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ALGARVE INFORMATIVO 14 de outubro, 2023
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«A NOSSA CULTURA SAI À RUA» | FESTIVAL AMOSTRA | ENCONTRO NACIONAL DAALGARVE ENIPSSA INFORMATIVO #407 9.º FESTIVAL ACÚSTICO | 14.º FESTIVAL DE OBSERVAÇÃO DE AVES & ATIVIDADES DE NATUREZA | NOBLE
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ÍNDICE Faro acolheu Encontro Nacional da Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem Abrigo (pág. 20) 14.º Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza em Sagres (pág. 32) «A nossa cultura sai à rua» na Mexilhoeira Grande (pág. 44) Magia regressou a Lagoa (pág. 60) Festival Amostra em Loulé (pág. 78) Noble em Lagoa (pág. 94) 9.º Festival Acústico em Portimão (pág. 104)
OPINIÃO Paulo Cunha (pág. 116) Ana Isabel Soares (pág. 118) Sílvia Quinteiro (pág. 120) Lina Messias (pág. 122)
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Faro acolheu Encontro Nacional da Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem Abrigo Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina grande auditório do Campus das Gabelas da Universidade do Algarve, em Faro, foi palco, no dia 29 de setembro, do Encontro Nacional da ENIPSSA – Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem Abrigo, sob o lema «Prevenir é Intervir», e que contou ALGARVE INFORMATIVO #407
com a participação do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que prontamente agradeceu a todos os presentes pelo esforço que têm dedicado a esta causa ao longo dos últimos anos, endereçando ainda umas palavras especiais para a Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho. “Nós temos uma
vida tão dispersa quando detemos responsabilidades políticas que é 20
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Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé ALGARVE INFORMATIVO #407
muito difícil continuarmos a acompanhar tudo e, sobretudo, a vibrarmos, e ela empenha-se efetivamente nesta causa, e com aquele seu estilo proativo e frenético. Aquilo que dependia dela, fez, e espero que assim continue a ser na próxima ENIPSSA”, afirmou, elogiando
panorama estava a melhor, apanharam a pancada da pandemia, com dois anos a abrir e a fechar, a abrir e a fechar. Nessa altura as autarquias foram muito importantes, porque aguentaram, apoiaram, sustentaram o movimento associativo”.
igualmente o papel dos autarcas na implementação desta estratégia.
Com a guerra vieram migrações diferentes e a inflação, o que tem vindo a atrasar o combate ao flagelo das pessoas em situação sem abrigo. “E a
“Houve um processo ascendente em relação ao poder local e o número de autarcas que efetivamente compreendem e atuam sobre esta realidade aumentou imenso. E as associações aguentaram coisas inauditas. Vinham da ressaca da crise da Troika e, quando o ALGARVE INFORMATIVO #407
habitação, que era um problema complicado em 2016, transformouse em muito complicado nos anos seguintes devido ao turismo residencial, que elevou brutalmente o seu custo. Houve um período intermédio em que se 22
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discutiu qual o modelo para resolver o problema da habitação, só que, hoje, é cada vez mais difícil e caro para as autarquias investirem em soluções habitacionais”, admitiu Marcelo Rebelo de Sousa. Os NPISA – Núcleos de Planeamento e Intervenção Sem Abrigo aumentaram, entretanto, dos 16 iniciais para os atuais 35, mas o recenseamento das pessoas em situação sem abrigo não foi fácil, por ser uma realidade nova e difícil de identificar. “Sabemos que
são mais de 10 mil, já estivemos melhor, mas também já estivemos bem pior, aquando da primeira ressaca da pandemia, quando os trabalhadores mais precários e jovens da hotelaria, restauração e construção civil ficaram sem trabalho, e muitos deles estrangeiros”, observou o Chefe de Estado. Um número, de facto, elevado e que deve ser acompanhado, na opinião de Marcelo Rebelo de Sousa, com extremo cuidado, até porque se aproxima a implementação de uma nova Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem Abrigo. Mas o Presidente da República mostra-se bastante satisfeito com o reconhecimento da importância da prevenção. “Não podemos prevenir
uma pandemia, uma guerra, uma crise financeira ou um aumento desmesurado dos juros, e todas as consequências que isso tem na desestruturação das famílias, em ALGARVE INFORMATIVO #407
desalojamentos forçados e em transições habitacionais. Mas há coisas que podemos prevenir, para depois não termos que as remediar. Para mim, é fundamental que não haja um vazio entre a estratégia que vai terminar e aquela que vai começar, como eu assisti há poucos anos e 24
foi lancinante. Não pode haver hiatos”, apelou Marcelo Rebelo de Sousa. “Continue-se na linha daquilo que está a ser feito e vendo que meios é possível afetar, principalmente numa fase em que há uma grande disponibilidade de fundos europeus, e à qual se seguirá uma fase de menores 25
dotações. No futuro teremos uma alteração estrutural na Europa, um alargamento, que pode chegar quando chegar e os candidatos são muitos”, avisou. Perante tudo isto, o contributo do setor social é fundamental, porque está no terreno, e por isso mesmo Marcelo Rebelo de Sousa não faltou ao encontro ALGARVE INFORMATIVO #407
que teve lugar na capital algarvia.
