GLÓBULOS
PODRES REGULAMENTO PRECONCEITUOSO DO MINISTÉRIO DA SAÚDE PROÍBE GAYS DE DOAREM SANGUE, COLOCANDO EM RISCO A VIDA DE PACIENTES, QUE SOFREM COM A FALTA DE ESTOQUE NOS HEMOCENTROS.
JOÃO W NERY O primeiro transsexual homem do Brasil fala sobre a cirurgia de mudança de sexo, vida profissional e a luta contra o preconceito
PRAIA NUDISTA Casais aventureiros encontram mais um lugar para apimentar suas relações
expediente EDITOR Danilo Brasil
DIAGRAMAÇÃO Danilo Brasil DESENVOLVIMENTO WEB R & P Informática CONSULTORIA Fernando Correia COLABORADORES Beto Pessoa Denise Rios Denny Cândido Deivid Pereira Juliano da Hora COLUNISTAS Cleyton Feitosa Luciano Rundox
Thulio Falcão Wallace Gael
Para se tornar um colaborador da Revista Label, envie um e-mail para danilo@revistalabel.com. br informando como deseja atuar. ATENDIMENTO AO LEITOR Para enviar sugestões, crítica, elogios ou enviar algum texto para seção Espaço do Leitor, envie e-mail para cartas@ revistalabel.com.br ou ligue para (11) 8542-4304 ANÚNCIOS Para divulgar a sua marca na Revista Label, envie um e-mail para comercial@revistalabel. com.br contato@revistalabel.com.br
VOZ
Assim como a Revista Label cantou a bola, há dois meses, em sua 12ª edição, as atividades esportivas são cada vez mais praticadas por homossexuais. Em tempo de Olimpíada, o site OutSports.com divulgou uma lista curiosa com dos gays que passarão pelo palco de um dos maiores acontecimentos esportivos do planeta. No total, 20 atletas gays e lésbicas assumidos vão competir nos jogos olímpicos de Londres. Apenas três são homens: Matthew Mitcham, Carl Hester e Edward Gal. O número é muito superior, se comparado com Atenas (onze) e Pequim (dez).
Por Danilo Brasil
carta do editor danilo@revistalabel.com.br
JOGOS OLÍMPICOS
VOZ
espaço do leitor cartas@revistalabel.com.br
REALIDADE DE UM DESEJO
Por Suzana Martins Fazia frio fora de nós, no entanto, os nossos olhares aqueciam qualquer ventania atemporal. Os nossos olhares atentos faiscavam desejos que aos outros pareciam secretos. As nossas mãos transpiravam um calor sedutor. Atração. Desejos. Vontades. Sentimentos que ultrapassavam os nossos corpos que refletiam um voluptuoso querer. No início nossos lábios se uniram como fitas de seda num beijar doce e sereno. E foi ali, com as mesmas fitas de seda, que unimos nossos passos em caminhos partilhados entre certezas, vontades e direções... As nossas mãos entrelaçadas. A minha boca na tua. E, o perfume que passeava pelo teu corpo me atraia em certezas e desejos concêntricos. A distância entre nós que aumentava a cada nova estação, evaporou, sumiu entre as folhas daquele inverno. O teu respirar era suave enquanto me abraçavas, afastando o abismo que havia entre nós. Os contornos dos teus lábios no meu pescoço, enquanto me beijavas, eram esboços suaves como desenhos feitos a carvão. O meu vestido, aos poucos, ia sendo despido por ti enquanto tu
acariciavas os meus ombros. E aos poucos, eu ia sentindo o teu toque macio como a seda. A tua pele era como suaves pinceladas em aquarelas. O teu corpo repousava no meu escrevendo variadas mutações. Uma mudança de estação: inverno lá fora, e verão dentro de nós. Ardíamos num desejo sedento, carregado de todas as vontades... Estávamos diluídas com o encontro das nossas roupas entre passos e beijos dispostos pelo chão. Éramos reféns dos nossos corpos entrelaçados. Em nós sempre houve reflexos de pontas soltas e indícios de nós cegos. Tu nunca deixaste de apertar os fios e a rematar as pontas soltas de nós. Tu preferias ir soltando os laços lentamente num saber perfeito que eles se encontrariam. Fios desfiados e laços imperfeitos como notas desgarradas da melodia. Nós nos reencontraríamos. Entrelaçadas, nós nos amamos. Tu trouxeste até mim os laços com que um dia te presenteei, e com um único beijo nossos corpos se uniram em eterna paixão.
@euleiolabel
AS TUITADAS DE JULHO Pensando bem... @BemPensado
Se o mundo é dos espertos, então somos todos idiotas.
Danilo Gentili @DaniloGentili
Só pra saberem: Usei aquele molde pra fazer sabonete com meu pau e to usando esse sabonete pra lavar minha bunda.
Jessica Fekete @Jessica_Fekete
deviam colocar um aviso na embalagem do blush: use com moderação
Evandro S. @santoEvandro
Tem noites q parecem guerra: a gente dá tiro p todos os lados e aparece só canhão.
Sarah Oliveira @OliveiraSarah
Queria q todos estes quarentões homofóbicos tivessem uma geração de filhos gays, felizes, amados e bons profissionais #tománocuviu
Lucas Medeiros @OLucasCitou
Ser rico é chegar numa loja de 1,99 pagar com uma nota de 2 reais e falar “Fica com o troco.”!
aly @amigosarcastico
Aquele momento constrangedor em que você vê seus amigos numa rodinha conversando e rindo, daí você tenta se enturmar e todos perdem a graça.
POLITICANDO
MOVIMENTO LGBT: QUEM O COMPÕE? Algo que me intriga e me motiva a escrever essa coluna é a questão da identidade do sujeito militante e o que a define: algumas pessoas me perguntam “eu posso ser considerado um militante?” e lembro-me do início do meu curso de graduação. Naquele momento já me interessava pelo Movimento LGBT e inocentemente dizia que não era militante, mesmo pautando a temática em sala de aula e chamando a atenção dos colegas para as injustiças.
