Templários, vol.2

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VOLUME 2

A Génese de Portugal no Plano Peninsular e Europeu


Título Templários – de Milícia Cristã a Sociedade Secreta Vol. 2: A Génese de Portugal no Plano Peninsular e Europeu Autor Eduardo Amarante Coordenação e revisão Dulce Leal Abalada Revisão Isabel Nunes Grafismo, Paginação e Arte final Div'Almeida Atelier Gráfico www.divalmeida.com Ilustração e Técnica da capa Gabriela Marques da Costa Arte Digital / Assemblage Digital Templários ajudam D. Afonso Henriques a criar Portu-Cale - 2011 gabriela.marques.costa@gmail.com www.gabrielamarquescosta.wordpress.com www.facebook.com/home.php?#!/pages/Gabriela-Marques-da-Costa/134735599901538 +351 915960299 Impressão e Acabamento Espaço Gráfico, Lda. www.espacografico.pt Distribuição CESODILIVROS Grupo Coimbra Editora, SA comercial.cbr@cesodilivros.pt 1ª edição – Fevereiro 2011 ISBN 978-989-8447-07-4 Depósito Legal nº 321688/11 ©Apeiron Edições Reservados todos os direitos de reprodução, total ou parcial, por qualquer meio, seja mecânico, electrónico ou fotográfico sem a prévia autorização do editor. Projecto Apeiron, Lda. www.projectoapeiron.blogspot.com apeiron.edicoes@gmail.com Portimão - Algarve


Eduardo Amarante

VOLUME 2

A Génese de Portugal no Plano Peninsular e Europeu

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SIMBOLISMO DA ILUSTRAÇÃO IMAGEM TEMPLÁRIOS, 2 Gabriela Marques da Costa (a pintora) Nesta obra, um dos meus objectivos primordiais era dar uma sequência de cor e grafismo para que o observador pudesse identificar a imagem do segundo volume como sequência do primeiro. Assim continuei a utilizar o fundo da mesma cor, um bordeaux acastanhado e o céu estrelado em nuances de luz expandida, como que se fosse um foco divino a iluminar a personagem principal - Os Templários. A escolha da cor para o fundo representa o sólido das ideias vincadas, a segurança relativamente à sua Fé e ao mesmo tempo a calma dos seus princípios. As nuanPintura de Gabriela Marques da Costa Capa e Contracapa ces expandidas das estrelas são como que uma bússola guiando-os, pois os Templários foram sempre homens que palmilharam terras sem fim. As estrelas que aqui são apresentadas, apesar de estarem expandidas, representam a verdade, o espírito e a esperança. Estes três elementos, tal como outros nobres sentimentos, estavam sempre no objectivo destes homens. A Cruz Templária aqui patente já não é mais aquela Cruz vermelha simples, mas sim a Cruz vermelha redonda, pois nesta obra, para além de simbolizar o passar do tempo nesta Ordem significa também que estes evoluíram e burilaram o espírito benévolo. Um dos elementos que salta logo ao olhar do observador é o Cálice. O Graal era aquele que esta Ordem protegia e guardava. O Graal aparece aqui com toda a sua carga simbólica, tendo servido de cálice na última ceia

