REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #382

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ALGARVE INFORMATIVO 8 de abril, 2023 #382 «ARTE VEZES EDUCAÇÃO» | INOVAÇÃO SOCIAL NA EDUCAÇÃO | «THY BRAIN» | «116 006» AMÉRICA LATINA REFORÇA LAÇOS COM LOULÉ | «O TESTAMENTO - A REVIRAVOLTA»

ÍNDICE

Inovação social ao serviço da educação (pág. 24)

América Latina cada vez mais próxima de Loulé (pág. 32)

«Arte Vezes Educação» envolveu alunos de Quarteira e Loulé (pág. 42)

«Nós somos revista» do Boa Esperança em Portimão (pág. 60)

«116 006» da Panapaná no Teatro Lethes (pág. 80)

«Thy Brain» de Maria Fonseca no Cineteatro Louletano (pág. 94)

«O Testamento - a reviravolta» no Auditório Municipal de Olhão (pág. 108)

OPINIÃO

Ana Isabel Soares (pág. 122)

João Ministro (pág. 124)

Júlio Ferreira (pág. 126)

Projetos de inovação social que contribuem para o sucesso da Educação estiveram em debate em Lagoa

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

Centro Cultural Convento de São José, em Lagoa, assistiu, no dia 29 de março, à 1.ª Mostra de Projetos de Inovação Social na promoção do sucesso educativo, que juntou diversas entidades públicas e privadas com o propósito de apresentar casos de sucesso nacionais e internacionais, alguns deles já aplicados

na região do Algarve. A iniciativa foi promovida pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, em parceria entre a Comissão Diretiva do Programa Operacional Regional do Algarve –CRESC Algarve 2020, a Estrutura de Missão Portugal Inovação Social (EMPIS), a DGEstE, a Comunidade Intermunicipal do Algarve e o Município de Lagoa. “O Algarve regista valores elevados

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de abandono precoce escolar e a melhor forma de abordar esta questão é identificar os problemas, juntar as partes, envolver todos os que têm competência na matéria e procurar encontrar soluções. A roda já está inventada, há uns tempos atrás falava-se em plágio, agora é benchmarking, portanto, há que pegar nas boas-práticas que já existem e adaptá-las e aplicá-las a cada território específico”, frisou Luís Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Lagoa, que destacou ainda o sucesso da UAARE – Unidade de Apoio ao Alto Rendimento na Escola criada no concelho em parceria com o Instituto Português do Desporto e Juventude, que congrega 70

alunos em Lagoa e cerca de 20 no Parchal.

Na ocasião, o Presidente da CCDR Algarve e da Comissão Diretiva do Programa Regional do Algarve, José Apolinário, lembrou que, “apesar do crescimento registado em número de estabelecimentos escolares (a região passou de 341 estabelecimentos em 2014 para 348 em 2021) e em número de professores (de 5 mil e 648 para 6 mil e 636, o que representa um crescimento superior a 15 por cento no ensino público), persistem na região resultados escolares menos favoráveis”. Por isso mesmo, esta iniciativa deverá constituir um ponto de partida para a

elaboração de planos de ação para a promoção do sucesso educativo, nas escolas, entre escolas e entre municípios, para maximizar o impacto dos Fundos Europeus do Programa Regional ALGARVE 2030 e o Plano de Recuperação e Resiliência no sistema educativo. “Com esta Mostra de Projetos de Inovação Social na área da Educação pretendemos valorizar o bem que já se faz, esperando-se que, coletivamente, aprendamos a fazer melhor. Que seja esse o nosso compromisso para com a região, dinamizando boas práticas e mobilizando os diversos agentes educativos e da comunidade, em parceria com os municípios”, defendeu José Apolinário, que avisou que

“não é possível diversificar a base económica e aumentar a competitividade das empresas e do território, nem aumentar os salários e as remunerações, sem uma melhoria das qualificações”.

No âmbito do ALGARVE 2030, e tendo em vista a promoção do sucesso educativo, os apoios foram estruturados em três grandes eixos: manter o apoio à política pública na área da educação para promoção do sucesso indicativo; apoiar a emergência de planos intermunicipais de promoção do sucesso educativo; e promover projetos de inovação social, que emerjam das escolas ou da sociedade civil, tendo em vista a melhoria das condições de aprendizagem e o sucesso educativo. Nesta 1.ª Mostra foram

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apresentados dez projetos desenvolvidos por professores, escolas, entidades privadas e sociedade civil que inovaram nas metodologias de aprendizagem e que já têm resultados comprovados “e cujos impactos nas comunidades escolares muito têm contribuído para a melhoria dos resultados escolares”, reforçou José Apolinário, recordando ainda os compromissos assumidos pela região no horizonte 2030, com os Fundos Europeus geridos na região e em alinhamento com o Plano de Ação do Pilar Europeu dos Direitos Sociais: reduzir para menos de 5 por cento a taxa de abandono precoce da educação e formação (o Algarve antes da pandemia registava quase 20 por cento); alcançar 55 por cento dos diplomados

com o ensino secundário completo nas vias de dupla certificação (no Algarve tínhamos 40 por cento, mas na última década não temos crescido); garantir uma percentagem de 50 por cento dos jovens com 20 anos a frequentar o ensino superior em 2030 (a estudar no Algarve estamos nos 24,5 por cento, quando o país já regista valores acima dos 40 por cento); e aumentar para 60 por cento a participação anual dos adultos em ações de aprendizagem ao longo da vida (o país ainda regista valores próximos dos 10 por cento). “Precisamos valorizar as boas-práticas e construir estratégias intermunicipais para fomentar o sucesso educativo, só assim conseguiremos ter um

Algarve melhor”, terminou José Apolinário.

