REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #301

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31 de julho, 2021

«MÃE A MINHA NATUREZA ALGARVIA» | ESCOLA DE DANÇA MUNICIPAL DE PORTIMÃO ALGARVE INFORMATIVO #301 LABORATÓRIO COLABORATIVO DO TURISMO E INOVAÇÃO | O SAL DA IN LOCO | FUTEVÓLEI 1


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96 - Orquestra de Jazz do Algarve no Forte do Beliche 80 - Pedro Portugal expõe em Tavira

44 - Futebóvei em Ferragudo 22 - Laboratório Colaborativo do Turismo e Inovação nasce em Loulé

70 - «Mãe a minha Natureza Algarvia» no IPDJ, em Faro

OPINIÃO 34 - In Loco ajuda a implementar sistemas alimentares sustentáveis ALGARVE ALGARVE INFORMATIVO INFORMATIVO #301 #301

106 - Mirian Tavares 108 - Alexandra Rodrigues Gonçalves 110 - Júlio Ferreira 10 10


54 - Escola de Dança Municipal de Portimão mostrou-se no TEMPO 11 11

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Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé

PRIMEIRO LABORATÓRIO COLABORATIVO DO TURISMO E INOVAÇÃO NASCE EM LOULÉ Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina oi inaugurado, no dia 8 de julho, o primeiro Laboratório Colaborativo do Turismo e Inovação (KIPT – Knowledge to Innovate Professions in Tourism), com sede em Loulé. Fruto de uma iniciativa da Faculdade de Turismo e Hospitalidade da Universidade Europeia, com financiamento da FCT – Fundação para a ALGARVE INFORMATIVO #301

Ciência e Tecnologia, o KIPT conta com uma liderança conjunta das entidades parceiras ligadas à Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, à governação turística, aos sistemas de informação, à certificação, à hotelaria e restauração, à operação, às agências de viagens, à sustentabilidade e à inovação e empreendedorismo e foi dado a conhecer, na Universidade do Algarve, numa sessão que contou com a 22


Rita Marques, Secretária de Estado do Turismo

presença do Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, e da Secretária de Estado do Turismo, Rita Marques. A criação do Laboratório Colaborativo do Turismo e Inovação prevê um plano de investigação dividido em três eixos estratégicos – conhecimento, emprego e competitividade sustentável – bem como cinco áreas de desenvolvimento – informação, formação e educação, carreira e competências, certificação, qualidade e sustentabilidade e inovação e empreendedorismo – com o intuito de dar resposta aos constrangimentos do sector. Adicionalmente, este plano está suportado por três cenários que antecipam os estágios de recuperação que o turismo vai enfrentar. Assim, numa primeira fase estão previstas ações de 23

resiliência, seguindo-se a recuperação suportada por projetos de inovação e empreendedorismo e, finalmente, a transformação digital do setor do turismo. E a importância do KIPT está bem patente pelo leque de instituições e empresas que compõem a sua comissão instaladora, designadamente: Universidade do Algarve; Universidade de Évora; Cooperativa de Formação e Animação Cultural, CRL; Universidade Lusófona; Instituto Politécnico de Leiria; Instituto Politécnico de Bragança; UNIAUDAX – Centro de Empreendedorismo e Inovação; ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa; Turismo do Centro; Município de Loulé; Algardata, Sistemas Informáticos, SA; Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal; SGS Portugal; Salvor – Sociedade de Investimentos ALGARVE INFORMATIVO #301


José Apolinário, presidente da CCDR Algarve

Hoteleiros, SA; Pestana Hotel Group; Vila Galé – Sociedade de Empreendimentos Turísticos, SA; HOTI STAR – Portugal Hotéis, SA; Media Invest MITG LDA; Prizmakat Lda; Blue Geo LIghthouse, Lda; Logical Safety SA; e UPSTREAM – Valorização do Território, S.A. O Município de Loulé associou-se prontamente ao projeto por entender que “é pela inovação que os

territórios se conseguem transformar e para podermos encontrar novas formas para que o turismo nesta região de excelência possa qualificar-se e abraçar desafios novos, que passam pela colaboração e, sobretudo, pela inovação”, explicou Vítor Aleixo, adiantando que o KIPT ficará localizado ALGARVE INFORMATIVO #301

no edifício da Inova Center, na zona industrial de Loulé. E o Algarve, famoso pela sua apetência turística, pode também sê-lo pela produção de conhecimento associado ao turismo, entende Rita Marques. “Estamos

perante uma região mundialmente conhecida, que tem um ecossistema turístico forte – apesar de se encontrar debilitado devido às circunstâncias que atualmente vivemos – e que oferece condições excelentes para produzir conhecimento e para atrair talento ao mais alto nível da investigação. As pessoas estão no centro da Estratégia 2027 e do Plano Reativar Turismo e é com 24


Hélia Pereira, reitora da Universidade Europeia

especial agrado que vejo que as pessoas estão também no centro desta estratégia do laboratório colaborativo”, afirmou a Secretária de Estado do Turismo. “Sabemos que valorizar e dignificar o emprego no sector do turismo é necessário e que é um desafio que nos assiste a todos. Todos nós desejamos e merecemos a retoma e, na esfera dos recursos humanos, temos muitos desafios pela frente, a começar por atrair pessoas para o sector, mas também formar e preparar a força de trabalho para as novas realidades que se avizinham, mais ligadas à sustentabilidade e à digitalização”, prosseguiu a governante. 25

Rita Marques lembrou que o Turismo de Portugal possui uma rede de 12 escolas espalhadas pelo país, três delas no Algarve, constituindo uma força importante em termos de formação e de criação de novos profissionais, mas também a nível de formação ao longo da vida com capacidades técnicas.

