar ligadas ao processo de emancipação da mulher. Adentramos nos estudos sobre a sexualidade feminina, que se apresentam complexos e passaram a ganhar visibilidade somente após os anos 60. Em homenagem ao Dia da Mulher, conversamos com especialistas da bioquímica, psicologia e sexualidade sobre os efeitos do prazer no cérebro feminino. No setor de tecnologia, abordamos o desenvolvimento de um substrato flexível que une as propriedades ópticas do papel com a capacidade dinâmica das telas digitais convencionais. Com ele será possível a produção de telas dobráveis, aplicáveis de computadores a cardápios de restaurantes. Boa leitura a todos!

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Dica de Livro

Editorial

E Se? : Respostas Científicas para Perguntas Absurdas O livro é um guia dos curiosos, feito por uma das maiores personalidades da era digital, o garoto prodígio da NASA, Randall Munroe. Após publicar em 2005 a icônica série de quadrinhos XKCD, o jovem passou a receber em seu site perguntas peculiares, todas relacionadas a mistérios da Ciência. Em busca de atender a curiosidade de seus leitores, Munroe criou o popular “E se?”, um blog que se propunha a solucionar estas questões. Para encontrar as respostas, ele criou complexas simulações computadorizadas, leu dezenas de memorandos do exército, resolveu equações diferenciais e consultou operadores de usinas nucleares. Suas conclusões, baseadas em informações científicas e humor, prendem a atenção dos leitores. Nas listas dos mais vendidos, mesmo antes de ser publicado, “E se?” traz questões nunca antes respondidas.

Números do Conselho JAN/FEV/MAR Registro Profissional

302

PJ

56

Fiscalizações

633

Autuações

195


TECNOLOGIA

Químicos criam dispositivo que emite luz a base de óleo de mamona e celulose bacteriana A

concepção de telas dobráveis, que podem ser aplicadas em painéis publicitários, livros, revistas, jornais eletrônicos e até mesmo em cardápios de restaurantes está cada vez mais próxima de se tornar realidade. A revista Journal of Materials Chemistry C publicou no final de 2015 um estudo em que pesquisadores do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (IQ-Unesp), do campus de Araraquara, e do Laboratório de Biopolímeros e Biomateriais do Centro Universitário de Araraquara (Uniara), relatam o desenvolvimento de um substrato flexível à base de dois polímeros de fontes naturais: celulose produzida pela bactéria Gluconacetobacter xylinus (na forma de mantas altamente hidratadas) e o poliuretano, extraído da síntese do óleo de mamona. O material, cuja concepção contou com a colaboração de pesquisadores também do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP), em São Carlos, do Inmetro e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), foi utilizado como suporte para a obtenção de um diodo flexível emissor de luz (Foled, na sigla em inglês). Considerados uma das mais promissoras tecnologias de vídeo e imagem, os Foleds são uma resposta aos esforços para obtenção de um dispositivo eletrônico que combine as propriedades ópticas do papel, como alta refletividade, flexibilidade e contraste, com a capacidade dinâmica das telas digitais convencionais que equipam notebooks e telefones celulares, por exemplo. Outras aplicações possíveis incluem dispositivos na área médica, como lentes de contato e bandagem oftalmológica, além de sistemas para a liberação controlada de fármacos e embalagens biodegradáveis. Em 2009, o grupo de pesquisadores, coordenado pelo químico Sidney Jose Lima Ribeiro, desenvolveu um protótipo de Foled à base de um substrato de biocelulose, um tipo de papel com transparência superior a 90% na região visível do espectro eletromagnético.O substrato desenvolvido pelos pesquisadores tem uma estrutura similar a um sanduíche, segundo Barud, hoje professor e pesquisador no Laboratório de Biopolímeros e Biomateriais (BioPolMat), no Centro Universitário de Araraquara-Uniara. “Ele é composto por uma série de filmes nanométricos com propriedades e funções específicas depositados sob um substrato de vidro”, revela. Suas vantagens, descritas no artigo publicado na Journal of Materials Chemistry C, consistem no fato de ele ser feito à base de celulose bacteriana e óleo de mamona, matéria prima abundante no Brasil e que pode substituir fontes derivadas do petróleo. Além disto, a celulose bacteriana traz a vantagem referente à sua produção não gerar resíduos tóxicos ao ambiente, como acontece no método tradicional de produção de celulose.

Fontes: Site: http://revistapesquisa.fapesp.br Artigo: BARUD, H. S et al. Transparent composites prepared from bacterial cellulose and castor oil based polyurethane as substrates for flexible OLEDs. Journal of Materials Chemistry C. v. 3, n. 44. P. 11557-774. nov. 2015.

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ACADEMIA

Ainda, A QUÍMICA E A PREOCUPAÇÃO AMBIENTAL

Os problemas causados pelo excesso de Nitrogênio/N2 também são elevados Nelson Gonçalves Calafate (Químico industrial, Engenheiro químico, Engenheiro de Segurança do Trabalho – Membro da Academia Riograndense de Química) Este autor já havia citado que “o equilíbrio entre o calor perdido para o espaço e o calor retido, faz com que o planeta fique mais quente”. Também, que “as concentrações dos gases de efeito-estufa/GEE’s têm aumentado significativamente como resultado da ação do homem, desde 1750 e, agora, excedem os valores da época pré-industrial/EPI”. E “o efeito-estufa: é o processo de absorção do calor pelo próprio ar atmosférico nas ondas longas do infravermelho, conforme o calor da Terra se eleva, e a sua reflexão de volta para o planeta”. Desta vez, estamos acrescentando o papel do Nitrogênio no ar (na forma de Óxido nitroso/N2o), ao lado dos demais GEE’s – Dióxido de carbono/CO2, o metano/CH4, os clorofluoretos de carbono/CFC’s e o vapor d’água/VDA e que vêm da superfície, absorvendo o infravermelho irradiado da Terra e, com isso, se aquecem. Parte do calor é irradiado, de volta, para baixo e para cima, aquecendo a superfície do solo, de modo que menos calor escapa para o espaço. Os Gases de Efeito-Estufa/GEE’s Gases

