REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #394

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INFORMATIVO 8 de julho, 2023 #394 DIA DE CASTRO MARIM | «CINETEATRO» | «ALMA DE TIGRE» | «SUPERHÉROE» CHUA INAUGURA SALA DE EXAMES ESPECIAIS EM PORTIMÃO | «UM QUARTO SÓ PARA SI»
ALGARVE

ÍNDICE

Município de Loulé intervém na Escola EB 2,3 Eng.º Duarte Pacheco (pág. 24)

Dia de Castro Marim (pág. 30)

CHUA inaugurou Sala de Exames Especiais em Portimão (pág. 40)

19.º Festival MED em Loulé (pág. 50)

«Alma de Tigre» no Teatro Lethes (pág. 78)

«Superhéroe» no IPDJ (pág. 90)

«Cineteatro» estreou em Lagos (pág. 102)

«Um quarto só para si» no Cineteatro Louletano (pág. 114)

OPINIÃO

Mirian Tavares (pág. 124)

Ana Isabel Soares (pág. 126)

Alexandra Rodrigues Gonçalves (pág. 128)

João Ministro (pág. 132)

Câmara Municipal de Loulé vai requalificar Escola EB

Eng.º Duarte Pacheco

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

oi assinado, no dia 23 de junho, o auto de consignação da ampliação da Escola

EB2,3 Eng.º Duarte

Pacheco, em Loulé, uma intervenção que pretende dar resposta ao aumento da população escolar que se tem registado neste concelho. A ampliação desta escola, numa área de 900 metros

2, 3

quadrados, significará um investimento de 1,5 milhões de euros e terá um prazo de execução de 18 meses.

Os trabalhos permitirão criar sete novas salas de aula e requalificar duas já existentes. Por outro lado, serão criados novos espaços como uma cozinha pedagógica/formação CEF com sala de refeições, e um novo espaço para receber pais e encarregados de educação, como

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adiantou o responsável do agrupamento, Carlos Fernandes. Está ainda prevista a reformulação de arranjos exteriores da envolvente da ampliação e a implementação do sistema de produção fotovoltaica para autoconsumo na cobertura.

A Escola EB 2,3 Eng.º Duarte Pacheco é sede de um agrupamento composto por 11 escolas, estando previsto para breve um novo estabelecimento de ensino – a EB1 Hortas de Santo António 2 – com mais sete salas de aula do 1.º Ciclo e préescolar. O edifício foi requalificado em 2002/03, mas o número de alunos tem crescido de forma acentuada, rondando atualmente os 787 estudantes,

“praticamente de todas as freguesias do concelho, mas também de concelhos limítrofes como S. Brás, Faro e Albufeira”. Por outro lado, muitos destes alunos frequentam o Conservatório de Música de Loulé, ao abrigo do protocolo existente entre as duas entidades.

“Desde há muito que temos falta de salas, mas, graças à Câmara de Loulé, temos tido a colocação de monoblocos que permitem usar mais espaços, porque efetivamente a população tem crescido todos os anos”, salientou o diretor Carlos Fernandes.

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Na ocasião, o presidente da Junta de Freguesia de S. Sebastião, Analídio Ponte, manifestou a felicidade de ter nesta freguesia mais uma obra de uma escola. “Duarte Pacheco foi uma figura marcante no que diz respeito ao investimento e obras públicas e espero que também esta escola continue a ser marcante na vida dos nossos jovens e dos seus pais”, disse, realçando o facto de ser esta uma freguesia com “equipamentos muito bons para um excelente processo educativo”. O presidente da Câmara, por sua vez, afirmou que, com esta obra, o Município pretende suprir necessidades das famílias residentes em Loulé, assim como acolher da melhor forma as pessoas oriundas de outros países, no seu

processo de integração que passa também pela oferta educativa, a par da questão da habitação.

Face aos incómodos a que vão estar sujeitos durante o decorrer da obra, Vítor Aleixo desafiou a comunidade escolar a utilizar estes constrangimentos em benefício do próprio ensino, “fazendo disso um tema das aulas” “É a própria vida que entra porta adentro da escola e talvez fosse um bom motivo para explicar o que é um projeto, como se constrói uma cidade… Falar do que vão ter aqui em contexto de sala de aula talvez fosse um bom exercício de pedagogia”, deixou no ar o autarca, perante vários docentes deste estabelecimento de ensino .

Castro Marim festejou Dia do Município

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina e Município de Castro Marim astro Marim celebrou, no dia 24 de junho, o Dia do Município, este ano com um enfoque especial nos projetos alavanca que pautam o futuro e os destinos de Castro Marim.

As celebrações começaram com o hastear da bandeira nos Paços do Concelho, o primeiro com a formatura dos bombeiros de Vila Real de Santo António e Castro Marim e com a Banda Musical Castromarinense, seguindo-se a

sessão solene, durante a qual Francisco Amaral, presidente da Câmara Municipal de Castro Marim, recordou os muitos desafios enfrentados nos últimos anos, “mas, com capacidade de sonhar, de acreditar e de concretizar, Castro Marim cresceu”. “Castro Marim cresceu em humanismo e preocupação social e, nos momentos de maior fragilidade social, estivemos na linha da frente na proteção social aos castromarinenses. Na crise financeira e social canalizámos as

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atenções e os meios no combate ao flagelo social do desemprego, com muitas famílias com graves carências socioeconómicas”, recordou o edil.

Segundo o autarca, Castro Marim cresceu na preocupação com o abandono dos territórios do interior do concelho e das suas gentes, tendo sido criadas condições para a fixação nos montes “com o enorme esforço que foi feito para levar a água potável até às suas casas”. “É das obras que mais me orgulho de ter contribuído para a sua concretização, para resolver uma carência tão essencial à vida humana. Também reforçámos o abastecimento de água ao Rio Seco e, neste momento, estamos

a concluir a obra do fornecimento de água ao Pisa Barro e às povoações adjacentes, e estamos a lançar a obra do abastecimento à Cortelha e montes limítrofes”, apontou Francisco Amaral, que falou também do investimento na melhoria da qualidade de vida dos castromarinenses, com a implementação de diversos programas no âmbito da saúde, como a Unidade Móvel de Saúde com médico, os programas de combate ao tabagismo e à obesidade, o programa de rastreia do cancro da pele e as inúmeras ações no âmbito da prevenção da saúde.