“Mas é importante montar uma máquina ajustada a esta nova realidade, a estes novos desafios e, para além da formação, importa monitorizar a integração no mercado de trabalho dos estudantes que saem destas escolas e de todos os profissionais que desenvolvem atividade no sector do turismo. Há aqui uma necessidade ALGARVE INFORMATIVO #301


Antónia Correia, da Universidade Europeia

constante de estudar, de impor novas formas de valorização de carreiras, por isso, estou muito grata pelo desafio que o KIPT abraçou”, sublinhou Rita Marques. Laboratórios colaborativos que não são uma novidade no Algarve, esclareceu, por sua vez, José Apolinário, presidente da CCDR Algarve. De facto, graças ao empenho da Universidade do Algarve, já existem o Green Colab e o Aqua Colab, a que se junta agora o KIPT, daí a enorme expetativa perante este novo laboratório.

“Temos de olhar para além da espuma do dia. Por estes tempos estamos a discutir se somos suficientemente rápidos para responder ao tema da pandemia. A ciência foi rápida a conseguir ALGARVE INFORMATIVO #301

produzir vacinas, agora temos um grande desafio que é ser suficientemente rápidos para vacinar o máximo de pessoas, para vacinar à escala global, porque já percebemos que, sem isso, existem possibilidades de novas estirpes, o que cria sempre efeitos colaterais, nomeadamente numa atividade tão dependente da confiança e das viagens como o Turismo”, referiu José Apolinário. “A espuma do dia é discutir como respondemos a este desafio. A espuma estrutural é perceber como é que melhoramos a competitividade, como é que valorizamos aquilo que temos no território e como é que nos 26


João Fernandes, presidente da RTA

alinhamos aos novos desafios dos chamados green deal, como é que valorizamos um produto sustentável como aquele que temos no Algarve, como é que somos mais eficazes na utilização de energias renováveis e hídricas, mais eficazes na economia circular, mais eficazes na pegada ecológica e na dinamização de produtos regionais, na própria utilização do produto turístico. Como é que praticamos a sustentabilidade do ponto de vista regional e do ponto de vista da excelência e do turismo de qualidade. Como é que valorizamos um turismo sustentável do ponto de vista náutico. Como é que 27

valorizamos a área do bem-estar e da saúde associado ao tema da longevidade e da economia da longevidade. Ora, esse desafio precisa de monitorização e de muitas parcerias”, assegurou o líder da CCDR Algarve.

“JUNTOS SOMOS POUCOS PARA DESENVOLVER O TURISMO” A Universidade Europeia foi a entidade preponente do KIPT e a sua reitora, Hélia Pereira, acredita ser possível e vantajoso descentralizar algumas atividades em Portugal e, com isso, promover o desenvolvimento mais equitativo das diferentes regiões.

“A inovação é, atualmente, ALGARVE INFORMATIVO #301


central e um fator de sucesso em qualquer sector de atividade. E o turismo trabalha fundamentalmente com experiências, que são promovidas por pessoas e para as pessoas. Queremos ter equipas mais formadas e qualificadas para enfrentar o futuro na área do turismo, desejamos uma gestão de pessoas mais forte, mais sofisticada e com maior nível de investimento”, reforçou, antes de passar a palavra a Antónia Correia, representante da comissão instaladora, para uma apresentação mais formal do Laboratório Colaborativo do Turismo e Inovação.

“Somos 20 empresas, a montante e a jusante, que representam toda a cadeia do sector turístico, mas vamos convocar mais instituições para colaborar connosco. Queremos trabalhar com pessoas e para pessoas, queremos aproximarmonos delas, ajudá-las a desenvolverem as competências que necessitam para realizar os seus sonhos. Queremos mostrar ao sector, aos pais e a todos aqueles que querem trabalhar em turismo que é possível crescer nesta profissão, que é possível chegar ao topo da cadeia”, declarou a docente e grande motor do KIPT, estrutura que quer tornar-se numa plataforma colaborativa que apoie os decisores políticos, agentes privados, estudantes e profissionais através de projetos inovadores de investigação e informações atualizadas e ALGARVE INFORMATIVO #301

com um modelo de ativação estratégica que beneficie o turismo, os negócios, as pessoas, o território e o mundo em geral. O desejo é tornar o KIPT uma referência dentro e fora de Portugal e a sua visão é simples: valorizar e dignificar o emprego no sector do turismo, assumindo o fator humano como o centro dos processos de inovação e das vantagens competitivas que contribuem para um desenvolvimento mais resiliente e sustentável. Para esse fim, os eixos estratégicos de ação vão basear-se no conhecimento, na observação e na disseminação, “porque acreditamos

que não pode haver planeamento, nem desenvolvimento, sem informação”. “Gostaríamos que esta informação fosse em tempo real e muito interativa. Que não fossem dados, mas sim informação. Queremos trabalhar na valorização, na dignificação, na recompensa do emprego e na competitividade sustentável, trazendo para o sector o conceito de inclusão, porque todos são necessários. Juntos somos poucos para desenvolver o turismo”, defendeu Antónia Correia. Em termos práticos, a área de trabalho do KIPT será dividida em cinco áreas: o digital data lab, onde se vai trabalhar principalmente a produção de informação; a formação e a educação; a carreira e as competências; a certificação da qualidade; a inovação e 28


Paulo Águas, Reitor da Universidade do Algarve

o empreendedorismo. “Temos 10

atividades previstas e queremos desenvolver mais, contudo, no meio desta candidatura surgiu uma pandemia e foi preciso dar uma grande volta em toda a proposta para trabalharmos com três palavras de ordem: resiliência, recuperação e transformação. Queremos partilhar conhecimento, reforçar redes internacionais e internacionalizar a investigação e as ações”, apontou Antónia Correia, revelando que, em 2022, provavelmente serão abertos polos noutros pontos de Portugal. “Mais tarde pretendemos

também estender o âmbito deste projeto aos países de língua portuguesa e continuar com a 29

tradição de internacionalização pelos cinco continentes do mundo. Este é um projeto pioneiro porque é verdadeiramente colaborativo. É na diferença que emerge a riqueza, é na inclusão que encontramos a verdadeira essência do saber. Juntos somos muito poucos e podemos fazer a diferença. Acima de tudo, pretendemos dar utilidade à nossa investigação e conhecimento”. João Fernandes, presidente da RTA – Região de Turismo do Algarve destacou, na sua intervenção, a importância de se ter uma base para a ALGARVE INFORMATIVO #301