“Porque é uma causa que abracei desde que entrei para Presidente da República e que não deixarei de abraçar quando sair da Presidência da República, porque é uma causa de cidadania, um desígnio nacional. Numa sociedade democrática e justa, as pessoas têm direito ao respeito, à dignidade, a refazerem as suas vidas, e é intolerável que as pessoas em situação de sem abrigo sejam varridas no mapa, ignoradas, invisíveis”, disparou. “O que todos vocês estão a fazer por Portugal é excecional”, finalizou com palavras sentidas dirigidas à plateia. Durante o evento, o Gestor Executivo ALGARVE INFORMATIVO #407
da ENIPSSA, Henrique Joaquim, fez um balanço da atual estratégia e lançou as bases para o futuro da próxima, sempre assente na partilha de experiências e boas práticas e na união de todos para uma intervenção cada vez mais eficaz. Foram também apresentados os projetos piloto na área da prevenção dos Núcleos de Planeamento e Intervenção Sem Abrigo do Algarve, designadamente, de Albufeira, Faro, Lagos, Loulé, Olhão, Portimão, Tavira e Vila Real de Santo António, para além dos de Almada, Barreiro e Leiria, assim como do Projeto Legos, que congrega esforços do MAPS, GATO e CASA. A ENIPSSA compreende três eixos de intervenção que visam a promoção do conhecimento do fenómeno das pessoas em situação de sem abrigo, informação, sensibilização e educação, o reforço de 26
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uma intervenção promotora da integração das pessoas em situação de sem abrigo, bem como a coordenação, monitorização e avaliação da ENIPSSA 2017-2023. E o Presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, José Apolinário, lembrou que o Algarve possui uma taxa de risco de pobreza ou exclusão social significativamente superior à nacional (25,7% versus 20,1%), mas que, “na
situação das pessoas em situação de sem abrigo, conseguiu unir vontades, desde logo dos municípios, das associações, organizações nãogovernamentais, instituições particulares de solidariedade social e das entidades públicas, para uma resposta mais robusta e integrada, ALGARVE INFORMATIVO #407
que inclui, não apenas intervenções técnicas das equipas de gestores de caso, mas também de resposta de alojamento de emergência e partilhada”. Na sua intervenção, o presidente da CCDR Algarve salientou o apoio que o Programa Regional ALGARVE 2030 disponibilizará fundos para intervenções dirigidas a cidadãos em situação de grande vulnerabilidade, como as pessoas em situação de sem abrigo, que terá uma dotação bastante superior à do CRESC ALGARVE 2020, que cofinanciou, por exemplo, o projeto LEGOS, recorrendo aos fundos europeus geridos na região no âmbito do Fundo Social Europeu. José Apolinário indicou que o Plano Anual de Avisos do Portugal 2030 já está aprovado e publicado, prevendo o ALGARVE 2030 abrir, em outubro, um aviso para 28
financiar as respostas às pessoas em situação de sem abrigo e, designadamente, para apoiar: a criação de equipas pluridisciplinares de gestores de caso que assegurem o acompanhamento psicossocial e o acesso aos recursos existentes na comunidade, bem como a respostas integradas dirigidas a pessoas em risco de exclusão social, nomeadamente em situação de sem abrigo; e o desenvolvimento de respostas que implementem ações ocupacionais adequadas às características e vulnerabilidades das pessoas em situação de sem abrigo, promovendo a empregabilidade e a inserção profissional. No Programa Regional Algarve 2030, o apoio a pessoas em situação de sem abrigo, enquadra-se no Objetivo de
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Política 4 – Um Algarve Mais Social, com uma dotação indicativa superior a dois milhões de euros provenientes do Fundo Social Europeu Mais (FSE+). E em outubro está prevista também a abertura de avisos para respostas que se revelem necessárias para assegurar abrigo e acolhimento temporário de pessoas sem teto; e para ações que favoreçam o combate ao estigma sobre a condição de sem abrigo, como iniciativas de informação e de sensibilização das comunidades locais e sobre o fenómeno das pessoas em situação de sem abrigo com vista à prevenção e combate da discriminação, e ações de capacitação e formação pessoal, emocional e profissional à medida das competências cognitivas, psicológicas, emocionais e estados de saúde física e mentais das pessoas em situação de sem abrigo .
