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Rose Calza
MEU NOME É ROSE CALZA E HOJE MORO EM BOTUCATU, BRASIL.
1. Quem é você
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Sempre fui uma garota atrevida, curiosa, irrequieta. Meu temperamento se adequou às tendências que viriam com a direção que dei para minha vida intelectual e profissional, ou seja, do ginásio fui para o colegial e escolhi fazer o Clássico, na área de Humanas - (no meu tempo era também possível optar pelo Normal e ser professora primária ou o Científico, seguir na área de Exatas). O curso Clássico me expôs ao estudo do Latim, Espanhol, Filosofia, Português, Literaturas e o caminho foi aberto para escolher Letras, no Vestibular. Também coincidia ficar mais tempo em minha cidade natal, Catanduva, pois, meu pai deixou minha mãe viúva muito cedo, com 4 filhos para criar, partindo aos 47 anos. Mestrado, Doutorado, Livre Docência, na França, meu trabalho na televisão como roteirista, publicar livros e mais especificamente, mais tarde, preferir escrever poesia, foram consequências naturais de minhas escolhas feitas anteriormente.
2. Fale da Infância, da adolescência. ¨da sua ideologia e objetivos. Minha infância foi entre a chácara de meu avós paternos e a fazenda, no Paraná, de meus avós maternos. Eu era diferente de outras crianças, me isolava em árvores do pomar, nos troncos , dizia estar à cavalo e falava sozinha uma outra língua. Dizia que era inglês. Fazia brinquedos, cozinhava para os animais, era meio moleque, pois, tinha que cuidar
de meu irmão dois anos mais velho, epilético. Tinha que protegê-lo, eu o defendia e aprendi a brigar “homem a homem”, (rs). Minha adolescência foi mais traumática. Passávamos o inverno na fazenda dos avós maternos, no Paraná e eu era a atração dos primos e tios; cantava, tocava violão e cobrava as performances (o chapéu no chão para arrecadar dinheiro para comprar chocolates). Um dos tios estava com tuberculose e quando voltei para o início do ano escolar, não passei no teste Mantoux, obrigatório, no Dispensário. Foram 3 anos em que fui tratada com estreptomicina (perdi 4 decibeis de agudos na audição) e hidrazida. Tinha 14 anos, fui afastada de todos e foi o suficiente para eu mergulhar nos livros da Biblioteca Municipal, perfeita heroína romântica. Enquanto as amigas namoravam e pensavam que eu tinha reumatismo infeccioso - minha família escolheu esta doença para eu não sofrer preconceito, eu, isolada, lia e estudava. Mais tarde, grávida de minha primeira filha, tive uma forte pneumonia e pensei estar doente novamente. Meu marido levou meu prontuário para o Emílio Ribas e a pneumologista disse que eu nunca desenvolvi a doença e tive somente uma inflamação nos gânglios. Adenopatia justo hilar esquerda.
Enfim, esposa em 4 casamentos, mãe de 3 filhos, morando em países diferentes, falando línguas diferentes, tive fartas experiências que agregaram enteados, ex-mulheres de ex-maridos, o que muito me fez refletir e repensar sobre a família núclear e seus propósitos, sobre religião, moralismos, amores, desamores. E como, sobrevivente, cheguei até aqui, agora com os netos, cachorrinhos e plantas. Há ainda muito a fazer, escrever, descobrir, inventar, transformar.
3. Como foi a passagem de menina para mulher? Vivi em Catanduva desde a infância até deixar a cidade com 21 anos, bacharel em Letras para vir a São Paulo iniciar meu Mestrado, na USP. Cresci, portanto, no interior, protegida, numa época de clima menos intenso com relação à questionamentos sobre sexualidade, relações interpessoais, política, diferente do que vivemos hoje. Mas já fugia do clichê. Garotas como eu se casavam muito cedo, muitas vezes grávidas; passavam a cuidar da família, sob a tutela do marido provedor. Para mim sempre houve uma certeza, a de ampliar meu espaço, continuar os estudos, conhecer o mundo. Porém, fazendo o Mestrado na USP, conheci meu primeiro marido, recém formado médico, fazendo residência na Escola Paulista de Medicina. Com ele tive dois filhos e iniciei a tarefa árdua me dividindo entre crianças, o trabalho, os estudos e a administração da casa. Durante quatro anos estive na USP e concluí os créditos necessários para o Mestrado, em Literatura Portuguesa, mais especificamente sobre o Neorrealismo Português. Minha dissertação era sobre a obra de Almeida Faria. Mas, conheci Décio Pignatari em uma de suas palestras e ele me aceitou como orientanda. Desisti da USP/ Brasil e fui para a PUC-SP/ Brasil, começar tudo de novo. Na PUC, me tornei Mestra e Doutora, fazendo carreira docente como professora da Universidade; fui Coordenadora do Curso de Publicidade Propaganda e orientadora em Pós Graduação. Ao mesmo tempo já trabalhava simultaneamente na Rede Globo de Televisão, como roteirista de Telenovelas, Você Decide, Teletemas. E também já estava no meu segundo casamento, com meu terceiro filho, onze anos mais novo que o casal do casamento anterior. A vida profissional e intelectual se misturam inexoravelmente com a amorosa e familiar, é inevitável. Em 2000, com o terceiro marido fui morar na França, onde fiz minha Livre Docência, na Université de Provence, Aix - Marseille e lá, obtive meu HDR (Habilitation à Diriger des Recherches). Para tal, precisava de mais um ano na França e meu departamento, na PUC- SP/ Brasil, não me deu a prorrogação necessária. Então, pedi demissão (estava em afastamento sem remuneração). Continuei na França, vivi ao todo, 7 anos em Paris, até o final deste casamento. Neste percurso já havia publicado parte de minha tese de Mestrado, “O que é Telenovela”, e “Entre Pedaços” (poesia); fui organizadora de livros sobre Publicidade e Propaganda - “Contemporary Brasilian Theory,” que saíram pela SDSU Press, San Diego State University. Em 2007, voltei ao Brasil. Casei-me novamente e me aposentei. Nos anos sequentes, voltei a escrever. Cheetah é de 2016, um multilivro e há dois outros a caminho: “Euamo/res” ( poesia) e “A Garota Que Não Gostava Do Nome”, (multilivro).