Concentrações Pré-industriais (ppm)

Atuais (ppm)

Possíveis em 2030(ppm)

Contribuição para o aquecimento (%)

Efetividade do aquecimento (5)

Fontes humanas

CO2

280

368

400-500

49

1

(1)

CH4

0,7

1,7

1,85-3,30

18

25

(2)

CFC’s

N2O

CFC – 11: 0,0002 CFC – 12 0,0004 0,28

0,31

0,0005 0,002 0,0009 0,0035

) )) )) )

0,35 – 0,45

14

(3) CFC – 12 10.000

6

(4)

Origens (1) Composição de combustíveis fósseis – carvão, petróleo e gás. (2) Desmatamento e mudanças do uso da Terra, pela queima de biomassa Agricultura de terra úmida. Fermentação entérica no gado e nos cupins. Vazamento de instalações para a exploração de petróleo e gás. Queima de biomassa (1) Utilização em refrigeração; condicionamento de ar; espumas de plástico; e como propelente, solvente, esterilizante. (2) Fertilizantes; queima de combustíveis fósseis e de biomassa. (3) Em absorver infravermelho e % p/efeito-estufa. Vapor de Água – também deve ser incluído como GEE; é o mais abundante: há, pelo menos, 10 mil ppm, e, por isso, o VDA eclipsa todos os outros GEE’s em abundância e é fonte de maior parte do aquecimento global. Alguns Gases Quimicamente Reativos do Ar

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Gases

Abundância %

Fluxo (Mt) (1)

Grau de desequilíbrio (2)

N/Nitrogênio

79

300

O/Oxigênio

21

100.000

Nenhuma referência

Nível de referência para a energia

CO2/Dióxido de carbono

0,03

140.000

103

Fotossíntese; Clima

10

10

Realimentações (3) Pressão atmosférica; Controle de incêndio; Sorvedouro de nitrato orgânico


CH4/Metano

10-4

500

(4) Infinito

Ozônio e Nitrogênio

N2O/Óxido Nitroso

10

30

10

Oxigênio e Carbono; Verificação de zona anóxica pH e Nitrogênio

NH3 – NH4OH

10-6

300

(4) Infinito

pH e Nitrogênio

(CH3)2 S/Sulfeto de dimetila

10-8

70

(4) Infinito

Ciclo do Enxofre; Estresse salino

CH3CI/Cloreto de metila

10-7

30

(4) Infinito

Ozônio estratosférico

10

1

(4) Infinito

Ciclo de lodo; Clima

CH3I/Iodeto metílico

-5

-10

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(1) Fluxo anual pela atmosfera (2) Grau em que a composição parece violar as regras ordinárias do equilíbrio químico. (3) Algumas possíveis funções de controle por realimentação que esses gases puderem desempenhar no sistema de vida e nosso meio ambiente de acordo com a ciência de Gaia/Terra (4) Infinito: significa “Além dos limites da composição” A concentração do N2O (em ppm) era 0,28 na era pré-industrial e atualmente é 0,31. Em 2030, possivelmente, estará entre 0,35 e 0,45. A sua contribuição para o aquecimento é de 6%. Os Gases residuais – tais como o N2O, o CH4, o O3, o CO2, o (CH3)2S e o CH3I – iodeto de metila – existem em baixa concentração, dando uma falsa impressão de sua importância, de sua influência. Recentemente, estudo da Universidade de Sidney/Austrália, sob a direção de Arunima Malik e publicado na “Nature Science”, objetivou analizar o “efeito-estufa” e a influência de elementos químicos altamente danosos, com informações de 188 países. Dentre aqueles, um dos principais foi o Nitrogênio reativo cujo mapa mostra uma grande disparidade de presença entre os países. O N2 simples compõe 78% do ar atmosférico e é bem estável, sendo absorvido apenas pelas plantas por meio de bactérias. A quantidade não aproveitada pelo ecossistema retorna, em um ciclo natural, para a atmosfera. Contudo, desde a revolução industrial, o homem vem liberando N2 reativo a partir da queima de combustíveis fósseis e de biomas. Nos últimos 150 anos, como sabido, ele tem sido empregado na forma de fertilizantes para o desenvolvimento da agricultura. Grandes quantidades deixam o campo, indo para o ar, onde o gás reage com vapor d’água e dá origem à chuva ácida ou ao dióxido de nitrogênio – um composto químico bem mais poluente do que o próprio Carbono (CO2, CH4 e clorofluoretos/CFC’s) e que contribui, por exemplo, para a acidificação do solo. Sabe-se que a poluição do N2 a partir da atividade humana cresceu em 6 vezes desde a década de 1930, e em 10 vezes nos últimos 150 anos. O consumo de “commodities” da agricultura é o grande responsável pelo crescimento das emissões desse gás. Nitrogênio reativo no ar – emissões na atmosfera. Emissão “per capita” (por quilos em um ano): Austrália (90,6) – EUA (62,5) – Brasil (57,8) – Reino Unido (56,2) – França (52,3) – Argentina (46,9) – Nova Zelândia (46,9) – Alemanha (45,3) e Itália (42,2). Obs.: Quatro países concorrem com 47% das emissões de N2 no mundo: China, 20% - Índia, 11% - EUA, 10% e Brasil, 6%. Outros seis respondem por 12%: Rússia, Paquistão, Indonésia, Austrália, México e Argentina. E os demais, com 41%. Curiosamente, as economias desenvolvidas – tais como Japão, Alemanha, Reino Unido e EUA – adquirem muitos produtos que conduzem à emissão de N2 em países mais apoiados no setor agrário. Elas têm emissões “per capita” do gás 2 vezes maiores do que a quantidade produzida localmente. Como exemplo, em média, cada habitante na Libéria pode ser responsável pela liberação de menos de 7 quilos de N2 reativos por ano. Ao mesmo tempo, uma pessoa de Hong Kong pode responder por mais de 100 quilos de poluição, em vista de que a região é grande importadora de itens agrícolas. Principalmente em vista da importação de produtos agrícolas, as nações de elevada renda causam emissões de N2 dez vezes maiores que em países em desenvolvimento. Tal diferença reflete, ainda, a majoração do consumo de produtos de origem animal e de nutrientes altamente processados, entre outros itens que representam uso substancial de energia. As emissões estão fortemente relacionadas ao consumo e à industrialização. Como exemplo, o Japão e outras nações desenvolvidas adquirem roupas e outros itens cuja produção leva à emissão de N2 (Hong Kong não tem tanta terra para cultivos agrícolas). Isso é causa de uma avaliação: a emissão de N2 representa um impasse nas negociações climáticas. Ora, os países desenvolvidos são os maiores poluidores do ar atmosféricos, já que financiam o cultivo agrícola ao importar “commodities” de outros lugares. Entretanto, os países pobres, às vezes são considerados “corresponsáveis” pela poluição, em vista de cultivarem em suas terras as atividades econômicas que liberam N2. Por outro lado, ainda não investimos convenientemente em fontes de energia renováveis nas cidades. Os segmentos energético e de transporte estão nas classes de mais poluentes de nossa economia, inclusivamente durante a nossa prática de empregar combustíveis fósseis. Enfim, torna-se necessário dimensionar prioridades quanto aos setores nos quais o combate à contaminação atmosférica já deveria ter maior preocupação. Conforme Arunima Malik, já é tempo de organizar-se uma legislação internacional para o controle da liberação de N2 nas atividades humanas a fim de reduzir as respectivas emissões. Como também, por-se em prática a taxação dos produtos mais poluentes e que são de fácil aquisição, tais como os fertilizantes nitrogenados. E mais, André Nahul, coordenador do Programa de Mudanças Climáticas e Energia da organização WWF-Brasil acrescenta que “a demanda por N2 pode ser reduzida através de análises e decisões mais conscientes sobre os itens associados com a liberação do gás em diversos setores, como alimentação, transporte e industria têxtil. Tudo para reduzir o emprego de produtos nitrogenados.

