ÍNDICE
Centro de Artes e Ofícios Carlos Silva e Sousa abriu em Albufeira (pág. 22)
Taça de Portugal de Downhill em São Brás de Alportel (pág. 30)
Loulé viveu mais uma Festa da Mãe Soberana (pág. 44)
«Revoluções» no Centro Cultural de Lagos (pág. 60)
Guilherme Duarte no Auditório Municipal de Albufeira (pág. 74)
«Eu sou Clarice» no Cineteatro Louletano (pág. 84)
«Intrigas» da Panapaná no Teatro Lethes (pág. 96)
Nuno Ribeiro em Lagoa (pág. 108)
OPINIÃO
Adília César (pág. 118)
Fábio Jesuíno (pág. 122)
Nuno Campos Inácio (pág. 124)
Centro de Artes e Ofícios Carlos Silva e Sousa abriu para manter vivas as artes manuais e os saberes ancestrais
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina dia 25 de abril foi escolhido para se proceder à inauguração do Centro de Artes e Ofícios Carlos Silva e Sousa, em Albufeira, com a abertura da exposição de Vanessa Barragão, Prémio Nacional de Artesanato em 2022, a decorrer na sala principal do edifício, e da exposição Tear
– Projeto ECOS da Santa Casa da Misericórdia de Albufeira, na sala B. Trata-se da reabilitação do edifício do antigo Tribunal, construído em finais do século XIX e que esteve em funções até 1992 (ano da inauguração do Palácio da Justiça) e que a partir de agora vai estar aberto ao público com novas funções.
A intervenção, que envolveu um investimento na ordem dos 600 mil
euros, foi cofinanciada por Fundos Comunitários, no âmbito do programa FEDER, no valor de 314 mil e 825,45 euros. E a escolha para patrono do edifício não poderia ser outro que não Carlos Silva e Sousa, na opinião de José Carlos Rolo. “Pelo autarca que foi, como presidente da Assembleia Municipal e da Câmara Municipal, e porque, sendo um homem de leis, um advogado, exerceu boa parte da sua atividade profissional neste espaço. Um imóvel municipal que estava degradado e que foi alvo de uma profunda reabilitação, tornando-se num espaço bastante agradável e de
muito bom gosto”, destacou o edil albufeirense.
O novo equipamento cultural vai dedicar-se com particular ênfase às artes manuais com o objetivo de “recuperar do baú tradições antigas que não podemos deixar desaparecer, porque é das tradições que se faz a história e a identidade de um povo”, defendeu o presidente da Câmara Municipal de Albufeira. “Tudo o que é passado tem que servir no presente para projetarmos o futuro, um futuro que será, certamente, mais virtual e
tecnológico, mas não podemos esquecer as manualidades. Antigamente, muitas pessoas não sabiam ler nem escrever, mas produziam autênticas obras de artes, e estes saberes devem ser preservados. Por isso, neste dia de alegria, satisfação e comemoração, abrimos um espaço que vai estar ao serviço da população”, frisou José Carlos Rolo.
Para esse efeito, o Centro de Artes e Ofícios Carlos Silva e Sousa vai ter um programa bastante ativo e dinâmica, com diversas ações de formação e exposições
em torno das artes antigas, “com os mais velhos a terem aqui um espaço onde podem transmitir os seus saberes às novas gerações”, apontou o autarca. E desta nova geração, mas já com créditos firmados, faz parte Vanessa Barragão, cuja peça que inaugura o espaço foi desenvolvida no próprio local pela artesã albufeirense, pela sua equipa e por elementos do «Clube do Avô». “Esta peça fala do ir para fora e do regressar às origens. Voltei a casa depois de vários anos afastada a estudar e é possível fazer arte nesta cidade que é tão bonita e inspiradora” .
Jack Reading e Kira Zamora foram os mais velozes na Taça de Portugal de Downhill em S. Brás
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Federação Portuguesa de Ciclismo
britânico Jack Reading (Gravity School Racing) e a espanhola Kira
Zamora (101% DH) ganharam, no dia 16 de abril, em S. Brás de Alportel, as corridas de elite da terceira prova pontuável para a Taça de Portugal de Downhill (DHI) presented by Shimano.