tomada de decisões, sejam elas sobre políticas públicas ou de business inteligence. “Somos o 12.º país mais

competitivo do mundo no sector do turismo, no entanto, quando vemos o indicador da produção de conhecimento, estamos bastante longe daquilo que gostaríamos e muito longe desse 12.º lugar. Ainda por cima, esse conhecimento muitas vezes tem, no tempo ou no tipo de informação produzida, um desfasamento daquilo que é necessário no momento para as empresas e para a decisão pública”, entende, motivo pelo qual fica contente pelo Algarve, e Loulé, acolher a sede deste laboratório colaborativo. “O

objetivo do KIPT parece-me ser complementar a outros projetos que temos em curso com a CCDR Algarve e com a AMAL, como é o caso da Região Inteligente Algarve. Este projeto centra-se muito no fator humano, nas pessoas, naquilo que podem ser como resposta à competitividade, como elementos que aportam inovação e como podemos valorizar também esse contributo na perspetiva da formação”, proferiu João Fernandes, dando nota de que, numa região com mais de 33 mil desempregados em janeiro, muitos empresários sentem dificuldades em recrutar pessoas qualificadas para determinados perfis.

“Falou-se na necessidade de estímulos à captação de talento e à sua fixação, mas conhecemos bem ALGARVE INFORMATIVO #301

os constrangimentos que temos ao nível da habitação, portanto, este é também um fator crítico para o qual o KIPT deve dirigir a sua atenção. Nós somos tão bons como aqueles que são mais vulneráveis entre nós. É importante também termos ao nível da valorização dos recursos humanos o cuidado de que aqueles que acolhemos, vindos muitas vezes de situações tão difíceis, sejam bem tratados e reconhecidos como qualquer um de nós, numa região que se quer inclusiva. O turismo pode e deve ser uma força para o bem”, salientou o presidente da RTA. A aproximar-se do fim da sessão, Paulo Águas, Reitor da Universidade do Algarve, lembrou que a Academia possui, desde 1991, formação em Turismo, com duas unidades orgânicas que desenvolvem muita atividade nesta área. “Fazemos formação desde os

cursos técnicos superiores nacionais até aos doutoramentos. Está tudo na UAlg”, disse. E, para concluir a cerimónia, usou da palavra Manuel Heitor, Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, para quem “os laboratórios

colaborativos correspondem a uma nova fase da maturidade científica nacional em termos do que é o âmbito, o desejo e a ambição de fazermos mais e melhor e de nos posicionarmos 30


Manuel Heitor, Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior

como um país inovador, que produz conhecimento, mas que também valoriza económica e socialmente esse conhecimento”. O Ministro indiciou que existem atualmente em Portugal 35 laboratórios colaborativos e entende que o KIPT deve articular-se, quer com o sistema científico, quer com o sistema económico.

“Sabemos que temos uma estrutura económica sobretudo baseada em pequenas e médias empresas e particularmente fragmentada pelo território. Hoje, num sistema que tem mais de 300 unidades de investigação com 40 grandes 31

laboratórios associados e com cerca de 30 centros de interface tecnológica, os 35 laboratórios colaborativos têm uma missão concreta e este é o único na área do Turismo. Espero que esta sede em Loulé possa multiplicar-se por um conjunto de relações, relembrando que a observação dos dados exige depois trabalho no local, em laboratórios vivos, uma rede que pode não ter fim de hotéis e restaurantes, mas também com o objetivo de formar pessoas para o sector do turismo” . ALGARVE INFORMATIVO #301


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IN LOCO AJUDA A IMPLEMENTAR SISTEMAS ALIMENTARES SUSTENTÁVEIS NO ALGARVE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina projeto Sistemas Alimentares Locais (SAL), implementado pela Associação In Loco e com financiamento do programa Civic Europe, deu os primeiros passos em março do corrente ano, mobilizando atores chave do Algarve e de outros locais do país em torno da temática dos sistemas alimentares territoriais e sustentáveis. Os últimos cinco meses foram dedicados à realização de 28 atividades de capacitação, entre as quais se destacam webinares, formação ALGARVE INFORMATIVO #301

modular, ações de intercâmbio, oficinas com especialistas e reuniões de acompanhamento. Os objetivos eram claros: criar um entendimento conceptual comum acerca da importância dos sistemas alimentares territoriais para a sustentabilidade e para o desenvolvimento das economias locais; e apoiar os atores locais na implementação de sistemas alimentares sustentáveis nos seus territórios, propiciando momentos de contacto com boas práticas a acontecer no país e momentos de análise e de discussão acerca dos constrangimentos sentidos nas 34


iniciativas que estão a desenvolver e soluções a aplicar. Nesta fase final, o SAL está a apoiar a implementação de oito sistemas alimentares locais, da iniciativa das autarquias ou de agricultores, nos concelhos de Albufeira, Castro Marim, Lagos, Loulé, São Brás de Alportel e Tavira, e todo o conhecimento coletivo construído durante o projeto será posteriormente reunido numa publicação, um género de manual de instruções, cujos conteúdos serão decididos pelos próprios participantes. Mas o SAL não surgiu do nada, é o seguimento natural de outros projetos da In Loco em torno da produção local, da educação alimentar e da economia circular, conforme explicou Vânia Martins, à conversa na sede da associação, em São Brás de Alportel. “Comprando-se ao

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produtor que está mais próximo de nós reduz-se o impacto ambiental da própria alimentação e fomenta-se a economia local. O foco do projeto está no abastecimento coletivo de cantinas, sejam escolares ou sociais, com produtos que são mais frescos, que têm mais qualidade e sabor e que também são sazonais”, explica a gestora de projetos. À chamada à participação lançada pela In Loco responderam cerca de 60 pessoas, do Algarve e não só, partindose depois para a realização de um diagnóstico para perceber quais as suas necessidades, o que já estavam a fazer no terreno e quais os

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constrangimentos com que se debatiam. Isto em março de 2020, antes da eclosão da pandemia por covid-19, de modo que todo o projeto teve de ser redesenhado.