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Mais de 1.100 pessoas participaram no 14.º Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina 14.º Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza, em Sagres, aconteceu de 5 a 8 de outubro e proporcionou 235 atividades, das quais 135 gratuitas, para famílias e amantes da natureza. O evento atraiu ao concelho de Vila do Bispo cerca de 1.100 participantes, a maioria provenientes da Europa, mas também dos EUA, da China, do Gana, do Perú e de Porto Rico. ALGARVE INFORMATIVO #407
Ao longo destes quatro dias, nos céus de Sagres foram observadas 148 espécies, com destaque, quer pela sua raridade nestas paragens, quer pelo interesse, para a cagarra-domediterrâneo, a garça-branca-grande, o estorninho-rosado e a cegonha-preta. Entre as novidades deste ano houve oportunidades para caminhar ao luar, descobrir que animais vivem nas poças de maré, observar o céu à luz da mitologia e disputar jogos de mesa de natureza. A par das novidades, manteve-se a extensa 32
oferta de atividades de observação de aves, passeios de barco para observar aves e golfinhos, caminhadas, workshops e desafios para os mais novos. Nesta época do ano, milhares de aves sobrevoam o Algarve, a caminho dos seus territórios de invernada em África, proporcionando um espetáculo digno de um festival. Entre elas encontra-se o rabirruivo-de-testa-branca, cabeça de cartaz deste ano. No outono, aos rabirruivos-de-testa-branca que nidificam no nosso país juntam-se os que vêm do norte e todos rumam a África para passar o inverno, sendo que, para muitos, o caminho passa por Sagres. Para
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testemunhar este espetáculo, centenas de observadores de aves convergem também neste local, juntando-se neste festival que é já um marco regular no calendário de muitas famílias. O evento foi organizado mais uma vez pela Câmara Municipal de Vila do Bispo, em parceria com a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e a Associação Almargem. O 14.º Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza foi patrocinado pela Ventient Energy Services, S.A. e pelo Intermarché de Sagres, sendo que a próxima edição já está agendada para 3 a 6 de outubro .
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Mexilhoeira Grande voltou a mostrar a sua cultura no Adro da Igreja Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina o dia 7 de outubro, «A Nossa Cultura Sai à Rua» na Mexilhoeira Grande, divulgou mais uma vez os usos e costumes desta freguesia do concelho de Portimão, com destaque para a música, a gastronomia e os saberes de antigamente. Ao longo da nona edição desta festa popular foram vários os momentos performativos que estimularam o público a interagir e a conhecer práticas sustentáveis utilizadas no meio rural. ALGARVE INFORMATIVO #407
A associação In Loco foi parceira do evento, no âmbito do projeto Rota da Dieta Mediterrânica, que pretende apoiar os municípios e os seus operadores económicos a estruturar uma oferta turística durante a época baixa, tendo por base a identidade cultural da bacia do Mediterrâneo, por via da ligação entre os territórios do litoral e do interior. Neste âmbito, teve lugar uma demonstração gastronómica inspirada nos sabores antigos, mas com alguns toques de modernidade, pelo chef Rui Palma, havendo igualmente oficinas de 44
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experimentação de peças em trapilhos, pelas utentes do lar de S. José, Glória Candeias e Maria Heitor, e de produção de um cucharrinho (pequena colher), no decurso da qual foi possível saber mais sobre o mundo da cortiça, com o artesão Adelino Correia. Outra colaboração ativa foi da responsabilidade da Quinta Pedagógica de Portimão e da Biblioteca Municipal Manuel Teixeira Gomes, com a iniciativa «A Biblioteca e a Quinta de Mãos Dadas pela Sustentabilidade», que chamou a atenção para a importância da diversidade biológica no meio rural e dos ecossistemas equilibrados e saudáveis. A nível musical, realce para os cantares preparados pelas senhoras da Associação Cultural e Recreativa Alvorense, com o Grupo de Cantares Mexilhoeirense a ensinar cantigas tradicionais; o 47
espetáculo de dança «Milho-Rei», onde a associação Dancenema retratou o património cultural e as artes e ofícios rurais do concelho de Portimão, na forma de coreografias de dança contemporânea; o Rancho Folclórico da Figueira, que desafiou os presentes a entrar na roda e a dar um pezinho de dança; e o concerto do duo Recanto, cujo repertório assenta na recolha e pesquisa de músicas tradicionais europeias usadas nas suas recriações históricas, particularmente o folclore português. Após um momento teatral a cargo de João Bota, mentor do TIPO – Teatro Infantil de Portimão, a noite encerrou com a tradicional desfolhada à moda antiga, ao som das concertinas de António Barata e Xico Marques, a que se seguiu baile animado por André Gonçalves. ALGARVE INFORMATIVO #407
Com o apoio de entidades como a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve e a Associação In Loco, o Museu de Portimão apresentou igualmente o projeto de criação e atribuição do rótulo «A Nossa Cultura Sai à Rua» a alguns produtos locais de feição rural, como forma de reforçar o conhecimento, valorização e sustentabilidade das produções mexilhoeirenses, dos seus saberes, paisagens, histórias e gentes. Porque o património local deve ser conservado e perpetuado, é objetivo do projeto contribuir para a valorização da oferta de produtos endógenos, através da criação de redes locais de promoção de conhecimento e inovação, sem esquecer a respetiva divulgação em circuitos de comercialização curtos, como mercados
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municipais, mercearias, postos de informação turística, entre outros. «A Nossa Cultura Sai à Rua» foi uma organização da Câmara Municipal de Portimão, com produção e implementação do Museu de Portimão e da Junta de Freguesia da Mexilhoeira Grande, este ano em parceria com a Associação In Loco. A programação contou ainda com as parcerias das associações locais Grão de Areia, Sociedade Recreativa Figueirense e Clube de Instrução e Recreio Mexilhoeirense, bem como da Paróquia da Nossa Senhora da Assunção da Mexilhoeira Grande e da Santa Casa da Misericórdia da Mexilhoeira Grande, além do apoio de toda a comunidade, particulares e comerciantes, que se envolveram, participaram e contribuíram ativamente para o sucesso da iniciativa .
