REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #471

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ALGARVE INFORMATIVO

1 de março, 2025

JOÃO BARRADAS magistral

no Teatro Lethes

«EU, TODAS» NO CENTRO CULTURAL DE LAGOS | GINÁSTICA RÍTMICA NA MEXILHOEIRA GRANDE

ÍNDICE

Albufeira todo o ano (pág. 20)

Ginástica Rítmica na Mexilhoeira Grande (pág. 26)

Entrevista a André Gomes (pág. 56)

«A Médica» no Cineteatro Louletano (pág. 68)

João Barradas e Agrupamento de Música de Câmara da Orquestra do Algarve no Teatro Lethes (pág. 84)

The Mirandas (pág. 96)

Exposição «Eu, todas» no Centro Cultural de Lagos (pág. 108)

OPINIÃO

Júlio Ferreira (pág. 120)

Paulo Neves (pág. 124)

Valentim Filipe (pág. 126)

Albufeira aposta em estratégia de captação de turistas durante

todo o ano

VTexto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

enha conhecer Albufeira! é o mote dos oito vídeos concebidos no âmbito da campanha «Albufeira todo o ano». A iniciativa do Município de Albufeira pretende dar a conhecer o concelho a potenciais turistas nacionais e internacionais e, para o presidente José Carlos Rolo, o objetivo passa precisamente por “comunicar exemplos de atividades que podem ser desenvolvidas em Albufeira durante todo o ano”. O edil realçou, em

conferência de imprensa tida no Salão Nobre, que “a campanha está inserida numa estratégia mais ampla que tem permitido trazer ao concelho vários eventos de destaque a nível internacional, sobretudo na vertente desportiva”

«Albufeira todo o ano» resulta do esforço que o Município tem feito para mitigar os efeitos da sazonalidade da indústria turística. Para isso, foram produzidos vários vídeos promocionais que dão a conhecer aspetos diversos da vida do concelho. Além das componentes gastronómica e desportiva, foram ainda

apresentados vídeos dedicados à animação noturna e oferta hoteleira, às atividades marítimas (com destaque para a Art Reef by Vhils, a primeira exposição subaquática do país), aos vinhos produzidos no concelho, ao Mercado dos Caliços, e às praias vigiadas durante o ano inteiro.

A campanha será agora lançada através da divulgação dos vídeos nos canais digitais do Município, na televisão e na

rádio. De forma a aumentar a visibilidade das ações, a Autarquia vai também recorrer à colocação de cartazes em mupis e outdoors espalhados por várias zonas do país. O vice-presidente da Câmara Municipal de Albufeira, Cristiano Cabrita, frisou que se trata de um tipo de “comunicação positiva para fazer frente a notícias negativas que têm vindo a surgir e que não retratam a realidade que se vive no concelho”. O autarca também se mostrou visivelmente

agradado com os elementos produzidos ao abrigo da campanha e realçou que esta “servirá para posicionar Albufeira no mercado nacional e internacional”.

Refira-se que a campanha «Albufeira todo o ano» procura sensibilizar os turistas para a possibilidade de visitar o concelho em várias alturas do ano, ao invés de concentrar as férias apenas no verão. O vice-presidente diz acreditar que “a campanha é bastante apelativa, tem

credibilidade e acrescenta valor ao destino” “Somos uma referência a nível nacional e internacional e sentimo-nos muito orgulhosos por isso”, acrescentou. A terminar, Cristiano Cabrita deixou o seguinte desafio: “Temos uma ferramenta de comunicação positiva, pelo que apelo a que todos, jornalistas, empresários, coletividades e munícipes, que a divulguem o mais que puderem”

Mexilhoeira Grande vibrou com a ginástica rítmica

CIRM – Clube de Instrução e Recreio

Mexilhoeirense levou a cabo, no dia 15 de fevereiro, em conjunto com a Associação de Ginástica do Algarve, o Campeonato Territorial da 2.ª Divisão, Encontro de Benjamins e Infantis e Torneio de Preparação da 1.ª Divisão de ginástica rítmica. Muitos foram os familiares das jovens ginastas que preencheram a bancada do Pavilhão Desportivo da Escola Básica José Sobral,

na Mexilhoeira Grande, numa prova que serviu também para apurar as ginastas do CIRM da 2.ª divisão para o Campeonato Nacional e para preparar as ginastas da 1.ª divisão para as provas que se avizinham. A par do clube anfitrião participaram ainda o ACD Che Lagoense, a Associação Desportiva Alvoreiros, a Associação de Ginástica Rítmica de Portimão e o Guia Futebol Clube.

Nesta edição fica a reportagem do Encontro de Benjamins e Infantis, ao passo que a competição da 1.ª e 2.ª Divisões sai na revista do dia 8 de março.

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

Turismo do Algarve continua a bater recordes e o mote para

o futuro é a sustentabilidade do setor e o impacto no território e comunidades

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

Região de Turismo do Algarve assinala, a 18 de março, o seu 55.º aniversário com a conferência «Turismo do Algarve: superar desafios, construindo o amanhã», a ter lugar no Centro de Congressos do Hotel EPIC SANA Algarve. O evento reunirá especialistas, líderes do setor e personalidades de relevo nacionais e internacionais para debater os desafios e oportunidades do turismo no Algarve e, através de painéis temáticos, serão discutidas estratégias para fortalecer a competitividade do setor, qualificar o tecido empresarial, valorizar o território, dinamizar a economia, fomentar a inovação e reforçar a conectividade regional.