“As ações de capacitação seriam presenciais e tínhamos planeado fazer três visitas a locais onde existem boas-práticas, o que se tornou impossível de concretizar. Fizemos então o mapeamento do que se estava a fazer em Portugal a nível de abastecimento de cantinas, contatamos essas pessoas e tornámo-las parceiros do projeto para participarem em webinares e oficinas de capacitação”, descreve Vânia Martins. “Todo o projeto gira em torno da construção de conhecimento coletivo e colaborativo dentro do grupo, fazer formação entrepares e depois acompanhar o processo no terreno”, acrescenta. A par dos benefícios para o ambiente e para a saúde dos consumidores, os sistemas alimentares locais pretendem, igualmente, dar mais confiança aos produtores, apesar de alguns deles até já possuírem canais de escoamento.

“Queremos criar condições para que a produção seja aumentada, com a garantia de que ela depois será efetivamente vendida, e este mercado institucional da alimentação permite isso. As cantinas das escolas e das IPSS sabem perfeitamente quantas refeições confecionam diariamente, ALGARVE INFORMATIVO #301

semanalmente, mensalmente, e quais as suas necessidades de consumo, que quantidades de produtos precisam, durante quanto tempo, em que altura do ano. É um mercado que dá outras garantias”, assume a entrevistada, admitindo, porém, que se trata de um mercado diferente do canal Horeca ou da grande distribuição e que já existem práticas instituídas que não facilitam a vida dos produtores locais. “Tem que

haver recetividade e vontade política para se alterar os processos, reconhecendo-se, não só o impacto da qualidade dos alimentos na saúde dos consumidores, mas também que, ao investir-se na economia local, se está a contribuir para o desenvolvimento sustentável do território. Havendo esta visão mais holística e abrangente da alimentação, que gera emprego e desenvolvimento local, o processo torna-se mais fácil”, acredita Vânia Martins. Convém dizer que, no Algarve, já existem várias autarquias com esta mentalidade e que estão a dar os primeiros passos para implementar estes sistemas alimentares locais, mas um dos primeiros entraves com que se deparam prende-se com a contratação pública. “Um dos

constrangimentos mais identificados no projeto foi como é que se preparam os cadernos de 36


encargos e os convites para participar nos concursos públicos de modo a conseguir encaixar-se os produtores locais. As câmaras municipais estão, aos poucos, a tentar desbravar terreno para alterar os sistemas que já têm montados”, observa, lembrando que foi

participantes. Eles possuem cantinas piloto para desenvolver este género de iniciativas, o sistema está todo montado, e partilharam de bom grado esse conhecimento”, enaltece a gestora de projetos da In Loco.

criado um Decreto-Lei precisamente para permitir o abastecimento das cantinas escolares por produção local. “Fizemos

TUDO É POSSÍVEL, BASTA ENVOLVER AS PESSOAS

uma oficina com advogados que estudaram a contratação pública e que definiram um conjunto de critérios de adjudicação e trouxemos para este processo o Município de Torres Vedras, que partilhou todo o seu know-how, instrumentos e cadernos de encargos com os restantes

Falar-se em produtores locais é, normalmente, sinónimo de falar-se em pequenos produtores, portanto, estariam eles depois em condições de responder às necessidades das cantinas, nomeadamente em termos de quantidades? Para Vânia Martins, a resposta passa pela mobilização e organização dos produtores, de modo a corresponderem às necessidades de

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consumo dos clientes, sejam autarquias, agrupamentos escolares ou instituições particulares de solidariedade social. “Há

que saber que tipo de produtos consomem e em que quantidades e até se têm capacidade de armazenamento dos produtos, se têm arcas frigoríficas. Com base nessa caracterização geral parte-se para a mobilização dos produtores, ALGARVE INFORMATIVO #301

porque eles podem não conseguir dar resposta em termos individuais, mas, coletivamente, já o conseguem. E se agora não têm produtos suficientes, mas estão interessados, então vamos planear a próxima época de cultivo. Claro que em muitos casos não será possível dar uma 38


produtores ou qualquer um estará apto a enfrentar este desafio? “É um

sistema para todos aqueles que se quiserem empenhar nele. É certo que os produtores mais novos poderão ter mais energia e predisposição para efetuarem estas alterações no seu modo de trabalhar, ao passo que os mais idosos se calhar se sentem confortáveis com os mercados com que já trabalham… e não há problema nenhum com isso. Depois, tudo isto tem que ser faturado e é precisa capacidade para responder aos concursos públicos quando eles se realizam. As IPSS não precisam de realizar concursos públicos, mas, no caso das escolas, eles são obrigatórios”, aponta Vânia Martins.

resposta imediata, trata-se de organização e planeamento”, indica a entrevistada. A ideia da In Loco é, então, que gradualmente se criem condições para que haja um aumento planeado da produção, que depois será escoada para as cantinas, o que nos leva à questão seguinte: é um processo mais vocacionado para a nova geração de 39

Perante estes constrangimentos, a organização dos produtores volta a ser uma das soluções apontadas, podendose criar uma associação ou cooperativa com capacidade jurídica para responder aos concursos, para assim facilitar as questões burocráticas e administrativas, ou então um produtor representar um coletivo. “Tudo é

possível, é só uma questão de trazer as pessoas para o processo. E se, num primeiro momento, não se conseguir logo garantir 100 por cento de produção local, recorrese a outras alternativas ou distribuidores, até porque há produtos sazonais que são mais ALGARVE INFORMATIVO #301


difíceis de encontrar no Algarve. A cenoura, por exemplo, é extremamente utilizada nas cantinas e, a nível local, nem sempre é possível arranjar”, frisa Vânia Martins. Claro que tudo isto só tem sentido se for um ponto assente que todos privilegiam a alimentação saudável e a produção local, porque gera um desenvolvimento mais sustentável e reduz a pegada ecológica. Mas será essa a realidade? “Neste

