10 minute read

Sue Ann

Next Article
Edmilson

Edmilson

COMENDADORA PROF. DR. SUE ANN COSTA CLEMENS SERÁ HOMENAGEADA NO CONGRÉS CULTIVE INTERNATIONAL CULTUREL DE LA FEMME 2021.

A Profa. Dra. Sue Ann Costa Clemens é chefe do Instituto de Saúde Global da Universidade de Siena, sendo uma de suas fundadoras. Também é uma das fundadoras e Diretora do Programa pioneiro de Mestrado em Vacinologia e Desenvolvimento de Medicamentos da Universidade de Siena, desde 2008, treinando futuros líderes em vacinas. Sue Ann tambem é Professora de Infectologia Pediátrica no mestrado, na Universidade de Siena.

Advertisement

Diretora do Grupo de Vacinas Oxford-Brasil, Professora em Saúde Global na Universidade de Oxford.

Ela também é professora e Chefe do Departamento Clínico e Relações Internacionais do Instituto Carlos Chagas, no Brasil. Além disso, ela é conselheira sênior e consultora em desenvolvimento de vacinas da Fundação Bill e Melinda Gates, cargo que ocupa desde 2012. Atualmente para as atividades da Covid-19, ela atua como: • Investigadora, e Coordenadora dos estudos da vacina de Oxford-Astra Zeneca no Brasil • Coordenadora dos estudos da vacina da Clover no Brasil • Presidente do Comitê Científico de Covid-19 do Instituto Médico de Pesquisa Bill e Melinda Gates, • Membro do Comitê Científico da vacina Covid-19 da Curevac, Alemanha, • Membro do Comitê Científico da vacina de Covid-19 da Clover, China. • Investigadora Principal do projeto Fundacao Bill e Melinda Gates - Projeto de preparação de centros em Pesquisa clinica na America Latina para vacinas de COVID -19. Preparou 22 centros em 7 países. • Membro do Grupo de Especialistas que fizeram recomendações formais aos Ministros da Saúde do G7 2021. • Condecorada com a Medalha de Ordem do Mérito Médico na classe de Comendador, Conferida pela Presidência da República e Ministério da Saúde do Brasil • Condecorada com a Medalha Rui Barbosa, Conferida pelo Ministério de Turismo, Secretaria Especial da Cultura, Fundação Casa Rui Barbosa

Sue Ann tem mais de 25 anos de experiência na indústria farmacêutica (GSK, Merck, Novartis) em diferentes funções e responsabilidade crescente no desenvolvimento clínico, assuntos médicos, assuntos regulatórios e governamentais.

Sue Ann liderou o desenvolvimento de vacinas como por exemplo Rotavírus, HPV, pneumococo, meningococo, pentavalente, COVID -19 entre outros.

Liderou um dos maiores estudos de fase 3 até a presente data. Os maiores estudos foram de rotavirus da Merck e GSK. Fez parte do desenvolvimento clínico da primeira vacina que obteve uso emergencial no mundo em outubro de 2020, a nova vacina oral contra poliomielite, nOPV.

Ela também foi responsável por implementar Educação Médica Contínuada como membro do Grupo Internacional da Comissão Educacional para Graduados em Medicina para Estrangeiros (ECFMG- Filadélfia, EUA).

ENTREVISTA

1- Seu nome, cidade e origem:

Comendadora Prof. Dra. Sue Ann Costa Clemens, natural do Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

2- Onde reside?

Costumo dizer que minha casa é o mundo, fazendo pesquisa. Há alguns anos moro na Itália, comprometida com o Instituto de Saúde Global e o Mestrado na Universidade de Siena, mas desde o início de 2020, com o trabalho focado na pandemia do novo coronavírus, estou fixada no Brasil, no Rio de Janeiro.

3- Sua profissão?

Médica, pesquisadora e professora.

4- Atividade cultural que exercer?

Não exerço atividade cultural, mas desfruto de concertos musicais, exibições de arte, e tenho sentido muita falta desse contato cultural durante a pandemia.

5- Quais as causas que você defende?

Saúde pública, equilíbrio de gêneros e acesso igualitário a benefícios.

6- Sua relação com o meio ambiente, com o homem?

Relação de respeito, admiração, proteção. Eu procuro sobretudo ajudar na conscientização dos demais em relação à importância de abraçarmos tais causas.