A prova masculina de elite foi desequilibrada, para os padrões do DHI, para Jack Reading. O britânico, fazendo 2’40’’271, deixou toda a concorrência a dois segundos ou mais. Quem esteve mais perto do vencedor foi o português Tiago Ladeira (Miranda Factory Team), que gastou mais dois segundos exatos. O terceiro foi o britânico Dan Slack (Gravity Shool Racing), a 2,094s do compatriota e
colega de equipa. Jack Reading comanda a geral da Taça.
A espanhola Kira Zamora também se destacou na prova feminina, concluindo o esforço em 3’27’’703, menos 2,202s do que Zoe Zamora (101% DH) e menos 6,666s do que Margarida Bandeira (Wildboys/Riding Addiction), que completaram o pódio. Zoe Zamora está na frente da Taça. Nuno Reis (Casa do Povo de Abrunheira) foi o melhor sub-21, Álvaro Pestana, da mesma equipa, ganhou em juniores, o britânico Noa Walker triunfou em cadetes. Nas escolas, os destaques foram para o juvenil Nui Tai
(Wildpack Algarve Racing) e para o infantil Charlie Bayliss.
As vitórias nas categorias de veteranos fora para o master 30 Robert Young (Gravity School Racing), o master 40 Ricardo Soares (Bike Zone), o master 50 Rui Cruz (MCF/XDream/Município de S. Brás) e o master 60 Pedro Oliveira. A Casa do Povo de Abrunheira ganhou por equipas.
A quarta prova da Taça de Portugal de DHI presented by Shimano disputa-se em Boticas, a 7 de maio .
Loulé voltou a viver a Festa da Mãe Soberana
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina o dia 9 de abril, a imagem da Nossa Senhora da Piedade desceu à cidade de Loulé naquela que foi a Festa Pequena da Mãe Soberana, o ponto de partida da maior manifestação religiosa a Sul de Fátima. Depois, até 19 de abril, a Igreja de São Francisco acolheu diversos momentos litúrgicos e esteve aberta à oração dos fiéis.
Um dos momentos culturais do programa da Mãe Soberana’23 foi o concerto final dos dias antigos do Conservatório de Música de Loulé
«Professor Francisco Rosado», a 15 de abril, seguindo-se, no dia 19, a palestra «Culto e espiritualidade da Senhora da Piedade», pelo pároco de Loulé, Carlos Aquino. A 21 de abril mais uma novidade, uma procissão solene, dinamizada pelas instituições religiosas, civis e sociais, que levou a imagem da Padroeira para a Igreja Matriz de Loulé.
Recentemente reabilitada, após profundos trabalhos de restauro, a Matriz recebeu a «presença» da Nossa Senhora da Piedade até ao regresso à sua Ermida, no dia 23 de abril. De facto, se nos anos anteriores as festividades estavam apenas associadas à Igreja de S.
Francisco, este ano a organização decidiu incluir também a Matriz, como forma de mostrar a recuperação deste ex-líbris do património religioso louletano. E foi ali que decorreu, no dia 22, a eucaristia dinamizada pelos jovens e presidida por D. José Alves, Arcebispo Emérito de Évora, após a qual houve a habitual bênção ao Clube Hípico de Loulé, este ano no Largo da Matriz, com os cavaleiros a prestarem a sua homenagem à Padroeira.
O momento apoteótico das celebrações da Mãe Soberana ocorreu a 23 de abril, dia da Festa Grande. Assim, a manhã começou com a missa solene, na Igreja Matriz, num dia que foi, mais uma vez, repleto de emoções para os fiéis e muitos louletanos não crentes. Seguiu-se a procissão para o Largo do Monumento Eng.º Duarte Pacheco, onde, pelas 16h, foi celebrada uma missa campal de consagração a Nossa Senhora.