projeto começamos por criar uma linguagem conceptual comum, oferecendo uma visão crítica geral sobre os sistemas alimentares locais numa lógica de sensibilização e informação. Em seguida, analisamos os sistemas alimentares locais em Portugal, um trabalho que tem que ser feito com os consumidores em geral, com os decisores políticos, com os dirigentes das associações, até mesmo com quem prepara as ementas e confeciona as refeições”, sublinha. “Neste momento estamos a dar resposta às necessidades mais imediatas, mas o ideal é que estas iniciativas se tornem estratégias mais definitivas e abrangentes”, entende Vânia Martins. Em junho terminou, entretanto, a fase da capacitação e de trabalhar com os constrangimentos identificados nos casos clínicos e nos projetos pilotos participantes no SAL e os primeiros resultados já se notam no terreno. “Em

temos a Junta de Freguesia que distribui cabazes alimentares e que pretende incluir neles produtos locais; e a Santa Casa da Misericórdia, que deseja confecionar as suas refeições com produtos locais. Reunimos com os produtores do concelho e eles já se estão a organizar para dar resposta a essas duas situações”, revela, com um sorriso, acreditando que, no caso das cantinas escolares, também já haja desenvolvimentos no próximo ano letivo. “É um processo

mais moroso porque é preciso dar uma resposta efetiva aos procedimentos lançados pelos Municípios e o objetivo é que os produtores depois se tornem autónomos nesta matéria. Podíamos ter desenhado um projeto em que fosse a In Loco a implementar sistemas alimentares locais no Algarve, mobilizávamos e apoiávamos as pessoas, mas nós é que possuíamos o conhecimento. Antes pelo contrário, um dos produtos do projeto é precisamente um guia para ajudar a criar sistemas alimentares locais, um manual de instruções que reúna toda a informação essencial em português e que esteja disponível para ser usado em qualquer ponto do país”, conclui Vânia Martins .

São Brás de Alportel, por exemplo, ALGARVE INFORMATIVO #301

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MIGUEL PINHEIRO E FILIPE SANTOS VENCEM ETAPA INAUGURAL DO CAMPEONATO NACIONAL DE FUTEVÓLEI Texto: Daniel Pina | Fotografia: Vítor Pina/Federação Nacional de Futevólei s atuais campeões europeus Miguel Pinheiro/Filipe Santos, do Clube Desportivo da Póvoa, foram os grandes vencedores da etapa inaugural do 16.º Campeonato Nacional de Futevólei 2021, que teve lugar, nos dias 24 e 25 de julho, na Praia Grande, em Ferragudo. Foram 35 as equipas/duplas em representação de 10 clubes, provenientes do norte ao sul do país, que evoluíram no areal, em busca da vitória e dos primeiros pontos no ranking em 2021. ALGARVE INFORMATIVO #301

As equipas foram agrupadas em três fases distintas, começando pela Fase Bronze, no sábado, 24 de julho, com as nove equipas menos pontuadas a realizarem um total de 16 jogos para apurar duas equipas para a Fase Prata. A prova prosseguiu com a Fase Prata, com 20 equipas, (9.º ao 26.º do ranking mais as duas equipas apuradas da Fase Bronze), com 38 jogos em agenda, que foram acontecendo até cerca das 20 horas de sábado, 24 de julho, para apurar quais as quatro duplas que seguiriam para a Fase Ouro. 44


O dia de todas as decisões, domingo, 25 de julho, começou logo pelas 9h30 com a Fase Ouro, onde perfilaram as 12 duplas (1.º ao 8.º do ranking mais as quatro equipas apuradas da Fase Prata), num total de 22 jogos para sabem quem subiria ao lugar mais alto do pódio. O momento decisivo colocou frente a frente duas duplas bastante conhecidas do futevólei português, nomeadamente a dupla poveira constituída por Miguel Pinheiro e Filipe Santos – o primeiro já leva sete títulos conquistados, enquanto o segundo, em 2019, registou pela primeira vez o seu nome no palmarés – frente à dupla algarvia David Peres e Djalmir Andrade, que têm vindo nos últimos anos a conquistar o seu espaço com grande mérito entre os melhores. Num jogo à melhor de três sets, a dupla da Póvoa de Varzim acabou por ser mais eficaz e equilibrada no seu jogo, apesar da boa réplica da dupla de Faro no primeiro set,

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com o marcador a fechar nos 18x15. O segundo set viria a confirmar o bom momento dos campeões europeus, que voltaram a vencer por 18x11 e, desta forma, venceram o jogo e a etapa. O evento respeitou as normas e recomendações em vigor emanadas pelas entidades de saúde pública, nomeadamente pela Direção-Geral de Saúde, tendo sido estabelecido para o efeito um Plano de Contingência e Medidas de Prevenção. O campeonato prossegue nos dias 14 e 15 de agosto, com a cidade do Porto a acolher a segunda etapa do campeonato nacional. Numa organização da Federação Nacional de Futevólei, o evento teve como principais entidades apoiantes o Município de Lagoa, Claw, Sports Partner, A Bola TV, assim como outros parceiros locais .

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ESCOLA MUNICIPAL DE DANÇA DE PORTIMÃO MOSTROU-SE NO TEMPO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Grande Auditório do TEMPO – Teatro Municipal de Portimão recebeu, no dia 23 de julho, a Escola Municipal de Dança de Portimão, que apresentou, para uma plateia completamente esgotada, o ALGARVE INFORMATIVO #301

seu projeto de final do ano letivo num espetáculo composto por duas peças coreográficas: «Serenada» e «Coletânea Contemporâneas». Este ano, para além das alunas das várias classes, o espetáculo contou também com a presença de um par de bailarinos convidados, nomeadamente a ex-aluna Laura Abel e Bruno Freitas . 56


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«MÃE A MINHA NATUREZA ALGARVIA» MARAVILHOU MIÚDOS E GRAÚDOS NO IPDJ Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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epois da estreia em Vila Real de Santo António, em maio, A FERA Teatro continua a apresentar o seu espetáculo «Mãe a Minha Natureza Algarvia» por terras algarvias e, nos dias 23 e 24 de julho, foi a vez do auditório da Direção Regional do Algarve do IPDJ acolher este espetáculo multidisciplinar, de teatro, dança, música e vídeo, uma verdadeira experiência sensorial que resulta da compilação, feita por Joana Guita, de vários textos poéticos em redor da ALGARVE INFORMATIVO #301

relação com a mãe e com o Algarve sensorial, Em palco estão os atores Tânia Silva e Igor Martins, também ele responsável pela composição da música original, num espetáculo destinado a maiores de três anos e a toda a família que conta com imagens de vídeo captadas um pouco por todo o Algarve, durante o período de criação, por Ana Brandão. Rita Neves assume, entretanto, a encenação desta que é a 13.ª produção de A FERA Teatro, fundada em novembro de 2016 por diversos artistas farenses . 72