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MATÉRIA ESPECIAL

Vinícolas do RS contornam queda na safra de 2016 e dificuldades no mercado da viticultura

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Divulgação Jolimont

R

econhecido dentro do Brasil e em cenário internacional pela qualidade de seus vinhos, o Rio Grande do Sul demonstra que é capaz de superar momentos de crise neste mercado. Apesar da queda na safra deste ano, desvalorização do real frente ao dólar e aumento nos custos de produção, vinícolas do estado seguem angariando premiações e mantendo a excelência de seus produtos. Os últimos cinco anos somaram mais de 1300 premiações entre vinhos e espumantes brasileiros, especialmente os oriundos do RS. Frescor, jovialidade, terroir e complexidade destacam os produtos neste mercado, que segue se expandindo e consolidando. De acordo com dados do IBGE e do Cadastro Vinícola, em 2015 o RS processou 702,9 milhões dos 876,3 milhões de quilos de uva produzidos, indicando que cerca de 80% da produção de uvas é voltada para a indústria da viticultura. O diretor da Associação Brasileira de Enologia (ABE), Luciano Vian, destaca que mais de 90% da produção de uva do estado pode ser voltada para a produção de derivados de uva (sucos, vinhos e espumantes), ao contrário de estados como Minas Gerais, que trabalha com o consumo da fruta in natura. Além da produção de vinhos e espumantes em larga escala, se evidenciam também diversas premiações de vinícolas gaúchas. Só neste ano elas angariaram nove medalhas de ouro e treze de prata em eventos como o Vinalies Internationales e o Chardonnay Du Monde, realizados em um país de tradição, a França, e o Concurso Internacional de Vinhos Bacchus, na Espanha. “Você ganhar uma medalha fora do seu país demonstra que o seu produto ou é melhor ou equiparado com os de todo o mundo. Poder competir com o mundo ajuda muito, principalmente a pontuar o Brasil como país produtor”, afirma Vian. Impactos econômicos e sociais provêm deste tipo de destaque, capaz de fomentar a cultura do vinho e qualificar os produtos. “O reconhecimento com premiações ajuda na consolidação de ima-

Viticultura própria marca empreendedorismo na produção de vinho no RS - CRÉDITOS: Divulgação Jolimont

gem do vinho brasileiro e atrai os consumidores como uma importante ferramenta de marketing”, expõe o enólogo e presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Dirceu Scottá. Segundo o especialista, o cenário para o RS e Brasil pode se tornar ainda mais satisfatório, sendo necessários esforços para aumentar o consumo per capita de vinho (cerca de 2 litros por ano) e investimentos em qualificação. Auxiliando o RS a ter reconhecimento, as premiações têm um peso interno no Estado, o preparando para atender a uma demanda internacional. Vian salienta que a partir do momento em que o país passa a ser visto como produtor abrem-se portas para a exportação, capaz de trazer ainda mais autonomia aos processos locais e também visibilidade para os produtos gaúchos. “Uma premiação desencadeia todo um processo. Se eu quero exportar eu tenho que atender a uma série de normas de ISO, APPF, APPP. Ou seja, isto ajuda as empresas a se equalizarem dentro de um cenário internacional, e você tem que se equalizar pra atender essas normas internacionais”, elucida. No contexto atual, com pretextos para consideráveis desvantagens para produtores, viticultores e o mercado ligado à produção vinícola, os concursos podem gerar um efeito que auxilia a contornar baixas. As premiações intensificam a visão de mercados externos quanto à qualidade dos produtos gaúchos, agregando valor aos estoques deste ano e podendo manter um nivelamento nas baixas de vendas.