Teve então início a grande procissão que percorreu as principais ruas da cidade e a tradicional subida da imagem de Nossa Senhora da Piedade ao Santuário. E foi entre «Vivas!», lenços a acenar e o acompanhamento da Banda Filarmónica Artistas de Minerva que se realizou este percurso numa enorme demonstração de fé, especialmente por parte dos Homens do Andor, que apesar das adversidades do terreno, do peso do palanquim e, por vezes, em condições climatéricas adversas, levam até ao fim a sua missão. Ao esforço dos homens que transportam a Virgem alia-se a força espiritual dos muitos fiéis que, por entre vivas à Nossa Senhora, em passo vivo e na cadência musicada dos homens da Banda, vão «empurrando» no calor da fé e calçada acima, o pesado andor da Padroeira. Tudo isto vivenciado de forma extremamente emotiva por milhares de louletanos e turistas que rumam à cidade por esta altura do ano .
PROJETO DE INCLUSÃO SOCIAL «REVOLUÇÕES» NO CENTRO
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel PinaSOCIAL GATILHO APRESENTOU CULTURAL DE LAGOS
Centro Cultural de Lagos foi palco, no dia 22 de abril, de «Revoluções», um projeto artísticopedagógico da responsabilidade da Questão Repetida e da NECI onde se promove o encontro entre a arte de comunicar e expressar com a linguagem dinâmica da música, dança e teatro. “O 25 de Abril representa uma fronteira de rutura entre um passado de opressão e um futuro de libertação, um silêncio e uma expansão. Quando se fala tanto da necessidade de inclusão das pessoas com deficiência, a sociedade também enfrenta a dualidade entre passado e futuro. Assinalado o caminho das revoluções que marcaram a evolução da humanidade, propomos uma criação artística multidisciplinar
que pretende criar um grupo heterogéneo que inclua pessoas com deficiência, comunidade escolar e comunidade em geral”, explicam a Questão Repetida e a NECI.
O espetáculo, inserido no projeto «Gatilho», com os apoios da PARTIS & Art for Change, Fundação Calouste Gulbenkian, Fundación «la Caixa», Direção-Geral das Artes, Município de Lagos e Visit Algarve, teve Direção Artística e Encenação de Conceição Gonçalves, com Coreografia de Albina Petrolati e Direção de Artes Visuais de Pedro Domingues. Silménia Magalhães dirigiu o Grupo de Poesia da Universidade Sénior de Lagos e a música original foi composta pelo jovem lacobrigense João Filipe Pacheco, que foi depois interpretada ao vivo por Ana Sofia Ventura (Soprano), Rita Mendes (Flauta Transversal) e Ricardo Batista (Guitarra). O projeto envolveu ainda alunos da turma de Artes do 12.º ano e da Turma de Ação Educativa da Escola Secundária Júlio Dantas .
STAND-UP COMEDY COM GUILHERME DUARTE NO AUDITÓRIO
MUNICIPAL DE ALBUFEIRA APOIOU APEXA
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pinao dia 22 de abril, o Auditório Municipal de Albufeira apresentou «Limbo», mais um solo de stand-up comedy da autoria de Guilherme Duarte, sendo que parte das receitas de bilheteira reverteu para a APEXA – Associação de Apoio à Pessoa Excecional do Algarve.
As dúvidas, as incertezas e as inseguranças fazem parte deste espetáculo que demonstra, segundo Guilherme Duarte, que a vida é um
constante limbo e que a descida ao inferno é certa para qualquer humorista que brinque com temas sérios. Neste espetáculo, o terceiro a solo, Guilherme Duarte guia o público pelos vários níveis do inferno e a pergunta que depressa se coloca é se será que o humorista ainda terá redenção?
Nascido na Buraca, Guilherme Duarte é engenheiro informático de formação, um curso que, pais, apenas utilizo para atualizar o meu site”
fazer humor era a melhor forma de
desarmar assaltantes e, em 2014, decidi criar um blogue, «Por Falar Noutra Coisa», para escrever coisas. Faço stand-up comedy, tanto em grandes teatros como em bares manhosos, e stand-up comedy para empresas e eventos corporativos”, conta o artista, que já
fez uma série de sketches para a SIC Radical, um programa para a TVI e uma rubrica nas manhãs da Antena 3. A isso soma-se um podcast e crónicas para a SAPO 24. Diversos formatos que atraem um público fiel e que não conteve as gargalhadas ao longo de quase hora e meia de espetáculo no Auditório Municipal de Albufeira .