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PEDRO PORTUGAL EXPÕE NO MUSEU MUNICIPAL DE TAVIRA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Museu Municipal de Tavira – Palácio da Galeria acolhe, até dia 30 de dezembro, a exposição «A Arte que é – II» de Pedro Portugal, que integra pinturas de grandes dimensões criadas, entre 1996 e 2002, assim como uma multiplicidade de experiências, desde filmes, desenhos e animações a performances e objetos realizados a partir de 2013. A mostra, com curadoria do próprio Pedro Portugal, inclui obras dispersas por várias coleções, nomeadamente, Fundação Altice Portugal, Fundação Caixa Geral de Depósitos – Culturgest, Fundação Carmona e Costa, Fundação de Serralves, Galeria de Arte António Prates e Museu de Arte Contemporânea de Elvas – Coleção António Cachola. «A Arte que é – II» é um universo em que a arte é explicada, iconograficamente, por este especialista em informação visual, pintor, escultor, ensaísta, consultor e pedagogo natural de Castelo Branco, para se poder perceber melhor o que o artista e a arte pretendem comunicar: um panda negativo com três metros, um urinol em pele de borrego, 40 ARTOJIS que emulam arte e artistas, uma maquete do Monumento ao Futebol Inteligente, o Monumento ao Papel Higiénico Preto, um relógio de sol de interior ou uma versão do Zé Povinho sem cara, entre outras obras. Em «A Arte que é – II», Pedro Portugal interpela, por isso, a própria Arte, através de um processo de pesquisa que, nas suas palavras, “combina, cita, rouba, pede emprestadas ALGARVE INFORMATIVO #301

e recompõe obras e pensamentos de outros artistas”. Nesta interpelação, que integra diferentes momentos da sua biografia artística, o recurso à ironia, ao jogo e ao elemento cómico desdobra-se em alusões constantes a signos e símbolos, num vaivém entre a visualidade e a linguagem, entre a representação e o 82


significado por via de uma profusa diversidade de meios. A finalidade é a autorreflexão da Arte acerca da sua essência, quer enquanto fenómeno estético e cultural, quer na sua condição pós-moderna de intervenção e alteração política e social. “A liberdade do

artista é fundamental, embora muitas vezes possa ser limitada por 83

várias formas de censura ou por falta de financiamento. São os artistas que têm mais dinheiro que fazem primeiro”, referiu Pedro Portugal, no final de uma visita guiada no dia da inauguração, aproveitando para revelar que não tem qualquer sentido de humor. “Isto é tudo

muito sério, ainda que as coisas ALGARVE INFORMATIVO #301


que digo e faço possam parecer engraçadas ou divertidas. Aqui estão obras sérias, políticas, interventivas. Infelizmente, o público português está a encolher cada vez mais, a arte portuguesa está a contrair-se e, dentro de 20 anos, vamos ter que construir um museu muito pequenino, porque a arte portuguesa ficou muito pequenina. Os artistas têm que se adaptar ao mercado, que, neste momento, corresponde a pinturas de 10cm por 10cm e a 100 euros”, desabafa, acrescentando ainda que a maneira mais fácil de lidar com este cenário “é sair de Portugal antes dos 30 anos”. Associado à exposição será publicado o livro «A Arte que é – II», coeditado pelo CHAIA – Centro de História de Arte e Investigação Artística da Universidade de Évora e pelo Município de Tavira, onde estarão documentadas todas as realizações artísticas de Portugal e textos publicados em jornais e revistas, nos últimos dez anos . ALGARVE INFORMATIVO #301

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Adriana Freire Nogueira, Pedro Portugal, Ana Paula Martins e João Pedro Rodrigues

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BELICHE JAZZ CHEGOU AO FIM COM CLARA BUSER E ORQUESTRA DE JAZZ DO ALGARVE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Kátia Viola

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ulho foi mês de «Beliche Jazz», com o Município de Vila do Bispo a juntar-se à Orquestra de Jazz do Algarve para quatro concertos realizados, aos sábados, ao final da tarde, a partir do deslumbrante Forte do Beliche, em Sagres, com o melhor jazz a ter como pano de fundo o habitual pôr do sol e uma vista singular. O programa arrancou, no dia 3, com «Early Duo», formado por Léo Vrillaud ALGARVE INFORMATIVO #301

(piano) e João Segurado (contrabaixo), seguindo-se, no dia 10, o «Triletric» com Hugo Alves (trompete), Diogo Vida (órgão e piano elétrico) e Maxi Llanos (bateria). O projeto em quarteto «Turning Point», formado por Luís Miguel (Saxofone), Luís Henrique (baixo), Maxi Llanos (bateria) e Alex Dahmen (piano) aconteceu a 17 de julho, com o ciclo a terminar, no dia 24, com a formação completa da Orquestra de Jazz do Algarve, que teve como convidada Clara Buser, um dos maiores talentos nacionais do jazz . 98


