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Raimundo Campos Filho

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Jaide Siqueira

Jaide Siqueira

Professor, membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras, ocupante da Cadeira n. 5, que tem como patrono JOÃO FRANCISCO LISBOA; Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, ocupante da Cadeira n. 5, que tem como Patrono o Padre LUIS FIGUEIRA: Diretor-Membro da Sociedade de Cultura Latina do Brasil; Professor de Direito Civil da Universidade Federal do Maranhão, desde 1989; Mestre em Ciências da Educação; Doutorando em Educação; e Doutorando em Direito

JOÃO LISBOA

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Patrono - Biografia

Caríssimos Senhores Organizadores,

Primeiramente, agradecer o convite para participar deste evento e externar a minha satisfação de integrar o seleto quadro de membros fundadores da Casa de Maria Firmina, que se configura como expoente da intelectualidade maranhense ao qual reputo grande significação e responsabilidade em minha vida, por marcar a minha ocupação na Cadeira de n°. 5, que tem como patrono o ilustre JOÃO FRANCISCO LISBOA.

JOÃO LISBOA, jornalista, advogado, publicista, biógrafo, crítico, historiador maranhense, orador de largos recursos e político, nasceu no Distrito de Pirapemas, freguesia de Nossa Senhora das Dores do Itapecuru-Mirim, ainda Município de Itapecuru-Mirim, pertencente à Provincia do Maranhão, em 22 de março de 1812 e faleceu em Lisboa, Portugal, em 26 de abril de 1863.

Foi considerado por Capistrano de Abreu como um dos maiores historiadores brasileiros do século XIX, especialmente por ter sido julgado o pioneiro na escrita de uma história “das municipalidades”. Entretanto, isso não foi suficiente para que JOÃO LISBOA se igualasse a grandes historiadores brasileiros da época lembrando algumas das obras e características da escrita da história de JOÃO LISBOA, avaliando também as possibilidades discursivas de observar como escrevia a história do Brasil no século XIX.

Era o primeiro filho do casal João Francisco de Melo Lisboa e Gerardes Rita Gonçalves Nina. Descendente de famílias tradicionais ligadas à aristocracia rural instaladas no vale do Itapecuru.

Em 20 de novembro de 1834, casou-se com Violante Luísa da Cunha, sobrinha de João Inácio da Cunha, visconde de Alcântara. O casal não teve filhos. Adotou um filha de Olegário José da Cunha. Esta é parenta da esposa. Mas a menina veio a falecer pouco depois. Outra filha de Olegário (Maria José) foi adotada pelo casal e sobreviveu a ambos. Já, idosa, assistido à inauguração da estátua do pai adotivo, na cidade de São Luís, em 1918.

JOÃO LISBOA, estudou as primeiras letras em São Luís, onde viveu até os onze anos, quando voltou a Pirapemas. Permaneceu no sítio natal até completar quatorze anos. Falecido o pai, foi enviado para a capital da Província, a fim de trabalhar no comércio como caixeiro da loja do negociante Francisco Marques Rodrigues. Permaneceu nesse ramo de atividade de 1827 a 1829. Largando essa ocupação, dedicou-se inteiramente ao estudo, sob a orientação de alguns mestres renomados, entre os quais o professor de Latim, Francisco Sotero dos Reis. Depois, separados por divergências de natureza política, os dois se tornariam adversários ferrenhos. Sotero dos Reis, em seu Curso de Literatura, gabou-se de ter contribuído para a educação de JOÃO LISBOA que, no entanto, fez sérias restrições ao mestre.

Foi político, historiador, jornalista, escritor e também deputado provincial e literato, membro do Ins-

tituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB e da Academia Brasileira de Letras - ABL, patrono da Cadeira nº 18, por escolha do fundador José Veríssimo. Exerceu o jornalismo na cidade, então agitada por profundos movimentos revolucionários e intensa vida cultural e ideológica – tempo em que ocorrem duas revoltas marcantes, a Setembrada (em 1831) e a Balaiada (de 1838 a 41). Fundou e dirigiu, no Maranhão, vários jornais, dentre os quais, em 1832, o jornal “O Brasileiro”, continuando a pregação interrompida com o fechamento de “Farol Maranhense”, de José Cândido de Morais. Em seguida, reeditou o “Farol”, que dirigiu por dois anos. Entre 1834-36, dirigiu o “Eco do Norte”, que foi retirado de circulação, assim como o “Farol”.

Deixou o jornalismo, ocupando funções públicas. Foi por três anos secretário de governo. Em seguida, ingressa na política, concorrendo e ocupando (por duas vezes) a legislatura provincial.

