REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #397

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ALGARVE INFORMATIVO 29 de julho, 2023

«O LIVRO DE PANTAGRUEL» DO TEATRO DO ELÉCTRICO FESTIVAL INTERNACIONAL DO CARACOL EM CASTRO MARIM | «FORA DA NORMA» | «CENAS NA RUA» 1 ALGARVE INFORMATIVO #397 «CONSEQÜÈNCIES» | «SALIR DO TEMPO - ÉPOCA ROMANA» | 30.º ALTICE ALGARVE CLASSIC CARS


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ÍNDICE Bairro Municipal de Loulé vai ser requalificado (pág. 22) Melhor futsal do mundo a caminho de Portimão (pág. 28) 30.º Altice Algarve Classic Cars (pág. 34) Festival Internacional do Caracol em Castro Marim (pág. 46) «O Livro de Pantagruel» do Teatro do Eléctrico (pág. 56) Salir no Tempo viajou à Roma Antiga (pág. 74) «Cenas na Rua» em Tavira (pág. 88) «Conseqüències» do Festival MOMI em Faro (pág. 100) «Fora da Norma» no Cineteatro Louletano (pág. 112)

OPINIÃO Mirian Tavares (pág. 124) Ana Isabel Soares (pág. 126) Fábio Jesuíno (pág. 128) Nuno Campos Inácio (pág. 130) Dora Gago (pág. 132)

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Bairro Municipal de Loulé vai ser requalificado Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina ão 18 as habitações que, numa primeira fase, vão ser requalificadas e ampliadas no Bairro Municipal Frederico Ulrich, em Loulé, no seguimento da assinatura do auto de consignação da obra, uma das mais importantes da Estratégia Local de Habitação do Município de Loulé, que teve lugar no dia 20 de julho. Foi no final da década de 40 do século ALGARVE INFORMATIVO #397

XX que nasceu o antigo bairro operário, com projeto do arquiteto louletano Manuel Maria Laginha de construção de 50 «casas económicas». Foi este, de resto, o trabalho apresentado pelo autor para obtenção do diploma de arquiteto na Escola de Belas Artes do Porto. Ao longo dos anos, os próprios agregados familiares foram edificando diversos acrescentos, já que as áreas eram diminutas, o que levou a uma degradação do bairro, ao nível da organização dos espaços, de salubridade e do 22


ordenamento urbano. Em 2000, realizaram-se no bairro obras profundas na rede de infraestruturas.

da arquitetura e do urbanismo”, sublinhou este arquiteto. Mantém-se a traça original e a

Os trabalhos que agora vão decorrer têm em vista a requalificação e ampliação, corrigindo problemas estruturais, como o isolamento térmico, mas também aumentando as áreas. Como explicou o autor do projeto, Luís Pires, os quartos saem do edifício existente para um “espaço próprio na parte tardoz da intervenção”.

“Essa habitabilidade hoje deve existir sempre para que possamos dar continuidade, não só às condições de vida dos moradores, como também perpetuar a história

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“mesma linguagem, os mesmos materiais e as mesmas características morfológicas”, do projeto inicial de Manuel Maria Laginha. Pretende-se com esta requalificação implementar estratégias que incentivem a integração social e assim potenciem a melhoria das condições de vida dos residentes do bairro e também da população da cidade de Loulé. E esta é uma das ações programadas no âmbito do acordo de colaboração celebrado entre o Município de Loulé e o Instituto da Habitação e Reabilitação (IHRU), em 2020, no âmbito do Programa 1.º Direito, com um investimento de perto de 3

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milhões de euros financiado pelo PRR – Plano de Recuperação e Resiliência, e com um prazo de construção de cerca de dois anos. “Estamos aqui a dar mais

um passo na nossa Estratégia Local de Habitação e esta é uma resposta, neste caso de reabilitação e ampliação, do principal e mais antigo núcleo urbano de natureza social existente na cidade de Loulé. Estas moradias estavam muito degradadas, com sobrelotação e as pessoas têm que viver com dignidade, é para isso que trabalhamos. É uma situação que há muitos anos sonhava ALGARVE INFORMATIVO #397

concretizar”, afirmou o presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo. Entretanto, enquanto decorrem as obras, os residentes ficarão alojados em casas adquiridas pelo Município. A empreitada significa também o arranque de um processo de renovação urbana numa área da cidade onde, além de outros aglomerados sociais, se encontra uma escola e o Estádio Municipal de Loulé. É ali que em breve também irá nascer o edifício para a investigação científica na área das Ciências Biomédicas, ABC – Algarve Biomedical Center, que será mais um polo importante para a requalificação urbana desta área de Loulé . 24


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Miguel Faro, Gonçalo Alves, Ricardo Vasconcelos, Isilda Gomes, João Pedro Gomes e Bernardo Ribeiro

O melhor futsal do mundo abre a temporada em Portimão Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina campeão europeu em título, Maiorca Palma Futsal (Espanha) juntase ao atual detentor do troféu, Sporting, e às potências nacionais Benfica e Braga, bem como ao Kairat Almaty (Cazaquistão) e ao Anderlecht (Bélgica), para mais uma edição do Record International Masters Futsal. Entre 23 e 27 de agosto, a competição avança para um modelo inédito, com seis equipas e nove jogos, quatro deles a reeditarem a Final Four da última Liga ALGARVE INFORMATIVO #397

dos Campeões, estreando igualmente um fórum de discussão da modalidade, o Record Summit Masters Futsal, que partilhará conhecimento através dos principais protagonistas globais do treino, como, por exemplo, os seis treinadores presentes nesta edição e ainda com a intervenção do atual selecionador nacional, Jorge Braz. O melhor futsal do mundo está assim de regresso a Portimão, num evento que lança a temporada internacional com grandes equipas e os nomes maiores da modalidade e que foi formalmente apresentado, no dia 18 de julho, no 28


TEMPO – Teatro Municipal de Portimão, com a participação de Miguel Faro (Sporting Clube de Portugal), Gonçalo Alves (Sport Lisboa e Benfica) e Ricardo Vasconcelos (Sporting Clube de Braga), assim como de Isilda Gomes, Presidente da Câmara Municipal de Portimão, João Pedro Gomes, vice-presidente da Associação de Futebol do Algarve, e Bernardo Ribeiro, diretor do Record.