Algarve que voltou, à semelhança dos anos anteriores, a bater todos os recordes, seja de visitantes, de dormidas, de proveitos ou de passageiros a chegar ao Aeroporto Internacional Gago Coutinho. 2024 veio, de facto, consolidar

o Algarve como o principal destino de férias, tanto de turistas portugueses como estrangeiros, para satisfação de André Gomes, presidente do Turismo do Algarve. “Ultrapassamos os 5.2 milhões de hóspedes, um número jamais atingido neste mais de meio século de região turística, e que representa um aumento de 2,6 por cento face a 2023. Somos a região que mais dormidas gera no país, com um acréscimo de 1,9 relativamente a 2023, com 20.7 milhões de dormidas. E isto tudo sem estarem contabilizados os valores do alojamento local com menos de 10 camas”, revela o entrevistado. “O Algarve tem mais de 30 por cento da oferta de alojamento local a nível nacional, na região já representa quase 60 por cento da nossa oferta de camas, e o AL com menos de 10 camas, em 2023, pode ter gerado mais de 1 milhão de hóspedes e mais de 8 milhões de dormidas. Mantendo-se a tendência em 2024, se calhar não tivemos 20 milhões de dormidas no Algarve, mas quase 30 milhões e, se calhar, ultrapassamos os 6 milhões de hóspedes”, acentua.

Ora, se a preocupação do Algarve não é concorrer com outras regiões portugueses no que toca às dormidas, a verdade é que alguns dos indicadores mencionados influenciam os orçamentos que cada Entidade Regional tem ao seu dispor. “É completamente estarmos a ser financiados em sede de Orçamento de Estado com base em 20 milhões de dormidas, ou, porventura, com base em 30 milhões. Se calhar estaríamos a falar em mais 50 por cento de orçamento para a RTA”, aponta André Gomes, realçando ainda o facto do bom desempenho do Algarve acontecer ao longo de todo o ano, e não apenas na chamada época alta, e em diversos produtos turísticos, e não somente no «sol e mar» e «golfe». “O Algarve é um destino que vai muito para além desses

dois produtos, que continuam a ser os principais, aqueles que nos conferem maior notoriedade e reconhecimento a nível internacional… mas não são os únicos. Fruto de uma aposta muito forte no turismo de natureza nos últimos 10 anos, temos conseguido providenciar experienciações de visitação à região ao longo de todo o ano, graças a uma multiplicidade de ofertas. Foi um trabalho longo de estruturação de oferta com a potenciação de rotas cicláveis e pedestres como foi o caso da Via Algarviana, da Rota Vicentina, da Rota do Guadiana ou da Ecovia do Litoral. É uma oferta bastante alicerçada no interior do nosso território que permitiu, não só motivações de visita, mas também o desenvolvimento de novas atividades económicas em redor

do turismo de natureza”, analisa André Gomes.

Para este sucesso contribui igualmente, claro está, todo o património natural e cultural da região, assim como os grandes eventos, sejam corporativos, com a receção de congressos e seminários fora da época alta, como as provas desportivas internacionais, também elas fora da época alta. “Tivemos agora o exemplo da Volta ao Algarve em bicicleta, o alojamento, a restauração, as rent-a-cars, é toda uma economia regional que se dinamizou durante esta semana”, sublinha.

Indissociável do sucesso do Algarve é o crescimento do Aeroporto de Faro, também ele sempre a bater recordes, e que comemora, em maio, os 60 anos de existência. “Em 1965, transportou mil passageiros, volvidas seis décadas vai atingir os 10 milhões de passageiros. Em 2024 chegou aos 9.8 milhões de passageiros transportados, nunca tinha transportado tanta gente num ano. A conetividade aérea é determinante para o nosso êxito, daí o Turismo do Algarve apostar forte na angariação de novas rotas, para potenciar a diversificação dos mercados emissores e não dependermos tantos dos nossos mercados mais tradicionais; mas também no aumento da capacidade das rotas existentes e no prolongamento das rotas de Verão para o ano interior”, destaca André Gomes, um trabalho sempre feito a três entre Turismo do Algarve, Turismo de Portugal e Aeroporto de Faro.

Feitas as contas, o Algarve fechou 2024 com 1.7 mil milhões de euros, um aumento de 5,5 por cento face a 2023, o que evidencia que a região está a crescer mais ao nível dos proveitos do que dos hóspedes e dormidas. E, como é natural, o golfe é outro dos responsáveis por esta performance. “Superámos o recorde de 2023, com 1 milhão e 460 mil voltas, com o Algarve a representar 67 por cento de todo o golfe jogado em Portugal, fruto dos quase 40 campos existentes na região e da sua qualidade. Por isso, entendemos, de certa maneira, que a eleição de Portugal como Melhor Destino do Mundo de Golfe em 2024 se deve muito ao Algarve. E recorde-se que tivemos um dos nossos principais campos encerrado praticamente o ano todo, o Victoria, que esteve a ser totalmente reformulado”, salienta.

“Tudo é mais difícil para o Algarve conseguir quando estamos a falar de reivindicação junto do poder central”

Estes são os números reais e concretos, não podem ser negados, mas o Algarve parece que continua a ter a sina de, todos os anos, sobretudo na altura do Verão, ser notícia por fatores menos positivos, porque a aposta neste ou naquele nicho de mercado não resultou, porque os portugueses já preferem ir de férias para o estrangeiro ao invés de rumarem ao Algarve, porque perdeu este ou aquele evento desportivo, porque metade dos passageiros que aterra no Aeroporto de

Faro vai logo de seguida para o sul de Espanha. “Infelizmente, já nos vamos habituando a isso. No último Verão foi a narrativa de que o Algarve estava divorciado dos portugueses, de que estes não tinham capacidade financeira para virem de férias para o Algarve, quando, depois de conhecidos os resultados finais, verificamos que o Algarve teve mais 1,3 por cento de portugueses, a par do crescimento de 3

por cento de turistas internacionais. E isto, mais uma vez, sem estarem contabilizados os Alojamentos Locais com menos de 10 camas, quando sabemos que os portugueses até preferem este tipo de alojamento”, desabafa André Gomes. “Estivemos anos à espera que a autoestrada chegasse ao Algarve, primeiro ficou parada em Alcácer, depois em Beja. Está agora em curso a eletrificação da

linha ferroviária, algo que já deveria ter acontecido há mais de 10 anos. A Via do Infante esteve parada na Guia vários anos antes de chegar a Lagos e só no início deste ano é que temos, finalmente, uma autoestrada a ligar uma ponta da região à outra sem portagens. Estamos também à espera há décadas por um hospital central. De facto, tudo é mais difícil para o Algarve conseguir quando estamos a falar de

reivindicação junto do poder central. Acima de tudo, não existe um reconhecimento nacional, e até às vezes regional, do contributo que o Algarve dá para a economia regional e nacional”, declara, sem rodeios, o presidente da Região de Turismo do Algarve.