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imaculada, e principalmente, não podemos esquecer o místico sangue de Cristo que aqui foi derramado, como reservatório sacro. Contudo, para mim toda esta carga simbólica tão forte e importante teria de ter um pouco mais de orgulho patriótico, já que foram os “pobres soldados de Cristo do Templo de Salomão” a ajudar D. Afonso Henriques a fundar “Portu-cale”... Assim representei o selo de D. Afonso Henriques no Graal... pois há quem afirme que o nome do nosso País deve-se às palavras - Porto Graal - que para mim simbolizam o território escolhido pelos Templários para guardar o Santo Graal. Ora, na sequência desta explicação aparece em primeiro plano, do lado esquerdo, D. Afonso Henriques, o primeiro Rei de Portugal em atitude de bra-vura e combate contra os “infiéis muçulmanos”. Os Templários precedem-no na imagem, simbolizando o suporte a D. Afonso Henriques nas suas batalhas e conquistas, ajudando assim a formar este condado de Portu-cale. Estes aparecem em aglomerado, simbolizando um pequeno batalhão de guerra, guardando as Terras Nacionais. Atrás dos Templários encontra-se o Selo Templário, apenas com a sua borda circular, dando assim ao leitor uma sequência e identificação da imagem com a do volume 1. Do lado direito à frente, temos um outro primeiro plano em paralelo com o de D. Afonso Henriques, em que o Mosteiro de Alcobaça se faz salientar com a imagem de Bernardo de Claraval. A imagem deste monge cisterciense não está aqui por acaso, pois para além de ter sido o grande impulsionador para a existência da Ordem do Templo, representa também a sua vinda a Portugal pouco antes da sua morte, para lançar a primeira pedra deste Convento Cisterciense, tendo as terras sido doadas por D. Afonso Henriques. Isto simbolicamente está representado na imagem, pois tanto o Convento como D. Afonso Henriques estão lado a lado em primeiro plano. Falando da contracapa, esta segue também uma linha muito semelhante à contracapa do volume 1, aparecendo elementos novos simbolizando a evolução da Península Ibérica. Do lado esquerdo do Templário que detém a nova Cruz Templária no seu peito, encontra-se uma imagem ténue de monges cistercienses a cultivar as terras. Isto simboliza a agricultura implementada por estes nos seus Mosteiros e na população. Logo abaixo do Selo Templário, símbolo que os representava, encontra-se um conjunto de pequenas imagens em sequência representando a linha

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do tempo na Península Ibérica. Assim, da esquerda para a direita, tal qual a linha do tempo, temos representado o Jardim das Hespérides - local designado pela mitologia grega como sendo uma terra mítica e muito fértil. Em seguida, a imagem que nos aparece é referente às explorações feitas pelos Fenícios, Cartagineses e Gregos às nossas terras. A imagem de Viriato aparece logo de seguida como pacificador e lutador justo pela sua Lusitânia, em disputa com o Império Romano. A imagem do Senado de Roma bem como a de Júlio César e Viriato simbolizam a traição deste contra Viriato... Contudo séculos mais tarde os Templários ajudaram D. Afonso Henriques a conquistar Portu-cale, a nossa antiga Lusitânia que Viriato tanto ansiou...

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO

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1ª Parte – A LUSITÂNIA NO CONTEXTO IBÉRICO CAPÍTULO I VESTÍGIOS PRIMÁRIOS DA CULTURA PORTUGUESA 1. O contexto estratégico da Península pré e proto-histórica: Atlântida e Lusitânia 2. A cultura megalítica: antecedentes “históricos” da raça lusitana 2.1. Pequenos apontamentos sobre o lendário povo de Tartessos 3. O enigmático alfabeto ibérico

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CAPÍTULO II O PRIMEIRO MOSAICO DE POVOS DA PENÍNSULA OCIDENTAL a) Os lígures b) Os iberos c) Os fenícios d) Os gregos e) Os celtas f) Os cartagineses

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CAPÍTULO III PANORÂMICA GERAL DOS POVOS DA LUSITÂNIA PROTO-HISTÓRICA 1. Os grupos étnicos 2. Os caracteres etnogénicos 2.1. Os lusitanos

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CAPÍTULO IV O PODERIO DE ROMA E A RESISTÊNCIA DOS POVOS DO OCIDENTE PENINSULAR 1. A resistência lusitana 2. Viriato: dois homens, dois destinos 2.1. A face heróica da resistência lusitana 2.2. Testemunhos históricos da resistência heróica de Viriato 3. A resistência lusitana sobrevive com Sertório 4. Pequenas bolsas de resistência e o estratagema romano para a subjugação definitiva dos povos peninsulares CAPÍTULO V DA LUSITÂNIA PRÉ-ROMANA À PROVÍNCIA ROMANA DA LUSITÂNIA – SUA GRADUAL DESAGREGAÇÃO: a romanização 1. A nova delimitação geográfica da Lusitânia 2. Os limites da Lusitânia segundo fontes historiográficas 3. As principais estradas romanas na Hispânia e, em particular, as suas vias “secundárias” na Lusitânia 3.1. Características das vias romanas 4. O gradual e lento processo da romanização 4.1. O incremento económico da Hispânia 4.2. Administração e organização social e política do poder: das citânias e das villae aos municípios 5. A influência do cristianismo na Lusitânia 6. As consequências da desagregação do Império Romano

