REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #312

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ALGARVE INFORMATIVO 23 de outubro, 2021

«ALFREDO - O COLECIONADOR DE BORBOLETAS» | «O2» | «LUCÍA» | CHOQUE FRONTAL 1 ALGARVE INFORMATIVO #312 «DO BOSQUE PARA O MUNDO» | PRÉMIO REGIONAL DE ARQUITETURA DO ALGARVE


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30 - Rute Silva

56 - «Arte Sem Fronteiras»

18 - Prémio Regional de Arquitetura do Algarve

70 - «Alfredo - O Colecionador de Borboletas»

98 - «Lucía - Festival de Guitarras» 84 - «Do Bosque para o Mundo»

OPINIÃO

106 - «Choque Frontal ao Vivo» ALGARVE INFORMATIVO #312

116 - Paulo Cunha 118 Mirian Tavares 120- Fábio Jesuíno 8


42 - «O2»

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PRÉMIO REGIONAL DE ARQUITETURA DO ALGARVE EVIDENCIOU A QUALIDADE DOS ARQUITETOS ALGARVIOS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Secção Regional do Algarve da Ordem dos Arquitectos (OASRAlg) assinalou o Dia Mundial da Arquitetura com a entrega dos troféus e diplomas aos vencedores da primeira edição do Prémio Regional de Arquitetura do Algarve e com a inauguração da exposição das obras levadas a concurso, que esteve patente, até 17 de outubro, no Museu de Portimão, rumando, a partir de dia 30 de outubro, à Biblioteca Municipal José Mariano Gago, em Olhão. A cerimónia contou com a ALGARVE INFORMATIVO #312

participação da Presidente da Câmara Municipal de Portimão, Isilda Gomes, e do Vice-Presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, o arquiteto paisagista José Pacheco, que enfatizaram a necessidade de um futuro com qualidade, quer ao nível do edificado, como ao nível do planeamento do território. “O

Algarve, e Portimão, já não se compadecem com aqueles edifícios que eram construídas com 10, 12, 15 pisos, muitos deles sem qualidade, os tais T1, uns em 18


Luís Matos, José Gameiro, Isilda Gomes, José Pacheco e Isabel Soares

cima dos outros, onde estavam seis, sete ou oito pessoas durante as férias de Verão. É um tipo de arquitetura e de construção que desqualifica o Algarve e hoje, para além do cumprimento das leis e regras urbanísticas, há que, obviamente, imprimir nas estruturas algo mais que as distinga das outras”, entende Isilda Gomes. Prova disso é que, no casco velho da cidade de Portimão, “têm estado a ser

recuperados imóveis de uma forma extraordinária, sem nenhuma agressão ao que já lá está e fazendo uma integração fantástica com a 19

envolvência”, revelou a autarca. “Acredito que todos os arquitetos queiram ser recordados por conceberem prédios diferentes, de qualidade, e nota-se, em Portimão, essa vontade de fazer melhor. Estamos no bom caminho, mas ainda é preciso algum trabalho para se alterarem as mentalidades, sobretudo da parte dos investidores. Até porque, atualmente, vende-se aquilo que é bom, o que não tem qualidade não tem saída”, reforça Isilda Gomes. “Espero que estes prémios sirvam, sobretudo, de incentivo para que mais ALGARVE INFORMATIVO #312


Luís Matos e Francisco Freitas

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arquitetos tenham ideias novas que dignifiquem o espaço público, que lhes dê um ar diferente, de qualidade”, acrescentou a presidente da Câmara Municipal de Portimão. O mesmo desejo é partilhado por José Pacheco, que manifestou, contudo, uma preocupação: “Infelizmente

ainda temos pessoas a fazer arquitetura sem para isso estarem habilitadas. Devemos todos continuar a pugnar, a Ordem e os cidadãos, que cada um exerça o ofício para o qual está qualificado e preparado”, apelou o vice-presidente da CCDR Algarve. Antes da entrega dos prémios, Luís Matos, presidente da Secção Regional do Algarve da Ordem dos Arquitectos, recordou que a entidade convida, incentiva e aconselha veementemente todos os responsáveis políticos a promoverem concursos para 21

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Luís Matos, Luís Pereira Miguel e Filipe Correia

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Luís Matos e Mário Martins projetos de arquitetura como procedimento generalizado, a fim de fomentar soluções de qualidade, duradouras e responsáveis perante a sociedade e o planeta. “Os concursos

de arquitetura estão entre as formas mais eficazes de alcançar a excelência na construção, dando respostas adequadas a cada tipo de programa, porque se baseiam, unicamente, na qualidade das soluções propostas, focadas nas necessidades específicas de um projeto cuidadosamente definido e fornecendo soluções adaptadas às necessidades dos clientes e do local”, justificou o arquiteto. 23