Melhor está, sem dúvida, o relacionamento entre os players, o trade, as diferentes associações empresariais e municípios, enaltece André Gomes, uma união, articulação e entendimento que se estende a todo o país. “Esse é outro fator que explica as respostas que o setor tem dado às adversidades nos últimos anos. O Turismo foi um dos setores mais afetados pela pandemia, mas também foi o primeiro a recuperar, e o mais rapidamente possível, no póspandemia. Observou-se uma enorme estabilidade nas relações entre a parte pública e privada do setor e, no Algarve, há que evidenciar a fantástica articulação existente entre a RTA e todas as associações representativas do setor, sejam elas de índole regional ou nacional”, aponta o entrevistado.

Chegados aos 55 anos de Região de Turismo do Algarve, resta saber qual o caminho a seguir para se manter este desempenho, e até superá-lo, sempre atento aos recentes fenómenos de overtourism que não se pretendem que aconteçam no Algarve. “O foco está, obviamente, na sustentabilidade, que é a base da nossa estratégia de marketing para os próximos anos. Queremos ser um destino sustentável, quer do ponto de vista da gestão dos seus recursos, como da sua oferta

turística, e temos preconizadas várias ações, até 2028, para capacitar uma oferta sustentável, inovadora e capaz de dar resposta às experiências que os turistas procuram cada vez mais nos tempos modernos. Termos inovação e novidades todos os anos tem permitido que o Algarve continue a crescer em mercados consolidados e com os quais está historicamente ligado”, salienta André Gomes, não esquecendo que nem o Brexit veio contrariar a apetência natural dos britânicos gozarem as suas férias no Algarve. “Por outro lado, temos conseguido criar motivações de visita para novos mercados, que têm vindo a descobrir Portugal e o Algarve, que continuará, certamente, a ser um destino de eleição no futuro”.

Estará, contudo, o Algarve a atingir o seu limite de absorção de visitantes, questionamos. “O objetivo é crescermos na qualidade dos serviços prestados e na capacidade do setor gerar impacto económico na região. Muito provavelmente o foco, nos próximos anos, não vai ser se crescemos x ou y em percentagem de turistas ou dormidas, mas de que forma é que o turismo está a impactar a gestão do território e as comunidades locais”, responde André Gomes. “Se não tivermos território e uma boa relação com os residentes, que transmitem a hospitalidade pela qual somos mais reconhecidos, o setor não pode ter um grande futuro. Recuso-me a pensar que estejamos numa situação de overtourism, nem o Algarve nem Portugal. Vejo essa situação muito pontualmente identificada numa freguesia em particular de Lisboa ou

Porto. No Algarve, verifica-se um pico no Verão, mas não em todo o território por igual, é mais incisivo em três concelhos do litoral”, esclarece o presidente da RTA. “O Algarve continua a ter muito território para dar a conhecer a quem nos visita e, no que toca aos novos hotéis que estão a surgir, são investimentos que vêm claramente qualificar a nossa oferta e a

grande maioria deles dizem respeito a remodelações e reabilitações, ou entrada de novas marcas em unidades hoteleiras que já existiam. Por outro lado, se queremos promover o interior do território, precisamos de serviços de alojamento como o Ombria e o Verde Lago, ou o que está previsto para São Brás de Alportel. Temos que continuar a acarinhar estes investimentos, desde

que tenham uma preocupação notória com a correta gestão do território, e que cumpram com os regulamentos e as necessidades ao nível da sustentabilidade, como é o caso dos recursos hídricos”

A meta é, portanto, crescer mais em valor do que em quantidade, nomeadamente no impacto que tem no

território e nas comunidades, e tudo aponta que isso seja concretizável. Não esqueçamos que o Algarve tremeu, mas não caiu, com a pandemia, a Guerra da Ucrânia, a instabilidade no Médio Oriente ou o Brexit, mas há sinais que não podem ser descurados. “O Algarve e o Turismo enfrentam novos desafios em cada dia que passa, porque é um setor que está vulnerável às circunstâncias externas,

mas tem capacidade para dar resposta. No caso da água, por exemplo, o Algarve obteve excelentes resultados na certificação de eficiência hídrica com o «Save Water» e, perante objetivos do governo de poupança de 13 por cento, terminamos o ano a poupar 15 por cento, e 16 por cento no consumo específico por dormida. Comunicamos no território e além-fronteiras, demos o

exemplo e vamos continuar a dar, no golfe com a utilização de águas tratadas nas ETAR’s, com a redução dos consumos, com maior eficiência”, enaltece André Gomes. “Tudo isto tem sido possível por força de uma articulação muito profunda e com bons resultados entre as entidades públicas do setor do turismo e as empresas e associações representativas. Venha o

que vier, cá estaremos para resolver, porque é um setor com uma força muito grande”, assegura.

Para finalizar a conversa, e de regresso aos 55 anos da RTA, a par da conferência inicial, no dia 18 de março, serão 55 eventos a acontecer até 27 de setembro, Dia Mundial do Turismo. “Não tivemos a oportunidade de comemorar como deve ser as bodas de prata, porque estávamos em plena pandemia, agora teremos eventos organizados por nós próprios, com o Turismo de Portugal, com as associações regionais e nacionais do setor e com os privados. Haverá uma alavancagem dos principais eventos de relevância turística realizados na região, os grandes festivais de Verão, as Superbike no Autódromo Internacional do Algarve, a Concentração de Motos de Faro, os 60 anos do Aeroporto de Faro, os 30 anos da AHETA, com ativações fortes da marca «Algarve» e das campanhas «Save Water» e «Água é Vida»”, adianta André Gomes. “Vão ser umas comemorações condignas com aquilo que tem sido o contributo desta Entidade Regional ao longo destes 55 anos, que teve um papel preponderante, não só e em particular com a estruturação e capacitação da nossa oferta turística, mas também em unir todos os players do setor, públicos ou privados, para trabalharmos em conjunto em prol de uma região e não de um objetivo específico de uma determinada parte do território ou empresa. A RTA está de parabéns e continuará a prosseguir este caminho nos próximos anos”.