FEITOSA, Cleyton Cleyton é estudante de Pedagogia pela UFPE/ CAA - Campus Agreste e ativista LGBT. CLEYTON@revistalabel.com.br
grupo organizado vai apenas intensificar a luta, o que é bastante recomendável, por motivos inúmeros de fortalecimento pessoal, político, coletivo, acadêmico, etc.
Um problema que eu considero um tanto grave é definir quem é e quem não é ativista a partir do vínculo a ONGs de LGBTs, criando desta forma uma hierarquia entre o “oficial” e o “não-oficial”, o que serve apenas para enfraquecer a luta e afastar potenciais novos quadros.
O Movimento LGBT é bastante rico e complexo, sendo formado por uma diversidade de pessoas ligadas às universidades e faculdades, integrantes de ONGs e grupos organizados, partidos políticos, governistas, profissionais de diversas ordens, seja no campo da comunicação, do direito, da educação, da saúde, da assistência social e segurança pública, entre outros, para além da rede privada que também tem atuado no sentido de garantir a inclusão de LGBTs, sobretudo pelo seu potencial econômico e consumista.
É preciso compreender que qualquer ação no sentido de combater injustiças sociais sofridas pelo público LGBT já é em si um ato de militância e isso a maioria de nós já realiza, ou seja, somos muitos militantes, mudando apenas a forma de exercer a resistência. Estar vinculado a uma ONG ou
Ativista também é o nosso amigo e amiga ou parente (seja LGBT ou não) que se indigna com a violência, a negação e o sofrimento a que estamos expostos desde a (dura) luta pela saída do armário até o desejo de legalizar um ato civil ainda não reconhecido em lei. Somos todos e todas Movimento LGBT!
Palco da
MISTURA-FINA
divers
A tribo LGBT está em fervorosa. A capital do lazer e do entretenimento, São Paulo, oferece uma extensa oferta de atrações nacionais entre exposições, apresentações, peças e eventos, a cidade também está inserida no circuito internacional de shows e espetáculos. Para o segundo semestre do ano já estão confirmadas as presenças de Megadeth (5/9, Via Funchal), Scorpions (20 e 21/9, Credicard Hall), B.B. King (5 e 6/10, Via Funchal), Marillion (11/10, HSBC Brasil), Madonna (4 e 5/12, Estádio do Morumbi), entre outros. A última grande atração internacional da cidade aconteceu no dia 23 de junho, na Arena Anhembi. O Pop Music Festival contau com a participação das famosas Jennifer Lopez e Paris Hilton, além das apresentações de Kelly Clarkson, Michel Teló e a banda Cobra Starship. O show marcou o início da primeira turnê de Jennifer Lopez pelo Brasil.
a
sidade
MISTURA-FINA O presidente da São Paulo Turismo – SPTuris, Marcelo Rehder, lembra que os grandes shows geram riqueza para cidade, empregos e movimentam o setor de turismo. “A infinidade de opções de cultura, lazer e entretenimento promovem uma divulgação espontânea da cidade, ressaltando seu lado global, vanguardista e antenado”, afirma. Marcelo Rehder explica ainda que para continuar atraindo esses eventos é preciso continuar o trabalho pela busca da excelência de serviços. “São Paulo abriga, por exemplo, o maior centro de feiras e eventos da América do
Sul, o Anhembi Parque. Administrado pela SPTuris, tem sido um dos espaço mais procurados por organizadores por sua versatilidade nos espaços, que se adaptam ao tamanho e às necessidades de cada um”, completa. Perfil de frequentadores de shows O Observatório do Turismo, núcleo de pesquisas da SPTuris, realiza estudos em grandes shows musicais e eventos para traçar perfil do público, turistas e o quanto movimentam na cidade. O levantamento feito durante a apresentação da banda
Red Hot Chili Peppers, em setembro de 2011, constatou que o perfil predominante era de pessoas na faixa etária de 18 a 24 anos (74%), sendo que 57% eram do sexo masculino e quase a metade (49%) era formada por estudantes, com ensino médio (41%) e renda mensal de 3 a 5 salários mínimos (42%). Do total de 30 mil pessoas que estiveram presentes, segundo a organização do evento, quase 11 mil eram turistas – 100% deles brasileiros – que vieram, principalmente, de Minas Gerais, Santa
Catarina, Rio de Janeiro e Paraná. Eles ficaram em média 2,3 dias na cidade e gastaram R$ 448 no período. Outros três eventos no Anhembi também tiveram acompanhamento do Observatório: show da cantora Britney Spears, o Ultra Music Festival e a apresentação de David Guetta. As pesquisas completas estão disponíveis no site www.observatoriodoturismo.com. br.
FATO-ATIVO
TV
Miss Pirangi é personagem original da obra de Jorge Amado. No entanto, na primeira versão de “Gabriela” para a TV, dirigida por Walter George Durst, em 1975, Pirangi foi excluída do folhetim. Mas agora, na nova versão de Walcyr Carrasco, Miss Pirangi vem roubando a cena na boate Bataclan. Vivida pelo ator Gero Camilo, Pirangi é como se fosse uma peniqueira de Maria Machadão (Ivete Sangalo), por quem demonstra total fidelidade, mas sempre que pode faz fofoca da patroa. A noite ele ainda trabalha como barman na boate.
POLÍTICA
A senadora Marta Suplicy voltou a defender, no dia 3 de julho, a aprovação do Projeto de Lei da Câmara (PLC) 122/2006, que criminaliza a homofobia. A fala da senadora foi motivada pelo assassinato de Lucas Ribeiro Pimentel, de 15 anos. Assumidamente gay, o jovem foi torturado e morto em Volta Redonda (RJ). Segundo a polícia civil, que investiga o homicídio, há indicativos de motivação homofóbica. “Essa questão da violência contra os homossexuais mostra cada vez mais a necessidade de se votar nesta casa o projeto de combate à homofobia” afirmou a senadora, que citou outros casos recentes.