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2ª Parte – AS ORIGENS HISTÓRICAS DO REINO DE PORTUGAL CAPÍTULO I NOTAS INTRODUTÓRIAS SOBRE A HISTÓRIA DOS GODOS 1. Os ostrogodos e os visigodos. Relatos das suas origens

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2. A organização hierárquica 2.1. A linhagem real: a sucessão 2.2. Religião e Magia a) Mitos e símbolos primordiais. A água

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CAPÍTULO II A CONQUISTA DO IMPÉRIO ROMANO PELOS “BÁRBAROS”

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CAPÍTULO III A TEIA POLÍTICO-RELIGIOSA NO TRIUNFO DO CATOLICISMO EM ROMA 1. A conversão dos godos e o concílio de Niceia 1.1. Mitra e Jesus, o pólo da discórdia 1.2. Mitraísmo e Cristianismo, a “Religião Mistérica” e a “Religião Messiânica”

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CAPÍTULO IV A INVASÃO DOS POVOS BÁRBAROS NA PENÍNSULA IBÉRICA 1. Antecedentes históricos

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CAPÍTULO V OS REINOS VISIGÓTICO E SUÉVICO NO OCIDENTE. O CONTEXTO ESTRATÉGICO DA RELIGIÃO NA PENÍNSULA IBÉRICA 1. Prisciliano e Priscilianismo 1.1. Os concílios peninsulares. A heresia prisciliana e suas acusações 2. Notas introdutórias sobre o movimento monástico 3. Tomar, signo do passado, semente do futuro 4. A disputa religiosa e a estratégia política para a unificação da Península: arianismo versus catolicismo 5. A opção trágica do reino dos suevos na Península 6. Consequências da disputa político-militar na Península

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7. A cultura clássico-cristã na Hispânia 8. O actual território português na época dos dois reinos. Os primórdios do reino de Portucale CAPÍTULO VI DOS POVOS BÁRBAROS AO IMPÉRIO MUÇULMANO NA PENÍNSULA 1. Os muçulmanos e o Islão 2. A coexistência entre muçulmanos e cristãos CAPÍTULO VII A RECONQUISTA CRISTÃ. O REINO DAS ASTÚRIAS-OVIEDO 1. Pelágio, o nome da resistência 2. Afonso I, o político da organização do reino das Astúrias 3. Breves apontamentos sobre os sucessores de Afonso I e a gradual solidificação da monarquia cristã CAPÍTULO VIII O FEUDALISMO, NOVO “SISTEMA” DE ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-SOCIAL 1. O senhor feudal e a sua relação com a Igreja e os bispos 2. A Ordem de Cluny e a institucionalização do poder eclesiástico 3. Indícios da desagregação do poder feudal CAPÍTULO IX PORTUCALE, TERRA PORTUCALENSE, CONDADO PORTUCALENSE. OS PRIMÓRDIOS DA ANUNCIADA INDEPENDÊNCIA 1. Mumadona na origem da formação do Condado Portucalense. Fontes históricas 2. Os sucessores de Mumadona em terras portucalenses

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CAPÍTULO X FUNDAÇÃO E FORMAÇÃO DO CONDADO PORTUCALENSE 1. A situação política na Hispânia nos finais do século XI. A influência “francesa” 2. O monaquismo e a importância da Ordem de Cluny. Usos monásticos em Portucale e Coimbra no século XI 3. A linhagem do conde D. Henrique e de D. Raimundo. Relação com Hugo de Cluny Conclusão

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3ª Parte – A AFIRMAÇÃO DE PORTUGAL COMO NAÇÃO CAPÍTULO PRELIMINAR RESENHA HISTÓRICA SOBRE O MOSAICO DE POVOS EXISTENTES NA PENÍNSULA NO SÉCULO X 1. O ano 1000, ano de viragem

