Informativo 142

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INFORMATIVO DO CONSELHO REGIONAL DE QUÍMICA JULHO - OUTUBRO DE 2016 - ANO XX - Nº142

O PLÁSTICO COMO SOLUÇÃO Alternativas apresentadas no 2º Congresso Brasileiro do Plástico destacam as propriedades sustentáveis do material

NOBEL DE QUÍMICA

CÃES E GATOS

NUMA XÍCARA DE CAFÉ

Máquinas moleculares mil vezes mais finas que um fio de cabelo garantem o prêmio

Saiba o que dizem especialistas e descubra o que pode tornar a dieta de seu pet mais saudável

A relação da Química com uma das bebidas mais apreciadas no Brasil


Índice pg . 3

TECNOLOGIA

Nanoteclogia leva o Nobel de Química 2016. pg . 4

CAPA: PLÁSTIC O

Propriedades sustentáveis do material apontam novas possibilidades.

pg . 7

ALIMENTOS PARA PETS

Saiba qual é a dieta mais recomendada para o seu amigo de quatro patas.

A QUÍMICA DO CAFÉ

pg . 10

Desvendando a ciência dentro de uma xícara.

MURAL E AGENDA

pg . 11

Expediente Presidente Paulo Roberto Bello Fallavena Vice-presidente Estevão Segalla Secretário Renato Evangelista Tesoureiro Mauro Ibias Costa Assessoria de Comunicação do CRQ-V assecom@crqv.org.br Jornalista responsável e Redação Carolina Reck Redação Paula Moizes Editoração Gráfica Giuliana Lopes Galvão Tiragem 2.000 Impressão Gráfica Ideograf INFORMATIVO CRQ-V AV. ITAQUI, 45 - CEP 90460-140 PORTO ALEGRE/RS FONE/FAX: 51-3330 5659 WWW.CRQV.ORG.BR

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Dica de Livro

Editorial Neste Informativo CRQ-V abordaremos duas temáticas que podem mudar o cotidiano da população, auxiliando na melhoria de práticas diárias. Ambas estão dentro dos lares brasileiros, tendo em novas tecnologias o aprimoramento de seus efeitos e trazendo a tona a discussão sobre saúde. O Brasil ultrapassa o total de 132,4 milhões de pets, tendo quase dois animais de estimação em cada domicílio. São cerca de 52,2 milhões de cães e 22,1 milhões de gatos. Dentro deste cenário, os alimentos processados, assim como as rações, vêm causando divergências entre profissionais e pesquisadores da área, que questionam-se sobre a forma mais adequada e saudável de alimentação e efeitos colaterais da industrialização no processo alimentício. Buscando estabelecer um comparativo entre a alimentação natural e a industrializada para os pets e entender os efeitos de ambas, entramos em contato com profissionais da área. Para elucidar pontos, conversamos com o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), José Edson Galvão de França, e com o químico Jonathan Vaz Martins Silva, do Departamento de Química da Fundação de Ciência e Tecnologia (CIENTEC), que nos forneceram dados concretos sobre o setor. Além deles, contamos com depoimentos e entrevistas vinculadas em outros canais, como o da veterinária Sylvia Angélico, dona do site Cachorro Verde (o principal divulgador da dieta caseira para animais no país) e do veterinário Márcio Antonio Brunetto, professor doutor do Departamento de Nutrição e Produção Animal da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo (USP). Da construção civil à medicina, as palestras do 2º Congresso Nacional do Plástico reuniram as mais recentes inovações e usos do material. Um dos destaques do evento que acompanhamos no Teatro da PUCRS foi o programa Mao3D, da Prof. Dra. Maria Elizete Kunkel (Unifesp), que produz órteses e próteses de plástico para crianças por meio da impressão em três dimensões. Em entrevista ao CRQ-V, a idealizadora do projeto comentou sobre as conquistas e desafios desta iniciativa inovadora que converge diversas áreas do conhecimento científico, como a Química. Ainda com foco em tecnologias inovadoras, apresentamos os vencedores do Nobel de Química deste ano, responsáveis pelo desenvolvimento de uma tecnologia menor que um fio de cabelo. E para continuar no clima produtivo, contamos um pouco sobre a química do café, uma das bebidas preferidas dos brasileiros. Desejamos a todos uma boa leitura!