BABY, BABY, OOH
Justin Bieber gravou uma canção que fala sobre um romance gay para o seu primeiro álbum “My World”. De acordo com o “Female First”, quem contou a história foi o cantor e compositor Frank Ocean, que revelou a sua orientação sexual no início de Julho. Frank escreveu em seu site oficial que a canção “Bigger”, da estrela canadense, fala da separação entre dois homens. “Quatro anos atrás, eu conheci alguém. Eu tinha 19 anos e ele também”, contou. Justin Bieber, no entanto, não sabia o que significava o conteúdo da faixa.
BEIJO GAY
Na fase de preparação para voltar à TV com mais uma novela, que será o remake de Guerra dos Sexos, o autor Silvio de Abreu (69) comenta a polêmica que envolve o ‘beijo gay’ nos folhetins. Até hoje, nenhuma novela da Globo exibiu um beijo entre pessoas do mesmo sexo e Silvio acredita que isso é uma bobagem. “Acho que não vai mudar nada na sociedade. A novela tem contribuído muito para que o homossexualismo não seja mais visto da mesma maneira preconceituosa”, contou ele em entrevista para Sarah Oliveira (33) no programa Viva Voz, no GNT.
POPOZUDA
Considerada a nova queridinha do público LGBT, a funkeira Valesca Popozuda revelou um dos seus desejos mais secretos ao dizer que sente atração por mulheres. “Sempre tive curiosidade. Mas nunca rolou. Tenho vários sonhos sexuais, desejos. Esse está na fila dos que ainda não realizei. Quero saber como é beijar, como se relacionar com uma mulher. Tenho vontade, mas ainda não rolou porque não aconteceu. Falta o momento e a pessoa certa”, disse a bela em entrevista.
BIOGRAFIA
Adele, dona de músicas de sucesso e que falam de amor, parece de fato não ter tido muita sorte na vida íntima. Pelo menos é o que garante Marc Shapiro, autor de “Adele: The Biography” (“Adele: A Biografia”, em tradução livre), segundo informações do jornal “Huffpost”. Conforme afirmado pelo escritor no livro, o primeiro amor do grande nome da música a teria trocado pelo seu melhor amigo. “Uma coisa que sabemos é que foi um primeiro amor terrivelmente ruim. Adele negligenciou seu amor, bem como ele, já que ela sabia que ele era bissexual, mas mesmo assim, achou que daria certo. Quatro horas após ter suas emoções sobre a mesa, o rapaz fugiu com um dos amigos gays de Adele!” Em uma entrevista para a revista “Out” em 2011, Adele chegou a afirmar que escreveu as músicas “Hometown Glory” e “Daydreamer”, sobre um garoto bissexual que tinha se apaixonado, mas deu poucos detalhes sobre o relacionamento. Marc ainda afirma na biografia não autorizada, que o costume de beber da cantora se originou das decepções amorosas. “Adele bebia mais que o normal para aliviar o coração partido.”
FATO-ATIVO
O Facebook ganhou um novo ícone especial para casais gays que atualizarem o status para “casados” na timeline. O desenho mostra duas pessoas do mesmo sexo de mãos dadas. Antes só tinha a opção de sexos diferentes, noivo e noiva. A novidade foi reparada recentemente, quando o co-fundador da rede social, Chris Hughes, casou com o companheiro Sean Eldridge e adicionou a informação à timeline. O Facebook já havia implantado a opção de status “em uma união civil” para usuários americanos, a pedido dos próprios clientes. Além disso, fez uma parceria com a GLAAD (Gay and Lesbian Alliance Against Defamation) para evitar bullying contra homossexuais. No entanto, em março, a rede social se envolveu em polêmica, após excluir de seu sistema uma foto de dois homens se beijando.
Casal homoafetivo, os colaboradores da Revista Label, Deivid Pereira e Denny Cândido, já trocaram alianças e também figuram nas páginas da rede social com o novo ícone atualizado.
A seção Fato-Ativo é produzida por Deivid Pereira. Sugestão de fotos e notas: deivid@revistalabel.com.br
CAPA
OCRIMEDO
SANGUE
SUJO Beto Pessoa beto@revistalabel.com.br
O
“FOI UMA DAS SITUAÇÕES MAIS EMBARAÇOSAS E CONSTRANGEDORAS DE MINHA VIDA. NUNCA IMAGINEI PASSAR PELO QUE PASSEI, AINDA MAIS EM UM ÓRGÃO PÚBLICO DE SAÚDE. POSSO ESTAR SENDO RADICAL, MAS PERDI TODA VONTADE QUE TINHA DE DOAR SANGUE”. SITUAÇÕES COMO A DO PROFESSOR MARCOS ASSUNÇÃO FEITOSA, 49 ANOS, SÃO COMUNS DE ACONTECER QUANDO UM HOMOSSEXUAL PASSA PELA ENTREVISTA PARA DOAÇÃO DE SANGUE.
CAPA
O Regulamento Técnico de Procedimentos Hemoterápicos (Portaria 1.353/11), do Ministério da Saúde, deixa claro que a orientação sexual não pode ser critério para seleção de doadores de sangue. Na prática, entretanto, essa é uma realidade que não sai do papel, sendo fácil encontrar homossexuais impedidos de realizar a doação e hemocentros com profissionais despreparados e desinformados para fazer tal seleção. Um fato que contribui para essa coibição é a legislação confusa e, certas vezes, paradoxa, vigente para a seleção dos doadores. Isso porque não existe uma determinação que proíbe o homossexual de doar sangue, entretanto homens que mantiveram relações sexuais com outros homens, em um
período de 12 meses, é considerado inapto para realizar a doação. A assessoria de comunicação do Ministério da Saúde tentou explicar a confusão. “A inaptidão (e, não, proibição) para homens que fazem sexo com homens (HSH) é fundamentada em estudos epidemiológicos que apontam que a epidemia de HIV/Aids ainda é concentrada neste grupo. Isso é uma recomendação da Organização Mundial da Saúde”, declarou em nota a assessoria. Mas, afinal de contas, como ser homossexual e não ter como parceiro o indivíduo do mesmo sexo? Essa é uma indagação comum entre gays que tiveram a doação coibida. “É inconcebível a ideia de que sou
gay e não posso ter uma relação sexual homo, pois sou considerado inapto. Mesmo declarando ter feito sexo com preservativo e que tenho o mesmo parceiro há 17 anos não foi suficiente para me deixarem fazer a doação”, confidenciou o professor Marcos Feitosa. As consequências dessa proibição podem ser mais sérias do que se imagina, conforme explicou o psicólogo Gleidson Marques. “Isso é homofobia velada, uma violência simbólica, que pode causar diversos problemas emocionais. A pessoa pode desenvolver ansiedade, medo, angústia. Algumas pessoas podem ficar em constante preocupação, se perguntando a todo momento se está sendo avaliada pela sociedade, causando uma insegurança
incessante. Em casos mais graves a pessoa pode chegar a desenvolver uma fobia social, com medo de sair na rua, achando que está sendo constantemente avaliado pela sociedade”, disse. O professor Marcos Feitosa reiterou o processo traumático explicado pelo psicólogo. “Nunca havia doado sangue, mas sempre tive vontade. Achava que a doação seria um ato de bondade com o próximo, ajudar o outro sem interesse ou segundas intenções. Ajudar por ajudar. Mas depois de todo esse processo de entrevista, de especulação e não ser aprovado por simplesmente ter uma sexualidade diferente me deixou desmotivado. Não quero mais doar, infelizmente a intolerância venceu novamente”, lamentou o professor.