7- Ser ou não ser, ter ou ser? Ser – descobrir a missão pela qual viemos a este mundo Ter – a habilidade e a coragem de cumprir esta missão

8- Fale da infância, da adolescência, da mulher esposa e mãe, da mulher artista, da sua ideoloTive uma infância feliz, saudável, cheia de descobertas e curiosidades. Foi a curiosidade que traçou minha trajetória na medicina e na pesquisa, na tentativa de, por meio da saúde pública, fazer um bem maior.

As diferenças sociais e econômicas me deixavam muito angustiadas – eu lembro que discutia sobre isso com meu pai e sempre tentava pensar em como salvar o mundo, dentro da minha imaginação infantil. Desde criança ele me levava para conhecer orfanatos e, lá, oferecer ajuda, lendo para os internos, convivendo e entendendo as diferentes realidades — essa foi minha introdução em saúde pública, e fez toda a diferença em minha vida.

9- Como você chegou hoje na posição de Coordenadora dos estudos da vacina da Clover no Brasil.

O caminho da persistência e do enfrentamento de desafios, especialmente por ser mulher e latino-americana. Mas, com humildade, eu sempre tentava dar um passo à frente.

Fui professora primária, me formei médica e me especializei em pesquisa clínica, carreira que me possibilitou atuar internacionalmente e me levou também a lecionar no Brasil e fora dele

Trabalhar com a Fundação Bill e Melinda Gates já há 10 anos me deu uma dimensão muito maior e diferente das diversidades em saúde global.

10- O que faz cresacer uma pessoa’ O contato com o ambiente que nos circunda é transformador. O conhecimento nos faz pensar. Aprendi a ouvir mais e a tentar entender as razões das coisas e das pessoas. A refletir mais antes de reagir, a pensar a longo prazo e não só no imediato. Não acho que mudei na essência, mas, para enfrentar os desafios que a vida e o mundo em que vivemos nos impõem, fiquei mais “dura”, mais objetiva – pois para entregar resultados devemos estabelecer ou respeitar prazos, focar nos objetivos e nos resultados de qualidade. Isso fez toda a diferença no meu trabalho durante esta pandemia, atuando no desenvolvimento de 3 vacinas e ajudando a trazer uma vacina à população mundial ainda em 2020; preparando centros de pesquisa em toda a América

Latina aptos a testar qualquer vacina contra COVID que chegasse à fase 3. Preparação, estratégia.

11- Você é uma guerreira? Com certeza

12- A vida foi fácil ou sempre foi um mar de rosas?

A vida e as pessoas têm sempre algo de positivo, de belo, e nós temos que buscar isso, e nos adaptar da melhor forma. Não aceitar os movimentos e curso natural da vida e dos acontecimentos, não entender esses acontecimentos e seu ciclo natural, as perdas, as diferentes fases, o envelhecimento, os desencontros etc., tudo isso dificulta o viver, a felicidade, a evolução. É preciso assumir suas responsabilidades, seus erros, suas vitórias e evoluir. Emoções e relações humanas em âmbito pessoal e profissional são nossos maiores desafios. Ninguém nos ensina a viver — nós simplesmente vivemos. Alguns aprendem com isso, outros não. É importante ouvir, saber conceber a mensagem, implementar e executar.

A forma como reagimos aos fatos faz toda a diferença e norteia nossa trajetória. Não importa a nacionalidade, as pessoas e suas emoções são previsíveis, só moldadas por diferentes culturas. Temos que ser maiores, pensar mais alto, não nos abalar e enfrentar o que vem, sabendo que podemos vencer ou não, mas lutando, vivendo, participando faz a diferença!

13- Como você foi trasbalhar fora do Brasil? Eu já conduzia pesquisas clínicas no Brasil e na América Latina, primeiro com minha tese de mestrado e depois na indústria farmacêutica, como sub-investigadora e, posteriormente, trabalhando part time no departamento médico de pesquisas clínicas.

Meu primeiro desafio internacional foi morar nos EUA, na Filadélfia, por intermédio do ECFMG (Educational Commission for Foreign Medical Graduates). Fiz parte do meu treinamento no hospital infantil da Penn University e depois no grupo internacional de Medical Education da Hahnemann University, onde criamos o projeto que se chama de Standardized Patient Training. Com essa experiência, tive a oportunidade de conviver com diferentes culturas em um outro país. Tive colegas médicos de Israel, da Espanha, da Índia, entre outras nacionalidades. Eu também fazia parte do grupo de estudo de doenças tropicais, e neste entendi e troquei informações em saúde pública muito importantes para o meu desenvolvimento. O entendimento da realidade de outros povos, suas culturas, dificuldades e de como eram os seus sistemas de saúde e sua capacidade de resposta abriu horizontes e me proporcionou uma bagagem de conhecimentos valiosa para a vida pessoal e profissional.

