ALGARVE INFORMATIVO
6 de julho, 2024
6 de julho, 2024
Dia do Município de Castro Marim (pág. 18)
Dia da Cidade de Tavira (pág. 28)
Verão em Portimão com eventos para todos os gostos (pág. 36)
Taça AGA de Ginástica Acrobática em Loulé (pág. 48)
Festival MED em Loulé (pág. 80)
Noite Prata em São Brás de Alportel (pág. 94)
«Quis saber quem sou» no Cineteatro Louletano (pág. 110)
«Areal - 3 gerações de cor» em Lagos (pág. 120)
Mirian Tavares (pág. 132)
Ana Isabel Soares (pág. 134)
Fábio Jesuíno (pág. 136)
Dora Gago (pág. 138)
Sílvia Quinteiro (pág. 140)
Gabriela Pacheco (pág. 142)
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina e Município de Castro Marim s comemorações do Dia do Município de Castro Marim decorreram nos dias 23 e 24 de junho e ficaram marcadas pela realização de várias homenagens e um concerto único dos UHF em conjunto com a Banda Musical Castromarinense.
A programação teve início a 23 de junho, pela manhã, com a realização da prova 2H Resistência BTT da Rodactiva, nas categorias de masculino e feminino, com um duro percurso pelas artérias da vila de Castro Marim. Ao final da tarde, o Mercado Local de Castro Marim acolheu um desfile de xailes e lenços, cujas peças foram elaboradas por seniores da Universidade do Tempo Livre e ficaram
em exposição naquele local até 4 de julho e na Feira de Artesanato de Altura, de 5 a 7 de julho. Já à noite aconteceu o Grande Arraial de São João na Praça 1.º de Maio, com um desfile das Marchas Populares, baile com a atuação de Duo Reflexo, sardinhada e muita animação, que contou com a participação de centenas de pessoas.
O Dia do Município, 24 de junho, começou com o habitual hastear da Bandeira Nacional no edifício dos Paços do Concelho, seguido de uma missa na Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Mártires. Durante a Sessão Solene que se realizou no auditório da Biblioteca Municipal de Castro Marim, o presidente da Câmara Municipal de Castro Marim, Francisco Amaral, relembrou algumas das iniciativas que saíram do papel nos
últimos meses, como é o caso da implementação da Estratégia Local de Habitação, e o fim de obras como o abastecimento de água a Pisa Barro, a ciclovia que liga Castro Marim a Altura e a Rede de Rega da Várzea da ribeira de Odeleite.
O autarca destacou também o início das obras do Parque Infantil de Altura, de pavimentações por todo o concelho, e o avançar da requalificação da Rua da Alagoa e da frente de mar em Altura, da renovação da rede de água e de saneamento em Castro Marim e da rede de abastecimento de água na Cortelha e montes limítrofes. Francisco Amaral salientou ainda o papel fundamental do turismo, com a abertura do resort Verdelago, a futura requalificação da Retur e novos empreendimentos
turísticos que vão surgir na Almada D’Ouro, Maravelha e Corte Velha.
Durante a cerimónia foram homenageadas várias personalidades na área da saúde e do desporto, como António Camacho, Isa Frazoa, João Fernandes, Isabel Valente, Manuela Aguiar e Susana Valsassina, pelos serviços prestados à comunidade, e Bruna Sabóia, que foi vice-campeã mundial universitária de futsal. Na área da educação foram distinguidos os melhores alunos do 2.º e 3.º ciclo do Agrupamento de Escolas de Castro Marim, com um prémio de uma viagem a Guérande, uma localidade francesa geminada com a sede de concelho.
Outro dos momentos altos destas comemorações foi o descerrar do painel de azulejos e do projeto educativo «O nosso Património Natural, a Fauna e a
Flora pelos olhos e coração das nossas crianças», na Zona Envolvente à Casa do Sal. O painel, da autoria de Filipa Andrade e Joana Paz, foi elaborado em conjunto com os alunos do Agrupamento de Escolas de Castro Marim, que com a sua criatividade contribuíram para a composição artística.
Pela tarde seguiram-se outros acontecimentos importantes no empreendimento turístico Verdelago Resort, localizado entre Altura e Praia Verde, sendo o primeiro do país a aderir à certificação Green Globe. Foi lançada ainda a primeira pedra do hotel de cinco estrelas daquele resort, e assinaram-se protocolos de cooperação entre o Verdelago Resort e o Município de Castro Marim para utilização do complexo desportivo existente naquele local para treino das equipas da União Desportiva Castromarinense e do Clube Recreativo
Alturense. Outro dos protocolos de cooperação foi assinado entre a Verdelago, a Junta de Freguesia de Altura e a Câmara Municipal de Castro Marim, com o objetivo de dinamizar a comunidade energética.
O dia terminou em clima de grande festa com um concerto único e inesquecível do grupo português UHF, em conjunto com a Banda Musical
Castromarinense, no Revelim de Santo António, na presença de centenas de amantes da música.
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina e Município de Tavira avira esteve em festa, de 21 a 24 de junho, com os Santos Populares e as celebrações do Dia da Cidade, que este ano começaram logo com uma Caminhada ao Nascer do Sol, pelas 6h14, com partida da Praça da República. Às 10h30 decorreu o hastear da bandeira, nos Paços do Concelho, prosseguindo o programa, na Biblioteca Municipal Álvaro de Campos, com a Sessão Solene, onde foram atribuídas medalhas de bons
serviços e dedicação aos funcionários com 20 e 30 anos de serviço e de mérito municipal a entidades locais e figuras que se distinguiram, na sociedade, pelo seu percurso.
O Dia da Cidade foi também marcado pela inauguração da Rua do Cais e pela apresentação do projeto do novo edifício das Consultas Externas do Centro de Saúde. O dia terminou com baile no Jardim do Coreto, com Ruben Filipe, e com o concerto d’Os Quatro e Meia, na Praça da República.