Castro Marim melhorou igualmente as suas vias de comunicação, pois foram pavimentadas todas as ruas da Junqueira e do Monte Francisco, forma repavimentadas as ruas das aldeias do Azinhal e de Odeleite, para além de

intervenções na estrada de acesso à Praia Verde, na entrada da Quinta do Sobral, na Rua 25 de Abril e Rua Dr. Alves Moreira, na vila de Castro Marim, nas estradas da Casa Alta e dos Corvinhos, na Rua da Arrancada, entre outras. “Castro Marim cresceu na dinâmica económica e cultural e requalificámos os mercados de Castro Marim e Altura. Construímos o edifício multifuncional de empresas, a Casa do Sal e requalificámos a sua envolvente. Construímos o Centro de Intervenção, Desenvolvimento e Apoio à Freguesia de Odeleite e requalificámos a Igreja. Levamos a rede móvel e a internet às Furnazinhas. Castro Marim cresceu na resposta social e concluímos a

habitação social de Altura e o Lar da Cegonha Branca. Apoiámos com um milhão de euros a Santa Casa da Misericórdia na construção do Lar de Alzheimer e com todo o apoio técnico. Neste momento, Castro Marim está na vanguarda nacional do tratamento da demência”, declarou o presidente de câmara.

Também na prática desportiva cresceu Castro Marim, assim como na preocupação com a mobilidade suave. “Construímos a ciclovia que liga

Castro Marim a Vila Real de Santo António, está em construção o troço que liga a vila de Castro Marim à Praia Verde e estamos a lançar a obra da ciclovia que vai

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ligar ao Monte Francisco. Construímos o Passadiço de Altura, que se tornou numa zona de usufruto da beleza das nossas praias durante a prática do exercício físico”, recordou o edil, não esquecendo ainda o crescente desenvolvimento económico e o reforço de Castro Marim como destino turístico de qualidade, “com projetos que se encontravam encalhados há décadas” “Aqui o meu agradecimento ao envolvimento da CCDR Algarve e do seu presidente José Apolinário. O hotel ecológico da Maravelha, com 70 camas, irá abrir ao público brevemente. A Quinta do Vale e a Retur estão a retomar a dinâmica de investimento. A Verdelago é um

projeto de década que se prepara para receber os primeiros clientes.

Um projeto lindo, integrado e com responsabilidade social e ambiental. O meu muito obrigado a todos os que contribuíram para a sua concretização e à equipa que nos apresentou o empreendimento”, agradeceu Francisco Amaral, lembrando ainda os projetos da Almada de Ouro e de Corte Velho que vão mudar a margem do Guadiana e ligar Castro Marim ao rio.

“São projetos de baixa densidade e de muita qualidade que irão alavancar, não só o Baixo Guadiana, como toda a região. O meu profundo agradecimento aos promotores, investidores, projetistas e equipa municipal pela

.

Mais projetos estão em carteira, alguns já com garantia de financiamento, como o Pavilhão Desportivo de Altura, a requalificação da Rua da Alagoa, a requalificação da frente de mar, a praça e dois parques de estacionamento automóvel nesta freguesia. “Castro Marim continuará a crescer com a revisão do PDM que será concretizada até ao final do ano e que será um elemento facilitador da construção de habitação que tanta falta faz no País, no Algarve e no concelho de Castro Marim. A Estratégia Local de Habitação do Município prevê uma centena de fogos habitacionais”, indicou Francisco Amaral.

A sessão solene contou também com as distinções aos melhores alunos, a quem o Município ofereceu uma viagem ao País Basco. A atribuição de vales aos alunos do Quadro de Valor e Excelência foi reservada a outro momento, por ainda não se ter concluído o período das avaliações. Mas este foi também o dia que ditou o início de uma nova fase de cooperação entre instituições, com vista a reforçar e melhorar a qualidade de vida da população castromarinense. Deste modo, o Município de Castro Marim assinou dois protocolos que visam oferecer mais e melhores condições de segurança e meios de socorro e assistência, dois fatores que acrescentam na atratividade do território. Com a GNR, o protocolo promove o reforço da capacidade operacional desta força de segurança, dotando-a de um novo motociclo. Em relação ao protocolo assinado com os Bombeiros Voluntários de Vila Real de Santo António e Castro

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persistência e resiliência que permitiu, após tantos anos, avançar com estes projetos”

Marim, traduz-se na transferência de cerca de 275 mil euros, o que permitirá a sustentação financeira e operacional da estrutura no âmbito da proteção civil e socorro.

Foram ainda distinguidos produtos locais de excelência, com notoriedade e reconhecimento internacional, nomeadamente a Flor de Sal Salmarim e o vinho «Alagoa Velha – Lábios Nus». A flor de sal de Castro Marim, e sua afirmação internacional, resulta de investimento de anos, com forte apoio do Município, que tem trabalhado na promoção e valorização da atividade salinícola e na afirmação do sal como marca territorial. Em relação ao «Alagoa Velha – Lábios Nus», é um vinho da família Palma Dias, que nasce da recuperação de vinhas antigas num território inóspito, mas que tinha já sido preparado pelo reconhecido historiador, escritor e pensador algarvio Jacinto

Palma Dias, que faleceu em 2020. Associada a este investimento está a construção de uma adega com ânforas em barro, um espaço de fruição e afirmação dos valores patrimoniais do território.