Bilhões e Bilhões - Carl Sagan Último livro escrito por Sagan, e publicado postumamente por Ann Druyan, sua esposa e colaboradora, Bilhões e Bilhões traz dezenove artigos dedicados a temas variados. Une-os com o fio da racionalidade no exame das coisas do mundo. Por exemplo: por que se deve ser a favor do direito de decisão da mulher em relação ao aborto; por que os problemas ambientais devem ser abordados a partir de uma plataforma de máxima inteligibilidade a respeito da ciência, da tecnologia e de seu papel social, e não com base em pressupostos emocionais muitas vezes resultantes da falta de informação. Sagan fala também sobre a possibilidade de haver vida em Marte, sobre o aquecimento global e sobre sua impressionante luta contra a doença que acabou por vencê-lo. O tema que une os artigos reunidos em Bilhões e bilhões é, enfim, a vida e a morte: do ser humano no individual e coletivo, do planeta, do universo.

Números do Conselho JUL/AGO/SET Registro Profissional

263

PJ

64

Fiscalizações

777

Autuações

210


TECNOLOGIA

Destaque para a nanotecnologia no Nobel de Química 2016

O

s cientistas Jean-Pierre Sauvage, da University of Strasbourg (França), Sir J. Fraser Stoddart, da Northwestern University (Estados Unidos) e Bernard L. Feringa, da University of Groningen (Holanda) foram premiados pelo desenvolvimento e síntese de máquinas moleculares mil vezes mais finas que um fio de cabelo. As descobertas, que ainda estão no período inicial, poderão ter relevância para a medicina, por exemplo, sendo possível o transporte de medicamentos dentro do corpo humano via nanorobôs. Segundo a Academia Real de Ciências da Suécia, que concedeu o prêmio ao trio, em termos de desenvolvimento, o motor molecular está no mesmo estágio que o motor elétrico estava nos anos 1830, quando cientistas exibiam várias rodas e manivelas sem saber que elas levariam ao desenvolvimento de trens elétricos e outros equipamentos que se tornaram essenciais. As inovadoras medidas criadas por Sauvage, Stoddart e Feringa no desenvolvimento de máquinas moleculares resultaram em uma caixa de ferramentas de estruturas químicas, que estão sendo utilizadas por pesquisadores de todo o mundo para criar tecnologias cada vez mais avançadas. Um dos exemplos marcantes é um robô molecular que pode captar e conectar aminoácidos, construído em 2013. Outros pesquisadores ligaram motores moleculares a polímeros longos, de modo que eles formam uma rede intrincada. Quando os motores moleculares são expostos à luz, enrolam os polímeros acima em um pacote desarrumado. Desta forma, a energia luminosa é armazenada nas moléculas e, se os pesquisadores encontrarem uma técnica para recuperar essa energia, um novo tipo de bateria poderia ser desenvolvido. O material também encolhe quando os motores emaranham os polímeros, que poderiam ser usados para desenvolver sensores que reajam à luz.

PROCESSO DE CRIAÇÃO

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Sauvage ligou duas moléculas em formato de anel, formando uma corrente. A ligação entre as moléculas é mecânica, o que permite a mobilidade das duas moléculas, característica essencial para uma máquina.

Stoddart encaixou um desses anéis moleculares em um pequeno eixo molecular e demonstrou que o anel conseguia se mexer ao longo do eixo pela adição de calor.

chassi molecular

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Usando esses conceitos, Feringa desenvolveu o primeiro motor molecular, levando à criação de um nanocarro.

motor molecular

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MATÉRIA DE CAPA - PLÁSTIC O

O 2º Congresso Brasileiro do Plástico apresenta soluções inovadoras Entre os palestrantes do 2º Congresso Brasileiro do Plásti-

co, realizado nos dias 05 e 06 de outubro deste ano, havia um consenso: o plástico apresenta características sustentáveis que devem ser exploradas tanto pelas pesquisas quanto pelas empresas. O trabalho em conjunto pode desenvolver inovações e colocá-las em prática para melhor atender as necessidades das pessoas. Grande parte do público das palestras pertencia ao empresariado, mas um número considerável de jovens estudantes também estava presente e atento a tudo. Como exposto pelo Engenheiro de Tecnologia da Braskem Éverton Simões Van-Dal, a necessidade dos empresários de acompanharem as mudanças, ainda que com o pé no chão,