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina ortimão volta a oferecer, neste Verão, uma combinação irresistível de cultura, lazer e diversão para as famílias, a pensar nos residentes e nos visitantes que escolhem o concelho para as suas férias e de onde se destacam as «Quintas ao Luar», a «Noitada», o Lota Cool Market, o Festival Humor.PTM ou a exposição da World Press Photo, entre muitos outros.
Os pontos altos da programação, que se prolonga até setembro, foram revelados,
no dia 24 de junho, num encontro com os principais promotores que teve lugar no agradável espaço ao ar livre do PTM DownTown Brunch&Cocktails, bem no centro da cidade, em pleno Largo da Mó. “O grande objetivo é dinamizar o centro histórico de Portimão, através de eventos-âncora que queremos lançar neste ano de centenário, para que tenham continuidade no futuro”, referiu o presidente da Câmara Municipal de Portimão, Álvaro Bila, que revelou ainda que “estamos a trabalhar com a Universidade do Algarve para fazer
uma avaliação do impacto económico dos eventos, já a partir da «Noitada», de forma a prestarmos contas transparentes, pois não temos nada a esconder e operamos, na maior lisura, em conjunto com os promotores”. Álvaro Bila realçou ainda que o facto de o Município de Portimão deixar de estar em endividamento excessivo “possibilitará recuperarmos a nossa autonomia financeira, para apostar nestes eventos-âncora e dar continuidade ao que tem sido projetado”.
Coube a Ana António, presidente de direção da APCS – Associação Portimonense do Comércio e Serviços, falar sobre as «Quintas ao Luar», que se realizarão entre 4 de julho e 5 de setembro, “como resultado de uma vontade enorme de revitalizar o centro da nossa cidade e que já conta com mais de 30 lojas
aderentes”. Segundo a responsável associativa, “os comerciantes foram desafiados a manter as suas lojas abertas até às 22h, todas as quintas-feiras, ao mesmo tempo que haverá animação de rua em três pontos estratégicos de Portimão, com muita música, djs e performances que atraiam as pessoas a passear, após o jantar, por este comércio fora de horas”.
O portimonense Paulo Silver, Ceo da NewSheet, entidade parceira da Câmara Municipal de Portimão na produção da «Noitada» (26 e 27 de julho), sustentou que “o evento quer atingir o Algarve e, até, Portugal, mostrando como bonita é
Portimão, de uma luminosidade única, na sequência do reflexo que o Rio Arade espelha pela cidade” “Haverá intervenções em 20 pontos distintos, entre palcos de
música e obras de arte, ruas interativas, insufláveis de 12 metros de altura e luz por todo o lado”, garantiu o promotor, que ambiciona que “esta produção com prata da casa integre num futuro próximo o circuito internacional de festivais de luz, com o forte contributo das associações e dos talentos locais, capazes de criarem coisas incríveis, surpreendentes para todos”
Entre 24 e 28 de julho, o Lota Cool Market estará de regresso à zona ribeirinha de Portimão por iniciativa da associação Teia D’Impulsos, cuja representante Inês Reis garantiu que a edição deste ano terá diversas novidades na sua dinâmica, estendendo-se da área da antiga Lota até ao Jardim Bívar, com muita música e comida de rua. A música erudita, a literatura e a fotografia merecem lugar de realce no lote de
imperdíveis propostas e a antiga Lota de Portimão acolherá, de 29 de julho a 18 de agosto, mais uma exposição da World Press Photo, reunindo as melhores imagens de 2023, aspeto assinalado por João Neves dos Santos, da Associação Música XXI, ao recordar que, desde 1999, Portimão recebe a maior mostra de fotojornalismo do mundo, “com alguns interregnos, mas sempre de entrada livre, conforme determinação do próprio Município, o que leva a cidade a fazer parte deste roteiro internacional”.
A nível da literatura, o Jardim 1.º de Dezembro receberá a quarta edição dos encontros literários «Verão Azul», marcados para os quatro sábados do mês de julho, sempre a partir das 18h30. A propósito, o principal dinamizador deste evento literário, João Ventura, revelou que o tema a abordar, moderado por
Carlos Vaz Marques, vai ser «Todas as Cidades São (também) Cidades Imaginárias», com a participação dos seguintes escritores: Matilde Campilho e Susana Moreira Marques (6 de julho); Afonso Cruz e Joana Bértholo (13 de julho); Francisco José Viegas e Gonçalo M. Tavares (20 de julho); Lídia Jorge e Ana Margarida de Carvalho (27 de julho).
No que diz respeito à música erudita, o Grupo Coral Adágio/Academia de Música de Portimão organiza a programação «Manuel Teixeira Gomes e a Produção Artística nos Alvores do Século XX», que visa homenagear os gostos e o tempo do distinto escritor e ex-Presidente da República, “um reconhecido e amante da arte” “Vamos ter entre 16 e 28 de julho diversos momentos, incluindo percursos pela cidade velha, com a participação de cantores de nomeada e uma gala lírica na Alameda da República baseada no
repertório italiano de finais do século XIX, inícios do século XX, encerrando o programa com a ópera «Soror Mariana», sob libreto de Júlio Dantas, antecedida de conferência de contextualização”, listou o maestro.
