REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #384

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ALGARVE INFORMATIVO 22 de abril, 2023 #384 CENTRO ONCOLÓGICO DE REFERÊNCIA DO SUL VAI NASCER NO PARQUE DAS CIDADES 3x3 BASKETART EM ALBUFEIRA | ALGARVE 2030 | «DUAS PESSOAS E UMA ILHA SOZINHA» «UMA PEÇA DE TEATRO» | «AS CANÇÕES DE CARLOS DO CARMO NA VOZ DE UMA MULHER»

ÍNDICE

Algarve 2030 (pág. 32)

Albufeira inaugurou campos de 3x3 BasketArt (pág. 40)

CHUA vai construir e gerir Centro Oncológico de Referência do Sul (pág. 48)

Grupo LEGO e Peugeot apresentam novidade mundial no Autódromo Internacional do Algarve (pág. 56)

Fado animou 18.º aniversário do Auditório Carlos do Carmo, em Lagoa (pág. 64)

Clã brilharam forte no 93.º aniversário do Cineteatro Louletano (pág. 74)

«Uma Peça de Teatro» da Panapaná (pág. 92)

«Duas Pessoas e uma Ilha Sozinha» no Centro Cultural de Lagos (pág. 106)

OPINIÃO

Paulo Cunha (pág. 118)

Mirian Tavares (pág. 120)

Júlio Ferreira (pág. 122)

Dora Gago (pág. 126)

Algarve 2030 tem 780 milhões de euros para ajudar o Algarve a ser mais competitivo e sustentável

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve tem como missão assegurar a coordenação e articulação das diversas políticas sectoriais de âmbito regional, incluindo as responsabilidades de gestão que lhe sejam confiadas no âmbito da política de coesão da União Europeia, como é o caso do Algarve 2030, que foi oficialmente apresentado, à comunicação social, no

dia 10 de abril. Resultado de prolongada e exigente negociação com a Comissão Europeia, a programação do Algarve 2030 coexiste com os efeitos da pandemia e com a urgência das transições climática e digital, numa região que foi fortemente impactada em termos económicos e sociais. Tal obriga a uma abordagem mais seletiva, definindo áreas de atuação prioritárias e objetivos específicos, com base nas lições do passado, mas respondendo aos novos desafios do nosso tempo.

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O Programa alinha com os Objetivos de Política da Coesão pós-2020, declinando regionalmente as prioridades da Comissão Europeia para Portugal, que presidiram o racional da Estratégia de Desenvolvimento Regional Algarve 2030 aprovada no Conselho Regional a 11 de setembro de 2020, e desenhada à luz dos ODS e da Agenda 2030 (ONU). De salientar ainda que a Estratégia Algarve 2030 resultou da concertação multinível entre a CCDR Algarve (NUT II) e a CIMAMAL (NUT III). E, numa sessão orientada por José Apolinário, presidente da CCDR Algarve, depressa se compreende que reforçam-se os elementos estruturantes da visão estratégica para a região, pela incorporação de conhecimento e inovação na valorização dos recursos endógenos diferenciadores; a preservação de elementos de identidade territorial, ora com novas ameaças e riscos; a qualificação de estruturas físicas e amenidades do território, enquanto instrumentos fulcrais para a atratividade de investimentos e residentes; e a capacitação multinível e intersectorial dos agentes de transformação do território, dos recursos humanos, das empresas e das instituições públicas e associativas, alavancando os ativos patrimoniais, culturais e turísticos.

A programação é marcada, desde logo, pelo adicional de 300 milhões de euros (decisão na reunião extraordinária do Conselho Europeu de julho de 2020), que visam acelerar a diversificação da base económica, robustecendo os atores e ativos regionais, tornando-os mais resilientes e aptos para responder a

choques externos, com o intuito de minimizar os fortes impactos económicos e sociais, procurando desenvolver os setores de especialização regional (EREI), e potenciar a correção de desequilíbrios crónicos derivados do perfil assente nos serviços, em particular no turismo, muito afetado pela pandemia. Em termos operacionais, os objetivos de política e os objetivos específicos mobilizados contribuirão para concretizar a visão de uma região reconhecida internacionalmente pela qualidade de vida e identidade, dotada de atores capacitados para fazer face aos novos desafios, por via de escolhas sustentáveis, conducentes a um Algarve mais inteligente, mais conectado, mais verde e com menos carbono, mais social e inclusivo, mais coeso e próximo das pessoas.

Face à fragilidade da estrutura empresarial, a mudança de perfil exige uma política robusta em matéria de atração de investimento e promoção de novos negócios. Assim, para um Algarve mais competitivo, a aposta passa prioritariamente pela consolidação do ecossistema de inovação como fator de competitividade e sustentabilidade, reforçando a colaboração entre produtores de conhecimento e o tecido empresarial, estimulando a digitalização da economia e os domínios da EREI (turismo, mar, saúde, recursos endógenos terrestres, indústrias culturais e criativas, digitalização e TIC, sustentabilidade ambiental) alinhados com os desafios societais. Das comunidades de inovação, baseadas em processos de descoberta empreendedora, entre os centros de

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investigação e as empresas, deverá resultar o desenvolvimento de novos produtos, soluções e serviços, que, com caráter inovador, promovam o desempenho económico regional, capitalizem emprego adequadamente remunerado e a desejável qualidade de vida.

No Turismo, que foi o motor do crescimento regional nos anos prépandemia, a aposta passa pelo apoio à sua requalificação em moldes ambientalmente mais sustentáveis e que contribuam para a redução da sazonalidade e para o aumento do seu valor acrescentado. Vai-se procurar também partir do reconhecimento internacional do destino Algarve para fomentar circuitos de comercialização e consumo de base local e para alavancar a visibilidade externa e a exportação de produtos de qualidade diferenciadores

(citrinos, vinho, frutos secos, doçaria, flor do sal, mariscos, algas), cujas cadeias de valor são aposta para a diversificação.