Depois, devido à pesquisa na indústria, me mudei para a Europa, sendo responsável pela pesquisa internacional em países em desenvolvimento. Após a Europa, voltei aos Estados Unidos, onde iniciei a preparação e a estratégia de desenvolvimento do que pensei à época ser o meu maior desafio: uma das maiores pesquisas de fase 3 realizadas até hoje, a do rotavírus.

Trabalhando em desenvolvimento clínico internacional, principalmente com a pesquisa do rotavírus, recrutando voluntários em 12 países na América Latina e na Europa, senti a necessidade de criar algo ainda mais significativo em pesquisa e, principalmente, onde havia mais necessidade – nos países em desenvolvimento na África, na Ásia e na América Latina. Nesse sentido, fui parar em Siena para criar o mestrado em vacinologia e desenvolvimento clínico de fármacos da Universidade de Siena, programa pioneiro e único até hoje.

14- Alguém em particular lhe deu a mão?

Tive 3 mestres, que sempre me apoiaram nas diferentes fases da vida: meu pai, Antonio Carlos Fontão Costa, a Dra. Miriam Friedman (ECFMG) e o Prof. Dr. Ernani Aboim (Carlos Chagas Institute).

E tenho o melhor dos companheiros, meu marido Ralf, como um apoiador pessoal e profissional, mestre diário, pois tem um conhecimento infinito em vacinas em geral.

15- Qual é a importância de RECEBER apoio?

Poder dividir pensamentos, enxergar além fronteiras, receber críticas, pensar diferente, crescer.Dividir os anseios, receios , metas, sucessos e falhas.

como encontrou força ou coragem para tal mudança, para conquistar seus objetivos? Faria tudo outra vez?

Não acho que posso pensar em mudar algo, pois tudo tem uma harmonia e está encadeado – se mudo algo, penso que todo o resto será impactado e posso não me reconhecer.

Posso pensar em mudar minha atuação no presente e no futuro, com ações e reflexões pós-pandemia. Creio que todos tivemos muitas lições, em diferentes aspectos e grandezas, e que devemos parar e refletir para continuarmos de forma melhor, mais inteligente e mais coletiva.

17- Você é estudiosa de uma mulher guerreira. Na minha vida, é minha avó paterna: mulher determinada, sem medo de estar à frente de seu tempo. Guerreira, contribuiu para a ciência e a saúde coletiva ao caçar cobras e enviá-las ao Instituto Butantã, em troca de receber soro antiofídico para os profissionais de sua fazenda.

18 - Qual a mulher na história que você se assemelha? Na história, prefiro pensar em alguém significativa para o Brasil: Maria Leopoldina (estrangeira , enfrentando o desafio de se adaptar a uma cultura diferente, a pessoas desconhecidas, em um lugar totalmente novo, e que, mesmo em seu tempo tempo, desempenhou um papel crucial, profissional e na política, para o destino de um novo país/nação – sensível e curiosa em relação às ciências, ela enfrentou o mundo dos homens, do alheio na cultura, sofreu com o idioma, mas se fez entender e venceu os obstáculos. Guerreira, diplomata.

19- O que deseja alcançar ainda? Seus projetos?

Gostaria de me dedicar mais à Yoga e à meditação – de forma muito mais regular. Ser feliz e saudável. Expandir o mestrado de vacinologia da minha universidade, em Siena, para outros continentes e contemplar mais alunos.

Visitar os orfanatos para os quais contribuo há mais de 2 décadas, pois nunca os visitei. , ficam na Bolívia

Criar o primeiro braço da Universidade de Oxford nas Américas, no Brasil – um braço avançado na pesquisa clínica de excelência, continuando o trabalho suado que tivemos nesta pandemia, e não deixar que toda essa capacitação de pessoal e criação de infraestrutura tenham sido em vão.

20- Mensagem final.

Como pessoa: seja você mesma sempre, evolua aprenda com seus erros, tente ver sempre um lado positivo nas experiências que a vida nos traz.

Como profissional, é ter claras essas quatro respostas: what, how, who and when. What - defina o que gosta; How - identifique os meios para chegar a esse “goal”, se dedique, não meça esforços nem se abale com os obstáculos, porque eles existem; Who - identifique as pessoas que possam te apoiar nessa caminhada; When - saiba aproveitar as oportunidades ou, se elas não vierem, aprenda a criá-las, mas não desista.

"Não há temas esgotados, mas pesquisadores esgotados no tema.”

This article is from: