ALGARVE INFORMATIVO 27 de abril, 2024 #431 «A MULHER É UMA ARMA» EM OLHÃO | «50 ANOS DO 25 DE ABRIL» NO IPDJ «EM SILÊNCIO» E «VENCER O DIA» NO CINETEATRO LOULETANO | LOCALARTE EM LAGOS
ÍNDICE
Infraquinta presta homenagem a Ayrton Senna da Silva (pág. 14)
«Impostos - o que lhão de fazer» do Boa Esperança (pág. 22)
«Em Silêncio» no Cineteatro Louletano (pág. 48)
«A mulher é uma arma» no Auditório Municipal Maria Barroso (pág. 60)
«Vencer o Dia» no Cineteatro Louletano (pág. 72)
«50 anos do 25 de Abril» no IPDJ (pág. 86)
2.º LocalARTE em Lagos (pág. 96)
OPINIÃO
Paulo Cunha (pág. 116)
Alexandra Rodrigues Gonçalves (pág. 118)
Sílvia Quinteiro (pág. 122)
Infraquinta homenageia Ayrton Senna da Silva com inauguração de jardim e escultura
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina 21 de abril de 1985, Ayrton Senna da Silva alcançou a sua primeira vitória na Fórmula 1, a bordo de um Lotus 97T, num Grande Prêmio de Portugal marcado por uma chuva intensa. Quase quatro décadas depois, a Avenida Ayrton Senna da Silva, na Quinta do Lago, assistiu, no dia 21 de abril, à inauguração de um jardim, e de uma escultura da autoria de Carlos de Oliveira
Correia, que simbolizam a memória de um dos maiores pilotos da história e que foi residente, na década de 80, deste empreendimento turístico do concelho de Loulé.
Ayrton Senna da Silva, tricampeão mundial de Fórmula 1 (1988, 1990 e 1991), faleceu tragicamente em 1994, mas o seu legado continua vivo na mente de milhões de fãs em todo o mundo. A Infraquinta, em parceria com o escultor Carlos de Oliveira Correia, materializou esse legado na forma de uma réplica do
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seu carro de Fórmula 1, moldada em aço corten, material resistente, 100 por cento reciclável, e que se integra na paisagem natural do jardim da Avenida Ayrton Senna da Silva. “Era uma pessoa com uma energia contagiante, um símbolo no desporto motorizado, por isso, tínhamos que fazer mais qualquer coisa do que simplesmente dar o seu nome a esta avenida”, referiu Pedro Pimpão, administrador da Infraquinta. “Este é o maior jardim gerido pela Infraquinta, tem 3 mil e 500 metros quadrados, e quisemos fazê-lo em homenagem à pessoa, mas também em consonância com a natureza. Por isso, tem cerca de 600 plantas e 35 árvores autóctones, da região algarvia e do clima mediterrânico, e todo ele é regado com água residual tratada”, explicou.
A réplica do Lotus 97T será iluminado por dois holofotes alimentados por um painel solar, portanto, a eficiência energética une-se à eficiência hídrica nesta homenagem a um dos residentes mais famosos da Quinta do Lago no respeito pela natureza, num investimento total que rondou os 75 mil euros. Uma preocupação que foi enaltecida por David Pimentel, vice-presidente da Câmara Municipal de Loulé, que, à semelhança de Pedro Pimpão, também era fã de Ayrton Senna da Silva. “Trouxe uma dimensão completamente distinta ao desporto e conseguiu lutar contra tudo e contra todos para
chegar onde chegou. Nunca teve o melhor carro ou a melhor equipa, mas sempre acreditou nele próprio, com esforço, dedicação, resiliência, força de vontade. Com um carro pior venceu várias
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provas, simplesmente porque decidiu deixar de fazer pit stops durante as corridas. Ao invés de se queixar das suas condições, reinventou-se, uma mensagem que gostaria de realçar. Se
fizermos o nosso melhor, com um espírito de partilha, entreajuda, solidariedade e de luta, de certeza que o dia de amanhã vai ser mais positivo e que vamos deixar para os nossos um mundo melhor”, declarou o autarca .