Face ao CRESC Algarve 2020, reforçamse as dotações de apoio à internacionalização e as relativas ao sistema de incentivos de base territorial (para melhor aderência às realidades e prioridades regionais), mas também para fomentar o aumento da copromoção empresas/academia nas áreas de especialização das infraestruturas tecnológicas existentes na Região. Complementarmente, procurar-se-á garantir a cobertura de conectividade de alta velocidade (5G), estando os apoios focados nas áreas de baixa densidade e interior. Para um Algarve mais verde e com menos carbono, em linha com o Pacto Ecológico Europeu e a Lei Europeia do Clima, a refletir no PNEC, as intervenções a apoiar serão direcionadas

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José Apolinário, presidente da CCDR Algarve

para minimizar as vulnerabilidades da região às alterações climáticas e à descarbonização. Será promovida a gestão adequada dos recursos hídricos (em linha com o Plano Regional de Eficiência Hídrica do Algarve) e dos resíduos; defesa, adaptação e valorização da biodiversidade e gestão e valorização das áreas protegidas; descarbonização nos diferentes setores da economia, incluindo os transportes; a eficiência energética, o combate da pobreza energética, a produção e utilização de energias renováveis, bem como a incorporação de processos de produção mais circulares.

Em relação ao CRESC Algarve 2020, reforçam-se igualmente as dotações para valorizar e tornar resilientes os recursos e ativos territoriais, mitigando riscos e adaptando os territórios e as comunidades para os efeitos crescentes das alterações climáticas. Regista-se

ainda uma aposta na mobilidade urbana intermodal sustentável, com dimensões que vão da micrologística funcional à estruturação de oferta de transporte público descarbonizado, que sirva a maior bacia de emprego do sul do país.

Para um Algarve mais social e inclusivo, em linha com o Pilar Europeu dos Direitos Sociais, o foco vai centrar-se no reforço da oferta de qualificações de nível superior, em áreas que permitam alimentar, com jovens qualificados, as apostas na diversificação da base económica regional, procurando estruturar-se redes de qualificação, públicas e privadas, de nível intermédio e superior, por forma a reforçar sinergias e complementaridades e suprir necessidades emergentes nos domínios EREI, bem como promover uma cultura de formação permanente ao longo da vida, que acelere as transformações digital e climática, e estimulem a

requalificação e adaptabilidade de trabalhadores e empregadores, afirmando a região no quadro da sociedade do conhecimento.

Por outro lado, como garante de melhor inclusão social, vai-se promover atuações que inovem nas respostas e nos serviços de interesse geral para enfrentar os desafios demográficos, por forma a potenciar os fatores de fixação e atratividade de jovens e profissionais altamente qualificados, para reverter a perda demográfica em escalões etários jovens, atenuar o aumento do índice de envelhecimento e manter um crescimento populacional sustentável, pela melhoria dos fatores de competitividade regional e o investimento na qualidade do emprego. Daí que, em matéria de apoios ao emprego, de qualificações e

competências, as prioridades terão em conta as necessidades específicas dos territórios de baixa densidade, designadamente em matéria de valorização dos recursos endógenos, de energias limpas e renováveis, de mobilidade e circularidade.

Face ao CRESC Algarve 2020, consagrase uma reorientação significativa: prioridade no acesso e criação de emprego com promoção das qualificações e do emprego qualificado; redução dos apoios de banda larga à criação de emprego e ao empreendedorismo; reforço significativo das verbas destinadas à qualificação de nível superior e à inserção de jovens no mercado de trabalho, à adaptação à mudança de trabalhadores, empresas e empresários; bem como o reforço das verbas para a inclusão social e saúde, em

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Aquiles Marreiros, vogal executivo da Comissão Diretiva do Algarve 2030

particular nos investimentos ao nível da medicina nuclear. Para fomentar um Algarve mais coeso e próximo dos cidadãos, as intervenções incidirão nas zonas urbanas e nas não urbanas, centradas em abordagens e instrumentos territoriais distintos, em função das caraterísticas territoriais, funcionais ou temáticas.

Assim, nas áreas urbanas pretende-se consolidar a abordagem prevista no modelo territorial, explorando as complementaridades entre os polos urbanos, única via para promover a coesão territorial e a inserção competitiva da região em escalas macro (Ibérica e faixa atlântica). Para tal evidenciam-se os instrumentos alinhados com os centros regionais estruturantes, bem como numa abordagem intermunicipal para outros tipos de ação complementares.

Nos restantes instrumentos, um dos

redes e de Serviços de Interesse Geral, com vista à adequada provisão e acessibilidade por parte das populações: nas zonas urbanas, garantindo as necessárias complementaridades entre serviços já existentes ou a criar; nas zonas não-urbanas, garantindo um nível de cobertura mínima de serviços básicos, e de condições de base, sem as quais é impossível fixar e atrair população, investimento e emprego. Nas áreas não urbanas, evidencia-se a proposta de Investimento Territorial Integrado temático do Algarve e Alentejo, associado aos temas da água e ecossistemas de paisagem, promovendo o combate aos desequilíbrios regionais e potenciando as capacidades e os recursos comuns. Acresce uma abordagem de continuidade na valorização dos recursos endógenos, envolvendo os atores do território, através do Plano de Ação de Desenvolvimento dos recursos

Endógenos (PADRE) .

Albufeira inaugurou campos

3x3 BasketArt» para promover a prática informal do basquetebol

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

oram inaugurados, no dia 13 de outubro, no âmbito da Festa do Basquetebol Juvenil, quatro campos «3x3 BasketArt» no Parque Desportivo de Vale Faro, em Albufeira, um projeto com uma forte componente artística e criativa, da autoria de ASUR, nome artístico do albufeirense Filipe Neves, conhecido pelos seus murais de graffiti que podem

ser apreciados em vários pontos da cidade e em diversas partes do mundo.

O projeto resulta das obras de requalificação de um espaço desportivo localizado no Jardim de Vale Faro, intervenção que possibilitou a criação de uma zona ao ar livre de excelência para a prática informal do basquete e do futebol. A obra, que envolveu um investimento por parte da Autarquia de Albufeira superior a 100 mil euros, consistiu na requalificação do pavimento

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dos quatro campos de basquete, com uma área total de 1.420 metros quadrados, e um campo de futebol 5, com 1.183,23 metros quadrados, o que permitiu juntar no mesmo local duas modalidades desportivas para que os jovens do concelho possam praticar atividade física ao ar livre. O piso dos campos de BasketArt e do campo de futebol 5 foram decorados com imagens alusivas a Albufeira e às respetivas modalidades desportivas, pintadas por ASUR.