Diminuição na safra e os impactos no mercado Dados do começo do ano apresentavam uma situação alarmante, preocupando produtores, enólogos e associações responsáveis pelo setor. Com uma diminuição impactante na safra colhida em todas as regiões gaúchas, houve variação cambial nos insumos e, em decorrência, aumento dos custos de produção. Conforme dados da As-


sociação Rio-Grandense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), a queda na produção de uvas chegou a 65%, transformando a safra de 2015-2016 na pior dos últimos 70 anos e gerando prejuízos superiores a R$300 milhões para os vitivinicultores. Entretanto, especialistas e associações responsáveis pela avaliação deste mercado sustentam que embora alarmantes, os dados precisam ser sobpostos ao quadro geral do setor no RS e avaliados dentro de todas as esferas que o representam. “Os dados que estão chegando das vinícolas são um pouco menos catastróficos. Com cerca de 2/3 das vinícolas já tendo declarado o volume que foi processado, a perda verificada até o momento está entre 50% e 60% em relação à última safra”, relata Scottá. O diretor da ABE sinaliza que os impactos são diversos, variando conforme o tipo de produto final. As diferenças entre processos de fabricação de vinhos espumantes, vinhos brancos e tintos e sucos de uva ditam como estes produtos se apresentarão no mercado. “Acredito que os espumantes não vão sofrer muitas alterações em termos de demanda de matéria prima, por exemplo, porque as empresas trabalham com estoque para um ano, até um ano e meio”, explica. Vian intera que nestes casos de estocagem, será possível fazer uma avaliação certeira apenas em 2017, safra que terá que ser compensada para apaziguar as perdas atuais. O profissional ainda destaca que o problema que pode ser enfrentado no momento é quanto à produção de sucos de uva devido à inviabilidade, riscos e custos de estocar estes. Para vinhos de mesa, ressalta que a estocagem alcança dois anos, e que em caso de diminuição da safra e impactos nas vendas, é possível agregar valor ao produto o comercializando de forma diferenciada, substituindo as vendas a granel, comuns em exportações para o Nordeste, por outros tipos de engarrafamento. Informando que a situação da baixa da safra não é tão alarmante para a produção de vinhos deste ano, Vian resgata dados de 2015, quando em março o setor tentava pleitear junto ao governo um subsídio para exportar vinhos, em razão do considerável volume estocado. Em contrapartida, o aumento no custo da matéria-prima possivelmente impactará no preço dos produtos que estão sendo elaborados. “Nas vinícolas, a recessão econômica e o aumento dos impostos, a valorização da uva devido a pouca produção e a falta de dinheiro nos bancos para realizar o Financiamento de Garantia de Preços ao Produtor (FGPP) e Financiamento para Estocagem de Produtos Vinculados à Política de Preços Mínimos (FGPM) estão agravando a situação, fazendo com que este ano seja um ano muito complicado economicamente”, complementa Scottá. “Para produzir enfrentamos dificuldades devido a influência do tempo (chuvas elevadas, geadas), produtos fitossanitários com custo elevado devido ao aumento do dólar, cancelamento do seguro por parte do governo, mão de obra com custo elevado... Tudo isso traz grandes dificuldades para o agricultor em se manter neste segmento”, intensifica Fernanda Tonini, Sócia Proprietária e Enóloga da Vinícola Tonini. A profissional comenta que estes fatores dificultaram a compra da matéria prima, elevando a disputa e os preços não apenas das uvas, mas também de produtos enológicos como o açúcar, o que se torna um empecilho no momento de repassar custos ao produto final. O custo operacional para manter uma empresa no RS também é um risco, podendo afetar o mercado local e incorrer na migração de empresas gaúchas para outros estados. Fernanda expõe algumas das dificuldades pela qual a Tonini, uma vinícola familiar de pequeno porte, passa no momento, com margem de lucros e investimentos basicamente nulos. “Deixamos de receber nosso salário e não sabemos se vamos ter retorno, na verdade estamos em processo de negociação de venda da vinícola, que iniciou seus trabalhos com seis sócios e hoje resta apenas um. Com toda essa mudança, aumento das taxas tributárias, BPE,

