REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #475

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5 de abril, 2025

«ANTÍGONA» DA SILLYSEASON ALGARVE INFORMATIVO

ÍNDICE

Loulé vai ter nova resposta oncológica (pág. 20)

«A Água e o Mar para mim» da Águas do Algarve (pág. 26)

Prémio Novas Dramaturgias José Louro (pág. 38)

Cachopo já tem Centro de Meios Aéreos (pág. 42)

Entrevista a José Gonçalves (pág. 50)

Ginástica acrobática em Messines (pág. 60)

«Antígona» da SillySeason no Cineteatro Louletano (pág. 96)

Cristina Cherry no Choque Frontal ao Vivo (pág. 116)

OPINIÃO

Antónia Correia (pág. 124)

Loulé vai receber equipamento de diagnóstico para colmatar resposta oncológica no Algarve

través de uma parceria que envolve a Câmara Municipal de Loulé, a ULS –Unidade Local de Saúde do Algarve e o ABC – Algarve Biomedical Center, o Algave vai ter, já em 2026, um PET –

Positron Emission Tomography, a única resposta oncológica, ao nível do diagnóstico, que atualmente não existe na região. Em conferência de Imprensa realizada nos Paços do Concelho de Loulé, as três entidades anunciaram este investimento integrado no Serviço Nacional de Saúde e que evitará que os doentes tenham que percorrer cerca de

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

600 quilómetros (viagem de ida e volta a Lisboa) para realizar um exame de diagnóstico.

Depois de toda a polémica em torno da construção do CORS – Centro Oncológico de Referência do Sul, o Município de Loulé avançou com uma nova proposta que constitui “a solução mais rápida” para garantir uma resposta completa em termos de serviços prestados a doentes oncológicos na região. Este é, de resto, o único equipamento que faz falta para que os algarvios encontrem neste território todas as respostas, quer em termos de tratamento, mas também de diagnóstico. “Atualmente, são cerca de 2 mil os

exames por ano adquiridos ao exterior neste âmbito”, referiu o responsável da ULS, Tiago Botelho.

Assim, o Município de Loulé irá disponibilizar o terreno com viabilidade construtiva, localizado na Rua Humberto Pacheco, em Loulé, contíguo ao edifício do ABC Outreach (laboratório de genética médica), para a instalação do equipamento, suportando ainda a contrapartida nacional do projeto. O investimento previsto de 3,5 milhões de euros respeitante à construção do edifício e aquisição de equipamento – um valor bastante inferior ao que seria afeto ao CORS – terá financiamento de fundos

comunitários, através do PO Algarve 2030 (60 por cento). Caberá à Câmara Municipal de Loulé a comparticipação da restante verba (40 por cento).

Por seu turno, a ULS garantirá, através do seu Centro Académico – ABC, as condições necessárias para a realização de todas as PET do Algarve no novo equipamento, até ao início do funcionamento do Hospital Central do Algarve. Quando essa obra estruturante para a região estiver concluída, “seguramente o Algarve já vai necessitar de dois equipamentos a funcionar”, declarou Tiago Botelho, pelo que o Hospital Central irá integrar um outro PET, mantendo-se, no entanto, este em Loulé.

O ABC junta a este projeto “toda a capacidade do ponto de vista tecnológico e científico para encontrar a melhor solução para fazer a exploração deste equipamento”, explicou o seu presidente, Pedro Castelo Branco, mas também para encontrar os recursos humanos e fins de investigação associados ao diagnóstico. A parceria que o ABC mantém com o ICNAS – Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde, em Coimbra, permitirá agilizar a operacionalização do PET.

Como foi sublinhado durante esta apresentação, existe neste momento capacidade de resposta integral no Algarve para toda a realização de tratamentos radioncológicos e existe tecnologia adequada disponível, nomeadamente de radioterapia, radiocirurgia e braquiterapia, em particular na Clínica de Radioncologia do

Algarve. Por outro lado, o novo Serviço de Medicina Nuclear do Hospital de Portimão integra equipamento topo de gama que permite o diagnóstico precoce de doenças. No entanto, este equipamento que permite realizar um exame de imagem que avalia o metabolismo de órgãos, tecidos, ossos e tumores, era uma lacuna. “Garante uma resposta completa, é a solução mais rápida, não compromete as melhores condições que irão existir no futuro Hospital Central do Algarve, e minimiza deslocações que teriam de ser feitas se existisse uma unidade de oncologia separada do Hospital, poupando incómodos, otimizando recursos”, salientou Vítor Aleixo.

A Câmara Municipal de Loulé pretendeu deste modo, e mais uma vez, dar um passo em frente para apoiar uma infraestrutura de interesse regional. “Não nos compete a nós decidir, mas podemos muito bem colaborar para encontrar uma solução rápida, viável, para que, no mais breve prazo de tempo possível, possamos ter à disposição dos algarvios, aquilo que faltava para poderem ter um diagnóstico e tratamento completo em termos do cancro”, afirmou o edil.