CAPA
A problemática é ainda mais acentuada quando se coloca em questão que apenas 2% da população brasileira – segundo o último Censo Demográfico o país já possui mais 190 milhões de habitantes – tem o hábito de doar sangue. O número ideal, segundo informações do Ministério da Saúde, seria de, no mínimo, 3% da população, atingindo os parâmetros da Organização Mundial de Saúde (OMS).
público. “Até consegui fazer a doação, mas a entrevista foi muito embaraçosa. Não sei se foi pelo meu jeito ou algo que eu disse, mas era perceptível o preconceito na hora de entrevista. Infelizmente, os gays e as lésbicas, sobretudo os que ‘dão pinta’, vão se acostumando com o preconceito diário, mas passar por esses constrangimentos em um local público, que funciona graças aos meus impostos e, pior, quando estou atrás de fazer o bem ao próximo, é absurdo”, exclamou a gerente bancária Maria Aparecida Feitosa, 47 anos.
E não são apenas os homens que sofrem com o preconceito, as mulheres homossexuais também costumam ser alvo A gerente explicou como foi todo seu do constrangimento e da falta de preparo processo para fazer a doação. “Quando para lidar com o homossexual no setor
“Parecia uma entrevista de emprego, como se eu estivesse ali por estar precisando daquilo, quando, na verdade, quem estava precisando de meu sangue era o hemocentro”
você vai doar pela primeira vez costuma chegar nervosa, com medo da furada, o que é comum. Quando cheguei para ser entrevistada toda a ansiedade e medo que eu tava da furada foi embora, eu só queria sair logo daquela entrevista e dos olhares constrangedores da entrevistadora Parecia uma entrevista de emprego, como se eu estivesse ali por estar precisando daquilo, quando, na verdade, quem estava precisando de meu sangue era o hemocentro”, lembrou Maria Aparecida. Para o professor Marcos Feitosa, os problemas enfrentados para doação de sangue são apenas pequenos tijolos
no imenso muro que é colocado no dia a dia dos homossexuais brasileiros. “É lamentável pensar que moramos em um país que é carente de educação, mas que não emprega professores travestis; um país com abrigos sociais lotados de crianças sem pais, mas que coloca obstáculos para um casal lésbico dar amor e carinho a essas crianças; um país onde o meu sangue não pode ser doado para outra pessoa simplesmente por ser um sangue ‘cor-de-rosa’. Continuamos seguindo nossas vidas, lamentando, mas seguindo”, concluiu.
Perfil do doador Aptos
• Aspecto saudável e declaração de bem estar geral • Idade entre 18 anos completos e 67 anos, 11 meses e 29 dias • Candidatos com idade de 16 e 17 anos, com o consentimento formal do responsável legal • Peso mínimo de 50 kg. Candidatos com peso abaixo de 50 Kg podem ser aceitos após avaliação médica
Inaptos
• Heterossexuais que tenham feito sexo com mais de um parceiro nos últimos 12 meses • Homem que tenha tido relação sexual com outro homem nos últimos 12 meses • Dependentes químicos, portadores de HIV e Hepatite
CONOTAÇÕES SEXUAIS
DENOTAÇÃO OU CONOTAÇÃO?
FALCÃO, Thulio Escorpiano e nerd. Perdeu os óculos pra Iemanjá, mas continua adorando história, jornalismo, séries de TV e vídeo games. THULIO@revistalabel.com.br
Oha, se tem homem que posso considerar homem é aquele que aceita elogio. Não qualquer elogio, um sexual, digo. Quem não gosta de escutar que transa bem? Entenda, não estamos falando de chegar na hora do ato e perguntar “E aí, tá bom?”, “Nossa, tou fazendo bem?”. O pior é depois que todos gozam, alguém solta um “Tu gostou? Achei ótimo. Você foi massa”. Tiji. A vontade é de perguntar quão insegura a pessoa é, sério mesmo. Escrevo esse lance do elogio porque passei por uma situação que nem tento mais entender. Elogiei o sexo, li da pessoa que ela era de denotações, e não de conotações, e ploft. Vácuo, silêncio, ZzZzZz. Acho que o significado dessas palavras andam perdidos por aí. Então vamos lá. Conotação, de acordo com o dicionário, sentido mais geral que se pode atribuir a um termo abstrato, além da sua significação própria. Modernamente, se diz também intensão. Já denotação, designação de uma coisa por um sinal que a representa. Agora pergunto eu. Quem leva a culpa se as palavras são interpretadas como ‘ideias de para sempre’ ou ‘amor eterno’? Eu gosto do sexo conotativo. Aquele que você faz todo o charme, olhar, sarro, vai tirando a roupa aos poucos, atiçando o homem ou mulher, vai tocando cada parte do corpo com os lábios,
ponta dos dedos, até toda a ação desenrolar, todos chegarem ao ápice. Depois vem o banho, talvez uma parte 2? Alguns vão direto para a cama, conversam um pouco sobre diversos temas, se cobrem, dormem por alguns minutos de conchinha e cada um pro seu canto. Lógico, há quem prefira o sexo mais denotativo. Foi bom, valeu, adeus. A gente tira roupa, arma uma parede branca com pudores, fode, goza e depois volta para casa. A gente cita esses exemplos bem clássicos como bate papo Uol, saunas gay da vida, banheiro público, integração de ônibus (conheço histórias, hein, das tensas, por sinal), e tantos outros meios que usamos para encontrar alguém que nos dê um momento de prazer instantâneo e que, dependendo da tamanha ‘putice’ da pessoa, o peso na consciência não pese, nem caia. Então, não sei ao certo dizer quando deixamos, nós homens, de aceitar elogios, ou achar que eles não são algo bom. Ao menos, das mulheres que conheço, muitas disseram gostar de escutar do parceiro ou parceira que o sexo é ótimo. Talvez eu viva um carma mesmo de solidão eterna (drama). Mas nunca neguei que gosto de felicidades momentâneas e se alguém te diz que o sexo é muito bom, talvez ela queira transar de novo, não? Você não? Tou errado?