À sessão seguiu-se a apresentação de um conjunto de novos investimentos em viaturas e equipamentos de resíduos sólidos urbanos, com a renovada imagem de «Castro Marim + Limpo», que engloba também a contratação de novas equipas. À noite, o palco do Revelim de Santo António recebeu o memorável concerto de Tiago Bettencourt com a Banda Musical Castromarinense. O espetáculo celebrou os 20 anos de carreira do conhecido cantor e autor e também do Centenário da Banda Musical Castromarinense, transformando-se num momento único de encontro e partilha da cultura e identidade local .

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CHUA inaugurou Sala de Exames Especiais com equipamento de topo na Unidade Hospitalar de Portimão

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

nze anos depois a Unidade

Hospitalar de Portimão do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA)

voltou a abrir, no dia 20 de junho, a Sala de Exames Especiais onde está instalado e a funcionar um moderno equipamento que permite a realização de uma vasta

gama de exames na área da angiografia, radiografia, fluoroscopia e gastroenterologia de diagnóstico e de radiologia de intervenção. Este sistema é uma solução de mesa suspensa, especificamente desenhado para responder às exigências clínicas atuais e futuras, pois dispõe de aquisição digital direta, a qual oferece uma excelente qualidade de imagem com baixas doses de radiação, garantindo,

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simultaneamente, um melhor acesso ao paciente durante os procedimentos de diagnóstico ou de intervenção, com possibilidade de controlo de todo o sistema a partir de qualquer local da sala de exames ou da sala de comandos.

De acordo com Horácio Guerreiro, a inauguração do equipamento constitui uma mais-valia para a qualidade e diferenciação dos cuidados prestados. “Este equipamento fazia falta ao Serviço de Radiologia e em muito melhorará a saúde no Algarve. Obviamente que existem limitações de espaço, algo que só será resolvido com o novo Hospital Central, mas, apesar de tudo, temos conseguido aumentar a nossa diferenciação clínica e temos

tido a sorte de ter profissionais que querem trabalhar com o CHUA, pois estas novas tecnologias e equipamentos atraem sempre mais profissionais”, frisou o Diretor Clínico do CHUA.

Bastante feliz mostrou-se o Diretor do Serviço de Radiologia, Francisco Aleixo, confirmando que não ter uma Sala de Exames Especiais a funcionar foi uma lacuna ao longo de mais de uma década.

“Durante muito tempo isso foi remendado pelo facto de os eventuais exames desta área serem realizados em Coimbra ou em Lisboa”, admitiu. Perspetivando um futuro de maior diferenciação, para o Diretor não basta, porém, ter um equipamento de topo, há que o rentabilizar em prol dos doentes.

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“Temos recursos humanos já com know-how, mas os desafios que a instituição tem vai obrigar-nos a motivar outros colegas do próprio serviço a dedicarem-se a esta área, assim como iremos solicitar apoio a outras instituições do país onde a prática destes exames é maior”, indicou Francisco Aleixo.

Uma opinião que é corroborada pelo radiologista de intervenção José Saraiva, que afirmou “estamos a dar um salto gigante” “Este angiógrafo multifunções vai permitir colmatar a lacuna deixada pela avaria do equipamento que tínhamos nesta sala há 11 anos, possibilitando atuar na gastroenterologia, mas também na cardiologia de

intervenção vascular. Atualmente, um doente com uma hemorragia tem de percorrer de ambulância 400 quilómetros e ir para Coimbra. Com este equipamento, vamos evitar esta disparidade nos acessos aos cuidados de saúde que carateriza a região do Algarve. Em termos de procedimentos, nesta fase inicial, vamos focar-nos essencialmente no tratamento de hemorragias e obstruções biliares. No entanto, vamos ter também a colaboração com o serviço de urologia”, acrescentou José Saraiva.

Rita Lemos, responsável pela área de angiografia da Siemens Portugal, também esteve presente na sessão, demonstrando todo o apoio da empresa

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multinacional junto dos profissionais e do serviço. “Este equipamento é muito especial porque é um sistema multifuncional. É um misto, único no mercado, não faz apenas os exames especiais, vocês passam a ter uma valência extra, que é toda

a radiologia de intervenção”, apontou.

Falando sobre o facto deste ser um motor essencial para a captação de médicos para a região, a presidente do Conselho de Administração do CHUA, Ana Varges Gomes, realçou que “estes equipamentos atraem mais

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profissionais de saúde, uma vez que as pessoas querem fazer o que melhor se faz em termos de estado da arte”. “Esta é mais uma valência para este serviço, mas será certamente um acontecimento importante do CHUA, que vai contribuir para o tratamento dos

utentes algarvios e do baixo Alentejo”. E presente na sessão esteve igualmente o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, José Apolinário, que enfatizou a importância destas intervenções. “Somos uma região onde há pouco investimento em Ciência e Investigação. A nível europeu, a recomendação é que o investimento em I&D seja de 3 por cento em relação ao PIB gerado, pois ele é crucial para o desenvolvimento e competitividade das regiões”.

A sessão terminou com as palavras de Isilda Gomes, presidente da Câmara Municipal de Portimão, que manifestou o seu agrado pela visão estratégica alinhada entre o Conselho de Administração do CHUA e a CCDR Algarve, a qual tem beneficiado nos últimos anos a região de uma “forma extraordinária” “O que se passava há 10 anos não tem nada a ver com o que se passa hoje e isso deve-se à tenacidade e capacidade de luta dos profissionais, de quem os dirige e de quem dirige a CCDR. Os algarvios merecem ter as mesmas condições que existem no resto do país. Não temos de ser excluídos”, defendeu a autarca portimonense .

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FESTIVAL MED PROPORCIONOU INESQUECÍVEL A MILHARES AO SOM DAS MÚSICAS DO

MUNDO
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Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

UMA EXPERIÊNCIA

DE PESSOAS EM LOULÉ MUNDO

PROPORCIONOU
MILHARES
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Festival MED

voltou a atrair, de 29 de junho a 1 de julho, uma legião de fãs da world music à Zona Histórica de Loulé, mercê de um cartaz constituído por diversos nomes sonantes deste estilo. Na sua 19.ª edição, o evento foi sinónimo de ruas cheias de gente, palcos com plateias entusiastas, espaços inusitados a servir de palco às mais surpreendentes manifestações artísticas, tendo registado, inclusive, lotação esgotada no dia 1 de julho, muito por culpa do concerto que marcava os 40 anos de existência dos icónicos Sétima Legião.