pode ser saciada por meio de parcerias com universidades, instituições de pesquisa e startups. Por outro lado, os estudantes são incentivados em seus estudos e têm a oportunidade de aplicarem a teoria no dia a dia. Um jantar restrito a convidados na Casa Vetro marcou a abertura do evento no dia 05. As palestras aconteceram no dia seguinte, no Teatro da PUCRS. O primeiro bloco abordou utilizações inteligentes para o plástico, algumas delas inéditas no Brasil como as órteses e próteses feitas com impressoras 3D de Maria Elizete Kunkel, e os materiais de construção civil eficientes de Joaquim Caracas. Estes últimos, desenvolvidos com plástico reciclado, promovendo Maria Elizete Kunkel

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Crédito: Cleiton Thiele


Crédito: Cleiton Thiele

economia de até 85% no uso da madeira e até 45% em mão de obra. Além de sustentáveis, os materiais requerem um processo extremamente simples de montagem. Em relação a isso, Caracas destacou que a crítica à improdutividade na construção civil não deve ser direcionada somente à mão de obra brasileira, mas, sim, aos processos de edificação, ou à ausência deles. Em vídeo, ele demonstrou um banheiro funcional sendo construído em menos de dez minutos. O material? Plástico. As possibilidades se mostram ainda maiores quando o plástico encontra a biologia e a tecnologia. Essas são algumas das tendências mundiais apontadas por Éverton Simões Van-Dal. Tendo em vista a preservação de recursos e a minimização dos impactos ambientais, estão sendo produzidos objetos de plástico conectados à internet, fenômeno conhecido como “internet das coisas”, objetivando a maior eficiência dos mesmos. No campo da biologia sintética, a engenharia metabólica pode ser usada para a produção simplificada de monoetilenoglicol – componente do plástico - a partir de plantas. O segundo bloco abriu com a pa-

lestra do Doutor em Ciências Biológicas e professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, Alexander Turra, que ressaltou a urgência de compreendermos o porquê de os mares e oceanos estarem repletos de lixo plástico e, a partir disso, tomarmos atitudes individuais e coletivas. Turra ainda relembrou que a responsabilidade é de todos para que não chegue o dia em que haja mais plásticos do que peixes no mar. Uma alternativa à produção indiscriminada do plástico foi apresentada pelo Diretor Executivo da Flexible Packaging (Embalagens Flexíveis da Europa), o alemão Guido Aufdemkamp. Segundo ele, as embalagens flexíveis são a solução para reduzir o desperdício alimentar que, ao descartar recursos e energia consumidos na produção e distribuição do alimento, tem impactos mais negativos para o meio ambiente do que a própria embalagem. Apesar da dificuldade na reciclagem de embalagens flexíveis, a quantidade de plástico utilizada nestas é muito inferior à quantidade usada em embalagens não-flexíveis, segundo Aufdemkamp. A apresentação do painel Embalando o Brasil para Exportação teve a presença de representantes de diversos setores que contribuíram para o debate sobre as dificuldades e oportunidades para as empresas brasileiras quanto à prática da exportação. Para finalizar o 2º Congresso Brasileiro do Plástico, o CEO da empresa Smart Matrix, Charles Stempniak, apresentou uma das últimas inovações do plástico aplicado à área da visão computacional: os drones. A demonstração de voo do drone da linha DJI Phantom foi acompanhada com curiosidade pelo público. Da saúde à segurança, essas “câmeras com asas” poderão até salvar vidas no futuro, de acordo com Stempniak. Pela segunda vez, o Congresso Brasileiro do Plástico cumpre o seu papel de derrubar mitos e mostrar os usos e potencialidades deste material, como avalia o presidente do evento, Alfredo Schmidt, em nota enviada ao CRQ-V. Da construção civil à tecnologia, as palestras abordaram distintas utilizações inteligentes para o plástico, que têm tudo para serem colocadas em prática pelo mercado. E mais inovações estão por vir. Como ressalta Schmidt, “uma diversidade de avanços são 5


esperados principalmente por conta da indústria 4.0, a quarta revolução”.