Criada em 2020, a Secção Regional do Algarve da Ordem dos Arquitectos agarrou o desafio de contribuir para a coesão e progresso da Ordem dos Arquitectos, “em prol da profissão, do território e da sociedade”, afirmou Luís Matos. Para esse efeito foram criadas as sessões técnicas «Marcas na Arquitetura», para apresentação de materiais e soluções construtivas que ajudam na informação da prática; «Tertúlias para membros» para promover a discussão da profissão e o contato entre membros; o programa «Rubik», para debater temas da atualidade com influência no território e na sociedade; o «Algarve Gallery», para a promoção da arquitetura e dos projetos ALGARVE INFORMATIVO #312


Luís Matos, Bruno Oliveira e Marlene dos Santos

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Luís Matos e Luís Valente desenvolvidos na região; o 1.º ciclo de conferências «Aulas Práticas com Projetos Locais», em parceria com o Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes e no âmbito do Mestrado Integrado em Arquitetura; e a oficina para famílias «Cubos e casas, casas e cubos», onde foi possível construir pequenas maquetas da casas típicas de Olhão. Luís Matos destacou igualmente a criação do grupo de trabalho para a investigação e análise de plataformas digitais das entidades licenciadoras 25

regionais, com vista à uniformização processual; do grupo de trabalho «Arquitetura de Emergência», para a proposta da habitação temporária e eventual criação de uma bolsa regional de arquitetos voluntários: e do grupo de trabalho para o Roteiro Regional de Arquitetura do Algarve, que pretenderá valorizar a região através dos seus elementos culturais construídos; assim como a resposta ao pedido de ajuda institucional do Banco Alimentar do Algarve para melhoramento das suas instalações, nomeadamente da parte do arquiteto Carlos Cabrita Soares, “que ALGARVE INFORMATIVO #312


está a oferecer o seu tempo e trabalho à causa”. No que toca ao Prémio Regional de Arquitetura do Algarve, à fase final desta primeira edição chegaram 25 candidaturas, nomeadamente 13 obras de Habitação Unifamiliar e Bifamiliar, 3 obras de Habitação Coletiva, 7 obras de Equipamento, Serviços e Indústria, e 2 obras de Reabilitação e Património, não se registando qualquer candidatura de Arquitetura Paisagística.

CANDIDATURAS PREMIADAS: Categoria A: Habitação Unifamiliar ou Bifamiliar Vencedor – Arquiteto Luís Pereira Miguel e Arquiteto Filipe Correia, da PMARQ, com «Casa em Monchique», em ALGARVE INFORMATIVO #312

Monchique; Menção Honrosa – Arquiteto Francisco Freitas, do Atelier Rua, com «Casa Um», em Tavira. Categoria B: Habitação Coletiva Vencedor – Arquiteto Mário Martins com «Edifício Les Jardins», em Lagos. Categoria C: Equipamento, Serviços e Indústria Vencedor – Arquiteto Luís Valente, do Atelier Rua, com «Hospedaria», em Tavira; Menção Honrosa – Arquiteto Bruno Oliveira e Arquiteta Marlene dos Santos, do Estúdio ODS Arquitectos, com «Hostel Conii», em Quarteira; Menção Honrosa – Arquiteto Roberto Ragazzi e Arquiteta Graça Correia, da Correia/Ragazzi Arquitectos, com «Sede da Sotheby´s International Realty» em Carvoeiro. Categoria D: Património e Reabilitação Vencedor – Arquiteto Mário Martins com «Casa Bonança», em Lagos . 26


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“VILA DO BISPO PRECISA DE MAIS HABITAÇÃO PARA DAR O SALTO PARA OUTRO PATAMAR”, ADMITE RUTE SILVA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina a primeira mulher presidente da Câmara Municipal de Vila do Bispo, mas conhece bem os cantos ao concelho e à «casa» que vai comandar durante os próximos quatro anos, uma vez que integrou os anteriores executivos autárquicos liderados por ex-

É

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edil Adelino Soares. Mas a tarefa de Rute Silva não se avizinha nada fácil, por se tratar de um concelho de baixa densidade, inserido no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, com um reduzido orçamento e, acima de tudo, por não ter sido eleita com maioria absoluta. “A campanha 30


foi boa, acho até que deviam existir mais, porque é muito positivo andar na rua em contacto direto com as pessoas. Algo que, no dia-a-dia, se vai tornando difícil, pois passamos bastante tempo nos gabinetes a tratar dos assuntos. Estamos todos de parabéns porque foi uma campanha eleitoral sem maledicências. Quanto aos resultados, queremos sempre mais, mas havendo outras forças a concorrer – e assim é a democracia –, foi esta a vontade da população e é com este figurino que vamos trabalhar neste mandato”, referiu a entrevistada em início de conversa. Vila do Bispo é, de facto, um concelho com muitas particularidades, dividido entre duas costas, ali quase como que «esquecido» no extremo do barlavento, mas as características especiais do território ficaram bastante evidentes durante a pandemia que ainda continuamos a viver, pois foi muito procurado por cidadãos estrangeiros que buscavam locais mais tranquilos e pacíficos. “Somos um sítio onde as

pessoas ainda podem caminhar à vontade, encontrar-se com elas próprias e com a natureza, longe da confusão. Esta paz é uma mais-valia para Vila do Bispo, mas o concelho tem diversas carências, nomeadamente na habitação, saúde e acessibilidades”, reconhece Rute Silva. “Há propostas no meu programa que são para concretizar 31