No arranque do Festival, quinta-feira, o Largo da Matriz foi pequeno para os festivaleiros que quiserem escutar as

sonoridades tradicionais da África

Ocidental, com pinceladas de R&B, pela voz de um dos mais conceituados projetos da world music, o aclamado «Dimanche à Bamaku», com Amadou&Mariam a deixarem o público rendido ao seu talento. No mesmo palco, outro dos destaques do MED de 2023, Horace Andy, lenda do reggae que cantou perante uma casa cheia e contagiou uma plateia entusiasta. A música lusa teve também nota mais no primeiro dia do festival, com o músico Tó Trips, que pela quarta vez integrou o cartaz do MED, desta vez com o seu Club Makumba, onde influências que vão da Bacia do Mediterrâneo às costas de África deram cor ao virtuosismo da banda.

Foram também as cores nacionais que estiveram em foco na noite de sextafeira. Pedro Mafama está a mostrar ser

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um dos nomes da nova vaga da música portuguesa e não foi por acaso que um público em grande número, sobretudo jovens, compareceu no Palco Chafariz para acompanhar o artista que veio aqui com o novo trabalho, «Estava no abismo, mas dei um passo em frente». O mediático «O Preço Certo» ou «Lacrau» foram músicas cantadas em coro pela plateia e o artista retribuiu o calor dos fãs com muita energia em palco. Tomoro protagonizaram um daqueles momentos que, pela originalidade, surpreenderam e proporcionaram uma experiência única a quem esteve no Palco Castelo. Com uma simplicidade sonorosa assente sobretudo na tradição musical japonesa, este duo que junta percussão e flauta, deixou atónito quem assistiu a um concerto único, onde não faltaram inclusive interpretações de compositores de música clássica.

Na entrada para o último dia, sábado, a voz de protesto da brasileira Bia Ferreira fez-se ouvir bem alto. Há um ano esteve no Cineteatro Louletano para um espetáculo integrado na apresentação desta edição do MED, e este ano subiu ao Palco Chafariz. A música cabo-verdiana é já um clássico do Festival MED e este ano foram os Bulimundo que tiveram a responsabilidade de trazer as harmonias de um país que tem em Loulé uma numerosa comunidade. Foi igualmente no Palco Matriz que ecoaram os temas de sempre dos Sétima Legião. A banda veio a Loulé celebrar 40 anos de vida, num concerto muito especial e quase único, e os fãs deliraram com «Sete Mares», «Por quem não esqueci» e outros temas.

Para um sábado com lotação esgotada também contribuiu em muito a presença

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do sírio Omar Souleyman, já que desde o momento em que foi anunciada a sua presença no MED, a curiosidade da parte do público era muita, sobretudo pela personagem de certa forma «kitsh» que envolve o artista. E o que ali se viveu representa bem o que é o espírito do MED: ao lado de uma igreja onde todos os domingos é celebrada a eucaristia, esteve um público em êxtase a ouvir e a deliciar-se com a música onde as influências turcas, curdas e árabes estão de mãos dadas com a eletrónica.

Muitos outros artistas passaram por Loulé, dos nomes consolidados com largos anos de carreira, aos jovens que agora estão a surgir, de Portugal e dos quatro cantos do mundo. E não apenas na Matriz, Cerca, Chafariz, Castelo ou Hammam, mas também nos palcos mais pequenos, como o Calcinha, o MED

Classic ou nas Bicas Velhas, onde muito público compareceu, ávido de experienciar algo diferente. O MED faz-se de muitas outras valências para além da música e foi possível assistir a momentos de Literatura do mundo no edifício do Atlético, Cinema na recriada sala junto à Galeria de Arte do Convento do Espírito Santo ou a artes de ruas. Os muitos grupos de animação de rua trouxeram a interação com o público e dois deles vieram do Paraguai e do México, com um folclore cheio de cor e movimento, graças à parceria existente entre o Município de Loulé e a Casa da América Latina.

No dia 2 de julho houve «Open Day», com o recinto aberto para que o público tivesse a oportunidade de observar um pouco do que é o Festival MED. Além da componente gastronómica, com showcookings de valorização da Dieta

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Mediterrânica, foi igualmente apresentado o Loulé Jazz’23. O Cinema MED decorreu no Cineteatro Louletano, com a projeção do filme «A Viagem do Rei», de Roger Mor e João Pedro Moreira, uma viagem pela cabeça do poeta e provocador Rui Reininho. Seguiu-se um show-case do artista nesta casa de espetáculos.

Um festival que foi, novamente, com uma pegada verde, preocupado com o futuro do Planeta e com a introdução de medidas que promovam a sustentabilidade ambiental é também a marca deste evento. De facto, o MED incorporou em 2023 os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas, um compromisso que passa pela igualdade de género (ODS 5), trabalho digno e crescimento económico (ODS 8), reduzir as desigualdades (ODS 10), cidades e

comunidades sustentáveis (ODS 11), produção e consumo sustentáveis (ODS 12), ação climática (ODS 13) e parcerias para a implementação dos objetivos (ODS 17). Mas também um trabalho para a erradicação da pobreza, através da associação ao Movimento Zero Desperdício. Este ano, foram 897 as refeições resgatadas pela equipa da Refood e distribuídas a 9 instituições. Desta forma foram evitados 448 quilos de resíduos e a emissão de perto de duas toneladas de CO2.