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MAGIA REGRES Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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agoa foi palco da terceira edição do Festival Internacional de Magia, o Lagoa Magic Fest’23, nos dias 5, 6 e 7 de outubro, com a participação de sete mágicos sob a direção artística do lagoense e mágico Paulo Cabrita. Os espetáculos de rua, escolas e instituições arrancaram logo na manhã
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no dia 5, em Estômbar, no Parchal e na Mexilhoeira da Carregação, seguindo-se, da parte da tarde, mais atuações na Praia do Carvoeiro, em Lagoa e em Ferragudo. No dia 7 teve lugar a Grande Gala, no Auditório Carlos do Carmo, que contou com a presença de Lanydrack & Faty (Portugal), Manolo (Venezuela), Naife (Espanha), Joshua Kenneth (Espanha), Brando y Silvana (Argentina) e Paulo Cabrita, numa noite repleta de magia e animação .
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FESTIVAL AMOSTRA RUMOU A LOULÉ DURANTE TRÊS DIAS Texto: Daniel Pina| Fotografia: Jorge Gomes
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segunda edição do Festival Amostra de Artes Performativas para Público Jovem trouxe a Loulé, entre 6 e 8 de outubro, uma programação múltipla que incluiu espetáculos abertos ao público, conversas e outras atividades ALGARVE INFORMATIVO #407
que desejam dar palco ao trabalho daqueles que se ocupam da criação para crianças e jovens. Assim sendo, a organização, a cargo da Companhia Caótica, propôs, mais uma vez, um encontro em que artistas, público, programadores e demais agentes culturais se tornam parte de um projeto coletivo de sensibilização para um ecossistema artístico essencial da cultura. 80
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Um dos destaques foi o espetáculo «Uma Ideia de Justiça», de Joana Providência, com texto de Isabel Minhós Martins, que abordou, no dia 6 de outubro, no Cineteatro Louletano, questões como a diversidade, a escolha, a igualdade e a liberdade, levantando interrogações sobre direitos e deveres e procurando ser uma ferramenta de construção da noção de justiça, que, tal como espetáculo, vai evoluindo. À volta de uma mesa havia cadeiras especiais para sentar toda a gente: os que têm pernas compridas, os que não conseguem estar quietos, os que vêm sempre e os que não costumam ser convidados. A peça teve interpretação e cocriação de Joana Mont’ Alverne, Joana Petiz e Rita Marques, com cenografia de Cristóvão Neto, figurinos de Cátia Barros e música de Ana Bento e Bruno Pinto / Gira Sol ALGARVE INFORMATIVO #407
Azul. É uma coprodução do Teatro do Bolhão, Teatro Nacional São João, Teatro Aveirense e A Oficina. Logo depois, mas no Palácio Gama Lobo, outra proposta super interessante, «As estrelas lavam os teus pés», de Sara Anjo e Madalena Palmeirim, em que as artistas lançam as questões: “Se nos deitarmos no chão numa posição invertida do corpo e levantarmos as pernas com os pés altos, lá no topo, será que as estrelas lavá-los-ão. E se nos levantarmos e esticarmos o braço, será que conseguimos agarrar uma estrela, comê-la e tornar o nosso corpo brilhante?”. Com figurinos de Sara Anjo e assistência artística de Teresa Silva, é uma coprodução da Fábrica das Artes – CCB .
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NOBLE ATUOU NO 10.º FESTIVAL INTERNACIONAL DE GUITARRA DE LAGOA Texto: Ricardo Coelho| Fotografia: Ricardo Coelho
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nserido no 10.º Festival Internacional de Guitarra de Lagoa, o Auditório Carlos do Carmo recebeu um dos mais promissores talentos da nova música portuguesa, Pedro Fidalgo, mais conhecido por Noble, que veio a Lagoa com a sua banda composta por Vasco Saraiva na guitarra, Ruben Matos na bateria, Rui Saraiva no baixo e Clarinha nos teclados.
os seus versos. Depois de «Honey», que encabeçou os tops da maior parte das rádios portuguesas e que continua ainda com grande «airplay», foi lançado o primeiro álbum e novas canções, como «Coming Back» ou «One More Time». Em 2022 deu-nos a conhecer «Secrets», o seu segundo álbum de originais, e recentemente lançou os singles «Lost on You», «I give Up» e «Friday Night» gravado ao vivo.