Na ocasião, José Carlos Rolo, presidente da Câmara Municipal de Albufeira, afirmou que a requalificação dos campos “vem enriquecer as infraestruturas desportivas do concelho, o que contribui para consolidar a candidatura de Albufeira a Cidade Europeia do Desporto em 2026”. O edil referiu ainda que “o projeto é um investimento em prol da juventude e do desporto e que contribui fortemente para valorizar a atividade física, o bem-estar e a saúde dos jovens, permitindo o acesso à prática informal do basquetebol e do futebol a todos os habitantes”

Refira-se que Albufeira é o 18.º concelho português a disponibilizar a residentes e visitantes campos da rede 3x3 BasketArt, sendo o primeiro concelho

algarvio a integrar o projeto. Estão assim inauguradas duas infraestruturas desportivas muito importantes para o concelho de Albufeira, com Cristiano Cabrita, vice-presidente com o pelouro do Desporto, a entender que os novos campos de basquetebol 3x3 e o renovado campo de futebol de 5 “são a expressão de uma estratégia

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inequívoca da autarquia que entende que o desporto é para todos e de todos os albufeirenses”.

“São espaços abertos ao público e de livre acesso, reforçando a nossa convicção na democratização da atividade desportiva”, frisou

Cristiano Cabrita, deixou “uma palavra de apreço a todos os envolvidos nesta obra, nomeadamente aos técnicos da autarquia e ao nosso artista ASUR”. “Obrigado ao IBC, ao CBA e ao Albufeira Futsal por engrandecerem esta cerimónia”, acrescentou.

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Manuel Fernandes, presidente da Federação Portuguesa de Basquetebol, lembrou, entretanto, que um dos principais objetivos desta estrutura é ajudar a requalificar espaços que não estão em boas condições e transformálos em zonas adequadas para a prática desportiva. “Há que realçar a maisvalia que consiste em contribuir para a disponibilização de espaços para a prática desportiva ao ar livre, abertos ao público e acessíveis a todos, e para a promoção do basquetebol 3x3, que já faz parte das modalidades olímpicas. São espaços desportivos onde qualquer pessoa pode praticar basquetebol de forma informal, os jovens, os pais

e os avós com os filhos e os netos, mas onde também os basquetebolistas podem aproveitar para fazer treinos de melhoramento das técnicas de jogo, fora dos seus clubes”, concluiu, deixando ainda um agradecimento ao Município de Albufeira “pelo seu forte empenho na valorização do basquetebol no concelho” .

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CHUA vai construir e gerir novo Centro Oncológico de Referência do Sul no Parque das Cidades

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

eu-se, no dia 13 de abril, o «pontapéde-saída» para a criação do Centro Oncológico de Referência do Sul, um projeto público integrado no Serviço Nacional de Saúde que vai nascer no Parque das Cidades. O protocolo para a cedência do terreno onde será construído o edifício destinado

a esta importante unidade pública de saúde foi assinado entre a Associação de Municípios Loulé/Faro e o Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA), entidade que vai ser responsável pela construção, manutenção e exploração de todos os recursos técnicos e humanos deste centro que ficará localizado nas imediações do futuro Hospital Central do Algarve.

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O concurso público foi aprovado, no dia 13 de abril, em Conselho de Administração e deverá ser lançado de imediato, revelou Ana Varges Gomes, presidente do CHUA, numa cerimónia que contou com a participação dos presidentes das Câmaras Municipais de Faro e de Loulé, Rogério Bacalhau e Vítor Aleixo, respetivamente, e do Presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, José Apolinário. E ambos os autarcas mostraram-se bastante satisfeitos com o projeto e com “este primeiro passo que foi dado”, sublinhando a sua importância para a população que sofre de doença oncológica, suprindo-se assim a carência de uma infraestrutura deste nível na região, e realçando o facto de este ser um equipamento público que

ficará sempre na esfera do serviço nacional de saúde. “A propriedade e exploração não podem, a título algum, vir a ser cedidas a entidades terceiras fora do SNS. O perímetro da operação ficará blindado ao SNS, não haverá aqui soluções de transição em que depois sejam entidades externas às entidades públicas a operar”, fez questão de esclarecer Vítor Aleixo, que preside atualmente à Associação de Municípios Loulé/Faro.

O responsável do Município de Loulé alertou ainda para a necessidade, a partir deste momento, de empenho por parte do CHUA no projeto e em fazer a obra. “Há financiamento, há vontade política, e isto só depende das

Rogério Bacalhau, Vítor Aleixo, Ana Varges Gomes e José Apolinário

entidades regionais, o que é uma vantagem, ao contrário do Hospital Central do Algarve, que depende muito da administração central”, referiu. “Este Centro Oncológico é algo que o Algarve em particular precisava há muito tempo”, considerou, por seu lado, Rogério Bacalhau, autarca de Faro e presidente da Assembleia Geral da Associação de Municípios Loulé/Faro. O edil farense relembrou o papel da Associação Oncológica do Algarve no tratamento “que há 30 anos veio, de alguma forma, tapar uma lacuna que existia no Algarve, que teve um papel fundamental na prestação de serviços a estes doentes, mas é preciso ir muito mais além e hoje estamos aqui a

dar esse passo e com este equipamento ficaremos muito melhor servidos”, considerou.

O futuro equipamento, que vai ser implantado numa área com cerca de 5 mil e 500 metros quadrados, terá um custo total de construção e apetrechamento tecnológico orçado em cerca de 14 milhões de euros e vai ser apoiado pelo Programa Operacional Algarve 2030 com uma verba de 9 milhões de euros, valor esse que poderá ser reforçado, apontou o Presidente da CCDR Algarve, José Apolinário, sendo que a comparticipação dos fundos europeus será de cerca de 60 por cento do valor total do investimento.

“Quero felicitar estes dois municípios por terem acarinhado este projeto, porque é um contributo que Loulé e Faro fazem

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para responder a uma necessidade da região. No seguimento da pandemia, a Comissão Europeia fez sair um Plano Europeu de Luta contra o Cancro e nessa comunicação sublinhava que havia disparidades regionais que era preciso corrigir. Esta proposta surgiu como uma escolha da região e fundamentámo-la precisamente na necessidade de corrigir desigualdades em termos de acesso e prevenção, na luta contra o cancro, no Algarve”, declarou José Apolinário.

O objetivo do Centro Oncológico de Referência do Sul é reunir, de forma integrada, num único espaço físico todas

as especialidades, meios complementares de diagnóstico de última geração e todos os tipos de tratamentos, evitando dessa forma que os doentes oncológicos tenham que sair do Algarve para serem tratados. Assim, com este Centro, numa única deslocação e no mesmo local, poderão realizar os seus tratamentos de forma integrada e com o acompanhamento de equipas multidisciplinares. “Para todos os doentes diagnosticados por ano na região do Algarve (cerca de 1.500), este centro vai ser uma mais-valia porque vão poder fazer todos os exames de estadiamento no mesmo local. Para além de se encurtar o espaço de diagnóstico, o que é bastante importante em

oncologia, fazemos todo o percurso no mesmo sítio, o que atualmente não sucede. O próprio tratamento em si também vai poder ser efetuado todo no mesmo espaço, quer seja a Radioterapia ou a Quimioterapia. Tudo isto vai assegurar ao doente maior comodidade e, seguramente, um tratamento mais célere e humanizado”, acredita Ana Varges Gomes, presidente do Centro Hospitalar Universitário do Algarve.