“São seis anos em que vivemos muitas dificuldades, mas também muitas alegrias, mas sabemos que é extremamente importante desenvolver mais o turismo desportivo. É um nicho de mercado que ainda não estamos a conseguir atingir plenamente e a promoção de um território hoje faz-se de diversas formas, e não

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apenas através do sol e praia. Portimão é uma cidade e um concelho bastante atrativo, com turismo gastronómico, cultural, histórico, desportivo”, afirmou a edil Isilda Gomes. “Temos a sorte de, em Portimão, sabermos receber as pessoas. A simpatia não se compra, e este torneio, agora com seis equipas, ainda vai trazer mais gente para conhecer este território, que depois vai levar consigo para a sua terra, para os seus familiares e amigos, a informação do destino turístico onde esteve. Desde que fomos Cidade Europeia do Desporto nunca mais paramos e continuaremos a desenvolver o

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desporto. O Masters já faz parte do nosso calendário e esperemos que, para o próximo ano, continuemos a ter condições para prosseguir com este trabalho”, frisou a presidente da Câmara Municipal de Portimão, que lembrou ainda que vários clubes e associações passaram a ter a modalidade do futsal nos últimos anos. João Pedro Gomes, vice-presidente da Associação de Futebol do Algarve, confirmou estarmos “perante um

evento que privilegia o Algarve, a Associação de Futebol do Algarve e o país, com momentos de futsal que normalmente têm réplica na Liga dos Campeões e que são o máximo dos máximos dos jogos a ALGARVE INFORMATIVO #397

que podemos assistir”. Já Bernardo Ribeiro, diretor do jornal Record, não tem dúvidas ao afirmar que “este é o

melhor torneio de futsal do Mundo”. “Mais uma vez é um privilégio para o Sporting participar neste torneio que, como já foi referido, é cada vez mais o melhor torneio de pré-época e, quiçá, o melhor torneio de futsal do Mundo. Parabéns à Sigma Stars e ao Record pela audácia de passar a seis equipas e, quem sabe, de ter ainda mais equipas no futuro, reforçando este torneio de elite”, declarou Miguel Faro, representante do Sporting Clube de Portugal, adiantando que “as expetativas do Sporting

são sempre as mesmas que 30


apresentamos em qualquer competição, para mais sendo os detentores do título”. “Queremos terminar a preparação para uma época que se antevê difícil e competitiva e a melhor forma será fazê-lo com o troféu do melhor torneio de futsal do Mundo”, apontou Miguel Faro. Para Gonçalo Alves, do Benfica, “o

torneio dispensa apresentações, porque estão as quatro equipas da Final Four da Liga dos Campeões”. “Temos também o Braga, que com todo o mérito está aqui presente, mas queremos acabar a pré-época da melhor forma, se possível com uma vitória, que é sempre o objetivo do Benfica. Este torneio tem uma grande importância nacional e internacional e há muita gente que já fala de Portimão por causa dele, e marca mesmo hotel com antecedência. Temos de estar entre a elite se queremos ser a melhor equipa do Mundo e é uma honra jogar contra os melhores, 31

evoluir e avaliar o momento em que estamos”, sublinhou Gonçalo Alves. Também Ricardo Vasconcelos, do SC Braga, elogiou “o melhor torneio

do Mundo de futsal, numa modalidade que tem muito para crescer e para dar”. “O projeto de futsal do SC Braga é lindíssimo e sabemos qual é a nossa grandeza. Por vezes é difícil competir com aqueles que são maiores do que nós, mas acreditamos que é possível e que estamos a crescer. Este torneio é um bom início de época para nós, para que no final possamos cumprir os nossos objetivos”, afirmou o representante do estreante nacional nesta competição. O calendário do Record Internacional Masters Futsal arranca, no dia 23 de agosto, com as partidas do SC Braga vs Palma Futsal (18h) e do Sporting CP vs Kairat Almaty (21h30), prosseguindo, no dia 24, com o SC Braga vs Anderlecht Futsal (18h) e o Kairat Almaty vs SL Benfica (21h30). A sexta-feira, 25 de agosto, está reservada para o Record Summit Masters Futsal, também a acontecer no Portimão Arena. As partidas retomam no sábado, 26 de agosto, com o SL Benfica vs Maiorca Palma Futsal (11h), Sporting CP vs Anderlecht Futsal (15h) e o SC Braga vs Kairat Almaty (18h30). Finalmente, no dia 27, teremos o SL Benfica vs Anderlecht Futsal (11h) e o Sporting vs Maiorca Palma Futsal (15h), com a entrega dos prémios a ter lugar logo de seguida .