«A MÉDICA» DE RICARDO PASSOU PELO CINETEATRO

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

RICARDO NEVES-NEVES

CINETEATRO LOULETANO

he Doctor», no original, é uma adaptação

contemporânea de Robert Icke da peça de 1912, «Professor Bernard», de Arthur Schnitzler. Ana Sampaio traduziu e Ricardo Neves-Neves pegou no texto e encenou «A Médica», que foi a cena, no Cineteatro Louletano, de 20 a 23 de fevereiro.

Na história, Piedade Lobo, Diretora Fundadora e professora do Instituto ALMA, recusa a entrada de um padre católico na sala de operações, onde uma

rapariga está a morrer devido a um aborto mal feito e autoadministrado, por estar convencida que a presença do padre, não previamente autorizada pela família, provocará uma desnecessária ansiedade na jovem. Depois da gravação da discussão entre a diretora e o padre se tornar viral na Internet, Piedade começa a ser alvo de fortes reações por parte de alguns colegas do hospital, por um crescente grupo de utilizadores das redes sociais e, por fim, por um painel televisivo constituído por ativistas de vários movimentos sociais. Cada um questiona as suas intenções ao proibir a entrada do padre, confrontando-a com as suas próprias convicções morais, éticas e

religiosas, no que parece ser um julgamento público televisionado, acabando por conduzir ao seu afastamento profissional.

«A Médica» conta com as interpretações de Adriano Luz, Custódia Gallego, Eduarda Arriaga, Igor Regalla, Inês Castel-Branco, José Leite, Luciana Balby, Maria José Paschoal, Pedro Laginha, Rita Cabaço, Sandra

Faleiro e Vera Cruz, numa coprodução do Teatro da Trindade INATEL, Teatro do Eléctrico, Cineteatro Louletano, Teatro Nacional São João e Culturproject. O Teatro do Eléctrico é uma estrutura apoiada pela República Portuguesa –Cultura / Direção-Geral das Artes, pelo Cineteatro Louletano/Câmara Municipal de Loulé e pela Câmara Municipal de Lisboa.

JOÃO BARRADAS MAGISTRAL AO LADO DO AGRUPAMENTO DE CÂMARA DA ORQUESTRA

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

MAGISTRAL NO TEATRO LETHES

AGRUPAMENTO DE MÚSICA

ORQUESTRA DO ALGARVE

econhecido pela sua virtuosidade, versatilidade e inovação, João Barradas tem encantado plateias em todo o mundo com atuações que fundem, de forma esplendorosa, música clássica, jazz e estilos contemporâneos. A sua notável arte já brilhou em palcos de prestígio internacional e, agora, traz o seu talento incomparável para o Algarve, numa temporada repleta de momentos musicais inesquecíveis.

O primeiro concerto de João Barradas no âmbito da sua residência artística com a Orquestra do Algarve, a decorrer ao longo de 2025, aconteceu, no dia 20 de

fevereiro, num esgotado Teatro Lethes, em Faro, e com uma das obras mais ambiciosas de toda a música de câmara, o empolgante Quinteto de Schumann, que, desta feita, em vez do piano, teve o talento tão especial de João Barradas ao acordeão.

Do programa constaram Klavierstück n.º 2 (acordeão a solo), de Franz Schubert, Quinteto em Mi-bemol maior, Op. 44, de Robert Schumann, e Oblivion, de Astor Piazzolla, em que João Barradas foi soberbamente acompanhado pelo Agrupamento de Música de Câmara da Orquestra do Algarve constituído por João Castro e Emil Chitakov (Violinos), Ângela Silva (Viola) e Mikhail Shumov (Violoncelo).

DEPOIS DE LANÇAREM «DIGGING OS THE

MIRANDAS

QUEREM MÚSICA AO MAIOR NÚMERO

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Epopeia Records e Daniel Pina

«DIGGING FOR HOPE»,

DAR A CONHECER A SUA DE PESSOAS POSSÍVEL

ormados em 2013, os The Mirandas têm vindo a ganhar atenção na cena musical local com a sua fusão de blues, rock, soul e rock psicadélico.

Com base nos anos 50, 60 e 70, a sua música é uma mistura entre a nostalgia e a música moderna, numa viagem que se intensificou com o EP de estreia, «All Those Yesterdays», lançado em 2020. Com uma pandemia pelo meio, seguiram-se passagens por festivais nacionais de prestígio como Vilar de Mouros, Festival Med e Festival F, com uma presença eletrizante e músicas intemporais.

Antes de terminar 2024, a banda farense editou o primeiro LP, «Digging for Hope», liderado pelo single «Unknown Dreamer», com riffs de guitarra cativantes de Ivo Ferreira e a voz poderosa de Inês Miranda. E depressa se percebeu que os The Mirandas não

pretendem ser apenas mais uma banda, com atuações que são uma mistura hipnotizante de homenagem ao passado e um passo ousado para o futuro do rock and roll, prometendo uma experiência inesquecível para todos os que testemunham a sua arte.

Os primeiros anos deste percurso foram marcados pelas habituais covers, mas o objetivo sempre foram os originais, que começaram a ser criados em 2019, sob a batuta de Inês Miranda e Ivo Ferreira, que se conheceram por intermédio de Luís Caracinha. “Cantei a primeira vez em público numa festa de anos e logo nessa noite, eu, o Luís e o Ivo, decidimos que tínhamos que fazer qualquer coisa juntos, houve uma química musical instantânea entre os três”, recorda Inês. “Os primeiros encontros foram o Luís com uma guitarra e a Inês a cantar, a tentarmos descobrir que caminho podiam seguir os Mirandas. Tive depois a ideia de chamar o Ruben Azevedo,

que tocava comigo noutra banda, e assim foram os passos iniciais”, acrescenta Ivo.

Inês Miranda era, de facto, a única inexperiente nas lides musicais, Ivo tivera bandas de punk-rock, punk-emo, stoner e rock mais pesado, Luís Caracinha e Ruben Azevedo também tocavam eram vários projetos. “Curiosamente, só quando se junta este triângulo é que as coisas começaram a regressar às origens, ao rock dos anos 50, 60 e 70. A nossa cultura musical era dos anos 90 para cima”, diz o guitarrista com um sorriso. “Fui eu que lhes abri as portas para o universo dos blues”, prossegue Inês, reconhecendo que este não é propriamente o estilo ideal para se singrar em Portugal. “Tive um caminho muito feliz nas minhas escolhas

musicais graças à minha família e, a ter uma banda, não me estava a ver a cantar os hits tradicionais de pop. Tinha 24 anos quando cantei pela primeira vez à frente de alguém, ninguém sabia que eu cantava, nem eu”, revela. “Cantava às escondidas em casa, abriu-se a Caixa de Pandora naquela festa, um pouco empurrada pelo Luís Caracinha”

Se o caminho a seguir foi fácil de escolher, mais demorado foi depois o processo criativo, porque, explica Ivo Ferreira, “era preciso situar onde é que a voz da Inês mais brilhava e porque cada um se redescobriu a si próprio”

“Precisávamos de alguma estrada em conjunto, porque nós já tínhamos essa experiência, mas a Inês ainda não sabia o que era estar em palco, com mais ou menos pessoas a ver-nos. Ao mesmo

tempo, foram-se desenvolvendo as nossas amizades pessoais. O Ruben era quem eu conhecia há mais tempo, o Luís vem dos tempos da faculdade, a Inês tinha acabado de conhecer, depois entrou o Gabriel Costa para as teclas”, relata Ivo. “A perda de um familiar fez com que a banda atravessasse um interregno, mas inspirou algumas músicas que estão no «All Those Yesterdays». Depois, veio uma pandemia, que nos atrasou mais o processo”.

Ultrapassados os obstáculos que foram surgindo pelo caminho, os The Mirandas entraram em velocidade de cruzeiro, com Inês Miranda a escrever temas “sobre aquilo que estou a sentir em cada momento”. Já Ivo Ferreira tem uma biblioteca de músicas que vai desde o psicadélico criado nos anos 60 ao pop dos

The Beatles e ao rock mais pesado dos Deep Purple “e foi um pouco meter todos esses ingredientes dentro de uma panela, mexer e tentar descobrir a nossa fórmula” “Sou autodidata, não sei ler pauta nem escrever música, a Inês ainda teve algumas aulas de piano, os melhores instrumentistas que temos na banda são o Luís e o Gabriel, sabem todo aquele dialeto de cor e salteado. Apesar disso, o esqueleto dos temas é composto entre mim e a Inês e eles depois dão uns retoques”, descreve Ivo.

Um processo que é muito dinâmico e não há duas músicas feitas da mesma forma, confessa Inês. “Pode estar na origem um riff de guitarra, a voz, a letra, varia imenso”, comenta a vocalista. “Às vezes chegamos a casa, a Inês está a trautear uma melodia e gravamos no telemóvel. Noutro dia

pego na guitarra, ou ela no piano, é muito da inspiração, não propriamente de ir para o estúdio criar de propósito. Pensamos em música das 9 às 6, mas a nossa «música», das 9 às 6, é outra”, indica Ivo, com uma risada. Isto porque os dois não são músicos a 100 por cento, têm os seus trabalhos do dia-a-dia, uma situação que os pode colocar em desvantagem em relação a outras bandas. “Eu estou na música porque preciso fazer música, do meu coração, uma coisa que é bastante honesta. Não ando aqui para tirar o lugar a ninguém”, explica Inês. “Há pessoas que, ao fimde-semana, vão jogar paddel ou pescar, a música é o nosso hobby”, acrescenta Ivo, o que não impede muitas pessoas, quando assistem aos concertos dos The Mirandas, de pensar que esta é a sua atividade principal e que até têm mais projetos musicais paralelos.

Neste novo meio musical, parar é morrer

Não ser músico a tempo inteiro não é algo que apoquente a dupla, aliás, até retira alguma pressão à banda de não ter que produzir constantemente temas e lançar discos todos os anos. “Claro que tínhamos traçado alguns objetivos – ter um EP e um LP – e já estamos aí. Se calhar o próximo capítulo seria tocar num festival grande de nível nacional, mas temos bem presente o que queremos da música. É uma escapatória para as nossas rotinas do dia-a-dia, por isso, apenas nos preocupamos em criar e tocar aquilo que realmente gostamos”, frisa Ivo Ferreira. “Vivemos o presente, o que está a acontecer agora”, reforça.

Uma postura descontraída que não diminui o rigor, exigência e profissionalismo com que os The Mirandas estão na música e vão para cima dos palcos, esclarece Inês Miranda. “Há aqui um grande investimento da nossa parte, inclusive com a criação dos videoclips e a presença nas redes sociais. Temos plena consciência que é fundamental criar uma relação com o público e partilhar com os nossos seguidores aquilo que estamos a fazer”, declara a vocalista. “Sempre soubemos

que o presente e o agora é muito de pescoço dobrado para baixo, à frente de um ecrã, e com um dedinho para a frente e para trás, e temos tido a possibilidade de trabalhar com a excelente equipa da Epopeia Records. É preciso ter bons videoclips e fotos, para não ficarmos com o rótulo de banda amadora de garagem, até porque há sempre promotores atentos ao que se passa nas redes sociais”, salienta Ivo Ferreira.

O certo é que o mercado musical mudou bastante e a forma de interagir com ele, e com o público, também, daí que os The Mirandas tenham primeiro lançado dois singles – Unknown Dreamer e Digging for Hope – e respetivos videoclips, depois lançaram vários teasers, até que finalmente surgiu o álbum físico e digital. “Parece que temos aquela ascensão meteórica, o foguete sai, explode, é uma enorme alegria e, de repente, parece que já não está nada a

acontecer. E parar é morrer”, comentam Inês e Ivo.