Tiago Botelho, da ULS, falou das “várias vicissitudes do projeto anterior” e, em relação a esta proposta, sublinha o facto de se ter “focado no essencial, isto é, oferecer à região aquilo que ainda não tem na resposta oncológica, a única valência que ainda faz deslocar doentes a 300 quilómetros para fora do Algarve”. “O ABC já tem no seu currículo respostas dadas no passado e,

sempre que foi chamado, disse presente. Mais uma vez, que necessitamos de uma resposta rápida e forte, não podíamos dizer que não. Temos capacidade instalada, quer a nível de investigação, quer a nível de formação nesta área, e podemos oferecer de imediato essa capacidade e a operacionalização neste equipamento de diagnóstico”, frisou, por sua vez, Pedro Castelo Branco, ele próprio investigador há mais de 20 anos na área do cancro.

A construção, aquisição e instalação do equipamento desenvolver-se-á em 2025 e 2026, prevendo-se o seu funcionamento pleno no próximo ano.

Como explicou Tiago Botelho, o CORS “deixa de fazer sentido com este investimento”. Para já, a solução apresentada “foi recebida positivamente” pela Ministra da Saúde, Ana Paula. “Penso que ninguém vai querer parar este projeto que reúne o consenso da região, dos técnicos e de quem está na prestação dos cuidados de saúde”, disse ainda o responsável da ULS, uma opinião partilhada pelo autarca louletano: “Quando se fala em saúde das pessoas, isso sobreleva qualquer outro valor”

Águas do Algarve voltou a promover a arte, inclusão e sustentabilidade

o Dia Mundial da Água, 22 de março, data que desafia a refletir sobre a importância deste recurso essencial, a Águas do Algarve celebrou a criatividade, a inclusão e a sustentabilidade com a apresentação, no auditório da Fundação Pedro Ruivo, em Faro, dos trabalhos e entrega de prémios da terceira edição do projeto «A Água e o Mar para Mim». Com 42 magníficas obras de arte em exposição, criadas por artistas especiais que expressaram a sua visão

única sobre a água e o mar, este projeto reforça o seu impacto e missão de dar voz a quem tantas vezes não a tem.

Com apresentação de Teresa Fernandes, Coordenadora do Projeto, e Responsável pela Área de Comunicação e Educação Ambiental da Águas do Algarve, esteviram presentes a Presidente da Águas do Algarve, Isabel Soares, e o Administrador Silvério Guerreiro, para além de diversos colaboradores da empresa. O momento contou igualmente com a participação do Presidente da Câmara Municipal de Faro,

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Águas do Algarve

Rogério Bacalhau, do Diretor Regional da APA, Pedro Coelho, da Vice-Reitora da Universidade do Algarve, Alexandra Teodósio, da responsável pela Fundação Pedro Ruivo, Olga Cruz, entre outras individualidades da região.

A concurso estiveram 42 obras de arte, cada uma delas um testemunho do talento e da sensibilidade dos participantes, para quem o mar e a água assumem significados profundos e únicos. Esta terceira edição distinguiu quatro vencedores, que receberam um aquário como prémio, e atribuiu ainda quatro menções honrosas, reconhecendo o mérito e a expressividade das suas criações. Os grandes vencedores foram a ASMAL – Associação de Saúde Mental do Algarve, o NECI – Núcleo Especializado para o Cidadão Incluso, a APPC –

Associação Portuguesa de Paralisia

Cerebral de Faro e a UNIR – Associação dos Doentes Mentais, Famílias e Amigos do Algarve. As menções honrosas foram atribuídas à CRACEP – Cooperativa de Reeducação e Apoio ao Cidadão Excecional de Portimão, à Santa Casa da Misericórdia de Silves, à Associação

Contacto de Tavira e à Associação Nossa Senhora dos Navegantes – Ilha da Culatra.

A cerimónia foi um momento carregado de emoções, destacando, não só o talento dos participantes, mas também o valor da arte como ferramenta de inclusão e sensibilização ambiental. “Este projeto é mais do que uma competição. É um espaço de expressão, onde cada pincelada conta uma história, cada traço traduz uma emoção e cada artista

partilha connosco a sua visão única do mundo. A cada edição, cresce em dimensão e significado, e prometemos regressar no próximo ano com uma quarta edição ainda mais ambiciosa e inspiradora”, declara Teresa Fernandes.

A Coordenadora do Gabinete de Comunicação e Educação Ambiental da Águas do Algarve reforça que este projeto é muito mais do que uma exposição de arte. “É um espaço de partilha, de inclusão e de inspiração. Cada participante trouxe uma visão única, mostrando-nos que a arte não tem barreiras e que a água, esse bem tão precioso, pode ser representada de formas infinitas. Sentimos uma enorme responsabilidade e privilégio por dar

continuidade a esta iniciativa”. “Ver a dedicação, a criatividade e a emoção nestas obras é um verdadeiro privilégio. Estes artistas especiais ensinam-nos que a arte é uma linguagem universal e que a água é um elo comum entre todos nós. Este projeto já deixou uma marca na região, e é com grande entusiasmo que olhamos para as próximas edições, com a certeza de que continuará a crescer e a inspirar”, aponta, por sua vez, Isabel Soares, Presidente do Conselho de Administração da Águas do Algarve.