Com uma forte aposta também na área da Investigação Científica, o Centro Oncológico de Referência do Sul é simultaneamente um projeto inovador que permite ter uma grande componente de humanização dos cuidados, possibilitando ter um espaço para os

utentes ficarem durante a realização dos seus tratamentos. “Há muitos doentes que vêm de fora, têm que se deslocar em viatura próprio ou mesmo de ambulância para diariamente, de segunda a sextafeira, fazerem os tratamentos. Neste Centro, os doentes vão poder ficar durante a semana, os que necessitarem e assim o entenderem. É uma mais-valia para a região podermos fazer todo o diagnóstico e tratamento integrado”, reforçou Ana Varges Gomes.

Com uma área de abrangência em termos de prestação de cuidados à população do Algarve e do Alentejo, esta nova unidade de saúde vai ainda disponibilizar equipamentos até então

inexistentes na região, como a TAC –PET. A Medicina Hiperbárica, a Ressonância, a TAC para estadiamento, um Bloco Operatório com a possibilidade de fazer Radioterapia Intraoperatória (algo que não existe atualmente), a juntar a todas as outras técnicas e tratamentos como a Radioterapia e a Radiocirurgia, fazem parte desta oferta integrada de cuidados que vão ser prestados por equipas multidisciplinares.

Dividido por várias áreas, o Centro Oncológico de Referência do Sul vai ter instalações modernas com todas as comodidades para os doentes e para os profissionais de saúde, contando, para além dos equipamentos já mencionados, com salas de Ressonância Magnética, de Gama-câmara, de Radiologia, de TAC, de TAC-PET, de Ecografia, Radiofarmácia, Bloco Operatório, Recobro, Biobanco,

Ecocardiografia e Patologia Clínica. Haverá ainda um espaço dedicado à Investigação e uma área para Hospital de Dia Oncológico com capacidade para cerca de 30 cadeirões de tratamento (com áreas recomendadas), 6 macas de tratamento e uma área em open space com 6 postos de trabalho e centrais de vigilância e acompanhamento ao doente. Estarão igualmente disponíveis 10 gabinetes de consulta, salas de colheitas, área de Internamento com 8 quartos individuais, refeitório, áreas de convívio e visitas, salas de espera, áreas de trabalho e de registos e áreas de descanso. O edifício contará ainda com diversas salas de espera, receção e acolhimento, localizadas em jardim interior, várias instalações sanitárias e gabinetes de trabalho, vestiários e todas as áreas técnicas essenciais e de apoio à atividade e logística hospitalar .

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Grupo LEGO e Peugeot apresentaram novidade mundial no Autódromo Internacional

do Algarve

Texto: Daniel Pina

epois de, em 2022, ter dado a conhecer o revolucionário hipercarro 9X8, a Equipa Peugeot TotalEnergies abraçou um novo desafio de engenharia, isto é, recriar o incrível novo hipercarro híbrido em forma de LEGO® Technic™, e assim surgiu o

Numa proeza de engenharia de excelência, as equipas de design do Grupo LEGO e da Peugeot Sport criaram uma versão precisa à escala 1:10 do pioneiro hipercarro 9X8. Das linhas elegantes aos apontamentos verde-limão da pintura, este novo modelo LEGO

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LEGO® Technic™ PEUGEOT 9X8 24H Le Mans Hybrid Hypercar. Aurélien Rouffiange, Thomas Orlier, Nico Müller e Jean-Eric Vergne

Technic traz o brilho do 9x8 à vida. O 9x8 demonstra a busca da PEUGEOT pela eletrificação e incorpora, ao mais alto nível, o espírito competitivo da marca. A transmissão elétrica de sete velocidades do hipercarro com tração às quatro rodas da vida real foi reproduzida com precisão neste novo modelo, que também ostenta as portas exclusivas do hipercarro, sistema de transmissão híbrido de baixas emissões, suspensão potente e perfil elegante.

Vários detalhes fantásticos, como o motor V6 e elementos de luz que brilham no escuro, capturam verdadeiramente a emoção das corridas, num modelo constituído por 1.775 peças. “As nossas duas marcas juntaram-se para criar

um produto que celebra uma nova era de corrida e engenharia híbridas. Recriar as formas e os detalhes de um carro tão elegante com recurso a elementos LEGO

Technic não foi fácil, mas foi uma honra trabalhar de forma tão criativa com a Equipa Peugeot

TotalEnergies neste projeto, e estou orgulhoso de juntos termos sido capazes de construir a sério o hipercarro em forma de LEGO

Technic”, referiu Kasper René Hansen, Designer do Grupo LEGO, na apresentação que teve lugar, no Autódromo Internacional do Algarve, no dia 13 de abril. Já Olivier Jansonnie, Technical Director da PEUGEOT Sport,

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Thomas Orlier, Aurelién Rouffiange

lembrou que a cooperação técnica com a LEGO começou em janeiro de 2022, cinco meses antes do anúncio do PEUGEOT 9X8. “Demorou um ano a desenvolver integralmente o projeto com as equipas técnicas e de design, o que nos permitiu transpor diretamente as características técnicas do PEUGEOT 9X8 para o modelo LEGO Technic. Foi bastante importante para ambas as marcas criar um modelo que fosse o mais realista possível. A PEUGEOT, a Peugeot Sport e as equipas LEGO tiveram muitas reuniões sobre o desenvolvimento da suspensão e dos sistemas híbridos, que não

podem ser reproduzidos apenas com base em fotos. Agradecemos à LEGO por este projeto, estamos muito orgulhosos e impressionados com este resultado, que foi além do que podíamos ter imaginado”, assegurou.

A mais recente novidade da série LEGO Technic mede mais de 13 cm de altura, 22 cm de largura e 50 cm de comprimento uma vez construído integralmente e vai, decerto, proporcionar, tanto a fãs de corridas como de LEGO, um passeio emocionante. E esta versão LEGO do modelo de carro de corrida foi anunciada durante a primeira corrida do FIA World Endurance Championship em Portugal,

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Loïc Duval e Gustavo Menezes

antes de o carro da vida real ir para as pistas enquanto se prepara para a aguardada participação nas 24 Horas de Le Mans, a ter lugar a 10 e 11 de junho.