A 1.ª Mostra de Projetos de Inovação

Social na promoção do sucesso educativo deu a conhecer os casos «Milagre

Aprender+: Aprender a aprender»;

«Teach for Portugal: De onde uma criança vem, não pode ditar para onde vai»; «Coopera: Um projeto pedagógico transformador»; «Apps for good: Promoção da Literacia Digital»; «És(cola) Ciência: Promoção da Literacia Científica»; «Cantinho do estudo –Estudar em casa»; «Ajo – Apoiar o

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estudo»; «Renovar Mouraria – Academia CV»; «À Barca, À Barca, Levar a arte à escola»; e «MyMentor, Orientar para o novo mercado de trabalho». Uma mostra que contou com a presença do Presidente da Estrutura de Missão Portugal Inovação Social (EMPIS), Filipe Almeida, que prontamente afirmou que “não

podemos esperar efeitos diferentes se tivermos sempre as mesmas ações” “Temos que «atacar» o abandono e insucesso escolar de forma multinível, multidisciplinar e multissectorial e uma das contribuições pode ser a da inovação social, ou seja, a experimentação de novas respostas, novos produtos e serviços, novas metodologias, seja numa ótica corretiva ou preventiva, e em parceria com os investidores sociais, entidades públicas ou privadas, para lhes dar uma escala maior, e para fortalecer a sua capacidade de darem certo”, indicou. “Nos últimos cinco anos aprovamos, em Portugal, 694 projetos para dar resposta a todo o tipo de problemas sociais, 35 dos quais no Algarve. Nesta

primeira fase do Portugal

2020 foram colocados à disposição deste ecossistema algarvio para a inovação social cerca de 9,4 milhões de euros e todos os 16 municípios cofinanciaram projetos”, acrescentou Filipe Almeida.

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América Latina cada vez mais próxima de Loulé

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Jorge Gomes

uma ação de descentralização diplomática promovida pela Casa da América Latina, representantes das embaixadas em Portugal de 11 países latino-americanos trocaram Lisboa por uma visita ao concelho de Loulé nos dias 31 de março e 1 de abril. Panamá, Uruguai, Brasil, Paraguai, Chile, El Salvador, Venezuela, Colômbia, Argentina, Peru e México marcaram presença num périplo que teve nas componentes Economia e Cultura os

principais focos, abrindo espaço a futuros projetos bilaterais, promovendo contactos para potenciais negócios com vista a investimentos e reforço das atividades socioculturais conjuntas.

Na manhã do dia 31 de março, a delegação foi recebida no Salão Nobre da Câmara de Loulé para uma sessão de boas-vindas e uma breve apresentação do concelho. Seguiu-se uma incursão num território que se estende da serra ao mar. Primeiro, numa passagem pelo interior, os diplomatas descobriram a Quinta do Freixo, empresa familiar de Benafim que aposta em produtos

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endógenos e numa agricultura regenerativa, no setor da transformação com a produção de compotas e outros produtos, depois comercializados ou destinados ao restaurante e espaço de turismo rural aí existente. À noite, foi uma realidade distinta que a comitiva encontrou, num jantar na Marina de Vilamoura que contou com a presença de empresários locais que vieram apresentar-se aos diplomatas, até porque “há empresários portugueses que procuram, cada vez mais, internacionalizar-se”. “Ao nível local temos tido bons exemplos de diplomacia económica com frutos, nomeadamente com África, mas estamos sempre a tempo de inaugurar boas relações de interesse económico entre

empresários deste concelho e os países da América Latina”, disse o autarca Vítor Aleixo neste momento de partilha.

Com um tecido empresarial que conta com 14 mil microempresas que se dedicam essencialmente, no setor primário, à agricultura, no secundário à construção civil, e no terciário ao comércio, alojamento e restauração, novos negócios começam a afirmar-se no concelho de Loulé, nomeadamente na área das novas tecnologias ou da investigação científica. Se o Brasil, o México ou a Argentina são já mercados conhecidos dos empresários algarvios, a verdade é que ainda há muito por explorar. Neste encontro, apresentaramse três projetos empresariais consolidados, com sede no concelho, e

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que são um exemplo da vitalidade empresarial no Algarve: a GARVETUR, empresa que nasceu há 40 anos, no ramo imobiliário, tendo atualmente diversas áreas de negócio; a Quinta da Tôr, produção vinícola do barrocal algarvio nascida em 2011; e a Algardata, com 33 anos de existência, que faz parte de um grupo internacional de software.