Em 1838 retomou o jornalismo, participando, como entusiasta do Partido Liberal, da direção da “Crônica Maranhense”, ocasião na qual eclodiam os movimentos rebeldes no Estado. JOÃO LISBOA foi acusado, sem ter tido efetivamente, culpa de estar envolvido na Balaiada, o que o fez retirar-se da política por uns tempos, voltando-se para a literatura e a advocacia.

Em 1848, retornou à Assembleia Provincial. A 25 de junho de 1852 lançou o famoso “Jornal de Timon” dedicado aos estudos políticos, principalmente de cunho eleitoral, à história do Brasil e à história do Maranhão – revista inicialmente mensal (cinco primeiros números) – publicada até o volume doze. Os dois últimos, feitos em Lisboa. Ali, procedeu a ataques a outro futuro patrono da Academia, Francisco Adolfo de Varnhagen, criticando-o por seu trabalho na “História do Brasil”. Recebeu na capital lusa uma resposta panfletária do cunhado de Varnhagen, que também cuidou de ripostar no “Os Índios Bravos e o Senhor Lisboa” (1867).

Em 1855, foi ao Rio de Janeiro de onde partiu para Portugal, com a missão de reunir ali documentos históricos do Brasil. Quando pesquisava também sobre Antônio Vieira. Em Lisboa, já não contava com boa saúde e veio a falecer ainda na capital portuguesa. Além do patronato na Academia Brasileira de Letras, a Cidade Maranhense de João Lisboa foi assim batizada em sua memória. Na capital do Estado, uma praça tem seu nome, ornada por uma ESTÁTUA representando-o, inaugurada em 1918.

Biografia

Seus trabalhos, publicados em jornais e periódicos, foram alvo de compilações posteriores: “Jornal de Timon”, reunidos em dois volumes (1852-54); Obras de JOÃO LISBOA (com uma notícia biográfica por Antônio Henriques Leal) - 4 vols. (18641865). (2a ed., acrescida de apêndice de Sotero dos Reis, Lisboa, 1901, 2 vols.); Vida do Padre Antônio Vieira (obra inacabada, publicação póstuma) - 5a edição, 1891; Obras escolhidas. Ed. Otávio Tarquínio de Sousa. Rio de Janeiro, 1946, 2 vol; Crônica maranhense, 1969; Crônica Política do Império (Jornal de Timon), 1984.

Até hoje, sua obra é considerada única devido ao valor da análise crítica que comporta e à qualidade da sua redação. JOÃO LISBOA representa, ao lado de Varnhagem e de Joaquim Caetano da Silva, o tripé da reforma da historiografia brasileira.

Um ano após sua morte, seu amigo Antônio Henrique Leal editou suas obras completas, que saíram com o título Obras de JOÃO LISBOA. Os volumes foram originalmente publicados em São Luís do Maranhão, entre os anos de 1864 e 1865. Tem-se conhecimento de outra edição, de 1901, em 2 volumes, desta vez publicada em Lisboa, também rara.

Em 1991, foi editada “Obras de JOÃO LISBOA”, versando sobre a “Vida do Padre Antonio Vieira”, “Biografia de Manuel Odorico Mendes”, “Folhetins”, “Discurso sobre a Anistia” e “A Questão da Prata”.

Além de exibir sua maestria no domínio da Língua Portuguesa, as obras de JOÃO LISBOA refletem ainda os profundos conhecimentos do autor, autodidata, nos campos da História, do Direito e da Literatura.

Em 1838, retomou o jornalismo, assumindo a direção da Crônica Maranhense, em sua fase áurea

como escritor. Segundo Antônio Henriques Leal, a Crônica era um jornal de combate, especialmente criado para defender os interesses do Partido Liberal, reproduzindo a história viva das lutas políticas daqueles anos. Deixou de circular em dezembro de 1840. O Museu Histórico Nacional, do Rio de Janeiro, publicou, em 1969, dois volumes onde se encontra coligida grande parte da colaboração de JOÃO LISBOA nas páginas da Crônica Mara nhense.

Era o período difícil da Regência e da Maioridade de D. Pedro II. Na tribuna parlamentar e na imprensa, JOÃO LISBOA defende princípios da liberdade e interesses do povo, sendo injustamente acusado de participação na “Balaiada”, movimento revolucionário maranhense. Por isso, retirou-se temporariamente da política, dedicando-se à literatura e à advocacia. Em 1847, recusou o convite que lhe fizeram os liberais para se apresentar como candidato a deputado geral. Contudo, aceitou a participação na Assembleia Provincial, para a qual foi eleito no ano seguinte.