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CAPÍTULO I A POLÍTICA INDEPENDENTISTA DO CONDADO PORTUCALENSE 1. D. Raimundo e D. Henrique 2. D. Teresa e o destino do Condado. D. Afonso Henriques 3. A política dos barões portucalenses. D. Afonso Henriques e os primeiros passos para a formação de Portugal

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CAPÍTULO II O PROCESSO DA FORMAÇÃO E INDEPENDÊNCIA DE PORTUGAL 1. A emblemática batalha de Ourique. De milagre a primeiro mito de Portugal 2. Os primeiros passos para a independência 3. Os limites geográficos do reino e sua população

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4. A expansão do território. A conquista de Santarém e de Lisboa 5. A posição estratégica de Tomar e a Ordem do Templo. Gualdim Pais 6. A política colonizadora e administrativa de D. Afonso Henriques 7. A génese de Portugal 8. As Ordens militares em Portugal CAPÍTULO III O PAPEL DAS ORDENS MONÁSTICAS NA FORMAÇÃO DE PORTUGAL 1. O declínio da regra beneditina 2. Da reforma cisterciense à fundação da Ordem de Cister 3. A Ordem de Cister em Portugal 4. A política real e os cistercienses 4.1. A fundação do mosteiro de Alcobaça. S. Bernardo e D. Afonso Henriques 4.2. A carta de doação dos coutos de Alcobaça. O mosteiro e sua importância para o desenvolvimento e afirmação de um país 4.3. O povoamento do território português

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CAPÍTULO IV A ORDEM DO TEMPLO NA FUNDAÇÃO E AFIRMAÇÃO DE PORTUGAL 1. Origem da cavalaria em território português 2. Os inícios da Milícia de Cristo em terras portucalenses 3. As terras doadas pelos monarcas à Ordem do Templo 4. A arquitectura templária 5. O castelo de Tomar e a sua charola 5.1. Tomar e o “tesouro” dos templários Conclusão

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“Despontava triste e ameaçador o século VIII para a Cristandade. No Oriente a Pérsia, a Síria, o Egipto, a Índia eram presa dos aguerridos soldados de Maomé. (…) “Hugo des Payens, não tardou, senão antes, a espalhar-se pelos diversos reinos da Europa, principalmente naqueles, onde a necessidade de defesa dos inimigos da fé de Cristo, era imperiosa, como acontecia às nações peninsulares. Portugal, nascido por essa ocasião dum condado leonês e dum incessante conquistar aos sarracenos, no vacilar da meninice, precisava mais do que outra nação desses valorosos soldados para que na desmedida valentia das suas armas e na grandeza da fé ardente dos seus nobres peitos tivesse amparo para seus trémulos passos. Cristão e conquistado palmo a palmo aos muslins, obrigara os seus primeiros reis a convidarem essa milícia a ter aqui uma província. De certo, melhor campo para dar cumprimento ao seu voto – guerra aos infiéis e dilatação do nome de Cristo – não o encontravam melhor e nem mesmo em tão boas condições. Escusavam de ir por essas longínquas terras ao local onde Jesus padeceu, para ganharem o céu e seguirem à risca o preceito da época: cruzarem-se. Aqui, no belo solo peninsular, tinham formosas cidades, fortes castelos, povoações a convencer e dilatados terrenos que durante séculos tinham sido pisados pelos maometanos, inimigos da mesma crença, enfim todos os requisitos para que esta faixa de terra lhes servisse de teatro às suas façanhas gloriosas e vasto campo às provas da sua incontestável lealdade. Além desse vasto elemento de conquista, tinha a mais o guerreiro português o sagrado solo da terra, em que nasceu, a picar-lhe o amor da independência e a protecção dos seus a afiar-lhe o cortante gume das reluzentes espadas que pouco tempo tinham de descansar nas suas pendentes bainhas. (In Vieira Guimarães, Ordem de Cristo, Empreza Historia de Portugal, Lx.1901).