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Sancho Ramalho e Rui Martins venceram Altice – Algarve Classic Cars 2023 Texto: Daniel Pina| Fotografia: Bernardo Lúcio ancho Ramalho e Rui Martins venceram a 30.ª edição do Altice – Algarve Classic Cars, prova que contou com mais de 100 exemplares em competição, sendo considerado o maior rali de regularidade de automóveis clássicos em Portugal. Aos comandos de um Alfa Romeo Giulia TI de 1965, a dupla foi superior na classificação geral ponderada deste evento organizado pelo Portugal Classic em conjunto com o ALGARVE INFORMATIVO #397

Clube Português de Automóveis Antigos e que teve lugar nos dias 15 e 16 de julho. Os vencedores da prova do percurso desportivo, na categoria C, foram o piloto António Viegas e a navegadora Maria Bernardete Viegas, com um Ford A Tudor de 1930, na Categoria E destacou-se o piloto Eduardo Neves e o navegador António Caldeira, em Jaguar XK 120 de 1965, e na Categoria F dominaram então o piloto Sancho Ramalho e o navegador Rui Martins. Na Categoria G, os primeiros 34


foram o piloto Pedro Leal Machado e o navegador Gonçalo Ribeiro Pinto, em BMW 1602 de 1973, enquanto o piloto Hugo Norton e o navegador Ivo Tavares, em Range Rover, ganharam a Categoria H. O público foi uma constante em todo o evento, quer na Marina de Vilamoura, como nos locais de partida e chegada das etapas, com destaque para Albufeira, Armação de Pêra, São Brás de Alportel e Tavira. A comemoração dos 30 anos do evento no Casino de Vilamoura foi um dos momentos de maior emoção durante

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o fim de semana, com a comissão organizadora a passar o testemunho aos jovens, que encheram o palco do Casino e, através de vários discursos, transmitiram o seu pensamento para o futuro do Algarve Classic Cars e a sua visão para o futuro dos clássicos. O Altice – Algarve Classic Cars é considerado um dos principais eventos a nível internacional de automóveis clássicos, pelas suas características únicas, com base numa das Marinas mais premiadas da Europa e com um programa de elevada qualidade nas vertentes turística e desportiva .

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Festival Internacional do Caracol animou Revelim de Santo António Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina e Município de Castro Marim e 21 a 23 de julho, o caracol foi rei na Colina do Revelim de Santo António, em Castro Marim, temperado com «o melhor sal do mundo» e acompanhado de um variado programa de animação, num dos melhores lugares do território para se assistir ao pôr-do-sol, com uma vista privilegiada sobre o Rio Guadiana e sobre a Reserva Natural de Vila Real de Santo António e Castro Marim. O programa contou com a animação de ALGARVE INFORMATIVO #397

rua dos «Pardais à Solta» a abrir os três dias do evento, sendo que, pelo palco principal, passaram o espetáculo musical dos «Fado Tropical»; a peça de teatro «Art’rite», pelo grupo de teatro amador do Centro de Cultura e Desporto da Câmara Municipal de Castro Marim; o Duo «Amar Guitarra», com João Cuña e Pedro Mendes «Pierre»; o concerto de «Los Romeros», um trio que nasceu no Alentejo e que se dedica, há uma década, a reinventar as músicas com a sonoridade da rumba e a criar originais únicos; a música tradicional alentejana com Pedro Mestre; e Tiago Silva, cantor popular e finalista do «The Voice Portugal 2020». 46


Na senda de tornar os seus eventos mais ecológicos e amigos do ambiente, reduzindo a produção de resíduos, este foi também mais um Festival com Eco 47

Copo. O Festival Internacional do Caracol foi uma organização do Município de Castro Marim, contando com a colaboração de muitas associações do concelho . ALGARVE INFORMATIVO #397


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«O LIVRO DE PANTAGRUEL» DO TEATRO DO ELÉCTRICO D Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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» É O NOVO ESTRONDO DE RICARDO NEVES-NEVES

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nova criação de Ricardo NevesNeves e Filipe Raposo, «O Livro de Pantagruel», estreou, no dia 6 de julho, no Teatro São Luiz, em Lisboa, rumando depois a Loulé para uma dupla sessão de lotação esgotada no Cineteatro Louletano, nos dias 22 e 23 de julho. Com interpretação de Andreia Valles, António Ignês, Célia Teixeira, Diogo Fernandes, Eliana Lima, Inês Cotrim, Juliana Campos, Rafael Gomes, Rita Carolina Silva, Ruben Madureira, Sandra Faleiro e Sissi Martins, a nova produção é um verdadeiro estrondo e, sem dúvida, a peça mais «dark» do dramaturgo e encenador quarteirense. Depois de «Banda Sonora» e «A Reconquista de Olivenza», Ricardo Neves-Neves volta a encontrar-se com o ALGARVE INFORMATIVO #397

pianista e compositor Filipe Raposo e a Orquestra Metropolitana de Lisboa e criam um universo de fantasia, cheio de delírios e extravagâncias, de humor negro e de muitas outras tonalidades. “É

sobre canibalismo, este espetáculo, literal ou nem por isso. E sobre a manipulação do corpo humano e a manipulação do outro. É sobre vingança e sobre amor, por mais cruel que ele possa ser. Não falta traição a este enredo, mas também há bastante romantismo”, descreve Ricardo NevesNeves. Com inspiração em histórias como as de Gargântua e Pantagruel, Hansel e Gretel, Sweeney Todd, Drácula, Frankenstein e tantos outros, a cena enche-se de pequenos e grandes monstros tão divertidos como assustadores: uma 58


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Pantagruel de saltos altos, baton vermelho e cabelo armado; um jovem Nosferatu em estágio profissional; um Hansel rockabilly e uma Gretel pronta para jogos de sobrevivência; dois fetos de gémeos com memórias de vidas passadas na Euribor. Pelo caminho, dão-se receitas para a confeção de marujos e moralistas em princípio de carreira, de punhos de sindicalista, de ervilhas com olhos escalfados e de outras iguarias canibais que tais. “É tempo de devoração e

degustação, deglutição e digestão. A refeição está servida, bom apetite”, convida Ricardo Neves-Neves. Ao elenco do Teatro do Eléctrico juntam-se os músicos Ana Filipa Serrão (Violino), Clarisse Gomes (Flauta), Daniel Faria (Fagote), Daniela Brito (Violoncelo), David Pereira (Percussão), Luís Mota ALGARVE INFORMATIVO #397