A cerimónia teve início com o Grupo de Artistas/Ginastas da NECI, um grupo misto (8 raparigas e 6 rapazes), cada um com as suas particularidades, mas todos com muita energia e

vontade de demonstrar do que são capazes. Estes artistas/ginastas apresentaram um esquema de dança criativa e ginástica intitulado «Coração de Pedra». O encerramento esteve a cargo do Cancioneiro do Grupo Folclórico de Faro. Mas a grandiosidade deste projeto não se esgota na cerimónia. De facto, as obras estarão expostas na Fundação Pedro Ruivo até 28 de maio e, depois, irão percorrer o Algarve, levando a sua mensagem de arte, inclusão e sustentabilidade a um público ainda mais vasto.

Desde a sua primeira edição, o projeto «A Água e o Mar para Mim» tem crescido em participação e impacto, tornando-se um verdadeiro marco na promoção da

arte inclusiva na região algarvia, e fora desta. “Acreditamos que este projeto tem o poder de transformar olhares e criar novas perspetivas sobre a relação entre o ser humano e a água. Convidamos todos a visitarem a exposição e a deixarem-se tocar pela beleza e sensibilidade destas obras. Mais do que uma mostra de talento, esta é uma homenagem à resiliência, à criatividade e à importância de cuidarmos do nosso bem mais precioso: a água”, descreve Teresa Fernandes, acrescentando que foram 31 as entidades participantes nesta terceira edição, praticamente todas elas da região algarvia, sendo uma de Montemor e outra de Odemira.

Teatro das Figuras, ACTA e UAlg lançam prémio literário em homenagem a José Louro

Teatro das Figuras, a ACTA –A Companhia de Teatro do Algarve/Teatro Lethes e o CIAC –Centro de Investigação em Artes e Comunicação da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve lançam a primeira edição do Prémio Novas

Dramaturgias José Louro, que visa distinguir uma obra dramática original escrita em língua portuguesa. A iniciativa, apresentada, no dia 27 de março, Dia

Mundial do Teatro, no Teatro Lethes, em Faro, tem ainda o intuito de homenagear o professor José Luís Louro (Coimbra, 1933 – Faro, 2018), pedagogo, dramaturgo e encenador, um dos nomes mais relevantes da História do Teatro no Algarve.

José Louro foi um impulsionador de teatro, não só em Faro, mas na região, tendo sido programador do Teatro Lethes em 2001 e fez também parte do Conselho de Administração do Teatro das Figuras entre 2006 e 2008. A sua paixão

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

pelo Teatro levou-o a apoiar a criação de várias companhias, como foi o caso do SinCera – Grupo de Teatro Universitário da Universidade do Algarve (1990) e da ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve (1995).

O prémio tem o valor pecuniário de 3 mil euros e o texto vencedor será levado a cena no início de 2026, com estreia no Teatro das Figuras e, posteriormente, apresentações no Teatro Lethes, em Faro. A encenação ficará a cargo de Luís Vicente, ator, encenador e Diretor

Artístico da ACTA Teatro – A Companhia de Teatro do Algarve. “Esta é uma justa homenagem a uma figura ímpar da região e vem promover a escrita de textos dramáticos no país entre a população mais jovem”, explica Gil Silva, Diretor do Teatro das Figuras, uma vez que os autores não podem ter mais do que 35 anos de idade. Tem ainda uma

menções honrosas, a oportunidade de serem publicadas. O Prémio Novas

Dramaturgias José Louro tem ainda uma componente formativa, uma vez que a parceria com o CIAC possibilita que o Curso Livre de Escola de Verão em

Genética Teatral da Universidade do Algarve, a decorrer em 2025, tenha um Workshop de Escrita Dramática.

As candidaturas devem ser submetidas por formulário online, disponível no site do Teatro das Figuras, até dia 31 de maio. A primeira edição do Prémio Novas

Dramaturgias José Louro tem como parceiros a Câmara Municipal de Faro e o CET – Centro de Estudos de Teatro da Universidade de Lisboa e a Sociedade Portuguesa de Autores, contando com o patrocínio das empresas Grupo Rolear e Metalofarense e com o apoio do Club Farense. Para mais informações, consultar o link Prémio Novas

A caminhada foi longa, mas Cachopo já tem o seu

Centro de Meios Aéreos

ob a efeméride de celebração do 137.º

aniversário dos Bombeiros Municipais de Tavira foi inaugurado formalmente, no dia 21 de março, o Centro de Meios Aéreos de Cachopo, uma infraestrutura essencial para a proteção civil integrada no Heliporto Municipal de Tavira, numa cerimónia que contou com a participação do Secretário de Estado da Proteção Civil, Paulo Jorge Ribeiro. “Uma cerimónia singela, mas com grande importância para a nossa comunidade”,

começou por dizer Ana Paula Martins, presidente da Câmara Municipal de Tavira. “Cachopo é a nossa freguesia mais longínqua do litoral, no coração da serra algarvia, um território de baixa densidade que por vezes é esquecido, mas com forças vivas que a tentam dinamizar. Este investimento serve, por isso, também para chamar a atenção para a necessidade de valorizarmos o nosso interior”, afirmou edil.