No segundo dia de visita, 1 de abril, falou-se sobretudo de cultura e património histórico. No Palácio Gama Lobo, sede do Loulé Criativo, a comitiva de diplomatas ficou a conhecer este projeto singular que aposta na valorização da identidade cultural, através do encontro entre as artes tradicionais e as técnicas inovadoras do design. E, refira-se, também ali estão incubados alguns artesãos provenientes de países como Brasil, Colômbia ou Venezuela. Os Banhos Islâmicos ou o Mercado Municipal de Loulé fizeram

ainda parte da visita que teve mais um momento importante, a passagem pelo Jardim das Comunidades de Almancil, e a deposição de uma coroa de flores junto aos bustos dos dois libertadores sulamericanos, Simón Bolívar e José de San Martín. “Uma jornada de trabalho e de visitas muito proveitosa, que possibilitou aos diplomatas latinoamericanos ficarem a conhecer melhor a realidade do concelho”, explicou o presidente da comissão executiva da Casa da América Latina, Alberto Laplaine Guimarães. “As reações que tenho tido por parte dos senhores embaixadores são muito positivas, um deles acabou de dizer-me que está encantado com Loulé. Penso que esta visita poderá trazer frutos no futuro, nomeadamente no campo cultural e económico”, assegurou, ressalvando

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igualmente o facto de ser esta uma oportunidade de mostrar uma parte importante do país a uma parte importante do corpo diplomático que vive em Lisboa.

Esta não foi a primeira visita a Loulé promovida pela Casa da América Latina, uma vez que, em 2014, em colaboração com a Associação Industrial Portuguesa e com o NERA, um grupo de diplomatas já tinha estado neste concelho para uma aproximação à realidade económica local, ficando desde logo prevista uma reedição da iniciativa. No final, Vítor Aleixo, presidente da Autarquia de Loulé, mostrou a sua satisfação por receber uma delegação tão numerosa “de diplomatas de países irmãos” e recordou o passado histórico comum que une a Ibéria e a América Latina, “um

capital importante que deve ser cultivado e aproveitado”. “O mundo precisa disto, que nos encontremos, que abracemos projetos comuns. Quando muitos hoje procuram erguer muros, nós estamos aqui para falarmos uns com os outros, para nos entendermos, no plano económico, no plano cultural, e podermos destruir esses muros”, destacou.

O decano deste grupo de diplomata acreditados no nosso país, Pablo Garrido Araúz, embaixador do Panamá, chegou a Portugal em 2019, mas esta passagem pelo sul do país foi “uma descoberta surpreendente”. “Loulé é um local inclusivo que tem muito a oferecer

ao mundo. As autoridades são muito representativas do seu povo, a população é bastante acolhedora e recebeu-nos de forma muito calorosa. A limpeza é também algo formidável que admiro e tenho que realçar”, notou o embaixador, que garantiu que, a partir de agora, ele e os seus colegas serão também “porta-vozes do Algarve e de Loulé” “Iremos falar e partilhar o que aprendemos e descobrimos aqui. Esta diversidade que encontrámos tem muito a oferecer, não só a Portugal, mas também ao mundo inteiro”.

Como panamiano, Pablo Garrido Araúz assegurou que irá “procurar nichos no Panamá para fazer encontros de parceiros, pôr em contacto os mesmos clusters, seja nas áreas do

turismo, gastronomia, artesanato ou outras, de forma a criar parcerias”. Uma nota ainda nesta visita para Mary Flores, a nova embaixadora da Venezuela, acreditada pelo Presidente da República no dia 30 de março e que teve aqui o seu primeiro ato oficial, um momento carregado de simbolismo, já que existe uma forte comunidade venezuelana no concelho.

A realização anual do Ciclo de Cinema da América Latina, a oferta de livros editados pela Casa da América Latina à Biblioteca Municipal de Loulé, a presença de artistas e grupos de teatro, folclore e música de países latino-americanos, a visita de uma delegação da comunidade argentina de Comodoro Rivadavia e atribuição do nome desta localidade, onde estão radicados muitos louletanos, a uma artéria da cidade de Loulé, ou ainda a inauguração dos bustos de Bolívar e de San Martín são algumas das

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atividades que têm pontuado esta relação entre Loulé e a América Latina e o “cuidado que este Município tem em cultivar uma memória de relacionamento ligada à emigração”. “Temos projetos não só os do passado, mas também os futuros”, disse Manuela Júdice, Secretária-Geral da associação que anunciou a realização, em Loulé, no mês de outubro, de uma jornada cultural que incluirá cinema, literatura e política para celebrar o 50.º aniversário do Golpe de Estado no Chile a morte de Salvador Allende. Por outro lado, prevê-se, na área económica, que o projeto de proximidade com comerciantes e pequenos empreendedores da América Latina, na região de Grande Lisboa, possa ser replicado em Loulé. “É uma iniciativa de enorme sucesso, com centenas de milhares de pessoas”, disse a responsável. Esta relação com Loulé

ficará reforçada a partir da próxima assembleia geral da Casa da América Latina, a ter lugar a 18 de abril, com a aprovação de um novo plano de atividades e a integração do autarca Vítor Aleixo na comissão executiva da instituição, como vice-presidente.