Por outro lado, e um pouco à semelhança do que tinha acontecido em 2022, o MED desafiou alguns incubados do Loulé Design Lab a criarem peças decorativas para alguns espaços do recinto, através da utilização de materiais já usados. Este processo criativo teve como resultado um jardim vertical, puffs feitos a partir de lonas e com enchimento

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de lã de ovelha churra algarvia ou um pórtico feito com rolos de cartão.

“Somos um festival fora da mainstream e isso faz toda a diferença. As pessoas vêm aqui não só pelos artistas, mas sobretudo pelo conjunto de experiências sensoriais que podem ter, o que não acontece noutros eventos. Estamos muito felizes pois conseguimos, uma vez mais, proporcionar essas experiências enriquecedoras a quem por aqui passou, seja por via da música ou por um simples degustar de um prato de comida árabe, pela leitura de um poema ou pela visualização de um filme, por dar um pezinho de dança numa discoteca improvisada no quintal de uma casa ou um encontro de amigos

neste cruzamento de gentes de vários pontos do Globo”, refere o diretor do Festival, Carlos Carmo.

Em 2024, o Festival MED celebra 20 anos, uma data redonda que será celebrada de forma especial, com o presidente da Autarquia a levantar um pouco do véu do que se irá passar.

“Estamos muito empenhados para que seja uma grande edição e por isso estamos a preparar algumas novidades. Iremos, pela primeira vez, ter um país estrangeiro convidado, e o primeiro será Marrocos. São nossos vizinhos, uma geografia cultural diferente, mas que importa conhecer melhor. Mas haverá muito mais para celebrarmos este momento e em breve começaremos a anunciar o que se prevê”, adianta Vítor Aleixo .

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TEATRO LETHES VIBROU COM «ALMA DE TIGRE»

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Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

Teatro Lethes, em Faro, foi palco, no dia 10 de junho, de mais um estrondoso sucesso do MOMI – Festival

Internacional de Teatro Físico Algarve, organizado pelo JAT – Janela Aberta Teatro, com «Alma de Tigre» dos espanhóis Elefante Elegante. Com Criação, Cenografia e Direção de Cena de Gonçalo Guerreiro, Direção Artística de María Torres e Gonçalo Guerreiro e interpretação de Julia Laport, María Torres, Pablo Sánchez e Mario Rodríguez, a peça fala de um sonho revelado a partir da história real de três irmãos. Uma obra que aborda as relações familiares, a memória e o afeto, numa peça de teatro

físico e dança, entre o absurdo e o ridículo, que revela o fundo trágico da realidade humana.

A Elefante Elegante é uma das companhias mais relevantes da Galiza, dirigida pelo português Gonçalo Guerreiro e pela espanhola María Torres. Nasceu do desejo de desenvolver uma linguagem plástica, poética e universal que não depende exclusivamente do texto e que permite investigar temas sociais e existenciais. As suas criações surgem do diálogo entre o teatro físico, a dança, a música e as artes visuais com espetáculos que se baseiam na relação entre o corpo e o espaço e que refletem uma investigação rigorosa de gestos, movimentos e imagens .

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EL PERRO AZUL TEATRO LEVOU «SUPERHÉROE»

AO IPDJ

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

o dia 10 de junho, o auditório do IPDJ, em Faro, recebeu o espetáculo «Superhéroe» no âmbito do MOMI –Festival

Internacional de Teatro Físico Algarve, organizado pelo JAT – Janela Aberta Teatro.

Nesta peça da companhia espanhola El Perro Azul Teatro, um jovem sonhador que mora com a avó recebe a visita do técnico de luz que corta o fornecimento de energia por falta de pagamento. Este fato desencadeia uma aventura maravilhosa, na qual o jovem luta por recuperar a luz. O técnico é-nos apresentado como um vilão capaz de sequestrar a avó e roubar toda a luz do planeta e o jovem vai adquirindo diferentes poderes ao longo da narrativa, através de uma pedra de luz que a sua avó lhe deixou escondida, e de um outro elemento que lhe é dado por uma sensual

bailarina que surge das luzes da rua. Estes vão ajudá-lo a superar a última luta contra o vilão, e resgatar a sua avó, regressar ao seu lar e acordar do sonho.

Protagonizada pelo ator–manipulador Fernando Moreno, com Encenação e Dramaturgia de Jorge Padín e voz-off em português de Fernando Guerreiro, «Superhéroe» faz-nos pensar, entre a realidade e a ficção, quem é quem, numa obra que nos faz olhar ao espelho e nos diz que só temos que fazer a escolha certa e sermos nós mesmos. A companhia foi fundada em 2010 com a intenção de investigar e pesquisar diferentes linguagens teatrais, capazes de emocionar públicos de qualquer idade. É um projeto teatral com um cariz artístico e profissional arrojado, com sede em La Rioja, que procura que o espectador participe num encontro evocativo no palco, num espaço comum onde moram as suas dúvidas e os seus sonhos .

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TEATRO EXPERIMENTAL DE LAGOS ACOLHEU ESTREIA DE «CINETEATRO»

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Carlotta Faraudello

sede do TEL –Teatro

Experimental de Lagos, em Lagos, recebeu, nos dias 16 e 17 de junho, a peça «Cineteatro», o resultado final do curso de teatro realizado, entre os meses de outubro de 2022 e junho de 2023, pelo formador Nuno Murta. O espetáculo foi protagonizado pelos alunos Ângelo Lorusso, Daniel Santoro, Domenico Malcangi, Gabriel Almeida, Gianni Bruni, Helena Rocha, Inês Cardoso, Marta Gonçalves, Nuno Renca e Sílvia Gomes,

que, para além de intérpretes, também foram cocriadores.

O espetáculo, com coordenação, encenação, sonoplastia e luminotécnica de Nuno Murta, teve como ponto de partida o Cinema e, sobre o mote “será possível trazer o cinema para o teatro?”, foram revisitadas cenas de vários filmes e feitas reflexões sobre as memórias e o impacto que o cinema teve nas vidas dos próprios intérpretes. Os figurinos, adereços e cenografia foram da responsabilidade do T.E.L., que também assegurou a produção deste «Cineteatro».