E qual é a reação dos colegas de trabalho à dupla faceta dos entrevistados? Inês Miranda, que trabalha numa agência digital, diz tratarse de personas diferentes, uma sentada no gabinete, outra que vai para cima do palco cantar e tocar guitarra. “Já houve episódios de pessoas que estiveram em reuniões com a Inês e que depois ficam surpreendidos por ela liderar uma banda”, diz Ivo, com Inês a confessar que não é fácil trocar o chip de uma persona para a outra. “É uma mudança muito drástica saltar de um escritório para um palco, independente da sua dimensão e do público que tivermos pela frente. Naquele momento temos que nos entregar por completo, dar o máximo, abstrair-nos do que fizemos durante o dia”, assume, antes de ser interrompida por Ivo. “No meu caso é bastante fácil. Basta darem-me uma guitarra e um amplificador, não penso em mais nada. É óbvio que para a Inês, sendo frontwoman, é mais complicado, porque as atenções estão todas focadas nela”, indica o guitarrista.

Despir a roupa de músico e vestir a batina das 9 às 5 também não é «peradoce», sobretudo depois daqueles dias na estrada em que deram um grande concerto. “Somos rockstars durante o fim-de-semana e, durante a semana, estás em modo executivo”, compara Ivo. “Somos pessoas que fazemos muita coisa e, enquanto conseguirmos conciliar, assim faremos, porque também gostamos das nossas atividades principais”, diz Inês. Mas Ivo e

Inês não negam que, andar na estrada é mais difícil quando se é residente no Algarve. “Transpor a barreira do Tejo é mais complicado em termos logísticos e financeiros. No Algarve somos frequentemente contratados, atuar em Lisboa ou Porto é mais difícil. Para tocar num Vodafone ou Nos Alive não somos considerados, há que desbravar terreno, temos os pés bem assentes no chão”, refere Ivo, que prontamente culpa Inês por todas estas adversidades que possam afligir os The Mirandas. “Foi ela que nos levou a ouvir música dos anos 50, 60 e 70, ao invés do pop/rock dos anos 2000 para fazermos música ao estilo Taylor Swift”, afirma, com a sua habitual boa-disposição.

Todas estas considerações à parte, o principal objetivo da banda é dar a conhecer a sua música ao maior número

possível de pessoas e tocarem o máximo que conseguirem. “O booking está a compor-se, são coisas que levam o seu tempo, porque também é difícil, por exemplo, ir só tocar à sexta-feira ao Porto e regressar logo a casa, tentamos arranjar outro concerto para o sábado. E poderemos avançar também para Espanha, o ouvido daquela malta está mais aberto para o nosso estilo de música”, adianta Ivo. “Não gostamos de tocar num sítio que não se adequa ao nosso adn. Não quero tocar só por tocar e aquelas pessoas, se calhar, também preferiam estar a ouvir outra coisa”, acrescenta Inês. “A banda está cada vez mais oleada, tratamos as músicas por «tu», pensamos apenas em ir para cima do palco desfrutar da experiência e que o público também aprecie o tempo que estiverem connosco”, conclui a dupla.

PAULA PARISOT EXPÕE

NO CENTRO CULTURAL

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

EXPÕE «EU, TODAS»

CULTURAL DE LAGOS

stá patente, até dia 12 de abril, no Centro Cultural de Lagos, a exposição «Eu, todas», de Paula Parisot. A artista contemporânea brasileira tem construído uma abordagem eminentemente eclética no seu trabalho e «Eu, todas» representa um desdobramento natural das suas exposições anteriores, «Literatura do eu» (BienalSur – Buenos Aires, 2021) e «Espejismos, Miragens» (SNBA – Lisboa, 2024).

Parisot traça uma jornada fascinante que vai além do indivíduo para explorar a interconexão entre o seu eu pessoal e o coletivo, mergulhando nas complexidades da condição humana e das experiências compartilhadas. A mostra oferece uma jornada imersiva e reflexiva, assumindo-se como uma celebração da diversidade e da complexidade das nossas experiências vividas.

Aguenta-te Xico!!!

Júlio Ferreira, inconformista encartado

Papa Francisco terá admitido que pode abdicar ou morrer devido aos problemas graves de saúde e até já planeou o seu próprio funeral. Segundo consta, o Sumo Pontífice com 88 anos tem estado a «fechar pendentes» e prepara nomeações para cargos importantes que garantam a proteção do seu legado e a participação em discussões à porta fechada antes do conclave que elegerá o novo Papa. Os próximos dias ou semanas irão ditar o futuro de Francisco e da Igreja, sendo que, mediante esta realidade, o filme «Conclave», grande candidato aos «Oscars», não podia ser mais atual, ajudando-nos a perceber como se decide quem será o novo Papa. A apreensão é grande em relação ao seu estado de saúde, colocando-se, naturalmente e realisticamente, em cima da mesa, a possibilidade de uma eventual sucessão.

Vi o filme (recomendo) e passei a última semana a ler e ouvir falar do conclave dos cardeais do Vaticano. O conclave é um ritual praticamente inalterado há oito séculos: foi o Papa Gregório X que usou pela primeira vez a palavra em 1274 e instituiu a base dos atuais conclaves, por meio da constituição. O filme é um decalcar da realidade, que vou generosamente, à boa maneira cristã,

partilhar convosco. Há alguns séculos, e como a corrupção era mais que muita (como veem, nada mudou em tantos séculos), os reis eram obrigados a pagar uma pipa de massa ao seu candidato (um bocadinho à semelhança do financiamento das campanhas eleitorais hoje em dia). A sucessão do Papa era influenciada e designada pela nobreza. Os nobres é que decidiam quem ia gerir os destinos de todas as alminhas perdidas deste mundo e passear no papamóvel da altura.