A Casa da América Latina é uma associação sem fins lucrativos, fundada em 1998, que desenvolve uma intensa atividade económica, científica, política e cultural, com vista ao reforço dos laços de amizade e cooperação entre Portugal e os países da América Latina. Com uma estrutura assente no Município de Lisboa, no Ministério dos Negócios Estrangeiros, nas embaixadas latino-americanas acreditadas em Lisboa e num conjunto de empresas, é “uma casa que promove bons encontros à volta de uma região do Globo tão apaixonante quanto diversa e surpreendente”.

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«Arte Vezes Educação» envolveu alunos de Quarteira e Loulé

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina Cineteatro

Louletano, em Loulé, acolheu, no dia 1 de abril, a aula pública resultante do «A x E – Arte Vezes Educação», projeto promovido pela Câmara Municipal de Loulé que fomenta a colaboração entre artistas de diversas áreas e professores de distintas disciplinas do 10.º do ensino secundário, com o intuito de captar a atenção,

motivação e envolvimento dos alunos na sala de aula. A terceira edição do projeto arrancou em julho de 2022 com uma residência onde professores e artistas partilharam perspetivas, interesses e saberes, com vista à aquisição de metodologias, estratégias e ferramentas inovadoras, a aplicar em sala de aula durante o 1.º e 2.º períodos do ano letivo 2022/2023, implicando duas triplas de professores, dois artistas e a participação dinâmica dos alunos.

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Da Escola Secundária Dra. Laura Ayres, em Quarteira, participou a Turma 10.º B de Artes Visuais com a performance «O que está por trás da cortina?», com criação e orientação de Cristina Fernandes, Isabel Marçalo, Filipa Duarte e Miguel Cheta e cocriação e interpretação de Anna Gomes, Fabiana Garcia, Jazmin Baptista, Lúcio Mestre, Luísa Moura, Maria Eduarda Lima e Mariana Tichem, com acompanhamento e avaliação da responsabilidade de Judith Silva Pereira. “Entre a luz da Arte e a sombra da dúvida e da busca, revisitaremos momentos das nossas aulas no projeto em que pusemos a máscara para desvendar o outro «eu». Encontrámos a fotografia para revelar vidas e emoções, pensámos as regras lógicas dando

asas ao movimento e à forma de comunicar em língua inglesa. Pesámos a liberdade através da dança, filosofia, arte e comunicação pelos espaços virtuais onde os jovens se encontram e desencontram, se perdem e se reconstroem”, descreveram os participantes.

Da Escola Secundária de Loulé esteve envolvida a Turma 10.º N de Artes Visuais com o projeto «(DES)COLAGENS». “Acabamos aqui. Encontrámo-nos, desencontrámo-nos, perdemonos, voltámos a encontrar-nos, vagueámos, apegámo-nos, uns sim, às vezes, outros talvez. Decidimos falar de nós através de

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nós, do outro, de outras histórias, de outros movimentos. Falar muito de nós é difícil, ficamo-nos por aqui. Um aqui mais profundo que ontem onde vamos descolando barreiras e imaginando espaços vazios para que mais tarde se possam preencher. Gostava de estar mais perto e mais longe, de poder colar e descolar quando me apetecesse, como será esse lugar do meio?”, podia ler-se na sinopse da

performance criada e orientada por Catarina Ferrão, Fátima Gonçalves, Sandra Basílio e Sara Martins, com cocriação e interpretação de Carolina

Rafael, Finn Herrera, Joana Morujo, Jorge Lopes, Karen Conceição, Lucas Valandro, Luna Pereira, Marcela Nogueira, Maria

Luiza Barbosa, Maya Santos, Micael

Salitra, Miriam Coelho, Rita Baltazar, Sarah Estevan, Sofia Bodnar, Sofia

Kuzyk, Susana Carreira e Tiago Eusébio, com acompanhamento e avaliação de Judith Silva Pereira .

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BOA ESPERANÇA «NÓS SOMOS REVISTA»

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

ESPERANÇA ESTREOU REVISTA»

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dia 1 de abril foi a data escolhida pelo Boa Esperança para a estreia de «Nós somos Revista», o novo espetáculo da popular coletividade de Portimão que honra uma tradição artística já com seis décadas. Com textos e letras originais de Carlos Pacheco, esta revista repleta de críticas bem-humoradas à atualidade ficará em cena na sala de espetáculos do Boa Esperança Atlético Clube Portimonense nos próximos três meses, com atuações às sextas e sábados, a partir das 21h30, e aos domingos, às 15h e às 17h.