(Trompa), Fátima Juvandes (Percussão), Filipe Coelho (Trompete), Ricardo Alves (Trompa), Ricardo Mateus (Viola), Romeu Santos (Contrabaixo), Ruben Jacinto (Clarinete), Salvador Parola (Oboé) e Sara Llano (Violino), sob a batuta do Maestro Rui Pinheiro e com Direção Vocal de João Henriques. Os figurinos são de Rafaela Mapril, com confeção de Ana Baltar, Ana Santos, Isabel Telinho, Margarida Silva e Sara Horta, e o cenário é de Henrique Ralheta. «O Livro de Pantagruel» é uma coprodução do Teatro São Luiz, Teatro do Eléctrico, Cineteatro Louletano e Culturproject. O Teatro do Eléctrico é uma estrutura apoiada pela República Portuguesa – Cultura / Direção Geral das Artes, pelo Cineteatro Louletano/Câmara Municipal de Loulé e pela Câmara Municipal de Lisboa / Polo Cultural Gaivotas | Boavista . 60


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SALIR «VIAJOU» AOS TEMPOS DA ROMA ANTIGA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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os dias 21, 22 e 23 de julho, a vila de Salir, no interior do concelho de Loulé, recebeu o «Salir no Tempo – Época Romana», evento dedicado à Roma Antiga, depois de vários anos a apresentar uma recriação histórica da Idade Média e do tempo em que Cristãos e Muçulmanos disputavam a região mais a sul de Portugal. Roma Antiga foi uma civilização itálica que surgiu no século VIII a.C. Localizada ao longo do mar Mediterrâneo e centrada na cidade de Roma, na Península Itálica, expandiu-se para se tornar um dos maiores impérios do mundo antigo. Foi a

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partir desta época áurea que a Câmara Municipal de Loulé recriou, uma vez mais, em Salir, um festival em que as ruas da pacata vila transportaram o peso da História, em particular a presença desta civilização no território nacional. O Algarve não foi exceção e Vilamoura, com o importante vicus localizado na Estação Arqueológica do Cerro da Vila, é um bom exemplo dessa presença. Durante três dias, Salir encheu-se de figurantes vestidos a rigor, com roupas da época que também podiam ser alugadas pelos visitantes. Espaços como uma villae romana, a arena onde decorreram espetáculos de gladiadores, acampamentos das legiões, a «corte» do imperador e a sua guarda de honra,

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danças com as «escravas do Oriente», um mercado romano onde eram vendidos produtos consumidos na época, artes performativas com espetáculos de fogo, circo ou cobras, um funeral romano e naturalmente, um espaço de «comes e bebes» com o melhor da gastronomia do período romano onde não faltou, por exemplo, o mingau (prato feio à base de aveia) ou carnes grelhadas, muitos eram, de facto, os pontos de animação. A

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imagem de Salir ganhou, por isso, vida com as cores vermelha, branca, preta e dourada de uma decoração poderosa que remeteu também o visitante para o período de ocupação romana, transmitindo o retrato de uma época e de uma civilização que marcou a nossa identidade, em termos da Língua, da Cultura, da Arquitetura, da Agricultura ou do Direito .

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«CENAS NA RUA» ENCHEU TAVIRA DE MAGIA E ALEGRIA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Município de Tavira

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Festival Internacional de Teatro e Artes na Rua de Tavira – Cenas na Rua esteve em destaque, de 5 a 16 de julho, na programação cultural «Verão em Tavira», com os objetivos de assegurar a fruição cultural e de divulgar diferentes disciplinas e géneros artísticos, como poesia, comédia, cinema, música, teatro, novo circo, malabarismo, dança, assim como dar a conhecer e permitir uma nova leitura sobre a cidade de Tavira. No dia 6, a Praça da República recebeu «Banan’O’Rama» de Mr. Banana, um ALGARVE INFORMATIVO #397

espetáculo único vindo diretamente do Canadá que, através do teatro físico e da mímica, passa uma mensagem que pode ser entendida em todo o mundo. O clímax são os números de equilíbrio, com o artista a brincar com os espectadores, assim como com as diferentes cores do seu número. No dia 7 foi a vez do Parque do Palácio da Galeria assistir a «Bye Bye, Confetti» da companhia espanhola La Baldufa, em que três palhaços lamentam a morte do seu líder, Confetti, com a ausência do pai que os guiava a ser notória. O vazio que deixou parece absoluto, a falta de liderança incomoda-os, oprime-os, mortifica-os. É uma desolação e alguém vai ter que o substituir e, assim que o 90


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duelo termina, começa a correria para encontrar um novo guia. «Bye bye, Confetti» é um espetáculo de palhaços extravagantes e autênticos, no qual meias medidas não têm lugar. É, de facto, humor e amor em partes iguais, mas, acima de tudo, surpresa e estupefação, num espaço onde público e atores respiram as mesmas emoções. No dia 9, foi a vez da companhia

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louletana Ao Luar Teatro levar «O Urso e outros dois» ao Alto de São Brás. A história gira em torno de uma viúva e de um credor, com uma trama amorosa que revela a suscetibilidade humana numa acutilante crítica social. Trata-se de uma comédia de costumes que brinca com a guerra dos sexos, ao mesmo tempo em que expõe as mazelas de uma sociedade regida por uma moral frágil e repressiva.