(...) “SE NOS DISPERSARMOS NÃO CHEGAMOS A LADO NENHUM. PRIMEIRO VAMOS FOCAR-NOS NA HABITAÇÃO, DEPOIS AVANÇAMOS PARA OUTRAS ÁREAS. SE QUISERMOS TOCAR BEM E AO MESMO TEMPO TODOS OS INSTRUMENTOS, ALGUM VAI DE CERTEZA FALHAR “ (…) a longo prazo, inclusive a 12 anos, o período máximo que poderei estar neste cargo, porque não vale a pena fazer promessas quando depois não há orçamento para as cumprir. De qualquer modo, a habitação vai ser a nossa grande prioridade. Temos que fixar pessoas no concelho, pois cada vez são maiores as dificuldades para arranjarmos quadros qualificados, tanto na autarquia como nos empreendimentos turísticos e nas empresas locais”, assume. “A própria mobilidade, sobretudo no Verão, complica a captação de ALGARVE INFORMATIVO #312


empregados dos concelhos vizinhos, porque só temos a EN 125, com todas as condicionantes que bem conhecemos”, acrescenta. Deste modo, sem habitação condigna, dificilmente se conseguirá fixar os jovens vila-bispenses ou atrair novas famílias, por muito que o território seja, passe a ALGARVE INFORMATIVO #312

redundância, atrativo para se habitar, devido à sua elevada qualidade de vida. E, com isso em mente, o Município de Vila do Bispo já está a preparar a sua Estratégia Local de Habitação, documento essencial para depois se poder candidatar ao Programa 1.º Direito. “Penso que, até final deste

ano, o plano esteja concluído, 32


estamos a negociar mais terrenos em Vila do Bispo e Budens. Não vamos construir prédios de muitos andares, até porque o PDM não o permite, e ainda bem, caso contrário, se calhar estávamos iguais a outros concelhos e perdíamos a nossa diferenciação”, adianta Rute Silva. “Quanto aos loteamentos de Barão de São Miguel, o regulamento já está a andar para se avançar para as vendas”. À semelhança do resto do Algarve, Vila do Bispo vive essencialmente do turismo, mas não do turismo de massas mais típico da zona centro da região. Pode até dizer-se que funciona em contraciclo, mais calmo durante o Verão e mais mexido no resto do ano. Cenário confirmado por Rute Silva, defensora, como se adivinha, de um turismo de qualidade, ao invés de um turismo de quantidade. “Como

para que, a partir daí, consigamos articular com o IHRU – Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana para fins de financiamento. Neste momento, a Câmara Municipal possui dois terrenos para construção, seja a custos controlados ou autoconstrução, e 33

estamos condicionados pelos instrumentos de ordenamento do território, precisamos efetivamente de visitantes de maior poder financeiro para obtermos o mesmo rendimento que outros concelhos que são visitados por dezenas e centenas de milhares de pessoas. Em pleno outubro estamos com uma boa taxa de ocupação, um pouco como sucede no resto do Algarve, porque as pessoas também procuram outras épocas para ALGARVE INFORMATIVO #312


gozar as suas férias, principalmente aquelas que não têm filhos em idade escolar. As férias noutros países também nem sempre coincidem com as nossas e o clima algarvio é, sem dúvida, aliciante e assim vamos esbatendo a tradicional sazonalidade. Já não trabalhamos três, quatro ou cinco meses por ano, como acontecia quando eu era miúda”, recorda, com um sorriso. Turistas que, muitos, se transformam eles próprios em novos residentes, adquirindo uma segunda habitação para as suas férias ou, pura e simplesmente, decidindo mudar-se para Vila do Bispo quando se reformam. “Somos cerca de

5 mil e 700 habitantes, de acordo com os últimos Censos, mas temos o dobro das habitações, o que comprova esse cenário. Temos suficiente capacidade hoteleira instalada para receber os adeptos do birdwatching e das caminhadas – por causa da Rota Vicentina e da Via Algarviana – mas os mais jovens também são importantes por causa do surf, windsurf e bodyboard. Esta nossa localização, onde a terra acaba e o mar começa, é um privilégio”, comenta, confirmando que este tipo de turismo origina, igualmente, empresas especializadas e de menor dimensão. “A pandemia afetou

bastante a situação económica de todos nós, mas tratando-se, às vezes, de empresas familiares, ALGARVE INFORMATIVO #312

muitas conseguiram aguentar-se e já se começam a reequilibrar. O problema é, de facto, a escassez de mão-de-obra na hotelaria e restauração”.