Entre inúmeras rábulas e momentos musicais, o público pode rir com as peripécias de um casal bem conhecido que reclama contra a revista, ainda e sempre na moda porque uma das suas

essências passa por denunciar, entre risos e gargalhadas, os aldrabões especializados em endrominar o povo, que se revê neste divertido género de arte popular cheio de brilhos e purpurinas. Para além de Carlos Pacheco, o elenco é composto por Telma Brazona, Flávio Vicente, Soraia Correia, Isa de Brito, Lurdes Carriçal, Filipa Goulart, Catarina Duarte, Mariana Jobling, Maria Martins, Jenifer Novais e Rita Ferreira.

Com sede no centro da cidade, o Boa Esperança pretende com mais esta produção dinamizar o setor artístico e cultural e entreter os portimonenses e os visitantes, impedidos nos últimos anos de assistir ao seu espetáculo de revista. Os bilhetes podem ser reservados entre as 15h e as 21h pelo número 967188290, contacto telefónico também disponível para informações complementares e esclarecimento de dúvidas .

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«116 006» DA PANAPANÁ ABORDA O TRÁFICO HUMANO

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

e 3 a 6 de abril foram apresentados, no Teatro Lethes, em Faro, quatro espetáculos totalmente distintos concebidos no âmbito de uma residência artística da Panapaná –Associação Cultural.

No dia 4 foi a cena «116 006», esse que é o número da Linha de Apoio à Vítima. “O espetáculo retrata uma realidade que nos assombra desde há séculos e que, infelizmente, em pleno século XXI, ainda é recorrente. O tráfico humano é uma violação grave dos direitos humanos e é considerado crime em todo o mundo. Trata-se de uma indústria criminosa altamente lucrativa, gerando biliões de dólares em lucro a cada ano. As vítimas de tráfico humano são compradas, vendidas,

transportadas e exploradas para fins comerciais, frequentemente sujeitas a condições desumanas, abuso físico e psicológico, e são frequentemente privadas dos seus direitos básicos, como liberdade e dignidade”, explicam Diego Medeiros, Raquel Ançã e Nelson Fernandes, produtores da Panapaná.

A encenação de «116 006» coube a Nelson Fernandes, a partir de um texto de Irene Rossas e Nelson Fernandes, estando a interpretação a cargo de Afonso Dias, Alice Velez, Cárin Silva, Davi França, Eva Agostinho, Érica Viegas, Ester Gomes, Francisco Costa, Francisco Mendes, Frost, Jéssica Gago, Joana Brás, Jorge Manhita, Juliana Boyko, Laura

Francisco, Laura Piskunenko, Madalena Ferreira, Maria Fernandes, Maria Luís

Santos, Mariana Ferreira, Miguel Domingos, Miguel Guerreiro, L. Moreno, Neise Encarnação, Nelson Fernandes, Quinn, Ricardo Correia, Sofia Silva, Yana Zayko e Yuliya Statsenko. A coreografia é de Yana Zayko .

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MARIA FONSECA TROUXE O SEU «THY BRAIN» A LOULÉ

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

HY BRAIN, de Maria Fonseca, estreou, no Cineteatro Louletano, no dia 31 de março, num convite a uma relação de proximidade com o próprio órgão – o cérebro, “como uma identidade independente de nós, uma entidade que nos serve e a quem nós servimos”, explica a coreógrafa e bailarina. “O cérebro permite-nos uma autoconsciência, a consciência dos outros e a consciência do espaço/tempo/movimento que nos rodeia e no qual estamos imersos e estamos ativamente integrados. É o cérebro que comanda as

coreografias conscientes e inconscientes do corpo físico, emocional e energético. O motor que cria a nossa versão de realidade, e a narrativa da nossa verdade”, prossegue Maria Fonseca.

Deste modo, segundo a criadora, num mundo cada vez mais centrado na experiência mediada do indivíduo face ao exterior e aos outros, as narrativas construídas pelo cérebro sem contraditório fazem com que o nosso cérebro seja senhor omnipresente no nosso mundo individual. “Numa procura de uma maior consciência na ação individual, o porquê de como agimos, é urgente explorar e

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dar a conhecer o cérebro, os bias que nos regem de forma a podermos ter uma posição crítica face à forma como agimos. O espetáculo faz um paralelismo entre a anatomia do cérebro e a arquitetura do espaço de palco no sentido geográfico/físico e a sua tradução emocional”

Neste contexto, cada área do palco corresponde a uma área do cérebro que é habitada por luz ou pelo corpo presente, em movimento ou som. Há uma arquitetura literal constituída pela abstração deste corpo que o autor programa na sua procura de uma

narrativa coerente e na sua atividade constante de construção de história e memória. “Pretende-se recriar a ideia de uma realidade alternativa onde a memória e a experiência são peças fulcrais para o mapeamento do espaço no labirinto do tempo, convidando a audiência a acompanhar a exploração destes espaços físicos e mentais numa viagem que também se quer de autorreflexão”, culmina Maria Fonseca, que teve apoio na pesquisa e conteúdo de Anekant Quick, estando o soundscape e composição a cargo de Sabio Janiak, a cenografia é de Rodrigo Ferreira e a luz de Pedro Bilou .