De 30 de julho a 4 de agosto, a zona ribeirinha de Portimão volta a receber o afamado Festival da Sardinha, com tentadoras sardinhadas e petiscos de comer e chorar por mais, a já habitual recreação histórica da descarga de peixe e um excelente cartaz musical composto por Áurea, Sara Correia, Anjos, Richie Campbell, Marisa Liz e Delfins. Agosto também será sinónimo do 4.º Festival Humor.PTM, que levará ao TEMPO –Teatro Municipal de Portimão as seguintes propostas: 1 a 3 – «Insónia», com Fernando Mendes; 8 a 10 – Revista à Portuguesa do Boa Esperança «Impostos! O que lhão de fazer?!»; 16 – Guilherme
Duarte, Miguel Vaz e Joa Vitor; 17 – Hugo Sousa e Joana Miranda; 23 – Fernando Rocha e Tiago Pereira; 24 – Salvador Martinha e Duarte Pita Negrão. Durante a apresentação, tanto o consagrado Fernando Mendes, como o jovem humorista Mário Falcão, lançaram um desafio a quem estiver na cidade neste período para que marque presença e se divirta.
O compositor e cantor André Sardet foi outro dos ilustres protagonistas na apresentação, tendo explicado que o eclético Festival Mar me Quer (8 a 10 de agosto na zona ribeirinha de Portimão)
“é já um grande evento de música dirigido aos mais jovens e cada vez mais nas bocas do país”, juntando este ano Тeto, Wet Bed Gang, Bárbara Bandeira, Slow J, Lon3R Johny, Van Zee, Mariza, Bárbara Tinoco, Badoxa e Klpht.
“Esta edição vai ser inclusiva, ao divulgar os dotes de músicos
portadores de deficiência, e dará enorme importância à água, devido à fase muito sensível que a região algarvia atravessa, à não contaminação de resíduos por parte do público e à reciclagem e reaproveitamento de comida”, adiantou.
Entre a relação de iniciativas programadas até setembro, merecem ainda atenção as propostas de responsabilidade das freguesias de Portimão, Alvor, Mexilhoeira Grande com destaque para o concerto de Raquel Tavares na Praça da República, o Festival Chaminé de Ouro, o Festival de Acordeão João César, o regresso da Feira Medieval de Alvor, a festa em Honra da Rainha Santa isabel, a Mostra de Artes e Sabores da Nossa Terra ou o Festival do Berbigão na Figueira, entre outros eventos populares.
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
AGA – Associação de Ginástica do Algarve e a APAGL – Associação de Pais e Amigos da Ginástica de Loulé organizaram, no dia 22 de junho, no Pavilhão Municipal Professor Joaquim Vairinhos, em Loulé, mais uma edição da Taça AGA e Ginástica com Todos em ginástica acrobática. Foi uma verdadeira maratona desportiva que arrancou logo pela manhã e que terminou já ao início da noite, dando a conhecer o empenho, talento e dedicação das centenas de jovens atletas que disputaram a Taça AGA Infantil, a Taça AGA Ginástica com Todos (acrobática adaptada), a Taça AGA Níveis, a Taça AGA Jovem e a Taça AGA Absoluto.
Em prova estiveram o Acro Al-Buhera Clube de Ginástica de Albufeira, a Associação Cultural e Desportiva CheLagoense, a APAGL – Associação de Pais e Amigos da Ginástica de Loulé, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Silves, a Casa do Povo de São Bartolomeu de Messines, o Clube Academia Desporto de Beja, o CEDF –Clube Educativo Desportivo Faro, o Ginástica Clube de Loulé, o Grupo Desportivo e Cultural do Enxerim e o Louletano Desportos Clube. Nesta edição temos a reportagem da Taça AGA Infantil, Taça AGA Ginástica com Todos e Taça AGA Níveis, ficando a Taça AGA Jovem e a Taça AGA Absoluto para a edição da próxima semana da revista do Algarve Informativo.
e 27 a 30 de junho, a Zona Histórica de Loulé voltou a estar em festa e em «modo MED», numa celebração das duas décadas de existência deste Festival único e incomparável na cena nacional e que teve este ano, como principal novidade, o Reino de Marrocos como país convidado, sabendo-se já que, em 2025, essa honra caberá a Cabo Verde.
Marrocos foi, por isso, o primeiro a mostrar em Loulé a sua cultura e tradições, através da música, do artesanato, da gastronomia, da literatura
e de outras vertentes culturais, com epicentro no Claustro do Convento do Espírito Santo, onde foi recriado um Souk no qual, durante estes dias, os visitantes vivenciaram o verdadeiro ambiente do Magreb, da decoração aos cheiros e sabores, da música às danças. A gastronomia de Marrocos foi um dos destaques, já que, diariamente, o público podia degustar pratos típicos como as tagines, os couscous, as keftas ou o tradicional chá de menta, ao mesmo que no palco atuaram artistas marroquinos.
Em 2024, o MED contou com 90 horas de música, 54 concertos, 358 músicos, 30 nacionalidades, 12 palcos, 100 expositores de artesanato, 2 exposições
de arte e 12 grupos de artistas de rua. No âmbito musical, realce para a estreia de três países, o Chade, a Coreia do Sul e a Estónia, que se juntaram às dezenas de nacionalidades que já estiveram no certame. E nomes grandes não faltaram para animar os milhares de visitantes nestas três noites, como Afrotronix, Anthony B, Antti Paalanen, Bixiga 70, Chico César, Dubioza Kolektiv, Idiotape, Kumbia Boruka, Mazgani, Mouvman Alé, Oum, Puuluup, Roberto Fonseca, Sofiane Saidi, Throes+The Shine, Tito Paris, Kumpania Algazarra, Lina, Rita Vian ou Teresinha Landeiro, entre tantos outros, que encheram de alegria e animação os Palcos Matriz, Chafariz, Castelo e Cerca.
Ficamos agora à espera da próxima edição, nos últimos dias de junho de 2025. Até já…
o dia 15 de junho, as principais ruas do comércio sãobrasense voltaram a ser animadas com mais uma edição da Noite Prata, com muitos concertos musicais e diversão para toda a família numa data em que o comércio local está de portas abertas com as melhores promoções em mais de duas dezenas de estabelecimentos aderentes, e onde, ao fazer compras, os clientes se podiam habilitar ao sorteio de Vales de Compras no valor de 50 euros.