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CONFIANÇA NUMA OPOSIÇÃO SAUDÁVEL E CONSTRUTIVA Vila do Bispo é, de facto, bastante procurada por turistas mais exigentes e com maiores posses financeiras que, na sua maioria, são de idade mais avançada, 35

a mesma idade que tem boa parte da população natural do concelho, e assim direcionamos a conversa para o tema da saúde. “O nosso Centro de

Saúde poderia, obviamente, ter mais valências e, mercê da delegação de competências, ALGARVE INFORMATIVO #312


vamos ter um papel mais interventivo nesta matéria. O hospital mais próximo está em Lagos, depois em Portimão”, lembra Rute Silva, aproveitando para dizer que vai avançar, em Sagres e Vila do Bispo, o projeto da colocação de DAE – Desfibrilador Automático Externo na via pública, seguindo-se outras localidades ALGARVE INFORMATIVO #312

do concelho. Quanto a lares, a lista de espera é extensa, dai existir a intenção de se fazer uma candidatura para uma Unidade de Cuidados Continuados, para onde iriam alguns dos utentes atuais dos lares. “E irá permitir que

estas pessoas possam estar mais perto das suas famílias, porque, neste momento, não existindo 36


jovens em idade escolar, nem que não exista procura de equipamentos desportivos. “Apenas temos um

campo de futebol, que já precisa de melhoramentos na relva sintética e nos balneários, não temos pista de atletismo, e muito menos uma piscina municipal, que implicaria custos de manutenção bastante elevados. Nesse sentido, estamos a procurar criar protocolos com as unidades hoteleiras existentes para que a população possa utilizar as suas piscinas”, declara Rute Silva, antes de abordar o tema da educação, onde são necessárias mais salas de creche. “Há

indica a autarca.

dois, três anos, abrimos o jardimde-infância do Burgau, no entanto, já seria importante ter mais salas. Por agora temos o Centro Escolar de Budens a funcionar na sua plenitude e ainda com algumas salas de primeiro ciclo vagas, mas a situação de Vila do Bispo carece de uma atenção imediata, nomeadamente de um Centro Escolar que incluiria também um pré-escolar. No primeiro ciclo, as crianças estão a ter aulas em contentores porque a escola estava com problemas de estabilidade e a EB 2,3 precisa de uma reabilitação urgente”.

Ser um concelho «envelhecido» não significa, porém, que não haja crianças e

Num instante se percebe que não há orçamento que chegue para acudir a

esta opção, têm que rumar a outros concelhos. Já temos terreno para esse equipamento em Vila do Bispo, haja então capacidade de financiamento para o construir”,

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tantas necessidades, com Rute Silva a reforçar a importância de se definir prioridades, com habitação, saúde e educação à cabeça. Mas a cultura não está esquecida, claro, embora a edil vilabispense admita não existir uma dinâmica instituída no concelho. “Temos muita

programação avulsa, mas não estruturada. Por isso, queremos abrir ao público o Forte do Beliche, com concertos e exposições, numa rede de espaços culturais onde se incluirá também o Centro de Interpretação de Vila do Bispo, o Centro de Interpretação da Lota de Sagres, o Espaço Multiusos de Sagres, os Pavilhões da Raposeira e Barão de São Miguel e o futuro Museu, cuja obra se perspetiva estar concluída em meados de 2022. Só que, para se ter uma programação, uma agenda regular, também precisamos de recursos humanos qualificados, e voltamos sempre ao tema da habitação”, desabafa a entrevistada. Vontade existe, projetos também, mas o orçamento é escasso e os constrangimentos são muitos, sendo a única solução, volte-se a dizer, definir prioridades e procurar financiamentos.

“Se nos dispersarmos não chegamos a lado nenhum. Primeiro vamos focar-nos na habitação, depois avançamos para outras áreas. Se quisermos tocar bem e ao mesmo tempo todos os instrumentos, algum vai de certeza ALGARVE INFORMATIVO #312

falhar. Sabemos que os portugueses têm uma grande dificuldade em fazer planos a médio e longo prazo, mas tem que ser, não quero andar aqui a enganar as pessoas”, avisa Rute Silva, não acreditando que o facto de não possuir maioria no executivo camarário irá ser um entrave ao trabalho do dia-a-dia. “Todos

queremos o mesmo, o melhor para a população. Claro que existe sempre rivalidade política, mas de forma saudável, até porque algumas estratégias eram comuns aos vários programas eleitorais. Haverá questões em que não nos vamos entender, mas em democracia tem que existir capacidade de negociação, porque, acima de tudo, está o território”, defende. Um território que continuará a ter, como uma das suas principais bandeiras, o Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza. “É um evento que já está

consolidado e agora precisamos criar infraestruturas para se fazer birdwatching ao longo de todo o ano. O festival está consolidado, tem um grande impacto a nível nacional e internacional, já tem asas para voar, precisamos é de equipamentos de suporte para alavancar ainda mais esta atividade de forma contínua”, finaliza Rute Silva.