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Falar dos templários e relacioná-los com uma temática tão ancestral como aquela que proponho abordar, poderá parece um tanto ou quanto descabido de sentido. Porém, o conhecimento da História, tal como hoje a entendemos, é construído pelos sucessivos factos que compõem a estrutura orgânica de um povo, de uma nação. Neste contexto, optei por dividir este volume em três partes. • A primeira, sob o título “A Lusitânia no contexto Ibérico”, traz à luz do dia esses míticos povos e civilizações que, tendo já desaparecido nas brumas do tempo, constituíram, pela importância que tiveram, o fundamento do longo e demorado processo histórico que hoje vivemos. Falar, pois, da Atlântida, da Lusitânia ou mesmo da quase desconhecida Tartessos é recuar a uma idade muito antiga, quase perdida na memória dos homens – e os relatos que as referenciam são obscuros e, por isso, motivo de controvérsia. As fontes de autores clássicos referidas nesta obra são o principal suporte de análise, cuja temática versa sobre as raízes étnicas e geográficas do povo que originou o Portugal da actualidade. Podemos questionar até que ponto o povo lusitano, cujo passado remoto ascende às antigas civilizações desaparecidas, tem relação com o Portugal independente, descobridor e europeu. Aparentemente não tem nenhuma, se pensarmos como Alexandre Herculano, que afirma que o povo português não descende dos lusitanos; mas, se concordarmos com a maioria dos historiadores, que afirmam que somos os legítimos herdeiros dos antigos lusitanos, então compreenderemos melhor o nosso modus vivendi na aventura e na procura de um mundo de sonho, de um ideal por cumprir. Neste sentido, passado e futuro interligam-se para uma maior consciência da nossa própria identidade. Concordo com uma frase que, a este propósito, J. Leite de Vasconcelos escreveu: “Quanto mais intenso for o conhecimento da História, tanto mais firme será a consciência da nacionalidade”. Ou seja, o conhecimento de nós próprios, como povo, é proporcional ao conhecimento que temos das nossas origens. Assim, a consciência da nacionalidade é tanto mais forte quanto o nosso empenho em descobrir e conhecer as nossas raízes ancestrais;

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• A segunda, sob o nome “As Origens Históricas do Reino de Portugal”, constitui o corpo doutrinário deste volume, pois faz a ligação entre um passado de amálgama de povos sem uma identidade própria e um futuro desenhado de ambições definidas; ou seja, na roda da História, o passado e o futuro fecham o círculo da identidade de uma nação, cujo presente, ponto de charneira, é o garante das aspirações de união, das realizações de causas e sonhos para o nascimento de um futuro reino independente. Nestes termos, todos os factos históricos e fenómenos aí ocorridos nada mais são do que etapas ou períodos que conformam a história de um povo e de um país. Um dos temas centrais desta segunda parte é a abordagem do processo de pré-formação de Portugal. E abordá-lo no contexto da Ordem do Templo é, em primeiro lugar, o mesmo que falar, não apenas das raízes míticas, mas também das religiosas e sociopolíticas, que contribuíram para o desenvolvimento do que o português é nos dias de hoje: como pensa, como sonha e como age; e, em segundo lugar, o mesmo que estudar e analisar, para compreender, o caldo de ideias e o modus vivendi das suas gentes que, ao longo de milénios, evoluíram no sentido de propiciar as condições ideais para que reis, por um lado, e ordens monástico-militares, por outro, pudessem operar eficazmente no seu solo. Todo este processo tinha em vista a realização do mítico projecto de uma nova Idade de Ouro (obedecendo à Lei cósmica dos ciclos da Natureza que tão bem conheciam) encarnada, naquele momento histórico, pelos templários no plano global do mito do Quinto Império. Missão essa que correspondia, em termos práticos, à implantação de um império universal inspirado nos mais elevados valores espirituais do homem, modelo do homem novo renascido das cinzas da matéria – depois de purificado pelo poder do fogo – à semelhança do mito da Fénix. • Por fim, a terceira, sob o título “A Afirmação de Portugal como Nação”, transporta-nos para os primórdios da nacionalidade, numa época como que mítica (se ainda a podemos definir desse modo), em que a vontade, a audácia e o valor caminhavam lado a lado na luta pela conquista territorial com o objectivo autonómico, em primeiro plano, e independentista como pano de fundo; uma nação que, ao longo de vários séculos, teve diferentes denominações: começou por ser Lusitânia e fez-se, mais tarde, Portugal, graças a um punhado de