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IMPERDÍVEL, COMO SEMPRE, REVISTA À PORTUGUESA
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
SEMPRE, A NOVA PORTUGUESA DO BOA ESPERANÇA
ontinua em cena, até final de maio, às sextas, sábados e domingos, na sede do Boa Esperança Atlético Clube Portimonense, em Portimão, a nova revista à portuguesa do Boa Esperança, «Impostos – o que lhão de fazer». Com criação de Carlos Pacheco, que tem a seu lado na interpretação Telma Brazona, Flávio Vicente, Soraia Correia, Lurdes Carriçal e Isa de Brito, acompanhados pelas bailarinas Filipa Goulart Pereira, Maria Martins, Rita Ferreira, Catarina Duarte e Mariana Jobling, a revista continua fiel a si mesma, recheada de momentos hilariantes que não dão descanso à plateia e sempre de língua afiada para criticar, com muita ironia, mas sem nunca ultrapassar os limites do bom-senso, aquilo que vai andando mal neste país.
No início, já lá vão uns bons anos, quando o elenco ainda era constituído exclusivamente por homens e a companhia se assumia como meramente amadora, os espetáculos apontavam a sua mira apenas para a realidade local, para o que acontecia no concelho de Portimão. A chegada de Carlos Pacheco, também já há uns bons anitos, catapultou o Boa Esperança para um patamar superior, e muito mais profissional, pelo que a base de inspiração para os sketches teve necessariamente que extrapolar a base local e passar a olhar para o país como um todo. Porque o objetivo também se alterou, não interessava apenas fazer uma temporada de poucos meses na sede da coletividade, mas sim andar em digressão um pouco por todo o Algarve e pelo resto de Portugal.
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E assim tem acontecido, graças à inigualável criatividade e imaginação de Carlos Pacheco, que acumula funções de ator, dramaturgo, encenador e presidente do Boa Esperança Atlético Clube Portimonense, e que conseguiu reunir a seu lado um elenco de atores muito talentosos e competentes. Mas o talento não basta no Boa Esperança, há que ter jogo de cintura, elasticidade e uma dose de loucura para acompanhar os improvisos de Carlos Pacheco, e que são muitos. Já se sabe que o teatro de revista à portuguesa é assim, há um guião perfeitamente delineado, toda a gente sabe o que tem que fazer, mas, quando as cortinas sobem e o espetáculo arranca, ele torna-se um ser vivo e dinâmico que é frequentemente influenciado por aquilo que acontece na plateia.
O segredo é rir com muita alegria e espontaneidade, mas sem demasiado alarido, muito menos ir com roupas espalhafatosas ou com adereços excessivos. O ideal é não chamar a atenção de Carlos Pacheco, porque ele é mestre em integrar os espetadores no espetáculo, com piadas lançadas, em momentos inesperados, e que dão azo a fortes gargalhadas. Mas, às vezes, bastalhe ver um rosto conhecido na plateia, ou o familiar de alguém do elenco, para gerar novos improvisos. Tudo isto torna os espetáculos do Boa Esperança únicos, mas bastante exigentes para os atores que estão em cima do palco com Carlos Pacheco, que precisam ter estaleca para acompanhar o mestre nestes momentos e, depois, regressar de forma natural ao guião.
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Bons textos, excelentes cenários e guarda-roupa, um corpo de bailado à altura, tudo contribui para o sucesso de «Impostos – o que lhão de fazer», onde não faltam as desventuras de um casal nas urgências do hospital e de dois defuntos que partilham a mesma campa do cemitério e que, para além de descobrirem alguns segredos das respetivas viúvas, ainda vão ter que pagar IMI depois de mortos; num concurso televisivo, o Algarve, o Alentejo e a Madeira pretendem ser a nova capital de
Portugal; no paraíso as coisas não vão bem entre Adão e Eva, e ficam piores com a chegada de uma nova residente; e ainda temos o relato dos insucessos de uma empresária de restauração e respetivo chef de cozinha. Enfim, todas as palavras são poucas para descrever a experiência que é ir à revista à portuguesa do Boa Esperança, em exibição, em Portimão, até final de maio, antes de partir depois em digressão pelo resto da região e país .