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O2 IMPRESSIONOU NA CERCA DO CONVENTO DO ESPÍRITO SANTO, EM LOULÉ Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina/Festival FOMe

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PIA - Projectos de Intervenção Artística, do Pinhal Novo, continua a surpreender com as suas produções, sendo uma das mais marcantes «02», um dos destaques do FOMe – Festival de Objectos, Marionetas e Outros Comeres de 2021, evento dinamizado pela ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve. E assim aconteceu, no dia 23 de setembro, ao final de tarde, início de noite, na Cerca do Convento do Espírito Santo, em Loulé, em que a performance, através das linguagens do Teatro Físico e das Formas Animadas, convidou o espectador a uma reflexão sobre como poderia sobreviver uma sociedade onde a tecnologia desvanece as relações humanas e o acesso ao oxigénio se torna um luxo. ALGARVE INFORMATIVO #312

Este projeto de Arte Pública nasceu em Macau, onde registos de níveis alarmantes de partículas poluentes começam a ser recorrentes. “Um

cenário idílico, mas por razões inapropriadas, para a criação de uma obra que surge com o intuito de sensibilizar os demais a uma necessidade de se encontrar práticas sustentáveis como forma de superar as adversas alterações ambientais que se tornaram, hoje em dia, transversais a todos”, explica Pedro Leal, autor, encenador e diretor artístico e plástico. A interpretação esteve a cargo de Ana Andrade, Helena Oliveira, Manuel Amarelo, Mafalda Cabral, Nuno Dores e Tiago Augusto . 44


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«ARTE SEM FRONTEIRAS» MARAVILHOU REVELIM DE SANTO ANTÓNIO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Revelim de Santo António, em Castro Marim, acolheu, no dia 16 de outubro, a nona edição da Gala de Dança «Arte Sem Fronteiras», que reúne escolas de dança do território, designadamente, a Escola de Dança «Splash», Academia de Ballet Contemporâneo de Vila Real de Santo António, Grupo de Dança «Arutla», Conservatório Regional de Vila Real de Santo António, Companhia de Dança «Idade de Ouro», «Estudio-T» e «Terra Danzas». O evento juntou em palco várias dezenas de crianças e jovens, com coreografias que foram desde as ALGARVE INFORMATIVO #312

influências do hip-hop até à música clássica e contemporânea, numa combinação única de música, luz e movimento que levou a assistência ao rubro. Interrompida por força da pandemia nos anos anteriores, a Gala de Dança voltou assim a reforçar e a valorizar o trabalho que estas escolas desenvolvem com os jovens destes concelhos, para além de promover o gosto pela expressão artística, ao demonstrar os benefícios, físicos e mentais, associados à prática da dança e da atividade física. O evento foi organizado pela Escola de Dança «Splash», em parceria com a Câmara Municipal de Castro Marim . 58


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Alfredo COLECIONOU BORBOLETAS NO IPDJ DE FARO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina/Festival FOMe

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sede do IPDJ – Instituto Português do Desporto e Juventude do Algarve, em Faro, recebeu, no dia 24 de setembro, o espetáculo «Alfredo – o Colecionador de Borboletas», da S.A. Marionetas – Teatro & Bonecos (Alcobaça), inserido na programação de 2021 do FOMe – Festival de Objectos, Marionetas e Outros Comeres, dinamizado pela ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve. Na peça viajamos para uma terra distante cheia de vida e bonita onde vivia uma pessoa com o gosto muito particular de colecionar borboletas, mas apenas as vermelhas. A sua obsessão era tal que as guardava num lugar protegido dos ALGARVE INFORMATIVO #312

eventuais ladrões. Contudo, numa das suas caçadas, ficou preso num buraco. Assustado, Alfredo fez de tudo para sair e, quando finalmente conseguiu escapar, reparou que tinha ficado sem as duas pernas. Desesperado tentou achá-las, mas em vão, o que lhe impedia de andar e saltar para apanhar as borboletas. A produção segue o propósito da S.A. Marionetas – Teatro & Bonecos abordar o tema da deficiência, de uma forma real, mas com um sentido de esperança e luta pela conquista de ultrapassar barreiras. É um original de José Manuel Valbom Gil, encenado por José Gil, Natacha Costa Pereira e Sofia Olivença Vinagre e com manipulação de José Gil e Natacha Costa Pereira . 72


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«DO BOSQUE PARA O MUNDO» CONTOU EM LOULÉ A HISTÓRIA DE UM JOVEM REFUGIADO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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erá possível explicar a crise dos refugiados às crianças? Será que as histórias reais da atualidade transbordam os limites da crueza do imaginário tradicional? Do Mundo, o que escolhemos contar? Foram estas questões que «Do Bosque para o Mundo», de Miguel Fragata e Inês Barahona, da Formiga Atómica, procurou responder, de 13 a 16 de outubro, no Cineteatro Louletano, junto dos mais jovens, mas também do público em geral.

história de Farid, um rapaz afegão de 12 anos cuja vida poderia ser igual à de muitos outros rapazes, não fosse ter sido enviado pela mãe para a Europa, para um sítio seguro. “Farid é um

refugiado e «Do Bosque para o Mundo» confronta-nos com a dureza e a coragem, com a história de um rapaz, entre a vida e a morte, que nos faz olhar para a nossa própria história”, descreve a companhia esta peça que abriu a 72.ª edição do Festival d’Avignon .