«EU SOU CLARICE» FOI A CENA NO CINETEATRO
LOULETANO
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Jorge GomesCineteatro
Louletano
recebeu, no dia 22 de abril, «Eu Sou Clarice», o segundo espetáculo de uma trilogia de Rita Calçada Bastos que terminará com «À Procura de Chaplin». O primeiro, «Se Eu Fosse Nina», estreou-se na sala online do Teatro São Luiz, em março de 2021, e cruzava a personagem Nina de «A Gaivota», de Tchekov, com a biografia da própria encenadora. Em «Eu Sou Clarice», Rita Calçada Bastos propõe-
se criar um objeto teatral a partir da vida e da obra de Clarice Lispector, escritora que sempre a intrigou.
Esse objeto teatral resulta do eco que essa escritora maior tem na sua visão da vida. A primeira vez que tomou conhecimento da sua obra foi há cerca de 20 anos, com o livro «A Hora da Estrela». “Sempre me interessou saber quem é a pessoa por detrás de um livro: quais as suas inquietações, qual a sua experiência de vida e o seu entendimento da mesma... no caso de Clarice, isso esteve muito
presente. A matéria da sua escrita é intemporal porque vem da condição humana, desta coisa de ser pessoa”, diz Rita Calçada Bastos, que descreve Clarice Lispector como “a estranha, a estrangeira, a hermética, a mulher dona de casa, a escritora, a mãe, a pessoa capaz de ir morrendo por aqui e por ali para conseguir ser”.
Em que medida a fronteira entre a biografia e a própria obra se vai desvanecendo? Não é o ser humano
objeto de profunda inquietação? E o que faz com isso? É a partir destas interrogações que a encenadora cria «Eu Sou Clarice», um diálogo entre uma atriz, Carla Maciel, e a sua criadora – Rita Calçada Bastos. “Clarice escrevia de uma forma avassaladora sobre a humanidade, via com o seu olhar de criança tudo aquilo que só se consegue ver quando se morre, e aí, e só assim conseguia ver a beleza da vida”, acrescenta Rita Calçada Bastos .
«INTRIGAS» DA PANAPANÁ
LEVOU LOUCURA DAS
TELENOVELAS MEXICANAS
AO TEATRO LETHES
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Rita Merline 3 a 6 de abril subiram ao palco do Teatro Lethes, em Faro, quatro espetáculos totalmente distintos concebidos no âmbito de uma residência artística da Panapaná – Associação Cultural. Uma experiência única que culminou com «Intrigas», uma comédia divertidíssima, baseada nas famosas telenovelas mexicanas dos anos 80.
Tal como o nome indica, no decorrer da peça é desvendada uma teia de intrigas e confidências de uma família portuguesa que imigra para o México após uma
promoção de trabalho. Assim que chegam ao outro lado do oceano, começam, contudo, a perceber que a família perfeita afinal guarda segredos dramáticos e inquietantes que irá mudar para sempre todo o seu destino.
Com produção a cargo de Diego Medeiros e Raquel Ançã e encenação de Raquel Ançã a partir de um texto coletivo, «Intrigas» foi interpretado por Beatriz Leal, Carolina Cavaco, Catarina Costa, Diana Palma, Duarte Nascimento, Emanuella Almeida, Frost, Jéssica Fernandes, Júlia Borreicho, Pedro Rodrigues, Sofia Leal, Sofia Silva e Stella
Lourenço .
NUNO RIBEIRO
FOI A ATRAÇÃO PRINCIPAL NAS
COMEMORAÇÕES DO 25 DE ABRIL EM LAGOA
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Ricardo Coelho
o dia 25 de abril assinalou-se o 49.º aniversário da Revolução dos Cravos e o Município de Lagoa celebrou a data com um
conjunto de atividades que se prolongam até 2 de maio. Um dos grandes destaques foi, no dia 24 de abril, o concerto de Nuno Ribeiro no Largo do Auditório Carlos do Carmo e, logo pela meia-noite, aconteceu o Hastear da Bandeira ao som do Hino Nacional, sendo servido depois o Bolo do 49.º Aniversário do 25 de Abril.
