REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #434

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ALGARVE INFORMATIVO

18 de maio, 2024

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QUARTEIRA É CIDADE HÁ 25 ANOS | GRANDE PRÉMIO DA CRÓNICA E DISPERSOS LITERÁRIOS MINISTRA DA SAÚDE INAUGUROU INEM EM LOULÉ | «RICARDO III» | «OUTSIDERS» DE OLHÃO

ÍNDICE

Quarteira festejou 25.º aniversário de elevação a Cidade (pág. 24)

Ciclovia/Ecovia de Silves liga Armação de Pêra à Praia Grande (pág. 34)

Ministra da Saúde inaugurou Delegação Regional do INEM em Loulé (pág. 40)

Grande Prémio da Crónica e Dispersos Literários (pág. 48)

Campeões nacionais CEDF (pág. 54)

«Ricardo III» no Cineteatro Louletano (pág. 86)

Outsiders no Auditório Municipal Maria Barroso (pág. 100)

OPINIÃO

Paulo Cunha (pág. 114)

Mirian Tavares (pág. 116)

Fábio Jesuíno (pág. 118)

Nuno Campos Inácio (pág. 120)

Dora Gago (pág. 122)

Quarteira celebrou 25 anos de Cidade, com orgulho no passado e muita ambição para o futuro

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina s comemorações do 25.º aniversário da elevação de Quarteira à categoria de cidade decorreram de 10 a 12 de maio. No dia 10, o Passeio das Dunas recebeu a peça de teatro «Aluga-se» do Grupo de Teatro Comunitário de Quarteira, coordenado pelo Coletivo JAT – Janela Aberta Teatro, seguindo-se uma noite dedicada ao fado com a atuação de André Catarino, Melissa Simplício e

Pedro Viola, acompanhados pelos músicos Nuno Martins e Ricardo Martins. No segundo dia de celebrações, a autarquia quarteirense apresentou o filme promocional da freguesia «Quarteira não é uma história qualquer», no Passeio das Dunas, prosseguindo a noite com o concerto de Nuno Guerreiro e da Banda Filarmónica Artistas de Minerva, com a participação do Grupo Coral de Quarteira.

O Dia da Cidade, 13 de maio, ficou reservado para as tradicionais cerimónias

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protocolares, com o programa a arrancar com o hastear da bandeira com formatura dos Bombeiros Municipais de Loulé, junto ao Edifício do Centro Autárquico. Depois, teve lugar a habitual sessão solene, que este ano começou com a homenagem a Filipe Viegas, que partiu recentemente e que foi expresidente da autarquia durante o mandato de 1998-2001, período em que Quarteira foi elevada a cidade e durante o qual foi criado o Porto de Pesca de Quarteira, uma das mais importantes infraestruturas para a atividade piscatória.

Logo depois houve lugar a testemunhos de alguns elementos da comunidade sob o mote «25 Anos de Vivências», após o que usou da palavra Telmo Pinto, presidente da Junta de Freguesia de

Quarteira. “A escutar as pessoas é que podemos ser melhores nestas funções, mas, hoje, perdemos tanto tempo com os regulamentos, decretos-leis, documentos sem fim, que não conseguimos estar mais perto dos nossos cidadãos”, começou por desabafar o autarca. “As pessoas fazem e são a nossa comunidade, e também devem ser, sempre, sem qualquer tipo de receio, a nossa prioridade”, defendeu.

Telmo Pinto lembrou que a Junta de Freguesia de Quarteira tem apostado, por isso, na proximidade, trabalhado em rede com várias entidades e desenvolvido os seus serviços de atendimento, sociais,

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comunicacionais e recreativos. “Quisemos ser diferentes e, mais do que a obra física, apostámos na obra mais imaterial e humana, as nossas pessoas. Desde agosto de 2022, e face às competências ganhas enquanto Junta de Freguesia, realizamos mais de 53 mil atendimentos que mudaram a vida das pessoas. Estamos a servir a população da melhor forma possível e a dar a devida atenção ao território”, indicou, acrescentando, porém, que “as pessoas não são, nem podem nunca ser tratadas como números”. “São nomes, rostos, sorrisos e conversas. São preocupações e a busca incessante por soluções. São visões e projetos que têm que ser construídos em conjunto”.

Questionando que Quarteira se pretende para o futuro, Telmo Pinto

lamenta que, nos tempos que correm, exista um distanciamento muito grande das pessoas em relação à política. “Há uma descrença generalizada nos políticos que resulta do cansaço das promessas e ideias vazias. Não podemos ser melhores se continuarmos a viver em bolhas. Não conseguiremos ligar-nos às pessoas se não estivermos predispostos a escutá-las. Não representaremos ninguém verdadeiramente se não conhecermos as pessoas e os seus anseios. Não podemos deixar que os deslumbramentos dos cargos nos desviem dos caminhos certos e para os quais fomos eleitos”, salientou Telmo Pinto.

Respondendo à sua própria pergunta, o autarca deseja uma cidade com projetos e ideias que representem a comunidade, uma cidade que continue a acolher todos aqueles que ali vão ter, e que lhes

proporcione as melhores condições de vida. “Quero uma cidade que ligue as gerações, que recorde o passado, viva o presente e tenha condições dignas para garantir um futuro. Quero uma cidade onde o processo de decisão esteja aliado à comunidade, porque, se hoje estamos aqui, é porque alguém construiu tudo o que vemos em cada rua e em cada caminho. Foram sonhos tornados realidade, com esforço, amor e coragem”, declarou o presidente da Junta de Freguesia de Quarteira. “Quero uma cidade ambiciosa e que continue a ser uma referência, uma Quarteira livre, destemida e sem amarras.

Quarteira pode ser tudo o que quisermos e juntos iremos continuar a construí-la”, terminou Telmo Pinto.