«EM SILÊNCIO» DE TERESA DA DITADURA AO CINETEATRO
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
SOBRAL LEVOU MEMÓRIAS CINETEATRO LOULETANO
os dias 11 e 12 de abril, o Cineteatro Louletano acolheu «Em Silêncio», espetáculo multidisciplinar concebido e encenado por Teresa Sobral, que colocou em palco os atores Ana Valentim, Beatriz Maia, Hugo Narciso, Mário Coelho, Patrícia Fonseca e Tomás Barroso e os músicos Leonor Cabrita, Hernâni Faustino e Miguel Sobral Curado. “Em silêncio porque era uma ditadura, porque não se podia falar alto, porque o nosso vizinho nos podia denunciar, porque era perigoso dizer o que se pensava”, descreve a criadora este espetáculo documental e imersivo em que o público está sentado no palco, no cenário, junto dos
intérpretes, sendo transportado numa viagem aos 48 anos de ditadura em Portugal, com uma dinâmica auditiva e visual, vertiginosa e apaixonante. “O texto foi construído a partir de vozes de pessoas que viveram essa época, pessoas que estiveram presas por questões políticas, pessoas que se refugiaram em França, pessoas que viveram mais de 40 anos na clandestinidade, pessoas que lutaram pela independência dos seus países em África, pessoas que viveram em silêncio e com medo, pessoas que se tornaram informadoras do sistema, pessoas que não quiseram saber o que se passava”, acrescenta Teresa Sobral.
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«Em Silêncio» conta com música ao vivo e uma projeção de grande dimensão que quebra as fronteiras entre realidade e criação e que explora as linhas de tensão entre as duas formas de arte, o cinema e o teatro, e entre ficção e realidade, entre os atores, o público e as pessoas que viveram esse período da nossa história. “Todos juntos num palco de teatro, o espaço da liberdade de pensamento e da criação, juntos, porque há uma intimidade que queremos preservar quando se fala de tortura, de medo, das lutas estudantis, das desigualdades, do racismo, do colonialismo, de analfabetismo, do poder político do patriarcado e a sua agressão inerente contra o feminino. Porque, quando falamos de direitos humanos, temos de estar próximos uns dos outros
para que o pensamento possa ecoar”, justifica Teresa Sobral.
«Em Silêncio» é uma coprodução do Cineteatro Louletano, Teatro José Lúcio da Silva, Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha e São Luiz Teatro Municipal e é apoiado pela DGARTES, Arte Pela Democracia, Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril. Tem os apoios/parcerias do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Fundação Mário Soares e Maria Barroso, Jornal O Público, A Bela e o Monstro Editores, Ephemera, URAP, Comissão Nacional de Apoio aos Presos Políticos, Associação Não Apaguem a Memória, MP-Cópia, Fábrica do Braço de Prata, Produções Real Pelágio, Hemeroteca Municipal, Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais – Divisão de Documentação e Arquivo, Pão a Pão, Mezze, Arquivos PCP, Museu do Aljube, Museu de Peniche e Emaús .
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AUDITÓRIO MUNICIPAL CELEBROU 25 DE ABRIL
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
MUNICIPAL DE OLHÃO ABRIL NA VOZ FEMININA
produtor e compositor
Renato Júnior criou o espetáculo «A mulher é uma arma» para celebrar a Mulher e comemorar a Revolução e voltou a juntar em palco algumas das melhores vozes femininas da atualidade para interpretar temas emblemáticos da época pós-revolucionária, e não só, acompanhadas por um grupo de músicos dirigidos pelo próprio pianista. Uma verdadeira homenagem à condição de ser Mulher em pleno século XXI e à importância que as Mulheres sempre tiveram no combate ao fascismo, lutando, ainda hoje, em plena democracia, pelos seus plenos direitos e pela liberdade.