BPA, entre outros, contando ainda com o risco após venda/pagamento a prazo, temos que pagar os impostos antes sem saber se vamos receber. O custo fixo acaba sendo mais alto que a venda”, lamenta. Scottá avalia que a carga tributária, por exemplo, acaba implicando em toda a cadeia produtiva. Vian acrescenta que entre impostos diretos e indiretos, a carga para o vinho gira em torno de 56%, sendo significativamente alta e sofrendo ainda o chamado efeito cascata, devido a dupla incidência. “Se paga na compra, na venda, revenda, e há uma legislação diferente para cada estado, com diferente MVA (Imposto Média de Valor Agregado). Esta alta incidência de impostos somada a não equalização entre estados torna o processo muito burocrático, representando lá fora custos diferentes para o consumidor”, aponta. O técnico agrícola e enólogo, diretor da vitivinícola Jolimont, Algielto Paulo Bertuzzo, expõe que nos meses de dezembro de 2015 e janeiro de 2016 o alto valor dos impostos levou a Jolimont a negociar com o cliente as diferenças de ICMS, IPI e de ajuda à pobreza, por exemplo. Para o profissional é preciso viabilizar a economia e o governo deve oferecer incentivos, além de as empresas terem visão quanto às possíveis crises e criarem mecanismos para sobrevivência no mercado. “As empresas precisam aprender a fazer um planejamento, não há mágica, é necessário se organizar, e montar estratégias que aumentem a competitividade”, exemplifica. Já a Tonini, representada por Fernanda, crê que para o RS seguir se destacando como produtor de vinhos, mesmo em um momento em que não propicia margem de lucro significativa, autoridades e instituições devem se responsabilizar por medidas auxiliares. Quando questionada sobre que tipo de ações, enumera: “Diminuição das taxas tributárias, não liberação da importação do vinho e sucos, que as empresa possam ser optantes do simples nacional, redução das taxas do Fundo de Desenvolvimento da Vitivinicultura (FUNDOVITIS), que as vinícolas possam ter margem maior em seu faturamento para investir e ampliar o negócio abrindo mais vagas de emprego. Proporcionar palestras/cursos para que as informações sejam constantes a toda a cadeia produtiva”. Outro dos aspectos que intensificam as problemáticas vividas por produtores neste ano é referente ao seguro agrícola, ferramenta que minimiza as perdas econômicas nesta parte da cadeia. “Muitos foram surpreendidos pelo não cumprimento por parte do Governo do pagamento de 60% do valor do seguro, causando um impacto ainda maior nas contas de alguns produtores”, comunica Scottá. O enólogo expõe que alguns pontos podem minimizar estes impactos, como seria o caso da fidelidade de alguns fornecedores de matéria-prima com as empresas vinícolas, e vice-versa. “O produtor rural que não fez leilão com sua uva e as vinícolas que sempre mantiveram uma boa relação com os viticultores, valorizando e remunerando pela qualidade da matéria-prima, certamente sentirão menos esse impacto”, explica. Em meio a conjuntura atual, algumas empresas utilizam mecanismos próprios, capazes de amenizar a situação e fortalecer o setor. Casos de viticultura própria, em que é feito o plantio e coleta das uvas que serão utilizadas na fabricação de vinhos por parte da própria empresa que cunha este processo de produção, é um método eficaz. A vitivinícola Jolimont utiliza em seu processo de produção de vinhos 60% de uvas plantadas e cultivadas por conta própria, tendo os outros 40% relacionado a produtores terceirizados, com processos controlados por seu técnico agrícola. “Pagamos um custo maior que outras vinícolas para obter uma matéria-prima de excelente qualidade, portanto a empresa ganhou em 2014, quatro medalhas, em cinco amostras em um concurso na Argentina. Sendo duas medalhas de ouro e duas de prata. (Espumante Moscatel, Espumante Brut, Vinho-Moscato Seco e Cabernet Sauvignon)”, informa Bertuzzo. Outro dos mecanismos utilizados pela Jolimont é o Enoturismo, 7


responsável por 68 mil visitantes na empresa em 2015 e capaz de garantir credibilidade aos produtos e despertar o interesse dos consumidores pelos processos vinícolas, movimentando as fontes de renda relacionadas a este setor. “Hoje, 50% do desenvolvimento das empresas vinícolas é o Enoturismo, ou seja, o turismo ainda é forte na nossa região. O cliente sente- se seguro na hora da compra pela qualidade dos nossos produtos, e com isto é crescente o aumento de pessoas que compram pelo e-commerce (site) da empresa”, comunica. Apesar de para alguns produtores a baixa oferta decorrente deste processo poder apresentar um retorno pelo preço, produtores que perderam 50% de sua safra não conseguirão suprir a baixa com o aumento do quilo da uva. A retração das vendas devido ao impacto do reajuste dos produtos é uma possibilidade considerável. Vian informa que em algumas variedades de uva, como a chardonnay, houve o aumento de 30% a 40%, mas que em volumes de uvas comuns, como isabel com corte, a possibilidade máxima de aumento conforme preço sugerido em tabela alcança apenas 10%, não compensando a perda de mais de metade do vinho produzido. A projeção para o ano, portanto, é de certa estagnação de vendas, principalmente em decorrência da instabilidade econômica e política atual, atrelado ao volume de sucos e vinhos concentrados em estoque, que devem abastecer até a próxima safra. “Quanto ao preço, podemos dizer que o aumento de tributos estaduais e federais provocaram mais impacto do que a redução da safra. Vai depender de cada empresa fazer essa equação para repassar ou não todo o custo para o preço final e avaliar o impacto que pode ter nas vendas”, explana Scottá. Os ganhos em qualidade também são relativos, tendo em vista que variam conforme as reações dos solos e variedade de uvas de casa região. “A baixa de produção não foi programada, onde você fez o raleio de cachos, folhas, toda uma distribuição de ramos objetivando uma baixa produção para obter consequentemente uma qualidade maior. Essa baixa produção decorreu de cachos mal formados, mal dispostos, de baixo peso, ou seja, é uma baixa produção em razão da consequência da brotação desinforme e condições climáticas do ano passado. A qualidade foi normal, equiparada aos anos anteriores”, informa Vian. Para Scottá a previsão é de produtos de ótima qualidade e vinhos de excelência, mantendo o padrão do RS devido ao investimento cada vez maior em tecnologias e técnicas de vinificação e de manejo que diminuem a possibilidade de perdas.

Questões de importação Tema muito discutido no RS, foi uma das propostas apresentadas por algumas empresas da Serra Gaúcha frente à redução da última safra. Solicitando que o governo brasileiro liberasse a importação do suco de uva concentrado e vinho a granel, algumas empresas alegaram a falta de matéria prima. A importação, que pode servir a um viés de globalização e talvez fortalecer o mercado interno, requer cautelosas análises. Vian salienta que das mais de 700 empresas hoje, vinícolas e indústrias relacionadas, apenas 10% tem real interesse na importação. O especialista ainda aponta que o Estado sempre apresentou excedentes na produção de uvas, tendo sobra do produto e sendo capaz de estocar grandes quantidades. Dentro deste contexto, ele vê a importação justificada por condições atípicas na safra como desnecessária, e alerta para os riscos e impactos que podem existir em ações não premeditadas. Entidades representantes do setor vinícola são contrárias a medida, inclusive tendo assinado carta conjunta que a refutou. “Queremos que seja mantida a permissão da importação de suco de uva, néctar ou vinhos comercializados em embalagens de até 5 litros, identificando marca e produtor, envasados na sua 8