PAY-PER-VIEW
JOテグ
O TRANSHOMEM VALENTテグ
Fotos: Denise Rios O carioca João W. Nery é escritor, nasceu e viveu até os 27 anos com um corpo de anatomia feminina. Formouse em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ em 1973 e lecionou em três universidades no estado ,além de ter mantido um consultório de psicoterapia. Aos 37 anos assumiu a paternidade de seu filho não biológico com a sua segunda mulher. Conheça a vida do primeiro transhomem do Brasil.
rg NOME COMPLETO João W. Nery LOCAL DE NASCIMENTO Rio de Janeiro - RJ DATA DE NASCIMENTO 12/02/1950
A partir de que momento você começou a perceber que era diferente das outras meninas? Desde uns 4 anos de idade quando eu comecei a me entender por gente. Foi muito confuso porque eu achava que o mundo estava trocado e eu estava certo. Hoje, vejo que eu estava certo e o mundo é que estava trocado mesmo, baseado nessa sociedade machista, patriarcal e heterossexista. A forma que eu encontrei para solucionar esse problema foi uma fantasia que eu crio na minha infância chamada Zé e Zeca. Na brincadeira, eu e minha irmã éramos dois homens, viúvos, sem mulheres, as bonecas eram nossos filhos,
PAY-PER-VIEW
os nossos pais eram os patrões e a escola era meu escritório. Com isso, eu passei a viver um mundo masculino. Com que idade você decidiu fazer a cirurgia? Eu me opero aos 27 anos, mas desde os 22, ainda na década de 70, eu passo a viver uma dupla identidade social. Eu era um homem para os desconhecidos, no prédio onde eu morava com a minha namorada, por exemplo, e era uma mulher, do tipo andrógino, no trabalho e em casa. A cirurgia foi apenas uma forma mais fácil de adaptar meu corpo à realidade.
“
A CIRURGIA FOI APENAS UMA FORMA MAIS
FÁCIL DE ADAPTAR MEU CORPO À REALIDADE
Qual foi a reação da sua família ao saber que você tinha esse transtorno de identidade de gênero? Eles aceitaram sua nova condição? Quando eu resolvi me operar, a cirurgia não era nem aceita, ninguém falava nisso, a transexualidade não existia e havia todo o receio da minha família de eu me arrepender da cirurgia. Meu pai ficou um tempo sem falar comigo, mas a minha família é muito unida, meus pais são pessoas esclarecidas e hoje nós nos damos muito bem. Você sofreu algum tipo de represália da ditadura militar, por causa da transexualidade? Aos 14 anos acontece o Golpe Militar, em 1964, meu pai é exilado no Uruguai e minha irmã também foi presa. Diante de tanta repressão, eu militava também, cheguei a fazer parte do Partido Comunista, fui enquadrado no AI-5, que punia os alunos e os deixavam cinco anos sem puderem estudar e os professores três anos sem puderem lecionar. O advogado Modesto da Silveira me defendeu e conseguiu me inocentar, sem cobrar um tostão de mim. Não era por causa da transexualidade, mas todo mundo naquela época sofria repressão. Quantas cirurgias você já fez por causa da transexualidade? A minha primeira cirurgia foi aos seis anos, de amígdalas. Das sete restantes, 4 foram relacionadas à questão da transexualidade e as outras 3 foram por problemas de
PAY-PER-VIEW artrose depois dos 60 anos, que eu não sei se foi decorrente dos hormônios. Eu passei a tomar hormônios há 35 anos, quando eu me operei. Eu não podia tomar hormônio antes porque eu não podia ser uma professora barbada. A partir de então, eu tomo até hoje e não posso parar. Porém, o uso de hormônios pode causar até câncer, então eu sou uma cobaia da ciência e não sei se eles estão acarretando esses problemas de artrose em mim. Apesar dos especialistas não acharem relação, há uma desconfiança. Você queria que seu filho fosse gay? Eu quero que o meu filho seja feliz. A orientação sexual dele cabe a ele. Evidente que, ser gay num mundo
hétero, já é um ato de protesto. Portanto, ele sofreria um pouco mais. Porém, eu teria o maior orgulho dele ser gay, como tenho dele ser hétero, como teria se ele fosse trans. Recentemente, você foi premiado pela Associação do Orgulho LGBT de São Paulo. O que levou essa conquista? O prêmio da parada gay foi feito através de uma eleição interna e eu acredito que ganhei porque o meu livro “Viagem Solitária” transcende a questão da transexualidade e fala sobre cidadania, direitos humanos, contém fotos e muitas informações. O livro teve um alcance inesperado para mim, inclusive dizem que o nome dele deveria mudar para “Viagem
“
O LIVR
ALCANC
PARA M
DIZEM
DELE DE
PAR
SO
“
hoje, alguns juízes são homofóbicos. Com minha nova identidade, eu perdi todo o currículo escolar e virei um Quais são suas ocupações analfabeto. Tive que fazer supletivo, profissionais na atualidade? mas me recusei a fazer uma nova Eu me formei em Psicologia, depois faculdade, pois eu achei um absurdo fiz o curso de Sexologia, depois começar da estaca zero, depois de comecei um mestrado em Educação. tudo que tinha feito. Depois disso, fui Eu dava aula em três universidades no Rio de Janeiro quando eu comecei exercer várias profissões, que não o meu processo no Hospital Moncorvo exigem currículo, como pedreiro, pintor, vendedor, massagista e chofer Filho, que tinha uma equipe pioneira que estudava sobre a transexualidade. de táxi. Depois virei escritor e hoje eu Pedi demissão das universidades, vivo dando palestras, sou convidado fechei meu consultório e fui me para participar de congressos e tornei a estudar sexualidade, voltada operar. Nessa época, depois das cirurgias, eu tirei uma nova carteira de para essas questões dos gêneros e, sobretudo, continuo minha luta pela identidade por conta própria, porque despatologização da transexualidade, nenhum juiz me daria mudança de que hoje ainda é vista como uma identidade numa época que ninguém doença mental. sabia o que era transexualidade. Até Solidária”.