Não admira, por isso, que o Auditório Municipal Maria Barroso, em Olhão,
tenha esgotado num instante para assistir, no dia 21 de abril, ao concerto «A mulher é uma arma» com Ana Bacalhau, Katia Guerreiro, Luanda Cozetti, Patrícia Antunes, Patrícia Silveira, Rita Redshoes, Sofia Escobar e Viviane, em que cada cantora confere uma identidade muito própria às canções de sempre, evocando de forma inesquecível a memória de 50 anos de democracia e liberdade. Temas como «Mulher», «Brumas», «Maré Alta», «Atrás dos tempos», «Trova do Vento», «Cai Cai», «Mudam-se os tempos», «Todas as mulheres», «Liberdade», «Grândola», «Inquietação», «O que faz falta», «Eu vim de longe», «Ode à paz», «A vida que eu quiser», «Livro dos amantes», «Tanto mar», «Portugal Portugal» e «Cantiga é uma arma» fizeram as delícias do público, que por várias vezes juntou as suas vozes às das cantoras em palco num belo final de tarde na cidade cubista .
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ARTIS XXI, QUESTÃO REPETIDA «VENCER O DIA» AO CINETEATRO
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
REPETIDA E ASMAL LEVARAM CINETEATRO LOULETANO
ARTIS XXI, a Questão Repetida e a Associação de Saúde Mental do Algarve – ASMAL apresentaram, no dia 18 de abril, no Cineteatro Louletano, a ópera «Vencer o Dia». Regido pelo mote «o amor é mais invisível que o ódio, por isso é tão importante. As coisas boas são mais invisíveis, mais difíceis de ver», trata-se de um espetáculo de partilha, de experiências e de desafios entre os intérpretes. Um trabalho de arte participativa que aposta na fusão de pessoas, profissionais e não-profissionais, e que teve como ponto de partida o longo trabalho já realizado pelo Teatro do Sótão – Grupo Inclusivo da ASMAL, sob a direção de Nidia Gonçalves.
O projeto reúne em palco cinco cantores líricos, com a Orquestra Barroca
D’Aquém Mar numa formação especial, constituída por quinteto de cordas, traverso, cravo e percussão. Um tutti sustentado por um trabalho de eletrónica que se molda às necessidades da massa corporal e sonora. A direção artística é de Elsa Mathei e de Nidia Gonçalves, o libreto, a música e dramaturgia de Teresa Gentil, a direção musical de Jorge Macedo, a coreografia e encenação de Aldara Bizarro. A inspiração dramatúrgica resulta de um trabalho imersivo com o grupo da ASMAL, dirigido por Luís Correia Carmelo, com preparação vocal e musical do barítono Francisco Brazão.
O evento foi coproduzido pela ARTIS XXI, ASMAL, Questão Repetida e Cineteatro Louletano, com o apoio da Direção-Geral das Artes, Município de Loulé, Município de Lagoa e Município de Faro .
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«50 ANOS DO 25 DE VALORES DA DEMOCRACIA
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
ABRIL» ASSINALOU DEMOCRACIA NO IPDJ
auditório do Instituto Português do Desporto e Juventude, em Faro, acolheu, no dia 19 de abril, o espetáculo «50 anos do 25 de Abril», uma iniciativa inserida no programa «Às sextas no IPDJ» que visa dar palco aos jovens e à sua atividade criativa. “Ao estarmos a comemorar os 50 anos da liberdade em Portugal, o IPDJ não poderia deixar de assinalar esta data e os valores do 25 de Abril – os valores da democracia –com um espetáculo comemorativo
e de referência, feito com e para jovens artistas, em parceria com a Associação Algarve aoVivo”, referiu Custódio Moreno, diretor regional do IPDJ.
O evento foi pautado por dança, poesia e muita música, tendo sido preparado e produzido com jovens artistas, e outros menos jovens, a quem foi lançado o repto de criarem textos, músicas e performances alusivas à data, dando assim asas à sua criatividade. Um espetáculo que levou ao palco a Escola de Dança Splash, João Tiago Neto, Rita Bravo, Maria Lourenço, Kilavra, Vil & ZH, Isnope, Diii e Trinchax, numa bela homenagem ao 25 de Abril .