origem. A não permissão do comércio de produtos vitivinícolas a granel está prevista no Regulamento Vitivinícola do Mercosul e na Lei do Vinho nº 7.678, de 08 de novembro de 1988, e tem por objetivo preservar a produção vitivinícola brasileira. Por fim, de acordo com os dados do Cadastro Vinícola, mesmo que a quebra de safra seja superior a 50%, o setor vitivinícola dispõe de sucos, vinhos e outros derivados em estoque para abastecer o mercado interno”, explica Scottá. O enólogo ainda salienta que o RS não é o único responsável pela produção de uvas, vinhos e derivados, e que para equilibrar os estoques é possível recorrer a outras regiões do Brasil, ao invés de mudar a legislação. “Outro detalhe, são pouquíssimas as regiões do mundo que elaboram sucos de uvas americanos (Estados Unidos) e vinhos (Leste Europeu), dificultando e tornando impossível importar devido ao alto custo. Portanto precisamos avaliar muito bem a situação como um todo antes de pedir a liberação das importações de vinhos e sucos a granel”, explica. Para as vinícolas Tonini e Jolimont, a importação não solucionaria os problemas existentes e tampouco geraria lucros e vantagens a curto ou longo prazo, podendo intensificar crises internas e também se tornar uma ameaça para a produção e comercialização de derivados da uva. “Entendo que as empresas que estão solicitando a liberação da importação estão visando ao não atendimento de todos os contratos e faturamento inferior comparado aos outros anos, mas permanecem dominando o mercado e ativas buscando diminuição em seus custos. Estas empresas pensam no hoje e não trabalham em conjunto. Mas para os próximos anos como será se for liberada a importação? E os produtores como ficam? Estas empresas valorizam os produtores?”, questiona Fernanda. Bertuzzo complementa, indicando que é necessária a organização entre as vinícolas.

Fraudes e mecanismos de reação* O vinho é uma bebida obtida por meio da fermentação alcoólica de mosto simples da uva sã, fresca e madura. De acordo com o fiscal Federal agropecuário e coordenador do Laboratório Nacional Agropecuário do RS (LANAGRO-RS), Aguinaldo Parussolo, a adição de água e açúcar são as adulterações mais comuns. As práticas licitas que dizem respeito a produção e distribuição do produto são todas estabelecidas na Instrução Normativa nº 49, de 01 de novembro de 2011, sendo consideradas ilícitas (adulterações) as que não se encontram no teor da referida IN. “Sabe-se que práticas para correção de álcool, cor, açúcares, corpo, textura e proteção antimicrobiana são realizadas dentro (e não se sabe a que escala fora) dos padrões aceitáveis pela legislação brasileira, não cabendo dimensionar quais são as mais praticadas nem quais prejudicariam a saúde humana”, revelam a química industrial e mestre em microbiologia agrícola e do meio ambiente, Fernanda Fabero Guedes e o químico industrial Ivan Pedro Lazzarotto Machado. Outras adulterações são realizadas com a utilização de antibióticos e antifúngicos. No RS, uma das formas mais comuns de adulteração do vinho provém da utilização da natamicina. Com a função tecnológica de conservante em alimentos, o aditivo alimentar natamicina (pimaricina) trata-se de um antimicótico fungicida. Alguns países permitem a utilização desta em bebidas, como são os casos da África e da China. A legislação destes países especifica que para o caso de sucos de frutas o uso permitido é de até 40mg/L e nos vinhos de até 10mg/L. Lazzarotto e Fernanda advertem que conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS) a Ingestão Diária Aceitável (IDA) de natamicina foi determinada em até 0,3mg/Kg de peso *Neste espaço foram reutilizadas informações e fontes da matéria “Vinho: as adulterações e as alternativas para este mercado”, do Informativo CRQ-V nº133 e 134, publicado em 2014


corpóreo e estudos apontam que a administração diária de até 300mg/L provoca náuseas, vômitos e diarréias. “Considerando os valores estabelecidos para a natamicina, uma população adulta com peso médio de 60kg não pode consumir cronicamente mais do que 18mg por dia desse aditivo alimentar. Uma população de crianças com peso médio de 15kg não pode consumir mais do que 4,5mg por dia”, menciona o fiscal federal agropecuário chefe do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal do Rio Grande do Sul (SIPOV /DDA/SFA-RS), José Fernando Werlang. Outro problema no consumo da substância é alusivo à resistência que o organismo cria a esta. Atualmente não existe no Brasil qualquer previsão de uso deste aditivo para vinhos e sucos de uvas. Apesar de algumas dificuldades impostas por fatores como os altos custos de produção de vinhos tintos dentro do país, cenário político e econômico e adulterações, especialistas afirmam que é necessário buscar soluções e contornar as dificuldades. “É importante fortalecer as nossas entidades que defendem as demandas do setor e trabalham para buscar condições para termos mais competitividade em relação aos vinhos importados”, assinala Scottá. Conforme o depoimento do diretor técnico do IBRAVIN, Leocir Bottega, o controle da qualidade dos vinhos e derivados da uva e do vinho torna-se tarefa complicada, pois existem diretrizes a serem seguidas com vistas ao Ministério da Agricultura e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Órgãos estes que, em muitos casos, estão em desencontro entre si e com o Código Internacional de Práticas Enológicas estabelecido pela Organização Internacional da Uva e do Vinho (OIV). Segundo Bottega a ANVISA não aceita o Codex Enológico Internacional, adotado pelo resto do mundo e elaborado pela Organização Internacional da Uva e do Vinho, como diretriz técnica. No Brasil é necessário o enquadramento no Codex Alimentarius, o qual é geral para alimentos e bebidas e difere da regulamentação específica de que o primeiro trata. O presidente do IBRAVIN cita ainda que existe um documento tramitando na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (CP 167/2014) que solicita a inclusão das práticas enológicas internacionais, bem como de uma série de aditivos e coadjuvantes tecnológicos já utilizados em outros países, tais como França, Itália, Portugal. Outro dos problemas enfrentados pelas vinícolas locais são as diferenças na legislação, que permite a comercialização de vinhos importados com componentes que são ilegais na produção nacional, como a natamicina ou o Dimetil Dicarbonato (DMDC), que está em estudo e já é adicionado aos vinhos chilenos. A