A peça, interpretada por Anabela Almeida e Manuela Pedroso, conta a ALGARVE INFORMATIVO #312

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SOM DAS GUITARRAS VOLTOU A CASTRO MARIM Texto: Daniel Pina | Fotografia: Município de Castro Marim

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os dias 8 e 9 de outubro voltaram a ouvir-se, no Revelim de Santo António, as cordas das guitarras em mais uma homenagem que Castro Marim prestou a Paco de Lucía, figura incontornável da história mundial da música flamenca que ali tinha as suas raízes, mais concretamente em Monte Francisco, terra que viu nascer a sua mãe, Lucia Gomes. Nesta senda, o Município de Castro Marim desenvolveu «Lucía – Festival de Guitarras», cuja génese reporta ao Festival de Lucía. No dia 8, promoveu-se o território local e nacional com os guitarristas André Ramos e Luís Fialho, seguido pelo grupo português Sangre Ibérico, onde se aliam dinâmicas incríveis ALGARVE INFORMATIVO #312

de ritmos entre o Fado, o Flamenco e ritmos latinos. No dia 9 de outubro, o cartaz transpôs a fronteira com o artista Niño Josele e Quarteto, guitarrista de ofício que cresceu com os grandes mestres do flamenco, participando, inclusive, em digressões com Paco de Lucía. «Lucía - Festival de Guitarras» voltou a recordar e homenagear o génio da guitarra flamenca, conforme vem sucedendo desde 2016, sem perder a sua essência, dando a conhecer sonoridades e artistas cuja inspiração é Paco de Lucía. O evento tem enquadramento no Projeto 0193_UADITURS_II_5_E, aprovado no âmbito do Programa INTERREG V-A Espanha – Portugal 20142020, com uma taxa de comparticipação do FEDER a 75 por cento . 100


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Choque Frontal ao Vivo levou Bite the Blue Lemon ao TEMPO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Vera Lisa

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o seu regresso ao ativo, o programa «Choque Frontal ao Vivo», dinamizado por Ricardo Coelho e Júlio Ferreira, levou ao Pequeno Auditório do TEMPO – Teatro Municipal de Portimão, no dia 13 de outubro, a banda «Bite the Blue Lemon», composta ALGARVE INFORMATIVO #312

por Rui Santos e Katie Hunt, que têm como companheiros desta aventura musical João Ruano, Francis Matas Moreno, Gustavo Gonçalves e Adriano Alves. Em palco escutou-se uma excelente combinação de rock e música country com imenso coração, para delícia do público fiel deste programa da rádio Alvor FM gravado ao vivo no TEMPO . 108


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OPINIÃO Uma Seleção para toda a família Paulo Cunha (Professor) al como muitos de vós, já não ia assistir a um jogo de futebol há algum tempo. Tendo um jogo onde a minha equipa predileta jogava perto de casa, imediatamente aceitei o convite de um familiar para me deslocar ao Estádio Algarve e assim podermos desfrutar de um ambiente que só os eventos ao vivo proporcionam. Para além do carinho pelo clube da cidade onde vivo, não nutro por nenhum dos clubes apelidados de «grandes» uma especial atração nem devoção, daí ver com total desprendimento os jogos de futebol transmitidos em canal aberto. O desprendimento que só o desejo de apreciar a arte e o engenho que os intervenientes colocam em campo provoca. Aproximo-me assim, assumidamente, mais do desporto futebol do que da indústria/comércio a si associados. Sabendo do efeito unificador e agregador que qualquer seleção proporciona, ao juntar num mesmo «clube» os selecionados de todos nós, é possível, momentaneamente, separarmo-nos das «clubites agudas» e aplaudir e ovacionar os jogadores que há uma semana apupávamos. Mais do que ALGARVE INFORMATIVO #312

a marca Portugal é a equipa Portugal que marca a representação de todos os portugueses em campo. Tendo em conta a forma como certos adeptos se comportam ao assistir a jogos que colocam a sua equipa a jogar com uma outra qualquer, ficamos com a sensação e algum receio que no meio da multidão que frequenta os estádios de futebol possamos ter perto de nós adeptos-inimigos em vez de adeptosadversários. Talvez por isso, só vá «à bola» com a família em jogos em que a seleção de todos nós joga. Aproveitando o facto de se realizar num estádio que, continuando subaproveitado (como tantos outros construídos ao desbarato e que nos saíram tão caros), reúne as devidas condições para assistir a jogos internacionais, os bilhetes de ingresso serem quase oferecidos (por comparação com os jogos entre clubes), as condições atmosféricas serem ainda de um verão tardio e as condições de saúde pública assim o permitirem, o Estádio Algarve encheu-se de famílias ávidas de sair de casa e de conviver. E que bem que lhes soube! É, sem margem para dúvida, um programa familiar. Poder levar novos e velhos connosco, desfrutando da boa 116