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2.º LOCALARTE É DEDICADO
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
DEDICADO À LIBERDADE
segunda edição do LocalARTE –Projeto de Arte Contemporânea de Artistas de Lagos está patente, até 25 de maio, no Centro Cultural de Lagos, tendo sido criada com a intenção de promover o trabalho de artistas residentes ou naturais de Lagos, assim como incentivar à sua criatividade e imaginação. A iniciativa aproveitou as celebrações do 25 de Abril de 1974 para dedicar o tema à «Liberdade» e o desafio resultou em obras de 44 artistas, que abrangem áreas como pintura, fotografia, escultura, cerâmica, instalação, desenho e vídeo, e
que podem ser apreciadas nas salas de exposições 1, 2 e 3.
Os artistas participantes nesta edição são Adelaide Filipe, Alexandre Manuel, Ali, Alonso, Andrea Laudwein, Andreia Rollot Miguel, Anne Stenbom, Brigitte von Humboldt, Carl Zimmerling, Namida00, Carmelita Falé, Carolina Pomar, Catarina Catarina, Charly, Christina Anna Maria Kuhn, Cristiano Cerol, Cristina Gonçalves, Cristina Palma Moreira, Dina Salvador, Doris Gaspartic, Eduarda Coutinho, Eunice Borda, Eva Herre, Francesca Dioguardi, Francisco Castelo, Gonçalo Cabral, Ivan Ulmann, Juliano Santos, Kasia Wrona, Lirek, Luis Miguel de Matos, Mara Taquelim, Maria
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João Cerol, Marie-Hélène Catherine Piquart, Nélia Duarte, Patrícia Leal, Paulo Figueiras, Pedro Moreira, Peter Jones, Romp, Sara Glória, Sore, Timo e ZéVentura. O júri foi composto por Sara Coelho (vereadora da Câmara Municipal de Lagos), Elsa Cavaco (Chefe de Divisão de Ação Cultural da CCDR Algarve –Cultura), Pedro Cabral (professor e diretor do curso de Artes Visuais da Universidade do Algarve), Fátima Catarina (vice-presidente da Região de Turismo do Algarve), e Vanessa Barragão (artista). “Esta segunda edição do LocalARTE é novamente uma prova de que Lagos tem muito talento nas suas gentes e uma criatividade única com potencial
para marcar presença em qualquer museu ou galeria do mundo. Nestas obras magníficas está a verdadeira alma e coração do que é a «Liberdade» e do que é a autenticidade de um artista”, considera Sara Coelho, vereadora com o pelouro da Cultura.
O 1.º prémio foi atribuído a Adelaide Filipe com «A Fuga», seguindo-se Timo Dillner com «A Defensora da Liberdade (Quo Vadis, Europa?)» e Rita Pereira (Romp) com «A Parte de um Todo I». Foram ainda atribuídas menções honrosas a Andreia Rollot Miguel com «Tiara» e Peter Jones com «O Dia em que Portugal ganhou a Liberdade» .
Celebração de vida, em vida
Paulo Cunha (Professor)
uase a aproximar-me do dia em que faria 60 anos de vida, e tendo em conta que o número é redondo, significativo e relevante para quem o perfaz e para quem o acompanha, resolvi convidar para uma celebração conjunta familiares e pessoas que sinto como amigos. Não foi difícil escolher quem me iria acompanhar nesta entrada para uma nova década. Sabendo que os familiares e amigos que a morte me roubou continuam vivos no meu coração, restava-me, naturalmente, convidar as pessoas que me ajudaram a levantar os alicerces que me permitiram chegar onde cheguei e tornar-me no que hoje sou. Gente com um percurso de vida que com o meu se entrecruzou, pontuando-o com momentos marcantes para o meu crescimento intelectual e emocional. Gente que, como eu, continua a privilegiar as relações com passado por contraponto com as relações de circunstância e efémeras, logo, sem futuro.