Nuno Ribeiro é sinónimo de canções, de refrões conhecidos dos portugueses, de multidões e de êxitos. Assumindo-se como uma voz incontornável da música portuguesa, soma seis singles de ouro, mais de 31 milhões de visualizações no YouTube e mais de 15 milhões de streams
no Spotify. Grandes canções como «Dias Cinzentos», «Longe», «Tarde Demais», «Para lá das 8» (ft. Rogg), «Por Ti» com a participação da cantora espanhola Ainoa Buitrago ou «Nas Ondas do Mar» com o artista brasileiro Nick Cruz, são alguns dos maiores marcos do artista.
Marcos que não ficam por aqui. De facto, depois de «Por Ti» ocupar o primeiro lugar do Top de Ouvintes da RFM durante 16 semanas, um recorde absoluto, «Dias Cinzentos» acumula até hoje mais de 1.500 passagens nas maiores rádios nacionais, o que faz de Nuno Ribeiro um dos artistas mais tocados na rádio em Portugal. No momento em que acaba de lançar o mais recente tema, «Meu Lar», o artista tem preparado para este ano um espetáculo repleto de êxitos, de emoção e de energia, como se assistiu em Lagoa na noite de 24 de abril .
Diogo Bandeira Freire: A fotografia de uma Democracia encenada
Adília César (Escritora)
“Um soldado pediu-me um cigarro, não tinha e tive pena. Dei-lhe um cravo”.
Celeste Caeiro, a «Celeste dos Cravos»
mês de abril faz todo o sentido para mim. Foi ele que me deu à luz do dia. Abril é, em si mesmo, uma época divergente, no sentido em que a natureza parece contemplar-se de olhos fechados, tacteando os seus elementos para se conhecer melhor: aguaceiros e períodos de espírito nublados; brisas com existência de silêncios; sol brilhante, quente e efémero, a adivinhar um verão infernal de secura. Por favor, não digam que é Primavera. Na verdade, Abril não faz parte de nenhuma estação do ano, é um mês independente e revolucionário que não pertence à matriz do calendário convencional.
Abril, mês dos cravos vermelhos crucificados.
Portugal e Abril confundem-se na narrativa da Revolução dos Cravos: o meu país podia chamar-se Abril. O meu país podia chamar-se Poesia, esse lugar onde as camadas de significados inventam outros nomes para a Liberdade.
Esperamos a vinda de uma palavra que faça algum sentido, no seio do caos deste amplo idioma universal, o dicionário infinito da memória das línguas vivas e a sua projecção no futuro, através de uma imaginação sem limites. Não pode haver outra maneira no acto de escrever, além da criação radical e utópica: acender as letras, uma a uma, e rezar para que o rastilho aguente a pequena chama até à explosão do texto interventivo – acredito que a palavra de ordem deve tornar-se poética para ser eficaz e utilitária (existirá algo mais útil do que um bom poema?).
Contudo, antes da invenção da linguagem, há uma implosão armadilhada por dentro do humano, o renascimento da poiesis do mundo: em cada poema, o poema, depois de uma quantidade considerável de papel rasgado. Em cada mão, um cravo vermelho já não é uma flor, é esperança e também perplexidade. Por vezes, basta a contemplação de uma fotografia para gerar sentimentos contraditórios.