Esta foi a primeira vez que o Grupo LEGO revelou um produto LEGO Technic em Portugal, numa iniciativa que contou com Thomas Orlier, Chassis Designer da Peugeot Sport, e Aurélien Rouffiange, Design Manager do Grupo LEGO, que apresentaram o modelo que resultou do estreito trabalho de conceção em equipa. A propósito do acontecimento no Algarve, Sylvain Bouchès, Marketing Director do Grupo LEGO para França, Espanha e Portugal, declarou:

“Os portugueses são conhecidos por terem uma grande paixão pelo desporto automóvel, o que faz de Portimão o cenário
perfeito para o lançamento deste produto. Conviver com a Peugeot Sport e estar à beira das pistas, onde acontece a magia das corridas, foi uma oportunidade única” .

AUDITÓRIO CARLOS DO CARMO FESTEJOU 18.º ANIVERSÁRIO AO

SOM DO FADO

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

o âmbito das celebrações do 18.º aniversário do Auditório Carlos do Carmo, o Município de Lagoa apresentou, no dia 15 de abril, o concerto «As Canções de Carlos do Carmo na Voz de Uma Mulher», que regressou este ano numa edição exclusivamente feminina, nomeadamente com Rita Guerra, Filipa Vieira e Beatriz Felício. As três artistas revisitaram a obra de Carlos do Carmo, interpretando alguns dos seus maiores êxitos, assim como algumas surpresas.

O espetáculo, que se realizou pela primeira vez no dia 18 de abril de 2018, na cerimónia do rebatismo do Auditório Carlos do Carmo (até então Auditório Municipal de Lagoa) e com a presença de Carlos do Carmo na plateia, já contou com a participação de nomes tão ilustres da música portuguesa como Cristina Branco, Camané, Paulo de Carvalho, Marco Rodrigues e Gil do Carmo, continuando neste caminho a homenagear a carreira de uma das maiores figuras do fado, da música e da cultura portuguesa .

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CLÃ BRILHARAM FORTE

NO 93.º ANIVERSÁRIO DO CINETEATRO LOULETANO

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

s Clã trouxeram a Loulé, no dia 19 de abril, para festejar o 93.º aniversário do Cineteatro Louletano, o seu álbum «Véspera», num concerto especial que contou com a participação dos AlFanfare.

«Véspera» saiu na Primavera de 2020, sob o signo da pandemia. O nono disco da banda foi muito bem recebido pelo público, imprensa e crítica especializada e alcançou, logo na primeira semana, o primeiro lugar no top de vendas da AFP, com os temas de avanço – «Tudo no Amor», «Sinais», «Armário» e «Jogos Florais» – a serem presenças constantes nas rádios nacionais.

O disco foi preparado para incendiar o palco, aquele que é a segunda casa para uma banda amplamente reconhecida pela energia e excelência dos seus concertos. Na nova digressão, os Clã dão corpo e músculo às novas canções, trazendo também com elas outros temas e clássicos que fazem parte da sua história e da de todos nós. Um álbum que conta com 10 canções originais com música de Hélder Gonçalves (Clã) e letras escritas por Arnaldo Antunes (que tem também uma participação especial no tema «A Arte de Faltar à Escola»), Aurora Robalinho, Capicua, Carlos Tê, Samuel Úria, Regina Guimarães e Sérgio Godinho.

As colaborações artísticas estendem-se também a uma forte componente visual e

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estética, entregue às mãos de Vasco Mendes (que realiza os videoclipes de «Tudo no Amor» e «Sinais») e de Joana X, que, com a colaboração de Nuno Marques, tem acompanhado de perto todo o processo criativo da banda, criando pequenos filmes e imagens dos bastidores de «Véspera». O artista plástico, ilustrador e designer André da Loba é mais um novo cúmplice criativo dos Clã, assinando a identidade e imagem do novo disco e colaborando também com Joana X na realização do videoclipe «Armário».

Os Clã foram eleitos em 2021 como Melhor Grupo nos Play – Prémios Música Portuguesa e o single «Tudo no Amor» considerado Melhor Tema de Música Popular pela Sociedade Portuguesa de Autores. Predicados mais que justificados, como bem demonstrou o fantástico concerto dado no Cineteatro Louletano por Manuela Azevedo (Voz), Hélder Gonçalves (Guitarras e Voz), Miguel Ferreira (Teclados e Voz), Pedro Biscaia (Teclados), Pedro Santos (Baixo) e Pedro Oliveira (Bateria) .

ATORES DA PANAPANÁ INSPIRARAM-SE NOS MONTY

PHYTON PARA

CRIAR «UMA PEÇA DE TEATRO»

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Rita Merlin
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e 3 a 6 de abril subiram ao palco do Teatro Lethes, em Faro, quatro espetáculos totalmente distintos concebidos no âmbito de uma residência artística da Panapaná – Associação Cultural. O primeiro foi «Uma Peça de Teatro», encenada por Frost, que é uma coletânea de 10 sketches cómicos e musicais onde se nota uma forte influência dos lendários Monty Phyton. Com críticas bastante ativas e pertinentes, os atores da

Panapaná falaram de religião e política, de problemáticas sociais e económicas, de clichés culturais e de muitos outros temas significativos e que acabam por ser um tabu na sociedade atual.

Com produção de Diego Medeiros e Raquel Ançã a partir de um texto coletivo, «Uma peça de teatro» foi interpretada por Alex Miranda, Antónia Oliveira, Bárbara Lima, Daniel Carajote, Eárine Damascesno, Frost, Isabel Miguel, João Pires, João Viegas, Margarida Correia, Miguel Aquino, Pedro Fonseca, Sofia Pinto e Sofia Zhu Wang .

ALUNOS DA AORCA

PROTAGONIZARAM «DUAS PESSOAS E UMA ILHA SOZINHA» NO CENTRO

CULTURAL DE LAGOS

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

ubiu ao palco do Centro Cultural de Lagos –Auditório Duval Pestana, no dia 11 de abril, «Duas Pessoas e uma Ilha Sozinha», uma produção da AORCA – Associação de Observação, Regeneração e Criação na Atualidade que nasceu a partir da peça «Duas pessoas e uma ilha sozinha» de Ondjaki, desta feita encenada por Sofia Brito.