Não antevendo o meu aniversário como uma festa, desde logo lhe chamei «Celebração de Vida». Para muitos, sendo a celebração da vida entendida como uma forma positiva e significativa para honrar e lembrar alguém que faleceu e que, ao contrário da atmosfera sombria
e focada na perda de um funeral tradicional, pode centrar-se nas experiências positivas e nas contribuições da pessoa para a vida das outras pessoas. Neste caso, o pretenso morto (eu) estaria vivo e não pretendendo juntar pessoas para falar de mim, queria apenas trocar momentos de vida (memórias e afetos) com os presentes. Ora, para que tal acontecesse quais seriam então os pressupostos? Obviamente, ter gente ao meu lado que ao longo da vida, para além das palavras, me tivesse dado provas de ser meu amigo.
A lealdade, a confiança, a aceitação incondicional, a empatia, a compreensão, a disponibilidade, o apoio, a comunicação aberta e honesta, a celebração das conquistas, o respeito, a reciprocidade, a persistência no relacionamento, a adaptação às mudanças e a honestidade construtiva são as características qualitativas que nos permitem reconhecer os Amigos. Porque não há amigos verdadeiros nem falsos, apenas amigos, a identificação dos verdadeiros amigos requer tempo e experiência. Às vezes, é necessário passar por diferentes relacionamentos para encontrar aqueles que se encaixam nesses critérios. É essencial cultivar relacionamentos saudáveis e valorizar as pessoas que demonstram essas qualidades para connosco.
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Foto: Daniel Santos
Sim, sou plenamente a favor que usemos os aniversários e/ou outras celebrações como «Celebrações de vida» e, desejavelmente, feitas em vida. Como? Escolhendo locais que tenham significado para os convivas ou que permitam uma atmosfera leve e acolhedora; decorando o espaço com motivos ligados e representativos de todos (fotos, arte, flores ou objetos que tenham significado
especial); contando estórias positivas e inspiradoras sobre a vida dos presentes; incluindo elementos interativos como músicas favoritas, danças, leituras de poesia, apresentações de fotos e/ou vídeos; partilhando alimentos e bebidas que os amigos têm em comum, podendo dar a conhecer pratos especiais e novas receitas; criando um espaço para os presentes deixarem mensagens, fotos ou lembranças que possam ser compartilhadas; reservando períodos para refletir sobre o legado e o impacto que cada um teve no grupo de amigos; manifestando e partilhando a disponibilidade de conexão e apoio entre todos os presentes.
Entrei nos «sessenta» com a firme convicção que, para além de outras riquezas não materiais com que fui bafejado ao longo da vida, a amizade é indubitavelmente uma delas. Bastou sentir o que senti quando vi uma sala cheia de amigos (meus) em profusa e bem-disposta cavaqueira. Há lá melhor oferenda: ver os «nossos» juntos e felizes? Experimentem! .
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A Virgem de Guadalupe, um património global fechado
Alexandra Rodrigues Gonçalves (Diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da UAlg)
a página da Cultura de Portugal anunciase que a Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe (classificada como Monumento Nacional, desde 1924, de acordo como Sistema de Inventário para o Património Arquitetónico - SIPA) possui como horário de abertura ao público, de maio a setembro: 10h00 - 13h00/14h00 - 18h00; e de outubro a abril: 09h30 - 13h00/14h0017h00. Acrescenta-se que encerra à segunda-feira e nos feriados de 1 de janeiro, 22 de janeiro, Domingo de Páscoa, 1 de maio e 25 de dezembro.
A classificação atribuída à Ermida reconhece a sua importância, que se crê ser da primeira metade do século XIV e se expressa de forma minuciosa na descrição integrada no inventário nacional. Como local de peregrinações e de culto da virgem negra “é provavelmente uma das mais antigas ermidas dedicadas ao culto da Virgem de Guadalupe e o seu programa iconográfico, patente nos capitéis e bocetes, prende-se hipoteticamente à devoção à Virgem de Guadalupe por parte de navegantes e marinheiros e à sua relação com o resgate de cativos
dada a sua localização estratégica” (vejase a descrição em http://www.monumentos.gov.pt/).
Esta singela Ermida tem uma importância para a história nacional, mas também para a das comunidades locais, inquestionável, não só pelo que representa em termos monumentais, mas pela relevância associada à narrativa dos lugares da primeira globalização.
Deixada esta nota introdutória, perceba-se onde queremos chegar.