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«UM QUARTO SÓ PARA SI»

FOI A CENA NO CINETEATRO LOULETANO

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Jorge Gomes

Cineteatro

Louletano

assistiu, no dia 16 de junho, a «Um Quarto Só Para Si», espetáculo no qual a Silent Party propõe uma sobreposição dos modos de organização do espaço e dos corpos no teatro com os da arquitetura, acreditando que experimentar diferentes modelos de construção – de espetáculos e de edifícios – é um exercício de imaginação de sociedades possíveis. “Colocamos

uma hipótese material: como fazer um esboço de um edifício que permita a emancipação permanente dos corpos que o habitam, enquanto lhes devolve a possibilidade de uma existência em conjunto?”, questionam os criadores Emanuel Santos, Mafalda Banquart, Tiago Araújo e Tiago Jácome nesta coprodução do Projeto Casa –Espaço do Tempo, Cineteatro Louletano e CCVF | Teatro Municipal do Porto .

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Do perder-se Mirian Tavares (Professora)

“Vem por aqui” – dizem-me alguns com olhos doces, Estendendo-me os braços, e seguros De que seria bom que eu os ouvisse Quando me dizem: “vem por aqui”!

Eu olho-os com olhos lassos, (Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)

E cruzo os braços, E nunca vou por ali…

ntem vinha pela estrada entre Quarteira e Faro e deparei-me com um poço e uma bela nora. Ao seu lado estava uma placa enorme, quase tão grande quanto o poço a dizer: rota dos poços. Fiquei a pensar – mas que raio de mundo é esse em que há rotas para tudo? Ninguém mais tropeça nalguma coisa, vai-se diretamente aos sítios, sem a chance sequer de se perder pelo caminho, de passar por desvios, de encontrar o inusitado. As rotas são interessantes, sem dúvida, dão o enquadramento histórico/patrimonial devido às coisas, mas roubam-nos a imaginação, a curiosidade, a vontade de irmos procurar saber, ou escolher não saber, o porquê daquele poço e daquela nora, naquele lugar específico. Podemos apenas admirar o poço, a paisagem… capitalizaram tudo e as nossas horas são também alvo da especulação financeira, a nossa imaginação foi territorializada e

vendida aos lotes. Não há mais espaço para ver diferente. Seguimos rotas, GPS, caminhos pré-estabelecidos, determinados por outrem. Eu, teimosamente, e também porque sou ligeiramente disléxica, continuo a preferir perder-me. Uma vez estava a caminho de Óbidos, sozinha, e liguei o GPS. A meio do caminho, brigamos. Ele queria que eu fosse por ali e eu fui por acolá. Resultado – o bicho amuou e não falou mais comigo. Lá cheguei guiada pela amiga, mais centrada que eu, que pelo telefone perguntava – estás a ver uma placa assim e assim? E lá cheguei, direitinha, ao destino. Perco-me muito, mas também estou sempre a encontrar-me, o que é um prazer renovado. Mesmo que me custe algumas voltas. Já consegui perder-me na autoestrada, ter de voltar para trás, o que é sem dúvida, um dos meus maiores feitos. Talvez o maior de todos tenha sido fazer zero pontos num jogo do Super Mario Bros. Há pessoas que viajam e têm tudo pronto – lugares a visitar, o que não podem deixar de ver, restaurantes e afins, preparados um ano antes. Eu viajo com

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uma vaga ideia do que quero ver. Até agora não me tem corrido mal. Provavelmente perdi os highlights das rotas, mas conheci, por exemplo, numa viagem com o filho, uma igreja discreta em Edimburgo, com um vitral que, segundo o pároco que nos fez gentilmente uma visita guiada, era o mais antigo do país ; ou, sem esperar, a povoação onde nasceu Joselito. Quando

andamos com o GPS não olhamos à volta, não apreciamos o caminho. Seguimos um caminho, uma indicação, um percurso. Eu sou mais devota de Drummond – vai ser gauche na vida. E assim permaneço .

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Foto: Vasco Célio

Septuagésima nona tabuinha - Fuga II Ana Isabel Soares (Professora)

ez vinte anos em maio que fechei a escrita daquilo que viria a ser defendido como tese de doutoramento.

Perguntam-me às vezes sobre o que era e de cada vez que respondo penso numa resposta diferente, como se a olhasse a partir de outra esquina (do tempo, de um espaço –dei-lhe o título «Espaços do tempo»). Um dos tópicos – vá lá – que me acompanharam nos cinco ou seis anos que levei a escrever nela foi o objeto principal sobre o qual um pensador alemão, Walter Benjamin, se debruçava (com certeza, também literalmente) nos

anos que lhe antecederam a morte: as estruturas arquitetónicas, urbanas, comerciais que se encontram entre muitas ruas de Paris (assim como noutras cidade pelo mundo), a que os francófonos chamam «passages», os anglófonos «árcades», por cá «passagens» e os alemães «passagen». O projeto de Benjamin chamou-se, precisamente, Passagenwerk, ou obra das passagens. Não se sabe se seria esse o título que lhe daria, pois estava em marcha quando o autor morreu (estando ele a tentar marchar-se de França para Espanha, daí para Portugal e para os Estados Unidos, eram os anos da Segunda Guerra Mundial e ele malquisto pelos que dominavam no

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(Passage des Panoramas) (Passage Jouffroy)

seu país natal); nem jamais se saberá qual a sequência final que haveriam de ter os inúmeros textos que foi acumulando a propósito de conceitos como História, Modernidade, Presente, entre outros, que os filósofos se aprazem a explorar.