25 de Abril de 1974. Um dia ameno que parecia não mais acabar, infinito como o céu que transbordava esperança. A abóbada azul clara, cor da narrativa da
liberdade. O ar livre e libertador, sobre as cabeças de todos nós, os que vivenciámos esse dia. Eu tinha apenas 15 anos e não percebi muito bem o alcance da Revolução dos Cravos, na época, mas andei com os outros que andavam na rua, empunhando cartazes e gritando palavras de ordem. Guardei um desses cartazes, o meu preferido, na parede do meu quarto, durante muito tempo. Sabiao de cor, era a minha bandeira de Abril: de olhos fechados, recordo um fundo azul onde se inscrevia a vermelho o nome do meu país e o dia que o definiu: Portugal –25 abril 1974. Vejo a imagem de um menino belo como um pequeno anjo, de pé, descalço, a pele clara e os cabelos louros encaracolados, vestido com roupas sujas e esfarrapadas: é o protagonista daquela cena; três mãos (onde se percebe a indumentária dos três ramos das Forças Armadas) seguram firmemente uma arma apoiada na vertical e o menino pequenino esforça-se para colocar um cravo vermelho no cano da arma, tal como lhe pediram para fazer. Sinto que ele quer obedecer, e obedece porque todos queremos obedecer àquela nova ordem das coisas, como se fossemos crianças crédulas e inocentes: caía a Ditadura e renascíamos livres, os novos e os velhos, os militares, os trabalhadores, os estudantes, os homens e as mulheres de todas as condições sociais. Não sabíamos naquele dia que afinal iriamos continuar a obedecer. No entanto, a fotografia apresenta uma rara e criativa mudança de paradigma: o instrumento bélico é agora uma jarra de flores.
Onde andará o Diogo, a nossa «bandeira» de Abril? Há uns anos, foi tornado público que ele estaria a viver
numa casa de tijolos vermelhos e jardim, na margem sul do Tamisa, em Londres, sendo um homem de família e director financeiro de uma empresa de distribuição. Um homem de «sucesso»?...
Façamos então uma viagem ao passado e entremos na fotografia que se tornou o símbolo da Revolução dos Cravos de 25 de Abril de 1974. A criança pequena chega ao estúdio fotográfico acompanhada pela mãe e pelo pai, ambos visivelmente orgulhosos, pela expectativa do acontecimento que se seguirá. O menino está entusiasmado. Disseram-lhe que vai tirar uma fotografia muito importante, mas que tem de fazer exactamente o que lhe pedirem, tem que obedecer. Num espaço mais reservado, despem-lhe as suas roupas janotas de menino rico, as quais são substituídas por outras, sujas e esfarrapadas. Descalçamlhe os sapatos e as peúgas. Ajeitam-lhe
os lindos caracóis louros. Está finalmente pronto. O menino rico está agora disfarçado de menino pobre. O menino de caracóis louros e roupa esfarrapada, descalço (é importante que se repitam estes pormenores), chama-se Diogo Bandeira Freire e tem três anos. Foi fotografado por Sérgio Guimarães, a enfeitar o cano de uma G3 com um cravo vermelho. O simbolismo da imagem resultou em pleno e perdurou no tempo: um golpe publicitário de uma Democracia encenada que para sempre fará parte da nossa memória particular e colectiva. Mas fomos todos enganados. Na verdade, Diogo não era o menino de classe humilde que o cenário da fotografia sugeria. Como o seu nome indica, é filho de Pedro Bandeira Freire que, naquela altura, era o proprietário dos cinemas Quarteto e a sua família vivia de acordo com um estilo de vida burguês.
Em 2006, aquando das comemorações do dia 10 de Junho, o Presidente da República Aníbal Cavaco e Silva, encontrou-se com Diogo Bandeira Freire, na época com 35 anos, em Serralves, no Porto, para o homenagear. Ficámos então a saber que até àquela data Diogo nunca tinha votado, nem em Portugal nem em Inglaterra, mas afirmava envergonhar-se desse facto. Numa entrevista concedida ao Correio da Manhã, em 2010, surgiram as seguintes questões, onde Diogo admite a sua falta de interesse pelo tema:
«CM – “25 de Abril, sempre”. O que significa para si?
DBF – Nunca pensei nisso, mas se o 25 de Abril representa democracia, liberdade e a consciencialização das
pessoas sobre deveres, como o de votarem, a frase é válida.
CM – Mas já a tinha ouvido?
DBF – Já, mas nunca tinha pensado sobre ela. Há milhentas maneiras de interpretá-la: se significa nacionalizar todas as indústrias, tirar os bens às pessoas, não muito obrigado. O 25 de Abril, de certa forma, também tem duas faces»
Das muitas faces que o 25 de Abril de 1974 desde logo exibiu, realço a da própria fotografia simbólica de Diogo Bandeira Freire, uma das primeiras ficções históricas do Dia da Liberdade, da qual resultou de uma encenação irónica da Democracia: um menino rico a fazer de conta que era pobre.