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«CONSEQÜÈNCIES» DESLUMBROU JARDIM DA ALAMEDA, EM FARO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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nosso baú de recordações da segunda edição do MOMI – Festival Internacional de Teatro Físico Algarve, organizado pelo JAT – Janela Aberta Teatro, encerra com a reportagem de «Conseqüències», da Cia. Moveo (Espanha), que encheu de alegria e movimento o Jardim da Alameda, em Faro, no dia 11 de junho. Com Direção Artística e Encenação de Stéphane Lévy, o espetáculo contou com a interpretação de Agnès Jabbour, Xavi Palomino/Neilor Moreno, Siziana Reiser, Pino Steiner e Adrià Viñas, numa Produção da Moveo e coprodução do Festival Fira Tàrrega – Festival Internacional do Teatro de Rua Imaginarius (Portugal), com o apoio do CC Barceloneta. «Conseqüències» é um trabalho irónico e alegre sobre a possibilidade de estar ALGARVE INFORMATIVO #397

fora do lugar, desatualizado, de ter um atraso no tempo e as consequências que derivam desse estado. Depois de «Tu Vas Tomber!» (Melhor Espetáculo de Dança, Feira Internacional de Huesca'15 e Prémio Festival Imaginarius'16), a Cia. Moveo continua a esbater a linha entre o ator e o espectador e a explorar as fronteiras entre a realidade e a ficção. Um caminho que continua a ser de excelência, com «Conseqüències» a vencer o Prémio Moritz FiraTàrrega'17 de Melhor Estreia de Artes de Rua e o Prémio Dansacat 2020 de Melhor Coreografia, num espetáculo para todos os públicos que explora, através do movimento, as relações entre o real e imaginário e a rapidez do tempo em que vivemos quotidianamente. A companhia sediada em Barcelona cria espetáculos que, por via de um trabalho corporal delicado e uma grande narrativa poética, demonstram a força comunicativa em palco e no espaço público . 102


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RESIDÊNCIA ARTÍSTICA «FORA DA NORMA» TERMINOU COM ESPETÁCULO EMOTIVO NO CINETEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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projeto Fora da Norma de Diana Niepce permite um encontro experimental em que se propõe o questionamento da norma e, em simultâneo, se desmistifica o corpo fora da norma, com os artistas a terem acesso a novas relações com a criação artística. Depois de uma residência artística que teve lugar no Palácio Gama Lobo e no Cineteatro Louletano, a principal sala de espetáculos do concelho de Loulé assistiu, no dia 13 de julho, ao resultado performativo do ALGARVE INFORMATIVO #397

trabalho realizado por Inês Gonçalves e Mélanie Monteiro. De acordo com a coreógrafa, o artista que contesta a norma evoca, através da sua simples presença, um lugar único que a afasta da sua própria história. “Ainda

estamos à procura de representatividade no setor. Não queremos continuar a ser invalidados: figuras de pena, representados sob um padrão, humanos inferiores no mundo performativo, presos à norma que dita eficiência e enfatiza o 114


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contraste da norma do fora da norma”, declara Diana Niepce. “Aqui não há exploração, há experiência e experimentalismo, que não devem ser dissociados da força e voz que contribui para a mudança que o mundo precisa para reformular a linguagem capacitista implícita no modelo neoliberal das artes. Propagar assunções erradas do corpo fora da norma aproximanos dos conceitos de arte vítima, observar um herói, a falácia do inspiracional. Aqui urge um novo lugar”, acrescenta a Diretora Artística.

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«Fora da Norma» foi uma criação de Inês Gonçalves e Mélanie Monteiro, que tiveram como formadores Beatriz Soares Dias, Cláudia Jardim, Cristóvão Campos, Daniel Matos, Diana Niepce, Gonçalo Alegria e Maurícia Barreira Neves. Foi uma produção da Produção d’Fusão | Patrícia Soares e Filipe Metelo, com coprodução do Cineteatro Louletano, tendo contado com os apoios da Direção Geral das Artes – Ministério da Cultura, da Câmara Municipal de Lisboa – Biblioteca de Marvila, e das Bolsas de Criação – Terra Amarela e SIC Esperança.

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Terra estrangeira Mirian Tavares (Professora) Oh, sim, eu estou tão cansado Mas não pra dizer Que eu não acredito mais em você Com minhas calças vermelhas Meu casaco de general Cheio de anéis Vou descendo por todas as ruas E vou tomar aquele velho navio (…) Vapor Barato, Jards Macale e Waly Salomão enho dupla nacionalidade. Já vivi em Portugal metade da minha vida e, mesmo assim, de vez em quando alguém me lembra de que sou estrangeira. Que serei sempre estrangeira, não importam os anos que tenha vivido por cá. O que, de um modo geral, não me incomoda – conheço minha condição. Não de estrangeira, mas de cosmopolita, de alguém que vive no mundo, mesmo que o mundo, seja quase sempre, o espaço ao nosso redor. “Moro no Menino de Deus, do qual Porto Alegre é apenas o que há em volta”. O escritor Caio Fernando Abreu, que escolheu um autoexílio dentro do próprio país, fala de sua cidade, que não é o todo que está em volta, mas seu cantinho, seu bairro, seu microcosmo. E assim resume a nossa relação com o espaço – ela é metonímica. Criamos a nossa própria cartografia, que se compõe de fragmentos que montamos através do traçado do nosso desejo. Saio do bairro se meu desejo está além, mas ALGARVE INFORMATIVO #397

minha casa, minha cidade é bem mais pequena e circunscrita não só geográfica, mas também emocionalmente. Há uns anos, Walter Sales fez uma viagem a Lisboa no seu filme Terra Estrangeira. Seus personagens escolhem Lisboa como destino para um autoexílio após uma grande desilusão com seu próprio país. Lisboa é estrangeira, mas é também a cidade mãe, centro de um país que partiu para o atlântico e desbravou uma novavelha terra. É, de alguma maneira, uma terra não estrangeira, uma doce recordação, um déjà-vu. “Ai como eu queria tanto agora ter uma alma portuguesa para te aconchegar ao meu seio e te poupar esta futuras dores dilaceradas”*. Mas ao chegar a Lisboa, aqueles que vieram, talvez para ficar, sentem-se como se estivessem “por fora do movimento da vida” e parece que desaprenderam “a linguagem dos outros”. Há um código especial que eles não conhecem. Há uma palavra-passe que não lhes foi fornecida. E a cidade, tão grande, faz com que eles se misturem no mundo dos invisíveis, que passam pelas 124