A Noite Prata «abriu» as suas portas às 20h e contou com sete pontos de animação: o Largo de S. Sebastião, a Praça da República, a Rua Boaventura
Passos, o Mercado Municipal, a Rua António Rosa Brito, a Avenida da Liberdade – centro e o exterior do São Brás Cineteatro Jaime Pinto. A animação arrancou junto ao Mercado Municipal com a Marcha do Museu a apresentar a Marcha das «Amendoeiras em Flor» e a Marcha da Associação SãoBrazArte intitulada «50 anos de Abril». A partir das 21h, a Noite Prata teve seis palcos a funcionar em pleno, recebendo o Duo Cláudia e Inês, o Rancho Típico
Sambrasense, os Love Me Duo, os Loose Coovers, um baile com David Brito, os Kaki Dand, os Tareja Blues Band, os Super Pop, os Sniffy Marfads, os São Brás Bailando e demonstrações de zumba. Destaque para a banda de tributo «ABBA Experience» que colocou o Largo de São Sebastião ao rubro com os sucessos da
famosa banda sueca dos anos 70. A Praça da República foi o epicentro são-brasense da música eletrónica com os DJ Rich & Mendes.
Ao passar pelas ruas da vila, os visitantes puderam ainda conhecer o artesanato e os produtos locais e encontrar momentos de animação para
miúdos e graúdos. A promoção e a valorização do comércio local, a par da divulgação do que de melhor se faz em termos lúdicos e culturais em São Brás de Alportel, são os objetivos desta iniciativa promovida pela Câmara Municipal de São Brás de Alportel em parceria com empresas, associações, entidades e grupos locais.
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Jorge Gomes
Cineteatro Louletano recebeu, no dia 8 de junho, «Quis saber quem sou –um concerto teatral» pelo Teatro Nacional D. Maria II. «Quis saber quem sou» que foi exatamente a primeira frase de pendor revolucionário do início da democracia em Portugal, ouvida ainda a 24 de abril de 1974, às 22 horas e 55 minutos, nas ondas dos Emissores Associados. O primeiro verso da canção «E Depois do Adeus», pleno de questionamento individual e coletivo, cantado por Paulo de Carvalho, marca o momento histórico do arranque da revolução, tornando o que era pouco mais do que uma canção de amor, num símbolo da liberdade.
A meio caminho entre o concerto e a peça de teatro, o espetáculo «Quis saber quem sou», com conceção, texto e encenação de Pedro Penim, pretende revisitar as canções da revolução, as palavras de ordem, as cantigas que eram armas, mas também as histórias pessoais das gerações que fizeram o 25 de Abril, trazendo para o palco jovens atores/cantores/instrumentistas entre os 16 e os 25 anos, escolhidos numa audição a nível nacional, e colocando nas suas vozes e nos seus corpos de hoje, e do futuro, a memória das palavras da liberdade. Jovens esses que são Ana Pereira, Bárbara Branco, Eliseu Ferreira, Francisco Gil Mata, Inês Marques, Jéssica Ferreira, Joana Bernardo, Joana Brito Silva, Manuel Coelho, Manuel Encarnação, Pedro Madeira Lopes, Rafael Ferreira, Rute Rocha Ferreira e Vasco Seromenho.
Texto: Fotografia:
stá patente, até 3 de agosto, no Centro Cultural de Lagos (Sala de exposição 1), a exposição coletiva «Areal – Três Gerações de Cor» de António Areal, Sofia Areal e Martim Brion. O interesse nesta mostra assenta na articulação de três gerações de uma família ligada às artes plásticas, com distintas marcações na arte portuguesa.
António Areal aparece com um surrealismo metafísico nos finais da década de 1960, seguindo-se uma breve fase informalista à entrada da década seguinte, para desenvolver um dos mais importantes projetos neofigurativos dos anos 60-70 de teor neo-dada. Sofia Areal entra no final da década de 80, em acerto
internacional com o tempo da bad painting ou da transvanguardia, que ficou sinalizada pelo retorno ao paradigma da pintura e tem vindo a realizar um dos trabalhos mais relevantes e originais do panorama artístico nacional.
Com uma produção mais recente e emergente, Martim Brion surge já neste século, em tempos de intervenções instalativas e pós-conceptuais, observável na sua pluralidade de materiais e suportes, trabalhando entre a fotografia (esboços momentâneos) e a escultura (pensamentos em estado físico). Atuando em diferentes tempos, estes projetos não podiam ser iguais, como não são; mas estão ligados por proximidades que permitem estabelecer elos de relação e continuidade, uma familiaridade na diferença.
A mentira é muita vez tão involuntária como a respiração. Machado de Assis
uando o filho era pequeno e chegava a inevitável sopa à hora do jantar, ele sempre dizia: mãe, tu não tomas sopa! E eu dizia: tomei todos os dias até completar 18 anos. Isso é o que chamamos «mentirinhas» de amor. Nunca gostei de sopa, mas sou uma grande fazedora de sopa e achava que, para um miúdo em crescimento, a sopa era fundamental. Claro que mais tarde contei-lhe a verdade, que ele já desconfiava. Outra mentirinha de amor, a que me senti obrigada, foi quando tive de dar as duas tartarugas dele a uma associação que as libertava no mar. As tartarugas, além do mais, eram malucas. Uma subia nas costas da outra, saltava do aquário e corria pela casa desenfreada. Não sei quem disse que as tartarugas são lentas. Acho que nunca conheceram a Constança, era assim que o filho a nomeara. Quando chegou o momento de devolvê-las ao mar, disse-lhe que elas tinham um microchip que faria com que nós a encontrássemos, mesmo passados muitos anos. Também lhe disse que quando as pessoas morriam, viravam árvores. O que não era bem uma mentira. Somos moléculas do mundo, partilhamos o pó das estrelas e, como tal, ao
voltarmos ao pó, podemos, eventualmente, servir de solo para que nasçam árvores.