Instalar delegações dos serviços essenciais, melhorar a capacidade produtiva e a acessibilidade digital, tudo

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

isso Ana Paula Martins deseja para Cachopo, “fatores cruciais para a coesão territorial do nosso concelho”. A autarca aproveitou a ocasião para agradecer o empenho e dedicação dos Bombeiros Municipais de Tavira, “são um exemplo do que é a proteção e o socorro e um orgulho para todos os tavirenses” “O Centro de Meios Aéreos de Cachopo é um investimento aguardado há muitos anos, desde 2005, quando o Comandante Vaz Pinto teve a ideia de aqui se instalar uma pista de helicóptero. Somos um território com várias vulnerabilidades e que, por isso, somos regularmente fustigados por incêndios, e o helicóptero é fundamental para uma primeira resposta rápida que pode evitar a sua propagação”, considera a presidente da Câmara Municipal de Tavira.

Ana Paula Martins recordou que, em 2009, já existia uma candidatura para a construção do Centro de Meios Aéreos de Cachopo, mas a situação financeira do Município não permitiu que se avançasse de imediato com esse investimento. “Até porque a pista funcionava, cumpria a sua missão, muito embora as condições para os efetivos não fossem, de facto, as melhores. Mais recentemente surgiu uma nova janela de oportunidade, uma candidatura a fundos comunitários em parceria com o Alentejo e Espanha, assim como a AMAL, os Municípios de Castro Marim, Loulé e Monchique e outras entidades. Alterou-se o projeto, andamos sempre a correr contra o tempo, num investimento de 2,5 milhões de euros, com financiamento comunitário de cerca de 670 mil euros.

Foi um grande esforço para a autarquia, mas mais vale prevenir do que remediar”, destacou a presidente.

O investimento na proteção civil por parte do Município de Tavira é facilmente observável noutras matérias, daí que Ana Paula Martins tenha expressado o desejo do Centro de Meios Aéreos de Cachopo passar a ter um helicóptero em permanência ao longo de todo o ano, e não apenas quando está em ação o DECIR – Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais. “O caminho foi longo, em 2024 ainda não estávamos em condições plenas de funcionamento, com tanto combustível que existe por causa das chuvas, se calhar vamos ter um ano complicado, mas estamos cá para o que for necessário. E com este grande investimento quisemos também

demonstrar a importância que damos ao interior do nosso concelho”

Conforme referido, a obra foi apoiada por fundos comunitários e “resultou da articulação entre muitas entidades que nunca desistiram deste investimento”, enalteceu José Apolinário, presidente da CCDR Algarve. “Este é um bom exemplo da implementação da política sectorial no território, com três estruturas – em Loulé, Monchique e Cachopo – e inicialmente existia também a intenção de termos um polo da Escola Nacional de Bombeiros em Castro Marim, o que não se veio a concretizar. Precisamos de ter respostas no território e as alterações climáticas, os incêndios e as cheias, são questões transfronteiriças. Temos os mesmos desafios e dificuldades que os nossos vizinhos da Andaluzia”, frisou José Apolinário,

lembrando que o projeto CILIFO – Centro Ibérico para a Investigação e Luta contra os Incêndios Florestais foi considerado «exemplar» no que toca à colaboração entre Portugal e Espanha. “E queremos continuar a valorizar esta cooperação ao nível da Eurorregião AlgarveAlentejo-Andaluzia”, acrescentou.

Numa região tradicionalmente dividida, em termos geográficos, entre litoral, barrocal e serra, José Apolinário lamentou ainda que o interior seja frequentemente esquecido. “A EN 124 sempre foi a estrada histórica do Algarve, vai desde Alcoutim até Porto de Lagos, e fomos abandonando essa artéria, só falamos da EN 125. No Portugal 2030 foi igualmente alocada uma verba para um grande concurso de 5G que tem vindo a ser sucessivamente adiado por razões de litigância jurídica. Espero que este ano seja concretizado, pois será um investimento estratégico para melhorar a conetividade de uma grande parte do nosso território”, apontou o presidente da CCDR Algarve. “No Algarve estamos bem conscientes de que somos uma região muito sujeita aos impactos das alterações climáticas. Tão depressa temos anos de elevada seca, em que andamos a discutir uns com os outros se temos água que chegue para a agricultura, o turismo e para as populações; como temos anos de chuvas intensas, com inundações e necessidade de fazer descargas nas barragens. Felizmente que temos servidores públicos, na proteção civil, nos corpos e serviços de bombeiros, na GNR, na PSP, em todas as forças de segurança, competentes, empenhados e que colocam o serviço à população

como o primeiro desígnio das suas funções”, enalteceu José Apolinário.

Os discursos formais terminaram com as palavras do Secretário de Estado da Proteção Civil, Paulo Jorge Ribeiro, que também considerou o Centro de Meios Aéreos de Cachopo como “uma infraestrutura essencial para a coordenação e gestão dos meios aéreos, reforçando a capacidade desta região para responder a situações de emergência”. “Este é o resultado da colaboração entre todos, desde as entidades da administração central aos serviços desconcentrados do Estado, do governo, da CCDR, e particularmente das autarquias. Com as nossas decisões e empenho queremos ajudar a servir melhor as populações, em prol da segurança, do socorro, da emergência e da eficácia e eficiência da resposta que damos aos nossos cidadãos. Este investimento servirá todo o Algarve e tem um posicionamento estratégico no eixo Algarve-Alentejo-Andaluzia”, entende o Secretário de Estado. “A colaboração entre governo, autarquias e agentes da proteção civil é essencial para defender as nossas populações, o seu património pessoal e o seu património coletivo. Quando olhamos para o país, temos que ter sempre a visão do todo, das zonas mais urbanas às com menor densidade populacional, das zonas mais rurais do interior às do litoral. No dia 15 de maio, o helicóptero ligeiro já deverá estar em Cachopo, os homens e mulheres do Centro de Meios Aéreos vão ter melhores condições para fazer o seu trabalho, e assim também nos vão proteger melhor”, concluiu Paulo Jorge Ribeiro.