A mim, interessou-me aquele raciocínio que ajudava a entender o que é o mundo de hoje (aquele que habito, aquele em que reflito) através da exploração mental de um tipo específico de edifício ou organização de construções. Seduziu-me a possibilidade de pensar nas galerias comerciais, com as suas coberturas envidraçadas a deixar entrever o céu de Paris, como lugares onde se formou o modo atual de habitar as cidades: de se relacionar cada indivíduo com a sua própria imagem em sociedade (porque ali se tornou habitual ir ver as montras e estas serviam – servem –como espelho de quem as olhava); de fazer coabitar negócios díspares (lojas de postais com restaurantes; sapateiros com espetáculos de variedades; antiguidades com boulangeries), no mesmo sentido em que cada pessoa, hoje, se entende como um feixe complexo de pulsões distintas, sensações contraditórias, multidões concentradas.

Revisitei recentemente algumas destas passagens: surpreendeu-me o relativo abandono a que parecem votadas (em algumas não foi sequer possível entrar), mesmo quando se percebe que as lojas ainda funcionam. Como tantos outros

edifícios de pequeno comércio no centro das cidades (de rendas que imagino elevadíssimas e rendimentos de sinal contrário), entregam-se a um aparente final de existência: animais selvagens cujo surgimento significou um cúmulo de civilização e que hoje se enfeitam e, mesmo empalhados, anulados, mortos, surpreendem, de altivos .

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Foto: Vasco Célio (Passage des Panoramas)

Uma cultura de Hotelaria & Turismo Alexandra Rodrigues Gonçalves (Diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da UAlg)

m Roma(*) na 10th Conferência Internacional Advances in Hospitality & Tourism Marketing and Management (AHTMM) viveu-se um verdadeiro ambiente de provocação sobre os desafios atuais e futuros do sector. Esta conferência internacional reúne a investigação recente destas áreas, com a presença de muitos dos editoreschefes dos principais jornais e revistas internacionais, tendo juntado 41 nacionalidades sobre o teto da Universidade de Roma (Sapienza Foundation). A Universidade do Algarve esteve representada com um conjunto de 7 professores e investigadores do CinTursResearch Centre for Tourism, Sustainability and Well-Being que foram apresentar e partilhar a sua investigação aplicada.

Estes momentos são fundamentais para criar rede e apresentar o trabalho que se vai desenvolvendo, que no nosso caso versou sobre a redefinição do turismo cultural com base nas experiências virtuais e digitais, que hoje dão suporte a novas formas de visitação e de mediação do património cultural, tendo apresentado o projeto iHeritage e a plataforma desenvolvida no seu âmbito.

As apresentações introdutórias sobre Itália também revelaram muitos padrões

comuns com o Mediterrâneo e com o comportamento do Destino Portugal e do Algarve, evidenciando uma forte procura pelas experiências enogastronómicas e pela valorização da cultura local e do autêntico, acompanhado pela atração das paisagens naturais. A sazonalidade continua acentuada e presente, mas o clima é de facto uma forte atração dos nossos destinos a que se associa a concentração de férias nas épocas alta e nas paragens escolares. Portanto, esta deixou de ser a questão, mas sim a procura de diversificação dos fluxos turísticos levando-os a outros lugares e uma aposta crescente em interesses e segmentos específicos.

É claro que os interesses dos investigadores por vezes estão mais em conseguir ter citações e procurar algo que possa gerar interesse, esquecendo a resolução dos problemas da «indústria», mas será na conjugação de esforços que a verdadeira cultura do turismo e da hotelaria se vai consolidando e tornado útil.

Contudo, não é essa a ideia principal desta crónica, mas sobretudo salientar as intervenções de dois dos keynote speakers da conferência: um primeiro – Manuel Alector Ribeiro, da Universidade de Surrey e também investigador do CinTurs – que demonstrou a preocupação com a introdução dos conceitos de diversidade,

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equidade e inclusão no estudo e investigação em turismo e na hotelaria, ainda muito incipiente (assunto que tencionamos recuperar noutro momento); mas em particular, destaca-se a intervenção de Youncheng Wang, que é o Diretor do Rosen College of Hospitality Management da Universidade Central da Florida, em Orlando, cuja intervenção se centrou, não só na demonstração de 20

anos de história de uma das instituições mais prestigiadas mundialmente na área da hotelaria e do turismo, mas como desenvolveu uma reflexão de como chegou até aqui e sobre os desafios do futuro.

O terreno do Rosen College of Hospitality Management da Universidade da Florida foi doado por uma família de hoteleiros

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em 2003 e assume-se hoje como o melhor resort para estudar. Nas suas infraestruturas conta para além do hotel e cozinhas de aplicação, com um parque de atrações, mas também com um grande complexo desportivo, assumindo que o futebol e os melhores atletas são porta de entrada para os melhores estudantes, e posicionando-se entre as instituições de topo no Shangai Ranking na área de investigação do Hospitality & Tourism. Os vários programas de licenciatura nas áreas dos eventos, da hotelaria e do turismo, a que acrescem mestrados e um doutoramento somam 3500 alunos, uma realidade que quase duplica da Universidade do Algarve.

como estruturante e construção de uma cultura da hotelaria que ultrapassa a comida e a bebida, e o alojamento.

A formação e a educação do setor da Hotelaria e do Turismo requerem uma nova visão, uma visão que considere o coração, para além do pensamento e da execução. O conceito de viagem e de férias, associados ao desejo e ao prazer têm de estar no centro da organização dos destinos turísticos, e de todos os serviços e atividades que os englobam, tal como dizia no fim, vamos concluir que é tudo Hotelaria!

A

Hotelaria e o Turismo mais

do que um conjunto de atividades ou uma indústria, é uma cultura

A ambição de chegar a este nível encontra-se entre nós, todavia, as infraestruturas de suporte para este desenvolvimento não são fáceis, contando nós este ano com 35 anos de história da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo. À nossa dimensão e em conjunto com a Faculdade de Economia, a Universidade do Algarve assume-se bem posicionada no Shanghai Ranking, ficando em 2022 nos lugares 76100.