Tratou-se de uma apresentação de arte juvenil pelo Grupo de Artes Performativas (GAP) da associação AORCA, em que vários jovens se juntam e constroem em conjunto um espetáculo pluridisciplinar, envolvidos por uma viagem às memórias

e aos sonhos. “Jovens com experiências diversificadas, uns a subirem ao palco pela primeira vez, outros já em vias de profissionalização, cada um trazendo as suas novas práticas por meio do teatro, música e dança”, descreve Sofia Brito este espetáculo em que “duas pessoas e duas vozes sobrevivem numa ilha há muitos anos, outras quatro pessoas num bote, no meio do mar, avistam ao longe a ilha, e várias revelações estão por acontecer… ou não... mas nem a solidão nem o amor são fáceis de conter ou de expor” .

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A D.ª Inércia Paulo Cunha (Professor)

ualquer um de nós, por certo, deve ter aprendido nos bancos da escola que, em termos físicos, a inércia é a propriedade que os corpos possuem de não terem a possibilidade de - sozinhos e por si só - alterarem o estado em que se encontram (primeira lei de Newton). Além da Física, a Química também utiliza o conceito da inércia para falar da resistência de alguns materiais em reagir com outros, como os gases nobres que, considerados inertes, não reagem quimicamente.

Não deixa de ser interessante refletir sobre os significados que, em sentido figurado, damos à palavra inércia: falta de atividade, inação, apatia, letargia, indolência, preguiça, rotina e resistência passiva à inovação. Se no caso da Física qualquer corpo se encontra num estado de inércia porque não tem a capacidade para dela sair de forma autossuficiente, na situação dos humanos, podendo fazêlo sem intervenção de outrem, mantêmse inertes porque querem. Acaba por ser assim um contrassenso existir tanta gente que, podendo, não aproveita a capacidade e a possibilidade de sair de um estado que é próprio dos seres inanimados e dos não vivos.

Homens», Giovanni Papini refere: (…) O hábito suprime as cores, incrusta, esconde: partes da nossa vida afundamse gradualmente na inconsciência e deixam de ser vida para se tornarem peças de um mecanismo imprevisto. O círculo do espontâneo reduz-se; a liberdade e novidade decaem na monotonia do vulgar (…). O hábito nasce de um pecado - a inércia - e ajuda a propagação e perpetuidade de todos os pecados. Por inércia, prefere-se repetir os atos dos outros, em vez de procurar, com o esforço do pensamento, os melhores. Por inércia, costumam repetir-se os maus atos, porque são infinitamente mais comuns e visíveis, e não nos queremos cansar a procurar os heroicos, muito mais raros e penosos. Por inércia, imitamos os outros maus atos, porque estão mais conformes com a enfermidade da natureza vulnerada: poupamos o trabalho de a modificar e vencer. Por inércia, persistimos nos atos limitados, os quais se tornam tanto menos cansativos quanto mais se repetem.

Na obra literária «Relatório Sobre os

É um facto, a inércia enraizou-se de tal forma na nossa forma de estar e de ser que a tornou dona do nosso destino. A ela, a «D.ª Inércia», inconscientemente, prestamos obediência e vassalagem, reféns duma forma amorfa de viver, esquecendo-nos que a vida só tem sentido quando é ativa e plenamente vivida. Como conseguir então vencer a modorra dos dias, por nós autoimposta?

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Não tendo qualquer veleidade de me constituir como especialista ou conselheiro em qualquer tipo de autoajuda, deixo-vos aqui, apenas, este texto que podia não ter sido escrito.

Tendo convosco partilhado o que

penso, mais uma vez venci-a - a inércia. Teria sido mais fácil e cómodo deixar-me estar e nada fazer, mas, se assim fosse, qual seria a minha legitimidade para não permitir que a inércia se transforme em minha dona? Fazei vós também a vossa parte, no que vos diz respeito! .

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Foto: Daniel Santos

A Passagem - Xana

Mirian Tavares (Professora)

If I didn't do it directly I wouldn't be able to tap that subconscious sort of thing... mostly I was trying to capture the direct, improvised, fresh sort of feeling... I thought of it more as related to the automatic writing the Surrealists were interested in.

And I thought of it as kind of a picture writing... But it was painterly.

I was primarily concerned with the painterly character of what I was doing.

minha primeira entrada no universo do artista visual Xana foi através de seus desenhos. Queria conhecer melhor o Alexandre Alves Barata, com quem viria a criar o projeto da Licenciatura em Artes Visuais da Universidade do Algarve, e deparei-me com as obras do Xana – azuis, vermelhos e amarelos intensos. Figuras desenhadas como se o artista estivesse a praticar um alfabeto novo, desconhecido, cuja chave de decifração não nos era concedida. À nossa frente, apenas o desenho. Um espaço em branco e dentro dele linhas espessas, formas quase geométricas e traços, que eu considero, prazerosos. Porque é disso que me lembro da primeira obra do Xana –pareceu-me espreitar, vendo o desenho, o prazer que o artista teve ao criá-lo. Pareceu-me vislumbrar a sua felicidade, que ficou impressa no gesto transferido para a caneta. Um traço feliz, talvez seja esta a minha melhor definição da sua obra. Felicidade que o artista assume como uma atitude e como uma provocação – ser feliz não é ser

indiferente ao mundo à nossa volta, que muitas vezes parece estar a ruir. Acostumamo-nos a pensar na Arte como sendo um assunto sério, e essa seriedade não pode ser maculada com a leveza, tantas vezes confundida com leviandade.

Meu segundo contacto com a obra do Xana deu-se numa praia do Algarve. O artista desenvolveu um projeto escultórico/performativo no pico do verão das movimentadas e concorridas praias algarvias. Muros vermelhos feitos de baldes sobrepostos. Gigantescas manchas vermelhas na areia nada imaculada das praias. Muros móveis, frágeis, mas imponentes. Cada nova construção, por mais lúdica que fosse, não ocultava a provocação do artista –muros que dividem o quê? Porquê muros? Porquê no verão? Os muros, e a sua construção, eram também felizes, leves, lúdicos. Mas a felicidade, ou a leveza, na obra de Xana, não são sinónimos de indiferença, de desligamento do mundo. Ezra Pound afirmou que “os artistas são a antena da raça (humana)” porque captam tudo antes e porque são capazes de (ante)ver. A obra do Xana é como a antena de um

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rádio pirata – capta tudo, mas transmite apenas aquilo que ao artista interessa ou que lhe dá algum prazer. Não há na sua atitude, que se reflete nas suas criações, qualquer gesto de submissão, seja a padrões de gosto, de modas, de demandas sociais. O artista é LIVRE e o seu exercício da liberdade é feliz. E BELO. Porque a beleza emana do seu alfabeto indecifrável, mas em contínua construção. Um alfabeto que pode ser feito de matérias plásticas ou desenhado a caneta da china, ou de tinta acrílica, sobre dezenas de papéis. O gesto é incontrolável, mesmo que recorrente.