Impressões 3D de órteses e próteses

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Um dos grandes destaques do 2º Congresso Brasileiro do Plástico foi o programa Mao3D e sua produção de órteses e próteses de plástico por impressão em três dimensões. Coordenado pela Prof. Dra. Maria Elizete Kunkel, o programa do Grupo de Pesquisa de Biomecânica e Forense do Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) também desenvolve outros produtos, como peças para o tratamento da displasia do quadril infantil. Entre as vantagens do uso do plástico por impressão 3D estão o baixo custo e rapidez na produção, e a capacidade de personalização e melhor adequação. Os benefícios são muitos, principalmente para as crianças, pois elas têm dificuldade para encontrar próteses uma vez que os produtos ficam rapidamente inadequados para o seu tamanho. O programa Mao3D é baseado em modelos norte-americanos da ONG E-Nable que distribui próteses por todo o mundo. A popularização das impressoras 3D e sua aplicação na área médica também possibilitaram que o projeto de extensão universitária fosse colocado em prática. As próteses ajudam tanto em casos de amputações parciais da mão quanto de braço, e são fixadas na criança com um velcro. O funcionamento é bastante simples: os movimentos dos dedos para abrir e fechar a mão são controlados apenas pela flexão e extensão do punho ou do cotovelo. Ou seja, não há componentes eletrônicos nas próteses. Mas a ideia é que em breve sejam produzidas peças

Crédito: Assecom CRQ-V

mioelétricas que respondem a reflexos musculares. No processo de impressão, o principal material utilizado por Kunkel para a fabricação das peças é o termoplástico biodegradável ácido polilático (PLA): leve, de fácil acesso no Brasil e mais flexível que o acrilonitrilo-butadieno-estireno (ABS). Como expõe Kunkel, “além disso, ele é mais fácil de imprimir, pois não requer o uso de uma mesa aquecida, desse modo o PLA pode ser usado em impressoras de custo muito baixo como a Stella, da empresa Boa Impressão, que custa em torno de dois mil reais”. Por já ser comum na área médica e na fabricação de fios cirúrgicos, o PLA também apresenta pouco ou baixo risco de toxicidade. Além do PLA e o ABS, outros materiais podem ser usados na impressão 3D como nylon, titânio, fibra de carbono e kevlar. Ainda assim, a idealizadora do programa Mao3D comenta que para o desenvolvimento de novos materiais - mais resistentes, leves e fáceis de limpar – é necessário o envolvimento de profissionais da Química neste processo. “Os implantes, por exemplo, são próteses de uso interno e requerem material com biocompatibilidade e que possa ser esterilizado”, relata Kunkel. Três crianças já foram beneficiadas com o projeto. “Nós estamos trabalhando com uma criança por vez, no momento. Esperamos ter um número maior de crianças já reabilitadas pra implementar algumas melhorias”, ressalta Kunkel. Uma das primeiras crianças a testarem as próteses foi o menino Leonardo, de 7 anos, que tem amputação transradial. Com a peça feita por impressão 3D, ele aprendeu a andar de bicicleta, que já tinha, mas não conseguia usar. Kunkel destaca que o bom funcionamento da prótese depende de um bom programa de reabilitação para que o(a) paciente possa, aos poucos, se adaptar de forma adequada à peça. Para ajudar na adaptação, Kunkel aposta na personalização das cores da prótese, para que ela também se torne um objeto lúdico com o qual a criança possa se sentir confortável. Ainda falta apoio financeiro institucional e estatal para que o programa possa atender às necessidades da população. De acordo com Kunkel, “há uma procura muito grande do pessoal da área médica para o desenvolvimento de novos projetos, só que não conseguimos atender a todos. Tem um pessoal da Oncologia, da Ortopedia, da Urologia, da Fisioterapia. Cada um tem um problema que com a impressora 3D teria uma solução. Na medida do possível, estamos fazendo os contatos para iniciar esses