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OPINIÃO O cansaço do cansaço Mirian Tavares (Professora Universitária) “Adorável é o vestígio fútil de um cansaço, que é o cansaço da linguagem”. Roland Barthes á não aguento mais ouvir, e dizer: estou cansada. Estamos cansados. Será que o avesso do avesso é o direito? E o cansaço do cansaço trar-nos-á energia? Julho é o mês em que me arrasto, em que adoeço, em que tudo que não devia acontecer acontece. E é o mês onde um cansaço sem fronteiras, desmesurado e voraz, invade o meu corpo e tenho de ligar o piloto automático e reforçar o suprimento de vitaminas, de outra forma caio redonda. Ou quadrada. Caio, simplesmente, sem rede de proteção. É o verão que chega e muitos começam a sair da casca e a calçar chinelos. Eu, que vivo à beiramar plantada, mal lhe ponho a vista em cima. Muito menos os pés dentro da água que já deve estar tépida. Minto, tomei um banho de mar, um único desde que o sol afugentou a primavera que este ano, como nos anteriores, veio tímida, um quase-inverno-já-jáverão. Invejo quem tem ânimo para sair da universidade e ir espreitar o mar. Na verdade, não sou uma grande amante da praia. Já fui, noutra era, em ALGARVE INFORMATIVO #301

que tinha cabelos compridos e amigos surfistas. Saía de manhã cedinho, mal despontava o sol, e voltava quando a lua apontava no céu. Nunca me atrevi a enfrentar as ondas montada numa prancha. O desequilíbrio sempre foi meu companheiro de estrada e preferia, assim, não me arriscar. Mas ficava a lagartear sob o sol tórrido e a beber água de coco. Minha mãe dizia que eu sofria de ansiedade noturna/diurna, não conseguia ficar em casa, tinha de sair, mesmo após um dia intenso. Não havia vestígio de cansaço, apenas o enorme desejo de ver e de fazer sempre mais. Passados muitos anos, já cá não está a mãe para dizerme coisas e entrançar meus cabelos, restou de tudo isso um grande cansaço. Um cansaço de tudo e de nada, e, sobretudo, um enorme cansaço de sentir que a energia me escapa a cada noite mail dormida – o que antes não me fazia qualquer mossa. Cansaço também das palavras. Que dizem coisas. Gosto de jogar com o possível e com o inaudito, com aquilo que quero dizer e com o que calo. Ou com o que não consigo sequer pronunciar. Faz sol lá fora e ao dizer sol não ilumino cá dentro. É preciso sair e 106


senti-lo, deixar que ele penetre na pele e nada substitui o calor e a luz depois de dias de chuva. Estou cansada de ler, de escrever, de perceber. Quero um analfabetismo consciente do cansaço das palavras. E quero voltar a sentir o sol a queimar-me a pele, e deixar107

me ficar estendida, pura preguiça, a ouvir o mar que vai e vem. E recarregar as energias, pois o ano ainda vai a meio. E o cérebro tem de voltar a pegar, nem que seja no tranco! .

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OPINIÃO Têm razão Alexandra Rodrigues Gonçalves (Diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve) em de propósito saíram hoje os resultados provisórios do Censos 2021 e o Algarve foi a região que mais cresceu (+16.489 habitantes e +3,7% do que em 2011). Mas vamos lá atrás aos anos idos de 1915. Decorria o Congresso Regional Algarvio e falava Thomaz Cabreira dizendo na sua intervenção-tese sobre as Zonas de Turismo: “Todos os anos vêem visitar a Andaluzia muitas dezenas de milhares de viajantes, atraídos pelas maravilhas arquitetónicas que ela encerra. A grande linha ferroviária de penetração do sul de Espanha, para os viajantes estrangeiros é a que parte de Medina del Campo e segue por Madrid, Cordova e Sevilha, tendo os viajantes que voltar pelo mesmo caminho quando regressam ao seu ponto de partida. Mas já existe construída, em via larga, a linha de Sevilha a Huelva e Gibraleon a Ayamonte na margem do Guadiana, em face de Vila Real”. Não havendo à data a ideia de construção de uma ponte, pois o automóvel dava os primeiros passos na sua produção massificada com o Ford T nos Estados Unidos, sendo ainda um apanágio de uma elite muito restrita, defendia-se a ALGARVE INFORMATIVO #301

construção de uma gare marítima em Vila Real de Santo António e a organização de um comboio Sud-Expresso, e prosseguia na tese dizendo: “Assim, os touristes que visitam a Andaluzia, em vez de irem e voltarem pelo mesmo caminho, percorriam um anel que seria constituído pela seguinte forma: Medina del Campo, Madrid, Cordoba, Sevilha (Cadiz e Tanger), Huelva, Faro, Setúbal, Lisboa, Coimbra, Pampilhosa, Salamanca e Medina. Por esta forma uma enorme corrente de viajantes percorrerá o Algarve e é preciso preparar aí as cousas para que se detenham algum tempo na nossa província”. Agora vejamos 10 anos passados, nasce a Revista do Algarve sob a Direção de J. Pereira Faísca, era então Presidente da República Manuel Teixeira Gomes. Na nota introdutória da revista reconhecia o Algarve como “explendida região, esquecida pelos governos, abandonada ao comodismo egoísta dos governados” e continua: “O regionalismo algarvio repousa numa ficção, engendrada em deliciosos artigos de jornal. No Algarve, a iniciativa particular, absorvida num campo individual de objectivação e lucro imediato, com os malabarismos tortuosos duma politiquice rotineira, destroem toda a perspectiva de solidariedade e ação colectiva. Clamam os 108


de ligação ferro-viaria com o centro do paiz” e “hotéis recomendáveis”.

algarvios contra a inércia dos poderes públicos: têm razão”. Conclui que existe uma enorme falta de cultura para empreender por toda a região e por isso se define a Revista do Algarve como um mecanismo de afirmação da independência dos algarvios. Têm a palavra os algarvios As primeiras páginas são desde logo surpreendentes, pois inicia com uma entrevista de Julião Quintinha a Dr. Coelho de Carvalho e o tema «A Autonomia Administrativa do Algarve», que reconhece a autonomia como devida à região e um “lógico protesto dos algarvios”. Mas esta questão fica para outro texto, porque o que nos despertou agora a atenção relaciona-se com o que já se desvendou: a falta do caminho-de-ferro. Nos textos que se seguem, um é particularmente interessante para a nossa reflexão, «O Turismo no Algarve» assinado por João Fernandes (relembro que data de 1925) e aponta duas grandes lacunas, para além da falta de organização e planeamento do Turismo: “boas condições 109