Um território fragmentado, com uma história secular e universal
Em 2015 e 2016 este monumento – a Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe – integrou uma candidatura transnacional que à data subscrevemos pois éramos a entidade com as competências regionais da cultura – a agora extinta Direção Regional de Cultura do Algarve – e onde reconhecíamos que: A paisagem cultural das Terras do Infante (Vila do Bispo, Aljezur e Lagos) inclui, na sua dimensão histórica, uma das maiores concentrações de menires do Megalitismo na Europa e a memória da Igreja do Corvo, o mais importante local de peregrinação dos cristãos moçárabes entre os séculos VIII e
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XII. A história de Sagres está relacionada com outros bens culturais do extremo oeste do Algarve, num «cluster» particularmente relevante para a história europeia: a Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe (que remete para a dimensão religiosa dos Descobrimentos e para o resgate de cativos nesta fronteira da Cristandade).
Uma pesquisa pelas redes sociais facilmente dá acesso à nota de imprensa que as entidades responsáveis à data fizeram divulgar em que reconheciam como objetivos primeiros desta
candidatura a vontade de cooperação internacional, de promoção de valores de tolerância, de aumento do conhecimento sobre o património e a diversidade cultural, de promoção da preservação do património histórico, assim como a procura por fomentar melhores relações entre os povos.
Já publicámos o excerto que agora se cita sobre Sagres: “É um berço de mitos, memórias e conhecimento, que tem conduzido a uma procura incessante por visitantes de todo o Mundo. (…). A sua
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história (…) remete-nos para uma primeira Era da hoje chamada «globalização». Ai acaba e começa a Europa. Afirma-se com frequência que Sagres deu ‘novos mundos ao Mundo’” (Gonçalves et al. 2016, p.147)*.
A candidatura integrou os elementos patrimoniais, mas também a história conhecida associada aos lugares, reconhecendo o seu valor universal e necessidade de preservação. O Algarve alberga vários locais, símbolos, mitos e personagens deste Novo Mundo que se assumia de dimensão universal. Estes lugares associados ao período de abertura da expansão marítima das rotas comerciais, estão na génese de um novo modo de conceção do mundo e de relações entre os povos.
Nestes territórios de baixa densidade populacional, a história, o património, a paisagem e a natureza, de elevado valor excecional são elementos agregadores e de atração, para as comunidades residentes e visitantes, que agora conhecem mais um esquecimento e caminho de fragmentação.
Erro a corrigir
Com a compartimentação de competências e fragmentação por diferentes Unidades e Organismos, deuse o inimaginável. A separação do lugar «Ermida da Nossa Senhora de Guadalupe» da história daquele território, e em particular da narrativa conjunta do período histórico da expansão marítima que se aponta como um erro, sem sentido.
Mas mais grave é o facto de, desde 1 de janeiro de 2024, este monumento está fechado! Encerrado ao público, um lugar de grande valor patrimonial, arquitetónico e artístico, que está associado ao cais Quatrocentista e às novas estradas líquidas do Atlântico e que é um testemunho tangível dos contactos atlânticos, iniciados com as viagens dos portugueses no início do século XV, compreendendo pontos de referência material e imaterial num espaço geográfico internacional.
Assim, este monumento inscrito na candidatura «Lugares de Globalização»** apresentada no final de 2015, e que integrou a lista, divulgada em 30 de maio de 2016 pela Comissão Nacional da UNESCO, de 22 bens que reúnem todas as condições necessárias para serem considerados Património Mundial, está com um cadeado na porta à espera que se defina como se fará a sua reabertura, com que equipa ou responsabilidade. Este é sem dúvida um erro a corrigir.
O conjunto monumental recebia visitantes nacionais e internacionais, possuía uma programação cultural regular e reúne um espaço expositivo muito interessante, tendo ao longo de vários anos sido objeto de investimento público e de medidas de salvaguarda e valorização.
Por favor reveja-se, e rapidamente resolva-se, a devolução deste bem comum, património classificado como Monumento Nacional, à fruição pública das suas comunidades .