Em 25 de junho de 1852, saiu o primeiro número do Jornal de Timon, folheto composto de 100 páginas, inteiramente redigido por JOÃO LISBOA. Os cinco primeiros números circularam mensalmente. Somente em 1854 saíram, em volume de 416 páginas, os fascículos de 6 a 10; o 11 e o 12, em março de 1858, quando o publicista residia com a família em Lisboa. Atacou, entre outros, Varnhagen, pelo método que empregou na História do Brasil. Surgiu, em Lisboa, o panfleto Diatribe contra a timonice. Seu autor, disfarçado sob o pseudônimo de Erasmo, era o cunhado do próprio Varnhagen, Frederico Augusto Pereira de Moraes. Também Varnhagen replicou no opúsculo os índios bravos e o senhor JOÃO LISBOA (Lima, 2002.)

JOÃO LISBOA transferiu-se em 1855, para o Rio de Janeiro, de onde, após curta permanência, partiu para Lisboa, incumbido pelo Governo Imperial de coligir, em Portugal, documentos e dados elucidativos da história brasileira. Lá pesquisou também sobre a vida do Padre Antônio Vieira, para uma biografia, que ficou inacabada. Após um período de intenso trabalho em arquivos portugueses, realizou uma viagem de despedida ao Maranhão, no período de 5 de junho a 11 de dezembro de 1859. Nos anos que se seguiram, o seu estado de saúde, em função de complicações renais e hepáticas, torna-se cada vez mais precário, e ele veio a falecer às duas horas da madrugada em 26 de abril de 1863, tendo sido sepultado em caixão de chumbo no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.

Ainda, naquele ano, já de volta ao Maranhão, D. Violante da Cunha Lisboa tomava providências para que o corpo do marido fosse trasladado de Lisboa para São Luís. Houve alguma demora e somente em 24 de maio de 1864 aqui chegou a bordo do brigue Angélica, um ano depois do seu falecimento. Esta embarcação trouxe os restos mortais de JOÃO LISBOA, o que movimentou milhares de maranhenses.

Foi sepultado pela segunda vez, no seu Estado Natal, na capela-mor da Igreja do Carmo, com uma lápide modesta, onde se lia “JOÃO LISBOA. Nasceu em 22 de março de 1812, na Província do Maranhão. Faleceu em 26 de abril de 1863, na cidade de Lisboa”, recebendo a alcunha de “Timon Mara nhense”.

JOÃO LISBOA teria a terceira sepultura, no Cemitério do Gavião, de onde, para uma quarta e última morada, foi transferido em 1911 para a praça que tem seu nome, com grande acompanhamento. Jaz o mestre no pedestal de sua estátua, de frente para a Rua do Sol.

Sua mulher, d. Violante, faleceu em São Luís em 14 de maio de 1891.

A filha adotiva do casal casou-se com o súdito inglês Henry Airlie, residente em São Luís.

Os bens deles descritos não revelam qualquer fortuna, prova de que o casal levou vida modesta.

Logo após o regresso de D. Violante Lisboa ao Maranhão, os amigos da família, destacando-se à frente deles Olegário José da Cunha e Antônio Henriques Leal, iniciaram as gestões para que fossem reunidas todas as obras de JOÃO LISBOA, incluindo-se entre elas a “Vida do Padre Antônio Vieira”, inacabada.

Por sua atividade e por sua obra, JOÃO LISBOA é um típico representante de uma época e de uma sociedade. Fez parte do movimento maranhense do século XIX que se distinguiu, talvez pela proximidade material e espiritual da metrópole, por

acentuado pendor classicizante. Foi traduzido na fidelidade aos padrões tradicionais do vernáculo e na defesa da tradição e do rigorismo gramatical, o que conferiria à capital do Maranhão o honroso título de Atenas Brasileira. Foram seus contemporâneos Odorico Mendes, Sotero dos Reis, Joaquim Serra, Franco de Sá, Sousa Andrade, Antônio Henriques Leal, Cândido Mendes de Almeida e César Augusto Marques.

Todos os estudos biográficos sobre JOÃO LISBOA, cognominado o “Timon Maranhense”, se baseiam nos dados publicados por seu contemporâneo e amigo íntimo Antônio Henriques Leal na “Notícia acerca da vida e obras de JOÃO LISBOA”, que precede as suas Obras (4 volumes) impressas no Maranhão em 1864-1865, e na biografia, ampliada, reproduzida no Tomo 4º do “Pantheon Maranhense”, editado em 1857 pela Imprensa Nacional de Lisboa.

ALGUMAS OBRAS

Festa de Nossa Senhora dos Remédios JORNAL DE TIMON - Timon a seus leitores Para finalizar, quero enfatizar a necessidade e importância dos registros históricos, lembrando, no entanto, a dificuldade da apreensão de todos os aspectos de cada objeto de pesquisa, principalmente daqueles das Ciências Sociais e Humanas. Isso se deve a múltiplos fatores. Principalmente, à dimensão subjetiva, tanto do observador quanto do objeto observado, que, entre outras consequências, resulta em interpretações distintas e até mesmo antagônicas de diferentes observadores em relação à mesma situação, sociedade ou pessoa.

REFERÊNCIAS

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