A construção de hotéis e outras formas de alojamento sabemos como foram sendo resolvidos, sobretudo pela iniciativa privada, mesmo que queriam reconhecer que alguns com apoios do Estado, pelo que, o comboio rápido considerado de capital importância, hoje e quase 100 anos depois merece-nos toda a atenção, mas não só pelo turismo, mas pela qualidade de vida dos residentes no Algarve (sejam temporários ou permanentes). Outras referências às Festas e Tradições também nos chamam a atenção. Vale mesmo a pena ler «esta pérola escrita» e o conjunto do número 1 da Revista do Algarve. Será de refletir sobre o que representa o Algarve para o país e para os seus governos sucessivos, que há décadas secundarizam investimentos estruturantes da administração púbica central tão fundamentais para o desenvolvimento sustentado e para a acessibilidade da região. Felizmente temos desde 1965 o Aeroporto Internacional de Faro para os viajantes estrangeiros e a Ponte sobre o Rio Guadiana (consorcio luso-espanhol de 1991 criado bem a tempo da EXPO92 de Sevilha), bem como o desenvolvimento magnífico do automóvel de forma massificada. Fica a pergunta: Será desta que os habitantes deste Algarve têm o caminho-de-ferro merecido? . ALGARVE INFORMATIVO #301


OPINIÕES, REFLEXÕES E DEMAIS SENSAÇÕES

#Raisparta Júlio Ferreira (Inconformado Encartado) a passada semana, fiquei de coração cheio. Um amigo de longa data, ofereceume «O livro tibetano da vida e da morte». Já comecei por abrir o livro e vi que tem mais de 500 páginas, passou-me logo a vontade de começar a ler, aguardo pacientemente que ela apareça novamente. Mas coincidência ou não, passados poucos dias, o oriente voltou a infernizar a minha vida, já tenho os olhos em bico. Fui (novamente) massacrado por um amigo arquiteto, a pretexto de uma publicação minha nas redes sociais, que insistiu que depois de ler o livro eu me devia imbuir do espírito de Feng Shui para criar energias positivas e fazer algumas alterações em casa, seguindo rigorosamente as suas recomendações: Diz ele que na entrada devia pendurar um sino dos ventos de Metal. Confesso que não ficou lá grande coisa e dá um ar folclórico à entrada, mas é suposto atrair a energia do poder e do dinheiro. Disso e do couro cabeludo que lá deixei por ter pendurado. Aquela porcaria ficou muito baixo e é duro…chiça! Na maçaneta da porta de entrada pendurei três moedas chinesas numa fita vermelha, para atrair «dinheiro auspicioso» caso o sino não funcione. Passam a vida a roubar-me as moedas, e eu passei a ser o melhor cliente da loja dos chinocas na zona ribeirinha. ALGARVE INFORMATIVO #301

Tentei comprar os dois cães Fu em porcelana que ele me recomendou, mas, como não encontrei, coloquei do lado de fora da porta uma águia e um daqueles célebres anões de loiça em pose de jardinagem. Um de cada lado, para guardar a casa. Os vizinhos gostam de lhes mandar uns violentos biqueiros, principalmente na águia. Eu já desconfiava que tinha o prédio infestado de lagartos. Na falta de varanda, porque vivo num R/Chão, instalei ao canto da cozinha um pequeno lago artificial, onde coloquei três peixinhos dourados e um peixinho preto. Era suposto o peixinho preto atrair tudo o que é negativo e indesejável, mas o sacana desatou a comer os peixes dourados e eu gasto uma fortuna a substituí-los todas as semanas. O peixe preto está tão bem alimentado que parece uma orca assassina. Dispus plantas de flor vermelha e alaranjadas ao longo do corredor e sala de estar, em grupos de três. Já escorreguei várias vezes na porcaria das folhas e na última das quedas deixei de poder virar o pescoço para a esquerda. O ortopedista diz que é permanente. Atestei todas as divisões da casa com muitas plantas grandes de folhagem verde em formas de moedas e notas. Ainda estou para perceber que porra de efeito é que faz a forma das flores. De uma coisa eu sei… já perdi os gatos três vezes. 110


Segundo o Feng Shui, manter roupa usada no armário interfere nas energias, tipo «bate na válvula e volta pra trás». Estou a ficar sem grandes opções de escolha, já só tenho camisolas de gola alta e calças de bombazine, não é por nada, mas estamos praticamente em agosto. Deixei de ouvir os U2, Pink Floyd, etc. e agora só ouço música com sons de floresta, de mar, ou de chuva a cair. Junto-lhe uns pauzinhos de incenso para dar um cheiro relaxante ao ambiente. A polícia já me entrou pela casa adentro algumas vezes julgando tratar-se da sede de uma seita. Pouco falta…

Para criar um constante fluxo de energia mudo a minha mobília de sítio todos os dois meses. Os meus filhos e mulher já se cansaram após a segunda mudança. Acham este processo cansativo, pudera. Muita energia gasto eu agora, para levar sozinho e em ombros aquela porcaria toda. À conta disto, os vizinhos do andar de cima já fizeram manifestações violentas à porta de casa e destroem-me sistematicamente os cães Fu disfarçados de águia e anão de loiça. Já tive de os substituir por um daqueles elefantes de tromba para cima e uma vaca malhada. Este amigo também me disse para limpar com frequência os armários da roupa e oferecer a instituições de beneficência. 111

No quarto, retirei o espelho do teto, mas mantive a cama redonda e os quadros da lágrima e última ceia. Esta é a área (explicou-me o arquiteto porque eu não sabia) dos relacionamentos. As cores que devem ser utilizadas são: rosa, vermelho e branco… já se estão a rir, malandros… Imaginem esta maravilha: uma bandeira enorme do GLORIOSO na cabeceira a fazer pandã com a capa de édredon do Estádio da Luz e almofadas do Eusébio e Chalana. No som ambiente o hino motivador “…mostra a tua raça, o teu querer e ambiçãoooo, nóóóós só queremos…” Com todos este ensinamentos e alterações era suposto eu estar em paz e em perfeita harmonia com o que me rodeia, atravessado por uma onda de energia inexplicavelmente tranquilizante, mas não! Estou uma pilha de nervos, a minha casa parece ter sido decorada pelos chineses contorcionistas do Circo Cardinali. Raisparta o Feng Shui! . ALGARVE INFORMATIVO #301


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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #301

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