ALIMENTOS PARA PETS

Em busca da alimentação ideal para cães e gatos De acordo com pesquisa realizada pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil ultrapassa a barreira dos 132,4 milhões de pets. São cerca de 52,2 milhões de cães e 22,1 milhões de gatos em domicilio, o que totaliza quase dois pets em cada lar brasileiro. Dentro deste cenário, os alimentos processados, assim como as rações, vêm preocupando os donos de pets e causando divergências entre profissionais e pesquisadores da área, que se questionam sobre a forma mais adequada e saudável de alimentação. Especialistas em nutrição animal, como Jonatha Self, alegam que empresas fabricantes destes alimentos estão diminuindo a expectativa de vida dos bichos, e que a resposta para longevidade seria proveniente da dieta natural, capaz de deixar os animais mais calmos, atentos e com menos incidência de doenças. Em contrapartida, órgãos regulamentadores se responsabilizam pela fiscalização e qualidade de produtos industrializados da área, almejando garantir a segurança e bem-estar e alegando que rações são o alimento ideal para cães e gatos. A origem da ração data na Inglaterra de 1860, quando James Spratt combinou vegetais, sangue animal e biscoitos de farinha de trigo. Empresários viram na criação uma oportunidade de vender subprodutos indesejáveis, como carnes de baixo custo, por um preço que jamais conseguiriam. A ação teve impacto econômico, visando reutilizar e reaproveitar todas as nuances de um produto. Paleontólogos afirmam que leva, em média, 100 mil anos para uma espécie se adaptar à nova dieta, sendo este um dos pontos que questiona a alimentação por meio de rações industrializadas. Pesquisas também apontam que a alta incidência de cálculo renal em cães, assim como em gatos, tem relação com o consumo de rações hipercalóricas. Flavorizantes, aromatizantes, estabilizantes e conservantes diversos utilizados no alimento podem contribuir para intensificar esta incidência. O presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), José Edson Galvão de França, informa que todas as empresas que fabricam alimento pet são fiscalizadas pelo Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento (MAPA) e pelas Secretárias da Fazenda existentes, tendo que seguir às legislações vigentes para o setor, como a IN nº 04 de 23/02/2007, que estabelece Boas Práticas de Fabricação (BPF). No Brasil, são 65 empresas associadas, e quando há restrição de qualquer componente este é especificado e atendido pelas empresas. “O estabelecimento que fabrica, fraciona, importa, exporta e comercializa rações, suplementos, premix, núcleos, alimentos para animais de companhia, ingredientes e aditivos para alimentação animal deve ser registrado no MAPA e observar a legislação vigente. A fiscalização destes estabelecimentos tem como principal objetivo garantir adequadas condições higiênico sanitárias nos processos de fabricação, bem como a conformidade e inocuidade dos produtos disponibilizados no mercado. E ainda a segurança e a rastreabilidade dos produtos importados e exportados”, salienta o químico Jonathan Vaz Martins Silva, do Departamento de Química da Fundação de Ciência e Tecnologia (CIENTEC). Antes de chegar às prateleiras do mercado, é estipulado pela Instrução Normativa 15/2009 que os industrializados para pets informem os teores de umidade (máximo), proteína bruta (mínimo), extrato etéreo (mínimo), fibra bruta (máximo), máteria mineral (máximo), cálcio (valor máximo e mínimo) e fósforo (mínimo). Além disto, a PORTARIA Nº 3 estabelece os valores aceitáveis para animais domésticos de cada um desses parâmetros, de acordo com o porte e tipo. Quanto ao produto seco, em geral gatos necessitam de maiores concentrações de extrato etéreo e proteínas, sendo a mesma relação feita com animais em fase de crescimento e adultos, devido à necessidade de desenvolvimento muscular e gasto enérgico acentuado. A avaliação do produto é primordial, tanto por parte de entidades responsáveis quanto pelo dono na hora de comprar a comida do pet. Os principais componentes da ração podem apresentar riscos, sendo comum o erro quanto a incompatibilidade do alimento em relação ao porte e necessidades do animal. “O efeito nocivo do cálcio ocorre de sua competição com outros minerais, bem como doenças e disfunções que podem ser ocasionadas pelo excesso; gordura tem impacto direto na obesidade e circulação sanguínea; as aflatoxinas correspondem a um grupo de micotoxinas (AFB1, AFB2, AFG1 e AFG2) com alto efeito tóxico. No caso de alergênicos, seu impacto é similar ao do organismo humano. Aditivos devem ter seus efeitos analisados individualmente, principalmente por bioacumulação no organismo”, explica Silva quanto aos efeitos negativos que podem ser acarretados do consumo sem diagnótico. Locais como a CIENTEC são responsáveis pela análise físico-química de amostras de rações, sendo demandados tanto pela fiscalização como por produtores para averiguar a qualidade dos produtos. Além das análises de umidade, proteína, fibra bruta, extrato etéreo, matéria mineral, cálcio e fósforo, por questões comerciais, podem ser realizadas diversas outras análises, entre as quais, digestibilidade e proteína digestível. “O mercado pet pode ainda necessitar de análises especiais, pois existem rações no mercado isento glúten, logo, testes em produtos alergênicos, químicos ou enzimáticos, podem ser solicitados, ou presença e quantificação de micronutrientes. A determinação de aflatoxinas também é de interesse, em função de que farinhas e derivados de grãos, que podem conter micotoxinas, são componentes comuns em rações”, acrescenta Silva. No mercado existem, basicamente, quatro tipos de rações, tendo finalidades e respondendo de formas distintas no organismo dos animais. São elas: Standart, Premium, Super Premium e de alimentação com objetivos clínicos. A principal diferença dos produtos é a qualidade de matérias-primas utilizadas na sua composição, fator que incide de forma direta nos preços, fazendo com que a alimentação mais saudável tenha maior custo. “A seleção da ração deve ser feita considerando a capacidade financeira do comprador, a idade do animal e recomendações veterinárias. Idealmente, a Super Premium é a mais recomendada, mas mesmo a ração Standard é preferida em relação a restos da alimentação humana, pois as necessidades do pet são diferentes das nossas”, alerta Silva. O profissional também expõe que o mercado expandiu-se consideravelmente nos últimos anos, o que acarreta no aumento de variedade e qualidade dos produtos. “Há rações diferentes para filhotes, adultos e cães idosos (com exigências nutricionais diferentes), além de produtos livres de alergênicos, específicos para cada raça, etc”, comenta. 7