organização e segurança proporcionada pelas entidades competentes para a realização de eventos de grande envergadura, é um garante de continuidade e até de fidelização a este tipo de realizações desportivas. Mais do que um desafio futebolístico, uma ida a um jogo de futebol com a nossa seleção toma a proporção de ritual, tal o número de procedimentos que os adeptos acabam por executar. Foi o caso! Fomos mais cedo para o jogo, para assim ficarmos estacionados mais perto do setor escolhido e, consequentemente, sentarmo-nos com mais facilidade no lugar marcado; acompanhámos o autocarro dos jogadores portugueses a chegar ao estádio; mostrámos as credenciais de vacinação anticovid 19 completa e assim recebemos uma pulseira identificadora; recebemos a oferta de uma bandeira de Portugal; observámos e participámos na 117

forma festiva como a seleção portuguesa foi recebida na primeira vez que entrou em campo para proceder aos exercícios de aquecimento; de pé, cantámos em «plenos pulmões» e (mais ou menos) afinados o nosso hino nacional; comentámos as jogadas com os nossos companheiros de fila; levámos nas costas com os pés das crianças sentadas atrás de nós; gritámos efusivamente “Gooooolo!” sempre que Portugal marcou, acompanhado pelo sacramental “Siiiiimmmm…” quando foi o Cristiano Ronaldo a marcar; participámos nas múltiplas «Ola» (coreografia em forma de onda realizada pelos espetadores); respondemos ao batimento do bombo que incitava os adeptos a bater palmas ritmadas e síncronas; ordeiramente, saímos do estádio e fizemos a resenha dos momentos bem passados numa família alargada do tamanho do estádio. Dir-me-ão que não é assim em todos os países. É verdade! Mas é-o em Portugal, onde a seleção de futebol e de outras modalidades desportivas podem ser um bom programa para, em família, rejubilar com as vitórias de todos nós. Feitos que tanta falta nos fazem, como forma de juntos podermos derrotar e levar avante sobre adversários e adversariedades que teimam em não nos abandonar. Bem orientados e melhor capitaneados, seremos todos a Seleção de Portugal. Que assim seja, e que a vitória seja nossa! . ALGARVE INFORMATIVO #312


OPINIÃO Bliss - a Felicidade Possível Mirian Tavares (Professora universitária) “What can you do if you are thirty and, turning the corner of your own street, you are overcome, suddenly by a feeling of bliss – absolute bliss! – as though you'd suddenly swallowed a bright piece of that late afternoon sun and it burned in your bosom, sending out a little shower of sparks into every particle, into every finger and toe?” Katherine Mansfield

stava a terminar a licenciatura em jornalismo, morava em Vitória há quase quatro anos e tinha passado por turbilhões de sensações e de vivências desde que saíra de casa, aos 18 anos. (Mamãe, mamãe, não chore. A vida é assim mesmo eu vou embora…). Estudava de manhã e trabalhava à tarde numa livraria muito acolhedora, dedicada, sobretudo, à Literatura. O dono, um homem super informado, leitor ávido, foi quem me deu a conhecer a Felicidade, de Katherine Mansfield. A edição traduzida, deste e de outros contos da escritora britânica do início do século XX, tinha uma capa cor-de-rosa pálido. Havia uma árvore (uma pereira) pintada à maneira impressionista e o título, Felicidade (Bliss), encimava a edição, seguido do nome da autora. Lembro-me que era um livro fino, que se perdia nas prateleiras entre os outros, apesar de estarem todos criteriosamente organizados nas estantes vastas da livraria. Confesso que esta imagem da capa me veio de ALGARVE INFORMATIVO #312

rompante à memória e, como sabemos, a memória pode sempre nos trair. Não comprei o livro, li-o enquanto esperava que entrassem as pessoas, nos momentos mais descansados do dia, no meio da tarde, quando a maioria dos clientes estava ainda a trabalhar. Lia imenso, nas horas mais vagas, mas de tantos livros, o da Katherine Mansfield, e o conto que dá nome à antologia, foi o que mais me marcou. O livro, ou melhor, a escrita de Mansfield estava refletida na capa que a edição brasileira ostentava: discreta, quase pálida, sutil. De uma sutileza insidiosa e profunda, que se fixou na minha memória. A fina ironia da escritora, a forma como ela descreve a felicidade repentina e reprimida da personagem, uma mulher burguesa, de 30 anos, mãe de uma bebé rechonchuda e simpática, casada com um homem divertido, inteligente e franco, além de bem-parecido, é arrebatadora. Somos convidados a entrar na vida quotidiana de Bertha, guiados pelos seus olhos, e palavras, que descrevem o indescritível estado de felicidade que a assolou, de repente, estava ela a passear pela rua, e obrigada a conter-se, para não sair aos 118