AUDITÓRIO MUNICIPAL DE OLHÃO ÀS GARGALHADAS COM «O TESTAMENTO: A REVIRAVOLTA»

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Município de Olhão
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Dia Mundial do Teatro foi assinalado, a 27 de março, no Auditório Municipal de Olhão, com «O Testamento: A Reviravolta», a sequela da história de uma família em luta por uma herança. Entre enganos e desenganos, mortos e desaparecidos, restam os diamantes, descobertos pela criada, na bengala da Velha, sua madrasta.

Entretanto, a Velha morreu, tal como o seu filho Denis e a sua amante. A enteada e o seu cúmplice, ao encontrar os diamantes, ficaram ricos, casaram e

tiveram uma filha. O filho mais novo da Velha, o Afonso, e a sua noiva são agora criados da enteada, que, até então, era tratada como uma escrava. Já as duas filhas burras da noiva, depois de estragarem o plano à mãe, desapareceram numa carroça de mula e nunca mais deram sinal de vida.

Passaram 15 anos e tudo estava bem, até que os diamantes desapareceram, e assim temos mais uma peça com texto e encenação de João Evaristo, que conta com a participação de Joaquim Parra, Marta Vargas, José Vale, Heloísa Coelho, Leonel Santos, Isa Mondim, Jady Batista, Vanessa Caravela e Juliana Boyko .

Septuagésima quinta tabuinha - O perfume Ana Isabel Soares (Professora)

oisa curiosa, assistir a repetições como se fossem novidades.

Viva uma pessoa umas poucas décadas e terá consciência da circularidade do tempo: precise-se ou não se precise, não se pode deter a Primavera Chega todos os anos pela mesma altura, vem mais ou vem menos anunciada, mais ou menos disfarçada de Verão (como tem sido por estes dias), ou arrastando a humidade do Inverno, mas não falha em chegar – e em surpreender. Há diferenças de uma para outra Primavera, há. Umas são mais secas do que outras. A de agora está tristemente enxuta, sussurram os caules pendidos das plantas, as pétalas de cor mortiça ou as vagens pouco cheias das favas. Houve tempo em que corriam os barrancos não apenas nos dias em que caía a chuva, e mesmo em dias de sol primaveril iam rápidos por entre as margens lambidas e deitavam-se as ervas à terra, mas era com a força da corrente. As quedazinhas de água que saltavam das pedras e dos troncos no leito do Barranco da Corte, ao lado da aldeia de Cabeça Gorda, hoje são só lembranças: o leito passa-se a pé, andando sobre torrões de terra fendida, onde antes se gritava de uma margem para a outra e se desafiava os amigos a atravessar sem

salpicar os pés. São repetições com diferenças, diferenças que alteram as estações repetidas.

O que não falha são os cheiros. Pode vir com mais ou menos água, mais ou menos calor, mas os perfumes trá-los a Primavera. Quando se levanta o sol, ou começa a cair no horizonte, são as plantas (as flores, sim, mas a casca das árvores, as folhas finas, tudo, tudo por junto, que exala. O ar com os cheiros deixa de ser incógnito, adensa-se, fica palpável, localiza-se. Passa-se de um lugar para outro e não é a forma nem a cor dos lugares a identificá-los, mas os cheiros: aqui é a porção da laranjeira (vem o perfume com o zumbido das abelhas, que lhe faz parte), aqui a dos poejos, aqui a do jasmim. Onde haja cheiros há todo o espaço: quando o museu Kiasma abriu em Helsínquia, em 1998, uma das instalações que se podiam visitar, numa das belíssimas salas do edifício desenhado por Steven Holl, era uma coleção de potes cerâmicos que encerravam odores (hei de lembrar-me do nome do/da/dos artistas, mais Primavera, menos Primavera), desde perfumes mais aprazíveis – se a flor do jasmim não está lá, não sei o que estará

aos mais repulsivos fedores (lembro-me vigorosa e repugnantemente de uma essência que expelem os cachalotes). A

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sala, o plinto longo assente na diagonal no chão da sala, as paredes, tudo neutro: branco, sem traços, sem cores, sem cortinas, tapetes, candeeiros, nada que distraísse do que se ocultava no fundo de cada pote, coberto por uma pequena placa de madeira branca. Levantava-se e, nariz metido, cheirava-se. Todo um espaço, um universo inteiro dentro de um pote de cerâmica. Como o canteiro minúsculo de certas roseiras .