Dono de uma voz poderosa e inconfundível, Noble é um dos artistas de maior destaque nos últimos tempos no universo online. «Honey» conquistou o público em 2019 e não há quem a tenha ouvido na rádio e já não tenha trauteado
Em Lagoa, Noble levou a palco os seus temas «One More Time», «Living Room», «Secrets», «Honey», «Friday Night», «Beautiful», «Lost My Head», «Give Up», «I Do», «Lost In You» e «Home» e não faltaram versões dos sucessos
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internacionais «What’s Up?», «Watermelon Sugar» e «Take on Me», que ajudaram a agitar o público que muito provavelmente esperava um concerto onde predominariam as baladas, mas onde encontraram bastante mais que isso, uma hora e meia de pura energia contagiante que facilmente
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meteu toda a gente a cantar e a dançar. Apesar da sala não estar lotada, o público participou vivamente no espetáculo, dava para perceber que quem comprou o bilhete sabia ao que ia e não se desiludiu. No fim, a satisfação era evidente nos rostos dos que assistiram a um grande espetáculo .
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9.ºFESTIVAL ACÚSTICO ANIMOU TEATRO MUNICIPAL DE PORTIMÃO Texto: Vera Lisa| Fotografia: Vera Lisa
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o dia 4 de outubro, o TEMPO – Teatro Municipal de Portimão recebeu o 9.º Festival Acústico, uma organização da rádio Alvor FM e da Freguesia de Portimão. Pelo palco passaram Carmen Danen acompanhada à guitarra por Mário Inácio, Luís Capitão com a sua guitarra portuguesa em parceria com Leonardo Pisco à viola, Marc Noah que cantou e tocou guitarra na companhia de Luís Caracinha, e os 5EX Band que se apresentaram com a seguinte 107
formação: Rui Romão na bateria, Alex Freire na guitarra, Marco Caixinha (Botas) no baixo, Paulo Ribeiro nas teclas e saxofone e Tiago Rodrigues na voz. A grande noite começou com a poderosa voz de Carmen Danen cantora, atriz, educadora vocal e teatral, nascida na Holanda e que veio viver recentemente para Portugal. A artista habituada a atuar em grandes musicais internacionais começou por interpretar o mega sucesso deste ano de Miley Cyrus, «Flowers», a que se seguiram notáveis interpretações de «Shallow», «Someone Like You» e «At Last». ALGARVE INFORMATIVO #407
Luís Capitão viajou até ao Algarve para mostrar todo o seu virtuosismo através do EP de estreia «Soturna», mas a sua atuação não se ficou por aqui e o público assistiu às suas poderosas interpretações de «Fado Lopes», «Variações em Si», «Variações em Ré» e o icónico «Verdes Anos» de Carlos Paredes. Marc Noah, a mais recente revelação da música produzida no Algarve, depois de pisar os palcos da Noite Branca em Loulé e do Festival F em Faro, mostrou no Festival Acústico canções originais como «Lie To Me», «Mother», «Sunshine», «Towers And Bridges», «Road Trip» e «No More Dreaming».
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Para o final e prontos para fazer a festa, os 5EX Banda deram tudo em palco numa atuação marcada pela animação, energia, boa disposição e interação com o público, na marcante voz de Tiago Rodrigues ouviram-se grandes sucessos nacionais e internacionais do mundo da música como «It's a Heartache», «Have You Ever Seen The Rain?», «A Noite», «Wish You Were Here», «Chuva Disolvente», «Careless Whisper», «Quando Eu Era Pequenino» e «Volare». O Festival Acústico regressou ao TEMPO, o público agradeceu e espera mais para o próximo ano .
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Amigos de rua Paulo Cunha (Professor) um destes dias, num almoço com o meu amigo Luís Cruz (Peixinho), conversando sobre os amigos que fizemos para a vida, chegámos à conclusão que as relações de amizade que ainda mantemos surgiram, em grande parte, na juventude, tendo sido, maioritariamente, construídas e alicerçadas na rua. Entre as garfadas do nutrido repasto, confessei-lhe que nunca tinha pensado nisso por esse prisma – grande parte dos nossos amigos e amigas comuns eram «amigos da rua». Tendo sido colegas de escola, grande parte do convívio era feito fora da escola, na casa de poucos ou nos bairros a que chamávamos a casa comum de todos. Todas as famílias se conheciam, não havia receio de estranhos e o único medo era que a semanada ou a mesada não chegassem ao fim do período estabelecido pelos nossos pais. Era um tempo em que o espaço exterior era o local privilegiado para a brincadeira, para o jogo, para a fruição, para as partidas, para os namoricos e para as longas conversas sobre tudo e sobre nada. Coincidentemente com o período em que, democraticamente, Portugal tem vivido em liberdade, não deixa de ser motivo de reflexão ver cada vez mais os nossos filhos e netos confinados a espaços fechados, e dependentes de ALGARVE INFORMATIVO #407
formas de diversão, comunicação e interação alienantes, aditivas e pouco estimulantes e enriquecedoras. É um facto comprovado a olhos vistos: já nenhum jovem cimenta uma relação de amizade na rua. A sua rua é virtual e existe dentro de um smartphone. São os novos tempos! Tempos em que através das conversas que mantenho com os meus alunos, com eles partilho o prazer que tinha quando ia correr, saltar, brincar, jogar, gritar e conviver nos intervalos escolares. Refiro-lhes também como hoje me desgosta e confrange não ver os largos e adequados espaços exteriores da «nossa» escola repletos de alunos em convívio e movimento, exteriorizando assim as energias acumuladas nas muitas aulas a que têm de assistir e participar. Limito-me apenas a vê-los com a sua «caixa mágica» na mão, sentados nos corredores, escadas e bancos improvisados. Quando na semana passada comentei com uma turma com alunos de onze/doze anos que antes da pandemia tinha desafiado uns seus colegas com a mesma idade para não levarem os seus smartphones para o intervalo grande, imediatamente, vários disseram que não conseguiriam, outros que considerariam isso um castigo e outros que os pais não o permitiriam. Dei-lhes então a informação que já há escolas no nosso país que decidiram não permitir o uso de telemóveis nos seus recintos, pois os 116
Foto: Daniel Santos
encarregados de educação, os professores e os agentes educativos estão a ficar preocupados com o que está a acontecer. Tendo em conta que muitos não estavam alertados para esta situação, lá lhes expliquei que o Conselho das Escolas vai entregar até ao fim de outubro o parecer sobre a proibição do uso de telemóveis nos recintos escolares, conforme solicitado pelo atual ministro da Educação, João Costa, pois, segundo ele, o tema é complexo e não se deve decidir de forma intempestiva e precipitada.