As problematizações quanto ao consumo de rações industrializadas, aliadas ao desenvolvimento de novas tecnologias e pesquisas, está acarretando na busca da redução de impactos na saúde dos animais. No momento a tendência deste mercado é a utilização de aditivos de origem natural, como pigmentos naturais e extratos de planta. “Em alguns casos, o princípio ativo do aditivo natural é o mesmo ao do artificial, alterando somente sua origem e concentração. O correto é observar a formulação de cada ração, para compreender a função e efeito no organismo animal de cada aditivo. É aqui que rações de melhor qualidade (Super Premium) se sobressaem das demais, pois tem uma menor exigência de aditivos com cunho organoléptico (sabor, cor, textura e odor), por exemplo, para tornar o produto mais palatável ao pet, uma vez que usam ingredientes de melhor qualidade. Há de se salientar que alguns aditivos presentes no alimento animal ainda podem servir de reforço das necessidades do pet, como vitaminas e aminoácidos”, elucida. No Brasil, vem crescendo a adoção da “dieta caseira”, que consiste principalmente na combinação de carnes, legumes frescos, óleos vegetais, suplementos vitamínicos, farinha de ossos

e até levedura. O principal divulgador no país é o site Cachorro Verde, da veterinária Sylvia Angélico, que alega que este tipo de dieta é mais saudável. Entre os relatos de quem adotou esta dieta para seu pet, é comum o parecer sobre a possibilidade de reverter quadros como o de pedras nos rins e doenças no trato urinário. A preparação de uma refeição pode ser feita a base de carne (como frango, peru, carne branca de peixe, sem espinhos e limpa, além da carne bovina), legumes bem cozidos (principalmente cenoura e abobrinha) e arroz. O veterinário Márcio Antonio Brunetto, professor doutor do Departamento de Nutrição e Produção Animal da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo (USP), reconhece os benefícios da dieta caseira, mas orienta precauções: “Trata-se de uma opção interessante, desde que a recomendação dos ingredientes e quantidades prescritos na receita sejam levados a sério”. Segundo ele, pelo menos 40% dos proprietários que arriscam a alimentação natural acabam, geralmente por falta de tempo, substituindo itens da dieta por conta própria. O professor também alerta quanto aos possíveis riscos da ingestão de alimentos crus: “Recomendamos dietas cozidas, pois há relatos de contaminação bacteriana e intoxicações consequentes do consumo de

POR DENTRO DAS RAÇÕES RAÇÕES STANDART:

RAÇÕES PREMIUM:

RAÇÕES SUPER PREMIUM:

RAÇÕES DE USO CLÍNICO:

Podem incluir matérias-primas menos nobres e apresentam menor digestibilidade, como por exemplo, farinha de penas e ossos, embora sejam dominantes as proteínas cárneas e vegetais de subprodutos da cadeia produtiva. Não é o tipo mais recomendado, mas tem baixo custo e sua comercialização é permitida.