Foto: Vasco Célio

ruas e ninguém os vê. Ninguém cumprimenta, ninguém conhece. É uma existência que nega a própria existência. É como se o corpo se fundisse ao passeio. E os olhos do invisível, não vê a cidade nova que se está a sua frente, mas vê o porto, o Atlântico, tão imenso, atravessado na garganta de uma dor que não consegue falar. E o filme mostra Lisboa fragmentada, marginal, magnífica quando distante, intangível. E os personagens correm para a praia. E um 125

navio, ao longe, parte ou chega. Partir e chegar, como diz a canção, são só dois lados de uma mesma viagem. Moro no menino de Deus... Todos moramos no Menino de Deus, de alguma maneira. E o mundo é apenas o que há em volta . *Trechos retirados do conto «Dama da Noite» de Caio Fernando Abreu

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Octogésima tabuinha: Joelho (XXIII) Ana Isabel Soares(Professora) ara a Heidi Beck – obrigada! Pensar no corpo humano como a estrutura complexa que é implica ir além do uso de metáforas e entender temas que não estão necessariamente ao meu alcance. Leio, num artigo recente do New York Times (que uma querida aluna, sabendo deste monotema, me fez chegar: basta atentar num tópico durante mais do que o habitual e ele parece aumentar a frequência com que surge à minha volta) que uma das maleitas mais comuns nas atletas de futebol é a rotura do ligamento anterior cruzado (LAC), elemento crucial – et pour cause – do joelho. A peça jornalística, da autoria de Rory Smith, chama-se «A Maldição que Persegue o Futebol Feminino» («The Curse Stalking Women’s Soccer») e terá sido suscitada porque decorre até 20 de agosto a nona edição do Mundial de Futebol Feminino, organizada pela Federação Internacional de Futebol (FIFA) e realizada a cada quatro anos (este ano, conjuntamente pela Austrália e pela Nova Zelândia – por isso, as «Navegadoras», a brava seleção portuguesa, tem jogado com temperaturas de Inverno e os relatos chegam a este cantinho a horas estranhas). Prolonga-se à extensão de um pequeno artigo científico, vai exigindo de quem lê alguma pesquisa à parte e recompensa com descobertas sobre ALGARVE INFORMATIVO #397

aspectos anatómicos, mas também culturais e sociológicos. Abre com a referência a Megan Rapinoe, jogadora norte-americana, líder da seleção dos Estados Unidos nas Olimpíadas de 2012, e à sua terceira rotura do LAC, em 2015 (que, diz-se ali, não lhe causou mais do que um rolar de olhos, no que me põe a pensar como as palavras sugerem que o corpo humano anda todo ligado e que um toque no joelho se reflete cá em cima, nos globos oculares). A lesão não impediu a atleta de protagonizar competições e de ganhar prémios: “Profissionalizou-se. [...] Representou o seu país. Ganhou uma medalha de ouro nas Olimpíadas. [...] Jogou em dois Mundiais. Ganhou um deles”. É aborrecida (à terceira, “fá-la rolar os olhos”), mas perturbam por aí além uma carreira. Ou então, sim: outros casos apontados no artigo, entre nomes sonantes da competição, são os de Catarina Macario (avançada norteamericana), da atacante neerlandesa Vivianne Miedema, de Leah Williamson e de Beth Mead, jogadoras britânicas, de Janine Beckie, do Canadá (a atual seleção campeã olímpica), ou de Delphine Cascarino e Marie-Antoinette Katoto, da seleção francesa, todas impedidas de jogar neste Mundial devido a lesões no LAC; e o mais trágico dos relatados, o da britânica Claire Rafferty, que, aos 30 anos de idade e ao fim de três lesões, decidiu 126


abandonar o futebol devido ao medo que sentia assim que entrava no campo. O problema afeta tantas atletas que a «maldição» do título ganha a dimensão de epidemia. Mas, mais do que concentrar-se nos aspectos médicos da lesão (sobre os quais também informa), o artigo de Rory Smith leva a considerações acerca das condições desportivas em que estas atletas competem e acerca daquela que está talvez na origem de parte destas (e doutras) lesões: a desigualdade do desporto quando se chega à grande questão dos géneros. Desde logo, por exemplo, a inexistência de calçado próprio para a anatomia feminina, cujo pé, diz-se, tende a ter “o calcanhar mais estreito que o masculino, a zona dos dedos mais larga” (até saltei da cadeira ao ler isto: por que raios nos convencem da «elegância» de sapatos de bico fino...?), a “planta do pé mais elevada” (“higher arches “); e tende, além do mais, a sofrer mais alterações ao longo do tempo do que o pé masculino, sobretudo “durante e após a gravidez” (pudera...). Algumas pesquisas científicas levadas a cabo, pelo menos no que o artigo refere, por uma empresa especializada em calçado desportivo para mulheres, provaram que o pé feminino “‘interage de maneira diferente com o solo’” (terão as mulheres, afinal, os pés menos assentes na terra...?) e é “mais suscetível a lesões crónicas e agudas, que incluem a rotura do LAC”. Mas não é só a anatomia que potencia lesões. Este meu interesse pelo joelho, aliado à coincidência do Mundial de Futebol 127