VRO TEVE UM
CE INESPERADO
MIM, INCLUSIVE
M QUE O NOME
EVERIA MUDAR
RA “VIAGEM
OLIDÁRIA”.
HEY MR. DJ
A VEZ DA MÚSICA DO PARÁ
Estudante de Letras e DJ GAEL@revistalabel.com.br
TOP10
UNO, Gael
Do Tecno-Brega ao Carimbó, a música Paraense tem recebido cada vez mais destaque no cenário musical brasileiro. O que é muito justo já que o samba, o funk e o forró, por exemplo, já trilharam o mesmo caminho. Muito dos ritmos vindos do Pará, tem recebido um selo Cult, e passaram ao longo dos anos por um aprimoramento musical e artístico que vai desde a inclusão de elementos eletrônicos até as superproduções encontradas nas Festas das Aparelhagens. Gaby Amarantos está aí trazendo o fruto dessa inovação e colhendo da mesma forma o sucesso. A cantora paraense depois que assinou contrato com a gravadora Som Livre ganhou carta branca para circular entre vários
programas de TV, sendo tema de novela e trazendo credibilidade ao som que produz que é o Tecno-Brega. Na mesma trilha vai o tão popular e tradicional Carimbó. Uma voz que veio da Guiana Francesa tem dado o tom de seus acordes. Lia Sophia que com dois anos de idade veio para o Brasil, tem feito muito sucesso com o estilo. A música ‘Ai Menina’, é uma das mais executadas no país e também é tema de um folhetim global. É com essa riqueza musical que vamos nos redescobrindo e nos reconhecendo como nação. Isso é extremamente saudável, pois ritmos musicais que a principio são regionais ganham espaço em um país tão diverso culturalmente como o Brasil.
1. Ai Menina – Lia Sophia 2. Gaby Amarantos – Xirley 3. Destiny’s Child – Is She The Reason 4. Loving On U – Teairra Marie 5. Blow Me – P!nk 6. Timebomb – Kylie Minogue 7. Primadonna – Marina and The Diamonds 8. Call me Maybe – Carly Rae Jepsen 9. Daddy – Emely Sandé 10. I’m the Best – 2NE1
Praias
PONTO-A-PONTO
natur
Denny Cândido denny@revistalabel.com.br
Calor, emoção, paquera e beleza. Tudo isso acrescido à uma bela paisagem do mar e o brilho quente do sol são algumas das características das belas praias. Entretanto, há quem prefira o agito das praias mais populares, outras já optam aproveitar as praias isoladas e, de uma forma mais confortável, deixam o protocolo de lado para curtir da forma mais natural possível: sem roupa. As “restritas” para o nudismo, ao contrário do que o conhecimento popular imagine, também são acompanhadas por muita imaginação e desejo, além de ser bastante propício para deixar a vergonha do lado e ser feliz sem diferenças. Para alguns, pode ser o local ideal para apimentar o relacionamento, em especial, com a prática sexual. Pelo clima ser mais liberal, dá
até para babar naquele grupo de amigos conversando, paquerar e aproveitar para admirar todo mundo sem roupas de banho, tudo isso sem se sentir pervertido ou um tarado, com muito cuidado e com uma ajudinha do psicológico para não se animar mais do que deve. Atualmente, existem no Brasil mais de 250 mil adeptos do naturismo, de acordo com a Federação Naturista Brasileira, mas a quantidade de brasileiros que tiram as roupas a beira-mar ultrapassa um milhão. Nas praias oficiais, é indispensável respeitar algumas regras: homens desacompanhados, por exemplo, em maioria das vezes são restritos às áreas reservadas ou simplesmente proibidos de entrar.
ristas
PONTO-A-PONTO
Uma das mais conhecidas e famosas está localizada no estado da Paraíba. A Praia de Tambaba é conhecida como o paraíso dos naturistas, possui falésias de 20 metros de altura, um mar calmo e piscinas naturais com águas mornas. Dividida em três espaços, recebe o naturismo desde muitas décadas, sendo assim, a primeira praia de nudismo no Nordeste. Na sua primeira área, reserva-se a presença exclusiva para família e casais; na outra, os homens desacompanhados são bem-vindos, essa é a área que os gays mais frequentam, sendo uma boa ideia para aqueles que estão a fim de curtir uma paquera; na terceira parte é possível até ficar com roupa banho. Com 500 metros de extensão, areias finas e águas límpidas a Praia do Pinho, é uma ótima dica para a turma LGBT curtir o nudismo. Localizada em Santa Catarina, é considerada a primeira praia de naturismo oficial do Brasil e a quinta mais bela do mundo. A praia é bastante procurada por homens de todos os tipos, pelo lugar se esconder com costões, montanhas e uma vegetação quase intocada, o que garante total privacidade, além de possuir diversas trilhas, onde muitos ficam “brincando” em dupla ou grupal, todos sem roupas, curtindo a natureza e a liberdade. Nas praias de nudismo, o cuidado deve ser em dobro. Por estar sem roupa, o contato direto com o sol é maior. Portanto, a dica é não se esquecer de usar o filtro solar. Na hora de deixar ‘o grande amigo’ exposto ao sol, cuidado que ele pode ficar mais queimado do que um pedaço de carvão.