Os desenhos que o Xana nos mostra nesta exposição fazem-me lembrar as Pictografias de Adolph Gottlieb –exercícios de automatismo, influenciado por este aspeto particular do movimento Surrealista, que libertam a mão, e a mente, do artista, e que se convertem em

formas, biomorfas ou geométricas. Formas que, mesmo sendo produzidas de maneira quase automática, diria mesmo inconsciente, reaparecem como recorrências no momento em que o artista decide que o gesto produziu uma obra. No momento em que ele decide que o desenho está pronto. Que existe em si mesmo, fora do gesto. No momento em que o artista, conscientemente, faz as suas escolhas.

A Passagem é um título ambíguo que nos faz perguntar: passagem para onde? Cada um dos 46 desenhos, agrupados por recorrências formais, ou organizados como núcleos sintáticos, fazem-nos entrever uma passagem para além da planura do papel. Um arco, um portal, um buraco na rede de linhas entrelaçadas, um espaço fora. É interessante que há uma tridimensionalidade não intencional que torna o desenho quase escultórico. Também aqui uma possível explicação para o título – a passagem do bidimensional para a sua existência mais plena fora dos limites do quadro.

A obra de Xana é composta de traços felizes. E a felicidade do artista é contagiante – ao penetrar no seu universo, ou tentar decifrar o seu alfabeto, passamos do cinza árido quotidiano e banal e chegamos ao lugar das cores, das mil possibilidades, dos desvios. Chegamos ao lugar da Arte .

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Foto: Vasco Célio

is o pólen que nos vai fazer espirrar mais que a conta. Eis os passarinhos e as abelhinhas, os dias compridos, as florzinhas a desabrochar e os inúmeros tons de verde. Eis as chuvas, que este ano não me parece que venham a ser mil. Eis o sol mais quentinho, as roupas mais levinhas e reveladoras de um Inverno de excessos. Eis as dietas preparatórias da época balnear, os fins de tarde em tons púrpura, e os azuis brilhantes, claros, escuros, marinhos e turquesas. Eis abril e a REVOLUÇÃO DOS CRAVOS, faz 49 anos, no próximo dia 25. Tinha eu apenas quatro anos e quatro meses. Tive sorte, ainda bem que não foi antes dos meus quatro anos de idade, porque dificilmente me lembraria de algo anterior a esse período. A ciência não sabe bem o porquê, mas há algumas pistas. Mas, neste caso, estamos falando da memória episódica, relacionada a acontecimentos autobiográficos momentos, locais, emoções e outros dados de contexto que ficaram marcados para sempre. Para completar os espaços em branco na minha cabeça, bastaram as recordações dos meus pais e os factos confirmados pelo Albérico Afonso Costa autor do livro «Setúbal, Cidade Vermelha»: os dias da Revolução na cidade do Sado. Vivia eu a 100 metros de um quartel militar e a 300

metros da esquadra da Guarda Nacional Republicana. Na digníssima Avenida Luísa Todi em Setúbal, que ganhou o epiteto de «Cidade Vermelha», e que conserva ainda hoje um código de ADN político e ideológico próprio, que a mantém distinta, para não dizer única, no panorama nacional.

Lembro-me tão bem dessa noite! Da interrupção da emissão na Televisão a preto e branco. Do visível nervosismo dos adultos. Do telefonema do meu pai (funcionário do estaleiro naval da Setenave) avisando que iria ficar (como muitos outros) fechado no interior da fábrica com receio de algo, que eu não percebia na altura. Em rigor, não tinha a noção de estar a participar numa aventura tão rica e relevante para mim e para o meu país. E só muitos anos após a revolução tive consciência de ter estado tão perto de personagens como o Zeca Afonso e outros históricos com ligações ao PCP. Esse mesmo Zeca. Uma figura nacional ligada ao 25 de Abril por ter sido o autor da canção «Grândola Vila Morena», sempre assumiu um papel de grande relevo no período de antes e depois da Revolução, como animador do Círculo Cultural e algumas reuniões foram feitas na casa da nossa senhoria onde nós passávamos a maior parte do tempo, porque era a única que tinha a tal TV a preto e branco. Esta associação cultural

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Viva o caruncho da madeira! Viva a liberdade!
Júlio Ferreira (Inconformado encartado)

integrava uma verdadeira mostra da esquerda desses anos. Aí compareciam militantes socialistas, comunistas, do Partido Revolucionário do Proletariado, da LUAR, e também dos designados grupos de extração marxista-leninista. José Afonso era um dos animadores desta tertúlia político-cultural, e uma referência fundamental e inigualável para estes jovens, tendo desempenhado um papel muito ativo no apoio e na dinamização do chamado «poder popular».

À beira da Revolução dos Cravos, Setúbal estava efervescente e completamente preparada para a mudança, à boleia de um operariado jovem, escolarizado e profundamente politizado. Seguem-se, até 25 de novembro de 1975, 19 meses de intensa atividade revolucionária que puseram a cidade na dianteira da construção de um «poder popular», esse que aos poucos ia acordando em todo o país, depois do longo sono da ditadura de Salazar/Caetano. Na minha memória as viaturas da GNR a arder e os helicópteros tentando afastar a população a manifestarse junto do quartel militar, pedindo armas receando uma guerra civil. Do ponto de vista político, este jovem operariado (do qual fazia parte o meu pai) vai ser profundamente influenciado pelos partidos de esquerda e de extrema-esquerda. Depois disso, só os tanques e chaimites no dia 26 passando à nossa porta com um capitão de abril em pose triunfalista. Continua a ser muito importante conhecer as ondas de choque que o 25 de Abril provocou nas diferentes cidades do país.