Aljezur avança na certificação de destino turístico sustentável

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

Município de Aljezur está a executar o projeto «Aljezur Mais Sustentável», desenvolvido no âmbito da candidatura à linha de apoio Regenerar Territórios – Incêndios 2023 do Turismo de Portugal. O projeto, que recebeu um financiamento de aproximadamente 160 mil euros, tem como principal objetivo consolidar Aljezur como destino turístico sustentável e responsável, o que permitirá reforçar a aposta do concelho no segmento do turismo de natureza, consolidando a sua posição como referência no setor. Para apoiar esta iniciativa, será desenvolvido um Plano de Marketing e Comunicação, que definirá estratégias e ferramentas para promover Aljezur a nível nacional e internacional.

Cerca de 2 mil hectares arderam na Freguesia de Odeceixe, nos chamados «incêndios da Baiona», e estas fatalidades, de acordo com José Gonçalves, presidente da Câmara Municipal de Aljezur, “muitas vezes levam-nos a tentar arranjar formas de criar mais resiliência no território e a olhar para ele, de uma maneira apaixonada, mas também com olhos no futuro”. “O concelho tem excelentes condições em termos de natureza e biodiversidade e amadureceu-se a ideia

de partirmos para a certificação de destino sustentável, o que nos obriga a mais trabalho e acarreta maior responsabilidade, mas é uma partilha com os agentes locais e a população residente”, indica o edil.

Uma certificação que será apenas o primeiro passo de uma aventura mais ampla, num processo que começa, naturalmente, pela realização de um diagnóstico. E José Gonçalves garante

que, tanto a autarquia, como a junta de freguesia, bem como os empresários e a comunidade, já adotam, no seu dia-a-dia, uma séria de medidas e práticas a pensar nas questões da sustentabilidade. “Claro que, agora, é preciso aprofundá-las e agregá-las numa estratégia, com a sustentabilidade a assentar nas vertentes ambiental, social e económica. Acreditamos que, com esta certificação, vamos envolver mais as pessoas e levá-las a pensar nesta

questão mais em concreto, mas já temos uma comunidade bastante desperta para esta temática”, destaca o entrevistado.

Aljezur que é, sem dúvida, um pequeno paraíso, mas com um ordenamento bastante complexo, admite José Gonçalves. “Metade do território é Parque Natural e outra parte substancial é Rede Natura. Estamos presentemente a rever o PDM – Plano

Diretor Municipal, o que já devia ter sido feito há uma série de anos, mas há outros planos que também deveriam ser revistos, como é o caso do regulamento do Parque Natural e do próprio POOC – Plano de Ordenamento da Orla Costeira”, comenta o autarca. “Esta comunidade precisa de ver resolvidas algumas questões, como o Vale da Telha, o grande desafio urbanístico deste concelho cujo Plano de Pormenor está a ser trabalhado há

vários anos. Este caminho está a ser percorrido com muita expetativa e poderemos estar a um passo de ter um plano aprovado até final do ano. Conseguimos entregar o pré-plano na CCDR Algarve, as entidades já se pronunciaram, estamos a negociar com o ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, e depois penso que teremos condições para completar o plano e levá-lo a uma aprovação, quer na Câmara como na Assembleia Municipal”

Mais questões estão a ser trabalhadas, como um projeto aprovado de ciclovias e ecovias no montante de 3,5 milhões de euros, ou uma candidatura no âmbito da eficiência hídrica no valor de 4 milhões de euros para melhoramento de toda a rede de abastecimento de água no concelho. “Aljezur espera e precisa sempre de mais e vamos trabalhando, no dia-adia, para melhorar as condições de quem cá vive”, frisa José Gonçalves, lamentando que muitas decisões vitais para o desenvolvimento do território não dependam da atuação do Município. “O país não aguenta andarmos de eleição em eleição e, no caso concreto do Vale da Telha, por exemplo, tenho ido várias vezes a Lisboa para reunir com membros do governo e os grupos parlamentares da Assembleia da República. Já falei com a Ministra do Ambiente e com os Ministros da Coesão e da Agricultura, e agora, se vier um novo executivo, lá terei que repetir o trabalho todo outra vez, «levar a carta a Garcia». O Algarve tem uma coisa chamada PROTAL, tudo isto tem que casar e há que adaptar os planos existentes para darem respostas às

necessidades atuais”, defende. “A conservação da natureza não se faz abandonando-a, mas sim cuidando, valorizando e rentabilizando. Às vezes é necessário sacrificar algumas zonas para que outras possam beneficiar. Com a pandemia houve muitas pessoas a quererem vir viver para Aljezur, é notório o aumento de crianças nas nossas escolas, e que o concelho já tem movimento ao longo de todo o ano”.