Nessa época, havia uma enorme promiscuidade entre a política dos nobres e a da Igreja, e pessoas sem qualquer formação religiosa - ou sequer interesse na vida religiosa - podiam chegar ao Trono de Pedro. A influência do Papa foi crescendo ao longo dos anos por todo o Mundo, com ponto alto para esse primeiro franchise de grande sucesso: a Inquisição. Um exercício de puro fanatismo religioso que deixaria a Al Qaeda com complexos. Tantos anos depois… nada mudou! Os interesses e as guerras internas na igreja (bem demonstrada no filme) continuam a influenciar na escolha do Papa. Mas desta vez Portugal tem um candidato muito bem posicionado para ser o próximo a sentar no trono de S. Pedro. Recorde-se que em Portugal se viu com entusiasmo a notícia de que o Cardeal Tolentino Mendonça iria substituir o Papa numa das suas missas no Vaticano, durante o fim de

semana. Segundo algumas fontes, ele faz parte da lista de possíveis sucessores. Esperando nós que já tenham ultrapassado aquele diferendo que tem alguns aninhos. Aquele tuga, que prometeu pagar uns trocos ao Papa vigente para transformar este território num país, e que depois o enganou à campeão e nunca lhe deu um chavo (se os

gajos que vieram a seguir lhe tivessem seguido o exemplo, a igreja não teria estragado tanta coisa por aqui). Não haja dúvida que se havia gajo que sabia fundar era ele.

Mas do nada, já surgiram os primeiros estudos/sondagens onde perguntam aos portugueses que nacionalidade é que estes achavam que o novo Papa devia ter. Surpresa das surpresas, a nacionalidade portuguesa foi a escolha de larga maioria. Para este tipo de sondagem imbecis temos resultados idiotas. Porque raio existem inquiridos que não querem um Papa luso?

Será porque desconfiam tanto do poder de gestão dos conterrâneos que nem para gerir as alminhas dão uma abébia a mais um Papa tuga?

Sim, já tivemos um Papa português! O único até agora foi João XXI. Não granjeou no seu breve pontificado 1276/1277 (de pouco mais de 8 meses) muita simpatia. Pedro Hispano teve uma morte trágica, sobre a sua cabeça caiu o teto enquanto inspecionava as obras no seu palácio de Viterbo, onde o Papa

habitava. Alguns autores procuraram servir-se das próprias circunstâncias da morte de Pedro Hispano (segundo as más línguas) como uma prova do seu carácter malévolo. Mas passados tantos anos merecemos mais uma oportunidade. E já agora, sem qualquer interesse, nem fazendo ideia de como me lembrei disto, fica a sugestão para que o próximo Papa Tuga (ou outro, não sou esquisito) adote o nome Júlio IV. Só por ser um nome clássico e atemporal, apreciado por sua sonoridade forte e marcante… nada mais.

Depois de tudo o que li, o Papa Francisco é, de facto, muito melhor que a maioria dos que lá passaram. Populista ou não, tem tomado medidas que tornam a Igreja menos má. Existiu até aos dias de hoje um número impressionante de sumos sacerdotes da Igreja Católica que agiu de forma totalmente contrária aos ensinamentos cristãos. Durante a Idade Média não faltaram papas que foram especialistas em conspirações, assassinatos, massacres, estupros e até bruxarias. Por tudo isto, e como a (má) fama vem de longe, será bom (digo eu) que a Igreja Católica tenha um líder que recuse a ostentação que era prática comum até aqui. O anterior (para não recuar muito no tempo dava palestras contra o consumismo sentado numa poltrona em talha dourada e com uns sapatinhos Versace. Este Papa disse que: “É possível rir também de Deus? É claro que sim, isto não é blasfémia, assim como brincamos e fazemos piadas com as pessoas que amamos. A tradição sapiencial e literária hebraica é mestra nisso! Pode ser feito, mas sem ofender os sentimentos religiosos dos fiéis, especialmente dos pobres”. O Papa

Francisco apareceu na altura certa e com o carisma e diálogo certos para aproximar os mais jovens da Igreja e fazer com que os que não se reveem nela não a odeiem assim tanto. Também, convenhamos, depois do Ratzinger qualquer um ia cair em boas graças. O Papa Francisco é de facto uma criatura simpática a quem só apetece dar um forte abraço, não por ser um Papa Católico, mas sim pelo facto de já ter sido porteiro de discoteca nos seus tempos de juventude. O Francisco, ao contrário dos porteiros das discotecas da Praia da Rocha nos anos 80 e 90, parece genuinamente um gajo porreiro, um avô fixe que todos gostaríamos de ter.

Acredito que o seja mesmo, mas acredito também que tenha um departamento de marketing muito bom por trás, que percebeu o que era preciso na Igreja Católica nesta fase. Não me iludo, a Igreja Católica é acima de tudo um negócio, que tal como todos os negócios quer é gerar dinheiro e guia-se por essa linha, ficando as convicções morais para segundo plano. Abriu as portas aos gays, aos divorciados, esses monstros. No entanto, o Papa Francisco não conseguiu convencer os «vecchi di Restelo» do Vaticano. Foi um bom passo, foi bonito, mas ficou tudo na mesma. Juntou-se e rezou com líderes de outras igrejas, num gesto de paz único, mas o mundo continua a rebentar-se todos os dias em nome de Deus, Alá ou outro qualquer. O hábito não faz o monge e o Papa não faz uma Igreja, mas pode ajudar na mudança.

Uma Região assume-se

Paulo

Neves, «ilhéu», mas nenhum homem é uma ilha

ssume-se nos projetos que diz serem essenciais. Mesmo nas dificuldades intrínsecas, mesmo nas dúvidas.

Assume-se quando as discute fazendo cumprir a lei sem surpresas para os administrados e, com sentido pedagógico, envolve todos no seu entendimento porque se definiu que está em causa o interesse coletivo.

Uma Região assume-se quando se dá ao respeito perante o país, perante o poder e a distribuição de possibilidades de acesso à satisfação equitativa de necessidades dos seus cidadãos.

Perde a Região quando nos fazemos apoucar perante todos, discutindo competências administrativas próprias, dando razão aos que pensam que não nos sabemos governar, discutir e acertar. Concertando posições.

Estranha região que, no momento em que estão os principais fatores reunidos para a satisfação das suas necessidades, litiga para as não realizar como prometeu.

Perdemos todos, essencialmente perdemos perante os cidadãos que

desacreditam independentemente de razões porque não somos capazes de fazer acontecer, mesmo quando nos acertamos e assumimos.