concorrência gerada por este fator dificulta o posicionamento das vinícolas brasileiras dentro do próprio país, sobrecarregando viticultores que necessitam encontrar alternativas para o destaque de seus produtos. “É ruim para o RS e principalmente para empresas com faturamento menor. Sentimos desvalorizarem a padronização dos nossos produtos e de todos trabalhadores da cadeia produtiva da viticultura, isto está acontecendo por empresas que tem poder aquisitivo maior e individualista. Somente os órgãos fiscalizadores poderão sanar a entrada do vinho estrangeiro”, expõe Fernanda. Ainda sobre esta concorrência, Vian afirma que o correto seria equalizar a lei e buscar por soluções dentro do âmbito prático, que respondam a necessidades urgentes. “A Lei do Vinho, que saiu agora em 2014, foi amplamente discutida e debatida, por exemplo, e mesmo assim, quando sancionada, saiu com atraso e pontos ultrapassados”, salienta. Neste sentido, a ABE está realizando uma demanda junto ao MAPA, com foco no Mercosul. “Penso que os vinhos importados estão dominando o nosso mercado, em média 80% das vendas nas prateleiras, isso se dá pela falta de controle nas entradas das fronteiras e nas taxas de impostos menores. Conforme a Ibravin, a importação de vinhos cresceu 14% em relação ao mesmo período do ano passado. No Brasil, são 35 milhões de litros de rótulos estrangeiros. O Mercosul já isenta os impostos dos países Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai. Como sobreviver num país em que as taxas mudam de estado para estado, vivemos numa instabilidade diária, como tudo isso pode dar certo?”, indaga Bertuzzo.

Comissão de Ética e o Papel do CRQ-V

Quando ocorrem crimes de responsabilidade de um profissional da área da Química, o CRQ-V analisa os fatos ocorridos por meio da Comissão de Ética Profissional (CEP), julgando este profissional e o direito deste de atuar em sua área. De acordo com o Conselheiro e membro da CEP, Ricardo Noll, a Comissão funciona formalmente dentro de diretrizes assentadas pelo CFQ, observando sempre em andamento sistemático e protocolar tal qual um tribunal, tendo em cada processo um conjunto de regras extensas e assegurando sempre o direito de defesa ao profissional denunciado. Esta Comissão é acionada por meio de denúncias, geralmente provindas do MAPA, após o processo de intimação das empresas via este Ministério. Os processos instaurados por meio da CEP tem como foco exclusivo analisar os técnicos químicos. Após o recebimento da denúncia, o CRQ-V instaura um processo e alerta ao profissional, adicionando a uma correspondência enviada ao seu endereço a cópia da denúncia. A partir disto, o profissional prepara, dentro de prazo estipulado pela Resolução Normativa nº 241, a sua defesa. Caso não haja apresentação de defesa decorridos os prazos legais, haverá julgamento à revelia. Em caso de envio de defesa, esta é anexada ao processo e analisada pela CEP, que dá encaminhamento conforme a conclusão final de seus membros. Nesta etapa existe a possibilidade de a Comissão solicitar uma oitiva, entrevistando o profissional e sanando as dúvidas quanto aos acontecimentos. Após, a pauta é enviada ao jurídico do CRQ-V, que dá um segundo parecer sobre o caso. Em seguida, é avaliada e discutida em reunião Plenária, que pode acatar ou referendar o caso, solicitando nova análise da CEP frente a este. A sansão do profissional ou arquivamento do processo irão decorrer conforme o referendo da Plenária, que é a última instância. Em caso de ser a primeira vez que o profissional é intimado com a sansão, esta é de caráter confidencial. Em caso de reincidência, ela passa a ser pública. Relacionada de forma direta com as empresas fabricantes de vinhos e profissionais da área, em 2015 (setembro, novembro e dezembro) e 2016 (janeiro) a CEP analisou 27 processos, com análise final da Plenária do Conselho, para aprovação do relatório final e referendo de aprovação. De acordo com o Conselheiro e membro da CEP, Estevão Segalla, seis processos foram arquivados, sem constar infração ao Código de Ética, conforme o que estabelece a Resolução Ordinária nº 9.593, de 13/07/2000, do Conselho Federal de Química. “Em relação aos 21 processos restantes, aqueles nos quais os profissionais receberam sanções por infração ao Código de Ética, vamos especificar: 19 se referem à produção de vinhos, e os outros 2 se referem à produção de outras bebidas, no caso um deles a produção de cachaça, e o outro relativo à produção de cooler (bebida gaseificada composta, contendo vinho e sucos de frutas)”, descreve Segalla. Destes 19 processos, a adição do antibiótico Natamicina em vinhos responde por 13 infrações, sendo o mais saliente dos problemas presentes nos processos de julgamento da CEP. Também relacionados a fraudes em vinhos, foram detectadas duas infrações devido a presença de água exógena (água adicionada ao processo industrial, e portanto não presente na uva utilizada); duas devido a adição de corante artificial; um processo por álcool produzido por fermentação a partir de açúcar não proveniente da uva; e um por adição de Ácido Sórbico (conservante) acima do limite máximo permitido. 9