Crescimento

económico não é fácil, mas vai acontecendo

O esbater da sazonalidade trouxe, como se adivinha, maiores exigências para o território e para as infraestruturas e José Gonçalves constata frequentemente o problema de Aljezur estar muito longe de Lisboa, “que continua a centralizar tudo”. E mesmo a recente alteração à lei do uso dos solos criou expetativas irreais. “Antigamente promovíamos autoconstrução em lotes completamente urbanizados que disponibilizávamos a preços simbólicos, para que as famílias se pudessem fixar e construir. A verdade é que o preço dos materiais disparou e não há empresas para construir. Nós temos uma Estratégia Local de Habitação, mas ela não dá resposta às necessidades de determinadas profissões, como médicos ou professores, ou mesmo do cidadão comum, pois está direcionada para famílias identificadas que precisam urgentemente de uma habitação digna”, explica o edil, reconhecendo que, em Aljezur, se praticam preços quase inexplicáveis. “É um desafio gigantesco. Conseguimos estabilizar um quadro

com três médicos de família, três jovens, em virtude de um programa de apoio à sua fixação, que já constituíram família e a quem foram atribuídos lotes para construírem casa. Gostaríamos de ter mais um médico, mas, há três ou quatro anos, só tínhamos um”

Aljezur também não é um concelho propriamente de rápido acesso e o mapa de investimentos na rede viária, em termos nacionais, voltou a esquecer-se da região algarvia. “A Via do Infante termina em Lagos e depois há que vencer as curvas do Espinhaço de Cão, o que não é fácil. Há muitos anos que se fala de uma variante a Aljezur para retirar o trânsito de dentro da vila e estamos agora com um problema gravíssimo na estrada nacional mais a norte, em Odeceixe. Também não temos comboio, mas este afastamento não tem impedido o aumento da população e o progresso do território, com investimentos ligados ao turismo, mas não só”, atesta o presidente da Câmara Municipal de Aljezur.

A sustentabilidade económica é, por isso, um grande desafio em Aljezur, e José Gonçalves recorda o Hotel do Canal, um investimento de 14 milhões de euros que demorou cerca de 20 anos para ser implementado. “Temos turismos rurais com muita qualidade, a nossa zona industrial vai dando passinhos consistentes com empresas que criam algum emprego. Tudo funciona numa escala mais reduzida, mas também mais sustentável”, sublinha o entrevistado, adiantando que o maior empregador do concelho é a Câmara Municipal, seguindo-se a Santa Casa da

Misericórdia, a Casa da Criança e os Bombeiros Voluntários. “Não se vive mal em Aljezur, as questões sociais estão devidamente enquadradas e acompanhadas, e não são tantas como isso. Mas um concelho como Aljezur exige que haja uma grande vontade de se resolver questões e de se fazer quilómetros para falar com quem tem poder de decisão. É um concelho maravilhoso, fantástico, mas muito exigente em termos de autarquia”

Câmara está a fazer o seu trabalho, mas nem tudo depende dela

Com total rigor orçamental se vai fazendo obra em Aljezur, uma autarquia que tem uma boa capacidade de endividamento que lhe permite, neste

momento, investir substancialmente na rede viária à custa de fundos próprios e de um empréstimo bancário. “A grande questão é que o Algarve é considerado uma região rica e as comparticipações dos fundos comunitários, tirando algumas exceções, são a 60 por cento, quanto muito a 75 por cento. Isso obriga a um esforço redobrado da parte das autarquias e aquelas que têm menores recursos financeiros, como é o nosso caso, sentem ainda maiores dificuldades. Temos que ser cuidadosos e criteriosos, de modo a darmos respostas aos nossos compromissos com a comunidade local”, declara José Gonçalves.

Comunidade onde se inserem três parceiros essenciais, considera o edil, a Casa da Criança, os Bombeiros Voluntários e a Santa Casa da

Misericórdia, “e precisamos continuar a apoiá-los porque o Estado Central muitas vezes falha nos compromissos que têm com estas IPSS” “Estamos juntos com a Casa da Criança para se criar uma nova creche para Aljezur, somos nós que suportamos o custo do projeto e depois teremos que procurar candidaturas para executar a obra. E sabemos que teremos que entrar com uma parte substancial desse investimento, à semelhança do que tem acontecido ao longo dos anos noutros projetos, como é exemplo disso a Unidade de Cuidados Continuados”, aponta o entrevistado.

O caminho está descortinado, as pessoas estão sensibilizadas para o percorrer, e o grande objetivo é que “quem está cá hoje possa deixar para as gerações vindouras tão bem ou melhor do que aquilo que encontrou”. “Todos os dias ouvimos falar das alterações climáticas e vivenciamos fenómenos extremos, por isso, quem está nos pontos de decisão, seja uma câmara, empresa ou IPSS, tem essa responsabilidade. Esta certificação de destino sustentável trará maior visibilidade ao nosso território e a comunidade aljezurense está empenhada em alcançá-la”, assegura José Gonçalves. “Quem viaja, quem faz turismo, cada vez está mais alerta para a sustentabilidade ambiental, económica e social. Aljezur tem todos os ingredientes para isto dar certo, temos o tradicional turista de sol e praia, o surf, as caminhadas. Quem vem cá hoje, amanhã ou depois de amanhã, encontra efetivamente condições para usufruir desta região”, frisa.