dos maiores especialistas mundiais na área da brincadeira e do jogo, refere que este permanente e contínuo uso dos smartphones tem consequências que se estendem para lá do preocupante aumento do sedentarismo e da obesidade infantil. Esclarece que: “Há um conjunto de experiências que as crianças deixam de viver por estarem presas aos ecrãs: os jogos, as brincadeiras, as atividades físicas e sociais, as oportunidades para resolverem conflitos...”; “O brincar na escola, na comunidade e na família é essencial para a construção emocional, cognitiva, motora e social da criança. O movimento do corpo é o arquiteto do cérebro, não se pode perder esta ideia”; “É necessário envolver os alunos numa conversa democrática para estabelecer regras e limites. Não basta proibir as crianças de utilizar os smartphones, é preciso melhorar os espaços exteriores das escolas, torná-los sedutores e adequados ao seu desenvolvimento. Valorizá-los de um ponto de vista lúdico para que permitam aventura e aprendizagem”. Testemunhando na primeira pessoa o que aqui escrevi, quando chegar a minha vez, gostaria de sair da Escola pela porta grande e com vontade de lá regressar. Bastava pouca coisa: ver nos atuais jovens o prazer que eu e muitos amigos sentimos por usar a rua como um espaço lúdico, de convívio, de camaradagem, de aprendizagem, de construção e de crescimento. Sim, não tendo sido um menino/jovem de rua, descobri a amizade na rua… na minha e na vossa. E décadas depois, continuo feliz. Convosco! .
Carlos Neto, professor catedrático e um 117
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Octogésima quinta tabuinha: Mudanças Ana Isabel Soares (Professora) Para a Renata em pensar em grande coisa, concentro-me nas maneiras – algumas – de dizer “mudanças” em língua inglesa. “Changes”, desde logo, claro (e assalta-me, a soar na cabeça, a voz de David Bowie, um avanço de sílaba gaguejado ou hesitante, o resto da palavra como um espirro: as mudanças que se temem, mas que não se consegue conter). Ou “moving”, como “I’m moving” é “estou em mudanças” e tratar-se de ato em processo de se consumar. Não é, porém, nem uma mudança de casa nem alterações vagas que me prendem o pensamento ao começar a escrever – aquilo em que trago o pensamento é “gear”, como em “gear box”, “caixa de mudanças”. De um automóvel não automático, está bem de ver – dos que tenho guiado desde que me conheço condutora, estes, velhos, que o Orçamento não tarda nada taxará como se fossem aviões a jato privados ou luxuosas lanchas de passeio (o exagero é meu). Um movimento de aprendizagem é sempre um movimento de mudança? Passar de um estado que nem se sabe que depois se desconhecerá a um estado que ainda nem se sabe que antes se desconhecia – deixar de ser capaz de voltar atrás, de deixar de saber: é isto, mudar? Porque acredito que seja isso mesmo aprender; um avanço sem retorno ALGARVE INFORMATIVO #407
possível (um automóvel sem “R” na caixa de mudanças, nem possibilidade de curvar para regressar ao sentido de onde se veio). Penso nisto enquanto insisto – em vão, obviamente – na tentativa de me recordar de como era eu antes de aprender a conduzir automóveis, antes de “tirar a carta”. Há uma narrativa simplista: “Eu dantes não gostava nada de conduzir, nem queria tirar a carta. isso era a coisa mais distante daquilo que imaginava para mim, ou daquilo que eu percebia que era”. São descrições vagas, triviais, que me custa enunciar por se referirem a uma pessoa (eu mesma) que já não reconheço como eu mesma porque, precisamente, aprendi e deixei de ser capaz de desaprender. De um modo semelhante, se disser de mim, hoje, que “gosto muito de conduzir”, soa-me como se estivesse a enunciar uma frase inútil de óbvia, de redundante – mas, sobretudo, inútil porque insuficiente. “Gostar de conduzir” é como se dissesse o grau zero daquilo que entendo ser, um ponto de partida – o meu ponto-morto. Porque a definição de mim mesma para mim mesma, a cada dia, é engrenada, permanentemente com alguma mudança metida. Veio isto a propósito de uma risada – a risada que a minha amiga Renata dá de cada vez que, minha passageira, me vê tentar estacionar o carro num lugar estreito, mínimo, impossível. “Lá vai ela enfiar o automóvel naquele lugar!” (E ri). 118
Foto: Vasco Célio
Se há coisa que gosto de fazer, além de conduzir, é de estacionar em desafio. Primeiro, a perceber que conseguirei quando mais ninguém, fora ou dentro do carro, percebe ser possível (só convencida disso avanço, está claro); depois, fazer a manobra; por fim, com uma sensação que creio só ter começado a reconhecer em mim por via desta capacidade que todos os dias pratico e tento praticar mais bem praticada, sentir uma vaga satisfação (ou uma vaga de satisfação, mais ainda) no final – mesmo se tiver tido de me encolher para sair do carro por uma nesga ínfima de espaço entre a porta do carro e qualquer obstáculo (outro automóvel, uma parede, o que seja) encostado a ele. Aprender a 119