Não pensem que eu era uma mãe mentirosa. Tudo o que ele me perguntava, eu respondia.
Inclusivamente resgatando a etimologia do termo para que ele pudesse perceber melhor do que se tratava. Na escola, a professora um dia me disse: os outros miúdos adoram falar com o Pedro. Ele sabe tudo. Não sabia tudo, mas percebia do mundo que partilhamos sempre, mesmo com a distância oceânica.
Além das mentirinhas de amor, há as mentiras piedosas: por que magoarmos, deliberadamente, alguém, com uma verdade nua e crua para a qual ele ou ela não estão preparados? Mas a mentira, de amor ou piedosa, é uma mentira. Como escreveu Gertrud Stein, uma rosa é uma rosa é uma rosa. Uma mentira é uma mentira é uma mentira. E às vezes surge de onde menos esperamos. De pessoas em quem confiamos cegamente e que têm a coragem, ou a covardia, de mentir para nós, olhos nos olhos, sem qualquer pudor. A mentira é uma forma de nos protegermos, muitas vezes, de uma verdade que nos revela, que nos desnuda. Que nos mostra como somos: vulgares, comuns, fracos. Dificilmente gostamos
de nos ver assim. Preferimos uma versão de nós mais edulcorada. Em que somos o herói e nunca o vilão. Em que nos sentimos impolutos, por mais que tenhamos consciência daquilo em que nos podemos tornar.
Contei ao filho que nunca gostei de sopa, que as tartarugas não tinham microchip e que ao morrermos, nem sempre viramos árvores. De resto, nunca lhe menti e nem dei nomes diferentes dos nomes que as coisas tinham. Porque a mentira não só tem pernas curtas, como acaba por se voltar contra nós.
assei os primeiros meses de 2007 em Palo Alto, cidade vizinha do campus da universidade de Stanford, em pleno Sylicon Valley. Um dos lugares que fiz questão de visitar desde logo foi o cinema. Da rua, projetava-se a estrutura, iluminada assim que o dia escurecia, onde se enfileiravam as letras com os títulos dos filmes em exibição e os mais chamativos nomes das estrelas. Ainda não me recompunha da sorte de estar vizinha de uma sala tão bonita quando percebi que a secretária do meu supervisor era nada mais nada menos do que a esposa de Ernie, o projecionista daquele que era o cinema mais antigo de Stanford. Nesse fim de semana, quase no fim de fevereiro, fui convidada deles para a sessão de sábado à tarde – passava um filme que eu conhecia bem (daqueles de que uma pessoa sabe passagens e canções de cor), mas não me importei: ia para conhecer a sala e, assim como assim, era um dos meus filmes preferidos, poderia vê-lo vezes sem conta.
O Ernie, muito paciente, fez-me ver a cabina, as máquinas de projetar – monstros de quase dois metros de altura –, a coladeira, as bobines, coisas que aprendera a manejar e adorar nas sessões do Cineclube de Faro. O filme era Singin’ in the Rain (na versão portuguesa ficou Serenata à Chuva) e a sessão ainda se prolongava (aos sábados e creio que domingos faziam a double bill, dois filmes com um bilhete único) com o An American in Paris (Um Americano em Paris).
A sala de cinema de Stanford foi inaugurada em 1925. (Consigo imaginar a Califórnia em 1925?, antes da crise de ’29, ainda num rescaldo da I Guerra Mundial e em plenos loucos anos 20...?, a seis horas de Hollywood? Creio que nem sou capaz de fazer uma ideia longínqua). Abriu em 1925 e deve ter sido das mais frequentadas. Depois, com as crises, a II Guerra, a televisão e, nos anos 80, o vídeo, foi-se degradando. Em 1987, a fundação de David Packard (o mesmo da firma HP – afinal, ali estava o núcleo das empresas informáticas) comprou o edifício, investigou para saber como tinha sido a sala nos seus primórdios e contratou especialistas em restauro decorativo e arquitetónico para devolver o brilho àquele cinema.
É uma sala magnífica. O átrio é relativamente discreto, com grandes cartazes de filmes dos anos de ouro de Hollywood e uns frescos bonitos (inclui uma divisão onde se mostram exposições de mais cartazes), mas nada monumental.
Já a cabine... os meus olhos, apaixonados pela projeção das fitas, sentiam-se perante a mais bela catedral do mundo. Não foi tanto a monumentalidade que me cativou – o espaço é suficiente para um projecionista, e cabem-lhe dois sem ser muito à larga. Foi a sensação da presença do tempo, de um outro tempo, dos dias em que ali se mostraram os primeiros filmes, de quando o projecionista inicial do Stanford Theatre ouviu dali, espreitando pela janelinha, a
plateia a rir, a chorar, a suspirar. Foi mais o tempo, não tanto o tamanho dos artefactos.
As máquinas de projetar eram mais altas que o tamanho de um homem; mas as bobines que carregam as fitas, mais pequenas do que a que se usava na sala do IPDJ em Faro: cerca de um terço do tamanho, no máximo uma meia hora de filme. Por cada filme, usavam-se umas quatro bobines (daí a necessidade das duas máquinas, para não ter de se interromper a sessão na troca de bobines).
Eram máquinas de projetar cinema: cativantes e monstruosas como qualquer mecanismo conhecido por produzir magia. Nada que eu não conhecesse. Mas o pormenor que me deixou curiosa, de início, e embasbacada a seguir, era a fonte de luz. Em vez das lâmpadas elétricas que eu conhecia, as máquinas de projetar da sala de cinema
do Stanford Theatre eram (serão ainda?) lâmpadas de «arco de carbono» (traduzo à letra do inglês), as quais, diz a Wikipedia, consistem num arco entre elétrodos de carbono – semelhantes a simples lápis –, invenção de Humphry Davy que, nos começos do século XIX, foram as primeiras lâmpadas elétricas. Eu cá nunca tal havia visto. Explicou-me o Ernie, numa voz pausada, que são lâmpadas mais fortes do que as lâmpadas elétricas comuns, e que isso dava à imagem projetada maior nitidez, mais luminosidade e mais transparência.