E como é que Aljezur conseguirá ser sustentável daqui a 10, 15, 20 ou 30 anos, quais são as grandes ambições do concelho? “É preciso que os planos de ordenamento de território vão ao encontro das necessidades do território e não estou com isto a dizer que queremos construir de qualquer

maneira e feitio. Vale da Telha, Espartal, revisão do PDM são prioridades, e há que permitir que os núcleos urbanos tenham mais algumas áreas para habitação”, responde José Gonçalves. “Este trabalho tem que ser contínuo, com a comunidade e as atividades económicas, o turismo, a agricultura e a pesca, e é preciso atrair

também indústrias limpas. A Câmara está a fazer o seu trabalho, mas outras entidades governamentais desempenham um papel importante nestas situações. E muitas vezes as coisas atrasam-se, não por falta de vontade política ou técnica, mas porque a máquina da administração pública é pesada”, desabafa, em final de conversa.

Messines acolheu Torneio

de Iniciação, Encontro de Infantis e Torneio de Níveis de Ginástica

Acrobática (2)

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

Associação de Ginástica do Algarve organizou, no dia 15 de março, em São Bartolomeu de Messines, com o apoio da Casa do Povo de São Bartolomeu de Messines, um Torneio de Iniciação, o 1.º Torneio de Níveis e o 1.º

Encontro de Infantis de 2025. Ao todo foram quase 400 ginastas a demonstrar o seu talento e dedicação no praticável, em representação da ACD Che Lagoense, Acro Al-Buhera, AGS – Associação de Ginástica de Silves, APAGL – Associação dos Pais e Amigos da Ginástica de Loulé, Casa do Povo de São Bartolomeu de Messines, Clube Academia Desporto de Beja, CEDF – Clube Educativo e

Desportivo de Faro, GCL – Ginástica

Clube de Loulé, LDC – Louletano

Desportos Clube, e sempre com o apoio efusivo dos familiares que encheram a bancada do pavilhão.

Depois de, na anterior edição, ter saído a reportagem do Torneio de Iniciação e Encontro de Infantis, desta feita são publicadas as fotos do Torneio de Níveis.

CINETEATRO LOULETANO COMEMOROU

DO TEATRO COM ANTÍGONA,

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

COMEMOROU DIA MUNDIAL

DO COLETIVO SILLYSEASON

Cineteatro Louletano

festejou o Dia

Mundial do Teatro, a 27 de março, com «Antígona» do coletivo SillySeason, que revisitou este texto clássico para questionar o poder discricionário estatal. “Quem são estes três jovens, Antígona, Polinices e Hémon, ora abandonados, ora condenados, pelas mais recentes políticas governamentais? No que pensam e o que sentem? Numa das suas últimas entrevistas, o filósofo George Steiner dizia que ‘estamos a matar os sonhos dos nossos filhos’. Mas, afinal, que sonhos são esses? O

que ainda nos é permitido sonhar em 2025? Será esta a nossa tragédia”, refere o coletivo.

«Antígona» teve Direção e Criação da SillySeason (Cátia Tomé, Ivo Saraiva e Silva e Ricardo Teixeira), com interpretação a cargo de Cátia Tomé, Inês Corino, Ivo Saraiva e Silva, Miguel Ponte, Mónica Calle, Patrícia Brüheim e Ricardo Teixeira. Tratou-se de uma coprodução do Cineteatro Louletano, Teatro-Cine Gouveia e Theatro Circo, com os apoios de Cão Solteiro, Residências 120, Companhia Olga Roriz, Escola de Mulheres e CoffeePaste. O coletivo SillySeason é uma estrutura financiada pela República Portuguesa – Cultura / Direção-Geral das Artes.

CRISTINA CHERRY APRESENTOU NOVO DISCO NO

CHOQUE FRONTAL AO

VIVO

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Vera Lisa

Choque Frontal ao Vivo regressou, no dia 20 de março, ao TEMPO – Teatro Municipal de Portimão, desta feita com Cristina Cherry, a personificação da paixão, determinação e talento. Em 2022 ganhou visibilidade nacional ao participar no «Ídolos Portugal» e, no mesmo ano, lançou o seu primeiro single, «Girl of Your Dream», que rapidamente conquistou ouvintes em vários países. O seu mais recente lançamento, «Can You Be Mine?», já toca em mais de 20 rádios internacionais e a sua música é ouvida em mais de 140 países.

No verão de 2024, Cristina Cherry deu a conhecer o seu álbum e voltou a

surpreender ao participar no «The Voice Portugal», onde conquistou as quatro cadeiras dos mentores. Agora, em 2025, acontece um dos momentos mais importantes da sua carreira, o lançamento do álbum de estreia, «I am Cristina Cherry», no dia 30 de março. Composto por 13 faixas autorais, este trabalho reflete a sua essência e evolução artística, fundindo influências de B.B. King, Amy Winehouse e outros ícones do Blues, Soul e Rock. Um disco que foi apresentado pela primeira vez ao vivo e com público no Choque Frontal ao Vivo, programa da responsabilidade de Ricardo Coelho e Júlio Ferreira.

O Choque Frontal ao Vivo, antes da sua habitual pausa até setembro, ainda vai receber, no dia 23 de abril, os «The Black Teddys».