Natu
é um m naturez nudez s o auto r ambien mundo
urismo...
modo de vida em harmonia com a za, caracterizado pela prática da social, que tem por intenção encorajar respeito, o cuidado com o meio nte e o respeito pelo próximo. No o naturista tudo realmente é natural.
MISTURA-FINA
Eu sempre quis saber como eu me sentiria estando frente a frente com você. Apesar de toda a distância e tempo percorridos, reconheço teu corpo como uma das estradas que tomei como minha rota. Você foi uma visita que eu jurei nunca mais repetir, mas acontece que as agências de viagens que são as minhas memórias insistem em nos oferecer pacotes tentadores aliados à receptividade do local. Já perdi a conta de quantas cidades acenaram para antigos turistas, convidando-os a conhecer as novas fachadas, os novos sabores, as novas atrações da antiga área de lazer. Te visitar depois de tanto tempo, depois da frustração estancada do péssimo tratamento dispensado na última viagem, me
desperta muito mais a vontade de pagar pra ver do que a curiosidade inofensiva daqueles que desenvolveram amnésia com o tempo. Há uma diferença muito grande de saudade e desejo. Não me leve a mal, mas entre nós o que há é desejo. Aliás, do alto das coisas que aprendi, vejo que isto foi o elo mais forte da nossa história. E por isso mesmo, tão fraco. Foi o desejo que nos chamou a atenção um do outro. Ambos concordamos que éramos muito mais eficientes sem roupa do que vestidos. E agora aqui estamos, nos vestindo da pele um do outro. A que horas você tem de estar em casa, mesmo? Difícil saber do tempo, enquanto me perco dentro de você. Só sei que estou no lugar certo, na hora
VINGANCA ´ Juliano da Hora julianomhora@gmail.com
certa. Na boca certa. Na nuca certa. Nos pelos certos. Você não se importa de se atrasar um pouco, né? Claro que não. Não, enquanto eu te prendo pelos pulsos contra a parede. E você gosta. Você não se importa com aquele botão que caiu da sua camisa, não é? Guarde ele como lembrança deste desvio de percurso que você tomou. Aliás, eu estou disposto a fazer com que você volte pra casa com mais souvenires, você quer? Teu quadril me disse que sim. E quadris não mentem. Nem os pelos. Eu estou vendo que eles despertam quando encontram a minha língua. Não fala nada. Não há necessidade de palavras, quando a tua respiração ofegante me soa como a mais sacana das poesias.
Tá sentindo o que ela causa em mim, não está? Não é gostoso? Eu acho que o seu telefone tocou. Pena que seus lábios estejam ocupados, não dá pra falar agora. Quer dizer, não dá pra te entender com a boca cheia. Mas meu corpo entende. E gosta. Falando nisso, eu quero te dar os parabéns. Não, não precisa me agradecer, continua o que você tá fazendo. Eu só queria te comparar com aquela frase clichê do vinho que melhora com o passar do tempo. No teu caso, aqueles que te sorveram só te fizeram bem. Não fosse por eles, você não teria aprendido tantas coisas novas pra me satisfazer.
MISTURA-FINA
Cala a boca. Você gosta quando eu ponho a mão nos teus lábios e te impeço de falar. Há quanto tempo não te deixam marcas de mãos causadas pela ânsia do toque sem contenção? Há quanto tempo não te fazem fechar os olhos e perder o fôlego, misturando dor e prazer? Há quanto tempo não elevam teus sentidos a ponto de entrar em êxtase ao sentir o suor alheio pingando e escorrendo pelas tuas costas, rumo ao abrigo no qual adoro me esconder? Assim que eu gosto. Safado. “Safado”. Palavra comum, maliciosa, rasteira, quando pronunciada de forma obscena no momento em que te desmontam. Eu, safado? Olha só quem fala. Eu não devo nada a ninguém. Não sou eu quem deixa o telefone tocar. Só estou obedecendo a mim mesmo, matando a minha fome. E o teu desejo contido. Pode agradecer. Tá rindo, né? Confessa que você sentia falta
do meu sarcasmo. E do meu beijo cafajeste, você sentia saudades? Vai sentir falta deste, agora? Toma, veste tua roupa. Tem certeza de que não quer dividir o chuveiro comigo? Melhor, assim você segue com o meu cheiro. Nem tem medo do perigo, não é mesmo? Como é esta sensação de me ter como seu cúmplice secreto nesta transgressão? Gostoso, hein? Mas tudo bem pra você? Quer dizer, se formos pensar que isto não significa nada mais sério, então não há motivo para ninguém se sentir enganado, certo? Que bom. Então, antes que eu me esqueça, aproveita pra levar contigo o outro celular do teu namorado. Ele esqueceu aqui ontem. Diz que eu mandei um beijo e dê meus parabéns. Você conseguiu reproduzir muita coisa que ele fez a noite passada comigo.