A voz do Ernie mostrava o calmo entusiasmo de quem tinha uma longa experiência – a minha excitação era a de alguém que via aqueles zingarelhos pela primeira vez. O filme já pouco me interessava, já me era conhecido. Mas não deixei de ganhar alguma expectativa, sabendo que se tratava de uma película gravada com sistema de cor Technicolor (o que lhe dava um brilho particular) e recordando, como recordava, a sua luz, a nitidez dos contrastes coloridos. Eu conhecia o filme, sim. Chegara a vê-lo em ecrã grande na sala da Cinemateca em Lisboa (e depois disso, sei lá quantas vezes, em DVD). Mas o que me pareceu no final da sessão, as imagens projetadas naquela luz dada pela incandescência de fogo dos lápis de carbono, foi que nunca os meus olhos tinham visto Singin’ in the Rain
Stanford Theatre, 27 de fevereiro de 2007
Singin’ in the Rain (Serenata à Chuva), 1952. Real: Gene Kelly, Stanley Donen
Composições musicais: Arthur Freed, Nacio Herb Brown, Lennie Hayton
Interpretações principais: Gene Kelly (Donald Lockwood), Donald O’Connor (Cosmo Brown), Debbie Reynolds (Kathy Selden), Jean Hagen (Lina Lamont).
Fábio Jesuíno (Empresário)
interior de Portugal enfrenta vários desafios, como o declínio demográfico, o envelhecimento da população, a desertificação e o baixo dinamismo económico, mas ao mesmo tempo possui um enorme potencial.
É extremamente urgente que o governo e a sociedade civil adotem medidas eficazes para promover o desenvolvimento do interior de Portugal. Chega de palavras e de bonitos planos que não são executados ou que, quando o são, apresentam resultados insignificantes. É necessário criar condições que atraiam e fixem a população, através de investimentos em infraestruturas, educação, saúde, cultura e promoção.
O interior de Portugal possui um enorme potencial que necessita de ser mais valorizado e explorado. A sua riqueza natural e cultural é única, com um património arquitetónico rico e diverso, e produtos agroalimentares de alta qualidade. Além disso, oferece um ritmo de vida mais tranquilo e seguro, bem como um custo de vida mais baixo em comparação com as zonas litorais,
podendo e devendo ser um motor de desenvolvimento económico e social.
Incentivar o desenvolvimento do interior de Portugal não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma necessidade económica para o país. Um interior forte e próspero pode contribuir para a coesão territorial, a diversificação da economia e a sustentabilidade do desenvolvimento.
Existem várias medidas de que podem ser implementadas ou melhoradas que vão ter um impacto muito positivo no desenvolvimento do interior de Portugal. Algumas das medidas que considero na minha opinião mais importante incluem:
Apoiar e promover o empreendedorismo: É importante criar um ambiente favorável ao empreendedorismo no interior. Para isso, podem ser implementados incentivos fiscais, apoio à formação e qualificação profissional, facilitação do acesso ao crédito, bem como o suporte a associações e organizações que promovem o empreendedorismo na região. Isso ajudará a criar novos empregos e dinamizar a economia local.
Promover o turismo: O turismo é um dos mais importantes sectores de
atividade económica no interior de Portugal. É importante promover o turismo e investir na qualificação da oferta turística. A promoção deve ser permanente e em colaboração com as entidades locais. O turismo é uma importante fonte de desenvolvimento para as comunidades do interior.
Fixar a população jovem: É importante criar condições para que os jovens possam viver e trabalhar no interior de Portugal. Isso pode ser feito através do investimento em educação e saúde, promoção da cultura e do lazer e criação de oportunidades de emprego.
Investir em infraestruturas: É essencial investir em infraestruturas básicas, como estradas, ferrovias, internet e telecomunicações. Isso facilitará a mobilidade de pessoas e mercadorias, além de atrair investimentos para a região.
Melhorar os serviços públicos: Assegurar que as populações do interior tenham acesso a serviços públicos de qualidade, como saúde, educação e segurança. Isso contribuirá para melhorar a qualidade de vida das pessoas, contribuindo para ficarem mais propensas a permanecer nas suas comunidades.
Valorizar os produtos locais: Promover a produção e o consumo de produtos locais, como alimentos e artesanato. Contribuirá para fortalecer a economia local e preservar a cultura e identidade do interior.
Continuo na minha teimosia, acho que promover o desenvolvimento do interior de Portugal é um desafio, mas também é uma oportunidade. Todos os investimentos efetuados nas regiões do interior, vão criar um futuro mais próspero e sustentável para todo o país.
Tenho uma paixão especial pelo interior de Portugal. Nasci e cresci em Mértola, trabalhei em Beja e ainda mantenho lá raízes familiares, profissionais e emocionais. Atualmente, desenvolvo vários projetos que contribuem para o progresso das regiões do interior e vivo na primeira pessoa os seus desafios, oportunidades e o potencial enorme que está claramente subaproveitado e necessita de ser melhor explorado.
Dora
ois elefantes ao longe, derramando o peso dos seus passos dolentes no pó do caminho, ao encontro da noite a descer também devagar a sua cortina. Estamos no Camboja, em Siem Reap, no meio do nada, com um tuk tuk avariado. Também nós caminhamos, indecisas, emaranhadas na teia do receio, como insectos capturados. O condutor vai arrastando o tuk tuk, à mão, pela nesga de asfalto esburacado. Não sabemos o que aconteceu, apenas que houve um último solavanco, depois a paragem. Falta de combustível? Avaria? O inglês do rapaz não é suficiente para nenhum esclarecimento. Lemos-lhe a ansiedade, a incerteza, aninhadas num meio sorriso no rosto magro, moreno.