Foto: Vasco Célio

Feminino que agora decorre, levou-me ainda a refletir, através deste artigo, nas diferenças de condições estruturais disponíveis para as atletas de alta competição: por serem divisões e equipas com menos meios (patrocínios menos chorudos, menores apoios oficiais), não têm direito, por exemplo, a voos especialmente agendados – ou seja, sujeitam-se a horários e a durações de voo que imagino mais extenuantes do que no caso das equipas masculinas congéneres (penso logo nas deslocações das atletas portuguesas e outras da Europa Ocidental até aos Antípodas, onde agora jogam) – e, além do mais, estão condenadas a jogar em relvados igualmente menos bondosos, de relva sintética, ou cuja manutenção fica abaixo da que é dedicada às seleções de homens. A interação destes pés propensos a lesões com a terra mal preparada alcança mais longe do que apenas o toque de um membro no solo . O artigo de Rory Smith pode ser lido através desta ligação: https://www.nytimes.com/2023/07/19/spo rts/soccer/womens-world-cup-soccerALGARVE INFORMATIVO #397


Agricultura 4.0: A nova Revolução Agrícola Fábio Jesuíno (Empresário) agricultura tem vindo a evoluir tecnologicamente, tornando-se cada vez mais digital, acompanhando uma tendência dos restantes sectores económicos. Num futuro cada vez mais global, presenciamos uma completa digitalização dos fluxos económicos. Essa transformação digital deu origem a uma nova realidade que mudou as práticas das empresas, melhorando a sua competitividade. Atualmente, o mercado agrícola apresenta níveis de crescimento económico muito elevado, transformando-se num dos principais sectores da economia mundial. Com o crescimento da população global em permanência, a procura de alimentos vai continuar a aumentar muito rapidamente, criando assim vários desafios e oportunidades na produção de alimentos, potenciando este sector como um dos mais seguros e rentáveis em termos de investimento, apetecível para investidores das mais diversas áreas e com grande potencial de melhoria em termos de inovação.

utilizada pelos seres humanos são destinados à agricultura, e esta ocupa a maior proporção de uso da terra, torna-se importantíssimo que a revolução 4.0 passe também por uso de produção mais sustentável, com o objetivo de reduzir o impacto da agricultura sobre o ambiente. Uma revolução agrícola caracterizada por uma necessidade global de melhoramento dos processos de produção, tonando-os mais eficientes e ecologicamente responsáveis. A agricultura ainda não alcançou todo o seu potencial em termos tecnológicos, mas tem evoluído significativamente, impulsionada pelos investimentos na transformação digital. Uma evolução que traz um benefício global, proporcionando um significativo impacto social. A agricultura 4.0 já apresenta resultados positivos ao utilizar tecnologias que permitem o monitoramento das atividades no campo em tempo real, possibilitando uma melhor otimização dos recursos e uma maior rentabilidade da produção. Essas abordagens fazem com que as atividades agrícolas consigam melhores recursos financeiros para serem reinvestidos em inovação. A revolução da agricultura 4.0 chegou para ficar e o seu impacto já se faz sentir

Tendo em conta que dois terços da água ALGARVE INFORMATIVO #397

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em todo o mundo. Em Portugal, os agricultores já assumem um papel de destaque como impulsionadores dessa transformação, existindo cada vez mais exemplos de sucesso que o comprovam. No futuro da economia global, a agricultura vai-se destacar como um dos principais setores impulsionadores de crescimento e inovação .

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Os novos filhos d’algo Nuno Campos Inácio (Editor e escritor) ortugal é apontado como um dos países mais antigos da Europa, por ser daqueles que tem as suas fronteiras consolidadas há mais tempo. Com cerca de nove séculos de história, construiu um leque de estratificações sociais que nenhuma evolução ou revolução consegue burilar. Podemos dividir a organização social em duas monumentais escadarias: títulos e filhos d’algo. Ao longo do período monárquico foram imensos os títulos nobiliárquicos atribuídos para dispor os privilegiados na sociedade, dando a cada uma posição, qual jogo de xadrez: Na Casa Real tivemos Rei/Rainha, Príncipe Real, Príncipe/Princesa, Infante, Duque-Parente, Marquês-Parente, CondeParente; Na Nobreza Titulada destacavam-se os títulos de Duque Real, Duque, Marquês, Conde, Visconde, Barão; Não sendo propriamente nobreza, mas com privilégios idênticos tínhamos os Senhorios; Na Fidalguia encontramos os insignes Fidalgo Cavaleiro, Fidalgo Escudeiro, Moços-Fidalgos, Cavaleiro Fidalgo, Escudeiro Fidalgo, Moço da Câmara, Escudeiro, Cavaleiro. ALGARVE INFORMATIVO #397

Com as ideias do iluminismo e do liberalismo, iniciou-se um ataque à estratificação privilegiada das sociedades. Todos deveriam nascer em pé de igualdade e ascender por si. Na teoria parece um princípio interessante, mas foi incapaz de remover a necessidade social de diferenciar os homens em função de um qualquer título. Com a implantação da República, os Comendadores passaram a ocupar o lugar dos antigos Condes, Viscondes e Barões do Liberalismo, também com uma hierarquia curiosa: Comendador, Oficial, Cavaleiro e MembroHonorário. Já não recebem um brasão para colocar no frontispício de casa, mas recebem um colar ou uma medalha que podem emoldurar a decorar a sala. Os Presidentes de Câmara substituíram os senhorios, principalmente nos tiques de vassalagem que muitos exigem. Para compor o ramalhete das distinções sociais, que evidenciam a colocação num degrau diferente e mais honroso, surgiram os doutores e engenheiros, títulos inicialmente dependentes de um grau académico, mas que no presente parece que se transformou num acto de cortesia. Esta escadaria sempre se fez projectar numa outra, dependente desta, mas com efeitos mais perversos. É a escadaria dos Fidalgos, ou dos «filhos d’algo». Se é certo que a República tinha como principal objectivo o aniquilar da fidalguia, não menos correcto afirmar que, mais de um século depois da implantação do regime 130