3. Em que momento da sua vida a sua estrada bifurcou e como você fez a escolha e para onde ela te levou?
Nesta profissão ´escritora, poeta, (falo por mim e por poetas que acompanho), há uma força inigualável que nos faz seguir em frente, na persecução de um gênio verbal, (incansável), cuja pre-
tensão é nos distanciar da vulgaridade do mundo. Para mim, particularmente, então, enfrentar os estragos, desmanchar tudo, seguir impulsos têm uma missão semiótica embutida no objetivo a ser alcançado. Tal como Céline, um escritor maldito francês, sempre quis “transformar tudo em som, em toque, em pele, tecido, tudo em uma imensa gargalhada, revolver a crosta da linguagem, formada pelo magma das profundezas.” Ir até as últimas consequências.
4. O que é poesia’ Não é linear, mas também não é seguir na contra- mão: é a batalha de inventar um novo fôlego, algo que afete a sensação e a consciência do mundo. É preciso deslocar o denotativo para o conotativo; é preciso seduzir o leitor para investigar o sentido polissêmico das múltiplas sensações, no encalço da emoção, da catarse; é preciso desmistificar a frugalidade; é preciso reconhecer o espantoso; é preciso se render a uma sensibilidade enorme, se se quer tangenciar o não dito, o de vir, o novo que deve permanecer novo para ser novo; é preciso provocar indignadas coceiras em si e no próximo; é preciso entender que não são ideias que fazem poemas, mas palavras e é preciso saber que nossa busca é a busca eterna pela palavra não dita. Estabelecer isto é decretar um plano contínuo de investigação que não cessa nunca. Só ganha volume. Fazer poesia não é auto ajuda, nem é a construção de um conglomerado de palavras desconexas. O poema é um ser de linguagem, estamos fazendo linguagem quando escrevemos e é preciso elevar o nível de competência para poder se entender criando algo. A poesia é um reduto de (não)subserviência, é a arte do anticonsumo; trabalhar a linguagem é regenerar a língua, revesti-la, ornamentá-la ou despi-la, cruelmente, de formas também horríveis e doídas. Trabalhar com palavras é viajar no vácuo, tentando preencher os conflitos que a associação/dissociação, a interconexão, seleção, combinação, sínteses, estimulam. É preciso entender que escrever é trabalhar O signo e não COM o signo.
5. Você tem algum arrependimento? Não mudaria nada do que vivi até aqui. Não seria outra coisa, estou em minha casa criativa, não me arrependo de travar, iniciar e continuar tais batalhas. Há um sofrimento nisto, faz parte.
6. Os apoios acontecem? Quando é possível se destacar do lugar comum, claro, vem a nós um atributo e a nós é oferecido um lugar para ocupar. A designação “poeta” é um louro admirável, um graal a ser alcançado, sem nunca ser encontrado. É preciso não se iludir. Há pessoas no caminho que indicam setas, mas aprendi que sempre algo é cobrado. Há dissabores pelo caminho e há também ajuda (pouca), desinteressada. Não sei ainda se a minha história influenciou minhas escolhas. O que escrevo é TAMBÉM parte de minha biografia e vice-versa.
6. Você participa de movimentos culturais?
Só agora retomei tais atividades. Muito tem me incentivado o blog Mulherio das Letras na Lua. Fiz muitas amizades gratificantes e afetuosas com aquelas lindas mulheres. Comecei a participar de antologias e concursos. É interessante e novo para mim.
5. Deseja alcançar mais o quê? Tudo o que eu ainda puder.
Rose Calza
VEM AÍ O SALÃO INTERNACIONAL DO LIVRO E DA IMPRENSA DE GENEBRA
Após 2 anos sem acontecer o grandioso Salão do livro de Genebra ele votta com a sua força em abril de 2022 e para comemorar a altura A Cultive está preparando uma programação rica e cheia de novidades. Queremos oferecer aos autores e aos artistas partcipantes um evento inesquecível. Cada autor será merecidamente homenageado e receberá prêmios segundo o seu empenho e participação em prol da literatura e da cultura.
Além de Genebra, a cultive está programando eventos em países da Europa que farão parte do Intercâmbio Interncional Cultive. Portugal e Itália farão parte desse projeto que a Cultive deve abrir com chave de ouro. Os autores já podem reservar seus lugares nesse evento feito para que a literatura seja colocada num pedestal de importância durante 15 dias.
A programação, assim como valores serão fixados e anunciados no final de novembro, visto que estão sendo providenciados e planificados os detalhes do evento. dar os detalhes.
Como sempre, a Cultive coloca-se à disposição para informar e auxiliar o autor a planificar a sua participação e a sua viagem.
Estaremos de palntão pelo zap. +41796163797 E-mail: cultivelitterature@gmail.com
Para comemorar o retorno do evento as Editions Cultive irá promover uma Antologia com tema livre para ser lançado no Salão de Genebra cuja participação para os clientes da Editora e os membros da Cultive será gratuita. Texto poesia ou prosa 1 página word A5, 25 linhas