Respiro fundo e sinto os cravos vermelhos em toda a sua plenitude sensitiva, emocional e política. Os cravos da Celeste, o cravo do Diogo, os cravos do futuro. Ainda bem que os Capitães de Abril nos ofereceram a Revolução dos Cravos há 49 anos. Encheram-nos de esperança pela constituição efectiva de uma Democracia onde todos podemos exercer plenos direitos de cidadania. Hoje, a sociedade portuguesa progrediu, desenvolveu-se, criou melhores condições de vida para os cidadãos. Ainda há fotografias encenadas no Teatro das Comemorações do Dia da Liberdade. No rescaldo da festa, sei que “o povo é quem mais ordena”, mas «às vezes, [ainda] é preciso desobedecer» (Salgueiro Maia), porque um cravo vermelho exibido no dia 25 de Abril não é uma flor, não é uma arma – é um poema.
Os desafios futuros do Marketing Digital Fábio Jesuíno (Empresário)
marketing digital está a crescer a um ritmo acelerado, assumindo um papel crucial nas estratégias de comunicação das empresas e das suas marcas, tornando-se um dos principais pilares para o sucesso dos negócios.
Numa constante evolução, o marketing digital enfrenta diversos desafios, maioritariamente associados à ligação entre as marcas e o seu público-alvo, sendo crucial identificá-los para garantir o sucesso das estratégias de comunicação.
Diminuição do alcance orgânico
O número de negócios que descobrem nas redes sociais uma plataforma excelente para promoverem os seus produtos ou serviços e captarem e fidelizarem clientes está a crescer exponencialmente. Como resultado, a quantidade de conteúdo gerado aumentou significativamente, tornando-se cada vez mais difícil destacar-se da multidão.
Com o aumento do número de páginas e perfis, as redes sociais implementaram filtros cada vez mais rigorosos, utilizando algoritmos baseados em inteligência artificial capazes de selecionar o conteúdo mais relevante para cada utilizador,
privilegiando sempre os perfis em detrimento das páginas.
Para superar este desafio, as empresas devem implementar estratégias de marketing digital bem estruturadas e investir em campanhas para alcançar o seu público-alvo. É essencial recorrer a profissionais qualificados e agências especializadas e certificadas em marketing digital para obter bons resultados.
Supremacia do Google
O Google domina o mercado dos motores de busca com uma quota de cerca de 90 por cento, sendo também o web site mais visitado do mundo, tornando-se dessa forma um destino, em vez de uma plataforma de descoberta.
As funções internas do Google, que variam desde a resposta a diversas perguntas, área dedicada às compras ou notícias, fazem com que seja menos necessário usar um web site externo, mantendo os utilizadores dentro da sua plataforma.
Este desafio deve ser encarado de uma forma construtiva, implementando várias estratégias baseadas em marketing de conteúdos para melhorar o alcance e notoriedade da marca. Se tiver uma loja online deve utilizar o Google Shopping, para garantir a visibilidade dos seus produtos e implementar uma estratégia de
SEO em permanência adaptada às atualizações do algoritmo de pesquisa.
Utilização da inteligência artificial
A utilização da inteligência artificial no marketing digital vem ganhando destaque e tornando-se cada vez mais fundamental para o sucesso das estratégias de comunicação digital, sobretudo na melhoria da experiência do cliente com base em seu comportamento de compra, atividade na internet ou redes sociais.
Podemos utilizar a inteligência artificial nas mais diversas formas, na machine learning, como forma de alimentar a inteligência artificial, fazendo com que seja possível algoritmos aprenderem a tomar decisões
de uma forma autónoma, melhorando a segmentação dos anúncios, geração de leads e a otimização de pesquisa, um exemplo são os assistentes pessoais digitais.
Para ultrapassar esse desafio, é preciso investir em formação permanente na área e criar uma estratégia adaptada às necessidades de cada marca, compreendendo e prevendo melhor o utilizador e respondendo às suas necessidades.