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Foto: Vasco Célio

A lógica do desastre

João Ministro (Engenheiro do Ambiente e Empresário)

uma recente saída de campo para os lados de Luz e Burgau, observei algo que em 30 anos de deambulações pelo Algarve jamais vi: a vegetação natural mediterrânea a secar. Aroeiras, grandes e densas, espargueiras, zimbros ou sândalos, espécies arbustivas altamente resistentes ao clima quente e seco do sul, a definhar às centenas ou milhares. O fenómeno afectou especialmente as plantas expostas a leste, havendo mesmo casos em que apenas as partes orientadas nessa direcção estavam secas. O cenário era, ainda assim, impressionante e estendeu-se, segundo sei, por toda a faixa litoral até, pelo menos, Sagres. Tal ocorrência pode estar relacionada com os ventos quentes de levante que nesses dias varreram o Algarve. Contudo, há aqui algo mais do que este simples episódio, por ventura anormal, da influência atmosférica do Mediterrâneo. Há uma condição estrutural de stress hídrico que tem vindo a agravar-se no barlavento Algarvio do qual este poderá ser mais um sintoma do que se passa no solo e subsolo. O estado de seca está, aliás, declarado pelo Instituto Português do Mar e Atmosfera desde dezembro de 2022 com o grau de «Seca Fraca», grau esse entretanto alastrado a todo o Algarve, sendo mesmo de «Seca

Moderada» em todo o corredor do Guadiana, até à serra de Tavira.

Registe-se, também, o grave estado do armazenamento de água nas barragens da região. Todas abaixo dos 50%, estando a de Odelouca – a maior do Algarve – com apenas 25% do seu volume preenchido. Tudo isto é seriamente preocupante e perigoso, e devia, no mínimo, mobilizar-nos para mudanças profundas na forma como gerimos o território e o seu recurso água. Contudo, infelizmente, isso não é percepcionável, nem sequer se vislumbra a médio prazo. Pelo contrário, basta observar o que se passa in loco e acompanhar as notícias que vão surgindo. A expansão agrícola intensiva, à base de produtos altamente exigentes em água continua. Sejam eles abacates ou laranjas. O escandaloso caso da exploração de abacates em Lagos, da empresa Frutineves, mesmo após chumbo do respectivo estudo de impacte ambiental pela CCDR Algarve e dos processos de contraordenação pela IGAMAOT, continua a laborar, como se nada passasse.

Continuamos com perdas avultadas de água nos sistemas de distribuição em baixa, a rondar os 30% em média, havendo municípios com valores bastante acima. O recente relatório da ERSAR, relativo ao ano de 2021, disto nos fala. Tal facto traduz-se, não só num grave desperdício deste precioso recurso,

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bem como em custos financeiros extra para as entidades gestoras – e em breve os cidadãos – que se vêm obrigadas a «comprar» mais água às grandes empresas do sector, nomeadamente ao grupo Águas de Portugal. Bem sabemos que há esforços em curso para mitigar estas perdas, mas sejamos honestos: são lentos, burocraticamente pesados e dependentes dos fundos europeus.

A juntar a todo este caldeirão explosivo, não esqueçamos a manutenção do actual modelo de desenvolvimento da região, assente no imobiliário e turismo de

massas, com milhares de novas camas previstas para o litoral sul (e também no interior), milhares de piscinas (enchidas com água potável tratada), novos campos de golfe e a contínua proliferação de casas por esse barrocal fora.

Continuamos a viver uma realidade onde impera a lógica do crescimento continuo, sem freio e regulação, quando em nosso redor os sinais alertam-nos para o contrário. Há limites aos quais não deveríamos pensar sequer aproximar, quanto mais ultrapassar. Mas não é isso que parece .

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Gente zangada, intolerante, má! Júlio Ferreira (Inconformado encartado)

m senhor com 77 anos, idade mais do que suficiente para ter juízo, colocou (mais uma vez) na ordem do dia a questão da imagem, criticando apresentadoras da TVI, por não terem uma “silhueta perfeita”, idêntica à de outras colegas de profissão. “Simpática, mas robusta”. “Braços tomados pela flacidez do tempo”, “Mulher simpática, mas robusta, com tendência para aumentar de peso e raramente usando roupa adequada as suas características”, são alguns dos «mimos» utilizados e que têm incendiado as redes sociais, jornais e revistas cor de rosa. O pequeno texto publicado é um insulto inaceitável, como o são todos os textos e comentários que, para defender as apresentadoras, apelidam o senhor de “feio”, “careca”, “velho”, “murcho”, “flácido”. A liberdade de expressão, que algumas pessoas usam para o criticar desta forma, é a mesma que ele usou para escrever aquilo.