Terminámos um dos circuitos dos templos. Tenho a alma mobilada pelas ruínas de Angkor Vat, mandado construir pelo rei Suryavarman II, no início do século XII, como templo central e capital do reino, inicialmente hindu, depois budista, expoente máximo do estilo clássico da arquitectura Khmer. Durante o seu tempo de esplendor, o Angkor Vat foi considerado a maior estrutura religiosa edificada, um dos tesouros arqueológicos mais relevantes do mundo.
Supõe-se que terá albergado, entre as suas paredes, vários deuses e cerca de vinte mil pessoas. Cada uma das suas pedras fala. No entanto, o calor húmido tolda-nos a mente e os ouvidos. Sou apenas mais um insecto na vaga nuvem de turistas que por ele volteja, surda às palavras das pedras, às vidas de homens e deuses nelas esculpidas, aos segredos que jazem entre as árvores da floresta. Nunca nos meus mais atrevidos sonhos pensei aqui chegar, quando o templo me foi apresentado pela mão de Pierre Loti, pseudónimo do escritor francês e oficial da marinha Louis Marie Julien Viaud (1850-1923), cuja obra trabalhei nos seminários e na tese de mestrado – na altura, considerei-o enfadonho. Compreendo agora que não tinha ainda sido tatuada por esse espírito da viagem, a marcar como ferro em brasa certas personalidades nómadas. Nesse tempo, faltava-me experiência para o poder entender mais profundamente, estando longe de imaginar o que o futuro me reservaria. Pelo contrário, Pierre Loti, na obra póstuma intitulada Un pelérin d’Angkor, afirma ter pressentido todos os acontecimentos da sua vida desde os primeiros anos da infância, destacando entre eles, o aparecimento do templo de Angkor (visitado posteriormente em 1901), que lhe surgiu, primeiramente, numa imagem enviada pelo irmão mais velho, oficial de marinha. E vou pensando
nos segredos das pedras, em Loti, mas também num seu antecessor por estas paragens, o primeiro homem branco a revelar as ruínas de Angkor ao Ocidente, o naturalista e explorador francês Henri Mouhot (1826-1861). Segundo refere Ruth Toledano, numa reportagem intitulada «Camboya, templos de esperanza», publicada no Jornal El País a 23 de Março de 2008, Mouhot, na sua insaciável sede de conhecer, de desbravar novos horizontes, ter-se-ia deparado com o templo quando perseguia uma mariposa, já talvez febril, doente.
Os pés doem, recado do corpo a relembrar que existe, além dos devaneios da mente a tentarem espantar o medo. A noite desce o iminente cortinado de estrelas. Esperamos, suspensas no vazio, pelo condutor que desapareceu no interior de uma das raras barracas de lata junto à estrada. Os elefantes desapareceram, nenhuma mariposa surgiu para nos apontar qualquer
direcção, nem sequer um pirilampo. Sentimos os minutos agigantarem-se com a densidade de horas.
De repente, a salvação ecoa no ronco do tuk tuk, cujo farol rasga a bainha da escuridão. Subimos, suspiramos de alívio, abalamos, num solavanco libertador.
Chegando à cidade, convidamos o motorista para jantar connosco num restaurante a caminho do hotel. Ele aceita no seu sorriso tímido, o mesmo com que camuflou o pânico, horas antes. Estamos os três sentados à mesma mesa, mas a reacção dos empregados é estranha, quase se recusam a servi-lo, como se ao juntar-se com turistas violasse alguma lei, como se estivesse num território interdito, a trair o seu estatuto de residente, a sua cultura, nessa mistura com o «Outro» que somos nós. Apesar disso, os três pratos de noodles chegam.
E dou por mim a pensar no sofrimento de todo aquele povo sob o jugo do Khmer Vermelho, liderado por Pol Pot, entre 1975 e 1979, conducente à morte de 1,5 milhões de pessoas. As tiranias, a ganância, a ambição a gravarem o seu lastro de sangue sempre, ao longo do tempo, um pouco por todo o planeta, ontem como hoje. O Mal, como mancha indelével esculpida transversalmente na pele da Humanidade da qual somos parte. Tal como Mouhot, imagino uma mariposa, símbolo de uma metamorfose universal que, além de todas as guerras entre homens e deuses nos possa conduzir a uma mesa única.
que eu anseio pelo mês de julho. O primeiro em que realmente consigo começar a aproveitar o verão. O trabalho acalma e a praia logo ali. As férias mesmo a bater à porta. A aguardada silly season. Tão cheia de vazio. Tão leve. Tão arruinada por um diagnóstico. Quem me mandou fazer exames nesta altura. Não podia ter esperado pelo fim das férias? Não. São só exames de rotina.
Sente-se bem, não se sente?
E eu jovem, fresca, bem-disposta, apenas com o cansaço próprio do final do ano letivo:
Estou ótima! Melhor estragava.
Acontece que não estava. Acontece que era urgente submeter-me a uma intervenção cirúrgica. Incrédula, fiz de imediato 500 km em busca de uma segunda opinião. Pelas 4 da manhã, a especialista estremunhada olhou para os exames e arregalou os olhos. Repetiu o diagnóstico e perguntou-me se queria ser operada ali ou em Cabul? E foi aí, que, com uma longa explicação sobre o procedimento a que seria submetida numa ou noutra zona do país, descobri que temos pelos menos dois SNS em Portugal. Que a tecnologia disponível em
zonas distintas, pertencia a séculos igualmente diversos.