Utilizam formulação parecida a Standard, porém, com seletividade melhor de matérias-primas. São de melhor digestão e produzem um reduzido teor de fezes quando comparadas ao produto Standard. Ainda sim, possuem na sua composição subprodutos de processos das indústrias cárnea (pés, vísceras, carcaças) e de cereais, bem como presença de aditivos artificiais (corantes, conservantes, aditivos de sabor, etc).

As de melhor qualidade são as Super Premium, formuladas com matérias-primas mais nobres em maior quantidade, como carne de frango e a utilização de aditivos naturais sempre que possível. Dessa forma a digestão e absorção de nutrientes são facilitadas. Como efeito colateral, o preço sobe consideravelmente.

Devem ser usadas sob prescrição veterinária e visam combater deficiências ou restrições alimentares específicas daquele animal.

comida crua”. Antes de ingressar na alimentação natural para cães e gatos, é recomendado que proprietários e criadores submetam seus animais a exames laboratoriais de rotina, como hemograma, glicemia, coproparasitológico e, se possível, função renal e hepática, além de um exame físico completo feito pelo médico-veterinário. A mudança brusca no hábito alimentar também pode comprometer a saúde do pet. Além disto, alimentos que integram a dieta humana podem ser altamente tóxicos para cães ou gatos, como é o caso da cebola, cebolinha e alho, que causam irritação gastrointestinal, levando a danos nas células vermelhas do sangue e afetando principalmente felinos. Outro exemplo é o abacate, que possui em suas folhas, sementes e casca uma substância chamada persin, prejudicial para cães. Alimentos industrializados consumidos por humanos também prejudicam a saúde dos pets, como é o caso de chocolate, álcool e café. O chocolate, que contém teobro-

PRINCIPAIS COMPONENTES QUÍMICOS DA RAÇÃO TEOR DE UMIDADE: PROTEÍNA: bem como a atividade de água, é um parâmetro que está diretamente relacionado à proliferação de patógenos microbianos em alimentos, sendo um ponto crítico de controle nos produtos do gênero alimentício, humano ou animal. Dosagem permitida: o máximo é de 12%

tem como importância a composição das fibras musculares e pêlos. Nesse caso, não importa apenas o teor de proteína disponível, mas a sua digestibilidade, ou seja, o quanto a proteína presente no alimento é digerível ou não pelo animal. Proteínas também contém aminoácidos, sendo que aminoácidos específicos cumprem funções específicas no metabolismo animal. Dosagem permitida: para cães adultos, o mínimo 16%. Cães em crescimento, é de 22%; gatos adultos é de 24% e gatos em crescimento de 28%.

EXTRATO ETÉREO:

FIBRA BRUTA:

MATÉRIA MINERAL:

CÁLCIO:

é uma medida do teor de gordura presente no produto. Embora a gordura seja uma fonte de energia, em geral, seu excesso pode levar á obesidade do animal doméstico.

é um conceito nutricional, sendo normalmente composta por constituintes de paredes celulares, como lignina (porção insolúvel em meio alcalino), celulose, hemicelulose e outros, de difícil digestão. O teor de fibra bruta terá impacto na digestibilidade, fornecimento de energia e quantidade necessária de ração para fornecer os macronutrientes necessários ao organismo.

contém todos minerais presentes no alimento, mais os carbonatos formados durante a queima do material. Também pode ser um indicativo de contaminação e adição de cargas como areia, entre outras. Nessa fração estão contidos cálcio e fósforo, por exemplo.

não é um nutriente desejado em quantidade elevada, pois causa competição na absorção de outros minerais, como o zinco e o fósforo, levando a insuficiência desses, bem como diversas doenças. Dessa forma, a relação entre o fósforo e o cálcio deve ser controlada.

Dosagem permitida: o mínimo é de 4,5% para cães adultos; 7,0% para cães em crescimento e 8,0% para gatos.