Mais uma vez chegamos à triste conclusão de que não é fácil enfrentar os cânones e desafiar as tendências estéticas do séc. XXI. Os antigos ativistas do movimento dos direitos civis batiamse pelo fim da segregação racial e pela igualdade de direitos. Os modernos, como se se tratassem de uma polícia de ordem púdica, fiscalizam os quilos e

idade a mais dos outros. Na tentativa de vender uma imagem estereotipada de beleza que integra saúde e juventude –não exatamente por esta ordem. Não será extraordinário, assim, que até os jovens sucumbam ao efeito «reciclagem» e se descartem do que a natureza lhes deu em prol de um reconhecimento social que lhes permita passear-se pelas praias e discotecas, assemelhando-se a modelos. A ideia não é conviver, mas apenas ver e ser visto; uma espécie de androides animados, extremamente apelativos, que despertam desejo e imitam a perfeição que outros (imperfeitos) lhes impõem. Já para não falar no facto de todos compactuarem com a palhaçada que as revistas fazem, que é encher as mulheres de «Photoshop» e torná-las bonecas perfeitas. Até a Barbie, a boneca mais famosa do mundo, já teve várias versões que pretendem ir ao encontro das medidas reais dos corpos das mulheres atuais e romper com um conceito de beleza estereotipado. Uma responsabilidade para com as jovens raparigas e para com os pais de refletir uma visão mais alargada da beleza. O preconceito (seja ele qual for) está diretamente ligado à falta de inteligência, é uma perda de tempo tão estúpida e vã quanto o sexismo que, decididamente, não fazem o meu género. Já uma vez escrevi neste cantinho: “Claro que somos diferentes, porque somos diversos. Somos diferentes e isso é maravilhoso. As nossas diferenças e diversidade é o que

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dá vida e sabor à vida”. É igualmente irónico ver o feitiço virar-se contra o feiticeiro. As vítimas de hoje, já foram responsáveis por críticas e preconceitos, em relação a outros.

Da televisão ao cinema, da cosmética à moda, da saúde estética à alimentação ou à farmacêutica, há todo um mundo de aproveitamento claro da exploração das inseguranças femininas quanto aos seus corpos; fragilidades essas alimentadas pelas próprias marcas, que de uma forma

tantas vezes condescendente vão vendendo soluções milagrosas na rua, na Internet, nas revistas, nos cartazes de supermercado, farmácias e demais espaços comerciais, quanto à obrigação feminina de encaixar em parâmetros predefinidos. E quem não o fizer deve sentir vergonha e insegurança quanto ao seu próprio corpo, provocando verdadeiras frustrações e inseguranças em massa a miúdas e mulheres mundo fora que desejam ter aqueles corpos

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irreais. Corpo perfeito é aquele que carrega uma mulher feliz dentro dele!

Mas não confundamos a celebração da diversidade corporal com a apologia a hábitos poucos saudáveis de vida. Mas o ponto de partida para o fazermos não deveria ser conseguirmos atingir determinada aparência enquanto forma de validação social. Cuidar do corpo passa também por amá-lo e aceitá-lo, de sair à rua sem vergonha social, de se sentirem livres para se expressarem nas várias dimensões das suas vidas e serem vistas também fora das quatro paredes das suas casas. Não é apenas a aparência do nosso corpo que nos define enquanto pessoas, nem que nos condiciona nas nossas escolhas enquanto cidadãos que têm como pilares base da vida em sociedade o direito à dignidade, ao respeito e à liberdade. Mas o que muita gente parece não perceber quando debita sentenças e bitaites sobre a aparência dos demais sem que a sua opinião tenha sido pedida, é que está a pisar as fronteiras da individualidade daquela pessoa, privando-a precisamente destes direitos básicos.

Mas não são só as mulheres que são vítimas desta imagem estereotipada de beleza. Quantas campanhas de produtos masculinos não contêm uma seleção de imagens estereotipadas de homens, cujos atributos físicos, obviamente, não podiam ser mais cliché no que toca à masculinidade, e uma série de trocadilhos que reforçam uma ideia pré-feita sobre o que um macho que se preze deve ser. Clichés da masculinidade que já cheiram ao bolor, para passar tal mensagem. A sério que não conseguem vender

produtos para os homens sem vender associada uma ideia totalmente estereotipada que assenta na construção do homem másculo e características essas que são, amiúde, consideradas antónimos de fragilidade, insegurança, medo, vulnerabilidade. Um homem que seja tudo é menos homem, menos másculo? Não é ao acaso que depois temos tantos homens, que ainda têm pudor em fazer algo como chorar, demonstrar fraqueza, medo ou pedir ajuda, por exemplo.

Lembram-se quando diziam que nós, pessoas, pós-pandemia iríamos ficar melhores, mais unidos, altruístas, generosos, inclusivos?

Hahahahahahahahahahahaha…

A sério, é preciso ser muito inocente para se achar que uma crise ou evento mais ou menos catastrófico, iria tornar as pessoas melhores. Vejo cada vez mais gente zangada, intolerante, má! E, sobretudo, gente que perdeu a vergonha de mostrar que não tem valores nem princípios. Francamente, acredito que já eram assim, mas mais preocupante é a debilidade mental que demonstram em muitas situações e que a pandemia e o isolamento potenciaram. Ninguém devia ter passado incólume por uma experiência tão devastadora.

Mas isso são tretas...só aumentou o egoísmo, o egocentrismo. E o isolamento social e a solidão são cada vez mais acentuados.

Não há vacina para a humanidade!.

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