Vi-me então hospedada num resort alternativo. O mês de julho, quente, sensual, relaxado… uma miragem. Batas hospitalares, estetoscópios, agulhas, tubos, comida sem sal servida em pratos de inox… Uma espera longa. Sem data marcada. Um sol a queimar o vidro das janelas empoeiradas. Uma vista privilegiada para a entrada das ambulâncias.
Mas lá por isso não deixei de aproveitar o tempo. Até ao último segundo. Uma agenda de fazer inveja a muito CEO. Na 3.ª semana de internamento percebi que estava a ser bem mais produtiva do que imaginava. Ou, pelo menos, fui informada disso. Um telefonema e fiquei a saber que estava a fazer um pósdoutoramento na Universidade de Coimbra. Nem mais! Era essa a verdadeira razão da minha ausência. Numa reunião solicitada por duas senhoras desde então referidas como Perpétuas 1 e 2, sem ofensa para a personagem de Jorge Amado, decidiu-se exigir o envio imediato de um comprovativo do internamento. As Perpétuas, indignadas, percorriam os corredores em procissão. Persignandose. Cruz ao alto. Vá de retro, que a dissimulada anda a enganar tudo e todos. Exigiam provas. Como é que estava doente se elas nem sabiam o que tinha?
Queriam detalhes. Tinham de saber tudo e a «Árvore do Espanto» teimava em não responder.
Como disse, o mês foi produtivo. Não me fiquei pelo pós-doutoramento, não se pense. Passados alguns meses após a alta, fiquei a saber que naquele mesmo período também tinha ido ao volante de um carro velho passear ao Porto. Estava em perfeitas condições de saúde, portanto. O carro também, apesar da tosse que o acometia sempre que se dava à chave. Um fingido. Caçou-nos o olho aguçado de um agente da autoridade enquanto deslizávamos alegremente pela faixa dos autocarros numa rua da Invicta.
Mas, como consoante a quem se perguntar assim se terá uma versão deste meu inesquecível mês de julho, ainda aqui falta a do meu filho. Decididos a
poupá-lo à preocupação, dissemos ao menino que a mãe estava a dar aulas longe de casa. Os alunos eram muito fraquinhos, por isso a mãe tinha de ficar ali mais algum tempo. O pobre miúdo a desesperar:
– Mas eles nunca mais aprendem? Que burros os teus alunos!
Queridas Perpétuas, ficam assim a saber que também lecionei sem autorização. Escapou-vos esta!
E no meio desta inesperada busy season, entre dar aulas, ter aulas e cometer infrações de trânsito, lá se resolveu o assunto que me tinha levado a Coimbra e regressei a tempo de passar um agosto glorioso em Cabul.
Gabriela Pacheco (Autora)
Épreciso falar sobre brincar. Sobre o brincar enquanto a nobre arte de formar caráter e inteligência.
Recordemos Piaget e Vygotsky, figuras centrais na psicologia do desenvolvimento, e os seus importantes contributos no campo pedagógico. Ambos enfatizaram a importância extrema do brincar.
Piaget via o brincar como fundamental para a aprendizagem e desenvolvimento cognitivo ao longo dos vários estágios de desenvolvimento, sendo uma forma de assimilação onde as crianças incorporam novas informações e experiências.
Vygotsky realçou a escola social que o brincar permite, possibilitando a integração de normas sociais e culturais através da imitação e da colaboração, crucial para o desenvolvimento da linguagem e do pensamento abstrato. O brincar, enquanto atividade social mediada por adultos ou por interações com pares mais experientes, possibilita que as crianças aprendam a regular o seu comportamento, a entender as perspetivas dos outros e a desenvolver habilidades de resolução de problemas.
Importa que não nos enganemos: o brincar não é um simples passatempo. É
uma ferramenta fulcral para o desenvolvimento emocional. As crianças encontram no brincar uma forma de expressar e regular as suas emoções. O jogo de faz-de-conta, por exemplo, é um terreno fértil onde podem explorar medos, alegrias, frustrações e sonhos, tudo num espaço que deve ser seguro e controlado.
As habilidades sociais são também polidas e aperfeiçoadas através do brincar. Pelos jogos de grupo e brincadeiras cooperativas, conceitos como partilha, resolução de conflitos e trabalho em equipa vão sendo integrados e aperfeiçoados.
Entendendo o palco lúdico no centro da formação do caráter e do desenvolvimento cognitivo, compreendemos a importância de criar ambientes que incentivem o brincar. Espaços seguros, repletos de materiais variados e oportunidades diversificadas, são o terreno onde as crianças podem crescer e florescer.
Pais e educadores têm um papel crucial, fornecendo o tempo e o espaço necessários para que as crianças possam explorar de forma livre e orientada, contribuindo para o seu desenvolvimento integral.
Nas palavras do Professor Doutor Carlos Neto, especialista de referência na área do desenvolvimento infantil, “brincar é um comportamento essencial à espécie humana, pois ajuda a criança a conhecer melhor o seu corpo, a perceber as suas limitações e potencialidades e a relacionar-se com os outros”.
Mas, brincar ao quê?
A tudo.
O brincar simbólico permite que as crianças representem o mundo real e explorem diferentes papéis sociais. Os jogos de regras ensinam a importância de seguir instruções e respeitar normas. As brincadeiras de faz-de-conta são, entre outras coisas, o combustível da imaginação e da criatividade. Atividades que desafiam o pensamento crítico, como puzzles e jogos de construção, são essenciais para o crescimento mental. Através delas, as crianças aprendem a resolver problemas, a pensar de forma independente, a construir e desconstruir o mundo à sua volta.
Incentivar o brincar, criando ambientes de valor acrescentado, é, sem dúvida, investir no futuro das nossas crianças.
Vamos, então, celebrar o brincar, esta arte sublime que, na sua aparente simplicidade, contém a complexidade do crescimento humano.
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