conduzir mudou-me – certamente tanto como outras aprendizagens que deixei sequer de reconhecer – porque mudou a maneira como entendo o espaço, como entendo o meu corpo, como entendo qualquer extensão externa a mim que, como parte de mim, manobre. (Aprender a conduzir poderá ter sido, pois, a evidência dessa mudança, em vez de ser a sua causa. Se for esse o caso – se tiver sido esse o caso – jamais o saberei, pois desconheço em mim como entendia o espaço num antes dessa aprendizagem e recorro, para o descrever, aos relatos de outros, os que, afinal, verdadeiramente me conhecem). ALGARVE INFORMATIVO #407
Cor de burro quando foge Sílvia Quinteiro (Professora) in e Yang, água e azeite, noite e dia. Somos tão obcecados por dicotomias que não nos limitamos a aplicá-las ao universo e às circunstâncias da vida. Identificar contrastes é frequentemente uma maneira simples e eficaz de nos classificarmos. E dividimos portanto a humanidade entre as pessoas dos gatos e as dos cães; as do café e as do chá; as dos doces e as dos salgados; as da praia e as da montanha; as que gostam do Ronaldo e as que gostam do Messi… As redes sociais ajudam a sedimentar esta fórmula. Consciente ou inconscientemente, cada utilizador projeta uma imagem de marca que, amiúde, se constrói a partir de uma destas dicotomias. Mas não nos preocupemos, cãezinhos ou gatinhos, são ambos vencedores nesta corrida pela simpatia alheia. E retomo a minha ideia inicial: a da necessidade de nos definirmos por oposição a. Da vida regida pela ideia de que tudo é uma competição e uma escolha. No fundo, de uma redução da pessoa a algo de que gosta, mas que, provavelmente, não lhe ocupa mais do que alguns minutos por dia ou algumas semanas por ano. Uma visão simplista. Talvez necessária, para que possamos sentir que alguma coisa em nós está ALGARVE INFORMATIVO #407
arrumada. Que crescemos. Que temos uma personalidade definida. E, todavia, espante-se, é possível gostar de cães e de gatos. Há quem beba chá e café, sem abdicar dos seus valores. Há mesmo quem alterne entre férias na praia e na montanha ⎼ esses inconstantes sem princípios… Já para não falar naqueles que mudam com o tempo. É a idade… De resto, e por falar em idade, uma das grandes fronteiras que nos distingue dos outros estabelece-se entre aqueles que gostam de fazer anos e os que semanas antes do dia fatídico já se olham ao espelho à procura de uma nova ruga, de um cabelo branco, ou de qualquer outro sinal da passagem do tempo. E aqui está um drama que sempre tive dificuldade em compreender. Cresci com uma avó que recordava com grande humor ter dito a alguém que a sogra tinha falecido já muito velhinha, aos 53 anos. Uma mãe que a cada década que passava dizia que talvez daí a 10 anos se sentisse velha. Foi adiando o estatuto e nunca lá chegou. Um avô que num ano fazia 49 anos, no seguinte 50 e no subsequente novamente 49, tendo vindo a falecer quarentão, à beira dos 80. Expressões como «a idade é um número» ou «tenho 60, mas uma mentalidade de 20» arrepiam-me. Há, porém, episódios que me dão que pensar. Certo dia, pedi a um aluno que imaginasse que eu era uma turista e me 120
sugerisse um restaurante e um bar. O restaurante surgiu de imediato. Depois o silêncio, seguido de uma conversa entre dentes com a colega do lado. Estava hesitante. Não sabia o que responder. Pedi-lhe para dizer o nome de qualquer bar que conhecesse. Certamente já tinha saído à noite na cidade e a aula tinha de avançar. Respondeu-me que conhecia muitos bares: ⎼ Só não estou a ver um, assim, para a sua idade! ⎼ Eu tinha então acabado de fazer 30 anos. Hoje, desloquei-me a Lisboa de comboio. No regresso, vi um rapaz a ajudar uma senhora idosa a colocar as malas dentro da carruagem. Admirei o gesto, a educação. E estava eu neste 121
pensamento, quando o jovem deitou mãos à minha mala e galgou as escadas com um único passo: ⎼ Deixe lá, minha senhora. Eu ajudo. ⎼ Nem tive tempo para protestar. Para lhe dizer que ainda consigo carregar a minha própria bagagem, que a idade é um número, que os 50 são os novos 30, sei lá... E é nisto que penso hoje, em dia de mais um aniversário. O primeiro em que me encontro dividida entre a alegria de festejar e um olhar apreensivo para o espelho. Em que não sei a que grupo pertenço afinal. Num limbo. Nem preto nem branco, cor de burro quando foge. Ai, de mim! .