SAÚDE

DOPAMINA: O PRAZER DA AUTONOMIA FEMININA A independência da mulher também é

uma questão da Química. Fonte de autoconfiança, um dos principais neurotransmissores do corpo humano é liberado durante o orgasmo e parece estar relacionado à emancipação feminina da mesma forma que a libertação sexual da mulher está ligada à sua autonomia. As funções estimulantes da dopamina no cérebro são confirmadas por cada vez mais estudos nacionais e internacionais. Em homenagem ao mês de março, marcado pela luta das mulheres por direitos iguais, conversamos com especialistas sobre a dopamina e seus efeitos empoderadores no sistema nervoso central. Há mais de dez anos explorando a neurociência, a Ph.D em Bioquímica Janine Rossato lista alguns dos diversos papéis importantes que a dopamina exerce no cérebro, incluindo “comportamento e cognição, movimento voluntário, motivação e recompensa, inibição da produção de prolactina (envolvida na lactação), sono, humor, atenção e aprendizagem”. Em outras partes do corpo, ela funciona como um mensageiro químico local, inibindo a liberação de noradrenalina nos vasos sanguíneos e reduzindo a produção de insulina no pâncreas, por exemplo. Graças às suas atribuições biossinalizantes, a dopamina também é considerada um hormônio. De acordo com Rossato, sua formação ocorre a partir do aminoácido tirosina, que via ação da enzima tirosina hidroxilase dá origem a L-DOPA, que é então convertida em dopamina pela ação da enzima DOPA descarboxilase. Os efeitos motivacionais do neurotransmissor são os mesmos para homens e mulheres. Apesar disso, estudos realizados na Flórida com ambos os gêneros mostraram que “em mulheres uma versão menos ativa do gene da enzima MAOA (monoamina oxidase A), responsável pela degradação de dopamina, permite que este neurotransmissor fique disponível mais tempo, aumentando os efeitos de felicidade-prazer induzidos por ele”, expõe Rossato. Em “Vagina – Uma Biografia”, a escritora Naomi Wolf destaca a dopamina como o “químico feminista absoluto do cé10

rebro feminino”. No livro, ela defende sua investigação sobre a ligação direta e única entre o órgão genital e o cérebro da mulher. Como aponta, durante o orgasmo, as mulheres têm um descarregamento de dopamina que aumenta seus níveis de foco e motivação, estimulando a autoestima e amor próprio, qualidades associadas ao feminismo. Para Wolf, “dessa forma, a vagina é o sistema de entrega de estados de espírito que chamamos de confiança, libertação, autorealização e até misticismo”. No entanto, a dopamina não age sozinha no cérebro feminino. Uma série de outros hormônios e neurotransmissores também precisa estar em seus níveis de equilíbrio, ressalta a psicóloga Coordenadora do Comitê Sexualidade da Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul (SPRGS), Lina Wainberg. Segunda ela, “a sexualidade feminina tem se mostrado tão complexa que mesmo com a prolactina, serotonina, estrogênio, hormônios da tireoide, entre outros, estarem em seus níveis esperados, muitas mulheres queixam-se de diminuição de libido”. Wainberg destaca a Diretora do Centro de Medicina Sexual do Vancouver General Hospital, no Canadá, Rosimery Basson, que sugere que a motivação sexual seja maior do que o desejo. “Ou seja, não basta ter desejo, o motivo que as levam a ter desejo deve ser intenso o suficiente para que o desejo se desenvolva ou não”, esclarece a psicóloga. Essa motivação pode ocorrer devido a outros fatores além do hormonal e, por isso, a dificuldade em avançar em soluções químicas para essa problemática. Para Wolf, a liberação de dopamina e seus efeitos na autoestima feminina explicam porque em países como Somália e Egito, mais de 90% das mulheres sofrem algum tipo de intervenção cirúrgica com o objetivo de privá-las do prazer. A mutilação genital feminina é uma violação dos Direitos Humanos e, além de reduzir o prazer sexual da mulher, ocasiona mais uma série de problemas, como infecções vaginais agudas e complicações durante o parto, dada as circunstâncias adversas em que o procedimento, muitas vezes, é realizado. Entre os trinta países em que a prática acontece estão Mali, Guiné, Serra Leoa, Sudão, Eritreia e locais da Europa e Reino Unido. De acordo com levantamento da Unicef publicado em fevereiro de 2016, existem pelo menos 200 milhões de mulheres e meninas vivas que passaram por uma mutilação genital total ou parcial. Uma sexualidade saudável tem influência direta na qualidade de vida do indivíduo. Para os homens, essa relação foi sempre mais evidente, segundo Wainberg. “Isso porque a mulher não era incentivada a dar vazão a suas demandas sexuais. Pelo contrário, era esperado que fosse o mais discreta possível, até consigo mesma”, relata. Quando recompensado, o cérebro retribui com benefícios para áreas além da que gerou a recompensa. Por outro lado, disfunções no sistema de dopamina podem ter graves decorrências no sistema nervoso, como doença de Parkinson, transtorno do déficit de atenção, hiperatividade, esquizofrenia, depressão e dependência de drogas, de acordo com Rossato. Estudos sobre o prazer feminino passaram a ganhar visibilidade somente após os anos 60 e há muito ainda o que ser (re)descoberto sobre a sexualidade da mulher. Enquanto isso, as pesquisas relacionadas à sexualidade masculina avançam e apresentam resultados mais interessantes aos laboratórios. “Se investe mais no que rende mais”, analisa Wainberg.


MURAL E AGENDA 09 de Janeiro de 2016 - Formatura do Curso de Química da UNISC

20 de Fevereiro de 2016 - Formatura do Curso Técnico em Química da UNIVATES

20 FEVEREIRO 2016 - Formatura do Curso Técnico em Química da UNIVATES 12 de março de 2016 - Formatura de Química Industrial UNIVATES

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CONSELHO REGIONAL DE QUÍMICA DA 5ª REGIÃO

A VIDA É NOSSO PRINCIPAL ELEMENTO

Av.Itaqui, 45 Porto Alegre/RS - CEP 90460-140 Fone/Fax: (51) 3330-5659 www.crqv.org.br


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