Turismo: Reconhecer o Mérito e Valorizar o Sucesso

Antónia Correia, professora e presidente do KIPT Colab

os últimos tempos, tornou-se

recorrente justificar a relevância do turismo para a economia portuguesa. Esta insistência reflete um paradoxo profundamente enraizado na nossa mentalidade coletiva: a desconfiança face ao sucesso, que tem raízes históricas e continua a persistir. Esta postura resulta de décadas a promover uma humildade extrema e uma resignação, características fomentadas pelo regime salazarista.

A Herança do Salazarismo

Salazar cultivou uma imagem do povo português como humilde, trabalhador e honrado, valorizando a submissão e a aceitação das dificuldades como virtudes nacionais. Esta narrativa, sustentada por slogans como «Deus, Pátria e Família», reforçava a ideia de que a grandeza não era um objetivo, mas sim um desvio perigoso do que significava ser verdadeiramente português. Qualquer tentativa de se destacar ou ultrapassar o normal era vista como arrogância ou soberba.

Ainda hoje, mesmo após a queda do regime, os ecos desta mentalidade

persistem na sociedade portuguesa. Assistimos a um paradoxo social: quem se esforça para alcançar o sucesso é frequentemente visto como presunçoso ou elitista, enquanto quem não se destaca ou falha nos seus objetivos é encarado com compaixão e dignidade. Esta herança inconsciente continua a moldar uma cultura onde o sucesso individual levanta suspeitas e o mérito é encarado com desconfiança.

Na prática, esta atitude traduz-se numa valorização daqueles que permanecem na mediania ou enfrentam dificuldades, enquanto o mérito — fruto do esforço, talento e determinação — é frequentemente visto como uma ameaça à igualdade, alvo de preconceito e retaliação.

Por fatores culturais, o país parece permanecer preso a uma visão de pequenez, humildade e pobreza — mas honrada — como se a grandeza e a integridade fossem antagónicas.

Esta postura social cria um ambiente onde os que falham parecem ser os únicos dignos de compreensão, enquanto os que se destacam são encarados como uma ameaça ao equilíbrio coletivo, como se o seu êxito expusesse as fragilidades dos outros. Viver numa sociedade onde ser competente e alcançar o sucesso é

quase um pecado leva muitos a ocultarem as suas capacidades para evitar julgamentos e represálias.

É legítimo perguntar: queremos perpetuar esta mentalidade?

Continuaremos a aceitar uma cultura que eleva a modéstia ao ponto de rejeitar a excelência?

Romper com esta visão ultrapassada é essencial para superar o «Portugal dos

pequeninos». Reconhecer o mérito e promover a excelência não significa desvalorizar quem enfrenta dificuldades, mas sim criar um equilíbrio justo, onde o sucesso é celebrado e as falhas são entendidas como oportunidades de aprendizagem.

Construir uma sociedade mais justa e meritocrática implica transformar esta mentalidade coletiva, reconhecendo com orgulho o contributo do turismo para

Portugal. O crescimento deste setor não é uma ameaça, mas sim uma alavanca para o desenvolvimento económico e social do país.

Valorizar o Turismo como Pilar Económico

O turismo não necessita de justificações constantes, mas sim de reconhecimento. É o setor que mais contribui de forma contínua e transversal para a economia nacional.

O turismo tem crescido a dois dígitos e destaca-se como um dos setores mais relevantes para a economia nacional. É o único que contribui diretamente para 49 setores de atividade económica em simultâneo, envolvendo áreas tão diversas como hotelaria, restauração, comércio, transportes, cultura, construção civil e saúde. Esta capacidade de impulsionar múltiplos setores torna-o um pilar incontornável da economia portuguesa.

Contudo, em vez de se reconhecer este contributo, continua a justificar-se repetidamente a sua importância, como se o seu crescimento fosse uma ameaça ao equilíbrio social. Esta postura revela uma mentalidade que encara o sucesso como uma afronta coletiva, reflexo claro de uma herança que glorifica a humildade ao ponto de ver o progresso com desconfiança.

Algarve: Um Potencial que Não Pode Ser Ignorado

O Algarve, com o seu enorme potencial turístico, cultural e económico, não pode

continuar a ser visto apenas como um refúgio modesto e acolhedor. Tem de ser encarado como uma região capaz de inovar, liderar e competir a nível nacional e internacional. Para isso, é necessário incentivar quem quer fazer mais, quem quer ser melhor, e deixar de penalizar o sucesso como se fosse uma afronta à coletividade.

Valorizar o turismo significa reconhecer o mérito de um setor que gera riqueza, emprego e desenvolvimento. Não há motivo para continuar a justificar o impacto positivo desta atividade — é necessário potenciar as suas vantagens e encarar o crescimento como uma oportunidade, não como um problema. Aproveitar as sinergias que o turismo gera nos 49 setores económicos é essencial para fortalecer o tecido social e económico da região.

O sucesso do turismo deve ser encarado como uma alavanca para o desenvolvimento, e não como um fator de desequilíbrio.

Assumir o sucesso e reconhecer o progresso que o turismo representa para o país é fundamental para romper com o estigma que associa crescimento económico a uma ameaça social.

O

TURISMO NÃO É UM PROBLEMA — É UMA OPORTUNIDADE QUE DEVE SER POTENCIADA, COM ORGULHO E CONFIANÇA.

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