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Os canta mal e toca pior
Sílvia Quinteiro (Professora)
resci no seio de uma família jovem, enérgica e animada, na qual a monotonia nunca teve oportunidade de se instalar. A receita: muito humor e animadas viagens de carro. Aos fins-de-semana, acordava-se cedo ao som de um: “ Levantem-se depressa. Vamos a…”. E lá íamos nós, Portugal a fora, descobrir o país palmo a palmo. Havia sempre alguma coisa por ver: um monumento, uma praia, uma aldeia embutida na serra, um museu… Fazíamos longos quilómetros para ir comer a um restaurante recomendado por alguém ou visitar um amigo de longa data.
Almofadas, manta, bonecas, livros, papel e canetas para jogar ao STOP. Mas o mais importante, o que realmente tornava a viagem especial, era a música. A que ouvíamos, mas, sobretudo a que cantávamos. Os pais davam o tom e as crianças acompanhavam. Entoávamos a plenos pulmões música tradicional portuguesa, canções de intervenção, os sucessos do Festival da Canção ou da Eurovisão, canções que evocavam as paisagens atravessadas... Ouço-nos. O carro em andamento, janelas abertas. O cabelo da mãe, negro, brilhante, imperturbável sob uma camada de laca perfumada. Os nossos a esvoaçar. Grândola Vila Morena, Lisboa Menina e
Moça, Quem passa por Alcobaça. Mais uma hora e chegará a vez de Coimbra é uma lição.
O gosto pela música era partilhado pelo resto da família. No carro do tio, frequentador habitual dos bares e discotecas de Albufeira, a música era outra: Rolling Stones, Clash, Queen, Ramones, Doors... Rádio no máximo. Ele acompanhava os vocalistas. Eu também, mas numa versão da letra que, tal como a língua, era só minha.
As reuniões de família, por sua vez, eram verdadeiros concertos. Os avós, entusiastas das charolas, do cantar à desgarrada, do fado, das canções dos filmes dos anos 50 e das «modas» que faziam furor no Parque Mayer, dominavam nestes momentos. A indispensável gaita de beiços sempre presente. Enquanto um cantava o outro tocava. Convívios inesquecíveis.
Não me lembro de haver silêncios. Nem mesmo a trabalhar. Pais, avós, tios. Na horta, em casa, no carro… Um entusiasmo musical capaz de envergonhar a família von Trapp.
Não se confunda, porém, entusiasmo com talento. Se formássemos uma banda, seríamos seguramente Os canta mal e toca pior. Tínhamos plena consciência disso, mas era um pormenor. Aos poucos, as canções desses tempos
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transformaram-se em memórias de uma forma melodiosa de viver. Tentei replicála: cantar no carro, em casa, ao deitar os filhos, até com os alunos, coitados. E apercebi-me hoje de que falhei nessa missão. Sem dar por isso, a vida foi-se tornando cada vez mais silenciosa. Já canto pouco. Ou desafino pouco, como preferirem. Ninguém canta cá em casa. Ouve-se muita música, mas não se canta… Percebi o quanto este silêncio faz eco. Que não cantar, não expressar a felicidade dessa forma, é, de algum modo, ser menos feliz. E foi nesse momento que, não encontrando uma boa razão para que isto aconteça, decidi
recuperar a boa tradição familiar. Este desejo assolou-me no duche. Que oportunidade melhor para libertar o rouxinol silenciado. Deixei-o de imediato voar ao som de Murder on the dancefloor. A acompanhar, uma versão minimalista da coreografia de Barry Keoghan, em Saltburn. Feliz. Leve. Liberta. Voei até à infância, até à família, até aos lugares das viagens, dos longos serões, ao interior dos carros-sala de concerto que nos levavam em digressão. Voei e aterrei. Em cheio no fundo da banheira, onde me estatelei e arranjei um belo galo para fazer companhia ao rouxinol. Temos dueto! .
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PROPRIETÁRIO:
Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina
Contribuinte N.º 211192279
Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782
PERIODICIDADE:
Semanal
CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO:
Daniel Pina
FOTO DE CAPA:
Daniel Pina
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ALGARVE INFORMATIVO #431 126