Dosagem permitida: máximo de 6,5% para cães adultos; 6,0% para cães em crescimento; 4,5% para gatos em crescimento e 5,0% para gatos adultos.

Dosagem permitida: máximo de Dosagem permitida: para animais adultos, máximo de 12%. 2,4%; animais em crescimento, 2,0%.

mina, entre quatro e 24h após ingerido pode afetar o coração, o sistema nervoso central e os rins. De França afirma que os alimentos industrializados são os mais completos e seguros disponíveis para consumo dos pets, garantindo com segurança todos os nutrientes e minerais diários necessários para os animais. “O alimento completo contém ingredientes selecionados que são fonte de proteínas, aminoácidos, vitaminas, minerais entre outros nutrientes. Tal alimento completo atende integralmente as exigências nutricionais do pet e é capaz de proporcionar uma vida saudável”, salienta. Tendo como base a adoção por parte das maiores empresas do segmento de um guia de boas práticas, com padrões internacionais de nutrição e qualidade das matérias primas, a Abinpet, assim como o Conselho Federal de Medicina Veterinária, prezam pelo alimento processado, alegando que os riscos de falta de vitaminas são menores. A formulação fixa dos alimentos industrializados também pode ser um facilitador para os donos, tendo em vista que o preparo de alimentos naturais exige conhecimento sobre os nutrientes, acompanhamento mais rigoroso com médicos veterinários 8


Ovos

Espinafre

Arroz

Peixe

Brócolis Ervilha

Álcool Pipoca Melancia

Abacate

Alho

Galinha

Abóbora

Aspargo Banana

Aveia

Ossos

Uvas Cebola e passas

Melão

Leite Bacon

Café Chocolate Nozes

Arranhões excessivos provenientes de coceira na pele (primeiramente no rosto, pés, orelhas, patas dianteiras e axilas); Infecções nas orelhas (recorrentes ou crônicas); Perda de pêlos;

Arroz

Cenoura

Banana

Abóbora

Pêra

Espinafre

Peixe

Carne Morango Brócolis vermelha

Creme amendoim

Melancia

Pepino

Álcool Sementes Chocolate Alho de maçã

Cebola

e cebolinha

Romã

Uvas e passas

Abacate Nozes

Gases, diarréia e vômitos; Perda de apetite; Infecções de pele; Tremores e crises convulsivas; Assaduras; Letargia e perda de coordenação.

e preparo de refeições balanceadas. Em meio a dúvidas sobre a efetividade e problemáticas decorrentes de ambos os tipos de alimentação, pesquisadores e profissionais da área seguem desenvolvendo e avaliando estudos. A recomendação é que sempre seja consultado o médico veterinário antes de mudanças na rotina do cão ou gato, assim como feitos exames e avaliações que indiquem quais os nutrientes necessários e como saciar as necessidades do animal por meio da alimentação. Uma das opções é balancear entre os elementos naturais e rações, tendo o primeiro como complementação do segundo. É fundamental, também, ficar atento às restrições dos alimentos naturais, que muitas vezes podem apresentar risco à saúde dos bichos. Saiba quais são as empresas associadas à Abinpet aqui: http://abinpet.org.br/site/lista-de-associados/

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MURAL E AGENDA Formatura do curso de Química Licenciatura da UNISC

AGENDA Até 15 de janeiro 2017 Prêmio Nacional de Inovação 2016/2017 Informações e inscrições: www.premiodeinovacao.com.br/interna/premio E-mail: contato@premionacionaldeinovacao.com.br

19 de janeiro 2017

Curso de Transporte de Cargas Perigosas - Nível II

Formatura do Curso de Tecnologia em Toxicologia Ambiental da FURG

Informações e inscrições: www.iapc.org.br E-mail: escolaformula@escolaformula.com.br

16 de fevereiro 2017 Curso de Transporte de Cargas Perigosas - Nível II Informações e inscrições: www.iapc.org.br E-mail: escolaformula@escolaformula.com.br

Formatura do Curso Técnico em Química do Colégio Dom Feliciano

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CONSELHO REGIONAL DE QUÍMICA DA 5ª REGIÃO

A VIDA É NOSSO PRINCIPAL ELEMENTO

Av.Itaqui, 45 Porto Alegre/RS - CEP 90460-140 Fone/Fax: (51) 3330-5659 www.crqv.org.br


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