pulos, foi para casa Foto: Victor Azevedo contaminada de frescor, hipersensível às cores e às nuances do brilho do sol sobre uma fruteira que a criada lhe traz para arrumar as frutas, de modo harmonioso e artístico. A felicidade impregna os seus olhos de beleza, como se fora abençoada (bliss/blessed) por uma força inescrutável, como se estivesse possuída. Não sabemos nunca o que causou tamanha felicidade, que, contida no seu circunstâncias. O que me encanta ainda peito, estava prestes a explodir. hoje no conto, e na escrita de Mansfield, Sabemos apenas que ela estava feliz. é a acutilância com que ela fala da Talvez fosse um sintoma da primavera, sociedade do seu tempo, e como torna pensava. E vamos, com Bertha, ao Bertha, a sua personagem, uma encontro dessa felicidade boba, sem pequena revolucionária que ousou razão de ser, somos acometidos de uma aceitar o quinhão de felicidade que lhe vontade enorme de sair aos saltos e de coube durante um dia inteiro. Uma cantar, de partilhar com todos a visão felicidade transbordante que ela, mulher edulcorada do mundo que se apresenta, educada, conseguiu apascentar, mas naquele instante, tão maravilhosamente não ignorar. Somos seres ambíguos, outro sem nunca de deixar de ser o buscamos a felicidade impossível, mas mesmo, quotidiano e banal. Quem já leu fugimos, ou escondemo-nos da o conto sabe que a felicidade, felicidade possível, gratuita, da que nos aparentemente partilhada, é verdadeira. acomete às vezes sem razão ou hora Mas é abalada pelo confronto com um marcada. E reprimimos a gargalhada, a facto imprevisível, para ela, mas já vontade de sair aos pulos, de dançar. esperado por nós, leitores. Porque, no Um dia cheguei em casa a dançar sem fundo, sabemos que a felicidade é um razão e a mãe perguntou: estás estado passageiro, que dura um apaixonada? Não estava, pelo menos, instante, mas que não conseguimos agarrá-la, porque a maior parte das não que eu soubesse. Estava feliz . vezes ela não depende só de nós. Depende de nós e das nossas 119

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OPINIÃO Como nascem as boas ideias para empreender Fábio Jesuíno (Empresário) aventura de empreender é o caminho de criar algo diferenciador, resolver um ou vários problemas e gerar valor para a sociedade. O principal desafio em ter boas ideias para empreender consiste no facto de que, quando pensamos, lidamos ao mesmo tempo com muitas emoções, acções, lógica e a surpreendente criatividade. O sonho de todos os empreendedores é ter uma ideia que tenha sucesso, que seja escalada, que tenha impacto mundial, mas, se não for bem executada, pode falhar, mas mesmo assim, é positivo, porque faz parte da viagem, aprender com as falhas e erros são características importantes de um empreendedor de sucesso. Para ter boas ideias para empreender, temos de ter muita coragem, persistência e uma dose de loucura moderada. Não existe uma fórmula mágica, mas a melhor forma para se ter uma boa ideia para empreender é sonhar em grande, ser ambicioso e ter muitas ideias. Aquilo que diferencia as pessoas comuns de grandes ALGARVE INFORMATIVO #312

empreendedores, como Richard Branson e Elon Musk, não é a capacidade criativa, mas a aptidão para impulsionar essa capacidade, encorajando e desenvolvendo impulsos criativos. Um dos maiores exemplos de impulsos criativos é a do físico inglês Isaac Newton com uma maçã nas mãos, sentado à sombra de uma macieira, o sonolento cientista teria a ideia, sem mover um músculo, da lei universal da gravidade. Os impulsos criativos são o grande motor para se ter boas ideias de empreendedorismo, estão presentes na nossa vida todos os dias, mas a maioria das pessoas não os sabe interpretar, desperdiçando grandes oportunidades. As melhores ideias são geralmente aquelas que surgem organicamente, que crescem de forma natural resultantes das experiências das pessoas. Nesse sentido, a melhor maneira é não pensar, mas sim observar. Partir à descoberta, ficar atento ao que nos rodeia, nas nossas experiências, descobrir as necessidades e problemas. As grandes ideias são as soluções para um determinado problema. As boas ideias surgem muitas vezes na pesquisa das tendências. Como vai ser daqui a três ou cinco anos? Quais 120


problemas existirão? Um exemplo actual é o 5G ou a mobilidade eléctrica que vai transformar várias indústrias. Acredito que, nas mais diversas áreas 121

de actividade, as descobertas de novas e boas ideias para empreender estão relacionadas com a criatividade e, acima de tudo, saber encontrar os impulsos criativos . ALGARVE INFORMATIVO #312


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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #312

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