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Ter alma para o negócio Lina Messias (Especialista em Feng Shui) resci num lugarejo daqueles de beira de estrada, onde as poucas casas que albergava estavam viradas para a estrada e podíamos levar horas entretidos com o trânsito. Não tinha moradores suficientes para se poder chamar de aldeia, era tão somente um daqueles lugarejos de passagem onde todos se conheciam, onde todos compravam pão na mesma padaria, peixe ao mesmo senhor Faustino, que buzinava sempre que chegava na sua motorizada carregada com os carapaus fresquinhos e carne ao mesmo talhante. Curiosamente, neste lugarejo coexistiam duas mercearias! A mercearia da Isabelinha e a outra que nem nome tinha. Aos 6 anos percebi o que era concorrência, e agora, na meia idade, depois de já saber o que é ser empresária, percebo que a Isabelinha tinha verdadeira alma para o negócio. Em pouco mais de 30 metros quadrados, aquela mulher conseguia ter tudo o que alguém podia precisar nos maravilhosos anos 70. Não me refiro somente aos bens essenciais que todos esperamos encontrar numa mercearia, leguminosas a granel, massas e arroz, azeite, frutas e legumes do dia; pois a Isabelinha era uma verdadeira ALGARVE INFORMATIVO #407
caixa de surpresas, tal Lidl (passo a publicidade) às quintas feiras e a casa cheia de clientes era a consequência disto. A outra mercearia tinha tão poucos clientes como prateleiras com produtos, e era frequentada quando alguém com pressa só precisava de ovos e não queria estar na fila da Isabelinha! Recordo-me que era na Isabelinha que a minha avó Mariana «namorava» os atoalhados e lençóis para o meu enxoval, pedia para reservar e assim que juntava o dinheiro suficiente enchia o peito de alegria e voltava para casa de sorriso no rosto e caixa nos braços. Nas prateleiras da mercearia da Isabelinha, tirávamos o café em grão para o pequeno almoço, mas «encalhávamos» com pratos, velas, molduras, regadores, cuecas, lâmpadas e brinquedos de madeira. O foco que agora precisamos quando entramos numa grande superfície e só trazemos o que precisamos, já era necessário ao entrar nesta mercearia de lugarejo. Mas o que tornava esta mercearia um negócio de sucesso não era só o variado stock, era também a amabilidade e acolhimento que os seus fregueses recebiam. Não havia a correria de hoje, e todas as compras eram feitas com tempo e acompanhadas de perguntas e do cuidado que só recebemos de quem nos quer bem. Depois de uma vida a trabalhar para «outros», aos 42 anos tornei-me 122
empresária! Nunca tive o sonho de muitos, de ter um negócio, simplesmente aconteceu. Não tenho formação em gestão, nem tampouco em recursos humanos ou na área financeira. Pelo contrário, tinha os medos e crenças do «não seguro» de quem recebeu ordenado no final do mês durante mais de 20 anos. Apesar dos medos, com muita coragem e muito trabalho e dedicação, o negócio vingou. Tal como na mercearia da Isabelinha, este negócio lidava com pessoas, e eu quero acreditar que o seu sucesso se deveu, não só à qualidade dos serviços que eram prestados, mas principalmente à forma como todas as pessoas eram tratadas, desde os muitos colaboradores aos clientes. 123
Num Mundo onde muitos querem ser Empresários, acredito que ser Empresário não é mesmo para TODOS! Ter alma para o negócio, é muito mais que o dinheiro que está na caixa no final do dia. Para ter alma para o negócio, antes de mais é preciso ter ALMA. Um empresário é, antes de mais, um ser humano e todas as qualidades que fazem um ser humano é ser recordado pela forma como inspirou, orientou e ajudou os demais. O mundo dos negócios de hoje é muito diferente da realidade da mercearia da Isabelinha, mas podem ter a certeza que esta mulher seria hoje uma empresária de sucesso, pois o mais importante, ALMA, ela tinha! . ALGARVE INFORMATIVO #407
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