Hoje é dia de relembrar, neste cantinho, três algarvios no olho do furacão. De relembrar as promessas de abril que nos foram roubadas ao longo destes 49 anos, sem nos lembrarmos que essas promessas eram fruto da imaginação de um povo em euforia. Mais que reivindicar, deveria ser dia de relembrar aqueles que

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se revoltaram antes de nós, e por nós. Que conspiraram nas costas de uma ditadura e contribuíram para acabar com ela. Aqueles que souberam dizer não à repressão e à censura e não se conformaram com o «vamos andando» e «é a vida». Aqueles que tiraram as ideias da gaveta e fizeram-nas marchar, numa marcha pacífica e organizada, com Zeca Afonso e Paulo de Carvalho em banda sonora. Aos que permitiram que hoje eu esteja aqui a escrever, e tu a ler, sem teres um gajo da PIDE ao lado a esborratar-te o ecrã com um marcador azul daqueles que depois nem com álcool sai. A ditadura (seja ela qual for) deve doer dentro da alma. Ser escravo do trabalho nos dias de hoje, deve ser menos mau do que ser escravo das ideias que não podemos dizer, nem quase pensar, porque nos amarram a imaginação num totalitarismo de algemas invisíveis. Hoje é dia de exaltar o que temos, o que conquistámos há 49 anos. Ou o que outros conquistaram porque eu fui um mero espectador na primeira fila. É dia de dar valor e irmos para a rua celebrar num ajuntamento que nos é agora permitido. Deixem as manifestações e reivindicações para os outros 364 dias do ano, porque hoje até é falta de respeito sobrepor as nossas queixas aos feitos heroicos de quem tinha muito menos do que nós temos agora. Como é possível que, 49 anos depois, tenhamos um país moderno na aparência, radicalmente diferente do cinzento Portugal do regime anterior, mas tristemente povoado por alguns que, na essência, não mudaram quase nada em si? Quando ouvimos: «O que faz falta a Portugal é um Salazar» dáme uma volta do estômago, mas a beleza da liberdade é que podem existir pessoas

que defendem um ditador que reprimiu um povo e o manteve na pobreza num país triste, miserável. A ditadura proibia o acesso à cultura por ser subversiva, as pessoas conversavam em surdina pelos cantos, choravam mágoas, passavam fome, trabalhavam muitas horas por uma malga de sopa, não havia luz nem água canalizada. Tão pouco, saneamento. Só em casas finas havia wc com banheira; nas outras, as necessidades fisiológicas eram feitas em bacios e despejadas na pia da cozinha, os banhos eram de alguidar uma vez por semana. Isto foi ontem, 49 anos não são nada. Claro que havia gente que vivia melhor nessa época do que agora. Os que não pisavam o risco, os que não tinham ideias próprias e diziam que sim a tudo viviam melhor, principalmente porque não sabiam o quão melhor podiam estar. Por isso ou por não terem inteligência para ambicionar exercer o livre arbítrio sem censura e repressão. Para quem não valoriza a liberdade de opinião a vida era melhor com o ditador. Mas quem não valoriza essa coisa chamada liberdade não merece opinar. Bendito caruncho da madeira, que lhe roeu as pernas da cadeira e o fez dar de «cornos» no chão. Pena não ter dado com o dedo mindinho do pé descalço num móvel, se ter entalado na braguilha e queimado a língua com um chá do mais poderoso dos laxantes.

Obrigado Capitães! Viva a liberdade, sempre!

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#TudoeraProibido #50AnosdeDemocracia

Dos livros e da liberdade

Dora Gago (Professora)

bril transporta no ventre duas efemérides separadas apenas pela distância de dois dias. O Dia 23 de Abril, o Dia Mundial do Livro, esse “recipiente onde o tempo repousa” segundo escreveu o filósofo espanhol Emílio Lledó numa obra emblematicamente intitulada Los Libros y la Libertad. E chego a esta citação através da obra O infinito num junco de Irene Vallejo, pois também é essa a magia dos livros, o tecer da intertextualidade, o ecoar das vozes dos outros autores, dos que antecederam, dos que antes testemunharam e nos brindaram com a expressão das suas vivências. Mas voltemos ao Dia Mundial do Livro e à reflexão que suscita numa sociedade onde parece ser substituído, cada vez mais, pelo telemóvel, pelas redes sociais, por breves vídeos no Youtube, vazios de significado e de mensagem que circulam pela internet, pelos olhos dos mais jovens e até também dos menos. Sim, professores e pais queixam-se (e com razão) de que os alunos, os filhos, não lêem, não ganham hábitos de leitura. Mas quantas vezes esses jovens os terão visto ler? Os terão surpreendido nessa viagem iniciática, sem sair do lugar, que só a leitura proporciona? É que a melhor motivação será sempre o exemplo. Caso contrário, cai-se no ditado oco do “faz o

que eu te digo, não faças o que eu faço” –que raramente resulta. A verdade é que os livros ocupam espaço, ganham pó, por vezes nem se enquadram bem em certos móveis, na decoração, acabando por serem relegados para o sótão da casa, do pensamento e do tempo. Mas, infelizmente, nada os pode substituir. Só eles se assumem, ainda segundo Lledó como “uma prodigiosa armadilha com a qual a inteligência e a sensibilidade humana venceram essa condição efémera, fluente, que levava a experiência do viver para o nada do esquecimento”. E é precisamente essa luta contra a brevidade da vida, do tempo que nos devora que o livro nos oferece, a partilhar experiências, retalhos de vida, a fixar a História, o tempo, além das fronteiras geográficas. Neles aprendemos o passado, o presente e o futuro, neles podemos conseguir desenrolar as linhas com que se borda a liberdade de pensamento, de acção. E chegamos assim à segunda data, momento fulcral da nossa História e da nossa vida; o 25 de Abril, “o dia inicial inteiro e limpo/Onde emergimos da noite e do silêncio”, nas palavras de Sophia de Mello Breyner, sobre o qual Lídia Jorge reflectiu de forma extraordinariamente rica nos Memoráveis (2014) e, anteriormente em O Dia dos Prodígios (1980), duas obras fundamentais para o entendimento da nossa essência como povo, dos caminhos percorridos na construção da nossa

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sociedade, do modo como a literatura pode ser um archote a unir e guiar os nossos passos.

Em suma, duas datas que se podem aglutinar, fazendo todo o sentido juntas: a liberdade é o líquido amniótico em que o pensamento e o espírito crítico se formam. Aliás, salientou ainda Emílio Lledo o facto de apenas sermos no mundo da linguagem, dos livros, visto

que “as silenciosas páginas que esperam os seus leitores mostram, entre outras coisas que viver é dialogar, entender, sonhar, interpretar”. Usemos, pois, o privilégio de vivermos num país livre (infelizmente, negado a muitos seres humanos) e de podermos exercitar livremente esses quatro verbos fundadores, indispensáveis a uma existência plena .

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