Sim, já fui deputado também e senti-me constrangido tratar de m2, de blocos enterrados e cotas de soleira e mais tanta especialidade técnica perante o país que não acredita que tratemos dos nossos assuntos, destes, ali. E lá vão os nossos maiores para Lisboa.

Afinal estamos a tentar, todos, resolver problemas essenciais para a saúde de todos. Sim, também sou corresponsável por correr o risco de, na coisa pública, tentar contribuir, para a satisfação das necessidades da região.

Uma palavra, em memória do deputado (1995-99) António Vairinhos (PSD - Vila Real Sto. António) que uma vez, indo a plenário defender o Algarve (o PS de António Guterres estava no governo) desafiou-me (antes) para o acompanhar na discussão, mesmo na diferença, para que assim se conseguisse valorizar o tema de interesse para os nossos concidadãos e que afinal ambos defendíamos, para incluir no então, chamado, PIDDAC (Programa de Investimentos e Despesas da Administração Central). Levou a melhor. Ganhámos todos.

As regiões que se assumem como Região comportam-se, em Lisboa e perante as outras, de forma diferente destes episódios que a todos surpreendem, aborrecem e afastam. Assumem as diferenças, reivindicam e fazem acontecer. Quando não conseguem, mantêm a reivindicação e voltam a concertar-se, os diferentes atores, para o conseguirem.

Uma Região assumese na dialética da discordância e conjugação de esforços nos projetos que diz serem essenciais.

Ainda vamos a tempo de corrigir os que for necessário desde que cultivemos o respeito. O respeito pelo que representamos do interesse público e da Região. Já agora, enquanto pessoas.

A maior parte das vezes cometo erros, mas gosto de acertar se me ajudarem no interesse de todos. Mas só o escrevo aqui, entre regionalistas, no Algarve Informativo. Porque, em Lisboa ninguém erra. Só nós.

Espero que aconteça algo e que quem tem competências próprias, as assuma e deixe-se de desculpas para evitar que alguém faça exercer os seus interesses aproveitando a conveniente falta de decisão.

Foto: João Neves dos Santos

O Associativismo e o seu papel na sociedade Valentim Filipe,

músico, professor aposentado e dirigente associativo

onfesso que desde sempre fui um associativista inveterado. Desde muito novo, e apesar de muitos me augurarem um futuro risonho como instrumentista, à menor oportunidade lá estava eu a formar ou a integrar grupos musicais, inadvertidamente abdicando de me afirmar como lobo solitário, como são a maioria dos que optam por performances em formato individual ….

Abrilhantar um baile, tocar num restaurante ou hotel em formato individual fi-lo um número indeterminável de vezes, mas, também não raramente me sentia desconfortável, desejando que rapidamente o relógio dissesse que eram horas de terminar.

Integrar grupos de pessoas que tivessem o mesmo objetivo sempre esteve no meu ADN e, como consequência, estive ao longo dos anos ligado a associações, tendo inclusive feito parte de grupos que formaram algumas. Neste momento até sou presidente da direção de duas associações que têm por objeto a atividade cultural e recreativa nas suas mais diversas vertentes.

Para sobreviverem têm estas agremiações de recorrer a iniciativas no

sentido de conseguir algum dinheirinho que lhes permita fazer frente a despesas como renda do espaço sede, telefone, internet, luz, água, etc.

No entanto, e dado os valores em causa, seria impossível com os ditos eventos fazer face a todas as obrigações contabilísticas, e é aqui que entram as autarquias. O contrato programa obriga as direções associativas a elaborar um plano de atividades e orçamento que dantes se enviava em carta registada, mas que, nos dias de hoje, e com os avanços informáticos, é já na sua maioria registado no portal do associativismo da respetiva autarquia. Depois uma comissão da mesma faz a avaliação das atividades propostas e se vão ao encontro em função das estratégias municipais, dos perfis dos executivos e gestores, de condicionalismos político-partidários (infelizmente) e conjunturais, decidindo que verba a atribuir a cada associação. Até aqui tudo (mais ou menos) bem. Só que muito raramente aquele plano (e porque é um plano) é concretizado, pois, quando chega o momento da execução, muitas vezes não é cumprido por falta de meios humanos, pois sendo feito em regime de voluntariado, por obrigações profissionais, familiares e outras, entre as quais se aplica a falta de motivação que se vai perdendo com o tempo, os elementos que compõem os corpos sociais nem sempre se disponibilizam … e isto mesmo

tendo em conta que a associação poderá ser penalizada no ano seguinte, porque normalmente com a candidatura tem de se incluir o relatório de atividades e contas referente ao ano anterior.

Poder-se- á dizer que sem esta parceria com as autarquias muitas associações não sobreviveriam? De acordo, mas continuo a defender que quem mais beneficiam são aquelas que, usufruindo de trabalho voluntário, portanto, de mão de obra não remunerada, e quantas vezes do uso voluntário de diversos equipamentos pessoais como automóveis, etc. propriedades dos elementos que se predispõem a ser o cidadão comum que passa para o lado da produção e da criação de eventos, deixando de ser apenas um espetador. Isto com sacrifícios incalculáveis a nível familiar, financeiro e outros mais, sendo ainda muitas vezes alvo da crítica do Zé Povinho que, por não estar possuído do mesmo espírito, não se coíbe de lançar a suspeição “se o faz é porque algum interesse tem…”.

Sociologicamente pertencendo ao terceiro setor da sociedade civil (o primeiro setor classifica o público/estado e o segundo o privado/mercado), as associações com fins públicos e não lucrativos têm um papel de extrema importância na sociedade, pois a sua ação envolve a solidariedade, união e cooperação, tendo como objetivo o incremento da cultura, desporto e recreio, não só nas zonas onde estão inseridas, mas também muitas vezes noutros lugares, por via de protocolos de cooperação com outras agremiações do país e por vezes do estrageiro.

Esta crónica não deixa de ser no seu todo uma pequena homenagem às mais de 600 mil agremiações que integram pessoas em comunhão de interesses comuns, que formam a rede associativista de Portugal.

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