“Quarteira é terra acolhedora, é terra-mãe para muita gente, e aqui todos devem caber com os mesmos direitos e possibilidade que aqueles que cá nasceram. É isso que faz de nós uma comunidade adulta e robusta”, apontou, por sua vez, Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé. “Após um período de transformação muito rápida e súbita, condicionada por uma grande turbulência histórica que aconteceu no nosso país, com a descolonização, Quarteira soube evoluir bem, mas nada está garantido, porque o futuro é sempre uma realidade aberta”, avisou.

Vítor Aleixo apontou que Quarteira é uma terra muito cobiçada do ponto de vista imobiliário e não hesitou em dizer

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que, “se hoje está bem, é porque ainda fomos a tempo de corrigir aquilo que estava a nascer muito mal e optar por uma trajetória que melhorou significativamente a cidade”. “E isso significa tomar decisões corajosas e dizer «não» a muitas coisas. O desenvolvimento tem limites, se não for feito com equilíbrio, se não for sustentável, mais cedo do que tarde vai resultar em prejuízo para todos nós”, alertou, preocupado.

O presidente da Câmara Municipal de Loulé elogiou a diversidade cultural existente em Quarteira, mas a chegada de tanta gente vinda de outros pontos do globo também acarreta mais desafios, nomeadamente a necessidade de se construir mais habitação e escolas, entre outras infraestruturas. “Como um dia fomos para outros sítios à procura de ser felizes, porque a nossa terra

era «madrasta» e «matava» o potencial humano de quem aqui nascia, hoje somos procurados por muitas pessoas em busca de uma vida melhor e a nossa obrigação é trabalhar para as acolher e para que sejam felizes na nossa comunidade. Os tempos correm muito depressa e as respostas precisam ser rápidas, caso contrário, as pessoas deixam de acreditar em nós”, admitiu o edil louletano.

No entanto, responder depressa às necessidades nem sempre é possível, devido aos constrangimentos burocráticos, “daí que vivamos em tempos em que muito facilmente a Democracia é desacreditada” “Muita atenção às promessas fáceis, àquilo que é demasiado simples”, pediu Vítor Aleixo, que não

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terminou o seu discurso sem falar de algumas obras emblemáticas para a cidade de Quarteira que estão em vias de avançar, como é o Casino Velho, o Mercado Municipal, o Centro de Educação e Cultura de Quarteira. “A responsabilida de é grande para o futuro, estamos bem, mas temos que pedir sempre mais, porque somos uma terra de gente com muita categoria”, finalizou .

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Ciclovia / Ecovia de Silves liga Armação de Pêra à Praia Grande em Pêra

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina oi inaugurado oficialmente, no dia 10 de maio, o troço da Ciclovia / Ecovia de Silves que liga Armação de Pêra à Praia Grande nascente, num ato que contou com a participação da presidente da Câmara Municipal de Silves, Rosa Palma, do presidente da CCDR Algarve, José Apolinário, e do presidente do Turismo do Algarve, André Gomes. A obra, que representou um investimento de 1,6 milhões de euros, apoiados por

fundos comunitários, integra a operação Ciclovia / Ecovia do Litoral Sul e o Plano de Ação de Mobilidade Urbana Sustentável (PAMUS).

Com uma extensão de 3,4 quilómetros, esta infraestrutura engloba um troço rural-natural que se estende paralelamente ao cordão dunar da Praia Grande (Pêra), com início na ponta nascente da malha urbana da vila de Armação de Pêra, e atravessa a Ribeira de Alcantarilha, unindo-se com o passadiço já existente na Lagoa dos

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Salgados. O investimento, para além de representar mais um ponto de interesse turístico, beneficiará igualmente a comunidade local, não só na área do lazer, mas também no encurtamento da distância entre a vila de Armação de Pêra e o concelho de Albufeira, potenciando a utilização de meios de deslocação não poluentes como a bicicleta.

Há vários anos que o Algarve pretende criar uma ecovia/ciclovia de Sagres a Vila Real de Santo António, numa extensão de 250 quilómetros dos quais, no final de 2023, já estavam concluídos 75 quilómetros. “Estes projetos ficam no território, dão resposta aos desejos e pretensões das pessoas, têm a ver com a vida saudável, com o desfrutar da natureza”, enalteceu, por isso, José Apolinário.

“Estas infraestruturas atraem turistas, mas é um investimento também para as pessoas de Armação de Pêra e de Pêra, de todo o concelho de Silves, e que tem que ser cuidado. Felicito o Município de Silves pelo bom uso que faz dos fundos europeus”, realçou o presidente da CCDR Algarve.

Perante uma multidão de populares ansiosos por percorrer o passadiço, Rosa Palma lembrou que este troço da Ecovia nasceu precisamente de uma conversa com a população, no âmbito dos Orçamentos Participativos, acrescentando que, “a partir de agora, todos nós somos responsáveis por tomar conta desta obra e todos nós devemos

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ser guardiões deste território”. “Estamos perante algo que já é identitário de Armação de Pêra, a Pedra do Valado, um recife rochoso que ganhou uma imensa notoriedade, graças ao trabalho conjunto do Município, do ICNF, da Junta de Freguesia, da Associação de Pescadores, da Fundação Oceano Azul e da população local. E esta Pedra do Valado ainda vem dar mais força ao Geoparque Algarvensis, um

projeto que une os concelhos de Silves, Albufeira e Loulé”, frisou a presidente da Câmara Municipal de Silves, antes da comitiva percorrer o passadiço em direção à Praia Grande .

Ministra da Saúde inaugurou nova Delegação Regional do INEM em Loulé

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

número 112 está agora «mais perto» dos algarvios, depois do CODU –Centro de Orientação de Doentes Urgentes voltar à região, passado vários anos de ausência, ficando a funcionar na nova sede do INEM na «Cidadela da Segurança e Proteção Civil» de Loulé.

O equipamento foi inaugurado, no dia 10 de maio, com a presença da Ministra da Saúde, Ana Paula Martins, depois de um investimento do Município de Loulé de 2 milhões de euros, pretendendo dar resposta a todo o território do Algarve e contribuir para que o INEM possa cumprir a sua missão com mais eficácia, nomeadamente, garantir a assistência adequada às vítimas de acidente e de doença súbita, e o socorro e assistência

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às populações em caso de necessidade.

“Vai permitir melhores condições logísticas e operacionais ao desempenho da atividade que aqui se faz, bem como a coordenação do SIEM –Sistema Integrado de Emergência Médica, em articulação com diversas

entidades, nomeadamente Bombeiros, Hospitais e Cruz Vermelha Portuguesa. Estas novas instalações permitem que o INEM possa continuar a cumprir a sua missão de prestação de cuidados de emergência médica”, frisou a governante com a pasta da Saúde.

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O novo edifício do INEM alberga o CODU e o Gabinete de Apoio ao CODU, um Centro de Formação, Gabinete da Coordenação Regional, Gabinete de Coordenação de Enfermagem, bem como instalações para a área de logística e operações. Conta ainda com camaratas, refeitório e balneário, com todas as condições necessárias para os profissionais do INEM. A nova sede do INEM, junto ao nó da A22, terá como vizinhos o CREPC – Comando Regional de Emergência e Proteção Civil da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil e o Quartel de Bombeiros ou Heliporto, onde está em permanência o helicóptero do INEM, um meio fundamental na área da emergência médica e do socorro. A centralização de

todos os serviços de Proteção Civil num único espaço vai possibilitar o reforço de sinergias aos mais variados níveis, desde operacionais a formativas.

Numa região voltada para o turismo, com uma população residente de cerca de 460 mil pessoas, aos quais se juntam perto de 5 milhões de turistas, “o INEM tem vindo a ajustar e a reforçar os recursos e meios de emergência médica na região, de acordo com as reais necessidades”, nomeadamente no Verão, com o objetivo de aumentar a capacidade de resposta, notou a Ministra Ana Paula Martins. “O Governo assume como sua prioridade o combate a esta degradação dos serviços de saúde,

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mas também assume o reforço daquilo que está bem. Portugal pode orgulhar-se de contar com uma rede de serviços públicos de excelência, dos quais o INEM é, sem dúvida, uma referência”, disse.

No seu discurso, a Ministra destacou ainda o papel fundamental da Câmara Municipal de Loulé e do seu autarca, Vítor Aleixo, “cuja visão o tornou o grande impulsionador e responsável por este projeto que visa colocar a segurança e saúde dos cidadãos em primeiro plano, contribuindo assim para que toda a população possa sentir e viver o Algarve com toda a segurança”. E foi precisamente para responder à

questão levantada por Vítor Aleixo sobre para quando o futuro Hospital do Algarve, obra aguardada há mais de duas décadas, que a responsável deixou o seu compromisso público: “O que posso garantir é que defenderei junto do Governo e do Primeiro-Ministro, com todas as minhas forças, mas sobretudo com todos os argumentos sólidos que há alguns anos estão identificados, que a obra do novo Hospital seja lançada e comece o mais depressa possível. Mais cedo do que tarde este projeto será decidido”, anunciou, adiantando que este será seguramente “um hospital universitário, cumprindo a sua função para o século XXI”.

Feliz por inaugurar um equipamento que é de toda a região, o autarca Vítor Aleixo destacou a localização de excelência do mesmo. “Integra-se numa área da cidade que está estrategicamente em cima de um nó da autoestrada, no centro geográfico do Algarve, com os melhores acessos possíveis, o que facilita também muito a operação de toda a logística do INEM, bombeiros, autoridades de segurança e proteção civil”, descreveu o edil, que falou igualmente do ecossistema ligado à investigação

científica e à inovação na área das Biociências que está a nascer em Loulé e que integra, entre outros, o primeiro laboratório de genética médica da região, que se encontra em fase de conclusão.

Também neste setor dos serviços de saúde, o Município de Loulé tem feito um significativo investimento em equipamentos como o novo Centro de Saúde Universitário em fase de conclusão, o projeto de remodelação da Unidade Saúde Familiar «Serra Mar» (com financiamento PRR aprovado) ou a constituição da Unidade de Saúde Familiar «Estrela do Mar», em Quarteira.

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«Autobiografia não autorizada 2»

de Dulce Maria Cardoso conquista Grande Prémio de Crónica e Dispersos

Literários

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

ulce Maria Cardoso recebeu, no dia 9 de maio, o Grande Prémio de Crónica e Dispersos Literários, promovido pela Associação

Portuguesa de Escritores e Câmara

Municipal de Loulé, que distinguiu a sua obra «Autobiografia não autorizada 2».

Publicado em 2023, este segundo volume reúne relatos pessoais e memorialísticos que Dulce Maria Cardoso escreveu para a revista Visão.

Com um “título provocativo”, a obra é composta por um conjunto de crónicas em que a autora se torna personagem e arrasta todo o seu universo – a família, os amores, os amigos, as

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pessoas com quem se cruza, tornando-as também personagens. “É uma forma de partir do particular para o universal, do muito localizado no tempo para o intemporal, e é também uma forma de me divertir com os leitores”, disse.

A obra surge na continuidade do volume 1, lançado em 2021, quatro anos que apanharam muitas fases da vida da escritora, “a pandemia, momentos mais felizes, menos felizes, amores, desamores, viagens, apanharam passado e grande parte do que me fez chegar até aqui como pessoa”, explicou a premiada, que, feliz com este reconhecimento dos seus pares, acredita que o prémio lhe permitirá “comprar

tempo” para se dedicar “inteiramente” à sua arte.

A transmontana “em todos os genes”, que veio ao Sul receber este galardão, reafirmou: “Sei bem o que é estar longe do centro. É por isso também que quis que estas crónicas fossem o registo desta gente que nasceu para não ter voz, afastada dos centros do poder”. Apesar da sua vasta obra que circula entre outros géneros, declara sentir-se bem ao escrever crónicas, um género “muito exigente que encerra contradições insanáveis”. “Estamos a falar do particular, mas a crónica tem que ser universal, estamos a falar do presente, mas tem que ser intemporal, estamos a

tornarmo-nos uma personagem, mas o cronista tem que ser, acima de tudo, um cidadão”, notou Dulce Maria Cardoso. O prémio traz-lhe, no entanto, “um amargo de boca”, pois receia que um possível terceiro volume desta «Autobiografia não autorizada» não seja editado em virtude da crise que está a afetar imprensa escrita, na qual se inclui a revista Visão.

Em nome do júri, constituído também por Helena Carvalhão Buescu e Salvato Teles de Menezes, Carlos Albino Guerreiro destacou a excelência da escrita de Dulce Maria Cardoso, mais um nome grande da literatura portuguesa que se vem juntar aos vencedores deste Prémio. “O encanto destas crónicas provém desse afrontar a narrativa sobre si própria em forma de crónica, com um arrojo inusitado, mas sobretudo com uma qualidade literária invulgar. Não se trata

apenas de escrever bem, trata-se de escrever com arte”, apontou o porta-voz dos jurados. Carlos Albino Guerreiro destacou ainda a “conjugação entre brevidade e intensidade do que é evocado e descrito” “Consubstancia-se numa prosa literária de altíssima qualidade que transporta o leitor para o que é o verdadeiro valor das circunstâncias de que são feitos os dias”, relevou.

Nestas nove edições, este Grande Prémio de Crónica e Dispersos Literários “atingiu inegável importância nacional, é um prémio desejado, reconhecendo-se-lhe o selo de garantida qualidade literária”. “Temos vestido os nossos melhores fatos para aplaudirmos essa plêiade de escritores. Todos eles têm mostrado

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disponibilidades para retornar a esta terra para encontros com jovens e clubes de leitura, em Loulé, Quarteira, Salir e Almancil”, disse ainda o representante do júri.

Já o presidente da Associação Portuguesa de Escritores, José Manuel Mendes, recordou os anteriores oito vencedores do Prémio (José Tolentino de Mendonça Rui Cardoso Martins, Mário Cláudio, Pedro Mexia, Mário de Carvalho, Lídia Jorge, José Eduardo Agualusa e Miguel Esteves Cardoso), nomes que expressam bem “o que tem sido o trajeto deste Grande Prémio”. “Foi um caminho que se revestiu de um prestígio verdadeiramente raro no contexto das Letras portuguesas e para além dele”, analisa, sublinhando o facto de a crónica ser um género

“muito praticado, de enorme mérito e, acima de tudo, aquele que está mais perto do quotidiano de todos” “Há cronistas que se tornam canónicos no nosso diadia, entre eles a Dulce Maria Cardoso”, frisou.

Neste dia foi, entretanto, renovado o protocolo de cooperação entre a Associação e o Município, passando agora o prémio a ter um valor pecuniário de 15 mil euros. “Estes momentos são, para nós, vividos com muita alegria. Há uma renovação do sentimento que cumprimos com uma atividade nobre que é a criação literária e estímulo às artes”, disse o autarca Vítor Aleixo na ocasião .

CAMPEÕES NACIONAIS

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

NACIONAIS CEDF

Escalões 1.ª Divisão – Esquema Equilíbrio: Rita Gonçalves/Madalena Justo, Isis Rodrigues/Joana Ramires/Inês Godinho, Lourenço Cartaxo/Noa Rodrigues; Clara Grilo/Alice Geraldes, Marta Ferreira/Luz Leitão/Carolina Gomes.

CEDF – Clube

Educativo e Desportivo de Faro organizou, no dia 11 de maio, a terceira edição do ACROIN, um torneio interno em que participaram as classes acro formação, acrobase 1, acrobase 2 e acro competição nos escalões níveis, infantil, base e 1.ª Divisão e que levou à sede do clube, localizada na Estrada do Passeio Ribeirinho, em Faro, largas dezenas de jovens ginastas e respetivos pais. A «família» da ginástica acrobática juntou-se, assim, para um

ainda de respiração acelerada, ao assistir aos fantásticos esquemas com figuras e coreografias preparadas pelo Treinador e Coordenador Técnico Telmo Dias, pelos treinadores Ivo Gabadinho e Inês Marcelino e pela coreógrafa Cláudia Fernandes.

Houve pontuação, cerimónias de pódio e atribuição de medalhas, mas o mais

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importante foi comprovar, in loco, o talento dos ginastas do CEDF. O torneio serviu também para preparar a participação na MIAC – Maia Internacional Acro Cup, que se vai realizar na Maia, de 17 a 19 de maio, dos atletas que se sagraram recentemente campeões nacionais da segunda divisão, nomeadamente: Par Misto Juvenil 2.ª

Divisão – Lourenço Cartaxo/Noa Rodrigues; Par Feminino Júnior 2.ª Divisão – Clara Grilo/Alice Geraldes; e Equipa Juvenil 2.ª Divisão – Par Feminino Rita Gonçalves//Madalena Justo, Par Misto Lourenço Cartaxo/Noa Rodrigues e Trio Feminino Ísis Rodrigues/Joana Ramires/Inês Godinho .

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Escalões de Níveis – Karolina Silva/Francisca Mira, Matilde Mota/Catarina Monteiro, Madalena Alves/Maria Clara Brito/Inês Guerreiro, Mathilde Hamel/Leonor Brito/Francisca Mota, Madalena Sousa/Diana Clara, Lia Pereira/Helena Gomes/Emma Moreira, Lara Antunes/Margarida Martins/Matilde Fonseca, Diana Santos/Ana Carolina Grave/Melodia Mota.

Escalão Infantil – Leonor Soares/Maria Inês Leitão, Maria Beatriz Gonçalves/Mariana Dias, Lourenço Martins/Alexandra Iabanji, Ema Carmo/Leonor Amaro/Erika Panfil.

Escalões Base – maria Glória Almeida/Catarina Pina, Matilde Almeida/Mafalda Santos/Maria Leonor Carvalho, Lia Zanai/Michele Schade/Constança Filipe, Maria Barão/Inês Braz, Lara Sardo/Inês Ribeiro/Carolina Lima, Sofia Ferreira/Mariana Emídio/Rita Bicho, Ana Carolina Soares/Beatriz Tomé/Leonor Cruz, Maria Gonçalves/Leonor Conduto.

Escalões 1.ª Divisão – Rita Gonçalves/Madalena Justo, Isis Rodrigues/Joana Ramires/Inês Godinho, Lourenço Cartaxo/Noa Rodrigues, Clara Grilo/Alice Geraldes, Marta Ferreira/Luz Leitão/Carolina Gomes.

TERRA AMARELA APRESENTOU «RICARDO III» DIFERENTE

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

APRESENTOU UM DIFERENTE EM LOULÉ

Terra Amarela

levou a cena, nos dias 2 e 3 de maio, no Cineteatro Louletano, «Ricardo III», um real documento de propaganda que demonstra que uma mentira, repetida mil vezes, acaba por transformar-se numa oportuna verdade. “E este não poderia ser um melhor espelho dos nossos dias: o que parece, não é. O que é, seca. Mas

nós não estamos dispostos a secar”, explica Marco Paiva.

O diretor artístico recorda que Ricardo III é uma personagem bestialmente imprevisível e manipuladora. “Hábil no jogo político, apresenta um voraz e insaciável desejo de tensão. A estabilidade torna-se para ele previsível, aborrece-o. A paz aborrece-o. William Shakespeare oferece-nos de bandeja uma

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personagem virtuosa no discurso, hábil na dissimulação e profundamente amoral, que tratará de rasgar tudo o que se colocar entre ela e o lugar da sublimação do seu poder: o trono de Inglaterra”, indica Marco Paiva.

À Terra Amarela interessou sobremaneira “um conceito de jogo em que expomos, a partir do lugar cénico, todas as tensões, virtuosismos, traições e lugares poéticos, através da força de duas línguas que se expressam na potência do corpo – a Língua Gestual Portuguesa e a Língua de Signos Espanhola” “Tornamos a batalha e o grito, o engano e a

violência, em espaço visual e sonoro. A ficção invade-nos por todos os sentidos, e nesta redescoberta do lugar teatral, como lugar de espanto, garantimos que nós, que estamos em cima deste palco, não parecemos, somos; não secamos, geramos futuro”, reforça Marco Paiva.

«Ricardo III» é protagonizado por Ângela Ibanez, David Blanco, Marta Sales, Tony Weaver, Maria José Lopez e Vasco Seromelho e é uma coprodução da Terra Amarela, Centro Dramático Nacional (Madrid), Teatro Nacional D. Maria II (Lisboa), Teatro Nacional de São João (Porto) e Cineteatro Louletano .

OUTSIDERS DERAM ESPETÁCULO MUNICIPAL MARIA BARROSO

PREVENÇÃO DOS MAUS-TRATOS

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
ESPETÁCULO NO AUDITÓRIO BARROSO NO MÊS DA MAUS-TRATOS NA INFÂNCIA

lhão assinalou o Mês de Prevenção dos Maus-Tratos na Infância com diversas iniciativas organizadas em parceria pelo Município e a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Olhão, com o intuito de nos relembrarmos da nossa responsabilidade coletiva e comunitária nesta matéria. A par da iluminação de vários edifícios do concelho com uma luz azul e/ou decoração das suas fachadas com um laço azul, da divulgação da campanha, da apresentação do tema em contexto escolar, (sala de aula) e da construção de laços humanos nas entidades públicas e privadas, um dos maiores destaques foi o espetáculo de dança que teve lugar, no dia 30 de abril, no Auditório Municipal Maria Barroso.

O espetáculo interativo foi da responsabilidade da Outsiders Art & Dance Studios de Olhão, contou com a participação de um grupo de dança adaptada do Gabinete de Desporto da Universidade do Algarve, e incluiu mensagens e coreografias alusivas ao bom trato, especialmente dirigidas às crianças e jovens a frequentar o 9.º ano e o ensino secundário. O objetivo foi sensibilizar a plateia para os maus-tratos e a prevenção de comportamentos de risco, visando um futuro em que estas crianças e jovens serão pais e cidadãos adultos da nossa comunidade. A assistência contou com turmas da Escola Dr. António João Eusébio (Moncarapacho), Escola Dr. João Lúcio (Fuzeta), Escola João da Rosa (Olhão), Escola Professor Paula Nogueira (Olhão), Escola José Carlos da Maia (Olhão), Escola Alberto Iria (Olhão) e Escola Secundária Dr. Francisco Fernandes Lopes (Olhão) .

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O maior prémio de todos Paulo Santos (Professor)

m fevereiro, recebi um telefonema da Global Teacher Prize Portugal, informando-me que um colega me tinha indicado para aquele que é considerado o Prémio Nobel da Educação em Portugal. Confesso que foi preciso esse colega, o professor Bruno Gomes, ter ganhado a Menção Honrosa em 2021 para conhecer o referido concurso. Após me informarem quais seriam os trâmites necessários para formalizar a candidatura, só acedi dar continuidade à mesma quando me informaram que 85% do valor pecuniário do prémio seria oferecido a uma instituição à minha escolha. Tendo trabalhado cerca de 25 anos com alunos surdos e sabendo das suas carências e apetências, naturalmente, mencionei a Unidade de Apoio à Educação de Crianças e Jovens Surdos de Faro (UACJSF) como a usufrutuária de uma quantia que lhe permitiria potenciar e melhorar o acesso dos surdos às diversas vertentes artísticas. Obviamente, quando o seu coordenador, Prof. Humberto Viegas, soube da minha intenção, os seus olhos até brilharam de satisfação.

Depois de muitas horas despendidas na formalização da candidatura, no dia 7 de maio recebi um lacónico e normalizado email da Equipa Global Teacher Prize Portugal, referindo que não fazia parte do grupo de finalistas desta edição. A minha primeira reação foi de desapontamento, pois, como qualquer sonhador, já tinha idealizado planos para gastar os euros

arrecadados com os alunos surdos algarvios. Paciência! Imediatamente, constatei que, sem querer, acabei por construir um portfólio sobre a minha pessoa que constituirá uma boa herança para os meus filhos. Mas o que me deu realmente a sensação de ter ganhado o primeiro prémio foram os testemunhos de alguns alunos surdos, familiares de alunos surdos, intérpretes de Língua Gestual Portuguesa (LGP) e colegas professores. Muito provavelmente, não teriam sido escritos e não os teria lido se não tivesse respondido ao desafio e acedido candidatar-me.

Entre muitas frases que me humedeceram os olhos e me encheram de gratidão, aqui partilho excertos de algumas escritas por antigos alunos surdos:

- O professor tentava descobrir como integrar no mundo dos sons a comunidade surda. A ideia era perceber como fazer para chegar até nós, e a sua prioridade era, através da sua sensibilidade e compreensão, que entendêssemos o que é a música. (Daniel Santos)

- Ensinou-me não apenas o ritmo do som, mas também a sentir a vibração, a conhecer os instrumentos e a «mergulhar» na música de uma forma única, apesar da ausência de audição. (Vasco Seromenho)

- Foi um dos meus grandes apoios que me levou a descobrir que na música não se conhece barreiras, e que mesmo numa realidade silenciosa podemos sentir a sua essência e deixar-nos levar pela sua magia. Sem dúvida que foi muito mais do que um professor para mim. O Paulo é aquela pessoa que acolhe os seus alunos como se

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fossem família. Um guia cativante que nunca se cansou de procurar maneiras inovadoras de nos conectar com a melodia, o ritmo e a expressão musical. (Bruna Saraiva)

- Foi com ele que percebi que a música também se podia escrever e que aqueles pontos e traços numa pauta significavam sons, tal como os gestos são palavras para os surdos. Fiquei impressionado quando percebi isso e quando aprendi coisas sobre a música e senti os sons, e tive uma excelente nota! (Frederico Pacheco).

E como teria eu chegado onde cheguei sem a preciosa contribuição das intérpretes de LGP?

- O professor “--------“, nome gestual para a comunidade surda, identificado como Prof. Paulo Cunha para a comunidade ouvinte, desafia as noções tradicionais de música ao demonstrar que ela não é restrita

apenas aos ouvintes. Em vez disso, ele mostra como a música pode ser sentida através do silêncio, através das vibrações e dos movimentos corporais. (Leonor Paulino)

- O impacto do trabalho do Prof. Paulo Cunha vai muito além da sala de aula. Através dele, mudam-se perceções e quebram-se estereótipos sobre as capacidades das pessoas surdas no campo da música. Ele é muito mais do que um professor de música de alunos surdos, é um visionário, um mentor e um verdadeiro agente de mudança que tem transformado vidas e inspirando outros a repensar o que é possível fazer no mundo da educação e da música. (Carla Domingos)

E como conseguiria ter obtido os resultados que alcancei sem o precioso apoio das famílias dos alunos surdos?

- Enalteço a forma como o professor transmitiu os seus conhecimentos e incutiu no meu filho o gosto pela música, fomentado assim a sua plena integração sociocultural. (Conceição Seromenho)

- O Paulo poderá dizer melhor que ninguém, as «provações» por que passou ao longo destes anos, para fazer os surdos sentirem o que é a música. Pela minha parte, apenas posso falar do brilho nos olhos do meu filho, há muitos anos, quando sentiu de facto a música. E isso, para mim, vale ouro! Ao Paulo, a minha muito sentida gratidão, por fazer com que o impossível pudesse tornar-se possível! (Aida Rita)

Não, não escrevi este texto para me envaidecer. Escrevi-o para enaltecer, agradecer e homenagear todos aqueles que ousam partilhar e investir um pouco de si em prol dos outros, e a todos que, em vida, têm a capacidade de o reconhecer e agradecer. Efetivamente, de todos, esse é o maior prémio! .

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Foto: Daniel Santos

Das amigas Mirian Tavares (Professora)

Amigo é coisa pra se guardar

Debaixo de sete chaves

Dentro do coração

Milton Nascimento e Fernando Brant

i na Vogue: a amizade entre mulheres constitui uma fonte recíproca de força, bem-estar, alegria e saúde. Disso não tenho dúvidas, pois fui abençoada com as melhores amigas do MUNDO! Mas, segundo a matéria da Vogue, a grande responsável pelo bem-estar que as amigas causam às outras é a produção da OXITOCINA! (Eu me lembrava vagamente de já ter ouvido o nome). A reportagem dizia que tudo era cientificamente comprovado depois de pesquisas realizadas na Universidade de Los Angeles. Em tempos neopositivistas, o tal discurso tinha lá o seu impacto. Mas o que é que uma coisa tem a ver com a outra? Parece que as amigas ajudam umas às outras a libertarem a tal da oxitocina, uma substância química que o cérebro produz e que é eficaz para combater o stress. (Por que amigas e não amigos? Porque a testosterona anula a sua produção). Uau! Finalmente a ciência deu por isso: ter amigas é o melhor remédio! Agora já podemos sair a rua tranquilas. Mas continuava a pensar, onde raio já tinha ouvido a tal palavrinha. Eis que a Wikipédia me socorreu:

A oxitocina (também chamada de ocitocina) é um hormônio produzido pelo hipotálamo e armazenado na hipófise posterior (neuro-hipófise), e tem a função de promover as contrações uterinas durante o parto e a ejeção do leite durante a amamentação. Ele ajuda as pessoas a ficarem juntas por muito tempo. Também é um hormônio ligado ao que as pessoas sentem ao, por exemplo, abraçar seu parceiro de longa data.

Nem tentei pensar nas relações: produção de leite, contrações uterinas, bem-estar (lembrei-me da tal palavra, era o nome de umas gotas que pingava no nariz quando estava grávida). Enfim, a química humana é mesmo fantástica. E pensar que durante anos estivemos a dar outros nomes aos bois, mais espirituais, por certo, mais metafísicos. E cada dia a física, e a química, vão-nos mostrando o que realmente somos: humanos, demasiados humanos. O que, à partida, não é de todo mal .

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Foto: Vasco Célio

A importância da diferença entre o preço e o valor

preço e o valor são frequentemente utilizados como sinónimos, mas na verdade são conceitos distintos com implicações significativas para empresas e consumidores. Compreender essa diferença é importante para o sucesso em qualquer mercado competitivo.

O preço representa a quantia monetária exigida em troca de um produto ou serviço. É um valor tangível, facilmente comparável entre diferentes ofertas. Essa característica torna-o um elemento fundamental na análise de compra, servindo como referência inicial para decisões de consumo. O preço é determinado por diversos fatores, como custos de produção, margem de lucro desejada e condições de mercado.

O valor transcende a mera quantia monetária, referindo-se à percepção individual do cliente sobre os benefícios tangíveis e intangíveis que um produto ou serviço oferece. Esta avaliação subjetiva é influenciada por diversos fatores, como necessidades, desejos, expectativas e experiências anteriores. O valor vai além das características físicas do produto, abrangendo aspetos como qualidade,

atendimento ao cliente, reputação da marca e experiência de uso.

As grandes diferenças entre preço e valor residem em vários fatores. No caso do preço, este foca-se no aspecto monetário da transação, enquanto o valor se concentra na percepção do cliente sobre o que está a receber em troca do seu dinheiro.

Ao encontrar o equilíbrio ideal entre preço e valor, as empresas e marcas garantem a sustentabilidade e o crescimento a longo prazo. Cobrar um preço justo que reflita o valor entregue gera satisfação do cliente, fidelizando-o e impulsionando a lucratividade.

É importante compreender a distinção entre preço e valor para o sucesso de qualquer empresa ou marca. Ao concentrar-se no valor e comunicar os seus benefícios de forma eficaz, as empresas ou marcas conseguem conquistar a satisfação dos clientes, fidelizá-los, aumentar os seus lucros e destacar-se no mercado, construindo assim um futuro promissor e sustentável.

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Das compensações pelos actos do passado Nuno Campos Inácio (Editor e escritor)

os últimos dias a sociedade portuguesa tem assistido a um clima de guerra fria desencadeada pela alegada obrigação política ou moral de uma indemnização às colónias por alegados erros do passado, lembrando os tempos em que os filhos cumpriam as penas dos seus progenitores. Perece-me, por isso, oportuno usar este espaço de crónicas para partilhar a minha opinião, não para impor a minha visão num tema tão fraturante, mas para que outros que eventualmente pensem da mesma forma, saibam que não estão sozinhos.

Não há pior serviço prestado à História, do que tentar interpretar o passado com os olhos críticos do presente. As sociedades, tal como as pessoas que as enformam, estão em constante movimento, que em cada um dos tempos são vistos como de evolução e progresso, mas que, na realidade, são meras passagens, fragmentos de um tempo maior. Outro mau serviço prestado à História é o rasgar ou ocultar determinados elos dessa linha do tempo, como se o presente que temos não seja o resultado de cada um dos actos, positivos e negativos, do passado.

É verdade que existe por toda a Europa um movimento intelectual que defende a existência de compensações a determinadas culturas por ataques e roubos de património cultural de determinadas civilizações, em contextos de invasão,

ocupação ou guerra. Essa compensação passa, quase exclusivamente, pela devolução à origem de artefactos pilhados, não me ocorrendo nenhum caso em que essa compensação recue a actos praticados anteriores ao século XIX.

Esta situação é completamente diferente do pânico que se gerou na sociedade portuguesa por uma indemnização, por exemplo, pela escravatura ou pela retirada de recursos naturais.

Relativamente à questão da escravatura, a que nos cingimos neste artigo pela limitação própria de uma crónica, ela tem de ser analisada aos olhos do passado. Nenhum Império, nenhuma Nação, que tenha mais de um século de existência, está isenta de um passado ligado à escravatura. No final de qualquer batalha ou de qualquer guerra, o mais natural era que os vencidos fossem escravizados. Foi assim ao longo de milénios e estabelecer uma cadeia de compensações ou de indemnizações seria, além de injustificável, ridículo. Na parte que se refere à escravatura negreira portuguesa, esta não foi iniciada com uma caçada a africanos nas florestas do Congo para convertê-los à escravatura, resultou de uma atividade mercantil, em que os portugueses compravam a determinados grupos ou tribos africanas os escravos, que estes exploravam e vendiam, trazendo-os nessa mesma condição para a Europa, para o povoamento de terras desabitadas, ou para a colonização de outras terras descobertas e ocupadas. Sendo importante não esquecer que, nessa mesma época,

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milhares de portugueses eram escravizados pelos argelinos e otomanos, com a naturalidade própria da época.

Acresce a tudo isto que, ao longo dos séculos, existiram inúmeras misturas genéticas e os escravizados do imperialismo português e seus descendentes não estão em África, mas inseridos nas sociedades actuais, especialmente da Europa e da América, fazendo com que a esmagadora maioria da população a quem querem imputar uma obrigação de indemnizar pelo passado colonial, seja ela própria descendente de esclavagistas e escravizados. Pela minha parte, tenho em quatro ramos genealógicos ascendência escrava e não consigo perceber porquê que os meus genes caucasianos deveriam pagar uma indemnização aos meus genes africanos; tal como não perceberia que os meus genes católicos fossem obrigados a indemnizar os meus avoengos judeus pelas atrocidades da inquisição. E esta é uma realidade que qualquer árvore genealógica ou teste de ADN comprovam facilmente, por muito que surpreenda alguns radicais.

Indemnizar Estados africanos do Império Português, quando devem a sua existência

a esse mesmo império; indemnizar gerações actuais pela escravatura dos seus ascendentes quando a sua existência é um resultado das atrocidades dessa mesma época; ou indemnizar africanos que voluntariamente partiram para outros países em busca de uma vida melhor, sem que tenham tido qualquer ligação esclavagista; parece-me inadequado e irresponsável.

No entanto, há um dever histórico, político e moral, que advém do passado e que temos de cumprir, mas que parece preocupar muito poucos: a eliminação da escravatura na atualidade. A nossa obrigação é garantirmos que hoje não tenhamos indivíduos escravizados por redes de tráfico humano, a quem pagam uma parte substancial do ordenado que ganham, vivendo em situação de ilegalidade, privados dos seus documentos; que não tenhamos vinte imigrantes a viverem num armazém, como nos séculos XVII e XVIII viviam nas sanzalas; que não tenhamos imigrantes a dormir nas ruas, a passar fome, sem possibilidades económicas para ficarem, nem para regressarem; que não tenhamos ninguém a trabalhar por menos do que o salário mínimo nacional; que não tenhamos serviços atravancados que impedem a sua legalização.

Se alguns políticos entendem que Portugal tem recursos económicos a mais para desperdiçar com indemnizações incongruentes, então que usem essas verbas para garantirem o fim da escravatura económica da atualidade, já que a escravatura não se resume à privação de mobilidade, ela singra sempre que nos deparamos com a ausência de dignidade humana .

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Em busca da vida num reino de silêncio verde-água

ntro no cemitério de São

Miguel Arcanjo em Macau. Transponho o muro vagamente verdeágua, tom de esperança enganosa. A sombrinha aberta protege-me do sol de Junho, a teimar em morder-me a pele. A sombrinha, indispensável às mulheres chinesas e também a outras asiáticas que, a certa altura, entendi ser mesmo imprescindível por aquelas paragens. Ao contrário da maioria das ocidentais que lhe ridicularizam o uso, aderi a esses e outros hábitos, na plena consciência de que os filhos da terra são detentores de uma sabedoria acerca do modo de a habitar, que nós, os forasteiros, jamais atingiremos. E a diferença que faz uma sombrinha aberta a proteger-nos das dentadas do sol é absoluta. De resto, o hábito nem sequer é assim tão asiático, tão exótico, pois lembro-me de a minha bisavó também a usar quando saia de casa sob o sol quente de Verão. Por isso, esta sombrinha aberta é também o regresso à infância, ao mundo da memória, do tempo perdido, pelos caminhos estreitos, poeirentos, do barrocal algarvio, paginados pela voz das cigarras, pelo cheiro doce dos figos maduros.

Há tempos que sentia este impulso de vir aqui para estar junto da campa rasa de Pessanha. Precisava disto para concluir o meu livro de contos, cujo título lhe pedi emprestado: Floriram por engano as rosas bravas, palavras a escorrerem da Clepsidra, tatuadas na minha mente desde que as li, há mais de trinta anos. Mais do que a ecoar, a revolver, a germinar, naquele movimento desassossegado da semente que quer rasgar a terra para existir de outra forma, para ser outra, nova vida. Todavia, paradoxalmente, é a vida que procuro por entre estas alas, estes jazigos dos que foram importantes: Henrique de Senna Fernandes que tão bem transfigurou a miscigenação, os amores entre culturas para a sua obra, Manuel da Silva Mendes, o anarca, taoista, o sinólogo, a construir pontes culturais e linguísticas com os seus estudos, as suas traduções, o seu amor pela cultura chinesa. E Gonzaga Gomes, esse mesmo filho da terra, cronista, revelador de tantas tradições e histórias macaenses e chinesas. Deolinda da Conceição, pioneira da emancipação feminina, falecida tão jovem, autora de um único livro de contos, Cheong Sam, A cabaia, que atraiu a atenção e o elogio do presencista João Gaspar Simões. Contos da fome e da miséria, de uma Macau assolada pelos refugiados dos mais diversos quadrantes, durante o fim dos

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anos trinta, tempo em que se fundiam a guerra sino-japonesa, a invasão da China, a Segunda Guerra Mundial. Tempo em que Macau, devido à neutralidade de Portugal, foi uma quixotesca cidade aberta, para a qual desaguavam refugiados dos mais variados quadrantes, exilados, apátridas, em busca de uma nesga de terra que os amalhasse do absurdo feito de sangue.

Visito a capela, vou percorrendo as ruas silenciosas uma a uma. Os nomes inscritos nas campas revelam-me o outro lado, uma identidade secreta de Macau, apontam-me o húmus, o substracto de onde se ergueu, muito além dos aterros, a engolirem espaço ao Rio das Pérolas, a proliferarem como uma praga. Além de todos os encontros e desencontros, entre a China e Portugal, Macau foi, é, sempre será um caso único. De uma complexidade sublime, magistralmente captada por Agustina Bessa-Luís, que, apenas numa breve visita conseguiu

material para escrever o extraordinário romance intitulado A Quinta Essência, obra que hoje ninguém conhece, ninguém lê. Macau é aquela teia de contrastes onde nos enredamos, descobrimos, nas margens de todas as diferenças, surgem hinos à miscigenação de diversas índoles: Ana Leong, António Ho, Ho Yat Santos e tantos outros, a testemunharem essa fusão, não apenas de corpos, mas de almas, de mundos.

Imagino uma imensa biblioteca onde coubessem livros a relatar histórias, nas quais todos os que habitam aquele reino de silêncio rodeado de verde-água pudessem viver uma outra, nova vida, travestidos da eternidade – embora talvez ilusória – que só a literatura confere. diminuto território.

As horas passam, o domingo escoa-se. Relanço um último olhar à campa de Camilo, em tom de despedida. O tempo dos vivos é finito, infinito só o dos mortos. Mas não foi a morte que aqui vim procurar – a morte que, em Macau, tomou quase sempre o corpo de uma notícia vinda de longe, uma seta disparada no vazio, desde a outra ponta do planeta, a atingir, a ferir de forma acutilante. O que aqui vim procurar e levo dentro de mim, repito, é a vida. Aquela que existiu, a que se cumpriu do outro lado destas paredes verde-água, a que se acendeu, que antes de se consumir, ardeu em todo o esplendor, espelhada, por vezes, na palavra escrita, alimentada pela acendalha da esperança .

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