SEM EQUÊ
ATIVO VS PASSIVO
MACEDO, Lindsay Travesti, reside na cidade do Recife e tem muitas histórias para contar LINDSAY@revistalabel.com.br
Olá, meus amores! Estou um poço de sedução como sempre. Quase que não consigo escrever minha coluna esse mês porque minha vida está muito corrida, corri duas vezes da polícia e uma de um ladrão em menos de 15 dias. Lógico que, entre uma tarefa e outra, parei pra presentear vocês com minha presença. Tanto que estou fazendo os cantinhos e escrevendo ao mesmo tempo. Começo com um questionamento emblemático: O que danado é versátil, héin? Saudades dos anos 80, tudo era muito bem definido, era ativo ou passivo. Ser versátil era fazer de quatro, de lado, frango assado, bambolê (pra quem não sabe é aquela que você senta e fica só rebolando). Essas modernidades sexuais me tiram do sério. Ser só ativo parece que virou lenda e ser só passivo se tornou vergonhoso. O lance agora é ser versátil, mesmo que seja só pra não ficar de fora da tendência. Na época das pegações lúdicas, botar a mão na bunda do boy era pedir pra levar um murro. Não que eu não botasse, adoro um sexo hard. Quando eu estava recém chegada da Europa, encontrei um boy escândalo, machão, voz grossa, daquele que encontra a bicha na rua e muda de calçada, ou seja, meu tipo. Paguei a cerveja e o cigarro, que é de praxe e fomos para o motel. Bastou bater a porta do quarto pro boy gritar: “Vai,
Esta coluna é escrita por Luciano Rundrox
me faz de cachorra, faz gostoso comigo”. Dei duas tapas na cara e disse: “Me respeite que a mulher daqui sou eu”. Ah, poupeme, na vida profissional até vai, mas na minha vida privada, particular, pessoal e intransferível, é demais. Isso porque ainda não falei das variações. Tem ativo-versátil, passivo-versátil, participativo, total flex. Cansada dos modismos, nunca no Brasil e na Europa me vejo dando pra alguém que geme mais fino que eu. Que coisa mais broxante, uma bicha com voz de pato dizendo “Tá gostoso, Lindsay?”. Sou moderna, mas sou a moda antiga: ado-a-ado , travesti no seu quadrado. Se continuar desse jeito eu vou me “assexualizar”, palavras do oráculo da pegação. Tive até pesadelo: Eu nua correndo no centro da cidade com um monte de cafuçu passivão atrás de mim. Fico de pentelhos arrepiados só de lembrar, energia de sapatão tem poder! Vou tomar um passe em Irmã Marlene porque isso só pode ser um sinal do fim dos tempos. Aff, depois de falar sobre isso, fiquei com as carnes trêmulas, prozac im my life now! Beijo para as passivonas, para os ativões e para as coladoras de velcro. Agora, se você for versátil e vier falar comigo, rodolhe a mão nas fuças pra deixar esse vício safado... Fui.
JANELA ABERTA
CDs MAMA ÁFRICA Vivacidade que Chico reproduz com naturalidade em Aos Vivos Agora, registro resultante da captação de três shows feitos em 2, 3 e 4 de setembro de 2011 no Teatro Fecap, na mesma São Paulo (SP) que pariu Aos Vivos. A voz continua com a mesma potência. Basta comparar o registro de 1994 do aboio Béradêro com a gravação de 2012 - também a capella - na abertura do show.
SAMBA Um ano após cair na estrada com a turnê Micróbio Vivo, em que só interpreta sambas, agora chegou a hora de Adriana Calcanhotto mostrar em CD e DVD o resultado dessa empreitada. Para não apenas cantar, a solução foi inovar. No palco, Adriana Calcanhotto faz barulhos com xícaras, caixas de fósforos e mpc (espécie de sintetizador eletrônico).
BAHIA Enquanto o industrializado axé music desce ladeira, Moraes Moreira - cuja obra solo é uma das bases da carnavalizante música da Bahia - eleva sua cotação no mercado fonográfico com a inspirada safra autoral de A Revolta dos Ritmos. O primeiro álbum de inéditas do compositor baiano desde De Repente (2005) é pautado pela diversidade rítmica - conceito sinalizado já na arte gráfica do CD ora posto nas lojas pela gravadora Biscoito Fino.
LIVROS REGRESSO Há 30 anos Fausto oliveira, parapsicólogo e pesquisador das Ciências Mentais trabalha com regressão de memória ajudando as pessoas a serem felizes. Este livro é fruto da experiência e conhecimento dos principais problemas envolvendo o homossexualismo. Com resultados terapêuticos satisfatórios e conseguindo ajudar emocionalmente seus clientes, resolveu escrever esta obra de autoajuda para todos que vivem suas vidas erguendo a bandeira do GLBTS. O objetivo é transmitir o conhecimento da mecânica da mente subconsciente em relação à vida conjugal, sentimental e sexual de cada um.
QUAL É O NOSSO CRIME? Este livro, redigido em linguagem objetiva e acessível, mostra como os tribunais do país têm analisado e julgado questões relacionadas à homoafetividade. São casos reais sobre união estável, partilha de bens na separação e herança, além de adoção, inseminação artificial e registro de crianças em nome de casais formados por duas pessoas do mesmo sexo.
COMPORTAMENTO Escrito por um psicólogo gay, este guia serve de auxílio para quem se sente oprimido em seu ambiente de trabalho, tem dificuldade para se assumir perante a família ou vem tendo uma série de relacionamentos superficiais ou infelizes. Prático e voltado para os problemas específicos de homens e mulheres homossexuais, facilita o caminho para você ficar bem com a sua sexualidade e localizar as travas emocionais que atrapalham seus relacionamentos.
CAUSA-JUSTA
O SÃO JOÃO MAIS GAY DO MUNDO
Movimento LGBT de Caruaru, cidade do agreste pernambucano, comemora sucesso da campanha “São João sem Discriminação” Preocupados com a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero, os ativistas do Movimento LGBT da cidade de Caruaru, interior de Pernambuco, lançaram durante o período das festas juninas a campanha “São João sem Discriminação”. O projeto, encabeçado Cleyton Feitosa da ARTGAY Articulação Brasileira de Gays (ARTGAY), Erison Ferreira do Grupo de Resistência
Gay de Caruaru (GRGC) e Stephane Fechine da Associação de Travestis e Transexuais de Caruaru (ATRACA) foi muito bem aceito durante os festejos. O Movimento contou ainda com o apoio da Secretaria Especial da Mulher da Prefeitura Municipal de Caruaru, que cedeu o espaço da abertura do lançamento da campanha “Mulher Não é Mercadoria” para que o Movimento LGBT divulgasse sua ação.
Desse modo, o Movimento LGBT na cidade ganhou mais destaque e expressividade por realizar iniciativas que visam a cidadania dessa população e dão exemplo de atividades oriundas da organização da sociedade civil. Demonstram também que Caruaru avança na luta pelo respeito à diversidade, tendo em vista que é uma ação inédita partindo deste segmento nesse período em que Caruaru pulsa em movimentação devido aos festejos juninos.