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barões portucalenses que nunca perderam de vista alcançar a tão sonhada independência. Nos seus intentos não estiveram sós. Vários foram os vectores que concorreram para a sua concretização. A conjuntura político-religiosa que se vivia na época contribuiu sobremaneira para que as gentes do rectângulo peninsular mais ocidental da Europa aproveitassem os bons ventos para daí tirar dividendos. Contudo, um outro aspecto não menos importante em todo este movimento autonómico e, numa fase posterior, independentista, foi a vinda de cruzados (alguns deles cavaleiros templários) para as terras hispânicas. Entre eles destaca-se D. Henrique que, correspondendo aos anseios dos barões portucalenses, intentou gradualmente separar-se da tutela de Leão e Castela. No entanto, foi seu filho, D. Afonso Henriques, o primeiro monarca português, que, com o apoio de cruzados ou, melhor dito, da Ordem do Templo, conseguiu levar a bom termo tal empresa. A Ordem Templária ainda tinha poucos anos de existência quando, já em 1126, D. Teresa (rainha regente, após a morte de seu marido, D. Henrique) lhe doou terras e castelos. Ou seja, menos de uma década após a sua fundação, encontramos cavaleiros templários em terras hispânicas a combater ao lado de D. Afonso Henriques e dos barões portucalenses contra o inimigo da fé cristã. À medida que conseguiam vitórias, mais território conquistavam e também mais poder a Ordem do Templo obtinha no contexto europeu, pois quer os Reis quer a Santa Sé, face a este quadro, não lhe regateavam benesses. Concluindo, a fundação de Portugal deveu-se muito à Ordem do Templo e, sobretudo, a S. Bernardo, seu mentor que, situado em terras de Claraval, não deixava de orientar política e espiritualmente os templários, que lutavam pela fé cristã. Desse modo, Portugal, emergindo como nação, tornou-se um objectivo primordial no quadro de uma nova Europa que pretendiam construir – longe das querelas que a minavam por dentro –, com gente valorosa que pudesse servir os intentos do monge cisterciense. Um país que, por sinal, estava na região mais ocidental da Europa (e olhava o oceano imenso), um mundo por desbravar e propício a contactos e intercâmbios com outras culturas. Era essa, no imediato, a missão a realizar no plano europeu e, nestes termos, veremos que Portugal não nasceu por obra do acaso.

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Rio Douro

LUSITANIA Rio Tejo

Rio Guadiana

1.ª Parte A LUSITÂNIA NO CONTEXTO IBÉRICO



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VESTÍGIOS PRIMÁRIOS DA CULTURA PORTUGUESA

Sob a designação de Península Ibérica entende-se o território situado aquém dos Pirenéus, no extremo ocidental da Europa. Este vasto território foi berço de inúmeras culturas desde, pelo menos, a proto-história. Este período caracteriza-se por situar-se entre a pré-história, da qual só temos notícia pelos inúmeros monumentos arqueológicos ou por referências e tradições clássicas de antigos escritores (muitas delas obscuras e escassas), e a época histórica. Apesar de não ser possível classificar cronologicamente o início de uma e o fim de outra (por esses limites cronológicos variarem de país para país e mesmo entre os povos peninsulares), podemos dizer que a idade proto-histórica termina com a entrada dos romanos na Península (por volta do século III a.C.) iniciando-se, assim, o período histórico caracterizado pelo conhecimento dos factos através das fontes escritas. 1. O contexto estratégico da Península pré e proto-histórica: Atlântida e Lusitânia Alguns investigadores, apoiados nas ciências actuais e nas fontes dos autores antigos, na sua maioria romanos, têm feito importantes estudos sobre os povos ibéricos. Não obstante, se bem que não abundem os dados sobre a Lusitânia, esta tem sido quase sempre tratada no contexto algo genérico de “povos de Espanha”. São raras ou inexistentes as obras que versam com alguma profundidade sobre a Lusitânia como fenómeno particular de entre os povos ibéricos. Pensamos que esta lacuna parece ser demasiado grave para não se tentar pôr um fim a ela. E isto por várias razões, das quais expomos aquelas que se revelam como sendo as mais significativas:

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