repúblico e passado meio século sobre a revolução de Abril, assistimos ao surgimento de uma fidalguia rebuscada, mas muito mais sinistra, por se mover nos meandros obscuros do poder, mascarando-se de democrática. De um momento para o outro, somos surpreendidos pela ascensão social e política dos novos «filhos d’algo». Os novos «filhos d’algo» são aqueles que conseguem chegar ao topo dos poderes de decisão tendo como principal feito curricular o facto de ser filho de alguém que exerce ou exerceu um cargo de poder. Se, no antigo regime, essa ascensão era natural, assumida e espectável, actualmente dá muito mais trabalho e requer algum investimento de médio ou longo prazo. O detentor do poder, além de organizar a sua vida e a coisa pública, tem de construir os andaimes por onde anda o «filho d’algo», preferencialmente 131

transmitindo sempre uma ideia de democracia. Internamente, cada um na sua organização partidária, tenta garantir que o «filho d’algo» ocupa um lugar de destaque na organização interna, ascendendo de posição a cada eleição, com o enriquecimento curricular o cargo anterior. Depois pede a um comparsa que nomeie o «filho d’algo» para um cargo qualquer, discreto, só para enriquecimento curricular e para dar vantagem em concursos futuros pela experiência profissional. Assim, passo a passo, sem grande esforço e muito pouca capacidade ou competência, o «filho d’algo» atinge uma dimensão que lhe permitirá vir a ser o que quiser. Mudam-se os tempos, mudam-se os personagens, mas nunca mudam as vontades .

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Este sangue que nos une Dora Gago (Professora) or estranho que pareça, o meu grupo sanguíneo foi para mim um mistério durante bastante tempo. Além disso, durante a infância, por vezes, pensava que era uma extraterrestre, oriunda de um planeta qualquer remoto. Isto creio que terá acontecido a partir do momento em que vi pela primeira vez desenhos animados do super-homem. Ele tinha vindo também de um outro planeta e, quando menos se esperava, os seus super-poderes despertavam. Mas nem se quer era isso que me seduzia, mas sim o seu teor extra terráqueo com o qual imediatamente me identifiquei. Suponho que fosse já a minha propensão de outsider, de alguém sempre um pouco ao lado, na margem ou nas margens, na periferia, independentemente do centro, que será sempre o dos poderes. Já nessa altura sentia muitas vezes não encaixar no mundo circundante. Por isso, achava que vinda de outro planeta tinha por capricho do destino aterrado no barrocal algarvio, no Peral, um pequeno sítio do concelho de São Brás de Alportel. Contudo, foi largas décadas depois que este meu aparentemente absurdo pressentimento de infância ganhou alicerces, uma raiz. Muito antes de ir para Macau tinha pedido para saber o meu grupo sanguíneo, através de umas análises, mas ALGARVE INFORMATIVO #397

o resultado vinha num impresso que, acidentalmente se danificou, mas que me levaria a acreditar ser o O positivo – algo improvável sendo filha de mãe A positivo e de pai B negativo, mas …. Passado tempo, já em Macau, aquando de uns exames de rotina pedi novamente para saber o grupo sanguíneo. A enfermeira mostrou-se surpreendida com o pedido e expliquei-lhe o caso. A resposta dela foi que seria impossível o meu grupo ser O. Ao que eu acrescentei, em tom de brincadeira: “a menos que seja extraterrestre, não?”. Ela riu-se e concordou. Passados dias, chegaram os resultados. A enfermeira telefonou-me e o diálogo que tivemos em inglês foi digno de figurar para a posteridade: It is incredible, but your blood is O!! (É incrível, o seu sangue é O), “Oh my God, so am I an alien??!”. (Oh, meu Deus, então sou uma extraterrestre?). Yes, Indeed! (Sim, certamente!) E gargalhada final. Deste modo, a confirmação do meu estatuto de alienígena foi feita e enfermeiramente atestada, a onze mil quilómetros da minha terra de origem, o que me pareceu um caso verdadeiramente assim… «do outro mundo». Sem estar inteiramente conformada com a situação, dirijo-me ao Dr. Google para saber mais sobre questões referentes a grupos sanguíneos, genética, hereditariedade e afins. Deparo-me com uma questão de um 132


teste (não me recordo de que disciplina), mas que resume a história da minha origem: “pode um casal, constituído por uma pessoa do grupo sanguíneo A positivo e outra B negativo, ter um filho do grupo O?”. Fiquei estarrecida a acreditar que estava ali, naquele ecrã, a chave da minha existência. E neste ponto, posso ainda acrescentar que para salientar ainda mais o meu caso, tenho uma irmã cujo grupo sanguíneo é AB, ou seja, a síntese perfeita. No meu caso, hesito na busca da solução para aquela pergunta. Receio talvez que a resposta seja a completa impossibilidade que me converterá totalmente na extraterrestre a 133

aguardar a próxima nave para regressar ao meu planeta desconhecido. Hesito, mas decido enfrentar a realidade. A resposta é que há 10% de possibilidades. Por outras, palavras, ainda encaixo nessa percentagem que faz de mim, apesar de certa raridade, uma criatura a habitar as margens da normalidade. Assim, aliviada por partilhar o sangue que nos une, a nós, criaturas humanas, penso que as naves espaciais podem aguardar por outras ocasiões, por outros passageiros que talvez por aí gravitem, a precisar de uma viagem para um outro planeta . ALGARVE INFORMATIVO #397


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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 67, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 67, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #397

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