Estes são os principais desafios que, na minha opinião, enfrentará o marketing digital nos próximos anos, desafios que devem ser encarados de uma forma positiva para que o sucesso seja alcançado.
25 de Abril e Regionalização Nuno Campos Inácio (Editor e escritor)
endo sido iniciada a contagem decrescente para as comemoração dos 50 Anos da Revolução do 25 de Abril, começamos a assistir ao replicar das celebrações republicanas: um feriado nacional que praticamente todos agradecem, um circo retórico de palavras ocas de intenções, a sensação clara do incumprimento dos objetivos idealizados pelos revolucionários, a ausência ou decadência dos heróis que davam rosto à causa, a apropriação do ideário por parte de quem não pretende praticá-lo, o abuso de direito e de poder de quem se sente intocável em função do cargo que ocupa, o alheamento do povo relativamente aos eleitos e destes face ao povo, o cada um por si e quem vier atrás que feche a porta… Vale, tão-só, pelo feriado!...
Depois de 41 anos de poder central e absoluto, uma das principais medidas de reorganização administrativa e do poder político, foi a idealização da regionalização. Os políticos perceberam que a ditadura se manteve por mais de quatro décadas e tornou-se mais forte, porque todo o poder estava centralizado na capital, permitindo o seu domínio por um grupo oligarca, liderado por um ditador. A verdade é que esta aspiração política, que também era popular,
esvanece-se quando as forças políticas dominantes chegam ao poder e não resistem à tentação de se tornarem senhores absolutos do país. Não será por acaso que a regionalização tem sido sempre uma bandeira esvoaçada pelos principais partidos quando estão na oposição e enrolada logo que chegam ao poder. Apenas aqueles que nunca chegaram ao poder mantêm-se coerentes pela mera coerência.
Hoje, tal como há 49 anos, o centralismo assume-se como o Cronos que devora os seus filhos. Na ânsia da manutenção do poder a única coisa que interesse aos governantes é o investimento nas regiões que garantem mais votos, deixando as outras à míngua, reivindicando esmolas, tomando os seus autarcas a posição de caixeiros-viajantes, ou mesmo de pedintes, a caminho de Lisboa, para reivindicarem algo para a sua terra; apenas para a sua, porque as outras são concorrência…
O 25 de Abril falhou, porque nunca foi cumprido no que era o essencial: na implementação da uma democracia. O sistema eleitoral foi pensado tendo por base uma organização política e administrativa dividida em três patamares: poder local, poder regional e poder central. A representatividade que faltava a alguns distritos no poder central era colmatada com a existência de um
poder regional intermédio, que nunca foi implementado. Deste modo, a representatividade somada dos distritos de Faro, Beja, Évora e Portalegre, correspondente a metade geográfica do país, vale menos politicamente do que o distrito de Setúbal. Se acrescentarmos a este fator, o uso de um método de Hondt distrital, que desperdiça mais de meio milhão de votos válidos, que não conseguem eleger ninguém, percebemos que a estrutura política montada em sequência do 25 de Abril é uma falácia –para não dizer uma aldrabice, porque ficaria mal – que apenas serve para alimentar o centralismo, os tiques ditatoriais dos detentores do poder e o aumento das desigualdades regionais.
Comemorar os 50 anos do 25 de Abril sem a implementação de uma regionalização política e administrativa,
ou uma alteração profunda da representatividade regional no poder central, é um insulto aos que lutaram pela democracia e a manutenção de um sistema político caduco, cada vez mais próximo do Estado Novo derrubado. Nunca os extremismos surgiram de gestação espontânea, são sempre uma fecundação da falência das instituições e dos abusos de oligarquias centralistas. O extremismo, de direita ou de esquerda alimenta-se sempre da frustração do povo quando sente que a alternância democrática apenas muda rostos e protagonistas, mantendo as políticas e o alheamento da realidade, que não é una, mas multifacetada, conforme a realidade e as necessidades específicas de cada região.
Viva o 25 de Abril! Desde que se viva a sério!... .
DIRETOR:
Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924
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FOTO DE CAPA:
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