Mas rankings de parte, o discurso impressionou pela capacidade e qualidade da oferta no espaço de 20 anos, pelo posicionamento assumido de liderança na estruturação da inovação no sector e pelos valores anunciados: interdisciplinaridade como elemento fundamental; parcerias com o sector

Temos de voltar a pensar e a sentir a Hotelaria e o Turismo mais do que como um conjunto de atividades ou uma indústria, como uma cultura! É uma forma de estar que merece maior reconhecimento e qualificação.

Nota: Foi uma oportunidade para constatar a saturação das infraestruturas aeroportuárias, Faro/Lisboa/Roma e a experiência de viagem em transporte aéreo nos dias que correm, com os seus atrasos e problemas de organização. Apenas a saída de Faro teve o voo na hora prevista, com o voo de Roma no regresso a sair com uma hora de atraso por saturação do espaço aéreo sobre Espanha, segundo explicação do comandante do voo.

(*) pena que numa cidade em que o turismo é hoje a sua grande centralidade, pois como alguém afirmava deve ser a cidade com maior número de bens culturais identificados e classificados, exista um grau de ruído e poluição visível muito elevado .

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Caminhos proibidos João

Ministro (Engenheiro do Ambiente e empresário)

m vários países europeus os trilhos e caminhos rurais, com anos de utilização popular ou simplesmente com indicação em mapas, são de serventia pública e não podem ser bloqueados, obstruídos ou encerrados. No Reino Unido, por exemplo, a norma legal conhecida como «Rights of Way», garante ao cidadão o poder de caminhar por todas essas vias, mesmo que sejam em propriedades privadas. Há, inclusive, organizações da sociedade civil que intervêm no sentido de solucionar litígios ou violações desse direito que rapidamente se resolvem em favor do acesso público.

Na Suécia, o direito de acesso público ou «Allemansrätten» («The all mans right») como por lá designam, dá total liberdade aos cidadãos, residentes e visitantes, de explorarem a natureza, caminhando, pedalando ou até acampando, desde que com responsabilidades («Don’t disturb –Don’t destroy») e com pequenas excepções (ex. no interior de jardins provados ou em terrenos cultivados). O livre usufruto da natureza é um princípio levado a sério por aqui, ao ponto de estar consagrado em lei especifica.

Aqui ao lado, em Espanha, temos o exemplo das «Vias Pecuárias», com várias tipologias, nomeadamente «cañadas», «veredas» ou «coladas». São

reconhecidas como elementos patrimoniais seculares – utilizadas historicamente pelas transumâncias do gado – como bens de domínio público e, como tal, não podem ser ocupados, vendidos ou destruídos.

E por cá? Como funciona o regime de utilização de caminhos? Que legislação existe e os protege? Bem, começo por dizer que é a confusão total. Basta procurar na web por caminhos públicos e ver como surge a informação. Enquanto nos países que referi qualquer pesquisa dá-nos informação precisa e concreta (na Suécia, curiosamente, é o próprio instituto de turismo que nos explica isso), por cá é o caos. Informação jurídica complexa, massuda, nada simplificada ou acessível. Uma verdadeira ausência de informação.

Mas sabemos que esses caminhos existem. Contudo, como estão protegidos, identificados ou sequer referenciados é uma incógnita. E, como tal, o que assistimos no dia a dia é a uma total bandalheira na protecção dos mesmos e ao direito de os utilizar.

Veja-se o que está a acontecer actualmente na Quinta do Ludo, em pleno Parque Natural da Ria Formosa, no Concelho de Loulé. Os caminhos que lá existem, utilizados há décadas pelas pessoas da região, com acesso ao chamado «domínio público hídrico»,

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designadamente à ria, cursos de água ou praias – e que foram inclusivamente intervencionados com fundos públicos ao abrigo do programa Polis – estão hoje vedados e com vigilância privada. Caminhos esses que foram integrados em roteiros turísticos, internacionalmente disseminados em diversas publicações promocionais do destino Algarve, agora interrompidos por vontade do proprietário, ilegalmente, sem motivos claros e qualquer respeito pelos antecedentes e pela utilização pública do local. As entidades públicas já foram chamadas a intervir. Veremos como e quando se resolve a situação.

Outro exemplo igualmente assinalável ocorre na Via Algarviana, numa parte do seu itinerário em Monchique, perto da Fornalha. Esta grande rota pedestre, financiada com fundos públicos, instalada desde 2009, com as devidas autorizações dos municípios por onde passa, viu-se privada de um pequeno troço, há cerca de uns três anos, a partir do momento que uma determinada proprietária decidiu vedar o caminho público, invocando posse do mesmo, contrariando tudo e todos. As denúncias, queixas, informações e pareceres técnicos de pouco serviram, pois tudo continua igual e as instituições competentes (o município, entenda-se) já demonstraram incapacidade em resolver o problema (mesmo tendo a razão de seu lado e os instrumentos para o fazer). E, portanto, quem caminhar em direção a Monchique, vindo de Silves, deverá saber que a certo momento terá de afastar-se do percurso oficial da Via Algarviana, contornar uma

área vedada, percorrer parte de uma estrada pavimentada, para retomar mais adiante o percurso original. E isso se não tiver de correr, pois também há cães pouco simpáticos, da mesma proprietária, que, se estiverem soltos, poderão causar mais danos do que a extensa caminhada, por si já exigente e extenuante.

E assim estamos no que à utilização de caminhos públicos respeita. Ou ao que pensamos serem caminhos públicos. Na verdade, esse estatuto vai-se desvanecendo aos poucos em Portugal da mesma maneira que os de outrora caminhos de serventia vão desaparecendo. Resta-nos, talvez, os passadiços, essas modernas autoestradas de madeira, de custos milionários, que se impõem indomavelmente nas mais diversas paisagens, sobre terrenos públicos e privados, às quais nada nem ninguém se opõe. Quem sabe não serão estes a solução para a preservação dos caminhos públicos! Já imaginaram uma Via Algarviana toda em passadiço, desde Alcoutim ao Cabo S. Vicente? .

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